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www.kol-shofar.org O DÍZIMO E AS OFERTAS NO TEMPO PRESENTE Vítor Quinta Fevereiro 2011 Na análise de todas as questões doutrinais temos sempre que ter em consideração o contexto em que as instruções de Deus nos são dadas, qual o propósito que está na origem das mesmas, bem como os fundamentos históricos para tais instruções. Por isso, esse contexto pode envolver também a noção de tempo e de lugar. Atentemos então nestes aspectos quando estudamos o dízimo e as ofertas voluntárias de que a Bíblia nos fala, e que muitos responsáveis religiosos dos nossos dias distorcem para seu benefício pessoal: 1. No passado histórico, antes do ano 70 d.C., ano que o Templo a YHWH em Jerusalém foi derribado até quase aos alicerces e deixou de haver lugar de culto e de exercício do sacerdócio levítico, o povo de Israel era requerido por YHWH a que entregasse no Templo, em ocasiões próprias , por Ele designadas, o dízimo das suas colheitas e do seu gado. 2. Desde logo se conclui que a entrega do dízimo das colheitas do campo e do gado era algo que se manteve em vigor enquanto houve Templo em Jerusalém, i.e. enquanto estiveram de pé tanto o 1º como o 2º Templos, e enquanto estava em exercício de funções a classe de sacerdotes Levitas, aos quais era necessário garantir sustento para si e suas famílias, uma vez que a tribo de Levi, por instruções de Deus, não teve herança na terra de Israel. Somente as outras 11 tribos tiveram direito à possessão da terra. Por isso mesmo, os membros da tribo que se dedicava ao sacerdócio permanente no Templo teriam que ser sustentados pelas restantes.

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O DÍZIMO E AS OFERTAS

NO TEMPO PRESENTE

Vítor Quinta Fevereiro 2011

Na análise de todas as questões doutrinais temos sempre que ter em consideração o contexto em que as instruções de Deus nos são dadas, qual o propósito que está na origem das mesmas, bem como os fundamentos históricos para tais instruções. Por isso, esse contexto pode envolver também a noção de tempo e de lugar. Atentemos então nestes aspectos quando estudamos o dízimo e as ofertas voluntárias de que a Bíblia nos fala, e que muitos responsáveis religiosos dos nossos dias distorcem para seu benefício pessoal:

1. No passado histórico, antes do ano 70 d.C., ano que o Templo a YHWH em Jerusalém foi derribado até quase aos alicerces e deixou de haver lugar de culto e de exercício do sacerdócio levítico, o povo de Israel era requerido por YHWH a que entregasse no Templo, em ocasiões próprias, por Ele designadas, o dízimo das suas colheitas e do seu gado.

2. Desde logo se conclui que a entrega do dízimo das colheitas do campo e do

gado era algo que se manteve em vigor enquanto houve Templo em Jerusalém, i.e. enquanto estiveram de pé tanto o 1º como o 2º Templos, e enquanto estava em exercício de funções a classe de sacerdotes Levitas, aos quais era necessário garantir sustento para si e suas famílias, uma vez que a tribo de Levi, por instruções de Deus, não teve herança na terra de Israel. Somente as outras 11 tribos tiveram direito à possessão da terra. Por isso mesmo, os membros da tribo que se dedicava ao sacerdócio permanente no Templo teriam que ser sustentados pelas restantes.

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3. Para entendermos a questão do dízimo em Israel e do propósito com que O

Deus YHWH o instituiu, temos que ter em consideração as suas variantes:

i) Os que possuíam terras e colheitas deveriam entregar 10% do produto dessas colheitas (cereais, azeite, vinho, etc.) aos Levitas, i.e. no Templo, na casa do Tesouro; esta era, para todos os efeitos, uma oferta ao Senhor, porque sustentava a "sua casa", como nos é dito em Malaquias 3:10 – "Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa". Entenda-se que a "Sua casa" era o Templo, no qual havia armazéns para guardar os produtos. O mantimento era destinado a ofertas a YHWH e para alimento dos sacerdotes Levitas e suas famílias.

ii) Estas ofertas deveriam ser feitas todos os anos, nas respectivas colheitas,

durante 6 anos, uma vez que o 7º ano deveria ser de repouso da terra (o Sábado da terra), pelo que Deus abençoava a nação em dobro no 6º ano para que deixassem repousar a terra durante o 7º ano. E isto era repetido em ciclos de 7 anos.

iii) O mesmo tipo de obrigação existia para todos os que criavam animais (bois,

ovelhas, ...) pelo que deveriam entregar um animal desde que tivessem pelo menos 10. Assim, contando de 10 em 10, separavam um para o dízimo. Os que tivessem menos de 10 animais não lhes era pedida a entrega do dízimo. Os animais separados deveriam ser os melhores do rebanho para oferta ao Senhor.

iv) De tudo o que recebiam, também os sacerdotes Levitas tinham que entregar

10% do melhor que recebiam para o serviço do Templo (ofertas de cereais, gado), conforme as dádivas recebidas – era o dízimo dos dízimos.

v) Havia igualmente um dízimo que era dedicado às ofertas no decurso das

Solenidades anuais de YHWH (ler Levítico 23), o qual era, segundo instrução de Deus, para ser gasto pelo próprio e para que este e sua família se alegrassem durante as Festas do Senhor - até em bebida forte se o desejassem.

vi) Depois, ainda, havia um dízimo que no 3º e no 6º anos do ciclo de 7 era

separado para dar aos Levitas, e aos pobres, viúvas, estrangeiros e órfãos, o qual devia ser consumido na casa do dador, i.e. “dentro das suas portas”, na localidade onde vivia, não necessitando deslocar-se a Jerusalém para o fazer – Deuteronómio 14:28-29.

vii) A Palavra de Deus aponta somente este tipo de ofertas. Porém, natural seria

que também os artífices e comerciantes, por exemplo, entregassem ofertas voluntárias na “casa do Tesouro”, embora não haja qualquer instrução escrita em relação a estes.

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Veja-se que, em tudo, este retorno de bens da terra para o serviço da Casa de YHWH, era canalizado através dos Seus sacerdotes, mas dependia sempre do próprio Deus e das bênçãos que Este derramava anualmente sobre o povo da terra. Por sua vez, as bênçãos divinas dependiam do cuidado com que o povo servia a YHWH, andando em obediência em todos os Seus preceitos, a Sua Lei/Torá. Estava pois tudo dependente do povo receber as bênçãos ou as maldições, conforme Deus havia estipulado através da boca do Seu servo Moisés – ler a descrição das bênçãos e das maldições em Deuteronómio 28. Se o povo servia a Deus em obediência, amor e humildade, recebia grandes bênçãos do Alto e Sublime nas suas colheitas e no seu gado. Porém, se se desviavam das instruções que YHWH lhes havia dado através do Seu servo Moisés, recebia castigos, particularmente se voltavam as costas a YHWH e serviam a deuses estranhos, i.e. à idolatria. Nestas circunstâncias os castigos e maldições eram severamente aplicados. De notar que todas as ofertas, tanto as destinadas ao serviço do Templo e sustento dos Levitas como as destinadas aos pobres, eram sempre feitas em géneros – ou produtos da terra ou em gado. Em certas circunstâncias, quando o homem vivia longe de Jerusalém podia vender as partes separadas para o dízimo e convertê-las em dinheiro para não ter de transportar os produtos ao longo de grandes distâncias. Mas, no geral, os dízimos eram entregues no Templo sob a forma de géneros do campo ou do gado e não em dinheiro.

Deuteronómio 14:22-23 – “Certamente darás os dízimos de todo o fruto da tua semente, que cada ano se recolher do campo. E, perante YHWH teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer habitar o seu nome [Jerusalém], comerás os dízimos do teu grão, do teu mosto e do teu azeite, e os primogénitos das tuas vacas e das tuas ovelhas; para que aprendas a temer a YHWH teu Deus todos os dias”. 2.Crónicas 31:5-6 – “Quando acabares de separar todos os dízimos da tua colheita no ano terceiro, que é o ano dos dízimos, então os darás ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, para que comam dentro das tuas portas, e se fartem; e dirás perante YHWH teu Deus: Tirei da minha casa as coisas consagradas e as dei também ao levita, e ao estrangeiro, e ao órfão e à viúva, conforme a todos os teus mandamentos que me tens ordenado; não transgredi os teus mandamentos, nem deles me esqueci”.

Por todas estas palavras se vê que a abundância das colheitas e do gado eram a base doutrinal dos dízimos e das ofertas voluntárias do produto da terra e dos animais do campo e, por isso mesmo, andavam intimamente associadas com o temor a Deus, i.e. com o andar segundo a Sua Lei/Torá. Sim, porque quando Israel caminhava nos caminhos de YHWH (a Sua Lei/Torá), o povo era grandemente abençoado nas suas colheitas e gado.

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Deuteronómio 26:12-13 – “Quando acabares de separar todos os dízimos da tua colheita no ano terceiro, que é o ano dos dízimos, então os darás ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, para que comam dentro das tuas portas, e se fartem; E dirás perante YHWH teu Deus: Tirei da minha casa as coisas consagradas e as dei também ao levita, e ao estrangeiro, e ao órfão e à viúva, conforme a todos os teus mandamentos que me tens ordenado; não transgredi os teus mandamentos, nem deles me esqueci”.

No caso particular do dízimo que era gasto pelo próprio e sua família no período das Festas dos Tabernáculos para se alegrarem durante estas Solenidades anuais de YHWH (o tempo da sua alegria), era-lhes permitido que vendessem os produtos da terra ou do gado na localidade onde residiam (se fosse longe de Jerusalém) e os convertessem em dinheiro para não terem de os transportar até Jerusalém onde decorriam as Solenidades.

Deuteronómio 14:24-27 – “E quando o caminho te for tão comprido que os não possas levar, por estar longe de ti o lugar que escolher YHWH teu Deus para ali pôr o seu nome [Jerusalém], quando YHWH teu Deus te tiver abençoado; Então vende-os, e ata o dinheiro na tua mão, e vai ao lugar que escolher YHWH teu Deus; e aquele dinheiro darás por tudo o que deseja a tua alma, por vacas, e por ovelhas, e por vinho, e por bebida forte, e por tudo o que te pedir a tua alma; come-o ali perante YHWH teu Deus, e alegra-te, tu e a tua casa; porém não desampararás o levita que está dentro das tuas portas; pois não tem parte nem herança contigo”.

O Templo, em Jerusalém, foi o local que YHWH escolheu e onde todo o homem deveria comparecer três vezes no ano para agradecer todas as bênçãos recebidas da Sua mão e fazer entrega dos dízimos e ofertas voluntárias na Casa do Senhor (Templo), alegrando-se pelas bênçãos recebidas e, particularmente, na Festa dos Tabernáculos (no 7º mês), usando o valor desse dízimo para gastar em tudo o que alegrasse a sua alma e da sua família1 – porque esta era denominada a “festa da nossa alegria”. Porquê: porque esta solenidade divina aponta para o Milénio do governo de Yeshua sobre a terra, o tempo da restauração de todas as coisas:

1 Por acaso, hoje, ouvem algum dos dirigentes religiosos que são zelosos defensores da entrega dos dízimos e ofertas

voluntárias na congregação, a ensinar que alguns desses dízimos eram para serem “comidos” pelos que os entregavam para consolo da sua alma e da sua família, no tempo da sua alegria? Ou será que estes dirigentes religiosos estão tão obcecados em ver o dinheiro a entrar na congregação todos os meses…para seu próprio benefício e conforto material, ainda que tal conforto seja conseguido à custa de pobreza e privações de muitos do rebanho? Yeshua condenou este espírito nos responsáveis religiosos do seu tempo: Mateus 23:23; Lucas 11:42.

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Êxodo 23:14-17 – “ Três vezes no ano me celebrareis festa. A festa dos pães ázimos guardarás; sete dias comerás pães ázimos, como te tenho ordenado, ao tempo apontado no mês de Abibe2; porque nele saíste do Egipto; e ninguém apareça vazio perante mim; e a festa da sega dos primeiros frutos do teu trabalho, que houveres semeado no campo, e a festa da colheita, à saída do ano, quando tiveres colhido do campo o teu trabalho. Três vezes no ano todos os teus homens aparecerão diante do Senhor YHWH”.

Reparemos que esta era uma obrigação imposta aos homens de Israel. Ora, hoje, e não havendo mais Templo na terra de Israel desde o ano 70 d.C., ao crente que segue a Yeshua não lhe é pedido que tais regras se apliquem fora da terra de Israel. Porém, pela fé e generosidade do coração de cada um, todos devemos entregar as ofertas que o nosso coração ditar, voluntariamente, para sustentação dos cultos realizados na congregação em que cultuamos O Santo Nome de YHWH e de Seu Filho Yeshua. O valor das ofertas e “dízimos” deverá ser o que cada um propõe no seu coração e conforme aos seus rendimentos (líquidos) e não uma obrigatoriedade de dar o dízimo e ofertas determinadas pelos responsáveis dessas congregações. É pois uma questão de fé e de amor pelo caminho para o qual Deus nos chamou. Será que hoje os crentes comem os seus dízimos e ofertas com os pastores da congregação a que estão ligados? (ver nota 1 na página anterior). Ou são os falsos pastores que se apropriam por inteiro desses dízimos? Não podemos também esquecer que, da mesma forma e no mesmo contexto com que, após a destruição do Templo em Jerusalém no ano 70 d.C., também o sacerdócio levita foi interrompido, também as ofertas e os dízimos que a esta estrutura era destinada foi igualmente interrompida… da mesma forma que deixou de haver Templo e classe sacerdotal para ali oficiar. O livro de Hebreus fala-nos desta questão, centrando a atenção na classe dos Levitas que tinham direito a receber o dízimo:

Hebreus 7:5 – “E os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a lei, de tomar o dízimo do povo, isto é, de seus irmãos, ainda que tenham saído dos lombos de Abraão”.

Ora, a Lei/Torá estipulava que os dízimos deveriam ser entregues aos Levitas pelas razões já apontadas. Porém, esse sacerdócio foi interrompido, como acima também se aponta. Na realidade, o sacerdócio Levita (temporal) passou para um bem melhor, o da Ordem de Melquisedeque em Yeshua, nosso Sumo-Sacerdote celestial, o qual é exercido pelo Providenciador dos bens futuros, eternos, intemporais, O qual há-de vir para se sentar no trono do futuro Templo em Jerusalém. Até que o 3º Templo ou altar consagrado a YHWH seja erguido, os Levitas não exercitam o seu ofício porque não há Templo ou altar consagrado. Por isso o seu sacerdócio foi interrompido.

2 Abibe indica o estado de maturação da cevada, quando faltam cerca de 2 semanas para a colheita

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Hebreus 7:11-12 – “De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico (porque sob ele o povo recebeu a lei [Torá]), que necessidade havia logo de que outro sacerdote se levantasse [O Senhor Yeshua], segundo a ordem de Melquisedeque, e não fosse chamado segundo a ordem de Arão? Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei”.

Ora, a lei que foi mudada não foi a Torá no seu todo, mas sim os preceitos que diziam respeito ao exercício do sacerdócio levítico, tal como as ofertas de manjares e de sacrifícios de animais no Templo, porque um único e melhor sacrifício foi feito pelo sangue de Yeshua, O Messias e porque deixou de haver Templo. O que na realidade mudou (temporariamente) na Lei/Torá foi tudo o que estava associado ao sacerdócio levítico e à sustentação desse sacerdócio, o que inclui, necessariamente os dízimos e as ofertas feitas no Templo e os sacrifícios dos animais e oferta de manjares. Leiamos as palavras que se seguem no mesmo livro aos Hebreus, onde podemos apreciar a perenidade intemporal3 do sacrifício do Santo de Israel que se constituiu como nosso Sumo-Sacerdote, eternamente:

Hebreus 7:21-28 – “Mas este [Senhor Yeshua] com juramento por aquele que lhe disse: Jurou YHWH, e não se arrependerá; Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque), de tanto melhor aliança Jesus foi feito fiador. E, na verdade, aqueles foram feitos sacerdotes em grande número, porque pela morte foram impedidos de permanecer, mas este [Senhor Yeshua], porque permanece eternamente, tem um sacerdócio perpétuo. Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles. Porque nos convinha tal sumo-sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus; que não necessitasse, como os sumos-sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente por seus próprios pecados, e depois pelos do povo; porque isto fez ele, uma vez, oferecendo-se a Si mesmo. Porque a lei constitui sumos-sacerdotes a homens fracos, mas a palavra do juramento, que veio depois da lei, constitui ao Filho, perfeito para sempre”.

Meditemos ainda nos contornos da cena que se passou no Templo, quando Yeshua e os discípulos ali se encontravam e assistiram à entrega de ofertas voluntárias de alguns que ali tinham ido para orar. Por esta descrição vemos que muitas das ofertas voluntárias eram feitas em dinheiro (pois não se tratavam dos dízimos periódicos conforme à Lei/Torá). Estavam nesta condição todos os que não eram agricultores ou possuidores de animais, e que sentiam no seu coração o desejo de pagarem um voto, a sua oferta voluntária, como, por exemplo, comerciantes, artífices e outras pessoas do povo:

3 Intemporal porque O Filho foi conhecido “antes da fundação do mundo” – João 17:24; Efésios 1:4; 1.Pedro 1:20.

Esse Mesmo Cordeiro que foi morto “desde a fundação do mundo” – Apocalipse 13:8.

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Marcos 12:41-44 – “E, estando Jesus assentado defronte da arca do tesouro, observava a maneira como a multidão lançava o dinheiro na arca do tesouro; e muitos ricos deitavam muito. Vindo, porém, uma pobre viúva, deitou duas pequenas moedas, que valiam meio centavo. E, chamando os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deitou mais do que todos os que deitaram na arca do tesouro; porque todos ali deitaram do que lhes sobejava, mas esta, da sua pobreza, deitou tudo o que tinha, todo o seu sustento”.

Reparemos na disparidade de atitude dos que ali foram naquele dia: Yeshua disse aos discípulos que muitos (os de maiores posses) davam do que lhes sobejava, mas a viúva pobre deu tudo o que tinha, como acto de fé e de amor perante o seu Deus. Não podemos ver nestas ofertas qualquer similitude ao dízimo bíblico. Eis neste episódio o verdadeiro ensinamento sobre as ofertas voluntárias. Yeshua chama a atenção dos discípulos sobre a “pequena” oferta de dinheiro de uma viúva pobre face às maiores quantias entregues por alguns homens ricos que ali tinham ido também. Porque razão disse Yeshua que a pequeníssima oferta da viúva tinha sido maior que todas as outras juntas? Porque tinha sido entregue com o coração, por amor e por fé, quando nada mais lhe restava, dado que era pobre. Este é o verdadeiro ensinamento sobre o espírito que deve presidir às ofertas voluntárias. Estas têm que reflectir o nosso amor para com Deus e pelo que Ele tem feito nas nossas vidas. Os judeus de hoje e o dízimo: muitos fazem ofertas regulares para sustentação de várias organizações em Israel mas não sob a obrigação que havia de entrega do dízimo. Não quer dizer que não possa haver alguns que reservem o equivalente ao dízimo do acréscimo da sua riqueza (as bênçãos recebidas de Deus) para entregarem esses valores a organizações de solidariedade social em Israel. Certamente que haverá quem o faça…por fé. Porém, não o fazem no sentido de "dar o dízimo" como antigamente estava preceituado, mas sim no conceito de ajudar os seus irmãos necessitados! No entanto, hoje, e um pouco por todo o lado, em muitas congregações evangélicas, assistimos aos constantes apelos de dirigentes religiosos que usam o nome do Cristo e distorcem o exemplo do patriarca Abraão perante o Rei de Salém (Génesis 14:16-20), para que os fiéis das suas congregações estejam sempre a entregar dízimos e outras ofertas voluntárias. Isto é uma distorção do verdadeiro ensinamento bíblico. Não havendo na época de Abraão qualquer mandamento divino ou obrigação de dar o dízimo, Abraão foi compelido em seu coração a dar ao Rei de Salém (e Sumo-Sacerdote Melquisedeque, um tipo de Yeshua, senão mesmo Aquele que viria a revelar-se na carne como O Filho de YHWH) uma décima parte do que tinha obtido no espólio da batalha que acabara de travar, porque O Seu Deus YHWH tinha estado com ele na batalha e o tinha abençoado com a vitória. Melquisedeque veio ao encontro de Abraão, ofereceu-lhe pão e vinho e abençoou-o, ao que Abraão retribuiu em agradecimento a YHWH pela vitória alcançada, entregando-lhe voluntariamente 10% da parte que lhe cabia no espólio capturado.

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Esta atitude de Abraão é completamente diferente da que ele teve com os restantes reis que tinham ido com ele à batalha, o que nos é também referido em Hebreus 7:1-4. Dificilmente este “ganho” obtido numa batalha pode ser hoje invocado como um precedente para a “obrigação” de “pagar” o dízimo do nosso trabalho e rendimento, tanto mais que nada mais nos é relatado de que Abraão continuasse a entregar 10% do acréscimo da riqueza com que YHWH o foi abençoando ao longo da sua vida, nos seus rebanhos, por exemplo. Porém, não é esta a interpretação que muitos pastores de hoje defendem. Porquê? Porque lhes interessa induzir o povo que os escuta a entregar o dízimo dos seus rendimentos. Tudo isto se passou muito antes da designação de Levi como tribo sacerdotal que deveria receber os dízimos das restantes 11 tribos, o que só veio a suceder com os filhos de Jacob/Israel, bisnetos de Abraão, portanto, e após a saída do povo do Egipto, quando a Torá lhes foi entregue por Moisés no Monte Sinai. Reparemos que Abraão entregou a YHWH ali representado por Melquisedeque, o dízimo do espólio obtido numa batalha, em agradecimento pela vitória alcançada e pelo Sumo-Sacerdote do Deus Altíssimo o ter abençoado. A entrega do dízimo do espólio da sua parte na batalha foi somente um sinal de agradecimento por YHWH ter estado com ele na vitória alcançada. Se o dízimo que Abraão deu naquelas circunstância tivesse constituído uma regra para a sua descendência, porque é que não existem relatos do mesmo teor na vida do seu filho Isaac e também na vida de Jacob? O dízimo só veio a ser instruído a partir dos descendentes de Jacob/Israel, quando Deus estabeleceu que a tribo de Levi não teria parte na herança da terra (Números 18:21, 24-26; Deuteronómio 12:19; 26:12), pois seria dedicada ao sacerdócio no Templo. E, se só se dedicavam ao serviço religioso no Templo não podiam estar a cultivar a terra ou a pastorear gado. Estes pois comeriam da porção (dízimo) que era entregue a YHWH no Templo, em Jerusalém. Na realidade, Jacob/Israel (neto de Abraão) assumiu também em Betel um voto (juramento) perante YHWH de pagar o dízimo de tudo o que YHWH lhe viesse a dar, o qual seria para a “casa do Senhor” se tão somente Ele o abençoasse e lhe providenciasse sustento e o multiplicasse e lhe desse aquela terra, conforme às palavras que YHWH lhe havia dado no sonho, onde lhe fez promessas para si e para a sua descendência – Génesis 28:10-22. Leiamos:

Versos 20 a 22 – “E Jacob fez um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer, e vestes para vestir; e eu em paz tornar à casa de meu pai, YHWH me será por Deus; e esta pedra que tenho posto por coluna será casa de Deus; e de tudo quanto me deres, certamente te darei o dízimo”.

Convém ler também os versículos 10 a 19 para compreendermos a extensão das promessas antecipadamente feitas por YHWH a Jacob/Israel.

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Ou seja, Jacob “votou” no seu coração dar a YHWH o dízimo de tudo quanto Ele o abençoasse daí em diante, prometendo que Ele seria o Seu Deus. Foi algo que partiu do interior de Jacob e não algo que Deus lhe tenha exigido. Assim vemos que tanto Abraão como seu neto Jacob “ofereceram” voluntariamente o dízimo em resposta às acções primeiramente empreendidas por Deus. Estas ofertas/votos4 foram a respostas voluntárias destes patriarcas e são prova cabal que até que o voto de Jacob foi feito (naquelas circunstâncias), Jacob não estava a entregar qualquer dízimo ao Senhor, pois nem haveria propósito de o entregar pois não havia lugar onde o fizesse, i.e. não havia a “Casa do Senhor”, o que só passou a haver após Jacob ter edificado um altar em Betel. Muitos "pastores" de igrejas evangélicas de hoje, de várias denominações, muitas delas carismáticas, estão à frente de congregações que se transformaram em grandes impérios fundados no dinheiro das ofertas e dízimos entregues pelos seus crentes. Este não é o Espírito de Yeshua, O Messias, pois nada disto tão pouco nos é ensinado nos escritos apostólicos. Porque será que tais responsáveis só se lembram de invocar a Lei/Torá de YHWH quando se trata de “reclamar” a entrega do dízimo e das ofertas voluntárias e desprezam todos os outros ensinamentos e instruções da Torá, chegando mesmo a ensinar que a Lei/Torá foi abolida? Porque será? É óbvio que o "deus" de muitos deles é o dinheiro. Os exemplos abundam, sem termos necessidade de citar nomes. Por isso muitos vivem em autênticos palácios e até possuem aviões privados. Estes são os que apregoam um "evangelho" da prosperidade...a deles. Vejam a miséria humana e doutrinal dos que assim procedem e dos que são enganados (veja-se o seguinte vídeo em inglês – as imagens falam por si): http://www.youtube.com/watch?v=vmKYpljgWeM Estão corrompidos pelo dinheiro. Esquecem-se que têm que comparecer perante o tribunal de Yeshua. O seu castigo será terrível…e eterno. Estes são os que a partir de um versículo bíblico fazem para si uma doutrina (errada), distorcendo o ensinamento para seu próprio ganho, induzindo os crentes a entregar largas quantias de dinheiro, em “troca” do recebimento de grandes bênçãos dos céus, ou para receberem uma cura, ou resolverem uma disputa familiar ou no casamento, ou conseguirem um bom emprego, bênçãos que eles não podem garantir, etc., etc. E, quando os que dão as ofertas de boa-fé não vêem realizado o pedido que fizeram, então esses pastores fraudulentos, respondem-lhes que a bênção não foi alcançada devido à sua falta de fé. YHWH fala-nos destes através do Seu servo Ezequiel:

4 Ver: Levítico 7:16; 22:18; Números 15:1-3; 29:39; Deuteronómio 12:5-6, 17; 16:10; 23:23. Todas estas passagens se

referem a “votos e a ofertas voluntárias”.

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Ezequiel 34:2-4 – “Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel; profetiza, e dize aos pastores: Assim diz o Senhor YHWH: Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não devem os pastores apascentar as ovelhas? Comeis a gordura [a riqueza dos crentes], e vos vestis da lã; matais o cevado; mas não apascentais as ovelhas. As fracas não fortalecestes, e a doente não curastes, e a quebrada não ligastes, e a desgarrada não tornastes a trazer, e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza5”.

Se continuarmos a ler os versos seguintes da passagem de Ezequiel vemos que O Pastor Verdadeiro resgatará as Suas ovelhas das mãos e da cobiça destes pastores fraudulentos. O profeta Jeremias também expressa a indignação do Deus de Israel acerca destes obreiros fraudulentos:

Jeremias 5:26-28 – “Porque ímpios se acham entre o meu povo; andam espiando, como quem arma laços; põem armadilhas, com que prendem os homens. Como uma gaiola está cheia de pássaros, assim as suas casas estão cheias de engano; por isso se engrandeceram, e enriqueceram; engordam-se, estão nédios, e ultrapassam até os feitos dos malignos; não julgam a causa do órfão; todavia prosperam; nem julgam o direito dos necessitados”.

Este é um pronunciamento idêntico ao que podemos ler em Ezequiel acima. Em vez de cuidarem da sã doutrina e do cuidado do povo que Deus lhes confiou, estão mais interessados nas riquezas e no seu bem-estar nesta vida. Este é bem o retrato a que hoje assistimos em muitas “igrejas” conduzidas por homens fraudulentos. Também Isaías nos fala deles em termos muito pesados:

Isaías 56:10-12 – “Todos os seus atalaias [pastores; presbíteros] são cegos, nada sabem; todos são cães mudos, não podem ladrar; andam adormecidos, estão deitados, e gostam do sono. E estes cães são gulosos, não se podem fartar; e eles são pastores que nada compreendem; todos eles se tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância, cada um por sua parte. Vinde, dizem [eles], trarei vinho, e beberemos bebida forte; e o dia de amanhã será como este, e ainda muito mais abundante”.

O “deus” destes é o dinheiro. Nunca se fartam. Os que assim procedem, são obreiros fraudulentos. Fazem lembrar a passagem que está em: Provérbios 30:15a – “A sanguessuga tem duas filhas: Dá e Dá”. Veja-se o contraste entre estes falsos pastores com o coração cheio de ganância e o exemplo dos apóstolos de Yeshua que não tinham dinheiro para dar, mas que derramavam curas pelo poder do Espírito Santo que neles estava, ou o exemplo de Paulo que trabalha com as mãos para não ser pesado aos seus irmãos na fé que o hospedavam. 5 Doutrina dos “Nicolaítas” que YHWH/Yeshua abomina/odeia: Apocalipse 2:6, 15, i.e. o domínio sobre o povo de

Deus.

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O DÍZIMO E AS OFERTAS 11

Nas traduções que pudemos consultar sobre a passagem de Malaquias 3:10 (já antes referida), apontam realmente que YHWH acusa o Seu povo de "O roubar" quando não entregavam os dízimos para mantimento da Sua casa (O Templo, em Jerusalém). Mas, será somente esse o verdadeiro sentido que podemos extrair daquelas palavras? Vejamos: a Sua casa, hoje (o Seu Templo), deve ser o nosso coração/mente – “vós sois o templo do Deus vivente” – 2.Coríntios 6:16. E, na realidade, Ele só pode habitar em nós através do Seu Espírito se andarmos perante Ele em toda a Sua vontade, i.e. a Sua Lei/Torá. Para que Ele possa habitar em nós, neste Templo que é o nosso tabernáculo, devemos andar em obediência a todos os Seus preceitos, em fé e amor. É no nosso coração/mente que temos por dever santificarmos todos os nossos caminhos, em obediência a todos os Seus preceitos, a Sua Lei/Torá. Então e só então as Suas bênçãos sobre nós serão abundantes, tanto do ponto de vista material como espiritual, porque Deus não mudou. Agora que já adquirimos uma melhor compreensão do sentido com que YHWH instituiu o dízimo, leiamos com mais atenção e no seu devido contexto as Suas palavras:

Malaquias 3:8-10 – “Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz YHWH dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes”.

Atente-se na parte sublinhada e respondamos: de que é que YHWH está aqui a falar? Está a falar de abrir “as janelas do céu” (i.e. dar chuva a seu tempo – lembremos, por exemplo, 1.Reis 8:35) para que houvesse colheitas abundantes nos campos e alimento para o gado. É disto que YHWH está a falar! Estas são as bênçãos associadas às colheitas de produtos do campo e ao gado!!! Por isso Ele mesmo nos diz no:

Verso 11 – “E por causa de vós [se andares em obediência nos Meus caminhos] repreenderei o devorador, e ele não destruirá os frutos da vossa terra; e a vossa vide no campo não será estéril, diz YHWH dos Exércitos”.

Quem pois estaria então a “roubar” a Deus? Não seriam também os sacerdotes que estavam a roubar nos dízimos e ofertas que eram entregues no Templo pelo povo? Seria somente o povo ou alguns de entre eles que não cumpriam com o mandamento? Veja-se o que Neemias explica em Neemias 13:6-13 onde nos é revelada a infidelidade de Eliasibe e Tobias, o que levou a que Neemias tivesse que reforçar a vigilância sobre os armazéns do Templo onde eram guardados os dízimos e ofertas para a Casa de YHWH:

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Neemias 13:4-5 – “Ora, antes disto, Eliasibe, sacerdote, que presidia sobre a câmara da casa do nosso Deus, se tinha aparentado com Tobias; e fizera-lhe uma câmara grande [armazém], onde dantes se depositavam as ofertas de alimentos, o incenso, os utensílios, os dízimos do grão, do mosto e do azeite, que se ordenaram para os levitas, cantores e porteiros, como também a oferta alçada para os sacerdotes”.

Na realidade, as palavras de Malaquias são, neste ponto, dirigidas primordialmente aos sacerdotes (os presbíteros de hoje também). YHWH dá a estes sacerdotes infiéis uma repreensão severa em:

Malaquias 2:2 – “Se não ouvirdes e se não propuserdes, no vosso coração, dar honra ao meu nome, diz YHWH dos Exércitos, enviarei a maldição contra vós, e amaldiçoarei as vossas bênçãos; e também já as tenho amaldiçoado, porque não aplicais a isso o coração”.

Muitos falsos dirigentes religiosos de hoje distorcem estas palavras transferindo toda a responsabilidade deste acto somente para o povo, ilibando-se a si mesmos da acusação de infidelidade!!! Infelizmente os exemplos abundam à nossa volta. O dinheiro dos dízimos e ofertas dos crentes corrompe-lhes o coração. Voltemos às palavras de YHWH dadas através de Neemias:

Neemias 10:37-39 – “E que as primícias da nossa massa, as nossas ofertas alçadas, o fruto de toda a árvore, o mosto e o azeite, traríamos aos sacerdotes, às câmaras [armazéns] da casa do nosso Deus; e os dízimos da nossa terra aos levitas; e que os levitas receberiam os dízimos em todas as cidades, da nossa lavoura. E que o sacerdote, filho de Arão, estaria com os levitas quando estes recebessem os dízimos, e que os levitas trariam os dízimos dos dízimos à casa do nosso Deus, às câmaras da casa do tesouro. Porque àquelas câmaras os filhos de Israel e os filhos de Levi devem trazer ofertas alçadas do grão, do mosto e do azeite; porquanto ali estão os vasos do santuário, como também os sacerdotes que ministram, os porteiros e os cantores; e que assim não desampararíamos a casa do nosso Deus”.

Por tudo o que foi aqui mencionado até aqui, podemos concluir que a forma como a doutrina do dízimo é hoje anunciada em muitas “igrejas” não pode deixar de ser rotulada como uma falsa doutrina, pois ela é assim ensinada para gozo e proveito dos dirigentes dessas congregações, ainda que seja à custa da mentira e do desprezo pelas condições de vida apertadas dos membros dessas “igrejas”. Tais congregações regem-se por princípios corporativistas que negam a eficácia do amor ao próximo e à Verdade de YHWH. Quantas destas congregações incutem o medo no coração dos seus membros fazendo depender a salvação destes da entrega dos dízimos? Infelizmente, muitas. Estes falsos pastores são condutores cegos. Deveriam meditar nas palavras de condenação que estão em:

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Apocalipse 3:16-18 – “Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca. Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um des-graçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu; aconselho-te que de mim [Yeshua] compres ouro provado no fogo [a Verdade, Lei/Torá], para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas”.

Busquemos pois andar na Verdade de YHWH, a Sua Palavra, a Sua Lei/Torá, com sinceridade de coração/mente. Só ela nos pode libertar da mentira e do erro e das erradas tradições e ensinamentos dos homens. Do que aqui apresentamos podemos retirar as seguintes conclusões:

1. Vemos com tristeza que a santa Palavra é distorcida por homens sem escrúpulos, cujo “deus” deles é o dinheiro e que vêem, em muitos casos, nos dízimos e ofertas dos membros da sua congregação uma forma de obterem enriquecimento pessoal (isento de impostos), à custa, por vezes, do bem-estar dos seus irmãos na fé, levando-os a acreditar que as bênçãos de Deus não serão alcançadas se esse pagamento compulsivo não (lhes) for efectuado. Deus lhes dará o devido pago por tamanha falsidade.

2. Deus não toma por inocente aquele que mente (Satanás é o pai da mentira) ou

cujo coração/mente está ávido de dinheiro e que “mexe”/distorce a Sua Palavra.

3. Os dízimos e as ofertas compulsivas, têm sido, por excelência, o veículo habitualmente usado para fazer crescer a tesouraria de muitas “igrejas” dos nossos dias e engordar as contas bancárias pessoais de muitos dos seus pastores e associados. Muitas destas “igrejas” são conduzidas numa óptica empresarial, e onde o Espírito Santo não está presente.

4. Pela análise que acabámos de fazer, não sustentamos que a entrega dos dízimos

e das ofertas (voluntárias) tenha qualquer fundamento bíblico para as “igrejas” contemporâneas, a não ser na medida em que cada crente propõe, com fé, no seu coração, entregar parte dos seus rendimentos à congregação para ajuda à sustentação das despesas da mesma e para ajuda à propagação do Evangelho. Nestas condições cada um pode muito bem entender entregar o dízimo dos seus rendimentos e fazer até ofertas voluntárias adicionais se a sua fé a isso o induzir e não porque os pastores defendam a obrigatoriedade dessa entrega.

5. Podemos dizer que estas ofertas (sim, devem ser ofertas e não entregas

compulsivas) são algo que se deve propor no foro íntimo de cada um e numa relação pessoal com O Deus Todo-Poderoso. O presbítero que recebe essas ofertas deve saber gerir e aplicar essas dádivas com critério, bom senso e propósito de servir a Cristo, e não para engordar a sua conta bancária.

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6. É com este espírito que os crentes devem contribuir voluntariamente para a

sustentação das despesas da congregação, para ajudar a difundir a Palavra (através de literatura, por exemplo), sendo legítima a motivação para ofertas especiais, quando essas ofertas se destinam a responder a apelos para ajudar pessoas ou comunidades que estejam a passar necessidades – que, por exemplo, tenham sofrido uma catástrofe. De resto, a beneficência é algo que deve estar no coração daquele que está convertido a Yeshua pois revela, deste modo, amor ao próximo. Temos disso exemplo quando as comunidades de fiéis em Jerusalém estavam passando necessidades, como nos relata Paulo em:

Romanos 15:26-27 – “Porque pareceu bem à Macedónia e à Acaia fazerem uma colecta para os pobres dentre os santos que estão em Jerusalém. Isto lhes pareceu bem, como devedores que são para com eles. Porque, se os gentios foram participantes dos seus bens espirituais, devem também ministrar-lhes os temporais”.

7. Ao longo deste trabalho ficou muito claro que, mesmo nos casos em que o dízimo

era imposto por YHWH a Israel, na sua Torá, o mesmo era destinado ao serviço do Templo em Jerusalém (o dízimo deveria ser levado “à Casa/Templo onde YHWH colocou o Seu Nome”), para a manutenção da classe sacerdotal dos Levitas e celebração dos sacrifícios, bem como o que estava sujeito ao dízimo (colheitas e gado), e quando deveria este ser entregue na Casa do Senhor – ver calendário abaixo.

8. Fica igualmente muito claro que nos casos em que aqueles que eram supostos

entregar o dízimo, o deveriam fazer no Templo, em Jerusalém e em nenhum outro lugar, fora de Jerusalém – Deuteronómio 12:5, 11. A única excepção a esta regra era o dízimo que era destinado aos pobres, aos estrangeiros, aos órfãos e às viúvas, de 3 em 3 anos, o qual deveria ser consumido na casa ou localidade daquele que fazia a dádiva – “dentro das tuas portas” – Deuteronómio 26:12.

9. Mesmo nestas circunstâncias, tal ocorria somente na terra de Israel e não fora

dela, pois aquela tinha sido a terra que YHWH havia santificado para Israel – o povo, a terra e o dízimo das bênçãos de YHWH eram supostos ser santos, separados para YHWH – Deuteronómio 8:11-18. Vemos assim, de forma muito clara e segundo a Lei/Torá, que o dízimo somente era devido na terra de Israel e não fora dela, porque o mesmo tinha por origem as bênçãos de colheitas e gado dados por YHWH naquela terra – Levítico 27:30, 32; Deuteronómio 14:22-29.

10. Existe ainda uma íntima relação entre as alturas do ano em que o povo deveria

entregar os seus dízimos na Casa de YHWH e as épocas em que as Solenidades anuais de YHWH (Levítico 23) se realizavam – Êxodo 23:14-17; Êxodo 34:20-23; Deuteronómio 16:16. Em muitos aspectos, o calendário divino está associado às épocas das colheitas dos campos, não deixando, porém, de ter implicações espirituais.

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11. Nos ciclos de sete anos, o sétimo era de descanso da terra, era o Sábado da terra,

pelo que YHWH os abençoava em dobro no 6º ano para que não cultivassem a terra no sétimo6. Reparemos nos anos das entregas dos dízimos:

Entregues no

Templo, Jerusalém Consumidos “dentro

de portas” Descanso da terra de

Israel Anos 1 e 2 Ano 3 Anos 4 e 5 Ano 6 Ano 7

12. Por tudo o que foi aqui dito, não devemos confundir as entregas voluntárias em

dinheiro que hoje se fazem nas congregações, tão necessárias ao suporte das despesas e sustentação dos cultos (o que é um trabalho do Espírito de Deus em nós), com a obrigatoriedade do dízimo bíblico que prevaleceu como mandamento de YHWH enquanto o Templo esteve de pé em Jerusalém e onde oficiava a classe sacerdotal dos Levitas, cantores e porteiros. Errados andam os “falsos profetas” de hoje que reclamam a obrigatoriedade da entrega dos dízimos por parte dos membros das suas congregações, invocando castigos de Deus se o não fizerem.

Sejamos pois prudentes e atentos ao que nos ensinam as Escrituras, seguindo o exemplo dos de Bereia que ali foram confirmar tudo o que Paulo lhes ía revelando acerca do Messias Yeshua.

AlleluYAH -.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-

6 O que Judá (o Reino do Sul) não cumpriu durante 490 anos, tendo por isso sido castigado com 70 anos de exílio em

Babilónia: um ano de exílio por cada um dos Sábados de repouso da terra que não foram observados.