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Anais 5º Simpósio de Gestão Ambiental e Biodiversidade (21 a 23 de junho 2016) 212 Sessão técnica: Avaliação de Impactos Ambientais ANÁLISE PRELIMINAR DA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NA ÁREA DO LIXÃO DO MUNICÍPIO DE VOLTA REDONDA - RJ Bruno Rocha Silva Setta (PUC-Rio, Rua Marquês de São Vicente, 225 – Gávea, Rio de Janeiro - RJ, [email protected]) RESUMO No Brasil, mesmo com a sanção da Lei N° 12.305/2010, conhecida como a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que determina a extinção dos “lixões” até 2014, muitos municípios ainda o possuem como a principal disposição final para seus resíduos, o que demonstra uma ineficiência na gestão de resíduos e que provoca impactos à saúde pública e ao meio ambiente. Neste sentido, este trabalho teve como objetivo realizar uma análise preliminar da degradação ambiental da área do lixão do Município de Volta Redonda, localizado na Região Sul do Estado do Rio de Janeiro. Para isto, foram realizadas entrevistas aos gestores do município e levantamento bibliográfico da área estudo. Fez-se a identificação dos impactos ambientais utilizando-se os métodos Ad Hoc e Check Lists, e proposição de medidas voltadas à recuperação da área. Observou-se que os principais impactos diagnosticados foram: a contaminação do solo, dos corpos hídricos, do ar atmosférico; o aumento dos processos erosivos e redução da cobertura vegetal. Propôs-se a biorremediação e o reflorestamento para a recuperação da área, cujo uso final indicado foi ampliação da área da ARIE da Floresta da Cicuta. Palavras-chave: Resíduos sólidos urbanos; vazadouro; impactos ambientais. INTRODUÇÃO Já somos mais de sete bilhões de habitantes e mais da metade reside em áreas urbanas. Apenas no Brasil, por exemplo, a população urbana corresponde a 84,4%, tendo como fatores estimulantes para este quadro o crescimento vegetativo e as migrações (Brasil 2016). Como consequência disto, a demanda por espaço, água, energia, além de mudanças no padrão de consumo da população, cresce e gera diversos impactos ao meio ambiente. Apesar de haver um aumento na preocupação da comunidade internacional com a qualidade do meio ambiente, observa-se que ainda é ineficaz a gestão dos resíduos sólidos municipais, sobretudo em países em desenvolvimento como o Brasil (Ferreira et al. 2014). Os métodos para a coleta, transporte e depósito dos resíduos sólidos não consideram as consequências que o mau uso e o tratamento inadequado deles podem causar ao meio ambiente (Simoneto & Löbler 2013). De acordo com Pereira Neto (2007), os lixões propiciam condições favoráveis (habitats) à proliferação de vetores (moscas, baratas, ratos e mosquitos), que podem alcançar as residências e causar doenças, tornando-se uma questão de saúde pública. Além da atração de vetores, a decomposição anaeróbica da matéria orgânica encontrada no lixo produz um líquido denominado de chorume, que possui coloração escura com cheiro desagradável e pode percolar as camadas do solo e atingir as águas subterrâneas (Araújo et al. 2013). Diante deste cenário, para mitigar os efeitos negativos da má gestão dos resíduos sólidos urbanos, foi criada a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) pela Lei Federal n° 12.305/2010, na qual se determinam as responsabilidades dos geradores, do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis, sobre a gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos. Esta lei também obriga que, no ano de 2014, todos os lixões do Brasil sejam desativados e substituídos por aterros sanitários (Brasil 2015). No entanto, muitos municípios brasileiros não erradicaram os “lixões”, como pode ser confirmado através dos dados levantados em 2013 pela ABRELPE (2014), nos quais 58,3% dos resíduos coletados foram depositados em aterros sanitários, e os 41,7% restantes, que correspondem a 79 mil toneladas diárias de resíduos, ainda foram encaminhas para lixões ou aterros controlados. Já que a maioria não cumpriu a meta de acabar com os lixões em 2014, está em andamento no congresso brasileiro um projeto lei, PL 2289/15, que estabelece novos

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Anais 5º Simpósio de Gestão Ambiental e Biodiversidade (21 a 23 de junho 2016)

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Sessão técnica: Avaliação de Impactos Ambientais

ANÁLISE PRELIMINAR DA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NA ÁREA DO LIXÃO DO MUNICÍPIO DE VOLTA REDONDA - RJ

Bruno Rocha Silva Setta

(PUC-Rio, Rua Marquês de São Vicente, 225 – Gávea, Rio de Janeiro - RJ, [email protected])

RESUMO No Brasil, mesmo com a sanção da Lei N° 12.305/2010, conhecida como a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que determina a extinção dos “lixões” até 2014, muitos municípios ainda o possuem como a principal disposição final para seus resíduos, o que demonstra uma ineficiência na gestão de resíduos e que provoca impactos à saúde pública e ao meio ambiente. Neste sentido, este trabalho teve como objetivo realizar uma análise preliminar da degradação ambiental da área do lixão do Município de Volta Redonda, localizado na Região Sul do Estado do Rio de Janeiro. Para isto, foram realizadas entrevistas aos gestores do município e levantamento bibliográfico da área estudo. Fez-se a identificação dos impactos ambientais utilizando-se os métodos Ad Hoc e Check Lists, e proposição de medidas voltadas à recuperação da área. Observou-se que os principais impactos diagnosticados foram: a contaminação do solo, dos corpos hídricos, do ar atmosférico; o aumento dos processos erosivos e redução da cobertura vegetal. Propôs-se a biorremediação e o reflorestamento para a recuperação da área, cujo uso final indicado foi ampliação da área da ARIE da Floresta da Cicuta. Palavras-chave: Resíduos sólidos urbanos; vazadouro; impactos ambientais.

INTRODUÇÃO

Já somos mais de sete bilhões de habitantes e mais da metade reside em áreas urbanas. Apenas no Brasil, por exemplo, a população urbana corresponde a 84,4%, tendo como fatores estimulantes para este quadro o crescimento vegetativo e as migrações (Brasil 2016). Como consequência disto, a demanda por espaço, água, energia, além de mudanças no padrão de consumo da população, cresce e gera diversos impactos ao meio ambiente.

Apesar de haver um aumento na preocupação da comunidade internacional com a qualidade do meio ambiente, observa-se que ainda é ineficaz a gestão dos resíduos sólidos municipais, sobretudo em países em desenvolvimento como o Brasil (Ferreira et al. 2014). Os métodos para a coleta, transporte e depósito dos resíduos sólidos não consideram as consequências que o mau uso e o tratamento inadequado deles podem causar ao meio ambiente (Simoneto & Löbler 2013).

De acordo com Pereira Neto (2007), os lixões propiciam condições favoráveis (habitats) à proliferação de vetores (moscas, baratas, ratos e mosquitos), que podem alcançar as residências e causar doenças, tornando-se uma questão de saúde pública. Além da atração de vetores, a decomposição anaeróbica da matéria orgânica encontrada no lixo produz um líquido denominado de chorume, que possui coloração escura com cheiro desagradável e pode percolar as camadas do solo e atingir as águas subterrâneas (Araújo et al. 2013).

Diante deste cenário, para mitigar os efeitos negativos da má gestão dos resíduos sólidos urbanos, foi criada a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) pela Lei Federal n° 12.305/2010, na qual se determinam as responsabilidades dos geradores, do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis, sobre a gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos. Esta lei também obriga que, no ano de 2014, todos os lixões do Brasil sejam desativados e substituídos por aterros sanitários (Brasil 2015).

No entanto, muitos municípios brasileiros não erradicaram os “lixões”, como pode ser confirmado através dos dados levantados em 2013 pela ABRELPE (2014), nos quais 58,3% dos resíduos coletados foram depositados em aterros sanitários, e os 41,7% restantes, que correspondem a 79 mil toneladas diárias de resíduos, ainda foram encaminhas para lixões ou aterros controlados. Já que a maioria não cumpriu a meta de acabar com os lixões em 2014, está em andamento no congresso brasileiro um projeto lei, PL 2289/15, que estabelece novos

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prazos para o fim dos lixões, que vão de julho de 2018 a julho de 2021, de acordo com o tamanho da população (Brasil 2016).

O município de Volta Redonda, área de estudo deste trabalho, está localizado na Região Sul Fluminense do Estado do Rio de Janeiro e se enquadra na temática apresentada. Durante os 27 anos de operação até sua desativação em 2012, o lixão municipal recebia 169,4 toneladas diárias (Izabella et al. 2012), o que ocasionou danos ambientais significativos nas suas áreas de influências. Neste sentido, este trabalho visa realizar uma análise preliminar da degradação ambiental da área ocupada pelo lixão. A partir da identificação e análise dos impactos ambientais significativos da área, pretende-se propor medidas de mitigação para os mesmos.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram consideradas no levantamento dos impactos, fotografias de satélite e revisão bibliográfica. Algumas informações foram obtidas pelo levantamento de dados na Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Volta Redonda (SEMA-VR).

As entrevistas foram feitas com os representantes legais dos órgãos ambientais citados, mediante agendamento prévio, a fim de se obter possíveis informações como aspectos históricos do lixão, fatos legais que ocorreram para a desativação e características peculiares da área.

Os métodos utilizados para identificar os impactos ambientais foram: Ad Hoc (Método espontâneo) e Check Lists (listagem de controle), na modalidade descritiva.

A identificação dos tipos, causas e consequências da degradação na área de estudo foi realizada a partir dos impactos ambientais significativos identificados, obtendo auxílio de pesquisas em estudos ambientais acadêmicos e técnicos em áreas semelhantes. Área de estudo

O município de Volta Redonda, criado pela Lei nº 2185 de 17 de julho de 1954, localiza-se no trecho médio do vale do rio Paraíba do Sul, entre as serras do Mar e da Mantiqueira, entre os paralelos 22º24’11” e 22º 38’ de latitude sul e os meridianos 44º9’25” e 44º 25’ de longitude oeste, segundo Greenwich (FEEMA, 1990). É o município mais populoso da Região Sul Fluminense com 262.970 mil habitantes (IBGE, 2015), e representa umas das mais importantes economias da região.

Com a instalação da CSN, em 1941, muitos moradores de áreas rurais e alguns até de áreas urbanas de municípios vizinhos e, principalmente, de outros estados, como Minas Gerais e São Paulo, migraram para Volta Redonda em busca de melhores empregos e condições de vida. Com a chegada desses novos moradores, o setor de serviço e comércio começou a apresentar sinais de crescimento logo nos primeiros anos de operação da CSN.

Entretanto, o crescimento urbano de Volta Redonda ocasionou danos significativos ao meio ambiente, sobretudo ao que se refere às consequências geradas pela industrialização, tendo como o principal problema ambiental a poluição atmosférica. Em virtude disto, é considerado o segundo município com o maior potencial poluidor do Estado do Rio de Janeiro, ficando apenas atrás da capital (Sor et al. 2008).

A expansão urbana levou a Prefeitura Municipal de Volta Redonda (PMVR) a construir um depósito de resíduos coletados em uma área a cerca de 2 quilômetros da Rodovia dos Metalúrgicos. Além de Volta Redonda, por algum período, os municípios de Piraí e Rio Claro também utilizaram este mesmo local para disposição de seus resíduos. A Figura 2 mais abaixo mostra uma imagem satélite da área do depósito de resíduos.

O lixão possui uma área total de 175.950 m2, sendo que a área do maciço do lixo é de 57.103 m2. A operação durou de 1987 até 2012, gerando passivos ambientais que se agravaram ao longo do tempo, fazendo com que órgãos públicos impusessem medidas para a

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recuperação ambiental da área afetada. De acordo com o Ministério Público Federal, os principais danos ambientais são: contaminação do lençol freático por chorume e contaminação de solo e vegetação da ARIE (Área de Relevante Interesse Ecológico) Floresta da Cicuta (MPF 2016).

Figura 1: Localização geográfica de Volta Redonda no Estado do Rio de Janeiro. Fonte: Google Earth, 2016.

Figura 2: Imagem satélite da área do lixão do município de Volta Redonda – RJ. Fonte: Google Earth, 2015.

A Floresta da Cicuta dista 1,6 km do lixão. Foi criada pelo Decreto nº 90.792, de 09 de janeiro de 1985. É uma parte integrante da Fazenda Santa Cecília, patrimônio pertencente à CSN até sua privatização em 1993, que acabou sendo restituído à empresa novamente em 2003. Sua área total é de 131,28 ha, integra os territórios dos municípios de Volta Redonda (15%) e Barra Mansa (85%) e se destina a proteger e preservar as espécies raras e diversificadas da biota local, segundo o decreto de criação. É considerada a última amostra intacta de Mata Atlântica no Vale do Paraíba do Sul (Costa 2004).

Dentro da área do lixão, percorre um afluente da Bacia do rio Brandão que cruza a Floresta da Cicuta, passa pelo perímetro urbano e deságua no rio Paraíba do Sul. Tal fato demonstra a relevância para análises e monitoramentos contínuos da qualidade da água destes mananciais, uma vez que podem apresentar concentrações elevadas de metais pesados e chorume, tornando-se uma questão de saúde pública. A Figura 3 mostra a localização do lixão no Município de Volta Redonda.

Em 2005, a PMVR foi acionada pelo Ministério Público Federal (MPF) para assinar um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), n° 2003.5104002992-9. Como as ações não

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foram atendidas dentro do prazo proposto que era até dezembro de 2011, o Procurador da República, Rodrigo da Costa Lines, determinou que os resíduos sólidos deveriam ser encaminhados para o CTR de Barra Mansa a partir do 28 de maio de 2012, o que foi cumprido na íntegra pelo Município. No entanto, a PMVR terá que pagar cerca de R$40,00 por tonelada de resíduos ali destinada (Negrão 2013).

Figura 3: Localização do “Lixão” no Município de Volta Redonda – RJ.

As propostas de medidas de mitigação foram feitas a partir da seleção dos impactos ambientais significativos. As medidas escolhidas foram baseadas em pesquisas na literatura em trabalhos científicos e técnicos de atividades semelhantes a deste estudo. RESULTADOS E DISCUSSÃO Diagnóstico ambiental da área do lixão

A seguir será apresentado um diagnóstico qualitativo, nos meios físicos (solo, recursos hídricos e ar), biótico (flora e fauna) e antrópico (problemas sociais e saúde pública) na área de estudo. As imagens, referentes ao ano de 2010, foram cedidas por representantes da SEMA-VR, uma vez que a área do lixão encontra-se interditada pelo Ministério Público Federal (MPF) até sua remediação, que ainda está em andamento.

Meio físico

Diante das imagens abaixo, percebe-se como um dos processos mais degradantes do solo a erosão, a qual foi intensificada com a intervenção humana nesta área, aumentando a exposição do solo, devido à retirada da vegetação.

Na Figura 4 observa-se uma grande quantidade de resíduos depositados no solo que são classificados como perigosos, e apresentam potenciais de contaminação do solo, tais como: embalagem de óleo de oficina, pneus, lâmpadas, produtos eletroeletrônicos e tambores e bombonas com óleo. Os resíduos de lâmpadas contém mercúrio que, segundo Monteiro et al.(2001), é tóxico para o sistema nervoso humano e, quando inalado ou ingerido, pode causar vários problemas fisiológicos.

Alguns metais pesados podem estar presentes nos produtos eletroeletrônicos, como chumbo e cádmio. De acordo com Rodrigues (2007), o primeiro acumula-se no ambiente podendo permanecer ao longo da cadeia trófica e afetar o sistema nervoso periférico e central do homem, enquanto o cádmio pode danificar os rins e o aparelho digestivo.

A degradação da matéria orgânica libera chorume, que possui contaminantes químicos que se somam à presença de metais pesados (pilhas, baterias, lâmpadas e outros resíduos). Esse líquido infiltra-se no solo, que não possui qualquer tratamento de impermeabilização, atingindo o lençol freático e também reservatórios de água superficial próximo ao lixão (rio,

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açudes) que também são contaminados pelo escoamento superficial das águas no período chuvoso. Na figura 5 é possível visualizar a contaminação dos corpos hídricos por chorume. Vale lembrar que o córrego que percorre o entorno do lixão deságua no rio Brandão, um afluente do rio Paraíba do Sul que percorre o perímetro urbano do município.

Figura 4: Erosão e resíduos depositados no solo do lixão de Volta Redonda.

Figura 5: Contaminação de recursos hídricos por chorume.

Figura 6: Depósitos de lixo e sinais de queimadas no lixão.

No acervo de fotos recebidas pela SEMA-VR não houve qualquer imagem que demonstrasse práticas de queimadas no lixão. No entanto, conforme a Figura 6 acima, é possível observar sinais de cinzas e embalagens de resíduos com resquícios de fogo. A queima de resíduos e a decomposição da fração orgânica dos resíduos liberam gases para atmosfera que potencializam o efeito estufa, como o gás carbônico (CO2) e o metano (CH4), respectivamente. Meio biótico

O vazadouro está localizado na Zona de Amortecimento da ARIE Floresta da Cicuta. De acordo com o Plano de Manejo desta UC (ICMBio, 2016), a vegetação é originária do Bioma Mata Atlântica e caracterizada como Floresta Estacional Semidecidual Submontana,

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apresentando espécies do gênero Ficus, Caesalpinia, Sorocea, Bactris entre outros. Como consequência da degradação matéria orgânica dos resíduos, o chorume percolou sobre o solo e alcançou a UC, conforme a Figura 7 abaixo.

Figura 7: Chorume percolando sobre bananeiras (Musa sp.).

Figura 8: Cachorro (Canis lupus familiaris). Figura 9: Urubu (Coragyps atratus).

Na área do lixão, encontra-se espécies oportunistas e exóticas como urubus, insetos, ratos e outros que podem competir com espécies nativas da área. Além disto, devido à presença humana que havia no local, há também animais sinantrópicos como cachorros.

Meio antrópico

Durante a operação do lixão, havia inúmeros catadores que trabalhavam lá a serviço de uma cooperativa contratada pela PMVR. Muitos viviam também em barracas improvisadas e em péssimas condições de salubridade. No entanto, com a interdição do local o MPF obrigou a expulsão dos catadores do local.

Identificação dos impactos ambientais

A avaliação dos impactos ambientais se deu pela identificação e análise qualitativa dos efeitos ocorridos pelos impactos na área de influência direta, tornando possível a classificação quanto ao seu valor, possibilidade de mitigação, incidência, significância, e reversibilidade, tendo a importância de reuní-los e inferir o grau do prejuízo que essa atividade oferece para o meio ambiente.

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Tabela 1: Impactos ambientais e respectiva classificação, no “lixão” de Volta Redonda - RJ.

Critérios de classificação quanto ao

Impactos ambientais Valor Mitigação Significância Incidência Reversibilidade Fatores afetados

Poluição e/ou contaminação do solo

NE M S D e I Rv Solo, água,

fauna, flora e antrópico

Alteração nas características físicas

do solo NE M S D e I Rv

Solo, flora e fauna

Alteração nas características

químicas do solo NE M S D e I Rv

Alteração nas características

biológicas do solo NE M S D e I Rv

Poluição e/ou contaminação de recurso hídrico

NE M S D e I Rv Água, antrópico,

fauna e flora

Alteração do relevo NE NM S D Ir Solo, relevo e

paisagem

Proliferação de vetores NE M S D e I Rv Antrópico, fauna

e paisagem

Poluição e/ou contaminação do ar

atmosférico NE M S D e I Rv

Ar, antrópico, fauna e flora

Redução ou perda total da flora

NE M S D Rv

Flora, fauna, antrópico, ar, solo, água e paisagem

Redução ou perda total da fauna

NE M ou NM S D Rv ou Ir

Fauna Contaminação dos

animais NE M S D e I Rv

Poluição e/ou contaminação de áreas

circunvizinhas NE M S I Rv

Antrópico, solo, fauna e paisagem

Impacto na saúde pública

NE M S D e I Rv

Antrópico Incômodo para a vizinhança

NE M S D Rv

Desvalorização da área do entorno

NE M NS D e I Rv e/ou Ir

Legenda: NE - Negativo; M - Mitigável; NM - Não mitigável; S - significativo; NS - Não significativo; D - Direta; Ir - Indireta; Rv - Reversível; Ir – Irreversível

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Figura 9: Classificação dos impactos ambientais.

A Licença Ambiental de Recuperação (LAR) da área do vazadouro, cujo número do processo é E-07/002.09815/2015, impõe como medidas mitigadoras dos impactos as seguintes ações:

• O fechamento da área remediada com cerca e replantio onde não houver mata nativa;

• Readequação das instalações de apoio para segurança, fiscalização, e controle de veículos, equipamentos e pedestres;

• Conformação de platôs e taludes;

• Encerramento da célula de Resíduos de Serviços de Saúde;

• Implantação de sistema de drenagem de águas superficiais visando minimizar os fluxos de água no interior da massa aterrada e de seu entorno;

• Instalação de poços de monitoramento de águas subterrâneas;

• Implantação do sistema de drenagem, queima de gases, coleta de efluentes líquidos percolados (chorume) e de monitoramento de corpos hídricos;

• Encerramento da célula de aterro com recobrimento final das áreas aterradas com camada mínima de 0,50m de solo compactado, geomembrana e camada de no mínimo 0,40m de solo vegetal para garantir o recobrimento com vegetação nativa raízes não axiais;

• Instalação de um sistema de monitoramento do maciço com placas de recalque e marcos superficiais.

Além destas ações, sugerem-se outras ações complementares para a remediação da área do lixão. A Tabela 2 abaixo mostra as sugestões apontadas.

Tabela 2: Impactos significativos e medidas de controle.

Tipo de degradação Medidas mitigadoras

Contaminação do solo

Retirada dos resíduos do local; Retirar a camada de solo contaminada e depositar solo natural na área escavada, onde o solo contaminado iria para

aterro sanitário; Usar técnicas de recuperação, como por exemplo, “biorremediação microbiana” e “fitorremediação”.

Contaminação do ar atmosférico

Retirada dos resíduos do local; Não realizar queimadas dos resíduos.

Redução ou perda total da fauna

Criar áreas de refúgio para fauna; criar corredores ecológicos interconectando com a Floresta da Cicuta.

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CONCLUSÃO Com este estudo percebe-se que o Município de Volta Redonda - RJ expõe

dificuldades quanto à competência dos gestores, com relação à remediação da área do lixão. Tal fato já vem se procrastinando desde 2005 e até o momento apenas o cercamento e a remoção de catadores foram feitos no local.

Técnicas de remediação biológica, como a biorremediação também são fundamentais para a descontaminação da área do lixão. A ação microbiana é eficiente para remover substâncias orgânicas do solo, enquanto a fitorremediação consegue reduzir a toxidade de poluentes no solo. Aplicando estas técnicas em conjunto com as medidas impostas pelo MPF será possível ter uma boa recuperação ambiental dos impactos ambientais ocasionados pela operação do lixão.

Recomenda-se também a implantação de programas de compostagem e reciclagem para aumentar a vida útil do possível aterro sanitário no município.

REFERÊNCIAS ABRELEPE - Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil- 2014. São Paulo: Abrelpe; 2014. Brasil. Lei N° 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm. Acesso em: 13/09/15. Brasil. Total de habitantes das áreas urbanas cresce e chega a 84,4% em 2010. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2011/04/total-de-habitantes-das-areas-urbanas-cresce-e-chega-a-84-4-em-2010. Acesso em: 23/04/2016. Costa, A. 2004.Volta Redonda ontem e hoje. Volta Redonda: Edição comemorativa 50 anos. Editor Jader Costa, CD-ROM. Ferreira, E.M.; Cruvinel, K.A.S.; Costa, E.S. 2014. Disposição final dos resíduos sólidos urbanos: diagnóstico da gestão do município de Santo Antônio de Goiás. Revista Monografias Ambientais – REMOA, v.14, n.3, mai-ago. p.3401-3411. ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Plano de Manejo da AIRE Floresta da Cicuta. Disponível em: http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/DCOM_plano_de_manejo_Arie_Floresta_da_Cicuta_oficial.pdf. Acesso em: 31/03/2016. Izabella, C.R.P.V.; Adriana, S.F.A.; Aline, S.F.; Albiane, C.D.; José, A.C. 2012. Elaboracao do Perfil Difusivo de Íons Inorgânicos Cl - , K+ e Na+ Presentes no Solo e no Lixiviado do Aterro de Volta Redonda – R.J. In: Anais XVI Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica, Porto Seguro, BA. Monteiro, J.H.P. et al. 2001. Manual de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos. Elaborado pelo IBAM – Instituto Brasileiro de Administração Municipal. Rio de Janeiro, p. 204. MPF – Ministério Público Federal. Ação contra o município busca cumprimento de TAC. Disponível em: http://noticias.pgr.mpf.mp.br/noticias/noticias-do-site/copy_of_meio-ambiente-e-patrimonio-cultural/mpf-rj-quer-cessar-danos-ambientais-do-lixao-de-volta-redonda. Acesso em: 22/03/2016. Negrão, M.P. 2013. Fiscalidade e o financiamento dos serviços públicos municipais: questões gerais e o financiamento da gestão de resíduos no Município de Volta Redonda (RJ). Revista GEONORTE, Edição Especial 3, v.7, n.1, p.1551-1567. Pereira Neto, J.T. 2007. Gerenciamento do lixo urbano: Aspectos técnicos e operacionais. 1. ed. Minas Gerais: Miro Saraiva, p. 13 - 51. Rodrigues, A.C. 2007. Impactos socioambientais dos resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos: estudo da cadeia pós-consumo no Brasil. Dissertação de Mestrado em Engenharia de Produção, UNIMEP, Piracicaba, SP, p.303. Simonetto, E.O. & Lobler, M.L. 2014. Simulação baseada em System Dynamics para avaliação de cenários sobre geração e disposição de resíduos sólidos urbanos. Prod. [online], vol.24, n.1, pp. 212-224. Sor, J.L.; Clevelário Júnior, J.; Guimarães, L.T.; Moreno, R.A.M. 2008. Relatório piloto com aplicação da metodologia IPPS ao estado do Rio de Janeiro: uma estimativa do potencial de poluição industrial do ar. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.