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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA CHARLES RICARDO DE SOUZA ALEIXO RAIMUNDO SILVIO COSTA DA SILVA ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL NA PERSPECTIVA DOS GÊNEROS TEXTUAIS BELÉM-PA 2017

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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO

BÁSICA

CHARLES RICARDO DE SOUZA ALEIXO

RAIMUNDO SILVIO COSTA DA SILVA

ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NOS ANOS INICIAIS DO

ENSINO FUNDAMENTAL NA PERSPECTIVA DOS GÊNEROS

TEXTUAIS

BELÉM-PA

2017

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CHARLES RICARDO DE SOUZA ALEIXO

RAIMUNDO SILVIO COSTA DA SILVA

ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL NA PERSPECTIVA DOS GÊNEROS TEXTUAIS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à comissão avaliadora da Faculdade de Pedagogia da Universidade Federal Rural da Amazônia como exigência parcial para a obtenção do título de licenciado em Pedagogia.

Orientadora: Profa. Msc. Telma Nazaré de Sousa Pereira

Belém-PA

2017

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CHARLES RICARDO DE SOUZA ALEIXO

RAIMUNDO SILVIO COSTA DA SILVA

ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NOS ANOS INICIAIS DO

ENSINO FUNDAMENTAL NA PERSPECTIVA DOS GÊNEROS

TEXTUAIS

Este exemplar corresponde à redação final do Trabalho de Conclusão de Curso de Charles Ricardo de Souza Aleixo e de Raimundo Silvio Costa da Silva submetida à Faculdade de Pedagogia da Universidade Federal Rural da Amazônia para obtenção do título de licenciado em Pedagogia, tendo sido aprovada, em de abril de 2017, pela seguinte Banca Examinadora:

Prof. Ms. (UFRA/PARFOR)

Prof. Ms. (UFRA/PARFOR)

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RESUMO

O ensino de língua portuguesa, historicamente, perpassou por três perspectivas teóricas e metodológicas: a linguagem como expressão do pensamento (que concebia o ensino prescritivo da língua), a linguagem como instrumento de comunicação (a linguagem como código comunicativo) e a linguagem como forma de interação (a linguagem vista como lugar de interação entre falantes). Desse modo, a partir da perspectiva de linguagem como interação surge a proposta dos gêneros textuais orais e escritos no ensino de língua portuguesa, ou seja, o texto passa a ser considerado objeto de estudo. Portanto, esse trabalho tem como objetivo propor uma sequência didática para o ensino de língua portuguesa nos anos iniciais do Ensino Fundamental na perspectiva dos gêneros textuais. Essa investigação foi estruturada, metodologicamente, em uma pesquisa qualitativa do tipo bibliográfica. Para isso, foi realizado um estudo das produções acerca dos gêneros textuais no ensino de língua. A fundamentação teórica que sustenta esse estudo está pautada nas pesquisas de Antunes, Marcuschi, Schneuwly e Dolz, entre outros que se dedicaram à linguística textual. Como resultado apresenta-se uma Sequência Didática para o 5º ano do Ensino Fundamental a partir do gênero poema.

Palavras-chave: Ensino. Língua Portuguesa. Gêneros textuais. Sequência didática.

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ABSTRACT

The teaching of Portuguese has historically spanned three theoretical and methodological perspectives: language as an expression of thought (conceiving prescriptive language teaching), language as an instrument of communication (language as a communicative code), and language as a form Of interaction (the language seen as the place of interaction between speakers). Thus, from the perspective of language as interaction comes the proposal of oral and written textual genres in the teaching of Portuguese language, that is, the text is considered object of study. Therefore, this work aims to propose a didactic sequence for the teaching of Portuguese language in the initial years of Elementary Education from the perspective of the textual genres. This research was structured, methodologically, in a qualitative research of the bibliographic type. For this, a study of the productions about the textual genres in language teaching was carried out. The theoretical foundation that supports this study is based on the researches of Antunes, Marcuschi, Schneuwly and Dolz, among others that were dedicated to textual linguistics. As a result, we present a Didactic Sequence for the 5 th year of Elementary Education from the poem genre.

Key-words: Teaching. Portuguese language. Textual genres. Following teaching.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9

CAPÍTULO I: PERSPECTIVAS TEÓRICAS E METODOLÓGICAS SOBRE O

ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA ....................................................................... 12

1.1 A linguagem como expressão do pensamento ..........................................12

1.2 A linguagem como instrumento de comunicação.......................................17

1.3 A linguagem como forma de interação ...................................................... 20

CAPÍTULO II: O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA PERSPECTIVA DOS

GÊNEROS TEXTUAIS .............................................................................................. 25

2.1 O ensino de língua portuguesa nos anos iniciais ...................................... 26

2.2 O texto como objeto de ensino ................................................................. 29

2.3 Os gêneros textuais no ensino.................................................................. 32

CAPÍTULO III: PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA................. 36

3.1 O que entendemos por pesquisa .............................................................. 36

3.2 A proposta metodológica Sequência Didática........................................... 38

CAPÍTULO IV: UMA PROPOSTA DIDÁTICO-PEDAGÓGICA A PARTIR DO

GÊNERO POEMA..................................................................................................... 46

4.1 Apresentação do gênero poema ............................................................... 47

4.2 Produção dos primeiros versos................................................................. 49

4.3 Os módulos de estudo .............................................................................. 51

4.4 A produção final ........................................................................................ 59

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 61

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 63

APÊNDICES…........................................................................................................... 61

APÊNDICE 1 – ACEITE DO ORIENTADOR..............................................................65

APÊNDICE 2 – PARECER DE ADMISSIBILIDADE DE TCC – II..............................66

APÊNDICE 3 – TERMO DE COMPROMISSO DE TCC – II......................................67

APÊNDICE 4 – TERMO DE COMPROMISSO DE TCC – II......................................68

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INTRODUÇÃO

O ensino de língua portuguesa na Educação Básica, mais especificamente

nos anos iniciais do Ensino Fundamental, tem recebido influências das pesquisas

em linguística no que se refere o texto como objeto de ensino, pois o que se tem

percebido nos resultados dessas investigações é uma prática pedagógica inócua

com o foco em estudo de nomenclaturas e classificações gramaticais (ANTUNES,

2003). Essa perspectiva teórica e metodológica do texto como objeto de ensino

ganhou destaque na década de 80 do século passado com as provocações trazidas

por Geraldi no livro O texto na sala de aula. Desse modo, o ensino de língua assume

uma compreensão de linguagem como forma de interação.

Ao considerar o texto como material sobre o qual se desdobra um ensino

procedimental em leitura e compreensão de textos e em produção de textos, percebe-

se uma mudança de prática pedagógica, pois deixa-se uma perspectiva de ensino de

língua normativo, que prioriza a análise morfossintática e gramatical, para um ensino

procedimental, em que valoriza-se os contextos interacionais da linguagem.

Partindo desse pressuposto, este trabalho de conclusão de curso tem como

objetivo propor uma sequência didática para o ensino de língua portuguesa nos anos

iniciais do Ensino Fundamental na perspectiva dos gêneros textuais. Portanto, essa

pesquisa pode servir de suporte para os professores que ensinam língua portugues a

nos primeiros anos de escolaridade elaborar outras sequências didáticas com foco

nos gêneros textuais.

Nesse sentido, a discussão teórica que sustenta a proposta de estudo está

ancorada nos estudos de Antunes (2003; 2007) que abordam o ensino de língua

portuguesa a partir da linguística textual e um ensino de gramática interacional. No

que se refere à organização didática, elencou-se a teoria da Sequência Didática

(SD) de Schneuwly e Dolz (2004), pesquisadores da universidade de Genebra. Os

autores propõe uma metodologia para o ensino de língua a partir de um gênero textual

oral ou escrito. E para fechar a discussão teórica, traz-se, a partir dos estudos

de Marcuschi (2010), os gêneros textuais no ensino de língua portuguesa. Porém, a

utilização dos gêneros para além do ensino com foco na estruturação ou

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gêneros textuais que circulam em contextos não escolares.

O trabalho está organizado em quatro capítulos. O capítulo I, intitulado

―Perspectivas teóricas e metodológicas sobre o ensino de língua portuguesa‖,

apresenta e discuti sobre as perspectivas teóricas e metodológicas pelas quais

perpassou o ensino da língua portuguesa nas escolas de Educação Básica: a

linguagem como expressão do pensamento; a linguagem como instrumento de

comunicação e a linguagem como forma de interação.

O capítulo II, intitulado ―O ensino de língua portuguesa na perspectiva dos

gêneros textuais‖, traz a discussão do texto como objeto de ensino. Além disso,

aborda as práticas voltadas para o ensino de leitura e de escrita nos anos iniciais do

Ensino Fundamental e por fim traz a importância dos gêneros textuais –

conceituação e funcionalidade – para uma educação linguística crítica. No capítulo

III, intitulado ―Pressupostos metodológicos da pesquisa‖, é apresentada a

perspectiva metodológica da pesquisa. O tipo de pesquisa, sua natureza, os

instrumentos utilizados e uma descrição de como se deu o caminho investigativo.

O capítulo IV, intitulado ―Uma proposta didático-pedagógica a partir de um

gênero textual‖, apresenta uma definição e estrutura do que a pesquisa trata de

Sequência Didática na perspectiva dos gêneros textuais orais e escritos. Em

seguida, sugere uma proposta de SD para uma turma do 5º ano do Ensino

Fundamental. A organização didática trata as atividades de leitura a partir de textos

autênticos, ou seja, textos que apresentam uma função comunicativa, um

instrumento de provoque a interação entre quem escreve e quem lê. Desse modo,

uma leitura crítica, isto é, que provoque no leitor a interpretação dos aspectos

ideológicos que perpassam a tessitura do texto, pois nenhum texto pode ser

compreendido como neutro. No que se refere ao eixo da escrita, a SD busca

fomentar uma prática de produção textual com finalidade estabelecer vínculos

comunicativos (ANTUNES, 2003), ou seja, escrever textos que estejam relacionados

com o que se passa no ambiente social em que vivem os alunos.

Portanto, a pesquisa pode despertar uma reflexão sobre as práticas de ensino

de língua portuguesa com o foco em uma gramática ―fria‖, sem funcionalidade. Fez

repensar as propostas de redações sobre as ―férias‖, sobre as tarefas de, a partir da

leitura de um poema, retirar os substantivos e adjetivos, ou seja, classificar e nomear

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as palavras. Discutir sobre a importância de utilizar nas aulas gêneros textuais sem se

preocupar em estudar sua estrutura, mas sua funcionalidade. Permitiu compreender

uma escrita funcionalmente diversificada, assim, cada forma distinta de escrever

um texto ganha sentido e se justifica porque responde a uma diferente função

interativa.

Contudo, compreender que a gramática existe em função de entender que em

contextos diferentes produzimos textos orais e escritos distintos, ou seja, para cada

contexto de interação comunicativa existe uma gramática que prevalece. Desse

modo, não estudamos gramática, mas gramáticas. Assim, a pesquisa apontou uma

maneira de se ensinar uma gramática relevante, isto é, uma gramática funcional –

privilegiar o estudo das regras dos usos da língua nos diversos contextos sociais de

uso, quer dizer, de suas aplicações na produção dos diversos gêneros textuais.

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CAPÍTULO I

PERSPECTIVAS TEÓRICAS E METODOLÓGICAS SOBRE O ENSINO

DE LÍNGUA PORTUGUESA

“Existe uma regra de ouro da Linguística que diz: só existe língua se houver seres humanos que a falem”.

(Marcos Bagno, 2003)

Este capítulo tem a intenção de apresentar e discutir sobre as perspectivas

teóricas e metodológicas pelas quais perpassou o ensino da língua portuguesa nas

escolas de Educação Básica. Desse modo, a linguagem será concebida a partir de

três concepções: linguagem como expressão do pensamento – essa concepção está

baseada, de um modo geral, nos estudos tradicionais; linguagem como instrumento

de comunicação – essa concepção está ligada à teoria da comunicação e vê a

língua como um código, ou seja, um conjunto de signos que se combinam de acordo

com regras a priori – e linguagem como forma de interação – a linguagem vista

como lugar de interação humana, ou seja, lugar onde a pessoa que pratica a oralidade

não conseguiria levar a cabo a não ser falando; com ela o falante age sobre o

ouvinte, segundo Porto (2009, p. 13), ―constituindo compromissos e vínculos que não

preexistem à fala‖.

Portanto, conforme Gomes (2015), a prática pedagógica voltada para o

ensino de línguas foi pautada, de um modo geral, no ensino de gramática prescritiva;

no ensino da gramática estruturalista e no ensino da gramática interacionista – a língua

como ação.

1.1 A linguagem como expressão do pensamento

Conceber a linguagem como expressão do pensamento nos leva a concluir que

as pessoas que não sabem se expressar não pensam. Além disso, é uma concepção

que valorizava as normas e as regras gramaticais. Mas isso eram os resquícios da

educação jesuítica adotada pelas escolas. Um ensino com o foco na gramática, na

retórica e na poética. De acordo com Silva (2008, p. 11), ―a medida do

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pensamento corresponde à medida da expressão. Assim, quem não consegue se

expressar, não pensa. A essa concepção corresponde a corrente de estudo linguístico

da tradição da gramática normativa‖.

Para Gomes (2015, p. 79), ―essa concepção se refere à visão pré-saussuriana

de linguagem, a qual remonta aos filósofos que discutiam sobre a relação entre os

objetos e os nomes dados a eles e passa pelos filólogos que pregavam o bom uso

da língua‖. Esse conceito embasa o ensino de língua com foco na gramática

prescritiva, do certo ou errado.

Essa concepção de linguagem pode ser vista na obra Didacticorum Operum

de Comenius de 1627. Nesse livro Comenius fala sobre como ensinar as crianças a

usar a linguagem com sabedoria. Segundo o autor, a linguagem é o fator que

diferencia os seres humanos dos animais. Desse modo, linguagem e mente

precisam ser bem cuidadas e diz como deve ser feito:

A gramática começa para algumas crianças antes que transcorram seis meses de vida. Então se costuma propor-lhes palavras fáceis de pronunciar, tatá, mama, papa, bumba etc. [...] A retórica também começa ao final do primeiro ano através dos gestos. Digo pois que a criança pode aprender o que significa uma testa enrugada ou não, o significado de fazer ameaças com o dedo etc., que é o fundamento da ação retórica (COMENIUS, 1627, p. 49-50).

Neste trecho da obra de Comenius percebe-se a ênfase na gramática e na

retórica no ensino de línguas. Além desse destaque, o autor também chama a

tenção para o ensino da poesia e sugere que as cuidadoras das crianças cante

quando chorarem ou se machucarem. Para ele a poesia é uma forma de ligar e

arrumar as palavras por meio do ritmo e métrica, pois ―tão logo a criança começa a

entender as palavras, começa também a gostar do ritmo e da melodia‖ (COMENIUS,

1627, p. 51). Portanto, uma concepção de ensino de língua centrado nos aspectos

gramaticais, retóricos e poéticos.

É nesse sentido que Marcuschi (2012) afirma, com bases em pesquisas

linguísticas, que anteriormente à década de 1960 o ensino de línguas se dava com

ênfase no estudo da frase – fonologia, morfologia e sintaxe frasal –, desconhecendo,

ou mesmo ignorando, os aspectos semânticos e contextuais em diferentes situações

de comunicação. Decorrente dessa visão tradicional, as descrições da norma

linguística são abstratas, ―restringindo-se ao padrão da língua escrita,

desconsiderando a diversidade de usos e situações comunicativas e,

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consequentemente, não dando conta das características do texto‖ (MARCUSCHI,

2012, p. 11).

Para Gomes (2015), essa concepção de ensino iniciou com a pedagogia

jesuítica que tinha como objetivo principal alfabetizar e catequizar os nativos na língua

latina, prática fundamental para a formação da elite colonial. Segundo Silva (2008, p.

21):

O português era apenas um instrumento para a alfabetização nas chamadas escolas menores e dela passava-se para o latim, conforme determinava o Ratio Studiorum, que era o programa de estudos da Companhia de Jesus por ela implantado em todo o mundo. Não havia lugar para o português no currículo.

O Ratio Studiorum era uma forma de currículo organizado e executado pela

Companhia de Jesus1 com base na escola romana. Nele o ensino de línguas era a

partir do latim. Estudava-se gramática, retórica e a poética. Além disso, o grego

também era ensinado, mas sua instrução dava-se em latim, língua que representava

o patriotismo.

Figura 01 – Ratio Studiorum Fonte: upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/1d/Ratiostudiorum.jp

Segundo Toyshima (2011), o estudo da gramática era com base no gênero

textual carta. Os alunos estudavam elementos relacionados às obras de artes e

1 A Companhia de Jesus, cujos membros são conhecidos como jesuítas foi uma ordem

religiosa fundada em 1534 por um grupo de estudantes da Universidade de Paris, liderados por Inácio de Loyola. A Congregação foi reconhecida por bula papal em 1540. É hoje conhecida principalmente por seu trabalho missionário e educacional (SILVA, 2008, p. 22).

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princípios da língua grega e sua sintaxe. Pretendia-se com isso, formar alunos com

conhecimentos considerados avançados em gramática.

O objetivo desta classe é o conhecimento perfeito dos elementos da gramática, e inicial da sintaxe. Começa com as declinações e vai até a construção comum dos verbos. Onde houve duas subdivisões, na subdivisão inferior se explicarão, do primeiro livro, os nomes, verbos, as regras fundamentais, as quatorze regras da construção, os gêneros dos nomes; na superior do primeiro livro a declinação dos nomes sem os apêndices, e ainda os pretéritos e os supinos, do livro segundo, a introdução à sintaxe sem os apêndices até os verbos impessoais. Em grego, a subdivisão mais atrasada aprenderá a ler e escrever, a mais adiantada os nomes simples, o verbo substantivo e o verbo barítono. Nas preleções adotem-se, dentre as cartas de Cícero, só as mais fáceis, escolhidas para este fim, e, se possível, impressas separadamente (RATIO, 1952, p. 138 apud TOYSHIMA, 2011, p. 27).

Assim, o ensino era pautado na classificação e nomenclaturas de palavras.

Um ensino de gramática descontextualizado e destinado a poucos. Uma gramática

fragmentada do texto. Além de estudar latim da escola, a língua tinha que ser

exercitada fora dela, mesmo em contextos que não exigiam seu uso. No mais, os

textos deveriam ser escritos na língua latina. Na retórica buscava-se formar oradores

competentes, preparados para falar ao público com perfeição.

Nestes termos, o ensino de línguas era com base na proposta pedagógica

jesuítica e permaneceu como referência por quase dois séculos. Pois, em 1760, o

Marquês de Pombal expulsa os jesuítas e proíbe o ensino de qualquer outra língua

que não fosse o português. A estrutura curricular era baseada nas reformas

ocorridas na educação de Portugal e suas colônias. Como afirma Silva (2008), após

a reforma, além de ter que aprender a ler e a escrever na língua portuguesa, o

estudante deveria estudar aspectos gramaticais da língua, habilidades que

passaram a integrar o currículo da época.

Apesar dessa mudança no ensino de língua, o foco das aulas de língua

portuguesa permanecia em torno dos aspectos retóricos, poéticos e gramaticais. O

foco, no que se refere à retórica, era preparar os alunos para se expressar bem.

Falar com eloquência e com convicção. Era a arte de comunicar-se de forma clara.

Nos estudos de poética, os estudantes tinham que ler os grandes clássicos tais

como a Odisseia. Nesse período não havia uma preocupação com as questões

metodológicas, pois a atenção estava no conteúdo. Segundo Marcuschi (2012), os

docentes focalizavam o ensino e a aprendizagem da leitura no vocabulário e nas

categorias gramaticais, e o ensino da redação nos desvios ortográficos e

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morfossintáticos. ―Coerência, coesão, progressão temática não se constituíam em

objeto de preocupação‖ (MARCUSCHI, 2012, p. 12).

Com a passar do tempo, especificamente no final do regime imperial, a

retórica, a poética e a gramática, disciplinas distintas no currículo, unificam-se e

passam a ser chamadas de Português. Por outro lado, essa ―nova‖ disciplina

manteve os aspectos gramaticais normativos e a retórica como eixo principal de

ensino. Mas de acordo com Silva (2008), a disciplina poética estava incluída no

programa de retórica e, posteriormente, tornando-se um componente curricular

independente, desprendendo-se da retórica. Contudo, esse ensino do Português era

destinado somente para uma minoria de ―bem nascidos‖ para a qual era permitido o

acesso à escola brasileira.

Para a autora, o ―bom uso‖ das letras foi aceito com êxito em Portugal e,

posteriormente, estendido para as instituições de ensino no Brasil como modelo a

ser imitado e ensinado nas escolas brasileiras, já que essas letras, a priori, no Brasil,

estavam pensadas para a escolarização dos estudantes de classes favorecidas, que

almejavam uma instrução com base na tradição europeia (SILVA, 2008), isto é, uma

gramática predominantemente prescritiva, preocupada principalmente com o erro e o

acerto. Conforme afirma Antunes (2003, p. 33),

[...] por essa gramática, professores e alunos só veem a língua pelo prisma da correção e, o que é pior, deixam de ver outros muitíssimos fatos e aspectos linguísticos (os fatos textuais e discursivos, por exemplo), realmente relevantes.

Portanto, como a escola era destinada aos grupos elitizados, até o final das

primeiras quatro décadas do século XX, a disciplina Português manteve seu foco no

ensino de gramática normativa (tradicional), retórica e poética, satisfazendo os

interesses culturais, sociais e políticos de uma classe minoritária (filhos dos

burgueses). Vale ressaltar que os manuais didáticos eram compostos de textos

clássicos e recheados de exercícios de gramática, sendo que os exercícios eram

construídos pelos professores a parti da coletânea de textos literários, pois era

necessário manter o purismo linguístico. Essa característica elitista de educação

acabou com a expansão do ensino público e com o aparecimento de novas

propostas pedagógicas para dar conta de uma nova concepção de ensino de língua

que surgia, a língua como ferramenta de comunicação.

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1.2 A linguagem como instrumento de comunicação

Até o final da década de 60 do século passado nenhuma mudança ocorrera

no currículo do ensino de português. A ênfase ainda era na gramática normativa, na

retórica e na poética. Porém em 1970, com o advento da concepção tecnicista de

educação e com as ideias da teoria behaviorista2, coibindo a reflexão e a crítica em

sala de aula, o ensino se voltou à qualificação para o mercado de tr abalho e a

linguagem passou a ser ensinada para servir de meio de comunicação. Desse

modo, a aquisição de uma língua pode ser comparada à aquisição de outras

habilidades e outros comportamentos, como andar de bicicleta e dançar, por exemplo.

Para Porto (2009, p. 13):

Essa concepção vê a língua como um conjunto de signos que se combinam segundo regras, capaz de transmitir ao receptor certa mensagem. Em livros didáticos, é a concepção confessada nas ilustrações ao professor, nas introduções, nos rótulos, embora, em geral, seja abandonada nos exercícios gramaticais.

Com a aprovação da lei nº 5.692 de 11 de agosto de 1971 que tratava das

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 5.692/71), o ensino de língua

portuguesa toma outro rumo, pois em seu parágrafo segundo já do primeiro capítulo,

afirma que ―o ensino de 1º e 2º graus será ministrado obrigatoriamente na língua

nacional‖ (BRASIL, 1971). Dessa forma, extingue-se qualquer possibilidade do

ensino do português ser ministrado em outra língua, como o latim por exemplo.

No parágrafo segundo do artigo quarto dessa mesma lei, dar-se ênfase aos

princípios teóricos da língua portuguesa. Segundo o documento no ―ensino de 1º e

2º graus dar-se-á especial relevo ao estudo da língua nacional, como instrumento de

comunicação e como expressão da cultura brasileira‖ (BRASIL, 1971). Nestes termos,

concebida com base nas ideias de Saussure3, essa visão de ensino deixa de lado as

capacidades linguísticas do falante e evidencia o uso da língua, numa

perspectiva utilitária e pragmática e, com isso, a disciplina de língua portuguesa

2 Nessa teoria a aprendizagem da linguagem seria fator de exposição ao meio e decorrente de

mecanismos comportamentais, como reforço, estímulo e resposta (GOMES, 2015, p. 30).

3 Ferdinand de Saussure é considerado o pai da linguística por ter sistematizado os estudos linguísticos,

principalmente por intermédio da apresentação de uma terminologia que conseguiu explicar os fatos linguísticos. Saussure, em seu Curso de linguística geral, afirmou que a linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo impossível conceber um sem o outro (GOMES, 2015, p. 77).

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passou a ser chamada de Comunicação e Expressão, sob os fundamentos da teoria

da comunicação de Jakobson.

Figura 02 – O esquema de Jakobson

Fonte: Adaptado a partir de Gomes, 2015.

Portanto, numa perspectiva funcionalista da linguagem, o modelo de

comunicação de Jakobson foi adotado no currículo do ensino de língua portuguesa,

agora com o nome de Comunicação e Expressão. Assim, a comunicação era

constituída de seis fatores (contexto, mensagem, contato/canal, código,

emissor/remetente e receptor/destinatário) e seis funções comunicativas (referencial,

poética, fática, metalinguística, expressiva/emotiva e conativa).

Para Gomes (2015), o esquema de Jakobson mostra que para cada tipo de

função existe um fator comunicativo, pois o foco sempre será um dos participantes

do ato comunicativo. Dessa forma, a função referencial tem como foco o contexto; a

poética está sempre ligada à mensagem; a função expressiva se relaciona com o

próprio emissor, enquanto a conativa está vinculada ao receptor; a fática tem a função

de facilitar o contato na comunicação e a metalinguística, de explicar, de dar

definições, por isso está relacionada com o código, ou seja, a própria língua.

Nestes termos, a intenção de assumir essa perspectiva teórica sobre o ensino

nasce com fundamento no estruturalismo e se mantém nos tempos do gerativismo, e

o modelo de ensino prescritivo de gramática deveria dar lugar à gramática descritiva.

Apesar dessa nova perspectiva teórica sobre o ensino de língua portuguesa

ou Comunicação e Expressão ter surgido nas propostas educacionais, nas salas de

aula, ainda encontrava-se traços de um ensino de língua tradicional, pois as práticas

docentes não acompanharam as mudanças teóricas e metodológicas. Prova disso,

segundo Antunes (2003), é que nas aulas ocorria uma forma de supressão da

oralidade como objeto de ensino no trabalho escolar. Isso se dava pelo equívoco de

considerar a fala como uma possibilidade de violação das regras da gramática,

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contudo, uma concentração de atividades em torno dos gêneros da oralidade

informal, peculiar às situações da comunicação de troca de ideias, a conversa etc.

No que se refere à escrita, uma prática mecânica e marginalizada, focada,

primeiramente, em habilidades motoras de produzir símbolos escritos e, em seguida,

em um processo puramente de memorização das regras ortográficas. Nas atividades

de leitura, por exemplo, eram trabalhados exercícios mecânicos de decodificação da

escrita, sem dirigir, contudo, a aquisição de tais habilidades para a dimensão da

interação verbal. Essas tarefas vinham todas nos livros didáticos e eram seguida s

piamente pelos professores.

Figura 03 – Manual de Comunicação e Expressão em Língua Portuguesa

Fonte: https://www.google.com.br/search?q=atividades+dos+livros+de+comunica

Com o advento da abertura de escolas de massa a clientela muda e cresce a

necessidade recrutar novos professores, porém, essa seleção não se fez sem muito

critério. Conforme afirma Silva (2008, p. 26):

Como consequência da multiplicação quantitativa das escolas, multiplica-se o número de professores despreparados para a tarefa a desempenhar, de modo se que acentua o processo de depreciação da função docente, conduzindo ao rebaixamento salarial e, consequentemente, a precárias condições de trabalho, o que obriga os professores a buscar estratégias de facilitação da sua função docente – uma delas é transferir ao livro didático a tarefa de preparar aulas e exercícios, no qual permanece a primazia da gramática sobre o texto e a concepção de linguagem como sistema.

Esse esvaziamento da profissão docente acarretou em um ensino de língua

desvinculado das variedades linguísticas trazidas das classes populares para a

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escola. Isso mostrava um descompasso entre o que a escola ensinava e os alunos

buscavam aprender. Isso levou muitos estudantes ao fracasso escolar, pois ainda se

ensinava uma gramática de frases soltas, inventadas e com pseudotextos, ou seja,

(Cf. Antunes, 2003, p. 31), ―uma gramática das excentricidades, de pontos de vistas

refinados, mas, muitas vezes, inconsistentes, pois se apoiavam apenas em regras e

casos particulares‖. Tal fracasso da produção escrita na escola, (Cf. Silva, 2008), é

resultado de sua inadequação em relação ao trabalho com a linguagem, no que

mais parecia um grande descompasso entre a língua que se ensinava na escola e a

língua que se que falava fora dela. Corroborando com as autoras, mesmo que as

regras estivessem nos manuais de gramática, eram utilizados fora dos contextos em

que os alunos, na sua maioria, estavam inseridos.

Contudo, essa concepção de linguagem como ferramenta de comunicação,

com base nas ideias de uma gramática estruturalista, ou seja, que considera a

língua como o lado social da linguagem e a fala como a parte individual, considerou

o discurso como engessado, pronto para uso, sem espaço para a diversidade. Uma

tendência pedagógica centrada na língua enquanto sistema em potencial, enquanto

conjunto abstrato de signos e de regras, desvinculado de suas condições de

realização.

Portanto, fez-se necessária outra concepção de linguagem, consequentemente,

uma nova perspectiva de ensino de língua portuguesa. Um ensino de língua

portuguesa centrado nas práticas sociais de uso da língua em diferentes contextos,

enquanto atividade e interação verbal de dois ou mais interlocutores e, assim,

enquanto sistema-em-função (Cf. Antunes, 2003, p. 41),

―vinculado, contudo, às circunstâncias de sua atualização‖.

1.3 A linguagem como forma de interação

Em contraponto à concepção de que a linguagem é uma mera transmissão de

informações de um emissor a um receptor, a linguagem passa a ser considerada como

―um lugar de interação humana‖ (porto, 2009, p. 13). Nessa perspectiva, é por meio

dela (da linguagem) que o sujeito que pratica a ação de falar consegue interagir

com o outro. Para a autora, nessa concepção, o professor que ensina língua

portuguesa, por exemplo,

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[...] precisa ser sujeito e se acreditar como alguém que, com os alunos, pesquisa, observa, levanta hipóteses, analisa, reflete, descobre, aprende, reaprende. E isso tudo a partir do uso da língua, em circunstâncias de oralidade, de leitura e de escrita. Ou seja, a mudança no ensino do Português não está nas ―metodologias‖ ou nas ―técnicas‖ usadas (PORTO, 2009, p. 14).

Corroborando com a autora, pode-se afirmar que a mudança no ensino de

língua portuguesa está no seu objetivo de ensino, a própria língua. Esta que se

materializa no discurso oral e/ou escrito, a partir das ações dos sujeitos que realizam

a interação comunicativa. E esse sujeito como heterogêneo, incompleto, que

mobiliza ―o desejo de completude aproximando-se do outro, também incompleto por

definição, com esperança de encontrar a fonte restauradora da totalidade nunca

alcançada e constituindo relações sociais‖ (PORTO, 2009, p. 14).

Desse modo, ao assumir a dimensão interacional da linguagem, nada do que

se faz no espaço da sala de aula poderia estar dependente de um conjunto de

princípios teóricos, a partir dos quais os fenômenos linguísticos são percebidos e tudo,

consequentemente, se decide. Para Antunes (2003), desde a defi nição dos

objetivos, passando pela seleção dos objetos de estudo, até a escolha dos

procedimentos mais corriqueiros e específicos, em tudo está presente uma

determinada concepção de língua, de suas funções, de seus processos de

aquisição, de uso e de aprendizagem.

Evidentemente, a língua nessa concepção é um produto social, enquanto

atividade e interação verbal e não verbal entre dois ou mais interlocutores,

consequentemente, se levarmos essa dimensão para a sala de aula, poderemos ter

um ensino de língua mais produtivo e significante. Ao considerar a língua como

produto social, nos leva a admitir que somente uma concepção interacionista da

linguagem, ―eminentemente funcional e contextualizada, pode, de forma ampla e

legítima, fundamentar um ensino da língua que seja, individual e socialmente,

produtivo e relevante‖ (ANTUNES, 2003, p. 41).

Essa concepção de linguagem como interação ganha força a partir das ideias

contidas nos textos do Círculo de Bakhtin sobre a natureza sociológica da linguagem

e com isso começa adentrar os espaços das salas de aula, principalmente, com o

lançamento dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) em 1997, logo após a

aprovação da nossa última Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de

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1996. Desse modo, os PCN sugere um ensino de língua portuguesa na perspectiva

de que,

O domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de plena participação social, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento. Assim, um projeto educativo comprometido com a democratização social e cultural atribui à escola a função e a responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso aos saberes linguísticos necessários para o exercício da cidadania, direito inalienável de todos (BRASIL, 1997, p. 21).

Nessa perspectiva de linguagem e ensino apresentada nos PCN, por meio da

linguagem, o ser humano tem a possibilidade de se reconhecer como cidadão, pois,

ao comunicar-se com as outras pessoas e trocar experiências, certifica-se de seu

conhecimento de mundo e dos outros com quem interage. Isso lhe permite, também,

compreender melhor sua realidade, o lugar que ocupa e, principalmente, seu papel

social. Nestes termos, (Bakhtin apud Gomes, 2009), numa perspectiva social da

linguagem, a vê, também, como enunciação, como discurso, ou seja, como forma de

interlocução, em que aquele que fala ou escreve é um sujeito quem, em

determinada situação, interage com um interlocutor, levado por um objetivo, uma

intenção, uma necessidade de interação.

Desse modo, a sala de aula deve ser entendida como um lugar de interação,

lugar de diálogo entre sujeitos que se apropriam do conhecimento produzido pela

humanidade. Aluno e professor são sujeitos, cada um no seu papel, e interagem via

linguagem, descortinando o conhecimento por meio de textos, de diálogos. Quando

se adota a dimensão interacionista da linguagem, o objeto de estudo passa ser o texto,

com toda a diversidade de gêneros que circulam no dia a dia dos alunos. Para Antunes

(2009), o foco do ensino de línguas centrado no texto seria,

[...] a compreensão e produção dos sentidos materializados em gêneros de textos, com grande destaque para a literatura. A gramática viria naturalmente (não poderia deixar de vir!), quando fosse necessária para que se pudesse entender melhor uma passagem ou expressar com mais propriedades o que se deve dizer (ANTUNES, 2009, p. 42).

Corroborando com a autora, um ensino de língua que pudesse fomentar a

conscientização do grande significado da linguagem para a construção dos sentidos

de todas as coisas, centrado na exploração dos usos da língua oral e escrita, além

disso, estimulando o desenvolvimento de um saber geral, de uma competência lexical,

pela ampliação do repertório de informações e da habilidade do falante da língua em

criar e recriar novas palavras.

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Evidentemente, a mudança de paradigma no ensino de língua portuguesa

implica em novas competências linguísticas, pois uma atividade é interativa quando

é realizada, conjuntamente, por duas ou mais pessoas cujas ações se

interdependem na busca dos mesmos fins. Contudo, a atividade da escrita, da

leitura e da oralidade ganha novo sentido de ensinar e de aprender.

Segundo Antunes (2003), uma visão interacionista da escrita supõe, desse

modo, encontro, parceria, envolvimento entre sujeitos, para que aconteça a comunhão

das ideias, das informações e das intenções pretendidas. Assim, por essa

perspectiva ―se supõe que alguém selecionou alguma coisa a ser dita a um outro

alguém, com quem pretendeu interagir, em vista de algum objetivo‖ (ANTUNES,

2003, p. 45). Assim, a prática da linguagem escrita é, portanto, uma interação

expressiva verbal das ideias, (Cf. Antunes, 2003), construção de informações, de

intenções, de crenças ou de sentimentos que queremos partilhar com o outro. Uma

atividade que requer, principalmente, planejamento.

Partindo dessa mesma perspectiva, no que concerne a atividade de leitura,

ela completa a atividade da produção escrita. É, por isso, uma atividade de interação

entre sujeitos e supõe muito mais que a simples decodificação dos sinais gráficos. O

leitor, como um dos sujeitos da interação, atua principalmente, buscando recuperar,

interpretar e compreender o conteúdo e as intenções pretendidas pelo autor. Assim,

―a leitura é parte da interação verbal escrita, enquanto implica a participação

cooperativa do leitor na interpretação e na reconstrução do sentido e das intensões

de quem escreve‖ (ANTUNES, 2003, p. 66).

Nestes termos, a leitura envolve distintos processos e estratégias na sua

realização, dependendo das funções pretendidas com a leitura. Contudo, depende

não apenas do contexto linguístico do texto, mas também do contexto

extralinguístico de sua produção e circulação. Conforme aponta Antunes (2003), o

grau de familiaridade do leitor com o conteúdo veiculado pelo texto interfere,

também, no modo de realizar a leitura, pois não se lê um poema da mesma forma

que se lê um memorando, por exemplo.

No que se refere ao trabalho com a oralidade, na concepção interacionista da

linguagem, a prática pedagógica precisa estar centrada em torno de um determinado

tema e gênero discursivo. Por exemplo, a análise de textos em sala de aula será

relevante se contemplar também aspectos da oralidade, fortalecendo a ideia de que

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essa competência linguística também está sujeita aos princípios da textualidade.

Sobre isso Antunes (2003, p. 102), afirma ―como se pode facilmente constatar; os

textos orais igualmente ocorrem sob a forma de variados tipos e gêneros, dependendo

dos contextos mais ou menos formais em que acontecem‖.

Portanto, nessa última concepção de linguagem, o objeto da aprendizagem está

centrado no uso da língua, em circunstâncias de oralidade, de leitura e de escrita. O

que significa dizer que a escola não deve ter outra intensão senão chegar aos usos

sociais da língua, na forma em que ela acontece no dia a dia da vida dos alunos.

Porém, isso só é possível se o texto for objeto de estudo, pois é por meio dos

gêneros orais e escritos que a língua se materializa, (Cf. Marcuschi, 2011, p.

20), ―todas as nossas manifestações verbais mediante a língua se dão como textos

e não como elementos linguísticos isolados‖.

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CAPÍTULO II

O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA PERSPECTIVA DOS

GÊNEROS TEXTUAIS

“Pobre língua escolar! Tantas vezes fora de voz e tão cheia de não ser nada!”

(Antunes, 2007)

Como vimos no capítulo anterior, tradicionalmente, o ensino de língua

portuguesa nas escolas foi voltado para a gramática normativa, principalmente,

numa perspectiva prescritiva, ou seja, com base na imposição de regras a serem

seguidas, por exemplo, concordância nominal, regência verbal etc., conforme

Bezerra (2010, p. 39), ―fatores externos e internos motivaram essa tradição‖. O autor

enfatiza que ensinar língua portuguesa era levar ao conhecimento/reconhecimento

dos alunos as regras gramaticais, de funcionamento dessa variedade linguística de

prestígio.

Desse modo, um dos grandes problemas no ensino de língua portuguesa,

principalmente nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, está relacionado às

práticas de ensino de gramática. Essa problemática surge porque muitos docentes,

conforme afirma Antunes (2003), dão ênfase na terminologia gramatical e nas suas

taxonomias em detrimento à reflexão sobre a estrutura, funcionamento e uso da língua

materna em contextos de interação. É dessa perspectiva de ensino que:

[...] provêm os muitos equívocos que fortalecem os preconceitos linguísticos, que alimentam os programas irrelevantes e as práticas inadequadas de ensino, sobretudo quando se desembarca na plataforma da gramática. Pois, se são tortos os olhos com que se vê a língua, em geral, muito mais tortos são eles quando se vê a gramática, em particular (ANTUNES, 2007, p. 21).

Essa problemática mobilizou diversos pesquisadores – Antunes (2003), Porto

(2009), Naspolini (2009), entre outros – na discussão sobre como se deveria ser o

ensino de gramática na escola, principalmente no Ensino Fundamental. De um modo

geral, esses autores apontam algumas propostas para o ensino da língua

portuguesa em nossas escolas, por exemplo, oferecer aos estudantes a preparação

para um desempenho mais seguro na atividade de interação linguística, e não

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restrições. Portanto, é nessa perspectiva que essa pesquisa direciona uma prática

linguística com ênfase nos gêneros textuais.

2.1 O ensino de língua portuguesa nos anos iniciais

Durante muito tempo, acreditou-se numa prática pedagógica fundamentada

na repetição de exercícios de nomear e classificar palavras, na perspectiva de se

ensinar gramática. Nesse sentido, pensava-se que essa prática poderia levar a criança

a aprender a ler e a escrever com proficiência, ou seja, de forma culta. Por isso, nas

aulas de língua portuguesa dos anos iniciais do Ensino Fundamental, havia muitas

tarefas de retirar do texto as classes gramaticais. Um ensino de língua com foco no

certo e no errado. Sobre isso, Antunes (2007, p. 22), afirma que:

[...] a língua não pode ser vista tão simplistamente, como uma questão, apenas, de certo e errado, ou como um conjunto de palavras que pertencem a determinada classe e que se juntam para formar frases, à v olta de um sujeito e de um predicado. A língua é mais que isso tudo. É parte de nós mesmos, de nossa identidade cultural, histórica, social.

Na perspectiva apresentada pela a autora, é por meio da língua que nos

socializamos, que interagimos, que desenvolvemos nosso sentimento de

pertencimento a um grupo social, a uma comunidade. Assim, o ensino de língua não

pode ser desvinculado desses aspectos (social, histórica e cultural). Mas para isso

faz-se necessário (Cf. Antunes, 2007), reprogramar a mente dos professores, pais e

alunos em geral, para ver a língua com mais elementos que a constituem, para além

das suas classes gramaticais, superar a perspectiva do acerto e erro de gramática e

de sua taxonomia. Pois, para a autora, o que foge do que é culto é visto como erro.

Essa perspectiva de certo e errado está relacionada com o equívoco de que

estudar nomenclaturas é estudar gramática, porém a autora desfaz essa confusão

conceitual ao esclarecer que ―regras de gramática são as normas que especificam

os usos da língua, que ditam como deve ser a constituição de suas várias unidades

desde o seu nível fonológico até o pragmático‖ (ANTUNES, 2007, p. 17). Corroborando

com autora, Naspolini (2009), afirma que precisamos refletir sobre esse ensino de

língua ―vazio‖, desprovido da interação linguística, pois o exercício de classificar

palavras deixa o conteúdo desinteressante e estabelecer uma prática pedagógica

autoritária e, com isso, não garante a aprendizagem da língua portuguesa.

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Antunes ainda ressalta que a nomenclatura gramatical e suas classificações,

como o próprio nome explicita, resumem-se às designações que as unidades da

gramática têm. Desse modo, trata-se apenas de rotular as palavras e não de

analisar as competências linguísticas para se falar, escrever e l er com qualidade e

de acordo com cada contexto de interação da linguagem. Para a autora, a

nomenclatura é um meio e não um fim. Por isso, nos anos iniciais do Ensino

Fundamental, é recomendável que a exploração da metalinguagem ganhe mais

atenção nas práticas pedagógicas, destacando-se atividades de leitura, compreensão,

escrita e reescrita.

Para a autora, o ensino da escrita, por exemplo, numa perspectiva

interacionista, precisa concebê-la como uma atividade cooperativa entre duas ou mais

pessoas, e isso deveria permear a prática pedagógica. Assim,

Uma visão interacionista da escrita supõe, desse modo, encontro, parceria, envolvimento entre sujeitos, para que aconteça a comunhão das ideias, das informações e das interações pretendidas. Assim, por essa visão se supõe que alguém selecionou alguma coisa a ser dita a um outro alguém, com quem pretendeu interagir, em vista de algum objetivo (ANTUNES, 2003, p.

45).

Desse modo, o ensino de língua portuguesa, no que se refere à competência

da escrita, poderia dar ênfase às atividades interativas de linguagem, isto é, de

manifestação verbal das ideias, de informações e de intenções. Ter o que dizer é,

portanto, uma condição prévia para o êxito da atividade de escrever (ANTUNES,

2003). Com isso, as palavras são apenas a mediação da comunicação, ou seja, o

material com que se faz a ponte entre quem fala e quem escuta, entre quem escreve

e quem lê. Portanto, solicitar que os alunos selecionem e/ou classifiquem palavras

isoladas não possibilita um ensino reflexivo.

Contudo, o ensino de língua portuguesa precisa ver a língua como diversa em

seus usos, pois cumpre funções comunicativas socialmente específicas e relevantes

em seus contextos de uso. ―Como uma das modalidades de uso da língua, a escrita

existe, por exemplo, para cumprir diferentes funções comunicativas, de maior ou

menor relevância para a vida da comunidade‖ (ANTUNES, 2003, p. 47). Esses

aspectos precisam ser considerados quando ensinamos os usos sociais da

linguagem. Como alerta a autora ao propor que prestemos atenção à vida das pessoas

nas sociedades letradas, pois podemos constatar que a escrita está presente, de

maneira constante em diversos contextos, tais como, no trabalho, nas

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brincadeiras, na escola, no recreio, nas reuniões de família etc., portanto, nas práticas

de ensino não poderia ser diferente. Os Parâmetros Curriculares já apontavam a

necessidade de levar em considerações os diferentes contextos e situações de

comunicação:

O domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de plena participação social, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento. Assim, um projeto educativo comprometido com a democratização social e cultural atribui à escola a função e a responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso aos saberes linguísticos necessários para o exercício da cidadania, direito inalienável de todos (BRASIL, 1997, p. 21).

Partindo desse pressuposto, realizar o ensino de língua portuguesa com foco

na análise sintática, na seleção e classificação de palavras retiradas de texto na

perspectiva de conseguirmos deixar os estudantes suficientemente competentes

linguisticamente é um grande equívoco didático, pois, segundo Antunes (2003, p.

47), o professor não pode, sob nenhum pretexto, ―insistir na prática de uma escrita

escolar sem leitor, sem destinatário, sem referência, portanto, para se decidir sobre

o que vai ser escrito‖.

No que concerne à leitura, ela é uma atividade complementar à atividade da

produção escrita. Mas precisa ser considerada para além da decodificação gráfica,

pois a leitura é parte da interação verbal escrita, enquanto também implica

participação cooperativa entre quem escreve e o leitor. Nesse processo cooperativo,

o leitor, como sujeito de interação, também atua na tessitura do texto, pois busca,

por meio da leitura, interpretar e compreender o conteúdo e as intenções

pretendidos pelo autor (ANTUNES, 2003). Desse modo, os elementos gráficos

(palavras, sinais, pontuações etc.) funcionam como verdadeiras instruções de quem

escreve, que não podem ser desconsideradas para quem está lendo consiga

compreender os significados do que está escrito.

Nestes termos, prática pedagógica precisa está centrada na compreensão de

que leitura e escrita são ações que se complementam, assim, não precisa ser

tratadas de maneira dicotômicas. Segundo as orientações dos PCNs:

O trabalho com leitura tem como finalidade a formação de leitores competentes e, consequentemente, a formação de escritores, pois a possibilidade de produzir textos eficazes tem sua origem na prática de leitura, espaço de construção da intertextualidade e fonte de referências modelizadoras. A leitura, por um lado, nos fornece a matéria prima para a escrita: o que escrever. Por outro, contribui para a constituição de modelos: como escrever (BRASIL, 1997, p. 40).

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Desse modo, a prática pedagógica precisa possibilitar, por meio das

atividades de leitura e de escrita, acesso ao conhecimento produzido pelas diversas

áreas (história, geografia, matemática, ciências etc.). Para Antunes (2003, p. 70), a

leitura escolar de textos de outras disciplinas ―representa uma oportunidade bastante

significativa de aquisição de novas informações‖. Nessa perspectiva, informações de

um texto de geografia ou de história podem ser bastante relevantes para apoiar os

argumentos apresentados num comentário, por exemplo. Mas para que isso seja

possível, o professor que ensina língua portuguesa, precisa considerar o texto como

objeto de ensino.

2.2 O texto como objeto de ensino

O texto precisa ser visto como o centro do ensino de língua materna, como

parte da atividade discursiva. Para que isso ocorra, (Cf. Antunes, 2003), os docentes

precisam ter conhecimento das questões relativas ao funcionamento do léxico, da

gramática e das práticas cognitivo-textuais com que efetivamos nossa atividade

comunicativa. Sendo assim, o texto precisa ser analisado considerando os seguintes

aspectos: gênero, sua função, suas estratégias de composição, sua distribuição de

informações, seu grau de informalidade, suas remissões intertextuais, seus recursos

coesivos, sua coerência e, além disso, a gramática que o compõe.

Portanto, nas atividades que envolvam o texto como objeto de ensino, além

do conhecimento do mundo, é preciso também conhecer os aspectos gramaticais

(as regularidades ou as regras de funcionamento da língua) que especificam o que

deve-se fazer para organizar um texto, para lhe dar coesão e coerência, ou seja,

para lhe atribuir uma continuidade e uma progressão (ANTUNES, 2007). Essas

habilidades precisam ser ensinadas para os alunos, na perspectiva de formar

leitores e escritores competentes.

Desse modo, a prática pedagógica necessita considerar o tipo de texto que

vai ser utilizado na aula, pois não de compõe uma narrativa e um comentário

opinativo usando os mesmos padrões de sequências, por exemplo. Além disso,

saber que gênero textual será escolhido (uma carta, um comentário, um aviso, um

anúncio) e como vamos dividi-lo em partes – blocos ou parágrafos, se for o caso, ou

em tópicos e subtópicos – para organizar o ensino. Assim, ensinar o conhecimento

dos recursos de textualização.

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Antunes (2007), fala sobre a importância de no trabalho com o texto na sala

de aula possibilitar aos alunos conhecer os aspectos relacionados à textualização,

ou seja, ensinar:

[...] que estratégias de interação com nosso interlocutor preferimos adotar (se direta ou indiretamente; se de forma categórica, precisa ou de forma reservada, cautelosa e reticente; se numa linguagem comum ou informal, se fora dos padrões corriqueiros); que precauções convém tomar para evitar malentendidos; o que vamos explicitar e o que vamos deixar implícito, já que o contexto ou os saberes do interlocutor podem suprir o que não está lido (ANTUNES, 2007, p. 58).

Assim, a prática pedagógica com foco no texto como objeto de ensino precisa

possibilitar aos alunos tudo que é necessário para se entender ou para se fazer, por

exemplo, um bilhete, um aviso, um convite, uma carta etc. Ou seja, um ensino que

fuja da utilização do texto como pretexto para ensinar nomenclaturas e

classificações de palavras. Isso quer dizer que o docente precisa compreender que

nas suas aulas conhecimentos relativos à composição dos diferentes gêneros textuais

são imprescindíveis para que forme pessoas eficazmente comunicativas. Em outros

termos, não basta o aluno saber que o substantivo é a palavra que nomeia as

coisas, seres, lugares etc. ou que a elipse é a omissão de um termo recuperável pelo

contexto precedente. Não basta saber que o pronome é uma palavra que substitui

o nome ou que o artigo é definido ou indefinido. ―É preciso saber que efeitos o uso

de um ou de outro provoca na sequência do texto‖ (ANTUNES, 2007, p. 59).

Portanto, para mudar essa realidade do ensino de língua portuguesa através

do texto como pretexto para ensinar gramática normativa o professor deverá

primeiramente considerar o texto como o objeto de ensino de sua matéria e a partir

dele estabelecer uma grade de conteúdos a serem abordados nas aulas.

Se o texto é o objeto de estudo, o movimento vai ser ao contrário: primeiramente o leitor/ouvinte estuda, analisa, busca compreender o texto (no todo em cada uma de suas partes — sempre em função do todo) é, para chegar a essa compreensão, são ativadas as noções, os saberes gramaticais e lexicais necessários a sua significação. Ou seja, o texto é quem vai conduzindo a análise do leitor ou do ouvinte e, em função dele, é que o professor recorrerá às determinações gramaticais, aos sentidos das palavras, ao conhecimento que o leitor/ouvinte tem a partir de suas experiências (ANTUNES, 2003, p.110).

Contudo, se o texto é o objeto de ensino da língua portuguesa, insistimos, o

professor não deve dar tanta importância às funções sintáticas e morfológicas das

palavras, ou seja, classificar se o é artigo definido ou pronome pessoal do caso reto.

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A importância dada à palavra é qual função ela exerce durante o processo de

comunicação.

Tendo o texto como objeto de estudo o professor irá gradativamente definir o

conteúdo do seu programa de ensino. Tal programa não pode desconsiderar as

seguintes habilidades: falar, ouvir, ler e escrever textos em língua portuguesa.

Considerando esses aspectos do ensino de língua portuguesa o professor estará

atuando dentro do principio de que ―toda atividade linguística é necessariamente

textual‖ (ANTUNES, 2003, p. 111).

Evidentemente, o ensino da língua portuguesa tendo o texto como objeto de

estudo contrapõe-se ao ensino de gramática tradicional. Nesse caso, a língua é vista

ou entendida como algo em constante transformação, cria e recria-se a todo momento,

resultado das interações entre os sujeitos. Assim, a produção textual é incentivada,

sendo os textos utilizados como objeto de trabalho, não retalhados, mas trabalhados

em sua forma e sentido original, completo.

Sobre o uso do texto como objeto de ensino, o PCN de língua portuguesa faz

uma crítica sobre o uso de letras, sílabas e palavras e frases soltas no processo de

ensino/aprendizagem da língua portuguesa, pois se essa fosse a finalidade é que ―o

aluno aprenda a produzir e a interpretar textos, não é possível tomar como unidade

básica de ensino nem a letra, nem a sílaba, nem a palavra, nem a frase que,

descontextualizadas‖ (BRASIL, 1997, p. 29), se assim for, isso não contribui para

desenvolver nos alunos a competência discursiva, foco central no ensino de língua

portuguesa. Conforme o PCN, dentro desse marco, a unidade básica do ensino de

língua portuguesa é o texto, mas isso não conota abandonar a análise linguística

das palavras ou frases nas diversas situações de uso.

Não obstante, nesse contexto de ensino, muitos professores que ensinam

língua portuguesa lutam em sala de aula por uma ―língua limpa‖ (ALVES, 2013, p.

13), sem vestígios da oralidade, do popular, das variedades. Demonstram um apego

exagerado ao ensino de gramática prescritiva, que busca colocar os usos da língua

dentro de regras, como consequência dessa limpeza, a desvalorização de suas

variantes e de suas particularidades. Para a autora, a sala de aula é um espaço de

reflexão sobre a língua que falamos, se não for assim, parece que os alunos vão

para a escola para aprender uma língua que não falam. Desse modo, uma

possibilidade de mudar essa realidade é propor o ensino de língua portuguesa a

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partir dos gêneros textuais. Como afirma Antunes (2003, p. 108), ―a mudança no

ensino do português não está nas metodologias ou nas técnicas usadas. Está na

escolha do objeto de ensino‖.

2.3 Os gêneros textuais no ensino

O caso do uso dos diversos gêneros textuais orais e escritos no ensino de

língua materna tem sido tema de interesse de vários estudiosos, entre eles Lopes-

Rossi (2011); Marcuschi (2011), Schneuwly e Dolz (2004) etc. Portanto, faz-se

necessário discutir sobre as principais ideias desses autores sobre o uso dos

gêneros textuais para o ensino, principalmente, no que se refere à configuração,

dinamicidade e circulação dos textos.

Marcuschi (2011) apoiado nas ideias bakhtiniana traz a perspectiva central de

gênero como um enunciado de natureza histórica, sociointeracional, ideológica e

linguisticamente relativamente estável. Partindo do pressuposto de que os gêneros

textuais são relativamente estáveis, Bazerman (1994 apud Marcuschi, 2011, p. 18)

afirma que os ―gêneros são o que as pessoas reconhecem como gêneros a cada

momento do tempo, seja pela denominação, institucionalização ou regularização. Os

gêneros são rotinas sociais de nosso dia a dia‖.

Sobre o ensino de língua materna a partir dos gêneros textuais o autor

enfatiza que seu uso permite, além de compreender as diversas práticas

interacionais de comunicação, um trabalho interdisciplinar para atenção especial no

funcionamento da língua e para as atividades culturais e sociais, contudo, desde que

―não concebamos os gêneros como modelos estanques nem como estruturas

rígidas, mas como formas culturais e cognitivas de ação social corporificadas de modo

particular na linguagem‖ (MARCUSCHI, 2011, p. 18).

Assim, a organização didática dada ao trabalho com gênero textual precisa

considerar que os gêneros têm uma identidade linguística própria e dinâmica, pois

eles condicionam a produção textual, por exemplo, do ponto de vista do léxico, do

grau de formalidade ou da natureza dos temas. Isso reforça a ideia de que são flexíveis

e variáveis, pois assim como a língua varia, também os gêneros variam, adaptam-se,

renovam-se e multiplicam-se. Em suma, hoje, a tendência é observar os gêneros

pelo seu lado dinâmico, processual, social, interativo, cognitivo, evitando a

classificação e a postura estrutural (MARCUSCHI, 2011).

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Para o autor, os gêneros:

[...] não são superestruturas canônicas e deterministas, mas também não são amorfos e simplesmente determinados por pressões externas. São formações interativas, multimodalizadas e flexíveis de organização social e de produção de sentidos. Assim, um aspecto importante na análise do gênero é o fato de ele não ser estático nem puro (MARCUSCHI, 2011, p. 20).

Desse modo, ao ensinar língua portuguesa a partir de um gênero textual oral

ou escrito, ensina-se um modo de atuação sociodiscursiva numa cultura e não um

simples modo de produção textual, pois numa perspectiva bakhtiniana, toda a

manifestação linguística se dá como discurso, isto é, ―uma totalidade viva e concreta

da língua e não como uma abstração formal que se tornou o objeto preferido e legítimo

da linguística‖ (MARCUSCHI, 2011, p. 20).

Por outro lado, segundo Marcuschi (2011), algumas práticas pedagógicas têm

focado na categorização e classificação dos gêneros. Mas classificar os gêneros não

parece a melhor escolha didática, pois são dinâmicos e variáveis, desse modo, não

parece a melhor escolha e sim determinar os critérios da categoria gênero textual ou

gênero do discurso. Os critérios perpassam por sua função, organização, conteúdo e

meio de circulação.

A escola precisa valorizar a plasticidade dos gêneros, pois são desiguais em

certas funções e é por isso que eles proliferam para dar conta da variedade de

atividades desenvolvidas no dia a dia. Em geral,

[...] os gêneros desenvolvem-se de maneira dinâmica e novos gêneros surgem como desmembramento de outros, de acordo com as necessidades ou as novas tecnologias como o telefone, o rádio, a televisão e a internet. ―Um gênero dá origem a outro, e assim se consolidam novas formas com novas funções, de acordo com as atividades que vão surgindo‖ (MARCUSCHI, 2011, p. 22).

A vantagem em trabalhar os gêneros textuais no ensino de língua portuguesa,

segundo Lopes-Rossi (2011), dar-se pelo fato dos gêneros proporcionarem o

desenvolvimento da autonomia do estudante no processo de ensino/aprendizagem

da leitura e da escrita como produto de práticas socialmente comunicativas. ―Uma

vez que é por meio dos gêneros discursivos que as práticas de linguagem incorporam-

se às atividades dos alunos‖ (LOPES-ROSSI, 2011, p. 71).

Contudo, a autora sinaliza a importância do docente criar condições para que

os alunos possam apropriar-se de suas características discursivas e linguísticas de

gêneros diversos, em situações de comunicação real. Daí, a importância de construir

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uma organização didática que vise ao conhecimento linguístico, à leitura, à

discussão sobre o uso e as funções sociais dos gêneros escolhidos e, quando

pertinente, a sua produção escrita e circulação social.

Lopes-Rossi (2011, p. 71) argumenta e chama a atenção das práticas

pedagógicas centradas no trabalho com os gêneros:

[...] as atividades de leitura, por si sós, podem constituir-se objetivo de um projeto pedagógico. Nem todos os gêneros se prestam bem à produção textual na escola porque suas situações de produção e de circulação social dificilmente seriam reproduzidas em sala de aula ou porque o professor julga conveniente priorizar, em certos momentos, atividades de leitura.

A reflexão da autora fomenta a ideia de que o docente precisa conhecer bem

o que está fazendo ou planejando, do contrário, não obterá êxito nas atividades

linguísticas centradas nos gêneros textuais, pois alguns deles prestam-se muito bem

para atividades de leitura. São eles: rótulos de produtos, bulas de remédio,

propagandas de produtos, propagandas políticas, etiquetas de roupas, manuais de

instrução de equipamentos, contratos, nota fiscal etc. Não que esses gêneros sejam

inadequados, pelo contrário, são bem apropriados para o trabalho de leitura em

qualquer nível de ensino, mas que o professor conheça a função social e linguística

de cada um.

Assim, conforme Lopes-Rossi (2011), a leitura de gêneros discursivos na

escola nem sempre pressupõe a produção escrita. Esta, no entanto, pressupõe:

[...] sempre atividades de leitura para que os alunos se apropriem das características dos gêneros que produzirão. É por isso que um projeto pedagógico para a produção escrita deve sempre ser iniciado por um módulo didático de leitura para que os alunos se apropriem das características típicas do gênero a ser produzido (LOPES-ROSSI, 2011, p. 72).

Nesse sentido, as atividades de leitura precisam acontecer na mesma mão

em que acontecem fora da escola, na prática do dia a dia. Ou seja, trazer para a

sala de aula diferentes gêneros e no sentido de que os objetivos propostos para a

leitura sejam também diferentes e, sempre que possível, com foco em atividades de

produção textual.

Para Schneuwly e Dolz (2004), ao trazer os gêneros para a escola ocorre o que

os autores chamaram de ―desdobramento‖, pois se opera um novo direcionamento

para o gênero, em que deixa de ser instrumento exclusivo de comunicação e passa a

ser, ao mesmo tempo, objeto de ensino/aprendizagem. ―O aluno encontra-se,

necessariamente, num espaço do ‗como se‘, em que o gênero

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funda uma prática de linguagem que é, necessariamente, em parte, fictícia, uma vez

que é instaurada com fins de aprendizagem‖ (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004, p. 65).

Os autores reforçam a importância de considerar os gêneros textuais

inerentes do próprio espaço escolar. Dessa forma, a escola é tomada como

autêntico lugar de comunicação, e as situações que ocorrem nesse contexto são

naturalmente ocasiões de produção/recepção textual. ―Os alunos encontram-se,

assim, em múltiplas situações em que a escrita se torna possível, em que ela é

mesmo necessária‖ (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004, p. 66). Com isso, o funcionamento

da instituição escolar pode ser transformado de tal maneira que as ocasiões de

produção de textos se multiplicam, por exemplo, a elaboração de bilhetes para

comunicar reuniões entre pais e mestres; a confecção de cartazes informativos

sobre o horário de aula; aviso de atividades extraescolares etc. Para os autores:

Na prática em classe, os gêneros não são fontes de inspiração. A situação de comunicação é vista como geradora quase automática do gênero, que não é descrito, nem ensinado, mas aprendido pela prática de linguagem escolar, por meio dos parâmetros próprios à situação e das interações com os

outros (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004, p. 67).

Portanto, a aprendizagem do gênero dar-se naturalmente da situação de

comunicação. Dessa forma, o gênero não é visto somente como um instrumento de

ensino/aprendizagem, pois nessa situação didática, aprende-se escrever, escrevendo,

numa progressão que é, também, concebida como um evento natural de interação

comunicativa. Mas para que isso seja possível, o professor precisa dar uma

organização pedagógica que possibilite ao aluno vivenciar práticas reais de leitura e

de produção textual, uma possibilidade seria elaborar Sequências Didáticas (SD).

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CAPÍTULO III

PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

Ótimo seria, caro Agáton, se a sabedoria fosse uma coisa que pudesse passar, por simples contato, de quem a tem a quem não a tem, assim como a água que por um fio de lã corre de um cálice cheio para um cálice vazio.

(Platão, 1999)

A epígrafe acima traz um diálogo entre Aristóteles e Agáton retirado da obra

Apologia de Sócrates: banquete. Ela nos permite refletir sobre as condições em que

produzimos conhecimento/saber, algo que não se consegue pela simples

observação de um fenômeno ou por alguma coisa que nos inquieta. Dessa forma, ao

revisitar nosso objetivo de pesquisa, propor uma sequência didática para o ensino

de língua portuguesa nos anos iniciais do Ensino Fundamental na perspectiva dos

gêneros textuais, passa-se a refletir, também, sobre as implicações desse estudo para

a prática de sala de aula, principalmente no que concerne o ensino de língua

portuguesa. Pois, parte-se do princípio de que as pesquisas acadêmicas precisam

de alguma forma, dar retorno às práticas de sala de aula, ou seja, a pesquisa deve

gerar novas ideias para o professor e contribuir para que possam compreender melhor

seu contexto de atuação profissional, seus alunos e sua prática pedagógica. Portanto,

neste capítulo trataremos de como se constituiu a investigação.

3.1 O que entendemos por pesquisa

Esse trabalho considera o processo de fazer pesquisa como uma maneira de

produzir novos conhecimentos, no nosso caso, acerca do uso de gêneros textuais e

discursivos no processo de ensino/aprendizagem de língua portuguesa. Nesse

sentido, considera-se que toda pesquisa precisa possuir objetivos, procedimentos

metodológicos e técnicas bem definidas para que possam garantir o bom andamento

da investigação. Para Moreira e Caleffe (2008, p. 14), ―pesquisa é um estudo

sistemático baseado em suposições subjacentes básicas e emprega procedimentos

determinados‖. Para os autores,

A pesquisa supõe uma investigação sistemática, crítica e autocrítica com o objetivo de contribuir para o avanço do conhecimento. Uma investigação caracterizada por um conjunto de princípios e orientações para

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procedimentos e que está sujeita à avaliação em termos de critérios de validade, confiabilidade e representatividade. Deve ser conduzida com propósitos claros e definidos e não é um amontoado aleatório de dados (MOREIRA; CALEFFE, 2008, p. 17).

Portanto, os autores ainda afirmam que pesquisar é um processo de estudo

que consiste na busca disciplina/metódica de saberes e compreensões acerca de

um fenômeno, problema ou questão da realidade ou presente na literatura o qual

inquieta/instiga o pesquisador perante o que se sabe ou diz a respeito. Com isso, o

fenômeno aqui discutido parte da possibilidade de propor uma prática pedagógica

centrada nos gêneros textuais para professores que ensinam língua portuguesa nos

anos iniciais de escolarização. Dessa forma, investigar problemas da prática desses

educadores e as situações da sua realidade de sala de aula possibilidade, também,

mudar a prática docente dos pesquisadores.

A pesquisa é a atividade básica da ciência na sua indagação e construção da realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo. Portanto, embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula pensamento e ação. Ou seja, nada pode ser intelectualmente um problema se não tiver sido, em primeiro lugar, um problema da vida prática (MINAYO, 2015, p. 16).

Portanto, a pesquisa, enquanto sua abordagem é numa perspectiva

qualitativa. O delineamento do estudo deu-se inicialmente pela exploração do tema

(gêneros textuais) de forma mais livre e aberta. Para Minayo (2015), nessa abordagem

a pesquisa dar-se por uma exploração permanente, em que as dúvidas, as respostas,

as pistas e os novos territórios de indagação permanecem abertos até o final. Além

disso, a autora enfatiza que a pesquisa qualitativa responde a questões muito

particulares. Ela se ocupa, nas Ciências Sociais, por exemplo, com um nível de

realidade que não pode ou não deveria ser quantificado.

No que se refere ao tipo é uma pesquisa bibliográfica. Para Minayo (2015), pode

se constituir em etapa inicial de um processo de pesquisa seja qual for o problema

em questão, com o objetivo de se ter um conhecimento prévio da situação em que se

encontra um assunto na literatura da área. Nestes termos, inicialmente foi realizado

um estudo sobre o que as pesquisas na área de ensino de língua portuguesa apontam

sobre o ensino/aprendizagem de língua materna nos anos iniciais do Ensino

Fundamental. Em seguida, direcionou-se para os estudos acerca dos gêneros textuais

no ensino de línguas, na perspectiva do texto como objeto de ensino. Sobre esse

primeiro movimento da investigação, a autora afirma ser uma estratégia necessária

para a realização de qualquer pesquisa científica.

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Mas não podemos confundir pesquisa bibliográfica com levantamento

bibliográfico, para Minayo (2015), a pesquisa bibliográfica difere, portanto, do

levantamento bibliográfico. Enquanto este constitui a primeira etapa de qualquer

trabalho de pesquisa, a pesquisa bibliográfica não deixa de ser uma pesquisa em si.

Desse modo, a pesquisa bibliográfica também pode ser utilizada para a realização

de uma pesquisa teórica sobre um determinado assunto.

Após a revisão bibliográfica foi realizado um estudo sobre a organização

didática que seria dada ao ensino de língua portuguesa a partir de gêneros textuais

orais e escritos. Com o intuito de saber o que propor como perspectiva metodológica

para o ensino, conforme Minayo (2015), a pesquisa bibliográfica visa ao conhecimento

e à análise das principais teorias relacionadas a um tema e é parte indispensável de

qualquer tipo de pesquisa. Nessa etapa da investigação chegou -se a conclusão de

que a Sequência Didática na perspectiva de Schneuwly e Dolz seria a proposta desse

estudo.

3.2 A proposta metodológica Sequência Didática

A organização metodológica adotada para esse estudo está pautada na

perspectiva teórica de Bernard Schneuwly e Joaquim Dolz, dois pesquisadores de

Didática do Francês/Língua Materna da Faculdade de Psicologia e Ciências da

Educação (FAPSE) da Universidade de Genebra (UNIGE), Suíça, e coordenadores do

Grupo Grafe – Grupo Romando de Análise do Francês Ensinado.

Para os autores, o procedimento Sequência Didática (SD) ―é um conjunto de

atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero

oral ou escrito‖ (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004, p. 82). Portanto, o ensino de língua

portuguesa, nessa perspectiva, precisa, necessariamente, partir de um gênero

textual ou discursivo.

Essa perspectiva defende o pressuposto de que trabalhar com gêneros

possibilita situações reais de comunicação. Possibilita aos alunos compreender que

não escrevemos, por exemplo, da mesma maneira quando redigimos uma

mensagem de celular ou um conto, ou que não falamos da mesma maneira quando

apresentamos um seminário ou quando conversamos com colegas da turma no

momento do recreio. Mas que apesar dessa diversidade, podemos constatar

regularidades pertinentes às diversas situações de interação comunicativa.

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Para Schneuwly e Dolz (2004, p. 83),

[...] em situações semelhantes, escrevemos textos com características semelhantes, que podemos chamar de gêneros de textos, conhecidos de reconhecidos por todos, e que, por isso mesmo, facilitam a comunicação: a conversa em família, a negociação no mercado ou o discurso amoroso. Certos gêneros interessam mais à escola – as narrativas de aventuras, as reportagens esportivas, as mesas redondas, os seminários, as notícias do dia, as receitas de cozinha, para citar apenas alguns.

Nestes termos, a SD tem como finalidade contribuir para que os alunos

dominem cada vez melhor determinado gênero textual que faz parte do seu dia a

dia. Desse modo, permitindo-lhes, assim, escrever ou falar de uma maneira mais

adequada com o contexto real de comunicação. Assim, o trabalho na escola preci sa

contemplar gêneros que realmente os alunos necessitam dominar ou aperfeiçoar.

Segundo os autores, a SD serve, portanto, para dar acesso aos alunos às práticas

de linguagem novas ou dificilmente domináveis.

Toda SD segue uma estrutura bem definida que parte da apresentação de uma

situação até a produção final.

Figura 04: Estrutura de uma Sequência Didática Fonte: Schneuwly, Dolz e Noverraz, 2004, p. 83.

De forma mais detalhada, a apresentação da situação visa expor aos alunos

um projeto de comunicação que será realizado. Além disso, nessa etapa os

estudantes são preparados para o momento de produção inicial, ―que pode ser

considerada uma primeira tentativa de realização do gênero que será, em seguida,

trabalhado nos módulos‖ (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004, p. 84).

A apresentação da situação trata-se de um momento crucial e difícil, no qual

duas dimensões principais podem ser distinguidas: apresentar um problema de

comunicação bem definido e preparar os conteúdos dos textos que serão

produzidos.

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Na primeira dimensão é os alunos realizam uma produção textual coletiva de

um gênero textual oral ou escrito (Schneuwly e Dolz, 2004), proposto aos alunos de

maneira bastante explícita para que eles compreendam o melhor possível a situação

de comunicação na qual devem agir. Por exemplo, definir o gênero que será

abordado; a quem se dirigirá a produção; que forma assumirá a produção e quem

participará da produção.

Na segunda dimensão, os conteúdos serão explorados para que seja

realizada a produção do texto. Para os autores, nessa fase é preciso que os alunos

percebam a importância dos conteúdos e saibam com quais vão trabalhar. ―Se for o

caso de uma carta do leitor, os alunos deverão compreender bem a questão

colocada e os argumentos a favor e contra as diferentes posições‖ (SCHNEUWLY;

DOLZ, 2004, p. 85).

Portanto, essa fase inicial da proposta metodológica permite fornecer aos

alunos todas as informações necessárias para que conheçam a situação de

comunicação pensada para o processo de ensino/aprendizagem. Para Schneuwly e

Dolz (2004), na medida do possível, as SD devem ser desenvolvidas no âmbito de

um planejamento para toda a turma, elaborado durante a apresentação da situação,

pois este torna as tarefas propostas com significantes aos aprendizes. Os autores

sugerem que esse projeto inicial pode ser parcialmente fictício, à medida que as

atividades vão se desencadeando, o professor pode sugerir situações reais de

produção textual.

Após a apresentação da situação inicial, o docente já pode encaminhar a

produção inicial. Nessa etapa os alunos tentam elaborar um primeiro texto, que pode

ser oral ou escrito, depende do gênero que será trabalhado com a turma. Esse

momento é essencial, pois revela ―para si mesmo e para o professor as

representações que tem dessa atividade‖ (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004, p. 86). Para

os autores, esse encaminhamento não tem como objetivo colocar os alunos em

situação de insucesso, pelo contrário, todos os alunos, inclusive os que apresentam

maiores dificuldades na escrita, tornam-se competentes para produzir um texto oral

ou escrito, mesmo que ainda não consigam atender todos os aspectos referentes ao

gênero textual escolhido para a SD. Desse modo,

[...] cada aluno consegue seguir, pelo menos parcialmente, a instrução dada. Esse sucesso parcial é, de fato, uma condição sine qua non para o ensino, pois permite circunscrever as capacidades de que os alunos já

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dispõem e, consequentemente, suas potencialidades (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004, p. 86).

Portanto, a produção inicial ajuda na definição do ponto em que o professor

pode realizar intervenções intencionalizadas e, desse modo, apontar ou dar dicas para

os alunos do caminho que podem percorrer no desenvolvimento da SD, assim,

proporcionar uma avaliação formativa da aprendizagem. Desta forma, a produção

inicial pode ajudar na motivação do professor e do aluno, pois permite aos alunos

descobrir o que já sabem fazer e conscientizar-se dos problemas que eles mesmos

se encontram.

Para Schneuwly e Dolz (2004, p. 86), afirmam que ―por meio da produção, o

objeto da sequência didática delineia-se melhor nas suas dimensões comunicativas

e também se manifesta como lugar de aprendizagem necessária das dimensões

problemáticas‖. Desse modo, a SD começa apresentando aos alunos a definição do

que é preciso trabalhar com a finalidade de desenvolver suas capacidades de

linguagem e começar a se apropriarem do gênero em estudo.

Portanto, essa primeira produção pode apontar os pontos fortes e fracos dos

alunos, além disso, as técnicas de escrita ou de fala utilizadas pelos estudantes.

Isso permite ampliar e delimitar o arcabouço das limitações linguísticas que serão

objeto de trabalho nos módulos.

Em seguida, os módulos são planejados e trabalhados na SD. Nessa etapa

da proposta metodológica, trata-se de trabalhar as dificuldades linguísticas que

apareceram na produção inicial e oferecer aos alunos as ferramentas necessárias

para superá-las. Segundo Schneuwly e Dolz (2004, p. 87),

[...] a atividade de produzir um texto escrito ou oral é, de uma certa maneira, decomposta, para abordar, um a um e separadamente, seus diversos elementos, à semelhança de certos gestos que fazemos para melhorar as capacidades de natação, nos diferentes estilos.

Nessa perspectiva metodológica, de um modo geral, o movimento dado à SD

vai, portanto, do complexo para o simples, ou seja, da produção inicial aos módulos,

cada um trabalhando uma ou outra capacidade linguística necessária ao domínio do

gênero em estudo. Mas para isso é preciso que o professor tenha como eixo

norteador da SD as dificuldades da expressão oral ou escrita apresentadas pelos

alunos; a elaboração dos módulos para trabalhar tais dificuldades linguísticas que

apareceram nas produções iniciais e capitalizar o que é adquirido em cada módulo

de estudo.

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No que se referem às dificuldades da expressão oral ou escrita apresentadas

pelos alunos o professor precisa propor atividades que os levem a aprender a fazer

uma imagem do destinatário, ou seja, saber para quem estou escrevendo, além disso,

saber a finalidade com que escrevem (informar, convencer, divertir etc.) e sua posição

no gênero escrito (autor ou locutor). ―Os alunos devem conhecer as técnicas para

buscar, elaborar ou criar conteúdos‖ (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004, p. 88).

Outra habilidade que pode ser trabalhada durante os módulos é o planejamento

do texto. Nesse ponto da SD o aluno precisa aprender a estruturar seu texto de acordo

com um plano de escrita que depende da finalidade que se deseja atingir ou para

quem o texto será destinado, pois cada gênero é caracterizado por uma estrutura

própria, seja ela mais ou menos convencional. Após isso, dar-se-á a realização do

texto. Para Schneuwly e Dolz (2004, p. 88), esse é o momento em que o aluno deve

escolher os meios de linguagem mais eficazes para escrever seu texto, isto é, ―utilizar

um vocabulário apropriado a uma dada situação, variar os tempos verbais em função

do tipo e do plano do texto, servir-se de organizadores textuais para estruturar o texto

ou introduzir os argumentos‖.

Ainda na etapa da SD, o professor precisa variar as atividades dos módulos,

pois é importante para alcançar os objetivos da proposta metodológica, oferecer aos

alunos atividades diversificadas o máximo possível. Os autores sugerem três

grandes categorias de atividades linguísticas: atividades de observação e de análise

de textos; atividades simplificadas de produção de textos e; a elaboração de uma

linguagem comum.

Nas atividades de observação e de análise de textos os estudantes têm como

finalidade estabelecer comparações entre textos de um mesmo gênero ou de

gêneros distintos, podendo ser realizada com base em textos completos ou de

partes de textos de mesmo gênero. Nas atividades simplificadas de produção textual

os alunos têm a oportunidade de construir os textos por partes, tratando de um gênero

do tipo dissertativo, por exemplo, o professor pode trabalhar as partes que o

constituem (introdução, desenvolvimento e conclusão) uma de cada vez, dessa

forma, explorando com mais eficiência a tessitura da dissertação. Portanto, ―o aluno

pode, então, concentrar-se mais particularmente num aspecto preciso da elaboração

de um texto‖ (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004, p. 89).

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Por fim, nas atividades de elaboração de uma linguagem comum os estudantes

são propostas situações em que podem falar dos textos, comentá-los, criticá-los e,

até mesmo, melhorá-los. Essa tarefa pode ser feita com os próprios textos produzidos

pelos alunos na etapa da produção inicial. Este trabalho precisa ser realizado durante

todo o desenvolvimento da SD.

Essas atividades possibilitam aos alunos a oportunidade de construir

progressivamente conhecimentos sobre o gênero em estudo. Portanto, tais

atividades conduzem os estudantes à última etapa da SD, a produção final.

Segundo Schneuwly e Dolz (2004), a SD é finalizada com uma produção

final que dá aos alunos a possibilidade de colocarem em prática as noções e os

instrumentos elaborados separadamente nos módulos. Essa produção permite,

também, ao professor realizar uma avaliação de tudo que foi trabalhado durante o

desenrolar da SD. Portanto, é nesse momento que as habilidades linguísticas são

avaliadas, permitindo ao docente verificar os progressos realizados no domínio do

trabalho. ―Serve de instrumento para regular e controlar seu próprio comportamento

de produtor de textos, durante a revisão e a reescrita‖ (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004,

p. 90).

Não obstante, o sucesso do trabalho com gêneros orais ou escritos não

depende somente do professor seguir passo a passo as etapas da SD, mas está,

também, na escolha do gênero a ser trabalhado com a turma. Por isso, essa escolha

precisa ter critérios. Schneuwly e Dolz (2004, p. 101), sugerem três critérios para a

escolha dos gêneros:

1) correspondam às grandes finalidades sociais atribuídas ao ensino, cobrindo os domínios essenciais de comunicação escrita e oral em nossa sociedade; 2) retomem, de maneira flexível, certas distinções tipológicas, da maneira como já funcionam em vários manuais, planejamentos e currículos; 3) sejam relativamente homogêneos quanto às capacidades de linguagem implicadas no domínio dos gêneros agrupados.

Portanto, a escolha do gênero pode ser definitiva no sucesso dos alunos na

perspectiva de ampliar suas habilidades e competências linguísticas. Desse modo,

os gêneros podem ser agrupados de acordo com os domínios sociais de comunicação

e as capacidades de linguagem dominantes. Vejamos sua organização em uma tabela:

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Domínios sociais de comunicação

Capacidades de linguagem dominantes

Exemplos de gêneros orais e escritos

Cultura literária ficcional NARRAR Mimeses da ação através da criação de intriga

Conto maravilhoso Fábula Lenda Narrativa de aventura Narrativa de ficção científica Narrativa de enigma Novela fantástica Conto parodiado

Documentação e memorização de ações humanas

RELATAR Representação pelo discurso de experiências vividas, situadas no tempo

Relato de experiência vivida Relato de viagem Testemunho Curriculum vitae Notícia Reportagem Crônica esportiva Ensaio biográfico

Discussão de problemas sociais controversos

ARGUMENTAR Sustentação, refutação e negociação de tomadas de posição

Texto de opinião Diálogo argumentativo Carta do leitor Carta de reclamação Deliberação informal Debate regrado Discurso de defesa Discurso de acusação

Transmissão e construção de saberes

EXPOR Apresentação textual de diferentes formas dos saberes

Seminário Conferência Artigo ou verbete de enciclopédia Entrevista de especialista Tomada de notas Resumo de textos Relatório científico Relato de experiência científica

Instruções e prescrições DESCREVER AÇÕES Regulação mútua de comportamentos

Instruções de montagem Receita Regulamento Regras de jogo Instruções de uso Instruções

Tabela 01: Aspectos Tipológicos dos Gêneros Fonte: Schneuwly, Dolz e Noverraz, 2004, p. 102.

Contudo, esse agrupamento de gêneros não é estanque nem isolado em

relação aos outros, portanto, não é possível classificar um gênero de maneira

absoluta num dos agrupamentos propostos, nem é essa a intenção do trabalho com

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SD. Para Schneuwly e Dolz (2004, p. 103), ―no máximo é possível determinar alguns

gêneros que poderiam ser protótipos para cada agrupamento e, assim, talvez

particularmente indicados para um trabalho didático‖.

Portanto, a SD que proposta no capítulo seguinte leva em consideração

alguns aspectos importantes para o trabalho com essa organização didática, tais como

a seleção do gênero e as situações de uso; as capacidades linguísticas dos alunos

com base na turma em que está inserido; o tempo necessário para a aprendizagem

da turma; momentos de produção dos textos e a avaliação e divulgação das

produções textuais.

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CAPÍTULO IV

UMA PROPOSTA DIDÁTICO-PEDAGÓGICA A PARTIR DO GÊNERO

POEMA

“Poesia é brincar com palavras

como se brinca com bola, papagaio, pião Só que bola, papagaio, pião gastam,

as palavras não...”

(José Paulo Paes)

Neste capítulo será apresentada uma proposta de Sequência Didática a partir

do gênero textual poema para uma turma do 5º ano do Ensino Fundamental. A

escolha desse gênero deu-se pelo fato de oferecer aos alunos a oportunidade

conhecer um gênero textual que permite o leitor ―jogar com as palavras‖. Brincar

com os sons e sentidos delas. Para Sorrenti (2009), o texto poético (parlenda, trava

língua, paródia etc.) permite à criança, adolescente ou adulto expor sua

sensibilidade e fantasia por meio da leitura. Assim, a presença de recursos linguísticos

que exploram a sonoridade das palavras, conferindo um ritmo próprio ao texto e

favorecendo a construção de significado, é um dos elementos que tornam a recitação

atraente para os alunos, já que gostam de brincar com palavras, criando - as e

reinventando-as, principalmente nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Atualmente, as crianças e os adolescentes, as pessoas de um modo geral,

estão muito ocupadas com as novas tecnologias e não se encontram muito

dispostas para ouvir uma história, ler um livro de narrativas de aventura ou mesmo

um livro de poemas, como afirma Sorrenti (2009, p. 29), ―não dispõe a desarmar o seu

tumultuado coração para acolher os versos‖. A autora enfatiza o fato de nossos alunos

serem resistentes à poesia, de modo geral, porque enfrentam uma fase conflituosa,

em que os valores se digladiam. O poema parece estar diretamente relacionado com

as paixões, e ela é vista como supérfluo.

Portanto, diante desse avanço tecnológico presente nos tabletes, iphone,

computadores etc, ou seja, um mundo digitalmente 3D, fica cada vez mais difícil

para o docente competir com esses recursos digitais. Diante desse contexto social

desafiador, apresentamos uma proposta de SD para o trabalho em língua portuguesa,

contemplando um gênero da esfera literária, o poema.

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4.1 Apresentação do gênero poema

Esse é o primeiro momento da SD. Aqui os alunos terão contato com os

primeiros textos do gênero poema. Desse modo, essa atividade tem como objetivos

avaliar e ampliar o repertório de poemas conhecidos pelos alunos e reconhecer os

poemas em suas diversas formas. Os materiais utilizados são cartolinas, canetas

hidrográficas coloridas, fita crepe, papel A4, lápis de cor, barbante para confecção

de um varal e cópias de poemas. Esse momento pode ser dividido em três etapas.

Na primeira etapa o professor conversa com os alunos sobre poesia, com a

finalidade de saber se conhecem alguns poemas, se apreciam esse gênero e por quê.

Esse será o ponto de partida para a compreensão das características do gênero.

Em seguida, o docente distribui entre os alunos cópias de poemas e solicita que leiam

seus poemas em voz alta. Como sugestão, docente pode propor a leitura dos poemas

que compõe o livro ―111 poemas para crianças‖ de autoria do poeta Sérgio Capparelli.

Figura 05: Livro de poemas

Fonte: Sérgio Capparelli. 111 poemas para crianças, 2016.

Este livro traz o melhor da poesia do poeta Sérgio Capparelli. O autor aborda

versos sobre as pequenas coisas da infância. Além disso, poemas visuais que

brincam com a forma, poesias sobre animais e poemas nonsense. Esta obra reúne o

melhor da produção lírica para crianças. A maior parte dos poemas foram retirados

dos livros publicados pelo autor nos últimos 20 anos, mas também foram

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acrescentados poemas inéditos, portanto, mostra como a arte poética pode ser

versátil, sendo a sua principal função a de jogar com a imaginação dos leitores.

(Sérgio Caparelli. 111 poemas para crianças, 2016.)

Após isso, organizar uma roda de conversa para que os estudantes tenham a

oportunidade de falar sobre o que tratam os poemas. Deixa que expressem suas

ideias, procurando observar quais elementos que compõe o poema eles já conhecem.

Nesse primeiro contato com o gênero a qualidade do que vão dizer não importa tanto

nem se está certo ou errado, pois o importante é que falem, manifestem-se livremente

acerca do leram e do que ouviram. O professor pode fazer alguns comentários sobre

o texto, procurando levá-los a perceber repetições, rimas e outros efeitos sonoros.

Na segunda etapa o professor discutirá com os alunos a diferença entre poema

e poesia, mas não por meio de conceitos ou definições. O docente irá entregar

aos alunos uma folha de papel A4 e lápis de cor. Em seguida, pedir para os alunos

fazer um desenho que represente o poema que foi lido por eles na etapa

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anterior dessa atividade. Depois de desenhar os estudantes expõe seus desenhos e

cada um, na sua vez, explicará porque a figura ilustra o sua concepção de poesia.

Após isso, o professor explica a diferença entre poema e poesia, mostrando que

poema refere-se ao gênero textual e poesia é o que está presente no poema, assim

como pode estar em outras obras de arte. Para Sorrenti (2009), quando falamos de

poema estamos nos referindo ao próprio texto. E, quando falamos em poesia, trata -

se da própria arte, da habilidade de tornar algo poético.

Na terceira etapa, para finalizar a apresentação da situação, o professor

constrói, junto com os alunos, um mural para fixar os poemas lidos e os desenhos

produzidos. Esse mural pode ficar fixado na sala de aula ou no pátio da escola.

Portanto, ao final desse primeiro momento da SD, os alunos terão uma coletânea de

poemas já conhecidos por eles. Esse mural pode ser construído com as cartolinas e

pendurados no varal para que os aprendizes sempre retornem aos poemas.

Finalizada essa etapa, já podem partir para a produção inicial.

4.2 Produção dos primeiros versos

Antes de pegar o fio da escrita, seria aconselhável realizar em sala de aula

algumas atividades orais visando deixar a turma mais predisposta ao trabalho

(SORRENTI, 2009). Passado esse momento, agora é hora de conduzir os alunos para

sua primeira produção. Segundo a autora, cabe ao docente criar condições favoráveis

para que os estudantes mostrem seu empenho e talento para fazer versos por

meio de sugestões de atividades.

Essa fase da SD tem como objetivos apresentar a situação de produção e

escrever um primeiro poema para avaliar o conhecimento dos alunos acerca do

gênero em estudo. Desse modo, o professor lê as produções e faz anotações para

saber o que cada aprendiz precisa melhorar, assim, procurar identificar as informações

que os estudantes já têm sobre poemas e as que precisam apreender. Segundo

Antunes (2003), a primeira produção propicia um diagnóstico dos conhecimentos e

das dificuldades de cada aluno. Essas informações servem como pistas para o

docente planejar os módulos de estudo.

Antes de iniciar a produção textual explicar aos alunos que cada gênero

possui suas características próprias e a situação de produção também varia, ou

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seja, faz-se necessário saber: 1) Quem escreveu? 2) Para quem? 3) Com qual

finalidade? 4) Onde o texto será publicado? Jornal, livro, revista, internet, mural da

escola?

O tema da produção pode ser livre ou o professor pode sugerir que falem de

si, de suas características, de seu comportamento ou da sua brincadeira/brinquedo

preferido. Entregar a cópia do poema ―Sou eu mesmo‖, de Sérgio Capparelli para a

turma. Fazer a leitura em voz alta e conversar sobre a temática do poema e de sua

estrutura em estrofes e versos.

(Sérgio Caparelli. 111 poemas para crianças, 2016.)

Para essa primeira produção também pode ser confeccionado um varal com

os poemas escritos. Os alunos podem fazer rascunhos do poema no caderno, em

seguida, passar a limpo para uma folha A4 e entregar ao professor. Essa atividade

pode ser realizada na biblioteca da escola, se tiver. Esse primeiro texto é importante

para que os alunos avaliem a própria escrita. Com a ajuda do professor, eles podem

perceber o que é preciso melhorar, e com isso, podem comprometer-se mais com as

tarefas da SD. Portanto, agora é o momento de organizar os módulos de estudo.

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4.3 Os módulos de estudo

Após a produção inicial é a hora de iniciar os módulos de estudo. A

quantidade de módulos é muito relativo, pois depende das dificuldades linguísticas que

podem aparecer nas produções textuais dos alunos. Como o objetivo dessa pesquisa

é propor uma SD para o ensino de língua portuguesa a partir de um gênero textual,

nesse caso, poema, as propostas de módulos são com base nas dificuldades

mais comuns apresentadas por estudantes do 5º ano do Ensino Fundamental.

Módulo 01 – Todo poema tem rima?

Compor rimas não é uma tarefa simples. Em muitos casos é necessário recorrer

ao dicionário para encontrar palavras que normalmente não usamos. As rimas

contribuem para que os poemas tenham sonoridade.

Objetivos

Reconhecer rimas;

Conhecer as diferentes combinações de rimas;

Produzir poemas com rimas. Atividade 01

Nesse primeiro momento é importante levar os alunos a reconhecer rimas,

então distribua entre eles cópias de poemas que tenham forma simples, como as

quadrinhas. Escrever no quadro:

O cravo brigou com a rosa,

Debaixo de uma sacada. O

cravo saiu ferido,

E a rosa despedaçada.

(Domínio popular)

Após a leitura e declamação dos poemas, perguntar aos alunos qual palavra

rima ―sacada‖ e por quê. Daí, pedir para substituir no poema a palavras que rimam por

outras. O importante é construir a rima de forma que o verso não perca o ritmo nem o

sentido. Dessa forma, os alunos podem compreender que a palavra tem de completar

o ritmo do verso e também o sentido da quadrinha.

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Com o auxílio do Datashow ou de uma cartolina, projetar o poema ―de muito

longe‖, de Sérgio Capparelli. Leia e analise o poema junto com os alunos, mostre

como os poetas, ao usarem o recurso da rima, são cuidadosos na escol ha das

palavras. Os versos e as estrofes não são construídos apenas com palavras que

rimam entre si, mas de modo que esses elementos se articulem com o conjunto para

produzir um sentido. Para fechamento dessa atividade, ainda tomando como suporte

o poema ―de muito longe‖, explicar os diferentes tipos de versos: versos regulares,

versos brancos e versos soltos.

(Sérgio Caparelli. 111 poemas para crianças, 2016.)

Atividade 02 Nessa atividade, a turma vai compor um texto coletivo, mas não se trata de uma

simples colagem de frases. O texto deve fazer sentido e ser harmonioso. Para

iniciar, dizer aos alunos que terão que ler dois poemas: ―Duas dúzias de coisinhas à

toa que deixam a gente feliz‖, de Otávio Roth; e ―Doze coisinhas à toa que nos

fazem felizes (À moda de Otávio Roth)‖, de Ruth Rocha. Leve os alunos a observar

que a poetisa homenageia o poeta, anunciando retomar seu estilo. Coloque na lousa

os dois títulos, e, antes de ler os versos, peça-lhes que falem de ―coisinhas à toa‖

que os deixam felizes. Não deixe de comentar que os títulos remetem à simplicidade

do dia a dia e insista para que pensem também em coisas simples.

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Duas dúzias de coisinhas à toa que deixam a gente feliz

Passarinho na janela, pijama de flanela,

brigadeiro na panela.

Gato andando no telhado,

cheirinho de mato molhado, disco antigo sem chiado.

Pão quentinho de manhã,

drops de hortelã, grito do Tarzan.

Tirar sorte no osso, jogar pedrinhas no poço, um cachecol no pescoço.

Papagaio que conversa, pisar em tapete persa, eu te amo virce-versa.

Vaga-lume aceso na mão,

dias quentes de verão, descer pelo corrimão.

Almoço de domingo, revoada de flamingo,

herói que fuma cachimbo.

Anãozinho de jardim, lacinho de cetim,

terminar o livro assim.

(Otávio Roth)

Doze coisinhas à toa que nos fazem felizes (À moda de Otávio Roth)

Andar de skate num lugar lisinho Tomar sorvete do de palitinho

Passar a mão, de leve, no gatinho

Andar na chuva que é pra se molhar

Passar cola na mão e descascar Acabar a lição pra ir brincar

Jogar estalo pra estalar no chão A cor azul das penas do pavão Ver na TV seu clube campeão

Ver gelatina tremendo no prato

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Nadar depressa usando pé de pato Mostrar a língua pra tirar retrato.

(Ruth Rocha)

Após analisar e discutir os poemas, dividir a lousa ao meio: de um lado, escreva

as coisas simples sugeridas pelos alunos; do outro, as grandes e importantes. Em

seguida, leia com os alunos os dois poemas. Feito isso solicitar que os alunos

escrevam, em trios, um poema, semelhante aos dos autores, com as

―coisinhas‖ sugeridas por eles. Módulo 02 – Nem tudo é do jeito que está escrito!

Nesse módulo os alunos tem a oportunidade de perceber a expressividade do

poema com sua linguagem sugestiva, aberta a múltiplas interpretações, pois os

textos poéticos se valem de recursos que provocam e inquietam os leitores, no

entanto, isso o diferencia dos outros gêneros que informam, noticiam etc.

Objetivos

Apresentar os conceitos de denotação e conotação;

Delimitar o texto poético. Atividade 01

Dividir a turma em grupos e pedir que leiam o poema ―Livros e Flores‖, de

Machado de Assis, levando-os a observar a composição do poema (dois quartetos).

Falar para os alunos quem foi Machado de Assis. Após isso, verifique se o texto foi

compreendido. Possivelmente, o termo ―bálsamo‖ pode ser desconhecido para os

alunos, então, peça que façam uma pesquisa no dicionário.

Livros e flores

Teus olhos são meus livros. Que livro há aí melhor, Em que melhor se leia

A página do amor?

Flores me são teus lábios. Onde há mais bela flor,

Em que melhor se beba O bálsamo do amor?

(Machado de Assis)

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Retome aos versos do poema, a partir do primeiro: ―Teus olhos são meus

livros‖. Peça que expliquem esse verso. Questionem sobre os olhos serem livros.

Como isso é possível? Aproveitando essa oportunidade, explique sobre o sentido

figurado empregado à algumas palavras para torna o texto metafórico, poético. Em

seguida, na lousa, explique o que é uma metáfora, traga outros versos do mesmo

poema, por exemplo, ―Flores me são teus lábios‖. Assim, explique que o primeiro verso

trata-se de interpretar os olhos da amada para descobrir se eles revelam o que ela

sente. Portanto, esse mesmo exercício deve ser feito para os outros versos.

Atividade 02

Explique para a turma que ao ler e interpretar textos poéticos, podemos nos

deparar com palavras que expressam dois sentidos: o sentido próprio ou denotativo

e o sentido figurado ou conotativo. E que esses sentidos não se substituem, mas

somam-se. Desse modo, o sentido do poema se amplia, abrindo-se a mais de uma

interpretação. Em seguida, coloque os versos abaixo na lousa e peça aos alunos

que indiquem qual o sentido denotativo e qual o sentido conotativo dos termos

sublinhados no trecho em que encontram:

Trecho 01

Só que bola, papagaio, pião

de tanto brincar se gastam.

As palavras não:

quanto mais se brinca com elas

mais novas ficam.

Trecho 02

A poesia

tem tudo a ver/com [...] a veloz acrobacia dos peixes.

A poesia tem tudo a ver/com [...]

a explosão em verde, em flores e frutos.

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Módulo 03 – É se escrevendo que se aprende!

Segundo Sorrenti (2009), a matéria prima do poema é sua sonoridade, sua

forma gráfica (versos e estrofes), esses aspectos favorecem a atenção e a

memorização do poema e, dessa maneira, permite o exercício da recitação. Além

disso, propiciar uma série de aprendizagens aos alunos. Portanto, é nessa perspectiva

apresentada pela autora que propõe-se as atividades seguintes.

Objetivos

Produzir poemas individualmente e coletivamente;

Melhorar a escrita de poemas. Atividade 01

Escolher um substantivo, dando-lhe uma interpretação bem poética, dizendo

coisas que lhe sugere, descobrindo para que ele serve, ou então propor a

elaboração de perguntas que se configurem como minipoemas (SORRENTI, 2009,

p. 131). Por exemplo:

Canarinho: Flauta de interpretar canções de gente feliz. Serve para duetar

assobios.

Lua minguante: laranja murcha no pomar do céu.

Bruxa noturna: borboleta de luto fechado (SORRENTI, 2009, p. 132).

Em seguida, construir o poema a partir da construção do significado dado aos

substantivos:

Poema ligeirinho

Canarinho é uma flauta de interpretar canções de gente feliz.

Serve para duetar assobios.

Lua minguante

é como uma laranja murcha no pomar do céu.

Atividade 02

Bruxa noturna é borboleta de luto fechado.

Essa atividade é proposta a partir de Sorrenti (2009). O professor divide a turma em

pequenos grupos (no máximo quatro alunos), em seguida, recorta de revistas e

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jornais muitas palavras e coloca vinte em cada envelope, aleatoriamente. Distribui

um envelope para cada grupo e propõe a construção de um texto interessante. O

grupo pode escolher quantas palavras vai usar, e completa o texto com outras

palavras escritas a mão. Às vezes, saem frases meio forçadas, mas nada que a

criatividade não possa resolver. Depois de pronto ele pode ficar assim:

Atividade 03

Figura 06: poema fatiado Fonte: Sorrenti, 2009, p. 133

Escolher uma gravura ou fotografia e observar bem os objetos ou seres

retratados. Em seguida, fazer duas listas, escrevendo na primeira os nomes dos seres

ou coisas que aparecem na gravura (os substantivos). Na segunda lista, atribuir

qualidades aos substantivos por meio de expressões evocadas pela imagem. Por

exemplo:

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Figura 07: Corujices

Fonte: Sorrenti, 2009, p. 138

As duas listas de palavras funcionam como ―um esqueleto ou armação‖

(SORRENTI, 2009, p. 138) do texto. A partir delas, os alunos tiram ideias para compor

o seu poema, acrescentando outras palavras e expressões. Os versos do poema não

precisam seguir, necessariamente, a ordem das palavras descritas nas listas. Vejamos

como poderia ficar esse poema:

Corujinha

Um menino de bom coração arruma com todo cuidado uma caixinha de papelão

pra ser um ninho improvisado....

(Trecho do poema Corujinha, de Neusa Sorrenti)

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Nessa atividade os alunos desenvolvem habilidades linguísticas necessárias

para produzir novos poemas, além disso, segundo Sorrenti (2009, p. 139), o texto

poético e imagem ―sempre se deram muito bem‖. O professor pode, a partir das

produções da turma, confeccionar um livro de poemas utilizando catálogos velhos.

Feito isso, o docente vai propor aos aprendizes a produção final.

4.4 A produção final

Nessa etapa final da SD, o professor conduzirá a atividade com o objetivo de

que os alunos escrevam um poema individualmente sobre o tema ―Meu poeta

favorito‖. O docente distribui entre os alunos cópias de poemas dos seguintes autores:

Manoel de Barros, Vinícius de Moraes, Cecília Meireles, Sérgio Capparelli e Paulo

Nunes. Todos os poemas do tipo infantojuvenil. Fixar na sala de aula cartazes com a

caricatura e biografia desses poetas. Isso é necessário para que os alunos conheçam

os escritores, sua história de vida e, principalmente, seus poemas.

Leve os alunos a perceber os recursos que os poetas utilizaram para construir

seus poemas, as rimas, a linguagem conotativa e a forma gráfica. Pedir que

expressem no texto sua visão pessoal e original sobre a temática escolhida. Orientá-

los a usar as palavras com cuidado e combiná-las de uma forma que chame a atenção

do leitor, empregando os recursos poéticos estudados durante toda a SD. Fazer os

seguintes questionamentos aos estudantes:

O poema terá rimas ou não? Regulares ou irregulares?

O poema será formado a partir de estrofes de quatro versos ou de outro tipo?

O poema apresentará que tipo de repetição?

Terá versos irregulares, longos, resultando num ritmo solto, diferenciado em

cada um dos versos?

É possível empregar metáforas ou comparações?

Sugerir que evitem rimas comuns ou fáceis, com o diminutivo e o aumentativo

das palavras. Rimas ricas são formadas com palavras de categorias gramaticais

diferentes, por exemplo, substantivos com adjetivos ou substantivos com verbos.

Explicar que às vezes, o poeta desrespeita intencionalmente as regras gramaticais

(pontuação, concordância, ortografia). Assim, dizer que eles podem utilizar a

transcrição oral de uma palavra para mostrar o jeito de falar do povo, por exemplo.

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Explicar que o poema fica mais instigante para o leitor com um título original.

Portanto, com base nessas orientações, cada aluno escreve e reescreve o seu

poema tantas vezes forem necessárias.

Depois de pronto o poema, o professor vai propor aos alunos que analisem

seus textos a partir das seguintes observações: o título do poema é criativo? O texto

tratou do tema proposto? Houve um recorte, uma delimitação do assunto? O poema

tem um ritmo harmonioso? O poema apresenta alguns dos recursos linguísticos

estudados nos módulos? Possui sua organização em versos e estrofes? Apresenta

efeitos sonoros, ritmo marcado em rimas ou repetição de palavras e expressões?

Esses questionamentos são os parâmetros de avaliação que podem ser utilizados

pelo docente. Feito isso, organizar a exposição dos poemas produzidos.

Portanto, o fechamento da SD se dá com a organização de um momento para

a socialização dos poemas por meio de um sarau. Para isso, o professor organiza

com os alunos o ambiente para o sarau, de preferência num espaço da escola que

comporte os alunos e a comunidade escolar. O lugar escolhido pode ser decorado. Se

houver condições, faça a apresentação com microfone e caixas de som. Além da

leitura de poemas, o sarau pode ter, complementarmente, música e teatro. É

importante que os alunos estejam à vontade e se sintam valorizados pelo trabalho

feito com poesia.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa pesquisa, que teve como objetivo propor uma sequência didática para o

ensino de língua portuguesa nos anos iniciais do Ensino Fundamental na

perspectiva dos gêneros textuais, possibilitou a reflexão sobre o percurso histórico

pelo qual perpassou o ensino de língua portuguesa nas escolas públicas do Brasil.

Além disso, como afirma Antunes (2009), um ensino de gramática sem pedras no

meio do caminho.

O estudo evidenciou que as teorias linguísticas estão investigando o novo

contexto social em que o ensino de língua está inserido e, consequentemente, as

práticas pedagógicas utilizadas pelos professores que ensinam língua portuguesa nos

anos iniciais do Ensino Fundamental. Pois, tem-se a consciência de que ensinar é um

desafio para a escola do século XXI que concorre com o avanço das tecnologias da

informação e da Comunicação (TIC).

Outro aspecto relevante dessa investigação foi a realização da proposta

pedagógica Sequência Didática. Nestes termos, a SD é uma alternativa para o

trabalho com os diversos gêneros textuais e discursivos em sala de aula, pois

possibilita ao aluno refletir sobre as novas tecnologias usadas por eles fora do universo

escolar, na maioria das vezes, apenas por entretenimento como, por exemplo, jogos

de internet. Com o uso dessa nova organização didática, a prática de leitura e escrita

de poemas ganhou um novo significado para os aprendizes.

A proposta de SD para o ensino de língua portuguesa a partir dos gêneros

textuais possibilita aos alunos uma escrita de autoria, pois ao escreverem seus

poemas sentem-se sujeitos de sua própria escrita. Dessa forma, podem aprender

que a escrita tem uma funcionalidade diversificada. Assim, cada forma diferente de

escrever um texto ganha sentido e se justifica por sua finalidade comunicativa. E

nessa organização didática, são dadas condições e tempo para que a escrita seja

planejada e ajustada.

No que refere-se à leitura, no desenvolvimento da SD os alunos são desafiados

a ler poemas. Além disso, tem a oportunidade de ler textos autênticos, ou seja, textos

que tem claramente uma função comunicativa, um objetivo interativo, isto é, textos

reais e não pseudotextos. Uma leitura que permite uma interação entre

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autor e leitor, que não está desvinculada das suas condições em que foi produzido.

Fazendo com que os alunos compreendam que a leitura e a escrita tem uma relação

de ―interdependência e de intercomplementaridade‖ (ANTUNES, 2003, p. 80).

No aspecto gramatical, a proposta de SD que perpassa essa investigação,

trouxe à tona um conjunto de princípios que fundamentam a compreensão funcional

e discursiva da gramática, ou seja, sua relevância textual. Uma gramática realmente

funcional que privilegia o estudo de regras dos diversos contextos sociais de uso,

principalmente, tratando-se do gênero poema que nem sempre ―respeita‖ as regras

da gramática normativa, tanta valorizada na escola. Perceber o efetivo

funcionamento da língua oral e escrita, uma gramática contextualizada, ou seja,

utilizada na interação verbal em diversas situações comunicativas.

Portanto, o estudo provou a reflexão de que é possível ensinar língua

portuguesa tendo o texto como objeto de ensino. Além disso, transformar a sala de

aula em um espaço em que os alunos tornem-se motivados para produzir textos

escritos, desenvolver capacidades de expressividade oral e ampliar sua criatividade

poética.

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APÊNDICE 1 – ACEITE DO ORIENTADOR

DECLARAÇÃO

Eu, Telma Nazaré de Sousa Pereira, aceito orientar a pesquisa intitulada Ensino de

Língua Portuguesa nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental na Perspectiva dos

Gêneros Textuais, de autoria dos graduados Charles Ricardo de Souza Aleixo e

Raimundo Silvio Costa da Silva, na Universidade Federal Rural da Amazônia

/PARFOR, declaro ter total conhecimento das normas de realização de trabalhos

científicos vigentes, estando inclusive ciente da necessidade de minha participação na

banca examinadora por ocasião da defesa do trabalho. Declarando ainda ter

conhecimento do conteúdo do anteprojeto hora entrega para qual dou meu aceite pela

rubrica das páginas.

Belém, ________ de _________________ de 2017.

___________________________________

Prof.ª Telma Nazaré de Sousa Pereira

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APÊNDICE 2 – PARECER DE ADMISSIBILIDADE DE TCC – II

Eu, TELMA NAZARÉ DE SOUSA PEREIRA, professora orientadora dos alunos

CHARLES RICARDO DE SOUZA ALEIXO e RAIMUNDO SILVIO COSTA DA SILVA,

declaro que o trabalho com o título Ensino de Língua Portuguesa nos Anos Iniciais do

Ensino Fundamental na Perspectiva dos Gêneros Textuais, poderá ser apresentado

em defesa pública, na data ____/____/____.

Belém, ________ de ____________________ de 2017.

_____________________________________

Assinatura do Professor Orientador

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APÊNDICE 3 – TERMO DE COMPROMISSO DE TCC – II

Eu, CHARLES RICARDO DE SOUZA ALEIXO, aluno do 8º semestre do curso de

licenciatura em pedagogia, estou ciente das normas, prazos e obrigações relativo ao

trabalho de Conclusão de Curso 2017, e comprometo-me a cumpri-las, de acordo com

documento normativo.

Belém, ________ de ___________________ de 2017.

______________________________________

Assinatura do(a) Aluno (a)

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APÊNDICE 4 – TERMO DE COMPROMISSO DE TCC – II

Eu, RAIMUNDO SILVIO COSTA DA SILVA, aluno do 8º semestre do curso de

licenciatura em pedagogia, estou ciente das normas, prazos e obrigações relativos ao

trabalho de Conclusão de Curso 2017, e comprometo-me a cumpri-las, de acordo com

documento normativo.

Belém, ________ de ___________________ de 2017.

___________________________________

Assinatura do(a) Aluno (a)