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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” SERVIÇO SOCIAL NA GESTÃO DE PESSOAS DAS ORGANIZAÇÕES EMPRESARIAIS DO NOVO MILÊNIO ALESSANDRA OLIVEIRA DA SILVA ORIENTADOR: Prof. ROBSON MATERKO RIO DE JANEIRO MARÇO/2002

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

SERVIÇO SOCIAL NA GESTÃO DE PESSOAS DAS

ORGANIZAÇÕES EMPRESARIAIS DO NOVO MILÊNIO

ALESSANDRA OLIVEIRA DA SILVA

ORIENTADOR:

Prof. ROBSON MATERKO

RIO DE JANEIRO

MARÇO/2002

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II

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

SERVIÇO SOCIAL NA GESTÃO DE PESSOAS DAS

ORGANIZAÇÕES EMPRESARIAIS DO NOVO MILÊNIO

ALESSANDRA OLIVEIRA DA SILVA

Trabalho monográfico apresentado como

requisito parcial para a obtenção do Grau de

Especialista em Reengenharia e Gestão de Recursos

Humanos

RIO DE JANEIRO

MARÇO/2002

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III

Agradeço a Deus pela oportunidade de viver

plenamente as experiências proporcionadas pela

vida. Ao meu querido Anjo Lauro, cuja presença e

força ininterruptas, são fundamentais para que eu

possa continuar a trilhar meu caminho nessa grande

viagem que é a Vida.

Aos amigos, que estiveram presentes mesmo em

nossa ausência e sem os quais a Vida perde em

brilho e sabor. Em especial, a amiga-irmã Iria

Magalhães de Barros, companheira que nos apoiou

em todos os momentos tanto objetiva quanto

subjetivamente. Assim como, Ramona Cristina

Chagas de Souza com quem sempre pudemos

contar e confiar.

A Sára e Manoel Goldman, pessoas tão importantes

para mim quanto aquelas que me deram a vida.

Obrigada por existirem e pelo lugar que sei ocupar

em seus corações.

Finalizamos agradecendo aos colegas de percurso

em mais essa conquista, em especial a Rosane da

R. Rianelli; aos professores que descortinam

horizontes e aos funcionários da instituição pelos

préstimos valorosos.

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IV

Dedico à minha mãe Marilza, aos meus avós

Arsenilha e Zacarias e a minha irmã Jacqueline,

sem os quais nada faria sentido.

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V

"Nosso medo mais profundo

não é o de sermos inadequados.

Nosso medo mais profundo

é que somos poderosos além de qualquer medida.

É a nossa luz, não as nossas trevas,

o que mais nos apavora.

Nós nos perguntamos:

Quem sou eu para ser Brilhante,

Maravilhoso, Talentoso e Fabuloso?

Na realidade, quem é você para não ser?

Você é filho do Universo.

Você se fazer de pequeno não ajuda o mundo.

Não há iluminação em se encolher,

para que os outros não se sintam inseguros

quando estão perto de você.

Nascemos para manifestar

a glória do Universo que está dentro de nós.

Não está apenas em um de nós: está em todos nós.

E conforme deixamos nossa própria luz brilhar,

inconscientemente damos às outras pessoas

permissão para fazer o mesmo.

E conforme nos libertamos do nosso medo,

nossa presença, automaticamente, libera os outros."

Nelson Mandela

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VI

SUMÁRIO

Pág

RESUMO 06

INTRODUÇÃO 07

CAPÍTULO 1: DA RELAÇÃO INDUSTRIAL ATÉ A GESTÃO DE PESSOAS 15

CAPÍTULO 2: BREVE HISTÓRICO TEÓRICO-METODOLÓGICO DO

SERVIÇO SOCIAL E FORMAÇÃO PROFISSIONAL 27

CONSIDERAÇÕES FINAIS 39

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 49

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA 51

ANEXOS 52

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RESUMO

O Serviço Social desde sua gênese esteve ligado ao mundo do

trabalho. Porém, em algum lugar de seu percurso histórico, este vínculo foi sendo

obscurecido. Na atual conjuntura – onde fenômenos como a globalização, a

reestruturação produtiva e o neoliberalismo espraiam suas influências sobre todas

as dimensões constituintes da realidade social – de incerteza, imprevisibilidade,

dinamismo e imutabilidade, o Serviço Social pode oferecer um olhar diferenciado

para as organizações em sua luta pela produtividade, qualidade e

competitividade.

Visando desvelar como o Serviço Social pode contribuir para o alcance

de metas estabelecidas por uma organização empresarial, principalmente, ao que

concerne a Gestão de Pessoas, é o objetivo desse trabalho. E para concretiza-lo,

baseamo-nos nas aulas expositivas ministradas no curso: “Reengenharia e

Gestão de Recursos Humanos” do qual participamos como aluno, na leitura do

material didático recomendado pelos professores do curso e em na busca de

bibliografia complementar concernente a temática. Nossa experiência profissional

acumulada, bem como nosso referencial teórico também permeia nossas

elaborações e análises.

O caminho escolhido para alcançar nossa meta começa com a

descrição da categoria ontológica do Trabalho, faz um breve retrospecto histórico

da administração a partir da Revolução Industrial e faz também uma breve

descrição da história do Serviço Social enfatizando os aspectos teórico-

metodológicos e a formação profissional. Em nossas considerações finais,

estabelecemos que a formação generalista do Assistente Social permite que ele

contribua na Gestão de Pessoas e que possa até se tornar um diferencial para as

organizações do novo milênio.

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INTRODUÇÃO

A monografia ora apresentada tem como objetivo demonstrar que o

Serviço Social e a Gestão de Pessoas, não estão tão eqüidistantes assim e que o

profissional Assistente Social, no contexto vivenciado pelas organizações na

atualidade, onde imperam a imprevisibilidade, a inconstância, a mutabilidade e

muitas vezes, a contradição, pode ser um diferencial, um olhar diferenciado que

possa somar esforços na construção da organização do novo milênio.

O interesse pela temática acima citada, surgiu da observação da

realidade social e especificamente das organizações. Uma experiência

profissional de supervisão que consistia em realizar atividades que envolviam

motivação, treinamento e desenvolvimento humano, nos despertou tanto para

algumas dificuldades em lidar com uma abordagem empresarial, quanto para as

contribuições que o Assistente Social - cuja perspectiva abrangente e que inter-

relaciona vários e diversos elementos visando um objetivo - poderia fornecer.

Para atingir nosso objetivo, baseamo-nos nas aulas expositivas

ministradas no curso: “Reengenharia e Gestão de Recursos Humanos” do qual

participamos como aluno, na leitura do material didático recomendado pelos

professores do curso e em na busca de bibliografia complementar concernente a

temática. Nossa experiência profissional acumulada, bem como nosso referencial

teórico também permeia nossas elaborações e análises. Consideramos ser

relevante a aproximação com o objeto de estudo de forma paulatina e para isso

iniciamos na viagem pelo desvelamento do processo de conhecimento. Levando

em conta também à importância que o conhecimento tem para as organizações

na atualidade.

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ANEXOS

O processo de conhecimento é pluridimensional, seja o do senso

comum, seja o científico. Ambos os tipos de conhecimento estão em busca de

ordem; ordenação de idéias, das relações sociais, culturais, enfim, da vida. A

necessidade de sobrevivência, de existência de aglomerados de sujeitos como

grupos, comunidades, sociedades, nações, exige que haja ordem, pois somos

movidos, impulsionados a vida pelo desejo e este sem uma ordem, onde cada um

segue seus desejos de forma desenfreada impossibilita a existência humana. Por

isso, uma ordem, a construção de uma ordenação que controle esses impulsos

para que a vida relacional e a perpetuação da espécie humana sejam uma

realidade é imprescindível.

O conhecimento de “algo” parte sempre de um sujeito, de seu desejo,

da intencionalidade deste, ou seja, é um processo que vai englobar todos os

aspectos que constituem esse sujeito tanto ao nível objetivo quanto ao nível

subjetivo -sua inserção na sociedade, sua visão de mundo que incorpora

elementos como classe social, etnia, gênero, geração, relações familiares,

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culturais, etc.- e que vão informar, assim como sua escolha teórico-metodológica

de direção no processo investigativo de desvendamento sobre o invisível, o

“escondido”, aquilo que se encontra obscurecido, que está além da

superficialidade, da mera aparência.

Portanto, tanto o senso comum quanto à ciência implicam em desejo

de conhecer, mas como há diferentes ordens em ambas e no interior de cada um,

por o conhecimento ser relativo, dinâmico, cultural e histórico assim como a

realidade, que há a possibilidade de diversas visões, perspectivas sobre esta, na

busca de explicações para os fenômenos que a compõe e esta diversidade não é

excludente, em si, podem se complementar já que só conseguimos obter uma

aproximação do real e não a verdade, pois a verdade de hoje pode ser destruída

mais adiante ou se descobrir que era apenas a ponta do iceberg.

A História do conhecimento no ocidente, começou quando os gregos

passaram a olhar o mundo e pensar sobre ele, se questionar:

“(...) Porque as perguntas que eles fizeram não admitiamuma resposta única e final. Eram como portas que, uma vezabertas, vão dar numa outra porta, muito maior, é verdade,que por sua vez dá em outra, indefinidamente. (...)” (Alves,1991, p.40).

Isto só vêm confirmar a impossibilidade de uma verdade absoluta. A

ciência, impulsionada pelo desejo que tanto lida com a criatividade quanto com

ilusões e preconceitos em relação ao que se quer conhecer, procura uma ordem

universal, leis que exemplifiquem rotinas, semelhanças, o que é comum para

“todos”. E aí, também pode gerar uma visão a-crítica do fenômeno por relacioná-

lo a sua funcionalidade, isto é, tudo aquilo que funciona seria verdadeiro (motivo

prático) e tendemos a nos apegarmos a isto, até que deixe de funcionar, que não

atenda mais as nossas necessidades.

Quando procuramos conhecer um fenômeno, buscamos reduzi-lo do

desconhecido ao conhecido, transformá-lo em conhecido, assim como em

sociedades complexas como as contemporâneas, transformar o familiar em

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exótico porque nem sempre o que é familiar é conhecido, nos atrevemos a dizer,

que na maioria das vezes não o são.

A ciência é dividida em natural e humana, sendo a natural mais

previsível, regular e por isso, considerada mais rigorosa em seus resultados,

como sendo mais exatos. Já a ciência humana, pela natureza mesmo do seu

objeto que é dinâmico, nunca começa com garantias e chega a resultados que

consideramos como tendências, direções possíveis.

“Um indivíduo é um ser único. Sobre ele não se pode fazerciência. Mas o fato é que todos os indivíduos se encontramlocalizados em certas entidades sociais, que são sociaisexatamente por serem comuns e universais.” (Alves, 1991,p.99; grifos do autor).

O sujeito social é singular, mas existe um sujeito coletivo que

desempenha um papel na sociedade a qual faz parte, está inserido em uma rede

de determinações e relações sócio-políticas, econômicas e culturais e é para a

análise desses processos que a ciência humana se volta. Mas, enfrentamos ainda

mais dificuldades, pois mesmo esses processos se encontram em movimento,

porquanto, da liberdade e historicidade desses sujeitos.

“Ao nível humano as coisas se tornam mais fantásticasainda. E isto porque temos a capacidade de inventar temasnovos, que nem mesmo a natureza chegou a sugerir. Omundo humano, por isto mesmo, não é parte da natureza,da mesma forma como a nossa roupa não é umprolongamento natural da pele. O mundo da cultura é umainvenção. E dentro dele os indivíduos adquirem a máximavariação. E a variação é tão grande que eles podem mesmose decidir a ser diferentes do que são.” (Alves, 1991, p.101;grifo do autor).

Apesar disso, a ciência desenvolveu seu processo de conhecimento da

realidade que implica em um movimento dialético que envolve teoria, método e

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real. A teoria seria os enunciados que os cientistas construiriam acerca do

comportamento dos objetos que lhes interessam, mas esta teoria, por tudo que foi

dito acima, não está destituída significação e valorização. Estas, seriam analogias

retiradas de tipos familiares de experiência, ou seja, que informam sobre os

hábitos comportamentais de certas classes, tipos de entidades existentes na

sociedade. “Sem os tipos familiares de experiência a ciência não é possível.

Eles constituem o legado do passado. Não se pode caminhar para o futuro sem

eles.” (Alves, 1991, p.45; grifos do autor).

O processo se constitui da escolha pelo cientista de um fenômeno que

seja de seu interesse, a partir daí ele vai elaborar teórica e metodologicamente

uma forma de conhecer esse fenômeno que vai conter uma hipótese, um modelo

e estes vão ser testados no real que pode ou não confirmar a hipótese original,

assim como, nos revelar coisas que não havíamos imaginado, “previsto”.

“Eu disse que os modelos são construções intelectuais,palpites, apostas baseados na crença de que existe umarelação de analogia entre aquilo que conhecemos e aquiloque desejamos conhecer. (...)” (Alves, 1991, p.47; grifos doautor).

Comprovando assim que o máximo conseguido pelo processo de

conhecimento é uma aproximação do real, daquele fenômeno, do objeto de nosso

interesse. E mesmo que esse teste seja repetido com êxito várias vezes, este

conhecimento continua sendo relativo, pois a História e os sujeitos que a

constroem são dinâmicos. Um mesmo fenômeno, analisado por ordens diferentes,

trás à tona significações completamente distintas. Logo, a totalidade é mais do

que a soma das partes que a constituem.

Um exemplo dessa multiplicidade de interpretações ou representações

possíveis, é imaginar um prisma, enquanto uma figura geométrica composta por

várias facetas, então, dependendo do ângulo pelo qual o observador o visualizar e

em que faceta se fixar, terá apenas uma das quase infinitas possibilidades de

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olhar e interpretar este. Assim, é a ciência que para um mesmo fenômeno, a

depender da direção teórico-metodológica escolhida e do sujeito que analisa, do

contexto, conjuntura, entre outras determinações; conforma a elaboração, a

existência de uma interpretação entre muitas outras.

O homem é um ser social mas também é um ser natural pois ele faz

parte da Natureza e tem as mesmas necessidades fisiológicas que os animais

para manter em funcionamento o seu corpo. Porém, é o Trabalho que distingue o

ser social do natural porque o Trabalho não é só uma necessidade física e sim um

ato de produção humana. Quando o homem realiza um trabalho, ele está

desenvolvendo a sua capacidade teleológica, isto é, a sua capacidade de antever,

projetar, imaginar qual será o resultado do seu trabalho.

A título de ilustração, citamos o trabalho realizado pelas abelhas

quando constroem sua colméia ou produzem mel. Este trabalho ao longo do

tempo continua sendo realizado da mesma forma. Já os homens, modificam o

meio e se modificam quando realizam um trabalho. Concordamos com Karl Marx

em sua afirmação de que o Trabalho é o responsável pela autoprodução humana.

O Homem dá sentido ao Trabalho e este dá sentido ao Homem em uma relação

dialética. O Homem a partir do Trabalho se desenvolve, cria, realiza, confere

sentido a sua existência.

Karl Marx nos diz que os modos de produção é que vão conformar as

sociedades, que determinam o modus viventis dos sujeitos sociais através de

suas relações sociais, políticas, econômicas e culturais. Nos traduziu o modo de

produção sob o qual vivemos, desvelando seus meandros e estrutura, suas

ambigüidades e contradições. Sob o modo de produção Capitalista, que se

caracteriza por ser o Reino da Necessidade, o trabalho se caracteriza menos

como realização e mais como obrigação, competição exacerbada, exploração e

sobrevivência. O homem passa a trabalhar visando suprir suas necessidades

básicas materiais de existência.

Assim sendo, o homem se aliena do processo de produção e

socialização dos bens de consumo porque com a fragmentação do processo de

produção, não detêm mais o controle e a liberdade de criação, planejamento e

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execução dos produtos de seu trabalho. Estabelece-se também uma relação de

exploração do homem pelo próprio homem, de relativa “liberdade” pois se

conforma de forma desigual para quem vende e para quem compra a força de

trabalho. Todos esse fatores esvaziam de sentido a plenitude do Trabalho,

trazendo coeficientes de descontentamento, desmotivação e alienação.

“O turbilhão da vida moderna tem sido alimentado por muitasfontes: grandes descobertas nas ciências físicas, com amudança da nossa imagem do universo e do lugar queocupamos nele; a industrialização da produção, quetransforma o conhecimento científico em tecnologia, crianovos ambientes humanos e destrói os antigos, acelera opróprio ritmo da vida, gera novas formas de podercorporativo e de luta de classes; descomunal explosãodemográfica, que penaliza milhões de pessoas arrancadasde seu habitat ancestral, empurrando-as pelos caminhos domundo em direção a novas vidas; rápido e muitas vezescatastrófico crescimento urbano; sistemas de comunicaçãode massa, dinâmicos em seu desenvolvimento, queembrulham e amarram, no mesmo pacote, os mais variadosindivíduos e sociedades; Estados nacionais cada vez maispoderosos, burocraticamente estruturados e geridos, quelutam com obstinação para expandir seu poder; movimentossociais de massa e de nações, desafiando seus governantespolíticos ou econômicos, lutando por obter algum controlesobre suas vidas; enfim, dirigindo e manipulando todas aspessoas e instituições, um mercado capitalista mundial,drasticamente flutuante, em permanente expansão. Noséculo XX, os processos sociais que dão vida a esseturbilhão, mantendo-o num perpétuo estado de vir-a-ser,vêm a chamar-se ‘modernização’.” (Berman, 1982, p.16).

A intencionalidade de nosso estudo está focada sobre a descrição

genérica do desenvolvimento do Trabalho enquanto categoria fundamental para a

existência humana e também como esse desenvolvimento ocorreu historicamente

nas organizações produtivas. No primeiro capítulo, discorremos sobre esses

aspectos. Nessa mesma linha de análise, pontuamos o desenvolvimento teórico-

metodológico na história do Serviço Social e a formação profissional hoje no

segundo capítulo. E em nossas considerações finais procuramos elucidar as

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contribuições que o Serviço Social pode dar a Gestão de Pessoas, no atual

contexto organizacional e mundial.

Esse contexto caracteriza-se por sua imprevisibilidade, mutabilidade e

dinamicidade, que provoca incerteza e sentimentos ambíguos por buscarmos a

modernidade, o novo e ao mesmo tempo, sentirmos medo do desconhecido, do

porvir. Finalizamos essa introdução e iniciamos nossa viagem a partir da seguinte

reflexão acerca do ser moderno:

“Existe um tipo de experiência vital – experiência de tempo eespaço, de si mesmo e dos outros, das possibilidades eperigos da vida – que é compartilhada por homens emulheres em todo o mundo, hoje. Designarei esse conjuntode experiências como ‘modernidade’. Ser moderno éencontra-se em um ambiente que promete aventura, poder,alegria, crescimento, autotransformação e transformaçãodas coisas em redor – mas ao mesmo tempo ameaçadestruir tudo o que temos, tudo que sabemos, tudo o quesomos. A experiência ambiental da modernidade anula todasas fronteiras geográficas e raciais, de classe enacionalidade, de religião e ideologia: nesse sentido, pode-se dizer que a modernidade une a espécie humana. Porém,é uma unidade paradoxal, uma unidade de desunidade: elanos despeja a todos num turbilhão de permanentedesintegração e mudança, de luta e contradição, deambigüidade e angústia. Ser moderno é fazer parte de umuniverso no qual, como diz Marx, ‘tudo que é sólidodesmancha no ar’.” (Berman, 1982, p.15).

É esse redemoinho de sensações, são todas essas características que

fazem de nós parte da humanidade, que nos fazem seres humanos. Essa busca

pela constante superação dos desafios, passando por cima de nossos medos e

angústias. Dando significado aos processos sociais na luta pelo desenvolvimento

individual e coletivo construídos no cotidiano da vida social.

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CAPÍTULO 1

DA RELAÇÃO INDUSTRIAL ATÉ A GESTÃO DE PESSOAS

O Trabalho é uma característica ontológica ao ser social, ou seja, é

parte constitutiva e fundante do ser humano sendo uma das dimensões que

fundamenta a sua existência. É no contexto social, na vida em sociedade que o

trabalho se gesta e o homem se realiza e se desenvolve tanto individualmente

quanto coletivamente. São essas as bases das relações sociais, onde o homem

se constrói enquanto sujeito de sua própria história e contribui para a história da

humanidade.

As sociedades contemporâneas estão em processo de profundas

transformações devido a fenômenos como a globalização e o neoliberalismo. No

mundo do trabalho, as mudanças não param. A reestruturação produtiva

revolucionou-o com novas tendências de administração, gestão e produção no

mundo dos negócios. Sendo as pessoas o valor principal do mundo do trabalho,

são grandes os movimentos de re-elaboração do modo de pensar e executar

tarefas. O nível de exigência cresce vertiginosamente em um mundo de

acelerado dinamismo, cujos avanços tecnológicos e informacionais trazem

conseqüências imprevisíveis para como vivemos e lidamos com o mundo. Na

esfera do trabalho se torna necessária uma rápida adaptação às mudanças, isto

nos traz novos fatores de angústia existencial pois o trabalho passa a não só

realizar e nos dar a sensação de segurança, mas nos faz deparar com o

desconhecido e com o imprevisível, onde valores dantes importantes são

desconstruídos sem nos dar tempo de reelaborá-los.

Marshall Berman, sociólogo norte-americano em seu livro “Tudo que

é sólido desmancha no ar” (1982), nos descortina as dimensões de sentido da

vida moderna, do ser moderno. Diz que:

“Ser moderno é viver uma vida de paradoxo e contradição. Ésentir-se fortalecido pelas imensas organizaçõesburocráticas que detêm o poder de controlar efreqüentemente destruir comunidades, valores, vidas, eainda sentir-se compelido a enfrentar essas forças, lutarpara mudar o seu mundo em nosso mundo. É ser ao mesmo

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tempo revolucionário e conservador: aberto a novaspossibilidades de experiência e aventura, aterrorizado peloabismo niilista ao qual tantas das aventuras modernasconduzem, na expectativa de criar e conservar algo real,ainda que tudo em volta se desfaz.” (Berman, 1982, p.13-14).

Vivemos, então, em um carrossel de sensações, que em sua maioria

são aparentes. Como um rochedo à beira mar que com o tempo e o contato com

outros elementos como o mar e o vento, sofre erosão ao longo do tempo e o

que apresentava contornos bem definidos com caráter de imutabilidade, toma

novas formas mas não perde sua essência. Assim também está ocorrendo com

o trabalho que adquire novos contornos mas continua fundamental para a

existência humana.

Ao longo do tempo o Trabalho passou por micro e macro

transformações. Para que possamos entender esse processo e o que hoje

estamos vivenciando no mundo do trabalho com suas principais tendências,

realizaremos uma pequena viagem no tempo. Voltaremos ao período da

Revolução Industrial e faremos o percurso até os dias atuais através desse

recorte histórico visando estabelecer um entendimento genérico do processo

vertiginoso de mudanças que o século XX abrigou, bem como os rebatimentos

para o ser humano.

Este foi um século na história da humanidade que deixou profundas

marcas e exigiu grandes re-elaborações de valores, significações, normas,

práticas e comportamentos do ser humano na vivência cotidiana de suas

relações sociais.

A administração científica foi o primeiro paradigma criado para

ordenar os processos de produção após a Revolução Industrial e foi a forma

encontrada de institucionalizar a relação Homem e Trabalho, fundando uma

identidade de interesses entre o indivíduo e a organização. As organizações –

enquanto produto da combinação de esforços individuais visando à realização

de propósitos coletivos inatingíveis para uma única pessoa – já existiam, porém,

com o estabelecimento do modelo fabril de produção em escala, as

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organizações produtivas passam a estar cada vez mais presentes no contexto

social.

O período entre o início da Revolução Industrial e a primeira metade

do século XX (década de 1950), foi denominado de Era da Industrialização

Clássica e representou a intensificação da industrialização em âmbito mundial.

Este fenômeno fez surgir à classificação dos países em desenvolvidos, em

desenvolvimento e subdesenvolvidos de acordo com o estágio de

industrialização de cada nação. Todos os elementos que constituíam a vida

social nessa época, provocaram muitas transformações sejam elas de ordem

econômica, política, cultural, social, psicológica, etc.

A estruturação organizacional, em linhas gerais do período,

caracterizou-se por um modelo burocrático, por um formato piramidal e

centralizador na configuração do poder, pela departamentalização funcional,

centralização das decisões no topo da hierarquia, estabelecimento de regras e

regulamentos internos para disciplinar e padronizar o comportamento dos

trabalhadores. O foco era voltado para a resolutividade dos problemas

relacionados com o processo de produção, pois o ritmo das mudanças ainda era

relativamente lenta, progressiva e previsível.

Taylor, Fayol, Mayo e Weber foram os expoentes do processo de

sistematização e teorização do desenvolvimento da estruturação organizacional

da Era Clássica.

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Fonte: Chiavenato 1999, p. 28

Frederick Winslow Taylor, norte-americano, desenvolveu a chamada

Escola da Administração Científica cujo objetivo consistia em aumentar a

eficiência da indústria através, inicialmente, da racionalização do trabalho. Criou

o Estudo de Tempos e Movimentos que serviu de base para a padronização e

racionalização de tarefas fixando execução de determinada tarefa com

movimento específico e em um intervalo de tempo pré-determinado. O objetivo

era adaptar os homens às máquinas, acelerando o ritmo de trabalho com o

mínimo de desperdício possível e assim proporcionando o aumento da

produtividade e conseqüentemente da rentabilidade.

Logo, a eficiência e a produtividade eram as metas a serem

alcançadas por meio da padronização e simplificação de tarefas repetitivas. Ao

adotar essas medidas, uma dicotomia foi criada entre quem era responsável por

administrar as tarefas e quem era responsável por executa-las. Foi retirado do

trabalhador à liberdade e o controle sobre o processo de criação , planejamento

e execução de seu trabalho.

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Assim, o emprego de técnicas mecanicistas passou a representar o

máximo de desumanização do trabalho industrial. Tornou a divisão do trabalho e

à especialização claramente definidas. Forjou o conceito de “homo economicus”

que traduzia a motivação do trabalhador. Esta proposição, numa abordagem

econômica, considerava que a motivação residia nas recompensas e sanções

salariais devido ao medo da fome e a busca pelo dinheiro. Entretanto, a

Administração Científica ficou restrita aos problemas de produção localizados na

fábrica, com os aspectos formais da organização e sem referenciar os demais

elementos constituintes da vida de uma empresa como os de ordem informal e

humano.

“Tendo institucionalizado uma relação entre o homem e otrabalho, que separou a mente que cria da mão que executa(Arvon, 1964), o modelo industrial neutralizou apotencialidade humana de programar e realizar seu própriodestino. Foram-lhe dificultadas as possibilidades de escolha(pela imposição de tarefas e carreiras), foi-lhe controlado oacesso aos meios de realização [pelo controle sobre seucorpo e seu tempo (Burrell,1982), pelo enfraquecimento deseu poder de barganha (Anthony, 1977), pela desarticulaçãodas possibilidades de emprego (Finneman, 1983) e pela suasujeição ‘a uma articulação racional de tarefas e propósitossob o controle do gerenciamento’ (Malvezzi, 1988, p.108)].Para muitos trabalhadores, essa relação constituiu-se emobstáculo quase intransponível para a realização de projetosindividuais, porque desconsiderou o trabalhador comosujeito (sua condição metafísica), desequilibrou suasrelações de reciprocidade com a natureza e enfraqueceusuas possibilidades de controle sobre a satisfação de suaspróprias necessidades – três condições ontologicamenteessenciais da ‘relação HOMEM-TRABALHO’ (Malvezzi,1988).” (Malvezzi, 1999, p.20).

Henri Fayol que nasceu em Constantinopla e viveu em Paris, fundou

a Corrente Anatômica da Administração que visava demonstrar que com

previsão científica e métodos adequados de gerência, resultados satisfatórios

seriam inevitáveis. Sua preocupação central residia na estrutura fabril e na

organização de atribuições, cargos e funções. A função administrativa é a mais

importante e é a que coordena e sincroniza as demais funções da empresa via

previsão, organização, comando, coordenação e controle. Divide as funções em:

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técnica, comercial, financeira, de segurança e contábil. Mas classifica em

essenciais apenas as contábeis e administrativas. Procurou traduzir

numericamente a importância relativa de cada capacidade, o valor dos agentes

e dos chefes da organização e chegou a conclusão que em todas as empresas,

a capacidade principal dos operários é à capacidade característica da empresa,

enquanto a capacidade principal dos altos chefes é a capacidade administrativa.

Define que para cada função é necessário possuir um conjunto de qualidades

pessoais e conhecimentos pertinentes à mesma.

Por considerar a Administração uma ciência, estabelece princípios

gerais de medida, ponderação e bom senso para baseá-la. Para Fayol, os

Princípios Gerais da Administração são quatorze. A divisão do trabalho implica

no princípio da especialização necessária à eficiência na utilização de mão-de-

obra em qualquer tipo de trabalho. A autoridade e responsabilidade estão

intimamente relacionadas sendo que a responsabilidade surge a partir da

autoridade mas ambas devem ser balanceadas. Ainda sobre autoridade diz que

esta é a combinação de uma oficial e uma pessoal. A disciplina é muito

importante, exige acordos claros e justos e aplicação exemplar de penalidades

nas medidas disciplinares. A unidade de comando consiste na autoridade única,

isto é, cada empregado deve receber ordens de apenas um único superior. A

unidade de direção é o princípio pelo qual, cada grupo de atividades de um

mesmo objetivo deve possuir apenas um chefe e um só plano. Quando o

interesse dos indivíduos se sobrepõe ao interesse do grupo, é função da

administração reconcilia-los porque o princípio está na subordinação do

interesse individual ao interesse geral. A remuneração do pessoal deve ser

razoável e deve conseguir o máximo de satisfação para o empregado e para o

empregador, bem como os métodos de pagamento. A centralização tem seu

grau determinado por circunstâncias pessoais para poder gerar o melhor

resultado. O princípio de hierarquia ou cadeia escalar visa estabelecer uma linha

de autoridade do escalão mais alto ao mais baixo. A ordem, seja ela material ou

social, considera a organização no arranjo e disposição de coisas e de pessoas.

A eqüidade determina que para obter-se lealdade e devoção, deve-se combinar

bondade e justiça ao se lidar com subordinados. Diz que a estabilidade do

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pessoal é almejada e que a desnecessária rotatividade de trabalhadores

acarreta perigos e custos que podem diagnosticar uma má administração. A

iniciativa é vista com bons olhos por Fayol tanto no planejamento quanto na

execução de um plano. E por fim, enaltece o espírito de equipe ou união do

pessoal ressaltando a importância da comunicação.

Apesar do grande avanço obtido por Fayol, este focalizou a unidade

de comando e a centralização detendo-se em uma análise prescritiva e

normativa das funções administrativas de pouca originalidade tanto na

sistematização quanto na definição de seus princípios. Através de uma

abordagem mecânica, lógica e determinística da organização (comparando-a

com uma máquina), a Corrente Anatômica tratou de forma superficial,

supersimplificada e irreal a administração.

Concomitante a essas abordagens, a Teoria das Relações Humanas

e a Teoria Comportamental vieram contrariar a correnteza por suas ênfases

estarem assentadas sobre as pessoas. Entretanto, ambas não alcançaram

hegemonia durante essa Era, apesar de terem sido mais aceitas a partir da

década de 1940. Elas seriam o contraponto a desumanização do processo de

trabalho, procurando demonstrar que a produtividade e a eficiência poderiam ser

crescentes mesmo em um ambiente mais humano onde as características

humanas fossem respeitadas.

Estas teorias surgiram com a psicologia do trabalho e seus estudos

sobre o comportamento humano nas organizações produtivas. Com os

resultados obtidos no experimento de Hawthorne coordenado por Mayo, se

conseguiu demonstra que a produtividade alcançada por um trabalhador não era

derivada apenas de suas habilidades motoras e mentais, mas sobretudo de sua

capacidade social, do se sentir pertencente a um grupo. O trabalhador não

reage somente como indivíduo e sim como membro de um grupo. O

desempenho obtido no trabalho decorre principalmente das relações

estabelecidas no grupo, dos sentimentos existentes entre os companheiros de

grupo. Estas descobertas trouxeram o reconhecimento da complexidade do ser

humano, inclusive no mundo do trabalho. A nova perspectiva não vê mais o

homem apenas como um conjunto de traços de personalidade, e incorpora

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fatores como motivação, expectativa e valor a análise de desempenho

propiciando uma visão mais próxima da realidade quanto aos elementos que o

determinam.

Analisam também a organização informal, aquela que realiza o

disciplinamento interno em grupos, pois o trabalhador é mais que um indivíduo,

ele é membro de um grupo e carregado de influências sociais. Consideram que

o fator psicológico exerce grande influência na capacidade produtiva dos

trabalhadores, por esse receber estímulos dos diversos elementos ambientais.

As principais características dessas teorias são o desenvolvimento das

potencialidades dos trabalhadores levando em conta os aspectos bio-psico-

sociais e as relações travadas em grupo, ou seja, as interações interpessoais. O

trabalhador deve se sentir satisfeito para aumentar a eficiência e produtividade.

Incentivos sociais e simbólicos (vale-transporte, tíquete restaurante, plano de

saúde, etc.) são utilizados na motivação para o incremento produtivo.

A teoria comportamental focou os programas de treinamento e a

capacidade profissional passa a ser o meio de garantir a competência

necessária para o perfeito exercício funcional. Apregoa que é através do

treinamento que o trabalhador vai adquirir o know-how para realizar funções

específicas. No treinamento é essencial estabelecer uma clara relação entre o

planejamento das atividades a serem desenvolvidas e os resultados almejados.

Por isso, os treinamentos eram baseados em atividades desenhadas para

ensinar os procedimentos relativos a determinada função, adestrando as

habilidades requeridas para o seu correto exercício.

Por essa perspectiva, o trabalhador era entendido como um ser

fragmentado em habilidades e traços de personalidade. O perfil1 profissiográfico

configurava-se como padrão de determinação de reunião de condições pessoais

para um trabalho.

1 Para Malvezzi perfil é definido como sendo o conjunto de requisitos básicos exigidos de um indivíduo parao exercício de uma determinada função.

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“(...) a capacitação profissional constituiu-se menos nodesenvolvimento do indivíduo como sujeito, mas muito maisno desenvolvimento dos traços previstos nos perfis. Numaprimeira fase, esses traços eram limitados às habilidadesmotoras. Mais tarde, por força das pesquisas e doaprofundamento dos perfis, os traços estenderam-se paracaracterísticas cognitivas e de personalidade. As habilidadesmotoras predominaram no cenário do chão de fábrica e ashabilidades cognitivas predominaram no cenário da gerênciae dos escritórios.” (Malvezzi, 1999, p.23).

Apesar de incorporar vários elementos novos na abordagem da

administração de pessoas, a condição humana não foi assumida em sua

indeterminância. O ser humano não foi concebido como sujeito, pois a

realização profissional e pessoal estava estabelecida em função do acesso aos

níveis de poder hierárquicos na organização. Portanto, o homem continuava a

ser reconhecido meramente como recurso produtivo. A Teoria Comportamental

também recebeu críticas por sua forma psicologizante de lidar com os

problemas organizacionais.

Por volta da década de 1940, desenvolveu-se a Teoria da Burocracia

na Administração baseada nas obras do sociólogo alemão Max Weber que criou

um modelo formal e ideal de burocracia. Esta surgiu como alternativa à Teoria

Clássica (mecanicismo) e à Teoria das Relações Humanas (romantismo

ingênuo), propondo uma abordagem global, integrada e envolvente dos

problemas organizacionais que gerasse um enfoque mais amplo e completo da

estrutura e dos participantes da organização.

De acordo com essa teoria um homem pode ser pago para agir e se

comportar de certa maneira preestabelecida, a qual lhe deve ser explicada

exatamente, minuciosamente e, em hipótese alguma, permitindo que suas

emoções interfiram no seu desempenho. Para Weber, o capitalismo é uma

forma racional de organização da produção. Sendo assim, a característica

fundamental da burocracia é a racionalidade e o termo racional é utilizado para

designar a maneira mais simples, mais econômica de se alcançarem

determinados objetivos. O ato racional, então, deve ser sempre coerente com

objetivo.

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Há o predomínio de normas escritas para sistematizar o trabalho e

assegurar a existência de apenas uma interpretação. A burocracia é assumida

como um tipo de poder e para que a autoridade seja legitimada, deve existir

uma mútua influência entre o poder de controle e a capacidade de justifica-lo.

Mas seu principal interesse reside nos tipos de autoridade existentes. Assim

sendo, esse modelo exige que os papéis sejam rigorosamente definidos e que

os trabalhadores sejam dotados de excelente capacidade técnica e competência

em uma estrutura altamente hierarquizada e departamentalizada.

Durante a Era Clássica, os trabalhadores eram considerados como

recursos de produção assim como os demais recursos organizacionais como

máquinas, equipamentos e capital. Por esta via a administração das pessoas

também recebia o mesmo tratamento e ficou conhecida como Relações

Industriais.

Com o final da Segunda Guerra Mundial, a Teoria Clássica começou

a ser substituída pela Teoria Neoclássica redimensionando o paradigma

administrativo, transmutando o modelo burocrático em estruturalista. O mundo

iniciou um vertiginoso processo de mudanças devido às inovações tecnológicas

que proporcionaram novo dinamismo às organizações produtivas. Diante desse

novo cenário, a configuração de uma nova Era foi instituída sendo denominada

de Era da Industrialização Neoclássica e que perdurou até a década de 1990.

Surgiu, então, a estrutura matricial que consistia em adicionar à organização

funcional em esquema lateral de departamentalização por produtos/serviços

visando alcançar maior competitividade em um ambiente instável e mutável.

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Fonte: Chiavenato, 1999, p.29

Henry Ford (década de 1950), empresário norte-americano do ramo

automobilístico, aplicou os princípios taylorista de forma nunca antes concebida,

instituiu a linha de montagem na indústria dando início à produção em massa de

produtos em grande escala (fordismo). Com o fracionamento do trabalho em

partículas cada vez menores, tornava-se desnecessário ao trabalhador exercer

qualquer atividade mental. Portanto, o trabalho passa a ser desprovido de

qualquer conteúdo inteligente e fica subordinado ao ritmo intenso da máquina.

Fixo no seu posto de trabalho, o operário era vislumbrado praticamente como

um componente da máquina, pois seus movimentos deveriam estar em perfeita

harmonia com o conjunto da linha de montagem. Sua função residia na infinita

repetição de movimentos padronizados e a especialização deixou de ser algo

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desejado. Ford acreditava que para a maioria das pessoas a obrigação de

pensar era uma verdadeira tortura e que para estas, o trabalho repetitivo nada

teria de desagradável. Os desperdícios seriam evitados através do

planejamento prévio das tarefas, o trabalho seria intensificado e a jornada de

trabalho ampliada.

O trabalho é visto como fonte de riqueza que visa a transformação

dos produtos produzidos em bens de consumo de massa. Os valores da

sociedade, então, deveriam ser transformados, de maneira a acolher a nova

concepção de mundo colocada pelas necessidades produtivas. Esse movimento

não foi fácil, porém, foi vencido através de um grande esforço ideológico

empreendido por Ford que atraiu os trabalhadores com incentivos salariais e de

redução de jornada de trabalho. Obviamente que os ganhos de produção lhe

davam condições para isso. Portanto, inaugurou uma nova forma de lidar com

os trabalhadores, percebendo para além dos muros da fábrica e interferindo

também em suas vidas privadas. O mercado de consumo tinha que ser

ampliado e isto exigia o estabelecimento de um novo padrão de consumo da

classe trabalhadora.

Defendeu também a liderança dos homens de negócios tanto

intelectual quanto política, pois só esses homens eram capazes de vislumbrar e

compreender o que seria melhor para a sociedade. Portanto, Ford conseguiu

através da organização do trabalho representar a submissão real do trabalho ao

capital.

“Por essas razões, a era industrial leva da história aresponsabilidade de ter criado uma nova forma de limitaçãopara o ser humano, ao submeter seu desempenho (econseqüentemente a qualidade de suas vidas) às exigênciasda máquina, ao ritmo de produção e à coordenação dastarefas de linha de montagem que o afastou do manejo deseu próprio destino, numa clara colisão com sua condiçãoontológica. É por esse motivo que o trabalho industrial temsido chamado de desumanizado (Braverman, 1977;Malvezzi, 1988).” (Malvezzi, 1999, p.20-21).

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A Teoria Geral dos Sistemas (criada pelo biólogo alemão Ludwig von

Bertalanffy na década de 1960) foi outra produção teórica apropriada pela

Administração a fim de encontrar respostas mais condizentes com o turbulento

panorama enfrentado no mundo nesse período.

A ênfase, agora, passa a estar no ambiente e na integração entre os

sistemas e subsistemas. A empresa focalizada através da teoria de sistema

propiciou a visualização da organização como um conjunto de elementos inter-

relacionados. O ambiente seria tudo que existe para além do sistema, no caso

das organizações, tudo que fosse exterior a elas e que tanto é fonte de recursos

e insumos, quanto de ameaças e contingências. Todo sistema apresenta algum

grau de relacionamento e de dependência com o ambiente devido à

necessidade de retroinformação. Ao conceber a empresa como um sistema

social, onde acontecem relações culturais, reconhece tanto a existência de uma

organização formal quanto informal dentro de um sistema total integrado.

“Acima de tudo, porém, as organizações constituemsistemas abertos. Sistema é um conjunto de elementosdinamicamente relacionados que desenvolvem umaatividade para atingir determinado objetivo ou propósito.Todo sistema opera sobre matéria, energia ou informaçãoobtidas do ambiente, que constituem os insumos ouentradas (inputs) de recursos necessários para que osistema possa operar. Esses recursos são processadospelas diversas partes do sistema (subsistemas) etransformados em saídas ou resultados (outputs) para seremdevolvidos ao ambiente.” (Chiavenato, 1991, p.32).

Nos sistemas abertos, a interdependência entre sistema e ambiente é

grande, pois diversos são os tipos de transações e intercâmbios existentes entre

eles. Como o ambiente é dinâmico, o sistema tem que se readaptar as novas

condições de relacionamento, sendo obrigado a realizar mudanças de estrutura

e processos entre seus componentes internos.

Todas essa inovações sejam tecnológicas ou na forma de estruturar

os processos administrativos nas organizações, trouxeram uma forma

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diferenciada de visualizar os trabalhadores. As pessoas passam a serem

consideradas como recursos vivos e a administração desses nas organizações

passa a ser denominada Administração de Recursos Humanos.

Contemporaneamente, vivemos sob a chamada Era da Informação

cuja delimitação inicial é datada do início da década de 1990. O

desenvolvimento da tecnologia e principalmente dos avanços nas áreas da

informática e da comunicação, fizeram surgir um ritmo alucinante, mutável e

imprevisível de mudanças e estas desencadearam movimentos de

rearticulações, redefinições e reconfigurações de tendências variadas e muitas

vezes, contraditórias. O impacto vivenciado no cotidiano ainda é imponderável

mas alguns fenômenos já foram identificados com as origens desse novo

processo de mudanças, como a globalização, a reestruturação produtiva e o

neoliberalismo. Esses fenômenos estão intimamente imbricados e trouxeram

rebatimentos tanto para a vida pública quanto privada dos sujeitos sociais.

As percepções sobre o mundo tomaram outras proporções devido

aos redimensionamentos implementados em questões referentes ao tempo e ao

espaço, que transformaram o planeta em uma aldeia global. O fenômeno da

globalização que teve seu início pela crescente internacionalização da

economia, principalmente a financeira, alçou vôos nunca dantes imaginados,

pois barreiras e limites para sua livre circulação não existem mais. O volátil

mercado de capitais migra de um país para outro em segundos na busca

incessante de melhores oportunidades de lucro.

A abertura do mercado em todos os países, reformulou o consumo e

a competitividade industrial e empresarial, pela criação de uma nova cultura de

consumo que abriga novos valores e significações que estão dialeticamente

posicionados entre as organizações e os consumidores. A competitividade,

assim, tornou-se mais acirrada e complexa gerando uma sensação de guerra

pelo mercado consumidor. Uma nova representação social de consumidor está

em curso, pois o foco das empresas passou a estar sobre os clientes. A

produtividade e a qualidade também avultaram como metas obrigatórias a

serem alcançadas em qualquer organização.

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As conseqüências no cotidiano são inúmeras, porém destacamos a

cidadania que hoje se coloca como sendo uma cidadania do consumidor já que

assumimos ser esta a faceta que mais nos representa na sociedade. As

estruturas sociais que condicionam o viver humano possuem muitos discursos e

o modelo colocado, principalmente pela mídia de uma forma geral, tem sido

responsável pela divulgação desses discursos, em sua maioria definidos pela

lógica do consumo. Isso nos possibilita pensar que, nos tempos atuais, ainda

que vivamos situações diferenciadas e diversificadas, nossas realidades

terminam sendo permeadas por informações e idéias comuns. Por isso, homens

e mulheres, idosos ou jovens, de países tão diferentes, com culturas tão

variadas, podem possuir ou vivenciar momentos de suas vidas comuns a todas

as pessoas, não importando o local onde estejam ou morem.

A grande instituição responsável por esta difusão do pensar humano,

capaz de tornar comum o que no passado nos separava, é a comunicação, mais

especificamente a informação repassada através da mídia, que divulga a

construção de novos perfis, de novas representações, impondo estilos de vida e

de comportamentos seja no consumo, seja em outras dimensões da vida social,

que aos poucos vão determinando como cada um deve proceder em suas

relações para permanecer incluído nas mesmas.

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Fonte: Chiavenato,1999, p. 31

Na caótica conjuntura atual, onde as organizações ainda estão

tentando encontrar o caminho da inclusão, políticas de modernização estão

sendo implementadas com base em quatro categorias fundamentais:

competência, tecnologia, parceria e flexibilidade. A estrutura formal e a

departamentalização vão sendo substituídas pelas missões, visões e pela

busca de novas formas de institucionalização do trabalho.

“Para fazer frente a essas pressões, as empresas foramreorientando-se por uma política de modernização quepoderia ser resumida em quatro elementos básicos: acompetência, a tecnologia, a parceria e a flexibilidade. Erauma mudança suficientemente radical para abalar ainstitucionalização da capacidade profissional pela

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administração científica. Isso pode ser observado pelacrescente substituição da estrutura formal de tarefas (queera o referencial básico do treinamento) e pelo que échamado de missões, a nova forma de institucionalização detarefas. A missão consiste num alvo a ser realizado pelosujeito, para o qual ele recebe mais autonomia, cobram-lhemais responsabilidade pelos resultados e exigem dele maiscriatividade e visão de mais longo prazo.” (Malvezzi, 1999,p.26).

Há um considerável aumento migratório de investimentos do setor

industrial para o setor de serviços. Isso significou também uma mudança de

status do conhecimento dentro das organizações, pois enquanto recurso, passa

a ser mais importante do que o dinheiro (continua sendo fundamental) porque o

essencial é saber usar e aplicar de maneira rentável o dinheiro (o chamado

know-why). Os controles externos sobre os processos são substituídos pelos

controles internos que visam resultados. Em grupos de trabalho, as tarefas

realizadas exigem uma antecipação de resultados para viabilizar soluções, há

autonomia para a criação de alternativas na formas de execução da tarefa em

distintas ocasiões. Portanto, há o desenvolvimento de um sistema de auto-

regulação que envolve elementos como competência, criatividade, compromisso

e responsabilidade com os resultados.

Este novo método de trabalho, apresenta uma forma perversa de

controle e monitoramento porque esses são exercidos pelos próprios

companheiros de grupo. O erro de um trás conseqüências para todos, logo, a

cobrança é grande e nem sempre a solidariedade e colaboração correspondem

ao que seria esperado. As pessoas tornam-se parte das ferramentas de

trabalho, embora uma ferramenta flexível.

“No paradigma da administração científica, a sistematizaçãodo treinamento divide com o planejamento das tarefas afunção de controle do desempenho. No caso do paradigmaemergente, a ausência de tarefas previamente programadasfaz com que a capacitação tenha de assumir quase sozinhaessa responsabilidade. A tendência da administração, comose percebe por meio de práticas de gestão como grupos

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semi-autônomos e células de produção, é atribuir aotrabalhador (grupo) o como fazer. Nelas, o trabalhador(grupo) planeja, realiza e avalia seu próprio trabalho, numaatividade autogestionária. Isso significa que a crescenteflexibilidade que caracteriza a nova forma de administrar sópode materializar-se se o trabalhador for mais habilitado,mais responsável e mais cooperativo. Como conseqüência,a função de preparar a mão-de-obra é potencializada emseu papel, porque as pessoas que a desempenham ganhamo caráter de tecnologia.” (Malvezzi, 1999, p.27).

Neste panorama, a Administração de Recursos Humanos é uma das

áreas que mais está sofrendo reformulação, inclusive sendo renomeada. Entre

as várias denominações que circulam no universo empresarial, o que parece

estar obtendo hegemonia é Gestão de Pessoas com a variante Gestão com

pessoas. Porém, há outras como: Gestão de Talentos Humanos, Gestão de

Parceiros ou de Colaboradores, Gestão do Capital Humano e Administração do

Capital Intelectual. A Gestão de Pessoas está destacando-se no cenário atual,

pois tem sido a área responsável pelo bom desempenho das organizações bem-

sucedidas e pelo aporte de capital intelectual que simboliza. Revitaliza, assim,

em plena Era da Informação a importância do valor humano para as

organizações demonstrando o profundo paradoxo existente entre o homem e a

tecnologia.

A explicação mais aceita para desvelar esse paradoxo repousa sobre

o diferencial competitivo. Nas atuais condições globais que as organizações tem

que enfrentar, a tecnologia não é mais a diferença fundamental, já que muitas

empresas que estão no mercado, alcançaram um nivelamento neste aspecto.

As pessoas, então, começam a ser percebidas como o diferencial competitivo

que mantém e promove o sucesso organizacional em mundo globalizado. Assim

sendo, não são mais consideradas recursos da organização e sim como seres

dotados de inteligência, conhecimento, habilidade, personalidade, aspirações,

percepções, valores, etc. Com a complexificação do ambiente externo e interno

das empresas em meio instável e imprevisível, torna-se necessário descobrir

caminhos mais adequados de realizar as missões organizacionais. Além, de não

ser algo de ser alcançado, não se pode perder de vista que esse movimento

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deve ser constante e fazer parte da nova cultura organizacional a ser criada,

pois as mudanças estão só começando.

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CAPÍTULO 2

BREVE HISTÓRICO TEÓRICO-METODOLÓGICO DO SERVIÇO SOCIAL E

FORMAÇÃO PROFISSIONAL

A gênese do Serviço Social está intimamente relacionada com o

processo de industrialização brasileiro. Para entender como essa relação se

estabeleceu, qual o papel do Serviço Social e qual a sua funcionalidade para as

organizações, é preciso reconstruir esse percurso histórico e apreender as linhas

teóricas que demarcaram esse caminho. Esse processo também é importante

para entender o Serviço Social hoje e como a formação acadêmica desse

profissional pode contribuir na busca de caminhos pertinentes e eficazes de

gestão de pessoas nas organizações.

“O processo capitalista de produção expressa, portanto, umamaneira historicamente determinada de os homensproduzirem e reproduzirem as condições materiais daexistência humana e as relações sociais através das quaislevam a efeito a produção. Neste processo se reproduzem,concomitantemente, as idéias e representações queexpressam estas relações e as condições materiais em quese produzem, encobrindo o antagonismo que as permeia.Assim, a produção social não trata de produção de objetosmateriais, mas de relação social entre pessoas, entreclasses sociais que personificam determinadas categoriaseconômicas.” (Carvalho & Iamamoto, 1982, p.30).

O surgimento do Serviço Social teve como base à iniciativa particular de

vários setores da burguesia nacional com o respaldo da Igreja Católica e

referencial teórico importado do Serviço Social europeu, tentou-se não só transpor

os modelos europeus para a realidade brasileira, mas na verdade as adaptações

não foram em larga escala apesar do complexo quadro histórico-conjuntural que

caracterizou a década de 1930.

“O Serviço Social se gesta e se desenvolve como profissãoreconhecida na divisão social do trabalho, tendo como panode fundo o desenvolvimento capitalista industrial e aexpansão urbana, processos esses aqui apreendidos sob o

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ângulo das novas classes sociais emergentes – aconstituição e expansão do proletariado e da burguesiaindustrial – e das modificações verificadas na composiçãodos grupos e frações de classes que compartilham o poderde Estado em conjunturas históricas específicas.” (Carvalho& Iamamoto, 1982, p.77).

O país estava mudando sua forma de acumular capitais, passando das

atividades agrário-exportadoras para as industriais, que vinculavam a economia

ao mercado mundial. O mundo do trabalho amadurecia frente às mudanças sócio-

econômicas e a sociedade vivia sob o impacto da instauração da República Nova

no âmbito político. O trabalhador urbano é reconhecido pelo Estado populista que

cria sindicatos para controle dos movimentos trabalhistas e atrela ao trabalho a

questão da cidadania. A cidadania, neste momento, é do tipo regulada porque

está vinculada a carteira de trabalho. Há a Consolidação das Leis Trabalhistas

(CLT) e a legitimação do trabalho através da legislação de algumas categorias

profissionais.

“Atuando em organizações públicas e privadas dos quadrosdominantes da sociedade, cujo campo é a prestação deserviços sociais. O Assistente Social exerce uma açãoeminentemente ‘educativa’, ‘organizativa’, nas classestrabalhadoras. Seu objetivo é transformar a maneira de ver,de agir, de se comportar e de sentir dos indivíduos em suainserção na sociedade. Essa ação incide, portanto, sobre omodo de viver e de pensar dos trabalhadores, a partir desituações vivenciadas no seu cotidiano, embora se realizeatravés da prestação dos serviços sociais, previstos eefetivados pelas entidades a que o profissional se vinculacontratualmente.” (Iamamoto, 1995, p.40).

Com este pano de fundo, que a chamada “Questão Social”2 se

configura através da contradição capital versus trabalho e se expressa no

cotidiano da vida social na exacerbação da pobreza em suas múltiplas facetas. A

categoria profissional pode assim ter acesso à quase globalidade das esferas da

2 “A Questão Social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classeoperária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe porparte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o

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vida cotidiana dos trabalhadores. Portanto, o que delimita a solicitação do

profissional Assistente Social, não é, prioritariamente, o tipo de especialização

das instituições e dos serviços por elas mantidos, pois a estes devem se adaptar

os profissionais.

A partir das demandas postas pela adoção do Taylorismo no processo

de trabalho – a racionalização se estendeu para a organização das funções e

intervenções do Estado –, criou-se um novo mercado de trabalho para o Serviço

Social, isto é, o Serviço Social passou também a ocupar o espaço empresarial

vinculado a estratégia de interferência privada na formação e reprodução da força

de trabalho. O disciplinamento da vida do trabalhador e de sua família foi

reforçado pela conjuntura político-econômica que desmobilizava o movimento

operário e a ineficiência das insípidas políticas sociais públicas existentes nesse

período.

O Serviço Social brasileiro recebeu influências teóricas tanto das

Escolas européias quanto norte-americanas, não só no início de sua estruturação

enquanto profissão legitimamente reconhecida pela sociedade. Estas se

encontram presentes, com mais ou menos ênfase, em outros momentos da sua

história.

A perspectiva do Serviço Social europeu era marcada por um intenso

conservadorismo teórico baseado nas ciências sociais como a sociologia, a

economia, e a perspectiva da pesquisa social, influência do pensamento

positivista que considerava a sociedade como um todo harmônico e equilibrado,

busca a compreensão da estrutura da sociedade e dos problemas que nela

ocorriam. Além disso, o Serviço Social mantinha forte ligação com a doutrina da

Igreja Católica, o que caracterizava uma prática assistencialista, que continha

ainda, aspectos morais de conduta ou desvio de personalidade e destacava o

reconhecimento do valor intrínseco do indivíduo, a dignidade da pessoa humana e

a importância das relações familiares.

Essa associação trouxe para a prática profissional uma dimensão de

controle, de repressão e de ajustamento do indivíduo que era percebido como

proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da caridade erepressão.” (Carvalho & Iamamoto, 1982, p.77).

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possuidor de desajustes de caráter e personalidade. Logo, através de orientação

e liberação de tensões, poderia se reajustar esse indivíduo à dinâmica social,

garantindo assim, a organização e o funcionamento adequado da sociedade.

Com a aproximação entre o Brasil e os Estados Unidos nas décadas

de 1940 a 1960, inúmeras mudanças foram desencadeadas e essas tiveram seu

início ainda em Vargas devido a interesses políticos e econômicos. As

conseqüências do estabelecimento desse pacto para o Serviço Social, foram

prioritariamente no âmbito acadêmico através de intercâmbios culturais que nos

aproximaram das experiências norte-americanas.

No governo de Juscelino Kubitschek e seu discurso modernizante do

desenvolvimentismo, houve a adoção de padrões produtivos dos países

industrializados, a internacionalização do capital e a implantação de grandes

grupos monopólicos no país. A partir do Golpe Militar de 1964, esse processo

intensificou-se e o Estado propiciou uma relação entre capital e trabalho baseada

em um alto grau de exploração (baixos salários), índices elevados de rotatividade

da mão-de-obra, desarticulação do movimento operário e progressivo

sucateamento das políticas sociais públicas.

O Estado mercantilizou a Questão Social através do incentivo da

ampliação de ofertas dos serviços sociais privados como na educação e na

saúde, gerando uma crescente dependência da classe trabalhadora aos setores

empresariais. A abordagem Humanística, deflagrou os incentivos sociais que

eram constituídos pelos planos de serviços e benefícios sociais e empresariais

como plano de saúde, tíquete-refeição, cesta básica, etc. E esses passavam a

fazer parte da política salarial das empresas. Os princípios de mútua

responsabilidade pela produtividade também começaram a vigorar e a

“remuneração variável” foi a estratégia utilizada para adaptar o foco ao alvo

almejado e, concomitantemente, ampliar as margens de controle sobre todo o

processo produtivo. Além disso, camuflava uma real redução do salário dos

trabalhadores.

O caráter meritocrático dos incentivos colocados em prática através

das novas formas de gerenciamento empresarial, resultou em uma maior

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fragmentação da classe trabalhadora, pois acirrava a competitividade intraclasse

e desmobilizava-os para a luta por objetivos comuns e obscurecia assim, o

conflito entre as classes.

A influência teórico-metodológica norte-americana efetivou-se através

da apropriação que o Serviço Social brasileiro fez da Escola Psicológica que se

dividia em Escola Diagnóstica e Escola Funcional. “A linha psicanalítica do

Serviço Social americano foi substituída na Europa pela sociológica, assim como

a abordagem individual cedeu lugar à grupal.” (Martinelli, 1995, p.115-116).

A Escola Diagnóstica foi assim denominada pela importância dada ao

diagnóstico. Ela é resultante do impacto da teoria psicanalítica de Freud que

constrói a Psicanálise com base na ética do trabalho científico, ou seja, o que se

atinge pela observação cuidadosa e direta e chega a conclusões formadas a partir

destas. Esta perspectiva afirma que a ciência não admite só a objetividade, mas

também a subjetividade, visto que tanto o investigador quanto o investigado

possuem no processo interpretativo as suas subjetividades envolvidas.

Ao criar o conceito de inconsciente que resultou numa clivagem da

subjetividade, esta deixou de ser entendida como um todo unitário, apenas

identificado com a consciência e sob o domínio da razão. A concepção freudiana

coloca que o inconsciente é irredutível, pois possui uma ordem distinta da do

consciente e que este é regido pelo desejo.

Seu método interpretativo visa explicitar a lógica do inconsciente para

que o indivíduo possa entender os mecanismos que o levam a sintomatização,

num processo que tem por objetivo a sublimação do “problema” por seu

desvelamento e reelaboração ao nível subjetivo/psíquico, na qual a subjetividade

do investigador é o suporte da interpretação. Logo, para compreender a

subjetividade do outro é necessário que se reconheça as suas próprias estruturas

psíquicas.

O cogito freudiano: “Penso onde não sou, portanto sou onde não

penso” explicita que para Freud o Eu é sobretudo lugar do ocultamento, o

inconsciente e o sujeito do inconsciente se articula com o sujeito do consciente

através de uma fenda entre o dizer e o ser, entre o “eu falo” e o “eu sou”, pois os

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mecanismos impetrados por nosso Ego e Superego fazem a ponte entre o

inconsciente e o consciente.

O Serviço Social adapta a visão freudiana do indivíduo, colocando que

os problemas enfrentados pelo cliente são decorrentes das dificuldades do

mesmo em enfrentar as pressões internas (tendência do indivíduo à vida ou à

morte, conflito interior, conflito de desejos) e/ou externas (fatos adversos do meio

influenciando o problema do cliente) a ele. A investigação do caso do cliente se

dava em bases científicas, claramente positivistas, no rigor metodológico e na

maior objetividade para elaborar o diagnóstico, francamente seguindo os métodos

de elaboração do diagnóstico, segundo Mary Richmond, que é uma das

expoentes dessa Escola.

O indivíduo se encontrava fragilizado e por isso precisava da ajuda da

Assistente Social para poder se reajustar a sociedade, e se desenvolver bem,

cumprindo o papel que lhe cabe em seu meio social; entrando aí a questão do

caráter do cliente.

O tratamento se dava pela pretensão do Assistente Social de criar

potencialidades no indivíduo através do fortalecimento do Ego do cliente. A

estrutura do relacionamento Assistente Social/cliente é marcada claramente pela

impessoalidade, onde o Assistente Social detém o poder do conhecimento e o

controle do processo demonstrando uma relação de domínio. O Assistente Social

vai combinar ou não, ajuda psicológica com planejamento social, no sentido de

reduzir o peso das pressões sociais da realidade sobre o cliente, conforme o

necessário dentro do prazo determinado para o tratamento. No âmbito

psicossocial, esta Escola vai trabalhar mais com a visão social através da

mobilização de recursos.

O Serviço Social entende como sua a responsabilidade não só de

mobilização de recursos, como ter uma formação em termos psicológicos, até

mesmo para saber quando se deveria encaminhar o cliente para um profissional

da área.

A Escola Funcional foi assim denominada pelo peso dado à função da

obra social na solução do problema do cliente. É resultante do impacto da teoria

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de Otto Rank – discípulo de Freud – que vai enfatizar a psicologia do Ego por um

ângulo mais positivo do homem, sendo este considerado o criador de si mesmo e

esta Escola traz um aspecto maior sobre os valores culturais da formação da

personalidade do indivíduo. Fundamenta-se nos princípios da Gestalt, onde o que

interessa é o todo organizado.

Para a Gestalt o pensamento não é apenas o encadeamento de

sensações, de pequenas unidades, mas um todo. Nega a aquisição do

comportamento pela associação, o que interessa é o todo organizado por leis

específicas. Assim, a psicologia da Gestalt ou da forma, é o todo organizado. O

gestaltismo está interessado no momento em que o estímulo é filtrado pelo

aparelho perceptivo, como a percepção possibilita que se veja coisas como uma

unidade – unidade esta que não é forçada, mas espontânea. Funda um novo

conceito chamado forma. Prioriza o fenômeno, ou seja, tudo aquilo que se

apresenta à primeira vista para nós, tem como ponto de partida a descrição do

fenômeno.

O conceito de fenômeno tem sua raiz na crítica de Kant e na

fenomenologia de Husserl .Em linhas gerais, o fenômeno se define por ser tudo

aquilo que se apresenta de imediato para a consciência, levando assim em conta

tanto o objeto quanto o sujeito que aborda esse objeto.

A Gestalt usa o termo forma para se referir ao fenômeno, a relação de

reciprocidade entre sujeito e objeto, ou seja, leis que organizam para o sujeito o

mundo e o transformam numa forma. Não é necessário conhecer para saber.

Aproveita da fenomenologia o conceito de intencionalidade, entendida como

propósito em direção às coisas, sendo sempre particular, individual. Não é algo

interno, pois ninguém nasce pronto; é visível, o sujeito precisa enxergar o objeto

para que esta (intencionalidade), exista, o que importa é o momento instantâneo.

A intencionalidade está presente em toda a consciência, a existência

determina a essência, eu apresento uma característica mediante um contexto que

permite que eu seja assim; não é inata e nem a priori. A consciência está sempre

voltada para o objeto. A Gestalt é a concepção do entre, existe o mundo físico

(multiplicidade de estimulações) e existe um sujeito que percebe esse mundo.

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Os problemas dos indivíduos eram vistos como o produto do uso

destrutivo das relações interpessoais. O Assistente Social deve perceber o

problema a partir das influências recebidas pelo cliente por todos os aspectos

formadores do mesmo, interligados (a combinação das partes que forma o todo,

não é simplesmente a soma das partes). Através do crescente relacionamento de

integração entre Assistente Social e cliente desde o primeiro encontro, vai se

desenvolvendo um processo onde o cliente é o mais indicado para identificar o

seu problema e restabelecer suas relações.

O Assistente Social se porta como um facilitador desse processo

percorrido pelo cliente, através da vontade do mesmo em relação a si próprio e ao

meio, auxiliando a liberar suas potencialidades, suas capacidades. Ambos vão

delineando o que deve ser trabalhado, construindo bases positivas de experiência

para o cliente, de como usar a si e aos outros nas suas relações, por uma

reflexão sobre as inter-relações humanas.

Neste processo, se observa nitidamente uma maior autonomia do

cliente mas tem também por objetivo a integração do indivíduo na sociedade. No

âmbito psicossocial, esta Escola vai trabalhar mais com a visão psicológica

através do relacionamento interpessoal e a noção do papel do indivíduo no todo.

Estas influências vigoraram no Serviço Social brasileiro até que este se

voltou para a realidade da América Latina, percebendo que as influências

importadas não davam conta dos problemas referentes à Questão Social vigente

nesses países. A partir daí, então, começa a questionar essas bases e se

voltarem para a construção de outras, próprias, que dessem conta desta

realidade.

A Reconceituação do Serviço Social brasileiro foi um movimento que

ocorreu no período de 1965 até 1975, e que significou a necessidade dos

profissionais repensarem o posicionamento do Serviço Social frente ao contexto

sócio-histórico e econômico da América Latina, tendo em vista a promoção de

uma modernização na intervenção profissional, caracterizada até então pelo

tradicionalismo. Nesse sentido, com relação ao documento de Araxá, nos

acrescenta José Paulo Netto: “O escopo do documento, todo ele, vai na direção

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desse ‘rompimento’ entendido aí como a ruptura com a exclusividade do

tradicionalismo; realmente, não há rompimento: há a captura do ‘tradicional’ sobre

novas bases.” (Netto, 1996, p.168).

O movimento visava discutir o fato do Serviço Social não se adequar às

demandas latino-americanas, devido à importação de teorias; os

reconceituadores colocam a questão da transformação social contra o

subdesenvolvimento; abordavam o fato da utilização a-crítica de categorias pelos

Assistentes Sociais; explicita a necessidade de se sistematizar a prática

(validação teórica); de desmistificar a neutralidade; a buscar a tradição marxista

(que não foi realizada nas fontes) e a romper com a visão restrita quanto ao

Estado e as instituições.

Assim, os ideais que passaram a predominar na profissão a partir daí,

seguiram um direcionamento voltado para uma análise mais ampla da realidade

social e das instituições correlacionando-as com as demandas existentes, ou seja,

a abordagem dessas demandas a partir de uma perspectiva macro da dinâmica

social nos aspectos sócio-econômicos e históricos desta e remetendo esta análise

conjuntural aos aspectos microssociais. Passa a enfatizar a historicidade e a

totalidade (concepções marxistas) e a questão da subjetividade torna-se

subjacente nas discussões impetradas no interior da categoria.

Após essa breve exposição, em largas pinceladas, do percurso

histórico e teórico-metodológico do Serviço Social até os dias atuais,

apresentaremos a formação acadêmico-profissional do Assistente Social.

O Assistente Social é um profissional cuja formação acadêmica é

abrangente, pois sua práxis é vivenciada no bojo das intersecções entre as

relações sociais. Portanto, é o profissional que atua sobre o ser humano e as

múltiplas dimensões que o constituem. O Assistente Social deve adquirir um olhar

que ultrapasse o senso-comum, deve estar preparado para mergulhar no universo

do cliente e transpor às micro situações por ele colocadas, correlacionando-as

com questões macro-sociais visando entender os meandros, as significações e os

valores pertinentes para a resolução dos problemas trazidos pelo cliente. Mas

esse olhar dialético sobre a realidade, permite que o profissional possa extrapolar

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os limites da experiência individual, diagnosticando e avaliando as melhores

alternativas de lidar com determinadas situações dentro da realidade posta.

Sendo assim, o Assistente Social está capacitado profissionalmente para

pesquisar, analisar, planejar, projetar, avaliar, criar, mediar e controlar situações

que envolvam aspectos objetivos e subjetivos.

As disciplinas que podem constituem o histórico acadêmico de uma

faculdade de Serviço Social espraiam-se sobre diversas ciências, procurando

fundamentar um aprendizado que proporcione uma intencionalidade de totalidade,

ou seja, uma perspectiva holística. As ciências apropriadas para essa finalidade

são: filosofia, antropologia, sociologia, história, psicologia, administração,

economia e direito. Além das disciplinas concernentes aos fundamentos

históricos, teóricos e metodológicos do Serviço Social e das demais intimamente

correlacionadas com a profissão, existem aquelas que complementam a formação

como: políticas sociais (apresentadas de forma abrangente e especificada por

áreas como saúde, assistência, previdência social, de família, da criança e

adolescente, etc.), teorias sociais, processos de trabalho, ideologia, análise

institucional ou organizacional, ética, planejamento, práticas educativas e

pesquisa quantitativa e qualitativa.

“A proposta de currículo encontra-se estruturada a partir denúcleos temáticos, que articulam um conjunto deconhecimentos e habilidades necessário à qualificaçãoprofissional dos assistentes sociais na atualidade. São trêsos núcleos temáticos: o núcleo dos fundamentos teórico-metodológicos da vida social, o núcleo de fundamentos daparticularidade da formação sócio-histórica da sociedadebrasileira e o núcleo de fundamentos do trabalhoprofissional. Cada um desses núcleos agrega um conjuntode fundamentos que se desdobram em matérias e estas, porsua vez, em disciplinas nos currículos plenos dos cursos deServiço Social das unidades de ensino.” (Iamamoto, 1998,p.71; grifo da autora).

Esses núcleos temáticos fazem parte da base da proposta de diretrizes

curriculares para o curso de Serviço Social elaboradas e aprovadas pelo conjunto

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das unidades de ensino do país sob a coordenação da Associação Brasileira de

Ensino em Serviço Social (ABESS). O primeiro núcleo temático refere-se ao

domínio que o Assistente Social deve ter de um conjunto de fundamentos teórico-

metodológicos e ético-políticos para conhecer e compreender o ser social,

decodificar a vida em sociedade. O segundo núcleo, remete ao entendimento dos

meandros da sociedade brasileira através das características históricas

particulares de sua formação e desenvolvimento, tanto urbano quanto rural,

permitindo assim, a apreensão da produção e reprodução da questão social e

suas diversas facetas. O terceiro núcleo visa decifrar os elementos constitutivos

do serviço Social. Logo, esses núcleos representam níveis distintos e

complementares de conhecimentos necessários para a prática profissional e os

recursos para se trabalhar esses conteúdos são múltiplos e provêem de

diferentes áreas do conhecimento.

A lógica curricular possui matérias básicas previstas em um currículo

mínimo vigente em todo o território nacional, mas há uma liberdade de

determinação das matérias complementares cujos conteúdos visam ampliar a

base pré-estabelecida de acordo com as demandas de uma conjuntura

específica. A ABESS é o espaço para a contínua discussão e atualização dos

conteúdos pertinentes para a formação profissional. As formas pelas quais esses

conteúdos podem ser ministrados, são diversificadas, buscando ultrapassar a

visão tradicional do currículo centrado exclusivamente em disciplinas. Portanto,

são reconhecidos como mecanismos de formação profissional: disciplinas,

seminários temáticos, oficinas, laboratórios e atividades complementares

(monitorias, pesquisa, extensão, intercâmbios, etc.).

Todo esse arcabouço teórico aliado à experiência de estágio

supervisionado, o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e habilidades e

qualidades específicas de cada sujeito profissional, vão formar um conjunto de

elementos que propiciam a atuação deste em qualquer tipo de organização,

podendo se tornar um diferencial por agrupar conhecimentos que permitem tanto

uma análise global da organização coadunada com a visão estabelecida, quanto

dos diversos e variados componentes necessários para concretizar missões.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com Octavio Ianni em seu livro: “A Sociedade Global”

(1993), no século XX - a despeito das crises cíclicas que lhe são típicas - o

Capitalismo continua se desenvolvendo como um modo de produção material e

espiritual, diferenciando-se, em sua fase contemporânea, pela ocorrência desse

processo simultaneamente em âmbito nacional e internacional, configurando um

processo civilizatório universal. E três são os fenômenos que se destacam no

atual panorama, a reestruturação produtiva, a globalização e o neoliberalismo.

Esses não se excluem, muito pelo contrário, encontram-se entrelaçados formando

uma rede que permite a superação de limites e barreiras à reprodução e

expansão do Capitalismo.

A reestruturação produtiva é o desenvolvimento de um conjunto de

tecnologias que incidem sobre a forma de produção e de trabalho, alterando-os

substancialmente. Esse movimento teve início com o modelo japonês que se

caracterizava por ser um modelo de produção flexível, baseado na qualidade

total, onde a quantidade produzida é estabelecida a partir da demanda real e há

uma recomposição do trabalho.

O modelo japonês traz novos paradigmas de organização do trabalho, da

produção e da empresa. Esse consistia em reduzir os custos de produção total,

através da redução de insumos, do capital fixo e do número de trabalhadores;

mas sem diminuir a produtividade, o volume de comercialização, isto é, o lucro da

empresa. A fábrica deve ser “enxuta” e esse fim é obtido através de

subcontratação (terceirização ou parceria) de pequenas e médias empresas para

realizar a produção de peças, repassando custos e pela automação da empresa

matriz que elimina o trabalhador do comando da máquina-ferramenta. Desta

forma, a apropriação do valor se produz e legitima fundamentalmente na

compra/venda, não da força de trabalho, mas do produto do trabalho realizado

pela empresa subcontratada.

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“A reorganização produtiva, auxiliados pela automação epela subcontratação, permite, em primeiro lugar, flexibilizar eheterogeneizar a produção: a indústria não está inteiramentemontada para uma mercadoria única, pois, além daspossibilidades da automação, conta com empresassubcontratadas que, cada uma, elabora produtos diferentes.Portanto, a indústria subcontratante pode, segundo asflutuações da demanda do mercado (em quantidade evariedade), comparar maior ou menor número demercadorias a cada uma das suas empresassubcontratadas. Assim, em segundo lugar, este modelopossibilita partir da (e se adequar à) demanda do mercado(método Kan-Ban). (...) a preocupação está em captar ademanda do mercado (que é seleto e altamente concorrido,mas globalizado, heterogêneo e pluri-consumidor, portanto,mais ágil) e produzir em função e a partir dele. “ (Montaño,1997, p.13-14; grifos do autor).

Os trabalhadores tornam-se especialistas em vários segmentos do

setor produtivo, passando a estar capacitados para a manutenção do

instrumental, o controle da qualidade do produto e gerenciamento dos fluxos de

produção, ou seja, são polivalentes ou multi-profissinais por serem responsáveis

pelo gerenciamento e execução do processo produtivo. A hierarquia nas

empresas é reduzida, e valoriza-se a liderança e a responsabilidade, assim como,

a parceria e a participação no trabalho em grupo.

Nesse processo, o Capitalismo se generaliza e se recria como modo de

produção global, compreendendo relações, processos estruturais e regionais,

nacionais e mundiais e envolvendo indivíduos e coletividades, grupos e classes

sociais, etnias e minorias, nações e continentes. Para Ianni, a constituição

histórica do Capitalismo pode ser vista como a história da globalização. O

fenômeno vem se desenvolvendo nos vários ciclos por que vêm passando o

Capitalismo, tendo no entanto características diferenciadas da realidade atual

devido aos diferentes contextos históricos, sociais, políticos, culturais e

econômicos. O que hoje se verifica é a acentuação e generalização de um

processo de mundialização. Assim, citando Hobsbawm, coloca que “é inegável

que o capitalismo, reformado e reestruturado em suas décadas de crise, mais

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uma vez provou que continua a ser a força mais dinâmica no desenvolvimento

mundial” (Ianni, 1993, p.57).

Enquanto um processo social que se encontra em construção,

podemos definir a globalização como um fenômeno que se caracteriza pela

internacionalização da produção, pelo mercado financeiro mundial, por mudanças

na divisão internacional do trabalho, na natureza dos Estados e em seus

sistemas. Além dessas, podemos elencar ainda as seguintes características: a

revolução informacional, que permite, além de considerável economia de trabalho

vivo, uma capacidade excepcional de transmissão de informações e também de

indução dos indivíduos; a organização de um sistema financeiro internacional

regido de acordo com as exigências da economia capitalista mundial e com as

determinações dos países que polarizam essa economia; existência de relações

econômicas fortemente influenciadas pelas exigências das empresas

multinacionais e transnacionais; uma reprodução ampliada do capital determinada

pela concentração e centralização de capital; a universalização da língua inglesa

como padrão comum de comunicação global e, finalmente, o predomínio mundial

do ideário neoliberal

Todas essas características acabam por configurar uma sociedade civil

universal, promovendo o deslocamento das coisas, indivíduos e idéias, gerando

uma desterritorialização generalizada.

Já para Marcos Arruda, a globalização tem como efeito à subordinação

das economias nacionais e suas estruturas políticas às estratégias e interesses

das empresas e grupos transnacionais. Para esses, a motivação maior é a

ampliação de seus ganhos, da competitividade e da produtividade e não o

desenvolvimento dos povos, nações e regiões do mundo. Tal movimento leva os

atores econômicos a apropriar-se de todo tipo de ganho de produtividade, em

detrimento dos trabalhadores e do emprego. Assim, há uma concentração de

capital e poder de decisão cada vez maior num número reduzido de grupos

econômicos, promovendo relações econômicas que na mesma proporção são

excludentes e totalitaristas. Quanto menor o grau de regulação estatal, mais

concentrador e destruidor esse sistema se tem revelado, causando impactos nas

diversas esferas da vida social.

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A mundialização das formas de produção material e espiritual traz

conseqüências para a cultura de diversos países, quando muito do que é local,

regional, nacional passa a fazer parte da dinâmica das relações internacionais,

num fenômeno que Ianni define como sendo a sobreposição de uma cultura

internacional-popular sobre as culturas nacionais-populares. Na medida em que a

cultura nacional-popular pode ser entendida como o jogo das forças sociais no

âmbito da sociedade nacional, contrapondo classes dominadas e dominantes, a

cultura internacional-popular, que nasce, circula e é consumida como mercadoria

- lançada simultaneamente em diferentes mercados nacionais - contribuem para a

construção da subalternidade de indivíduos, grupos, classes sociais, etnias, e

mesmo algumas sociedades nacionais como um todo. Assim, a globalização da

cultura mundializa grupos, classes, movimentos sociais, partidos políticos,

ideologias e utopias.

Isso acontece através da construção do que, José Paulo Netto,

denomina ‘cultura do consumo’, que nada mais é que a incorporação da lógica

capitalista no desenvolvimento de formas culturais socializáveis pelos meios

eletrônicos. A constituição dessa cultura global, através de uma tecnologia de

comunicação, produz na vida social um fenômeno de movimento duplo e

contraditório: de um lado, o incentivo ao consumo de artefatos globais, em nome

de uma indiferenciação abstrata de valores; de outro, a busca de novas

identidades culturais, por grupos, categorias e segmentos sociais, aliadas à

emergência de expressões particularistas, singularismos, xenofobias e

fundamentalismos. É, nas palavras de Hobsbawm, citado por Netto, “o triunfo do

indivíduo sobre a sociedade, ou melhor, o rompimento dos fios que antes ligavam

os seres humanos em texturas sociais.” (Netto, 1996, p.98).

Nas esferas econômica e social, a globalização gera o crescimento do

setor privado às custas da sociedade e do Estado, através de um conjunto de

políticas que visam ajustar as economias nacionais à nova ordem, as chamadas

‘reformas estruturais’, que incluem privatizações, crescente desregulação e

abertura dos mercados, e estabilidade política baseada no consenso. Quanto aos

problemas gerados por tais políticas, o Estado adota medidas apenas

compensatórias e coercitivas. Nesse contexto, Netto aponta para a existência de

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um número crescente de segmentos sociais desprotegidos - crianças e

adolescentes, deficientes, portadores de doenças estigmatizantes, idosos,

excluídos do mercado formal de trabalho, entre outros - que se vêem e são vistos

pelo restante da sociedade como uma ‘não-sociedade’, ou ‘contra-sociedade’.

No plano político, o mesmo autor cita a diminuição das atividades

reguladoras do Estado, especialmente no que concerne às suas funções

legitimadoras - o que corresponde ao rompimento com o Welfare State,

caracterizado pela manutenção da ordem social e pela busca do consenso

através da distribuição dos bens socialmente produzidos. Dessa forma, temos a

crescente retirada das coberturas sociais públicas, que gradativamente vão sendo

assumidas pelo setor privado. Essa mudança se inscreve no bojo da ideologia

neoliberal que, a partir da defesa do Estado Mínimo, coloca que tais coberturas

também devem ser regidas pela lógica do mercado - logo, deixando de serem

esferas de atuação do Estado. Assim, passa a ser veiculada uma cultura

antiestado, sob a justificativa de que a desregulação, enquanto modernização,

valoriza a sociedade civil na medida em que a libera da tutela estatal, abrindo

assim espaços para a defesa da cidadania, liberdade e democracia.

Tal discurso acaba por também ser incorporado pelas forças

anticapitalistas, que colocam o antiestatismo como demanda democrática. Como

conseqüências da política de desregulação, temos o aumento do desemprego,

compressões salariais e o ataque aos sistemas públicos de previdência social.

Falando particularmente do Brasil, o fato de que inexiste um Welfare State a ser

destruído - na medida em que a efetividade dos direitos sociais ainda não se

encontra totalmente consolidada na realidade social e não se pode falar em

excesso de gastos públicos - faz com que o projeto de hegemonia burguesa se

mascare como solidariedade, incentivando as iniciativas autônomas a assumirem

responsabilidades anteriormente alocadas ao Estado.

“Economicamente, o neoliberalismo fracassou nãoconseguindo nenhuma revitalização básica do Capitalismoavançado. Socialmente, ao contrário, o neoliberalismoconseguiu muitos dos seus objetivos, criando sociedades

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marcadamente mais desiguais, embora não tãodesestatizadas como queria. Política e ideologicamente,todavia, o neoliberalismo alcançou êxito num grau com oqual seus fundadores provavelmente jamais sonharam,disseminando a simples idéia de que não há alternativaspara os seus princípios, que todos, sejam confessando ounegando, tem de adaptar-se as suas normas. Provavelmentenenhuma sabedoria convencional conseguiu um predomíniotão abrangente desde o início do século como o neoliberalhoje. Este fenômeno chama-se hegemonia, ainda que,naturalmente, milhões de pessoas não acreditem em suasreceitas e resistam a seus regimes. A tarefa de seusopositores é a de oferecer outras recitas e preparar outrosregimes. Apenas não há como prever quando ou onde vãosurgir. Historicamente, o momento de virada de uma onda éuma surpresa.” (Anderson, 1995, p.23).

Para Ianni, no atual período da história, a cidadania vigente é a da

mercadoria - “essa alcançou a cidadania mundial muito antes que o indivíduo”

(Ianni, 1993, p.112). A cidadania do ‘cidadão do mundo’, se compreendida como

soberania - que implica em autoconsciência - ainda se encontra em fase inicial de

construção. Pois; poucos são os indivíduos que têm a possibilidade de se

informarem e se posicionarem diante dos acontecimentos mundiais. A realização

da cidadania implica na criação de condições mais plenas para a elaboração da

autoconsciência, no sentido de consciência para si.

No entanto, na realidade social predomina a multidão de trabalhadores,

populações e coletividades, dispersas em grupos, etnias, minorias, classes,

regiões, culturas, tradições,religiões, seitas, línguas, dialetos, todos membros de

uma imensa ‘aldeia global’ , recebendo mensagens semelhantes e informando-se

mais ou menos nos mesmos termos, o que os leva a pensar os problemas

cotidianos, regionais e nacionais de forma mais ou menos homogênea.

Nessa perspectiva, as formas de se conceber o indivíduo e suas

possibilidades de realização transcendem o espaço regional ou nacional. A

unidade social que referencia as mudanças estruturais dos Estados Nacionais já

não é constituída pelos Estados particulares, mas pela Humanidade dividida em

Estados, num movimento de integração global dessa Humanidade.

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Na concepção de Arruda, o grande desafio colocado pela globalização

é fazer da mesma um processo que democratize não apenas o direito à opinião,

mas os direitos e deveres da plena cidadania para todos os membros das

sociedades nacionais e da sociedade global. A globalização deveria crescer a

partir da concepção orgânica como um todo objetivo, procurando maximizar nos

indivíduos e comunidades os potenciais de complementaridade, sociabilidade e

irmandade, numa rede de intercâmbio em todos os níveis. É o que o mesmo

denomina “auto-desenvolvimento”, que passa pelas dimensões pessoal e

comunitária da constituição humana.

Na dimensão pessoal, o “auto-desenvolvimento” se refere ao incentivo

aos potenciais próprios de cada indivíduo, de desenvolver de forma harmoniosa

as várias dimensões do ser de maneira autônoma e solidária. Assim sendo, o

desafio do “auto-desenvolvimento” consiste na construção, por todos e por cada

um, de uma ação sobre o mundo e sobre os outros baseada na pesquisa e

reflexão acerca de si mesmo como sujeito ativo e consciente.

Com relação à comunidade, o desafio é a necessidade de se valorizar

as potencialidades de cada participante da mesma ao mesmo tempo em que se

busca a unanimidade em torno de objetivos, projetos e estratégias comuns. Para

Arruda, é nessa dimensão que se coloca o desafio da democracia, pois se trata

de desenvolver a comunidade no sentido de cada um tornar-se sujeito consciente

e ativo de seu próprio desenvolvimento.

Sob o contexto da globalização, percebemos que as políticas sociais

são extremamente importantes quando se discute cidadania, pois são os direitos

sociais entendidos como garantia de acesso a educação, a saúde, a habitação,

assistência social, etc que vão dar o “tom” da cidadania existente tanto ao nível

legal quanto em sua concretude na prática cotidiana.

A esfera das políticas sociais é perpassada pela luta de classes, e é na

correlação de forças aí estabelecida que a conquista de direitos é construída.

Apesar da desigualdade entre as forças nessa luta, os direitos não podem ser

considerados como mero resultado da concessão do Estado, pois mesmo quando

antecedem reivindicações visam minimizar efeitos de uma tensão já existente.

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Para conquistar direitos e garantir que esses se efetivem, possibilitando uma real

ampliação da cidadania, se faz necessária a participação política da população

através de sua organização, pressão e denúncia.

No Brasil - um país de história recente e pouco desenvolvido - onde

esse processo fundamental de mobilização política da classe trabalhadora como

um todo por direitos sociais ainda é incipiente, o que denota a vulnerabilidade

desse e tranforma-o em espaço privilegiado de ataque pelo discurso neoliberal

que apregoa o seu desmonte e repasse ao mercado a regulação das questões

sociais.

A onda atual de acontecimentos englobando todos os fatores expostos

acima, ainda é de muita incerteza, mas traz claros rebatimentos no “mundo do

trabalho”, na vida organizacional. E para se perceber, compreender de que forma

e em que grau esses fenômenos influenciam as organizações, é necessário uma

análise profunda que consiga articular todos esses macro e micro elementos

constituintes da realidade social, externa e interna ao sistema empresarial,

avaliando e planejando estratégias que estejam em sintonia com as demandas

postas naquele momento específico. Os planejamentos, principalmente os de

curto e médios prazo, tem que ser flexíveis e elaborados de forma a aceitar

adaptações a qualquer momento visando estar sempre atualizados e mantendo o

nível de eficiência e eficácia.

Obviamente, que não existe apenas um tipo de profissional capaz de

realizar tal intento, mas o Assistente Social é um desses profissionais. A formação

acadêmica desse profissional, permite que o mesmo se aproprie de

conhecimentos de diversas áreas do saber, propiciando a articulação de vários

elementos que resultam em uma aproximação efetiva da realidade social.

Portanto, dependendo do foco e da intencionalidade do profissional, esse pode

contribuir no processo de desvelamento e planejamento do melhor

direcionamento das atividades de uma dada organização.

Em uma organização empresarial, principalmente, na Gestão de

Pessoas, o Assistente Social pode contribuir na mediação das relações sociais

estabelecidas nesse ambiente. Sendo um profissional que tem sua prática

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embasada nas relações sociais, correlaciona facilmente vários fatores objetivos e

subjetivos, inclusive analisando discursos e representações sociais3 que

permeiam o estabelecimento das relações em qualquer cenário. Ou seja, é capaz

de analisar e avaliar complexamente limites, barreiras, possibilidades,

alternativas; e planejar, criar, tomar decisões e controlar situações que envolvam

a relação entre aspectos departamentais e de planejamento estratégico da

organização.

Portanto, o Assistente Social pode ser um diferencial nas organizações

empresariais, prioritariamente em seu departamento de Gestão de Pessoas, por

ser um profissional da área humana que lida com as relações sociais com uma

abordagem plural de saberes que o tornam capacitado a desvendar os meandros

destas construções objetivas e subjetivas, ao mesmo tempo em que vinculam

essa análise as metas estratégicas da organização.

Com essas reflexões, nos propomos a revitalizar o espaço ocupado

pelo Serviço Social nas organizações empresariais, desmistificando que o

Assistente Social seja apenas o profissional que trabalha com benefícios e

assistência, ou é o “quebra galho” institucional. Esse profissional não parou no

tempo e no espaço, continuam desenvolvendo seus conhecimentos para adaptar-

se as demandas do mercado, tendo muito a contribuir com propostas criativas e

condizentes com a realidade vivenciada pelas organizações na atualidade.

Finalizamos com as palavras de Marshall Berman (1982), que explora e

mapeia as ambigüidades e ironias da vida moderna, e que demonstram quanto o

ser humano pode ser maravilhoso.

“Pode acontecer então que voltar atrás seja uma maneira deseguir adiante: lembrar os modernistas do século XIX talveznos dê a visão e a coragem para criar os modernistas doséculo XXI. Esse ato de lembrar pode ajudar-nos a levar omodernismo de volta as suas raízes, para que ele possa

3 Representações Sociais implicam na relação entre subjetividade e objetividade, isto é, a interdependênciaentre a elaboração psíquica e a realidade social, seja entre sujeitos (indivíduo, família, grupo, classe, etc.) ouna relação com a dimensão prática da vida coletiva. Estas aglutinam um conjunto de significações que dãosentido a múltiplos aspectos que integram a construção social da realidade.

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nutrir-se e renovar-se, tornando-se apto a enfrentar asaventuras e perigos que estão por vir. Apropriar-se dasmodernidades de ontem pode ser, ao mesmo tempo, umacrítica as modernidades de hoje e um ato de fé nasmodernidades – e nos homens e mulheres modernos - deamanhã e do dia depois de amanhã.” (Berman, 1982, p.35).

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