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SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO CONSUMIDOR: UM ESTUDO DE CASOS NO SETOR DE TELEFONIA MÓVEL CARLOS AUGUSTO PAMPLONA DE SOUZA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS – CCJE INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO - COPPEAD MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO ORIENTADORA: LETICIA CASOTTI RIO DE JANEIRO 2002

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SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO CONSUMIDOR:UM ESTUDO DE CASOS NO SETOR DE TELEFONIA MÓVEL

CARLOS AUGUSTO PAMPLONA DE SOUZA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS – CCJE

INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO - COPPEAD

MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

ORIENTADORA: LETICIA CASOTTI

RIO DE JANEIRO

2002

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Souza, Carlos Augusto Pamplona de

Serviço de Atendimento ao Consumidor: um estudo de casos no Setor de Telefonia Móvel/ Carlos Augusto Pamplona de Souza.Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2002.

viii, 160 p. ; il

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro,COPPEAD, 1999.

1. Serviço de Atendimento ao Consumidor - Tese. 2. Marketingde Relacionamento - Tese. I. Título. II Tese (Mestr. - UFRJ/COPPEAD).

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Agradecimentos

Agradeço a todos que, de alguma maneira, me ajudaram durante o período

do mestrado. Entretanto, gostaria de expressar um agradecimento especial às

seguintes pessoas:

Aos professores, funcionários e colegas de turma do COPPEAD por tornar meu

mestrado uma experiência tão enriquecerdora e inesquecível.

À Professora Letícia Casotti, minha orientadora, pelas contribuições, apoio e

confiança no meu trabalho.

Às Professoras Angela da Rocha e Marie Chauvel pela participação na banca,

sugestões à dissertação e, principalmente, pelo conhecimento transmitido ao

longo do mestrado.

A Telefônica Celular e ATL por acreditarem na importância do trabalho,

aceitando ser objeto desta dissertação.

Aos meus pais, minha irmã, minha namorada, Daniela e todos meus amigos por

tudo.

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Resumo

SOUZA, Carlos Augusto Pamplona de. Serviço de Atendimento ao

Consumidor: um estudo de casos no Setor de Telefonia Móvel. Orientadora:

Letícia Casotti. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2002. Dissertação.(Mestrado

em Administração)

O Serviço de Atendimento ao Consumidor é uma das principais ferramentas

da estratégia de marketing de relacionamento pois é um importante canal de

comunicação com os clientes da empresa. O presente estudo tem como objetivo

identificar a estrutura e o papel do Serviço de Atendimento ao Consumidor em

duas empresas de telefonia móvel, a ATL Celular e a Telefônica Celular (nome

fantasia da Telerj Celular). O setor de telefonia foi o escolhido pela tendência de

forte aumento de competitividade e pelo SAC aparentar ser um diferencial

importante nessas empresas.

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Abstract

SOUZA, Carlos Augusto Pamplona de. Customer Service: a case study in the

Mobile Sector. Orientadora: Letícia Casotti. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD,

2002. Dissertação.(Mestrado em Administração)

Customer Service is one of the most significant tools of relationship marketing

strategy because it is an important communication channel with the firm and its

customers. The purpose of this study is to identify the role of the Customer Service

in two mobile companies : Telefônica Celular e ATL Celular. The Mobile Sector

was chosen because of the increasing competition and because the Customer

Service seems to be na important differential in these firms.

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Lista de Figuras e Tabelas

TabelasTabela 1.1 – Total de reclamações nos Procons em 2000 5

Tabela 2.1 – Número de negócios começados 8

Tabela 2.2 – As vantagens de uma estratégia de marketing de

relacionamento 45

Tabela 4.1 – Variáveis de avaliação dos operadores da Telefônica 116

Quadro-resumo da análise dos casos 134

FigurasFigura 2.1 – A mudança de um paradigma com foco em bens para um

com foco em serviços 13

Figura 2.2 – O conceito total do produto 23

Figura 2.3 – Serviços suplementares envolvendo o core product 26

Figura 2.4 – Lucratividade proporcionada pelos consumidores ao longo

do tempo 43

Figura 2.5 – Fórmula para maximizar a satisfação do consumidor e sua

lealdade à marca 54

Figura 2.6 – Estruturas de reportagens para DSC’s 62

Figura 2.7 – Determinantes de deleite e desapontamento nos resultados

Das reclamações dos consumidores 73

Figura 4.1 – Motivos das ligações recebidas pelo SAC da ATL 89

Figura 4.2 – Posição organizacional do SAC da ATL 90

Figura 4.3 – Posição organizacional do SAC da Telefônica 107

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SUMÁRIO

1.O PROBLEMA 11.1 Introdução 1

1.2 A pergunta da dissertação 2

1.3 Relevância do estudo 3

1.4 Organização do estudo 6

2. REFERENCIAL TEÓRICO 72.1Marketing de serviços 7

2.1.1 O crescimento da importância dos serviços 7

2.1.2 Uma comparação entre bens e serviços 11

2.1.3 Características dos serviços 15

2.1.4 Serviços como um diferencial 21

2.2 Marketing de relacionamento 31

2.2.1 Críticas ao marketing mix 31

2.2.2 Fundamentos do marketing de relacionamento 35

2.2.3 Vantagens do marketing de relacionamento 41

2.3 O serviço de atendimento ao consumidor 46

2.3.1 As vantagens do serviço de atendimento ao consumidor 46

2.4 Aspectos organizacionais do SAC – O trabalho de Lancioni 60

2.5 O tratamento e a análise das reclamações dos consumidores 65

2.5.1 O tratamento das reclamações individuais dos consumidores 65

2.5.2 A análise das reclamações 75

3. METODOLOGIA 813.1 Tipo de pesquisa 81

3.2 Seleção das empresas pesquisadas e dos entrevistados 83

3.3 Coleta de dados 84

3.4 Tratamento dos dados 85

3.5 Limitação do método 86

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3.6 Limitação do estudo 86

4. DESCRIÇÃO DOS CASOS 87Caso ATL 87

Caso Telefônica Celular 106

5. ANÁLISE DOS CASOS 1235.1 Aspectos organizacionais e estruturais 123

5.2 Contato com o cliente 126

5.3 Tratamento das reclamações e os operadores 127

5.4 Análise das reclamações 132

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 1366.1 Discussão final dos resultados 136

6.2 Sugestões para estudos futuros 141

7. BIBLIOGRAFIA 143ANEXO 1 – Roteiros elaborados para as entrevistas 155

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1. O PROBLEMA

1.1 Introdução

O nível de competição nunca foi tão elevado em praticamente todos os setores

da economia mundial. Com isso, diferenciar sua oferta daquela de seus

concorrentes, de modo a promover a fidelização de seus consumidores, se tornou

pré-requisito básico para a sobrevivência de qualquer empresa, inclusive nos

setores onde o produto é normalmente chamado de commodity .

Entretanto, LEVITT (1985) observa que a diferenciação por si só não traz uma

vantagem, pois é necessário que a companhia diferencie seu produto de acordo

com as necessidades e os desejos de seus consumidores. Para obter mais

informações sobre clientes, a empresa deve se aproximar mais deles, tentando

iniciar e manter um relacionamento com eles.

Essa visão de marketing que reconhece a crescente importância das empresas

protegerem sua base de clientes devido ao aumento da competição e a

importância do estabelecimento de relacionamento com os consumidores é

considerada por alguns autores (GUMMESSON , 1987 e GRÖNROOS, 1994) um

novo paradigma, denominado marketing de relacionamento.

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O Serviço de Atendimento ao Consumidor aparece como uma das principais

ferramentas dessa estratégia de marketing de relacionamento pois é um

importante canal de comunicação com os clientes da empresa.

O presente estudo tem como objetivo identificar a estrutura e o papel do Serviço

de Atendimento ao Consumidor em duas empresas de telefonia móvel no Brasil, a

ATL Celular e a Telefônica Celular (nome fantasia da Telerj Celular).

O setor de telefonia foi o escolhido pela tendência de forte aumento de

competitividade, pelo SAC aparentar ser um diferencial importante nessas

empresas e por estar em primeiro lugar no ranking do número de reclamações nos

Procons tanto do Rio de Janeiro quando de São Paulo.

1.2 Pergunta da Dissertação

Esse estudo procurou responder à seguinte pergunta de pesquisa: Qual a

estrutura e o papel do Serviço de Atendimento ao Consumidor em empresas de

telefonia móvel? Para atingir esse objetivo, serão abordadas as seguintes

perguntas intermediárias.

- Quais são os aspectos estruturais e organizacionais do SAC?

- Como ocorre o contato do consumidor com o SAC (com quem ele fala, quais

os motivos do contato, quais as formas de contato etc.)?

- Como são tratadas as reclamações do consumidor?

- Como são analisadas as reclamações?

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1.3 Relevância do Estudo

O Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) pode ter grande importância

para uma empresa. Além de contribuir para melhorar a imagem desta junto a seu

público-alvo, ele recolhe informações importantes através de reinvidicações,

reclamações, sugestões e pedidos de informação de seus consumidores, que

podem ser utilizadas no planejamento estratégico, em decisões operacionais e na

construção de um relacionamento com o cliente. Outros benefícios que um SAC

eficiente pode trazer para a empresa são: redução da probabilidade de processos

legais, redução do boca-a-boca negativo e aumentar a lealdade a marca

(MITCHELL, 1993).

Com relação à competição entre as empresas, o governo tem procurado

estimulá-la. Na parte de telefonia fixa, o modelo de privatização já previa a

existência de empresas-espelho para que nenhuma companhia atuasse sem um

competidor. Com relação aos locais pelos quais as empresas-espelhos não se

interessaram devido ao baixo potencial de retorno, o governo está estimulando a

entrada de firmas menores, chamadas “espelhinhos”. Além disso, as

concessionárias que anteciparam as metas de qualidade estipuladas pela Anatel

de 2003 para 2001, foram liberadas do impedimento de obter novas outorgas de

telefonia fixa em regime privado ou ainda outorgas de outros serviços. Isto é, as

empresas que anteciparam as metas puderam entrar em qualquer estado do país.

Já sobre a telefonia móvel, além da competição entre empresas das bandas A e

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B, mais concorrentes estão entrando através das bandas C, D e E. Assim, uma

mesma região poderá ter até cinco competidores (ATLAS, 2000). No Rio de

Janeiro, por exemplo, a TIM e a Oi estão entrando para competir com a ATL e a

Telefônica. Segundo estudo da consultoria Deloitte, o mercado brasileiro só

comporta cinco operadoras de telefonia celular. Hoje, entre banda A e B, existem

39 (CESAR, 2002).

Com isso, o setor de telefonia vem experimentando um grande aumento de

competitividade, o que resultará em uma preocupação cada vez maior das

empresas em fidelizar seus consumidores.

Desta forma, os SAC’s parecem assumir um papel estratégico cada vez maior

para as empresas de telefonia móvel. Além disso, dados do Procon ( Tabela 1.1)

mostram que esse é um dos setores que mais recebe reclamações, sugerindo que

o SAC seja um departamento muito exigido nessas empresas.

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Tabela 1.1

Total de Reclamações nos Procons em 2000

Rio de JaneiroTelefonia fixa, móvel e longa distância 14.467Cartão de crédito 3.671Bancos 2.770Financeiras 1.010Planos de Saúde 358São PauloTelefonia fixa, móvel e longa distância 6.780Planos de Saúde 1.973Bancos 1.654Serviços Públicos 1.627Cartão de crédito 771Fonte: Meireles, Moraes e Propato (2001)

Ao analisar o papel do SAC em empresas do setor de telefonia móvel, este

estudo fornece uma contribuição aos profissionais de marketing e estratégia no

sentido de disponibilizar informações sobre como essas empresas estão

utilizando o SAC. Além disso, apesar da reconhecida importância do tema, pouca

pesquisa tem sido produzida recentemente no Brasil.

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1.4 Organização do Estudo

No Capítulo 2, o referencial teórico mostra a criação do marketing de

relacionamento deveu-se como necessidade de uma nova visão de marketing que

considerasse o aumento da importância dos serviços; a inexistência da dicotomia

bens/serviços das ofertas das empresas; as características únicas do marketing

de serviços e o marketing industrial; o aumento da competição entre as empresas,

fazendo com que seja cada vez mais importante proteger sua base existente de

clientes; o reconhecimento crescente da importância da retenção e do

relacionamento com os consumidores para as empresas, entre outras tendências.

Em seguida, o Serviço de Atendimento ao Consumidor, um dos principais

instrumento de marketing de relacionamento, é estudado através de suas

características e vantagens.

A descrição da metodologia adotada neste estudo, e o motivo de sua escolha,

se encontram no Capítulo 3.

O Capítulo 4 traz a descrição das informações coletadas nas entrevistas com

funcionários da ATL e da Telefônica. A análise dos casos é realizada no Capítulo

5.

As conclusões deste estudo se encontram no Capítulo 6 e as sugestões feitas

para estudos futuros baseadas nessas conclusões se encontram no Capítulo 7.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Marketing de Serviços

2.1.1 O crescimento da importância dos serviços

A partir da segunda metade do século 20, os serviços começaram a

desempenhar um papel cada vez maior na vida econômica dos países

industrializados (HAKSEVER et al, 2000). Na medida em que as economias

evoluem, cada vez mais suas atividades se concentram na produção de serviços

(KOTLER, 2000). Isto é, a maioria dos países do Ocidente entraram ou estão a um

passo de entrar na chamada economia de serviços, onde uma grande proporção

da força de trabalho não está empregada na agricultura e na indústria, mas em

serviços. Também nessas economias, a proporção do setor de serviços no

Produto Interno Bruto (PIB) vem aumentando (COWELL, 1986).

HAKSEVER et al (2000) analisaram o impacto do setor de serviços sob cinco

óticas: emprego, PIB, número de companhias criadas, comércio internacional e

contribuições para a indústria. Os resultados, em relação à economia norte-

americana, foram:

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• Emprego – Em 1990, o setor de serviços empregava 75% dos

trabalhadores dos EUA, contra 64% em 1970.

• Produto Interno Bruto - O setor de serviços era responsável por 76% do

PIB norte-americano em 1990. Em 1970, esse número era 66%.

• Número de negócios começados – De acordo com a Tabela 2.1, o setor de

serviços é onde a maioria das novas companhias são criadas.

Tabela 2.1

Número de Negócios Começados

Indústria 1985 1990 1995Extração 6.063 2% 3.349 2% 2.763 2%Produção de bens 56.398 23% 36.116 23% 29.152 17%Produção de serviços 184.487 74% 115.581 73% 113.446 67%Estabelecimentos não-classificáveis 2.282 1% 3.884 2% 22.797 14%Total 249.230 100% 158.930 100% 168.158 100%Fonte: Dun & Bradstreet Corporation, A Decade of Business Starts" in Statistical Abstract of the UnitedStates, 1997, p.547 apud HAKSEVER et al (2000), p.7

• Comércio Internacional – Cerca de 30% das exportações dos EUA são

serviços.

• Contribuições para a indústria – A relação entre bens e serviços é muito

forte; um não pode existir sem o outro. Em uma empresa que produz bens, vários

serviços são fornecidos interna e externamente, sem os quais a firma não poderia

funcionar. Como exemplo, temos telecomunicações, contabilidade e manutenção.

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Segundo GRÖNROOS (1990), em nível micro, a importância dos serviços está

crescendo muito além das fronteiras de um “setor de serviços”. Qualquer

estatística que defina um setor deste tipo será uma grosseira interpretação da

realidade , já que os serviços produzidos por fabricantes de bens não são

incluídos. O autor demonstra esse fato através do exemplo de uma empresa que

produz elevadores. Se a manutenção dos elevadores é feita por uma firma

separada que presta esse tipo de serviço, ela é considerada parte do setor de

serviços. Entretanto, se ela for feita pelo próprio fabricante, a manutenção, mesmo

sendo um serviço, vai ser registrada no PIB industrial do país. Assim,

GRÖNROOS (1990) chama atenção para a existência de um grande setor oculto

de serviços. O que vem acontecendo é um crescimento dos serviços em geral,

seja o que faz parte de estatísticas tradicionais de serviços, seja aquele que faz

parte do setor oculto de serviços.

LEVITT (1985) se refere a esse setor oculto de serviços argumentando que

uma grande parte das indústrias tradicionalmente chamadas de “manufatureiras”

têm uma grande proporção de suas receitas e despesas atreladas a serviços de

pré e pós-compras.

As razões para esse crescimento dos serviços são várias. Para HAKSEVER et

al (2000), as principais são:

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• O aumento da eficiência da agricultura e da indústria, o que dispensa força

de trabalho para os serviços

• O fluxo de trabalhadores da agricultura e outra atividade extrativa para a

indústria e desta para os serviços

• A aplicação da vantagem comparativa no comércio internacional

• A diminuição do investimento, como porcentagem do PIB, em países

industrializados de alta renda ou um aumento, como porcentagem do PIB, em

países com baixa renda

• O aumento da renda per capita

• O aumento da urbanização

• Desregulamentação

• Mudanças demográficas

• Um aumento no comércio internacional

• Crescimento simbiótico do conjunto dos serviços com a indústria

Já COWELL (1986) destaca os seguintes motivos para o aumento da economia

de serviços:

• A defasagem do crescimento na produtividade do trabalho em serviços

comparado com o resto da economia. Isto é, parte da explicação para o

crescimento dos serviços é atribuído ao crescimento mais lento da produtividade

do trabalho em serviços.

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• O crescimento da demanda intermediária por parte das firmas. Isto decorre de

dois movimentos. O primeiro é relacionado à criação de novas firmas

especializadas para prestarem serviços que antes eram realizados dentro das

próprias firmas. Os exemplos incluem serviços de engenharia e consultoria. O

segundo movimento se refere à criação de firmas especializadas para prestar

serviços novos. Estes são normalmente relacionados a tecnologia de computação

e ao processamento de informações, mas também estão surgindo novos serviços

relacionados ao meio ambiente (GRÖNROOS, 1990).

• Crescimento da demanda final por parte dos consumidores. Na medida em

que a sociedade vai ficando cada vez mais rica e na medida em que utilidade

marginal de se ter bens diminui, as pessoas passam a voltar seus gastos para

serviços.

SCHOELL E IVY (1981) enumeram razões relativamente diferentes das

apresentadas acima: aumento da riqueza, maior tempo livre, maior porcentagem

de mulheres no mercado de trabalho, maior expectativa de vida, maior

complexidade dos produtos, complexidade crescente da vida, maior preocupação

com a ecologia e com recursos escassos e número crescente de novos produtos.

2.1.2 Uma comparação entre bens e serviços

Para LEVITT (1972), não existe algo como uma indústria de serviços, pois

todas as indústrias têm componentes de serviços. O que ocorre é que eles são

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encontrados em maior proporção em algumas indústrias do que em outras. Indo

mais além, o autor diz que é mais útil pensar em tangíveis e intangíveis do que

em bens e serviços já que, seja qual for a oferta de uma empresa, ela terá

componentes intangíveis. A utilidade desse raciocínio aparece ao se considerar a

questão de como o marketing de intangíveis é diferente do marketing de

tangíveis (LEVITT, 1981).

As idéias acima parecem ser compartilhadas por COWELL (1986), para quem,

do ponto de vista de marketing, tanto bens quanto serviços são produtos, pois

ambos fornecem benefícios e satisfação para os consumidores. O autor defende a

visão ampla de produto, segundo a qual “produto é um conjunto de atributos

tangíveis e intangíveis” (COWELL, 1986, p.35). Isto é, todo produto tem uma parte

intangível, seja ele bem ou serviço.

O que há de específico em relação aos serviços é a predominância da parte

intangível, o que os torna um tipo especial de produto. Com isso, eles podem

necessitar de um entendimento e esforços de marketing especiais. Isto é, uma

empresa cujo produto tenha forte componente intangível podem necessitar de

adaptações em suas estratégias e táticas de marketing (COWELL, 1986).

GUMESSON (1994a) chega a falar em mudança de paradigma. Para o autor, o

consumidor não compra bens ou serviços no sentido tradicional, mas uma oferta

que proporciona serviços, os quais criam valor para ele. Vários elementos compõe

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essa oferta e o valor, sendo alguns deles atividades (serviços) e outros, coisas

(bens). Com esse raciocínio, a divisão tradicional entre bens e serviços perde seu

sentido. A questão passa a ser redefinir os serviços e passar a encará-los do

ponto de vista do consumidor: atividades proporcionam serviços, coisas

proporcionam serviços. O autor defende a necessidade de se reconhecer que

vivemos uma sociedade de serviços, que houve uma mudança de paradigma com

foco em bens para um paradigma com foco em serviços ( Figura 2.1).

Figura 2.1

A Mudança de um Paradigma com Foco em Bens para um com Foco nos

Serviços

Fonte: Baseada na figura 1 de GUMMESSON (1994a), p. 79

Bens

Serviços

Serviços

Bens

Embora acreditem na utilidade de comparar a natureza e os papéis do

marketing de serviços e o de bens, BERRY e PARASURAMAN (1992) também

defendem que não há uma simples dicotomia entre as empresas de bens e as de

serviços. Para os autores, as empresas de bens também são empresas de

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serviços, o que ocorre é que a fonte de benefício essencial de seu produto é mais

tangível que intangível. Já em relação as empresas de serviços, o raciocínio é o

inverso. Quase todos os produtos têm elementos tangíveis que contribuem para o

benefício central.

Com relação ao mix de bens e serviços do produto de uma empresa, KOTLER

(2000) identificou cinco categorias de ofertas:

• Bem tangível – quando a oferta consiste basicamente de um bem tangível,

não havendo nenhum tipo de serviço associado ao produto.

• Bem tangível associado a serviços – quando a oferta consiste em um bem

tangível associado a um ou vários serviços.

• Híbrida – quando a oferta consiste em bens e serviços.

• Serviço principal associado a bens ou serviços secundários – quando a

oferta consiste em um serviço principal com serviços adicionais ou bens de apoio.

• Serviço puro – quando a oferta consiste basicamente de um serviço.

Já GRÖNROOS (1990) diz que, do ponto de vista gerencial, é um erro falar

sobre gerenciamento na indústria de serviços, pois esta e a indústria de bens

estão cada vez mais interrelacionadas. Para o autor, o termo “indústria de

serviços” foi cunhado em uma época na qual os fabricantes de bens consideravam

os serviços como um apêndice de suas operações, sem importância estratégica.

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Assim, deve-se falar em gerenciamento de serviços ou de elementos de serviços

do negócio, não importando se a empresa pertence ao que tradicionalmente se

convencionou chamar de setor de serviço ou setor de bens. O autor destaca que

há uma necessidade da construção de novos conceitos e abordagens que levem

em consideração as características dos serviços e a natureza da competição de

serviços.

BLUMBERG (1991) também justifica a necessidade de se criar uma abordagem

específica para ao ressaltar que existem diferenças claras e importantes entre a

estratégia para gerenciar serviços intangíveis como um negócio e gerenciar um

negócio de produtos tangíveis.

Cabe agora observarmos quais são essas diferenças entre bens e serviços, ou

entre os elementos tangíveis e intangíveis da oferta de uma empresa, que

justifiquem uma abordagem própria, isto é, que torne relevante a construção de

um marketing para serviços.

2.1.3 Características dos Serviços

Para KOTLER (2000), os serviços apresentam quatro características principais

que afetam a elaboração dos programas de marketing: intangibilidade,

inseparabilidade, variabilidade e perecibilidade.

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Um bem é um objeto físico, isto é, ele pode ser tocado, ouvido, visto e, às

vezes, cheirado ou provado antes de ser adquirido. Já um serviço é uma série de

atividades ou processos, sendo, portanto, intangível, o que torna difícil fazer

marketing da maneira tradicional (GRÖNROOS, 1990). Segundo HAKSERVER et

al (2000), um serviço pode até utilizar ou estar “dentro” de objetos físicos, mas ele

próprio não é físico. Isto é, embora serviços geralmente incluam elementos

tangíveis, o desempenho do serviço em si é basicamente intangível (LOVELOCK,

1991). Para BEBKO (2000), a intangibilidade é a razão mais provável para a

variabilidade, inseparabilidade e pericibilidade do serviço.

WILSON (1972) sugere que os serviços sejam divididos da seguinte maneira no

que concerne ao conceito de tangibilidade: serviços essencialmente intangíveis

(ex: museus e sistemas de comunicação), serviços que fornecem valor

adicionado a um produto tangível (ex: seguro) e serviços que tornam disponível

um bem tangível (ex: armazenagem e varejo). Para COWELL (1986), essa

subdivisão de serviços tem similaridades com a idéia de que há um continuum de

bens-serviços com bens puros em um extremo e serviços puros no outro, mas

com a maioria dos produtos caindo entre esses dois extremos.

A segunda característica dos serviços é a inseparabilidade, isto é, eles não

podem ser produzidos para depois serem consumidos. Com isso, ao contrário dos

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bens materiais, eles não podem ser fabricados, estocados, distribuídos para,

depois, serem consumidos (KOTLER, 2000).

A inseparabilidade também resulta no fato da execução do serviços

normalmente exigir que o cliente esteja presente, fazendo com que, por menor

que seja, sempre ocorra uma interação do cliente como o prestador. Isto é, o

consumidor não só recebe o serviço mas também participa da produção como um

recurso (GRÖNROOS, 1990). Assim, tanto um quanto o outro afetam o resultado

do serviço, fazendo com que a interação tenha um papel fundamental no

marketing de serviços.

Outra forma importante de inseparabilidade foi destacada por HAKSEVER et al

(2000). Como alguns serviços são produzidos para um grande grupo de

consumidores, a experiência de um consumidor não pode ser separada da

experiência do grupo como um todo.

Já a variabilidade decorre do fato da maioria dos serviços serem produzidos de

pessoas para pessoas e dependerem de onde e quando são fornecidos (KOTLER,

2000). Assim, o resultado do serviço vai depender da interação entre consumidor,

prestador, local e do momento em que o serviço está sendo executado, e da

percepção do consumidor em relação a essa interação (HAKSEVER et al ,2000).

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Por um lado, isto significa que mesmo que uma pessoa forneça um mesmo

serviço para um grupo de pessoas de maneira idêntica, diferentes níveis de

satisfação poderão ser experimentados por essas pessoas, já que cada uma pode

ter uma percepção diferente sobre o serviço recebido. Por outro lado, uma mesma

pessoa realizando um mesmo serviço pode não desempenhá-lo de maneira

idêntica a cada performance (HAKSEVER et al ,2000).

A última característica citada por KOTLER (2000) é a perecibilidade. Como

serviços são produzidos e consumidos ao mesmo tempo, eles são perecíveis, isto

é, não estocáveis. Entretanto, HAKSEVER et al (2000) ressaltam que a

pericibilidade pode ser diferente do ponto de vista do consumidor. Embora o

consumidor não possa levar com ele um serviço depois de produzido, ele pode

aproveitar seus efeitos por um tempo depois de sua compra. Como exemplo,

pode-se citar uma cirurgia cardíaca.

Além dessas quatro características apontadas por KOTLER (2000), COWELL

(1986) se refere à propriedade como uma quinta. Segundo essa particularidade,

ao contrário do ocorre com bens materiais, a compra do serviço não resulta em

sua posse, em transferência de propriedade. HAKSEVER et al (2000) consideram

que essa característica decorre de outra, a intangibilidade.

LOVELOCK (1996) ressalta que essas quatro características são muito

genéricas e que, cada vez mais, há o reconhecimento de que elas não são

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universalmente aplicáveis a todos os serviços. Com isso, mesmo destacando que

também são generalizações, o autor propõe um conjunto alternativo de sete

características que tendem a diferenciar marketing de serviços de marketing de

bens (LOVELOCK, 1991): natureza do produto (performance ao invés de um

objeto), maior envolvimento do cliente na produção, a pessoa como parte do

produto, maiores dificuldades em controlar padrões de qualidade, ausência de

estoques, maior importância do fator tempo e estrutura de canais de distribuição.

Três características apresentadas por LOVELOCK (1991) são relativamente

diferentes das apresentadas por outros autores: a maior importância do tempo, os

diferentes canais de distribuição e a dificuldade de se manter um controle de

qualidade dos serviços.

Com relação a maior importância do fator tempo, LOVELOCK (1991), destaca

que, como muitos serviços são produzidos em tempo real, os consumidores têm

que estar presentes para recebê-lo. Com isso, o tempo que o consumidor está

disposto a esperar pelo serviço ser desempenhado deve ser levado em

consideração pelo profissional que está responsável pelo marketing. Quanto aos

canais de distribuição, se os bens necessitam de canais físicos de distribuição

para movê-los da fábrica para os consumidores, os serviços são distribuídos ou

por canais eletrônicos ou pela combinação de fábrica de serviços, varejista e

ponto de consumo em uma só localidade.

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Por último, existe a dificuldade em se manter um padrão de controle de

qualidade nos serviços decorrente de suas características. No caso dos bens, eles

podem ser checados de acordo com os padrões de qualidade antes de serem

vendidos. Já os serviços, como são produzidos e consumidos simultaneamente,

não é possível realizar essa checagem, dificultando, ou tornando particular, o seu

controle de qualidade. Ainda com relação a inseparabilidade, ZEITHAML (1991)

ressalta que o fato do comprador geralmente participar da produção do serviço faz

com que ele afete a qualidade do mesmo. Com isso, a qualidade da maioria dos

serviços e sua habilidade de satisfazer o consumidor vão depender não só de

como o provedor desempenha o serviço, mas também de como o consumidor faz

sua parte. Além disso, a qualidade do serviço deve mudar no dia-a-dia, pois essa

interação ocorre entre seres humanos, cujos desempenhos são afetado por

fatores como o humor. A autora também ressalta que, devido à impossibilidade de

estocar serviços, o desempenho depende, em parte, do nível da demanda. Em um

dia de alta demanda, é possível que o provedor não gaste tanto tempo, ou

despenda tanto esforço, comparado a um dia de baixa demanda.

Somado a esses fatores que afetam a qualidade dos serviços, MARTIN (1999)

aponta ainda a dificuldade do consumidor em avaliá-la. Se por um lado, a

inseparabilidade faz com que o consumidor só consiga ter noção da qualidade

durante ou após a execução do serviço, por outro, a intangibilidade faz com que,

mesmo após o término, o consumidor tenha dificuldade de avaliar o que recebeu

por seu dinheiro.

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2.1.4 Serviços como um diferencial

Com os bens se tornando cada vez mais similares entre os concorrentes, uma

empresa que queira evitar uma guerra de preços deve encontrar outros meios de

oferecer valor adicionado aos seus clientes. Como conseqüência desse processo,

os serviços e os elementos de serviços nas relações com os consumidores estão

se transformando em uma forma cada vez mais importante dos fabricantes de

bens criarem vantagem competitiva. Adicionar um serviço, ou ativar elementos de

serviços já existentes, como a entrega e o Serviço de Atendimento ao

Consumidor, pode ser uma forma poderosa de diferenciar a oferta de uma

empresa das ofertas de seus concorrentes. Isto é, os serviços podem ser

utilizados como base de uma diferenciação efetiva entre empresas e, então, se

tornarem uma fonte de vantagem competitiva. Com isso, a economia de serviços

não seria somente relevante para as empresas do chamado setor de serviços,

pois todas as firmas estariam inseridas nela, todas estão na nova competição da

economia de serviços (GRÖNROOS, 1990).

Para GRÖNROOS (1990), vários serviços que são utilizados

administrativamente, como cobrança de contas e o canal de comunicação para o

consumidor, são, na verdade, serviços ao consumidor. Devido ao modo passivo

como são tratados pela empresa, eles acabam sendo encarados como

aborrecimento e permanecendo como serviços ocultos aos olhos do

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consumidor. Assim, esses serviços oferecem grandes oportunidades para que as

organizações os desenvolvam e os transformem em vantagem competitiva.

BERRY e PARASURAMAN (1992) sustentam que o serviço produzido é um

grande, senão o maior, fator de sucesso das empresas de bens. Uma das

principais forças que empurram essas empresas para operações que dependem

mais de serviços é o maior potencial para construir vantagem competitiva

sustentável através de serviços em comparação aos bens. Os autores destacam

que bons executivos de empresas de bens dão importância à qualidade tanto do

serviço quanto do bem, em vender tanto o tangível quanto o intangível. Esses

profissionais reconhecem que o principal benefício que seus clientes compram

não é o bem ou o serviço, mas ambos. Eles enxergam a sinergia do tangível com

o intangível como valor adicionado.

Recorrendo ao modelo de produto aumentado de LEVITT (1985) pode-se

demonstrar como um serviço pode ser utilizado como um fator de diferenciação

(Figura 2.2).

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Figura 2.2

O Conceito Total de Produto

Fonte: Baseada na figura 2 de LEVITT (1985), p. 85

Produto GenéricoProduto EsperadoProduto AumentadoProduto Potencial

• Produto Genérico – É a “coisa” substantiva, fundamental, rudimentar. É o

mínimo necessário para entrar no jogo de participação de mercado. Entretanto, ele

raramente tem viabilidade competitiva por si só. Quando as pessoas compram um

produto, eles tem como objetivo a resolução de problemas. Isto é, os produtos

devem ser encarados como meios de resolver problemas. O produto genérico não

é o produto em si, ele necessita ser diferenciado das ofertas competitivas. O

consumidor espera mais que o genérico quando paga pelo produto. Caso suas

expectativas mínimas não sejam atendidas, não haverá venda. Como o produto

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genérico não atende a elas, não será vendido e, consequentemente, ele não

existe como produto.

• Produto Esperado – É o conjunto de expectativas mínimas do cliente.

Embora elas variem com os clientes, condições, entre outras coisas, cada

consumidor tem exigências mínimas para comprar, que excedem o produto

genérico em si. Assim, como as expectativas variam, as empresas, ao tentarem

atendê-las, diferenciarão suas ofertas das ofertas de seus concorrentes.

• Produto Aumentado – Além de dar ao cliente o que ele espera, uma

empresa pode continuar a diferenciar seu produto ao oferecer ao consumidor mais

do que ele pensa que necessita ou que ele está acostumado a esperar.

• Produto Potencial – Enquanto que o Produto Aumentado significa tudo o

que foi ou está sendo feito, o Produto Potencial é tudo o que potencialmente

viável para atrair e manter o cliente.

Outro modelo que pode ser utilizado para demonstrar o papel diferenciador dos

serviços é o pacote de serviços (LOVELOCK, 1991). Segundo este modelo, o

serviço, como um produto, consiste em um pacote ou conjunto de serviços que

formam o produto total. Esse conjunto é dividido em duas categorias principais: o

core service e um agrupamento de serviços suplementares (GRÖNROOS, 1978,

GRÖNROOS, 1990 e LOVELOCK, 1991). LOVELOCK (1996) amplia esse

conceito ao dizer que “todos os produtos, tanto bens quanto serviços, consistem

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de um core element que é cercado por uma variedade de elementos

suplementares, às vezes, opcionais” (LOVELOCK, 1996, p.66).

Segundo o (LOVELOCK, 1996), o produto core service normalmente é

acompanhado de vários elementos de serviços suplementares. A maioria das

empresas, sejam elas classificadas como pertencentes à indústria de bens ou a de

serviços, oferecem um pacote que inclui várias atividades relacionadas a serviço.

Cada vez mais, esses serviços suplementares, além de adicionar valor, também

proporcionam a diferenciação que separa as firmas de sucesso das outras.

De fato, seja na indústria de serviços, seja na de bens, há uma tendência de

que, com o aumento da competição e o amadurecimento da indústria, o core

product vire uma commodity. Com isso, a vantagem competitiva vai residir no

desempenho dos elementos de serviços suplementares (LOVELOCK,1991).

Há uma variedade muito grande de serviços suplementares, mas que podem

ser agrupados em oito categorias: informação, consulta, recepção pedido,

hospitalidade, tomar conta, exceções, cobrança e pagamento, envolvendo o core

product como uma coroa de pétalas, formando, juntos “a flor do serviço”

(LOVELOCK, 1996). A Figura 2.2 mostra essa “flor”.

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Figura 2.3

Serviços Suplementares Envolvendo o Core Product

Consulta

Cobrança Recepção dePedidos

Fonte: Baseada na figura 2 de LOVELOCK (1996), p. 70

Informação

Tomar Conta

Exceções Hospitalidade

Pagamento

CORE

LOVELOCK (1991) ressalta que há algumas diferenças na importância e no

papel relativos dos vários serviços suplementares. Para o autor, cada vez mais as

empresas de serviços estão descobrindo que certos serviços, como fornecer

informações, receber pedidos e resolver problemas, se tornaram essenciais para o

sucesso. Com isso, se uma empresa não conseguir desempenhar essas tarefas,

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consideradas genéricas para maioria das indústrias de serviços, ela aparentará

incompetência. Já com relação aos outros serviços suplementares, a questão

pode ser mais de estratégia competitiva e padrões atuais da indústria.

Apesar de considerar o modelo de pacote de serviços uma maneira realista e

atraente de ilustrar, pelo menos um pouco, a natureza de qualquer serviço,

GRÖNROOS (1990) afirma que ele tem algumas fraquezas caso seja utilizado

com fins gerenciais. Uma delas é o fato de que existem serviços suplementares

que, gerencialmente, são utilizados de maneiras muito diferentes. Com isso, o

autor defende que não é o somente o pacote de serviços que deve ser planejado e

comercializado, mas sim uma oferta de serviços total e mais abrangente, um

modelo que reconheça todos os aspectos do serviço que o consumidor percebe.

Para GRÖNROOS (1990), o gerenciamento dessa oferta de serviços, baseada

em um conceito de benefício do consumidor que considera o que ele procura ou

gostaria, requer quatro passos:

1) Desenvolver o conceito de serviços, isto é, determinar quais são as

intenções da organização. Será baseada nesse conceito que a oferta da empresa

será desenvolvida.

2) Desenvolver um pacote básico de serviços. Este pacote descreve o

conjunto de serviços que são necessários para satisfazer as necessidades dos

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consumidores. Ele é constituído, então, por tudo que o consumidor recebe da

organização.

Por razões gerenciais, os serviços contidos nesse pacote básico devem ser

divididos em três grupos:

• Core service – é a razão pela qual a empresa está no mercado.

• Serviços (e bens) facilitadores – são serviços adicionais necessários

para que o consumidor possa utilizar o core service.

• Serviços (e bens) de suporte – eles não facilitam o consumo do core

service, mas aumentam o valor e/ou diferenciam o serviço dos serviços dos

concorrentes.

É importante notar que nem sempre a distinção entre serviços facilitadores e de

suporte é muito clara. Um serviço pode estar facilitando a utilização do core

service em uma situação e, em outra, estar dando suporte a ele. O autor utiliza o

exemplo de uma refeição servida em um avião. Se o percurso for grande, a

refeição pode ser encarada como um facilitador. Já em relação a um pequeno

percurso, ela pode ser vista como um serviço de suporte.

A diferenciação entre serviços facilitadores e gerenciais é importante do ponto

de vista gerencial. Como os facilitadores são obrigatórios, se eles forem deixados

de lado, o pacote de serviços não funciona, entra em colapso. Entretanto, isto não

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significa que esse tipo de serviço não possa ser utilizado como diferenciador. Na

verdade, serviços facilitadores podem e devem ser desenhados com o objetivo de

diferenciar a oferta de uma empresa da de seus concorrentes, isto é, eles devem

ter finalidade competitiva. Já os serviços de suporte são utilizados somente como

meios de competição pois, se faltarem, não comprometem o funcionamento do

core service. Entretanto, a falta desses serviços pode tornar a oferta total de

serviços menos atrativa e, talvez, menos competitiva.

Entretanto, a produção e o sistema de entrega de um serviço, principalmente a

percepção do consumidor em relação as interações entre vendedor e comprador,

são uma parte integral do produto. Assim, o pacote básico deve ser expandido,

transformando-se em uma oferta aumentada de serviço.

3) Desenvolver a oferta aumentada do serviço. Do ponto de vista gerencial, há

três características básicas que constituem o processo do serviço, isto é, as

interações entre comprador e vendedor (GRÖNROOS 1978 e 1987):

• “Acessibilidade” do serviço – essa característica depende, entre outras

coisas, do número de empregados, horário de funcionamento, máquinas e

documentos.

• Interação com a organização – a interação pode ser dividida em:

comunicação interativa entre empregados e consumidores; interações com os

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vários recursos técnicos e físicos da organização; interações com sistemas como

o sistema de espera, o sistema da cobrança e o SAC e as interações com os

outros consumidores que estão simultaneamente envolvidos no processo.

• Participação do consumidor – se refere ao impacto que o consumidor

tem no serviço que ele percebe.

4) Gerenciar a imagem e comunicação – tanto a imagem quanto a

comunicação impactam na experiência que o consumidor experimenta ao

consumir um serviço, isto é, influenciam na qualidade percebida.

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2.2 Marketing de Relacionamento

2.2.1 Críticas ao Marketing Mix

O paradigma do marketing mix tem dominado o pensamento, a prática e a

pesquisa de marketing desde seu surgimento. (GUMMESSON, 1987,

GRÖNROOS, 1990, GUMESSON, 1994a, AIJO, 1996 e GRUEN, 1997). Ele foi

introduzido por Neil Borden nos anos 50 e reflete a idéia do profissional de

marketing como um “misturador de ingredientes que planeja vários meios de

competição e os junta em um marketing mix, de maneira que a função lucro seja

otimizada” (GRÖNROOS, 1990, p. 134). Em seu conceito original, o marketing mix

consistia em 12 parâmetros mas que, por razões pedagógicas e para facilitar sua

utilização na prática, foi reduzido a 4 Ps (Promoção, Produto, Praça e Preço).

Entretanto, essa simplificação resultou, segundo alguns autores, em perda de

substância e validade (GRÖNROOS, 1990 e GUMMESSON, 1994b).

As críticas em relação ao marketing mix começam pelo fato do modelo ser uma

lista de categorias de variáveis de marketing utilizada para descrever um

fenômeno. Segundo GRÖNROOS (1994), uma lista não se encaixa em todas as

situações, não inclui todos os elementos relevantes e acaba se tornando obsoleta.

Um reconhecimento desta limitação é o lançamento, vez por outra, de propostas

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por parte dos acadêmicos de marketing para aumentar o número de Ps. KOTLER

(1986), por exemplo, propôs ao a inclusão de dois Ps, Poder Político e Formação

da Opinião Pública1, ao propor o conceito de Megamarketing. Já COWELL (1986),

ao revisar o marketing mix para serviços, adicionou três Ps: Pessoas, Processo e

Evidência Física2 .

Além de ser uma lista, GRÖNROOS (1989) destaca o problema de o modelo ter

sido elaborado utilizando dados empíricos somente sobre alguns setores de um

lugar específico (bens de consumo e duráveis na América do Norte) e em um

ambiente de marketing muito particular (grande mercado doméstico, consumo de

massa e um sistema de distribuição muito competitivo, por exemplo) Com isso, a

possibilidade de aplicá-lo em qualquer lugar, setor e situação acaba sendo

comprometida.

VAN WATERSCHHOLT e VAN DE BULTE (1992) também ressaltam algumas

deficiências do marketing mix. A primeira é o fato de que as propriedades de

classificação e a racionalidade para distinguir os 4Ps nunca foram explicadas.

Com isso, não há qualquer especificação formal e precisa das propriedades de

acordo com as quais os elementos do modelo devem ser classificados. Além

disso, os 4Ps não são mutuamente exclusivos. Por último, há o aumento do

número de sub-categorias, os Ps adicionais.

1 Do inglês Public Opinion Formation2 Do inglês Physical Evidence

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Como uma das conseqüências do marketing mix, GRÖNROOS (1994) destaca

o isolamento do marketing dentro de um departamento na empresa. Para o autor,

o modelo do marketing mix faz o marketing parecer fácil de se lidar e de organizar.

O marketing é separado das outras atividades e delegado a especialistas que

trabalham em um departamento próprio. As conseqüências dessa separação são

muito negativas para o desenvolvimento de uma orientação voltada para o

consumidor ou mercado em uma firma. O marketing fica isolado do design, da

produção, do serviço técnico, do SAC e de outras atividades da empresa. Com

isso, o resto da organização fica alienada do marketing e, no longo prazo, acaba

perdendo interesse no consumidor.

Outra característica do marketing mix é o fato dele ser direcionado para a troca.

O especialista em marketing “mistura” suas variáveis de marketing para criar

trocas. Entretanto, o foco do modelo está voltado para transações unitárias com

consumidores que formam uma massa de desconhecidos. A parcela de mercado

da empresa é mantida através de uma seqüência de transações unitárias

alcançadas pelas ações do profissional de marketing. Não se objetiva o

relacionamento com o consumidor. Com isso, a abordagem do marketing mix

também é chamada de marketing orientado para transações (GRÖNROOS, 1991).

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LINDGREEN e CRAWFRORD (1999) também ressaltam que o cerne do

marketing de transações está na atração do consumidor, não em sua retenção ,

pois não considera o lifetime value do consumidor

Para GRUEN (1997), a abordagem do marketing baseado em transações tem

levado as instituições de marketing a acreditar que o melhor para elas, do ponto

de vista econômico, é servir o consumidor médio. Com isso, o consumidor

permanece sem rosto e é tratado como um alvo, o índice mais importante é a

participação de mercado e os profissionais de marketing ficam em seus

departamentos manipulando os 4 Ps como a base do gerenciamento de

marketing. Os adeptos desse modelo recolhem informações sobre as

necessidades o consumidor típico através de pesquisa e, a partir delas,

apresentam seu mix de ofertas.

Como destaca GRÖNROOS (1996), embora os Ps tenham alguma utilidade

enquanto variáveis de marketing, a base filosófica do marketing mix e seus Ps não

se encaixam direito na competição que tem surgido na maioria dos setores das

economias do Ocidente. O marketing de massa e a orientação para a transação,

assim como a abordagem que encara o consumidor como um adversário e a

solução organizacional funcional, inerentes a abordagem do marketing mix, não

permite que a firma consiga atender as demandas de um número cada vez maior

de consumidores.

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GUMMESSON (1987) reconhece que o marketing de bens tem desenvolvido

ferramentas poderosas, mas que, ao serem aplicadas em outras áreas que não a

de bens de consumo, as teorias são parcialmente válidas ou, até, destrutivas. O

principal motivo é que elas não reconhecem as características únicas do

marketing de serviços e do marketing industrial. Além do mais, as empresas

dificilmente são claramente firmas de bens ou industriais ou de serviço. Como

destacado anteriormente, suas oferta se constituem de bens e serviços, mas em

proporções variadas.

Com isso, torna-se necessária uma nova visão de marketing que considere o

aumento da importância dos serviços; a inexistência da dicotomia bens/serviços

das ofertas das empresas; as características únicas do marketing de serviços e o

marketing industrial; o aumento da competição entre as empresas, fazendo com

que seja cada vez mais importante proteger sua base existente de clientes; o

reconhecimento crescente da importância da retenção e do relacionamento com

os consumidores para as empresas, entre outras tendências. Essa nova visão,

considerada por muitos um novo paradigma, é o marketing de

relacionamento.(GUMMESSON ,1987, GRÖNROOS, 1994, AIJO, 1996 e GRUEN,

1997)

2.2.2 Fundamentos do Marketing de Relacionamento

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O termo marketing de relacionamento captura a essência de três teorias:

marketing de serviços, marketing industrial baseado em network/interações e o

gerenciamento da qualidade total (TQM3). A primeira é representada pela Nordic

School of Services, e encara o gerenciamento e o marketing através de uma

perspectiva de serviços. Já a segunda, é representada pelo IMP Group

(International Marketing and Purchasing), que utiliza uma abordagem de

network/interação em relação ao marketing industrial. Com relação a última,

apesar de não ser uma área de marketing, têm varias implicações para esta.

(GRÖNROOS, 1996 e GUMMESSON (1991).

A interações e relacionamentos ocupam papel de destaque na abordagem de

network/interação em relação ao marketing industrial. De acordo com ela, várias

interações ocorrem entre os participantes de uma network através de trocas e

adaptações tendo um impacto em suas posições dentro da mesma. As interações

não são iniciadas necessariamente pelo vendedor, como pressupõe o paradigma

do marketing mix através da figura do profissional de marketing, e podem

continuar por um longo período de tempo. (GRÖNROOS,1994).

A teoria de marketing de serviços, ao demonstrar que o marketing, a produção,

a entrega e o consumo do serviço são parcialmente realizados através de uma

interação direta entre o provedor do serviço e o consumidor, faz com que

3 Do inglês Total Quality Management)

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relacionamentos e interações também sejam peças fundamentais para ela.

(GUMMESSON 1987 e GUMMESSON, 1991).

É importante ressaltar que, tanto nos serviços quanto nas networks industriais,

os funcionários da empresa que participam das interações ou são responsáveis

pelo seu sucesso, não pertencem, muitas vezes, ao departamento de marketing

ou de vendas. No caso da network, por exemplo, a empresa vendedora,

provavelmente irá empregar especialistas de marketing como representantes de

vendas ou analistas de marketing. Entretanto, além deles, um grande número de

pessoas em funções como pesquisa e desenvolvimento, entrega e análise de

crédito que, de acordo com o paradigma do marketing mix não são de marketing,

têm um impacto decisivo para o sucesso do marketing do vendedor na network

(GRÖNROOS, 1994). GUMMESSON (1991) chamou essas pessoas de part-time

marketers (PTMs). São funcionários que influenciam os relacionamentos com o

consumidor, sua satisfação, a qualidade por ele percebida e a receita, mas que,

ao contrário dos full-time marketers(FTMs), não pertencem nem ao departamento

de marketing nem ao de vendas, isto é, seu trabalho principal não é o marketing.

A idéia de que o marketing de uma empresa é bem maior que seu

departamento de marketing também é um denominador comum da Nordic School

of Services e do IMP Group. De acordo com eles, a função de marketing não é o

mesmo que departamento de marketing. Este é apenas uma solução do ponto de

vista organizacional, uma unidade designada somente para atividades de

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marketing e de vendas e onde trabalham os FTMs. Já a função de marketing está

espalhada por uma grande parte da organização fora do departamento e inclui

todas as atividades que têm impacto sobre o comportamento de compras atual e

futuro dos consumidores (GRÖNROOS, 1989 e GUMMESSON 1991).

Os departamentos de marketing e de vendas só conseguem desempenhar uma

porção limitada do marketing já que seus funcionários não podem estar no lugar

certo, na hora certa e com o consumidor certo. Com isso, os PTMs tornam-se

necessários. É importante que este fato seja reconhecido tanto pelo gerente

quanto pelos próprios funcionários (GUMMESSON, 1991).

Segundo GRÖNROOS (1989), na maioria das empresas, um grande número de

empregados tem alguma relação com o marketing, sendo, portanto, PTMs. Eles

podem ter contato direto com os consumidores, como uma telefonista, uma

aeromoça ou um caixa de banco, ou podem influenciar o consumidor

indiretamente. O autor ressalta que, há uma grande gama de funções que são

necessárias para permitir o desempenho de outras funções e das pessoas que

têm contato com o cliente.

A visão de que o marketing não tem uma vida isolada dentro da empresa, isto

é, que ele está interrelacionado com todas as outras funções da empresa, implica

na existência de uma dependência interfuncional na organização. Essa idéia de

interdependência de funções está relacionada a dois outros fundamentos do

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marketing de relacionamento: consumidor interno e marketing interno

(GUMMESSON, 1987).

Enquanto, tradicionalmente, o marketing tem seu foco no cliente externo, “as

três teorias” também ressaltam a importância do cliente interno. De acordo com

esse conceito, todos na empresa devem se ver com um consumidor de seus

companheiros, recebendo deles produtos, documentos, mensagens, entre outras

coisas, e se ver também como fornecedores dos outros clientes internos. Isto é, os

relacionamentos consumidor-fornecedor são levados para dentro da firma e

estabelecem uma ligação entre os funcionários, todos se tornam PTMs

(GUMMESSON, 1987 e GUMMESSON, 1991).

Para que os PTMs estejam compromissados, preparados, informados e

motivados para realizar suas tarefas de marketing, é necessário que a empresa

promova o marketing interno (GRÖNROOS, 1990 e GRÖNROOS, 1994).

Segundo GUMMESSON (1991, p. 71), “o marketing interno é um amplo

conjunto de idéias de treinamento, educação, informação e comunicação.” Em

empresas de serviços, onde a interface com o consumidor é mais ampla e intensa,

é essencial que as pessoas que tenham contato com ele estejam bem informadas

das missões, objetivos, estratégias e sistemas das companhias. Caso contrário,

elas não poderão representar bem sua empresa e aproveitar todas as

oportunidades que tenham de influenciar as compras presentes e futuras dos

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consumidores que ocorrem durante as interações com eles (GUMMESSON,

1991).

GRÖNROOS (1994) ressalta que o marketing interno deve estar integrado com

a função total de marketing da empresa. O marketing externo, seja sua parte

tradicional, seja a desempenhada através das interações, começa dentro da

organização. Com isso, se o marketing interno for negligenciado, o marketing

externo pode sofrer ou, até, fracassar.

Outro fundamento do marketing de relacionamento proveniente das “três

teorias” é o conceito qualidade. No começo dos anos 80, a qualidade se tornou um

assunto de grande interesse entre as companhias da Europa e da América do

Norte. Através de estudos nessas áreas, a qualidade, que antes era considerada

uma questão tecnológica, passou a ser encarada como questão estratégica, com

implicações tanto corporativas quanto de marketing. A qualidade total passou a

ser vista como a qualidade percebida pelo consumidor, incorporando a capacidade

interna de gerenciar qualidade e considerando as necessidades e a satisfação dos

consumidores. Isto é, o consumidor é que decide o que é qualidade. Através

desse conceito, a qualidade se tornou um integrador entre orientação para a

produção e orientação para marketing ( GUMESSON, 1991 e GRÖNROOS,

1994).

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Com relação às definições de marketing de relacionamento, GRÖNROOS

(1996) sustenta que não existe um consenso na literatura. Embora a maioria tenha

vários denominadores comuns, há diferença de escopo. Uma definição

abrangente é sugerida pelo autor:

“Marketing é estabelecer, manter, e ampliar relacionamentos [usualmente, de

longo prazo, mas nem sempre] com consumidores e outros parceiros, visando o

lucro, o que faz com que os objetivos das partes envolvidas sejam alcançados.

Isto é alcançado através de troca e cumprimento de promessas mútuos.”

(GRÖNROOS 1990, p.138)

2.2.3 Vantagens do Marketing de Relacionamento

Quando um consumidor deixa de realizar negócios com uma empresa, seus

lucros futuros sofrem um impacto muito grande. Os fluxos de caixa esperados ao

longo do relacionamento com um consumidor têm maior relação com o lucro da

companhia que escala, participação de mercado e vários outros fatores

normalmente associados a vantagem competitiva (REICHHELD e SASSER,

1990).

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50

Os autores utilizam o exemplo de uma empresa de cartão de crédito para

mostrar que, a cada ano que passa no relacionamento, o consumidor proporciona

lucros crescentes para a empresa.

Antes que o consumidor comece a gerar alguma receita, a empresa terá

incorridos em gastos pontuais como propaganda, promoção, abertura de conta,

“educar” o consumidor, entre outros. Isto é, antes de realizar sua primeira compra,

ele terá sido uma fonte só de despesas para a empresa. No primeiro ano, o

consumidor utiliza seu cartão de forma lenta e gera um lucro básico. Na medida

em que ele vai se acostumando a utilizar o cartão e ficando satisfeito com o

serviço prestado, mais compras serão feitas e o balanço aumenta. À medida que o

tempo passa, a tendência é que suas compras no cartão aumentem cada vez

mais.

Além do aumento da utilização dos serviços da empresa, REICHHELD e

SASSER (1990) ressaltam mais duas vantagens no estabelecimento de

relacionamento com o consumidor. A primeira é a possibilidade da cobrança de

um preço prêmio pelo produto. O argumento utilizado é que os consumidores

estariam dispostos a pagar um maior preço por um serviço/produto que já

conhecessem e confiassem. A outra vantagem é a propaganda grátis que os

clientes leais fazem ao falarem bem da empresa, isto é, referências positivas, para

outras pessoas ao longo do relacionamento.

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A Figura 2.4 mostra o modelo de lucratividade ao longo do tempo desenvolvido

pelos autores através de pesquisas com mais de 100 companhias em duas dúzias

de indústrias.

Figura 2.4

Lucratividade Proporcionada Pelos Consumidores ao Longo do Tempo

Fonte: Baseada na figura "Why Customers Are More Profitable over Time"de REICHHELD e SASSER (1990), p.108

0 1 2 3 4 5 6 7

Ano

Lucr

o da

em

pres

a

Lucro do preço prêmioLucro de referências

Lucro da diminuição dos custos operacionais

Lucro do aumento das compras e balanços maiores

Lucro básico

Custo da aquisição do cunsumidor

GRÖNROOS (1994) destaca outras vantagens do relacionamento. Segundo o

autor, empresa e cliente aprendem a interagir melhor um com o outro, implicando

em custos de relacionamentos decrescentes para ambos. Além disso, um

relacionamento mutuamente satisfatório torna possível os consumidores evitarem

significativos custos de transação decorrentes de uma troca de fornecedores. Já

em relação às empresas, eles deixam de incorrer em custos de qualidade.

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O conceito market economies, introduzido por HESKETT (1987), também

mostra a importância do relacionamento. Segundo o autor, pode ser mais

vantajoso para uma empresa adotar uma escala pequena e investir no

conhecimento de seus clientes do que tentar focar em economias de escala.

Market economies significa, portanto, que vantagem competitiva e lucro podem ser

alcançados através de uma orientação para o mercado, enfocando o conceito de

qualidade percebida pelo cliente ao tentar conhecê-lo melhor.

Já CRAIG (1990) ressalta que, caso a organização consiga estabelecer um

conjunto forte, completo e consistente de elos com seus consumidores, ela pode

explorá-lo em benefício de ambos a longo prazo. O relacionamento com o

consumidor pode fornecer pistas de suas necessidades, fazendo com que a

empresa tenha mais chances de satisfazê-las

As principais vantagens do marketing de relacionamento foram resumidas por

DAY et al. (1998) em três categorias (Tabela 2.2).

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Tabela 2.2

As Vantagens de uma Estratégia de Marketing de Relacionamento

(1) Relacionamento mais próximo com o consumidor* A companhia desenvolve fortes laços com seus consumidores ao longo do tempo. Esses laços

podem ser tecnológicos, relacionados com o conhecimento, relacionados a informaçãoou de natureza social. Esse conhecimento proporciona uma grande vantagem competitiva.

* Quanto mais os consumidores educarem a empresa sobre seus gostos individuais, mais eles ficarão de relutantes de repetir o processo com outro fornecedor.

(2) Melhora na satisfação do consumidor* A empresa pode monitorar a satisfação do consumidor na medida em que ela adquire um

conhecimento direto de quão satisfeitos estão seus consumidores com a oferta.* O diálogo com cada consumidor permite a empresa descobrir produtos/serviços adicionais,

ou modelar os existentes, para o consumidor.* A empresa estará apta a antecipar e atender as necessidades de seus consumidores.

(3) Benefícios financeiros* Os relacionamentos de longo prazo, onde ambas as partes aprendem ao longo do tempo

como interagir uma com a outra, levam a custos decrescentes de relacionamento.* O consumidor pagará um preço prêmio pelo produto/serviço.* Consumidores leais são mais lucrativos.* Consumidores farão referências a clientes potenciais .* Conseguir um consumidor novo é custa mais que reter um existente.* Perder um consumidor não só significa perder a receita da última venda, mas também

o fluxo de caixa esperado que seria gerado ao longo do relacionamento.* Aumentar a retenção de consumidores também aumenta a retenção dos empregados

Fonte: Baseada na tabela 2 de DAY et al. (1998), p.830

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2.3 O Serviço de Atendimento ao Consumidor

O surgimento do SAC dentro das empresas está relacionado ao movimento

internacional dos consumidores (Zulske, 1991). Segundo a autora, esse

movimento teve início nos EUA com a criação das Ligas de Consumidores

estaduais no final do século XIX e vem evoluindo até os dias de hoje, com um

aumento de seu alcance geográfico e um aumento cada vez maior dos

consumidores por seus direitos.

No final da década de 1970, a iniciativa privada nos Estados Unidos,

percebendo a pressão crescente do movimento dos consumidores, respaldado

cada vez mais pelo Estado, tentou uma saída para o conflito, criando setores

específicos para atender os consumidores.

No Brasil, os SACs ainda representam uma inovação que, principalmente a

partir do início da década de 1990 e da implantação do Código de Defesa do

Consumidor, foi ganhando cada vez mais adeptos entre as empresas (CHAUVEL,

2000).

2.3.1 As Vantagens do Serviço de Atendimento ao Consumidor

O Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) é um canal de comunicação

aberto pela empresa através do qual os consumidores podem expressar suas

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reclamações, dúvidas, pedidos, sugestões e elogios (MITCHELL, 1993).

Considerado um dos principais instrumentos de marketing de relacionamento, ele

pode ajudar as empresas a alcançar as vantagens inerentes a essa estratégia de

marketing ( ARAÚJO, 1999). Entretanto, o SAC traz em si alguns benefícios que

merecem ser analisados.

HANSEN et al. (1996) consideram que, ao reclamar de algum problema com

sua compra, o consumidor está dando à empresa uma oportunidade de corrigi-lo

e, consequentemente, preservar sua reputação e sua base de clientes. Além

disso, os autores ressaltam que a reclamação fornece informações valiosas para

que a empresa melhore a qualidade de seus produtos e serviços, fortalecendo sua

posição competitiva. Essa visão é compartilhada por HART et al (1990), que

definem o tratamento das reclamações como as estratégias que as empresas

utilizam para resolver e aprender através das falhas do serviço com o objetivo de

(re)estabelecer a credibilidade da organização aos olhos do consumidor.

SODERLUND (1998) também ressalta a importância do feedback do

consumidor ao considerar que as reclamações ajudam a empresa a identificar

áreas onde podem ser realizadas melhorias e os elogios sugerem quais as áreas

onde o desempenho atual talvez não necessite de melhoria imediata.

Segundo JONES e SASSER (1995), a habilidade de escutar o consumidor está

no cerne de qualquer estratégia para gerenciar satisfação. Para adequar suas

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ofertas as necessidades dos consumidores, a empresa precisa conhecê-lo o

melhor possível. Segundo os autores, são cinco as principais maneiras que as

empresas dispõe para escutar seus consumidores. A maioria das empresas de

sucesso utilizam várias, se não todas, as alternativa. Muitas das empresas de

desempenho fraco ou mediano ou utilizam poucas ou, no caso de utilizarem

muitas, realizam um trabalho pobre ao incorporar os resultados em suas

estratégias. As alternativas são: Índices de Satisfação dos Consumidores;

Feedback (comentários, dúvidas e reclamações dos consumidores se encaixam

nessa categoria); Pesquisa de Mercado; Pessoal de Linha de Frente (empregados

que têm contato direto com o consumidor são uma ótima maneira de escutá-lo) e

Atividades Estratégicas (algumas companhias, por exemplo, vão ao extremo de

envolver o consumidor em todos os níveis de seu negócio).

Já STAUSS (1992) ressalta que, além das informações provenientes das

reclamações serem importantes para a identificação das fraquezas da empresa e

de oportunidades de mercado, elas são adquiridas a baixo custo, pois são

fornecidas por iniciativa e as custas do consumidor. Entretanto, o autor ressalta

que essas informações não devem ser encaradas como completas, pois não é

uma ampla compilação de problemas. Essas informações não são totalmente

representativas no que diz respeito tanto aos reclamantes quanto aos problemas

articulados Além disso, somente uma parte dos consumidores insatisfeitos

reclamam.

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Outra vantagem do SAC se relaciona as percepções dos consumidores e dos

gerentes da empresa sobre o produto/serviço. De acordo com PARASURAMAN,

ZEITHAML e BERRY (1985) há diferenças (gaps) entre essas percepções, isto é,

entre o que os gerentes acham que o consumidor valoriza e o que ele realmente

valoriza. E essas diferenças criam um potencial de erro nos esforços que as firmas

fazem para fornecer valor ao seu cliente. Com isso, as empresas devem tentar

diminuir esses gaps adotando processos que as ajudem a aprender mais sobre

seus consumidores (WOODRUFF, 1997).

Para MITCHELL (1993), as reclamações funcionam como um controle de

qualidade dos produtos fabricados. Isto é, elas podem ajudar a reduzir as taxas de

defeitos e fornecer um alerta precoce de problemas potenciais. Assim que a

reclamação for feita, a fábrica pode acessar as informações sobre ela e descobrir

rapidamente qual o código, o lote e o número da planta, do produto defeituoso,

melhorando a eficácia da produção. Além disso, as informações obtidas pelo SAC

mostram a qualidade do ponto de vista do consumidor.

BERRY e PARASURAMAN (1997) também estabelecem um elo entre

qualidade e SAC ao afirmarem que as empresas que quiserem melhorar seus

serviços necessitam escutar continuamente três tipos de consumidores:

consumidores externos que experimentaram o serviço da firma, consumidores de

seus concorrentes e consumidores internos (os empregados). Para realizar essa

tarefa, a empresa deve construir o que os autores chamam de sistema de

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informação qualidade – serviço, isto é, um sistema que utiliza abordagens

múltiplas de pesquisa para obter, organizar e disseminar sistematicamente

informações sobre a qualidade do serviço para dar suporte a tomada de decisão.

Segundo BERRY e PARASURAMAN (1997), para elaborar seu sistema de

informação qualidade – serviço, uma empresa pode escolher entre vários tipos

possíveis de pesquisa. A natureza do serviço, a estratégia da firma e as

necessidades das pessoas que vão utilizar a informação é que vão determinar

quais pesquisas utilizar. Entretanto, algumas abordagens normalmente farão parte

de qualquer sistema e o SAC é uma delas. Isto é, as dúvidas, comentários,

sugestões e reclamações obtidas pelo SAC devem ser utilizados como subsídios

para a tomada de decisão de uma empresa. Através dessas informações, pode-se

identificar os tipos mais freqüentes de problemas com o produto e oportunidades

para melhorá-lo, além do próprio SAC ser uma forma de fortalecer o

relacionamento com os consumidores.

O SAC também permite que a empresa se antecipe na resolução de problemas,

evitando gastos, tanto financeiros quanto de imagem, de processos judiciais. Ao

se dirigir ao SAC, o consumidor oferece uma oportunidade para a empresa

resolver sua reclamação antes de tomar alguma providência legal (MITCHELL,

1993 e ZÜLSKE, 1991).

O fortalecimento da lealdade a marca é outro benefício que pode ser

conseguido através do SAC. Segundo um estudo realizado pelo U.S. Office of

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Consumer Affairs em 1979, os consumidores que reclamam e que têm suas

reclamações resolvidas, mostram uma lealdade a marca mais forte que os

consumidores que não reclamam. Com isso, o SAC pode ajudar a transformar um

consumidor insatisfeito em um consumidor satisfeito e leal à marca (FORNELL e

WERNERFELT, 1987).

MITCHELL (1993) ressalta outras vantagens do SAC: facilidade de reclamação;

evitar boca-a-boca negativo; marketing interno e evidência tangível da orientação

para o mercado para a firma. Como somente uma parte dos consumidores

insatisfeitos reclamam, o SAC, ao facilitar a comunicação consumidor-empresa,

tende a aumentar essa parcela e, portanto, aumentar as chances desses

consumidores continuarem a comprar da empresa. No mesmo movimento, ao

reduzir o número de consumidores insatisfeito, o SAC também reduz o boca-a-

boca negativo. Além disso, a empresa pode realizar vendas cruzadas para os

consumidores satisfeitos, isto é, se o consumidor reclama de um produto e fica

satisfeito com a solução, ele se torna consumidor potencial de outros produtos da

empresa.

Com relação ao marketing interno, MITCHELL (1993) diz que o SAC permite

que informações sobre o consumidor alcancem departamentos que têm pouco ou

nenhum contato com ele, ajudando na tarefa estratégica de tornar toda a empresa

mais reativa as necessidades do consumidor. Além disso, ao representar o

compromisso da companhia em tratar bem seu consumidor, o SAC pode despertar

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um sentimento de orgulho dos empregados em relação a ela e podem aumentar

as chances dos empregados se identificarem com uma empresa que se preocupa

com seus consumidores. Como última vantagem citada pelo autor, a introdução do

SAC é uma evidência tangível de que a empresa está ficando orientada para o

mercado ao representar os interesses dos consumidores em seu processo de

tomada de decisão.

DONALDSON (1995) destaca a importância do SAC na alocação de recursos

de uma firma. Segundo o autor, o serviço ao consumidor deve refletir as

necessidades do consumidor. Assim, os recursos não estarão alocados de

maneira ótima se a empresa estiver fornecendo serviços acima ou baixo das

expectativas de seus consumidores. Embora técnicas formais de pesquisas de

mercado possam fornecer grandes insights sobre as necessidades dos

consumidores, pesquisas informais e uma variedade de fontes de feedback de

consumidores também devem ser utilizadas.

LIU et al (2000) ressaltam que as respostas do pós-venda, isto é, das respostas

da empresa às reclamações/comentários após a prestação do serviço, influenciam

nas expectativas, percepções sobre a qualidade do serviço e intenções

comportamentais dos consumidores. Segundo os autores, os consumidores

utilizam informações percebidas durante os encontros de serviços para atualizar

suas expectativas, e estas são drivers para os consumidores avaliarem. Além

disso, o processo de atualização de expectativa tem impacto significativo nas

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intenções comportamentais dos consumidores em relação ao encontro de serviço

presente, encontro de serviço futuro (o que pode levá-lo ou não a comprar

novamente com determinada empresa) e comunicações boca-a-boca. Assim, as

respostas do pós-venda levam os consumidores atualizarem suas expectativas, o

que os leva a atualizar suas percepções sobre a qualidade total do serviço e suas

intenções comportamentais. Com isso, uma prestação excelente de serviço

seguido de um tratamento inadequado de reclamação podem levar o consumidor

avaliar negativamente o serviço como um todo, influenciando suas ações futuras.

ADAMSON (1993) utiliza resultados de um estudo realizado pela TARP concluir

que, apesar do tratamento das reclamações ser importante, o foco deve estar na

qualidade inicial. Segundo o estudo, 80% da satisfação de um consumidor

depende do design, da fabricação e da entrega do produto, enquanto que somente

20% dependem da resolução de problemas após sua ocorrência. Assim, confiar

somente em reconquistar o consumidor através de um excelente tratamento de

sua reclamação é uma estratégia muito arriscada. Consequentemente, o autor

enxerga dois grande benefícios no gerenciamento efetivo das reclamações: a

análise das reclamações e problemas aumentam a probabilidade de “fazer direito

na primeira vez” e, se a resolução do problema for satisfatória para o consumidor,

sua lealdade aumentará. Entretanto, o autor ressalta que a maioria das empresas

aloca mal seus recursos destinados a reclamações, gastando 95% deles no

tratamento de reclamações individuais e menos de 5% em sua análise. A figura

2.5 mostra o papel do gerenciamento das reclamações.

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Figura 2.5

Fazer o trabalho + = Satisfacão/Lealdademáxima do consumidor

Eles irão:* Recomprar seus produtos/

consumidores individuais serviços* Recomendar seus produtos

produto/serviço a outrosFontes de insatisfação * Comprar outros produtos

de sua organização

Análise das causas

Fonte: Baseada na figura 1 de ADAMSON (1993), p. 440

Fórmula para maximizar a satisfação do consumidor e sua lealdade a marca

informações da análiseUtilização das

na prevenção

melhorada do

Gerenciamentoefetivo do contatocom o consumidor

Respostas aos

direito naprimeira vez

Qualidade

Com relação sobre os benefícios de um SAC para diferentes empresas,

DOLINSKY (1994) ressalta que, embora o SAC tenha valor para todo tipo de

firma, ele tende a ter mais importância para aquelas que fornecem basicamente

serviços, devido a sua alta variabilidade em comparação aos bens mais tangíveis.

É provável que essa variação dê origem a uma quantidade maior de problemas

percebidos e, portanto, a um número maior de reclamações.

Já FORNELL e WERNERFELT (1987) ressaltam que o tratamento das

reclamações é crucial para empresas que atuam em ambientes altamente

competitivos, pois, nessas situações, é muito difícil atrair novos consumidores, e

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os custos de realizar essa tarefa tendem a ser bem maiores que os de reter os

consumidores atuais.

Quanto mais competitivo o ambiente, mais madura a industria e mais baixo o

crescimento do mercado, maior a importância de uma estratégia defensiva de

marketing em relação a uma ofensiva (embora ambas sejam importantes).

Enquanto esta se preocupa em estimular a troca de marca (isto é, do seu

concorrente para sua empresa), uma estratégia defensiva se preocupa em

diminuir a taxa de turnover dos consumidores de sua empresa ao proteger

produtos e mercados das investidas de concorrentes. E uma das principais

ferramentas para maximizar a retenção dos consumidores é tratar de suas

reclamações, visando aumentar sua satisfação com a empresa (FORNELL e

WERNERFELT 1987).

Os autores criaram um modelo cujo ponto de partida é a proposição de que, em

mercados estagnados (ou de crescimento baixo), os consumidores insatisfeitos de

uma empresa podem representar a única (ou principal) oportunidade de

crescimento de seus concorrentes. Assim, há sempre uma probabilidade que (1)

um comprador fique insatisfeito e (2) que ele considere comprar de outra empresa,

que vai utilizar uma estratégia ofensiva para atrair esses consumidores

insatisfeitos. O primeiro passo que uma empresa deve realizar para evitar que o

consumidor troque de marca é identificar aqueles compradores que estão

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insatisfeitos. Depois, ela precisa fazer com que esses compradores permaneçam

leais. O modelo mostra que:

(1) maximizar o número de reclamações de consumidores é de interesse da

empresa. Isto ocorre porque há um custo de oportunidade associado a uma

“insatisfação não comunicada,” pois, em um ambiente em que há escolhas,

o consumidor insatisfeito que não reclama tem maior probabilidade de

trocar de marca. Enquanto essa troca implica em receita perdida, a

reclamação implica em custo (de atração e resolução). Caso a receita

perdida seja maior que o custo, as reclamações devem ser encorajadas se

uma parcela suficientemente grande de reclamantes pode ser persuadida a

permanecer consumidores. Uma importante questão é qual a quantidade de

deserções que podem ser evitadas através do tratamento das reclamações.

Segundo os autores, essa é uma questão empírica e os dados disponíveis

indicam que a lealdade do consumidor pode ser aumentada através do

encorajamento e tratamento de sua reclamação;

(2) recompensar consumidores insatisfeitos com quantias que excedam a

margem de contribuição do produto/serviço é, normalmente, recomendável.

A quantia de compensação depende do valor de reter o consumidor e da

probabilidade do reclamante ficar satisfeito com o que foi dado a ele e

continue um comprando da empresa. Assim, principalmente para produtos

de compra freqüente, o valor do consumidor é muito maior que o custo do

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produto objeto da reclamação. Nesses casos, não só o marketing

defensivo é crucial, mas talvez seja lucrativo oferecer uma quantia que

corresponda a várias vezes a margem de lucro do produto. Os autores

ressaltam a importância de uma perspectiva de longo prazo no cálculo da

compensação ;

(3) ao atrair e resolver reclamações, a empresa pode se defender da

propaganda/promoção de seus concorrentes e diminuir o custo de seu

marketing ofensivo sem perder participação de mercado.

BLODGETT et al (1995) também ressaltam a importância da empresa encorajar

as reclamações dos consumidores. Segundo os autores, as empresas precisam

entender que alguns consumidores insatisfeitos não darão uma chance da

empresa remediar o problema. Esse comportamento ocorre porque eles não

acreditam que a empresa estará pré-disposta a resolver seus problemas ou

porque são relutantes em reclamar de maneira geral. Ao invés de reclamarem,

esses consumidores não comprarão mais da empresa e iniciarão um boca-a-boca

negativo , ocasionando perda de vendas e de lucros. Considerando que o custo de

atrair um novo consumidor é bem mais alto que reter um atual, a empresa deve

encorajar seus consumidores insatisfeitos a reclamarem.

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Segundo FORNELL e WERNERFELT (1984), apesar da importância das

reclamações para os consumidores, há barreiras comportamentais dentro das

empresas que impedem que o potencial do SAC seja aproveitado ao máximo pela

empresa e que a insatisfação do consumidor seja efetivamente reduzida.

Apesar do desenho do SAC variar de uma empresa para a outra, sua função

central é o processamento das informações não solicitadas dos consumidores,

sendo que as mais importantes são as reclamações. O gerenciamento das

reclamações envolve duas tarefas básicas: (1) tratamento individual da

reclamação e (2) análise agregada das reclamações. A importância da primeira

reside no valor do reclamante a longo prazo( isto é, no valor de suas compras

futuras, que é, normalmente, maior que o valor da compra objeto da reclamação) e

no impacto do boca-a-boca sobre os outros consumidores. Já importância da

análise agregada está na identificação e resolução dos problemas “comuns” aos

consumidores, evitando que eles ocorram novamente no futuro. Essa resolução

normalmente envolve uma mudança no marketing mix da empresa, o que não

pode ser feito pelo SAC isoladamente, isto é, exige a participação do “gerente de

marketing” Assim, o SAC necessita comunicar suas descobertas sobre as

insatisfações dos consumidores ao “gerente”. Entretanto, há uma tendência de

que essa comunicação seja suprimida devido a barreiras comportamentais

existentes na organização da empresa. Isto é, o SAC pode encontrar dificuldades

em transmitir as informações das reclamações dos consumidores para os outros

departamentos devido ao problemas relacionados à transmissão de informações

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negativas ( as outras áreas da empresa normalmente não gostam de recebê-las,

consideram-nas informações externas desagradáveis) (FORNELL e

WERNERFELT, 1984).

Entretanto, se as outras áreas não ficarem cientes das reclamações dos

consumidores, elas não poderão realizar modificações para satisfazê-los, o que

contribui para o aumento do número de reclamações. Essas duas relações foram

chamadas por FORNELL e WERNERFELT (1984) de Círculo Vicioso das

Reclamações dos Consumidores, pois:

(1) Quanto mais cresce o volume de reclamações (em proporção aos outros

tipos de comunicação que uma empresa recebe), mais o SAC fica isolado

da tomada de decisões;

(2) Quanto mais o SAC fica isolado da tomada de decisões, maior o volume

relativo de reclamações.

Com isso, os autores sugerem que, se a empresa desejar se beneficiar das

reclamações de seus consumidores, esse círculo vicioso deverá ser rompido. O

SAC deve se tornar completamente integrado ao gerenciamento das atividades de

marketing da firma, tanto das correntes quanto das futuras.

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2.4 Aspectos Organizacionais do Serviço de Atendimento ao Consumidor

– O Trabalho de Lancioni.

LANCIONI (1995) realizou um estudo com mais de 110 empresas de 12

indústrias nos Estados Unidos com objetivo observar algumas questões

organizacionais do Serviço ao Consumidor. De acordo com essa pesquisa, 85%

das empresas analisadas apresentaram um Departamento de Serviço ao

Consumidor (DSC). As estruturas desses departamentos tinham natureza informal

ou formal. No primeiro caso, não há uma estrutura dizendo a quem eles devem se

reportar e qualquer problema comunicado pelo consumidor ganha atenção

imediata do departamento que pode lidar com ele. A estrutura informal foi

encontrada na maioria das empresas com menos de 150 empregados. O que

caracterizava essas firma era a facilidade de comunicação dentro delas, havendo

muito pouca dificuldade de encontrar a pessoa ou o departamento que pudesse

resolver o problema do consumidor. Já as companhias com uma estrutura formal

eram menos reativas ao lidar com questões do serviço ao consumidor.

As funções desempenhadas pelo Departamento de Serviço ao Consumidor

também foram analisadas. De acordo o estudo, esses departamentos eram

responsáveis por uma variada gama de funções gerenciais, indo desde lidar com

as reclamações do consumidor até dar suporte às vendas. A amplitude dessa

gama tem relação com a maneira que as empresas definem Serviço ao

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Consumidor e como o conceito é implantado em suas organizações. Assim,

algumas companhias encaram o Serviço ao Consumidor de maneira estreita e o

utilizam somente para lidar com as reclamações do consumidor, enquanto outras

tem uma visão mais ampla, encarando-o, por exemplo, como suporte de vendas.

Neste caso, o DSC vai ser responsável desde retorno de mercadorias até fornecer

material promocional para a força de vendas. O resultado da pesquisa mostra que

a função mais freqüente do DSCs é lidar com a reclamação dos consumidores

(85%). Esta é seguida de suporte às vendas (69%); receber pedidos (59%);

serviço de campo (33%); cobrança (26%); crédito (19%) e garantias de venda

(11%).

Outra questão contemplada pelo estudo se refere a quem o Departamento de

Serviço ao Consumidor se reporta. “Como o Serviço ao Consumidor é uma área

gerencial híbrida, as empresas geralmente não estão seguras onde colocá-lo.”

(LANCIONI, 1995, p.22). Segundo o autor, o Departamento pode se reportar

diretamente à alta gerência ou indiretamente (ou sub–reportar), isto é, ele se

reporta a um departamento que se reporta à alta gerência (ver Figura 2.6).

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Figura 2.6Estruturas de Reportagem para DSCs

Estrutura de Sub-Reportagem

Presidência

Finanças Marketing Produção

DSC

Estrutura de Reportagem Direta

Presidência

Finanças Marketing DSC

Fonte: Baseada na figura 2 de LANCIONI (1995), p. 22

As vantagens de se reportar diretamente são significativas, segundo LANCIONI

(1995). Primeiro, a estrutura direta permite um fluxo livre de comunicação do

Serviço ao Consumidor para os principais tomadores de decisão da empresa.

Além disso, o DSC pode normalmente obter os recursos que necessita para

desenvolver a estratégia de serviço ao consumidor da firma sem a resistência de

outros grupos gerenciais. Como última vantagem, o DSC tem a autoridade de

resolver rapidamente os problemas dos consumidores já que pode ser mover

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verticalmente, horizontalmente e diagonalmente através da estrutura gerencial da

firma, isto é, a rapidez de resposta é grande.

Já com relação a estrutura de reportagem indireta, o autor ressalta que ela

funciona bem mas tem algumas limitações. A primeira é o fato da função de

Serviço ao Consumidor estar sempre à mercê de grupos de gerentes de nível

médio que normalmente encaram o DSC como um estorvo ao invés de um ativo.

Com isso, o DSC geralmente enfrenta dificuldades para conseguir informações de

outros departamentos, como o status do pedido ou da reclamação. Além disso, o

DSC está freqüentemente à mercê do departamento ao qual se reporta, pois

geralmente tem dificuldades de conseguir recursos que necessita para lidar com

as questões do consumidor que motivaram sua criação.

Segundo o estudo, o DSC se reporta ao departamento de vendas na maioria

dos casos (29%). Para LANCIONI (1995), esta é uma das melhores situações

dentre as estruturas de sub-reportagem, pois ele é que gera a demanda (para a

firma) a qual o DSC deve tratar. Entretanto, é importante lembrar que deve ser

preservado um balanço entre o nível de vendas e as condições que o DSC

necessita para dar suporte a elas. O departamento de marketing vem em segundo

lugar na freqüência de reportagem. Essa é a melhor relação em uma estrutura de

sub-reportagem, pois o marketing tende a ter uma visão de longo prazo do

mercado. Nesses casos, o DSC é utilizado como uma maneira de construir um

relacionamento com os consumidores. Em terceiro lugar, está o departamento de

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produção. Neste caso, o controle de qualidade costuma ser uma das

responsabilidades do DSC. Somente em 5% dos casos o DSC se reporta

diretamente a presidência.

Por ultimo, a pesquisa analisou o nível de reatividade dos departamentos às

necessidades do DSC. Em uma escala de 1 a 5, o departamento de marketing foi

mais reativo (4.5) e o de informática, o menos (2.95) Segundo o autor, a alta nota

do marketing resulta do deste departamento encarar o Serviço ao Consumidor

como um instrumento para construir um relacionamento de longo prazo com o

consumidor. Já o departamento de informática costuma ter um foco muito

operacional, tendendo, portanto, a não ser cooperativo com os outros

departamentos. Os outros resultados foram: departamento de vendas (3.69) e alta

gerência (3.63). Com relação a este, o autor ressalta que a resposta da alta

gerência depende se o DSC se reporta diretamente a ela ou sub-reporta. No

primeiro caso, o nível de rapidez as necessidades do DSC tende a ser alto,

enquanto que no segundo, não.

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2.5 O Tratamento e a Análise das Reclamações dos Consumidores

2.5.1 O Tratamento das Reclamações Individuais do Consumidores

Para que uma empresa obtenha sucesso na resolução das reclamações de

seus consumidores, é necessário que a alta gerência forneça suporte para esse

processo. O comprometimento da alta gerência é um pré-requisito essencial para

qualquer atividade desempenhada pela empresa, seja um bom tratamento da

reclamação, ou não. Além disso, políticas realistas devem ser estabelecidas,

escritas e comunicada para todos que estejam envolvidos no processo de

resolução de reclamações e, principalmente, para o consumidor. Isto é, o

consumidor deve ser informado de como deve proceder para efetuar uma

reclamação e isso pode ser feito, por exemplo nos rótulos dos produtos ou nas

contas dos serviços prestados (MITCHELL, 1993).

MITCHELL (1993) destaca outros aspectos que devem ser considerados para

que uma empresa possa tratar efetivamente das reclamações. Segundo o autor,

as políticas de reclamação devem ser amplas e consistentes com os regulamentos

e com as atitudes e políticas existentes na organização. A continuidade, a

existência e a redução de ambigüidade são vantagens que podem ser alcançadas

com políticas pré-estabelecidas e comunicadas. Entretanto, existem exceções a

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essas regras. Caso a organização se torne muito burocrática ou fique rigidamente

apegada a suas políticas, a função de tratamento das reclamações pode ser

prejudicada. A companhia deve utilizar seu discernimento toda vez que for analisar

uma reclamação. Além disso, a própria análise das reclamações serve para

melhorar essas políticas.

O autor também ressalta que, embora seja importante para uma empresa ter

uma boa política de respostas ( o que muitas vezes envolve a troca de um produto

ou a devolução do dinheiro), isto acaba aumentando o risco da firma ser abordada

por fraudadores. No longo prazo, a empresa deve tomar providências para que

esse problema não aumente ou permaneça no o menor possível. Entretanto,

apesar dessa preocupação, a companhia deve ter muito cuidado do que diz

respeito a acusar consumidores de realizarem reclamações falsas. MITCHELL

(1993) sugere que a empresa adote a premissa de que a maioria dos

consumidores é sincera ao analisarem a veracidade da reclamação, mas continue

tentando minimizar o problema de reclamações falsas.

Para GOODWIN e ROSS (1990), a empresa deve desenvolver estratégias e

políticas de respostas que não levem em conta a motivação do consumidor e, em

alguns casos, que também sejam indiferentes à legitimidade da reclamação. Uma

vez que o consumidor faz uma reclamação, a transação original pode se tornar

menos relevante para a satisfação final do consumidor que os eventos que

ocorrem após a reclamação. Com isso, assim que a firma recebe uma

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reclamação, ela deve tentar imaginar o que ela pode fazer para deixar o

consumidor com uma boa impressão, isto é, satisfeito. Para realizar essa tarefa, a

empresa deve entender como o consumidor avalia os processos que ocorrem

assim que ele entra em contato com ela para realizar a reclamação.

O tratamento de uma reclamação pode ser visto como uma seqüência de

eventos na qual um procedimento, que começa com o consumidor comunicando a

reclamação, gera um processo de interação através do qual ocorre uma decisão e

um resultado (TAX, BROWN e CHANDRASHEKARAN, 1998). Segundo BIAS

(1987), cada parte da seqüência está sujeita a considerações sobre justiça. Além

disso, a literatura sobre qualidade em serviços ressaltam a influência do

tratamento interpessoal, elementos do processo e benefícios/resultados como

elementos-chave da avaliação do serviço (TAX, BROWN e

CHANDRASHEKARAN, 1998).

Com isso, TAX, BROWN e CHANDRASHEKARAN (1998) elaboraram um

modelo no qual o consumidor utiliza três dimensões de justiça como principal

critério de avaliação do processo que começa com a comunicação de sua

reclamação com a empresa e termina com a comunicação da decisão tomada por

esta. Essas três dimensões de justiça são: justiça distributiva (relacionada com o

resultado obtido pelo consumidor, ou melhor, do resultado em relação ao input, do

consumidor); justiça de procedimentos (relacionada com os processos pelos quais

o resultado é obtido) e justiça interativa (relacionada com os comportamentos

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interpessoais apresentados durante os procedimentos e na entrega do resultado).

Além das dimensões isoladas, a avaliação do consumidor também é afetada pelas

interações entre elas. Ao testarem esse modelo, os autores encontraram alguns

resultados que podem ser utilizados na operacionalização do tratamento de

reclamações.

Com relação à justiça distributiva, a questão que mais apareceu na pesquisa foi

a avaliação da compensação oferecida pela empresa, isto é, se ela foi justa ou

não. Além disso, o estudo revela que os consumidores esperam um pedido de

desculpas da empresa. Entretanto, se a reclamação não for solucionada, os

consumidores acharão que a empresa foi injusta com eles e, mesmo com um

pedido de desculpas, continuarão insatisfeitos. A pesquisa também ressalta uma

aparente relação entre a avaliação dos resultados com questões de procedimento

e interação. Os autores citam o exemplo de que resultados fornecidos de forma

rude ou indiferente são menos valiosos do que se fossem transmitidos por uma

pessoa mais atenciosa.

Sobre a justiça de procedimentos, a principal questão colocada na pesquisa foi

o fato da empresa evitar assumir a responsabilidade pelo problema. Muitas

pessoas reclamaram que o “esforço” para que o processo prosseguisse

geralmente era parado pela tentativa da empresa em transferir a responsabilidade

da falha para o consumidor.

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Outros aspectos mencionados sobre os procedimentos foram reclamações

quanto a demora e a inconveniência do processo, isto é, quanto mais conveniente

e mais rápido o processo, maior a probabilidade do consumidor ficar satisfeito.

Além disso, os entrevistados se mostraram deleitados ao serem contatados pela

empresa perguntado se a reclamação foi solucionada satisfatoriamente.

Educação, empatia e mostrar esforço em tentar resolver a reclamação foram os

aspectos mais mencionados em relação a justiça interativa. O fornecimento de

explicações sobre o problema foi um ponto de discórdia entre os pesquisados.

Quando a empresa oferece informações para que as pessoas entendam a causa

do problema e ajudam-nas a obter uma solução rápida e justa, a avaliação tende a

ser positiva. Entretanto, quando a informação é oferecida em forma de desculpas

para atenuar a responsabilidade da empresa, isto é percebido negativamente.

Os autores fazem algumas recomendações práticas a partir desses resultados.

Uma das maneiras de melhorar o processo de tratamento das reclamações pode

ser dar poder aos empregados que as recebem. O empowerment pode ajudar a

solucionar questões críticas como rapidez, conveniência, acessibilidade e

flexibilidade dos procedimentos de reclamação. A adoção de call centers formados

por empregados especialistas em resolver problemas dos consumidores também

podem no que tange a justiça de procedimentos, pois contribui para uma

recuperação do serviço rápida, acessível e consistente. Garantia de serviços

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podem ser utilizadas para ajudar a processar reclamações de forma consistente e

eficiente.

Para fornecer resultados/recompensas justas, a empresa precisa entender os

custos totais incorridos pelos consumidores, isto é, tanto na falha do serviço

quanto no processo de reclamação. Com relação à justiça interativa, os autores

ressaltam a importância do treinamento dos empregados que recebem as

reclamações para que interajam com os consumidores da forma que estes achem

justa, isto é, com educação e empatia, por exemplo.

A interação entre as dimensões de justiça também deve ser reconhecida pelos

gerentes. Um firma que concentre sua atenção em dar uma boa recompensa para

um consumidor insatisfeito provavelmente não atingirá seu objetivo se isso for feito

através de procedimentos injustos ou de empregados rudes. Assim, interações e

procedimentos justos podem diminuir o custo da reclamação e, portanto, reduzir a

compensação necessária para atingir a justiça distributiva.

SPARKS e McCOLL-Kennedy (2001) também ressaltam que esses três tipos de

justiça influenciam a avaliação do consumidor de sua satisfação na recuperação

dos serviços, mas as definem de maneira um pouco diferente. Segundo os

autores, a justiça distributiva enfoca a justiça percebida do resultado do processo;

a justiça interativa enfoca a maneira na qual o consumidor é tratado do decorrer

do processo e a justiça de procedimentos está relacionado à percepção que o

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consumidor tem do processo, isto é, se ele acha que o processo utilizado para se

corrigir o problema foi justo ou não.

Para MITCHELL (1993), há várias formas através das quais a empresa pode

compensar o reclamante. Uma delas é a devolução do dinheiro, cujo

estabelecimento depende da preocupação da empresa com as reclamações e da

importância da reclamação. Outro método é a substituição do produto.

Normalmente, a custo total da substituição é maior que simplesmente devolver o

dinheiro, mas ela tem suas vantagens. A troca do produto oferece ao consumidor

uma oportunidade para experimentar um produto que seja representativo da

qualidade normal da empresa, o que talvez possa encorajá-lo a continuar

comprando o produto. Outra vantagem pode ser a restauração da confiança do

consumidor na empresa. Por último, a substituição pode constituir uma abordagem

mais pessoal que uma simples devolução de dinheiro, fazendo com que o

reclamante se sinta “especial.”

ESTELAMI (2000) dividiu em duas categorias os determinantes de deleite e

desapontamento nos resultados das reclamações: determinantes de procedimento

e determinantes competitivos.

A primeira categoria envolve rapidez de resposta, fornecimento de uma

compensação adequada ao consumidor e o comportamento educado dos

funcionários ao tratarem a reclamação, se assemelhando às dimensões de justiça

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ressaltadas por TAX, BROWN e CHANDRASHEKARAN (1998). Em seu estudo,

ESTELAMI (2000) observou que, embora os três procedimentos sejam

responsáveis pelo deleite ou não do consumidor, a compensação se revela mais

importante. Assim, o autor sugere que as políticas de tratamento de reclamações

das empresas incluam elementos como reparo de produtos, troca de produtos e

nova execução do serviço, com a intenção específica de compensar o reclamante.

Com relação a segunda categoria, ESTELAMI (2000) ressaltou que o nível e a

natureza da competição ajuda uma empresa a determinar os benefícios

econômicos que ela pode esperar ao resolver as reclamações, isto é, dependendo

das condições de mercado, uma firma pode ter maior ou menor incentivo para

responder positivamente as reclamações feitas por seus consumidores. O autor

identificou dois fatores competitivos. O primeiro é a intensidade competitiva,

diagnosticada pelo número de competidores no mercado. Quanto mais competitivo

o mercado, mais provavelmente a empresa responderá positivamente às

reclamações, pois maiores serão os custos de atrair novos consumidores. O

segundo fator é o nível de lealdade do consumidor em relação a firma. De acordo

com ESTELAMI (2000), as empresas que experimentam maiores níveis de

lealdade de seus consumidores têm maior probabilidade de responder

positivamente às suas reclamações. Do pondo de vista da lucratividade, a

tendência do consumidor de comprar repetidamente de uma firma fornece

incentivo para a empresa resolver as reclamações de seus clientes. Aonível de

lealdade do consumidor pode ser considerado por um empresa como um ativo

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estratégico para evitar que seus competidores penetrem em sua base de clientes,

em sua parcela de mercado. Além disso, consumidores leais exigem menores

gastos de marketing, compram em maior quantidade e são menos sensíveis a

preço. O modelo de ESTELAMI (2000) pode ser observado na Figura 2.7.

Figura 2.7Determinantes de Deleite e Desapontamento nos Resultados das Reclamações dos Consumidores

Determinantes Competitivos Determinates de Procedimento

Intensidade Lealdade do Rapidez de Comportamento CompensaçãoCompetitiva Consumidor Resposta do Empregado

Incentivos da Empresa para Modo como a ReclamaçãoResolver Reclamações é Resolvida

Resolução da Reclamação

Desapontamento Deleite

Fonte: Baseada na Figura 1 de ESTELAMI (2000), p.290

Mera Satisfação

Satisfação com a

ESTELAMI (2000) também ressalta a que a empresa pode achar produtivo

realizar não só um benchmarking de suas estratégias ofensivas de marketing, mas

também realizar o mesmo com suas estratégias defensivas, isto é, comparar suas

práticas de tratamento de reclamações com aquelas de seus principais

competidores.

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BLODGETT et al. (1995) estudaram o comportamento de reclamação do

consumidor e também ressaltaram que a justiça distributiva e interacional são dois

dos principais fatores que determinam se o reclamante irá voltar a comprar da

empresa (ou abandoná-la) e se fará boca-a-boca positiva ou negativa, isto é, os

consumidores insatisfeitos esperam não só receber uma recompensa justa, mas

serem tratados com cortesia e respeito. Assim, a maneira de interagir com os

consumidores deve fazer parte do treinamento de um funcionário do SAC. Ele

deve entender que alguns reclamantes terão experimentado uma grande

quantidade de stress e ansiedade devido ao problema estando, portanto,

irritadiço. Assim, o funcionário deve ser ensinado a tratar o consumidor com

empatia e a dar oportunidade a ele explicar seu problema. Outras descobertas do

estudo foram:

• Outros dois fatores importantes para determinar se o reclamante irá voltar a

comprar da empresa e falará bem dela ou irá abandoná-la e iniciará um

boca-a-boca negativo são estabilidade e controle. Reclamantes que acham

que a empresa está realmente preocupada com seu negócio, é competente

e é compromissada com a satisfação de seus consumidores, têm maior

probabilidade de achar que o problema não era normal (isto é, que seja

normal a ocorrência daquele problema) nem controlável. O resultado é uma

maior probabilidade de voltar a comprar da firma e de realizar um boca-a-

boca positivo. Assim, os funcionários devem ser treinados para agradecer os

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consumidores por levarem seu problema ao conhecimento da empresa, por

exemplo.

• A importância e o custo do produto não são relevantes sobre o

comportamento do consumidor insatisfeito, isto é, se ele irá reclamar com a

empresa pedindo providências ou irá simplesmente começar a falar mal da

empresa.

• Consumidores insatisfeitos que percebem uma grande probabilidade de

sucesso e que têm uma atitude favorável a em relação a reclamar, têm

maior probabilidade de contatar a empresa procurando uma solução e não

iniciar um boca-a-boca negativo pré-reclamação e vice-versa. A

probabilidade de sucesso tem um maior impacto no comportamento do

consumidor que sua atitude frente à reclamação.

2.5.2 A Análise das Reclamações

Para SCHIBROWSKY e LAPIDUS (1994), o Departamento de Serviço ao

Consumidor tem duas funções em relação as reclamações recebidas: tratar as

reclamações individuais e analisar as reclamações de forma agregada. A primeira

visa resolver problemas, fazendo com que o consumidor que reclamou não tome

nenhuma medida legal, fique satisfeito e não deixe de comprar produtos da

empresa. Já a segunda função, visa identificar as causas das reclamações ,

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utilizando essas informações para formular estratégias gerenciais que tenham

como objetivo evitar que novas reclamações sejam feitas no futuro. Como

ressaltam os autores, resolver uma reclamação individual é importante, mas ataca

os sintomas ao invés das causas. O objetivo da análise agregada é identificar e

eliminar as causas.

Segundo os autores, conduzir uma boa análise de reclamações requer mais do

que simplesmente contá-las. O processo requer um planejamento cuidadoso para

que os dados resultantes sejam acurados e utilizáveis. Vamos destacar as

principais questões que devem ser abordadas no estágio de desenho de um

projeto de análise de dados agregados sobre reclamações, de acordo com

SCHIBROWSKY e LAPIDUS (1994).

Um questão importante é quem deve conduzir o projeto. Um opção são os

próprios empregados da empresa. Existem três benefício em se realizar a análise

internamente: o projeto pode ser feito a um custo mais baixo; os empregados

responsáveis pela análise podem se mover rapidamente na curva de aprendizado

associada com a tarefa e a análise pode se tornar facilmente um processo

contínuo. Entretanto, há duas desvantagens relacionadas a utilização da

abordagem interna: as pessoas encarregadas do projeto talvez não tenham o

conhecimento das técnicas de coleta e análise de dados necessárias para

desempenhá-lo e a abordagem interna introduz a possibilidade de um viés

potencial. Esta desvantagem ocorre pois há um viés de comunicação dentro da

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firma que favorece uma preferência por reportar informações positivas em

oposição à informações negativas para quem vai receber a mensagem.

Com relação a utilização de uma empresa externa para realizar a tarefa, o custo

é maior mas os dados gerados serão mais acurados e aceitáveis. Assim,

empresas que necessitarem dos dados para uso externo devem adotar essa

opção. Entretanto, os autores ressaltam que são poucas as firmas que se

encaixam neste caso.

Outro aspecto do projeto é a obtenção dos dados. O melhor lugar para começar

a coletá-los é nos registros internos da empresa. Os consumidores que estão

apresentando reclamações contra a firma devem ser contatados pelo SAC e

perguntados sobre detalhes de sua queixa. Em alguns casos, a empresa pode

simplificar o processo enviando um formulário para o consumidor que contenha

todas as perguntas relevantes. Entretanto, é preciso que a firma convença o

consumidor a participar desse processo de coleta de dados pois, de outra

maneira, ela provavelmente não conseguirá informações suficientes para analisar.

Além dos registros internos, a firma deve coletar reclamações realizadas por

terceiros contra a firma. Reclamações de terceiros são definidas como aquelas

feitas para alguém que não a companhia como, por exemplo, o Procon.

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Saber que informação coletar das reclamações também é uma decisão

importante. Os autores sugerem que se considere: a data das reclamações

(permite que a análise identifique o tipo e o número de reclamações ao longo do

tempo); para quem a reclamação foi enviada; se a compra foi ou não realizada; a

natureza da reclamação e a resolução da reclamação (pode dar uma idéia da

validade das reclamações e do custo total associado a elas).

Além das decisões sobre quem irá fazer a análise, onde obter os dados e que

informação coletar, outra questão importante a ser considerada para se realizar

uma boa análise dos dados é a presença da informática. Segundo MITCHELL

(1993), um amplo sistema computadorizado de tratamento de reclamações é uma

das maneiras mais fáceis de se realizar tanto uma analise agregada de dados

quanto o tratamento de reclamações individuais. Ao utilizar computadores, mais

informação pode ser gerenciada em menos tempo com maior precisão,

melhorando a qualidade de resposta.

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Síntese da Revisão de Literatura

Vantagens/oportunidades - O SAC é um dos principais instrumentos de Marketing de Relacio-geradas pelo SAC namento (ARAÚJO, 1999).

- A reclamação do consumidor oferece à empresa uma oportunidade de preservar sua reputação e sua base de clientes (HANSEN et al., 1996).- A reclamação fornece informações para a empresa melhorar a qualidade de seus produtos/serviços (HART et al., 1990; MITCHELL, 1993 e BERRY e PARASURAMAN, 1997).- O feedback dos consumidores ajudam a indentificar quais as áreas que necessitam de melhorias, auxiliando na alocação de recursosda firma (SODERLUND, 1998 e DONALDSON,1995).- Escutar e conhecer o consumidor é importante para adequar as suas necessidades (JONES e SASSER, 1995).- As informações provenientes do SAC são adquiridas a baixo custo pois são oferecidas por iniciativa dos consumidores (STAUSS, 1992).- O SAC pode ajudar a diminuir o gap entre as percepções dos consumidores e gerentes da empresa sobre o produto/serviço(PARASURAMAN,ZEITHML e BERRY, 1985 e WOODRUF, 1997).- O SAC permite que a empresa se antecipe na resolução de problemas que poderiam acabar na esfera judicial (ZULSKE, 1991).- O SAC pode ajudar a transformar um consumidor insatisfeito em umcliente satisfeito e leal à marca (FORNELL e WERNERFELT, 1987).- O SAC permite que informações sobre o consumidor alcancem departamentos que têm pouco ou nenhum contato com o consumidor e representa um compromisso da empresa tratar bem seus clientes, podendo gerar sentimento de orgulho nos empregados(MITCHELL, 1993).- A atuação do SAC influencia nas expectativas, percepções sobre a qualidade do serviço e intenções corpontamentais dos consumidores(LIU at al. 2000).

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Aspectos organizacionais - A estrutura de um SAC pode ser formal ou informal e cada um do SAC delas tem suas vantagens e desvantagens (LANCIONI, 1995).

- O SAC pode se reportar direta ou indiretamente à alta gerência (LANCIONI, 1995).- O SAC pode desempenhar uma gama de funções, como lidar com reclamações dos consumidores e dar suporte a vendas (LANCIONI, 1995).

Tratamento das - O tratamento das reclamações deve contar com o suporte da alta Reclamações gerência (MITCHELL, 1993).

- As políticas de tretamento de reclamações devem ser amplas e consistentes com os regulamentos e as atitudes e políticas existentes na organização, mas não podem ser muito burocráticas (MITCHELL, 1993).- Ao tratar uma reclamação, a empresa não deve levar em conta a motivação do consumidor ao ao reclamar (em determinados casos, ela também deve ser indiferente a legitimidade da reclamação)(GOODWIN e ROSS, 1990).- O consumidor utiliza três dimenções de justiça para avaliar o tratamento da reclamação: justiça distributiva, justiça de procedimentos e justiça interativa (TAX, BROWN e CHANDRASHEKARAN, 1998;ESTELAMI, 2000; BLODGETT et al. e SPARKS e McCOLL-KENNEDY, 2001).

Análise das - A análise das reclamações pode ser realizada internamente ouReclamações terceirizada e cada forma tem suas vantagens e desvantagens

(SCHIBROWSKY e LAPIDUS, 1994).- Os dados sobre as reclamações devem ser obtidos internamente (ex: registros internos) e externamente (ex: contatar consumidores que reclamaram) (SCHIBROWSKY e LAPIDUS, 1994).- Recursos de informáticas são fundamentais na análise e no tratamento das reclamações(MITCHELL, 1993).

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3. METODOLOGIA

3.1 Tipo de Pesquisa

VERGARA (1997) propõe dois critérios a partir dos quais as pesquisas podem

ser classificadas: quanto aos fins e quanto aos meios. Com relação aos fins o

presente estudo é exploratório. A pesquisa exploratória é realizada com o objetivo

de compreender melhor determinado assunto sobre o qual há pouco

conhecimento acumulado e sistematizado (VERGARA, 1997 e SEKARAN, 1992).

Apesar de a proposta inicial de um estudo desta natureza não ser testar hipóteses,

é possível que dele surjam algumas. Isto é, ele pode resultar em construção de

hipóteses (VERGARA, 1997 e GIL,1988). Assim, como a literatura sobre SAC é

muito escassa, principalmente no Brasil, uma pesquisa com esse caráter se

justifica.

Quanto aos meios, esta pesquisa é um estudo de casos em campo, isto é, um

estudo de casos que será realizado dentro da empresa. Apesar da flexibilidade do

planejamento da pesquisa exploratória ser grande, ela, na maioria das vezes,

assume a forma de pesquisa bibliográfica ou de estudo de caso (GIL, 1988).

Segundo CRESWELL (1998, p.61), “o estudo de caso é uma exploração de um

sistema delimitado ou um caso (ou vários casos) ao longo do tempo através de

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uma coleta de dados detalhados e em profundidade envolvendo fontes múltiplas

de informação ricas em contexto.” Segundo o autor, o sistema é delimitado por

tempo e espaço e é o caso que está sendo pesquisado. Com relação as fontes

múltiplas de informação, elas incluem observações, entrevistas e documentos.

GIL (1988) ressalta que a profundidade e o detalhamento de informações

obtidos pelo estudo de caso são praticamente impossíveis de serem alcançados

através de outro método de pesquisa. O estudo de caso é singular em sua

habilidade de lidar com uma grande variedade de evidências, como documentos,

artefatos, entrevistas e observações (YIN, 1994).

Segundo YIN (1994), existem cinco tipos de estratégias de pesquisa

(experimento, survey, análise de arquivo, história e estudo de caso) e três

questões devem ser consideradas ao escolhê-la: (a) o tipo de questão de

pesquisa colocada, (b) o grau de controle que o pesquisador tem sobre o

comportamento atua dos eventos e (3) se o foco está em um evento histórico ou

contemporâneo.

Com relação ao item (a), se a questão for “QUAL”, duas possibilidades se

apresentam: a pesquisa pode ser exploratória, onde qualquer uma das cinco

estratégia podem ser escolhidas, ou ela é, na verdade, uma forma de “quantos”.

Se a pesquisa for exploratória, cabe definir qual estratégia a ser utilizada. O

estudo de caso, experimento e história devem ser considerados em questões

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como “POR QUE” e “COMO.” A opção pelo estudo de caso será feita através da

avaliação dos itens (b) e (c). Se a pesquisa tiver seu foco em eventos

contemporâneos e o investigador não tiver controle sobre o comportamento dos

eventos, a preferência recairá sobre esse método.

Sobre a relação entre estudo de caso e pesquisa exploratória, GIL (1994)

ressalta que a maior utilidade desse método é verificado nesse tipo de pesquisa.

Com isso, além da natureza exploratória deste estudo, a escolha do método do

estudo do caso também se justifica pela pergunta da pesquisa:

Qual o papel do SAC nas empresas de telefonia móvel no Brasil?

Na verdade, esta se confunde com outra pergunta, “COMO funciona o SAC

dessas empresas?” Isto é, a primeira só será respondida se a segunda for. Além

disso, a impossibilidade de controlar eventos, o fato do objeto de estudo ser

recente e a maneira através da qual a pergunta tentará ser respondida, com

entrevistas e observações, por exemplo, também justificam a escolha desse

método.

3.2 Seleção das empresas pesquisadas e dos entrevistados

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No momento em que esse estudo foi realizado, somente a ATL e a Telefônica

disputavam o mercado de telefonia móvel no Rio de Janeiro, local onde o estudo

foi realizado.

As entrevistas foram feitas com três pessoas de cada empresa. A primeira

estava relacionada diretamente ao SAC. Na ATL, o próprio gerente do SAC

respondeu às perguntas. Já na Telefônica, um assistente do gerente foi a pessoa

que respondeu às perguntas. Além deles, um operador do SAC e um analista do

departamento de marketing (devido ao relacionamento próximo com o SAC) de

cada empresa também foram entrevistados.

3.3 Coleta de Dados

A coleta dos dados foi feita principalmente através de entrevistas pautada em

um roteiro semi-estruturado (Anexo 1). Segundo Gil (1988, p.117), esse tipo de

entrevista “apresenta certo grau de estruturação, já que se guia por uma relação

de pontos de interesse que o entrevistador vai explorando ao longo de seu curso.”

As questões do roteiro foram preparadas com base na revisão de literatura e

abordaram os seguintes assuntos:

-origem/motivo da criação do SAC;

-evolução do SAC na empresa;

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-a relação com outros departamentos;

-treinamento, marketing interno e os funcionários do SAC;

-procedimentos utilizados no SAC ;

-utilização de tecnologia;

-utilização das informações obtidas pelo SAC e resultados obtidos pelo SAC.

As entrevistas foram transcritas em um total de quarenta e quatro páginas.

3.4 Tratamento dos Dados

Após a realização das entrevistas, estas foram transcritas e o resultado foi

separado em categorias, com base na revisão de literatura, para que a análise

fosse feita. Além da separação em categorias, as entrevistas foram apresentadas

por empresas.

Essa agregação de dados por categorias é chamada de agregação categórica e

é uma das formas de se analisar e interpretar os dados em uma pesquisa de

estudo de caso (Stake, 1995).

Em um momento seguinte, foi realizada uma comparação entre as entrevistas e

destas com o que foi encontrado na revisão de literatura. Após essa análise

surgiram algumas hipóteses e propostas para estudos futuros.

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3.5 Limitação do Método

Segundo Gil (1988), a principal limitação do método do caso é a dificuldade de

generalização dos resultados obtidos. A unidade escolhida para investigação

pode ser anormal em relação às outras de sua espécie, fazendo com que a

generalização se torne um equívoco. O viés do pesquisador e a necessidade de

cooperação por parte dos entrevistados são outras limitações que também devem

ser consideradas. Além disso, os resultados do estudo ficam muito atrelados ao

discurso dos entrevistados, isto é, ao que eles querem dizer.

3.6 Limitação do Estudo

O SAC é uma área muito sensível da empresa pois é o “local” onde são

evidenciados alguns problemas através das reclamações dos consumidores, o

que pode ocasionar dificuldades na busca de informações.

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4. DESCRIÇÃO DOS CASOS

CASO ATL

A ATL opera no mercado de telefonia celular (banda B) desde dezembro de

1998 nos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo.

a) DESCRIÇÃO GERAL DO SAC

O Serviço de Atendimento ao Cliente da ATL começou a funcionar em setembro

de 1998, três meses antes da empresa como um todo. O principal motivo do início

precoce de suas atividades foi o desejo dos consumidores por informação em um

mercado com demanda reprimida. Devido às notícias que a ATL havia ganho a

licitação para operar na banda B dos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo,

consumidores começaram a ligar para o telefone central da empresa solicitando

informações como quando a empresa entraria em operação, quando iria começar

a venda de aparelhos, se haveria fila de espera etc. Com isso, a ATL decidiu

antecipar o começo do funcionamento do SAC.

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A existência do SAC é divulgada tanto nos kits da ATL quanto na comunicação

direcionada para o cliente, como contas, mala direta e mídia. O funcionamento da

área ocorre 24 horas por dia e o consumidor dispõe de quatro meios para acessar

o SAC: telefone, carta, fax e e-mail. Todavia, a preferência recai no telefone,

conforme comenta o representante da empresa:

“Raramente nós recebemos cartas... [com relação ao e-mail] Só para você

ter uma idéia, eu tenho 5 pessoas trabalhando na área de e-mail...tenho 700

pessoas no SAC...A proporção de e-mails é realmente muito pequena...não

chega nem a 0,4%...a gente nem faz essa comparação. O número de

telefonemas é infinitamente superior. São 1.200.000 chamadas/mês.”

Os principais motivos pelos quais os consumidores contatam o SAC são

(Figura 4.1):

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Figura 4.1

Motivos das ligações recebidas pelo SAC

80%

16%4%

InformaçãoSolicitaçãoReclamação

Fonte: ATL

Apesar do pequeno percentual de reclamações, é possível que este número

seja bem maior pois a empresa não explicou como um contato é classificado. Por

exemplo, quando um cliente liga para reclamar que sua conta de telefone não

chegou, é possível que o contato seja classificado como “pedido de informação

sobre atraso de conta”.

Com relação a hierarquia do SAC dentro da empresa, ele é subordinado a

Diretoria de Talentos Humanos e Qualidade (Figura 4.2). Segundo o gerente do

SAC, “Essa disposição ocorre porque o SAC corresponde a cerca de 55% do

quadro de funcionários da ATL.”

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Figura 4.2

Posição Organizacional do SAC da ATL

Presidência

Diretoria de TalentosHumanos e Qualidade

SAC

O SAC não conta com nenhuma parte terceirizada. O principal motivo desta

opção se deve ao reconhecimento da importância da SAC, conforme explica o

gerente da área:

“Foi uma definição inicial da empresa que a área de atendimento tem uma

importância forte para o negócio e, por isso, decidiu-se por trabalhar com

funcionários próprios. Foi basicamente isso, não tem nenhuma outra

explicação. Trabalhando com funcionários próprios, nós teríamos um time

mais comprometido e mais orientado para os objetivos da ATL. Terceirizando,

seria mais difícil gerar esse tipo de envolvimento.”

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Dentro do SAC, o funcionário que ocupa o nível mais alto na hierarquia tem o

título de gerente. Respondem a ele mais dois gerentes e, logo abaixo, vem os

coordenadores, analistas, pessoal de backoffice e suporte, supervisores,

atendentes e assistentes administrativos. Com relação a escolaridade, o gerente

principal é pós-graduado e o atendente do SAC tem, no mínimo, segundo grau

completo.

Com relação a importância e o papel do SAC para a empresa, o gerente do

SAC ressalta:

“[ o SAC é] Fundamental. O SAC é responsável por 90/95% das interações

com o cliente e é através dele que o cliente entra dentro da empresa.. Então,

se ele não existisse, a empresa deveria ter uma outra forma do cliente se

relacionar com ela. O SAC é um instrumento de relacionamento com o

cliente.”

Já a funcionária do marketing destaca a importância do SAC como um

instrumento não apenas de relacionamento mas também de fidelização:

“Eu vejo o SAC e as lojas como armas para estar fazendo esse esforço com

o cliente de estar garantindo satisfação. A gente sabe que qualquer ação feita

para conseguir um cliente novo é mais barata que uma para reter um

existente. Quando você capta um cliente novo, você não sabe que cliente é

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aquele. Pode ser um cliente que não gaste nada como pode ser um cliente

que gaste muito, como pode ser um que gaste muito mas seja inadimplente.

Enquanto que, mantendo um cliente que você já conhece os hábitos de

consumo, você já sabe o quanto ele está gastando, você nada mais faz do

que manter seu fluxo de caixa estável para ter esse retorno mais para frente.”

Para essa representante da empresa o SAC também é visto como uma arma

para enfrentar a concorrência, na medida em que é uma forma de comunicação

com o cliente de custo relativamente mais baixo que os outros esforços de

marketing.

“O mercado ainda tem um grande potencial de penetração no RJ e no ES,

que são as áreas em que a ATL atua, mas a gente sabe que, se não tratarmos

bem nossos clientes, não adianta nada botar gente para dentro da casa se

tem muita gente saindo. (...) O concorrente entra sempre muito pesado. Eles

têm muito dinheiro para fazer mídia no Rio de Janeiro e no Espírito Santo

inteiro e agente não tem toda essa grana. Então, a gente se vira como pode. E

a forma que a gente pode no final de contas é atender melhor nossos clientes

e tratá-los da melhor forma possível. Não tem outra maneira porque concorrer

na força mesmo é complicado.”

b) O Contato com o Cliente

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Devido à importância ressaltada, será enfocado o contato que o cliente realiza

com o SAC através do telefone.

Quando o consumidor liga para a empresa, ele é recepcionado por uma

Unidade de Resposta Audível (URA), isto é, um atendimento automático. Se for

um cliente da ATL e estiver falando de seu próprio telefone, ele será identificado

imediatamente por um BINA. Caso contrário, ele deverá digitar o numero de seu

telefone para permitir a identificação. Se o consumidor não for um cliente ATL, a

URA comunicará que site da ATL possui várias informações sobre a empresa e

seus serviços e, em seguida, fornecerá um menu de opções que permitem acesso

a informações sobre as lojas e revendedores da ATL, promoções, serviços

especiais, planos de serviços e serviços corporativos. Em todos os casos a

pessoa tem a opção de falar diretamente com um atendente.

De acordo com sua estrutura interna, o SAC é dividido em grupos chamados

ilhas, isto é, o atendimento é feito de forma segmentada. A associação de um

cliente a um determinado segmento é realizado automaticamente através da URA

e de um sistema chamado Cumputer Telephone Integration (CTI), que integra o

telefone com a base de dados da empresa. Logo que o cliente é identificado pelo

sistema ele é direcionado para uma parte específica do SAC, de acordo com o

banco de dados da empresa. Isto é, dependendo dos seus dados ele será

atendido por esta ou aquela ilha. Com isso, existem ilhas de consumidor pré-

pago, pós-pago, cobrança ativa e receptiva, atendimento técnico, atendimento

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corporativo e retenção e fidelização de cliente. Ao entrar em contato com

atendente, o cliente expressa sua dúvida, solicitação, ou reclamação. O gerente

do SAC comenta essa segmentação:

“Nós temos um trabalho de segmentação. Dependendo do tipo de

consumidor que possa estar entrando em contato, eu tenho níveis de serviços

melhores e níveis de serviços não tão bons. Em tempo de espera, por

exemplo, eu atendo um cliente VIP numa rapidez muito maior que atendo um

cliente pré-pago.”

Uma das características da integração entre URA e CTI é o aparecimento de

todo o histórico do cliente na tela do atendente assim que ele é transferido. Com

isso, o atendente não precisa entrar com os dados do cliente para buscar

informações sobre e ele para, só depois, transferí-lo para a ilha mais adequada.

Além de entrar em contato com o SAC (por telefone, e-mail, carta ou fax) , os

consumidores também podem realizar suas reclamações ou tirar suas dúvidas nas

lojas da ATL. Entretanto, há algumas diferenças básicas entre os dois meios

utilizados. Do ponto de vista operacional, a principal diferença é que, no SAC,

todas as ligações são registradas, compondo o histórico do cliente e podendo ser

utilizadas em estudos/relatórios internos. Já nas lojas, nem todas as consultas são

registradas. Segundo a funcionária do marketing:

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“Normalmente, as lojas registram alguma coisa quando elas pedem algo

para outra área, ou quando o cliente está muito insatisfeito ...mas se eu entro

numa loja e pergunto “você tem bateria?”, eles não vão registrar. Se fosse no

SAC, eles registrariam: cliente ligou para perguntar o preço da bateria tal. Na

loja, pelo dinamismo, por ter vários clientes entrando e saindo, você não tem

como parar tudo e fazer isso. Você faz quando o cliente está na sua frente e

quer alguma coisa muito específica, uma mexida no sistema ou tem uma

reclamação muito séria para fazer. Enquanto o atendente do SAC está com o

cliente no telefone, o atendente da loja tem um cliente com ele e vários

esperando.(...) [com relação a consultas simples]...”

Entretanto, todas as informações registradas são integradas. Assim, se um

cliente fez uma reclamação em uma loja, ele pode saber qual seu status através

do SAC.

Além da sua atuação passiva, recebendo ligações dos consumidores, o SAC

tem uma área que contata o consumidor quando ele adquire um produto da ATL

pela primeira vez para dar boas vindas, explicar os serviços, os planos e as

possíveis dúvidas que ele possa ter

c) O Atendente

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Todos os funcionários do SAC, desde o atendente até o gerente, recebem

treinamentos dentro da empresa. Com relação aos atendentes, assim que entram

para a ATL, eles recebem um treinamento sobre telecomunicações e algumas

técnicas de atendimento. Além disso, eles recebem treinamentos específicos a

cada lançamento de produto, serviço ou promoção da empresa (que serão mais

detalhados no próximo item).

Quando está em contato com o cliente, o poder de decisão do atendente é

limitado. O que eles podem ou não falar/fazer é explicitado nos treinamentos e

num documento eletrônico localizado na intranet da empresa, isto é, um “script”

que pode ser consultado a qualquer hora. Caso o pedido/reclamação do cliente

não esteja nesse documento, alguns caminhos podem ser seguidos.

Um deles é consultar o supervisor do SAC, deixando o cliente aguardando na

linha. Caso o consumidor queira, ele mesmo pode ser transferido para o

supervisor. Outro caminho é transferir o cliente para a área da ATL responsável.

De acordo com o atendente. “Se a gente tem noção que o problema pode ser

resolvido naquele momento mesmo, a gente transfere a ligação dele

imediatamente para o setor responsável.”

Com relação a como tratar o consumidor, essas áreas não recebem

treinamento envolvendo técnicas de atendimento. Entretanto, a ATL promove

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algumas ações para aproximar consumidores e funcionários que não tem contato

cotidiano com eles. Segundo o gerente do SAC:

“...tem algumas ações que e empresa promove que mobilizam a empresa

como um todo a conhecer o cliente, a ter contato com ele. Por exemplo,

normalmente, nas promoções de aniversário da Atl... os funcionários das

áreas admistrativas vão para as lojas, para os pontos de vendas, ajudar nas

vendas de aparelho e estar em contato com os clientes(...) Esse processo

serve para dar um conhecimento da realidade de atendimento ao cliente a

pessoas que não tem contato no dia-a-dia com o cliente.”

Quando o objeto da chamada não consegue ser resolvido na hora, o atendente

pede para o cliente ligar depois e manda um e-mail para o setor responsável

comunicando o problema. Com relação ao prazo solicitado, este pode variar de

alguns minutos até 48 horas e, conforme ressalta do gerente “...é negociado com

a área. Procuramos negociar um prazo realista com a área para que tenhamos um

número mínimo de atrasos”.

Apesar de ter autonomia limitada para decisões, o atendente do SAC pode

emitir suas opiniões através de três canais. O primeiro é uma pesquisa anual

chamada de Pesquisa de Opinião, realizada com todos os funcionários da

empresa. O segundo é um reunião semanal com o supervisor do SAC. O último é

uma área da intranet denominada Fale Conosco, onde o atendente pode analisar

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os processos que são colocados na intranet e criticá-lo. Segundo o gerente do

SAC, este canal é utilizado freqüentemente e já ocasionou várias mudanças nos

processos. De acordo com o testemunho de um dos atendentes:

“qualquer dúvida que a gente tiver sobre procedimento, sobre algum

problema, mandamos um e-mail via intranet para o setor de comunicação. Aí,

eles analisam o e-mail e enviam a resposta para o supervisor para ele

repassar para o grupo inteiro.”

Com relação ao seu desempenho, o atendente é avaliado de duas maneiras.

Existe uma avaliação anual que envolve as seguintes variáveis:

• Comunicação – qualidade, objetividade e veracidade da informação prestada

ao cliente

• Flexibilidade – disponibilidade do associado para contribuir em momentos

críticos

• Energia – Capacidade de demonstrar estados positivos de ânimo

• Apresentação pessoal e postura – demonstração cotidiana de asseio e

compostura perante situações adversas e abertura o para assimilar feedbacks

• Trabalho em equipe – capacidade de contribuir de forma cooperativa com os

demais membros do grupo, pares e supervisores

• Assiduidade

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Além disso, o atendente é monitorado constantemente. Os supervisores

avaliam mensalmente cerca de três a quatro monitorações por atendente, isto é,

ele escuta as ligações sem conhecimento prévio do atendente. Segundo o

supervisor, as variáveis são diferentes e mais numerosas que as utilizadas na

avaliação anual e são definidas com o objetivo de analisar qualidade do

atendimento do SAC da ATL, da interação atendente-cliente.

Apesar de não poder fornecer a lista completa dessas variáveis por considerá-la

informação estratégica, o supervisor do SAC comenta que a avaliação sempre

visa a satisfação e a resolução de problemas para o cliente e contempla as

técnicas de atendimento, conhecimento do produto e comunicação com o cliente:

“Eu começo [a avaliação] com a abertura. Aí, eu vou avaliando a parte do

resolver problemas, resolver questionamentos, tirar dúvidas, raport. Raport é

uma técnica que você entra na mesma frequência que o cliente (...)É a forma

com que você se expressa, a educação...eu avalio o português...o registro do

meu cadastro, isto é, se ele registra bem pois esse registro é importante pelo

histórico do cliente, ou seja, o meu atendimento pode ser a chave para o

próximo atendimento. A gente avalia o fechamento...avalio o que falar e o que

não falar....vícios de linguagem. Isto é, todas aquelas palavras que não tem

valor nenhum para o nosso atendimento e só servem para enfear o nosso

atendimento e que só toma tempo como, por exemplo o “né”, “sim, sim”.

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Então, nós ensinamos outras técnicas para que eles substituam esses vícios

de linguagem e que o atendimento seja intencional, isto é, que cada palavra

tenha um intenção para trazer qualidade de atendimento no menor tempo

porque a gente trabalha com “produção.”

d) O Relacionamento com outras áreas

O SAC recebe freqüentemente informações (inputs) de outras áreas da ATL.

Apesar da tentativa de realizar fazer essa transferência de informação o mais

estruturada e rápida possível, o gerente do SAC reconhece que, devido à pouca

idade da empresa e a grande agilidade do mercado, nem sempre isso ocorre :

“em alguns momentos têm processos que esbarram em cima do SAC e o

SAC ainda não tinha conhecimento deles. Assim, hoje, nem sempre isso é

feito de forma estruturada.”

O relacionamento do SAC com outras áreas da ATL ocorre de maneira

estruturada, através de reuniões e emissão de relatórios. Entretanto, o contato não

estruturado, como conversas no meio do expediente, também são freqüentes. As

informações obtidas nessas interações são utilizadas como subsídios para a

melhoria de processos e para uma maior adequação dos produtos e serviços às

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necessidades dos clientes. Para exemplificar, é possível observar alguns pontos

de contato entre o SAC e o departamento de marketing da ATL.

Antes do produto ou serviço ser colocado no mercado, o marketing faz uma

reunião com o SAC para explicar todos os detalhes e ouvir as dúvidas e

sugestões. A funcionária do marketing destaca a importância de manter o SAC

bem informado :

“Quando se formata um produto ou se faz uma promoção, o marketing

interage muito com o SAC para adequar o produto ou serviço às necessidades

dos clientes e tirar todas as dúvidas antes da promoção ir para a rua. Não

adianta nada o marketing estar com tudo estruturado enquanto o SAC não

conhece (...)A idéia é sempre manter o SAC informado...”

Além disso, a ATL parece reconhecer e aproveitar o SAC como um canal para

de pesquisa:

“(...)e, além disso, fazer com que o SAC participe também das decisões...

Na hora que você pergunta para um atendente do SAC, para um gerente de

loja ou para um atendente de loja o que é que um cliente quer ou o que é que

está dando errado, ele sabe na hora, na ponta da língua. Não tem muita

necessidade de fazer pesquisa...a pesquisa de marketing é feita sim, a gente

normalmente testa nossos produtos, quando tem tempo (...) o SAC, na hora

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que recebe a informação de um produto que está sendo pensado ou que já foi

montado e só precisa da comunicação, eles aparecem com todos os “e se”: e

se o cliente disser isso? E se acontecer essa situação?...E aí, você começa a

pensar em um monte de coisas que você não tinha pensado antes.”

Apesar da tentativa de realizar sempre um treinamento/exposição do produto ou

serviço para o SAC antes do lançamento, nem sempre há disponibilidade de

tempo. Entretanto, sempre há informações sobre o lançamento na intranet.

Além disso, há uma preocupação que o fluxo da informação seja uniforme para

todas as áreas que se relacionem com os consumidores, como o SAC, as lojas, os

vendedores corporativos e o os consultores que vão às empresas oferecer

produtos ATL. O principal objetivo desse esforço é evitar que o consumidor

receba informações desencontradas sobre um mesmo produto ou serviço ao

entrar em contato com a empresa através de dois canais distintos.

Ainda com relação as interações entre SAC e marketing, além dos envios de

relatórios e das reuniões, a quantidade de contato não estruturado é expressiva,

conforme ressalta a funcionária do marketing:

“Normalmente, quando você esta interagindo muito com o SAC, você já sabe

de antemão que, na hora que aparece a primeira reclamação e as pessoas do

SAC não sabem o que está acontecendo, elas ligam direto para o marketing e

falam “tá acontecendo isso. O mundo tá acabando. O que é que a gente faz

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nessa situação?” Então, essas informações gerenciais são bem mais

proveitosas para quem está olhando do lado de fora. Quando você não sabe o

que está acontecendo no dia-a-dia, quando você não vive o dia-a-dia do

SAC...é óbvio que esses relatórios são muito importantes para você ter noção

do todo, mas quando você participa do dia-a-dia, você sabe que a informação

vai chegar lá naquele relatório.”

Apesar das informações obtidas pelo SAC serem utilizadas de várias formas

por outros departamentos, elas parecem não influenciar diretamente na avaliação

dos mesmos. Por exemplo, caso o SAC receba muitas reclamações que

evidenciem uma falha de uma determinada área, esta não é punida diretamente.

Entretanto, o que pode ocorrer é uma influência não estruturada e indireta, pois os

relatórios do SAC são distribuídos também para alto escalão da ATL.

e) O Tratamento das Reclamações

A ATL não tem um processo estruturado de feedback , isto é, de retornar a

ligação com a resposta para o cliente. Com isso, ele é que tem que ligar para a

empresa para saber qual a solução que foi dada a sua reclamação.

Com relação a satisfação do consumidor com a solução fornecida para sua

reclamação, a ATL tem uma Pesquisa de Satisfação do Cliente mensal que

contata os clientes e identifica seu percentual de satisfação com a ATL. Essa

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pesquisa enfoca vários assuntos, entre eles o contentamento do cliente com o

atendimento do SAC e com a resolução das reclamações, e é feita com uma

amostra estatística dos clientes da ATL, isto é, nem todos que reclamam são

contatados.

Outra variável relacionada à solução é a compensação. A ATL tem um

departamento de retenção e fidelização de clientes que fica responsável em

estudar todos os casos em que o cliente pede uma compensação, isto é,

dependendo do caso, a empresa pode atender à solicitação do cliente. É

importante destacar que a ATL não oferece compensação sem que o cliente peça.

Ainda sobre a questão da reclamação e sua solução, a ATL não analisa

indicadores como a porcentagem de soluções dadas em relação ao número de

reclamações ou sobre o tempo médio para uma reclamação ser resolvida.

Outra característica no tratamento das reclamações é fato do pedido de

desculpas ser feito somente se a falha que originou a reclamação tiver ocorrido

no próprio SAC como, por exemplo, um cliente ligar reclamando que um outro

atendente do SAC desligou na sua cara.

A percepção do consumidor sobre o objeto da reclamação também é uma

questão enfrentada pelo SAC da ATL. Muitas vezes o cliente entra em contato

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com o SAC da empresa reclamando de um problema no aparelho. Como o

atendente relata:

“A ATL é só a operadora, só oferece o sinal. Agora, com relação ao aparelho,

a gente muitas vezes encaminha para a assistência técnica ou pede para o

cliente entrar em contato com a central de atendimento do fabricante. (...)Muitas

vezes eles querem devolver o produto. Mas essa política depende de cada loja.

Por exemplo, se ele tiver comprado nas Lojas Americanas ele vai ter que se

dirigir às Lojas Americanas para ver a possibilidade de troca junto ao gerente.

Aí, já é mais um problema da loja. Muitas vezes o cliente não ficou satisfeito

com o aparelho, o plano ou a área de cobertura e quer trocar o aparelho. Aí, a

gente encaminha para a loja e é a loja que resolve.”

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CASO TELEFÔNICA CELULAR

O Grupo Telefônica está no Brasil desde 1996, operando a CRT, no Rio Grande

do Sul. Em julho de 1998, através da privatização do Sistema Telebrás, a

Telefônica ficou com o controle do serviço de telefonia celular da Banda A no Rio

de Janeiro e no Espírito Santo. 4

a) DESCRIÇÃO GERAL DO SAC

A implantação do Serviço de Atendimento ao Cliente na empresa foi realizada

no início das atividades da Telefônica Celular no Rio de Janeiro. No início, a

implantação se deu no centro de telefonia e nas lojas, mas foi sendo ampliado

para outros meios ao longo do tempo. Segundo uma das responsáveis pelo SAC,

o principal motivo de sua criação foi a necessidade de garantir uma maior

agilidade no tempo de resposta ao cliente, isto é, “de agilizar o atendimento ao

maior número de pessoas possível”. Como ressalta a responsável pelo SAC:

“Se eu tivesse que dar uma nota de 1 a 10 a essa importância, eu daria 10.

Não só para a Telefônica, mas qualquer empresa de grande porte que presta

serviços e possua um número de usuários tão grandes quanto esse, não

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consegue sobreviver sem um atendimento telefônico, que tem um menor custo

que um cara-a-cara, é mais confortável para o cliente e o grau de

assertividade do atendimento é bastante alto se for bem controlado, se bem

acompanhado.”

Dentro do organograma da empresa (Figura 4.3), o SAC se encontra na

Diretoria de Atendimento a Clientes. O funcionário do SAC de maior nível

hierárquico é o Gerente da Divisão de Atendimento a Clientes e tem, como grau

de escolaridade, nível superior completo.

Figura 4.3

Posição Organizacional do SAC da Telefonica

SAC 1404, SAC Corporativo...

Presidência

Vice-Presidência

Diretoria de Clientes

Divisão de Atendimento a Clientes

4 Informações contidas no site www.telefonica.com.br

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Uma característica importante do SAC da Telefônica é que ele é terceirizado. A

empresa optou por deixar a parte operacional do seu SAC a cargo da Atento

Brasil, uma firma que também faz parte do Grupo Telefônica e que, segundo seu

site “é a maior empresa mundial de call center e CRM (Customer Relationship

Management – ou gestão de relação com o cliente).”5 Com isso, dos 1.300

funcionários do SAC, quase a totalidade é da Atento Brasil. A opção pela

terceirização é comentada pela empresa:

“A terceirização nunca é desvantajosa se você tiver um processo bem

estabelecido, bem claro. Nós não terceirizamos por questões

econômicas...(mas) por uma questão de agilização dos processos de

atendimento do call center. A atividade fim da Telefônica não é essa. Então,

para administrar uma estrutura como essa a Telefônica teria um complexo

administrativo muito maior. “

Além disso, a empresa procura explicar a escolha da Atento como parceira na

gestão do call center:

“A atividade fim da Atento é essa. Então, para a empresa, recrutar 200

pessoas, treiná-las, capacitá-las...é muito mais rápido (...) pois agiliza o

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processo...não é minimização de custo, pois você paga pelo serviço e tem que

pagar à altura para permitir uma boa remuneração dos operadores. Então, se

a empresa tem agilidade no processo seletivo, agilidade de capacitação, tem

seu cliente atendido por um grupo de pessoas com perfil adequado para o

atendimento e a nós temos um controle do processo bastante bom, a

Telefônica fica aqui com uma equipe super reduzida. A gestão do call center

da Telefônica é feita por uma equipe de só 6 pessoas. Por que isso? Porque a

Atento é uma empresa que tem essa atividade fim.”

Com relação à parte física, uma parte do SAC opera em ambiente físico da

Atento e outra no da Telefônica, isto é, uma parte com infra-estrutura da

Telefônica e outra da Atento. Entretanto, a gestão operacional dos dois ambientes

é realizada pela empresa Atento.

Os meios que os consumidores dispõe para acessar o SAC da Telefônica são o

telefone, o fax e a internet, todos funcionando 24 horas por dia. Eles também

podem se comunicar com a empresa através de carta, mas esse meio não faz

parte do serviço prestado pela Atento. Isto é, enquanto a Atento recebe

telefonemas, faxes e e-mails, as cartas são recebidas por um setor da própria

Telefônica. Os consumidores ficam sabendo da existência desses meios de

contato através de anúncios, materiais promocionais, cobranças e outros veículos.

5 www.telefonica.com/quienes_portug/lineas/negocios/atento.html

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Com relação ao uso dessas formas de contato, a grande maioria dos

consumidores opta pelo telefone. Para se ter uma noção da diferença de

magnitude, o SAC da Telefônica recebe, em média, cerca de 60.000 chamadas

telefônicas por mês e somente 250 faxes no mesmo período.

Apesar de não ter fornecido dados mais precisos, a responsável pelo SAC

afirmou que o pedido de informações é o motivo mais freqüente que leva os

consumidores a contatá-lo. As dúvidas vão desde assuntos mais gerais, como

que o que significa telefonia celular e o que é WAP, até àquelas que dizem

respeito aos serviços/produtos da companhia (como o que é o serviço Siga-me,

como acessar esse serviço e dúvidas sobre contas). Em segundo lugar, foram

mencionadas as solicitações de serviços/produtos da Telefônica, que incluem

ligar, religar e bloquear o aparelho e a habilitação do serviço “Siga-me”. Por último,

foram lembradas as reclamações, que correspondem a cerca de 10% dos

contatos realizados pelos consumidores.

Como ressaltado na análise do Caso ATL, o número relativamente baixo de

reclamações pode ser devido ao fato do critério de classificação dos contatos com

o SAC.

b) O CONTATO COM O CLIENTE

Devido à importância relativa ressaltada pela empresa, foi enfocado o contato

que o cliente realiza com o SAC através do telefone.

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O atendimento do SAC é realizado de forma segmentada, isto é, os

funcionários são divididos em grupos e cada grupo atende um determinado

segmento de consumidores.

A empresa trabalha com duas grandes segmentações: pré-pago e pós-pago.

Abaixo delas podem existir três sub-segmentações. Quando um cliente liga para o

SAC, existe uma unidade digital que vai pedir para que ele digite o número de seu

telefone. Com isso, essa unidade vai dar, através do auto-atendimento, algumas

opções com os sub-segmentos, que são os serviços oferecidos pela Telefônica

(por exemplo, o serviço Emocion). Assim, depois de identificar que um cliente é

pós-pago, a unidade vai perguntar se ele deseja falar sobre o serviço Emocion ou

sobre o *3000, por exemplo. Caso o consumidor não queira nenhuma dessas

opções, ache que seu caso não se encaixe em nenhuma delas, ou simplesmente

prefira ser atendido pessoalmente por um atendente, ele pode. Ao escolher essa

opção, ele tem a possibilidade de pedir o que quiser.

A segmentação no atendimento ao consumidor ocorre por dois motivos

principais. O primeiro diz respeito à capacitação dos operadores. Com a

segmentação, cada operador recebe um treinamento específico de acordo com o

(sub) segmento que ele irá atender. Entretanto, há os operadores chamados

“unificados,” que são capacitados para atender tanto ao segmento pré quanto ao

pós-pago. O segundo motivo está ligado a análise de dados. A segmentação

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permite que a empresa consiga mensurar quantas ligações ela recebe em cada

segmento, quais os motivos que levam cada “segmento” a procurar o SAC etc.

A empresa destaca, no entanto, que a segmentação não é utilizada para

fornecer diferentes qualidades de atendimento aos segmentos e explica.

“Todos os clientes são atendidos com o mesmo padrão de qualidade. É

cobrado o mesmo percentual de conformidade em todos os segmentos.”

O operador dispõe de um sistema onde pode visualizar várias informações

sobre o cliente quando fala com ele. Isto é, o operador tem acesso ao tipo de

assinatura do cliente, seu histórico de contatos com o SAC, os resultados desses

contatos etc. E é através desse mesmo sistema que o operador registra os novos

pedidos de informações, solicitações e/ou reclamações.

Os consumidores também podem realizar suas reclamações, solicitações e

pedidos de informação nas lojas da Telefônica, e estas são registradas no mesmo

sistema que serve como base de consulta dos operadores do SAC.

c) O Atendente

Como ressaltado anteriormente, os atendentes do SAC da Telefônica são

funcionários da Atento do Brasil. Todos têm o segundo grau completo e recebem

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treinamentos tanto gerais (como técnicas de atendimento) quanto específicos (por

exemplo, sobre as características do segmento pré-pago).

Quando atendem um cliente, os operadores devem se guiar por um conjunto de

procedimentos (informalmente chamado de “script” ou roteiro) apresentado

durante os treinamentos e localizado na intranet da empresa. Assim, “a

autonomia do operador é bastante limitada para algumas questões quando se

trata de tomar decisões,” explica o representante da empresa.

Caso a solicitação do cliente (seja reclamação, informação ou qualquer outro

pedido) fuja do roteiro, o operador pode pedir auxílio ao seu supervisor, que

também é funcionário da Atento. Em certos casos, o cliente é passado para o

próprio supervisor.

Se, depois desse procedimento, a solicitação do cliente ainda não for atendida,

o supervisor tem a sua disposição uma linha direta com uma área de retaguarda

da Telefônica chamada Backoffice Online. Em situações extremas, o próprio

cliente pode ser transferido para a Telefônica. Esse departamento é formado por

profissionais mais experientes, mais bem treinados/capacitados do que os

operadores/supervisores e que têm por objetivo resolver problemas que fujam do

“script.” Devido a essas características ( capacitação e serem funcionários da

Telefônica), eles tem maior poder decisório.

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Os operadores e os funcionários do Backoffice são treinados pela própria

Telefonica tanto em como atender o cliente quanto sobre os produtos e serviços

empresa. Entretanto, o Backoffice recebe um treinamento mais intensivo no que

diz respeito aos aspectos técnicos de produtos e serviços.

Com relação ao “script,” um dos métodos utilizados pela Telefônica para torná-

lo o mais completo possível é receber informações dos operadores. Eles podem

fazer sugestões, reclamações e tirar dúvidas de duas maneiras. A primeira é com

o supervisor do SAC. Nesse caso, o operador comunica ao supervisor, este

repassa para a área de qualidade da Atento, que entra em contato com a

Telefônica. A segunda maneira consiste em uma linha direta na intranet que o

operador tem com a própria Telefônica. Caso opte por este meio, ele sempre

recebe um feedback da Telefônica comentando o e-mail e agradecendo a

participação. O único assunto que só pode ser tratado com o supervisor são

questões referentes à gestão do call center.

O fato do SAC ser terceirizado significa que funcionários de outra companhia

(operadores da Atento) respondam em nome da Telefônica. A responsável pelo

SAC não acredita que isso seja problema, pois:

“Apesar de numerosos, são procedimentos muito claros que o atendente

tem que seguir. A Atento tem controle e monitorações de acompanhamento

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dos operadores. Cada grupo tem um supervisor muito próximo, cada

supervisor tem um coordenador, cada coordenador tem um gerente”

Assim, caso o pedido do cliente esteja no “script,” o operador da Atento

responde como um funcionário da Telefônica. Caso contrário, ele pergunta para

alguém do Backoffice da Telefônica ou passa o próprio cliente para esse

departamento.

A avaliação de um atendente é realizada continuamente e interfere em sua

remuneração. Cada grupo de operadores tem um monitor, cujas funções incluem

escutar e avaliar o atendimento de um telefonema no momento em que ele está

acontecendo. Além disso, todos os telefonemas são gravados com o mesmo

objetivo. Como um monitor não pode escutar o atendimento de todos os seus

operadores em tempo real, ele faz uma avaliação posterior através das gravações.

As variáveis de avaliação estão na Tabela 4.1.

Ainda em relação às gravações elas são utilizadas em reprimendas e no

aprendizado dos operadores. Quando um monitor percebe erros no atendimento,

ele chama o operador para escutar a gravação e conversar sobre o ocorrido.

Ao escutar um atendimento, o monitor avalia a conformidade ou não das

seguintes variáveis:

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Tabela 4.1

Variáveis de Avaliação dos Operadores

Saudação Conforme Não ConformeContato Conforme Não ConformeVocabulário/Uso adequado da linguagem Conforme Não ConformeDicção Conforme Não Conforme

Empatia/Cortesia Conforme Não ConformeÉtica/Atitude profissional Conforme Não ConformeEstabilidade Conforme Não Conforme

Demonstra conhecimento técnico e sistêmico Conforme Não ConformeIdentifica solicitação Conforme Não ConformeEncaminha a melhor solução Conforme Não ConformeFeed Back (disponibilidade) Conforme Não ConformeRitmo e condução da ligação Conforme Não ConformeAtenção e concentração Conforme Não ConformeApresenta segurança e confiança Conforme Não Conforme

Reforça interesse/preocupação Conforme Não Conforme

Fonte: Atento

Habilidade/Interesse/Conhecimento

Comunicação

Finalização

Postura

Os operadores também têm metas de produtividade a serem alcançadas. Uma

dessas metas, por exemplo, se refere ao telemarketing ativo do SAC, quando o

operador deve ligar para a casa de um cliente ou potencial consumidor para

oferecer um produto/serviço da Telefônica. Tanto o atendente, quanto o supervisor

do SAC relataram que, às vezes, há uma dificuldade muito grande de conseguir

alcançar determinadas metas estabelecidas. Ao exemplificar, o operador disse

que uma das metas é ligar para um determinado número de potenciais

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consumidores durante seu turno de trabalho para oferecer os serviços da

Telefônica. Entretanto, ele explicou, dependendo do horário do turno, a meta é

extremamente difícil de ser alcançada, pois a maioria dos potenciais consumidores

não está em casa. Caso isso ocorra, a operadores, supervisores e demais

profissionais envolvidos da Atento costumam questionar as metas junto à

Telefônica. Assim, as metas podem ocasionar conflitos entre Atento e Telefônica.

Ainda sobre sua atuação ativa , além da oferta de produtos/serviços, a

responsável pelo SAC comenta quais são os procedimentos da Atento para

contatar os novos clientes:

“Nós fazemos chamadas de boas vindas para todos os clientes recém

habilitados no prazo de até 30 dias. Após a habilitação, ele recebe um

telefonema para saber como ele está se sentindo com o serviço, como a linha

dele está funcionando, se ele está satisfeito, se ele tem alguma sugestão. Se

ele é um pré-pago, pergunta-se se ele está sabendo se conduzir com recarga

de créditos, se ele está bem com o funcionamento do pré-pago. Cada um tem

um script, um roteiro que a gente segue para perguntar para ele. “

d) O Relacionamento com outras áreas

O “script” que deve ser obedecido pelos operadores do SAC é confeccionado

com informações provenientes de várias áreas da Telefônica, principalmente das

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ligadas ao marketing. Por exemplo, quando a Telefônica lança um novo serviço,

as informações sobre ele são passadas para o SAC através de um treinamento

e/ou do “script”.

Com relação a essa transmissão de informações, a responsável pelo SAC

afirma que dificilmente ocorrem problemas, isto é, “raramente uma informação

importante não é passada a tempo para o SAC”. Ao ser questionada sobre a

possibilidade do marketing lançar uma campanha e não avisar ao SAC, ela

comenta:

“Já aconteceu muito, muito. A gente sofreu muito. Mas hoje, isso não

acontece. O marketing sabe quais são os canais que ele tem para passar....tem

consciência de que, se ele não informar, o cliente vai ser prejudicado”

Entretanto, ao serem perguntados sobre essa mesma possibilidade, tanto o

supervisor quanto o operador comentaram que vez por outra isso acontece.

Segundo os entrevistados, o principal motivo seria a rapidez com que a empresa

necessita lançar as campanhas. Caso isso ocorra, isto é, se um consumidor

perguntar algo sobre uma campanha que o operador não tenha

certeza/conhecimento, ele ou o supervisor entram em contato direto com a

Telefônica.

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Além disso, para poder responder a um cliente, os operadores do SAC têm

acesso a um Banco de Dados que é constantemente municiado de informações

provenientes de vários departamentos da Telefônica.

As informações recolhidas pelo SAC influenciam na avaliação de outras áreas.

O responsável pelo SAC apresenta o informe de gestão de seu departamento na

reunião de diretoria que ocorre mensalmente. Esse relatório contém informações

coletadas pelo SAC como, por exemplo, os motivos das reclamações feitas pelos

consumidores. Assim, nessa reunião, as diretorias relacionadas a esses motivos

são cobradas, o que influencia na avaliação de seus departamentos.

Ao ser perguntada se a utilização dessas informações na avaliação de outras

áreas pode gerar algum tipo de antipatia em relação ao SAC, a responsável

reforça a posição de seu departamento na empresa e a importância da interação

com as outras áreas:

“Ao contrário. O SAC é bem respeitado. Ele tem o respeito da empresa

como um todo. A empresa visita o SAC.(...) o pessoal da rede vai ao SAC.

Eles vão ouvir, acompanhar, ver onde estão falhas...Eles recebem linha direta

do SAC também. O pessoal do marketing visita, colhe informações, se sentam

do lado dos operadores e colhem informações na ponta de linha. Ontem eu

mandei duas fitas gravadas do produto A para eles analisarem pois, para eles,

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é melhor analisar pela gravação do que em loco. Mas, na semana que vem,

eles vão em loco, para conhecer os operadores que cuidam do produto deles”

Além das reclamações, outras informações geradas pelo SAC, como sugestões

dos operadores e dúvidas dos consumidores, também são passadas para outros

departamentos para que sejam analisadas, isto é, utilizadas como subsídios em

suas operações.

O SAC é visto pelos outros departamentos também como uma fonte de

informações. A empresa toda é cliente do SAC no que tange a solicitação de

dados. Normalmente, isso ocorre através da emissão de relatórios periódicos.

Entretanto, caso um departamento necessite de alguma informação que não

conste nesses relatórios, o SAC realiza um estudo específico através de seu

banco de dados. Assim, transmissão de informações para os outros

departamentos ocorre formalmente (através do informe de gestão de periodicidade

mensal) e informalmente (através de solicitações de determinados estudos por

parte de diversos departamentos).

e) O Tratamento das Reclamações

Quando um cliente liga para o SAC da Telefônica para fazer uma reclamação, o

operador vai tentar resolvê-la de acordo com o “script”, com o banco de dados

disponível e, se necessário, com a ajuda do Backoffice. Caso não consiga resolver

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na hora, ele diz ao cliente que vai apurá-la e que a resposta estará disponível em

até cinco dias úteis. Ao desligar, o operador do SAC encaminha a reclamação

para a área competente. Esse é o procedimento básico.

Quando o cliente liga muito insatisfeito pois o prazo se esgotou e a reclamação

não foi resolvida, quando ele contata o SAC extremamente insatisfeito já na

primeira vez ou quando ele pede uma compensação junto à reclamação, o

operador do SAC passa o cliente para um departamento da Telefônica

responsável pela retenção dos clientes (Departamento de Retenção de Clientes).

Essa área de relacionamento com os clientes é responsável pelos

consumidores que estejam chateados com a Telefônica e queiram deixar de ser

clientes da empresa ou uma compensação.

É importante fazer a distinção entre a área de retenção e o Backoffice.

Enquanto esta vai ajudar na apuração da reclamação, acompanhamento de seu

histórico, enfim, na resolução dela, a primeira é vai cuidar da insatisfação da

empresa propriamente dita.

Com relação a satisfação do cliente com o procedimento no tratamento e

resultado de sua reclamação, a Telefônica implantou um sistema de telefonia

idêntico ao do call center para o backoffice. Através dele, os operadores contatam

todos os clientes que registraram uma reclamação junto ao backoffice para saber

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se eles ficaram satisfeitos. Segundo a responsável pelo SAC, os clientes gostam

de ser contatados:

“De um modo geral, o cliente fica muito satisfeito quando a gente liga, pois

ele vê que a gente se importou. Se ele está satisfeito, ele agradece e elogia.

Caso não esteja, ele diz que vai sair, que não quer mais e etc. e a gente passa

para a área de relacionamento. Alguns já dizem isso até para passar para a

área de relacionamento, já é cliente da área”

A única situação nas quais o consumidor não é contatado para ser questionado

sobre sua satisfação com relação à sua reclamação é quando ocorre um problema

em massa que envolva a rede de transmissão, conforme ressalta a responsável

pelo SAC:

“A não ser quando ocorre um problema em massa. Que a gente também

resolve massivamente. Por exemplo, um problema na rede que afetou muitas

áreas ao mesmo tempo, ficou 15 minutos com aquele problema e entraram

200/300 reclamações no SAC. Mas, aí, quando você resolveu, você resolveu

para os 300 de uma vez. Nesse caso, a gente não entra em contato, pois o

cliente percebe que voltou. Se acontecer um problema massivo de outra

natureza, como contas, por exemplo, aí a gente envia um telemarketing ativo

para ligar para eles porque o backoffice não dá vazão. Em relação à rede, a

gente não faz um trabalho ativo”.

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5. ANÁLISE DOS CASOS

Neste capítulo será realizada a análise dos casos com base na revisão de

literatura.

5.1 Aspectos Organizacionais e Estruturais

Os SACs das duas empresas são gerenciados de maneira ativa, não

permanecendo como um serviço oculto aos olhos do consumidor, risco

mencionado por GRÖNROOS (1990) . Essa visão do SAC permite que ele possa

ser transformado de mero serviço ao consumidor em uma vantagem competitiva.

Além disso, a preocupação e a importância dada ao SAC nos casos estudados

parece indicar a consciência de que, conforme ressalta LOVELOCK (1991),

apesar de ser um serviço suplementar, o SAC torna-se essencial para o sucesso

de uma empresa.

Com relação aos aspectos organizacionais, ambos os SACs têm estrutura

formal. Segundo LANCIONI (1995), esse tipo de estrutura é normalmente

encontrada em firmas com mais de 150 empregados (o que se aplica às duas

empresas analisadas) e costuma ser menos reativa que uma estrutura informal

pois, nesta, há muito pouca dificuldade de encontrar a pessoa ou o departamento

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que possa escutar o consumidor e que tenha possibilidade de resolver seu

problema.

Entretanto, uma das hipóteses que pode ser considerada para adoção da

estrutura formal é o número de consumidores que cada empresa possui . Isto é,

se todos os consumidores entrassem em contato direto com o departamento (ou

pessoal) responsável pela resolução de sua reclamação (ou dúvida e solicitação)

é possível que o funcionamento das empresas ficasse comprometido. Além disso,

o fato de ambos os SACs declararem que utilizam as reclamações, solicitações e

dúvidas dos consumidores como subsídios para o “script” de seus operadores

pode ter como conseqüência o aumento da incidência de uma postura reativa do

SAC.

Outro aspecto examinado na descrição geral dos SACs foi sua posição

organizacional. Apesar de nenhum dos SACs analisados serem ligados

diretamente à presidência, os dois se reportam a diretorias( Diretoria de Talentos

Humanos e Qualidade na ATL e Diretoria de Clientes na Telefônica), isto é, alta-

gerência. Assim, segundo LANCIONI (1995), essa é uma estrutura considerada

de Reportagem Direta. Suas vantagens seriam o fluxo livre de comunicação do

SAC para os principais tomadores de decisão; possibilidade de obtenção de

recursos necessários para o desenvolver a estratégia de serviço ao consumidor da

firma sem a resistência de outros grupos gerenciais e autoridade de resolver

rapidamente os problemas dos consumidores.

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É interessante ressaltar que a distância do SAC à presidência da empresa

apresenta um nível hierárquico a mais na estrutura organizacional da Telefônica

em relação a da ATL. É possível que isto signifique que o SAC na Telêfonica

tenha um pouco menos de importância do que a ATL.

Pode-se ver nos casos estudados que as informações do SAC parecem chegar

à alta gerência através de relatórios, o que pode significar que exista um fluxo livre

de informações entre o SAC e os tomadores de decisão. Com relação à

possibilidade de obtenção de recursos sem resistência de outros grupos

gerenciais, os entrevistados não forneceram informações. Entretanto, como os

SACs estão ligados diretamente a diretorias, é provável que essa vantagem

também ocorra.

Com relação às diferenças, existe o fato do SAC da Telefônica ser terceirizado

e o da ATL, não. No primeiro caso, o responsável pelo SAC parece só enxergar

vantagens na terceirização (“A atividade fim da Telefônica não é essa,” “A

terceirização nunca é desvantajosa se você tiver um processo bem estabelecido”).

Segundo o ponto de vista do entrevistado, a Atento, empresa contratada de call

center, é capaz de ser mais ágil, prestar um melhor serviço e a Telefônica ficaria

com uma estrutura de SAC mais enxuta, se preocupando mais com a parte

gerencial. Já a ATL defende o SAC próprio argumentando que, apesar de não ser

uma atividade fim da empresa, é muito importante (“a área de atendimento tem

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uma importância forte para o negócio e, por isso, decidiu-se trabalhar com

funcionários próprios”) e o representante da empresa declara ser essa a única

maneira se ter um SAC envolvido e comprometido com os objetivos da empresa.

Com os relatos coletados, a partir das entrevistas, é possível notar que existem

divergências em relação às vantagens e desvantagens da terceirização do SAC.

Apesar de não poder se afirmar se a estrutura própria é melhor ou não que a

terceirizada, cabe ressaltar a declaração do atendente da Atento segundo a qual,

às vezes, a Telefônica fixa algumas metas muito difíceis de serem atendidas. É

possível que, se fosse uma relação entre dois departamentos da mesma empresa,

como no caso da ATL, a fixação de metas pudesse ser melhor discutida e/ou os

atendentes se esforçassem mais para alcançá-las, pois estariam mais envolvidos

já que seriam metas da empresa onde trabalham.

5.2 Contato com o SAC

Nos dois casos são mencionados uma variedade de meios através dos quais o

consumidor fica sabendo da existência do SAC (anúncios, contas etc.) e de canais

de que ele dispõe para contatá-lo (telefone, carta, e-mail, fax e lojas). Pode-se

dizer, portanto, que, se um consumidor quiser fazer uma reclamação, ele não

deverá enfrentar dificuldades em descobrir como proceder e terá à sua disposição

vários meios para realizá-la. Essa facilidade de contatar o SAC pode ajudar a

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maximizar o número de reclamações e, consequentemente, possibilitar a obtenção

das vantagens que seu tratamento e sua análise comportam, como:

- Identificar as áreas onde podem ser realizadas melhorias (SODERLUND,

1998 e STAUSS, 1992);

- Receber informações que podem ser utilizadas para satisfazer melhor o

consumidor (JONES e SASSER, 1995)

- Preservação da reputação da empresa e sua base de clientes (HANSEN et

al., 1996 e HART et al., 1990);

- Reduzir o gap entre as percepções dos consumidores e gerentes da

empresa sobre o produto/serviço (ZEITHAML e BERRY, 1985 e

WOODRUFF, 1997);

- Adequar as ofertas da empresa às necessidades do consumidor (BERRY e

PARASURAMAN, 1997);

- Antecipação das resoluções de problemas, evitando gastos com processos

judiciais ( MITCHELL, 1993);

- Fortalecimento da lealdade à marca (FORNELL e WERNERFELT, 1987);

- Melhorar a percepção do consumidor sobre a qualidade do serviço/produto

(LIU et al., 2000).

5.3 Tratamento das Reclamações e os Operadores

Em ambos os casos, os operadores têm, no mínimo, o segundo grau completo

e recebem treinamento tanto sobre a função em si quanto sobre os produtos das

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empresas em que trabalham. O treinamento relacionado à função de atendimento

está ligado às variáveis que depois são utilizadas na avaliação do funcionário e

podem estar relacionadas à percepção do consumidor sobre o tratamento de sua

reclamação. Este relacionamento será analisado mais adiante, mas é

interessante ressaltar que, se as variáveis influenciarem positivamente a avaliação

do consumidor do tratamento de sua reclamação, o treinamento será importante.

Já em relação ao treinamento sobre o produto, a ATL reconhece que, às vezes,

uma campanha de marketing ou um novo serviço/produto é lançado sem que os

funcionários do SAC estejam bem treinados. No caso da Telefônica, apesar do

responsável pelo SAC negar, o supervisor e o operador afirmam que isso também

acontece. Assim, em ambos os casos corre-se o risco do consumidor ligar pedindo

uma informação, um serviço ou até reclamando sobre um assunto e o operador

não saber sobre o que ele está falando. Assim, é possível que o cliente (potencial)

desista do serviço ou da informação e/ou fique irritado com a empresa,

principalmente se for uma reclamação.

Também nos dois casos analisados, o atendente deve se ater a um “script”. Por

um lado, pode-se dizer que esses “scripts” são políticas pré-estabelecidas para

resolver reclamações e que, segundo MITCHELL (1993), fazem com que o SAC

ganhe em continuidade e na redução de ambiguidades. Por outro lado, no entanto,

os atendentes perdem o poder de decisão. Para TAX, BROWN e

CHANDRASHEKARAN (1998), a autonomia poderia ajudar a resolver questões

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como rapidez, conveniência, acessibilidade e flexibilidade dos procedimentos de

reclamação, dimensões que influenciam a satisfação do consumidor. Assim,

mesmo que o “script” possa aumentar a reatividade do SAC em uma estrutura

formal, o empowerment dos atendentes tenderia a aumentar a possibilidade do

consumidor ficar satisfeito com o resultado de seu contato com o SAC. Na

Telefônica, essa questão da autonomia parece estar mais de acordo com as

colocações de TAX, BROWN e CHANDRASHEKARAN (1998), já que existe um

Backoffice composto por funcionários da empresa com maior poder de decisão

que um operador. Já na ATL, se a reclamação não puder ser resolvida com o

“script”, a solução só virá posteriormente, havendo a necessidade de novo

telefonema. Entretanto, a ATL declarou que existem alguns casos em que, se o

atendente entender que alguma área da empresa pode resolver o problema

imediatamente, ele pode transferir a ligação.

Ainda em relação aos operadores, suas sugestões são utilizadas nas duas

empresas para melhorar o “script” e, quando pertinente, são encaminhadas para

outros departamentos, podendo influenciar suas decisões. Uma vantagem desse

procedimento é tornar o “script” mais completo e, consequentemente, o SAC

passa a ter um grau de reação maior às colocações dos consumidores, não

necessitando recorrer à outras áreas. A segunda vantagem, ressaltada por

BERRY e PARASURAMAN (1997), diz respeito à qualidade. Segundo os autores,

a empresa necessita escutar seus consumidores internos (empregados) para

melhorar a qualidade de seus serviços. Outra vantagem possível seria um maior

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comprometimento por parte dos operadores, já que suas idéias estariam

colaborando para a melhora da empresa.

A segmentação no atendimento ao consumidor, visando uma melhor

capacitação dos operadores, é uma característica comum às duas empresas.

Entretanto, a ATL oferece níveis de serviços diferentes para consumidores

diferentes, enquanto a Telefônica, não. Essa prática pode ter, como conseqüência,

uma influência no processo de fidelização (LOVELOCK, 1991).

Com relação ao tratamento das reclamações, ESTELAMI (2000) desenvolveu

um modelo segundo o qual três variáveis de procedimento influenciam a

percepção do consumidor quanto ao resultado de sua reclamação: rapidez de

resposta, comportamento do empregado e compensação. As questões de

reatividade e flexibilidade analisadas nos dois casos estudados parecem estar

relacionadas à primeira variável, rapidez de resposta.

TAX, BROWN e CHANDRASHEKARAN (1998) também desenvolveram um

modelo que mostra como os consumidores avaliam o tratamento de suas

reclamações. Segundo os autores, o consumidor utiliza três dimensões de justiça

para avaliar o resultado de suas reclamações: justiça distributiva, justiça de

procedimentos e justiça interativa. De acordo com esse modelo, a justiça de

procedimentos é afetada pela reatividade, pela flexibilidade (duas variáveis já

analisadas), pelo reconhecimento da responsabilidade pelo problema, por parte da

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empresa e pelo fato da empresa contatar ou não o consumidor para saber se a

reclamação foi solucionada satisfatoriamente. Com relação ao reconhecimento da

culpa, não foram fornecidos dados para que seja possível afirmar se as empresas

costumam assumir ou não a responsabilidade. Já com relação ao contato, só a

Telefônica falou de um processo sistemático de contatar todos os consumidores

que reclamaram.

O comportamento do operador (ou justiça interativa) também influencia a

satisfação do consumidor com o resultado de sua reclamação. As duas empresas

estudadas treinam aspectos comportamentais de seus operadores e os avaliam

com base nelas.

A última variável que, segundo os modelos abordados, influencia a satisfação

do consumidor é a compensação (ou justiça distributiva). Tanto a Telefônica

quanto a ATL têm um departamento de relacionamento que estuda os pedidos de

compensação feito pelos consumidores. Entretanto, nenhuma delas oferece uma

compensação a um cliente sem que este peça. Não foi possível obter acesso ao

sistema de avaliação de compensação das empresas, isto é, como elas avaliam

se vão dar ou não a compensação pedida pelo consumidor. Pode-se observar, no

entanto, que essas posturas sugerem um comportamento pouco pró-ativo por

parte das duas empresas analisadas.

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Outra variável que afeta a justiça distributiva é a maneira como o operador

“entrega” o resultado da reclamação ao consumidor, havendo compensação ou

não. O treinamento e avaliação mencionados na justiça distributiva contemplam

essa variável.

Ainda sobre a justiça distributiva, os consumidores costumam esperar um

pedido de desculpa das empresas. De acordo com os entrevistados, os

atendentes das duas empresas costumam se desculpar caso entendam que o

objeto da reclamação é culpa da empresa

5.4 Análise das Reclamações

Além do tratamento, a análise das reclamações também é importante para a

empresa. De acordo com ADAMSON (1993), Além do tratamento individual das

reclamações, a empresa deve analisá-la com o objetivo de descobrir as razões da

insatisfação de seus consumidores. É a partir dessa análise que empresa

conseguirá “fazer direito da primeira vez” (ADAMSON, 1993), o que pode ser a

principal razão pela satisfação de seu consumidor.

Nos dois casos estudados, as representantes das empresas declaram que as

reclamações dos consumidores (junto com suas dúvidas e sugestões) se

transformam em relatórios que são utilizados como subsídio para tomada de

decisão da alta gerência e demais departamentos da empresa e na reformulação

constante do “script” e demais procedimentos do SAC. Entretanto, só a Telefônica

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menciona que utiliza esses relatórios diretamente na avaliação dos departamentos

da empresa.

A utilização das informações do SAC na avaliação de departamentos é positivo,

pois elas podem ser encaradas como um aviso do que não está certo, do que

pode melhorar em uma empresa (SODERLUND, 1998 e STAUSS, 1992). Além

disso, as informações podem indicar se um departamento está conseguindo fazer

algo a que se propôs. Entretanto, existe a possibilidade de que o SAC venha a ser

visto como um “dedo-duro corporativo,” isto é, um departamento que fica

apontando as falhas dos outros. Caso o SAC não tenha força dentro da empresa e

suas vantagens não estejam explícitas aos demais departamentos, ele pode

tornar-se alvo de má vontade e, até, boicote, ocorrendo o risco do aparecimento

do Círculo Vicioso das Reclamações dos Consumidores (FORNELL e

WERNERFELT, 1987).

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Quadro-resumo da análise dos casos

Aspectos Organizacionais e Estruturais

1) Semelhanças- Gerenciamento ativo - possível vantagem competitiva; diferencial- Estrutura formal- Estrutura de reportagem direta - Telefonica tem um nível a mais

2) Diferenças Telefônica - Terceirizado - Só enxerga vantagens ("A terceirização nunca é desvantajosa se você tiver um processo bem estabelecido”); não é atividade fim; Atento seria mais ágil; estrutura da Telefonica fica mais enxuta e só se preocuparia com a partegerencial.- Problemas na fixação de metas.ATL - Próprio- Apesar de não ser uma área fim, “a área de atendimento tem uma importânciaforte para o negócio e, por isso, decidiu-se trabalhar com funcionários próprios”Maior comprometimento dos funcionários do SAC.

Contato com o cliente

- Disponibilidade de um uma variedade de formas de contato - maximização dasreclamações

Vantagens como:- Identificar as áreas onde podem ser realizadas melhorias;- Receber informações que podem ser utilizadas para satisfazer melhor oconsumidor;- Antecipação das resoluções de problemas, evitando gastos com processos judiciais;- Reduzir o gap entre as percepções dos consumidores e gerentes da empresa sobre o produto/serviço; - Fortalecimento da lealdade à marca etc.

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Tratamento das reclamações

Dimensões de justiças utilizadas pelos consumidores:

1) Justiça de procedimentos- Reatividade (analisada)- Flexibilidade (analisada)- Reconhecimento da responsabilidade pelo problema ( não conclusivo)- Contatar o consumidor para saber sua satisfação (só a Telefonica tem um processo sistemático)

2) Justiça interativa- Aspectos comportamentais dos operadores (treinamento)

3) Justiça distributiva

- Compensação (Ambas são reativas, não pró-ativas)- Maneira da entrega do resultado (treinamento)- Pedidos de desculpas (ambas dizem fazer quando acham que a culpa é delas)

Análise das Reclamações

- Nos dois casos, as reclamações, sugestões e outras informações do SAC se transformam em relatórios que influenciam na tomada de decisão e reformulação do “script”

- Só a Telefonica utiliza os relatórios diretamente na avaliação dos departamentos:- Vantagens: aviso do que não está correto no departamento e/ou se ele está fazendo o que se propõe.- Desvantagens: possibilidade do SAC ser visto como um “dedo duro corporativo” - Círculo Vicioso das Reclamações dos Consumidores (aparentemente, não ocorre).

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este capítulo traz as considerações finais sobre os casos estudados e

sugestões para a realização de estudos futuros.

6.1 Discussão Final do Resultados

É cada vez mais difícil negar a importância de um canal de comunicação entre

empresa e consumidores. Mais do que um simples departamento que tenta evitar

que o consumidor procure a justiça devido a sua insatisfação com a empresa, o

SAC pode constituir um forte diferencial para a empresa devido às informações

que gera e a maneira com que lida com reclamações e dúvidas dos

consumidores. Sabe-se que, hoje, dúvidas e reclamações podem se transformar

em oportunidades para fidelizar o cliente.

Além de ressaltar essa importância, o presente estudo analisou o papel do

SAC em duas empresas de telefonia móvel no Brasil ao mostrar seu

funcionamento e outras características. Apesar de seu objetivo não ser a

generalização, isto é, afirmar que todos os SAC no setor telefonia se comportem

da mesma maneira, o estudo dos casos mostra que o SAC das empresas

analisadas têm muitas características semelhantes e algumas diferenças. Além

disso, essas características, ao serem confrontadas com a literatura sobre o

assunto, sugerem algumas conclusões e sugestões para estudos futuros.

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Com relação às semelhanças, os dois SACs ocupam elevado nível hierárquico,

o que pode significar que as empresas os encaram como departamentos

importantes e, mais crucial, que há um comprometimento do alta direção com

eles.

Nesse sentido, o estudo dos casos sugere a importância do SAC para o

funcionamento das empresas, pois transmite informações para outras áreas que

são utilizadas de várias maneiras como, por exemplo, método de coleta de

pesquisas de marketing e o modo mais apropriado de realizar as cobranças. Por

outro lado, os SACs recebem informações para esclarecer dúvidas dos

consumidores.

No caso específico das reclamações, ambos os SACs parecem fazer um bom

trabalho em relação às justiças interativa e de procedimentos. Entretanto, a

justiça distributiva ainda carece de maior atenção. Apesar das duas empresas

possuírem departamentos que lidam individualmente com os pedidos de

compensação dos clientes, nenhuma delas oferece nada sem que o cliente peça

antes. Assim, é possível que elas percam grandes chances de “encantarem” seus

consumidores.

Além disso, embora a ATL fale de fidelização e relacionamento, é possível que

essa falta de atenção em relação à justiça distributiva indique que os SACs

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analisados possuam uma visão de curo prazo ao invés de uma visão estratégica

de longo prazo.

No que diz respeito às divergências, parecem existir diferentes visões ou

percepções nas empresas analisadas quanto às principais funções dos seus

SACs. Essas diferenças podem estar associadas não apenas às estruturas

terceirizadas ou próprias, mas também à própria origem do SAC nas duas

empresas. Enquanto, na ATL, o SAC surge antes do funcionamento da própria

empresa, na Telefônica ele já surge em uma outra empresa terceirizada.

Quando se procura encontrar no discurso das duas empresas como as funções

do SAC são percebidas, a estrutura própria da ATL indica um envolvimento maior

com o consumidor, o que está mais próximo do conceito de marketing de

relacionamento (GRONROOS, 1994; GUMMESSON, 1987 e AIJO, 1996), quando

se localiza nas declarações dos entrevistados expressões relativas ao SAC como,

por exemplo, “um instrumento de relacionamento,” “um instrumento de fidelização”

e que, por isso, necessita ter funcionários que formem “um time comprometido” e

”com maior envolvimento com os clientes.”

Já na Telefônica, o discurso que aparece, a partir das entrevistas realizadas,

sobre as funções do SAC parece menos relacionado à construção de

relacionamento e fidelização e mais preocupado com a eficiência do processo,

com o “timing,” com a “agilidade do atendimento,” com o “controle do processo” e

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com a “gestão operacional,” ou seja, tudo que pode ser reunido como argumento

para justificar a contratação de uma outra empresa.

O discurso da Telefônica também sugere uma preocupação em realçar que a

eficiência buscada é operacional, não econômica: “não terceirizamos por razões

econômicas,” “não é uma minimização de custos.” No entanto, essa busca de

eficiência operacional pode ser questionada quando são relatadas, nas

entrevistas, ineficiências nos canais de comunicação Telefônica/Atento como, por

exemplo, quando do lançamento de novos produtos ou na implementação de

promoções.

São críticas a terceirização? Não, somente constatação de diferenças. A ATL e

seu SAC parecem ter um envolvimento ou entrelaçamento na busca de

construção de relacionamentos e de fidelização. Por outro lado, a Telefônica e seu

processo de terceirização parecem alcançar maior eficiência na operacionalização

do SAC. Ambas, portanto, possuem vantagens competitivas.

Constatar essas diferenças pode ser uma forma de contribuir para que cada

empresa reflita sobre as vantagens e desvantagens das estruturas de atendimento

que escolheram.

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Em um momento em que a estrutura do mercado está mudando com a entrada

de dois novos competidores6, o SAC, como um instrumento de fidelização ou

como um instrumento eficiente de comunicação com os clientes, pode ser um

importante diferencial.

Quadro-resumo da discussão final dos resultados

Principais Semelhanças

- O SAC ocupa um nível hierárquico alto (importância do departamento e possívelcomprometimento da alta gerência)- Departamento importante (fornece e recebe informações)- Parecem realizar um bom trabalho quanto às justiças interativa e de procedimentos- Deficiências na justiça distributiva

Principais Diferenças

- Visões/percepções quanto às principais funções do SAC

ATL

Demonstra maior envolvimento com o consumidor, visando mais o relacionamento e a fidelizaçãoSobre o SAC: é “um instrumento de relacionamento”; “um instrumento de fidelização”Sobre os funcionários do SAC: “um time comprometido”; “com maior envolvimento com os clientes."

Telefonica

Priorizam a eficiência operacional Mais preocupado com a eficiência do processo; com o “timming,” com “agilidade do atendimento,” com o controle do processo” - justificativas para contratação de uma outra empresa.

6 A Oi, empresa ligada a Telemar, começou a operar em 2002 e a TIM deve entrar no mercado entre 2002 e2003.

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6.2 Sugestões para Estudos Futuros

A principal sugestão é para um estudo mais profundo sobre diferenças entre

SACs terceirizados e próprios. É importante entender quais as vantagens e

desvantagens que cada modelo encerra (custos versus comprometimento, por

exemplo), para que uma empresa realize a melhor opção para seu negócio.

Uma outra sugestão de estudo se refere à autonomia dos funcionários do SAC.

Em ambos os casos, as empresas praticamente não conferem nenhum poder

decisório ao funcionário de linha de frente do SAC. Assim, seria interessante um

estudo que analisasse o impacto dessa falta de autonomia na satisfação dos

consumidores com o tratamento de suas reclamações e na

motivação/comprometimento dos atendentes do SAC.

Como terceira sugestão, seria interessante um estudo que enfoque a relação

dos outros departamentos da empresa com o SAC, analisando, por exemplo, o

fluxo de informações e a maneira que eles enxergam o SAC.7

Também seria interessante a realização de um estudo que visse o lado dos

consumidores, isto é, se eles percebem diferenças entre SACs de estrutura

próprias e de estruturas terceirizadas.

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Com a entrada de novos concorrentes, tornando o mercado mais competitivo, é

possível que ocorram mudanças no SAC da Telefônica e/ou da ATL. Assim, um

estudo poderia contemplar a ocorrência dessas mudanças, isto é, se elas

existiriam e quais seriam após a mudança da estrutura competitiva.

Finalmente, este tipo de estudo aqui realizado pode ser feito em vários outros

setores de atividade, pois o SAC começa a ser visto menos como uma parte

puramente operacional e mais como estratégico para o futuro das empresas.

7 O presente estudo consultou somente o departamento de marketing das empresas analisadas.

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ANEXO 1 – Roteiros elaborados para as entrevistas

A) QUESTÕES PARA O RESPONSÁVEL DO SAC

GERAIS

1. Como é denominado o Serviço de Atendimento ao Consumidor da empresa?

2. Quando e por que (motivos) ele foi implantado? Conte um pouco sobre a

evolução do SAC na empresa.

- Imitar a concorrência

- Atender as necessidades de outras áreas da empresa

- Ouvir e Conhecer o consumidor

- Para que o consumidor tenha um canal para falar com a empresa antes de

tomar medidas legais.

3. Como você avalia a importância do SAC para sua empresa?- Quais as funções/papéis atuais do SAC?

4. Como a empresa enxerga as reclamações dos consumidores?

- (transtornos, oportunidade de aperfeiçoamento, oportunidade de novos

negócios, controle de qualidade, oportunidade de conhecer melhor o

consumidor...)?

5. Qual a posição do SAC no organograma da empresa? Como é o

relacionamento da alta gerência com o SAC?

6. Como é a estrutura do SAC (nº de funcionários, escolaridade, tarefas...)?

Quem/Como é a pessoa responsável pelo SAC (escolaridade, reporta-se a que

dpt...)?

7. Como é a infra-estrutura do SAC? Eles podem consultar algum banco de

dados a respeito do consumidor (saber status da reclamação, histórico, quais

os produtos que o consumidor consome...)

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8. Qual a taxa de turnover dos funcionários do SAC?

OPERACIONAIS1. Quais as formas que o consumidor dispõe para acessar o SAC? Qual a mais

utilizada (%)?

2. Qual o horário de funcionamento do SAC?

3. Qual é o procedimento básico a partir do contato do cliente? (O que ocorre

quando o consumidor entra em contato com o SAC para reclamar?) Como o

consumidor sabe da existência do SAC? Há algum tipo de estímulo para que

ele entre em contato com o SAC (propaganda...)?

4. Os funcionários do SAC recebem algum treinamento específico? (o

treinamento acompanha o avanço tecnológico?)

5. Que tipo de poder decisório possui o funcionário do SAC?

- Eles tem poder para resolver os problemas (empowerment)? Qual decisão eles

podem tomar? Como é estabelecido o que ele pode ou não falar? E se o

consumidor perguntar algo que não esteja no script?

6. Caso não haja o funcionário do SAC não tenha poder decisório, como é o

procedimento (passam para outro departamento...)? Caso seja outro

departamento que receba a reclamação, é o consumidor que fala diretamente

ou é um funcionário do SAC? Essa pessoa do outro departamento é treinada

para lidar com o consumidor? Ele tem que parar seu trabalho para atender a

reclamação? Se for o funcionário do SAC, o que acontece com o consumidor

(fica esperando na linha, a empresa contata depois...)?

7. Como são utilizadas as informações obtidas pelo SAC? Elas são analisadas de

forma agregada? Como é realizada (que tipo) essa análise (quem analisa,

como, que softwares...)? O que se faz com o resultado da análise?

8. Por que as pessoas contatam o SAC? (distribuição % - reclamação,

informação, sugestão, elogio...) Quais os principais tipos de reclamações dos

consumidores? Qual a % de soluções/reclamações? E o tempo de solução,

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como é avaliado que o consumidor ficou satisfeito com o resultado e o tempo

de resolução?

9. Alguma parte do SAC é terceirizada? Qual? Por que? Quais os benefícios e

malefícios que a empresa enxerga nessa terceirização? O funcionário da

empresa tereceirizada pode responder por sua empresa?

10. Avanço tecnológico x necessidades diferenciadas? Como se faz a substituição

do ser humano pela tecnologia? Com base em que?

11. Como é o relacionamento do SAC com outras áreas da empresa? Quais

áreas? Como ocorre essa interação (reuniões, informalidade, relatório...)?

12. O SAC costuma receber inputs de outras áreas? Isto costuma ocorrer

corretamente (sem atraso, com todas as informações pertinentes etc.) Ex: a

informação de campanhas publicitárias/novos produtos promoções ocorre

adequadamente?

13. As informações obtidas pelo SAC servem para a avaliação de alguma área?

Essa área sabe disso? Pode haver algum mal-estar entre essa área com o

SAC (encarando-o como um estorvo) e este evite passar informações de

performance negativa?

14. O SAC está sujeito a algum tipo de avaliação por parte da empresa? Qual?

- Como o funcionário do SAC é avaliado? Em que base? É mais importante onúmero de telefones atendidos ou % de resolução de problemas?

15. Há algum procedimento para saber o que os funcionário do SAC acham dele?

(o que pode melhorar...)

16. Você considera os recursos disponibilizados para o SAC adequados ao seu

papel?

17. O SAC costuma contatar o consumidor para saber se ele ficou satisfeito com

os procedimentos da empresa (velocidade de atendimento das chamadas

telefônicas, de resposta, da velocidade e com a resolução em si,

cordialidade...)? Como a empresa fica sabendo se o consumidor ficou

satisfeito?

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18. A empresa costuma oferecer algum tipo de recompensa para o consumidor em

função de suas possíveis falhas?

19. Avanço tecnológico x necessidades diferenciadas? Como se faz a substituição

do ser humano pela tecnologia? Com base em que?

20. O sr. vê algum tipo de relação entre o SAC e a fidelização do seu consumidor?

21. O sr. acha que o SAC de sua empresa pode é visto como um diferencial

positivo (de imagem, de serviço...)?

B) QUESTÕES P/ O DEPARTAMENTO QUE RECEBE INFORMAÇÕES DO SAC

1. Qual seu departamento? Conte um pouco sobre ele.

2. Como é que você enxerga o SAC?

3. Como é que você enxerga uma reclamação do consumidor?

4. Qual a relação do seu departamento com o SAC?

- Recebe informações

- Fornece informações

- É avaliado através das informações coletadas pelo SAC

5. Como ocorrem os contatos do seu departamento com o SAC (reuniões,

informalidade...)?

- Quais são os tipos de informações mais freqüentes enviadas pelo SACpara seu departamento?6. Como seu departamento utiliza as informações coletadas pelo SAC? Acha que

poderiam ser melhor aproveitadas?

7. Como as pessoas do seu departamento reagem quando chega alguma

reclamação (sobre seu departamento) enviada pelo SAC? Também já chegou

algum elogio?

8. O seu departamento é avaliado por informações provenientes do SAC?

9. Outros: A empresa costuma se desculpar? E assumir responsabilidade pelo

problema? E oferecer recompensa? Vocês acompanham o dado %solução por

reclamação? E tempo prometido/cumprido? Como é que vocês trabalham a

questão de rapidez na resolução de uma reclamação/infra-estrutura da área?

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Empowerment? O SAC costuma passar ligações para vocês? Vocês recebem

treinamento de como lidar com o cliente?

C) QUESTÕES P/ O FUNCIONÁRIO DO SAC

1. O que ocorre quando o consumidor entra em contato com o SAC para

reclamar? Qual o procedimento?

2. Vocês tem poder para resolver os problemas (empowerment)? Qual decisão

vocês podem tomar? Como é estabelecido o que você pode ou não falar? E se

o consumidor perguntar algo que não esteja no script?

3. Caso não haja empowerment, como é o procedimento (passam para outro

departamento...)? Caso seja outro departamento que receba a reclamação, é o

consumidor que fala diretamente ou é um funcionário do SAC? Essa pessoa do

outro departamento é treinada para lidar com o consumidor? Ele tem que parar

seu trabalho para atender a reclamação? Se for o funcionário do SAC, o que

acontece com o consumidor (fica esperando na linha, a empresa contata

depois...)?

4. Como você é avaliado? Quais as variáveis utilizadas (tentar com o supervisor)?

Em que base? É mais importante o número de telefones atendidos ou % de

resolução de problemas?

5. A empresa procura saber a opinião de vocês sobre o SAC? (o que pode

melhorar...)

6. O vocês costumam contatar o consumidor para saber se ele ficou satisfeito

com os procedimentos da empresa (velocidade de atendimento das chamadas

telefônicas, de resposta, da velocidade e com a resolução em si,

cordialidade...)?

7. Vocês recebem treinamento ? Como é esse treinamento (o que enfoca etc.)?

Recebem treinamento para tratar o consumidor cordialmente?

8. A empresa costuma assumir seus erros para o consumidor? Costuma se

desculpar?

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9. A empresa costuma oferecer alguma recompensa para o consumidor?

O SAC costuma receber informações de outras áreas? Isto costuma ocorrer

corretamente (sem atraso, com todas as informações pertinentes etc.) Ex: a

informação de campanhas publicitárias/novos produtos promoções ocorre

adequadamente?