ser mulher, cientista é como é · paulo spranger (fotos) ... ria, cancro da mama, espinal medula,...

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Tiragem: 24416 País: Portugal Period.: Diária Âmbito: Informação Geral Pág: 40 Cores: Cor Área: 25,50 x 30,00 cm² Corte: 1 de 5 ID: 68787108 25-03-2017 ANA MAFALDA INÁCIO (textos) PAULO SPRANGER (fotos) Quando fala da paixão pela ciência, os olhos negros iluminam-se e o sorriso rasga-se: "Enquanto for assim não que- ro fazer outra coisa", confessa. Solteira, vaidosa, "muito girl", como diz, na for- ma de se vestir, pintar e apresentar-tal- vez, por isso, tenha de responder cons- tantemente ao facto de não "ter cara de cientista" - pertence ao grupo de pes- soas que fazem o que gostam. Isaura Marfins, Dra. Isaura, embora não goste do doutora, é uma das mais jovens cien- tistas do Instituto de Medicina Molecu- lar (IMM) de Lisboa.Tem 29 anos, é for- mada em Bioquímica, doutorada pela Universidade de Manchester em Neu- rociências. em doença de Alzheimer, e está a fazer um pós-doutoramento em Biologia do Desenvolvimento, na área da espinal medula, no laboratório che- fiado por Leonor Saúde. Formou-se em Bioquímica em Coimbra, zona onde nasceu, cresceu e começou a trabalhar em laboratório, no Centro de Neurociências. Em Inglater- ra, esteve quatro anos, a fazer doutora- mento. Podia ter ficado, mas regressou, "queria fazer ciência em Portugal". Não foi fácil, viu-se sem perspetivas de tra- balho. Mas é "uma mulher persistente", que "não desiste facilmente", e foi bater à porta do IMM. Ficou, mas mudou de área, o que entendeu como um desafio. Está na equipa chefiada por Leonor Saúde que trabalha a espinal medula.A ciência está em primeiro lugar, tem am- bições de chegar longe, não querendo pensar que pelo facto de ser mulher terá de fazer opções, de desistir do que quer que seja ou até de ser deixada para trás na competição pela partilha do poder. A não ser que essa decisão seja tomada por si, por"não querer fazer". A ela juntam-se outras cientistas bol- seiras mulheres. Marta, Inês e Susana, formadas em Engenharia Biológica e em Biologia, respetivamente, doutoradas, com 36 e 35 anos. Filipa e Patrícia, dou- toradas, após licenciaturas em Ciências Farmacêuticas e em Química, vão nos 37 e 38.Vanessa, também bióloga, tem 39. Restam Sales Ibiza, a espanhola do gru- po, com 39, que esteve seis anos em Por- tugal e agora está de partida para Barce- lona, e LinaPaez, a colombiana que che- gou cá em 2014, através da bolsa da UNESCO para as mulheres, e que ainda não sabe se irá ficar por cá. Todas têm algo que as une, a paixão pela ciência e a compensação que sentem, indepen- dentemente do tempo, quando desco- brem algo que pode ajudar a humanida- de. Mas todas têm também algo que as distingue. "Cada urna é como é", dizem. Há quem rejeite levara carreira até ao topo, há quem aceite, há quem não pen- se nisso. Todas dizem que nunca senti- ram a discriminação de género, mas quem estuda a matéria garante que ela existe. "É exercida de forma subtil", ex- plica a psicóloga Lígia Amâncio, que es- tuda o género e a igualdade. Mas estas cientistas já fazem parte de uma geração que pode continuara mudança que tem sido feita ao longo dos tempos e que, no IFIF1 4, 0 0 Isaura Martins é cientista no Instituto de Medicina Mole- cular de Lisboa. Fundado em 2002, é conside- rado um dos principais na área da investi- gação científica em Portugal. E já integra 765 funcionários, mais de 600 são investigadores, 447 mulheres e 169 homens a trabalhar nas áreas da malá- ria, cancro da mama, espinal medula, neuro- ciências, etc. 56 % dos doutorados em Portugal já são mulheres, de acor- do com os dados mais recentes da União Europeia, revelados no rela- tório "She Figures", em 2015 47% > é a média euro- peia de mulheres doutoradas. Portugal é o tercei- ro país com a taxa mais elevada, tendo só à frente a Letónia e a Lituânia. Abaixo estão países como Alemanha, Reino Unido, França e Espanha, cujas percentagens vão dos 43% aos 49% No mundo da ciéncia. Portugal é o país da União Europeia com a terceira taxa mais elevada de mulheres doutoradas. Na área científica já não estão em minoria, mas isso ainda não se traduz nos cargos de chefia. Por falta de ambi- ção, pela educação, por discriminação? Uma coisa é certa, a falta de creches nos locais de trabalho é um problema para as que querem ser mães. E há quem pense em fazer propostas concretas nesse sentido ao governo. Investigadoras do Instituto de Medicina Molecular contam ao DN as suas experiências Ser mulher, cientista ou chefe. "Cada uma é como é"

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Page 1: Ser mulher, cientista é como é · PAULO SPRANGER (fotos) ... ria, cancro da mama, espinal medula, neuro-ciências, etc. ... duro, cheguei a pensar desistir", desaba-fa,

Tiragem: 24416

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

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Corte: 1 de 5ID: 68787108 25-03-2017

ANA MAFALDA INÁCIO (textos) PAULO SPRANGER (fotos)

Quando fala da paixão pela ciência, os olhos negros iluminam-se e o sorriso rasga-se: "Enquanto for assim não que-ro fazer outra coisa", confessa. Solteira, vaidosa, "muito girl", como diz, na for-ma de se vestir, pintar e apresentar-tal-vez, por isso, tenha de responder cons-tantemente ao facto de não "ter cara de cientista" - pertence ao grupo de pes-soas que fazem o que gostam. Isaura Marfins, Dra. Isaura, embora não goste do doutora, é uma das mais jovens cien-tistas do Instituto de Medicina Molecu-lar (IMM) de Lisboa.Tem 29 anos, é for-mada em Bioquímica, doutorada pela Universidade de Manchester em Neu-rociências. em doença de Alzheimer, e está a fazer um pós-doutoramento em Biologia do Desenvolvimento, na área da espinal medula, no laboratório che-fiado por Leonor Saúde.

Formou-se em Bioquímica em Coimbra, zona onde nasceu, cresceu e começou a trabalhar em laboratório, no Centro de Neurociências. Em Inglater-ra, esteve quatro anos, a fazer doutora-mento. Podia ter ficado, mas regressou, "queria fazer ciência em Portugal". Não foi fácil, viu-se sem perspetivas de tra-balho. Mas é "uma mulher persistente", que "não desiste facilmente", e foi bater à porta do IMM. Ficou, mas mudou de área, o que entendeu como um desafio. Está na equipa chefiada por Leonor Saúde que trabalha a espinal medula.A ciência está em primeiro lugar, tem am-bições de chegar longe, não querendo pensar que pelo facto de ser mulher terá de fazer opções, de desistir do que quer que seja ou até de ser deixada para trás na competição pela partilha do poder. A não ser que essa decisão seja tomada por si, por"não querer fazer".

A ela juntam-se outras cientistas bol-seiras mulheres. Marta, Inês e Susana, formadas em Engenharia Biológica e em Biologia, respetivamente, doutoradas, com 36 e 35 anos. Filipa e Patrícia, dou-toradas, após licenciaturas em Ciências Farmacêuticas e em Química, vão nos 37 e 38.Vanessa, também bióloga, tem 39. Restam Sales Ibiza, a espanhola do gru-po, com 39, que esteve seis anos em Por-tugal e agora está de partida para Barce-lona, e LinaPaez, a colombiana que che-gou cá em 2014, através da bolsa da UNESCO para as mulheres, e que ainda não sabe se irá ficar por cá. Todas têm algo que as une, a paixão pela ciência e a compensação que sentem, indepen-dentemente do tempo, quando desco-brem algo que pode ajudar a humanida-de. Mas todas têm também algo que as distingue. "Cada urna é como é", dizem.

Há quem rejeite levara carreira até ao topo, há quem aceite, há quem não pen-se nisso. Todas dizem que nunca senti-ram a discriminação de género, mas quem estuda a matéria garante que ela existe. "É exercida de forma subtil", ex-plica a psicóloga Lígia Amâncio, que es-tuda o género e a igualdade. Mas estas cientistas já fazem parte de uma geração que pode continuara mudança que tem sido feita ao longo dos tempos e que, no

IFIF1 4,00

Isaura Martins é cientista no Instituto de Medicina Mole-cular de Lisboa. Fundado em 2002, é conside-rado um dos principais na área da investi-gação científica em Portugal. E já integra 765 funcionários, mais de 600 são investigadores, 447 mulheres e 169 homens a trabalhar nas áreas da malá-ria, cancro da mama, espinal medula, neuro-ciências, etc.

56% dos doutorados

em Portugal já são mulheres, de acor-do com os dados mais recentes da União Europeia, revelados no rela-tório "She Figures", em 2015

47% > é a média euro-peia de mulheres doutoradas. Portugal é o tercei-ro país com a taxa mais elevada, tendo só à frente a Letónia e a Lituânia. Abaixo estão países como Alemanha, Reino Unido, França e Espanha, cujas percentagens vão dos 43% aos 49%

No mundo da ciéncia. Portugal é o país da União Europeia com a terceira taxa mais elevada de mulheres doutoradas. Na área científica já não estão em minoria, mas isso ainda não se traduz nos cargos de chefia. Por falta de ambi-ção, pela educação, por discriminação? Uma coisa é certa, a falta de creches nos locais de trabalho é um problema para as que querem ser mães. E há quem pense em fazer propostas concretas nesse sentido ao governo. Investigadoras do Instituto de Medicina Molecular contam ao DN as suas experiências

Ser mulher, cientista ou chefe. "Cada uma é como é"

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Tiragem: 24416

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

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Marta Marques queria seguir Medicina, mas ingressou na Engenharia Biológica e decidiu ir para a vida da investi-gação. O traba-lho de doutora-mento de produ-ção de hidrogé-nio foi publi-cado nesta semana numa revista científica

Inês Bento dei-xou o ipatimup no Porto para se juntar à família em Lisboa. Apaixonou-se pela genética, mas investiga a malária no IMM

início do século XX. teve como exemplo Marie Currie, que começou por ser bar-rada no acesso à universidade, por ser mulher, mas que conseguiu formar-se na Universidade Floating, em Varsóvia, tornar-se professora universitária em Paris, onde se casou, e ser a primeira mu-lher a ganhar um Prémio Nobel, o da Fí-sica, em 1903, e o da Química, em 1911. Currie teve duas filhas, levava-as em via-gens, algumas de trabalho, criou dois centros de investigaçãoe unidades mó-veis de raio X durante a primeira guerra. Morreu em julho de 1934 com um linfo-ma, devido à exposição de radiações. Nada lhe foi fácil, mas costumava dizer: "Na vida nada tem de ser temido, tudo tem de ser compreendido."

Foi um exemplo de luta e resistência para as mulheres cientistas, que, em al-guns países, como em Portugal, já não são a minoria. Aliás, de acordo com o mais recente relatório da União Euro-peia que analisa dados dos 28 países, de 2004 a 2012, 56% dos doutorados são mulheres, o que nos coloca no terceiro lugar, atrás da Letónia e da Lituânia e bem à frente de Alemanha, Dinamarca, Reino Unido, França ou Espanha, em que a percentagem de representação vai dos 43% aos 49%. Só que não há dados concretos quanto à proporção de mu-lheres em cargos dirigentes. Em Portu-gal, a estatística não está centralizada, respondeu-nos o Ministério do Ensino Superior, da Ciência e Tecnologia.

Isaura, Marta, Inês, Susana Filipa, Pa-

trica, Vanessa e até mesmo Sales e Una estão a marcar a diferença. Nasceram nas décadas de 70,80 e 90 do século XX, entraram na escola e na universidade quando se registou o boorn de mulheres no ensino superior e no acesso às bolsas para a ciência -desde 1999 que há mais bolsas concedidas a mulheres do que a homens, tendo havido um pico nas anos de 2006 e 2007, quando foram entregues mais de mil só a mulheres. Em 2015, e com a falta de financiamento, pouco passaram das duzentas, segundo a Fun-dação para a Ciência e Tecnologia.

Se assim é, o que impede tantas mu-lheres de alcançarem o topo na carreira? Foi esta a questão que estas investigado-ras do IMM, que integram a associação pós-doc, que neste ano calhou todos os elementos serem mulheres, quiseram discutirno dia que é dedicado a todos os investigadores, o PostDoc Day, e para o qual convidaram, entre outros, uma cientista norte-americana e outra japo-nesa, para contarem as suas experiên-cias. Com os exemplos fizeram compa-rações e chegaram à conclusão de que há situações que cá não seriam possíveis -, como o caso da americana cujo mari-do suspendeu por cinco anos a sua car-reira para dar apoio aos filhos. "O meu marido aceitava isso, mas com o meu or-denado não nos sustentávamos", res-pondeMarta. Mas outras há que seriam viáveis, como infantários e creches no trabalho, com horários flexíveis, que é o que acontece no Japão.

Por mais encontros que se realizem, as dúvidas permanecem. São as mulhe-res que não aceitam cargos dirigentes porque se sentem pressionadas social-mente? Porque querem ser mães e ter um lado familiar? Porque optam por fa-zer o que gostam sem terem de se con-frontar com as "chatices e burocracias" que advêm da chefia? Ou será que as mulheres não estão para se sujeitar aos processos competitivos que levam à partilha do poder e não acreditam nas suas capacidades para líderes? Ou é urna característica feminina, um pa-drão dado pela educação?

A psicóloga Lígia Amâncio defende que não se trata de uma característica feminina, que não está na educação nem tão-pouco numa certa falta de am-bição da mulher, mas dos obstáculos que ainda lhe são colocados para che-gar ao poder. "Se é um homem que as-sume o poder, isso é visto como normal, e as suas decisões são avaliadas de for-ma racional, se estão certas ou erradas, se são justas ou injustas. Se é uma mu-lher, o juízo é transportado para a pró-pria pessoa.A decisão surge e é avaliada deforma subjetiva, porque ela é má, au-toritária ou porque é simpática. Ora isto acaba por ter um custo adicional e pe-noso parva mulher, que se vê frequen-temente em conflito. Isto é um obstácu-lo a atingir o poder."

Marta Marques Engenharia biológica Aos 36 anos, é casada, tem um filho de 5 anos e há três que adia um segundo. "Não podia pensar noutro filho sem a

certeza de que tenho alguma estabilida-de, e também não queria prejudicar o meu percurso. Comecei no IMM em se-tembro de 2016 e sentia que tinha de mostrar mais", confessa. Agora, conse-guiu a bolsa que procurava desde 2014, são mais seis anos num projeto de pós-- doc, tem assim alguma estabilidade, mas "não quer dizer que vá já avançar para o segundo filho", ri-se. Mas se tal acontecesse, sente que não seria preju-dicada. "No IMM as mulheres são bem--sucedidas, o que acaba por se traduzir na forma como olhamos para as coisas."

Filha de pai engenheiro e mãe médi-ca, achou que a medicina lhe encaixava bem, e como teve semprenotas altas não hesitou em seguir esse feeling. No 12.0 ano, sentiu a pressão e baixou as notas nos exames. Não conseguiu entrar, na al-tura falaram-lhe no curso de Engenharia Biológica, no Instituto Superior Técnico, achou que seria uma hipótese, mas o pri-meiro ano não correu bem. "O Técnico tem um ambiente muito masculino. Não me adaptei." Concorre segunda vez a Medidna e não consegue, acaba por fi-car no curso em que estava. "Foi difícil, mas acabei, achando sempre que não te-ria perfil para investigadora e que segui-ria a via empresarial ou industrial Só que fui fazer mestrado no Laboratório de In-vestigaçãoVeterinária e senti o gosto por este trabalho." Ao mestrado seguiu-se o doutoramento em Bioquímica Estrutu-ral em Oeiras, em 2010, ano em que se casou.A meio temo filho,"achei sempre

que as coisas iriam correr bem, mas foi duro, cheguei a pensar desistir", desaba-fa, explicando: "Fazia 150 quilómetros todos os dias, o meu filho não dormia durante a noite e tudo mexeu comigo. No laboratório tinha de estar com a con-centração máxima e ainda tinha a pres-são de ter de publicar. Houve uma altura que pensei que não aguentaria física e psicologicamente." Mas conseguiu. "0 problema do sono resolvi-o com uma te-rapeuta, a partir daí consegui organi-zar-me eproduzir ainda mais do que ou-tras colegas sem filhos. Tive muito apoio do meu marido e da minha família." Marta confessa que é das mulheres que se massacram e se culpabilizam sempre que acha não estar a dana máxima aten-ção ao filho, mas tenta arranjar soluções. "Evito trabalhar aos fins de semana, es-tar fora mais de uma semana, eu própria não gosto", e diz queo marido tem sido o seu maior aliado. Se a evolução a levar para um cargo dirigente, acredita que continuará a ter o seu apoio, e não dirá que não. Aliás, assume, "tenho trabalha-do para isso e gostaria que um dia essa oportunidade existisse". Nesta semana viu o seu trabalho de doutoramento na área da produção do hidrogénio ser pu-blicado na Nature Chemical Biology, muito diferente do que faz agora no IMM, ligado ao cancro. Para Marta a mensagem a passaras novas gerações de mulheres na ciência " é a de que acredi-tem sempre no potencial que têm, já que, muitas vezes, o medo de falhar nos afasta dos objetivos. Não temos de ser imaculadas, isso não existe. Nós falha-mos, levantamo-nos e avançamos".

Inês Bento Biologia Apaixonou-se pela genética e pela divi-são das células, embora agora aos 35 anos investigue a malária. rezo curso de Biologia na Universidade do Porto, ape-sar de ser da Lourinhã, "queria ir para longe, achava que se ficasse em Lisboa seriamais controlada pelos meus pais", afirma. Chegou ao Porto em 2000, logo depois teve a companhia do namorado -"sim, namorado, porque namoramos ►

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País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

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Susana Lobo, em cima, deixou a bata do IMM para passar para a investigação na área empre-sarial. Vanessa Luís, em baixo, deixou a ciência um ano para fazer volunta-riado em Moçambique, mas acabou por regressar

► há 17 anos". "Ele era jogador de futebol e conseguiu ir para equipas do Norte." Em 2005, tinha o curso deBiologia com a vertente cientifica, o estágio e o mes-trado em Ciências Neurodegenerativas. "Apesar de ter adorado o mestrado per-cebi que não era bem aquilo que queria e concorri a uma bolsa do Ipatimup para trabalhar na área do cancro da ti-roide. Foram dois anos "em que traba-lhei diretamente com o grupo do pro-fessor Sobrinho Simões", recorda, con-tando que ele teve alguma influência na decisão de regressar a Lisboa, em 2007. "Um dia fui falar-lhe das minhas dúvi-das. Ele aconselhou -me a perceber o que gostava realmente de fazer e onde? Na altura, Inês tinha 25 anos e decidiu que queria continuar a fazer ciência numa área que trabalhasse a divisão de células e voltara Lisboa. Candidatou-se a duas bolsas, foi aceite nas duas, o que foi um dilema na escolha. Acabou por fi-cara trabalhar com a cientista Mónica Bettencourt-Dias, no Instituto de Ciên-cia da Gulbenkian, no ciclo de regulação celular. Em outubro de 2008, começa o doutoramento, acaba em 2012 e o re-sultado foi publicado no ano passado na Science. Em 2014, teve o primeiro fi-lho e tudo mudou um pouco, gozou os c inco meses de maternidade e depois ingressou no IMM -"na entrevista disse à minha chefe que estava grávida e ela aceitou".'llabalha no grupo da malária e já teve um segundo filho. A rotina não é fácil, até porque mora no Barreiro, mas se se consegue dedicar à ciência da for-ma como o faz "é porqtie tenho uma pessoa ao meu lado que está a 100% co-migo na relação. Os e- mailse os telefo-nemas da escola do meu filho vão pára ele, não vêm para a mãe; conta. Gosta do que faze não sente que chegar a che-fe seja um percurso normal na sua car-reira. "Gosto muito do trabalho de ban-cada, por outro lado, teria de ser tão boa quanto as pessoas com quem já traba-lliei e que vi que abdicaram muito das suas vidas. Sei que teria o apoio do meu namorado, não sei se é o que quero."

Vanessa Luís Biologia Formada em biologia pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa,Va-nessa Luís, de 39 anos, introduz-sena conversa de forma simples:"Iènho uma vida, uma relação, um gato e não tenho filhos." Conta-nos que "não é de fazer planos alongo prazo, o que é bom e mau, mas assim não vive a angústia do quevai acontecer, como algumas colegas. Até agora, tem corrido bem e não precisou de mudar. No liceu sabia que queria se-guir Ciências, por oposição às Artes ou às Humanidades, mas não fazia a mínima ideia em que área. O pai é engenheiro, mas não era isso que queria, e um dia a revelação surge pela professora de Bio-logia, que anuncia que se vai reformar e voltarà universidade para estudar o que sempre foi a sua grande paixão: História. "Eu achei o máximo, a minha professo-ra de Biologia foi uma fonte de inspira-ção, mas quando me perguntavam se eu queria Ser professora, eu sabia que não." Na altura, não havia muitas saídas, mas

aos poucos percebeu que queria fazer ciência e em laboratório, "adorei a disci-plina de Biologia do Desenvolvimento e a professora disse-me que teria de ter uma boa média para me candidatar a uma bolsa". Foi o que fez, defendeu a tese de licenciatura em 2001, ao mesmo tem-po que se candidatava auma bolsa de in-tegração. la começar em outubro, mas em agosto abriram vagas para o progra-ma doutoral da Gulbenidan e a pessoa com quem trabalhava aconselhou-a a concorrer, aceitaram-na e escolheu Bio-logiado Desenvolvimento. Foi até aos EUA, não gostou e seguiu para a Univer-sidade de Cantábria, em Espanha, para se doutorar. Foram quatrosanos a inves-tirna ciência, quando terminoupensou que não tinha feito tantas outras coisas que gostava. "Para desgosto da família e do meu chefe deixei a ciência e fui fazer voluntariado para Moçambique, duran-te um ano, numa escola de formação de professores." Ali ensinou inglês, infor-mática, ciência e de tudo um pouco. Adorou, "só regressei por não poder fi-car." Chegou em 2007, um pouco perdi-da sobre o que iria fazer. Um dia foi assis-tir à tese de doutoramento de uma ami-ga no IMM e o bichinho da ciência voltou. Candidatou-se a uma bolsa e fi-cou na investigação à malária, já lá vão nove anos. Hoje é das bolseiras seniores do laboratório. Diz que gosta de fazer o que faze não tema certezade que se fos-se confrontada com a chefia aceitaria o desafio. Talvez por comodismo, "gosto muito do trabalho de bancada, de orien-tar estudantes, de ter ideias, de as levar a cabo e até de procurar financiamento para elas, mas faço-o porque tenho li-berdade para o fazer, não por obrigação ou por não ter outra opção".

Susana Lobo Biologia Lembra-se da sua paixão pela ciência desde criança. Quando falámos estava no IMM em pós-doutoramento, na área do cancro, com uma bolsa, e a ter de de-finir° que iria fazer quando esta acabas-se. Disse-nos que punha a hipótese de poder passar para o outro lado, para a área industrial, onde é mais seguro e se ganha mais. Susana já saiu do instituto e abraça um novo desafio.Tern 35 anos, ti-rou o curso na Universidade Lusófona e doutorou-se em Bioquímica na Nova. É das cientistas que não sentem dúvidas quando diz que, se algum dia lhe apare-cer uma hipótese de um cargo dirigente,

Patrícia Costa cresceu a pensar que queria curar o

cancro e investiga para isso

N laria N lota Biologia É diretora executiva do IMM desde 4 de abril de 2014. Quando foi abordada para o cargo teve dúvidas, "não pessoais ou pelo facto de ser mulher", mas pelo "re-ceio de que o cargo de direção me tiraria tempo para aquilo que gosto de fazer. E gosto é de ser cientista", afirma. Maria recebe-nos no seu gabinete numa sex-ta-feira àtarde. Tem a agenda preenchi-da e o tempo não é muito, mas a conver-sa rola e levamos quase duas horas. Fala--nos da sua vida como se estivesse a contar uma história, de como "tudo foi fruto do acaso e das opções que fez", até na escolha do marido, embora agora di-vorciada,"que é uma pessoa formidável e que me deu sempre todo o apoio". Por isso, considera-se "uma sortuda". E ex-plica: "Nesta fase, já não sou eu que faço as experiências, são as que pessoas que trabalham para elas e para mim, por isso tenho de me adaptar aos vários ritmos, mas a minha saciedade é saciada pelos resultados que elas obtêm, e adoro isso; diz com um sorriso nos lábios e um leve sotaque do Porto, cidade onde tirou Bio-logia na Faculdade de Ciências.

Nasceu em Vila Nova de Gaia há 45 anos. Logo a seguir ao curso fez mestra-do em Imunologia, a meio foi para Lon-dres, ali acabou o mestrado e tirou o dou-toramento em Parasitologia, acabou por ficar mais quatros anos. "Conheci uma pessoa que dava aulas num laboratório em Londres e que me convidou para ir

vero que estavam a fazer, gostei tanto que fiquei." O marido foi com ela. Se-guiu-se Nova Iorque e o labortório de Victor Nussenzweig, onde queria traba-lhar por ser dos mais importantes na área da malária. Ficou três anos. "Era o acordo que tinha como meu marido, ele queria voltara Portugal ao fim deste tem-po. Fiz contactos e achei que me poderia candidatar ao Instituto de Ciência da Gulbenkian, parecia-me sero local ideal para fazer o que queria. Depois tive um convite do IMM e mudei-me para aqui."

Nunca pôs a questão de ter de decidir entre o lado profissional, pessoal ou fa-miliar, acredita que são "as nossas esco-lhas que nos permitem fazer determi-nadas coisas': Mas reconhece que tem uma vantagem: "Sou uma pessoa mui-to prática e com uma grande flexibilida-de mental." E explica, convicta: "Não sinto a culpabilização que outras mu-

não pensará duas vezes, isto apesar de querer ter também o seu lado familiar, o querer ser mãe faz parte dos seus proje-tos, mas até agora não foi possível. Acha que "será possível conjugar tudo", em-bora afirme que vê o esforço e o sacrificio que algumas colegas fazem.

Patrícia Costa Bioquímica Esteve dez anos no Reino Unido. Foi no Kings College que fez o doutoramento na área do cancro. Foram quatro anos, depois passou para o Queen Mary Uni-versitypara fazer um pós-doutoramen-to em Biotecnologia. Em 2015, voltou a PortugaL "Sempre tive o bichinho de re-gressar. Votei pela minha família"; ape-sarde ser solteira e de dizer que não tem a exigência de arranjar um namorado. "A ciência é espetacular e quando se descobre alguma coisa verdadeiramen-te nova sente-se algo indescritível", afir-maTirou Bioquímica Aplicada na Uni-versidade Nova de Lisboa, fez um está-gio no IPO de Lisboa-"fiquei superfeliz quando o consegui. Queria curar o can-cro. Estive lá dois anos, depois senti que queria fazer mais e fui para fora". Está no IMM há ano e meio e considera que agora está na altura de progredir, de conseguir financiamento para os pró-prios projetos.lbm concorrido a bolsas, como à Marie Curie, mas ainda não foi aceite. Sabe que tem hipóteses de ser chefe de grupo, gerir o seu projeto. Seria um passo na carreira, mas questiona-se: "Será que vou conseguir?" Só espera não ter de voltara sair do país.

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País: Portugal

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e ENTREVISTA

"Instituições têm de olhar para as pessoas como um todo"

a

MARIA DO CARMO FONSECA

PRESIDENTE DO INSTITUTO DE MEDICINA MOLECULAR

lheres sentem porterem de deixar os fi-lhos no infantário ou por terem de lhes retirar algumas horas para trabalharem. Quando estou, estou." Continuando:"A minha vida é compostapor várias esfe-ras que vão diminuindo ou aumentan-do conforme as necessidades, embora perceba que tenho a sorte de ter uma profissão que me permite gerir o meu tempo. Se for preciso trabalhar 72 horas seguidas, a minha equipa sabe que o faço, mas se for preciso estar das 09.00 às 16.00 e voltar a fazê-lo mais tarde, também o faço. Muitas vezes há ele-mentos que se juntam em minha casa para trabalharmos. E só o poder fazer isto é uma felicidade enorme."

Maria tem duas filhas, Inês de 15 anos, e Vânia, de 1 1 . Ficou grávida uma vez e, sem problemas de juízos admite, "gostei muito, mas percebi que não que-ria mais. É o tipo de viagem a que uma

pessoa vai, gosta bastante, acha bonito, mas depois sabe que há tanto mundo para conhecer que não vai lá voltar, a não ser que seja por uma razão muito especial. Nunca fui daquele tipo de mu-lher que achava que ser mãe era tudo." Mas como o marido queria mais filhos, um dia perguntou-lhe: "E se adotásse-mos?" Candidataram-se, quando a criança apareceu tinham passado qua-tro anos, já não pensavam no assunto. "Numa noite tivemos de decidir se que-ríamos ou não. Foi uma gravidez de 15 dias. Tivemos de organizar tudo para re-ceber aVânia, já com 2 anos, em casa. Foi uma altura em que a esfera profis-sional diminuiu. Ela não foi logo para um infantário e eu organizava tudo no instituto para poder fazer reuniões e tra-balhar durante os períodos das sestas. Esteve. empre acompanhada e a adap-tação foi boa." As minhas filhas dizem que sou diferente, mas também lhes pergunto se algum diaprecisaram de al-guma coisa e eu não estava lá."

Maria Mota recebeu o Prémio Pessoa em 2013, mas diz que o seu papel na so-ciedade é mais como cidadã do mundo e, esse, é o de "transmitir a ideia de que a sociedade não tem de pensar que há um papel para o homem e outro para a mu-lher. Somos diferentes, sem dúvida Que-remos ser iguais? Não. Contribuímos de forma diferente, não quero as minhas colaboradoras apensar que têm de ser supermulheres ou supermães. Não so-mos perfeitos. Esse é, muitas vezes, o erro das mulheres." E reforça: "Acho que é a diversidade que nos dá a riqueza. Não é comíeis que mudamos isto, é com mentalidades. O problema é que é mui-to fácil justificar tudo com o lado bioló-gico, damos àluz e os homens não."

Para a cientista, o importante é sa-bermos o papel que cada um tem na so-ciedade e esse "ser assumido com trans-parência e sem pressões. Sobre si diz: "Sou muito feliz por ter duas filhas ma-ravilhosas. E o tempo que passo com elas é o que deixo para o resto da vida, mas eu não seria feliz se não tivesse um outro propósito, e, esse, sem dúvida, é ser cientista, não é ser diretora." Afinal, cada uma é como é...

Maria Mota tem 45 anos. Descreve-se como sendo uma pessoa entusiasta e com um ritmo acele-rado, a quem a própria equipa, às vezes, tem de impor limi-tes."Dizem-me: `Maria, temos de parar'." Mas é assim porque "adoro o que faço"

100 > mil pessoas que trabalham na área da ciência em Portugal. Dados do ministério referem que, em 2014, eram 96 952 fun-cionários. Destes, 43 862 investiga-dores.homens e 34 874 mulheres.

1495 > euros é quanto ganha um investi-gador bolseiro em Portugal, "muito menos do que em outros países", dizem-nos.

Associação quer levar ao governo proposta para criação de creches

CONDIÇÕES Creches e infantários nos locais de trabalho, salas de ama-mentação e parques de estaciona-mento próprios são algumas das condições que não existem em Por-tugal e que são referenciadas por mulheres cientistas como algo que poderia facilitaro processo de deci-são quando têm de optar entre uma carreira com um cargo de chefia ou o lado familiar. Maria João Bebiano, presidente da Associação das Mu-lheres Cientistas (APOM ET), disse ao DN: "Estamos a recolher infor-mação para apresentar ao governo, provavelmente através da Comis-são de Igualdade e de Género, uma proposta que preveja a criação de este tipo de equipamentos e de ou-tro que possamajudar as mulheres", garantiu. A APOMET só não o fez antes porque, apesar de ter sido criada em 2005 com o objetivo de representaras mulheres na ciência, "tem tido alguma dificuldade em se afirmar", admite, "agora considera-mos que já temos um lugar na so-ciedade e que podemos avançar com certos projetos". Segundo a professora catedrática da Universi-dade do Algarve, "a ausência de mu-lheres nos cargos de chefia é uma realidade de há muito e há que ten-tar combater". No entanto, acres-centa, se não chegam lá é porque ainda há "uma certa desconfiança do que seria ter uma mulher à fren-te de determinados cargos. Há um certo protecionismo que, aliado aos processos de seleção muito compe-titivos, as vão afastando da chefia". Dá como exemplo avia académica, onde há três reitoras, duas no ensi-no público e uma privado, nas mais de 20 instituições.

Como se explica que haja tantas mu-lheres a desistir de chegar ao topo da carreira? É discriminação, falta de ambição, de apoio nos locais de tra-balho, da legislação? As mulheres não desistem de estar li-gadas à área científica, desistem é da luta devirem a ser investigadoras prin-cipais e de terem outras responsabili-dades. Preferem manter a carreira e um trabalho que seja mais controla-do, em que conseguem ter um horá-rio de entrada e saída, organizando a sua vida em função disso. Na lideran-ça científica o horário é imprevisível. A sociedade portuguesa é machista? Depende do que quisermos enten-der por machismo. Eu nunca ouvi uma mulher dizer-me que foi discri-minada por ser mulher. Eu própria nunca o senti em nenhuma fase da minha vida. Portanto, nesse aspeto, não se pode dizer que a nossa socie-dade seja machista. Mas faltam medidas polIdcas? As políticas estão definidas e são para qualquer mulher. Não vale a pena estar a pôr o ónus uma vez mais nos gover-nos, porque estas questões são muito específicas de cada local de trabalho e de cada área. Não há uma solução igual para todos. Mas acho muito impor-tante que a sociedade fale e se cons-cienciali7P de algumas necessidades. Tem que ver com a forma como as instituições devem evoluir? Exatamente, as nossas instituições têm de perceber que as pessoas não são máquinas. Não podem assumiro papel de que recrutam as pessoas para tra-balhar e depois não têm nada que ver coma vida delas. As pessoas têm de ser vistas como se fossem um todo, e as instituições têm de olhar para o aspe-to humano e familiar, que é tão im-portante como o profissional. Uma pessoa que está confortável, relaxada e bem, tem as melhores ideias e será mais criativa e produtiva. O IMM tem alguma proposta? Tem-se discutido internamente e cada vez mais. O problema é que os fundos para a ciência estão a ser tão reduzi-dos que vai ser difícil às instituições co-locar os infantários como uma priori-dade, se não há dinheiro para pagar aos cientistas e para desenvolver in-vestigação. Os períodos de austerida-de tendem a desfavorecer as tentati-vas de se criar condições ou de se faci-litar a vida dos homens e das mulhe-res cientistas ou das mulheres que pre-tendem ascender a cargos de chefia.

Page 5: Ser mulher, cientista é como é · PAULO SPRANGER (fotos) ... ria, cancro da mama, espinal medula, neuro-ciências, etc. ... duro, cheguei a pensar desistir", desaba-fa,

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Âmbito: Informação Geral

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