sentenÇa - unodc.org · testemunha: também não lembro ... eu sei, a única coisa que me lembro...

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97.r3.01651-3/RS AUTOR REU ADVOGADO Poder Judiciário JUSTIçA FEDERÁL Seção Judiciária do Rio Grande do Sul lu Varâ Fcdcral e Juizado Especial Federal Criminâle Prcvidenciário de Uruguaiana AÇÃO PENAL PÚBLICA (PROCEDIMENTO CRIMINAL COMUIVT) N" JUSTICAPUBLICA LUIZ ARNALDO DA SILVA MARTINS RAUL THEVENETPAIVA RAFAEL TEIXEIRA DUTRA GILMÀR EDORWIEDENHOFT SENTENÇA O Ministério Público Fcderal ofereceu denúnciacontra LUIZ ARNALDO DA SILVA MARTINS, vulgo"Dragão", brasileiro, casado, taxista, filho de Nadir Martinse Gelssy da SilvaMartins, natural de Rosririo do Sul/RS, portador da Cédula de Identidade n' 1008984617-SSP/RS' residente e ãomiciliado na Rua EstilacLeal, Travessa 43, n" 3892,Baino Luiz Quevcdo, Uruguaiana./RS; Segundo a denúncia: "Em 08 de outubro de 1997, por volta das 2lh, neste Município o denuncíado promoveu a saída do País das menores - -, nascidoem 25/03/83, - nnçriàn em I l/05/81 e tlascldã en 10/07/81, com o fito de as mesmas exercerem o prosliluiÇão emuma boate argenlina Em relaçãoàs menores '--' alcunha "J", " O o crime em foco deu-se na forma lentada" A denúncia capitulou o ilícito,em tese, praticado peloacusado, nos artigos 231, $ 1",14, inciso I, por 3 vezcs, e II, porduas vezes; art' 224'alínea a' e Zã6. mciso I e 148, $ 1o, inòiso IIi, c/c o aÍtigo 29 e 69, além dosartigos 61, alínea h e 62,inciso III, todos do Código Penal. A denúncia foi recebida em28-l l-03 (f1.277)' O réu, devidamente citado (fl 281), foi interrogado' fls 283/304' tendo apresentado defesa prévia, (Í1. 309). As tcstemunhas arroladas pclo Ministério Público Federal foram ouvidas às fls.3441351, 4041422,3521372 e 3361343' lAlAo/AlAl 24tt221.V001 l/14 97.13.01ó51-l Sentença Tipo D

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97.r3.01651-3/RSAUTORREUADVOGADO

Poder JudiciárioJUSTIçA FEDERÁL

Seção Judiciária do Rio Grande do Sullu Varâ Fcdcral e Juizado Especial Federal Criminâl e Prcvidenciário de Uruguaiana

AÇÃO PENAL PÚBLICA (PROCEDIMENTO CRIMINAL COMUIVT) N"

JUSTICA PUBLICALUIZ ARNALDO DA SILVA MARTINSRAUL THEVENET PAIVARAFAEL TEIXEIRA DUTRAGILMÀR EDORWIEDENHOFT

SENTENÇA

O Ministério Público Fcderal ofereceu denúncia contra LUIZARNALDO DA SILVA MARTINS, vulgo "Dragão", brasileiro, casado, taxista,filho de Nadir Martins e Gelssy da Silva Martins, natural de Rosririo do Sul/RS,portador da Cédula de Identidade n' 1008984617-SSP/RS' residente eãomiciliado na Rua Estilac Leal, Travessa 43, n" 3892, Baino Luiz Quevcdo,Uruguaiana./RS;

Segundo a denúncia:

"Em 08 de outubro de 1997, por volta das 2lh, neste Município odenuncíado promoveu a saída do País das menores --, nascido em 25/03/83,-

nnçriàn em I l/05/81 e

tlascldã en 10/07/81, com o fito de as mesmas exercerem oprosliluiÇão em uma boate argenlinaEm relação às menores '--' alcunha "J", "O o crime em foco deu-se na forma lentada"

A denúncia capitulou o ilícito, em tese, praticado pelo acusado, nosartigos 231, $ 1", 14, inciso I, por 3 vezcs, e II, por duas vezes; art' 224'alínea a'e Zã6. mciso I e 148, $ 1o, inòiso IIi, c/c o aÍtigo 29 e 69, além dos artigos 61,alínea h e 62, inciso III, todos do Código Penal.

A denúncia foi recebida em 28-l l-03 (f1.277)'

O réu, devidamente citado (fl 281), foi interrogado' fls 283/304'tendo apresentado defesa prévia, (Í1. 309).

As tcstemunhas arroladas pclo Ministério Público Federal foramouvidas às fls. 3441351, 4041422,3521372 e 3361343'

lAlAo/AlAl24t t221.V001 l /149 7 . 1 3 . 0 1 ó 5 1 - l

Sentença Tipo D

Em substituição à testemunha il foramouvidas como testemunhas arroladas pela defesa |fJ (Íls.

--

Aberto o prazo do aÍigo 499 do CPP o Ministério Público Federalveio aos autos aditar a denúncia com o fim de incluir a pessoa de Izaltina no pólopassivo do prcsente feito, tendo sido rejeitado tal aditamento (f1's.448/449).

Inconformado com aquela decisão, o órgão acusador interpôsrecurso em sentido estrito, ao qual foi dado parcial provimento, a fim de quefosse recebida a denúncia contra Isaltina, vulgo "Patrícia", "Pata" ou "Pato" (fls.4861490).

Ìx n. qSZ foi determinada a cisão do feito para processamento daco-denunciada Isaltina.

A defesa nada requereu no prazo do artigo 499 do CPP.

Foram juntados os antecedentes do réu (fls. 456 e 4631463)'

No prazo do artigo 500 do CPP, o Ministério Público Fcderalapresentou alegações finais (fl. 411/481), requerendo a condenação do réu naspènas do arl.23l, $$ l" e 2', c/c 14, inciso I e II; e artigo 70, parte final' todos doCódigo Pcnal.

A defesa apresentou alegações finais (fls. 499/505)' requercndo aabsolvição do réu, em face da ausência de provas de que tenha concorrido para ainfração penal que lhe imputada na peça acusatória.

Após, vieram os autos conclusos para sentença.

RELATEI. DECIDO.

Podcr JudiciárioJUSTIÇA FEDERÂL

Secão Judiciáriâ do Rio Crandc do SuÌl 'Vara Fcderal c Juizado Especial Fcdcral Criminal e Previdenciário de Uruguaiana

MARTINS,Segundo a inicial, o denunciado LUIZ ARNALDO DA SILVA

no ãiu 08-t0-t997, promoveu a saída do país das menoresll

-, com a finalidadé de exercerem asendo que, em relação às menores

- o deÌito teria ocorido na forma tentada' uma .vez que estas últimasGilild"ristido da viagem quando já estavam no intcrior do vcículo do acusado.

Sentença Tipo D

uma boate argentlna,de alcunha "f ',

"

prostituição em

lAlAo/AIAI24t1221.v00'7 2t1497.13 .01651-3

Podcr Judiciário

,"-u " r,'oY.ìI-t :t"ïï Ecïl"Lo

o oo s, rI" Vara Fcderal c Juizado Espccial Fcdcral Criminâl e Prcvidenciário dc Uruguaiana

Dão conta os autos que no mês de novembro de 1997 as menoressupracitadas foram retidas na Argentina e expulsas daquele país (fls. 23134), bemcomo de que lá estavam morando em uma Wiskeria "AQUI ESTOY" (Í1,s.23134).

O róu quando intenogado (fls. 285/304) confirmou ter lcvado asmeninas para a Argentina em seu táxi, no entanto, alcga que não conhecia"Patrícia" ncm as vítimas, afirmando ter-se tratado de uma conida de táxinormal, já quc não sabia quc as meninas cram menores e que iriam se prostituir,conformc trccho que segue transcrito:

"Juíz: Passando ao parágrafo 2" do art. l87: Essa acusação quelhe é feita, ela é verdodeira?Réu: Olha, essa Paftícia, essa aí, eu não conheço ela, entendeu. Ásmeninas também eu não conheço, não sei quem são elas. Eu fz acorrida realmente, eu fz. Eu tava no ponto de táxí, onde é o meuponto até hoje, e ela chegou lá no momenío, até o tempo esíava dechuva, eu lembro que o tempo esÍava de chuva na época, elachegou e pediu pra eu fazer uma corrida pra ela, ela tava commuita pressa. "Se eu lava ocupado ou não", aí eu disse pra ela queeu não tava ocupado, daí ela "vou fazer um lanche entào, e osenhor faz uma corrida pra mim, pra Libres", eu "tá bom", aí euaguardei ela. Aí ela pegou, fez um lanche lá, e pegou o titxí. Aí"nós temos que passar na Setembrino, pro pegar umas amigasminha", aí eu levei ela até o Setembrino, onde parou em frente aoposto Pilon, ali ela desceu do táxi e voltou com as menìnas, volloucom as menìnas, queria levar seis menìnas pra Libres. Tá, mas asmenìnas também, eu não sei se eram menor na época, diz isso aíque eram menor, eu também, eu acho que eu não lenho doulor quepedir documenlo pra passogeiro. Elas passaram por duas policias,passaram pela polícia federal, na aduana nossa, que era revisladana ëpoca, passaram pela Gendar de Libres, foram identifcados naGendarmeria de Libres, e eu descarreguei elas no ouíro lado. Umacorrida normal, cheguei, deixei ela no posto, na entrada da ponteali, e retornei pra buscar as outras três, porque eu dìsse que seiseu não levava. Aí quando eu voltei pra levar as oulras três, que eladisse pra eu vir buscar, ela disse assim pra mim "vou eu e minhaamiga só, que as oulras vão ir amanhã, que tavom com problemade documento", aí eu levei a amiga dela junto, que di: ser

lAlAo/AIAI24tt221.V001 3ll49 7 . 1 3 . 0 1 6 5 1 - 3

Sentença Tipo D

Poder JudiciárioJUSTIÇA FEDERAL

Seção Judiciária do Rio Gr.nde do Sull ' Vara Fedcral c Juizado Especial Federâl Criminal e Previdenciário de Uruguâiana

funcionárìa dela. Agora, eu não sei nem que jeito essa moÇa lem,foi de noite, foi de noite".

A alegação do acusado de que se tÍaÍava de uma corrida normal detáxi, bem como de que não tiúa ciência da idade das meninas e da finalidadepara a qual estavam indo para a Argentina, conflita com a prova carreada aosautos.

E que os depoimentos das testemunhas arroladas pela acusaçãodemonstram que o réu tinha ciência de que as vítimas eram menores, conforme sedepreende de trechos do depoimento a seguir transcrito:

fls.3521372)

"fl. 361 - Juix: e como foi pora pussar na ponte?Testemunha: também não lembro ... eu sei, a única coisa que melembro que a dona da boaíe dizia assim, não eu vou na frenle e tuleva elas mais atrás, porque no caso se pegarem nós menor comela, ela ia presa, atë pela própria gendarmeria, aí eu seì que nósacabemo indo tudo junto, cruzemo a fronleira tudo, mas eu não melembro se eles pediram documento ou se ela pagou, eu nào sei,porque foi uma coisa assim rápida sabe, e eu tava meio nos tragotambém (...)fl. 367 - Juiz: Na ocasião houve algum comentário sobre a idodeda senhora, das suas amìgas?Testemunha: houve, houve.Juiz: dentro do táxi foi comentado que eram menores?Teslemunha: sim, sim.Juíz: a senhora mencionou antes que teria problema de cruzar aponte aÍé, é isso?Testemunhs: ahã.Juiz: isso foi comentado dentro do táxi? Que a Patrícìa tinhapreocupação que poderia dar algum problema?Testemunha: claro, que ela disse que queria ir nafrente e que nósfosse atrás...Juiz: estão isso foi expressamente mencionado dentro do táxi' napresença do laxisla.Testemunha: sim".

--(rll404t422)

lAÌAO/AlAl241t221.V00'Ì 4^49 7 . 1 3 . 0 l 6 5 l - 3

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Seção Judiciária do Rio Grândc do Sull" vara Fedcral c Juizado Espccial Federal Criminal c Previdenciário de Uruguaiânâ

"fl. 415 - Juiz: A senhora recordo, na ocasião em foram daquipara a Árgentina, se houve algum comentarìo enquanto iam, sobreserem menores, até sobre alguma difculdade para cruzar a ponte?Alguma coisa assim?Testemunhu: sim, ela sabia que nós éramos menoresJuiz: mas íoi dito no táxi? O taxista sabio? Teria como ter sabidoali?Tesíemunha: sim.Juiz: Por quê?Testemunha: porque ela estava pergunlando as nossas idades' nósdissemos e ele esíava Presente".

Portanto, resta demonstrado que o acusado tinha plena consciênciade que estava levando menores para a Argentlna.

O acusado também tinha plena consciência de que a finalidade dasmeninas ircm para o país vizinho era a prostituição, conforme o que disse emjuízo a testemunha Isabel da Silva Bicca (Í1s. 352/372)'

"Íl. 362 - (...) MPF: e ela disse para que era expressamenteassìm...vocês vão trabalhar numa boate?Tesíemunha: ela falou' vocês vão trabalhar numa boaíe' numacaso nolurnaJaiz: enquanto estavam no táxi indo para a Argentina -foiclaramente conversado sobre isso dentro do táxi?Testemunha: claro, dentro do táxi'(...) Juiz: Sim, mas dentro do táxi foi conversado claramenle quevocês estavam tndo na Argentina para irem exercer a prostituiÇão?Testemunha: ahã, sim."

Assirr, a alegação do acusado dc quc foi contratado por "Patrícia"paÍa fazeÍ ulrÌa simples conida dc táxi, não sabendo que se ftatava de menores c

que iriam excrcer a prostituição no exterior não prospera'

Quanto à alegação de que não conhecia "Patrícia"' que tudo não se

passou de urnì simples coniáa de táxi, não é isto quc se conclui quando se Ìê os

ã"poi,rentos prestaàos pelas vítimas na policia, logo após terem sido expulsas da

Arsentina:

IAIAO/AlAl24ll221.V001 5t14

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Seção Judiciária do Rio Grânde do Sull 'Vâra Fcdcrâl e Juizado Espcciâl Federâl Criminal e Previdenciário de Uruguaiâna

r6lr7)

"(... ) QUE , no dia 08 de outubro por volta das vinte e uma horasquando vinha caminhando na Avenida Seíembrino de Carvalho foiabordoda por um táxi onde se enconlrava o motorista de alcunhaDRAGÃO e uma menina de dezesseíe anos de nome] QUE,o motorista do táxi e Jconvenceram a informante e suaamiga lla ir traíar com uma senhora de nome PATRICIAcom a íìnalìdade de serem levadas a Árgentìna para fazeremprogro*or; Qun,lJ" o motorisía conhecido como DMGÃ)'dizúm

a informante e a sua amiga JJI que na Argentinaganhariam dinheiro (...)"

E omotorista do táxi,

(Íls. l8/19)

fls.2ll22)

"(...) QUE a uns quarenlo dias quando vinha caminhando naAvenida Setembrino de Carvalho, por volta das onze horas, foiabordada por um íáxi branco, duas porlas, dirigido por umcidadão cinhecido pela alcunha de DRAGÃO, onde encontrava-seuma mulher conhecida como PATNCIA, esposa de DON VARELA,que convidou a informante mediante promessa de que na Argenlinaieria melhor, para que se prostitui-se na cidade de SantaLuzia/Argentina (...)"

"(...) quando foram abordadas por um motorista de táxi e umamenin'a de nome fque enconlrava-se no veículo com duasportas não recordando da cor: QUE, encontrava-se no taxì o-motorìsía

de alcunha DMGÃO ( ..) QUE' o moíorista de táxiconhecido por DMGÀO conhecia PATNCIA (. )"

oue se deprcende dos trcchos acima Íanscritos é que o'"DRAGÃb", conhecia PATRÍCIA, bem como que teve

participação ativa no delito, pois inicialmente arrecadou lf " |J,iendo

^ido ao encontro de PATRÍCIA, sendo que posteriormente abordaram

iSABEL, as quais, por fim, foram levadas à Argentina para exercerem aprostituição.

IArAo/AlA]24l lzzl .v007 6l l497.13.01651-3

Sentença Tipo D

Podcr JudiciárioJUSTIÇA FEDERÂL

Seção Judiciária do Rio Grande do Sull 'Vara Federal c Juizado EspeciaÌ Fcderal Criminal e Previdcnciário de Uruguaiâna

Os depoimentos das vítimas na fase policial são confluentes, poistodas elas conf,rrmaiam que "DRAGÃO" e "PATRÍCIA" se conheciam.

É fato inequívoco nos autos que o motorista de taxi de alcuúa"DRÁGÃO" e o acusado são a mesma pessoa, já que ele mesmo confirmou sereste o seu aDelido:

"(fl. 290) JUIZ: Uma das testemunhas...Uma pessoa que prestoudeclarações no Ministério Público disse que' pelo que seria vozcorrenle digamos assìm, a pessoa conhecida por Patrícia "lodos osfnais de semana vinha a Uruguaiana' e que na companhia de"Barão", que seria o seu aPelido...Réu: não, 'DRAGÃO, Barão é outro taxista."

Também não resta dúvida que foi o acusado quem levou asvitimas para Argentina, fâto este confirmado pelo próprio réu em seuinterrogatório (fl.288), quando afirma que realmente fez a corrida naquelanoite.

E mais, as vítimas disseram na polícia (fls. 15/22) que, na datadescrita na inicial, foram para a Argentina com o motorista de taxi "DRAGAO",o mesmo que disse paraal(fls. l5/16) que ganharia muito dinheiro'

Aspecto de extrema relevância no interrogatório do réu équando faz referência ao fato que "PATRICIA" seria casada com oôomandante Varela, o que discrepa da alegação de que não conhece" PATRÍCIA" (t1s. 29 5 1296):

"(...) Juiz: O senhor sabe qual seria o endereço dessa senhora naArgeníina?Réu: Eu não sei, mas elas que moraram la, elas poderiam muitobem elas pegarem e ir com o própria polícia lá në, ou elas Íêmmedo porquá a mulher é casada com tal comandante Varela lá'que dú que o "cosla quente" é ele, o comandante Varela'Juiz: Comandante do quê?Réu: Não sei, de polícia em creio?Juiz: Áonde isso, em Paso de Los Libres?Réu: Santa Luzia. Santa Lucia.Juíz: E como ë que o senhor sabe que elas"'Rëu: Pelo menos la ali no documento ali ó.

Sentença TiPo DIAIAO/AlA]

24 t t221.V001 7 / t497.13 .01651- l

Poder Judiciário

,"*u ", "*Yi;',:â"T,? Ëfnla" ao s, rl'Vâra Fcderal e Juizado Especial Fedcral Criminal c Prcvidenciário de Uruguaiana

Juiz: Em qual documento? Na petição inicial?Réa: Na cópia é (...)".

Ocorre que, a atenta leitura dos autos demonstra que, seja nâfase policial, seja durante o processâmento da presente ação penal, emnenhum momento anterior ao interrogatório do réu em- juízo foramencionado DON VARELA, o suposto marido de "PATRICIA", fosse"comandante" de algo, ou fosse assim chamado. TaÌ informação foi trazidapelo próprio acusâdo quando interrogado. em juízo, o que demonstra serconhecedor de detalhes da vida de "PATRICIA", já que sabe até com quemela é casada.

Diz o acusado que tal informação está na denúncia, no entanto,como se vê pela leitura daquela, não há â referida informação na inicial ouem qualquer outra peça do processo, até o interrogâtório do réu.

E para quem afirma que somente teve contato com "PATRÍCIR"uma única vez, com o fim de fazer apenas uma corrida de táxi, o acusado sabe defatos relevantes da vida da referida mulher, pois sabe quem é o seu marido, queseria conhecido por Comandante Varela e que tal pessoa seria o "costa quente",inclusive que mora em Santa Luzia, na Argentina.

Cabe reiterar que tais informações somente vieram aos autospor depoimento do réu quando do interrogatóri.o judicial, pois nenhumâ dasvítimas, as quais morarâm junto com " PATRICIA" na Argentina, deramtantos detalhes acerca dâ vida da referida mulher.

O réu alegou que não possui qualquer ligação com "Patrícia", nuncamais tendo visto a relerida mulher, afirmando que em certa ocasião foi avisadopor um colega, por meio de telefone, que a referida mulher estava no seu táxi eque tinha vindo a Uruguaiana para levar mulheres. Disse que ligou para a PolíciaFederal avisando que "Patrícia" estava indo para a fronteira, mas que ninguémapareceu para abordar o caÌÌo no qual se encontrava tal pessoa (fls.296/297).

Tal argüição não socorre o acusado, pois se trata de mera alegação,uma vez que o acusado sequer arrolou o dito motorista como testemunha a fim deconfimar os fatos argüidos. E de qualquer sorte, tal busca posterior pela tal"PATRÍCIA" não alteraria a ilicitude e autoria do fato versado nos Dresentesautos.

97.13.0 r 651-3IArAO/ArA]

24t t22t .V007 8/ t4

Sentença Tipo D

Poder JudiciárioJUSTIÇA FEDERÂL

Seção Jüdiciária do Rio Grande do Sull 'Vara Federal e Juizado Especial Fcderal CriminaÌ e Previdcnciário dc Uruguaiana

Assim, restou comprovado nos autos que o réu já conhccia

;:il|J"'i,fi ffi ""ï:,3iï,:";ï,ï:lïi;ïïï3;ïË;:L!-:il;r-;também, e seguiram para a Argentina, para que lá estas fossem se prostituir.

Também restou demonstrado que o acusado sabia que as vítimaseram menores e que estavam indo para a Argentina a fim de exercercm aprostituição.

Diante de todo este cenário, não há como aceitar a versão do réu deque não conhccia "PATRICIA" e de que não sabia estar levando menores para seprostituírem no exterior.

O depoimento prestado pelas vítimas na policia' logo queretomaram expulsas da Argentina,-é expresso no sentido de que o motorista dotáxi. "DRAGÃO". conhecia PATRÍCIA, bem como de que este teve participaçãoativa no delito, pois, inicialmente arrecadouJ e-J' tendo ido aoencontro de PATRÍCIA, sendo que posteriormente abordaram !' sendotodas levadas à Argentina para exercerem a prostituição.

Tudo confirmado em Juízo por É(n. 415) ef (fl.361 e 367) quando afirmaram que para onde iriam e para qual finalidade foramassuntos tratados dentÍo do táxi do acusado e que este presenciou todo o ajuste,inclusive no que se refere ao receio de serem pegos pela fiscalização na fronteira.

E o réu confirma em juízo ter procedido ao transporte das vítimas, oque corrobora definitivamente tratar-se ele do motorista de táxi referido pelasmenores.

O delito previsto no art.231 do Código Penal consuma-se com aconduta do agente que promove a saída de pessoas para o exterior, onde passará aexercer a prostituição.

No caso dos autos, restou comprovado que o réu promoveu a saídade 03 (três) meninas, menorcs de dezoito anos' residentes nesta cidade, para oexterior, no caso para a Argentina, onde elas passaram a exercer a prostituiçâo'

Também restou provado, pelo testemuúo das vítimas' que o réutinha consciência de que estava transportando 03 (três) menores de idade para aArgentina e que lá elas passariam a exercer a prostituição'

Sentença Tipo DIAlAo/AIA]

24t1221.V007 9l1497. r 3 .01651-3

,""ï9,ËiïHíü'Secão Judiciári; do Rio Grande do Sul

l 'vara Federal e Juizado Especial Fcderal Criminal c Previdenciário de Uruguaianâ

Diante do exposto, por tratar-se a conduta apurada de crime do tipoanímico, em que materialidade e autoria se confundem, tenho que a intenção deLUIZ ARNALDO DA SILVA MARTINS de promover a saída das menores

DA SILVA MARTINS, no dia 08-10-97, promoveu a saída do

plenamente comprovada.

Merece ser afastada a condição do réu de sujeito ativo do crime decárcere privado, pois como bem afirma o Ministério Público Federal nas suasalegações finais, não há prova de que o acusado soubesse da condição de vida aque estavam submetidas no exterior.

E os depoimentos das vítimas são no sentido de que a privação deliberdade da Argentina era exercida por "Patrícia", que as mantinha sob cenadavigilância.

Ainda, por dever de certeza, aponto que a conduta de promover asaída do país de menores de forma irregular renderia ensejo à incidência danorma do arr.239 da lei 8069/90. Ocone que, o $ l' do art. 231 do CP estabelecemodalidade qualificada do tráfico de mulheres, precisamente pela condição dcmenores das vítimas. Assim, tendo em conta que o art 239 do ECA trata da saídairregular de menor de forma geral, enquanto o delito do $ l' do art' 231 do CPtratã da saída para fim específico, resolvendo-se o concurso aparente de normaspelo princípio da especialidade, aplicando-se, apenas, a norma do CP'

exercerem a pÍostituição no estrangeiro das menores Flllna;cidu "-

2s-01:q1,-, nascida em lì-05-83, e- , naSClOa em tU-U/-Ór, {JUrI r r '+ ' r '+ ç ru

anos de idade, respectivamente, à data do fato. Assim agindo, incorreu na

conduta tipica do art.23l, $ 1", do Código Penal.

Quanto à suposta abordagem que pelo acusado teria sido feita aaeJJ' com o fim de aliciamento para exercerem a

ffiúuiça- na Argentina, diversamente do apurado com relação às outrastn.no..r, tcnho que não há elementos suficientes nos autos para embasar umacondenação ao réu Por tal conduta.

õm 10-07-81, com 14. 14 e 16

Portanto, formo a convicção de que o acusado LUIZ ARNALDO

lAlAo/AlAl24t t22\ .V00' t 10/149 7 . 1 3 . 0 Ì 6 5 1 - 3

Sentença Tipo D

Poder Judiciário

..,u " r "oY"ìï-',:

â"T,? ?,Ï1""u" oo r',l' vara Fcdcral c Juizâdo Especial Federal Criminal e Prcvidenciário dc Uruguaianâ

Nota-se que tais pessoas sequer foram localizadas, sendo que aúnica referência ao convite que teria sido feito pelo acusado a lJ e|I é decorrente do depoimento prestado por Cibele Flores quandooívida perante a autoridade policial (fls. l5l17), sendo que após isso, nada veioaos autos Dara corroborar a efetiva ocorrência de tal fato.

Do concurso formal qualificado, art.70, caput, segunda parte'do CP.

Conforme o acima apreciado e concluído, o réu numa cadeia únicade atos, aliciou, em curtíssimo espaço tempo, talvez menos de uma hora, mas nãoem momento único, três menores para exercerem a prostituição na Argentina'

Como conduta, trata-se, na hipótese, de conduta única, incidindo anorma do art. 70 do CP.

Ocone que, embora a finalidade de toda a conduta fosse oaliciamento de mulheres para o exercício da prostituição fora do País, na medidaem que o réu dirigiu a conduta dolosa contra cada uma das vítimas'caracterizaram-se os desígnios autônomos, referindo-se tal autonomia a cada umdos convites e cada uma das vítimas.

A situação amolda-se, perfeitamente, aos exemplos clássicos dadoutrina onde um agente, querendo a morte de três desafetos, os amalrasseenfileirados e, com um único disparo, produzisse os três resultados morte' oualguém quc, querendo matar os membros de uma família, envenenasse a sopa aser levada à mesa, de onde todos se serviriam e viriam a moÌrer'

Asslm, no caso dos autos, não obstante a aparente unicidade daconduta, a existência do dolo direcionado a levar cada uma das menores para a

Argentina para o exercício da prostituição caracleriza a autonomia de desígios'refãrçada pela rnultiplicidade de resultado deconente' determinando a incidênciada segundã parte do caput do art' 70 do CP: "as penas aplicam-se' entretanto'cumútivamente, se a ação ou omissão é dolosa e os cnmes concorrentesresultam de desígnios autônomos".

De todo o exposto' em face da convicção de que o acusado LUIZARNALDODASILVAMARTINS,nodia08-10-gT,promoveuasaídadopaíspara exerccrem a pÍostituição no estrangeiro das menores

Sentença TiPo DIAIAO/AlA]

24 t r221.V001 | l / t49 7 . 1 3 . 0 r 6 5 l - 3

Poder JudiciárioJUSTICA FEDERAL

Seção Judiciáriâ do Rio Grandc do SuÌl 'Vara Fcderâl e Juizado EspcciaÌ Federal Criminal c Previdcnciário de Uruguâiana

e nrrctoa em zJ-ur-òr. nascida em l l -05-83, e lnascida em 10-07-81, com 14, 14 e 16anos de idãdg-iõspectivamente, à data do fato, tenho o réu por incurso naspenas do art.Z3l, $ 1", do CP, por três vezes, na forma do art. 70' caput'segunda parte, do CP.

Passo a fixar a pena privativa de liberdade do réu.

A culpabilidade, tida como a reprovabilidade social da conduta, éinerente ao tipo penal descrito no art. 231, $ lo, do CP. No que diz com osantecedentes, vieram positivados. A conduta social e a personalidade do agentenão encontram nos autos qualquer elemento de apreciação, não apresentandotraços que mereçam destaque. Os motivos e circunstâncias são inerentes àconduta delitiva prevista no tipo penal. As conseqüências do crime não scsobressaem por qualquer peculiaridade, sendo que o fato de serem menores asvitimas constitui qualificadora. o comportamento da vítima em nada contribuiupara a ocorrência do delito.

Assim consideradas as circunstâncias judiciais do art. 59' comrelação ao aÍ1. 231, $ 1", do CP, sendo positivados os antecedentes' e sendocominada para o delito, na forma qualificada, pena de 04 (quatro) a l0 (dez) anosde reclusão, fixo a pena-base em 04 (quatro) anos e 04 (quaro) meses dereclusão.

Quanto às agravantes, embora a evocação, na denúncia, daagÍavante do art. 6i, II, ft, do CP, as idades das vítimas constltuem, no caso'qúalificadora, não podendo ser sopesadas paÍ^ agtavar a pena' pena de incorrerém bis in ìdeam. Também inaplicável a agÍavaíre prevista no art' 62, III' doCódigo Penal, evocada na denúncia, uma vez que as menores foram vítimas dodelito, não partícipes deste.

Assim, ausentes circunstâncias agravantes, ou atenuantes (artigos6l e 65 do Código Penal), mantenho a pena provisória em '

Presente causa de aumento de pena, em face da ocorrência deconcurso fonnal, uma vez que o acusado, mediante uma só ação, praticou 03(três) crimes idênticos, de forma dolosa e com desígnios autônomos, pelo que' naiorma da segunda parte do capur do art. 70 do CP, aplico a cumulação da pena de04 anos e 04 meses por três vezes, elevando a pena para l3 anos de reclusào'

IAlAo/AIA]24t t221.V007 l2 l1497.13.01651-3

Sentcnça TiPo D

Podcr Judiciário

..*r", "'oYi,I-1:â"'*ï ?'T"'0" o " . ",I'Vara Fcdcral c Juizado Especial Fcderal Criminal e Previdcnciário dc UÍuguaianâ

Por firn, conforme a prova dos autos, embora o róu não agisscsozinho, estando a auxiliar a pessoa conhecida como "PATRICIA", o que a provados autos dcrÌonsfou é que o réu efetiva e pessoalmente formulou convite àsmenores para aliciar estas, praticando assim a conduta núcleo do tipo penal,tratando-sc dc co-autor do delito, não se podendo aplicar ao fato a minorante do $l" do art. 29 do CP.

Assim, à míngua de minorantes, torno definitiva a pena de 13anos de reclusão.

Deixo dc aplicar pena de multa atualmente prevista no art. 231 doCódigo Penal porque que ao tempo do cometimento do crimc a redação do tipopenal não prcvia tal cominação, introduzida pela Lci n" I I . I 06 de 2005.

Por fim, registro que a pena de 13 anos de reclusão é severa, masnão menos scveras são as conseoüôncias para as vítimas.

DISPOSITIVO,

Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE apresente ação penal para:

a) CONDENAR o réu LUIZ ARNALDO DA SILVAMARTINS, à pena privativa de liberdade de l3 (treze) anos por incurso, por trêsvezes, nas sanções do artìgo 231, $ 1", do Código Penal, na fonna da segundapafie do caput do art. 70 do CP

Tendo sido atribuída ao acusado pena privativa de liberdadesuperior a 04 (quatro) anos inexiste autorização lcgal para que possa sersubstituída por penas restritivas dc direito, conforme o artigo 44 do CódigoPenal.

O réu deverá iniciar o cumprimento da pena cm regime fechado' naforma do artigo 33, $ 2", "a", do Código Penal.

Poderá o réu recorrer em liberdade.

Condeno o réu nas custas proccssuais.

IAIAO/AlA]2411221.v001 13/119 7 . 1 3 . 0 1 6 5 i - 3

Sentença Tipo D

Poder JudiciárioJUSTICA FEDERÁL

Scção Judiciária do Rio Grâode do Sull'Vara Fcderal e Juizado Especial Federal Criminal e Prcvidenciário de Uruguaiana

P. R, I.

Após o trânsito em julgado, proceda-se conforme o Provimento no02/2005 - Consolidação Normativa da Justiça Federal da 4" Região.

Uruguaiana, 30 de agosto de 2007 .

Guilherme BeltramiJuiz Federal

97.13 .01651-3IAIAO/AIA]

241t22t .V007 \4^4

Sentença Tipo D