sentença da simulação de ambiente
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8/15/2019 Sentença da Simulação de Ambiente
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Tribunal Administrativo de Círculo de CoimbraAv. Fernão Magalhães, 227-3º. 3000-176 Coimbra
239853480 Fax: 213506005E-mail: [email protected]
Tribunal Administrativo de Círculo de Coimbra
TRIBUNAL ADMINISTRATIVO DE CÍRCULO DE COIMBRA
N.º PROCESSO 839728
***
AÇÃO ADMINISTRATIVA
AUTOR: Jó Neves Pereira, CC N.º 17623940, casado e residente na Rua das Gaivotas, n.º 15,
Lisboa.
ENTIDADES DEMANDADAS:
Brisa do Abismo – Estradas de Portugal, SA - Sociedade Comercial Anónima, com sede
na Rua das Tulipas, n.º 4, Freguesia de São Domingos da Rama, do Concelho de Oeiras, pessoa
coletiva número 5383401.
Ministério das Infra-Estruturas, pessoa coletiva de direito público, com sede na rua
Campos do Pragal, Praça da Portagem, código postal 2809-013, Almada, Portugal.
Acordam no Tribunal Administrativo de Círculo de Coimbra.
***
I. SANEAMENTO
I.1. Da competência do tribunal
É competente o tribunal onde ocorreu o dano, nos termos, e, para os efeitos do art.º 18°/1
do Código de Processo nos Tribunais Administrativos, doravante, CPTA.
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Atendendo ao princípio pro-actione, e, nos termos, e, para os efeitos do art.º 14°/1 do
CPTA, o processo é oficiosamente remetido por via eletrónica.
O Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa remeteu o processo nos termos acima
referidos.
Logo, é competente o Tribunal Administrativo de Círculo de Coimbra por se tratar de
uma matéria da jurisdição administrativa, nos termos, e, para os efeitos dos art.º 1°/1 e 4°/1 f) e
h) do Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais, doravante, ETAF.
É ainda competente em:
- Razão da matéria, nos termos, e, para os efeitos do art.º 44°/1 do ETAF.
- Razão da hierarquia, perante os juízes administrativos de tribunal de círculo, nos termos, e, para
os efeitos do art.º 44° do ETAF.
- Razão do território, nos termos, e, para os efeitos dos art.º 18°/1 e 14°/1, ambos do CPTA.
I.2. Do Autor
O tribunal considera que o autor tem:
- Personalidade judiciária, nos termos, e, para os efeitos dos art.º 8°-A/1 e 2 do CPTA, e do art.º
11° Código de Processo Civil, doravante, CPC, ex vi art.º 1° CPTA.- Capacidade judiciária, nos termos, e, para os efeitos dos art.º 8°-A/1 e 2 do CPTA, e do art.º 15°
CPC , ex vi art.º 1° CPTA.
- Legitimidade ativa, nos termos, e, para os efeitos do art.º 9°/1 do CPTA.
- Patrocínio judiciário, nos termos do art.º 11° do CPTA.
- Interesse processual, nos termos do art.º 30°/1 e 3 CPC, ex vi 1° CPTA.
I.3. Dos Réus
São réus:
Ministério das Infra-Estruturas e Brisa do Abismo, Estradas de Portugal.
E o tribunal considera que os réus têm:
- Personalidade judiciária, nos termos, e, para os efeitos dos art.º 8°-A/1 e 2 do CPTA e do art.º
11°CPC, ex vi art.º 1° CPTA.
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- Capacidade judiciária, nos termos, e, para os efeitos dos art.º 8°-A/1 e 2 do CPTA, e do art.º 15°
CPC, ex vi art.º 1° CPTA.
- Legitimidade passiva, nos termos, e, para os efeitos do art.º 10°/1 do CPTA.
- Patrocínio judiciário, nos termos do art.º 11° do CPTA.
- Interesse processual, nos termos do art.º 30°/1 e 3 CPC , ex vi 1° CPTA.
I.4. Da Coligação
A coligação é possível, e, admissível, nos termos, e, para os efeitos do art.º 12°/1 a) do
CPTA.
I.5. Da falta de pressupostos
Não foi indicada a forma de processo na Petição Inicial, configurando-se numa exceção
dilatória, nos termos, e, para os efeitos dos art.º 78°/2 d) e 89°, ambos do CPTA.
O processo deve seguir a forma da Ação Administrativa (a antiga Ação Administrativa
Comum), nos termos, e, para os efeitos do art.º 37°/1 i), j) e k) do CPTA.
Não se conhecem mais exceções dilatórias, nulidades relativas, outras questões préviasou incidentais, que obstem ao conhecimento da causa.
***
II. RELATÓRIO:
Jó Neves Pereira, CC Nº17623940, casado e residente na Rua das Gaivotas, n.º 15,
Lisboa, interpôs a presente ação administrativa, nos termos do disposto no art.º 37°/1 i), j) e k),
do CPTA.
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Contra,
Brisa do Abismo –
Estradas de Portugal, SA - Sociedade Comercial Anónima, com sedena Rua das Tulipas, n.º 4, Freguesia de São Domingos da Rama, do Concelho de Oeiras, pessoa
coletiva número 5383401.
Ministério das Infra-Estruturas, pessoa coletiva de direito público, com sede na rua
Campos do Pragal, Praça da Portagem, código postal 2809-013, Almada, Portugal.
Para tanto, o A. alega em síntese que:
a) No dia um de Novembro de dois mil e quinze, sofreu um acidente de viação quando
se encontrava a conduzir o seu carro, modelo Mini Cooper, matrícula GU-41-84, na auto-
estrada KA-14, que estabelece a ligação entre as localidades de Montemor-Já-Um-Pouco-
Careta e a Foz da Figueirinha;
b) O A. dirigia na auto-estrada na velocidade de cinquenta quilómetros por hora;
c) O acidente foi causado por um buraco existente na auto-estrada, decorrente do
aluimento da via, no qual alega ter caído no mesmo enquanto se encontrava a conduzir;
d) O surgimento de tal buraco em virtude do aluimento da via tem como causa o facto
de a auto-estrada não ter sido objeto de uma prévia avaliação de impacte ambiental por
parte das autoridades competentes;
e) O A. sofreu danos patrimoniais, decorrentes dos montantes despendidos com a
reparação do carro e com o não facto de não ter auferido três meses de salário;
f) O A. sofreu danos não patrimoniais, decorrentes do facto de o A. ter contraído um
empréstimo de nove mil euros e zero cêntimos junto de familiares para fazer face às
despesas do acidente, e, assim, ter exposto a sua situação financeira.
Com base, designadamente, na referida fatualidade, e, partindo do entendimento que a
ausência de uma prévia avaliação de impacte ambiental, relativamente à auto-estrada KA-14,consubstancia uma omissão por parte do Estado, que deveria ter procedido à realização da mesma;
e, que o acidente em questão foi causado por uma situação de líquidos na via não resultantes de
condições climatéricas anormais.
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O A. vem sustentar, em resumo que:
- O Estado não cumpriu os seus deveres de vigilância e fiscalização, no período em quea auto-estrada se encontrava em construção, o que consubstancia uma situação de
responsabilidade civil extracontratual do Estado, nos termos do art.º 7º/1 da Lei n.º 7/2007;
- A omissão do Estado da realização de uma prévia avaliação de impacte ambiental
consubstancia uma situação de responsabilidade civil extracontratual do Estado, nos termos do
art.º 7º/1 da Lei n.º 7/2007;
- O acidente em questão, por ter ocorrido numa auto-estrada concessionada, e, ter sido
causado pela existência de líquidos na via não resultantes de condições climatéricas anormais,origina uma situação de responsabilidade civil extracontratual da Concessionária Brisa do
Abismo – Estradas de Portugal, SA, nos termos do art.º 12º/1 c) e 12º/3 da Lei n.º 24/2007.
Em consequência, o A. pede que o tribunal proceda à:
- Condenação solidária dos réus no pagamento de uma indemnização por danos
patrimoniais no valor de trinta e três mil e quinhentos euros e zero cêntimos, sendo que dezassete
mil euros e zero cêntimos são a título de danos emergentes, e, dezasseis mil e quinhentos e zero
cêntimos, são a título de lucros cessantes;
- Condenação solidária dos réus no pagamento de uma indemnização por danos não
patrimoniais, no valor de dez mil euros e zero cêntimos;
- Condenação do Estado à reparação do buraco decorrente do aluimento da via, na auto-
estrada KA-14;
- Condenação do Estado, relativamente à auto-estrada KA-14, à realização de avaliaçãode impacte ambiental.
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O Ministério das Infra-Estruturas, devidamente citado, contestou, alegando, em
síntese que:
a) O Ministério das Infra-Estruturas celebrou com a Brisa do Abismo – Estradas de
Portugal, SA, um contrato de concessão de auto-estrada KA-14, a ser construída pela
concessionária, que iria estabelecer a ligação entre Montemor-Já-Um-Pouco-Careta e a
Foz da Figueirinha;
b) O Ministério das Infra-Estruturas ficou encarregue de proceder ao acompanhamento
da construção da obra; c) A construção da auto-estrada em questão revestiu-se na altura de caráter urgente, em
virtude da necessidade de viabilização de ligação entre as duas regiões supramencionadas, que se apresentam como dois importantes pólos da economia Portuguesa; d) Tal urgência fez com que tenha apresentado um requerimento de dispensa da
construção da auto-estrada do procedimento de avaliação de impacte ambiental, nos
termos do art.º 4º do Decreto-Lei n.º 151/2013, em virtude de se tratar de uma situação
excecional enquadrável no art.º 4º/1 do respetivo diploma; e) O pedido de dispensa de avaliação de impacto ambiental foi objeto de decisão
favorável, mediante despacho conjunto do Ministro do Ambiente e do Ministro
responsável pela tutela do projeto; f) Foram observados os deveres de vigilância no que toca à construção da obra, por
parte do Ministério das Infra-Estruturas, pois foram realizadas avaliações periódicas da
obra durante a fase de construção; g) O surgimento do buraco na auto-estrada, na sequência do aluimento da mesma,
deveu-se à ocorrência de um motivo de força maior, em virtude de ter sido encontrado,
no sistema de canalização subterrâneo da auto-estrada, um animal morto que impediu o
escoamento das águas; h)
A ocorrência de um motivo de força maior implica que se exclua a responsabilidade
civil extracontratual do Estado, nos termos do art.º 11º/1 do Decreto-Lei n.º 67/2007.
Com os fundamentos devidamente expostos, o Réu conclui que a ação deve ser julgada
improcedente, e, em consequência, indeferidos os pedidos nela formulados a seu respeito,
devendo deles ser absolvido o Réu. Contudo, o Réu pede que, em caso de condenação no
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pagamento de indemnização por danos patrimoniais, a mesma seja reduzida para o montante de
quatro mil euros e zero cêntimos.
A Brisa do Abismo – Estradas de Portugal, SA, devidamente citada contestou,
alegando em síntese que:
a) O A. não provou a ocorrência do acidente;
b) A Ré celebrou com o Estado um contrato de concessão de obra pública;
c) Relativamente à obra da auto-estrada KA-14, foi requerida a dispensa da mesma do procedimento de avaliação de impacto ambiental, nos termos do art.º 4º do Decreto-Lei
n.º 151-B/2013, tendo a dispensa sido deferida por despacho conjunto do Ministério do
Ambiente e do Ministério da tutela do projeto, nos termos do art.º 4º/1 do mesmo Decreto-
Lei;
d) O motivo que justificou o pedido de dispensa foi o de se tratar de uma obra cuja
construção era urgente, tratando-se da necessidade de construção de uma via de circulação
rápida para potencializar o acesso rápido do Corpo de Bombeiro à região da Foz da
Figueirinha, em virtude do elevado risco de incêndio existente na mesma;
e) Na sequência da dispensa de AIA, foram impostas, no licenciamento, determinadas
medidas de minimização dos efeitos ambientais, que foram cumpridas pela Ré;
f) A ré cumpriu os deveres resultantes do caderno de encargos na construção da auto-
estrada, e realizou a construção da obra com a devida diligência;
g) O aluimento de uma zona da auto-estrada KA-14, que originou o buraco, deveu-se
ao rompimento de uma conduta de escoamento;
h) As condutas de escoamento existentes na auto-estrada KA-14 são da
responsabilidade única e exclusiva do Estado, que se destina à realização do saneamento
básico da região;
i) No contrato de concessão celebrado entre o Estado e a Ré, estipulou-se que a mesma
não se poderia envolver em diligências atinentes ao saneamento da zona onde se situaria
a auto-estrada;
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j) A área de saneamento onde se deu o aluimento da via já havia sido objecto de uma
licença ambiental, após a realização do procedimento de avaliação de impacte ambiental.
Com os fundamentos devidamente expostos, a Ré conclui que a ação deve ser julgada
improcedente, e, em consequência, indeferidos os pedidos nela formulados a seu respeito,
devendo deles ser absolvido a Ré.
***
III. DOS FACTOS:
III.1 Factos provados:
Com relevância e interesse para a decisão da causa consideram-se como provados os
seguintes factos:
1-
A ausência de um contrato de seguro no que toca ao carro do autor;2- O projeto da auto-estrada AK-14 foi dispensado de avaliação de impacte ambiental
por despacho conjunto do Ministro do Ambiente e do Ministro da tutela do projeto em
causa;
3- A existência do buraco na auto-estrada AK-14, resultante do aluimento da via;
4- A realização de saneamento da zona onde se situa a auto-estrada AK-14, anterior à
construção da mesma, por parte do Estado;
5- O Ministério das Infra-Estruturas realizou as avaliações periódicas da obra durante a
fase de construção.
III.2. Factos não provados:
Com interesse para a decisão da causa nada mais se provou.
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III.3. Motivação:
A convicção do tribunal baseou-se nos documentos juntos aos autos, não impugnados,que foram enunciados ao longo da matéria fatual considerada como provada, assim como no
depoimento prestado pela testemunha Pedro Alves Cabral (Comandante do Corpo de Bombeiros
da sede do Distrito de Coimbra).
Para além dos meios de prova apresentados pelas partes, o Tribunal procedeu a uma
inspeção judicial da zona onde ocorreu o aluimento da estrada, nos termos do art.º 490º/1 do CPC,
com o fim de esclarecer se, previamente à obra, tinha havido saneamento da zona onde a mesma
se situa. Para tal, nos termos do art.º 492º/1 do CPC, fez-se acompanhar de um técnico em matéria
de saneamento, com o fim de auxiliar o Tribunal a chegar a uma conclusão acerca de tal questão.
***
IV. DO DIREITO:
IV.1. Do pedido da distribuição do ónus da prova
A parte A. submeteu a este tribunal um pedido de distribuição dinâmica do ónus da prova
por considerar que, seguindo as regras gerais de direito probatório, a sua pretensão se revelaria de
probatio diabolica.
No ordenamento jurídico português não existe, em honra ao princípio da legalidade, uma
tal possibilidade. Ao contrário da opção que surge ao juiz, nos termos do art.º 373º do CPC
brasileiro (Lei n.º 13.105, de 16 de Março de 2015), em Portugal, o Direito não oferece uma tal
discricionariedade.
Ainda se poderia questionar se o inciso “presunção legal, dispensa ou liberação do ónus
da prova”, do art.º 344/1 do Código Civil, doravante, CC, (português), não permite ao A. ver o
seu pedido proceder. Não é, porém, esse o sentido da expressão.
Como salientam Pires de Lima e Antunes Varela, “há (...) dispensa ou liberação do ónus
da prova sempre que a lei considera certo um facto, quando se não faça prova em contrário. (...)
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veja-se um caso de liberação do ónus da prova no artigo 1260º/2 (...) ” – in Código Civil anotado
(vol. I), 4ª edição, 2011, Coimbra Editora, Coimbra.
No fundo, dispensa-se a prova quando há presunção legal do facto a provar. Ora, não é
de todo o que acontece no caso porque o A. funda o seu pedido em probatio diabolica.
Assim, nega-se uma distribuição dinâmica do ónus da prova que viola os art.º 342º a 344º
do CC português negando-se, consequentemente, provimento ao pedido de distribuição dinâmica
do ónus da prova.
IV.2. Da responsabilidade civil do Estado
A responsabilidade civil do Estado pode ser definida como o “conjunto de circunstâncias
da qual emerge, para a administração e para os seus titulares de órgãos e trabalhadores, a
obrigação de indemnização dos prejuízos causados a outrem” no exercício da função
administrativa” , (cfr. MARCELO R EBELO DE SOUSA e A NDRÉ SALGADO MATOS; Direito
Administrativo Geral – tomo III (2010), pág. 477).
IV.2.1. A não realização dos deveres de vigilância
Comum a todos os tipos de responsabilidade civil administrativa é a verificação de um
facto por parte da Administração Pública, podendo ser positivo ou negativo.
O A. vem a este processo sustentar que o Estado não cumpriu os seus deveres de
vigilância e fiscalização, no período em que a auto-estrada se encontrava em construção, o que
consubstanciaria uma situação de responsabilidade civil extracontratual do Estado, nos termos do
art.º 7º/1 da Lei n.º 7/2007.
Embora não tenha sido provado a sua existência, compreende o tribunal que esses deveres
emanam tipicamente do contrato público de concessão, pelo que a alegada responsabilidade civil
do Estado será contratual. Tal não impede o tribunal de analisar o pedido do A. mediante o
princípio iura novit curia.
Assim, sendo o contrato público fonte de obrigações bilaterais, o não cumprimento de
uma dessas obrigações consubstancia uma omissão suscetível de preencher o primeiro requisito
da responsabilidade civil, assim como o segundo – a ilicitude – , uma vez que o contrato público
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fará parte do bloco de legalidade a que a Administração se encontra vinculada. Contudo, uma vez
que é convicção deste tribunal a efetiva realização de avaliações periódicas por parte do
Ministério das Infra-Estruturas, o primeiro requisito da responsabilidade civil contratual
administrativa não se verifica, pelo que a pretensão de qualquer indemnização a esse título fica
prejudicada, uma vez que todos os pressupostos deste instituto – facto, ilicitude, culpa, dano e
nexo de causalidade – são cumulativos, implicando um efeito cascata contagioso para todos os
requisitos quando um não se verifique.
IV.2.2. Responsabilidade pelo risco
Poder-se-ia equacionar a responsabilidade administrativa pelo risco, embora apenas de
prima facie. De fatco, a Administração Pública deve fiscalizar as obras públicas, pelo que uma
não fiscalização periódica da auto-estrada, já depois de inaugurada, poderia ser suscetível de
preencher o facto, i.e., o primeiro pressuposto da responsabilidade pelo risco.
Decorre do art.º 11.º/1 da Lei n.º 67/2007 que o facto deve decorrer de um serviço ou
coisa especialmente perigosa. Esta qualificação deve ser avaliada casuisticamente e gera alguma
discordância na doutrina. De facto, se acompanharmos FREITAS DO AMARAL na sua tipificação
exemplificativa de serviços especialmente perigosos (cfr. Curso de Direito Administrativo volume II (2013), pág. 741.), resultará uma conceção restrita desse perigo qualificado. Já para MARCELO
R EBELO DE SOUSA e A NDRÉ SALGADO MATOS, esse perigo decorre de “circunstâncias
especificamente atinentes à prossecução da atividade administrativa” ( cfr. op. cit. pág. 505).
O presente tribunal coloca-se ao lado deste segunda conceção e, no presente processo,
considera preenchido o primeiro requisito da responsabilidade pelo risco.
No entanto, dado não se ter provado a verificação de um acidente, não está preenchido o
pressuposto relativo ao dano, pelo que este tipo de responsabilidade civil administrativa também
não se encontra preenchido (assim como qualquer outro, uma vez que o dano é pressupostocomum a todos os tipos).
IV.3. Da avaliação de impacte ambiental
Foi provado durante o processo o preenchimento do âmbito de aplicação do Decreto-Lei
n.º 151-B/2013 (Regime Jurídico da Avaliação de Impacte Ambiental – doravante, RAIA).
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Resulta também provado a existência de dispensa de avaliação de impacte ambiental (art.º
4.º RAIA).
A dispensa de AIA funda-se sempre numa situação excecional. Trata-se de um conceito
indeterminado, insuficientemente densificado pela lei. É certo que a Comunicação da Comissão
Europeia – Clarification of the Application of the Article 2(3) of the EIA Directive – densifica o
conceito, mas deve ser valorada politicamente e não normativamente.
Acompanha-se o parecer do Ministério Público quando considera que este conceito
indeterminado confere à Administração Pública “um espaço de liberdade (…) na apreciação das
situações de facto que poderão, ou não, preencher a previsão da norma”. Ou seja, este conceito
indeterminado confere à Administração uma margem de livre apreciação que não foi sindicada
nos presentes autos.
Havendo despacho de dispensa de AIA, resulta clara e justificada a não realização de
AIA.
IV.4. Da responsabilidade civil da R. BRISA
No que toca à pretensa responsabilidade objetiva da R. Brisa do Abismo – Estradas de
Portugal, SA, é de aplicar o regime previsto na Lei n.º 24/2007. O seu âmbito de aplicação, nostermos do seu art.º 2º/1, considera-se verificado. A BRISA, nos termos do Decreto-Lei n.º 294/97,
com a última alteração com a Declaração de Retificação n.º 16-B/2009, é a concessionária da
auto-estrada KA-14 (Cláusula I/1, j) do Anexo ao citado Decreto-Lei).
A responsabilidade objetiva nos termos da Lei n.º 24/2007 dá-se nos termos do seu art.º
12º. Ora, será necessário verificar-se uma das situações nele elencadas, o que não ocorre. De
qualquer forma, a única prova que parece ser legalmente admissível para acionar a
responsabilidade objetiva é a que consta no nº. 2 do citado artigo, isto é, verificação no local por
autoridade competente, o que também não aconteceu como aponta a R. BRISA na sua contestação
(art.º 9º da citada peça).
Não é assim, porém, que a jurisprudência tem vindo a interpretar (vide, Ac. TRP de
11/1/11, P. 4196/08.5TBSTS.P1, no sentido de que “a presunção de incumprimento com que o
nº 1 do referido art.º 12º da Lei n.º 24/2007 onera a concessionária vale sempre que ocorra
alguma das hipóteses previstas nas suas alíneas, independentemente do juízo que a respeito das
causas do acidente seja emitido pela autoridade policial”).
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Segue este tribunal o sentido da jurisprudência citada. Não obstante, a ocorrência de um
acidente com o lesado no A. da presente ação não foi provado por qualquer outro meio de prova.
Assim, não estão reunidos os pressupostos probatórios, nem substanciais, para acionar a
responsabilidade objetiva da concessionária.
Mais se diga que, segundo a Base XXVIII/1 do atualizado Decreto-Lei n.º 294/97, a
BRISA só responde pelo objeto concessionado, nos termos legais, mas já não por ocorrências que
lhe são alheias, como o pretenso rebentamento da canalização de saneamento anterior à
construção concessionada.
Não se provou qualquer dos pressupostos da responsabilidade aquiliana, nos termos do
art.º 483º do CC.
Nega-se provimento ao pedido de responsabilizar, quer subjetiva quer objetivamente a R.
BRISA.
***
V. DECISÃO
Nestes termos, e com fundamento no supra exposto, julga-se improcedente a presente
ação, e, em consequência, absolvem-se os réus dos pedidos.
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Custas pelo Autor.
Registe-se e notifique-se.
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8/15/2019 Sentença da Simulação de Ambiente
http://slidepdf.com/reader/full/sentenca-da-simulacao-de-ambiente 14/14
Tribunal Administrativo de Círculo de CoimbraAv. Fernão Magalhães, 227-3º. 3000-176 Coimbra
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Tribunal Administrativo de Círculo de Coimbra
Lisboa, ao 5 de junho de 2016.
Os juízes de Direito
Gonçalo de Andrade Fabião
Isabel dos Santos
Mariana de Sá Vilaça e Moura
Telmo Rodrigues
Vitória Pontes