sentenca condenatória roubo tentado qualificado

8
SENTENCA CONDENATÓRIA ROUBO TENTADO QUALIFICADO Cuida-se sentença condenatória, em face de crime de roubo tentado, prolatada em 2002. Acerca da tentativa, em determinado excerto sublinhei, verbis: 1. O crime, de efeito, entrou em execução, mas no seu caminho para a consumação foi interrompido pela reação da vítima e de populares, como ressai dos depoimentos acima transcritos. Em face da tese da defesa, expendi, dentre outros, os seguintes argumentos: 1. A propósito da tese da defesa, devo anotar que na espécie não se configurou a desistência voluntária-como já mencionado acima-que ocorre, como ressabido, quando o agente, iniciada a execução e mesmo podendo prosseguir nela, não a leva adiante; mesmo podendo dar seqüência à sua ação, desiste da realização típica. Na desistência voluntária, o agente muda de propósito. Não é forçado, como se deu em caso sob retina. Mantém o propósito, mas recua diante da dificuldade de prosseguir. A seguir, a sentença de corpo inteiro, com a observação de que foi prolatada em 2002.

Upload: lucaslima

Post on 14-Sep-2015

6 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

SENTENCA CONDENATRIA ROUBO TENTADO QUALIFICADO

Cuida-se sentena condenatria, em face de crime de roubo tentado, prolatada em 2002.Acerca da tentativa, em determinado excerto sublinhei, verbis:1. O crime, de efeito, entrou em execuo, mas no seu caminho para a consumao foi interrompido pela reao da vtima e de populares, como ressai dosdepoimentos acima transcritos.Em face da tese da defesa, expendi, dentre outros, os seguintes argumentos:1. A propsito da tese da defesa, devo anotar que na espcie no se configurou a desistncia voluntria-como j mencionado acima-ques ocorre, como ressabido, quando o agente, iniciada a execuo e mesmo podendo prosseguir nela, no a leva adiante; mesmo podendo dar seqncia sua ao, desiste da realizao tpica. Na desistncia voluntria, o agente muda de propsito. No forado, como se deu em caso sob retina. Mantm o propsito, mas recua diante da dificuldade de prosseguir.

A seguir, a sentena de corpo inteiro, com a observao de que foi prolatada em 2002.

Processo n 81/2001.Ao Penal PblicaAcusado: C. de L. L.Vtima: S. C.Vistos, etc.Cuida-se de ao penal que move o Ministrio Pblico contra C. de L. L., brasileiro, solteiro, mecnico, filho de R.de L. da C. L., residente na Rua Santa Luzia, 04, Vila dos Frades, nesta cidade, a quem imputa a prtica do crime de tentativa de roubo qualificado, em face de, no dia 24 de abril do ano de 2001, por volta das 16:30 horas, nas proximidades do terminal de nibus da Vila Conceio, ter agarrado a vtima S. C., pelo colarinho, anunciando o assalto, tendo tentado tomar-lhe a bolsa e o relgio, ao tempo em que lhe desferia golpes de faca, pelo que teria incidido nas penas do artigo 157, 2, I , c/c o artigo 14, II, ambos do Cdigo Penal.A persecuo teve incio com a priso em flagrante do acusado(fls.05/07).Exame de corpo de delito s fls.46.Recebimento da denncia s fls.52.O acusado foi citado, qualificado e interrogado s fls.55/56.Defesa prvia s fls. 61/62.Durante a instruo criminal foram ouvidas a testemunha A. C. S.(fls.70) e a vtima(fls.71).Na fase de diligncias, nada foi requerido pelas partes(fls.79 e 81).Nas alegaes finais, o Ministrio Pblico, aps discorrer acerca da prova colhida nos autos, pede, alfim, a condenao do acusados, nos termos da denncia(fls.83/85).A defesa, de seu lado, alega que o acusados desistiu voluntariamente de praticar o crime e que as leses foram fruto do desajuste da vtima, que, nervosa e descontrolada, partiu para o confronto pessoal com o acusado, pelo que requer a sua absolvio, ou que, assim no entendendo, seja aplicada a pena no mnimo legal(fls.87/89).Relatados. Decido.Nos autos sub examine, como mencionado no relatrio, o acusado foi denunciado pelo Ministrio Pblico, em razo de ter tentado assaltar a vtima, com violncia, em razo do que foi produzido na mesma leso corporal, fato que no se concretizou por circunstncias alheais sua vontade.Alfim e ao cabo da anlise das provas consolidadas nos autos em apro, concluo, como o fez o representante ministerial, que o acusado, em verdade, malferiu , com sua ao, o preceito primrio do artigo 157 do CP, com a utilizao de uma faca, em razo do que a reprimenda deve ser majorada, a teor do inciso I, do 2, do mencionado artigo.Com efeito.O acusado, malgrado tenha, na fase pr-processual(informatio deliciti)da persecuo, negado a autoria do crime, na fase de cognio, oxigenada pelo contraditrio e pela ampla defesa, sem tergirversar, admitiu ter tentado assaltar a vtima, o fazendo nos termos abaixo, verbis:que, inicialmente, o interrogado no pensou em assaltar a vtima; que quando a vtima retornou, o interrogado resolver assalt-la; que, ento, aproximou-se da vtima com uma faca e deu voz de assalto; () que a vtima reagiu ao assalto, tendo sido, por isso, lesionada pelo interrogado; que o interrogado nada levou da vtima, porque, em verdade, queria dinheiro e a vtima no trazia consigo; que a vtima, quando recebeu voz de assalto, comeou a gritar dizendo que no tinha dinheiro; que o acusado, ento, nada levou(fls.55/56).A confisso do acusado, de outra parte, restou confirmada pela vtima, que acrescentou ter o mesmo levado a sua bolsa, que foi-lhe tomada, em seguida, por populares, como se v abaixo: que, ao descer do veculo, foi surpreendido com a presena do acusado, o qual apontou uma faca em sua direo dizendo que se tratava de um assalto; que o acusado lesionou o declarante; que o acusado pegou uma bolsa presidente do declarante e saiu correndo; que a testemunha Adalberto e alguns populares, armados de pau, conseguiram tomar a bolsa das mos do acusado; que o acusado ainda tentou tomar o relgio do brao do declarante, o declarante chutou referido relgio, o que impossibilitou o acusado de lev-lo; que o acusado, nessa hora, utilizou-se de uma faca, mais uma vez lesionou o declarante; que reconhece o acusado aqui presente como autor do fato(fls.71).Posso concluir, assim, que o acusado-reconhecido em juzo pela vtima tentou subtrair a res furtiva, no logrando xito na empreitada criminosa, em face da reao do ofendido. dizer, por circunstncias alheias sua vontade.O crime, de efeito, entrou em execuo, mas no seu caminho para a consumao foi interrompido pela reao da vtima e de populares, como ressai dos depoimentos acima transcritos.Presentes esto, evidncia, todos os elementos da tentativa, da realizao incompleta da figura tpica, ou seja:a)o incio da execuo. Pegou a bolsa da vtima e saiu correndo;b) no-consumao do crime por circunstncias alheias vontade do acusado. Reao dos populares no prevista pelo acusado; ec) dolo total em relao ao crime. Malgrado no tenha logrado xito, em verdade buscava um resultado final, qual seja, a subtrao de coisa alheia mvel, mediante violncia.O acusado, ao que entrevejo dos autos, buscava a realizao da subtrao da res furtiva, mediante violncia, ou seja, buscava produzir um resultado mais grave do que efetivamente conseguiu.A propsito da tese da defesa, devo anotar que na espcie no se configurou a desistncia voluntria-como j mencionado acima-que s ocorre, como ressabido, quando o agente, iniciada a execuo e mesmo podendo prosseguir nela, no a leva adiante; mesmo podendo dar seqncia sua ao, desiste da realizao tpica. Na desistncia voluntria, o agente muda de propsito. No forado, como se deu em caso sob retina. Mantm o propsito, mas recua diante da dificuldade de prosseguir.Os Tribunais, na hiptese vertente, so unissonantes. Confira-se, a propsito, as seguintes ementas:Desistncia voluntria. Se o agente impedido de prosseguir na execuo de sua conduta, na h de se falar em desistncia voluntria(TJRS, AC 70000220046, Rel. Jos Eugncio Tedesco, j.6-04-2000).No mesmo sentido:No h falar em arrependimento eficaz ou desistncia voluntria se o iter criminis foi interrompido por circunstncias alheias vontade do acusado(TJSP, AC, Rel. Dirceu de Mello, RT599:325).Igual:Para a configurao da desistncia voluntria necessrio que o agente no tenha sido coagido, moral ou materialmente, a interromper o iter criminis(RJDTACIM 5/89).Como se extrai das ementas retro transcritas, a desistncia voluntria somente se caracteriza se a renncia ao resultado da ao criminosa decorre de circunstncias internas do autor do fato, tais como medo, piedade, o receio de ser descoberto, o remorso, etc.Seguramente, no foi o que ocorreu no caso sob retina. Aqui, o acusado, em face da interveno de populares e mesmo em vista da reao da vtima, no teve como prosseguir com a sua ao, pelo que se pode concluir que o iter criminis foi interrompido no porque o acusado tenha cessado espontanemente a sua ao, mas porque no tinha condies de prosseguir com sua empreitada criminosa.Nos autos sub oculli, tenho a convico, em face das provas que aqui se avolumam, que o acusado iniciou a execuo do seu plano, colocando em risco o bem da vtima, juridicamente tutelado, passando, portanto, da simples cogitatio para a espcie punvel da tentativa, devendo a resposta penal, com efeito, ser diminuda em 1/3, em face do iter percorrido, j que o acusado chegou, inclusive, a se apoderar da bolsa da vtima, no a tendo levado consigo, em face da reao dos populares, como j mencionado exausto.Sob tal perspectiva, devo anotar, em relao diminuio da pena, em face da tentativa, que o percentual menor, um tero, deve ser aplicado nos casos em que o sujeito ativo mais se aproximou da consumao; quanto mais longe ele estiver do seu ato criminoso, maior deve ser a atenuao, dois teros(RT 733/694).Ante o exposto, julgo procedente a denncia, para, de conseqncia, condenar o acusado C. de.L. L., devidamente qualificado, por incidncia comportamental no artigo 157 do Cdigo Pena, cuja pena-base fixo em 04(quatro)anos de recluso e 10(dez)DM, base de 1/30 do SM vigente poca do fato, que reduzo em 1/3, em face da causa de diminuio de pena prevista no pargrafo nico do artigo 14 do CP, perfazendo, assim, um total de 2(dois) anos e 08(oito) meses de recluso e 03(trs) DM, sobre as quais fao incidir, finalmente, 1/3, em face da causa de aumento de pena prevista no 2, I, do artigo 157, tambm do CP, totalizando, em definitivo, 03(trs) anos, 06(seis) meses e 20(vinte) dias de recluso, e 04(quatro)DM, devendo a pena privativa de liberdade ser cumprida, inicialmente, em regime aberto, em face do que estabelece o artigo 33, 2, letra c, do CP.O acusado deve aguardar em liberdade eventual recurso tomado desta deciso.Consigno que deixei de reconhecer a atenuante decorrente da confisso do acusado, em face de a pena ter sido aplicada no mnimo legal.Devo gizar, finalmente, que no fiz referncia circunstncias judiciais do artigo 59 do CP, pelo mesmo motivo, ou seja, porque a pena-base foi fixada no mnimo legal, em razo do que, sabe-se, no h falar-se em nulidade do decisum.P.R.I.C.Certificado o trnsito em julgado, lanar o nome no ru no rol dos culpados.Encaminhem-se os autos, aps, Central de Penas Alternativas e de Execuo, para os devidos fins, com a baixa em nossos registros.Custas, pelo acusado.So Lus, 05 de novembro de 2002.Jos Luiz Oliveira de AlmeidaJuiz de Direito da 7 Vara Criminal