sentenca acao divorcio

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Sentença em ação de divórcio JUÍZO DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE SANTA MARIA DA VITÓRIA – BA PROC. N.° S E N T E N Ç A VISTOS etc. A propôs a presente AÇÃO ORDINÁRIA DE DIVÓRCIO DIRETO LITIGIOSO contra B, alegando, em síntese, que “ que o casal já se encontra separado de fato, desde 20 de setembro de 1992, portanto, há mais de seis anos, por incompatibilidade de gênios, inclusive o Autor já vive maritalmente com outra mulher, tornando assim impossível a vida em comum, ou mesmo a reconciliação”. Depois de imputar a culpa da ruptura da vida conjugal ao “ciúme doentio” da Ré, que teria lhe expulsado de casa, requer seja julgado procedente o pedido, decretando- se o divórcio das partes, concedendo-se-lhe a guarda dos filhos menores, e condenando-se a Demandada ao pagamento a esses de pensão alimentícia, na quantia correspondente a 2 (dois) salários mínimos mensais (fls. 02/05). Docs. às fls. 08/16 Após o insucesso da Audiência Preliminar de Conciliação (fls. 20), a Ré, tempestivamente, ofereceu Contestação, na qual alegou que a separação teve como causa 1

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Divorcio

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Sentença em ação de divórcio

JUÍZO DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE SANTA MARIA DA VITÓRIA – BA

PROC. N.°

S E N T E N Ç A

VISTOS etc.

A propôs a presente AÇÃO ORDINÁRIA DE DIVÓRCIO DIRETO LITIGIOSO contra B, alegando, em síntese, que “que o casal já se encontra separado de fato, desde 20 de setembro de 1992, portanto, há mais de seis anos, por incompatibilidade de gênios, inclusive o Autor já vive maritalmente com outra mulher, tornando assim impossível a vida em comum, ou mesmo a reconciliação”.

Depois de imputar a culpa da ruptura da vida conjugal ao “ciúme doentio” da Ré, que teria lhe expulsado de casa, requer seja julgado procedente o pedido, decretando-se o divórcio das partes, concedendo-se-lhe a guarda dos filhos menores, e condenando-se a Demandada ao pagamento a esses de pensão alimentícia, na quantia correspondente a 2 (dois) salários mínimos mensais (fls. 02/05).

Docs. às fls. 08/16

Após o insucesso da Audiência Preliminar de Conciliação (fls. 20), a Ré, tempestivamente, ofereceu Contestação, na qual alegou que a separação teve como causa o abandono do lar pelo Autor; que o Demandante possui recursos financeiros suficientes para pagar pensão alimentícia, além de possuir bens em nome de terceiros; e, por fim, que não tem ela condições de pagar a pensão pleiteada pelo cônjuge (fls. 21/23).

Réplica às fls. 29/31.

Feito saneado (fls. 37,v.)

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Não compareceu a Ré à Audiência de Instrução e Julgamento. Na oportunidade, foi colhido o depoimento pessoal do Autor e ouvidas as testemunhas que se fizeram presentes, dispensando-se as demais (fls. 45/51).

As partes deixaram fluir in albis o prazo para apresentação de memoriais (fls. 52,v.).

O Ministério Público, às fls. 53/55, pronunciou-se pela decretação do divórcio, mantendo-se a guarda dos filhos menores com a Ré, partilhando-se o bem comum, e condenando-se o Autor a pagar alimentos no patamar mínimo de R$ 80,00 (oitenta reais).

Relatados. Decido.

A prova coligida aos autos deixou evidenciado que a separação de fato do casal ocorreu há mais de 2 (dois) anos (fls. 49/51). Foi preenchido, assim, o interstício temporal exigido pelo arts. 226, § 6o, da Constituição Federal, e 40, caput, da Lei n. 6.515/77, como pressuposto único para a decretação do Divórcio Direto.

Como bem salientou o Parquet, apoiado em autorizado entendimento doutrinário, é irrelevante para a decretação do divórcio direto a perquirição da culpa da separação. No entanto, como esta questão pode influir nos “efeitos secundários da sentença de dissolução de sociedade conjugal, como guarda e visita dos filhos” (fls. 54), mister seria a sua análise.

Ocorre que, no caso sub examen, nada se provou a respeito das circunstâncias em que se deu a separação do casal, apenas informando os testigos quando ela ocorreu (fls. 49/51).

Em conseqüência, por nada haver nos autos que autorize concluir pela culpa de um ou outro cônjuge pela separação, as demais questões decorrentes da dissolução da sociedade conjugal serão apreciadas abstraindo-se dessa discussão.

No tocante à guarda dos filhos menores, como se sabe, a solução deve ser aquela que melhor consulte aos seus interesses. No caso em apreço, restou provado que, apesar da precária saúde da Ré, estão eles bem-cuidados (fls. 49/51), como, aliás, reconheceu o Autor em seu depoimento pessoal (fls. 47). Assim, não há motivo para alterar esta situação, que perdura desde a separação de fato do casal (fls. 47), permanecendo o Autor com o livre direito de visitas.

Quanto aos alimentos que seriam devidos por um cônjuge a outro, embora assista razão ao Parquet, quando sustenta que aquele que pediu o divórcio direto deve ser presumido culpado, nos termos do art. 26 da Lei do Divórcio, e,

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portanto, deve continuar com o dever de assistência ao outro (Cód. Civil, art. 231, III), in casu, as partes não os pediram, nem provaram que deles necessitam, daí porque não serão objeto de decisão.

Diversa é a situação em relação aos filhos menores, pois, na tutela dos seus interesses, “qualquer provimento judicial é admissível, ainda que de oficiou ou a requerimento do Ministério Público, dada a sua natureza administrativa e provisional” (CAHALI, Yussef Said. Divórcio e Separação. 9a ed. São Paulo: RT, 2000, p. 1233).

Assim, considerando que os infantes permanecerão em companhia de sua genitora, deve o Autor contribuir com o seu sustento. Como já o faz no montante de cerca de R$ 50,00 (cinqüenta reais) a R$ 60,00 (sessenta reais) por mês, além de arcar com despesas escolares (fls. 47/51), e tendo em conta que estamos diante de pessoas de parcos recursos financeiros, razoável que a pensão permaneça neste patamar, pelo que a fixo em R$ 60,00 (sessenta reais) mensais.

Em relação ao patronímico do marido, como a Ré não manifestou interesse em permanecer utilizando-o, nem alegou nenhuma das situações previstas no parágrafo único do art. 25 da Lei n. 6515/77, perdê-lo-á.

Por fim, no que pertine à partilha do bem comum, valem, aqui, as palavras do Mestre YUSSEF SAID CAHALI, verbis:

“De há muito, porém, vem prevalecendo na jurisprudência o entendimento de que, na ação ordinária, a partilha dos bens do casal deve reservar-se ao juízo sucessivo da execução, constituindo matéria estranha ao processo de divórcio litigioso em sua fase de conhecimento, de tal modo que nem a inicial precisa indicar a proposta de partilha nem a sentença que decreta a dissolução do vínculo matrimonial precisa compor-se necessariamente com provimento a seu respeito” (ob. cit., p. 1240).

Desta forma, fica a partilha para ser deliberada ulterior e eventualmente, no juízo sucessivo da execução.

Do exposto, com espeque no art. 40 da Lei n° 6515/77, ACOLHO EM PARTE O PEDIDO FORMULADO NA INICIAL E, POR CONSEGUINTE, DECRETO O DIVÓRCIO DE A E B, QUE VOLTARÁ A USAR O NOME DE SOLTEIRA, FICANDO O CÔNJUGE VARÃO OBRIGADO A PAGAR R$ 60,00 (SESSENTA REAIS) POR MÊS, A TÍTULO DE ALIMENTOS DEFINITIVOS DEVIDOS A SEUS FILHOS MENORES, QUE PERMANECERÃO SOB A

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GUARDA DA CÔNJUGE VIRAGO, ASSEGURADO AO DIVORCIANDO O LIVRE DIREITO DE VISITAS.

Ante a sucumbência recíproca, declaro compensadas as verbas delas decorrentes (CPC, art. 21), salvo em relação ao honorários advocatícios – que ora fixo em R$ 100,00 (cem reais), em consonância com o disposto nos §§ 3o e 4o do art. 20, do CPC –, por pertencerem aos Advogados, e não às partes (Lei n. 8.906/94, art. 23).

Após o trânsito em julgado, expeça-se mandado de averbação.

Ao final, arquivem-se os presentes autos.

P.R.I. e Arquive-se cópia autêntica desta Sentença em pasta própria.

Santa Maria da Vitória, 15 de agosto de 2001

Bel. Fábio Rogério França SouzaJuiz de Direito

Titular da Única Vara Cível

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