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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS 5ª Promotoria de Justiça de Jataí EXCELETNÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DAS DAS FAZENDAS PÚBLICAS DA COMARCA DE JATAÍ – GOIÁS. “Quem quiser governar deve analisar estas duas regras de Platão: uma, ter em vista apenas o bem público, sem se preocupar com a sua situação pessoal; outra, estender suas preocupações do mesmo modo a todo o Estado, não neglicenciando uma parte para atender à outra. Porque quem governa a República é tutor que deve zelar pelo bem de seu pupilo e não o seu; aquele que protege só uma parte dos cidadãos, sem se preocupar com os outros, introduz no Estado o mais maléfico dos flagelos, a desavença e a revolta. ” (Cícero in Dos Deveres, trad. De Alex martins, p. 56) O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, através de sua representante legal, titular da Curadoria do Patrimônio Público, com fulcro na Constituição Federal, artigos 37, caput e parágrafo 4.º; 129, inciso III; na Lei Federal n.º 7.347/85 ( Lei da Ação Civil Pública); na Lei Federal n.º 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa); Lei Federal n.º 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público); no Código Civil Brasileiro, artigo 186; na Constituição do Estado de Goiás, art. 92, caput e parágrafo 4.º; e artigo 117, inciso III; e, ainda, com base no Inquérito Civil Público n.º 017/07 , em anexo, vem ajuizar a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR ATO DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DE AGENTE PÚBLICO IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DE AGENTE PÚBLICO 1 1

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Page 1: SENHORA JUÍZA DE DIREITO DA VARA DOS FEITOS DAS … · unilaterais autorização de uso e permissão de uso até os formais contratos de concessão de uso e de concessão de uso

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS5ª Promotoria de Justiça de Jataí

EXCELETNÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DAS

DAS FAZENDAS PÚBLICAS DA COMARCA DE JATAÍ – GOIÁS.

“Quem quiser governar deve analisar estas duas regras de

Platão: uma, ter em vista apenas o bem público, sem se

preocupar com a sua situação pessoal; outra, estender suas

preocupações do mesmo modo a todo o Estado, não

neglicenciando uma parte para atender à outra. Porque quem

governa a República é tutor que deve zelar pelo bem de seu

pupilo e não o seu; aquele que protege só uma parte dos cidadãos,

sem se preocupar com os outros, introduz no Estado o mais

maléfico dos flagelos, a desavença e a revolta. ” (Cícero in Dos

Deveres, trad. De Alex martins, p. 56)

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS,

através de sua representante legal, titular da Curadoria do Patrimônio Público, com

fulcro na Constituição Federal, artigos 37, caput e parágrafo 4.º; 129, inciso III; na Lei

Federal n.º 7.347/85 ( Lei da Ação Civil Pública); na Lei Federal n.º 8.429/92 (Lei de

Improbidade Administrativa); Lei Federal n.º 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do

Ministério Público); no Código Civil Brasileiro, artigo 186; na Constituição do

Estado de Goiás, art. 92, caput e parágrafo 4.º; e artigo 117, inciso III; e, ainda, com

base no Inquérito Civil Público n.º 017/07 , em anexo, vem ajuizar a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR ATO DEAÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR ATO DE

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DE AGENTE PÚBLICO IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DE AGENTE PÚBLICO

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS5ª Promotoria de Justiça de Jataí

em desfavor de:

FERNANDO HENRIQUE PERES , brasileiro, casado,

economista, natural de Serranópolis, filho de José

Peres de Assis e de Ildefonsa Peres de Assis,

portador do RG n. 766.950 SSP/GO e do CPF n.

190.982.001-68, residente e domiciliado na Avenida

Goiás – n. 387 – centro – Jataí-GO, pelos fatos e

fundamentos que seguem articulados:

1. DOS FATOS E DAS PROVAS:

Ch Chegou ao conhecimento do Ministério Público do Estado de

Goiás, através de depoimento prestado nesta 5ª Promotoria de Justiça, que o

Município de Jataí, através de seu Prefeito, ora réu, teria cedido parte de um

imóvel público para construção de um quiosque para instalação de um forno para

pizza para fruição de imóvel particular.

Ante essas informações, foi instaurado o Inquérito Civil n.º

017/07 e no curso das investigações foi determinada a retirada de fotos externas da

referida construção – fls. 05, bem como a notificação e posterior oitiva do

proprietário do imóvel contíguo – fls. 23/26.

Juntada de certidão de cumprimento de diligência pelo Oficial

de Promotoria – fls. 15/22.

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS5ª Promotoria de Justiça de Jataí

Na seqüência da instrução, foi requisitada da empresa

Construtora Hotchfiel toda documentação relativa à negociação entre o Município

de Jataí e a mencionada empresa para construção de um quiosque em imóvel

público situado em frente ao Centro Médico Municipal – fls. 27.

Juntada da documentação a fls. 28/41 .

Requisição ao Município de Jataí de informações e

documentos pertinentes ao tema – fls. 42.

Resposta a fls. 43/76, juntando cópia do termo de permissão

administrativa de uso e cópia do processo administrativo n. 13097/2007 referente à

desocupação e devolução do bem.

Relatório final a fls. 77/78.

É o breve escorço.

2. DOS BENS PÚBLICOS

É cediço que os bens públicos, classificados em bens de uso

comum, de uso especial e dominical, podem ser utilizados pela pessoa jurídica de

direito público que detém a sua titularidade ou por outros entes públicos aos quais

sejam cedidos, ou, ainda, por particulares.

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Os particulares exercem sobre os bens púbicos diferentes

formas de uso, que dão lugar a dupla classificação, segundo Maria Sylvia Zanella

de Pietro, Direito Administrativo - ob. citada – 10ª ed. - Ed. Atlas, p. 450:

a)- pelo critério da conformidade ou não da utilização com o

destino principal a que o bem está afetado, o uso pode ser normal ou anormal;

b)- pelo critério da exclusividade ou não do uso, combinado

com o da necessidade ou não de consentimento expresso da Administração, o uso

pode ser comum ou privativo.

De acordo com o jurista José dos Santos Carvalho Filho, em

sua obra Manual de Direito Administrativo – 17ª ed. - Ed. Lumen Juris – p. 992, “uso

privativo, ou uso especial privativo, é o direito de utilização de bens públicos

conferido pela Administração a pessoas determinadas, mediante instrumento

jurídico específico para tal fim.”

O festejado jurista Hely Lopes Meireles, in Direito Municipal

Brasileiro – 15ª ed. - Ed. Malheiros – p. 309, ensina que “as formas administrativas

para o uso especial de bem público por particulares variam desde as simples e

unilaterais autorização de uso e permissão de uso até os formais contratos de

concessão de uso e de concessão de uso como direito real resolúvel, além da

imprópria e obsoleta adoção dos institutos civis do comodato, da locação e da

enfiteuse.”

2.1. DA PERMISSÃO DE USO

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Segundo a administrativista Maria Sylvia Zanella di Pietro “ é

o ato administrativo unilateral, discricionário e precário, gratuito ou oneroso,

pelo qual a Administração Pública faculta a utilização privativa de bem público,

para fins de interesse público. “ (grifei).

Constam na doutrina como exemplos comuns desses atos de

consentimento: permissão de uso para feiras de artesanato em praças públicas;

para vestiários públicos; para banheiros públicos; para restaurantes ou sorveteria.1

3 . DA SITUAÇÃO EM EXAME

Conforme foi apurado no ICP n. 017/07, o Município de Jataí,

representado pelo réu, celebrou “Termo de Permissão Administrativa de Uso” com

a empresa Hochtief do Brasil S. A. para que esta construísse uma área de lazer no

imóvel público situado na Quadra 04 – Setor Hermosa – de frente para a Rua

Santos Dumont.

No mencionado termo de permissão administrativa de uso,

consta na cláusula terceira:

“CLÁUSULA TERCEIRA: Como a construção da área de

lazer propiciará melhor qualidade de vida aos integrantes da

PERMISSIONÁRIA, que beneficiará o Município, a

permissão de uso ora conferida será a título gratuito. “

1 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo, 17.ª Ed. Rio de Janeiro, Lumem Juris, 2005, p. 995.

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Tem-se pela análise das fotos enviadas pelo Município e pelo

depoimento do proprietário do imóvel contíguo, que na referida área pública foi

construído um “quiosque” com churrasqueira e forno para assar pizza para

comodidade da pessoa de Rodrigo da Silva Worms, funcionário da permissionária,

a qual locava o imóvel contíguo.

Conclui-se, portanto, que a permissão do uso do imóvel

público ocorreu tão somente para beneficiar o funcionário da empresa

multinacional Hochtief, a qual desenvolve negócios neste município, de modo que

pudesse usufruir de um quiosque com churrasqueira e forno para pizza, ainda que

fosse em terreno público.

Assim, da ilação resultante do mencionado fato, tem-se que o

ato administrativo está totalmente despido do interesse público e totalmente

permeado pela pessoalidade e pela satisfação de um interesse particular.

Ora, é cediço que mesma a autorização administrativa de uso,

ato administrativo pelo qual o Poder Público consente que determinado indivíduo

utilize bem público de modo privativo, atendendo primordialmente a seu próprio

interesse, também deve atender ao interesse público, “objetivo inarredável para a

Administração”2.

Destarte, deduz-se que o ato administrativo foi praticado com

ofensa ao princípio da impessoalidade e da supremacia do interesse público,

princípios norteadores da Administração Pública, motivo pelo qual configurada

2 CARVALHO FILHO José dos Santos – ob. citada – p. 993

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está o ato de improbidade administrativa previsto no caput do art. 11 da Lei n.

8429/92..

4- DA OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Os princípios que regem a Administração Pública estão

previstos na Constituição Federal, no artigo 37, “caput”, que textualmente

preleciona:

“Art. 37. A administração pública direta, indireta ou

fundacional, de qualquer dos poderes da União, dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios

obedecerá aos princípios de legalidade,

impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência

e, também, ao seguinte:

(omissis)

§ 4º. Os atos de improbidade administrativa importarão

a suspensão dos direitos políticos, a perda da função

pública, a indisponibilidade dos bens e o

ressarcimento ao erário, na forma e graduação

previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.”

O Artigo 4.º da lei de Improbidade Administrativa estabelece

o dever dos administradores diante da coisa pública. Vejamos:

“Art 4º Os agentes públicos de qualquer nível ou

hierarquia são obrigados a velar pela estrita

observância dos princípios de legalidade,

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impessoalidade, moralidade e publicidade no trato de

assuntos que lhe são afetos.”

A referida lei censura a ofensa aos princípios do art. 37 da

Constituição Federal, bem como aos princípios inerentes ao sistema,

exemplificativamente arrolados no art. 11, caput, da Lei n. 8429/92, por entender

que as ações e omissões atentatórias “revelam o desvio ético de conduta, a

inabilitação moral do agente público para o exercício de função pública”, nos

dizeres de Wallace Piva Martins Júnior, in Probidade Administrativa- ed. Saraiva –

3ª ed. - p. 276/277..

O princípio da supremacia do interesse público, também

chamado de princípio da finalidade pública, é definido magistralmente pela ínclita

jurista Maria Sylvia Zanello di Pietro, ob. citada, vejamos:

” Esse princípio está presente tanto no memento da elaboração da lei

como no momento da sua execução em concreto pela Administração

Pública. Ele inspira o legislador e vincula a autoridade administrativa

em toda a sua atuação. (...) pode-se dizer que o direito público somente

começou a se desenvolver quando, depois de superados o primado do

direito civil (que durou muitos séculos) e o individualismo que tomou

conta dos vários setores da ciência, inclusive a do Direito, substitui-se

a idéia do homem como fim único do direito (própria do

individualismo) pelo princípio que hoje serve de fundamento para

todo o direito público e que vincula a Administração em todas as suas

decisões: o de que os interesses públicos têm supremacia sobre os

individuais.(...) O direito deixou de ser apenas instrumento de

garantia dos direitos do indivíduo e passou a ser visto como meio para

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consecução da justiça social, do bem comum, do bem estar coletivo.

(...) Se a lei dá a Administração os poderes de desapropriar, de

requisitar, de intervir, de policiar, de punir, é porque tem em vista

atender ao interesse geral, que não pode ceder diante do interesse

individual. Em conseqüência, se, ao usar de tais poderes, a autoridade

administrativa objetiva prejudicar um inimigo político, beneficiar um

amigo, conseguir vantagens pessoais para si ou para terceiros, estará

fazendo prevalecer o interesse individual sobre o interesse público, e,

em conseqüência, estará se desviando da finalidade pública prevista

em lei. Daí o vício do desvio de poder ou desvio de finalidade, que

torna o ato ilegal.

Ligado a esse princípio de supremacia do interesse público – também

chamado de princípio da finalidade pública – está o da

indisponibilidade do interesse público que, segundo Celso Antônio

Bandeira de Mello (1995:31-33 , 'significa que sendo interesses

qualificados como próprios da coletividade – internos ao setor público

– não se encontram à libre disposição de quem quer que seja, por

inapropriáveis. O próprio órgão administrativo que os representa não

tem disponibilidade sobre eles, no sentido de que lhe incumbe apenas

curá-los – o que é também um dever – na estrita conformidade do que

dispuser a intentio legis . Mais além, diz que 'as pessoas

administrativas não têm portanto disponibilidade sobre os interesses

públicos confiados à sua guarda e realização. Esta disponibilidade está

permanentemente retida nas mãos do Estado (e de outras pessoas

políticas, cada qual na própria esfera) em sua manifestação legislativa.

Por isso, a Administração e a pessoa administrativa, autarquia, têm

caráter instrumental.'” - grifei

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Ressalte-se, por este princípio, que o interesse público é sempre

o desiderato da Administração Pública, objetivo absolutamente olvidado na

permissão de uso em voga.

Questiona-se: qual é o interesse público de se permitir a

construção de uma churrasqueira e um forno para pizza em área fechada para

utilização de um particular? Como os administrados, em geral, fruirão tais

benefícios? Desde quando a construção de uma churrasqueira e um forno para

pizza de um particular propiciará melhor qualidade de vida que beneficiará o

Município, consoante cláusula terceira do termo ? Onde está o interesse público ?

Admitindo-se como correto o ato de permissão, é de se aferir

que estaria permitida, para uso particular, qualquer área pública para construção

de área de lazer, propiciando melhoria de qualidade de vida do usuário, que

beneficiaria o município. Assim, aquele que quisesse utilizar parte de uma praça

pública para construção de piscina particular, por exemplo.

Ora, tais ilações afiguram absurdas em face da coisa pública!

O ofício da lavra da Procuradoria Geral do Município informa

que a negociação se deu de forma legal, sem lesão ao patrimônio público, com

incorporação de benfeitorias no imóvel, sem ônus para a municipalidade.

Pondera-se que o ato administrativo desde o início é eivado de

vício de desvio de finalidade, sendo nulo. Ademais, não são somente os atos com

lesão ao patrimônio público que figuram ato de improbidade administrativa, o

enriquecimento ilícito e a ofensa aos princípios da administração também são atos

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de improbidade, sendo que estes últimos dispensam o prejuízo material, na medida

em que censura o prejuízo moral.

Argumenta-se, ainda em relação à incorporação das

benfeitorias ao imóvel público, para que servirá à coletividade o quiosque com

churrasqueira e forno para pizza em uma pequena parte de um terrreno defronte

ao hospital municipal ? Pretende-se instituir um mini-clube, com acesso regrado ?

Quanto à alegação de ausência de ônus para a municipalidade,

é o mínimo que se esperava diante do ato pessoal e descaracterizado de interesse

público.

Verifica-se, ainda, a ofensa ao princípio da impessoalidade,

definido por Odete Medauar (1991) como “o princípio segundo o qual a

Administração Pública atua representada por seus agentes, situando-se estes

como longa manus. “

Segundo Fábio Medina Osório, em sua obra Teoria da

Improbidade Administrativa – Ed. Revista do Tribunais, p. 158 :

“Não atuam os agentes em nome próprio, mas, impessoalmente,

na representação dos interesses públicos da Administração

Pública. Com certeza, porque não representam, ou não poderiam

representar, seus próprios interesses, os agentes públicos devem

atuar de modo impessoal e imparcial. (...) Note-se que a

impessoalidade exige uma correta atuação do Estado, como

administrador, relativamente á sua finalidade, livre de qualquer

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inclinação, tendência ou simpatia pessoal, como bem aponta Diogo

de Figueiredo Moreira Neto. (...) “ grifei

Ainda sobre o tema, José dos Santos carvalho Filho, ob, citada,

ensina que:

“Esse princípio deve ser concebido em uma dupla perspectiva.

Em um primeiro sentido, estatui que o autor dos atos estatais é

órgão ou a entidade, e não a pessoa do agente (acepção ativa). Sob

outra ótica, torna cogente que a administração dispense igualdade

de tratamento a todos aqueles que se encontrem em posição

similar, o que pressupõe que os atos praticados gerem os mesmos

efeitos e atinjam a todos os administrados que estejam em

idêntica situação fática ou jurídica, caracterizando a

imparcialidade do agente público (acepção passiva) (...) Com isto,

preserva-se o princípio da isonomia entre os administrados e o

princípio da finalidade, segundo o qual a atividade estatal deve

ter sempre por objetivo a satisfação do interesse público, sendo

vedada a atividade discriminatória que busque unicamente a

implementação de um interesse particular.” grifei

De fato, chega-se à conclusão que o benefício só foi concedido

em face do pedido da poderosa empresa, inserto nos autos do Inquérito Civil

público, sendo certo que o administrado comum jamais conseguiria tal bônus (e

nem poderia, tamanho absurdo). Pode-se dizer que ainda que se admitisse tal

possibilidade, há motivos mais nobres para a utilização do imóvel público pelo

particular que não seja construção de churrasqueira e forno para pizza.

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Deste modo, a única finalidade deste ato administrativo foi a

satisfação de um interesse particular, para não dizer, capricho da permissionária,

haja vista que há inúmeros imóveis disponíveis para locação neste Município que já

possuem churrasqueira e forno para pizza.

Não é permitido à Administração tratar diferenciadamente

seus munícipes, sob pena da ocorrência do flagelo previsto por Cícero: a desavença

e a revolta.

Em verdade, a denúncia que originou a abertura do Inquérito

Civil Público descreve a revolta popular causada pelo ato, sendo entendido até

como doação ao particular. Ademais, há informações que a referida área é

destinada à expansão do Centro Médico, contudo, parte da importante área pública

está ocupada por um quiosque com churrasqueira e forno para pizza, cercada por

muro, para quem quiser ver e passar em frente, conforme demonstram as

fotografias inserta na procedimento investigatório.

5. DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Diz o artigo 37, caput, e parágrafo 4º, da Constituição

Federal:

“Art. 37. A administração pública direta e indireta de

qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de

legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e

eficiência e, também, ao seguinte:

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...

§ 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a

suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública,

a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na

forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação

penal cabível”.

Para atender ao comando constitucional, foi erigida a Lei

n.º 8.429, de 02.06.92, que “dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos

nos casos de enriquecimento ilícito, no exercício de mandato, cargo, emprego ou

função na administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras

providências”.

Conferindo na obra de De Plácido e Silva o verbete

Improbidade Administrativa, encontra-se:

“Improbidade. Derivado do latim improbitas ( má qualidade,

imoralidade, malícia), juridicamente, liga-se ao sentido de

desonestidade, má fama, incorreção, má condução, má índole,

mau caráter. Desse modo, improbidade revela a qualidade do

homem que não se procede bem, por não ser honesto, que age

indignamente, por não ter caráter, que não atua com

decência, por ser amoral. Improbidade é a qualidade do

ímprobo. E ímprobo é o mau moralmente, é o incorreto, o

transgressor das regras da lei e da moral. Para os romanos, a

improbidade impunha a ausência de existimatio , que atribui

ao bom conceito. E sem a existimatio, os homens se

convertem em homines intestabiles, tornando-se inábeis,

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portanto, sem capacidade ou idoneidade para a prática de

certos atos” (Vocabulário Jurídico, vol. II e III, 12.ª edição,

Editora Forense, págs. 431 e 210”)

A Lei n.º 8.429/92 surgiu para impor sanções aos agentes

ímprobos e desta forma, tutelar o bem jurídico de interesse coletivo que é a

probidade administrativa. Não conceituou o que seria ato de improbidade

administrativa, mas enunciou três categorias de atos administrativos e elencou,

numerus apertus, algumas condutas a fim de facilitar a aplicação da norma.

As categorias dos atos de improbidade administrativa

podem ser visualizadas a partir da leitura das seções do Capítulo II da referida

Lei, que trata dos atos de improbidade administrativa:

a ) Os atos de improbidade administrativa que importem Enriquecimento Ilícito,

conforme caput do artigo 9º, verbis:

“Art. 9º. Constitui ato de improbidade administrativa

importando enriquecimento ilícito auferir qualquer

tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do

exercício de cargo, mandato, função, emprego ou

atividade nas entidades mencionadas no art. 1.º desta

Lei, e notadamente: ...”.

b ) Os atos de improbidade administrativa que causam Prejuízo ao Erário,

conforme caput do artigo 10, verbis:

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS5ª Promotoria de Justiça de Jataí

“Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa

que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão,

dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial,

desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação

dos bens ou haveres das entidades no art. 1º desta Lei,

e notadamente: ...”.

c ) Os atos de improbidade administrativa que atentam contra os Princípios da

Administração Pública, conforme caput do artigo 11, verbis:

“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa

que atenta contra os princípios da administração

pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres

de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade

às instituições, e notadamente: ...”.

No tocante ao ato de improbidade administrativa por

ofensa aos princípios da Administração Pública, Wallace Piava Martins Júnior, ob.

citada, esclarece que:

“A violação de princípio é o mais grave atentado cometido

contra a Administração Pública, porque é a completa e

subversiva maneira frontal de ofender as bases orgânicas do

complexo administrativo. Grande utilidade fornece a

conceituação do atentado contra os princípios da

Administração Pública como espécie de improbidade

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administrativa, na medida em que inaugura a perspectiva de

punição do agente público pela simples violação de um

princípio, para assegurar a primazia dos valores ontológicos

da Administração Pública, que a experiência mostra tantas e

tantas vezes ofendidos à míngua de qualquer sanção. (...) a

preponderância dada aos valores morais da Administração

Pública torna muito mais efetiva e adequada a tutela da

probidade administrativa, de modo que se conforta com a

matriz do art. 11 violação a qualquer dos princípios do art.

37 da constituição federal (repetidos no art. 4º e no próprio

art. 11 como deveres dos agentes públicos), censurando atos

que, embora não necessitem produzir efeito financeiro

negativo no patrimônio público, impliquem ilegalidade,

desonestidade, incompetência, nulidades absolutas,

pessoalidade, falta de publicidade e, é claro, imoralidade. A

enumeração legal dos princípios constantes é mera

exemplificação. “

6- DAS MEDIDAS JUDICIAIS APLICÁVEIS AOS AGENTES

ÍMPROBOS

Também houve a atenção do legislador na Lei n.º

8.429/92 em definir quem seriam os sujeitos passivos das sanções nela

previstas, isto é, quais as pessoas que podem figurar como agentes ímprobos

passíveis de suas sanções:

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS5ª Promotoria de Justiça de Jataí

“Art. 1º Os atos de improbidade praticados por

qualquer agente público, servidor ou não, contra a

administração direta, indireta ou fundacional de

qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do

Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de

empresa incorporada ao patrimônio público ou de

entidade para cuja criação ou custeio o erário haja

concorrido ou concorra com mais de 50% (cinqüenta

por cento) do patrimônio ou da receita anual, serão

punidos na forma desta lei.

...

Art. 2.º . Reputa-se agente público, para os efeitos desta

Lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente

ou sem remuneração, por eleição, nomeação,

designação, contratação ou qualquer outra forma de

investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou

função nas entidades mencionadas no artigo anterior.

Art. 3.º As disposições desta Lei são aplicáveis, no que

couber, àquele que, mesmo não sendo agente público,

induza ou concorra para a prática do ato de

improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma

direta ou indireta”.

A referida Lei elencou todas as sanções cabíveis aos

agentes públicos ímprobos, em seu artigo 12, verbis :

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS5ª Promotoria de Justiça de Jataí

“Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis

e administrativas, previstas na legislação específica,

está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às

seguintes cominações:

I – na hipótese do art. 9º, perda dos bens ou valores

acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento

integral do dano, quando houver, perda da função

pública, suspensão dos direitos políticos de 8 (oito) a

10 (dez) anos, pagamento de multa civil de até 3 (três)

vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de

contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou

incentivos fiscais ou creditícios, direta ou

indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa

jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 10

(dez) anos;

II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do

dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente

ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da

função pública, suspensão dos direitos políticos de 5

(cinco) a 8 (oito) anos, pagamento de multa civil de até

2 (duas) vezes o valor do dano e proibição de contratar

com o Poder Público ou receber benefício ou

incentivos fiscais ou creditícios, direta ou

indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa

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jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 5

(cinco) anos;

III – na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do

dano, se houver, perda da função pública, suspensão

dos direitos políticos de 3 (três) a 5 (cinco) anos,

pagamento de multa civil de até 100 (cem) vezes o valor

da remuneração percebida pelo agente e proibição de

contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou

incentivos fiscais ou creditícios, direta ou

indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa

jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 3

(três) anos.”

Não obstante essas previsões, ocorrendo o dano ao erário

público, seja por ação ou omissão, dolo ou culpa, deverá se dar o devido

ressarcimento. É a determinação contida no artigo 5.º dessa Lei. Vejamos:

“Art. 5º Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou

omissão, doloso ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-

á o integral ressarcimento do dano.”

7- DA APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E DA LEI

DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA NO CASO CONCRETO.

A conduta do réu Fernando Henrique Peres ao permitir

o uso de imóvel público para construção por particular de quiosque com

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churrasqueira e forno para pizza, descrita na primeira seção, importou em violação

de princípios da impessoalidade e da finalidade pública da Administração Pública,

encontrando subsunção nas hipóteses de atos de improbidade definidas na Lei n.º

8.429/92.

Apurou-se que o ato de permissão de uso é nulo, haja

vista o desvio de finalidade, qual seja: beneficiar particular às custas do bem

público.

Acerca da ausência de prejuízo para o erário e ausência

de enriquecimento ilícito, a Lei de Improbidade Administrativa é clara:

“Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta Lei

independe:

I- da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público;

II- da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de

controle interno ou pelo Tribunal ou Conselho de

Contas.”

Insta frisar que o bem público não pode ser usado com

instrumento de benefícios para particulares em detrimento do interesse público,

por quem tem a obrigação de administrá-lo com eficiência e economicidade,

exigindo-se do administrador uma eficiência mínima.

Oportuno, neste ponto, colacionar a lição de Fábio

Medina Osório que expõe.

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“... a improbidade decorre da quebra do dever de

probidade administrativa, que descende, diretamente, do

princípio da moralidade administrativa, traduzindo

dois deveres fundamentais aos agentes públicos:

honestidade e eficiência funcional mínima. Daí decorre

a idéia de que improbidade revela violação aos deveres

de honestidade “lato sensu” e eficiência profissional em

sentido amplo. Ímprobo é o agente desonesto, tanto que

se fala, de modo pouco técnico, em lei anti-corrupção

(terminologia impregnada de conteúdo do direito penal),

indicando-se que a falta de honestidade é causa de

improbidade; mas também ímprobo o agente

incompetente, aquele que, por culpa, viola comandos

legais, causando lesão ao erário, demonstrando

ineficiência intolerável no desempenho de suas funções.

(grifei) - (Improbidade Administrativa, Observações

sobre a Lei 8.429/92, Editora Síntese, 2ª edição )

Do exposto, deflui que o ato administrativo praticado

pelo réu foi eivado de pessoalidade e despido de interesse público encontrando

perfeita adequação no artigo 11, caput da Lei de Improbidade Administrativa

(Lei n.º 8.492/92). Vejamos.

“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa

que atenta contra os princípios da administração

pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres

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de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade

às instituições, e notadamente:

(omissis)

Deste modo, configurado o ato de improbidade

administrativa praticado pelo réu Fernando Henrique Peres, consoante

demonstram os documentos integrantes do Inquérito Civil Público n. 017/07,

impõe-se a condenação daquele nas penas pertinentes.

8- DOS PEDIDOS:

Em face do exposto, requer o Ministério Público do

Estado de Goiás:

a) reconhecer a devida forma desta exordial, determinar sua autuação,

juntamente com a do Inquérito Civil Público n. 017/07 e a notificação do

requerido para oferecer manifestação por escrito, no prazo legal ( Art. 17,

§ 7.º, da Lei 8.429/92, com a redação dada pela MP 2.225-45, de 4.9.2001 );

b) após decorrido o prazo para manifestação acima, com ou sem a

apresentação dela, que Vossa Excelência, em decisão fundamentada,

receba a petição inicial3 e determine a citação do requerido para

apresentar contestação, se quiser ( Art. 17, § 8.º e § 9.º da Lei 8.429/92, com

a redação dada pela MP 2.225-45 de 4.9.2001 );

3 Isto é, reconheça a relação jurídico-processual, condições da ação e pressupostos processuais.

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c) a intimação do Município de Jataí, através de seu Vice-Prefeito4, para

facultativamente, intervir para os fins do art. 17, § 3º , da Lei n.º 8.429/92;5

d) que a comunicação pessoal dos atos processuais se proceda, nos termos do

art. 236, § 2º, do Código de Processo Civil, e do art. 41, inciso IV, da Lei n.º

8.625/93;

e) seja julgado procedente o pedido para reconhecer a existência do ato de

improbidade administrativa e a nulidade do ato de permissão de uso;

f) seja julgado procedente o pedido de condenação do requerido nas sanções

civis, nos termos do artigo 12, III, da Lei 8.429/92;

g) que seja o requerido condenado nos ônus da sucumbência.

O Ministério Público do Estado de Goiás indica e

requer como meio de provar o alegado, além dos documentos anexos,

depoimentos pessoais e perícias, sob pena de confesso, que ficam desde já

requeridos, as demais provas admitidas em direito e que se fizerem necessárias

ao pleno esclarecimento desse Juízo.

4Segundo Emerson Garcia, ob. citada, “no caso da ação principal ter sido proposta pelo Ministério Público, aplica-se, no que couber, o disposto no §3º do art. 6º da Lei n. 4717/65.” 5 Para a 1.ª Câm. de Direito Público do TJ-SP, AC 31.194-5/4, Rel. Scarance Fernandes, 9-3-1999, v.u., “ou ingressa pessoa jurídica no pólo ativo, ou não ingressa em nenhum dos pólos, permanecendo inerte.

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Dá-se a presente ação o valor de R$ 1.000,00 (um mil

reais).

Nestes termos, pede DEFERIMENTO.

Jataí, 22 de abril de 2008.

KEILA MARTINS FERREIRA GARCIA

Promotora de Justiça

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