sempre que o amor me quiser

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72 Locais Traço 72 Locais Traço Sempre que o Amor me quiser... Texto: Pedro Cristino Fotos: João Reis

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Artigo sobre a Pensão Amor para a quarta edição da revista "Traço"

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Page 1: Sempre que o Amor me quiser

72 Locais Traço72 Locais Traço

Sempre que o Amorme quiser...

Texto: Pedro CristinoFotos: João Reis

72-75 locais:Apresentação 1 13-12-2011 13:28 Página 72

Page 2: Sempre que o Amor me quiser

Para Queirós de Carvalho, a arte de reabilitarum edifício não acaba na obra, mas trans-porta-se também para o patamar humano. Oengenheiro da MainSide Investments, em-presa de investimentos imobiliários responsá-vel pela reabilitação de vários edifícios nocentro urbano de Lisboa, considera que a his-tória e as diversas utilizações que se desen-volveram, com o passar do tempo, dentro deum edifício, devem ser preservadas. É nestecontexto que nasce a Pensão Amor, um edifí-cio que em tempos albergou quatro “pensõesde alta rotação” que serviam de abrigo aosmarinheiros envoltos na volúpia das cançõesde lobo sussurradas pelas meretrizes. Hoje, aPensão Amor é um pólo de efervescência cria-tiva e comercial no Cais do Sodré, mas retémparte da sua identidade passada. “Continua-mos a alugar quartos à hora, ao dia, ao mês,mas não às senhoras e aos marinheiros, por-que agora os navegantes são outros” - lojas,escritórios, ateliers e novos locais de diversão.A identidade foi reformulada, mas mantém ostraços do passado. “Fomos beber a essamesma história, recente e rica, e reconfigu-

a Pensão Amor é um pólo

de efervescência criativa

e comercial no Cais do Sodré

“É o amor”

rámo-la aos dias de hoje”, mantendo, con-tudo, as “camadas sobre camadas” resultan-tes das utilizações que marcaram este imóvelao longo das épocas e que são agora exibidascomo cicatrizes de orgulho.

É o amor, estúpido!“É o amor”, refere Queirós de Carvalho, rela-tivamente ao rosa escolhido para cobrir o pa-vimento de asfalto que passa em frente auma das portas da Pensão Amor. Começoupor ser apenas um quadrado, uma amostra,um pantone do que o amor poderá ser aosolhos do Cais do Sodré, numas noites, Caosdo Sodré, noutras. Contudo, assim que ascondições meteorológicas o permitiram, aRua Nova do Carvalho encheu-se de amorem tons de rosa. Seja em rosa, ou vermelho,para a vida ou por uma hora, encontrado ou

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desencontrado, à primeira vista, ou à pri-meira cegueira, o amor é a Pedra de Rosetaque decifra os enigmas da “pensão” a queempresta o nome. Tomou residência emtodas as assoalhadas deste local e está lápara ficar, tal boda de prata dos nossos avós.É um amor livre e burlesco, aveludado a ver-melho numa parede tornada viva com foto-grafias de nus “anafadinhos” que enfeitaramalguns costumes que o conservadorismo dosanos 20 ousou um dia questionar. É amorcom luxúria no varão que alimenta a imagi-nação mais libertina de quem entra na Salado Varão – assim baptizada de forma não-ofi-cial. Cego, louco, é amor de viajante desen-freado do tempo de marinheiros e prostitutasque dançam slows com o ecoar de fado vadiona cabeça . É o amor dos corações partidos.É o amor do alcoolismo, é o amor doente, éo amor para o bem e para o mal.

CoordenadasMorada: Rua do Alecrim, nrº19Mail: [email protected]: 213 143 399

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