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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE TECNOLOGIA E GEOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE ENERGIA NUCLEAR PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIAS ENERGÉTICAS E NUCLEARES PATRICIA LOPES BARROS DE ARAÚJO COMPÓSITOS NANOESTRUTURADOS DE POLIANILINA COM POLI (METACRILATO DE METILA) E POLI (HIDROXIBUTIRATO): PREPARAÇÃO, PROPRIEDADES E EFEITOS RADIOLÍTICOS RECIFE 2007

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

    CENTRO DE TECNOLOGIA E GEOCINCIAS

    DEPARTAMENTO DE ENERGIA NUCLEAR

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM

    TECNOLOGIAS ENERGTICAS E NUCLEARES

    PATRICIA LOPES BARROS DE ARAJO

    COMPSITOS NANOESTRUTURADOS DE POLIANILINA COM POLI (METACRILATO DE METILA) E POLI (HIDROXIBUTIRATO): PREPARAO,

    PROPRIEDADES E EFEITOS RADIOLTICOS

    RECIFE 2007

  • PATRICIA LOPES BARROS DE ARAJO

    COMPSITOS NANOESTRUTURADOS DE POLIANILINA COM

    POLI (METACRILATO DE METILA) E POLI (HIDROXIBUTIRATO):

    PREPARAO, PROPRIEDADES E EFEITOS RADIOLTICOS.

    Tese submetida ao Doutorado do programa de Ps-Graduao em Tecnologias Energticas e Nucleares, da Universidade Federal de Pernambuco, como um dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Doutor em Tecnologias Energticas e Nucleares, rea de Concentrao: Aplicaes de Radioistopos.

    Orientador: Prof. Dr. Elmo Silvano de Arajo

    RECIFE 2007

  • A663c Arajo, Patrcia Lopes Barros de.

    Compsitos nanoestruturados de Polianilina com Poli (Metacrilato de Metila) e Poli (Hidroxibutirato): preparao, propriedades e efeitos Radiolticos / Patrcia Lopes Barros de Arajo- Recife: O Autor, 2007.

    110 folhas, il : figs., tabs. Tese(Doutorado) Universidade Federal de Pernambuco. CTG.

    Programa de Ps-Graduao em Tecnologias Energticas e Nucleares, 2007.

    Inclui Bibliografia, Apndice e Anexo. 1. Energia Nuclear. 2.Nanocompsitos Polimricos. 3.Irradiao

    Gama. 4.Radioestabilizao. 5. Polianilina. I. Ttulo. UFPE 621.4837 CDD (22. ed.) BCTG/2008-038

  • minha famlia, Dedico.

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus, por tudo. Ao Prof. Elmo S. Arajo, pela oportunidade de realizar este trabalho e pela constante

    ajuda em cada etapa desta jornada. Aos membros do Comit de Acompanhamento: Profs. Armando H. Shinohara

    (DEMEC/UFPE), Yda M. B. de Almeida (DEQ/UFPE) e Ana Paula L. Pacheco (DQ/UFRPE), pelo empenho em cooperar para o aperfeioamento deste trabalho.

    Aos colegas do Grupo de Polmeros, pela convivncia tranqila e ajuda em muitas ocasies: Abene, Aldo, Alexandre, Carlas, Flvio, Ktia, Letcia, Renata e William.

    Ao Prof. Eronides F. da Silva Jr. (DF/UFPE) e rede NanoSemiMat/CNPq, pela ajuda na comunicao dos primeiros resultados deste trabalho.

    Central Analtica (DQF/UFPE) e Laboratrio de Qumica (DF/UFPE) e seus tcnicos Eliete, Ricardo,Conceio e Virgnia pela realizao de anlises espectroscpicas.

    Aos integrantes do Laboratrio de Metrologia (CRCN/CNEN): Clayton , Marcos e Paulo Jacinto, pela realizao de medidas eltricas.

    Ao Prof. Frederico e ao Tcnico Francisco (DF/UFPE), Profa. Ingrid Weber (DQF/UFPE) e ao Tcnico George (ITEP), pela colaborao nos experimentos de MEV.

    Ao Prof. Armando H. Shinohara (DEMEC/UFPE) pelo experimento de DRIFTS. s Profa. Selma M. L. Guedes (IPEN/USP) e Helen J. Khoury (DEN/UFPE) pelas

    irradiaes das amostras. Ao PROTEN e UFRPE pela ajuda para participao de eventos cientficos e

    divulgao de trabalhos. A todos que fazem o DEN, pela acolhida nestes trs anos.

  • Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a f. Apstolo Paulo

    II Tim. 4:7

  • COMPSITOS NANOESTRUTURADOS DE POLIANILINA COM POLI (METACRILATO DE METILA) E POLI (HIDROXIBUTIRATO):

    PREPARAO, PROPRIEDADES E EFEITOS RADIOLTICOS. Autora: Patrcia Lopes Barros de Arajo Palavras-chave: PMMA, PHB, PANI, nanocompsitos polimricos, irradiao gama, radioestabilizao.

    Orientador: Prof. Dr. Elmo Silvano de Arajo

    RESUMO

    Polmeros Intrinsecamente Condutores (PICs) so macromolculas orgnicas que exibem caractersticas de condutividade eltrica semelhantes aos metais. A polianilina (PANI) conhecida como o PIC que apresenta, provavelmente, a melhor combinao de estabilidade, condutividade e baixo custo. Neste trabalho, sintetizou-se a PANI na forma nanoestruturada e foram confeccionados e caracterizados nanocompsitos polimricos contendo PANI em matriz de polmero isolante, poli (metacrilato de metila) (PMMA) e biodegradvel, poli (3-hidroxibutirato) (PHB). Dentre as aplicaes potenciais destes compsitos, esto o desenvolvimento de novos materiais estveis radiao ionizante, aplicveis como plsticos mdicos e o desenvolvimento de novos materiais orgnicos condutores, mecanicamente estveis, conhecidos como metais sintticos para uso em micro-nanoeletrnica e biomedicina. Nanoestruturas fibrilares de polianilina dopada com HCl (PANF-HCl), sintetizadas pelo mtodo de polimerizao interfacial, foram dispersas em matriz de PMMA comercial, em 0,15%, em massa, e ndic quanto ao radioestabilizante. Nesta concentrao, as PANF-HCl apresentaram capacidade de estabilizar a matriz de PMMA comercial submetida irradiao com raios gama em dose padro de esterilizao de 25kGy, de maneira a preservar 92% da massa molar viscosimtrica mdia (Mv) inicial do PMMA. Em amostras-controle irradiadas com a mesma dose, a reteno atingiu 42%. A produo de nanofibras de PANI foi tambm alcanada em sistemas monofsicos aquosos utilizando cido ()-canfor-10-sulfnico como dopante primrio. Filmes compsitos de PMMA/PANI desdopada (PANI-EB) contendo 0,15% de PANI-EB, tanto em formato nanofibrilar quando granular, mostraram menores valores de (nmero de cises por molcula original) que as amostras-controle, quando submetidos irradiao com raios gama na dose de 25kGy. Particularmente, em compsitos contendo nanofibras, no houve alterao detectvel de Mv aps irradiao nesta dose ( 0). Na dose de 75kGy, os compsitos de PMMA/PANI-EB tambm sofreram menor degradao que as amostras-controle, mostrando que a PANI-EB capaz de atuar como aditivo radioestabilizante em doses mais altas que a dose de esterilizao. Quatro tipos de compsitos de PHB/nanofibras de PANI dopadas com HCl, em concentrao entre 8 e 55% de PANI (em massa) foram preparados por polimerizao da PANI in situ, em presena de emulso de PHB. Estes compsitos apresentaram boa homogeneidade e caractersticas semicondutoras. Dados de FTIR e difrao de raios X sugerem que os dois polmeros no interagem de maneira relevante nestes compsitos. A irradiao com raios gama, na dose de 25kGy, do compsito de PHB contendo 28% de PANI-HCl elevou sua condutividade de 4,5 x 10-2 para 1,1 S/m. Isto mostra a possibilidade de melhoramento das propriedades eltricas do material quando submetido dose de esterilizao. Estudos realizados pelo teste de Sturm mostraram que a irradiao com raios gama, nesta mesma dose, provocou a diminuio da biodegradabilidade do material compsito. Estes estudos tambm evidenciaram que os compsitos, irradiados ou no-irradiados, se biodegradam mais rpido que o PHB durante o primeiro ms de testes. A partir deste perodo, a biodegradao do PHB se acelera, enquanto que a degradao do compsito praticamente deixa de ocorrer. A PANI-HCl no sofreu degradao aprecivel num perodo de testes de 80 dias.

  • NANOSTRUCTURED COMPOSITES OF POLYANILINE WITH POLY (METHYL METHCRYLATE) AND POLY (HYDROBUTIRATE): PREPARATION,

    PROPERTIES AND RADIOLITIC EFFECTS. Author: Patricia Lopes Barros de Arajo Keywords: PMMA, PHB, PANI, polymer composites, gamma irradiation, radiostabilization

    Advisor: Prof. Dr. Elmo Silvano de Arajo

    SUMMARY

    Intrinsically conducting polymers (ICPs) are organic molecules which exhibit electrical conductivity similar to metals. Polyaniline (PANI) is known for presenting the best combination of stability, conductivity and low cost of fabrication, among all ICPs. In this work, we prepared and characterized composites of nanostructured PANI and a biocompatible insulator polymer, polymetylmethacrylate (PMMA) and a biodegradable insulator polymer, poly (3-hydroxybutyrate) (PHB). As examples of potential aplications of such composites are: the developing of new radiostabilized materials, for uses as radiosterilizable medical plastics and the developing of mecanically stable organic conductor, known as synthetic metals, with direct aplications in micro-nanoelectronics and biomedicine. Fibrillar nanostructures of PANI doped with HCl (PANF-HCl) synthesized by interfacial polymerization were dispersed in a solution of commercial PMMA matrix (0.15% w/w) and tested for radiostabilizing capabilities. In this concentration, PANF-HCl showed radiostabilizing effect on PMMA matrix submitted to the standard sterilization dose of 25kGy, preserving 92% of the initial average viscometric molar mass (Mv). In control samples irradiated at the same dose, the Mv retention was 42%. The synthesis of PANI emeraldine nanofibers was also achieved in aquous one-phase systems using () camphr-10-sulfonic acid (()-CSA) as a primary dopant. Composite films of PMMA/dedoped PANI emeraldine (PANI-EB) were obtained by solution cast of the resulting mixture in glass plates. Films containing 0.15% of granular of ibrillar PANI-EB exhibited lower values (number of scissions per original molecule) than control samples, when gamma-irradiated at a 25kGy dose. In particular, there was not detectable Mv alteration in nanofiber composites after irradiation ( 0). At a 75kGy dose PMMA/PANI-EB presented less degradation than control samples, evidencing that PANI-EB is able to act as a radiostabilizing additive in doses higher than the standard sterilization. Four powder composites of PHB/ HCl-doped PANI nanofibers (PANI-HCl), having 8 to 55% of PANI-HCl (w/w) were prepared by in situ emulsion polymerization in chloroform/water, in the presence of dissolved PHB. These composites were visually homogeneous and semiconducting materials. FTIR and X-rays diffraction data suggested that these two polymers do not present relevant interaction in the composites. Gamma-irradiation at 25kGy dose increased the conductivity of the composite containing 28% of PANI-HCl from 4.5 x 10-2 to 1.1 S/m. Therefore, conducting properties of the composite material are improved by irradiation at the sterilization dose. Sturms test for assessing biodegradation showed that gamma irradiation at the same dose caused decreasing in the biodebradability of the composite. These tests also evidenced a faster biodegradation rate of the composites in the first month of testing whether irradiated or non-irradiated, when compared with neat PHB. After this period, neat PHB biodegradation rate increased while composite biodegradation subsided. PANI-HCl did not show appreciable biodegradation in a 80 days timeframe of testing.

  • LISTA DE ILUSTRAES PginaFigura 1 Estruturas dos polmeros conjugados mais comuns. a)

    Poliacetileno, b) Poliparafenileno, c) Poliparafenileno vinilideno,

    d) Politiofeno, e) Poli (3-alquil) tiofeno, f) Polipirrol, g)

    Polianilina esmeraldina, na forma bsica, h) Sal de polianilina

    esmeraldina, A- o contra-on.......................................................... 15

    Figura 2 Formas de ressonncia para o trans poliacetileno (a e b) e cis

    poliacetileno, c) cistranside e d) transiside............................... 16

    Figura 3 Representao de slitons em trans-poliacetileno: a) sliton

    neutro; b) sliton carregado negativamente; c) sliton carregado

    positivamente 18

    Figura 4 Representao da estrutura de bandas e nveis de energia em a)

    polmero conjugado perfeito e apresentando: b) sliton carregado

    negativamente, c) sliton neutro, d) sliton carregado

    positivamente, e) polaron, f) bipolaron e h) bandas de bipolaron

    surgidas entre as bandas de valncia e conduo............................. 19

    Figura 5 Estruturas octamricas da PANI, na forma bsica, em vrios

    estados de oxidao: a) leucoesmeraldina; b) esmeraldina; c)

    nigranilina e d) pernigranilina.. 22

    Figura 6 Meros constituintes de a) poli (o-alquil), b) poli (o-alcxi) e c) poli

    (2,5-dialcoxi) anilinas... 25

    Figura 7 Mecanismo de dopagem cida da PANI 26

    Figura 8 Formas da PANI e suas interconverses.. 27

    Figura 9 Ganhadores de Prmios Nobel em Cincia e Tecnologia de

    Polmeros...

    108

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABS Poli (acrilonitrila-butadieno-estireno) AMP-SA cido 2-acrilamido-2-metil-1-propanossulfnico (2-acrylamido-2-methyl-1-propanesulfonic acid) APS Peroxidissulfato de amnio (ammonium peroxydisulfate) CSA cido canforsulfnico (camphorsufonic acid) DBSA cido 4-dodecilbenzenossulfnico (4-dodecylbenzenesulfonic acid) DMF Dimetilformamida HFIP Hexafluoroisopropanol Mv Massa Molar viscosimtrica mdia NBR - Poli (butadieno-co-acrilonitrila) - NSA - cido 2-naftalenossulfnico (2-naphtalenesulfonic acid) PAN Poliacrilonitrila PANI-EB base de esmeraldina da polianilina (polyaniline emeraldine base) PANF nanofibras de polianilina (polyaniline nanofibers) PANI Polianilina PANI-HCl Polianilina dopada com cido clordrico PHB Poli (hidroxibutirato) PICs Polmeros intrinsecamente condutores PMMA Poli (metacrilato de metila) [poly (methyl -methacrylate)] POT Poli (o-toluidina) PPA cido fosfnico (Phosphonic acid) PS Poliestireno (polystyrene) PU Poliuterano PVA Poli (lcool vinlico) [(poly (vynil alcohol)] SBS Estireno-butadieno-estireno SDBS Dodecilbenzenossulfonato de sdio (sodium dodecylbenzenesulfonate) SDS Dodecilssulfato de sdio (sodium dodecylsulfate) UHMW-PE Polietileno de ultra-alta massa molar (Ultra high molar weight polyethylene)

  • SUMRIO PGINA

    1 INTRODUO 12

    2 FUNDAMENTAO TERICA 14

    2.1 Aspectos gerais... 14

    2.2 Condutividade eltrica e a Teoria de Bandas. 14

    2.3 O poliacetileno e os slitons.. 16

    2.4 O fenmeno da dopagem... 19

    2.5 A polianilina .. 20

    2.5.1 Aspectos gerais 20

    2.5.2 Mtodos de preparao da PANI e seus derivados. 23

    2.5.3 O fenmeno da dopagem por cidos na PANI. 25

    2.5.4 A dopagem secundria e seus efeitos nas propriedades

    da PANI

    27

    2.5.5 Propriedades fsicas da PANI.......................................... 28

    2.6 Mtodos de preparao em soluo e propriedades de

    compsitos de PANI com polmeros isolantes

    eltricos....................................................................... 31

    2.6.1 Preparao por polimerizao in situ da anilina na

    presena da matriz polimrica.. 31

    2.6.2 Mtodos utilizando PANI previamente preparada.... 33

    2.7 Aplicaes da PANI em compsitos com polmeros orgnicos. 39

    2.8 Nanoestruturas de PANI uma nova fronteira para o estudo

    de polmeros conjugados.. 43

    3 SNTESE E CARACTERIZAO DE COMPSITOS DE

    PMMA/POLIANILINA... 46

    4 NANOFIBRAS DE POLIANILINA COMO UM NOVO AGENTE

    ESTABILIZANTE RADIAO GAMA PARA PMMA.. 50

    5 EFEITOS DA IRRADIAO GAMA EM COMPSITOS DE

    PMMA/NANOFIBRAS DE POLIANILINA 57

  • 6 PREPARAO E CARACTERIZAO DE COMPSITOS

    CONDUTORES BIODEGRADVEIS DE POLI (3-

    HIDROXIBUTIRATO) E NANOFIBRAS DE POLIANILINA ....

    70

    7 CONCLUSES... 86

    REFERNCIAS.. 88

    APNDICE A - BREVE HISTRICO DA CINCIA DE

    POLMEROS.

    107

    ANEXO A COMPROVANTE DE SUBMISSO DE ARTIGO.. 110

  • 12

    1 INTRODUO

    Polmeros intrinsecamente condutores (PICs) so macromolculas orgnicas que

    exibem caractersticas de condutividade eltrica semelhantes aos metais.

    Em anos recentes, o otimismo quanto ao futuro dos PICs foi coroado pela premiao

    de Heeger, MacDiarmid e Shirakawa com um Prmio Nobel em 2000.

    Embora um grande nmero de PICs tenha sido sintetizado, polianilina (PANI),

    polipirrol, politiofeno e seus derivados apresentam melhores propriedades fsicas, maior

    estabilidade, facilidade de preparao e menor custo. Por isso, so alvos de inmeros estudos

    com vista s aplicaes prticas. Entretanto, desde 1984, as atenes dos pesquisadores foram

    atradas para o uso de compsitos de polmeros condutores com polmeros isolantes eltricos.

    Esta tendncia foi dirigida pela necessidade de substituio de meios condutores inorgnicos

    tradicionais e melhoramento das condies de processabilidade de polmeros condutores,

    assim como de suas propriedades mecnicas e estabilidade. Estes compsitos introduziram os

    PICs em aplicaes prticas em diversos campos, incluindo blindagem eletromagntica e

    absoro de microondas; membranas condutoras; sensores; catalisadores e transistores.

    Dentre os PICs, a PANI conhecida como tendo, provavelmente, a melhor

    combinao de estabilidade, condutividade e baixo custo. Assim sendo, ela freqentemente

    escolhida para as aplicaes anteriormente mencionadas. Apesar disso, produzir compsitos

    de PANI com caractersticas especficas no um problema de fcil soluo, pois o mtodo

    de processamento pode influir de maneira marcante nas propriedades finais do material.

    Ademais, a maneira com que a PANI sintetizada pode alterar sua estrutura tridimensional de

    tal maneira que, ao ser utilizada na confeco de um compsito, esta PANI d origem a um

    novo material. Por exemplo, a publicao de novos mtodos de sntese de PANI em forma de

    micro ou nanoestruturas, como microtubos ou nanotubos, iniciou um novo ciclo na busca de

    compsitos cada vez mais especializados.

    Este trabalho tem como objetivo principal a confeco de compsitos de PANI

    nanoestruturada com um polmero isolante biocompatvel, o poli (metacrilato de metila),

    (PMMA) e um polmero isolante biodegradvel, poli (hidroxibutirato) (PHB). Assim sendo,

    obtivemos materiais manufaturados com estes polmeros que apresentaram propriedades

    interessantes, como maior resistncia radiao gama devido presena PANI

    nanoestruturada, tanto na forma dopada quanto desdopada, na matriz de PMMA. Neste

    trabalho apresentamos um material semicondutor indito na literatura mundial, constituido de

    nanofibras de PANI em matriz de PHB. Pela primeira vez tambm a polimerizao in situ por

  • 13

    mistura rpida de reagentes foi utilizada com suceso para a obteno de nanocompsitos

    polimricos.

    As aplicaes em potencial dos materiais obtidos atravs deste estudo residem no

    desenvolvimento de novos materiais orgnicos condutores, mecanicamente estveis,

    conhecidos como metais sintticos, com aplicaes diretas em micro-nanoeletrnica e

    biomedicina. Alm disso, poderemos contribuir para o desenvolvimento de novos materiais

    estveis radiao ionizante, aplicveis como plsticos mdicos esterilizveis por radiao de

    alta energia.

  • 14

    2 FUNDAMENTAO TERICA.

    2.1 Aspectos gerais.

    Os polmeros intrinsecamente condutores (PICs) so a mais recente gerao de

    materiais polimricos. A principal diferena entre estes polmeros e os polmeros isolantes

    eltricos estudados por Staudinger, Ziegler, Natta e outros (Apendice A), reside na presena

    de ligaes conjugadas nos primeiros. Esta peculiaridade estrutural possibilita a existncia

    de superposio de orbitais em uma grande extenso da cadeia macromolecular e passagem

    de eltrons, ou seja, a conduo eltrica. Em alguns trabalhos mais antigos, a expresso

    polmero condutor era utilizada para designar compsitos de polmeros tipicamente

    isolantes e cargas condutoras. Estas misturas fsicas so melhor definidas como compsitos

    condutores. Algumas vezes a expresso polmeros extrinsecamente condutores tambm

    utilizada. Na Figura 1 so mostradas as estruturas de alguns PICs mais importantes.

    2.2 Condutividade eltrica e a Teoria de Bandas.

    A condutividade eltrica () depende de inmeros parmetros fundamentais:

    - Densidade de carreadores mveis de cargas (n) - Carga do carreador (q) - Mobilidade do carreador ()

    De maneira que:

    = nq (1)

    Slidos consistem de um sistema de N tomos que so firmemente empacotados. Cada

    estado eletrnico de energia se divide em N nveis, cada nvel est bastante prximo do outro,

    de maneira que possvel consider-los como uma banda contnua de energia. Devido

    arrumao repetitiva dos tomos em um slido cristalino, existem intervalos proibidos de

    energia (em ingls, gaps) entre as diversas bandas contnuas. A banda de mais alta energia

    ocupada chamada banda de valncia; a banda desocupada de menor energia a banda de

    conduo. Apenas carreadores de cargas com energias prximas ao topo da banda de valn-

  • 15

    )( n

    )( n

    S( )n S

    R

    )( n

    ( ) n

    N )( n

    (a) (b) (c)

    (d) (e) (f)

    )( n

    N

    H

    N

    H

    N

    H

    N

    H

    NHNHNH n( ). .+ +

    N

    H

    A-A-

    (g)

    (h)

    Figura 1. Estruturas dos polmeros conjugados mais comuns. a) Poliacetileno, b) Poliparafenileno, c) Poliparafenileno vinilideno, d) Politiofeno, e) Poli (3-alquil) tiofeno, f) Polipirrol, g) Polianilina (PANI) esmeraldina, na forma bsica, h) Sal de PANI esmeraldina, A- o contra-on.

    cia contribuem para a conduo eletrnica porque podem ser promovidos banda de

    conduo vazia. Esta promoo se d por transferncia de energia trmica do ambiente e

    resulta em livre movimento destes carreadores sob a influncia de campo eltrico aplicado.

    Materiais isolantes e semicondutores apresentam considerveis regies de energia proibida

    entre bandas de valncia e conduo, por outro lado, condutores metlicos apresentam bandas

    de valncia semipreenchidas ou superposio entre bandas de valncia e bandas de conduo,

    logo, o conceito de gap no se aplica a estes materiais. Comparativamente, materiais

    semicondutores apresentam diferenas de energia entre os dois tipos de bandas relativamente

    menores que os materiais isolantes e a promoo trmica de eltrons entre duas bandas vai

    depender da magnitude destas diferenas.

    Os conceitos expostos anteriormente podem ser empregados para explicar a

    condutividade de polmeros conjugados, tais como o poliacetileno e a polianilina (PANI).

  • 16

    2.3 O poliacetileno e os slitons.

    O poliacetileno o polmero conjugado estruturalmente mais simples. Ele

    constitudo por tomos de carbono hibridados em sp2. Em sua cadeia principal os orbitais p

    no hibridados formam um sistema extenso. Se a cadeia fosse simtrica, com todas as

    ligaes de idntico comprimento, como acontece com as ligaes do anel benznico, haveria

    possibilidade deste material atingir um estado quase-metlico, com um eltron

    desemparelhado em cada unidade CH e uma banda de conduo semipreenchida. Por outro

    lado, se as ligaes duplas fossem localizadas, o material teria caractersticas isolantes.

    A estrutura aceita para o poliacetileno pode ser descrita como (CH=CH)n, ao invs

    de ( H)n. Esta ltima estrutura representa uma espcie instvel, que sofre distoro por

    compresses e expanses da cadeia. Este fenmeno conhecido como distoro ou

    instabilidade de Peierls e descreve a formao de gaps de energia em metais unidimensionais

    por causa destas distores, levando o material ao estado de semicondutor ou isolante

    (LYONS, 1994). A cadeia carbnica do poliacetileno pode ento ser vista como um sistema

    de ligaes longas e curtas alternadas, entretanto, as ligaes no so totalmente localizadas.

    Duas possveis configuraes podem ser escritas para esta molcula, as configuraes trans e

    cis. Para cada configurao, possvel desenhar formas de ressonncia, como as mostradas na

    Figura 2. Enquanto as estruturas ressonantes 2a e 2b do trans-poliacetileno so

    energeticamente equivalentes e termodinamicamente estveis, ou seja, so estados

    fundamentais degenerados, para as estruturas 2c e 2d do cis-poliacetileno, h diferenas nos

    nveis energticos, sendo a estrutura 2d, chamada transciside, de maior energia que a

    estrutura 2c, cistranside. Conseqentemente, apenas a forma cistranside

    termodinamicamente estvel, sendo os dois estados no degenerados (CHIANG, 1977).

    (a) (b)

    (c) (d) Figura 2. Formas de ressonncia para o trans - poliacetileno (a e b) e cis poliacetileno, c) cistranside e d) transiside.

  • 17

    A condutividade de filmes semicondutores de poliacetileno aumenta bastante quando

    estes so expostos a quantidades controladas de halognios (CHIANG et al., 1978a,b;

    SHIRAKAWA et al., 1977). Isto ocorre pela injeo de cargas no sistema polimrico

    conjugado, que provoca o aparecimento de defeitos na estrutura. Esta injeo de cargas

    chamada de dopagem. O processo de dopagem diferencia os polmeros condutores dos

    polmeros isolantes. A descrio do que ocorre durante a dopagem, assim como a

    apresentao de diversos mtodos de realizao sero sumariamente expostos na seo 2.4.

    Slitons so defeitos que ocorrem no sistema polmeros conjugados. Este nome foi

    dado em analogia a ondas que se propagam sem disperso por um meio, chamadas tambm de

    pulsos solitrios de onda (ZABUSKY; KRUSKAL, 1965). Este termo no bem apropriado

    porque os slitons deveriam passar um pelo outro sem se deformarem. Isto no ocorre no caso

    destes defeitos, mesmo assim, o termo tornouse amplamente usado.

    Durante as distores sofridas pela nuvem eletrnica , possvel que slitons neutros

    sejam formados. Estes defeitos aparecem por movimentos de reverso da ressonncia de

    eltrons e do origem a um eltron desemparelhado, localizado no orbital no-ligante. Note

    que a carga total permanece zero e o spin resultante igual a , portanto, slitons neutros so

    paramagnticos. Estes defeitos podem se deslocalizar por at 15 tomos (BRDAS et al.,

    1982) e do origem a um novo estado de energia, situado na regio de energias proibidas da

    transio -*, ou seja, entre os nveis ligante e antiligante de uma cadeia perfeita (HEEGER

    et al., 1988). Experimentos de ressonncia paramagntica eletrnica, realizados em trans-

    poliacetileno, mostram a presena de um sliton neutro para cada 3000 tomos de carbono. O

    fato desta concentrao ser pouco afetada por variaes de temperatura mostra que estes

    defeitos se formam durante a isomerizao cis-trans e so aprisionados no sistema ressonante

    de maneira a no se recombinarem por ligaes cruzadas (crosslinking) (GOLDBERG, 1979).

    A presena de slitons neutros torna o trans-poliacetileno um semicondutor (SU et al., 1979).

    Os valores de condutividade para este PIC variam entre 10-5 e 10-6 S/m (CHIANG et al.,

    1977).

    Slitons carregados negativamente apresentam nveis de energia dentro da regio de

    energias proibidas ocupados por dois eltrons, enquanto que slitons carregados

    positivamente apresentam nveis de energia desocupados. Em ambos os casos, o spin

    resultante zero. Na Figura 3 so mostradas estruturas deste trs tipos de slitons no trans -

    poliacetileno.

  • 18

    (a) (b) (c)

    . +-

    Figura 3. Representao de slitons em trans-poliacetileno: a) sliton neutro; b) sliton carregado negativamente; c) sliton carregado positivamente.

    Slitons carregados surgem quando a cadeia polimrica conjugada exposta a agentes

    qumicos, assim como por meio de corrente eltrica aplicada matriz polimrica, por

    exposio luz ou por meio de fenmenos de interface. Como dito anteriormente, esta injeo

    de cargas chamada dopagem. Uma das caractersticas interessantes da dopagem a sua

    reversibilidade: uma cadeia macromolecular submetida dopagem pode retornar ao seu

    estado inicial, ou seja, ser desdopada, com pouca ou nenhuma degradao (MACDIARMID,

    2001). Clculos tericos mostram que slitons carregados formados na dopagem so mais

    estveis que os slitons neutros (SU et al., 1979).

    Quando dois slitons neutros esto bastante prximos, eles tendem a se recombinar, de

    maneira que o defeito desaparece (BRDAS et al., 1982). Em contraste, dois slitons de

    mesma carga tendem a se repelir e permanecer como dois defeitos isolados. Quando um

    sliton neutro e um sliton carregado positivamente esto localizados na mesma cadeia, eles

    podem emparelhar a fim de alcanar configurao mais estvel. Este emparelhamento d

    origem a um polaron, que um radical ction (BISHOP et al., 1981). O aparecimento do

    polaron d origem a dois estados de energia simetricamente distribudos dentro da regio de

    energias proibidas. Se o nmero de defeitos na cadeia aumenta devido ao aumento do nvel de

    dopagem, possvel que os polarons comecem a interagir. Quando a macromolcula

    conjugada submetida dopagem intensa, os polarons se recombinam para formar dois

    slitons carregados que posteriormente se separam. No trans-poliacetileno, este processo,

    inicia-se quando os tomos que contm as cargas positivas dos polarons esto afastados de 7

    ligaes. Os defeitos neutros so empurrados um em direo ao outro, at que se recombinam,

    deixando dois defeitos positivos, ou seja, um diction, com cargas afastada em at 35 ligaes

    no trans-poliacetileno ou cinco anis no poliparafenileno. Estes arranjos so chamados

    bipolarons (BRDAS et al., 1982). Na Figura 4 mostrada a representao grfica da

    formao dos nveis de energia que surgem com os slitons.

    De maneira geral, todos os defeitos so mveis e a condutividade dos PICs pode ser

    entendida em termos do movimento intracadeia e intercadeias dos slitons (FESSER, 1989;

    KIVELSON, 1982; KRINICHNYI et al., 1997).

  • 19

    Regio de energias proibidas

    (a) (c) (b) (d) (e) (f)

    Polmero desdopado Polmero

    altamente dopado

    (h)

    Figura 4. Representao da estrutura de bandas e nveis de energia em a) polmero conjugado perfeito e apresentando: b) sliton carregado negativamente, c) sliton neutro, d) sliton carregado positivamente e) polaron f) bipolaron e h) bandas de bipolaron surgidas entre as bandas de valncia e conduo. Nota: Os retngulos cinza representam as bandas de valncia e os retngulos brancos representam as bandas de conduo. As setas representam eltrons e os traos horizontais representam as bandas de conduo.

    2.4 O fenmeno da dopagem.

    Os primeiros experimentos de dopagem de PICs efetuados envolviam halognios

    como agentes oxidantes (CHIANG et al., 1977; 1978a). Esta dopagem chamada tipo p,

    pois induz formao de slitons positivos (CHIANG et al., 1978b). Chiang e colaboradores

    (1977) utilizaram cloro (Cl2), bromo (Br2), iodo (I2) e pentafluoreto de arsnio (AsF5) para

    dopar filmes de cis e trans-poliacetileno e perceberam que a transio de isolante para metal

    era funo da concentrao do agente dopante. Os filmes foram tratados com o vapor do

    dopante presso reduzida. Quando AsF5 foi usado na proporo de 0,14 unidades de dopante

    por unidade de (CH), a condutividade eltrica () de ambas as amostras elevou-se de 10-3 para

    cerca de 104 S/m, atingindo saturao em 2,2 x 104 e 5,8 x 104 S/m, temperatura ambiente,

    para os ismeros trans e cis, respectivamente. Utilizando a equao (1) e considerando que h

    apenas um carreador de carga gerado para cada AsF5 os autores calcularam que a mobilidade

    de cargas () na matriz polimrica do cis-poliacetileno era de 10-4 m2/Vs. Este valor grande,

    mesmo quando comparado ao valor de para o cobre, que de 2 x 103 m2/Vs. A equao (2)

    mostra o balano de cargas durante a dopagem do tipo p de poliacetileno com I2.

  • 20

    n]y)3I(y)CH[()2I(ny2

    3n)CH(++ (2)

    Quando a dopagem se d com reduo da macromolcula, chamada de dopagem

    tipo n. Neste caso, usa-se um dopante, doador de eltrons, como o naftaleto de sdio

    (Na+(C10H8)-.) em soluo de THF, sendo a transferncia de eltrons efetuada do radical nion

    naftaleto para o poliacetileno (CHIANG et al., 1978b). A reao qumica da dopagem do tipo

    n mostrada na equao (3).

    0)8H10C(n]y)CH(y)Na[(y]

    .8)H10C(Na[n)CH( +

    +++ (3)

    A PANI capaz de apresentar um tipo de dopagem qumica diferente daquela

    anteriormente apresentada. A protonao de sua forma bsica (Figura 1g) com cidos leva a

    uma reao redox interna e decorrente transformao a condutor (Figura 1h) sem que haja

    alterao na carga total. Este tipo particular de dopagem ser mostrado em detalhes no

    prximo tpico.

    A dopagem tambm pode ocorrer por meios eletroqumicos (NIGREY et al., 1979) ou

    por absoro de luz (HEEGER, 2001). A fotocondutividade passageira e dura at que os

    estados excitados decaiam para o estado fundamental. No caso da dopagem qumica ou

    eletroqumica, a condutividade eltrica permanece at que os carreadores sejam compensados

    quimicamente, como, por exemplo, por desdopagem.

    2.5 A polianilina.

    2.5.1 Aspectos gerais.

    A PANI tem sido um dos PICs mais investigados nos ltimos anos. No perodo de

    1987-2006, foram publicados 9.671 artigos com a palavra polyaniline, em peridicos

    indexados presentes na base de dados do Institute for Scientific Information (ISI)

    (THOMPSON, 2007). Este nmero aproximadamente duas vezes maior que o nmero de

    artigos sobre o poliacetileno, trs vezes maior que o nmero encontrado para polythiophene

    e quinhentas vezes maior do que o nmero de resultados para polypyrrol. Este interesse que

    a PANI desperta pode ser atribudo s suas propriedades fsico-qumicas superiores s dos

    demais PICs: estabilidade ambiental (NEOH et al., 1990); condutividade eltrica controlvel

    (RAY et al., 1989); cristalinidade (ANDREATTA et al., 1988; POUGET et al., 1991; MARIE

  • 21

    et al., 2003) e possibilidade de processamento em soluo pelo uso de solventes especiais

    (ANGELOPOULOUS et al., 1988) ou dopantes especializados (CAO et al., 1992).

    Os polmeros de anilina j eram conhecidos desde o sculo XIX como a anilina

    negra, substncia que se depositava no nodo durante eletrlises que envolviam anilina

    (NIETSKI, 1878), embora no se conhecesse sua composio nem tampouco sua natureza

    macromolecular. A descoberta original da anilina negra foi feita em 1859, por John

    Lightfoot. Ele criou um processo de aplicao direta da anilina para tingimento de algodo, na

    presena de agentes oxidantes, usando placas gravadas de cobre de cilindros de impresso

    (MORRIS; TRAVIS, 1992). Este o primeiro relato de uso industrial da polianilina

    (LIGHTFOOT, 1863).

    A PANI tem frmula geral [(-B-NH-B-NH-)y(-B-N=Q=N-)1-y]x, na qual B e Q

    representam anis C6H4 nas formas benzenide e quinide, respectivamente. Seus possveis

    estados de oxidao eletricamente neutros (formas bsicas) esto mostrados na Figura 5.

    Assim, na expresso acima, quando y = 1, obtm-se a forma totalmente reduzida da PANI,

    chamada base de leucoesmeraldina (Figura 5a). Quando y = 0, atinge-se o estado totalmente

    oxidado, chamado de base de pernigranilina (Figura 5d). Estados intermedirios de oxidao

    em y = 0,5 e y = 0,75 so chamados de bases de esmeraldina e nigranilina (Figuras 5b e 5c),

    respectivamente.

  • 22

    N

    H

    N

    H

    N

    H

    N

    H

    N

    H

    N

    H

    N

    H

    N

    H

    N

    H

    NN

    N

    HN

    H

    N

    HNN NN

    NNNNN

    H

    N

    HNN

    NN NN NN

    (a)

    (b)

    (c)

    (d)Figura 5. Estruturas octamricas da PANI, na forma bsica, em vrios estados de oxidao: a) leucoesmeraldina; b) esmeraldina; c) nigranilina e d)pernigranilina.

  • 23

    2.5.2 Mtodos de preparao da PANI e seus derivados.

    A PANI comumente preparada em meio cido por oxidao direta da anilina com

    agentes qumicos oxidantes. Vrias substncias tm sido utilizadas para este fim, tais como:

    dicromato de potssio (K2Cr2O7) (AYAD; SHENASHIN, 2004; ZENG; KO, 1998),

    peroxidissulfato de amnio (APS) (BEADLE et al., 1998; DAVIES et al., 1995; HELALY et

    al., 1999; JING et al., 2007; STEJSKAL et al., 2006; TRCHOV et al., 1999; ZHANG et al.,

    2006), peroxidissulfato de tetrabutilamnio (KOGAN et al., 1999), cloreto frrico (DAVIES

    et al., 1995; ZHANG et al., 2006) ou perxido de hidrognio (H2O2) na presena de

    catalisadores metlicos (SUN et al., 1997; TANDON et al., 2005) ou biolgicos (HU et al.,

    2006b; LIU et al., 1999; TAKAMURA et al., 2003). O agente oxidante mais utilizado o

    APS. As preparaes, em geral, apresentam quantidades estequiomtricas do oxidante e uma

    grande quantidade de subprodutos de polimerizao, cuja retirada torna-se inconveniente, pela

    grande quantidade de solvente necessria sua realizao (TOSHIMA; HARA, 1995). A

    variedade de mtodos empregados para a obteno da PANI leva formao de produtos

    cujas propriedades diferem de maneira marcante. Assim sendo, necessrio levar em

    considerao diversos fatores antes de escolher a metodologia de preparao. Por exemplo, a

    troca do APS por um sistema oxidante cataltico pode trazer muitas vantagens para a

    produo de PANI e outros PICs. O H2O2, em presena de catalisadores, converte-se em gua

    durante a oxidao, enquanto que o APS converte-se em hidrogenossulfato de amnio, que

    deve ser retirado por lavagem. Com o sistema Fe3+/H2O2 foi possvel a obteno de PANI

    mesmo quando a razo molar Fe3+/anilina era 1:500. Esta PANI apresentou caractersticas

    semelhantes ao produto obtido quando o APS utilizado em quantidades estequiomtricas

    (SUN et al., 1997). Outros trabalhos, no entanto, no mostraram resultados to promissores

    com este sistema. A condutividade de PANI e poli (o-cloroanilina) sintetizadas por oxidao

    cataltica com Fe3+/H2O2 atingiram apenas 10 a 50% da condutividade dos mesmos polmeros

    sintetizados por oxidao estequiomtrica com APS (SVOBODA, 2006).

    A utilizao de peroxidases como catalisadores biolgicos (CRUZ-SILVA et al., 2004;

    LIU et al., 1999; TAKAMURA et al., 2003) produz materiais com caractersticas semelhantes

    ao material sintetizado em quantidades estequiomtricas de APS, embora haja evidncia de

    maior nvel de reticulao na PANI sintetizada enzimaticamente na presena de cido p-

    toluenossulfnico como dopante (CRUZ-SILVA et al., 2004). O pH do meio reacional foi

    mantido em 3 ou 4,3, dependendo da origem da enzima. A condutividade mxima atingiu

    50 S/m quando efetua-se dopagem adicional com HCl (LIU et al., 1999). Apesar de

  • 24

    proporcionar a sntese de PANI em um meio com baixa acidez e produzir um material que

    exige menos etapas de purificao, a catlise biolgica torna-se desfavorvel pelo alto custo

    de enzimas purificadas (SVOBODA et al., 2006). Uma alternativa interessante o uso da

    hemoglobina como catalisador biolgico (HU et al., 2006b). Esta protena no uma enzima,

    mas capaz mimetizar a ao da peroxidase e apresenta custo reduzido (ZHANG et al.,

    2000).

    Um interessante mtodo sinttico utilizando a sonlise da gua para a gerao de

    radicais HO foi utilizado para a preparao de PANI. Os autores propuseram que fenmenos

    de cavitao provocados por ondas de ultra-som provocariam a ruptura homoltica da ligao

    H-OH, gerando radicais H e HO. A maior parte dos radicais se recombina localmente, mas,

    aproximadamente 20% dos radicais hidroxila formados dentro das bolhas de ar, geradas por

    cavitao, seriam capazes de atingir a interface ar-gua e se recombinarem formando H2O2. A

    adio de mais H2O2 reagente quele formado pela sonicao aumenta a velocidade de

    formao de HO, que a etapa determinante de velocidade de polimerizao. Por meio deste

    mtodo, os autores obtiveram rendimento de 74% , que representava 20 vezes mais do que o

    rendimento obtido na ausncia de sonicao. O produto de reao apresentou condutividade

    de 2,4x10-1 S/m e caractersticas espectroscpicas (FT-IR e RMN-1H) tpicas da PANI

    esmeraldina (SIVAKUMAR; GEDANKEN, 2005).

    A energia transferida pela radiao tambm pode ser utilizada para promover

    alteraes nos reagentes e viabilizar a obteno de PANI com caractersticas peculiares. Em

    dois trabalhos de diferentes grupos de pesquisa, o cido clorourico (HAuCl4) foi utilizado

    como agente oxidante e fornecedor de tomos de ouro, para a confeco de nanocompsitos

    de Au/PANI (PILLALAMARRI et al., 2005a) e nanotubos de carbono/Au/PANI (LEE et al.,

    2007) por polimerizao in situ iniciada pela radiao . As doses aplicadas ficavam entre

    3,0-3,5kGy e a irradiao foi realizada em temperatura ambiente sob atmosfera de nitrognio.

    A presena de nanopartculas de ouro com dimetro de 2,5nm a 100nm no precipitado foi

    evidenciada pelo uso de microscopia de transmisso (Transmissiom Microscopy TEM ) ou

    microscopia de transmisso por emisso de campo (Field Emission Transmission Microscopy

    - FETEM) e a condutividade dos nanocompsitos situava-se entre 100-102 S/m, dependendo

    principalmente das quantidades de HAuCl4 usadas. importante notar que nenhuma reao

    pde ser detectada em misturas no-irradiadas.

    A preparao de derivados da PANI nos quais o anel benznico substitudo com

    grupos alquil e alcxi tambm foi alvo de interesse de muitos pesquisadores. A principal

    finalidade destes estudos era a produo de formas solveis da polianilina, de maneira a

  • 25

    facilitar o seu processamento. Portanto, trabalhos sobre a sntese por oxidao qumica de

    poli (alquilanilinas) (LECLERC et al., 1989; WEI et al., 1989), poly o- metoxianilina

    (GUPTA; UMARE, 1992; MASUR et al., 2003; RAGHUNATAN et al., 1999), poly-o-

    etoxianilina (MELLO et al., 1995; RAGHUNATAN et al., 1999) assim como copolmeros de

    anilina e o- metoxianilina (MOKREVA et al., 2006) ou 2,5-dimetoxianilina (HUANG et al.,

    2003b) foram sendo publicados ao longo dos anos. Embora a melhora em solubilidade fosse

    inegvel, a condutividade destes polmeros substitudos era menor que aquela apresentada

    pela PANI, pois os grupos substituintes atrapalham a deslocalizao eletrnica da cadeia

    polimrica (WANG et al., 1991). A Figura 6 mostra as estruturas dos meros que constituem

    estes derivados de PANI.

    N

    H

    R

    (a)

    N

    H

    OR

    N

    H

    OR

    RO

    R = Alquil

    (b) (c)

    Figura 6. Meros constituintes de a) poli (o-alquil), b) poli (o-alcxi) e c) poli (2,5-dialcoxi) anilinas.

    A PANI e seus derivados tambm podem ser sintetizados eletroquimicamente por

    oxidao andica de anilina sobre um eletrodo metlico inerte, como eletrodos de platina

    (MOHILNER et al., 1962; BACON; ADAMS, 1968), entretanto, eletrodos de carbono

    tambm podem ser usados (HAND; NELSON, 1974). Este mtodo oferece algumas

    vantagens sobre os mtodos qumicos convencionais. O produto resultante pouco

    contaminado e no exige procedimento de separao elaborado do meio reacional. Este

    mtodo tambm oferece a possibilidade de acoplamento com aparelhos de anlise fsica como

    espectrmetros UV-Vis, IV e Raman para caracterizaes in situ (GENIS et al., 1990). Uma

    limitao dos mtodos eletroqumicos a quantidade restrita de material que pode ser

    sintetizado de maneira uniforme, dificultando assim o uso em larga escala desta metodologia.

    2.5.3 O fenmeno de dopagem por cidos na PANI.

    A PANI no estado de oxidao de esmeraldina apresenta um tipo de dopagem qumica

    distinto dos demais PICs. A protonao por cidos leva a uma reao redox interna e

    transio a condutor (SALANECK et al., 1986). Neste processo, a esmeraldina na forma

    bsica convertida em sal de esmeraldina por protonao e associao do contra-on

  • 26

    correspondente. Em seguida, ocorre o desemparelhamento de eltrons com a transformao

    do anel quinide em benzenide. Esta mudana leva cada unidade repetitiva a conter um

    eltron desemparelhado, uma carga positiva e um contra-on associado. Neste processo,

    diferentemente das dopagens do tipo n e p, no h alterao do nmero total de eltrons

    (WUDL et al., 1987). Embora este processo esteja razoavelmente descrito, ainda no h um

    total entendimento de seu mecanismo. Alm disso, no h clculos tericos que mostram que

    a forma condutora da PANI esmeraldina seja de menor energia que sua forma no-condutora.

    Outro aspecto interessante a ser ressaltado sobre as alteraes de condutividade da PANI com

    a dopagem, que, diferentemente dos outros PICs, as caractersticas eltricas da PANI

    dependem de duas variveis, a saber: o estado de oxidao e o nvel de dopagem. Assim

    sendo, as consideraes feitas sobre a influncia da dopagem na condutividade se referem a

    um estado de oxidao especificado. Por exemplo, a protonao de PANI leucoesmeraldina

    com cido perclrico (HClO4) resultou em um produto com condutividade de 4,0 x 102 S/m.

    Este valor semelhante ao valor de condutividade da PANI esmeraldina dopada com HCl. No

    entanto, a condutividade eltrica mxima obtida para a PANI esmeraldina com HClO4 foi trs

    ordens de magnitude menor (NEOH et al., 1991). O mecanismo de dopagem cida da PANI

    esmeraldina est mostrado na Figura 7, os contra-ons no esto representados. Na Figura 8

    so mostradas os mecanismos de intercoverso das diversas formas da PANI por dopagem e

    oxidao.

    NH N

    NH N

    H

    N NH

    +

    . .. .. ..

    [ ]

    ][ n

    n[ ]..

    .

    .

    . +NHN

    H

    N

    H

    NH

    .

    . +

    +.NH NH

    +. . .. ][ n

    N

    H

    N

    H

    n

    Reao com cidos

    Relaxao geomtrica (anel quinide passa a benzenide)

    Redistribuio de cargas e spins. A clula unitria torna-se binria

    Figura 7. Mecanismo de dopagem cida da PANI, adaptado (HEEGER, 2001).

  • 27

    NH NNH N

    NHNHNH

    NHNH

    N

    +.

    .+

    +

    ++.

    +.e-e-- e-

    .

    e-+- e-

    2H+

    H++

    + H+

    H++e-+

    Pernigranilina protonada (azul)

    Esmeraldina protonada (verde)

    Pernigranilina na forma bsica (violeta

    Esmeeraldina na forma bsica (azul)

    Leucoesmeraldina na forma bsica (incolor)

    e--

    Figura 8. Formas da PANI e suas interconverses. Adaptado de Stejskal e colaboradores (1996a).

    2.5.4 A dopagem secundria e seus efeitos nas propriedades da PANI.

    O fenmeno da dopagem de fundamental importncia para o estudo dos PICs.

    Quando um polmero condutor submetido dopagem, muitas mudanas em suas

    propriedades fsico-qumicas podem ser notadas. Como exposto em tpicos anteriores, os

    mecanismos de dopagem diferem em natureza, mas, guardam a semelhana de serem

    considerados reversveis. Os tipos de dopantes at agora expostos pertencem a um tipo

    chamado primrio assim como podemos chamar de primrias as dopagens abordadas

    nesses tpicos.

    Um novo conceito de dopagem, a dopagem secundria, foi introduzido por

    MacDiarmid e Epstein (1994), com base em observaes de evidncias fragmentadas

    apresentadas na literatura e de trabalhos experimentais realizados por aqueles autores. Um

    dopante secundrio uma substncia aparentemente inerte que, quando aplicada a um

    polmero conjugado, dopado com um dopante primrio, induz mudanas adicionais nas

    propriedades deste polmero, incluindo aumento de condutividade. Este fenmeno tem origem

    na natureza polieletroltica de polmeros como a PANI, que apresenta muitos grupos

  • 28

    ionizveis. Como conseqncia, a sua conformao em um solvente apropriado alterar a

    conformao macromolecular de um empacotamento firme para uma forma mais expandida.

    Este afrouxamento tende a favorecer a co-planaridade do sistema conjugado, aumentar a

    cristalinidade e a condutividade. Aps a remoo do dopante secundrio, as propriedades

    melhoradas do polmero tendem a permanecer, em alguma extenso, que vai depender do

    sistema (polmero/dopante primrio/dopante secundrio) (MACDIARMID; EPSTEIN, 1994).

    Os primeiros indcios da existncia deste fenmeno surgiram de maneira

    fragmentada, em trabalhos que mostravam o aumento semi-reversvel da condutividade de

    pellets e filmes quando expostos a vapores de gua (ANGELOPOULOS et al., 1987). Outras

    evidncias relatadas alguns anos depois mostravam a diferena de condutividade de filmes

    de PANI dopada com cidos sulfnicos, dependendo do solvente utilizados para sua

    fabricao: filmes dopados com o cido ()-10-canforsulfnico [()-CSA] por derrame em

    m-cresol exibiam condutividade de at 4 x 104 S/m, enquanto que filmes do mesmo material,

    preparados a partir do clorofrmio, apresentavam condutividade de apenas 10 S/m (CAO et

    al., 1992). A explicao deste fato baseia-se na capacidade do m-cresol em agir como um

    dopante secundrio para as molculas de PANI dopada com ()-CSA (MACDIARMID;

    EPSTEIN, 1994).

    Inmeros relatos de ocorrncia de dopagem secundria em PANI foram feitos desde

    os anos 90 (FOLCH et al., 1996; GEETHA et al., 2005; HO, 2002; POKHODENKO et al.,

    2000) de maneira que este conceito est consolidado na cincia e tecnologia de PICs.

    2.5.5 Propriedades fsicas da PANI.

    H muitas possibilidades para a estrutura qumica do esqueleto carbnico da PANI.

    muito difcil estimar com preciso um arranjo molecular assumido, pois as estruturas so

    afetadas pelo estado de oxidao e por protonaodesprotonao do tomo de nitrognio.

    Alm disso, a natureza do contra-on pode afetar a conformao macromolecular, assim como

    a excitao eletrnica envolvida na deslocalizao dos eltrons.

    A difrao de raios-X, que uma tcnica convencional para a elucidao estrutural,

    tem seu uso limitado para a PANI por causa de sua natureza predominantemente amorfa. A

    energia transferida durante a aplicao de mtodos espectroscpicos, por sua vez, pode

    provocar alteraes na configurao molecular por meio de excitao ou ionizao,

    dificultando a interpretao dos dados obtidos (GENIS et al., 1990).

  • 29

    Para contornar as dificuldades associadas determinao da morfologia e estrutura da

    PANI, pode-se trabalhar com oligmeros curtos de anilina em trabalhos experimentais ou

    tericos. Embora as informaes obtidas no possam ser totalmente transferidas para cadeias

    polimricas, possvel obter algumas indicaes teis, tais como: a contribuio das

    interaes intra e intermoleculares para a organizao das macromolculas de PANI

    (IVANOVA et al., 2005), propriedades de dinmica molecular (CHERRAK et al., 2005) e

    mecanismo de polimerizao (IRI-MARJANOVI et al., 2006).

    Os primeiros estudos sobre as propriedades eltricas dos produtos de oxidao da

    anilina mostravam que este polmero apresentava condutividade entre 10-11 e 102 S/m (POHL;

    ENGELHAR, 1962). Estes valores eram, no entanto, difceis de serem reproduzidos e o

    nmero de estudos sistemticos, at ento, era reduzido. As discrepncias para a

    condutividade em funo de mtodo de sntese foram reduzidas para menos de 10%, pelo

    emprego de mtodos de sntese bem-definidos, utilizando o APS como agente oxidante e

    cido sulfrico em pH 1. Os valores de condutividade assim obtidos ficavam em torno de

    104 S/m (YU et al., 1967). Em estudo mais recente, Stejskal e Gilbert (2002) reuniram

    resultados obtidos pelo mesmo protocolo (oxidao estequiomtrica de anilina com APS na

    presena de HCl em meio aquoso, temperatura ambiente), por oito diferentes pesquisadores

    de cinco instituies de diferentes pases. Embora todos os participantes do projeto tenham se

    mostrado capazes de preparar a PANI esmeraldina em sua forma condutora,

    independentemente do nvel de experincia profissional, um desvio-padro de 40% na

    condutividade eltrica foi encontrado para as diversas amostras obtidas. Desta maneira, os

    autores concluram no ser possvel atribuir um nico valor de condutividade ao material

    sintetizado pelo mtodo em questo, mas simplesmente a ordem de grandeza para este valor,

    que era tipicamente de 102 S/m, ocasionalmente excedendo 103 S/m.

    A temperatura em que o material obtido tambm um fator que altera a

    condutividade: amostras de PANI obtidas a temperaturas mais baixas (00C), tendem a ser

    mais ordenadas e, por conseguinte, mais condutoras que aquelas amostras sintetizadas em

    temperaturas prximas temperatura ambiente (CHIANG; MACDIARMID, 1986). Em

    variaes mais extremas de temperatura, de 20 a -500C, no h correlao clara entre

    temperatura e condutividade, embora os produtos obtidos na temperatura mais baixa, por

    oxidao com APS, na presena de uma variedade de cidos, sejam mais cristalinos e exibam

    menor ndice de polidispersividade (STEJSKAL et al., 2004).

    A PANI tem grande afinidade com a gua, sendo capaz de ret-la em quantidade

    proporcional a 40% de seu peso, dependendo do mtodo de sntese (DORIOMEDOFF et al.,

  • 30

    1971). A presena de traos de umidade eleva ligeiramente os valores de condutividade, como

    percebido por Chiang e MacDiarmid (1986), quando registraram a condutividade do sal

    hidroclrico de PANI esmeraldina em funo do tempo de secagem em vcuo dinmico.

    Nestas condies, os valores de condutividade diminuram de 1,2 x 103 S/m para

    aproximadamente 4 x 102 S/m em 40h. Acredita-se que a solvatao diminua a interao

    eletrosttica entre os grupos imino protonados e os correspondentes contra-nions, permitindo

    conformaes com maior grau de coplanaridade e, conseqentemente, maior condutividade

    (CHIANG; MACDIARMID, 1986). Este fenmeno pode tambm ser uma das causas de

    discrepncias dos valores de condutividade relatados para produtos obtidos pelas mesmas

    rotas sintticas (STEJSKAL et al., 2004).

    A insolubilidade e infusibilidade da PANI representavam entraves para aplicaes

    prticas deste polmero. No incio dos anos 60 surgiram os primeiros relatos de mtodos de

    solubilizao da forma bsica da PANI em solventes como a dimetilformamida (DMF) e a

    piridina (MOHILNER et al., 1962). A solubilidade da PANI em cido sulfrico tambm foi

    relatada em anos seguintes (ANDREATTA et al., 1988; DORIOMEDOFF et al., 1971). A

    solubilidade da forma bsica da PANI em N-metilpirrolidona, reportada pela primeira vez por

    Angelopoulos e outros (1988), representou um avano na questo da processabilidade da

    PANI, pois permitia a manufatura de filmes e fibras a partir de solues orgnicas. Entretanto,

    com a PANI base no condutora, os filmes e fibras produzidos por este mtodo exigiam

    dopagem posterior ao processamento. Uma soluo satisfatria ao problema foi encontrada

    por Cao, Smith e Heeger (1992). Eles propuseram o uso de cidos protnicos funcionalizados

    para dopar a PANI e, simultaneamente, produzir complexos solveis em solventes orgnicos

    comuns. Estes cidos funcionalizados foram generalizados pela frmula:

    H+(M- - R)

    A parte aninica (M- - R) representa a natureza do contra-on aps a formao do

    complexo com a PANI e o grupo funcional R escolhido de maneira a ser compatvel com o

    solvente desejado. Os cidos sulfnicos foram utilizados inicialmente com sucesso e este

    fenmeno passou a ser referido como processabilidade induzida por contra-on. Dentre os

    dopantes sulfnicos funcionalizados mais utilizados esto o ()-CSA (CAO et al., 1992;

    MARTENS et al., 1999; RANNOU et al., 1999; STEJSKAL et al., 2004; ZHANG; WAN,

    2002) e o cido 4-dodecilbenzenossulfnico (DBSA) (CAO et al., 1992; STEJSKAL et al.,

    2004; YIN; RUCKENSTEIN, 2000). Em seu trabalho original, Cao e colaboradores (1992)

    relataram que a PANI dopada com ()-CSA apresentou-se muito solvel em clorofrmio, m-

    cresol e cido frmico temperatura ambiente, enquanto que amostras de PANI dopada com

  • 31

    SDBS eram muito solveis em xileno, clorofrmio e m-cresol. As condutividades de pellets

    de amostras PANI/()-CSA e PANI/DBSA foram de 1,8 x 102 e 2,6 x 103 S/m,

    respectivamente. Estes valores so muito semelhantes aos valores relatados para a PANI

    dopada com cidos inorgnicos comuns. De fato, a estabilidade eltrica da PANI/DBSA

    supera a dos produtos de protonao utilizando HCl, pois processos convencionais de

    desdopagem com NH4OH aquoso no conseguem converter totalmente a PANI/DBSA sua

    forma bsica. Esta resistncia desprotonao se deve, ao menos parcialmente, interao da

    poro hidrofbica do DBSA com as cadeias de PANI. Esta interao dificulta a retirada dos

    prtons pela base (STEJSKAL et al., 2004). Alm destes dois dopantes funcionalizados, uma

    infinidade de outros cidos, inclusive, no-sulfnicos, foram testados com relativo sucesso,

    tais como: cido pcrico (AHMED, 2002) e vrios cidos dicarboxlicos (ERDEM et al.,

    2004).

    A processabilidade induzida por contra-on permitiu a fabricao de compsitos por

    co-dissoluo da PANI dopada e matriz polimrica de interesse e abriu novas perspectivas

    para a pesquisa em metais sintticos.

    2.6 Mtodos de preparao em soluo e propriedades de compsitos de PANI com

    polmeros isolantes eltricos.

    Pud e colaboradores (2003) dividiram os mtodos de preparao de compsitos de

    PANI em duas grandes categorias: mtodos baseados na polimerizao in situ da anilina em

    presena de matriz polimrica e mtodos baseados na mistura de PANI previamente

    preparada com a matriz polimrica isolante eltrica. Os dois tipos de mtodos sero

    detalhados a seguir.

    2.6.1 Preparao por polimerizao in situ de anilina na presena de matriz polimrica.

    Neste tipo de preparao, os reagentes necessrios para a sntese da PANI so

    acrescentados a um meio contendo a matriz polimrica isolante dissolvida ou emulsionada.

    Alternativamente, a matriz em estado slido pode ser impregnada com solues dos

    reagentes, servindo de meio para o crescimento das cadeias de PANI ou recobrir eletrodos

    sobre os quais a anilina eletroquimicamente oxidada enquanto se incorpora matriz que

    envolve o eletrodo.

  • 32

    Partculas coloidais de PANI de diversos tamanhos e formas foram obtidas a baixas

    temperaturas (0 50C) pela oxidao de hidrocloreto de anilina com APS em disperso

    aquosa dos seguintes polmeros: HALOFLEX EP 252, um copolmero clorado de ltex

    (BEADLE, 1992); poli (cido acrlico) (HINO et al., 2006); poli (lcool vinlico) (PVA)

    (GANGOPADHYAY et al., 2001; HINO et al., 2006; STEJSKAL et al., 1996b) e poli (N

    vinilpirrolidona) (STEJSKAL et al., 1996b). Os compsitos condutores obtidos apresentaram

    boa disperso da polianilina na matriz isolante. O tamanho das partculas e suas propriedades

    coloidais podem se manter por meses e at anos aps a preparao (STEJSKAL et al., 1996b).

    Filmes mecanicamente estveis de compsitos de PANI/PVA puderam ser obtidos a

    partir de solues aquosas por mtodo de derrame em placas de vidro. Estes filmes se

    mostraram eficientes como blindagem para radiao na faixa de microondas

    (GANGOPADHYAY et al., 2001).

    Polmeros insolveis em gua tambm podem servir de matriz para polimerizao in

    situ da PANI em emulses. Compsitos de PANI/PMMA (YANG; RUCKENSTEIN, 1993) e

    PANI/poliestireno (PS) (RUCKENSTEIN; YANG, 1993) foram preparados em sistema com

    uma fase aquosa contendo dodecilbenzenossulfonato de sdio (SDS) como surfactante e uma

    fase orgnica insolvel em gua contendo o polmero-matriz e a anilina. A polimerizao da

    anilina acontece pela adio de um agente oxidante dissolvido em soluo aquosa de HCl.

    Filmes compsitos, obtidos aps precipitao e processamento por prensagem, apresentaram

    condutividade de 2x102 a 5x102 S/m e boas propriedades mecnicas.

    Os exemplos anteriormente citados mostram que a abordagem coloidal de preparao

    de compsitos uma interessante opo para a sntese de misturas fsicas de PANI com

    matrizes polimricas isolantes eltricas.

    Substratos em forma de folhas flexveis tambm podem ser usados como meio para a

    polimerizao in situ da PANI. Byum e Im (1993) mergulharam filmes de Nylon-6

    impregnadas com anilina em uma soluo cida de APS ou FeCl3. Os compsitos resultantes

    apresentaram condutividade de 1,12 S/m, transparncia de cerca de 75% em relao ao filme

    controle, boa estabilidade ambiental e excelentes propriedades mecnicas. Um mtodo

    semelhante foi utilizado para a confeco de compsitos de PANI/PMMA e PANI/poli

    (cloreto de vinila), sendo a anilina previamente dissolvida em um pouco da mesma matriz

    num solvente adequado e ento incorporada ao filme plstico. Os compsitos obtidos

    apresentaram transparncia de 60-70% em 500nm e condutividade entre 10-1 e 10-2 S/m

    (WAN et al., 1995).

  • 33

    Na sntese eletroqumica, o monmero, o solvente e o nion do eletrlito se difundem

    na matriz polimrica que recobre o nodo de uma clula eletroqumica. A polimerizao

    ocorre na interface entre o eletrodo e o filme polimrico. O filme compsito resultante pode

    ser facilmente retirado do eletrodo e lavado. Inmeros trabalhos mostraram a preparao de

    compsitos de polianilina com polmeros orgnicos, tais como: poliuretano (PU) (PEI; BI,

    1989), poli (estirenossulfonato) (SAWAI, 1990), policarbonato (DOGAN et al., 1992), poli

    (cido 2-acrilamido-2-metil-1-propanossulfnico) (AMP-SA) (LAPKOSKY, 1993), PMMA

    (KARAKISLA et al., 1996), polissulfona (HU et al., 2006a).

    Mtodos eletroqumicos de preparao de compsitos apresentam algumas vantagens

    sobre mtodos de polimerizao qumica, tais como: h possibilidade de controle estrito de

    propriedades da PANI produzida alterando-se as propriedades do meio eletroltico; os

    subprodutos de reao so grandemente minimizados; filmes mecanicamente estveis so

    obtidos com relativa facilidade. Apesar disso, este mtodo no pode ser usado em grande

    escala, pois o tamanho da pelcula obtida equivalente ao tamanho do eletrodo. Outra

    desvantagem a necessidade de permeabilidade da matriz polimrica aos eletrlitos e

    monmero para que haja a deposio da PANI. Em geral, os mtodos eletroqumicos so mais

    adequados para sistemas de pequena geometria, tais como sensores, dispositivos

    microeletrnicos e baterias (ANAND et al., 1998; HATCHETT et al., 1999; MACDIARMID,

    1997).

    2.6.2 Mtodos utilizando PANI previamente preparada.

    A baixa solubilidade e infusibilidade da PANI representam grandes empecilhos para a

    preparao de compsitos. Diversas abordagens foram relatadas para a soluo destes

    problemas.

    A substituio da anilina por monmeros C-alquil-substitudos (LECLERC et al.,

    1989; WEI et al., 1989) produz derivados de PANI solveis em solventes orgnicos. Quando

    os substituintes no so muito volumosos, a condutividade de compsitos destes derivados

    suficientemente boa para aplicaes especficas. Dentre os derivados C-alquil-substitudos

    mais estudados esto a poli (o-toluidina) (POT) e a poli (m-toluidina) (DAO et al., 1989;

    ANAND et al., 1999). Compsitos de ABS [poli (acrilonitrila-butadieno-estireno)] com POT

    dopada com cido pcrico apresentaram limiar de percolao de 3% (m/m), com a

    condutividade aumentando em trs ordens de magnitude nesta concentrao. A condutividade

  • 34

    deste compsito chega saturao em 100 S/m quando a concentrao de POT atinge 50%

    (m/m) (AHMET et al., 2000).

    Derivados C-alcoxilados de PANI tambm foram estudados com respeito

    solubilidade e condutividade eltrica. A deslocalizao eletrnica nestes derivados maior

    que aquela encontrada nos equivalentes C-alquilados, especificamente pela caracterstica

    doadora de eltrons dos grupos alcxi por efeito mesmero (MACINNES; FUNT, 1988;

    RAGHUNATHAN, 1999). Desta maneira, poli (alcoxianilinas) foram sintetizadas por

    diferentes mtodos e utilizadas em compsitos com poli (fluoreto de vinilideno)

    (MALMONGE; MATTOSO, 1995); poli (epicloridrina - co - xido de etileno) (HYDRIN

    C) (GAZOTTI et al., 1999) e PU (GONALVES et al., 1995).

    Esta rota de preparao no parece ter atrado a ateno de pesquisadores a partir do

    ano 2000, de maneira que poucos artigos sobre compsitos de derivados de PANI so

    encontrados recentemente na literatura.

    Compsitos confeccionados por co-dissoluo da matriz isolante e PANI, dopada com

    cidos orgnicos funcionalizados, apresentam caractersticas vantajosas quando comparadas a

    compsitos de derivados de PANI, dentre estas vantagens esto a alta condutividade e os

    baixos limites de percolao eltrica. Esta abordagem tem se tornado bastante importante para

    a preparao destes materiais (HOPKINS et al., 2004).

    Muitos fenmenos interessantes ocorrem quando as cadeias de PANI dopada solvel

    interagem com o polmero-matriz na qual est inserida. As conformaes assumidas pela

    PANI e sua disperso na matriz so influenciadas por diversos fatores, tais como: solventes,

    natureza qumica do dopante, razo molar entre dopante e PANI, natureza da matriz

    polimrica e mtodos de homogeneizao. Estas possveis mudanas, por sua vez,

    influenciam a extenso de deslocalizao dos carreadores de cargas, as distncias entre os

    stios condutores e a condutividade final do material (LASKA, 2004).

    Assim como acontece em filmes puros de PANI, filmes compsitos preparados por

    derrame de solues contendo solventes que apresentem pouca interao, como o

    clorofrmio, apresentam as cadeias de PANI em conformao empacotada. Solventes capazes

    de agir como dopantes secundrios, como o m-cresol, favorecem a conformao expandida da

    PANI e melhoram as propriedades eltricas do material (LASKA, 2004). A utilizao destes

    solventes ajudou a reduzir bastante os limiares de percolao eltrica (HOPKINS et al., 2004;

    VALENCIANO et al., 2000). Um compsito de PMMA e PANI dopada com CSA, utilizando

    m-cresol como solvente, apresenta a transio isolante-condutor quando a frao em volume

    de PANI-CSA cerca de 0,3% (YOON et al., 1995). Este valor muito menor que o previsto

  • 35

    pela teoria da percolao para cargas com partculas esfricas, como o negro-de-fumo, que

    de 16% (STAUFFER, 1985). Naturalmente, o fenmeno de dopagem secundria em

    compsitos no se restringe a materiais preparados pelo mtodo descrito neste tpico.

    Compsitos preparados por polimerizao in situ de PANI tambm apresentam o mesmo

    fenmeno (XIE et al., 2001).

    Desde o primeiro trabalho que fez o relato da solubilidade de PANI induzida por CSA

    como contra-on e subseqente elaborao de compsitos com polmeros isolantes (CAO et

    al., 1992), uma grande variedade de dopantes funcionalizados foi utilizada para o mesmo fim,

    tais como cido 2-naftalenossulfnico (-NSA) (HOPKINS et al., 2004); cido fosfnico

    (PPA) (PLANS et al., 1999); hidrogenofosfato de diisooctila (DiOHP) (LASKA, 2004) e

    cido dodecilbenzenossulfnico (DBSA) (LEYVA et al., 2001, PAN et al., 2005; YONG et

    al., 2006). Embora a adio destes dopantes seja essencial para a elaborao compsitos, eles

    tambm interferem na disposio das cadeias polimricas em soluo e em estado slido. O

    DiOHP, por exemplo, favorece a conformao empacotada, de maneira que parte das cadeias

    de PANI apresenta-se enovelada em filmes de matrizes to distintas quanto PMMA, nylon 6 e

    12, derivados de celulose, PS ou ABS, mesmo quando obtidos por derrame de soluo em m-

    cresol (LASKA, 2004). O CSA, por sua vez, favorece a conformao estendida da PANI, de

    maneira que compsitos de PANI-CSA/acetato de celulose mostram espectros UV-Vis-NIR

    caractersticos de conformao estendida para a PANI (LASKA, 2004). Em um outro relato,

    imagens de microscopia eletrnica de transmisso de compsitos desta mesma matriz,

    preparada de solues de m-cresol e PANI dopada com PPA, mostram agregaes lineares da

    PANI ocorrendo entre gros de cerca de 10nm de dimetro, junto com outras agregaes mais

    compactas (PLANS et al., 1999), dados de UV-Vis-NIR no foram mostrados.

    A influncia da matriz polimrica na conformao da PANI e propriedades do material

    final no pode ser desconsiderada, quando tentamos entender e/ou prever estas propriedades

    em compsitos. Laska (2004) dividiu as matrizes polimricas em dois tipos: um reunindo

    aquelas matrizes que contm grupos qumicos capazes de formar ligaes hidrognicas, tais

    como carbonilas, hidroxilas e grupos amina e amida; e um segundo tipo, constitudo por

    matrizes incapazes de tal interao, como as poliolefinas e polidienos. Segundo o mesmo

    autor, se as molculas de PANI podem formar ligaes hidrognicas com a matriz, suas

    conformaes seguiram o padro da matriz, quando estas interaes no existirem, a

    conformao da PANI depender apenas do dopante e do solvente utilizados. Assim sendo,

    quando comparamos a condutividade compsitos de PMMA e de PS com PANI-DiOHP na

    concentrao de 5% (m/m), em m-cresol, percebemos que os compsitos de PANI-DiOHP/PS

  • 36

    apresentam condutividades de 2 a 10 vezes maiores. Isto pode ser explicado pela capacidade

    do PMMA em formar ligaes hidrognicas com os grupos amina da PANI e pela tendncia

    das molculas desta matriz de assumirem conformao enovelada, induzindo assim ao mesmo

    tipo de agregao nas cadeias de PANI. O PS, no entanto, no pode formar ligaes deste

    tipo, alm do que, tende tambm a separar-se em fase distinta com muitos outros polmeros.

    Se esta caracterstica persiste em misturas fsicas com a PANI, ento a conformao do

    polmero condutor ser predominantemente guiada pelo solvente e dopante (LASKAS, 2004).

    Fenmeno semelhante foi verificado por Yong e colaboradores (2006) em compsitos de

    PANI-DBSA com o elastmero poli(butadieno-co-acrilonitrila) (NBR). Os compsitos

    preparados de amostras de NBR contendo mais meros de acrilonitrila (41,4 e 48,2%,

    respectivamente) apresentaram condutividades eltricas mais altas (at 1 S/m) do que aqueles

    preparados com NBR contendo 25,7 e 33% deste mero (10-1 S/m).

    Na Tabela 1 apresentada a relao de alguns compsitos obtidos por esta rota e suas

    condutividades imediatamente acima da concentrao de transio isolante-condutor.

  • 37

    Tabela 1. Compsitos de PANI dopada com cidos funcionalizados elaborados por mtodos em soluo.

    Matriz Dopante Solvente Condutividade

    (S/m)

    Concentrao PANI (%m) Propriedades Referncia

    PMMA CSA m - cresol 1 2 Filmes transparentes com qualidade ptica.

    CAO et al.,

    1992

    PU - NSA HFIP 10-1 2 Filmes flexveis ligeiramente transparentes HOPKINS et al., 2004

    SBS DBSA Tolueno 100 7,5 Filmes condutores transparentes. LEYVA et al., 2001.

    PAN DBSA CHCl3/DMSO 10-1 4 Componentes com disperso em nvel nanomtrico.

    PAN et al.,

    2005

    UHMW-

    PE

    CSA m-cresol/decalina 1 5 Diminuio no calor de fuso da matriz em aproximadamente 6%.

    Resistncia trao mantida.

    VALENCIANO

    et al., 2000

    NBR DBSA CHCl3 1 3,2 Matrizes contendo mais meros de acrilonitrila apresentaram melhores

    propriedades eltricas

    YONG et al.,

    2006

  • 38

    Em 1988, Angelopoulos e co-autores descobriram que a PANI, em sua forma bsica,

    era capaz de se dissolver em N-metilpirrolidona (NMP). A frao de baixa massa molar da

    PANI bsica tambm se dissolve em DMF (GENIS et al., 1988).

    A solubilidade da PANI em forma bsica pode ser aproveitada para a confeco de

    seus compsitos com matrizes isolantes. Assim, em um trabalho recente (CHEN et al., 2007),

    compsitos de PVA com PANI dopada por DBSA foram obtidos pela dissoluo de PANI

    base em NMP. Os filmes obtidos apresentavam concentrao de PANI de at 0,06% (em

    massa) e condutividade de 1,7 x 10-2 S/m. Compsitos destes mesmos materiais apresentaram

    condutividades prximas em concentraes muito mais altas de PANI-DBSA, quando

    preparados por mtodos em soluo de PANI dopada: 5,5 x 10-1 S/m para 6,9% (em massa) de

    PANI - DBSA (SU; KURAMOTO, 2000). Este fato evidencia a importncia do mtodo de

    preparao nas propriedades finais do material.

    Filmes preparados em soluo de PANI base em NMP costumam apresentar falta de

    uniformidade no grau de dopagem. Este problema surge porque os grupos NH da PANI

    podem formar ligao hidrognica com os grupos C=O na NMP. Estes grupos C=O podem,

    por sua vez, formar ligaes hidrognicas com o cido dopante, diminuindo as chances de

    efetivao da dopagem (CHEN; LEE, 1993). Uma maneira de contornar este problema a

    utilizao de matrizes polimricas cidas, tais como o poli (cido acrlico) (HU et al., 1998) e

    o PS levemente sulfonado (FU et al., 1996), que conferem, ao mesmo tempo, dopagem

    qumica uniforme e estabilidade mecnica aos filmes. Este mtodo se mostrou eficiente,

    apesar da baixa acidez das matrizes polimricas; o PS sulfonado utilizado no trabalho de Fu e

    colaboradores (1996) continha apenas 5,3% (em mol) de grupos sulfnicos cidos, mesmo

    assim, os complexos macromoleculares formados se mostraram estveis.

    Outro problema apresentado por este mtodo de preparao com NMP como solvente

    a baixa termoestabilidade da condutividade dos compsitos obtidos (YIN et al., 1997). Este

    problema pode decorrer da dificuldade da eliminao total deste solvente, que apresenta ponto

    de ebulio elevado (2450C). A NMP demonstra tambm surpreendente capacidade de

    reduo completa da PANI esmeraldina base ao estado de leucoesmeraldina, por aquecimento

    a 160-1800C sob fluxo de nitrognio (AFZALI et al., 1997). Como a leucoesmeraldina

    isolante, mesmo o aquecimento moderado em compsitos que contenham resduos de NMP

    pode reduzir o percentual de PANI esmeraldina, prejudicando a condutividade do material.

    Os relatos at aqui apresentados, embora longe de serem considerados definitivos,

    demonstram o nvel de complexidade envolvido na manufatura de misturas fsicas de PANI e

    seus derivados com matrizes polimricas. Os inmeros fatores a serem considerados, durante

  • 39

    o planejamento e execuo destes experimentos, torna esta tarefa um grande desafio para

    pesquisadores tericos e experimentais.

    2.7 Aplicaes da PANI em compsitos com polmeros orgnicos.

    Desde o primeiro relato da anilina negra, por John Lightfoot (LIGHTFOOT, 1863),

    ficou claro que o interesse nos polmeros de anilina residia grandemente nas perspectivas de

    seus usos comerciais. Dentre estas perspectivas, esto as boas combinaes de baixo custo,

    leveza, processabilidade e condutividade eltrica. Entretanto aplicaes de materiais

    constitudos de PANI pura so dificultadas pela fragilidade apresentada por seus filmes e

    fibras. Mesmo combinaes de dopantes primrios funcionalizados e solventes com boas

    caractersticas de dopante secundrio no resultaram em materiais suficientemente resistentes

    para aplicaes prticas (CAO et al., 1992; 1995; HOPKINS et al.; 1996 ). O uso de dopantes

    com caractersticas de surfactantes, tais como o SDS (CARSWELL et al., 2003) e o AMP-SA

    (LU et al.; 2004; QI et al., 2004) resultou em filmes menos frgeis e com potencial para uso

    como dispositivos eletrnicos orgnicos (CARSWELL et al., 2003) ou atuadores

    eletroqumicos (LU et al.; 2004; QI et al., 2004).

    O uso de compsitos de PANI com polmeros isolantes permite a fabricao de filmes

    com propriedades mecnicas superiores aos filmes de PANI pura. Entretanto, as

    propriedades condutoras tendem a piorar, limitando o uso destes compsitos. Assim sendo, a

    escolha dos componentes e a caracterizao do material final, permitem que estas misturas

    fsicas possam ser indicadas para finalidades comerciais especficas, algumas das quais no

    tm a caracterstica condutora como exigncia maior.

    Um dos campos mais crescente para a aplicao de compsitos de PANI a

    fabricao de membranas para separao e purificao de gases, lquidos e solues

    eletrolticas (AMADO et al., 2004; NAIDU et al., 2005; ORLOV et al., 2003, SU et al., 1997;

    TISHCHENKO, 2002). Em alguns casos, a condutividade no fator de relevncia para a

    seletividade, mas sim as alteraes morfolgicas da membrana, devidas ao estado de oxidao

    (WEN; KOCHERIGINSKY, 2000) e nvel de dopagem da PANI (ANDERSON et al., 1991).

    Sairam e colaboradores (2006) escreveram uma extensa reviso sobre o tema, na qual

    apresentavam as possibilidades para o uso de membranas de compsitos de PANI e

    comparaes entre estas e as membranas convencionais, feitas de polmeros termoplsticos.

    Estes autores concluram que membranas de PANI apresentam inmeras vantagens quando

  • 40

    comparadas a membranas convencionais, especialmente em termos de seletividade, fluxo e

    estabilidade trmica e qumica.

    Muitos trabalhos tm mostrado metodologias bem estabelecidas e resultados

    promissores para outros usos de compsitos de PANI em produtos comerciais. Seria difcil

    orden-los aqui por qualquer critrio objetivo. Dividindo estas aplicaes em grandes reas,

    podemos citar: estocagem de energia (COTTEVIEILLE et al., 1999, TSUTSUMI et al., 1997)

    sensores (HU et al., 2002; JAIN et al., 2005; MATSUGUSHI et al., 2003; MORRIN et al.,

    2005, NICHO et al., 2001; PACHECO et al.; 2003; RAM et al., 2005), atuadores

    (SANSIENA et al., 2003), blindagem eletromagntica (COTTEVIEILLE et al., 1999;

    YUPING et al., 2006), dispositivos organoeletrnicos (BACKLND et al., 2005;

    MORTIMER, 1999; WESSLING, 1997), proteo de superfcies (WESSLING, 1997), entre

    outros.

    Alm das propriedades fisico-qumicas expostas neste trabalho, a PANI tambm

    apresenta boa compatibilidade biolgica (SCHMIDT et al., 1997; WANG et al., 1999) e

    atividade antioxidante, mostrando-se capaz de capturar radicais em soluo (GIZDAVIC-

    NIKOLAIDIS et al., 2004a e b). Alm disso, a PANI e seus derivados exibem efeito

    antioxidante em misturas de borrachas submetidas ao envelhecimento termo-oxidativo

    (HELALY et al.; 1999) e irradiao com raios gama (ISMAIL et al.; 1998). Estas

    caractersticas so desejveis para substncias em contato com lquidos biolgicos e tm

    implicaes importantes para a incluso de PANI, em compsitos, para a confeco de

    artefatos mdicos.

    PMMA um polmero conhecido por suas boas propriedades pticas, fsicas e

    qumicas (CHAPIRO, 1962). Este polmero isolantel tem larga aplicao na manufatura de

    artefatos mdicos. Nos ltimos anos, a irradiao com raios gama tornou-se um mtodo

    bastante popular de esterilizao para esta indstria (PRATT et al., 2006; WOO et al., 1998),

    tendo enfrentado certa concorrncia pela a irradiao com feixe de eltrons (WOO;

    SANDFORD, 2002). No momento, a irradiao com raios gama dose de 25kGy a dose-

    padro para radioesterilizao destes materiais. A esta dose, o PMMA sofre cises na cadeia

    principal e conseqente degradao de suas propriedades fsicas (SCHNABEL, 1981). Assim

    sendo, importante prevenir os danos causados por este processo. Aquino e Arajo relataram

    a ao radioprotetora no PMMA de um estabilizante foto-oxidao, o HALS (Hindered

    Amine Light Stabilizer) em filmes (2004a) e corpos-de-prova (2004b). Estes aditivos parecem

    interromper a propagao da reao de oxidao por capturar radicais alquil e peroxil

    (DEXTER, 1989). Sabe-se que o mecanismo aceito para a degradao radioltica do PMMA

  • 41

    baseado na formao de radicais, seguida por ciso na cadeia principal (GUILLET, 1987),

    logo, substncias que apresentam atividade antioxidante, como a PANI, so bons candidatos

    para agentes estabilizantes do PMMA. A investigao da ao radioestabilizante da PANI e

    suas formas dopada e no-dopada sobre o PMMA um dos principais objetivos deste

    trabalho.

    Outra classe de polmero com crescente importncia em aplicaes mdicas a dos

    poli (hidroxialquilatos) (PHAs). Estes polisteres so acumulados por microorganismos

    como: Alcaligenes eutrophus, Azobacter vinelandii, Escherichia coli e muitos outros, para

    reserva de energia (SUDESH et al., 2000). Em geral, estes polmeros so biodegradveis e

    termoprocessveis. Estas propriedades os tornam materiais interesantes para aplicaes em

    artefatos mdicos ou em engenharia de tecidos. A estrutura bsica dos PHAs mostrada

    abaixo.

    OC

    (CH2)nH

    RCO

    Um dos PHAs mais importantes comercialmente o poli (3-hidroxibutirato) (n = 1; R = H)

    (PHB). Este polister aliftico linear acumula-se em muitos tipos de microorganismos

    (SERAFIN et al., 2003), quando estes so cultivados principalmente sob suprimento

    excessivo de carbono, fornecido geralmente por carboidratos e em meio deficiente de outros

    nutrientes, como o nitrognio (STEINBCHEL; FCHETENBUSCH, 1998). H evidncias

    que sugerem que o PHB no apenas um polmero inerte de estocagem, confinado no interior

    de microorganismos, mas comporta-se como um biopolmero ubquo capaz de envolver-se em

    importantes funes fisiolgicas (Reusch, 1995).

    O PHB apresenta boas propriedades mecnicas, embora sua excessiva rigidez, causada

    principalmente por sua semi-cristalinidade (SATO et al., 2004), dificulte parcialmente seus

    usos. O PHB utilizado como biomaterial em diversas aplicaes, tais como: suportes para

    proliferao in vitro de clulas (SHISHATSKAYA; VOLOVA, 2004), em blenda com o poli

    (cido lctico), para a fabricao de suturas gastrintestinais absorvveis (FREIER et al., 2002);

    em compositos de hidroxiapatita como material para o reparo de tecido sseo (NI; WANG,

    2002) e como matriz em implantes para liberao controlada de antibiticos (TURESIN et al.,

    2001).

  • 42

    Compsitos de PANI e PHAs ainda no so conhecidos na literatura e podero vir a

    ter utilidade na rea mdica, pois estes materiais compartilham propriedades biolgicas, como

    a biodegradabilidade e a biocompatibilidade. Alm disso, h a possibilidade de tornar estas

    misturas condutoras, permitindo o uso em aplicaes bastante especficas, como crescimento

    de clulas nervosas estimulado por corrente eltrica (SCHMIDT et al., 1997).

  • 43

    2.8 Nanoestruturas de PANI uma nova fronteira para o estudo de polmeros

    conjugados.

    A sntese convencional de PANI freqentemente leva a produtos particulados de

    formato irregular. Mesmo assim, este tipo de material tem sido intensamente testado para as

    diversas aplicaes apresentadas neste trabalho. A possibilidade de conferir PANI

    morfologia definida com, no mnimo, uma dimenso caracterstica em escala nanomtrica (<

    100nm) de grande interesse, pois possvel que esta caracterstica leve a melhores

    desempenhos em reas estabelecidas de atuao e crie novas oportunidades para aplicaes.

    Desta maneira, necessrio estabelecer rotas sintticas confiveis, capazes de produzir

    nanoestruturas em quantidades suficientes para dar suporte ao estudo e aplicao destes

    materiais.

    Nos ltimos anos, novos mtodos de sntese de PANI em forma de nanoestruturas

    chamadas unidimensionais, tais como nanofibras (HOPKINS et al., 2004; HUANG et al.,

    2003a; HUANG; KANER, 2004; 2006; ZHANG et al., 2004; 2006) ou nanotubos

    (KONIUSHENKO et al., 2006; STEJKAL et al., 2006; ZHANG; WAN, 2002; 2005), tm

    impulsionado a pesquisa na rea.

    A abordagem qumica adotada para a obteno de PANI nanoestruturada

    unidimensional pode ser dividida nas mesmas categorias gerais vistas para os materiais sem

    morfologia definida: sntese qumica oxidativa e sntese eletroqumica oxidativa. A sntese

    oxidativa pode ser dividida em duas outras categorias: sntese com molde (template) e

    sntese sem molde (templeteless). (ZHANG; WANG, 2006).

    A sntese com molde pode ser realizada com moldes fsicos (hard templates) ou

    moldes qumicos (soft templates). O mtodo de sntese com moldes fsicos foi

    primeiramente proposto por Martin e colaboradores (1990) e envolve a sntese de polmeros

    condutores, como a PANI e outros, em poros ou canais de determinados materiais, tais como

    membranas (MARTIN, 1994), zelitos (WU; BEIN, 1994) ou xido de alumnio (WANG et

    al., 2001). Uma das vantagens deste mtodo reside na eficincia em produzir nanoestruturas

    unidimensionais regulares e orientadas (WANG et al., 2001). As desvantagens so: o longo

    processo de purificao para a retirada do molde e a dificuldade em manter a nanoestrutura

    intacta e ordenada aps este processo (ZHANG; WANG, 2006).

    A sntese com moldes qumicos, tambm chamada de auto-organizao (self-

    assembly) utiliza a ao de molculas que guiam a formao de nanoestruturas

    unidimensionais, tais como: surfactantes, CSA (ZHANG; WAN, 2002) e SDS (LONG et al.,

  • 44

    2003); DNA (Ma et al., 2004) ou cristais lquidos (JAN et al., 2004). Este mtodo dispensa

    procedimentos de purificao elaborados. Desta maneira torna-se mais prtico e econmico

    que o mtodo de sntese com molde fsico e foi utilizado neste trabalho para a obteno de

    nanoestruturas de polianilina, com bons resultados (seo 3).

    Dentre os mtodos de sntese sem molde esto a polimerizao com semeadura de

    nanoestruturas (ZHANG et al., 2004), polimerizao interfacial (HUANG et al., 2003a;

    HUANG; KANER, 2004; KING; ROUSSEL, 2005) e a sntese radioltica (PILLALAMARRI

    et al., 2005b). O mtodo de polimerizao com semeadura realizado pela adio de

    pequenas quantidades de estruturas nanofibrilares, como a prpria PANI em nanofibras de

    50nm, nanotubos de parede simples de 20nm de dimetro ou hexapeptdios em nanofibras ao

    meio reacional contendo APS, HCl, e anilina. Este mtodo produz bons rendimentos em

    nanofibras com dimetro entre 20 e 60nm, sem a necessidade de procedimentos demorados de

    purificao. Na polimerizao interfacial, a PANI foi produzida com anilina dissolvida na

    fase orgnica, enquanto o APS, dissolvido em soluo diluda de cido, era adicionado

    lentamente a esta soluo. A polimerizao se d na interface dos dois lquidos imiscveis,

    enquanto o produto formado migra lentamente para a fase aquosa. As duas fases so

    separadas e a PANI ento purificada por filtrao e lavagem ou dilise, para gerar

    nanofibras em p ou disperso aquosa. Esta metodologia muito verstil, pois permite o uso

    de grande variedade de combinaes solvente/dopante, assim como simplicidade de execuo.

    A sntese radioltica nanofibras de PANI em soluo aquosa de anilina/HCl/APS possui

    apenas um relato na literatura (PILLALAMARRI et al., 2005b). Neste relato, os autores

    mostraram que a morfologia tpica das fibras era de 50-100nm de dimetro e 1-3m de

    comprimento. As propores molares dos componentes da mistura reacional eram de 1 de

    anilina para 3 de HCl, as propores de APS ficavam entre 0,02 e 1, ou seja, alguns

    experimentos utilizaram o oxidante em quantidades equimolares. A reao iniciava-se mesmo

    na ausncia de irradiao, mas no havia formao de nanofibras. A dose de irradiao foi de

    3,5kGy em todos os experimentos.

    O trs mtodos de sntese sem molde apresentados no pargrafo anterior foram

    utilizados, com adaptaes, para tentativas de obteno de nanoestruturas unidimensionais

    neste trabalho. Apenas a polimerizao interfacial apresentou resultados satisfatrios nas

    condies estudadas, como ser mostrado nas sees 3 a 5

    Na seo 6, mostraremos a confeco de nanocompsitos de PHB/PANI nanofibrilar

    sintetizada por polimer