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SERGIO BARROSO DE MELLO
SEMINÁRIO DE RESSEGURO
A ARTE DE ELABORAR O CONTRATO
ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS FUNENSEG
Cláusulas Especiais de Sinistro
PELLON & ASSOCIADOS ADVOCACIA
SET 2015
SUMÁRIO
SEGUIR A SORTE
SEGUIR AS LIQUIDAÇÕES
SEGUIR AS AÇÕES
PAGAMENTO EM EXCESSO
AO LIMITE DA APÓLICE (XPL)
Moeda antiga com Fides no reverso
Fides era a deusa romana da fidelidade e da confiança.
INTRODUÇÃO
• Marco jurídico da abertura do setor de resseguros no Brasil;
• Pouca prática na elaboração de contrato de resseguro;
• Necessidade de compreensão de sua técnica e do alcance
de suas cláusulas;
• Interpretações divergentes: visão ortodoxa com restrições de
direitos x interpretação técnica, atenta aos costumes e
normas locais; e
• Respeito às intenções das partes, ao pactuado e à boa fé
dos contratantes.
SEGUIR A SORTE - TEXTO
O ressegurador, sujeitando-se aos termos e condições estipulados
neste contrato, seguirá a sorte técnica de subscrição da
ressegurada no que se refere a riscos que esta tenha aceitado, de
acordo com as apólices de seguros e notas de coberturas que se
enquadrem no escopo deste contrato de resseguro.
A responsabilidade do ressegurador, em relação às operações
objeto deste contrato, começa e encerra ao mesmo tempo em que
começa e encerra a da ressegurada. O ressegurador segue a sorte
da ressegurada em todas as fases do contrato de seguro e na
proporção da parte ressegurada, respeitadas as bases de
subscrição.
SEGUIR A SORTE – PRINCÍPIOS
• As condições e estipulações contidas nas apólices utilizadas
pela Ressegurada são consideradas parte integrante do contrato
de resseguro;
• Qualquer modificação substancial nas condições da apólice
deve ser submetida ao conhecimento a aprovação prévia do
Ressegurador; e
• Nessas condições, as modificações nos contratos de seguro
afetarão igualmente o de resseguro, desde que aprovadas pelo
Ressegurador.
SEGUIR A SORTE – SOLIDARIEDADE
CONTRATUAL
• A responsabilidade do Ressegurador em relação às operações objeto
do resseguro começa e termina junto com a da Ressegurada;
• O Ressegurador segue a sorte da Ressegurada em todas as fases do
seguro, na proporção parte ressegurada;
• As condições do contrato de resseguro não obrigam o Ressegurador
em relação a terceiros que não sejam partes do contrato;
• As indenizações serão realizadas na forma de reembolso à
Ressegurada; e
• Adaptação do resseguro às condições originais celebradas dentro da
boa prática dos negócios.
ACOMPANHAR OU SEGUIR A SORTE –
CONCEITO JURÍDICO
• Na literatura moderna de resseguro, “acompanhar a sorte” e “seguir
as ações” se apresentam com conceitos jurídicos totalmente
distintos.
• Acompanhar a sorte significa que nos termos e condições
expressas no contrato de resseguro o Ressegurador assume o risco
original da mesma forma que o Ressegurado.
• O risco original consta do risco técnico, composto pelo risco
moral no controle do segurado e do risco físico, por exemplo, do
risco de eventos que ocorram fora da previsão do Segurado e do
Segurador.
Risco
RISCO ORIGINAL – ÂMBITO
O risco original também compreende o “risco do contrato”, de poder
ser exigido do segurador o pagamento de sinistros, ainda que não esteja
obrigado em termos objetivos (por exemplo, em caso de atos
fraudulentos do Segurado que não podem ser provados).
Os efeitos econômicos do risco original assumido pelo Segurador são
repassados ao Ressegurador, nos termos e condições estabelecidas
no contrato de resseguro.
O termo “acompanhar a sorte”, linguísticamente pouco preciso e
enganoso, se deriva da submissão dos seguradores a
circunstâncias fora de seu controle.
SEGUIR A SORTE – CONDIÇÕES DE SUBMISSÃO
DO RESSEGURADOR
i. caso se refiram aos riscos que figuram em seu contrato
de resseguro; e
ii. se os princípios de administração diligente não forem
violados intencionalmente ou por descuidos graves.
No contexto da cláusula de “acompanhar a sorte”, perguntas como se o
segurador pode ser culpado por certas ocorrências ou se a ação que
tenha tomado em caso específico está de acordo com a prática
geral são totalmente inoportunas, já que o risco original somente pode
realizar-se por conta de atos oriundos do segurado, e não do
segurador.
SEGUIR A SORTE EM RELAÇÃO
AO RISCO ORIGINAL
Examinar o princípio de acompanhar a sorte em relação ao risco
original passa, necessariamente, pelo seu estudo pormenorizado em
relação ao alcance da própria cobertura.
Algumas vezes surgem dificuldades práticas já que o princípio de
acompanhar a sorte possui validade geral.
Mas não é bem assim.
SEGUIR A SORTE EM RELAÇÃO
AO RISCO ORIGINAL
Os seguradores podem negar-se a limitar a responsabilidade do
ressegurador, sustentando que algumas cláusulas violam o próprio
princípio de acompanhar a sorte, exemplos:
i. A situação proporcionada pelas cláusulas de estabilidade,
nas coberturas de excesso de dano de responsabilidade
civil em face de terceiros; e
ii. A cláusula de avaliação incorreta da perda máxima
provável, em contratos de excedentes de incêndios.
Esses exemplos valorizam o fato de que o princípio de acompanhar a sorte
não prejudica a formação de contratos novos, nem as condições
específicas eventualmente estipuladas.
OBJETIVO DO PRINCÍPIO “SEGUIR A SORTE”
Na presença da liberdade geral para realizar contratos (autonomia da
vontade), as partes estão livres para negociar as quantias da
responsabilidade a ser aceitas pelo Ressegurador, o alcance material
da cobertura e o preço a ser pago pelo Segurador pela cobertura
recebida.
O propósito do princípio de acompanhar a sorte é indicar em que
grau o Ressegurador é responsável pelos sinistros relativos aos
riscos claramente cobertos.
LIMITES DE APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO
O Ressegurador somente segue a sorte do Segurador no risco
original até o limite convencionado no contrato de resseguro.
A autonomia da vontade contratual, consagrada na Constituição
Federal, permite a limitação dos termos do princípio de seguir a sorte.
Logo, a cobertura do risco original aceita pelo Segurador pode ser
limitada pelo contrato de resseguro, tanto em qualidade como em
quantidade.
EXEMPLOS DE LIMITES AO PRINCÍPIO
DE SEGUIR A SORTE
i. Supondo que as apólices de responsabilidade civil para
a indústria farmacêutica estejam expressamente
excluídas do alcance da cobertura de resseguro da
modalidade de RC em geral, não se pode esperar que o
ressegurador assuma dita responsabilidade sobre a base
do princípio de acompanhar a sorte, apenas porque
Segurador emitiu a apólice de seguir; e
ii. Igualmente, um Ressegurador, cuja responsabilidade
máxima contratual é de R$ 5 milhões, não aceitará
responsabilidade total em risco original aceito pelo
Segurador que exceda a retenção convencionada para
as partes, por exemplo, de R$ 10 milhões.
O RISCO ORIGINAL EM RELAÇÃO
AO RISCO COMERCIAL
O princípio de acompanhar a sorte se refere ao risco original, que
nesse aspecto compreende somente o risco “técnico”.
A causa dessa restrição é que o risco “comercial” não figura sob o
princípio de acompanhar a sorte.
Apesar dessa convenção básica, os Seguradores nem sempre estão
de acordo sobre o que constituem os riscos “comerciais” e os
riscos “técnicos”.
A razão para essa falta de compreensão está nas diversas e
distintas definições utilizadas sobre o tema.
EFEITOS DA NÃO APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO
DE SEGUIR A SORTE
Não surpreende ver as diferenças consideráveis acumuladas ao
longo de anos entre os resultados dos negócios retidos e
ressegurados.
É comum surgir discussões e queixas em relação à possível falta da
aplicação prática do princípio de acompanhar a sorte.
Enquanto os Seguradores mantiverem boa experiência dos negócios
retidos, as queixas virão dos Resseguradores. Já nos anos de bom
resseguro, com resultados menos favoráveis aos Seguradores na
retenção, a situação se inverterá.
EFEITOS DOS RESULTADOS NO NEGÓCIO
Qualquer diferença duradoura nos resultados dos negócios
ressegurados e nos negócios retidos exige modificação dos acordos
vigentes, sem necessariamente ter relação com o conceito de
acompanhar a sorte.
Em termos legais, o contrato de resseguro constitui acordo
independente, os direitos e as obrigações das partes estão sujeitos
a livres negociações, dentro do princípio constitucional da autonomia
da vontade.
Algumas vezes, os resultados positivos e as perdas são afetados,
por isso, cada contrato de resseguro tem sua própria “sorte” ou
“destino”, não acompanha o contrato de seguro.
ASPECTO COMERCIAL x SORTE TÉCNICA
No âmbito do significado da cláusula acompanhar a sorte, qualquer
resultado ou perda de uma das partes constitui o aspecto comercial
e não sua sorte técnica.
Assim, por exemplo, as perdas causadas pelos delitos criminais dos
dirigentes do Segurador figuram claramente na categoria de sua
“sorte” comercial e não de sua “sorte” técnica.
Se um Segurador sofre perdas decorrentes de atitudes de seus
empregados ou agentes (indivíduos dentro de seu controle) fraudando
sinistros, essa perda não será aceita sob o princípio de acompanhar
a sorte e não afetará o ressegurador.
O RISCO ORIGINAL EM RELAÇÃO ÀS
ALTERAÇÕES QUE AFETAM O
CONTRATO DE SEGURO
Para o Ressegurador acompanhar as subscrições e a “sorte”
contratual do Segurador, é preciso ficar limitado aos
acontecimentos fora do controle do próprio Segurador.
Por isso, todas as alterações nos contratos de seguros devem
considerar-se sob a perspectiva do princípio de acompanhar as
ações e não sob o princípio de acompanhar a sorte.
Algumas alterações que afetam os contratos de seguros podem ser
feitas sem a aprovação ou contra o desejo do Segurador, exigindo
que Ressegurador, segundo as condições do contrato realizado, siga
a sorte do Segurador.
CASOS CONCRETOS COM EFEITOS NA
OBRIGAÇÃO DO RESSEGURADOR
i. A transferência do bem, e do consequente seguro, à luz
do artigo 7851 do Código Civil, no qual a alteração das
condições do risco, mesmo com a ressalva de sua não
aceitação, não é de conhecimento do Ressegurador; e
ii. O aumento dos valores devidos por sinistros em razão
da variação na taxa de câmbio. Determinadas coberturas
subscritas com taxas de câmbio inferiores àquelas
utilizadas para pagamento das indenizações afetarão
fortemente os desembolsos do Ressegurador.
1“Art. 785. Salvo disposição em contrário, admite-se a transferência do contrato
a terceiro com a alienação ou cessão do interesse segurado.”
UTILIDADE DA ESTIPULAÇÃO PARA FATOS
VIGENTES OU ALTERAÇÕES DAS NORMAS
Para impedir desequilíbrios oriundos de situações claras de intervenção
legislativa ou estatal, capazes de estabelecer obrigações ao Segurador
distintas daquelas objeto do contrato de resseguro e derivadas do
conceito de acompanhar a sorte, seja em substância ou em volume,
estabelece-se a cláusula conhecida como fatos vigentes ou alterações das
normas.
Essas cláusulas são comuns em contratos de resseguro não
proporcionais e prescrevem, nas situações de contratos de seguro sujeitos
a intervenções legais, a necessidade de reiniciar negociações sobre
possíveis ajustes nas condições de resseguro.
Se as partes fracassarem na tentativa de chegar a um acordo, o contrato
de resseguro será aplicado como se não houvesse alteração da lei ou
dos fatos em relação ao risco original.
SEGUIR AS AÇÕES - TEXTO
A ocorrência de sinistro objeto do contrato de seguro
ressegurado deverá ser avisada ao Ressegurador, tão
logo seja possível. Os erros e omissões não
intencionais dessa notificação não prejudicarão a
cobertura deste contrato de resseguro. Todas as
ações adotadas pela Ressegurada serão aceitas e
obedecidas pelo Ressegurador, desde que tais ações
estejam nos termos e condições das apólices
originais, bem como nos termos do resseguro. Os
montantes referentes à participação do Ressegurador
serão devidos a partir da prova pela Ressegurada do
montante por ela pago ao seu segurado.
SEGUIR AS AÇÕES - CONCEITO JURÍDICO
Seguir as ações se refere aos deveres do Ressegurador de seguir as
decisões de gerência rotineiras tomadas pelo Segurador.
O termo “decisões de gerência” está relacionado às circunstâncias no
controle do Segurador, em particular o fato de aceitar riscos,
estipulando os termos e as condições, determinando os prêmios e
liquidando os sinistros.
O Segurador precisa ter agido com boa fé e respeitar os interesses do
Ressegurador, sobretudo em relação ao risco coberto.
É considerada a contraprestação da autonomia de gestão do
Segurador
O DIREITO DO SEGURADOR DIRIGIR OS
NEGÓCIOS E A OBRIGAÇÃO DO
RESSEGURADOR SEGUIR AS AÇÕES
Como vimos, existe diferença fundamental entre as ideias de “risco
original/acompanhar a sorte” e “direção dos negócios/seguir as
ações”.
Acompanhar a sorte se refere aos eventos fora do controle do
Segurador ou que ocorram sem a sua intervenção, enquanto seguir
as ações pertence às medidas (ou omissões) tomadas pelo próprio
Segurador.
Esses dois conceitos nem sempre estão separados com a devida
clareza nos contratos de resseguro, razão pela qual têm levado à
interpretações divergentes.
CARACTERÍSTICAS COMUNS AOS PRINCÍPIOS
DE SEGUIR A SORTE E AS AÇÕES
Característica comum a esses dois princípios é que se referem a
riscos ou sinistros definidamente cobertos pelo contrato de
resseguro.
Se o Segurador estiver obrigado por norma legal a garantir
determinada cobertura, além dos limites originalmente contratados, e
decidir, por razões comerciais, liquidar o sinistro em soma superior à
responsabilidade máxima convencionada no contrato de resseguro,
o Ressegurador não estará obrigado a seguir as ações do Segurador.
DISTINÇÃO ENTRE SEGUIR A SORTE
E AS AÇÕES
Enquanto o princípio de seguir a sorte se refere a eventos fora do
controle do Segurador, seguir as ações pertence aos atos, às
medidas ou decisões tomadas pelo próprio Segurador.
Em consequência, se faz necessário considerar se a ação tomada é
“negligente”, “normal” ou “aceitável”.
Tem sido dada mais importância literária às discussões sobre o
alcance do princípio de seguir as ações do que ao de seguir a
sorte, justo porque o primeiro abarca em boa parte o segundo.
OS RISCOS “EXTRAORDINÁRIOS” E A
OBRIGAÇÃO DO RESSEGURADOR
DE SEGUIR AS AÇÕES
Os riscos podem ser “extraordinários” em duas hipóteses:
i. porque são novos e ainda não foram segurados em
nenhum mercado (por exemplo: riscos ambientais e
centrais nucleares); ou
ii. porque são “extraordinários” em determinado
mercado, enquanto “ordinários” em outros (por
exemplo: plataformas petrolíferas, que apesar de
perigosas, são consideradas como riscos ordinários
pelos Seguradores marítimos britânicos, enquanto
rechaçadas totalmente da cobertura pela maioria dos
Resseguradores).
QUESTÕES FUNDAMENTAIS SOBRE RISCOS
“EXTRAORDINÁRIOS” E “INCOMUNS”
Duas perguntas surgem sobre esse aspecto
1. há riscos não cobertos automaticamente no contrato
obrigatório de resseguros, mesmo que não estejam excluídos
expressamente, embora “incomuns” ou “extraordinários”?
2. como devem ser definidos os termos “incomuns” ou
“extraordinários” ?
PERGUNTA 1
A resposta é afirmativa para a primeira pergunta, há riscos
“incomuns” ou “extraordinários” que não estão expressos nas
exclusões.
Esses riscos ou coberturas (incomuns) podem surgir sem ter sido
previstos pelas partes durante a formação do contrato de
resseguro.
Por isso, é comum se convencionar que certos riscos, ainda que não
estejam expressamente excluídos, não necessariamente fazem parte
da cobertura do contrato de resseguro obrigatório, por conta de sua
natureza “extraordinária”.
PERGUNTA 2
Já em relação à segunda pergunta, é muito importante ter critério
objetivo para distinguir os conceitos de “incomum e comum” ou
“ordinário e extraordinário”, já que a declaração subjetiva e unilateral
feita pelo Ressegurador em reconhecimento do risco “extraordinário”
não é suficiente.
Parecido com o princípio de seguir a sorte, o princípio de seguir as
ações se refere unicamente aos riscos cobertos pelo contrato de
resseguro.
Ao se considerar um risco extraordinário, deve-se interpretar
cuidadosamente o alcance material e geográfico da cobertura
convencionada no contrato e nas cláusulas apropriadas.
DEFINIÇÃO DO OBJETO DA COBERTURA
Mesmo quando o alcance material e geográfico da cobertura esteja
descrito em detalhe e não em termos gerais, podem surgir dúvidas
sobre a definição do seu objeto, sobre a referência aos termos e
condições gerais do seguro e das tarifas.
Em tais casos, o contrato de resseguro também cobrirá os riscos
segurados sobre a base das tarifas ou das condições gerais,
complementadas ou emendadas “principalmente” após o início do
contrato, desde que o Ressegurador tenha sido informado sem
demora das alterações.
A cobertura do resseguro obrigatório não se exclui por um só desvio
das condições gerais e das tarifas aplicáveis no momento de iniciar os
efeitos dos contratos.
PRINCÍPIOS PARA DEFINIÇÃO DA OBRIGAÇÃO DE
SEGUIR AS AÇÕES
1) O negócio do Ressegurador é subscrever seguros, assumir riscos. A incerteza é
elemento dos negócios que administra. O fato de certos materiais ainda não terem
sido experimentados por suas propriedades técnicas não justifica a recusa pelo
Ressegurador da cobertura obrigatória. Igualmente, a má experiência adquirida em
certo grupo de riscos não autoriza o Ressegurador a refutar a obrigação de seguir as
ações;
2) O Ressegurador é livre para excluir riscos, a partir do âmbito material da cobertura
de seu contrato, e pode limitar sua aceitação nos resseguros facultativos, onde
exerce influência sobre os prêmios e as condições. Essa opção do Ressegurador limita
a necessidade e a possibilidade de construir o modelo de cobertura de acordo com
cada caso específico; e
3) Como contraposição ao resseguro facultativo, a vantagem do contrato de resseguro
obrigatório é que as partes podem contar com cobertura automática e com gastos
de administração relativamente baixos. Qualquer limitação do âmbito da cobertura
causará incerteza, razão pela qual exigirá análise.
O DIREITO DO SEGURADOR LIQUIDAR OS
SINISTROS E O DEVER DO RESSEGURADOR
SEGUIR AS AÇÕES
A maioria das cláusulas que estabelecem a obrigação do
Ressegurador seguir as ações da Seguradora confere direito a esta
de aceitar ou negar a cobertura dos sinistros.
A decisão da Seguradora no processo de regulação do sinistro tem
efeito obrigatório para o Ressegurador.
O DIREITO DO SEGURADOR LIQUIDAR OS
SINISTROS E O DEVER DO RESSEGURADOR
SEGUIR AS AÇÕES
Alguns aspectos são de particular interesse, vejamos:
1. a obrigação do Ressegurador de seguir as ações nos casos de pagamentos
ex-gracia1;
2. a obrigação do Ressegurador de seguir as ações quando o Segurador
informa os sinistros com atraso injustificado; e
3. a obrigação do Ressegurador de seguir as ações em casos não usuais
(sinistros adicionais, tais como prejuízos de natureza penal,
responsabilidade excessiva).
1No Direito brasileiro, o segurador está proibido de efetuar pagamentos “ex-gratia”, por força das normas
inseridas na Circular SUSEP nº 200/2002, que trata dos crimes de “lavagem de dinheiro”.
A OBRIGAÇÃO DO RESSEGURADOR SEGUIR AS
AÇÕES NOS CASOS DE PAGAMENTOS
EX-GRACIA
No campo da obrigação de seguir as ações é importante fazer distinção
entre a “política” de pagar ou não pagar a que está obrigado o
Segurador.
Como a indenização é o resultado de compromisso contratualmente
bem definido, pode-se dizer que na liquidação do sinistro de forma
exagerada, em valores superiores aos devidos, o Segurador estará
diante de pagamento ex-gratia.
Por vezes o fundamento para pagar é a continuidade de boas
relações com seu cliente tradicional, ou evitar gastos de demanda
judicial com resultado incerto.
Esses argumentos não superam a proibição infra legal.
A OBRIGAÇÃO DO RESSEGURADOR SEGUIR AS
AÇÕES NOS CASOS DE PAGAMENTOS
EX-GRACIA
O dever do Ressegurador de seguir as ações se opera apenas para
riscos que definitivamente figuram no respectivo contrato de
resseguro.
Qualquer ajuste relativo aos sinistros duvidosos ou em valor que
ponha as partes em dificuldades para examinar as circunstâncias, pode
se tornar óbice ao direito do Segurador de dirigir os negócios que o
Ressegurador deverá seguir.
O Ressegurador não está obrigado a seguir as decisões do
Segurador pelos riscos que não figuram na apólice original e que
tampouco estão cobertos pelo contrato de resseguro.
A OBRIGAÇÃO DO RESSEGURADOR DE SEGUIR
AS AÇÕES QUANDO O SEGURADOR INFORMA OS
SINISTROS COM ATRASO EXCESSIVO
A obrigação de informar os sinistros ao Ressegurador é comum nos
contratos facultativos e está limitada ao borderô nos automáticos.
Para negar o dever de indenizar, o Ressegurador necessita
demonstrar que o Segurador deixou de informar-lhe oportunamente
sobre o sinistro, por temeridade ou negligência, pelo necessário
princípio da transparência negocial e da boa fé nas relações
contratuais.
Em lugar de iniciar longas discussões sobre o atraso negligente na
informação dos sinistros, as partes devem tratar de estabelecer a
objetiva obrigação de informar, o que reduz a possibilidade de
negligência ao mínimo.
A OBRIGAÇÃO DO RESSEGURADOR DE SEGUIR
AS AÇÕES EM CASO DE DANOS PENAIS
O termo “danos penais”, conhecido também como “danos exemplares”, provém
da lei anglo-americana e representa a contraparte de “danos reais” ou
“danos compensatórios”.
Enquanto os danos reais ou compensatórios se referem à indenização de
uma perda material, calculável, os danos penais estão destinados não apenas
a compensar a perda material sofrida, mas também como classe de multa
imposta por ações particularmente temerárias.
O princípio de seguir as ações está sujeito a várias limitações: não somente ao
limite quantitativo imposto pela soma segurada do contrato, mas também ao
limite qualitativo no qual seguir as ações se aplica somente para sinistros
de aceitação obrigatória pelo contrato de resseguro.
Logo, os sinistros avisados pelo Segurador não provenientes do contrato de
seguro em si, derivados de atos de agravo que este tenha cometido em suas
relações com o Segurado, não obrigam o Ressegurador a seguir suas
mesmas ações.
A OBRIGAÇÃO DO RESSEGURADOR SEGUIR
AS AÇÕES NO CASO DE EXCESSO DE
RESPONSABILIDADE
As possíveis limitações quantitativas da obrigação do Ressegurador
de seguir as ações, dentro do sistema de responsabilidade máxima
estabelecido pelas partes no contrato de resseguro, levará à
participação com sua cota no pagamento da indenização.
O pagamento será feito com adição dos honorários de advogados,
peritos, custos judiciais e outros gastos de liquidação, em qualquer
excesso de responsabilidade ou danos por atrasos atribuídos ao
Segurador.
IMPORTÂNCIA DA VIOLAÇÃO DAS PRÁTICAS NO
DEVER DE SEGUIR AS AÇÕES
As violações às práticas definidas e estabelecidas nos contratos de
resseguro geram consequências no campo das obrigações do
Ressegurador, podendo até mesmo elidir a sua responsabilidade
contratual, dependendo do grau de importância do erro cometido
pelo Segurador.
O Segurador deve ter organização suficiente para garantir que todos
os procedimentos na liquidação dos sinistros ocorrerão
adequadamente, tanto no sentido dos negócios envolvidos, como na
equipe humana necessária.
TRATAMENTO AOS RISCOS EXTRAORDINÁRIOS
No contexto da obrigação do Ressegurador de seguir as ações relativas
a riscos “extraordinários” aceitos pelo Segurador, surgem importantes
questões:
• Quais os limites do Segurador na liquidação dos
sinistros?
• Em quais casos o Ressegurador tem interesse legítimo em
restringir o direito usual do Segurador liquidar o sinistro?
• O Ressegurador pode exigir que o Segurador solicite seu
aconselhamento e a sua participação ativa na regulação?
ERROS E
OMISSÕES
ERROS E OMISSÕES - TEXTO
Qualquer erro ou omissão inadvertida de natureza
administrativa por parte do Ressegurado ou dos
Resseguradores, não eximirá qualquer das partes da
responsabilidade que lhe caberia em função deste
Contrato. Tal erro ou omissão deverá ser remediado
imediatamente após a sua descoberta. Não obstante,
nenhum item desta cláusula será considerado como
motivo suficiente a derrogar quaisquer dos termos e
condições do Resseguro, e nenhuma responsabilidade
adicional será imposta a quaisquer das partes além
daquela normalmente atribuída, caso o erro ou omissão
não tivessem acontecido.
ERROS E OMISSÕES –
CLÁUSULA INDEPENDENTE
A cláusula de erros e omissões é geralmente encontrada nos
contratos de resseguro.
Quase sempre vem como cláusula independente, mas pode surgir
como parte da cláusula de seguir a sorte ou da cláusula de borderô.
ALCANCE E OBJETIVO
A cláusula de erros e omissões é utilizada para corrigir erros de
comunicação ou algo semelhante.
O propósito da cláusula é assegurar a obrigação da parte,
simplesmente porque não foi informada (omissão), ou porque foi
informada erroneamente (erro) de certa obrigação ou direito.
REFLEXOS DA AÇÃO INTENCIONAL
O “erro” ou a “omissão” sinalizam que certa circunstância foi falsamente
reconhecida ou interpretada.
Toda vez que o Segurador deixa de declarar certo risco ou
circunstâncias a ele inerentes na cobertura de resseguro, tal ação
pode ser considerada como erro.
Somente o erro ou a omissão de boa-fé têm cobertura de resseguro.
REFLEXOS DA AÇÃO INTENCIONAL
É frequente a interpretação equivocada sobre o alcance e os
objetivos.
O propósito não é retificar atos ou omissões intencionais.
O erro ou a omissão são considerados válidos, desde que não
intencionais.
O descuido racional torna inaplicável a cláusula de erros e omissões.
LIMITE DE APLICAÇÃO DA CLÁUSULA
A cláusula de erros e omissões não pode ser invocada para anular as
estipulações gerais que regem os limites de cobertura.
A cláusula de erros e omissões não afetará as estipulações gerais
relativas à limitação da validade do negócio jurídico.
A IMPORTÂNCIA DA EQUIDADE,
TRANSPARÊNCIA E BOA FÉ
A cláusula está intimamente ligada aos princípios de equidade,
transparência e boa fé, aplicados nas relações contratuais.
É preciso analisar a capacidade das partes de exercício dos
princípios invocados.
A IMPORTÂNCIA DA EQUIDADE,
TRANSPARÊNCIA E BOA FÉ
No momento da execução do contrato de resseguro a equidade, a
transparência e a boa fé incorporam papel de extrema relevância.
Portanto, a cláusula de erros e omissões, para se aplicar, exige o
exercício da análise do comportamento subjetivo das partes em
relação aos princípios da transparência, da boa fé contratual e da
equidade.
PERDA LIQUIDA DEFINITIVA OU EXCESS OF
POLICY LIMIT (XPL) - TEXTO
Este contrato protege a Ressegurada, dentro dos seus
limites, em relação à Perda Líquida Definitiva em
excesso ao limite da apólice original. Tal perda em
excesso ao limite deve estar ligada à falha da
Ressegurada em liquidar o sinistro, nos limites da
apólice, por negligência, alegada ou real.
No entanto, esta Cláusula não se aplica caso a perda
tenha sido incorrida devido à fraude cometida por
membro do Conselho de Administração ou Executivo
da Ressegurada, atuando individual ou coletivamente, ou
em conjunto com qualquer indivíduo ou corporação, bem
como com outra organização ou parte envolvida na
apresentação, defesa ou liquidação de qualquer sinistro
coberto por este contrato.
PERDA LIQUIDA DEFINITIVA – CONCEITO
A cláusula é utilizada para definir o limite de responsabilidade do
Ressegurador.
Define também o critério para o cálculo do sinistro coberto pelo
contrato de resseguro.
Trata-se do valor final, efetivamente indenizado, deduzidas as
recuperações.
PERDA LIQUIDA DEFINITIVA - PRESSUPOSTOS
Devem estar claramente definidas no contrato quais as despesas de
regulação do sinistro que serão partilhadas com o ressegurador.
A PLD pode ser recalculada, mesmo após a recuperação, quando
ocorrerem novas deduções.
OBRIGAÇÕES EXTRACONTRATUAIS (ECO) -
TEXTO
Este contrato protege a Ressegurada, dentro dos seus
limites, relativamente a quaisquer obrigações
extracontratuais. O termo “obrigação extracontratual”
é definido como as responsabilidades não cobertas
sob qualquer outro dispositivo deste contrato,
decorrentes da administração de qualquer sinistro
que afete negócios por ele cobertos, tendo sido
causados pelos seguintes motivos: 1) falha da
Ressegurada em liquidar o sinistro no limite da
apólice; 2) negligência, alegada ou real; 3) fraude na
liquidação do sinistro; ou 4) fraude/erro na
preparação da defesa ou no julgamento de qualquer
ação movida por seu segurado, ou ainda na
elaboração de recurso, em consequência de tal ação.
OBRIGAÇÕES EXTRACONTRATUAIS - DEFINIÇÃO
A Seguradora está sujeita, por várias razões, à obrigação de pagar
sinistros que ultrapassam os limites determinados nos contratos de
seguros, ou decorrentes de situações que não faziam parte da
cobertura contratada.
São as chamadas “obrigações extracontratuais”, que podem surgir
devido a diversas causas.
OBRIGAÇÕES EXTRACONTRATUAIS - CAUSAS
Uma das causas é a negligência da Seguradora na condução de
determinado processo de sinistro, dando origem a uma ação judicial
contra ela.
A Justiça pode condená-la por danos morais, juros, danos
emergentes, perda de chance, dentre outros elementos, o que
implicaria na obrigação de pagar à empresa Segurada valor adicional
ao da indenização das perdas cobertas.
As obrigações extracontratuais ocorrem regularmente no mercado
brasileiro, razão pela qual as Seguradoras precisam se precaver com
a compra da coberta ECO no resseguro.
OBRIGAÇÕES EXTRACONTRATUAIS –
RESTRIÇÕES NA COBERTURA
O risco pode ser ressegurado com a adoção da Cláusula ECO.
Mas há restrição.
A cobertura do resseguro se restringe às seguintes situações:
1) se a frequência das falhas na regulação de sinistro for
controlada; e
2) se a cobertura for restrita a situações imponderáveis.
OBRIGAÇÕES EXTRACONTRATUAIS –
DIFICULDADES
Os Resseguradores não são receptivos na aceitação desse tipo de
risco.
Mesmo assim as Seguradoras devem tentar incluí-lo na negociação
dos contratos de resseguro, justo por sua utilidade e importância.
OBRIGAÇÕES EXTRACONTRATUAIS –
MEDIDAS PREVENTIVAS
As Seguradoras, além de buscarem no resseguro o recurso de maior
proteção, devem:
1) adotar sistemas de gerenciamento administrativo adequado; e
2) implantar controles internos em todas as fases dos processos de
sinistro.
SÍNTESE DA APRESENTAÇÃO
• O Ressegurador segue a sorte da Ressegurada em todas as fases
do seguro, na proporção da parte ressegurada;
• Seguir as ações se refere aos deveres do Ressegurador de seguir
as decisões de gerência rotineiras tomadas pelo Segurador;
• A cláusula de erros e omissões é utilizada para corrigir erros de
comunicação ou algo semelhante;
• A cláusula XPL é utilizada para definir o limite de responsabilidade
do Ressegurador e o critério para o cálculo do sinistro coberto
pelo contrato de resseguro; e
• A cláusula ECO tem por fim garantir a Seguradora quanto às verbas
decorrentes de obrigação surgida durante a regulação do sinistro,
que ultrapasse os limites determinados no contrato de seguro.