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Page 1: Seminário Memórias de Um Suicida - Terceira Parte - Capítulo V - A Causa de Minha Cegueira no Século XIX - 04/07/2016

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CAPÍTULO VTerceira Parte

DATA: 04/07/2016

A Causa de Minha Cegueira no Século XIX

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GEEM – Grupo de Estudos e Educação da MediunidadeSeminário Anual – 2016

Início: 15/02/2016No capítulo anterior.....

Chegou a hora de rever suas encarnações passadas.Assim, perdeu a lembrança do presente e mergulhou a consciência no passado.

Recordava o ano 33, em Jerusalém. Era miserável, pobre e mau. Feio, áspero, intratável, mutilado, ambicioso, maldizia e perseguia tudo.

Proferiu insultos contra o Jesus, condenou-O, insultou e desrespeitou a Sua Mãe sofredora e humilde, aplaudiu Barrabás... Denunciou cristãos ao Sinédrio, perseguiu, espionou, flagelou quanto podia, apedrejou Estevão, atraiçoou os

“Santos do Senhor”, pelo simples prazer de praticar o mal.

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GEEM – Grupo de Estudos e Educação da MediunidadeSeminário Anual – 2016

Início: 15/02/2016Reencarnações se sucederam através dos séculos. Pertencia às trevas, e

durante o intervalo de uma existência a outra nem diferenciava a

encarnação e a estada no Invisível, pois o seu modo de ser era sempre a

animalidade!

Criminoso impenitente, sofria o retorno de suas ações, cujos efeitos em seu próprio estado se refletiam.

A ideia da regeneração começou a se insinuar e aceitou-a calculada e

interesseiramente, pensando apenas em vantagens pessoais, poderes que o levassem a satisfação de caprichos

e paixões.

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Desencarnou na metade do século XVII, surpreendendo-se em confusões deploráveis, em um cárcere envolvido em trevas, tal qual

uma prisão terrena.

“Que odiosa série de feitos criminosos, porém, ocasionara tão amarga repressão para a dignidade de um Espírito liberto das cadeias da

carne?... Que abomináveis razões haveria eu dado à lei de atração e afinidades para que meu estado mental e consciencial apenas se

afinasse com as trevas de uma masmorra de prisão terrena, infecta e martirizante?...”

Convém que te inteires do que fiz por aquele tempo, leitor...

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O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Capítulo II - Da Encarnação dos Espíritos132. Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos?“Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação; para outros, missão. Mas, para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a expiação. (...)

O Céu e o Inferno – Primeira Parte – Capítulo III – O Céu8. A encarnação é necessária ao duplo progresso moral e intelectual do Espírito: ao progresso intelectual pela atividade obrigatória do trabalho; ao progresso moral pela necessidade recíproca dos homens entre si. A vida social é a pedra de toque das boas ou más qualidades.A bondade, a maldade, a doçura, a violência, a benevolência, a caridade, o egoísmo, a avareza, o orgulho, a humildade, a sinceridade, a franqueza, a lealdade, a má-fé, a hipocrisia, em uma palavra, tudo o que constitui o homem de bem ou o perverso tem por móvel, por alvo e por estímulo as relações do homem com os seus semelhantes.Para o homem que vivesse insulado não haveria vícios nem virtudes; preservando-se do mal pelo insulamento, o bem de si mesmo se anularia.

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O Evangelho Segundo o Espiritismo – “Ninguém Poderá Ver o Reino de Deus se Não Nascer de Novo” – Capítulo IV – Necessidade da Encarnação25. É um castigo a encarnação e somente os Espíritos culpados estão sujeitos a sofrê-la?A passagem dos Espíritos pela vida corporal é necessária para que possam cumprir, por meio de uma ação material, os desígnios cuja execução Deus lhes confia. É-lhes necessária a bem deles, visto que a atividade que são obrigados a exercer lhes auxilia o desenvolvimento da inteligência.(...) Sendo soberanamente justo, Deus tem de distribuir tudo igualmente por todos os seus filhos; assim é que estabeleceu para todos o mesmo ponto de partida, a mesma aptidão, as mesmas obrigações a cumprir e a mesma liberdade de proceder. (...) Os que usam mal da liberdade que Deus lhes concede retardam a sua marcha e, tal seja a obstinação que demonstrem, podem prolongar indefinidamente a necessidade da reencarnação e é quando se torna um castigo. – São Luís. (Paris, 1859.)

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GEEM – Grupo de Estudos e Educação da MediunidadeSeminário Anual – 2016

Início: 15/02/2016Nos primeiros anos do século XVII (1601-1650)

renasce Camilo na Espanha, na cidade de Toledo, em busca de nova oportunidade de regeneração de seu espírito recalcitrante.

Impunha-se a necessidade dos testemunhos de resignação na pobreza, de humildade passiva ante uma traição amorosa e de devotamento à família.

Pertencia a uma família de nobres arruinados, perseguidos por rivalidades políticas e religiosas.

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Na adolescência era ainda analfabeto, ocupado nas árduas tarefas do campo, apascentando ovelhas, arando a terra, dividindo-se em múltiplos afazeres sob o olhar severo de seu pai.

No recesso de sua alma, porém, fervilhavam grandes ambições, descabidas em um jovem nas suas condições. Sonhava abandonar o campo, insurgir-se contra o despotismo paterno, tornar-se homem culto e útil como os primos residentes em Madrid, militares uns, outros formando na poderosa Companhia de Jesus. Invejava essa parentela rica e poderosa, sentindo-se capaz dos mais pesados sacrifícios a fim de atingir posição social idêntica.

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Revelou à sua mãe o desejo de partir. Ela também sofria a opressão do marido.

Aconselhou-o a obediência aos princípios da família, pois sua presença era indispensável para o bom andamento da lavoura, mas intercedeu junto ao senhor e pai, o que lhe valeu maus tratos e castigos inconcebíveis num coração paterno!

Recorreu ao pároco da circunscrição. Falou do seu desejo de alfabetizar-se, instruir-se. Aquiesceu com bondade e desprendimento, passando a ensinar-lhe quanto sabia, encantado com as possibilidades intelectuais deparadas no aluno.

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Um dia surgiu a infeliz ideia de fazer-se sacerdote. Seria meio seguro e fácil de chegar aos fins que desejava... Não se tratava de honrosa vocação tampouco se cogitava de servir às causas do Bem e da Justiça através de um apostolado eficiente. Em suas manifestações de religiosidade não entravam a verdadeira crença em Deus nem o respeito devido às suas Leis!

Tal desejo, considerado louvável por suas pretensiosas ambições, foi comunicado ao pároco.

Para sua surpresa, no entanto, o sacerdote aconselhou-o a evitar cometer o sacrilégio de se prevalecer da sombra santificadora do Divino Cordeiro para servir às paixões pessoais que lhe inquietavam o coração... pois percebia muito bem, por conhecer-lhe o caráter, que nenhuma verdadeira inclinação o induzia ao delicado ministério.

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“Retorna às tuas obrigações de cidadão, porfiando no cumprimento dos deveres cotidianos, experimentando a cada passo a decência dos costumes...”

“Volta à tua aldeia, apascenta o teu gado, deixa-te permanecer isento de ambições precipitadas, que te será isso mais meritório do que atraiçoar um ministério para o qual não te encontras ainda preparado...”

“Ara cuidadosamente a terra amiga, zelando alegremente pelo torrão que te serviu de berço... e, espargindo em seu generoso seio as sementes pequeninas e fecundas, bem cedo compreenderás que Deus permanece contigo, porque verás suas bençãos sempre renovadas nos frutos saborosos dos teus pomares, nas espigas loiras do trigo que alimentará a família toda, no leite criador que robustecerá o corpo de teus filhos...”

“Cria antes o teu lar! Educa filhos no respeito a Deus, no culto da Justiça, no desprendimento do Amor ao próximo!”

“Sê, tu mesmo, amigo de quantos te rodearem, sem esqueceres as tuas plantações e os animais amigos que te servem tão bem como teus próprios servos, que tudo isso é sacerdócio sublime, é serviço santificante do Senhor da Vinha..."

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Maria Magda era esbelta, linda, corada, com longas tranças negras e perfumadas até a cintura, um belo par de olhos lânguidos e sedutores.

Como ele, era filha de nobres arruinados, com a vantagem única de ter adquirido boa educação doméstica e mesmo social, graças à compreensão de seus pais.

Passou a cortejá-la. Sentia-se correspondido. Amou a jovem Magda com fervor, em suas mãos depositando o seu destino. De bom grado teria para sempre se refugiado na doçura de um lar honradamente constituído.

A adversidade, porém, rondava-lhe os passos, arrastando ao seu encontro tentações fortes diante de testemunhos inadiáveis, das quais não poderia se livrar, devido ao seu mau gênio, à insubmissão do orgulho ferido, a revolta que predominava em suas atitudes à frente de um desgosto ou de uma simples contrariedade!

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Maria Magda preteriu-o por um jovem madrileno, primo de seu pai, adepto oculto da Reforma, que visitara sua humilde residência, passando com eles a temporada estival (verão)!

Jacinto de Ornelas y Ruiz era um belo militar de vinte e cinco anos, a quem muito bem assentavam os cabelos longos, os bigodes luzidios e aprumados, como bom cavalheiro da guarda real que era. Entre sua figura elegante e as vantagens financeiras que detinha e a sua sombra rústica de lavrador paupérrimo, não seria difícil a escolha para uma jovem que não atingira ainda as vinte primaveras!

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“Jurei ódio eterno a ambos. Rancoroso e despeitado, desejei-lhes toda a sorte de desgraças, enquanto projetos de vingança

compeliam minha mente a sugestões contumazes de maldade, tornando-me a existência num inferno sem bálsamos, num

deserto de esperanças.”

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O Livro dos Espíritos – Parte terceira– Capítulo XI - Da lei de justiça, amor e caridade887. (...) o amor aos inimigos não será contrário às nossas tendências naturais e a inimizade não provirá de uma falta de simpatia entre os Espíritos?“Certo ninguém pode votar aos seus inimigos um amor terno e apaixonado. Não foi isso o que Jesus entendeu de dizer. Amar os inimigos é perdoar-lhes e lhes retribuir o mal com o bem. O que assim procede se torna superior aos seus inimigos, ao passo que abaixo deles se coloca, se procura tomar vingança.”

O Livro dos Espíritos – Parte segunda – Capítulo VI - Da vida espírita – ensaio teórico da sensação nos espíritos257. (...) Ele (o espírito) tem o livre-arbítrio, tem, por conseguinte, a faculdade de escolha entre o fazer e o não fazer. Dome suas paixões animais; não alimente ódio, nem inveja, nem ciúme, nem orgulho; não se deixe dominar pelo egoísmo; purifique-se, nutrindo bons sentimentos; pratique o bem; não ligue às coisas deste mundo importância que não merecem; e, então, embora revestido do invólucro corporal, já estará depurado, já estará liberto do jugo da matéria e, quando deixar esse invólucro, não mais lhe sofrerá a influência.

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O Evangelho Segundo o Espiritismo – “Bem Aventurados os Que São Misericordiosos” – Capítulo X – Perdoai Para Que Deus Vos Perdoe4. A misericórdia é o complemento da brandura, porquanto aquele que não for misericordioso não poderá ser brando e pacífico. Ela consiste no esquecimento e no perdão das ofensas. O ódio e o rancor denotam alma sem elevação, nem grandeza. O esquecimento das ofensas é próprio da alma elevada, que paira acima dos golpes que lhe possam desferir. Uma é sempre ansiosa, de sombria suscetibilidade e cheia de fel; a outra é calma, toda mansidão e caridade.

Ai daquele que diz: nunca perdoarei. Esse, se não for condenado pelos homens, sê-lo-á por Deus. COM QUE DIREITO RECLAMARIA ELE O PERDÃO DE SUAS PRÓPRIAS FALTAS, SE NÃO PERDOA AS DOS OUTROS? Jesus nos ensina que a misericórdia não deve ter limites, quando diz que cada um perdoe ao seu irmão, não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes.

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Fez-se sacerdote com grande facilidade!A Companhia de Jesus, famosa pelo poderio

exercido em todos os setores das sociedades, proporcionou-lhe auxílios, inestimáveis vantagens!

Instruiu-se brilhante e rapidamente à sua sombra, como tanto almejara desde a infância!

Absorveu, sequioso, o manancial de ilustração que lhe ofertavam, enquanto era observado em suas ambições frementes tornando-se fácil instrumento para o férreo domínio de suas garras!

Era como se sua inteligência apenas recordasse do que era dado a aprender, tal o poder de assimilação que em suas faculdades existia!

Sua gratidão não conheceu limites! Prendeu-se à Companhia com todas as forças de que dispunha sua alma rancorosa.

Obedecia aos superiores com zelo fervoroso, servindo-os a contento, indo mesmo ao encontro dos seus desejos!

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Não nos referimos à causa divina. Não a esposou, dela não cogitando a fim de edificar sua alma com as claridades da Justiça e do Dever.

Tampouco aprendeu a amar a Deus ou a servir o Mestre Redentor no seio da comunidade a que se filiara.

Da poderosa organização religiosa ele apenas desejava a posição social que ela podia proporcionar, a qual lhe compensasse da obscuridade do seu nascimento: os deleites do mundo, as loucas satisfações do orgulho, as ambições inferiores, as vaidades soezes, já que o perjúrio da noiva idolatrada cerceara seus nascentes projetos honestos!

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GEEM – Grupo de Estudos e Educação da MediunidadeSeminário Anual – 2016

Início: 15/02/2016A fim de adquirir todas as vantagenspossíveis, serviu com zelos frenéticosàs leis da Inquisição!Perseguiu, denunciou, caluniou, intrigou,mentiu, condenou, torturou, matou!Denunciaria, o próprio pai, tal a demência que dele se apossou, levando-o ao tribunalcomo agente da Reforma, se ele já nãohouvesse entregado a alma ao Criador!Considerava que o que fazia não tinharequintes de maldade: seu objetivo era servir os superiores,

engrandecer a causa da Companhia, provando, assim, a incondicional gratidão pelo amparo que lhe haviam dispensado!

Não percebeu que era vítima da mesma instituição, porque, reconhecendo-o submisso e penhorado pelos favores recebidos, exploravam tais sentimentos, induzindo-o à prática de crimes abomináveis.

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O Livro dos Espíritos – Parte terceira – Capítulo XII - Da Perfeição Moral893. Qual a mais meritória de todas as virtudes?“(...) A sublimidade da virtude está no sacrifício do interesse pessoal pelo bem do próximo, sem pensamento oculto. A mais meritória é a que assenta na mais desinteressada caridade.”895. Postos de lado os defeitos e os vícios acerca dos quais ninguém se pode equivocar, qual o sinal mais característico da imperfeição?“O interesse pessoal.” (...)907. Será substancialmente mau o princípio originário das paixões, embora esteja na natureza?“Não; (...) O abuso que delas se faz é que causa o mal.”908. Como se poderá determinar o limite onde as paixões deixam de ser boas para se tornarem más?“(...) Uma paixão se torna perigosa a partir do momento em que deixais de poder governá-la e que dá em resultado um prejuízo qualquer para vós mesmos, ou para outrem.”

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GEEM – Grupo de Estudos e Educação da MediunidadeSeminário Anual – 2016

Início: 15/02/2016

Durante muito tempo esqueceu-se dos que o haviam atraiçoado. Passaram-se quinze longos anos.

Eles haviam se transferido para a Holanda, onde Jacinto de Ornelas se incumbira de certa missão militar. Um dia, porém, o destino colocou-os novamente frente à frente!

Finalizada a missão retornava gozando de excelente conceito até mesmo nas antecâmaras reais, desfrutando invejável posição social.

Passou, então, a observar sua vida: seus passos de adepto da Reforma, seu passado como seu presente, o que fazia, o que pretendia, como vivia, o grau de harmonia existente no lar doméstico e até as particularidades de sua existência, graças ao experimentado corpo de espiões que ficava às suas ordens, como bom agente do Santo Ofício que era.

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Jacinto de Ornelas era feliz com a esposa. Tinham filhos, que procuravam educar nos preceitos de boa moral.

Maria Magda, dama formosa e cortejada, impunha-se na sociedade por virtudes inatacáveis, apresentava a beleza altiva e digna.

Desorientado por mil projetos nefastos e degradantes, vendo-a pela primeira vez, depois de tantos anos de ausência, sentiu que a amava ainda!

Desejou atraí-la e cativar as atenções amorosas negadas outrora, visitando-a para oferecer préstimos, desfazendo-se em amabilidades, atitudes servis, apaixonadas e humilhantes. Usou o poder que dispunha, oferecendo favores que poderia prestar ao marido, até mesmo garantias para exercer a sua fé religiosa, protegendo-os contra as repressões da lei, desde que concordasse em aquiescer aos seus ansiosos projetos de amor!

Repeliu-o, no entanto, sem compaixão nem temor, escudada na mais santificante fidelidade conjugal.

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GEEM – Grupo de Estudos e Educação da MediunidadeSeminário Anual – 2016

Início: 15/02/2016Jacinto, posto ao corrente dos

fatos pela própria esposa, encheu-se de temor, desacreditado dos laços de parentesco; e, concertando entendimentos e resoluções com os seus superiores, preparou-se a fim de deixar Madrid, buscando refúgio no estrangeiro para si próprio, como para a família.

O plano foi descoberto a tempo!

Desesperado, Camilo denunciou Jacinto de Ornelas y Ruiz como huguenote, ao Tribunal do Santo Ofício, para livrar-se dele e apossar-se da esposa!

Page 25: Seminário Memórias de Um Suicida - Terceira Parte - Capítulo V - A Causa de Minha Cegueira no Século XIX - 04/07/2016

Provou com fatos a denúncia: livros heréticos em relação à Virgem Mãe; farta correspondência comprometedora com luteranos da Alemanha; entendimentos com adeptos dispersos pelo país inteiro como pela França; sua ausência sistemática do confessionário, os próprios nomes dos filhos, cujos registros de batismo não pôde apresentar, alegando haverem sido realizadas na Holanda as importantes cerimônias.

Tudo provou, não por zelo à causa da religião, mas para se vingar do desprezo que por amor dele Maria Magda lhe votava!

Uma vez preso e processado, Jacinto foi-lhe entregue por ordem de seus superiores, os quais não puderam negar a primeira solicitação que no gênero ele lhes fazia, dados os bons serviços prestados à instituição.

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Jacinto foi mantido no segredo de masmorra infecta, onde passou a suportar longa série de martirizantes privações, de angústias e sofrimentos indescritíveis, por inconcebíveis à mentalidade do homem contemporâneo.

Camilo derramou sobre ele toda revolta que lhe maltratava o coração. O despeito e o ciúme que o alucinaram por tantos anos inspiraram-lhe gêneros de torturas ferazes, que aplicava possuído de demoníaco prazer, recordando o amor preterido na juventude.

Cobrou, infame e satanicamente, a Jacinto de Ornelas y Ruiz, na sala de torturas do tribunal da Inquisição, em Madrid, todos os beijos e carícias daquela a quem ele amara até à loucura e ao desespero!

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Magda procurou-o, suplicou trégua e compaixão! Lembrou-lhe os dias longínquos da infância encantadora quando viviam como quase irmãos... Falou dos filhos, que ficariam à mercê de duríssimas consequências com o pai acusado pelo Santo Ofício ou até morto em virtude do encarceramento prolongado, concluindo por suplicar a vida e a liberdade do marido, como também a sua proteção a fim de se refugiarem na Inglaterra...

Cínico e cruel, perguntou-lhe se fora pensando em todos aqueles detalhes de sua juventude que acertara com Jacinto a traição abominável que lhe infligiram... E, após lançar-lhe em rosto toda raiva que extravasava de sua alma, vendo-a à sua mercê, propôs:

"— Terás de retorno teu marido, Maria Magda... Mas sob uma condição, da qual não abrirei mão jamais: Entrega-te! Sê minha! Consente em aliar tua existência à minha, ainda que ocultamente... e te restituirei o companheiro sem mais incomodá-lo!..."

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Ele se fizera irredutível e bárbaro.Levantavam-se das profundezas do seu ser

psíquico, as remotas tendências maléficas que, em Jerusalém, no ano de 33, lhe fizeram condenar Jesus de Nazaré em favor da liberdade de Barrabás!

Na verdade, existia muito de capricho e vaidade nas atitudes que o levavam a desejar a ruína de Magda; e, enquanto o casal sofria o drama pungente, ele se rejubilava com a satisfação de vencê-la, despedaçando-lhe a felicidade, que incomodava seu orgulho ferido!

Alguns dias depois, descendo à sala de torturas, Magda contemplou o espectro a que se reduzira seu belo oficial de mosqueteiros, e acabou por ceder aos seus ignóbeis caprichos!

A infeliz esposa curvou-se ao algoz, imolou-se para que de seu sacrifício resultasse a libertação, a vida do pai dos seus filhos muito queridos!

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O triunfo, porém, aumentou o despeito de Camilo, pois sua amada se sacrificara para salvar a vida do marido, sem ocultar o desprezo, o ódio que sua pessoa lhe inspirava, provocando-lhe cansaço e revolta.

Maria Magda pediu pela vida e a liberdade do marido, Camilo comprometeu-se a lhe conceder.

Porém, não o restituiu intacto, sem mutilações! Mandou que lhe vazassem os olhos, perfurando-os com pontas de ferro incandescido, desgraçando-o para sempre.

JACINTO DE ORNELAS Y RUIZ, inconformado com a situação, não desejando tornar-se um estorvo à sua companheira, abandonada pelos amigos, esquecida até mesmo por Camilo, que se desinteressara da sua posse, na tentativa de salvá-la e aos filhos da perseguição religiosa, que se estenderia, suicidou-se dois meses depois de obter a liberdade, auxiliado no gesto sinistro pelo próprio filho mais jovem.

Maria Magda voltou para a aldeia natal com os filhos, desolada e infeliz.

Nunca mais, até o momento, Camilo pode vê-la ou dela obter notícias!

Page 30: Seminário Memórias de Um Suicida - Terceira Parte - Capítulo V - A Causa de Minha Cegueira no Século XIX - 04/07/2016

O arrependimento não tardou a iniciar vigorosa reação. Nunca mais, desde então, teve tranquilidade para conciliar o sono, vendo a imagem de Jacinto de Ornelas, martirizado e cego, por toda parte onde se encontrasse.

Seu desejo de reparação teve início no momento em que,

entregando Jacinto à sua mulher, viu-a prostrar-se diante dele, cobrindo-lhe as mãos de beijos e de lágrimas, testemunhando um sentimento sublime de amor e compaixão, que ele não estava à altura de compreender!

Desde então Camilo deixou de cumprir as tenebrosas ordens de

seus superiores e a inobservância dos seus deveres fez com que ele caísse das boas graças em que vivia junto aos maiorais do Santo Ofício, levando-o ao cárcere perpétuo!

E já se passaram três séculos!... Da segunda metade do século

XVII até agora, ele expiou, os crimes e perversidades cometidos sob a tutela do Santo Ofício!

Page 31: Seminário Memórias de Um Suicida - Terceira Parte - Capítulo V - A Causa de Minha Cegueira no Século XIX - 04/07/2016

Até que, na segunda metade do século XIX, ele se preparou para a última fase das expiações: a cegueira!

Cumpria-lhe perder a vista, impossibilitar-se de garantir a subsistência própria, privar-se do trabalho honroso a fim de aceitar o auxílio alheio.

Situação vexatória e humilhante para o desmedido orgulho que ainda não houvera exterminado do seu caráter revel. Era necessário desbaratar ideais, desejos, ambições, contemplando, ao mesmo tempo, ruírem fragorosamente seus valores morais e intelectuais, sua posição social, para aceitar a cegueira!

Mas cumpria-lhe fazê-lo resignada e dignamente, testemunhando pesares pelas selvagens ações contra o rival de outrora, atestando respeito e provando intimas homenagens àquele mesmo Jesus cuja memória fora por ele ultrajada tantas vezes!

Page 32: Seminário Memórias de Um Suicida - Terceira Parte - Capítulo V - A Causa de Minha Cegueira no Século XIX - 04/07/2016

As atormentações morais, as angústias, as humilhações insofríveis, o desespero inconsolável ao se ver à mercê das trevas e que levaram Jacinto de Ornelas y Ruiz ao funesto erro do suicídio, também em seu ser se acumularam com tão dominadora efervescência que lhe imitou o gesto, tornando-se, em 1890, suicida como ele o fora em meados do século XVII...

Sabemos da fraqueza que assaltou Camilo ao reconhecer-se cego! Não teve, absolutamente, forças para o terrível testemunho, na hora culminante da sua reabilitação!

O mesmo horror que Jacinto de Ornelas sentiu pela cegueira, sentiu também ele, três séculos depois, ao perceber que perdera a luz dos olhos!

Page 33: Seminário Memórias de Um Suicida - Terceira Parte - Capítulo V - A Causa de Minha Cegueira no Século XIX - 04/07/2016

“Que odiosa série de feitos criminosos, porém, ocasionara tão amarga repressão para a dignidade de um Espírito liberto das cadeias da

carne?... Que abomináveis razões haveria eu dado à lei de atração e afinidades para que meu estado mental e consciencial apenas se

afinasse com as trevas de uma masmorra de prisão terrena, infecta e martirizante?...

Page 34: Seminário Memórias de Um Suicida - Terceira Parte - Capítulo V - A Causa de Minha Cegueira no Século XIX - 04/07/2016

Isso tudo aconteceu assim. Certo, errado ou discutível, assim foi que aconteceu...

Compreender-se-á, a partir dessas recordações, que a Suprema Lei do Criador lhe imporia como expiação cometer

um suicídio para sofrer-lhe as consequências?

ABSOLUTAMENTE NÃO!

Page 35: Seminário Memórias de Um Suicida - Terceira Parte - Capítulo V - A Causa de Minha Cegueira no Século XIX - 04/07/2016

“Os dispositivos das Leis Divinas se firmam na supremacia do AMOR, da FRATERNIDADE, do BEM, da JUSTIÇA e do DEVER.

Ela previne contra todas as possibilidades de desarmonização, não estabeleceria, portanto, a infração máxima por ela mesma condenada!

O que se passou comigo foi, antes, o efeito lógico de uma causa por mim criada à revelia da Lei Soberana e Harmoniosa que rege o Universo, por estar com ela desarmonizado, envolvido em complexos cada vez mais deprimentes através da recalcitrância nos erros sucessivos através das existências corporais.

A fatalidade é criação nossa, gerada dos nossos erros e inconsequências através das idades e do tempo!”

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O Livro dos Espíritos – Parte Segunda – Da Vida Espírita ou Vida dos Espíritos – Capítulo VI – Escolha das Provas259. (...) todas as tribulações que experimentamos na vida nós as previmos e buscamos?Todas, não, porque não escolhestes e previstes tudo o que vos sucede no mundo, até às mínimas coisas.Escolhestes apenas o gênero das provações. As particularidades correm por conta da posição em que vos achais; são, muitas vezes, consequências das vossas próprias ações. (...)(...) Previstos só são os fatos principais, os que influem no destino. (...)

O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Das Leis morais – Capítulo X – Da Lei de Liberdade851. Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida, conforme ao sentido que se dá a este vocábulo? Quer dizer: todos os acontecimentos são predeterminados? E, neste caso, que vem a ser do livre-arbítrio?A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito fez, ao encarnar, desta ou daquela prova para sofrer. Escolhendo-a, instituiu para si uma espécie de destino, (...) (...) o Espírito, conservando o livre-arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor de ceder ou de resistir.

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Deus conhece todas as almas, que formou com o seu pensamento e o seu amor. Sabe o grande partido que delas há de tirar mais tarde

para a realização das suas vistas.

A princípio, deixa-as percorrer vagarosamente as vias sinuosas, subir os

sombrios desfiladeiros das vidas terrestres,

acumular pouco a pouco em si os tesouros de

paciência, de virtude, de saber, que se adquirem

na escola do sofrimento.

Mais tarde, enternecidas pelas chuvas e pelas rajadas da

adversidade, amadurecidas pelos raios do sol divino, saem

da sombra dos tempos, da obscuridade das vidas

inumeráveis, e eis que suas faculdades desabrocham em feixes deslumbrantes; a sua

inteligência revela-se em obras que são como que o reflexo do

Gênio Divino.

O Problema do Ser, do Destino e da Dor – Léon DenisPrimeira Parte – O Problema do Ser

Capítulo IX – Evolução e Finalidade da Alma