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Estudos Africanos
Mercado informal
- Compreender o papel do mercado informal como espaços de negócios e de criação de capital social
- Analisar a existência de “um tecto ou um horizonte de possibilidades” para as mulheres no sector informal
- Compreender o papel das redes de entreajuda e a sua relação com os resultados socioeconómicos para o grupo envolvido - mecanismos alternativos/ complementares perante a desresponsabilização do Estado face às áreas sociais
Compreender o papel das organizações da sociedade civil que actuam e tiram partido das redes de entreajuda já existentes entre as vendedoras no sector informal (não vai ser abordado nesta aula)
Objectivos
A conceptualização do sector informal é complexa e ainda não está bem definida nas ciências sociais, onde por vezes aparecem termos sinónimos como espontâneo”, “ilegal”, “subterrâneo”, “popular”, “clandestino”, entre outros.
Para Lopes (1999: iii) trata-se de práticas económicas legais realizadas por agentes económicos ilegais, comportamentos económicos que se efectuam à margem, que estão excluídos ou que escapam ao sistema institucional de leis, regras, direitos, regulamentos e procedimentos que estruturam o sistema formal de produção e troca.
Hart (2007: 97), na sua conhecida investigação sobre o sector informal no Gana, evidencia:• (…) What became known as the “informal sector or
economy” was what people really do for themselves beyond the reach of state regulation; and as such it constituted the negation of the central bureaucracy erected to manage national capitalism. This sphere of economic activities has expanded with the reduction of the state’s economic pretensions under the regime of neo-liberal markets, both in countries like Ghana and globally, to the point where its scope is now so wide that the usefulness of the concept is questionable.
O Caso de Angola
• O sector informal começa a ganhar a actual dimensão devido às distorções provocadas pelo sistema de planeamento centralizado nos anos 80: a fixação dos preços e a sobrevalorização da moeda nacional minaram a competitividade da economia formal (Vletter, 2002: 9); a incapacidade do Estado e do mercado formal para absorverem mão-de-obra levou a população a buscar outras alternativas para compensar a perda de poder de compra dos salários (Vidal, 2008: 17; Hodges, 2002: 54) e como meio de sobrevivência.
• Para Alves da Rocha (1999: 25), o desenvolvimento do sector informal seria a “consequência mais nefasta da inconsistência e inadequação do modelo de organização económica adoptado depois da independência”, uma reacção “à hostilidade e à incapacidade do sector formal em se constituir num sistema válido de segurança social e produção económica para a maioria da população”.
Que liberalização económica?
• A instabilidade do quadro económico na passagem da Primeira República para a Segunda República, caracterizada pelo processo de transição para o multipartidarismo e a economia de mercado
(com a passagem de uma economia planificada de tipo socialista para uma economia de mercado a partir de 1992)
• Retrocesso em relação aos primeiros anos da independência quando houve algum empenho por parte do Governo em ampliar o acesso da população aos sectores sociais
• Economia de guerra• Cenário actual:• Economia petrolífera corresponde a cerca
de 46% do PIB, 80% das receitas do Estado e 95% das exportações do País(2014)– O sector petrolífero foi responsável em
2006 por 57,1% do PIB angolano. – construção civil / novos serviços e
produtos
Que liberalização económica?
Guerra-civil
• Impacto na infra-estrutura económica• Principais impactos da guerra-civil angolana no percurso de vida das
mulheres– O processo migratório causado pela guerra afectou a vida das
mulheres em diversos níveis (destacando-se aqui os factores mais relacionados com o mercado de trabalho)
Interrupção no processo de aprendizagem
Interrupção no processo de aprendizagem dos filhos
Perda de familiares
Mudança de actividade: “Em Malanje ensinava”
Processo de adaptação à vida nas cidades
• Ao chegar nas cidades algumas famílias só encontraram terreno disponível para construir suas casas (e por vezes cultivar uma pequena horta/lavra de subsistência)
– longe das estradas, nas áreas peri-urbanas próximas a Luanda.
– não têm completo acesso aos benefícios que poderiam ser obtidos na vida citadina:
– 69% dos moradores das cidades vivem em casas sem saneamento básico,
– 47% não tem acesso sustentável a uma fonte de água tratada.
– A paz alcançada em 2002 terminou com a violência da guerra, mas grande parte da população deslocada sofre agora com a violência da especulação imobiliária.
Principais indicadores
Mercado informal
• A face mais visível do mercado de trabalho informal é o sector comercial retalhista. Este sector é composto porvendedores em situação de luta pela sobrevivência.
• Os actores têm pouca capacidade de poupança e investimento, e baixo ou nenhum nível de escolaridade.
• Sobrevivem na dependência dos grandes importadores e na insegurança da ilegalidade.
• São inúmeros os trabalhadores que vivem do mercadoinformal, ex.: lavadores de carros, staff dos candongueiros, bagageiros, roboteiros, kinguilas, os organizadores de festas, engraxates.
• Estes trabalhadores são ignorados no seu contributo para o crescimento do País e na elaboração das políticas públicas.
O mercado de trabalho informal deLuanda
• Tem características muito próprias, especialmente no que se refere ao elevado número de agentes envolvidos e à variedade de bens comercializados, não sendo o preço ou o tamanho do produto um factor restritivo.
• Estão inseridos mais de 60% dos actores económicos que operam em diversas escalas, do grossista ao retalhista.
• No caso de Luanda, os grossistas transportavam com camiões os produtos directamente do porto e da cintura verde da cidade (e em alguns casos de províncias mais distantes como o Bengo e o KwanzaSul) para o antigo mercado do Roque Santeiro, que desempenhava o papel de ponto focal para os outros mercados e para os vendedores ambulantes.
Mercado informal
• No mercado informal, de forma geral, homens e mulheres empreendem actividades diferenciadas, de tal forma que prolongam a divisão sexual do ambiente doméstico.
• Não se vêem homens a preparar ou vender comida, por exemplo.
• As actividades exercidas pelas mulheres nestesector não exigem qualificações e são de baixoinvestimento. Consequentemente, são aquelasque proporcionam os mais baixos rendimentos.
Exemplo de Moçambique
Círculo vicioso produção-reprodução
Responsabilidade
pelo sustento da
família
+
Baixos rendimentos
Redução da
participação do
Estado nos
sectores sociais
Aumento do tempo para
as actividades de
reprodução/
Diminuição do tempo das
actividades de produção
Exemplos da Guiné
Actividades e comportamento das mulheres do Mercado informal em Luanda
• Tipo de produto
– Conhecimento limitado sobre a compra e venda de um determinado produto: ela foi ensinada a trabalhar somente com aquele produto:
– Capital disponível
Local• Mercados
– alcançam um maior nº de clientes
– fazem menos esforço físico
– estão mais seguras
– não sofrem represálias da polícia
Local
• Mercados- a “ficha”- o serviço de limpeza- a cadeira- os panos para transportar as sobras - o “processo”- o “roboteiro”- alimentação- Lopes: conforme o produto
vendido e local de venda no mercado as vendedoras podem ainda ter que pagar o aluguer de geradores e arcas-frigoríficas.
LocalÀ porta de casa:- conciliar os horários entre as actividades da família e
a actividade comercial:
- prolongamento do horário de trabalho:
- tratar o produto de acordo com a sua especificidade: “não posso ir para o mercado porque o peixe requer muitos cuidados, se for no mercado a água não será o suficiente para tratar as banheiras, para lavar o tapete.”
Local
• Na rua: são designadas por “zungueiras”:
- violência policial
- Insalubridade
Estratégias de entre-ajuda
Família
- Alojamento: - Apoio na saúde, educação e no caso de morte de familiares- Apoio no processo de inserção no ambiente urbano e no mercado de
trabalho
Ajuda de instituições religiosas
- Apoio no processo de alfabetização- Apoio no processo de socialização
Estratégias de entre-ajuda“join-venture” informal
Selecção da compradora: experiência em comprar fora do país. Constituição do Fundo comum: 8 (mil dólares)Compra e despachoRecepção das mercadoriasPagamentos das despesas de deslocação da compradoraInício de um novo ciclo: varia de grupo para grupo, a partir de um
mês.Moeda utilizada: “em Kwuanzas e em dólares, depende do câmbio
do dia”.Margem de lucro: 2500 a 3000 USD/mês – vestuário
300 a 400 USD/mês - roupa de cama
De forma simples (não sistematizada) fazem análise de mercado:
Sabem como os seus clientes compram e quais os interesses os movem:
- sabem que fornecedores externos atendem melhor às necessidades específicas do seu negócio e quais os preços por eles praticados.
Processo de auto-gestão:
definem o país onde a compra será feita,
quais os produtos a serem comprados,
que fazem a colecta do fundo para as compras
compram as mercadorias,
que fazem o despacho,
que desalfandegam as mercadorias,
que vendem a mercadoria.
Possuem uma estratégia empresarial clara e definida: semelhante à estratégia de Inovação
Aproximação do sector formal e com outras instituições
Desalfandegamento, companhias aéreas, serviços aeroportuários, hoteleiros, empresas de despacho.
Sistemas de crédito
• Kixikila
• Micro-crédito
Semana 1
M1 recebe 4000 Akz
M2 paga 1000 Akz
M3 paga 1000 Akz
M4 paga 1000 Akz
M5 paga 1000 Akz
Semana 2
M2 recebe 4000 Akz
M1 paga 1000 Akz
M3 paga 1000 Akz
M4 paga 1000 Akz
M5 paga 1000 Akz
Semana 3
M3 recebe 4000 Akz
M1 paga 1000 Akz
M2 paga 1000 Akz
M4 paga 1000 Akz
M5 paga 1000 Akz
Semana 4
M4 recebe 4000 Akz
M1 paga 1000 Akz
M2 paga 1000 Akz
M3 paga 1000 Akz
M5 paga 1000 Akz
Semana 5
M5 recebe 4000 Akz
M1 paga 1000 Akz
M2 paga 1000 Akz
M3 paga 1000 Akz
M4 paga 1000 Akz
Alguns exemplos de integraçãoformal/informal
Obrigada!
Métodos - “Lente do género”
Metodos não probabilisticos – Amostragem intencional – Amostragem snowball
Entrevistas semi-estruturadasObservação directa
Trabalho de campo em Luanda:- Julho a Agosto de 2004 (fase
exploratória)- Maio a Junho de 2006- Julho a Setembro de 2008* 2012 visita curiosa