semana sri aurobindo 2011 – seleção de textos e fileraízes de nossos montes e que assim...

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1 SEMANA SRI AUROBINDO 2011 – Seleção de Textos E rgue teus olhos em direção ao Sol; Ele está lá, naquele coração maravilhoso de vida e luz e esplendor. Contempla à noite as inumeráveis constelações fulgurando qual luminosas sentinelas solenes do Eterno no ilimitável silêncio que não é um vazio, mas que pulsa com a presença de uma única, calma, tremenda existência; vê, ali, Orion com sua espada e cinturão, brilhando como ele brilhou para os pais arianos há dez mil anos atrás, no começo da era ariana; Sírio em seu esplendor, Lira velejando a bilhões de milhas distante no oceano do espaço. Relembra que esses mundos inume- ráveis, a maioria deles mais poderosa do que o nosso próprio, estão rodopiando com indescritível velocidade, ao aceno daquele Ancião dos Dias, até quando ninguém senão Ele sabe; relembra no entanto, que eles são um milhão de vezes mais antigos do que nosso Himalaia, mais firmes do que as raízes de nossos montes e que assim permanecerão até que Ele, segundo Sua vontade, os faça cair como folhas secas da árvore eterna do Universo. Imagina a infinitude do tempo, toma consciência da ilimitabilidade do espaço; e então relembra que quando estes mundos ainda não existiam Ele já existia, o Mesmo que agora, e quando eles não mais existirem Ele será, ainda o Mesmo; percebe que além de Lira Ele está, e distante no Espaço onde as estrelas do Cruzeiro do Sul não podem ser vistas, Ele contudo lá está. E então retorna à Terra e compreende quem é este Ele. Ele está bem próximo de Ti. Vê esse ancião que passa por ti, recurvado sobre sua bengala: realizas que é Deus quem passa? Ali, uma criança corre, rindo à luz do sol – podes ouvi-Lo naquele riso? Não, Ele está ainda mais perto de ti. Ele está em Ti, Ele é tu mesmo. És tu mesmo que ardes milhões de milhas distante nas extensões infinitas do Espaço, que caminhas com passos confiantes sobre os retumbantes vagalhões do mar etéreo; tu mesmo fixaste as estrelas em seus lugares e teceste o colar dos sóis, não com tuas mãos, mas por meio desse Yoga, dessa Vontade silenciosa, imóvel, impessoal que o colocou aqui hoje ouvin- do a ti mesmo em mim. Ergue os olhos, Ó filho do velho Yoga, e não sejas mais um medroso e um cético, não temas, não duvides, não te atormentes; pois em teu corpo aparente está o Uno que pode criar e destruir mundos com um sopro. SRI AUROBINDO I SOBRE A DANÇA Estabilidade e movimento, devemos lembrar, são somente nossas representações psicológicas do Absoluto, do mesmo modo como unidade e multiplicidade. O Absoluto está além de estabi- lidade e movimento do mesmo modo como está além de unidade e multiplicidade. Contudo, ele assume sua postura eterna no uno e estável, e rodopia em torno de si infinita, inconcebível, seguramente no movente e multitudinário. A Existência-mundo é a extasiada dança de Shiva que multiplica o corpo de Deus de forma inumerável para a visão; ela deixa aquela branca existência precisamente onde e tal qual era, sempre é e sempre será: seu único, absoluto objeti- vo é a alegria do dançar. SRI AUROBINDO

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SEMANA SRI AUROBINDO 2011 – Seleção de Textos

Ergue teus olhos em direção ao Sol; Ele está lá, naquele coração maravilhoso de vida e luze esplendor. Contempla à noite as inumeráveis constelações fulgurando qual luminosas sentinelassolenes do Eterno no ilimitável silêncio que não é um vazio, mas que pulsa com a presença de umaúnica, calma, tremenda existência; vê, ali, Orion com sua espada e cinturão, brilhando como elebrilhou para os pais arianos há dez mil anos atrás, no começo da era ariana; Sírio em seu esplendor,Lira velejando a bilhões de milhas distante no oceano do espaço. Relembra que esses mundos inume-ráveis, a maioria deles mais poderosa do que o nosso próprio, estão rodopiando com indescritívelvelocidade, ao aceno daquele Ancião dos Dias, até quando ninguém senão Ele sabe; relembra noentanto, que eles são um milhão de vezes mais antigos do que nosso Himalaia, mais firmes do que asraízes de nossos montes e que assim permanecerão até que Ele, segundo Sua vontade, os faça caircomo folhas secas da árvore eterna do Universo. Imagina a infinitude do tempo, toma consciência dailimitabilidade do espaço; e então relembra que quando estes mundos ainda não existiam Ele jáexistia, o Mesmo que agora, e quando eles não mais existirem Ele será, ainda o Mesmo; percebe quealém de Lira Ele está, e distante no Espaço onde as estrelas do Cruzeiro do Sul não podem ser vistas,Ele contudo lá está. E então retorna à Terra e compreende quem é este Ele. Ele está bem próximo deTi. Vê esse ancião que passa por ti, recurvado sobre sua bengala: realizas que é Deus quem passa?Ali, uma criança corre, rindo à luz do sol – podes ouvi-Lo naquele riso? Não, Ele está ainda maisperto de ti. Ele está em Ti, Ele é tu mesmo. És tu mesmo que ardes milhões de milhas distante nasextensões infinitas do Espaço, que caminhas com passos confiantes sobre os retumbantes vagalhões domar etéreo; tu mesmo fixaste as estrelas em seus lugares e teceste o colar dos sóis, não com tuas mãos,mas por meio desse Yoga, dessa Vontade silenciosa, imóvel, impessoal que o colocou aqui hoje ouvin-do a ti mesmo em mim. Ergue os olhos, Ó filho do velho Yoga, e não sejas mais um medroso e umcético, não temas, não duvides, não te atormentes; pois em teu corpo aparente está o Uno que podecriar e destruir mundos com um sopro.

SRI AUROBINDO

I SOBRE A DANÇA

Estabilidade e movimento, devemos lembrar, são somente nossas representações psicológicas

do Absoluto, do mesmo modo como unidade e multiplicidade. O Absoluto está além de estabi-

lidade e movimento do mesmo modo como está além de unidade e multiplicidade. Contudo,

ele assume sua postura eterna no uno e estável, e rodopia em torno de si infinita, inconcebível,

seguramente no movente e multitudinário. A Existência-mundo é a extasiada dança de Shiva

que multiplica o corpo de Deus de forma inumerável para a visão; ela deixa aquela branca

existência precisamente onde e tal qual era, sempre é e sempre será: seu único, absoluto objeti-

vo é a alegria do dançar.SRI AUROBINDO

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“Contam os Vedas que nosso universo foi criado pela dança de um deus, o deus Shiva. Então

iniciou-se tudo pela entrega de um ser divino ao ritmo, ao poder e à alegria de dançar: tudo

originado por uma vibração deliciada, tudo vindo da beatitude e grandeza de um supremo dar-

se, da total e onipotente rendição ao movimento e deleite criativos.

E não reside um secreto deleite, não existe algo como um fundo reflexo de alegria em tudo que

percebemos como movimento? Vejam as ondas quando se jogam e erguem e quebram, velas e

folhas ao vento, ou o rolar de uma pedra lançada numa ladeira, o forte advento da chuva,

lágrimas que caem e fontes que se projetam no alto – e a vida multiplica, intensifica, faz jorrar

movimento e deleite: cavalos correndo, cobras lutando, vôos de gaivotas e assaltos de tigres,

lento abrir-se de olhos, nascer de um sorriso, flancos respirando e as sutis explosões no desabro-

char de um lírio, e nossas mãos procurando, oferecendo, acarinhando.

‘A realidade do universo é essencialmente Alegria. O universo foi criado na Alegria e para a

Alegria’ (MIRA ALFASSA). Na origem de nosso mundo – nós esquecemos isto – está uma divina

alegria, e a cada coisa e ser é inerente a vibração desta alegria. E como deleite e movimento

provêm, intimamente unidos, da mesma fonte, podemos dizer que dança e alegria são uma

só coisa, que a dança nasceu da alegria, e que é a alegria, oculta no mundo, nas coisas e no

homem, que nos impele para dançar.

Não seria então a dança, essa mais fiel e mais direta réplica do divino movimento original,

o meio mais próprio para nos aproximar e pôr em contato com a Força que nos criou? Não

seria a dança o instrumento verdadeiro da evocação dos poderes cósmicos e divinos e da

crescente interligação com eles? Não significaria ela o elementar poder- de-união, poder-

de-criação e a presença da mais pura felicidade? E realmente, se a nossa dança, se nossa

vida estivesse transbordando da mesma vibração deliciada que houve no princípio da cria-

ção, se ela fosse repleta da beatitude e grandeza de um supremo dar-se, nós estaríamos

numa crescente harmonia e união com tudo”.ROLF GELEWSKI

“Os Tubuguaçu entendem o espírito como música, uma fala sagrada, que se expressa no corpo;

e este, por sua vez, é flauta, veículo por onde flui o canto que expressa o Avá (o ser-luz-som-

música), que tem sua morada no coração.

Essa flauta é feita da urdidura de quatro angás-mirins (pequenas almas), que fazem parte dos

quatro elementos: terra, água, fogo e ar. Eles precisam estar afinados para melhor expressar o

Avá, que é a porção-luz que sustenta o corpo-ser, que, para os ancestrais, é o fogo sagrado que

move os guerreiros, dando-lhes vitalidade, capacidade criativa e realizadora.

Por isso, fez-se o Jeroky, a dança, com o fim de afinar todos os espíritos pequenos do ser.

Para que cante sua música no ritmo do coração do Pai Sol que, por sua vez, dança no ritmo

do Mboray, o Amor incondicional, abençoando todas as estrelas. Dessa maneira, cada um

pode expressar através de seu corpo a harmonia, entrando em sintonia com Tupã Papa

Tenondé, o Grande Espírito que Abraça a Criação”. KAKÁ WERÁ JECUPÉ

A vida, em todos os seus graus, do elementar até o mais elevado, busca felicidade e luz. E nossa

dança, o movimento concentrador, libertador e transformador do ser humano, ajuda nesta busca.

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Através da dança, do movimento e deleite criativos, podemos despertar, pode o homem fazer

sua viagem do não-ser ao ser verdadeiro, da escuridão à luz, da morte à imortalidade.ROLF GELEWSKI

INTEIRO NO CORPONós mergulhamos na Essência

e fizemos a viagem do corpo humanoEncontramos o curso dos universos

inteiro no corpo humanoE todos estes céus que turbilhonam

e todos estes lugares sobre esta terraEstes setenta mil véus

no corpo humano descobertosOs sete céus, os montes e os mares

e os sete níveis telúricosO Vôo ou a queda nos infernos

tudo isto no corpo humanoE a noite assim como o dia

e as sete estrelas do céuAs tábuas da iniciação

estão também no corpo humanoE o Sinai ao qual subiuMoisés – ou então a Kaaba

O arcanjo soando a trambetaigualmente no corpo humano

A Bíblia e o Antigo Testamentoe os Salmos e o Corão

Todas as palavras neles escritasse encontram no corpo humanoO que diz Younous é exato

nós confirmamos seus dizeresDeus está onde o põe teu desejo:

inteiro no corpo humano.Younous Emre

DANÇA DA PÁSCOAEu danço os meus sonhos e as mihas preocupações

o medo e a solidãodanço o meu acordar e meu chorare Alegria comovente entra em mim.

Eu danço meu trabalho e minha oração

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minha ação e meditaçãodanço a saudade esperançosa

e o Silêncio Suave volta.

Eu danço mulheres e homenscrianças em todo lugardanço todas as nações

e Amizade libertadora volta.

Eu danço a lua e as estrelasos sóis no firmanento

danço o vento e a chuvae a Vida em Plenitude entra em mim.

IRMÃ GERTRUD

SOBRE A DANÇADançar não é flutuar sem esforço

como um grão de areia soprado pelo vento.Dançar é elevar-se acima do mundo, despedaçar o coração

e desistir da própria vida.Dançar é partir-se em mil pedaços e abandonar

totalmente as paixões mundanas.Homens verdadeiros dançam e rodopiam num campo de batalha;

dançam em seu próprio sangue.Quando renunciam a si mesmos, eles batem palmas;

Quando deixam para trás as imperfeições do ser, eles dançam.Seus menestréis tocam música interior;

e oceanos de paixão se rompem em espumas na crista das ondas.JALLALUDIN RUMI

II O SEGREDO

1 – Sat-Chit-Ananda e a Manifestação

O Uno que é Dois que é os Muitos. Esta é a fórmula da manifestação intemporal nos mundos de

Sat-Chit-Ananda. O Uno que é Dois e se torna os Dois, os quais se tornam os Muitos: esta é a

fórmula da manifestação perpétua no tempo, nos três mundos de Mente, Vida e Matéria. O Uno

que é, Ele próprio, para sempre os Dois e para sempre, inumeravelmente, o Todo e o Eterno e o

Infinito, esta é a indicação do Supremo que está além do Tempo e da atemporalidade, no Abso-

luto mais alto.SRI AUROBINDO

O Uno é Quatro, para sempre em seu quaternário supramental de Ser, Consciência, Força e

Ananda [deleite, beatitude, felicidade infinita] Brahma, Vishnu, Shiva, Krishna, estes são os Qua-

tro eternos, o quádruplo Infinito. Brahma é a Personalidade de Existência do Eterno; a partir

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dele tudo é criado, por sua presença, por seu poder, por seu impulso. Vishnu é a Personalidade

de Consciência do Eterno; nele tudo é suportado, em sua vastidão, em sua estabilidade, em sua

substância. Shiva é a Personalidade de Força do Eterno; Através dele tudo é criado, através de

sua paixão, através de seu ritmo, através de sua concentração. Krishna é a Personalidade de

Ananda do Eterno; por causa dele toda a criação é possível, por causa de seu jogo, por causa de

seu deleite, por causa de sua doçura.

Brahma is Imortalidade, Vishnu is Eternidade, Shiva is Infinidade; Krishna é a eterna, infinita,

imortal autopossessão, autoformulação, automanifestação, autodescoberta.SRI AUROBINDO

2 – A Evolução

A involução de um Espírito supraconsciente supraconsciente na Matéria inconsciente é a causa

secreta deste mundo visível e aparente A senha para a solução do enigma d aTerra é a evolução

gradual de uma oculta, ilimitável consciência e poder a partir aparentemente inerte, mas furio-

samente intencionada força da Natureza insensível. A Vida da Terra é uma residência auto-esco-

lhida de uma grande Divindade, e sua vontade eônica de transformá-la de uma prisão cega em

sua mansão esplêndida e em seu templo que alcança o firmamento.SRI AUROBINDO

3 – O Segredo da Existência

Toda a vida aqui é um estágio ou uma circunstância numa evolução progressiva, em desdobra-

mento, de um Espírito que se involuiu na Matéria e está labutando para manifestar-se nessa

substância relutante. Este é o segredo inteiro da existência terrestre. Contudo, a chave deste

segredo não será encontrada na vida em si mesma ou no corpo; seu hieróglifo não está no

embrião ou no organismo, pois estes são apenas um meio ou base física: o real, significante

mistério deste universo é a aparição e crescimento da consciência na vasta, muda, ausência de

inteligência da Matéria. O escape da Consciência a partir de uma aparente Inconsciência inicial,

mas ela estava aí todo o tempo, mascarada e latente, pois a inconsciência da Matéria é, ela

própria, apenas uma consciência encapuzada – sua luta para encontrar a si própria, seu esten-

der-se em busca de sua própria, inerente completude, perfeição, alegria, força, maestria, har-

monia, liberdade: este é o mistério prolongado e, no entanto, o fenômeno natural e que a tudo

explica, do qual somos a um só tempo os observadores e uma parte, instrumento e veículo. Uma

Consciência, um Ser, um Poder, uma Alegria estava aqui desde o começo, obscuramente aprisi-

onado nesta aparente negação de si própria, esta noite original, esta obscuridade e nesciência

da Natureza Material.

Aquilo que é e sempre foi, por todo o sempre, livre, perfeito, eterno e infinito, Aquilo que tudo é,

Aquilo que chamamos Deus, Brahman, Espírito, Isto tinha se encerrado aqui, em seu próprio,

autocriado oposto. O Onisciente mergulhou na Nesciência, a Todo-Consciência na Inconsciên-

cia, o Todo-Sábio na Ignorância perpétua. O Onipotente formulou-se numa vasta, cósmica,

auto-impulsionada inércia que cria por meio da desintegração; o Infinito está auto-expresso

aqui numa fragmentação sem limites; o Todo-Beatífico assumiu uma imensa insensibilidade,

para fora da qual se esforça por meio de dor e fome e desejo e sofrimento. Alhures o Divino está;

aqui na vida física, neste obscuro mundo material, é como se o Divino não fosse, mas estivesse

ainda se tornando.

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Este gradual tornar-se do Divino a partir de seus próprios opostos fenomênicos é o significado e

objetivo da evolução terrestre. Evolução não é, em sua essência, o desenvolvimento de um

corpo mais e mais organizado ou uma vida mais e mais eficiente – estas coisas são somente sua

maquinaria e circunstância exterior. Evolução é o esforço de uma Consciência sonambulizada

na Matéria para acordar e ser livre e encontrar-se e possuir-se e a todas as suas possibilidades até

o mais pleno e mais vasto, até o mais extremo e mais alto. Evolução é a emancipação de uma

Alma autorreveladora, secreta em Forma e Força, o lento tornar-se de uma Divindade, o cresci-

mento de um Espírito. Nesta evolução o homem mental não é uma meta e um fim, o valor

completador, o último, mais alto significado; ele é por demais pequeno e imperfeito para ser a

coroa de todo este trabalho da Natureza. O homem não é final, mas somente um termo médio,

um ser transitório, uma criatura intermediária, instrumental.SRI AUROBINDO

4 - O Labor da Natureza

a Natureza labutou por inumeráveis milhões de anos para criar um universo material de sóis e

sistemas flamejantes; por uma mais breve, contudo interminável série de milhões ela ocupou-se

em fazer desta Terra um planeta habitável. Por todo esse tempo incalculável ela estava, ou pare-

cia estar unicamente ocupada com a evolução da Matéria; a vida e a mente eram mantidas em

segredo numa aparente não-existência. Veio o tempo, porém, em que a vida pôde manifestar-se,

uma vibração no metal, um crescer e buscar, um ser atraído e um sentimento voltado para o

exterior na planta, uma força e um sentido instintivos, um nexo de alegria e dor e fome e emo-

ção e medo e luta no animal, – uma primeira consciência organizada, o começo do milagre

longamente planejado. Doravante, ela não estaria mais exclusivamente ocupada com a matéria

por si mesma, mas sobretudo com a palpitante matéria plásmica, útil para a expressão da vida;

a evolução da vida era agora sua intenção e objetivo. E lentamente também a mente se manifes-

tou na vida, uma mente vital de intenso sentimento, rudimentar pensamento e planejar no

animal, mas no humano a plena organização e aparato, o ser mental em desenvolvimento,

ainda que imperfeito, o Manu, a criatura que pensa, que planeja, que aspira, já autoconsciente.

Desse tempo em diante, o crescimento da mente, mais do que qualquer mudança radical da

vida, tornou-se a preocupação radiante dela, sua aposta maravilhosa. O corpo pareceu não

mais evolver; a vida, ela própria, evolveu pouco, ou, em seus ciclos, somente o necessário para

servir à expressão da mente elevando-se e ampliando-se no corpo vivo; uma evolução interna,

não vista era agora a grande paixão e objetivo da Natureza. E se a mente fosse tudo o que a

consciência poderia alcançar, se a Mente fosse a Divindade secreta, se não houvesse nada mais

alto, mais vasto, se não houvesse mais extensões miraculosas, o homem poderia ser deixado

para cumprir a mente e completar seu próprio ser e não haveria ou precisaria haver aqui nada

além dele, para levar a consciência às suas culminâncias, estendendo-a até suas vastidões sem

fronteiras, mergulhando com ela para profundezas insondáveis; ao aperfeiçoar-se ele consuma-

ria a Natureza. A evolução terminaria num Homem-Deus, a coroa dos ciclos terrestres. Mas a

Mente não é tudo; pois além da mente há uma consciência maior; há uma supramente e um

espírito. Assim como a Natureza labutou no animal, o ser vital, até que ela pudesse, a partir dele,

manifestar o homem, o pensador, assim ela está labutando no homem, o ser mental, até que

possa , a partir dele, manifestar uma divindade espiritual e supramental, o vidente consciente da

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verdade, aquele que conhece por identidade, o Transcendental e Universal corporificado na

natureza individual. Do verme e do metal até a planta, da planta ao animal, do animal ao ho-

mem, este é o tanto que ela já completou de sua jornada; uma vasta extensão ou um salto

estupendo pemanece ainda à sua frente. Assim como passou da matéria à vida, da vida à mente,

assim ela precisa passar da mente à supramente, do homem ao supra-homem; este é o abismo

que ela tem de transpor, o milagre supremo que ela tem de realizar antes de poder descansar de

sua luta e descontentamento e postar-se na radiância daquela cosnciência suprema, glorificada,

transmutada, satisfeita com seu labor. O sub-humano um dia foi, aqui, supremo nela, tomando

seu lugar o humano caminha hoje à frente do Tempo, mas ainda, objetivo e meta do futuro, à

frente espera o supramental, o supra-homem, diante dela uma glória não nascida, ainda não

alcançada.SRI AUROBINDO

5 – A Deusa-Terra

Ao longo de uma serpentina senda de eras

Na enrodilhada negridão de sua rota ignara,

A deusa-Terra se arrasta pelas areias do Tempo.

Um Ser nela está que ela espera conhecer,

Uma palavra fala ao seu coração que ela não pode ouvir,Um Destino a compele que ela não pode ver.Em sua órbita inconsciente pelo vazio,Ela se esforça para erguer-se para fora de suas profundezas sem mente,Seu ganho uma vida perigosa, uma alegria em luta…(…)Ignorante e cansada e invencívelEla busca, através da guerra da alma e da dor fremente, A perfeição pura que sua natureza desfigurada necessita,Um fôlego de divindade em sua pedra e lama.( …)Uma luz nela cresce, ela assume uma voz.Seu estado ela aprende a decifrar, e o ato que ela realizou.Mas aquela verdade necessária elude seu alcance,Ela própria e tudo aquilo de que ela é o signo.Uma visão vem ao seu encontro, de Poderes celestiaisQue a atraem como se fossem parentes poderosos, há muito afastados,Aproximando-se com estranhado, grande e luminoso olhar.Então ela é movida em direção a tudo o que ela não é,

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E estende os braços para aquilo que jamais foi dela.(…)Estendendo os braços para o Vazio inconsciuente,Apaixonada ela ora para formas invísiveis de Deuses, Solicitando do mudo Destino e do Tempo labutanteAquilo de que ela mais necessita, aquilo que mais excede seu alcance,Uma Mente não visitada pelas cintilações da ilusão,Uma Vontade expressiva da deidade da alma,Uma Força não obrigada a tropeçar por sua rapidez,Uma Alegria que não arraste a dor como sua sombra.

SRI AUROBINDO

III SOBRE O YOGA

Se queres alcançar teu mais alto, vai e contempla uma flor:aquilo que ela faz espontaneamente, isto tu farás voluntariamente.

AUTOR NÃO IDENTIFICADO

Yoga e Natureza

A Natureza se move rumo à Supranatureza, o Yoga se move em direção a Deus; o impulso-

mundo e a aspiração humana são um só movimento e a mesma jornada.

SRI AUROBINDO

A Vida Toda é Yoga (I)

Na visão certa tanto da vida quanto do Yoga, a vida toda é, consciente ou subconscientemente,

um Yoga. Pois com este termo queremos dizer um esforço metodizado rumo à autoperfeição,

através da expressão das potencialidades latentes no ser e de uma união do indivíduo humano

com a Existência universal e transcendente que nós vemos parcialmente expressa no homem e

no Cosmos. Mas a vida toda, quando olhamos por trás de suas aparências, é um vasto Yoga da

natureza tentando realizar sua perfeição numa expressão sempre crescente de suas potenciali-

dades e unir-se com sua própria realidade divina. No homem, seu pensador, pela primeira vez

nesta Terra, ela vislumbra meios autoconscientes e arranjos deliberados de atividade, pelos quais

este grande propósito pode ser mais rápida e poderosamente alcançado.

SRI AUROBINDO

A Vida Toda é Yoga (II)

O poder Divino em nós usa toda a vida como meio para um Yoga integral.

Cada experiência e contato exterior com nosso ambiente-mundo, não importa quão insignifi-

cante ou quão desastrosa, é usada para o trabalho, e toda experiência interior, até mesmo o

mais repelente sofrimento ou a queda mais humilhante, torna-se um passo no caminho da per-

feição. E nós reconhecemos em nós mesmos, a visão desselada, o método de Deus no mundo,

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Seu propósito de luz no obscuro, de poder no fraco e decaído, de deleite no que é doloroso e

miserável. Vemos que o método divino é o mesmo no trabalho mais baixo e no mais alto; so-

mente que num ele se desenvolve de forma lenta e obscura através do subconsciente na Nature-

za, no outro ele se torna rápido e autoconsciente, e o instrumento confessa a mão do Mestre. A

vida inteira é um Yoga da Natureza buscando manifestar Deus em si própria. O Yoga marca o

estágio em que este esforço se torna capaz de autodespertez e, por conseguinte, de correto

cumprimento no indivíduo. Trata-se de um enfeixar e concentrar-se dos movimentos dispersos

e soltamente combinados na evolução mais baixa.

SRI AUROBINDO

A Vida Toda é Yoga (III)

Uma divindade está aprisionada em nossas profundezas, una em seu ser com uma divindade

maior, pronta a descer desde cumes supra-humanos. Nesta descida e união desperta está o se-

gredo de nosso futuro. A grandeza do homem não está no que ele é, mas no que ele torna

possível. Sua glória é que ele é o lugar escolhido e a secreta oficina de uma labor vivo no qual a

supra-humanidade é preparada por um divino Artesão.Ele é, contudo, admitido a uma grande-

za ainda maior, e ela é que, diferentemente da criação inferior, a ele é permitido ser em parte o

artesão consciente de sua divina mudança. Seu livre consentimento, sua vontade e participação

consagradas saõ necessárias para que, para dentro de seu corpo, possa descer a glória que irá

substitui-lo. Sua aspiração é o chamado da Terra ao Criador supramental. Se a Terra chama e o

Supremo responde, pode ser bem agora a hora para essa imensa e gloriosa transformação.

SRI AUROBINDO

V Ajudas no Caminho

Aprender com Tudo

A sabedoria verdadeira é estar pronto para aprender, não importa de que fonte venha o conhe-

cimento.

Podemos aprender algo de uma flor, um animal, uma criança, se tivermos o desejo de aprender

sempre – pois existe somente um instrutor no mundo: o Senhor Supremo, e Ele se manifesta em

todas as coisas, por toda parte.

A MÃE

A Presença Divina

No mais profundo de teu ser, fundo dentro de teu peito, a Presença Divina sempre está, luminosa

e pacífica, cheia de amor e sabedoria. Ela aí está para que você se una a ela e para que ela possa

transformá-lo numa consciência luminosa e radiante.

A MÃE

O Objetivo da Vida

O verdadeiro objetivo da vida é encontrar a Presença do Divino fundo dentro de cada um, e

entregar-se a Ela para que assuma a condução da vida, de todos os sentimentos e de todas as

ações do corpo. Isto dá um objetivo verdadeiro e luminoso à existência.

A vida tem um objetivo.

Este objetivo é encontrar e servir o Divino.

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O Divino não está distante, Ele está em nós mesmos, fundo dentro e acima dos sentimentos e

dos pensamentos. Com o Divino estão a paz e a certeza e mesmo a solução de todas as dificulda-

des.

Entregue seus problemas ao Divino e Ele o tirará de todas as dificuldades.

A MÃE

O Guia Interior

O Guia Divino dentro de nós não se ofende com nossa revolta, não se desencoraja com nossa

carência de fé, não é repelido por nossa fraqueza; ele tem todo o amor da Mãe e toda a paciên-

cia do mestre.

A MÃE

Incluir o Corpo na Busca Espiritual

Descobri que usara meu corpo, em vez de habitá-lo. (...) Aprendi que, para poder viver uma vida

espiritual, eu precisava ser capaz de incorporar meu corpo a todas as minhas ações: na maneira

como me mantenho de pé e caminho, na maneira como respiro, no cuidado com que tomo

meus alimentos. Todas as minhas atividades precisavam ser incluídas. Viver neste corpo animal

sobre a face desta Terra é um aspecto tão grande da vida espiritual como qualquer outro.

JACK KORNFIELD

Calma e Silêncio

Será que a calma e o silêncio são apenas a ausência de barulho e de conteúdo? Não, a calma e

o silêncio são a própria inteligência, a consciência básica da qual provêm todas as formas de

vida.

Essa consciência é a essência das galáxias mais complexas e das folhas mais simples. É a essência

de todas as flores, árvores, pássaros e demais formas de vida.

ECKHART TOLLE

Quando você perde contato com sua calma interior, perde contato com você mesmo. Quando

perde esse contato, fica perdido no mundo.

Sua mais íntima noção de si mesmo, de quem você é, não pode ser separada da calma. Ela é o

EU SOU, mais profundo do que seu nome e sua forma externa.

ECKHART TOLLE

Paz e Quietude

Quietude é um estado muito positivo; há uma paz positiva que não é o oposto do conflito – uma

paz ativa, contagiosa, poderosa, que controla e acalma, que põe tudo em ordem, organiza. É

disto que estou falando. Quando digo a alguém: “seja calmo”, não quero dizer “vá dormir, seja

inerte e passivo e não faça nada”, longe disto! … a quietude verdadeira é uma força muito

grande, um poder muito grande. De fato, pode-se dizer (…) que todos aqueles que são realmente

fortes, poderosos, são sempre muito calmos. Somente os fracos são agitados.

A MÃE

Na paz, no silêncio e na quietude o mundo foi erigido; e a cada vez que algo precise ser verdadei-

ramente construído, é na paz e no silêncio que isto precisa ser feito. É ignorância acreditar que

você precisa correr da manhã à noite e trabalhar em toda espécie de coisas fúteis para fazer algo

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pelo mundo.

Uma vez que você recua destas forças em turbilhão para dentro de regiões de quietude, você vê

quão grande é a ilusão! A humanidade parece a você uma massa de criaturas cegas correndo

sem saber o que fazem ou porque fazem e somente tropeçando e batendo uns nos outros. E é a

isto que eles chamam ação e vida! Agitação vazia, não ação, não vida verdadeira…

E o silêncio de que falo é a quietude interior que somente podem ter aqueles que agem sem estar

identificados com sua ação, mergulhados nela e cegados e ensurdecidos pelo barulho e forma

de seu próprio movimento. Recue de sua ação e erga-se para um patamar acima destes movi-

mentos temporais; entre na consciência da Eternidade. Somente então você saberá o que verda-

deiramente é a ação.

A MÃE

Como podemos estabelecer na mente uma paz e um silêncio estáveis?

Primeiramente, você tem de querê-la.

Então, você precisa tentar e precisa perseverar, continuar tentando. O que lhes indiquei agora é

um meio muito bom. Contudo, há também outros. Para começar, você se senta bem quieto;

então, em vez de pensar em cinquenta coisas, você começa a dizer para si mesmo: “Paz, paz,

paz, paz, paz, calma, paz!” Você imagina a paz e calma. Você aspira, pede que ela venha: “Paz,

paz, calma”. E então. quando algo vem e o toca e age, diga quietamente: “Paz, paz, paz.” Não

olhe para os pensamentos, não lhes dê ouvidos, compreende? É preciso que você não dê aten-

ção a tudo o que venha. Você sabe, quando alguém o importuna bastante e você quer se ver

livre, você não lhe dá ouvidos, dá? Bom! Você vira sua cabeça (gesto) e pensa em outra coisa.

Bem, você tem de fazer isto: quando os pensamentos vierem, é preciso não olhar para eles, não

lhes dar ouvidos, não lhes dar absolutamente nenhuma atenção, você precisa agir como se eles

não existissem; e então, repetir todo o tempo, como uma espécie de – como irei colocá-lo? –

uma espécie de idiota, que repete sempre a mesma coisa. Bem, você deve fazer a mesma coisa:

precisa repetir: “Paz. paz. paz”. Assim, você tenta isto por uns poucos minutos e então faz o que

tem de fazer; depois, noutro momento, começa de novo, senta-se de novo e tenta. Faz isto ao

levantar-se de manhã, à noite ao ir para a cama. Você pode fazer isto… veja, se quer ter uma

digestão adequada, você pode fazer isto por alguns minutos antes de comer. Você não imagina

o quanto isto ajuda sua digestão! Antes de começar a comer, você se senta quietamente por um

momento e diz: “ Paz, paz, paz.” e tudo se torna calmo. é como se todos os ruídos estivessem se

afastando para bem longe (A Mãe estende os braços dos dois lados) É preciso então continuar; e

chega um momento em que você não vai mais precisar sentar-se, e não importa o que você

estiver fazendo, o que estiver dizendo, é sempre: “Paz, paz, paz”. Tudo permanece aqui, assim,

não entra (gesto à frente da testa), fica assim. Então você estará sempre num estado de paz

perfeita… após alguns anos.

Para começar, contudo, um começo bem modesto, dois ou três minutos, é muito simples. Uma

coisa complicada exige um esforço, e quando faz um esforço você não está quieto. É difícil fazer

um esforço e permanecer quieto. Muito simples, muito simples, é preciso ser muito simples

nestas coisas. É como se você estivesse aprendendo a chamar um amigo: à força de ser chama-

do ele vem. Bem, torne a paz e a calma seus amigos e chame-os: “ Venha, paz, paz, paz, paz,

venha!”

A MÃE

Em Ti está a vida, a luz e a alegria.

Em Ti está a Paz soberana.

A MÃE

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Na Paz e no Silêncio, o Eterno se manifesta; não permitas a coisa alguma perturbar-te e o Eterno

se manifestará; sê perfeitamente igual diante de tudo e o Eterno estará aí… Sim, não se deve pôr

intensidade e esses esforços são um véu diante de Ti; não se deve desejar ver-Te, é ainda agitação

mental que obscurece Tua Presença Eterna. É na Paz, na Serenidade, na Igualdade a mais com-

pleta, que tudo é Tu, como Tu és tudo, e a menor vibração nessa atmosfera perfeitamente pura e

calma é um obstáculo a Tua manifestação. Nenhuma pressa, nenhuma inquietude, nenhuma

tensão; Tu, nada senão Tu, sem análise, nem objetivação, e Tu estás aí sem dúvida alguma possí-

vel, porque tudo se torna Paz Santa e Silêncio Sagrado.

E isto é melhor do que todas as meditações do mundo.

A MÃE

Uma mente quieta é tudo o que você precisa. Tudo o mais acontecerá de forma correta, uma vez

sua mente esteja quieta. Assim como o sol, ao erguer-se, torna o mundo ativo, assim a autodes-

pertez produz mudanças na mente. À luz de uma calma e firme autodespertez energias internas

despertam e operam milagres sem que haja qualquer esforço de sua parte.

SRI NISARGADATTA MAHARAJ

O Trabalho como Yoga

Qualquer que seja o trabalho que você faça, faça-o tão perfeitamente quanto você puder.

Este é o melhor serviço ao Divino no homem.

A MÃE

Fé e a Graça Divina

Tenha uma firme fé na Graça divina.

*

A Graça está sempre com você; concentre-se no seu coração com uma mente silenciosa e certa-

mente você receberá a guiança e a ajuda pelas quais você aspira.

*

A Graça e a ajuda estão sempre aí para todos os que aspiram por elas e seu poder é ilimitado

quando recebido com fé e confiança.

*

A Graça está sempre aí, pronta para agir, mas você precisa deixá-la agir e não resisitr à sua ação.

A única condição requerida e fé.

*

Sim, a fé na Graça sempre propicia sua intervenção.

*

Uma vez mais, a carência de fé da mente humana traz complicações e dor onde, com uma

quieta fé no Divino, tudo poderia ser muito simples e fácil.

*

É nossa falta de fé que cria nossas limitações.

*

A Graça Divina jamais nos faltará – esta é a fé que devemos constantemente manter em nossos

corações.

*

A Graça Divina está sempre conosco e jamais nos deixa mesmo quando as aparências são sombrias.

*

No fracasso tanto quanto no sucesso, a Graça Divina está sempre aí.

*

Através deste caos aparente uma ordem nova e melhor está sendo formada. Para vê-la, contudo,

13

temos de ter fé na Graça Divina.

Mantenha a alegria.A MÃE

Entrega [Surrender]

A primeira palavra do Yoga supramental é entrega [surrender]; sua última palavra também é

entrega. É por uma vontade de dar-se ao Divino eterno, de erguer-se à consciência divina, de

perfeição, de transformação que o Yoga começa; é na inteira autodoação que ele culmina; pois

é somente quando a autodoação é completa que advém a finalidade do Yoga, a perfeição do ser,

a transformação da natureza.

Sri Aurobindo

Entregar-se ao Divino é renunciar aos seus estreitos limites e deixar-se invadir por Ele e fazê-lo

um centro para Seu Jogo.

*

A entrega verdadeira amplia você, aumenta suas capacidades; ela lhe dá uma medida maior,

em qualidade e em quantidade, que você não poderia ter por si próprio.

*

Uma entrega detalhada significa a entrega de todos os detalhes da vida, mesmo os mais insigni-

ficantes em aparência. E isto significa lembrar-se do Divino em todas as circunstâncias: o que

quer que pensemos, sintamos ou façamos, devemos fazê-lo para ele como uma forma de apro-

ximar-nos dele, de ser mais e mais o que Ele quer que sejamos, capazes de manifestar Sua von-

tade em perfeita sinceridade e pureza, ser os instrumentos de Seu Amor.

*

Façamos o nosso melhor em todas as circunstâncias, deixando o resultado à decisão do Divino.

*

A vontade do Divino é que sejamos como canais sempre abertos, esmpre maios amplos, de

modo que suas forças possam derramar sua abundância para dentro do molde.

*

Nossa prece constante é compreender a vontade do Divino e agir de acordo com ela.

*

Devemos sempre estar diante do Divino como uma folha perfeitamente branca de modo que

Sua vontade possa se inscrever em nós sem qualquer dificuldade ou mistura.

*

Possa, a cada momento, ser nossa atitude tal que a Vontade do Divino determine nossa escolha,

de modo que o Divino possa dar a direção de toda a nossa vida.A MÃE

Somente quando a entrega consciente, integral ao Divino foi aprendida pela mente, pela vida e

pelo corpo pode o caminho do Yoga tornar-se fácil, reto, rápido e seguro. Ela deve ser uma

entrega e uma abertura ao Divino somente e a nehum outro. Pois é possível, para uma mente

obscura ou uma força de vida impura em nós abrir-se a forças não-divinas e hostis ou mesmo

tomá-las como sendo o Divino. Não pode haver erro mais calamitoso. Assim, nossa entrega não

deve ser uma passividade cega ou inerte a todas as influências ou a qualquer influência, mas

sincera, consciente, vigilante, apontada para o Um e o Mais Alto, somente. Auto-entrega à Mãe

divina e infinita, não importa quão difícil, permanece nosso único meio efetivo e nosso único

refúgio duradouro. Auto-entrega a Ela significa que nossa natureza precisa ser um instrumento

em Suas mãos, a alma de uma criança nos braços da Mãe.SRI AUROBINDO

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O Canto do Espírito Sobre as Águas

J. W. GOETHE

A alma do homemA alma do homemA alma do homemA alma do homemA alma do homemSe parSe parSe parSe parSe parece à água:ece à água:ece à água:ece à água:ece à água:Do céu ela vem,Do céu ela vem,Do céu ela vem,Do céu ela vem,Do céu ela vem,Ao céu ela sobe,Ao céu ela sobe,Ao céu ela sobe,Ao céu ela sobe,Ao céu ela sobe,E de novo descerE de novo descerE de novo descerE de novo descerE de novo descer

PPPPPara a terara a terara a terara a terara a terra deve,ra deve,ra deve,ra deve,ra deve,EterEterEterEterEternamente alternamente alternamente alternamente alternamente alternandonandonandonandonando.....Abundante fluido altoAbundante fluido altoAbundante fluido altoAbundante fluido altoAbundante fluido alto,,,,,

ÍngrÍngrÍngrÍngrÍngreme pareme pareme pareme pareme paredãoedãoedãoedãoedão-de r-de r-de r-de r-de rocha,ocha,ocha,ocha,ocha,O purO purO purO purO puro raioo raioo raioo raioo raio

Logo se fragmenta gracilmenteLogo se fragmenta gracilmenteLogo se fragmenta gracilmenteLogo se fragmenta gracilmenteLogo se fragmenta gracilmenteEm ondas de nuvemEm ondas de nuvemEm ondas de nuvemEm ondas de nuvemEm ondas de nuvemPPPPPara a rara a rara a rara a rara a rocha lisa,ocha lisa,ocha lisa,ocha lisa,ocha lisa,

E com leveza rE com leveza rE com leveza rE com leveza rE com leveza recebidoecebidoecebidoecebidoecebidoSob véus se derSob véus se derSob véus se derSob véus se derSob véus se derramaramaramaramarama

CiciandoCiciandoCiciandoCiciandoCiciandoRumo à prRumo à prRumo à prRumo à prRumo à profundeza.ofundeza.ofundeza.ofundeza.ofundeza.

Quando rochedosSe opõem à queda

Ele espumeja rebelde,Degrau por degrau,

Para o abismo.

No leito planoPelo vale campestre se arrasta,

E no espelhado lagoPastam sua faceTodos os astros.

O vento é da ondaO gracioso amante;

Vento mistura,Revolvendo fundo,Espumosas vagas.

Alma do homem,Como se parece à água!

Destino do homem,Como se parece ao vento!