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Página 1 de 27 Semana de “EPI” Zero Antonio Fernando Navarro 1 Resumo Pretende-se neste artigo, cujo título pode ser confundido com a que incentiva os consumidores a comprar eletrodomésticos e automóveis, com IPI - imposto sobre produtos industrializados - zero, utilizá-la com o objetivo que apresentar a todos o grau de importância que os trabalhadores e os níveis gerenciais das empresas atribuem aos EPIs, que são os equipamentos de proteção individuais, e foram desenvolvidos para atenuar as lesões que os trabalhadores possam estar expostos durante a realização das atividades laborais. Ou seja, da mesma forma que os consumidores são estimulados a comprar porque o imposto é zerado, alguns trabalhadores são estimulados a não utilizar seus equipamentos de segurança por várias razões, inclusive com a desculpa de que esses prejudicam a produtividade. Deve-se destacar que o EPI é a primeira barreira contra os acidentes, com baixo nível de eficiência. Histórico da questão Os problemas envolvendo o uso de EPIs sempre são revestidos de contestações e pontos de discórdia. Não se descarta o fato que os EPIs mais comercializados apresentam desconforto, relatado por trabalhadores. Em pesquisa realizada nos últimos três anos envolvendo um grupo de 500 trabalhadores de empresas do remo da construção civil distintas, ouviram-se dos entrevistados: 130 pessoas declararam que os EPIs eram desconfortáveis; 125 pessoas disseram que consideravam os EPIs inúteis e que não os protegiam; 75 pessoas afirmaram que só os utilizavam porque o encarregado os obrigava; 250 pessoas disseram que bastava terem os cuidados necessários que nada lhes aconteceria; 100 pessoas declararam que a experiência e o cuidado na execução das atividades poderia suprimir a obrigatoriedade do uso de EPIs. Enfim, a falta do uso dos EPIs está intimamente associada à cultura dos trabalhadores e das empresas. Desta maneira, o que vale: a obrigatoriedade legal ou o que os trabalhadores declararam? Inicia-se a questão trazendo à tona a Súmula nº 309 do STJ, que magistralmente apresenta o seguinte texto: 1 Antonio Fernando Navarro é Físico, Matemático, Engenheiro Civil, Engenheiro de Segurança do Trabalho e Mestre em Saúde e Meio Ambiente, tendo atuado como Gerente de Riscos em atividades industriais por mais de 30 anos. É professor da Universidade Federal Fluminense – UFF.

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Discutem-se as razões pelas quais os trabalhadores relutam em empregar coretamente seus EPI e ficar expostos ao agravamento das lesões dos acidentes.

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Semana de “EPI” Zero

Antonio Fernando Navarro1

Resumo

Pretende-se neste artigo, cujo título pode ser confundido com a que incentiva os

consumidores a comprar eletrodomésticos e automóveis, com IPI - imposto sobre produtos industrializados -

zero, utilizá-la com o objetivo que apresentar a todos o grau de importância que os trabalhadores e os níveis

gerenciais das empresas atribuem aos EPIs, que são os equipamentos de proteção individuais, e foram

desenvolvidos para atenuar as lesões que os trabalhadores possam estar expostos durante a realização das

atividades laborais. Ou seja, da mesma forma que os consumidores são estimulados a comprar porque o

imposto é zerado, alguns trabalhadores são estimulados a não utilizar seus equipamentos de segurança por

várias razões, inclusive com a desculpa de que esses prejudicam a produtividade. Deve-se destacar que o EPI

é a primeira barreira contra os acidentes, com baixo nível de eficiência.

Histórico da questão

Os problemas envolvendo o uso de EPIs sempre são revestidos de contestações e pontos

de discórdia. Não se descarta o fato que os EPIs mais comercializados apresentam desconforto, relatado por

trabalhadores. Em pesquisa realizada nos últimos três anos envolvendo um grupo de 500 trabalhadores de

empresas do remo da construção civil distintas, ouviram-se dos entrevistados:

130 pessoas declararam que os EPIs eram desconfortáveis;

125 pessoas disseram que consideravam os EPIs inúteis e que não os protegiam;

75 pessoas afirmaram que só os utilizavam porque o encarregado os obrigava;

250 pessoas disseram que bastava terem os cuidados necessários que nada lhes aconteceria;

100 pessoas declararam que a experiência e o cuidado na execução das atividades poderia suprimir a

obrigatoriedade do uso de EPIs.

Enfim, a falta do uso dos EPIs está intimamente associada à cultura dos trabalhadores e

das empresas. Desta maneira, o que vale: a obrigatoriedade legal ou o que os trabalhadores declararam?

Inicia-se a questão trazendo à tona a Súmula nº 309 do STJ, que magistralmente apresenta

o seguinte texto:

1 Antonio Fernando Navarro é Físico, Matemático, Engenheiro Civil, Engenheiro de Segurança do Trabalho e Mestre em Saúde e Meio Ambiente,

tendo atuado como Gerente de Riscos em atividades industriais por mais de 30 anos. É professor da Universidade Federal Fluminense – UFF.

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A questão cinge-se à pretensão da recorrente em ver reconhecida a subsistência da

autuação fiscal efetivada pela Delegacia Regional do Trabalho - DRT, que, ao inspecionar as instalações da

recorrida, constatou a não utilização de Equipamento de Proteção Individual - EPI, por parte de

funcionário dela, aplicando-lhe sanção por "deixar de tornar obrigatório o uso de equipamentos de

proteção individual adequados aos riscos".

Argumenta a recorrente que restaram violados os arts. 19, § 1º, da Lei 8.213/91; arts.

157, I, e 632, ambos da CLT, pois não bastaria à recorrida fornecer equipamentos de segurança a seus

empregados, devendo, também, implementar e efetivamente fiscalizar o uso, bem como à autoridade

administrativa decidir sobre a necessidade da produção de provas e diligências requeridas pelo autuado. O

Ministro Relator entende assistir razão à recorrente. Somente o empregador possui o necessário poder

disciplinar e condições materiais para fiscalizar a efetiva utilização dos equipamentos de proteção. Assim, o

empregado ao não usar, injustificadamente, EPI que lhe foi fornecido incorre, em tese, na prática de "ato

faltoso", passível de ser transformado em "falta grave", a depender do agravamento das circunstâncias, de

sua reiteração, da gravidade da falta, etc..

O art. 158 da CLT prevê que cabe ao empregado "observar as normas de segurança e

medicina do trabalho". Tal norma contudo não isenta o empregador de sua responsabilidade, sobretudo

porque é curial que, em sede de responsabilidade penal e administrativa, eventual comportamento culposo

da vítima (ou do co-obrigado) não exclui, nem mitiga, a reprovabilidade social da ação ou omissão do

infrator. A aplicação da sanção administrativa não se deu, ao contrário do que pretende a empresa, sob

bases de responsabilidade administrativa objetiva, mas diante de inegável culpa in vigilando do

empregador.

Finalmente, considerou adequada a decisão da autoridade administrativa que indeferiu o

requerimento de produção de prova testemunhal. O indeferimento não equivale, como decidiu o Tribunal a

quo, em não ter sido assegurado o exercício da ampla defesa à parte recorrida. Mesmo que comprovado o

que pretendia a recorrida, tal situação não conduziria à invalidação do fato incontestável (tão incontestável

que em nenhum momento foi negado pela empregadora) de que, no momento da fiscalização, o empregado

não fazia uso de equipamento de segurança necessário à sua proteção contra os graves riscos da atividade

que então desenvolvia (o empregado, ajudante de forjaria, trabalhava próximo a forno com intenso calor

irradiante e sem proteção para os olhos). REsp 171.927-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em

6/2/2007. 2

O Equipamento de Proteção Individual - EPI é todo dispositivo ou produto, de uso

individual utilizado pelo trabalhador, destinado a proteção contra riscos capazes de ameaçar a sua segurança

e a sua saúde. O EPI não deve ser confundido com o EPC – equipamento de proteção coletiva, e não o

dispensa a adoção pelas empresas. Exemplificando, em uma atividade de corte e solda de metais deve-se

2 Disponível em http://www.normaslegais.com.br/trab/3trabalhista210207.htm, acesso em 29-08-2012

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empregar “biombos” de material não combustível para a proteção do ambiente de trabalho. O empregado

deve utilizar o protetor facial com lente apropriada ao tipo de trabalho executado, óculos de segurança,

roupas específicas, entre outros. A proteção do rosto do trabalhador através de um protetor facial possui

placas de vidro para que o trabalhador possa acompanhar o que está fazendo, e essas placas possuem

tonalidades distintas. Ocorre que, em geral, as empresas oferecem placas de vidro (lentes) com um nível de

proteção tal que obriga o trabalhador a “abrir o arco de solda” – se for com eletrodo revestido – a levantar a

proteção (viseira). Iniciado o arco o trabalhador abaixa o protetor facial. Nesse curto período de tempo o

trabalhador fica sem a proteção recomendada, já que as lentes não escurecem conforme a luminosidade do

arco elétrico, dispositivos esses já comuns, e empregados em capacetes apropriados, onde há entrada de ar,

de maneira que enquanto o trabalhador está com o capacete respira ar isento de fumos metálicos produzidos

pela solda.

O uso deste tipo de equipamento só deverá ser feito quando não for possível tomar

medidas que permitam eliminar os riscos do ambiente em que se desenvolve a atividade, ou seja, quando as

medidas de proteção coletiva não forem viáveis, eficientes e suficientes para a atenuação dos riscos e não

oferecerem completa proteção contra os riscos de acidentes do trabalho e/ou de doenças profissionais e do

trabalho. A primeira barreira interposta entre o trabalhador e o risco é a eliminação do risco. A segunda

barreira é a utilização de Equipamentos de Proteção Coletiva. A terceira barreira de proteção é o

fornecimento ao trabalhador e o uso pelo mesmo dos Equipamentos de Proteção Individual.

Os equipamentos de proteção coletiva - EPC são dispositivos utilizados no ambiente de

trabalho com o objetivo de proteger os trabalhadores dos riscos inerentes aos processos, tais como o

enclausuramento acústico de fontes de ruído, ventilação dos locais de trabalho, proteção de partes móveis de

máquinas e equipamentos, sinalização de segurança, dentre outros.

Como o EPC não depende da vontade do trabalhador para atender suas finalidades, este

tem maior preferência pela utilização do EPI, já que colabora no processo minimizando os efeitos negativos

de um ambiente de trabalho que apresenta diversos riscos ao trabalhador. Portanto, o EPI será obrigatório

somente se o EPC não atenuar os riscos completamente ou se oferecer proteção parcialmente.

Conforme dispõe a NR-6, a empresa é obrigada a fornecer aos empregados,

gratuitamente, EPI adequado ao risco, em perfeito estado de conservação e funcionamento, nas seguintes

circunstâncias:

a) sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção contra os riscos de acidentes do trabalho ou de doenças profissionais e do trabalho;

b) enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo implantadas; e c) para atender a situações de emergência.

Compete ao Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do

Trabalho - SESMT, ou a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA nas empresas desobrigadas de

manter o SESMT, recomendar ao empregador o EPI adequado ao risco existente em determinada atividade.

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Os tipos de EPI´s empregados podem variar dependendo do tipo de atividade ou de riscos

que são ameaçadores à segurança e à saúde do trabalhador e da parte do corpo que se pretende proteger, tais

como:

• Proteção auditiva: abafadores de ruídos ou protetores auriculares; • Proteção respiratória: máscaras e filtro; • Proteção visual e facial: óculos e viseiras; • Proteção da cabeça: capacetes; • Proteção de mãos e braços: luvas e mangotes; • Proteção de pernas e pés: sapatos, botas e botinas; • Proteção contra quedas: cintos de segurança e cinturões.

O equipamento de proteção individual, de fabricação nacional ou importado só pode ser

posto à venda ou utilizado com a indicação do Certificado de Aprovação - CA, expedido pelo órgão nacional

competente em matéria de segurança e saúde do trabalho do MTE. Dentre as atribuições exigidas pela NR-6,

cabem ao empregador as seguintes obrigações:

• adquirir o EPI adequado ao risco de cada atividade; • exigir seu uso; • fornecer ao trabalhador somente o equipamento aprovado pelo órgão, nacional competente em

matéria de segurança e saúde no trabalho; • orientar e treinar o trabalhador sobre o uso adequado, guarda e conservação; • substituir imediatamente o EPI, quando danificado ou extraviado; • responsabilizar-se pela higienização e manutenção periódica; e • comunicar o MTE qualquer irregularidade observada;

O empregado terá que observar as seguintes obrigações:

• utilizar o EPI apenas para a finalidade a que se destina; • responsabilizar-se pela guarda e conservação; • comunicar ao empregador qualquer alteração que o torne impróprio ao uso; e • cumprir as determinações do empregador sob o uso pessoal;

Os EPIs além de essenciais à proteção do trabalhador, visando a manutenção de sua saúde

física e proteção contra os riscos de acidentes do trabalho e/ou de doenças profissionais e do trabalho, podem

também proporcionar a redução de custos ao empregador. É o caso de empresas que desenvolvem atividades

insalubres e que o nível de ruído, por exemplo, está acima dos limites de tolerância previstos na NR-15.

Neste caso, a empresa deve pagar o adicional de insalubridade de acordo com o grau de enquadramento,

podendo ser de 10%, 20% ou 40%. Com a utilização do EPI a empresa pode eliminar ou neutralizar o nível

do ruído que poderia provocar a perda de audição do empregado. Como comentário adicional ressaltamos

que essa questão não é unânime entre os profissionais que atuam a longo tempo nesta área. A surdez pode

não necessariamente decorrer de níveis de pressão sonora elevados, mas também de produtos químicos

específicos manuseados ou existentes no ambiente do trabalho.

A eliminação do ruído ou a neutralização em nível abaixo do limite de tolerância isenta a

empresa do pagamento do adicional de insalubridade, além de evitar quaisquer possibilidades futuras de

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pagamento de indenização por danos morais ou materiais em função da falta de utilização do EPI.

Entretanto, é importante ressaltar que não basta o fornecimento do EPI ao empregado por parte do

empregador, pois é obrigação deste fiscalizar o empregado para se assegurar que o equipamento esteja sendo

corretamente utilizado.

São muitos os casos de empregados que, com desculpas de que não se acostumam ou que

o EPI o incomoda no exercício da função, deixam de utilizá-lo e consequentemente, passam a sofrer as

consequências de um ambiente de trabalho insalubre. Esse é um dos fatores da baixa produtividade do

trabalhador.

Nesses casos o empregador pode exercer seu poder diretivo e obrigar o empregado a usar

o equipamento, sob pena de advertência e suspensão num primeiro momento e, havendo reincidência, sofrer

punições mais severas, inclusive com a demissão por justa causa.

Para a Justiça do Trabalho o fato de a empresa comprovar que o empregado recebeu o

equipamento (por meio de ficha de entrega de EPI), por exemplo, não a exime do pagamento de eventual

indenização, pois a norma estabelece que o empregador deva garantir o seu uso, o que se faz através de

fiscalização e de medidas coercitivas, se for o caso3.

Complementa-se a questão informando que cabe ao empregador não só o fornecimento e

a capacitação dos trabalhadores para o uso dos EPIs como também acompanhar se efetivamente os

trabalhadores estão utilizando os dispositivos corretamente. Essa atividade pode e deve ser exercida tanto

pelo SESMT quanto pela CIPA.

[...] Escorço histórico do acidente do trabalho no Brasil

Os acidentes de trabalho começaram a apresentar números significativos a partir da

Revolução Industrial em 1780, pois deste momento em diante as empresas começaram a substituir o trabalho

manual por grandes e pesadas máquinas industriais4.

No Brasil os efeitos da revolução industrial se deram a partir de 1880, com a construção

de usinas geradoras de eletricidades, nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Em nosso

País, a Lei nº 3.724/19 baseava-se no conceito de risco profissional, considerando-o como sendo natural à

atividade profissional. Não havia um seguro obrigatório, mas havia previsão de pagamento de indenização ao

trabalhador ou à sua família, calculada de acordo com a gravidade das sequelas do acidente, sendo que a

prestação do socorro médico-hospitalar e farmacêutico era obrigação do empregador.

A comunicação do acidente de trabalho tinha que ser feita à autoridade policial do lugar,

pelo empregador, pelo próprio trabalhador acidentado, ou ainda, por terceiros.

3 (Sérgio Ferreira Pantaleão, http://www.guiatrabalhista.com.br/tematicas/epi.htm, acesso em 29/08/2012)

4 (THEODORO JÚNIOR, 1987), apud

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O ano de 1943 constituiu num marco em nossa história, pois surgiu a Consolidação das

Leis do Trabalho, que entre outras normas protecionistas, inseriu regulamentação quanto à prevenção de

acidentes. A Constituição de 1934 instituiu a contribuição tripartite para fazer frente ao acidente de trabalho,

bem como a outros infortúnios. Mas foi com a Constituição de 1946 que surgiu a obrigatoriedade da

instituição do seguro pelo empregador contra os acidentes do trabalho5.

Em 1972 surge a Portaria nº 3.237, que tornou obrigatório, além dos serviços médicos, os

serviços de higiene e segurança em todas as empresas onde trabalham 100 ou mais pessoas (Portaria nº

3.237, de 27/6/72, do Ministério do Trabalho), sendo que na atualidade leva-se em consideração não só o

número de empregados da empresa, mas também o grau de risco da mesma.

Em 1978 foi criada a Portaria nº 3.214, que aprova as Normas Regulamentadoras (NR’s)

relativas à Segurança e Medicina do Trabalho, abordando vários aspectos relacionados ao ambiente de

trabalho e a saúde do trabalhador, obrigando as empresas ao seu cumprimento.

Essas normas sofreram atualizações ao longo dos anos, inclusive para fazer frente a

doenças típicas da modernidade, como Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou Distúrbios

Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT).

A Constituição Federal de 1988, “especificou no seu artigo 7º, inciso XXVIII o seguro

contra acidentes do trabalho, a cargo do empregador, mas não excluiu a indenização por culpa ou dolo”6.

Assim, tem-se um panorama, resumido, da evolução do tratamento jurídico dado aos

acidentes de trabalho no Brasil ao longo dos anos.

Conceito de acidente do trabalho

O art. 19 da Lei nº 8.213/91 define acidente do trabalho como: “o que ocorre pelo

exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando lesão corporal ou perturbação funcional ou doença

que cause a morte, a perda ou redução da capacidade para o trabalho permanente ou temporária (Artigo nº 19

da Lei nº 8.213/91)”.

A Lei considera, ainda, no seu artigo 20 como acidente do trabalho: ”as doenças

profissionais produzidas ou desencadeadas pelo exercício de trabalho peculiar a determinada atividade; ou,

as doenças do trabalho adquiridas ou desencadeadas em função de condições especiais em que o trabalho é

realizado”. (Artigo 20 da Lei nº 8213/91)

O Regulamento da Previdência Social – Decreto nº 3.048/99, assim dispõe: “Entende-se

como acidente de qualquer natureza ou causa aquele de origem traumática e por exposição a agentes

5 (HORVATH JÚNIOR, 2006), apud

6 (PINTO, 2006)

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exógenos (físicos, químicos e biológicos), que acarrete lesão corporal ou perturbação funcional que cause a

morte, a perda, ou a redução permanente ou temporária da capacidade laborativa”. (Decreto nº 3.048/99.)

Cláudio Mascarenhas Brandão conceitua como “todo esforço que o homem, no exercício

de sua capacidade física e mental, executa para atingir seus objetivos, em concordância com princípios

éticos”7.

Miguel Horvath Júnior assevera que: “acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício

do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art.

11 da Lei nº 8.213/91 (segurado especial: produtor, parceiro, meeiro, arrendatários rurais, garimpeiro,

pescador artesanal e o assemelhado que exerçam suas atividades individualmente ou em regime de economia

familiar, ainda que com auxilio eventual de terceiros bem como de seus respectivos cônjuges e companheiros

e filhos maiores de 16 anos ou a eles equiparados desde que trabalhem comprovadamente com o grupo

familiar respectivo) que provoque lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou a

redução permanente ou temporária da capacidade para o trabalho”8.

Anibal Fernandes diz que “acidente do trabalho – o acidente típico – é um evento

relacionado, diretamente ou não ao trabalho executado pelo obreiro. Já não mais se trata de um infortúnio no

trabalho, mas do trabalho”9.

Verificamos assim que alguns doutrinadores apresentam conceitos mais amplos, enquanto

outros são mais sucintos, sendo certo que os mesmos mantêm uma única essência, de forma que se pode

afirmar que não há dissenso entre os mesmos para a conceituação do instituto em estudo.

Podemos, então, definir Acidente do Trabalho como comportamento errôneo que o

funcionário realiza na utilização de qualquer equipamento sem que o mesmo siga o procedimento correto de

utilização dos mesmos, causando-lhe agressão a sua saúde, deixando-lhe impossibilitado de exercer a sua

função normalmente, como também através de condições inseguras originadas por equipamentos sem

proteção ou o não fornecimento dos mesmos, que podem ocasionar o acidente do trabalho. [...] A

Consolidação das Leis do Trabalho, em seu artigo 166 estabelece a obrigatoriedade do fornecimento, pelo

empregador, de equipamento de proteção individual - EPI, adequado ao risco das atividades do trabalhador.

A Portaria nº 3.214/78 caminha no mesmo sentido, determinando que é de

responsabilidade do empregador o fornecimento, gratuitamente, do equipamento de proteção individual,

adequado ao risco a que o trabalhador estará exposto(Manuais de Legislação, 2007) devendo, ainda,

substituí-lo periodicamente, observando o seu prazo de validade.

7 (BRANDÃO 2006).

8 (HORVATH JÚNIOR, 2006).

9 (BALERA, 2007).

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Qualquer que seja a legislação aplicada, que passam a ser convergentes quanto ao

objetivo final, há que se apurar a casualidade das lesões com a realização dos trabalhos executados pelo

trabalhador.

Um ponto relevante é aquele que além de considerar como obrigatória, na apuração do

evento, a casualidade, deve-se verificar se o cargo e a função do trabalhador não poderia ter contribuído para

a potencialização das lesões. De modo geral consta na carteira de trabalho do empregado o cargo, pois que

há um campo específico para indica-lo e, no campo seguinte, a informação do Código Brasileiro de

Ocupações. Entretanto, não é o cargo que expõe o trabalhador a risco, mas sim a função que esse desenvolve.

Se não houver uma associação entre cargos e funções o empregador pode assumir ônus adicionais, como de

indenizações por expor pessoas a riscos que legalmente não teriam essa obrigação. Um dos exemplos é o de

um eletricista. Na carteira de trabalho deve constar o cargo, eletricista, com a função anotada em carteira. Se

o trabalhador atuar no interior de subestações deve ter a aprovação formalizada através de documentos pelo

empregador, autorizando que esse possa entrar em subestações elétricas.

O empregador será obrigado a trocar o equipamento de proteção individual sempre que o

mesmo for danificado ou extraviado, sem nenhum ônus ao trabalhador, como também realizar trocas

periódicas de acordo com datas estabelecidas pela área da segurança.

Os equipamentos de proteção individuais a serem fornecidos pelo empregador a seus

empregados, ante aos riscos que se encontram sujeitos, se encontram descritos no anexo 1 da NR - 06.

Contudo, não basta que empresa forneça tais equipamentos e que os empregados os utilizarem de maneira

correta, faz-se imprescindível que os mesmos estejam em conformidade com as normas técnicas e

devidamente certificados, de modo a surtirem o efeito desejado, qual seja o de, verdadeiramente, proteger os

trabalhadores de eventuais acidentes.

Todo equipamento de proteção individual deve conter CA - Certificado de Aprovação.

Caso a empresa adquira equipamentos de proteção individual sem a devida certificação, a mesma será

responsável pela ocorrência de acidentes, pois os trabalhadores que utilizam equipamentos de proteção

individual sem a devida certificação estão expostos a riscos de acidentes, como a doenças ocupacionais por

meio de riscos químicos, biológicos, cortantes, etc., conforme relata Rafael Feitosa10. [...] 11. Aqui

acrescentamos que o ideal é que conste o CA do lote produzido e a data de expedição do certificado, já que o

CA pode ser obtido após produzido o primeiro lote de EPIs, sem que seja informado nas normas a

obrigatoriedade de revisão dos certificados com a obrigatoriedade de as empresas fornecerem amostras de

lotes distintos e em épocas distintas. Por exemplo, nos cintos de segurança, que apresentam maiores

problemas, deve estar claro a todos qual é a carga máxima suportada pelo equipamento. Os acessórios, como

10 (FEITOSA, 2007) 11 Edilson Ortiz & Silvio Luís Birolli, O acidente do trabalho e as responsabilidades do empregador, http://www.revistainterfaces.com.br/Edicoes/1/1_17.pdf, acesso em 29/08/2012

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cabos, olhais, ganchos e demais itens esses devem ser identificados através de cores que indiquem as cargas

máximas ou os esforços admissíveis para o emprego dos dispositivos.

Histórico da questão

Não restam dúvidas, pela literatura apresentada, completa quanto à sua amplitude, que o

trabalhador, aqui o ator principal de uma peça de teatro que encena diariamente para o público a atividade da

construção em geral, e que deve ser o ponto fulcral das ações de prevenção de acidentes é a vítima e ao

mesmo tempo o réu de muitos dos acidentes que temos conhecimento, seja nas andanças pelas ruas das

cidades, na leitura das manchetes dos jornais, ou na leitura das estatísticas.

Muitas das empresas ainda não se convenceram que cabe a elas a obrigação primeira de

fornecer um ambiente de trabalho seguro de modo que o trabalhador não fique exposto. Caso haja alguma

dificuldade dessa implementação, técnica ou operacional, a empresa deve continuar empreendendo ações

para a eliminação dos riscos, acrescentando, complementarmente no cenário, os EPC.

Em um exemplo simples, imaginemos que há uma atividade sobre o telhado de uma casa.

A atividade somente pode ser executada no local, já que não há como remover-se o telhado. Trabalho nessas

condições é um trabalho perigoso, pois contempla como risco a queda do trabalhador. Esse pode cair sem

lesões, com lesões médias, ou quem sabe incapacitantes e mesmo letais. Ora, o trabalho é necessário,

somente havendo uma forma de realiza-lo que é com o trabalhador sobre o telhado. A empresa não tem como

eliminar os riscos. Então, a opção é a de protegê-los através de dispositivos coletivos e ou individuais. O

EPC adotado pode ser uma linha de vida (cabo com capacidade de suporte especificado, preso em suas

extremidades em estruturas independentes do telhado), complementado com rede apara quedas. Nesses cabos

os trabalhadores podem fixar os talabartes de seus cintos de segurança, de modo que se escorregarem ou

caírem ficarão suspensos pelos talabartes pelos cabos não correndo risco de morte. Se mesmo com as

medidas de proteção geral, há possibilidade de mitiga-los por outros meios, como redes de proteção,

instalação de guarda corpo a toda volta e outros dispositivos, inclusive através de cestos presos a guindastes.

A empresa sabe de suas obrigações, mas também tem em seu radar os cronogramas para a

execução das atividades e os custos envolvidos. Por isso, nem sempre a proteção oferecida é a mais eficiente

ou mais cômoda. Além disso, muitos trabalhadores recusam a utilizar os EPIs por várias razões, algumas

enumeradas no início do artigo.

Porém, mesmo com as estatísticas de mortalidade que não são nada animadoras, mesmo

com as lesões sofridas pelos trabalhadores, ainda há um enorme grupo daqueles que são flagrados em seus

trabalhos sem estarem de posse de seus EPIs ou não os empregando corretamente. O que chamamos de

“Semana de EPI Zero”, é o momento em que, para onde olharmos, iremos verificar trabalhadores

desprotegidos.

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Não temos a pretensão de afirmar que os EPIs possam salvar vidas, pois que, para isso,

esses devem ser os adequados às atividades realizadas, serem bem empregados e os trabalhadores se

sentirem seguros com o seu emprego. Para melhor ilustrar a situação apresentar-se-ão fotografias de acervo

próprio, em sua maioria, com situações onde os trabalhadores ficam expostos a serem vítimas. A questão que

devemos ter em mente é que o acidente vitimiza as pessoas, mas as pessoas são, quase sempre, as

responsáveis pelos seus acidentes, na medida em que deixam, mesmo que temporariamente de empregar os

EPIs. Há uma série de contradições, todos poderão concordar. Há casos em que os trabalhadores são

descontados em seus salários pelo fornecimento através da empresa, de EPIs de baixa qualidade. Há EPIs

que não oferecem qualquer segurança, mas são comercializados.

A visão nas obras

Armador concluindo a amarração das ferragens de uma caixa separadora de água e óleo. O piso do trabalho é composto de tábuas presas às ferragens e o mesmo não tem qualquer proteção contra cortes ou aranhões no corpo. Em atividades como essa, onde o trabalhador executa suas atividades em áreas bastante perigosas, passa a ser necessária a contínua supervisão dos serviços e, pelo menos, que esse esteja com cinto de segurança preso a um ponto fixo, que possibilite, através de içamento, que o trabalhador possa ser retirado do local caso a estrutura desabe. Ao ser abordado o trabalhador reconheceu a necessidade de utilizar os EPIs, mas imaginava que, como era um final de semana, e o trabalho tinha que ser concluído, bastava que tivesse um pouco mais de cuidado para não se machucar.

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Na foto acima um dos trabalhadores, que assenta pastilhas cerâmicas em uma parede externa de um prédio, apoia um pé sobre uma escada improvisada de montante único apoiada na parede, com o outro pé está sobre uma escora de eucalipto utilizada como andaime fachadeiro externo. A precariedade desse andaime era tão grande que as estroncas, ou ripas de travamento eram pregadas com um prego simples em cada extremidade. A corda vista abaixo deveria ser uma “linha de vida”, só que essa estava laçada nessas escoras, sem oferecer a proteção adequada ao trabalhador. Outro trabalhador estava sentado sobre a platibanda, sem qualquer proteção. Ao ser abordado o trabalhador disse que ele tinha agido dessa forma porque seria uma atividade muito rápida e ele não podia perder tempo. Será esse o cuidado que as empresas demonstram ter com seus trabalhadores? Será que os contratos de mão de obra previam sanções pelo não atendimento da Lei?

Nesta imagem vê-se uma carneira partida, pela queda de uma ferramenta que não ultrapassava a 500g, de uma altura de dois metros. O ajuste excessivo da carneira, a baixa qualidade do material, com CA, e a queda da pela provocou o rompimento da carneira. Será que o CA que a empresa estampava no capacete correspondia àquele obtido por ocasião da obtenção do certificado? Até hoje as empresas não questionam muito esse fato e, mesmo sabendo que a qualidade de um produto possa ser duvidosa ainda o prefere em função do baixo custo de aquisição. Além disso, as empresas não gostam de investir em algo que possa ter

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baixa durabilidade ou que possa ser pouco utilizada. Passa a ser comum verificar-se EPIs deixados ao chão nas obras após a conclusão dos serviços, sem que os trabalhadores sejam orientados para que os preservem.

Cabo de madeira de martelo de bola rompido durante o uso do martelo. O martelo foi entregue pelo almoxarife da obra já com o cabo rachado. O emprego incorreto do martelo fez com que o martelo fosse projetado para a frente enquanto que o cabo permanecia na mão do trabalhador. Esse não é um EPI mas uma ferramenta de trabalho. Mesmo que todos os trabalhadores naquele ambiente estivesse protegidos por meio de EPIs será que os dispositivos os protegeriam do impacto do martele, lançado, por exemplo, sobre o rosto de um deles, ou sobre o tronco? Quando dissemos que os EPIs atenuam as lesões dos trabalhadores estamos nos referindo ao fato de que ainda não existe o EPI que proteja o trabalhador contra todos os riscos. O trabalhador reconheceu que não tinha examinado a ferramenta no momento em que a recebeu. Também disse que essa era a obrigação do almoxarife e não dele.

Outro exemplo de emprego inadequado de ferramenta de trabalho. Utilizou-se uma chave de boca para afrouxar uma porca de parafuso ao invés de uma chave de impacto. O resultado foi o lançamento da ferramenta, após impactada pelo golpe da marreta sobre um trabalhador. A parte lançada não atingiu a partes do corpo mais sensíveis a lesões. Questionado o trabalhador disse que na empresa não havia uma chave de impacto. Também disse que já havia feito assim de outras vezes e não ocorreu nenhum problema.

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No exemplo acima o trabalhador encontra-se sobre uma bancada de madeira suportada por uma estrutura do tipo andaime. Ele não tem nenhum EPI o mesmo ocorrendo com o colega dele ao lado. A construção realizada por um pequeno empreiteiro, com poucos empregados, edificando prédio de três andares para a locação dos imóveis ficava na frente do mar, em uma rua com grande trânsito de pessoas e veículos. Os transeuntes, moradores do local nem mais se apercebiam dos riscos, pois essa era uma prática comum nas obras da região, um balneário. O trabalhador ficou revoltado ao ser abordado e disse que ele só trabalhava assim, e não precisava de nenhuma proteção.

Andaime de obra, para restauro de fachada – EPC – sem que se tivesse levado em consideração nenhuma das recomendações das normas. O prédio com 14 pavimentos tinha essa estrutura no nível da calçada para proteger os transeuntes da queda de qualquer objeto. O tipo de material empregado no andaime, chapas de madeira “OSB” não apresenta resistência suficiente para assegurar que os materiais caídos não venham a atingir pessoas. Esse tipo de material, quando sem proteção adequada, absorve a umidade e perde a resistência estrutural. Um dos trabalhadores disse que ninguém reclamou do andaime e que para eles não havia nenhum problema. Eles não foram abordados sequer pelo Síndico do prédio.

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Vista lateral da estrutura do andaime, em continuação à fotografia e ao texto anterior, localizado em calçada com grande movimento de pessoas. A análise superficial aponta para dezenas de irregularidades legais. A obra não foi embargada, apesar de representar riscos para os transeuntes e encontrar-se descumprindo as normas específicas. O espaço destinado à passagem dos transeuntes era estreito e com obstruções, como uma moto, por exemplo. Assim, as pessoas terminavam optando por passar próximas ao meio fio da calçada, local esse mais suscetível de receber materiais projetados pela execução da recomposição da fachada do prédio. Preso ao andaime tem-se um pedaço da tela de proteção, que seria necessária para proteger as pessoas de materiais projetados.

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Esta fotografia ilustra um trabalhador recompondo a borda de uma platibanda de uma edificação e seu encarregado orientando-o quase que projetado da parede da laje acima. Nenhum desses operários teria a menor chance de vida se viessem a cair, pois o único trabalhador que estava com cinto de segurança esse se encontrava com o talabarte preso a uma “linha de vida” simplesmente laçada na fina estrutura da janela de alumínio. Outro aspecto a considerar é que, pela posição que se encontrava, ao cair, iria machucar-se seriamente na borda da platibanda.

Continuação da fotografia anterior, agora mais ampliada e vendo-se outro trabalhador descendo por uma escada com guarda corpo, sem utilizar cinto de segurança, e com um dos pés apoiado no arco metálico do guarda corpo. Também se verifica a qualidade da escada improvisada, com os pés próximos da borda da platibanda. Aos pés da mesma está o capacete do trabalhador que recupera a borda da platibanda. O encarregado ao ser abordado disse que os fatos não iriam se repetir e que todos tinham experiência.

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Operário sobre escada apoiada em platibanda. O operário trabalha na montagem de brise soleil, com máquina elétrica. Ele não utiliza nenhuma proteção, não está sendo supervisionado, a ferramenta elétrica está com ligação provisória e inadequada. Mesmo que ele estivesse com os EPIs recomendados para esse trabalho perigoso, com inúmeros riscos, não estaria 100% seguro. A queda da escada conduziria a lesões que nenhum EPI poderia proteger, a menos que houvesse uma linha de vida acima da cabeça do trabalhador e esse estivesse com cinto de segurança com trava quedas. Se o talabarte não tivesse o comprimento adequado o trabalhador poderia cair sobre a platibanda.

Outro exemplo de um equipamento de proteção coletiva mal executado e ineficiente, com placas de madeira sem nenhuma resistência estrutural. A plataforma era utilizada pelos trabalhadores para passagem, apesar de ser um ambiente com muitas obstruções. A empresa esclareceu que a obra já estava em seu final e os andaimes seriam desmontados na semana seguinte.

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Os dois trabalhadores flagrados na atividade disseram que não precisariam de um local mais apropriado para a realização dos serviços porque só faltava aquela peça de madeira para a conclusão da forma de concreto. Também disseram que se fossem continuar as atividades iriam providenciar uma bancada apropriada para realizar o serviço.

O encarregado da frente de serviço, ao ser questionado sobre a precariedade do painel elétrico disse que a empresa não tinha outro painel. Também disse que todos os trabalhadores sabiam do risco e tinham cuidado ao abrir a caixa com a chave do tipo faca para desligar os equipamentos.

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A luva apresentada estava sendo utilizado no trabalho. O operário informou que o encarregado já sabia que o EPI estava danificado, mas tinha informado que não havia outro par de luvas no canteiro de obras.

O esticador danificado estava sendo utilizado quando o trabalhador empregou uma alavanca para esticar ainda mais o cabo de aço. Com a quebra do olhal o cabo de aço ricocheteou e por pouco não atingiu os trabalhadores que se encontravam ao redor. O cabo de aço estava sendo utilizado para estaiamento de uma torre de rádio transmissor.

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Esta fotografia apresenta o estado em que se encontrava o suporte de uma das pernas do andaime em uma obra. A estrutura estava com inclinação e o encarregado da obra tinha-a amarrado ao prédio por cordas. Quando questionado disse que ainda não tinha percebido o problema e que entendia que a corda bastava.

Esta foto foi tirada no centro de uma cidade próxima ao Rio de Janeiro, em uma rua com bastante movimentação de pessoas e veículos. O trabalhador não pôde ser abordado.

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O dispositivo de oxicorte com acetileno foi realçado pela fotografia para apresentar dois problemas muito comuns. O primeiro é a falta de válvulas corta-chama. O segundo, as abraçadeiras que, de tão apertadas, terminam por causar cortes nas mangueiras, provocando o vazamento dos gases.

Esses trabalhadores estavam preparando ½m3 de concreto para a conclusão dos serviços. Como a empresa não estava pagando os salários em dia, os trabalhadores não chegaram a solicitar seus EPIs. Concluída a tarefa foram embora.

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Os dois trabalhadores por não disporem de andaimes para a preparação das ferragens improvisaram uma estrutura de apoio com o material que se encontrava no local. Disseram que sabiam dos riscos e que estavam tendo todos os cuidados para não caírem do terceiro andar (quarta laje).

Outra fotografia apresentando novo ângulo do mesmo problema relatado anteriormente. Os trabalhadores disseram que o encarregado “havia pedido as contas” na semana anterior e até aquele dia ainda não havia sido providenciado um substituto.

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Na fotografia vê-se um operário lançando as escoras de eucalipto no chão, dois andares abaixo, depois que o escoramento foi removido. No piso térreo tinham pessoas realizando outras atividades. O trabalhador, ao ser abordado no dia seguinte disse que aquela era a maneira mais rápida de retirar os materiais no piso. Também disse que os colegas embaixo estavam recolhendo os materiais lançados para os acomodar em pilhas de materiais.

Nesta fotografia trabalhadores substituem trecho de tubulação que apresentava defeitos. Para alinhar o trecho existente ao novo trecho empregaram a concha da retroescavadeira, em uma atividade bastante perigosa, já que existiam mais de cinco pessoas no interior da vala e a retroescavadeira estava na borda da escavação, pesando quase 15 toneladas. A pressa para a conclusão do serviço e as condições ambientes do trabalho fizeram com que a percepção dos riscos fosse deixada em segundo plano.

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A fotografia ilustra o momento da atracação de um trecho de uma tubulação de aço a uma seção nova em substituição a segmento que apresentava danos. As condições ergonômicas da atividade, a exiguidade de espaço, a quantidade de pessoas envolvidas, a existência de ferramentas e equipamentos espalhados pelo local tornaram o ambiente de trabalho propício a provocar acidentes do trabalho.

Grampo de conexão de cabos de aço empregado na fixação de condutor elétrico à haste de aterramento do sistema de pára raios. O grampo foi removido antes que se desse um acidente, mais porque o inspetor verificou que parte do condutor elétrico estava exposta. Se não tivesse se dado essa percepção mínima do risco é provável que alguns trabalhadores ao redor pudessem ter sido atingidos pela queda de raios.

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Conector de um cabo de solda elétrica. As condições de uso e de movimentação do material fizeram com que a conexão se partisse e deixasse à mostra parte do cabo. Os operários mesmo assim não o substituíram, optando por prendê-lo com uma fita isolante. Durante uma atividade realizada após uma chuva, essa conexão ficou sobre uma poça de água provocando um curto circuito que danificou o equipamento e atingiu levemente um dos soldadores.

Cabo de aço rompido pelo excesso de carga transportada. A tensão de tração provocou o estiramento e posterior rompimento dos arames de aço. Esse tipo de situação não é incomum, já que não se identifica o cabo de acordo com a sua carga de trabalho e, tão pouco se confere o peso da carga transportada. As movimentações de cargas mais leves e de pequena dimensão são realizadas de acordo com a experiência do encarregado, sem qualquer plano de rigging.

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A fotografia acima apresenta uma situação inusitada, com um grupo de operários trabalhando na concretagem de uma viga, enquanto outro grupo ficava dando o suporte necessário na parte inferior. No momento da foto o encarregado da concretagem escalava a forma segurando-se em um vergalhão da armadura sem estar com o talabarte de seu cinto de segurança conectado a uma linha de vida. Outro aspecto importante é o que diz respeito à capacidade de carga da estrutura de madeira e de suportação da forma da viga. Especificamente essa forma não havia sido dimensionada para suportar o peso extra de cinco funcionários, aproximadamente 400Kg.

Na fotografia verifica-se a remoção dos lingotes de aço das lingoteiras, em uma aciaria. O operário protegia seu tronco e parte das coxas com avental de raspa de couro, as mãos por luvas de raspa de couro, os olhos por óculos de segurança, mas não protegia o rosto contra o calor de mais de 400ºC. Efetivamente a única proteção adequada à atividade eram as luvas. Os demais EPIs estavam sendo empregados de modo incorreto. A haste de remoção dos lingotes era curta, possibilitando que se houvesse a queda de um desses dos ganchos de içamento o trabalhador viesse a ser atingido.

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Esta foto tirada em 1980 no interior de uma fábrica de móveis, junto a uma lixadeira de mesa, apresenta em primeiro plano o encarregado, de capacete, fumando na área, cheia de pó de madeira, que não era removido do local porque não existiam filtros. Nenhum dos trabalhadores utilizava máscaras contra poeira. O EPI utilizado não era o recomendado para a proteção dos trabalhadores pelos riscos existentes no ambiente, pois o risco mais impactante aos trabalhadores era o de inalação das poeiras.

Movimentação de cadinho com aço líquido a ser derramado em moldes de lingotes. Os operários na proximidade encontravam-se totalmente expostos não só ao calor do cadinho, com aço a 1.200ºC, mas também ao risco de respingo do material sobre seus corpos, no momento da movimentação do mesmo. Os trabalhadores ao serem abordados disseram que não haviam sido orientados a respeito dos riscos (fotografia tirada em 1979).

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Fotografia tirada em 1979 no interior de uma aciaria. Alguns dos trabalhadores já utilizavam capacetes de segurança. Quanto aos demais dispositivos esses não existiam na empresa. Houve um enorme lapso de tempo para que as empresas passassem a fornecer os EPIs e os trabalhadores também passassem a utilizá-los. Na verdade um dos pontos mais importantes desse processo foi muito pouco explorado, que é o da cultura da empresa e a dos trabalhadores. Quanto tanto de um lado quanto de outro existem culturas de prevenção o processo de segurança passa a ser sinérgico, ou seja, é ampliado e consolidado mais facilmente. Um ponto negativo é o da rotatividade da mão de obra, seja devido ao próprio trabalhador, seja decorrente das atividades que esses venham a executar na empresa (P. Ex. pinturas e revestimentos, aplicação de materiais, e outras atividades assemelhadas que podem não ser continuadas). Nesse caso, irão existir sempre os lapsos de descumprimento das normas. Assim, passa a ser necessária maior fiscalização por parte da empresa.

Fotografia tirada em 1979, onde um operário segurando uma torquês segura uma peça sobre as brasas para aquecê-la e poder dar-lhe a forma pretendida. Esse é um dos casos em que o trabalhador sentia-se seguro, pela experiência na realização de suas atividades que, certamente, em momentos atuais, talvez recusasse o uso de EPIs. Nesse período algumas das Normas Regulamentadoras estavam sendo implementadas, vez que os prazos para implementação não eram imediatos à publicação das mesmas.