semana de arte moderna de 22
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Semana de Arte Moderna
O QUE FOI?
A Semana de Arte Moderna aconteceu durante os dias 13, 15 e 17 de
fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo. Cada dia da Semana foi
dedicado a um tema: pintura e escultura, poesia e literatura e por fim, música.
Apesar de ser conhecida como a Semana da Arte Moderna, as exposições
aconteceram somente nesses três dias:
No dia 13, Graça Aranha proferiu a conferência "A emoção estética na
arte", na qual elogiou os trabalhos expostos, investiu contra o academicismo,
criticou a Academia Brasileira de Letras e proclamou os artistas da Semana
como personagens atuantes na "libertação da arte".
No dia 15, Oswald de Andrade leu alguns de seus poemas e Mário de
Andrade fez uma palestra intitulada "A escrava não é Isaura", onde se referia
ao "belo horrível" e evocava a necessidade do abrasileiramento da língua e da
volta ao nativismo.
Na noite do dia 17, houve a apresentação de Villa-Lobos. A Semana
prestigiou e promoveu o talento do artista, transformando-o, pela boa acolhida
do grande público, na figura máxima do período nacionalista do qual se insere
a produção musical modernista.
A Semana de 1922 representa o marco do lançamento público do
Modernismo Brasileiro, uma vez que os artistas que lá exibiam suas obras
tinham como objetivos a ruptura com as tradições acadêmicas, a atualização
das artes e da literatura brasileiras em relação aos movimentos de vanguarda
europeus e o encontro de uma linguagem autenticamente nacional. A idéia era
atualizar culturalmente o Brasil, trazendo as influências estrangeiras,
colocando-o ao lado dos países que já haviam atingido sua independência no
plano das idéias, das artes plásticas, da música e da literatura. A partir dela,
iniciou-se uma década de polêmicas, provocações, invenções, brigas estéticas,
enfim, uma farra que parecia inesgotável, levando Mário de Andrade a afirmar
que os oito anos que se seguiram à "festa" do Teatro Municipal foram "a maior
orgia intelectual que a história artística registra".
Agora que foi explicado o que foi o evento, seus objetivos, é provável
que se pense: Mas, como surgiu a idéia de montar uma Semana de Arte
Moderna? Mário de Andrade deixa bem claro, que não foi dele: "Por mim não
sei quem foi, nunca soube, só posso garantir que não fui eu". Porém, com a
ajuda de registros do livro de memórias de Di Cavalcanti chamado "Viagem de
Minha Vida - Testamento da Alvorada", ele assinala que foi ele o idealizador da
Semana de Arte Moderna, tendo como um modelo a Semana de Deauville, na
França. Assim ele sugeriu a Paulo Prado a realização de "uma semana de
escândalos literários e artísticos de meter estribos na burguesiazinha
paulistana". Analisando agora o evento, há que se dizer que o público não teve
a mesma reação frente aos diferente tipos de arte. As artes plásticas foram as
que tiveram melhor repercussão.
OS ARTISTAS
Os artistas que tiveram presença na Semana de 22, foram os poetas
Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Guilherme de
Almeida, Ribeiro Couto, Plínio Salgado e Sérgio Mil liet . Graça Aranha, Ronald
de Carvalh o e Menotti del Picchi a ocuparam-se em explicar as novas teorias. A
exposição de pintura tinha obras de Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Vicente do
Rego Monteiro, Goeldi, como também do escultor Vitor Brecheret e dos
arquitetos Antônio Garcia Moya e Georg Przyrembel.
Realizaram-se concertos musicais, destacando-se Villa-Lobos e o
pianista Guiomar Novais. O número de dança ficou a cargo de Yvonne
Daumerie.
O MOVIMENTO
O Movimento Modernista Brasileiro tomou corpo junto às várias
influências trazidas pelos artistas de outros lugares do mundo.
A primeira fase do Modernismo foi influenciada pelo Futurismo europeu
trazido por Oswald de Andrade em 1912.
Em 1913, o russo Lasar Segall realizou em São Paulo e em Campinas
as primeiras exposições de arte não acadêmicas do país, tida como a primeira
mostra de arte moderna.
No ano seguinte, Anita Malfatti, recém chegada da Alemanha, expôs
quadros Expressionistas.
Em 1917 apareceram o poema "Juca Mulato" e os livros Cinzas das
Horas e Carrilhões, respectivamente de Menotti del Picchia, Manuel Bandeira e
Murilo Araújo, anunciadores das transformações pelas quais viriam passar a
literatura brasileira.
Ainda em 1917, Anita Malfatti, que havia voltado de outra viagem,
realizou sua segunda exibição no Brasil, dessa vez de quadros Cubistas. Sobre
ela, o crítico Monteiro Lobato publicou um artigo intitulado A propósito da
exposição Malfatti, mais conhecido como Paranóia ou Mistificação no qual
atacou violentamente o trabalho da pintora. Porém, um dos efeitos da crítica foi
reunir em torno dela todos os jovens artistas de convicção Modernista.
Em 1919, a escultura de Victor Brecheret empolgava a intelectualidade
jovem de São Paulo. Ele trazia as influências européias, mas não deixava para
trás seu traço nacionalista modernista. Italiano, veio para o Brasil ainda criança.
Apesar de seus parentes o chamarem de Vittorio, Brecheret consegue sua
cidadania brasileira e a partir de então, assina suas obras com o nome de
Victor.
Como pode-se ver, a luta pela quebra de paradigmas era o principal
objetivo da Semana. A criação de uma arte culturalmente brasileira, que se
fundisse com as influências internacionais e provocasse em choque na
burguesia, como expressou anteriormente, Di Cavalcanti. Mas nessa
passagem, nota-se uma contradição: Os artistas que expuseram seus
trabalhos durante a Semana, eram burgueses o suficiente para viajarem para
muitos países, e a partir das inovações que traziam da Europa, propor uma
mudança na cultura brasileira.
O Modernismo não surgiu como um estilo passível a ser definido
formalmente, mas como uma postura frente à história, como ansiedade de
renovação artística cultural, social e política. O próprio grupo de artistas
plásticos que aderira ao movimento não deixava de refletir a pluralidade e
diversidade da vida brasileira.
Há no modernismo brasileiro uma tensão permanente entre forças
antagônicas: entre atualizar e interiorizar, entre ruptura e continuidade, entre
exportar e importar. Oswald de Andrade, internacionalista, viaja
constantemente ao exterior para atender a sua fome de novidade. Tem seus
olhos voltados para o futurismo de Marinetti, o canibalismo de Picabia, o
surrealismo de Breton. Mário de Andrade, nacionalista, escreve cartas. Prefere
sair à cata do Brasil, conhecer os mitos amazônicos e o barroco mineiro. Esta
oscilação é também visível quando confrontamos as idéias e ações dos
diferentes grupos que fundaram e ajudaram a expandir o modernismo no país.
Os mineiros queriam "construir o Brasil dentro do Brasil ou, se possível, Minas
dentro de Minas". Gilberto Freyre propunha uma "articulação inter-regional, o
Nordeste e o Brasil", enquanto a Sociedade Pró-Arte Moderna e o Clube dos
Artistas Modernos, de São Paulo, liderados respectivamente por Segall e Flávio
de Carvalho, revelam também uma vocação nitidamente internacionalista e
atualizadora.
Nas Artes Plásticas, o Modernismo não foi uma ruptura brusca
provocada pela Semana de Arte Moderna de 1922. Pelo contrário, essa
manifestação se inseriu em um longo processo de descontentamento com o
passado, cujas raízes se encontravam, inclusive,dentro da própria Academia.
Como características destas artes, pode-se citar a tendência expressionista
com temática social, com influência das experiências cubistas.
A Semana de 22 resultou de um lento processo de preparação
proveniente da ânsia de renovação formal e da motivação nacionalista que
influenciou os artistas conscientes da revolução estética em curso nos países
europeus. A Semana congregou artistas de diversas tendências e abriu
espaços para a publicação dos livros, revistas e manifestos que divulgaram as
propostas e realizações modernistas.
O evento revelou e intensificou o conflito entre o antigo e o novo,
apresentou a música atonal e bitonal, sem desenvolvimento clássico, primitiva
em seus ritmos obstinados, obrigando a revisão dos conceitos tradicionais.
O FIM
A união em prol da revolução, porém, não tardou a esfacelar-se e, entre
1922 e 1928, multiplicaram-se os grupos rivais, os manifestos antagônicos e as
inúmeras tendências que marcaram o período. Às diretrizes indefinidas da
revista Klaxon, seguiram-se o Manifesto Pau-Brasil de Oswald de Andrade e as
tendências nacionalistas lideradas por Plínio Salgado, para culminar com a
Antropofagia, também de Oswald que liquidou com as tentativas de unificar o
movimento modernista. Se a guerra ideológica fragmentou o movimento, é
possível afirmar que em seu conjunto essa fragmentação possibilitou uma
abordagem completamente diversificada da vida brasileira