sem título-1 1 2/6/2003, 16:18€¦ · apresentação sem título-1 7 2/6/2003, 16:18. 8...

648
1 Sem título-1 2/6/2003, 16:18 1

Upload: others

Post on 15-Jun-2020

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 1

    Sem título-1 2/6/2003, 16:181

  • 2

    Mesa Diretora da Assembléia Legislativado Estado do Rio Grande do Sul – 2001

    Presidente: Deputado Sérgio Zambiasi (PTB)1º Vice-Presidente: Deputado Francisco Appio (PPB)2º Vice-Presidente:Deputada Maria do Rosário (PT)1º Secretário: Deputado Alexandre Postal (PMDB)2º Secretário: Deputado João Osório (PMDB)3º Secretário: Deputado Paulo Azeredo (PDT)4º Secretário: Deputado Marco Peixoto (PPB)

    Comissão de Cidadania e Direitos HumanosPresidente: Dep. Padre Roque Grazziotin (PT)Vice-Presidente: Dep. Luciana Genro (PT)Titulares: Deputada Maria do Rosário (PT)

    Deputado Francisco Appio (PPB)Deputado Marco Peixoto (PPB)Deputado Manoel Maria (PTB)Deputado Aloísio Classmann (PTB)Deputado Elmar Schneider (PMDB)Deputada Iara Wortmann (PPS)Deputado José Ivo Sartori (PMDB)Deputado João Luiz Vargas (PDT)Deputado Vieira da Cunha (PDT)

    R585r Rio Grande do Sul. Assembléia Legislativa. Comissão de Cidadania eDireitos Humanos.

    Relatório azul: garantias e violações dos direitos humanos no RS,2001/2002. Porto Alegre : Assembléia Legislativa do Estado do RS :2002.

    648p. tabs.

    1. Direitos humanos – Rio Grande do SulI. Título

    CDU: 342.7(816.5) “2001/2002”

    Bibliotecário responsável: Carlos L. de MoraesCRB: 10/687

    Sem título-1 2/6/2003, 16:182

  • 3

    Apresentação..............................................................................07

    Introdução....................................................................................... .11

    Crianças e adolescentes..........................................................................13Rede de proteção............................................................................15Poder Executivo Estadual.................................................................16Ministério Público Estadual...............................................................27Poder Judiciário..............................................................................28Poder Legislativo Estadual................................................................29Poder Executivo Municipal................................................................33Sociedade comprometida.................................................................34Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente..................37Idade penal em debate.....................................................................38Febem: acertos e desacertos..............................................................40Sete cas os exemplares.......... ...........................................................67

    Mulheres................................................................................................71Dos direitos que se têm aos direitos que se quer.....................................73Dia Internacional da Mulher..............................................................74Reivindicações de trabalhadoras rurais...............................................75Código Civil – uma demorada construção..........................................75CCDH encaminha petição à OEA....................................................76Realidade, avanços, e conquistas......................................................83Combate à violência........................................................................86Encontro de mulheres indígenas.........................................................91Sancionada a lei contra assédio sexual...............................................91Gaúchas estimulam reflexão nacional................................................92Italianas e brasileiras trocam idéias.....................................................96Mulher e saúde................................................................................96

    Idosos..................................................................................................101Brasil é o 6º em número de idosos.....................................................103Política social para a terceira idade...................................................103Legislação dos direitos dos idosos.....................................................104Política nacional do idoso...............................................................105Estatuto do idoso...........................................................................105Prioridade na justiça.......................................................................106Conselho Estadual do Idoso............................................................107

    Índice

    Sem título-1 2/6/2003, 16:183

  • 4Direito dos idosos..........................................................................112Violência e discriminação................................................................113A atuação do Ministério Público.......................................................115Eventos de promoção do direito à saúde...........................................116

    Povos Indígenas....................................................................................117O conceito de minorias...................................................................119Território dos primeiros gaúchos.......................................................121Lutando por direitos......................................................................125Mulheres Indígenas........................................................................140Indígenas no meio urbano..............................................................144Organização dos povos indígenas...................................................147

    Povo Negro ............................................................................................151Igualdade substantiva....................................................................153A igualdade na CCDH..................................................................155Mulheres negras na CCDH.............................................................155Remanescentes de Quilombos.........................................................157Conferência Mundial.....................................................................165Denúncias recebidas......................................................................172

    Livre Orientação Sexual .......................................................................177Uma questão de mudança cultural...................................................179As marcas da discriminação...........................................................180Organização que leva à superação...................................................182Uniões homossexuais.....................................................................187Lei contra a discriminação..............................................................196Homofobia..............................................................................199Outras vitórias para homossexuais...................................................203Direitos culturais............................................................................206Declaração dos direitos sexuais........................................................208

    Pessoas Portadoras de Deficiência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .211Conceitos e preconceitos................................................................213A normalização.............................................................................215A igualdade de oportunidades.........................................................216Legislação...............................................................................216O sistema de proteção....................................................................219Direitos Humanos das PPDs............................................................228

    Saúde...................................................................................................231Uma construção cotidiana..............................................................233Saúde mental: derrubando os muros da exclusão................................234Transexualidade: mais que uma questão de gênero.............................254EUA retiram queixa contra o Brasil...................................................255Mortalidade materno-infantil...........................................................256Alerta para dengue e febre amarela..................................................259Políticas públicas de saúde..............................................................260Propaganda enganosa em cerveja....................................................266

    Sem título-1 2/6/2003, 16:184

  • 5Denúncias na CCDH....................................................................267“Saúde, um bem que se quer”.........................................................268

    Movimentos Populares ...........................................................................277CCDH em movimento...................................................................279Reforma Agrária é uma luta de todos...............................................280Eldorado do Carajás: outra novela de impunidade............................293Mundo do trabalho: é hora de resistir.................................................305Moradia é direito fundamental........................................................317Água como Direito Humano...........................................................325Transgênicos: pauta permanente......................................................329Atingidos por barragens e a crise de energia........................................334

    Assistência Social .................................................................................341O perfil da indigência no RS......................................................343O Conselho Estadual.....................................................................344Gestão estadual............................................................................347Gestão municipal..........................................................................357Gestão federal..............................................................................365

    Anos de Chumbo....................................................................................367Impunidade.............................................................................369A busca dos corpos.......................................................................372Nós não esquecemos....................................................................390Comissão do acervo.....................................................................410Os registros políticos continuam......................................................411Comissão de indenização................................................................413

    Violência Urbana ..................................................................................415Denúncias recebidas......................................................................417As estatísticas da criminalidade no Estado......................................419A sociedade se organiza................................................................432Subcomissão dos caminhoneiros desaparecidos................................436Proteção às testemunhas...............................................................439Pacotes de segurança...................................................................441

    Violência Policial ...................................................................................447Entidades contestam nomeação....................................................450O trabalho da ouvidoria................................................................450A morosidade das investigações......................................................453Questionamento ao denunciante....................................................454Encaminhados à Ouvidoria............................................................460Violência cotidiana........................................................................462Enquanto isso, em São Paulo... ......................................................465Quando a violência é contra o policial.............................................466

    Sistema Prisional ..............................................................................471Revista íntima, o fim da tortura ...............................................473Saúde Prisional ....................................................................480

    Sem título-1 2/6/2003, 16:185

  • 6Moduladas de Osório e Montenegro ..............................................492Violações de Direitos Humanos ......................................................497Trabalho prisional .......................................................................505Educação prisional .....................................................................510Avaliações no cumprimento da pena ................................................515Projeto livramento condicional .......................................................522A atuação da CCDH ...................................................................526Força tarefa deixa a PASC .............................................................530Ações cidadãs ...........................................................................530

    Agenda de Direitos Humanos.................................................................535Forum Social Mundial..................................................................538Semeando Direitos Humanos........................................................542VI Conferência Nacional................................................................545Fórum Legislativo de Direitos Humanos..........................................547Relatório de Direitos Humanos........................................................548Direitos Humanos nas cidades.........................................................549Fim do voto secreto no Legislativo....................................................556Economia popular solidária.............................................................559Direitos ambientais........................................................................559Educação de Direitos Humanos.......................................................561Grito dos excluídos.......................................................................564Campanha contra a tortura............................................................569Projeto Ronda da Cidadania..........................................................570Desigualdade e pobreza..................................................................571Massacre no Carandirú...................................................................572Pelo fim da pena de morte...............................................................573Migrações e Direitos Humanos.......................................................573Encontro fé e política.....................................................................574Cooperação em Direitos Humanos...................................................574

    Sistema de Proteção dos Direitos Humanos ...........................................575Proteção dos Direitos Humanos ......................................................579Conselho Nacional de Direitos Humanos .........................................583Luta contra a tortura no Brasil ........................................................586Comissão de Direitos Humanos renova mandatos .............................595ONU defende alimento como direito ...............................................596Tribunal Penal Internacional de Haia .............................................598Rede Nacional de Direitos Humanos ................................................599Sistema Interamericano de Proteção ..............................................599

    Anexos .................................................................................................613O que é a CCDH........................................................................615Atendimento ao público.................................................................616Audiências públicas....................................................................617Siglas.....................................................................................632Agradecimentos.......................................................................643Expediente..............................................................................647

    Sem título-1 2/6/2003, 16:186

  • 7

    Marisa Formolo Dalla Vecchia1

    "Nós, povos das Américas, mulherese homens, queremos falar alto e

    manifestar a nossa indignação, asnossas verdades, as nossas lutas e anossa utopia. Os povos do terceiro

    mundo, como nosso continente,sofrem hoje, de forma sistemática eestrutural, problemas que afetam amaioria das pessoas. Nos negam o

    direito ao trabalho e à renda, ao alimento, à terra, à moradia, à

    educação, à informação. ...Seabsolutiza o mercado e se ignoramos valores da ética da solidariedade

    mundial. Tudo tem preço. Inclusive adignidade humana. Se mundializa a

    miséria...Basta! Esse sistema demorte não pode continuar.(El Grito de las Américas"

    Fórum Social Mundial – 2002)

    O "Relatório Azul" é um dos instrumentos de confirmação dos princípiosda carta "O Grito das Américas". É mais que uma documentação de ações e dedenúncias divulgada pela Comissão de Cidadania e Direitos Humanos (CCDH)da Assembléia do Rio Grande do Sul. Além de estimular a consciência e aorganização da luta pelos Direitos Civis e Políticos, reafirma a indivisibilidade e a

    1. Fundadora do Centro de Estudos, Pesquisa e Direitos Humanos de Caxias do Sul; Assessorado Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH); Professora da Universidade Estadualdo Rio Grande do Sul (UERGS); e Diretora-Presidente da Companhia de Desenvolvimento(CODECA), de Caxias do Sul.

    Apresentação

    Sem título-1 2/6/2003, 16:187

  • 8interdependência destes com os chamados Direitos Econômicos, Sociais, Culturaise Ambientais. Ao trabalhar o conceito da indivisibilidade, a CCDH, presididapelo deputado Padre Roque Grazziotin, coloca essa premissa no patamar daluta desencadeada a partir das causas das violações dos Direitos Humanos.

    A Declaração Universal de 1948 aponta para a indivisibilidade e ainterdependência dos Direitos Humanos. No artigo 3° encontra-se a base dosDireitos Civis e Políticos – "Toda pessoa tem direito a liberdade e a segurançapessoal". No artigo 22° está a origem dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais– "A todo indivíduo estão garantidos os direitos indispensáveis a sua dignidade eao livre desenvolvimento da sua personalidade". Os direitos coletivos dos povose sua soberania também são contemplados neste tratado internacional, do qualo Brasil é um dos signatários.

    A universalização dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais não vemsendo observada pelo modelo hegemônico vigente no mundo, embora aConferência de Viena (1993)2 tenha afirmado a preponderância dos direitoseconômicos. Em seu documento final, reconhece que "para garantir liberdadepolítica e direitos civis é preciso eliminar a pobreza e a miséria", o que serápossível num projeto socialista de desenvolvimento.

    Essa compreensão de Direitos Humanos propõe outro modelo dedesenvolvimento. No capitalismo neoliberal há uma "violência surda", a violênciada estrutura. Mata sem explosões de fuzis e bombas. Mata silenciosamente peladesnutrição, pela fome, pelas epidemias. Essa estrutura, que se mantém pordecisões políticas, define à quem garantir o exercício do direito de viver comdignidade!

    Há, pois, indivisibilidade entre as diferentes categorias de direitos. Suauniversalização nunca se fará nesse projeto de capitalismo globalizado,excludente e concentrador. Nesse quadro contextual nasce o desmonte dasoberania, da autonomia das nações, dos Estados, do bem comum. As decisõesestratégicas para o desenvolvimento dos povos são tomadas fora da Nação. OFMI é o grande articulador e condutor das decisões mundiais e locais (paracada país). Por que 60% do orçamento brasileiro são usados para pagar jurosda dívida externa, ao invés de serem aplicados em políticas públicas de geraçãode trabalho e renda, saúde, saneamento e tecnologias de produção, paratransformar no Brasil a matéria -prima que sai do país e volta transformadaem produtos?

    "Se o mundo roda em torno da economia e a economia gira em torno domercado, isso significa que este, revestido de caráter idolátrico, paira acima dosdireitos das pessoas e dos recursos da terra. Decide a vida e a morte dahumanidade...Há pois uma inversão de valores. Os produtos passam a ser sujeitose as pessoas objetos!"3 Alguns dados 4 mostram que o Brasil tem uma das maiores

    2 O documento final foi aprovado por 163 países presentes à Conferência promovida pelasNações Unidas (ONU), Organização composta, majoritariamente, por países capitalistas, coma hegemonia dos Estados Unidos.

    Sem título-1 2/6/2003, 16:188

  • 9taxas de pobreza do mundo, 34%, seguido de Costa Rica (19%), México (15%),Chile (15%), Malásia (7%)... O recorte de raça/etnia também salta aos olhos.Informa, também, o IPEA, que dos 53 milhões de pobres no Brasil, 60% sãonegros, e dos 22 milhões de miseráveis, 70% são negros. Dados do IBGE 5

    descrevem a concentração urbana que é de mais de 80% da população brasileira.As implicações sociais pela falta de trabalho e renda, falta de saneamento ehabitação, criam imensos aglomerados de desempregados.

    O rosto da luta no mundo dos que não têm mais trabalho é a mesmaluta dos direitos dos animais: luta pela comida, pelo lugar de viver, de morar. Porque o governo federal não tem tratado a reforma agrária, a política agrícola, areforma tributária, a auditoria da dívida externa, a redução do pagamento dosjuros dessa dívida como alternativas para tornar digna a vida dos milhões depobres e miseráveis, investindo no processo de produção e distribuição de renda?

    "Desenvolvimento em Escala Humana, uma opção para o futuro. Estaproposta de desenvolvimento se concentra e se sustenta na satisfação dasnecessidades humanas fundamentais, na geração de níveis crescentes de auto-dependência e na articulação orgânica dos seres humanos com a natureza e atecnologia, do pessoal com o social e da sociedade civil com o Estado" 6 .

    No Brasil, o Sistema Nacional de Proteção dos Direitos Humanos 7 é umindicativo fundamental para unificar a discussão e a luta dos Direitos Econômicos,Sociais, Culturais e Ambientais e sua relação com os Direitos Civis e Políticos.Um dos grandes desafios é constituir matéria jurídica que garanta a exigibilidadedesses direitos (DESCA)8 .

    Acreditamos que uma nova premissa se abre para planejar odesenvolvimento nas políticas públicas, com a organização da sociedade civil ea luta pelo exercício dos Direitos Humanos. Montironi9, sociólogo italiano, acreditaque "localmente a existência humana, a bondade e as degenerações da vida e aqualidade do ambiente se manifestam e são vivenciadas rapidamente. É precisorestituir aos sistemas locais a função de sujeitos responsáveis pela busca dereequilíbrio da vida no local e no território. Aqui está um espaço da contradiçãopara a globalização excludente que está aí. Sabemos que não é no local que sedão as grandes decisões da agenda mundial, mas sem o local, o universal não se

    3 Frei Beto, Alternativa Pós-Capitalista, 2002.4 Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) – Programa das Nações Unidas para oDesenvolvimento (PNUD) – 1999 e 2002.5 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – Censo 2000.6 FIAN – Rede de Informações e Ações pelo Direito à Alimentação, 2000.7 Sistema Nacional de Proteção dos Direitos Humanos – Movimento Nacional dos DireitosHumanos – Brasília -2001.8 Os Direitos Ambientais estão previstos no Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Soci-ais e Culturais (PIDESC), mas não de forma tão detalhada quanto na Agenda 21, proposta naConferência Eco-92, realizada no Rio de Janeiro (1992). A partir desta, foi incorporada àlinguagem coloquial a expressão DESCA (Direitos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais).9 Montironi, G.B. – Comunidade local e economia globalizada, 2001.

    Sem título-1 2/6/2003, 16:189

  • 10concretiza".

    A segunda questão na luta pelos DESCA, em muitas cidades brasileiras eem diversos lugares do continente, é a construção de uma nova relação entre asociedade civil e o Estado. A primeira, exercendo seu poder e controlando oEstado através da democracia participativa. Esse caminho tem possibilitadoque recursos públicos se tornem fontes de geração de trabalho e renda, atravésde obras de saneamento, educação, saúde, habitação, estradas e apoio a pequenosempreendedores no campo e na cidade, associações e cooperativas. Essas novasformas de produção e as novas relações de trabalho são uma nova esperança deexercício dos direitos, fruto da radicalidade da democracia na nova função públicado Estado.

    A terceira questão é a bioética. Todos os avanços tecnológicos, em especialda engenharia genética, são questões comprometedoras da defesa da vidahumana, da natureza e da agricultura e das novas relações comerciais dessesprodutos e processos.

    Acreditamos na compreensão da indivisibilidade dos direitos àliberdade, à vida, à educação, ao trabalho e renda, à saúde. Sentimos isso nasnossas vidas, no dia-a-dia. A universalização, porém, desses direitos será possívelse continuarmos a luta pela nossa utopia, com a esperança se refazendo a cadapequena conquista coletiva. Assim, poderemos ir construindo todos os DireitosHumanos, para todas as mulheres e todos os homens, de todos os lugares.

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1810

  • 11

    1 Deputado Estadual pelo Partido dos Trabalhadores e presidente da CCDH desde março de2001. Foi vice-presidente da mesma Comissão, em 1999, quando criou a Subcomissão sobre oDesemprego, derivando desta experiência seu projeto de Frentes Emergenciais de Trabalho –transformado em Coletivos de Trabalho pelo governo estadual – e a articulação, com um grupode desempregados, para a criação do Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD) doRS. Formado em Filosofia e Teologia, foi ativista dos Direitos Humanos desde os anos daditadura militar, um dos fundadores do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) eprofessor de unidades da Febem. Consagrou-se padre em 25/02/73, atividade que exerceconcomitante ao parlamento.

    Introdução

    Pe. Roque Grazziotin 1

    Por que decidimos enfatizar a importância dos Direitos Econômicos,Sociais, Culturais e Ambientais no conjunto desta edição do "Relatório Azul",agora sob minha responsabilidade? É possível que a resposta mais imediataesteja expressa já na sua própria capa, na qual a bela aquarela do gaúcho EdgarVasques ilustra com tanta sensibilidade e singeleza o primeiro dos direitosfundamentais que todo o ser humano tem para manter-se vivo: o direito àalimentação.

    Como presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos (CCDH)da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, não poderia deixar de questionar,nesta introdução, as causas dos inúmeros problemas que costumam figurarrepetidas vezes nas edições deste "Relatório", a partir de denúncias recebidaspessoalmente por nossa assessoria técnica ou através de cartas, telegramas,correio eletrônico ou, ainda, notícias de jornal.

    Quantos desses dramas pessoais, projetados cotidianamente no coletivo,seriam passíveis de se prevenir, de se evitar, caso o Estado – como síntese daorganização da sociedade – pautasse suas ações pelo cumprimento efetivo daagenda dos Direitos Humanos?

    A legião de crianças de rua, o confinamento de adolescentes nas casasda Febem, o superlotado sistema prisional, a violência urbana e a falta deperspectiva do povo brasileiro não poderiam ser revertidos ou, mesmo, inexistentes,

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1811

  • 12se fossem, de fato, respeitados os direitos fundamentais de acesso ao trabalho, àalimentação, à terra, à educação, à saúde, à participação política, à previdência,ao lazer, a um meio ambiente saudável... enfim, a uma vida minimamentedigna?

    Utopia?, indagariam alguns. Sim, utopia e realidade, manifestada emcoro com os milhares de participantes do I Fórum Social Mundial/2001, que, apartir de Porto Alegre, provaram por meio de propostas e projetos solidáriosconcretos que "um outro mundo é possível".

    Falamos aqui, neste "Relatório Azul", de Direitos Humanos Econômicos,Sociais, Civis, Políticos, Culturais, Ambientais, direitos estes universais,interdependentes e indivisíveis, sem os quais não se constrói uma sociedadejusta e indivíduos mais felizes.

    Na esteira desses princípios, mencionamos a necessidade de condiçõespara o pleno desenvolvimento físico e mental do ser humano, favorecidas pelaeducação precoce em torno da ética e da cidadania, da livre orientação sexual,da pluralidade cultural, racial e étnica, da aceitação harmoniosa entre asdiferenças de gênero, entre outros aspectos abordados nos capítulos a seguir.Destacamos, também, conquistas resultantes da organização popular, assimcomo às decorrentes da vontade política do governo do Rio Grande do Sul emalterar a lógica perversa vigente no país.

    Essa é a nossa meta frente à CCDH, ou seja, a de levar a todos osespaços – público e privado -, através de ações concretas e de publicações comoesta, referências para se lutar pelo respeito incondicional ao indivíduo e aocoletivo. Entendemos que a observância integral dos pactos internacionais deDireitos Humanos pressupõe, necessariamente, a substituição do modeloneoliberal hegemônico, que globaliza a exploração do trabalhador, oindividualismo doentio e a violência por um modelo solidário de sociedade.

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1812

  • 13

    Crianças e Adolescentes

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1813

  • 14

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1814

  • 15

    Um dos pilares conceituais do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)é a universalidade. Todas as crianças e adolescentes são sujeitos de Direitos Humanose, devido à situação especial de desenvolvimento, são também sujeitos de direitosespecíficos, com prioridade absoluta: é a proteção integral, que inclui as medidasbásicas para realização dos Direitos Individuais, Econômicos, Sociais e Culturaisde todas as crianças e adolescentes e, também, as medidas de proteção especiale socioeducativas, a quem delas necessitar.

    O ECA está dividido em duas partes: uma trata dos Direitos Humanosde todas as crianças e adolescentes e outra trata dos deveres de cada um paraque estes direitos se realizem.

    As medidas de proteção especial são aplicadas sempre que uma criançaou adolescente tem seus direitos ameaçados ou violados pelo abuso ou omissãodo Estado, pela negligência, abandono ou abuso da família, pelo descaso ouexploração da comunidade ou em razão de sua própria conduta.

    Quando o adolescente comete ato infracional (análogo ao crime, deacordo com o Código Penal), tem direito ao devido processo legal e, se confirmadaautoria, é sujeito a medidas socioeducativas.

    Este capítulo relatará a situação das crianças e adolescentes vítimas deameaças ou violação de seus direitos e dos adolescentes autores de ato infracional.

    Em primeiro lugar, descreverá a rede de proteção e suas atividades nasdiversas esferas do poder público, no período. Após, apresentará um resumo dodebate nacional sobre as propostas de redução da idade penal. Em seguida,examinará diversas situações de violação de Direitos Humanos Individuais,Econômicos, Sociais e Culturais das crianças e adolescentes e, finalmente, relataráboas notícias em relação ao processo de implementação do ECA no Estado.

    No decorrer do capítulo, serão mencionadas as atividades e iniciativasda Comissão de Cidadania e Direitos Humanos (CCDH) da AssembléiaLegislativa do Estado do Rio Grande do Sul em relação às violações e garantiasdos Direitos Humanos das crianças e adolescentes.

    Rede de proteçãoO ECA dispõe sobre os deveres de cada um na garantia e realização dos

    Direitos Humanos das crianças e adolescentes. Trata-se de uma divisão detrabalho entre Estado (esferas federal, estadual e municipal e os poderes executivo,

    Crianças e Adolescentes

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1815

  • 16legislativo e judiciário, com a participação fundamental do Ministério Público),sociedade e família.

    A Rede de Proteção atende crianças e adolescentes que tiveram seusdireitos violados ou ameaçados, seja por omissão ou ação do Estado, família oucomunidade, ou mesmo em razão de sua própria conduta.

    Neste item, relataremos atividades do poder executivo estadual(Secretaria do Trabalho, Cidadania e Assistência Social – STCAS, PolíciaCivil, Defensoria Pública, Fundação Estadual do Bem Estar do Menor –Febem), do Ministério Público Estadual (Coordenadoria das Promotorias daInfância e da Juventude – CPIJ), poder executivo municipal (Coordenaçãode Direitos Humanos da Prefeitura de Porto Alegre – CDHC), dos Conselhosde Direitos (especialmente o Conselho Estadual dos Direitos da Criança edo Adolescente – Cedica) e da sociedade (abrigos, eventos diversos).

    Relataremos, também, situações de garantia e de violação dos DireitosHumanos Individuais, Econômicos, Sociais e Culturais das crianças eadolescentes no RS.

    Poder Executivo EstadualA Secretaria do Trabalho, Cidadania e Assistência Social (STCAS) criou,

    em agosto de 2000, a Divisão da Criança e do Adolescente:“Organizada em dez regionais, consolida o ECA no RS. Sua criação foi

    realizada em conjunto com o Cedica, que conta hoje com 353 ConselhosMunicipais, 307 Conselhos Tutelares e 220 Fundos Municipais. Todas as açõesdesenvolvidas pela Divisão da Criança e do Adolescente buscam mobilizarorganismos governamentais e não-governamentais, visando à constituição e ofortalecimento da Rede de Proteção e Garantia dos Direitos da Criança e doAdolescente, articulando novos programas e potencializando os já existentes.Compete à Divisão da Criança e do Adolescente, de maneira compartilhada earticulada, prioritariamente, as seguintes ações:- apoio ao Cedica, viabilizando suas deliberações;- implantação e implementação dos Conselhos de Direitos, Fundos Municipais e

    Conselhos Tutelares;- fortalecimento da Rede de Execução das Medidas Socioeducativas em Meio Aberto;- articulação da Rede de Atendimento e Proteção às Crianças e Adolescentes,

    especialmente de Execução das Medidas Socioeducativas em Meio Aberto;- estímulo à constituição de programas municipais destinados aos adolescentes

    em cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto;- sistematização de dados e produção de subsídios”.

    A Rede da Cidadania1 – Fundo Estadual dos Direitos da Criança e do

    1 Veja mais sobre a Rede da Cidadania no capítulo sobre direito à Assistência Social.

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1816

  • 17Adolescente – foi criada para apoiar técnica e financeiramente os municípios naimplementação da Rede de Proteção à Criança e ao Adolescente.

    “Desenvolve ações de Apoio Socioeducativo em Meio Aberto, Abrigagem,Orientação e Apoio Sócio-Familiar, Medidas Socioeducativas em Meio Aberto eMeio Fechado, Apoio a Jovens Egressos da Febem, Programas para Crianças eAdolescentes em situação de rua, Campanhas de Combate à Drogadição e aoAbuso e Violência Sexual de Crianças e Adolescentes, Implementação do ECA,através do fortalecimento dos Conselhos de Direitos e seus respectivos Fundos edos Conselhos Tutelares”.

    Diversos equipamentos são mantidos para o atendimento às crianças eadolescentes que têm seus direitos ameaçados ou violados e suas famílias. Umdos principais são os Centros Sociais, que têm como objetivo “ definir políticaspúblicas, com os demais equipamentos sociais, com a comunidade e a família,nos aspectos relacionados à educação integral do usuário, conforme o preconizadono artigo 86 do ECA. Atualmente o Estado gerencia quatro Centros Sociais (umno interior do Estado e três em Porto Alegre)”.

    Rede de abrigosQuando são esgotadas as possibilidades de residir junto à família e à

    comunidade, a criança ou o adolescente vítima é protegido pela rede deabrigagem. De acordo com o ECA, a política de atendimento deve seguir comodiretriz, entre outras, a municipalização (artigo 88, I, ECA).

    Um grande impulso ao processo de municipalização dos abrigos no RioGrande do Sul ocorreu com a separação administrativa entre a área de proteçãoespecial e a área do ato infracional da Febem.

    Os abrigos servem como retaguarda aos Conselhos Tutelares e à Justiçada Infância e da Juventude, objetivando garantir a moradia protetiva, em caráterprovisório e excepcional.

    A STCAS enviou à CCDH relatório sobre as atividades nesta área noperíodo 2000 e 2001:

    “A rede estadual de abrigos vem sendo reordenada, em termos deconcepção e base física, de modo a se adequar ao ECA. Do ponto de vistaconceitual, busca-se o pleno cumprimento do ECA, rompendo-se critérios deingresso e transferências baseadas em tipologias (e discriminações) como sexo,idade, patologias, HIV, garantindo-se, desde julho de 2000, o não desmembramentode grupos de irmãos, bem como operando-se um processo de reunião dosanteriormente separados quando do ingresso.

    Quanto à base física, há o investimento em abrigos residenciais e abrigosde médio porte com capacidade de atendimento entre 13 e 30 pessoas. Entre2000 e 2001, três abrigos institucionais (de grande porte) se redimensionaram epassaram a constituir-se de médio porte.

    Em 2000 existiam oito abrigos residenciais, 24 abrigos institucionais etrês abrigos de porte médio que atendiam 1.531 pessoas, incluindo crianças eadolescentes e adultos portadores de deficiência, sendo que a maior parte dosabrigados já vive em unidades de pequeno porte.

    Cria

    nças

    e A

    dole

    scen

    tes

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1817

  • 18Atualmente a rede estadual é composta por nove abrigos institucionais

    (seis em Porto Alegre e três no interior do Estado) e 31 residenciais (29 em PortoAlegre e dois no interior do Estado) que atende crianças, adolescentes e pessoasportadoras de deficiência. A Rede Estadual atende atualmente 865 pessoas.

    De acordo com o censo da população abrigada, realizado em 2000, nosmunicípios de Porto Alegre e Viamão, constatou-se que a maioria do ingresso dascrianças e adolescentes nos abrigos teve fundamento legal no ECA. Destacam-se,com maior percentual, o abandono – 36,4%, situações de violência 20,1%,equivalendo a 305 e 168 crianças e adolescentes, respectivamente.

    Das crianças e adolescentes que ingressaram nos abrigos semfundamentação legal, segundo o ECA, 12,4% referem-se à falta de programas eserviços da Rede Sócio-Assistencial, equivalendo a 104 crianças e adolescentes.

    Ainda quanto à abrigagem, o Departamento de Assistência Social (DAS)promoveu dois seminários estaduais, em 2001, visando a articulação e qualificaçãodas redes estadual, municipais e filantrópicas”.

    Parcerias com a UniãoMuitos programas estaduais são desenvolvidos em parceria com a União,

    a partir de projetos de âmbito nacional implementados em cada Estado. No RioGrande do Sul, foram desenvolvidos, sob a coordenação do DAS, os seguintesprogramas:

    “Serviço de Ação Continuada, Agente Jovem de Desenvolvimento Sociale Humano, e Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI). O ProgramaAgente Jovem se desenvolve com jovens de 16 a 24 anos, sendo parte direcionadoaos adolescentes em conflito com a lei e ao atendimento do jovem que cumpremedida socioeducativa em meio aberto e sua família; o PETI é priorizado nazona rural, junto às regiões produtoras de fumicultura, e na zona urbana, juntoao comércio informal e aos lixões”.

    Polícia Civil: DECAA CCDH recebeu relatório de atividades relativas a crianças e

    adolescentes no segundo semestre de 2000 e primeiro semestre de 2001. A seguir,reproduzimos partes do documento:

    “O Departamento Estadual da Criança e do Adolescente (DECA)compõe-se de um plantão centralizado, em que todos os adolescentes apreendidosem flagrante pela prática de ato infracional, no município de Porto Alegre, têmlavrados os respectivos procedimentos. Tem ainda a atribuição de registrar atosinfracionais praticados por adolescentes e ainda os delitos praticados em quecrianças e adolescentes figuram como vítimas. O DECA possui em sua estruturatrês Delegacias de Polícia: 1ª e 2ª Delegacias para o Adolescente Infrator e Delegaciapara Criança e Adolescente Vítima. Durante o período enfocado foram osseguintes quantitativos de ocorrências registradas, de inquéritos instaurados eremetidos:

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1818

  • 19 1. Número de Ocorrências registradas:

    ANO 1ª DPAI 2ª DPAI DPCAV2000 786 472 2762001 667 496 231

    Fonte: Secretaria da Justiça e da Segurança

    2. Inquéritos instaurados:

    ANO 1ª DPAI 2ª DPAI DPCAV2000 1.057 527 2712001 678 852 382

    Fonte: Secretaria da Justiça e da Segurança

    3. Inquéritos remetidos:

    ANO 1ª DPAI 2ª DPAI DPCAV2000 1.048 579 2072001 819 711 213

    Fonte: Secretaria da Justiça e da Segurança

    Das atividades paralelas mais relevantes, existe o perene Projeto de Inibiçãoà Venda de Bebidas Alcóolicas a Crianças e Adolescentes, surgido de um termode compromisso firmado entre a Coordenadoria das Promotorias da Infância eda Juventude, Brigada Militar (Comando de Policiamento da Capital), Divisão daProdução, Indústria e Comércio.

    Este Termo de Compromisso de Integração Operacional já foitransformado em bandeira da Polícia Civil, eis que delegados do interior de nossoEstado, utilizando-se do ‘know how’ do DECA, já estão implementando a mesmaatividade em suas cidades.

    Outra atividade paralela de suma importância é a inibição da explora-ção sexual de crianças e adolescentes, através da qual o DECA desenvolveutrabalhos de grande envergadura operacional, como a ‘blitz’ realizada na Gale-ria do Rosário, quando foram averiguadas e cadastradas as salas componentesdos 24 andares daquela galeria, onde tínhamos informação da ocorrência dodelito de exploração sexual.

    Agora, com a inauguração das novas instalações da Delegacia para aCriança e o Adolescente Vítimas, haverá a implementação e a incrementação dasatividades do DECA nesta importante área, na qual o crime deve ser combatidopor meio das articulações com o Ministério Público e os Conselhos Tutelares.

    Para levar aos colegas do interior do Estado conhecimentos específicospara a aplicação do ECA em Delegacias de Polícia pertencentes às regionais, oDECA mantém permanente trabalho de capacitação, visando as cidades, contan-do com o que compõe a Rede e estabelecendo acordos de esforços, tais comoMinistério Público, juízes de Direito, Casas de Passagem, e de aplicação de medi-das socioeducativas, Conselhos Tutelares e demais instituições que trabalham emáreas afins. (...) Nessas capacitações já foram visitadas as cidades de Carazinho,Santa Maria, Ijuí, Erechim, Osório, Santo Ângelo, Pelotas, Rio Grande, PassoFundo e Caxias do Sul. (...) O DECA realiza também palestras a pedido de escolas(...) e faz parte do Fórum de Articulação de Atenção ao Adolescente Autor de AtoInfracional, composto pela Corregedoria-Geral da Justiça, Defensoria Pública do

    Cria

    nças

    e A

    dole

    scen

    tes

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1819

  • 20Estado, Secretaria de Estado da Justiça e da Segurança, Secretaria de Estado doTrabalho, Cidadania e Assistência Social, Brigada Militar, Polícia Civil, Febem, Famurse Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/RS). (...) O DECA participa, também, doFórum da Justiça Instantânea, do qual participam o Juizado da Infância e da J uven-tude, a Promotoria da Infância e da Juventude, a Febem e a Defensoria Pública.Tem assento, também, no Cedica e no Conselho Municipal dos Direitos da Criançae do Adolescente (CMDCA) de Porto Alegre. Firma convênios para fins específicos,como por exemplo o convênio para inibição de comercialização do ‘loló’, realizadocom apoio da Prefeitura Municipal de Porto Alegre (...).

    Atendimento às crianças e adolescentes vítimas: serviço de psicologia,responsável pelo acolhimento e encaminhamento das vítimas do delito, o qualacompanha também os trabalhos dos comitês hospitalares e presta auxílio àsdelegacias do interior do Estado.

    Campanha Toda Criança Precisa de Segurança: projeto em parceria como Cedica, que será lançado até o final de 2001, visando especialmente prevençãoà violência sexual.

    Centro de Referência no Atendimento Infanto-Juvenil (CRAI): visa reunirnum único local psicologia, pediatria, serviço de segurança pública, conselhotutelar, peritos, serviço social etc., a fim de que as vítimas não tenham quepercorrer inúmeros locais e repetir as suas traumáticas histórias de violência adiversos profissionais”.

    A Divisão de Planejamento e Coordenação da Polícia Civil encaminhouà CCDH relatório estatístico referente à criança vítima e autora de delitos:

    Criança vítima: Ocorrências 2º Semestre – 2000 1º Semestre – 2001AbortoArt. 228 e 244 (ECA)Atent. violento pudorOutros c/ costumesDesaparecimentoEstuproEstupro com morteRoubo de veículoFurto de veículoFurto em veículosOutros furtosHomicídioLesão corporalLocalizaçãoMaus-tratosPreconceito raça e corRouboOutrasTotal

    Fonte: Secretaria da Justiça e da Segurança do Estado do RS – Órgãos da Polícia Civil

    120

    25478

    290164

    1111

    7230

    1.04345

    3002

    39798

    3.139

    117

    26585

    290164

    1702

    4447

    1.08927

    3209

    441.0533.443

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1820

  • 21Criança autora:

    Ocorrências 2º Semestre – 2000 1º Semestre – 2001AbortoArt. 228 e 244 (ECA)Atent. violento pudorOutros c/ costumesEstuproEstupro com morteDirigir s/ habilitaçãoRoubo de veículoFurto de veículoFurto em veículosOutros furtosHomicídioLesão corporalMaus-tratosPorte ilegal armaPreconceito raça e corRouboTóxico – posseTóxico – tráficoOutrasTotal

    Fonte: Secretaria da Justiça e da Segurança do Estado do RS – Órgãos da Polícia Civil

    Defensoria Pública do EstadoO Núcleo Cível da Defensoria Pública do Estado encaminhou à

    CCDH relatório de atividades referentes ao segundo semestre de 2000 eprimeiro semestre de 2001, dos Juizados da Infância e da Juventude dePorto Alegre e Região I (Área Metropolitana: comarcas de Alvorada, Barrado Ribeiro, Butiá, Cachoeir inha, Campo Bom, Canela, Canoas,Charqueadas, Dois Irmãos, Estância Velha, Esteio, General Câmara,Gramado, Gravataí, Guaíba, Igrejinha, Montenegro, Novo Hamburgo,Parobé, Portão, São Francisco de Paula, São Jerônimo, São Leopoldo, SãoSebastião do Caí, Sapiranga, Sapucaia do Sul, Taquara, Triunfo e Viamão).Desta região, ainda estão sem atendimento as comarcas de Igrejinha,Montenegro, Parobé, Sapiranga e Triunfo.

    Dos 2.502 atendimentos em Porto Alegre no segundo semestre de2000, 1.094 foram da área cível e 1.408 da área do ato infracional. Noprimeiro semestre de 2001, dos 1.965 atendimentos, 1.010 foram cíveis e955 referentes ao ato infracional.

    04

    13350

    12038

    1021

    89261

    12110

    123

    395

    00

    13620

    1421

    14117

    1480402

    150

    89328

    Cria

    nças

    e A

    dole

    scen

    tes

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1821

  • 22Juizados da Infância e da Juventude Porto Alegre

    2º Sem/2000 1º Sem/2001Atendimentos (total)CívelAto infracionalAjuizamentosContestaçõesAudiênciasGuardasTutelasAdoções

    Fonte: Defensoria Pública do Estado

    Na Região I foram atendidos 727 casos, no segundo semestre de 2000,(379 cíveis e 348 ato infracional) e 696, no primeiro semestre de 2001, (459cíveis e 237 ato infracional).

    Juizados da Infância e da Juventude Região I 2º Sem/2000 1º Sem/2001AtendimentosCívelAto InfracionalAjuizamentosContestaçõesAudiênciasGuardasTutelasAdoções

    Fonte: Defensoria Pública do Estado

    Destes dados, conclui-se que os atendimentos referentes a ambos ostipos de casos são em número similar em Porto Alegre e que, na Região I, osatendimentos cíveis são em número similar ou maior que os de ato infracional.

    O gráfico a seguir demonstra que Porto Alegre está melhor atendidaem termos de assistência judiciária gratuita para crianças e adolescentesque a região metropolitana. Enquanto a Região I mantém-se estável, comleve crescimento de casos atendidos, Porto Alegre apresenta um crescimentoa partir de março, caindo novamente no mês de junho, mas sempresignificativamente maior que os demais municípios, com exceção de fevereiro,quando ambas as regiões praticamente atendem ao mesmo número de casos,com leve vantagem para a Região I.

    2.5021.0941.408

    110179

    3.341290725

    1.9651.010

    955158106

    2.188251137

    727379348

    5188

    6113406

    20

    69645923743

    124609450928

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1822

  • 23

    Fonte: Defensoria Pública do Estado

    Comparando o ato infracional com outros tipos de casos (cíveis), conclui-se que em Porto Alegre, no segundo semestre de 2000, os atendimentos de atoinfracional foram mais estáveis que os cíveis. Estes últimos oscilaram muitomais, com pico de atendimento em agosto e queda em outubro.

    Fonte: Defensoria Pública do Estado.

    Já no primeiro semestre de 2001, ambos os tipos de casos começarama emparelhar a partir de fevereiro, subindo muito em março e voltando a cair apartir de maio.

    Cria

    nças

    e A

    dole

    scen

    tes

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1823

  • 24

    Fonte: Defensoria Pública do Estado.

    Na região metropolitana o movimento comparado é sempre mais parelho,caindo em julho de 2000, subindo a partir de agosto e voltando a cair a partir denovembro de 2000.

    No primeiro semestre de 2001, os atendimentos oscilaram em altos ebaixos, mas sempre na Região I os atos infracionais foram em número muitomenor do que os atendimentos cíveis.

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1824

  • 25

    Examinando somente os casos de proteção, observamos que em PortoAlegre, no segundo semestre de 2000, as ações de tutela são sempre em númeroinferior que as demais; as ações de guarda e adoção se alternam em quantidade.As ações de guarda, no geral, são em maior número que as demais.

    Fonte: Defensoria Pública do Estado.

    No primeiro semestre de 2001, as ações de tutela continuam a ser inferioresem número às demais; em abril, houve um pico de adoções e, de maneira geral,ocorreram mais ações de guarda que de tutela.

    Cria

    nças

    e A

    dole

    scen

    tes

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1825

  • 26

    Fonte: Defensoria Pública do Estado.

    Na região I, no segundo semestre de 2000, houve mais ações de guardae poucas de tutela, chegando a zero em julho, setembro, outubro e dezembro. Asações de adoção mantiveram-se na média entre as demais.

    Fonte: Defensoria Pública do Estado.

    No primeiro semestre de 2001, houve também menos atendimentosreferentes à tutela, mais de guarda e a adoção, novamente, manteve-se emmédia entre as demais.

    Feveiro

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1826

  • 27

    Fonte: Defensoria Pública do Estado.

    Ministério Público EstadualA CCDH recebeu relatório das Promotorias Especializadas da Infância

    e da Juventude referente ao período de julho de 2000 a outubro de 2001.Foram 265 ações ajuizadas, sendo cinco ações civis públicas. Das 144

    ações de destituição do pátrio poder, a maior parte (56) foi por negligência,abandono (11), violência sexual (dez). Uma foi por violência física e 41 poroutros motivos não especificados.

    Do total de ações de suspensão do pátrio poder (46), a maior parte foipor negligência (19), abandono (cinco), violência física (três) e violência psicológica(um). Motivos não especificados somaram sete ações.

    No período relatado, nenhuma ação de representação por irregularidadeem entidade foi registrada, embora duas sindicâncias tenham sido instauradasnesse sentido.

    Foram 199 liminares postuladas, 254 petições diversas e 2.754 expedientesinstaurados no período, sendo 1.102 de investigação prévia e 1.652 de direitoindividual.

    A CCDH recebeu, também, relatório do Núcleo do Ato Infracional,referente ao período de julho de 2000 a setembro de 2001.

    No segundo semestre de 2000, o total de representações por atoinfracional foi de 1.174, sendo 37 por homicídio ou latrocínio tentado ouconsumado. O maior motivo de representação foi o de furto e roubo tentado ouconsumado (380), seguido de porte de drogas (76), tráfico de drogas (53) e portede armas (51). Os atos infracionais relacionados com o trânsito somaram 42representações e infrações à liberdade sexual motivaram 25 representações.Motivos não especificados representam um total de 510 representações.

    No mesmo período, foram realizadas 80 remissões e 492 arquivamentos.No total, 2.673 pessoas foram atendidas, sendo 2.515 ouvidas por termo.

    Foram realizadas 2.258 audiências entre judiciais e extrajudiciais, e foram

    Cria

    nças

    e A

    dole

    scen

    tes

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1827

  • 28recebidos um total de 2.397 expedientes policiais.

    De janeiro a setembro de 2001, o total de representações foi de 1.139,sendo 45 por homicídio tentado ou consumado ou latrocínio tentado ouconsumado. O maior motivo de representação foi o furto ou roubo tentado ouconsumado (491), seguido de porte de drogas (38), tráfico de drogas (37) e portede arma (23). As infrações à liberdade sexual motivaram 26 representações e osatos infracionais relacionados com o trânsito motivaram 18 representações. Noperíodo, foram realizadas 1.581 remissões e 444 arquivamentos. No total, 4.751pessoas foram atendidas, sendo 4.505 ouvidas por termo.

    Foram realizadas 3.829 audiências entre judiciais e extrajudiciais e foramrecebidos 2.776 expedientes policiais.

    Não foi registrada nenhuma visita ou inspeção, no período, nemparticipações da Promotoria em reuniões, encontros etc., desde julho de 2000até setembro de 2001.

    Poder JudiciárioA CCDH recebeu cópia do Relatório Anual de 2000, da Corregedoria-

    Geral de Justiça, no qual constam as iniciativas e projetos relativos a diversasáreas, inclusive à infância e juventude. Destacamos, neste capítulo, o Projeto dePrevenção à Violência.

    “O Projeto é dividido em duas partes, conforme a idade de autores evítimas e tipo de infração, para uma adequada avaliação de suas causas e melhoratendimento, sempre objetivando a prevenção (...) infrações praticadas poradolescentes e aquelas praticadas contra crianças e adolescentes (...).

    O projeto inclui a área da Infância e da Juventude, através de duasatividades:1. Atendimento ao Adolescente Autor de Ato Infracional:

    O objetivo é priorizar a prevenção, combatendo a reiteração de atosinfracionais, através da realização de um trabalho integrado entre os órgãos deatendimento aos adolescentes autores de ato infracional, iniciando-se o atendimentocom a avaliação biopsicossocial, a cargo de equipe interdisciplinar que atenda nopróprio centro, prosseguindo-se com o encaminhamento imediato aocumprimento das medidas determinadas. O Projeto foi apresentado na reuniãodo ‘Compromisso de Articulação do Sistema Gaúcho de Atenção ao AdolescenteAutor de Ato Infracional’, no dia 24 de outubro de 2000, recebendo a aprovação(...).1. Atendimento às Crianças e Adolescentes Vítimas:

    O objetivo geral é prestar atendimento qualificado às crianças eadolescentes vítimas, através da realização de uma abordagem extrajudicial única,iniciando-se o atendimento com a avaliação biopsicossocial, a cargo de umaequipe de técnicos interprofissionais, que atenda no próprio centro, em ambientecompatível, com encaminhamento a tratamento para reduzir as seqüelas do crime.

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1828

  • 29Com este atendimento, evitar-se-á que a criança e o adolescente sejam duplamentevítimas, do criminoso e do sistema. O Projeto foi apresentado em eventopromovido pela CCDH e pelo Movimento pelo Fim da Violência e ExploraçãoSexual de Crianças e Adolescentes, recebendo aprovação das dezenas derepresentantes de instituições que atuam na área”.

    O relatório também apresentou um projeto de Registros de Nascimento,que objetiva diminuir o número de sub-registros.

    “O juiz José Paulo Baltazar Junior, da Justiça Federal de PrimeiraInstância, Seção Judiciária do Rio Grande do Sul, assinou, no dia 29 de junho de2001, convênio com a Febem, oportunizando experiências de trabalho educativo,através de estágio, a adolescentes que cumprem medida socioeducativa nainstituição” (Folha da Gente, nº 4).

    Poder Legislativo EstadualA CCDH instalou, em 2001, uma Subcomissão para tratar dos Direitos

    das Crianças, Adolescentes e Famílias em Situação de Vulnerabilidade Social,cuja relatora é a deputada Maria do Rosário (PT).

    “Depois de dois anos à frente da Comissão de Cidadania e DireitosHumanos (CCDH) , assumimos a 2ª Vice-presidência da Assembléia Legislativa,permanecendo como membro da CCDH, dando continuidade a nossa militânciaem Direitos Humanos, especialmente na defesa da criança e do adolescente.

    A Subcomissão dos Direitos das Crianças, Adolescentes e Famílias emSituação de Vulnerabilidade Social no Rio Grande do Sul foi instalada em 15 demarço de 2001, por nossa proposição, tendo como objetivo analisar a realidadee propor políticas públicas para o enfrentamento das violações contra crianças,adolescentes e famílias em situação de vulnerabilidade pessoal e social.

    A criação de uma Subcomissão dos Direitos das Crianças e Adolescentes,sem perder de vista a família, justificou-se pela relevância do tema, que tempreocupado e ocupado, de modo permanente, órgãos governamentais e não-governamentais, conselhos de direitos, órgãos de segurança pública e organizaçõesde atuação internacional.

    Em nosso entendimento, o artigo 227 da Constituição Federal de 1988já bastaria para justificar a criação da Subcomissão, quando o mesmo afirma: ‘édever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente,com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, aolazer, à profissionalização, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivênciafamiliar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão’.

    Outro aspecto importante, que levamos em consideração, foi o RelatórioSituação da Infância – 2001, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef),que aponta a duríssima realidade enfrentada por significativa parcela da sociedadegaúcha no trato da família, de suas crianças e adolescentes.

    Cria

    nças

    e A

    dole

    scen

    tes

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1829

  • 30Desde a primeira reunião, quando da instalação da Subcomissão, até 1º

    de novembro, foram realizadas 12 audiências públicas, em Porto Alegre, e algumasno interior do Estado, nos municípios de Canela, Veranópolis, Nova Prata, SantaMaria, Carazinho, Charqueadas, Montenegro e Torres.

    Abaixo estão relacionados os temas tratados nas reuniões da Subcomissão:Em Porto Alegre:15/03:- Assinatura da petição encaminhada à Comissão Interamericana de Direitos

    Humanos, sobre licença maternidade para mães adotantes.- Adesão ao projeto de trabalho de subcomissões pelas organizações

    governamentais e não-governamentais.- Panorama da situação de crianças, adolescentes e famílias em situação de

    vulnerabilidade no Estado.22/03:- Debate e abaixo-assinado para encaminhamento de Representação ao Ministério

    Público, pela Themis, denunciando a violação de Direitos Humanos contra asmulheres e meninas ocorrida através da comercialização e veiculação de músicasnos meios de comunicação social.

    - Programa Família Cidadã e de Garantia de Renda Mínima Familiar do governodo Estado.

    12/04:- Diagnóstico por representantes de instituições de atendimento direto.26/04:- Imputabilidade Penal.03/05:- Caso do menino Iruan Ergui Wu.10/05:- Projetos de Lei da deputada Maria do Rosário (PT): Fundo Estadual de

    Assistência Social (FEAS); Fundo Estadual para a Criança e o Adolescente(FECA).

    07/06:- Tráfico e exploração de mulheres, crianças e adolescentes no Brasil e Rio

    Grande do Sul.27/06:- Busca imediata dos desaparecidos, especialmente crianças e portadores de

    deficiência. Quadro no Estado e políticas públicas existentes.28/06:- Projeto Portal da Associação Brasileira de Magistrados e Promotores de Justiça

    da Infância e Juventude (ABMP) – Rede de Justiça e Biblioteca dos Direitosda Criança.

    16/08:- Pedofilia na Internet.13/09:- Erradicação ao trabalho infantil e proteção ao trabalho do adolescente.

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1830

  • 31Em Montenegro13/08:

    - Exploração do trabalho infanto-juvenil.

    12/04 em Santa Maria; 11/05 em Nova Prata; 12/05 em Veranópolis; 17/05em Canela; 24/05 em Carazinho e Marau; 26/05 em Rio Grande; 18/06 emCharqueadas ; 13/08 em Montenegro; 01/11 em Torres :

    Audiências públicas para diagnóstico da situação vivida pelas crianças eadolescentes do município e de políticas públicas existentes.

    Frente Parlamentar

    A Subcomissão realizou, em 29 de junho de 2001, Seminário, com oapoio do Unicef, Cedica e União dos Vereadores do Rio Grande do Sul (UVERGS),tendo como tema: ‘O Poder Legislativo na Defesa e Garantia dos Direitos dasCrianças e Adolescentes’. Neste Seminário, foram lançadas as bases para aconstituição de uma Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos das Crianças edos Adolescentes no Rio Grande do Sul. A Frente Parlamentar ficou constituídacom os seguintes princípios e compromisso:

    A Frente Parlamentar Gaúcha em defesa dos Direitos das Crianças eAdolescentes é um movimento suprapartidário, com o apoio de entidadesgovernamentais e não-governamentais, e é integrada por parlamentares quedefendem, entre outros:- mobilização permanente da sociedade gaúcha contra a violência e pela prioridade

    de atendimento às crianças. Os direitos das crianças e adolescentes, reafirmandoa luta para o fiel cumprimento do art. 227, da Constituição Federal;

    - a defesa e aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente por todas asesferas de governo;

    - a garantia de recursos financeiros no orçamento público que assegure o direitoà vida, saúde, alimentação, educação, lazer, esporte, cultura, bem como àdignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária;

    - articulação entre o Congresso Nacional, a Assembléia Legislativa e CâmarasMunicipais visando o cumprimento das legislações Federal, Estaduais eMunicipais de proteção à criança e à família.

    Os membros signatários da Frente Parlamentar assumem o compromissode:1- Empreender ações políticas efetivas que levem à garantia dos Direitos da

    Criança e do Adolescente.2- Trabalhar pela aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente em todos os

    níveis.3- Defender, no orçamento público, a prioridade de recursos para as áreas sociais,

    objetivando assegurar o direito à vida, saúde, alimentação, educação, lazer,esporte, cultura, bem como à dignidade, ao respeito, à liberdade, e àconvivência familiar e comunitária.

    Cria

    nças

    e A

    dole

    scen

    tes

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1831

  • 324- Fiscalizar a aplicação dos recursos públicos destinados à criança e ao adolescente.5- Propor e defender políticas públicas que assegurem a proteção das crianças

    que vivem em situação de risco, considerando a necessidade de programasvoltados para a família.

    6- Implementar ações que permitam dar um basta imediato à violência contra ascrianças, integrando todos os poderes para enfrentar a impunidade.

    7- Mobilizar a sociedade gaúcha pelos direitos de crianças e adolescentes e apoiarsua organização autônoma.

    8- Buscar que os Poderes Executivo, Judiciário e Legislativo – em todos os níveisde atuação – cumpram o Estatuto da Criança e do Adolescente.

    9- Articular entre a Assembléia Legislativa e as Câmaras Municipais uma ação detrabalho, visando o cumprimento das legislações estaduais e municipais.

    10- Lutar pela melhoria e expansão do atendimento e da qualidade dos serviçosoferecidos por creches e pré-escola.

    11- Propor ações legislativas que construam garantias legais de direitos à infância.12- Fortalecer em todos os níveis os Fundos Municipais, os Conselhos Municipais

    de Direitos das Crianças e Adolescentes e os Tutelares. Propor criá-los ondenão existirem, garantindo a sua autonomia.

    ‘Que todas as crianças, sem qualquer exceção, serão credoras destesdireitos, sem distinção ou discriminação por motivo de raça, cor, sexo, língua,religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza,nascimento ou qualquer outra condição quer sua ou de sua família’ (Princípio 1º– Declaração dos Direitos da Criança).

    A Frente Parlamentar Gaúcha, em defesa dos direitos das crianças eadolescentes, comprometeu-se a realizar reuniões bimestrais, já tendo realizadoduas reuniões: em 24 de agosto e 26 de outubro de 2001.

    Na primeira reunião discutiu-se o tema erradicação e exploração dotrabalho infantil, com a apresentação do filme ‘Invenção da Infância’, de LilianaSulzbach, e também foi criada uma Coordenação para a Frente Parlamentar.

    Na segunda reunião, que tinha como proposta os vereadores apresentaremrelatos de experiências positivas com crianças, adolescentes e suas famílias,também convidamos a Coordenadora do Serviço de Educação Social de Rua daFundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), para apresentar o Programade Atenção Integral à Criança e ao Adolescente em Situação de Rua, e a SecretáriaMunicipal de Esportes, Recreação e Lazer, ambas da Prefeitura Municipal dePorto Alegre.

    A Frente Parlamentar Gaúcha dos Direitos das Crianças e Adolescentesconta com adesões de parlamentares federais, estaduais e municipais e está abertaa novas adesões.

    Os parlamentares que atualmente representam a Frente Parlamentar sãodos seguintes municípios: Marau, Frederico Westphalen, Palmeira das Missões,Ijuí, Montenegro, Unistalda, Itaara, Alto Feliz, Capivari do Sul, Candiota, RioGrande, Viamão, Cachoeira do Sul, Coronel Bicaco, Pedro Osório, Tramandaí,Caseiros, Lavras do Sul, Pejuçara, Charqueadas, Erechim, Bagé, Gravataí,

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1832

  • 33Palmares do Sul, Pelotas, Porto Alegre e Santiago.

    III Jornada de Integração da Região Sul pelo fim da Violência, Tráfico eExploração Sexual de Crianças e Adolescentes

    A Subcomissão dos Direitos das Crianças, Adolescentes e Famílias emSituação de Vulnerabilidade Social no RS e o Movimento pelo Fim da Violênciae Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes realizaram a III Jornada deIntegração da Região Sul pelo Fim da Violência, Tráfico e Exploração Sexual deCrianças e Adolescentes.

    A III Jornada realizada em 27 de julho deste ano, foi a continuação da IJornada realizada em Porto Alegre, em 1997, da II Jornada realizada emFlorianópolis, em 1998, e teve como objetivos estabelecer um diagnóstico daviolência, tráfico e exploração sexual de crianças e adolescentes na Região Sul;sensibilizar profissionais de diferentes áreas e a sociedade civil para o enfrentamentoda exploração sexual de crianças e adolescentes; propor políticas públicas deatendimento às famílias de crianças e adolescentes; encaminhar propostas para oFórum Mundial de Educação; construir uma rede integrada de proteção paracrianças e adolescentes e estabelecer princípios para a construção dos PlanosEstaduais de Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-Juvenil para os Estadosda Região Sul. Estiveram presentes e apresentaram diagnósticos do Brasil na IIIJornada: Maria Lúcia Leal (Cecria), Jaqueline Leite-Chame/Bahia, Vera LuciaSuguihiro/Paraná, Carmem Salete Collete/Santa Catarina e a deputada Maria doRosário/Rio Grande do Sul. Ainda foram palestrantes a Drª Joelza e a PsicólogaMartha Narvaz.

    No ano de 2002, a Subcomissão estará apresentando um relatório detodo o trabalho e levantamento, para fins de diagnóstico, que fez entre os conselhostutelares e vereadores do Estado”.

    Poder Executivo MunicipalA Coordenação de Direitos Humanos e Cidadania (CDHC) da Prefeitura

    Municipal de Porto Alegre enviou à CCDH um relato de sua atuação na área depromoção, divulgação e defesa dos direitos das crianças e adolescentes:

    “Assessoria de Políticas Públicas para a JuventudeA condição juvenil se caracteriza por ser um processo marcado por

    transformações em todas as esferas do indivíduo, sejam elas biológicas, sociológicasou psicológicas. Muito mais que uma faixa etária delineada, a juventude é umafase na vida de construção das identidades dos indivíduos.

    No Brasil, quando se fala em políticas para a Juventude, normalmentereferem-se ao ECA, atendendo apenas a uma parcela importante deste setor.Não reconhecer a necessidade de pensarmos políticas para os jovens acima de 18anos é um equívoco, pois teríamos que considerar que estes estão contempladosna sua integralidade pelo modelo econômico e social existente.

    Cria

    nças

    e A

    dole

    scen

    tes

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1833

  • 34A construção das identidades se dá prioritariamente no processo de

    socialização dos indivíduos. É neste momento, de experimentação e conhecimento,que o jovem define as suas opções e posturas em relação ao mundo.

    A juventude e os governos – O tema juventude é algo novo para osgovernos. Na última década, este setor social começou a expressar um conjuntode demandas oriundas do processo de exclusão que recai sobre os jovens. Faltade perspectivas de emprego, saúde, cultura e educação, dentre outras, seevidenciam com muito mais intensidade, exigindo ações do poder público.

    A Assessoria da Juventude – criada junto à CDHC, em 1997, tem comoobjetivo estabelecer interlocução interna ao governo na elaboração das políticaspúblicas para a juventude, afirmar uma relação com os jovens da cidade baseadanos princípios de democracia direta e da participação nos rumos do governo eno incentivo à organização juvenil.

    A principal ação da Assessoria da Juventude no ano de 2001 foi a realizaçãoda 1ª Conferência Municipal da Juventude, que se constituiu em um novo espaçode participação, no qual os jovens estabeleceram diretrizes para políticas públicas”.

    Sociedade comprometidaAs comunidades podem e devem, de acordo com o ECA, tomar

    iniciativas de programas de proteção especial, desde que devidamente inscritasnos conselhos municipais e estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente.

    A Casa Amarela é um exemplo de êxito em programa de abrigo parameninos freqüentadores das ruas de Porto Alegre, que conta fundamentalmentecom o trabalho voluntário.

    Abrigando alegrias e dores2“Um ano de Casa Amarela da Araucária – alegrias e dores!Continuamos aprendendo muito..., e envelhecemos um pouco também,

    com certeza! A gurizada continua medonha, mas vem cumprindo a sua parte.Todos estão indo bem no colégio, estão mais organizados em casa... e maismimosos. Tudo equilibrado! Alegrias e dores. (...) Por incrível que pareça, umasemana nunca é igual à outra, pois alguém tem dentista extra ou consulta médicaextra ou tem psicólogo extra, situações novas surgem a todo instante impedindouma rotina. (...) E todas às quartas, à noite, acontece a reunião dos meninoscom a Coordenação, momento oportuno para os meninos relatarem situaçõesque acharem importantes, tais como episódios ocorridos no colégio, na capoeira,brigas entre eles, combinações de atividades e passeios, reclamações e pedidosdos mais variados. Na última reunião, chegaram já todos combinados: queremmesada, R$ 5,00 por mês! (Alguém se candidata?).

    (...) Voltando ao relato, (...) as batalhas vencidas e as batalhas perdidas

    2 Coordenação da Casa Amarela

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1834

  • 35são muitas, e seria impossível relatá-las de uma só vez. Os maiores problemasque enfrentamos estão relacionados às situações vividas por eles no passado, ànegligência da família, às violências a que foram submetidos e à falta de amor.Repetidamente esse passado vem à tona, com um, com outro, com vários aomesmo tempo. Principalmente agora que estão tendo contato com familiares.Isso está mexendo muito com eles, pois estavam com os vínculos familiaresrompidos. É obrigação do espaço de acolhimento buscar resgatar os vínculosfamiliares das crianças acolhidas. No nosso caso, isto se torna mais difícil, postoque a própria opção de rua já indica a fragilidade, quando não a inexistênciacompleta destes vínculos. A rua foi a melhor opção diante das agressões, abusose maus-tratos familiares. Estamos tendo todo o cuidado possível, a tal ponto dealguns meninos não manterem contatos com parentes que avaliamos não lhesfariam nenhum bem. Porém é importante que tentem resgatar pelo menos partedos laços familiares quando houver essa possibilidade: alguma irmã mais velhaou mesmo irmãos mais novos, pois eles precisam entender a sua história passadapara poderem resgatar a auto-estima e a auto-confiança perdidas com o abandonoe para se situarem no mundo. Neste contexto, algumas dificuldades deverão serenfrentadas agora, ou apenas adiaremos o problema. Para isso estão tendo ajudapsicológica profissional e apoio de todos nós. Deixamos muito claro para osmeninos, o tempo todo, e tem que ser assim, o quanto gostamos deles, e que sóvoltarão a conviver com algum familiar se este estiver em condições físicas epsicológicas para cuidá-los – quase todas as famílias têm prole numerosa eencontram-se em situação de miserabilidade. Poderão visitar a família ou partedela, sempre que for possível e enquanto estas visitas forem saudáveis, por interessede ambas as partes, mediante conhecimento do Conselho Tutelar e comacompanhamento dos educadores da Casa Amarela. Conversamos com todossobre isso, inclusive com os pequenos e eles entendem muito bem, têm confiançaem nós.

    Quando abrimos a Casa Amarela da Araucária, prevíamos as seguintessituações: – eles (os meninos que estavam na rua) aceitariam o acolhimento porcuriosidade, para ver o que queríamos com eles, mas duvidariam das nossasboas intenções;- começariam a entender que queríamos cuidar deles, mas não conseguiriam

    entender muito bem o porquê;- se dariam conta de que é bom ter uma casa, um lar, cama quentinha, comida

    na mesa, banho, cuidados, carinho e amor;- começariam a entender que isso é um direito deles e se dariam conta de que

    foram abandonados;- se revoltariam contra tudo (regras, principalmente) e todos;- quereriam voltar para rua e para o torpor da ‘cola’ para esquecer tudo isto e

    não precisar pensar em nada.Até aí acho que sabíamos que seria assim. A partir daí começaram as

    novidades, o que não prevíamos, e passamos a decidir no dia-a-dia o que fazerem cada uma das situações.

    Cria

    nças

    e A

    dole

    scen

    tes

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1835

  • 36Tínhamos convencionado que aceitaríamos duas evasões de cada

    menino. Quando o menino ingressava fazíamos uma ‘marcação cerrada’para impedi-lo de voltar à rua, oferecendo-lhe outras opções em troca dofascínio e da falsa liberdade da rua, seu maior vínculo ainda. Mesmo assim,sempre surgem oportunidades para uma ‘fuga’. Alguns saíram e voltaramdiversas vezes. Alguns meninos saíam para rua para que fôssemos atrásdeles. E fomos! Às vezes, o menino saía e ficava um dia na rua ou dois, esabíamos onde buscá-lo. Depois, já ficava menos, meio dia na rua, ou atémesmo saíam e telefonavam quase em seguida para voltar. Os pequenos(sete e oito anos), logo quando ingressavam ou retornavam, não deixávamossair nem para a frente da casa. Depois aplicamos isso para os mais velhostambém. O menino dizia ‘eu vou sair’, e nós ‘não, não vai sair não, porquevai voltar daqui a pouco arrependido, vai ter que agüentar a vontade decheirar aqui dentro, discutindo o problema’. As evasões da Casa se dãoinvariavelmente para ‘cheirar loló’. Todos os meninos sabem os pontos devenda, a ponto de, em 20 minutos, depois da saída, já estarem inalandoesta imundície. Disputamos nossos meninos com ordinários vendedores decola e impressiona o descaso dos órgãos responsáveis para com este tipode droga, tão maléfica e difundida. As desculpas recaem sempre na faltade tipificação da droga como agente psicoativo – já virou padrão, todos atêm na ponta da língua. E fica tudo como está. As tentativas de fuga foramrareando, pois quando saíam já não tinham intimidade com a rua e mesmopara buscar a cola já não estavam tão corajosos. Da última vez levaram umcorridão de outros guris e se ‘cagaram’ (bem feito!). Estamos no momentocom nove meninos. Perdemos um para a cola, tinha ficado um mês internadopara desintoxicação e mais 15 meio-turno no Hospital São Pedro. Agoraestá na Vilinha ao lado do Chocolatão. Temos esperança de ainda recuperá-lo.

    Bom, pessoal, acho que este relato era necessário. Investimos eestamos investindo tudo para a recuperação desses nove meninos. Não éfácil, mas com certeza eles serão cidadãos legais. Esse trabalho é importantee deve ser ampliado. Esperamos do Poder Público políticas públicas dedistribuição de rendas, investimentos na área social e apoio na divulgaçãodas entidades sérias que realizam este trabalho com qualidade para que possamampliá-lo; exigimos também a responsabilização de pais negligentes eagressores; das empresas esperamos que o tal do discurso da responsabilidadesocial se transforme em apoio financeiro, mais do que em propaganda; dasociedade esperamos coerência, pois ao exigir o justo direito da segurança,deve saber que ela não virá simplesmente com policiamento e grades noscondomínios. Nossas crianças devem ser cuidadas. Melhor que seja porsolidariedade, não por medo de perder os dedos. Afinal, todos dizemos quequeremos um mundo melhor! Em tempos de guerras, a Casa Amarela daAraucária acolhe nove meninos e gera trabalho e renda para oito adultos.Um mundo de paz é possível. Obrigada a todos”.

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1836

  • 37

    Conselho Estadual dos Direitosda Criança e do Adolescente

    O Cedica definiu como objetivos para o período 2000/2001:1. “Qualificar os canais de interlocução com o Estado e com a sociedade

    em geral no campo da infância e juventude.2. Qualificar a presença e a atuação do Cedica.3. Conhecer a realidade da criança e do adolescente para subsidiar a

    formulação das políticas e o desenvolvimento de ações neste campo”.

    Prêmio Direitos da Criança e do Adolescente“Instituído pelo Cedica, é anualmente concedido a pessoas físicas ou

    jurídicas que merecem destaque no reconhecimento, na promoção e na defesados direitos da criança e do adolescente, como sujeitos especiais de direitosuniversalmente reconhecidos, provenientes de sua condição peculiar de pessoasem desenvolvimento e que devem ser assegurados pela família, Estado e sociedade.O Departamento de Cidadania da STCAS, através da Divisão da Criança e doAdolescente, apoiou este evento. A entrega do prêmio ocorreu em 13 de julhode 2001, em homenagem aos 11 anos do ECA, sendo premiadas as seguintespessoas e instituições:1ª Categoria: Promoção da Cidadania da Criança e do Adolescente:Prêmio: Associação Beneficente em Prol da Infância e da Adolescência (ABINJUV),

    de Camaquã.Menção Honrosa: Sociedade Vicente Pallotti – Patronato Agrícola Antônio Alves

    Ramos, de Santa Maria; Irmã Vilva Filipini, de Porto Alegre; Centro Municipalde Apoio Educacional Mathilde Fayad, de Bagé.

    2ª Categoria: Divulgação dos Direitos da Criança e do Adolescente:Prêmio: Comissão de Segurança nas Escolas (COMSESC), de Passo Fundo.Menção Honrosa: Centro de Apoio a Meninas e Meninos (CEAMEM), de Novo

    Hamburgo; Usina Comunicação e Marketing Ltda., de Santa Maria; LuciaraRobe da Silveira Pereira, de Bagé.

    3ª Categoria: Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente:Prêmio: Escola Municipal de Ensino Fundamental Esperança – Escola Aberta, de

    Montenegro.Menção Honrosa: Tânia Maria Marques de Vasconcellos, de Pelotas; Fundação

    Movimento Assistencial de Pelotas – Projeto Serviço de Educação para oTrabalho, de Pelotas; Universidade de Santa Cruz do Sul.

    4ª Categoria: In Memorian:Prêmio: Luciana Lealdina Araújo, de Bagé.Menção Honrosa: Siloé Rocha Bordignon, de Passo Fundo; Maria Izabel Pereira

    Satt Alam, de Pelotas; Odith Móglia, de Bagé”.

    Cria

    nças

    e A

    dole

    scen

    tes

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1837

  • 38

    Idade penal em debateDesde 1993 são propostas emendas constitucionais (PEC) para reduzir

    a idade mínima para a imputabilidade penal.Atualmente, pelo menos 18 propostas tramitam no Congresso Nacional,

    a maioria apensada à PEC nº 171/93, que altera a redação do artigo 228 daConstituição Federal, de autoria do deputado Benedito Domingos (PPB/DF) eoutros. Na Comissão de Constituição e Justiça, a relatoria da PEC nº 171 está acargo do deputado Inaldo Leitão (PSDB/PB).

    As propostas vão desde a redução da idade para 17, 16, 14, 12 e até 11anos de idade. Há uma proposta que libera para fixar em lei a idade mínima,sendo a criança, em cada caso, avaliada em seu discernimento por junta deespecialistas.

    Também figura uma proposta, de redução da idade penal para 11 anos,na PEC que trata da reformulação da segurança pública no país, apresentadapelo deputado Alberto Fraga (PMDB/DF). Ele defende que, a partir desta idade,a criança seja avaliada por especialistas e, se for considerado que sabia o queestava fazendo, responderá normalmente pelo crime, com penas idênticas àsdos adultos, apenas cumpridas em unidades especiais.

    No contraponto, está a proposta do deputado federal Marcos Rolim(PT/RS), que indica o aumento da idade para imputabilidade penal para 21anos.

    Todos os Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente (nacional,estaduais e municipais) e os Conselhos Tutelares, bem como os Fóruns de Entidadesde Atendimento e Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente – FórumDCA – são contrários a qualquer proposta de redução da idade penal. Sãounânimes em afirmar a hipocrisia e a ineficácia de encaminhar as crianças eadolescentes autores de atos infracionais para o sistema penitenciário adulto.

    Todos os defensores da redução da idade penal apóiam sua idéia emdados estatísticos que apontam a responsabilidade dos adolescentes pelo aumentoda violência no país. Entretanto, os números oficiais demonstram que 90% doscrimes cometidos no Brasil são de responsabilidade dos adultos.

    A Frente Parlamentar pela Criança e pelo Adolescente, no Congresso,lidera a luta pela derrota de todas estas propostas. Para esses deputados esenadores, assim como para a maioria dos especialistas, a principal forma deenfrentar a violência não é fixar idade para punição, mas sim implementarplenamente o Estatuto da Criança e do Adolescente.

    “O menor índice de reincidência em delitos de adolescentes no Estadoestá em Pelotas. Apenas 12% dos jovens infratores, monitorados pela equipetécnica do Juizado da Infância e da Adolescência do município, reincidem nadelinqüência. A explicação não está em estratégias diferenciadas, mas no simplescumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA ” (Zero Hora,27/05/01, p. 44).

    Sem título-1 2/6/2003, 16:1838

  • 39“Durante o Fórum Social Mundial, realizado em Porto Alegre, em janeiro

    de 2001, foi promovida pela Febem/RS, pelo Cedica e pelo Conselho Federal dePsicologia oficina ‘Violência, exclusão social e ato infracional’. Na ocasião, forampontuadas pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo(NEV/USP) as grandes questões éticas que deveriam ser enfrentadas, em vez daidade penal: o significado do conceito de ‘reintegração, à qual sociedade reintegrar?’,e ‘como fazer com que a liberdade flua de trás das grades ’” (Correio do Povo,30/01/01, p. 7).

    Na mesma ocasião, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e doAdolescente (Conanda) lançou uma Campanha Nacional contra a redução daidade penal, com apoio de diversas entidades, esperando reunir assinaturas depelo menos 5% do eleitorado brasileiro contra as propostas legislativas.

    “No RS, a União da Juventude Socialista (UJS) iniciou atividades nosentido de conscientizar os jovens nas escolas públicas e privadas do Estadocontra a redução da idade penal. De acordo com esta entidade, a medidaaproximaria os jovens da estrutura criminosa que impera no sistema prisionaladulto” (Correio do Povo, 10/03/01, p.15).

    “A Associação de Apoio à Criança e ao Adolescente (Amencar) lançou aCampanha ‘Diga Não à Redução da Idade Penal’ em todo o país, com o apoio daAssociação Brasileira de Magistrados e Promotores de Justiça da Infância e daJuventude, distribuindo 5 mil cartazes no país ” (Jornal do Comércio, 09/04/01).

    Diversos deputados estaduais gaúchos e vereadores de vários municípiostambém se manifestaram contrários às propostas de redução da idade penaldurante o ano de 2001.

    O Cedica liderou a iniciativa de criação de um Comitê Gaúcho Contraa Redução da Idade Penal, com o objetivo de pressionar a Comissão deConstituição e Justiça, em Brasília, para evitar a aprovação da PEC 171,mobilizando a cidadania gaúcha para a defesa dos direitos das crianças e dosadolescentes garantidos na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e doAdolescente. A CCDH integra este Comitê, que foi lançado oficialmente naAssembléia Legislativa em 21 de maio de 20