sem brilho

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Igrejas Sem Brilho Por: Emilio Conde Editora: CPAD Revisado e Digitalizado por: Dimas Silva Digitalizado exclusivamente para:

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porque algumas igrejas morrem

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  • Igrejas Sem Brilho Por: Emilio Conde

    Editora: CPAD

    Revisado e Digitalizado por: Dimas Silva

    Digitalizado exclusivamente para:

  • 2

    ndice

    Prefcio................................................................. 03

    Uma palavra ao leitor........................................... 04

    1. Brilho da igreja primitiva................................. 05

    2. O que Deus espera da Igreja............................. 07

    3. Assim ser o seu brilho.................................... 09

    4. Igrejas e colmias............................................. 11

    5. Luzes sem brilho.............................................. 13

    6. Prximo ou longe?........................................... 15

    7. Sonolncia espiritual........................................ 17

    8. Idolatria dos sermes....................................... 18

    9. guas de outras cisternas................................ 20

    10. Um culto diferente......................................... 22

    11. Prisioneiros da teologia tradicionalista.......... 24

    12. Relatrio dos anjos......................................... 26

    13. Tochas profticas........................................... 28

  • 3

    Prefcio

    Na pequena ilha de Faros, no Egito, Ptolomeu Philadelfo mandou construir uma

    imponente e majestosa torre de alvssimo mrmore, com 35 metros de altura. No cimo do

    monumento foram instalados potentes faris a projetar luz abundante a grande distncia, para

    orientar os navegantes que por ali passassem.

    Esse monumento, dada a sua grandeza e riqueza, passou a ser conhecido por Farol de

    Alexandria. De fato, para o tempo em que foi construdo, era uma obra que s o arrojo poderia

    conceber e executar, e, por isso mesmo, foi considerada como uma das sete maravilhas do

    mundo de ento.

    Qualquer pessoa que vivesse naquela poca, ao contemplar a solidez da construo do

    notvel monumento, concluiria que estava diante duma obra de eterna durao. Entretanto, um

    terremoto, no ano de 1302, destruiu a maravilha que parecia desafiar a ao dos sculos. A

    catstrofe teve como resultado a extino da luz do farol mais famoso da terra. Hoje ningum

    mais o menciona, e apenas uns poucos lhe conhecem a histria.

    O fato aludido serve para demonstrar quo frgeis so as obras do homem, mesmo as

    consideradas indestrutveis e maravilhosas; elas no suportam um movimento maior da

    natureza; ante a manifestao de um fenmeno, tudo se altera e deixa de brilhar. Assim

    aconteceu com o Farol de Alexandria, assim acontece e acontecer a quantas obras o homem

    construir, ou onde intervier indevidamente.

    A igreja apostlica, no primeiro sculo de nossa era, foi um monumento de luz e

    grandeza entre as naes. Aqueles que assistiram organizao e florescimento da igreja dos

    primeiros dias, certamente julgaram definitivamente vitorioso o movimento que se erguia e

    agigantava.

    Em verdade, a Igreja de Cristo um organismo que jamais ser vencido. Entretanto,

    ela tem sido prejudicada e impedida de brilhar entre as naes, por causa da interveno

    humana, que lhe modifica a estrutura e o funcionamento, substituindo as peas mestras, que

    Deus mesmo colocou, por outras que os homens imaginaram.

    Como resultado, o que se observa nos dias presentes a falta de vida e a ausncia de

    brilho nas igrejas. Todos so unnimes em reconhecer que a igreja atual no o grande e

    poderoso organismo que projetou seu fulgor at os confins da terra.

    Todos os que possuem alguma parcela de responsabilidade na obra de Deus esto

    convictos de que a igreja de nossos dias no o luzeiro dos dias apostlicos, e que algo est

    faltando para o seu perfeito funcionamento. A igreja possui o mesmo nome de crist, mas no

    tem a mesma vida; entretanto, a vida mais necessria que o nome.

    O que se v nas pginas deste livro o contraste notvel entre a igreja florescente dos

    dias apostlicos e as igrejas sem brilho dos dias presentes. Desse confronto, pode surgir o

    desejo de voltar a praticar os mtodos usados na igreja primitiva, e, conseqentemente, receber

    a mesma vida e o mesmo fulgor.

  • 4

    Uma palavra ao leitor

    Atendendo a que o ttulo deste livro: "Igrejas sem Brilho", associa logo a idia

    pluralidade de igrejas, damos aqui uma palavra de esclarecimento: A Igreja de Cristo,

    composta de todos aqueles que foram salvos pela graa, una, indivisvel. A Igreja de Cristo

    um organismo perfeito e est edificada sobre a Rocha dos Sculos - Cristo. A Igreja rene as

    multides de salvos de todas as naes que formaro a esposa do Cordeiro. Ela, claro, a

    Igreja de todos os sculos, cujo fulgor aumenta como a luz da aurora at alcanar o brilho

    mais claro que o sol do meio-dia. Essa no a igreja sem luz e sem brilho de que falamos, nos

    vrios captulos deste livro, pois Igreja jamais faltou o fulgor da graa. O termo igreja, que

    empregamos aqui, corresponde ao que comumente conhecemos por igreja local, congregao,

    comunidade, enfim, ao ajuntamento de pessoas que so membros da igreja, no lugar em que

    vivem.

    Considerando que os leitores esto esclarecidos quanto d significao do termo

    "igreja", podemos ento fazer uso dessa palavra para indicar a igreja local, ou comunidade

    (inicial minscula).

    Se o assunto do livro tratasse da origem, funo, misso histrica e dos mltiplos

    aspectos da Igreja, ento a definio seria mais ampla, pois a Igreja de Cristo entra por

    horizontes insondveis para o conhecimento humano. Porm, tratando-se de um tema que

    comum a todos os cristos, apresentado sem particularizar esta ou aquela igreja, este ou

    aquele ramo do cristianismo, este ou aquele povo.

    Os conceitos aqui emitidos aplicam-se com justeza d igreja, d comunidade e ao in-

    divduo. Em alguns captulos desta obra, o leitor encontrar certos comentrios um tanto acres

    teologia, e, por vezes, da sabedoria humana, ambas mal aplicadas na igreja.

    Isso no quer dizer que sejamos inimigos sistemticos dessas cincias. Pelo contrrio,

    favorecemos quanto estiver em ns a educao religiosa ou secular. A educao necessria

    vida e ao progresso do homem, desde que haja equilbrio na aplicao.

    O que temos em vista, ao comentar a matria, combater o abuso e a inverso que se

    faz nesse sentido. Na igreja, a grande autoridade o Esprito Santo, porm quando os telogos

    e os sbios nela se instalam, o Esprito nada mais tem a fazer, porque os "poderosos" e os

    "infalveis" comearam a mandar, a impor, a ditar medidas e a dar ordens. O que sucede,

    ento, o afastamento das foras espirituais e o florescimento de mais um sistema religioso,

    frio como tantos outros.

    A prova das nossas afirmaes o testemunho da histria. Jamais a teologia ou o

    intelectualismo contriburam para qualquer despertamento ou avivamento espiritual, mas tm

    contribudo para o arrefecimento de quase todos os movimentos. Temos observado que os

    despertamentos surgem espontaneamente, quando as comunidades se entregam orao.

    Desenvolvem-se maravilhosamente, sem a interveno de auxlio humano. Porm, aps alguns

    anos, quando os "grandes" comeam a introduzir inovaes ou interpretaes a seu modo, os

    despertamentos desaparecem: fica somente o formalismo.

    contra a imposio e a ditadura da falsa cincia e da mal-aplicada teologia na igreja

    que nos insurgimos. A sabedoria e a teologia podem existir e ser teis desde que no passem

    dos limites traados pelo bom senso. Na igreja, a primazia e a direo suprema pertencem ao

    Esprito do Senhor. Usurpar esses poder es ato ilegal e qualquer cincia que aja ilegalmente,

    em vez de ajudar, torna-se prejudicial. Combater ilegalidade e inverso de ordens, no ser

    derrotista, desejar cada coisa em seu lugar. isso o que desejamos.

  • 5

    1

    Brilho da igreja primitiva

    Se confrontarmos os fatores que iluminavam e davam projeo igreja primitiva com a

    mesma classificao de fatores de nossos dias, descobriremos a causa predominante do brilho

    inconfundvel da igreja dos primeiros dias do cristianismo.

    Na igreja primitiva, os cristos eram cuidadosamente instrudos acerca do caminho, em

    contraste com o abandono em que vivem os neo-convertidos nas igrejas de nosso tempo.

    Naqueles dias, os nefitos aprendiam como dar razo de sua f; um prncipe ou um

    nobre no conhecia melhor a doutrina crist do que o homem do povo ou o martimo que se

    convertera numa de suas viagens em um porto qualquer. O conhecimento de uns era o

    conhecimento de todos.

    Na igreja primitiva, a admisso como membro era mais difcil do que hoje: o candidato

    devia ser realmente convertido e tinha de demonstrar seu desejo de pertencer igreja, atravs de

    uma srie de fatos que faziam recuar os medrosos e todos os incapazes de fazerem brilhar a luz

    de Cristo. A admisso era precedida de exames que exigiam renncia vida passada: requeriam

    provas de que a nova vida era vivida no Esprito de Cristo. Enquanto o pretendente no

    estivesse desligado dos laos que o prendiam ao mundo e seus aliados, quer dizer, ao Diabo e

    carne, no estava apto para o Reino: sua luz no honraria a igreja, no podia ser membro do

    corpo de Cristo.

    Na igreja primitiva o batismo nas guas s era concedido queles que o mundo

    considerava "mortos" para si, por terem sido achados por Cristo, e iluminados pela graa;

    enquanto o candidato ao batismo estivesse "vivo" para os homens, no conseguiria descer s

    guas. O batismo era o testemunho pblico de renncia e morte ao pecado e significava o desejo

    de viver em novidade de vida.

    Qualquer que fosse batizado, conhecia o significado desse ato, pois antes de o realizar,

    passara pela experincia do novo nascimento; estava pronto a abdicar todas as vantagens, por

    amor a Cristo; estava disposto a brilhar por amor ao Evangelho.

    Na igreja primitiva a admisso de obreiros no era obra de homens nem da vontade

    humana. O escolhido era apontado por Deus. Se algum se apresentasse igreja, a fim de ser

    eleito para algum cargo, certamente seria reprovado, seno houvesse provas de ter sido chamado

    pelo Esprito Santo (At 13.1).

    Quando olhamos para o passado e deparamos com esse claro inextinguvel que foi o

    testemunho da Igreja de Cristo, sentimos desejo de clamar, clamar, clamar at conseguir

    despertar as igrejas de nossos dias e dizer-lhes que voltem a viver nos passos de Jesus, que

    voltem a buscar o brilho e o testemunho inconfundvel de povo adquirido.

    Entre outros motivos que congregavam os cristos da igreja primitiva, um havia que

    exercia grande influncia na vida da comunidade: eles reuniam-se com o fim de partirem o po,

    na celebrao da Ceia do Senhor. Era esse um ato de alta reverncia e um motivo de amor

    fraternal que envolvia a esperana da volta de Cristo. Na celebrao da Ceia, no faltava a

    exortao mtua, em que era mencionada a vinda de Jesus. A promessa dos anjos, quando Jesus

    subiu ao Cu, de que Ele voltaria para os seus, era tato recente: era um elo de esperana que

    unia todos os coraes.

    Uma igreja cujo alvo tenha uma definio e um motivo to elevado como o propsito

    de honrar a Deus, uma igreja cujo brilho os inimigos no conseguem apagar, porque o

    testemunho da f no se extingue com calnias ou perseguies.

    A igreja existiu e viveu nos dias distantes do primeiro sculo, porque a vida social de

    ento reclamava esse organismo vivo, para manifestar sua gratido a Deus e ao mesmo tempo

    receber o Po do Cu; seus membros, como elementos vivos, requeriam ambiente fraterno no

    qual pudessem cultivar a comunho uns com os outros e participar da mesma revelao divina.

    A igreja era o lugar desejado pela alma sequiosa; ali podiam sentir com toda a in-

    tensidade a proclamao da revelao divina, e dos assuntos concernentes salvao; ali a alma

    recebia o conforto e a inspirao das verdades eternas reveladas na Palavra de Deus.

  • 6

    Quem dava relevo e brilho igreja no era a inteligncia ou a cultura dos homens que

    Deus usava para anunciarem suas verdades; a capacidade intelectual desses homens era quase

    nula; suas palavras no tinham o verbo fascinante dos oradores gregos. O fulgor da igreja

    brotava das verdades recebidas de Deus e fielmente anunciadas aos homens, como sendo obra

    do Cu, e no trabalho humano. A nica luz que brilhava na igreja era a luz do Esprito Santo,

    porque o combustvel que ardia era to-somente a revelao da graa a orientar todas as

    vontades.

    Em nossos dias h maior nmero de igrejas do que nos dias dos apstolos; h igrejas

    maiores, templos mais vistosos e mais amplos. Entretanto, a grande questo saber se h, hoje,

    igrejas com o mesmo reflexo da verdade e da revelao de Deus, como havia ento.

    J demonstramos qual era o brilho da igreja primitiva; a luz que lhe deu tanto fulgor a

    mesma luz prometida Igreja e aos cristos de todas as idades. Se as igrejas e as comunidades

    crists de nossos dias vibrarem dos mesmos desejos e sentimentos que operavam na igreja e nos

    coraes dos santos de ento, lgico que o mesmo claro de f despertar os homens do sculo

    vinte a aceitarem a salvao.

    Se as igrejas, hoje, orarem com o mesmo fervor do Pentecoste, a mesma revelao que

    atraiu as multides a ouvirem a mensagem do Evangelho, atrair tambm os famintos espirituais

    que vagueiam sem rumo. .

    Se a igreja e os cristos do tempo presente aceitam o mesmo nome que distinguiu a

    igreja e os cristos primitivos, claro que esto na obrigao de crer nas mesmas verdades,

    observar os mesmos princpios e deixar que a mesma luz as ilumine e lhes d vida.

    O brilho da igreja primitiva pode e deve ser a luz das igrejas atuais.

  • 7

    2

    O que Deus espera da Igreja

    A Igreja de Cristo, atravs de seus membros, que compem o corpo do Senhor, tm

    diante de si a responsabilidade de um papel relevante a desempenhar na sociedade e na histria

    do mundo. No h organismo na terra do qual Deus espere tanto, como da Igreja, porque

    tambm no existe entidade no mundo que tanto haja recebido de Deus.

    O Senhor entregou, por emprstimo, Igreja o capital mais elevado que se pode

    calcular. Esse capital representa os talentos: a f, o testemunho e a graa. Do ponto de vista

    humano, esses valores esto alm de qualquer clculo, to elevado o seu preo. Esse capital

    est debitado conta da igreja local e de seus membros, na base do grau de conhecimento e

    revelao da verdade que cada um recebeu.

    A contabilidade infalvel do Cu credita em conta corrente todos os movimentos feitos

    com o capital que Deus emprestou, anotando todos os dbitos e todos os crditos, inclusive os

    juros. No dia do acerto de contas, aparecero todas as transaes. Que espera Deus de cada

    igreja? Espera que empregue de tal forma o capital que lhe foi entregue que, ao se fazer o acerto

    de contas, esse capital seja devolvido com juros elevados.

    Os favores que Deus concedeu igreja so de tal ordem, as promessas so to reais e a

    proteo to eficiente, que nem mesmo as portas do Inferno prevalecero contra ela.

    No foi para rastejar na negligncia que Cristo comissionou a igreja e os cristos; uns e

    outros devem destacar-se como as montanhas cujos picos se erguem majestosos no conjunto da

    sinfonia da natureza, alheios pequenez dos acidentes que tentam enfeiar e obscurecer o

    trabalho do Criador.

    Na ordem moral e espiritual, Deus espera que a igreja seja um luzeiro de primeira

    grandeza no contexto da vida. A igreja deve absorver de tal modo a graa revelada, que, ao

    receber os raios do Sol da Justia, nela resplandea toda a beleza de um poente matizado de

    ouro, beijado pelo sol, no ocaso.

    Deus espera que da igreja se desprendam as fragrncias vivas do amor e da santidade,

    tal como das flores se esparze o odor nas asas da brisa.

    A igreja deve ser um caudal de vibrao e entusiasmo espiritual manifesto nas suas

    atividades evangelizadoras. Na igreja no deve faltar o fator altamente poderoso que impulsiona

    para o xito todos os empreendimentos; no deve faltar esse fator poderoso que forma o quadro

    annimo dos homens e mulheres de orao. Deus espera encontrar no crepsculo sagrado do

    silncio, onde tudo convida a subir para o Cu, os heris que se consagraram orao por todos

    os trabalhos da igreja, e cuja identidade e atividade permanecem em secreto, pois a misso de

    orar pelos obreiros, pelas almas e pela vitria da igreja to sublime, que no deve ser

    interrompida pelos movimentos comuns. Os intercessores so o exrcito que mantm acesa a

    chama da f; alimentam, com as oraes, o fogo do altar que no deve extinguir-se de dia nem

    de noite. Se faltar igreja esse exrcito de intercessores, os inimigos prevalecero e imporo

    derrotas.

    Assim aconteceu com o povo de Israel: Enquanto os braos de Moiss eram sustentados

    no ar por Abrao e Hur, o povo avanava e derrotava os inimigos. Essa lio muito sugestiva

    para a igreja, pois se os homens e mulheres exercerem o ministrio da orao em secreto, Deus

    far proezas e a igreja florescer como a palmeira, e brilhar como o sol.

    Essas e outras coisas Deus espera da igreja, mas que se faam num esprito voluntrio,

    sem suspirar, sem tocar a trombeta para que todos o saibam, e sem esperar que o Senhor permita

    uma perseguio, para que todos se dediquem orao.

    Deus espera que a igreja cumpra suas finalidades dentro do esprito voluntrio de amor:

    no deve ser como a pedra, que para dar uma lasca, para ser til, tem de ser martelada, pois s

    assim se obtm dela algo de til.

    A igreja est no mundo para brilhar, para mostrar as virtudes de Cristo. Deus no espera

    que a igreja faa menos que brilhar por Cristo. A igreja deve ser como um favo de mel que, ao

    ser suspenso ou colocado num prato, voluntariamente, sem esforo algum, deixa correr o

  • 8

    precioso nctar para alegrar o corao e dar prazer ao paladar.

    - Entretanto, estaro as igrejas ou os cristos de nossos dias na medida de graa o nvel

    de f que Deus espera que haja cada um? Se h responsabilidade, h tambm uma resposta. -

    Que responderemos?

  • 9

    3

    Assim ser o seu brilho

    A vida, a influncia, o testemunho e o brilho da igreja sero poderosos ou frgeis, de

    acordo com as doutrinas que ela ensina e vive, tanto nas suas relaes externas como na vida

    ntima com seus membros.

    A igreja que no estiver apoiada numa fora superior fora de organizaes, planos,

    programas, sabedoria e dinheiro, ser uma igreja frgil aos olhos de Deus; esses poderes que

    enumeramos, apenas do brilho superficial e, quando entram a funcionar, mencionam seus

    prprios problemas, em lugar de colocarem em primeiro plano a salvao dos pecadores. Igrejas

    h muitas; porm as igrejas que falam mais de Cristo do que de si prprias, no so muito

    numerosas.

    Quando acontece a igreja ou os seus membros enveredarem pelo caminho da "apologia

    prpria", mau sinal: esse estado significa perigo imediato e determina a extino da pouca luz

    que ainda resta.

    O problema primordial, o ponto vital que resolve todas as dificuldades e determina o

    florescimento da igreja, a salvao dos pecadores; se a igreja tiver a mensagem poderosa do

    Evangelho, que atraia os homens para serem salvos e transformados, todos os seus demais

    problemas sero automaticamente solucionados.

    Tanto no livro de Atos dos Apstolos como nos demais livros do Novo Testamento, a

    doutrina apostlica que d toda a autoridade ao Esprito Santo, e condena a intromisso do

    elemento humano onde s a graa de Deus deve operar, persistentemente pregada com grande

    clareza. Ali h cristianismo: no h religio. Cristianismo sem poder, sem inspirao, sem

    dependncia de Deus, sem milagres e sem rendio completa, no cristianismo:

    simplesmente religio, e religio no luz para uma igreja de Deus!

    A igreja que possui a Bblia e no descobre os recursos espirituais que Deus pe sua

    disposio: os mesmos recursos e os mesmos dons sobrenaturais que iluminaram a vida dos

    santos primitivos, no cumprir sua misso de ser luz entre os gentios.

    Se as igrejas e os cristos de nossos dias adotarem doutrinas e experincias estranhas

    aos princpios do Novo Testamento, claro que no podem receber o brilho da revelao que

    engrandeceu a igreja crist na idade apostlica.

    A lei natural esta: Se fizermos tudo segundo o modelo, a glria de Deus encher o

    templo e a luz de Cristo ser o brilho da igreja. Esta ser a sua prpria luz.

    O que est em evidncia hoje em dia nas igrejas a doena de mandar e governar: todos

    querem possuir autoridade, quando a necessidade maior possuir o poder de Deus. Quanto

    maior for o domnio humano na igreja, tanto menor ser a autoridade de Deus, isto , tanto

    menor ser o poder do Esprito Santo, e, conseqentemente, mais fraca ser a luz que a igreja ir-

    radia. Quanto mais forte se mostrar a organizao eclesistica, mais dbil ser o poder do Alto a

    manifestar-se na igreja, porque a autoridade humana expulsa a autoridade ao poder de Deus e

    extingue a luz espiritual.

    Parece-nos que os homens de nossos dias no fixaram bem os ensinos de Cristo ao

    enviar os discpulos a anunciar as Boas-Novas. Se o houvessem feito, notariam que o Mestre

    no lhes deu autoridade, mas revestiu-os de poder. O poder do Esprito Santo era a luz que

    inspirava as pregaes dos humildes pescadores, os quais anunciavam Cristo e suas virtudes,

    sem a preocupao de quererem acorrentar o rebanho do Senhor a leis e mandamentos humanos.

    A igreja que se preocupar mais com o poder de Deus do que com a tentao da

    "autoridade", conseguir ser respeitada, e Deus mesmo a honrar com a verdadeira autoridade

    da ordem espiritual.

    Onde no houver poder de Deus, no podem desabrochar as virtudes, nem a graa

    andar livremente entre os castiais. A autoridade que a igreja necessita para resplandecer, no

    a autoridade decorrente de resolues humanas, mas a que se recebe ao aceitar o jugo de Jesus.

    A nica autoridade que serve para edificao a autoridade que Deus d aos homens

    consagrados e espirituais, mas uma autoridade que no forma "autoritrios", uma autoridade

  • 10

    que d humildade, que se impe pelo amor, sem decretos e sem leis escritas.

    O poder de Deus em ao na igreja a garantia de vida espiritual: uma fonte perene de

    salvao, a certeza de conservar a luz do Evangelho resplandecendo.

    A igreja como corpo de Cristo e os crentes como membros no foram postos no mundo

    para reinar; a ordem que receberam foi servir, amar e brilhar para o seu Senhor. Se a igreja e os

    cristos empunharem o cetro em lugar da lmpada, a sua vida no ter luz, nem autoridade, nem

    poder. E se na vida individual e coletiva do povo de Deus faltarem esses elementos essenciais,

    ficar apenas o elemento humano, frio e inoperante, apesar de muito bem organizado.

    Da atitude que a igreja e seus membros tomarem, exibindo "autoridade" ou mostrando

    amor; sufocando a graa ou transbordando em louvor; dessa atitude nascer o brilho, ou

    despontar o fracasso. Assim como a igreja viver, assim ser o seu brilho.

  • 11

    4

    Igrejas e colmias

    H nas obras de Deus, principalmente no reino animal, alguns fatos nos quais os

    homens tm lies altamente objetivas, se quiserem observ-los e estud-los. As formigas so

    mencionadas pelo autor do livro de Provrbios como smbolo de constncia e labor. A vida em

    comum das abelhas tem causado admirao aos estudiosos da entomologia pelo funcionamento

    perfeito do trabalho nas colmias, onde vivem os pequenos insetos.

    Numa colmia, entre os muitos aspectos dignos de observao, h os aspectos atividade

    e perfeio, porque existe somente uma vontade coletiva: orientar o trabalho comum. A meno

    do nome "colmia" j por si indica e sugere atividade; a vida numa colmia no tolera seres

    inativos e improdutivos a sugarem as reservas de alimentao e a mudarem a orientao e o

    ritmo da vida comum. Quando acontece aparecer na colmia algum elemento preguioso

    conhecido por "zango", o exrcito apcola mobiliza-se contra o intruso que morto e posto fora

    da colmia.

    Nas colmias h vida, vibrao, atividade, edificao, multiplicao; quer interna quer

    externamente, o que se observa o trabalho constante e paciente das abelhas: umas voando,

    rpidas, procura de flores; outras chegando menos apressadas, j carregadas de plen, outras

    ainda movimentam-se, sem parar, armazenando e pondo em ordem os depsitos dos favos, ou

    cuidando das que esto para nascer. Tudo funciona com tanta perfeio, que custa crer na

    habilidade demonstrada no cumprimento da tarefa que cada abelha realiza. Sim, as abelhas

    parecem mais conservadoras dos princpios da vida, da espcie do que os homens; as abelhas

    conservam perfeita a vida da colmia, enquanto os homens sucumbem na dissoluo dos costu-

    mes.

    A vida das colmias sugere-nos a viso da vida ativa e prspera da igreja primitiva. Um

    olhar pela histria da igreja suficiente para revelar na comunidade apostlica uma colmia de

    zelo, vida e fervor espirituais; a atividade de seus membros bem a misso das abelhas, no s a

    trazer igreja o plen dos coraes, mas a levar s almas cansadas e tristes, o mel do Evangelho

    que o Esprito Santo distribui sem medida.

    A propagao do cristianismo por todas as cidades e naes conhecidas, uma prova de

    que a igreja apostlica foi uma verdadeira colmia de onde saam os exrcitos do Senhor a

    depositar nos coraes a fecundidade da luz da salvao. certo que a igreja tambm teve de

    enfrentar e expulsar "zanges", como Alexandre o latoeiro e outros, porm essa circunstncia

    no impedia que o enxame de testemunhas se locomovesse com o facho do fogo divino a

    iluminar os coraes.

    O exemplo das abelhas altamente instrutivo, e dele os cristos deviam tirar lies

    prticas a serem aplicadas vida espiritual. As abelhas no servem somente de modelo de

    atividade. H tambm a ordem racional da qualidade. Das mimosas e perfumadas flores, as

    abelhas libam o alimento integral e nico para atender subsistncia da famlia apcola. das

    flores que retiram a substncia padro da doura e nutrio.

    Se algum tentasse induzir as abelhas a se alimentarem de algo que no fosse o mel,

    receberia uma lio exemplar com a recusa terminante dos pequenos insetos.

    Entretanto, a igreja e os cristos, nas suas relaes e problemas espirituais, agem de

    modo diferente. Deus cuida dos cristos e da sua igreja, como cuida das abelhas; para as

    abelhas, o Senhor prove as flores; para o seu povo, Ele tem a sua Palavra, na qual h man, leite

    e mel.

    As abelhas no se rebelam contra a natureza: gerao aps gerao, sculo aps sculo,

    conservam fidelidade aos princpios criadores, amando e beijando as flores, nas quais tm uma

    fonte permanente de bnos.

    A igreja e os cristos, porm, no possuem o tino espiritual capaz de selecionar o

    alimento que convm alma: aceitam qualquer panacia como se fosse manjar celeste:

    intoxicam-se com todas as drogas pecaminosas que Satans expe no jardim da vaidade. O

    resultado desse desvio a igreja e seus membros viverem em contnuo estado de carncia, por

  • 12

    falta do nico alimento que lhe pode dar sade e vida. Essa carncia leva a enfermidades

    espirituais permanentes.

    O que as flores so para as abelhas, Cristo deve ser para a igreja e para os cristos. Na

    igreja, como na colmia, o trabalho de visitar as flores (falar com Deus em orao) deve ser

    incessante. As abelhas, como notrio, desincumbem-se com brilho da sua misso. - Quanto

    igreja em geral, porm, e aos cristos em particular, quem poder e como poder responder?

    Outro aspecto da vida da famlia apcola a generosidade sem desperdcio: numa

    colmia jamais falta o favo dourado do precioso nctar. As abelhas alimentam-se, mas

    conservam sempre um bom depsito para as horas de necessidade: jamais algum ficou

    desapontado ao visitar uma colmia, por no encontrar um favo cheio de mel. Ali h sempre

    alimento para todas as horas.

    Uma igreja, uma comunidade, um corao crente, devia possuir melhor organizao e

    mais perfeita e racional distribuio da Palavra de Deus, do que feito no servio de uma

    colmia.

    - Acaso as igrejas, as comunidades, os coraes crentes possuem um depsito da

    Palavra que possa alimentar os famintos e os sedentos que batem porta procurando a salvao?

    A igreja tem a mensagem completa da graa para oferecer queles que a procuram? A

    comunidade est apta a ofertar o conforto espiritual da sua experincia alma que procura o mel

    nas suas aes?

    - Os crentes refletem a abundncia da alegria do Esprito e de tal maneira a no

    decepcionarem aqueles que esperam encontrar frutos em suas vidas?

    Se a resposta for negativa, sinal de que a luz do Evangelho que a igreja tem no

    alumia, no d brilho, no d doura, no d mel!

  • 13

    5

    Luzes sem brilho

    A grande perplexidade dos homens de responsabilidade na igreja decorre do fato

    estranho e aparentemente inexplicvel da falta de brilho na vida, na luz, na misso, no

    testemunho, em tudo, enfim, em que a luz devia alumiar e refletir o poder da salvao.

    A igreja sente necessidade de aviva-mento, clama por despertamento, mas a luz no tem

    poder para atrair as multides, como nos dias dos apstolos; no tem o fulgor capaz de penetrar

    nos coraes e convert-los.

    H muitas necessidades e muitos problemas que a igreja e o cristo possuem e no

    podem resolver: falta algo para transformar as circunstncias: h luz, mas a luz no brilha.

    - Que fora havia na igreja primitiva para dar brilho luz? A luz daqueles dias seria

    diferente da luz do tempo presente?

    - No, a luz da Idade Apostlica era a mesma luz prometida igreja da atualidade. A

    atitude dos homens para com Deus que determina o reflexo da graa, o brilho da salvao. As

    aes e a nobreza dessa atitude constituem um claro permanente a arder e iluminar.

    Para haver um grande claro, deve haver um facho correspondente a projetar claridade

    nos coraes. Uma grande luz consome energia e, s vezes, requer o sacrifcio de alguma vida.

    O sacrifcio duma vida s se alcana na abundncia da graa, e a graa abundante, que gera o

    amor, est em Deus.

    em vo pensar que as nossas realizaes, o nosso dinheiro, os nossos ensinamentos,

    os nossos livros, e toda a nossa atividade se transformam em claridade ou que podem substituir

    a luz. A graa, que faz brilhar prpria luz, est na aceitao incondicional da obra de Cristo,

    tal como o fez Zaqueu, ao receber Jesus Cristo em sua casa e em seus negcios e,

    particularmente, no seu corao, sem se importar com o que aconteceria sua riqueza. Zaqueu

    foi iluminado pela luz da salvao que transformou para sempre a sua conduta.

    A luz que entrou na casa e no corao de Zaqueu, e que brilhou de cima para baixo, tem

    sua origem no trono do Senhor. Pretender iluminar as coisas elevadas com a luz do saber

    humano fracassar no empreendimento, porque essa luz no tem brilho. Quanto mais o homem

    descer, mais facilmente ser iluminado. muito significativo o fato de Zaqueu ter de "descer"

    da rvore para ser iluminado pelo resplendor do poder do Evangelho.

    Se a igreja ou alguns de seus membros se considerarem to elevados, que no possam

    "descer" para receber a luz do Esprito Santo, pouca probabilidade tero de ver a luz da vida. Se

    algum subiu at onde no devia subir, lembre-se de que, sobre a figueira, qual Zaqueu, no o

    melhor lugar de permanecer aps um encontro com Cristo.

    A luz que iluminou Zaqueu a luz que a igreja necessita para ser atrada para mais

    perto de Cristo. Essa luz provou ser poderosa e fulgurante; poderosa, porque Zaqueu tomou a

    resoluo de pr sua vida em ordem, restituindo com juros elevados tudo quanto defraudara;

    fulgurante, porque Zaqueu viu nas riquezas espirituais um valor mais elevado do que o ouro

    acumulado. Jesus Cristo no deu qualquer ordem a Zaqueu no sentido de reparar os males

    cometidos; no o acusou de desonesto; no inquiriu como alcanou as riquezas que possua.

    Entretanto, em tudo isso estava o fulgor da graa de Deus a impulsionar Zaqueu para viver na

    justia de Deus, e a inspir-lo a restituir o que conseguira acumular ilicitamente.

    Uma luz que tinha brilho revelou a Zaqueu um caminho mais excelente, levou-o

    profunda convico de uma experincia que tambm uma revelao. dessa luz que a igreja e

    o cristo necessitam para entrarem no campo das experincias e das vitrias divinas.

    A igreja que espera alcanar de Deus a luz que tem brilho, ter sempre presente a

    revelao da chamada para o trabalho de mostrar Cristo aos homens.

    Foi na plenitude do claro dessa luz que viveram os santos, e os profetas e a igreja de h

    vinte sculos. A igreja que fizer sua a luz da revelao que fez de Zaqueu um homem de Deus,

    essa igreja pode alu-miar e encaminhar as almas para Cristo, a fim de serem transformadas.

    O fator de progresso espiritual numa igreja no a prosperidade material; no a

    lembrana do passado; no o orgulho de ser uma grande denominao; no possuir muitos

  • 14

    valores intelectuais. Todas essas luzes so luzes sem brilho, luzes que no alumiam, fumegam

    mas no iluminam.

    - Qual a luz que permanece na igreja dos dias presentes? Ser a luz da Estrela da

    Alva? ou a luz sem brilho?

  • 15

    6

    Prximo ou longe?

    - Estaro as igrejas, as comunidades e os cristos de nossos dias, vivendo, pregando e

    mostrando as doutrinas que outrora eram os nicos esteios e o nico ensino da igreja primitiva?

    Vivem as igrejas e seus membros perto ou longe das verdades crists que fizeram prosperar e

    luzir a igreja dos primeiros dias da Dispensao da Graa? A igreja atual tem mais poder que

    religio? ou possui mais religio que poder? As igrejas crists so testemunhas de Cristo, tal

    como o foi a igreja do passado? ou so apenas apologistas de um sistema religioso?

    Antes de mais nada, para responder s questes aqui levantadas, ser bom aferir o

    acervo espiritual das igrejas atuais com a bagagem espiritual da igreja apostlica. S ento ser

    possvel reconhecer a diferena existente entre o passado e o presente.

    Infelizmente, o cristianismo de nossos dias no preservou os recursos e as reservas dos

    fatores espirituais que permitiram igreja primitiva passar vitoriosa pelo mundo. Hoje se vive

    muito longe do padro apostlico: h muita religiosidade, mas pouco poder do Cu; muitos

    planos humanos, mas pouco da revelao da vontade de Deus; muita propaganda humana, mas

    pouca graa em ao.

    A viso estrbica de alguns homens, arrastou a igreja para longe da viso esplendorosa

    de continuar a ser uma testemunha de Cristo aqui na terra. Em alguns casos essa viso fica to

    prejudicada e to obscura que homens e organizaes confundem sua misso de testemunhas

    com a de salvar. Desse engano resulta um afastamento total. A igreja e os crentes tm sua

    misso especfica de testemunhas que refletem o brilho de quem os enviou a testificar. A misso

    de salvar exclusivamente de Jesus Cristo. S Ele possui esse poder e somente Ele foi enviado

    com essa misso; esse privilgio intransfervel. Nem mesmo no Cu, os anjos sero capazes de

    substituir Jesus! Como ento os homens tentam faz-lo?

    A igreja primitiva era zelosa de sua misso de testemunha de Cristo: jamais se arrogou

    o direito de salvar o mundo, nem de ser tutora das naes. Quando as igrejas ou os indivduos

    entram pelo caminho acidentado da suficincia prpria, transformam-se em cegos guiando

    outros cegos: no conseguiro mais que apagar at o prprio morro que fumega.

    ' A igreja que no deseja afastar-se da revelao e do modelo do Novo Testamento, deve

    ter sempre presente que o poder de salvar no foi transferido a nenhum homem nem a qualquer

    igreja ou religio: Cristo quem salva.

    A fraqueza e a falta de iluminao do Esprito decorrem deste fato tristssimo notado em

    toda a parte: A substituio da doutrina da salvao por doutrinas em que sobressaem a

    filosofia, e a teologia. Os apstolos clamaram e condenaram essa ameaa, mas os homens

    insistiram sempre em introduzi-la na igreja. 0 resultado que, com isso, a igreja se afasta de

    Cristo.

    A igreja que no tem em seu programa a doutrina de salvao pelo sangue de Cristo,

    no merece o nome que tem. "O Cordeiro de "Deus que tira o pecado do mundo" era o tema dos

    primeiros cristos. Salvao e redeno o tema permanente e imutvel do cristianismo;

    qualquer alterao introduzida no plano de Deus afasta a igreja do seu fundador, e invalida o

    sacrifcio de Cristo.

    Se a igreja de nossos dias quiser honrar a Deus com sua conduta, e ser um farol a

    projetar luz e bnos no mundo em que vivemos, deve usar a linguagem clara da sinceridade e

    anunciar da parte de Deus todo o conselho do Senhor e todas as virtudes do Evangelho, tal como

    Pedro e Joo o fizeram ante as autoridades em Jerusalm.

    Se os apstolos houvessem trado sua misso de testificar de Cristo, falando de algum

    tema que agradasse aos judeus, teriam, dessa forma, conquistado as simpatias gerais dos homens

    de seu tempo, receberiam honra e considerao, mas a igreja teria perdido a grande batalha e as

    palavras dos humildes paladinos no se transformariam em luzes permanentes de todos os

    sculos, a refulgir na grandeza da sua expresso e a brilhar pela sinceridade com que

    defenderam a causa de Cristo.

    Vale a pena insistir na pergunta inicial deste captulo: - Estaro as igrejas, as

  • 16

    comunidades e os cristos de nossos dias, vivendo, pregando e ensinando os ensinos da igreja

    primitiva?

    O que se nota na vida das igrejas da atualidade uma atividade diferente e, em muitos

    casos, em contraste com os princpios fundamentais do cristianismo.

    Se certo que algumas igrejas no tempo presente alcanaram fama e ganharam

    prestgio por suas atividades educativas e por movimentos de carter social, tambm certo que,

    espiritualmente, no subiram um centmetro: trocaram o fulgor da f pelo sucesso de planos

    sociais: a espiritualidade diluiu-se entre a glria passageira da fama: afastaram-se ainda mais

    dos princpios vitais do cristianismo.

    - Qual a misso da Igreja luz da Palavra de Deus? Ser a de formar intelectuais e dar

    ao mundo homens com preparo e ttulos universitrios? - No, essa no a misso da Igreja.

    Jesus mesmo definiu a verdadeira misso da Igreja, dizendo: "Ide, portanto, fazei discpulos de

    todas as naes... ensinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado..." (Mt 28.

    18,19 - Verso Atualizada). A est o programa da Igreja. E os discpulos o cumpriram. lgico

    que algum deve cuidar da instruo, mas isso no a misso fundamental da igreja: um

    elemento acessrio.

    No se julgue que somos contrrios a qualquer forma de educao. No. Insistimos

    apenas em conservar a vida espiritual dependente dum poder mais elevado que a instruo

    humana no pode dar. Julgamos que na igreja vale mais um homem convertido e salvo,

    dedicado a testificar de Cristo, embora indouto, do que cem intelectuais agnsticos que julgam a

    perfeio distante e inatingvel.

    Substituir o programa e a misso da igreja crist afast-la de seus princpios, e esse

    fato no concorrer para lhe dar brilho no concerto das coisas espirituais.

    Nenhum mal haveria em que a igreja fosse um centro de cultura e beneficncia, se no

    tivesse presente o perigo de relegar a um plano secundrio a sua misso essencial. Se algum

    puder harmonizar esses dois programas, ter alcanado estado ideal. Entretanto, o que a

    experincia tem mostrado que a vida espiritual da igreja decresce cada vez que a envolvem em

    planos alheios sua funo.

    Ningum tem o direito de inverter a ordem de Jesus acerca da misso da igreja: aqueles

    que o fazem afastam-na da sua grande misso de evangelizar e brilhar por Cristo.

  • 17

    7

    Sonolncia Espiritual

    Antes de censurarmos a insistncia dos apelos em favor do retorno f e prtica crist

    dos dias apostlicos, seria muito til que lssemos a Epstola de Paulo aos Glatas, e, como

    complemento, para maior clareza, olhssemos tambm cuidadosamente os captulos segundo e

    terceiro do livro do Apocalipse. Ali esto descritas as causas determinantes das advertncias que

    Deus fez s igrejas que comearam a coxear.

    A razo da chamada f era o desejo da parte do Senhor, de que essas igrejas voltassem

    a viver, a florescer e a crescer na ordem espiritual, e no somente na abundncia e grandeza

    materiais. Para tanto, era necessrio voltar ao lugar da queda, e ali iniciar nova jornada. - Acaso

    persistem, hoje, as mesmas circunstncias e os mesmos perigos para a igreja, como nos fins do

    primeiro sculo? - Existem, sim, e agravados de outros males no mencionados nas advertncias

    aos cristos daquele tempo, mas expressos nos fatos e na conduta da igreja ou das igrejas na

    atualidade.

    H foras ocultas interessadas em negar a realidade dos acontecimentos; h o

    comodismo criminoso a justificar os desvios e a aceitar todas as facilidades inquas do caminho

    largo. Contrariar essas foras expor-se a sofrer perseguies e desprezo; porm, o estado de

    alarme deve ser proclamado, antes que seja demasiado tarde.

    A verdade inegvel que nem tudo corre placidamente na vida das igrejas. Se certo

    que nem todas as igrejas apostataram da f. tambm certo que muitas servem a dois senhores,

    e outras j esto acorrentadas pelo formalismo e pelo mundanismo.

    Em alguns pases h igrejas cuja luz so trevas: aceitaram e adotaram todos os hbitos

    do mundo, inclusive jogos, diverses e linguagem mundana. A nica diferena que tais coisas

    so praticadas por seus membros, sombra da prpria igreja, no seu patrimnio, o que agrava

    ainda mais o pecado diante de Deus: so a vergonha da Cruz.

    No Brasil, j vo despontando tambm essas idias malficas de agregar s igrejas esse

    apndice apodrecido que infecciona a vida dos membros do corpo de Cristo.

    Se as igrejas no despertarem e no se conservarem orando e vigiando, fatalmente sero

    arrastadas para o bratro.

    As advertncias do livro do Apocalipse tinham por finalidade despertar as igrejas que

    entraram em estado de sonolncia espiritual. As advertncias que aqui ficam tm idntica

    misso. Ainda h tempo de consertar as relaes com Deus. As igrejas que conservam elevado o

    seu padro espiritual, que cuidem em no descer! Que prossigam para o alvo soberano! As que

    j esto beira da falncia, que voltem fonte de Luz, e sua vida renovar-se-: seu testemunho

    passar a ser luz no Senhor!

    Seria um crime contra a santidade de Deus, agora que o modernismo e o mundanismo

    ameaam a vida, as atividades e o brilho da igreja (Seria um crime, repetimos!) no denunciar a

    aproximao da nuvem de males que tenta ofuscar a misso da igreja.

    Da atitude que os homens tomarem em relao orientao da igreja, depender

    tambm o xito de seu brilho e sua misso na terra.

    - Por que insistimos no apelo luta pelos princpios verdadeiros do cristianismo?

    - Pela mesma razo com que, no passado, o Esprito Santo, por intermdio dos homens

    de Deus, insistia para que a Igreja conservasse limpas as suas vestes, resplandecente o seu

    testemunho e honrada a sua misso na terra..

  • 18

    8

    Idolatria dos Sermes

    No alimentamos qualquer iluso quanto reao que alguns esboaro contra o

    assunto de que trata este captulo; sabemos convictamente que nem todos aplaudiro as

    verdades aqui enunciadas. Ningum deseja ser considerado idolatra, principalmente tratando-se

    de pregadores, porm os fatos pesam mais que o desejo e os fatos a esto a testificar que h

    muitos pregadores que, sem se aperceberem, tornaram-se idolatras de sermes.

    Desejamos fique bem claro que o sermo ou pregao pode ser uma fonte de bnos

    para o pregador, para os ouvintes no-salvos e para os remidos que j pertencem igreja. Ao

    mesmo tempo, frisamos, pode transformar-se numa forma de idolatria. Tudo depende da atitude

    que o pregador tomar ao entregar a mensagem ao povo.

    A pregao pode ser uma luz a iluminar o caminho para o Calvrio, como pode ser uma

    nuvem de obscuridade a evitar que as almas vejam Cristo e o sigam. Se o pregador estimar mais

    a mensagem que prega do que a Pessoa de Cristo, tal pregador idolatra. Se a pregao for feita

    com o propsito de mostrar a capacidade do orador, ningum negar que no corao h idolatria

    ligada ao sermo.

    Inegavelmente, o que h em abundncia na igreja dos nossos dias so pregadores

    idolatras de seu prprio trabalho, que feito sem a preocupao de elevar Cristo, mas com o

    cuidado preconcebido de mostrar sapincia humana.

    O sermo ser um ornamento a fazer brilhar a luz do Evangelho, se anunciado no

    propsito que tornou grande a misso de Joo Batista, ao declarar que convinha que Cristo

    crescesse, e que ele, Joo, diminusse. O sermo concorrer para o brilho da igreja, se Cristo for

    o centro e a periferia do assunto que se anuncia. De outra forma, se a pregao for vazia de

    sentido e da uno do Esprito, ser um dolo para o pregador, com o evidente perigo de o ser

    tambm para os seus ouvintes.

    Se algum deseja conhecer o carter dos sermes ou pregaes dos apstolos e dos

    homens de seu tempo, s recorrer aos livros do Novo Testamento, pois ali est o espelho, o

    modelo e o caracterstico da mensagem que no transforma coraes livres em idolatras de

    sermes. A primeira verdade revelada na pregao apostlica que a mensagem era feita para

    ganhar almas. O nico tema que os inspirava e lhes dava fulgor era unicamente Jesus Cristo, o

    Filho de Deus.

    O contraste entre os pregadores dos tempos apostlicos e muitos pregadores de nossos

    dias flagrante. O que h em abundncia nos dias presentes so ganhadores de elogios, em

    virtude de carregarem seus sermes de sabedoria, deixando-os vazios de Cristo.

    H pregadores que seriam bons novelistas, se abraassem a profisso de escritor, que,

    porm, nada tem que ver com a pregao do Evangelho. No se pense que essa classe de

    pregadores diminuta. Ao contrrio, bem numerosa. Aqueles que falam para impressionar o

    auditrio, afastaram-se demasiado da estrada da vida. O que Cristo pede e deseja do pregador

    que fale do que recebeu do Pai; que exprima sua gratido, alegria e o poder da salvao. Se o

    pregador no possuir essas verdades arraigadas no corao, ter de substitu-las por frases muito

    sugestivas, artificiosas e eloqentes, que rescendam a cultura. Mas a que est o perigo da

    idolatria dos sermes.

    Os homens de responsabilidade integrados na vida da igreja devem saber que religio e

    salvao no so assuntos sujeitos s exigncias da arte de falar, nem melhoram com os

    retoques estticos do buril lingstico. Se tal sucedesse, isso seria subordinar um tema divino e

    espiritual ao capricho da retrica. A obra de levar almas a Cristo mais simples, mas mais

    elevada que o trabalho de colecionar termos para dar realce quele que prega.

    Pregar o Evangelho no atrair o intelecto para o brilho da inteligncia: , antes de

    tudo, expor ao mundo atribulado o caminho da vida eterna e da paz.

    Deus no chamou, nem chama, para pregarem nas igrejas ou nas praas, preletores de

    filosofia nem apologistas das vrias cincias. O lugar de prelecionar retrica ou eloqncia no

    a igreja. H as ctedras onde mais prprio faz-lo. Se o pregador introduzir elementos

  • 19

    estranhos na pregao, prova que est inclinado para um lado perigoso, que pode transformar-se

    em idolatria dos sermes.

    Envernizar o sermo com as tintas do saber terreno ofuscar o brilho da espiritualidade

    que deve fulgurar na mensagem do evangelista que fala s almas sem Cristo.

    Fazer um sermo saturado de frases e expresses engenhosamente dispostas para

    impressionar o auditrio, pode ser mais fcil que pregar dentro das linhas bblicas em que s a

    graa ressalta e d vibrao, porm tal sermo pouco valor ter para converter almas a Cristo,

    porque um sermo arquitetado e idolatrado por quem o fez.

    Jamais ouvi um testemunho de algum que declarasse haver sido salvo pela cincia,

    pela cultura, pela eloqncia ou pelo pregador. Entretanto o que se ouve de todos quantos

    alcanaram ser iluminados pela graa de Deus, que Cristo os salvou, que o poder do

    Evangelho os levantou, que a graa os redimiu.

    O pregador que viver o Evangelho ter na sua mensagem a chama da uno a dar realce

    ao que fala, porque uma fora que sai do corao e vai direto ao objetivo. Foi assim na igreja

    primitiva, e ser assim na igreja, em todos os tempos. Pregar o Evangelho colocar os homens

    face a face com Cristo, ilumin-los com a luz do prprio Cu. Pregar somente sabedoria

    intelectual colocar os homens face a face com a cultura e erudio, o caminho mais curto

    para o pregador alcanar o altar da idolatria dos seus sermes.Pregar para ser admirado fundir

    bezerros de ouro que os ouvintes, mais cedo ou mais tarde, adoraro. Pregar a Palavra

    sacrifcio que leva at ao holocausto, mas que impede chegar-se idolatria.

    Ningum se engane com as aparncias! A letra no ser o brilho da igreja crist. A

    capacidade humana no facho de luz capaz de atrair as almas para serem salvas. A habilidade

    dos homens no converter um s corao. Na igreja somente uma luz deve aparecer - Cristo,

    que a Luz do mundo. Se faltar essa luz, haver certamente idolatria, pelo menos a idolatria de

    sermes.

  • 20

    9

    guas de outras cisternas

    A no ser nos perodos de avivamento, as igrejas experimentam, geralmente, acentuadas

    transformaes at chegarem ao perodo de estagnao no qual permanecem indefinidamente,

    alheias ao que se passa em redor, satisfeitas com tudo e com todos, aceitando todas as frmulas

    e mtodos humanos, oficializando prticas e organizaes muito teis para companhias e firmas

    comerciais, porm atrofiadoras da vida espiritual, imprprias para a igreja crist. Faltando-lhe a

    gua da inspirao, a igreja lana-se procura de sucedneos, e vai buscar gua em cisternas,

    desprezando a gua viva.

    Antes de ir buscar em cisternas, a igreja passou por perodos e tempos festivos em que

    bebeu gua da sua fonte, isto , da sua doutrina, da sua revelao, e inspirao, do seu zelo pelas

    almas sem Cristo, tendo desejo de santificao e dedicando-se ao servio com sacrifcio

    voluntrio, ideais puros, e fidelidade revelao divina. Tinha como fonte a Palavra de Deus.

    No era o concilio quem determinava o que devia fazer. No era o presbitrio que impunha suas

    inovaes. No era uma conveno que ditava leis. A Palavra de Deus, fonte das guas vivas,

    quando praticada, tem em si todas as vantagens que as cisternas no podem dar.

    O primeiro perodo da igreja geralmente o perodo dos idealistas, o perodo do

    sacrifcio, em que o corpo, cansado pelo labor, alegra a alma pelo trabalho realizado; o

    perodo em que nem mesmo a carteira reclama quando esvaziada para atender s necessidades

    de outrem; o perodo de dar, mas tambm o perodo de receber, de beber das guas da fonte,

    de beber diretamente da Palavra, numa consagrao, sem limites, a Deus.

    O tempo de sacrifcios para a igreja tambm o perodo mais rico da graa; quando a

    gua da vida jorra nela mais abundante, mais clara e mais refrescante. Todos aqueles que

    provaram as bnos desse perodo, reconhecem com gratido quanto bem lhes fez a gua, a

    satisfao, o gozo, a experincia e a comunho que beberam e desfrutaram nesse primeiro pero-

    do da igreja.

    Antes de a igreja chegar fase de decadncia estabilizada, passa por um perodo de

    transio em que a gua da vida no mais corre, em que h somente lembrana dos dias em que

    as bnos transbordavam at alcanar os lares e os membros da famlia. Os pais crentes que

    serviam a Deus fielmente na igreja bebiam da gua da vida que ali havia e recolhiam bnos

    to abundantes, que o lar sentia seu reflexo. Os filhos talvez no bebessem diretamente dessa

    gua, mas a gua que os pais bebiam corria neles como um caudal refrescando e regando.

    O incio da decadncia o incio das trevas: no h mais o interesse vivo pela obra do

    Senhor; rareiam os abnegados que tudo sacrificaram para servir causa de Cristo; no h mais

    ningum disposto a sofrer pela causa do Evangelho: ningum mais enfrenta a mofa e o desprezo

    por amor a Cristo; no existe a f dos heris que escolhem ser perseguidos com o povo de Deus

    a ter o gozo passageiro do mundo. Este o perodo dos poos secos por falta de serem

    conservados. o caminho aberto para chegar a beber guas de cisternas imundas.

    A igreja que chega fase da vida artificial e formalista, j perdeu o privilgio de beber a

    gua viva. S tem a aparncia de que vive. Vai beber em cisternas. O culto pleno de vida e

    bnos no existe. O desejo de aprender mais e mais de Deus desapareceu dos coraes. Os

    testemunhos vibrantes e inspirados nem ao menos so conhecidos. As converses de almas so

    coisa rara. pois no se pensa mais nisso. Os princpios rgidos de doutrina e moral des-

    moronaram. Ningum mais honra a palavra empenhada: o tempo do descrdito na igreja.

    H igrejas que possuem maior e mais complicada burocracia do que algumas re-

    parties pblicas. Possuem cruzadas para construes, movimentos para congressos de

    homens, de senhoras, de jovens e crianas. Tm juntas de educao, de ao social, de misses;

    federaes de todos os tipos; institutos que tratam de tudo. menos de evangelizar as almas. Ante

    uma mquina to complicada a funcionar numa igreja, seria de esperar que o rendimento espi-

    ritual fosse aprecivel, e que no faltasse a gua viva.

    Mas, querido leitor, todo esse mecanismo artificial e estranho igreja de Cristo:

  • 21

    gua de cisternas que entorpecem a vida do povo do Senhor.

    A igreja tem a Bblia, a Palavra de Deus, para dar gua viva a todos os sedentos. A gua

    viva da igreja e do cristo o Evangelho, e s nele h a verdadeira gua da vida.

    Quando a igreja perde a viso da revelao e bebe em cisternas, sua vida se altera e

    pode chegar a deixar de ser testemunha de Cristo, para ser pedra de escndalo.

    A igreja crist, tendo a revelao do Evangelho, basta-se a si mesma, porque bebe da

    fonte da gua viva. O poder da graa a sua vida e o seu xito; no necessita transportar para

    dentro de suas portas inovaes ou cisternas: ela tem a gua viva.

    A tentao de imitar os vizinhos ou de querer superar os demais, leva a igreja a

    desprezar a fonte da revelao, para aceitar, em seu lugar, as cisternas que muitas vezes contm

    guas ptridas e mortferas. A fonte da graa tem guas vivas que continuamente se renovam,

    enquanto que as cisternas semeiam a morte espiritual.

    Todos quantos lerem estas linhas tm responsabilidade diante de Deus no que concerne

    vida espiritual. H para todos uma parcela de culpa se beberem ou se concorrem para que

    outros bebam em cisternas. Ns, como membros do corpo, formamos a igreja. Portanto,

    voltemos f dos antigos, voltamos a beber da gua da vida, que Cristo mesmo.

  • 22

    10

    Um culto diferente

    Transportemo-nos, por alguns momentos, ao tempo da igreja primitiva e observemos,

    com calma, um culto diferente dos cultos realizados nas igrejas de nossos dias.

    Qualquer pessoa que se extasiou ante o relato do esplendor de um culto na igreja

    primitiva, tal qual descrito na histria dos primeiros sculos, notar que tudo se transformou.

    Hoje, nos cultos de nossos dias, no h a vida e a vibrao intensa de outrora; falta-nos a

    liberdade ao Esprito de Deus para usar os vasos que esto cheios de graa e poder.

    Alguns dirigentes de cultos esto esquecidos da recomendao do apstolo quando diz

    que ao se reunirem cada um tenha salmo, hino, louvor ou cano espiritual para apresentar ao

    Senhor. Se o dirigente no tiver os olhos da f ungidos com colrio do Cu, sua mente ficar

    ofuscada pelo esplendor do cargo e julgar-se- o nico capaz, naquele momento, de apresentar

    algo que alimente a congregao, quando ali pode haver valores que Deus possa e queira usar.

    Onde o formalismo estabeleceu uma ordem mecnica, no h liberdade para o Esprito: no

    pode haver inspirao.

    No era assim na igreja primitiva; a graa no era substituda pelo intelecto; o dirigente

    ocasional da reunio tinha a viso de Joo Batista: ocultava-se aos olhos dos homens, a fim de

    que Cristo fosse visto em todos os atos e em todas as obras, por intermdio de quem Ele

    quisesse usar. Se havia algum corao inflamado pela graa e transbordante do gozo da

    salvao, podia levantar-se e transmitir congregao a vibrao da mensagem de Deus, e de tal

    forma o fazia, que todos reconheciam estar o tal vivendo no brilho e na santificao do Senhor.

    - Mas onde est hoje a liberdade que transforma um culto num encontro inesquecvel

    com Deus, quando a alma sente a atmosfera do Cu perpassar num enlevo sublime que faz

    esquecer que estamos na Terra? Onde esto os salmos de adorao?

    Onde os hinos espirituais? Onde os testemunhos simples mas convincentes, pelos quais

    Deus transtornou tanta sapincia e confundiu a arrogncia?

    Um culto na igreja primitiva possua encantos que ningum podia antecipar. Os que se

    propunham a assistir a eles, faziam-no unicamente confiados na graa que Deus revelaria

    medida que o culto se realizasse. Nada ali era automtico: o culto duma noite diferia do culto da

    noite seguinte. A pregao da Palavra, as oraes, os hinos, os testemunhos, tudo, enfim, estava

    na dependncia do Esprito Santo, o que transformava em motivos de louvor e fatores de

    salvao, o que acontecia.

    A variedade da forma do culto dava igreja um brilho que no podia ser imitado, e

    transmitia aos coraes convices to profundas e reais que nenhuma dvida as podia abalar.

    Com a convico, nascia o desejo ardente de viver uma vida mais profunda e mais ativa no

    amor de Deus.

    Antes de terminar este captulo, desejaramos conhecesse o leitor alguns fatos histricos

    que descrevem a forma e a vida dum culto numa igreja apostlica, no tempo de Paulo. O brilho

    da igreja de ento no se relacionava com a grandeza exterior, como acontece em nossos dias. A

    atrao que a igreja exercia no consistia em templos vistosos como os h hoje, por toda a parte.

    Os locais onde se reuniam eram bem modestos; talvez uma sala numa casa particular ou um

    salo que tivesse servido de depsito de mercadorias, porm ali refletia, num deslumbramento

    espiritual, o fulgor da graa salvadora, transbordando dos coraes remidos do pecado.

    A assistncia que acorria s reunies da igreja no tinha as mesmas caractersticas da

    assistncia dos cultos de nossos dias. Hoje, cada igreja ou congregao, composta de pessoas

    que moram na mesma regio, tm os mesmos costumes, usam os mesmos trajes.

    Na igreja primitiva, principalmente nas cidades comerciais servidas de porto de mar, a

    assistncia era composta de livres e de escravos. Judeus de feies e traos distintos

    contrastavam com gentios que o Evangelho iluminara e salvara. Gregos de vestes custosas

    confundiam-se com homens rsticos, cuja vida fora gasta e enrijecida em viagens martimas,

    mas agora, alcanados pela Luz do Mundo, estavam transformados e ali esto todos a arder de

  • 23

    gozo, pela salvao que receberam.

    Havia ainda na assistncia, embora no muito numerosa, pessoas nobres s quais a

    salvao dera mais nobreza. Elas tambm estavam unidas ao conjunto da massa heterognea que

    a graa arrancara do lamaal.

    Entremos em um desses lugares de cultos e vejamos qual a diferena entre os servios

    divinos que eles realizavam e os que se efetuam em nossos dias. Vamos fazer abaixo a descrio

    dum culto na igreja primitiva, visto pelo historiador Stalker, conhecido e respeitado por todos:

    "Em vez de uma s pessoa a dirigi-los nas oraes, pregaes e salmos, todos os

    presentes tinham a liberdade de contribuir com a sua parte. Talvez houvesse um presidente ou

    diretor; mas um membro podia ler uma poro das Escrituras, outro podia fazer uma orao; um

    terceiro podia proferir uma alocuo; um quarto, principiar um hino, e assim por diante...

    "Membros tambm havia que tinham o dom de profecia, dom em extremo valioso. No

    era a faculdade somente de predizer futuros eventos, mas um dom de apaixonada eloqncia,

    cujos efeitos eram por vezes assombrosos: entrando na assemblia um incrdulo e escutando os

    profetas, era arrebatado por uma emoo irresistvel: os pecados de sua vida passada se lhe

    assomavam mente, e ele confessava que Deus verdadeiramente estava no meio deles. Outros

    exerciam dons mais semelhantes aos que nos so familiares, tais como o dom de ensinar e de

    administrar. Mas em todos estes casos parece ter havido uma espcie de inspirao imediata,

    no o efeito de clculo ou de preparao, mas da presena de um influxo ntimo.

    "Estes fenmenos so de tal modo extraordinrios, que, se fossem narrados em uma

    simples histria descritiva, suscitariam srias dvidas f. Porm, a evidncia deles

    irrefutvel, porque ningum, escrevendo a um povo a respeito das suas prprias condies, iria

    inventar circunstncias que no existem e, alm disso, Paulo escrevia-lhes antes para restringir

    do que para acorooar semelhantes manifestaes. Revelam elas, entretanto, a vigorosa fora

    com que ao entrar no mundo, o cristianismo se apoderou dos espritos sob a sua influncia.

    "Cada crente recebia, em geral, por ocasio do batismo, quando sobre ele se impunham

    as mos do batizante o seu dom especial, cujo exerccio podia ser tempo indefinido, dependendo

    apenas da fidelidade do recipiente.

    "Era o Esprito Santo, derramado sobre eles sem medida, e penetrava os espritos dos

    homens e repartia estes dons entre eles diversamente, segundo lhe apra-zia. Cumpria a cada

    membro fazer uso do seu dom particular em proveito de toda a corporao.

    "Terminados os servios aqui descritos, os membros assentavam-se para uma festa de

    amor, que culminava na Ceia do Senhor. E ento, com o sculo fraternal, eles se despediam e

    saam para seus respectivos lares. Era uma cena memorvel, radiante de amor fraternal e

    aureolada por manifestaes estupendas de energia espiritual. Ao voltarem aos seus lares,

    passando por grupos descuidosos de pagos, eles tinham a conscincia de haver experimentado

    aquilo que o olho no viu nem o ouvido jamais ouviu".

    Uma igreja onde os servios divinos se identificam com os da igreja primitiva, como

    acima foi descrito, brilhar, sejam quais forem as circunstncias, porque dentro de suas portas

    h coraes que intercedem dia e noite pelos dons do Alto.

    Na igreja primitiva os cultos eram assim.

    - Como so os cultos em nossos dias? So cultos com as mesmas caractersticas ou so

    cultos diferentes?

  • 24

    11

    Prisioneiros da teologia tradicionalista

    Imaginemos o que aconteceria numa sala em que se reunissem vrios grupos de pessoas

    com o objetivo de discutirem teologia! Em geral, os homens dados a disputas teolgicas,

    insensivelmente, transformam-se em autoritrios e dogmticos, e no admitem que seus pontos

    de vista sofram exame ou censura. Esse aspecto do assunto consideramo-lo como fruto da

    teologia exacerbada e partidria, portanto prejudicial: m teologia.

    A verdadeira teologia honesta em si mesma e, se usada com critrio e at onde chega a

    revelao do Esprito, no um mal: pode at mesmo enriquecer o conhecimento e ajudar a

    penetrar nas verdades da Palavra de Deus.

    Entretanto, a teologia adulterada e perigosa tem sido a grande inimiga da espiri-

    tualidade. Quando grupos se renem para discutir idias e interpretaes apresentadas por este

    ou aquele telogo, ningum espere receber edificao, porque de tais tertlias nascem as

    separaes e as questes loucas e interminveis das quais o apstolo Paulo falou.

    Os homens que se embaraam com idias teolgicas por simples questes de

    especulao, deixam de ser livres: tornam-se escravos dum conceito que, quanto mais explicado

    mais complicado se torna, tomando, por fim, a forma dum novelo de fio emaranhado e cheio de

    ns, impossvel de ser reconstrudo.

    A igreja que trocar a Bblia por compndios de teologia, fatalmente se transformar em

    prisioneira dum sistema de dogmas do qual pouca vida pode esperar. Se a Bblia a Palavra de

    Deus, poderosa e inspirada, evidente que no h necessidade dum cdigo civil (neste caso a

    teologia), nem de textos legislativos para explic-la. A revelao dada aos homens inspirados

    que escreveram a Bblia, no pode ser aplicada ao sabor de qualquer telogo; as escolas

    teolgicas so tantas e to contraditrias que, custa a crer, se arroguem todas o direito de

    interpretar a Bblia. A Bblia est alheia a todos os males espirituais que a m teologia provoca.

    A Bblia esprito e vida: a teologia letra.

    Como conseqncia do abandono das verdades bblicas por princpios filosficos e

    sistemas teolgicos, que muitas igrejas esto hoje sem a luz da revelao, escravas do

    formalismo, acorrentadas por tradies, despojadas da graa e do poder que brilhava na igreja

    apostlica.

    A Bblia o livro da revelao de Deus para salvao das almas, e no para ser motivo

    de especulaes e interpretaes humanas. As leis so mutveis, transformam-se, ajustam-se,

    modificam-se e revogam-se, porque so humanas, mas a Palavra de Deus permanece para

    sempre.

    Quando Paulo afirmou que a letra mata, mas o esprito vivifica, estava, ainda que

    indiretamente, com essas palavras, combatendo o movimento incipiente de dogmatismo na

    igreja, que tinha por objetivo sobrepor-se revelao do Esprito do Senhor.

    A Palavra do Senhor no est sujeita a flutuaes, transformaes, e interpretaes

    vrias, como as escolas teolgicas, que surgem e desaparecem, sempre discordantes,

    condenando-se mutuamente.

    A Bblia a terra da promisso e da liberdade. Quanto maior for o conhecimento das

    Escrituras, tanto mais ser o conceito de liberdade, porque a verdade revelada traz liberdade, ao

    passo que a m teologia escraviza e absorve a vida daqueles que a defendem.

    As Escrituras so imutveis: resistem a todos os ataques; possuem as mesmas ca-

    ractersticas e o mesmo poder em todos os tempos: conservam intactas as mensagens de

    esperana; nelas se destaca sempre com o mesmo fulgor e com a mesma vibrao a luz do

    Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

    As experincias nossas e de outrem afirmam que a Bblia liberta as almas que vivem

    acorrentadas pela dvida, dando-lhes a viso dum horizonte sem fim, enquanto que a m

    teologia embaraa-as e as ofusca num crculo de complicaes cada vez menos claras.

    Prefervel e mais honesto confessar ignorncia em algum ponto obscuro que Deus

    ainda no quis revelar a forar uma interpretao capaz de desencadear discrdias e aprisionar

  • 25

    os seus defensores. Deus mais liberal e age com mais acerto e com mais amor para com seus

    filhos do que ns uns para com os outros. O falso zelo, a exegese apressada e o dogmatismo

    teolgico formam uma aliana para aprisionar todos quantos no esto na liberdade de Cristo,

    isto , na verdade revelada.

    Esse trio nefasto tem arruinado igrejas e comunidades ao impor seu jogo de idias e

    suposies. Um dos dogmas que a igreja aceita e recomenda "Amai-vos uns aos outros, assim

    como eu vos amei!" Regras, ordens, interpretaes, seja o que for, se ultrapassarem as regras do

    amor, so jugos que no o de Jesus: so laos que subjugam a alma.

    O perigo para a igreja a conduta de homens que se dizem iluminados pelo saber, que

    se consideram anjos de luz, mas cujos crebros esto exacerbados pelas questes e somente

    vem no cristianismo um sistema de doutrinas. O cristianismo tem uma misso positiva; mais

    que um sistema de doutrinas: uma ddiva de liberdade e de amor que Deus legou igreja para

    faz-la brilhar entre os homens.

    A igreja que tem a revelao de Cristo e conserva os princpios da Palavra de Deus,

    conhece a verdade, e a verdade a conserva em liberdade: no escrava da m teologia.

    A igreja deve continuar a ser igreja, desempenhando a misso que lhe foi confiada por

    Cristo, conservando a liberdade espiritual que a graa outorga. A teologia que se contente com o

    lugar que lhe compete desempenhar, sem se intrometer onde no lhe compete, impondo uma

    autoridade que s a Bblia possui; assim poder viver e ser til sem criar embaraos e sem fazer

    prisioneiros.

  • 26

    12

    Relatrio dos anjos

    So muitos e vrios os fatos que a Bblia registra acerca de visitas e misses

    desempenhadas pelos anjos aqui na Terra. Alguns acontecimentos esto ligados a fatos

    sumamente agradveis, outros prendem-se a incidentes tristes e desagradveis provocados pela

    conduta dos visitados.

    Os anjos so mensageiros de Deus. Abrao conhecia esse fato, de modo que, quando foi

    visitado pelos anjos, hospedou-os como convm aos servos de Deus.

    Sendo os anjos mensageiros de Deus, lgico que so eles enviados ao povo salvo, e,

    de forma especial, igreja, onde se centralizam as atividades espirituais do povo do Senhor.

    A misso especfica dos anjos que visitam a igreja, pode ter duas faces distintas: trazer

    da parte de Deus a mensagem da graa e a proteo divina, ou levar ao Cu o relatrio do que

    observam na igreja: o grau de brilho e at onde se projeta a sua luz, bem assim o que constatam

    nos cultos que a igreja realiza normalmente.

    Certamente no podemos antecipar com exatido o contedo dos relatrios que os anjos

    levam ao Cu, cada vez que so enviados em misso junto igreja. Entretanto, pode-se fazer

    uma idia aproximada de alguns relatrios apresentados pelos anjos. Se interrogssemos um dos

    mensageiros do Senhor, sobre o que viu nas igrejas dos dias atuais, ficaramos perplexos ante a

    descrio duma testemunha veraz, relatando a decadncia dos costumes salutares usados na

    igreja primitiva. Entre outras coisas o anjo diria:

    - "Assisti a um culto em que no havia a luz plena do Evangelho; tambm no vi

    qualquer manifestao do poder de nosso Deus, talvez porque os homens se tenham esquecido

    dos tempos dos milagres. Como conseqncia dessa falta, notei ausncia do temor de Deus:

    parecia que em muitos a luz da graa ainda no havia penetrado no corao. Ouvi o coro cantar,

    porm a harmonia no chegou ao Cu; a razo clara: cantou sem entusiasmo, sem inspirao;

    alguns componentes cantaram para mostrar a voz que possuam, e sua capacidade artstica, e

    essa circunstncia desajustou de tal forma o conjunto, que no era possvel entender o que

    cantavam. O coro apenas era ouvido dentro da igreja, mas o canto no exerceu qualquer ao

    benfica duradoura nos coraes que a ele assistiam, porque no havia o propsito nico de lou-

    var a Deus.

    "Ouvi pregadores apresentarem sermes diferentes da exposio da Palavra de Deus,

    que deveria ser vivificada pelo Esprito do Senhor. A preocupao deles era agradar o auditrio:

    esqueceram-se, naquele momento, de que os pregadores do Evangelho so apenas instrumentos

    de Deus; por isso mesmo, suas palavras eram frias. Deus no podia us-los, pois eles

    transformaram-se em donos do plpito e em senhores da pregao.

    "Em dado momento, alguns cantores levantaram-se, viraram-se para os assistentes

    como se eles fossem a atrao e a razo nica da reunio. Os cantores, imitando os pregadores,

    tambm se esqueceram de Cristo: cantaram como se estivessem exibindo seus dotes artsticos, e

    no para louvar a Deus. O cntico, a exemplo do que aconteceu com o coro, ficou circunscrito

    ao templo, no subiu ao Cu nem foi ouvido na Glria; faltava-lhe a inspirao e motivo maior

    de adorao: cantaram mas no foram ouvidos.

    "Assisti tambm a certas festas de mocidade, mais concorridas que os cultos

    devocionais e de adorao. O que presenciei foi simplesmente de entristecer: msicas profanas,

    chocarrices, termos tomados do mundo, humorismo de sargeta, enfim, tudo tal qual usam os

    mundanos: falta absoluta de espiritualidade e vida de Deus.

    "Entretanto, o que reputei muito grave foi o que vi em reunies extra-oficiais: lutas

    polticas dentro da igreja, oficiais murmurando contra os pastores, faces opostas em

    desarmonia, sendo essas as causas de no haver manifestaes do poder de Deus, como nos dias

    antigos.

    "Tambm'vi, e no me esqueci, at onde a acepo de pessoas pode arrastar a Igreja de

    Cristo, e como lhe rouba o brilho que devia possuir. Vi a recepo ao irmo F., membro

  • 27

    influente na igreja, por motivo de seu aniversrio. Foram tantos os elogios de uns e os

    agradecimentos de outros, que o Esprito Santo entristeceu-se por haverem esquecido o nico

    nome digno de honra e louvor.

    "Havia presentes outros membros que tambm aniversariavam, porm eram pessoas

    simples, sem prestgio social, por isso ningum tomou conhecimento do fato: ningum os

    cumprimentou.

    "Apesar de no ocuparem os primeiros lugares, pois fazem questo de no aparecerem

    aos olhos dos homens, vi o pequeno exrcito annimo que mantm aceso o fogo no altar, isto ,

    aqueles que se dedicam a orao pela igreja, e os que trabalham e evangelizam nos locais mais

    humildes alguns deles so quase desconhecidos da massa, mas Deus os conhece.

    "So eles os fachos de luz que ainda alumiam a igreja. Se eles faltarem, Deus no tem a

    quem confiar a misso de luzir, pois os outros se preocupam em mostrar sua capacidade, em

    lugar de se esconderem para que Cristo resplandea."

    Amigo leitor, possvel que tudo isso e algo mais acontea na sua igreja e anjos a ela

    assistam, sem que os homens de tal coisa se apercebam. Quantas e quantas vezes um anjo do

    Senhor no se afasta da igreja, envergonhado e entristecido por no ser acolhido como um

    mensageiro de Deus.

    Se tal coisa acontecer, a igreja no ter de que se orgulhar, ter somente de lamentar a

    falta de uno para ver os mensageiros do Senhor. - Estaro essas coisas acontecendo na sua

    igreja?! No ser uma situao perigosa viver diferentemente da igreja dos dias primitivos? Por

    que no voltar simplicidade da f? Todos ns temos de responder, se no quisermos ver a

    nossa igreja sem brilho no relatrio dos anjos.

  • 28

    13

    Tochas Profticas

    A fraqueza da igreja reside na falta de viso para mirar todos os aspectos da obra de

    Cristo. O que rareia na igreja de nossos dias o ministrio proftico, que brilhou no Antigo

    Testamento, e que foi o ponto alto das mensagens que implantaram avivamentos e conservaram

    no esprito do povo a esperana da vinda do Messias.

    O cristianismo possui o aspecto soteriolgico que nenhum cristo deve desconhecer,

    pois esse o aspecto essencial da obra de Cristo; esse ponto no o homem nem a igreja que

    podem realiz-lo, mas somente Cristo. Ele o Salvador: aos homens cabe anunci-lo. Se faltar

    ao cristianismo a idia de salvao e a mensagem direta a cada criatura, a obra da Cruz estar

    prejudicada.

    Portanto, fixemos bem essa face da questo, a fim de que ela no venha a prejudicar

    outros aspectos de carter proftico, que tambm devem brilhar.

    Em quase todos os captulos deste livro, toda a nfase tem recado sobre a soteriologia,

    a fim de contrabalanar as idias que correm mundo com o nome de crists, pondo de lado o

    problema fundamental, que a salvao e apresentando, em seu lugar, o cristianismo social,

    coisa muito diferente do verdadeiro cristianismo, que espiritual.

    Nada teramos e nada temos a argumentar contra a igreja que capaz de enfrentar os

    problemas sociais, sem, no entanto, prejudicar os problemas espirituais. Se alguma comunidade

    puder conservar em primeiro plano suas atividades de carter espiritual, e, ao mesmo tempo,

    cuidar, com elevao, dos problemas sociais, faa-o. Porm descurar os problemas do Esprito

    para atender s questes econmicas, significa no crer nestas palavras de Cristo: "Nem s de

    po vive o homem".

    As obras sociais, educacionais e beneficentes, claro, so boas, so teis: representam

    um papel relevante na sua esfera de ao na sociedade enferma; entretanto elas no podem

    sobrepor-se aos interesses vitais da igreja, transformando-a numa sociedade humana; no podem

    substituir a f, nem ocupar o lugar da esperana. A cultura no o luminar espiritual da igreja,

    nem forma tochas profticas.

    Quando afirmamos e insistimos em que a salvao vale mais que todos os

    conhecimentos filosficos em que se baseiam aqueles que, no cristianismo, s divisam "o

    cristianismo-social", porque a experincia de milhes ensina que a salvao resolve todos os

    problemas, mas no sabem e no conseguem resolv-los.

    Entretanto, a igreja e os cristos tm diante de si um campo mais vasto para completar a

    sua misso de arautos do Senhor. Crentes e igrejas devem ser tochas profticas, ao mesmo

    tempo que pregam a mensagem da hora atual.

    O aspecto escatolgico do cristianismo um ponto ignorado por uns e abandonado por

    outros. - Onde esto as mensagens arrebatadoras acerca da segunda vinda de Cristo, mensagens

    essas to abundantes na vida e nas atividades da igreja primitiva? No um assunto que esteve

    sempre em evidncia nos vrios avivamentos, a vinda de Cristo? Por que ento silenciar sobre

    uma verdade que uma promessa fundamental? Como podero os cristos estar informados

    sobre o grande dia do encontro de Cristo e a Igreja, se no houver vozes profticas que possam

    ser usadas por Deus para anunciar esse acontecimento? Como podero os salvos desejar que. tal

    acontecimento se realize, se no conhecerem o fausto, a glria e a felicidade que vero e de que

    participaro, se as tochas profticas no sarem a proclam-lo?

    A igreja e os cristos parecem atacados de amnsia: nem a mais leve aluso se faz ao

    grande acontecimento do Milnio. -Acaso no est o Milnio ligado a Cristo no plano de Deus?

    Ser que as igrejas e os cristos no esperam que a Palavra de Deus se cumpra em toda a sua

    plenitude? Dar-se- o caso que algum suponha que o Milnio j passou? Se o Milnio um

    acontecimento transcendental ligado obra de redeno, por que no divulg-lo com o destaque

    que merece?

    A fase positivo-definitiva do trmino das lutas, atividades, perseguies, testemunho e

  • 29

    perigos da Igreja de Cristo, somente se realizar quando ela se estabelecer na nova Jerusalm,

    onde habita a justia, onde os salvos comearo a viver a vida de gozo e louvor a Deus e ao

    Cordeiro. No h acontecimento que supere o esplendor e a magnificncia que haver no novo

    Cu e na nova Terra. O ouro, no pas de Beul, serve, apenas, para calar as ruas por onde

    passam os santos e o Rei de toda a Terra: as prolas mais preciosas adornaro as portas dos

    muros e dos palcios.

    O que ser a riqueza incrustada no interior dos magnficos palcios, o que ainda no foi

    revelado ao mortal, nem a mente humana pode descrev-lo.

    Essas riquezas espirituais esto intimamente relacionadas com a obra de Cristo. -Se

    pertencem ao povo de Deus, por que no anunci-las por toda a parte?

    A responsabilidade de anunciar verdades e acontecimentos futuros pertence igreja e

    aos cristos; eles que devem ser as tochas profticas a projetar o claro da graa e a reviver as

    verdades e as promessas que aguardam seu cumprimento.

    s tochas profticas cabe a misso de despertar os dormentes; as tochas profticas tm

    de arder, e, antes que tudo, iluminar os coraes com a mensagem de esperana de dias plenos

    de graa e bem-aventuranas na ptria dos salvos.

    A igreja deve ser um Sinai fumegante, ardente, tonitruante e iluminador. A segunda

    vinda de Cristo, o encontro da Noiva com o Esposo, o Milnio e seu governo, os novos cus e a

    nova Terra, e a vida perene dos salvos com Deus, so temas fascinantes que a igreja no deve

    ocultar, que devem ser postos em relevo para conhecimento e benefcio dos homens.

    Se o mundo continua desconhecendo o aspecto escatolgico do cristianismo, porque

    as tochas profticas rarearam ou extinguiram-se nas igrejas, quando a viso dos problemas

    espirituais foi ofuscada pelo falso brilho da interveno humana.

    A igreja alcanar o esplendor e o respeito de todos, se ela mesma se transformar numa

    tocha proftica, isto , se anunciar ao mundo todas as verdades constantes da mensagem do

    cristianismo, tanto as de objetivo imediato como as relacionadas com o futuro. Se a mensagem

    no for completa, sua vida no ter brilho.