seleção textos odylo costa, filho
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8/16/2019 Seleção textos Odylo Costa, filho
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Dedicatória
Tanto quisestes ter um filho poeta!
E que esse filho fosse eu, pedia,
apontando o mais velho, uma secreta
aspiração, quase uma profecia...
Bem cedo me perdi na busca inquieta
dos caminhos mas sempre a poesia
foi para mim patética e incompleta,
desaeitada aora, aora fria.
"eio depois a vida e merulhou
a minha alma na rande dor severa,
barco afoado em rio adormecido.
Do sofrimento o verso rebentou.
#ntes, meu $ai e minha %ãe, quisera
que esse verso amais fora nascido.
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# ponte
$ara quem sabe andar de olhos abertos
e&iste um mundo em cada rão de areia.
Dentro dele h' seredos encobertos
onde a matéria se desencadeia.
E ao mesmo tempo o mar é meu consolo.
( homem criou o barco, e de paredes
fe) a casa, tiolo após tiolo,
para o abandono sensual das redes.
( infinito da linha do hori)onte
se dispersa e concentra no infinito
do universo das coisas pequeninas.
*ão tenhas medo, minha amia. # ponte,
que lia a vida e a morte como um rito
de amor, cobriu +se aora de boninas...
8/16/2019 Seleção textos Odylo Costa, filho
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. Boca da noite
Boca da noite
De repente, eis+me em tudo tão tranquilo
como se a morte ' tivesse vindo.
*ão me ocupa o amanhã para constru-+lo.
*em me lembra se o ontem não foi lindo.
Da cin)a não me quei&o pois foi brasa.
Entre os livros não sofro solit'rio.
rvore e fi lhos deram lu) / casa.
Tive flores de irmãos no meu calv'rio.
0into entre as sombras o invis-vel rio
descer tão lento aora que a canoa
para no susto antio que a povoa.*em aleria ou dor, calor ou frio.
*o mundo ponho uns olhos bons de av12
foi a boca da noite que cheou.
3ivro Boca da *oite, Editora 0alamandra, 454
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6. # morte do atleta
# morte do atleta
7omo um fruto partido
soluça a mão do atleta.#inda quase um menino.
$odia ser um poeta.
( tiro que o matou
nasceu da madruada
tra)endo a doida face
da morte mascarada.
( tiro que o matou foi
tiro de assassino.
Era apenas um atletadesarmado, um menino.
*ão era rei, filósofo,
pol-tico ou profeta.
Tinha alma de menino
em seu corpo de atleta.
( tiro que o matou
era um tiro sem meta2
o ódio abriu+lhe no ar
uma estrada secreta.
E o rande corpo morto
santificou o chão.
8uem morre pelos outros
nunca morreu em vão.
9amais a ideia limpa
e o oo do destino
encobrirão de sonho
o tiro do assassino.
8uem mata um inocente
com riso de menino
não quer a liberdade2
tem alma de assassino,
qualquer que sea o credo,
a raça, a roupa, o hino,
quem mata um inocente,
um atleta, um menino.
%assacre de %unich, 4563ivro *ot-cias de #mor, Editora #rtenova, :io, 454
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;. Eterno
Eterno
0ou o perfeito imperfeito,
de imperfeiç<es é que sei.
%as, se me deres teu corpo,
perfeito me tornarei.
$enso por ve)es na morte,
pois sou mortal, morrerei.
%as, se me deres a boca,
nela ressuscitarei.
%esmo, porém, nessa boca = ai de mim! que bem o sei =
o travo da areia amara
pune em meu beio de rei.
= 7apitão, foi na tua alma
que a perfeição encontrei.
7apitão, d'+me tua alma2
para sempre viverei.
3ivro *ot-cias de #mor, Editora #rtenova, :io, 454
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>. 0oneto da #rca da #liança
0oneto da #rca da #liança
*ão contemos os anos, mas as noitese as madruadas e as manhãs e as tardes.
*ão contemos o rio, mas o barro,
as otas d?'ua, as roças, os caueiros.
*ão contemos as dores mas o 7risto.
*em quanto sanue nosso se perdeu
mas o oo, a conversa, a aralhada
que cantou infantil em nossa casa.
Barra do dia quando os trens acordamvenha de novo nos lavar a vida
e somar as canoas do 3evante.
0ea o n@mero em nós desfeito em canto
e nas cercas da beira dos caminhos
a rosa aponte os arcos sobre o mar.
3isboa, A de 9aneiro de 4A5
#rca da #liança, livro 7antia ncompleta, 3ivrara 9osé (lCmpio, 45
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. #ntemanhã
#ntemanhã
8uem cr na vida não recusa a morte,
sabe que a noite vem, espera a aurora.%erulha ambas as mãos no a)ul da sorte,
auarda, seren-ssimo, sua hora.
3embra Fe dóiG a del-cia que encerrou
nos paladares crus da mocidade.
%as em ve) de prender+se ao que passou
desenha as utopias de outra idade.
De uma outra idade mais feli) = e quanto! =
onde haa imperfeição, onde haa pranto
mas não falte consolo humano a quem
precisa de outro aluém que o sinta aluém.
*esse mundo melhor, de braço dado,viveremos o sonho inacabado.
(s mirantes do lhéu, livro Boca da *oite, Editora 0alamandra, :io,
454
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A. nocncia
nocncia
8uando eu era pequenosonhava fa)er um acordo com todos os homens
para não prenderem mais p'ssaros.
Hoe me perunto2
*em homensI
3ivro *ot-cias de #mor, :io, 455
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5. ( $erseuido de Deus
( $erseuido de Deus
Deus dói dentro de mim como estrela cadente.
%as por que sua linuaem é de e&tremosI
$or que fala mais sofrimentoI $or que tantas ve)es se calaI
$or que esconde a aleria como semente no chão secoI
Deus pula dentro de mim como o alto+mar nas manhãs,
como a diferença das marés no porto, de que dependem os barcos para
partir.
%as por que tão descompassadoI $or que aos saltosI
Deus não é uma casca de 'rvore a se desmanchar de velha.
Deus é novo. *ovo! *ão só eterno, mas novo.*ão uma pele esticada a se romper sobre um corpo,
mas uma presença entre os homens,
um companheiro a quem se d' o braço para ir ao café da esquina.
$or que então aos ritos me fala como um
desconhecido a outro desconhecidoI
6
$enso em Deus como rede de dormir dentro da noite,
na mata, sob as estrelas.*oite suave, noite fresca mas sem ventos que a turvem2
luar que s@bito invade, rilos @midos, mãe+da+lua lone.
Deus de repente, porém pressentido e manso.
Então me oarei em Deus como num tambor reteso
e em foo = mas de que nasçam apenas sons encadeados de marcha
volunt'ria
/ espera da cheada do :eino na clareira.
E da alma brotarão rios de sono
para serem partilhados de porta em porta como pão.
:io, fevereiro de 456.
3ivro *ot-cias de #mor, Editora #rtenova, :io, 455
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J. 0oneto do amor correspondido
0oneto do amor correspondido
%ore happC love! %ore happC, happC love!
Keats
0ei apenas do amor correspondidoL
outros falem do amor mais infeli).
Das triste)as da vida nunca hei sido poupado,
mas aquele é o meu pa-s.
*ele penetro e reino, e sou mantido
no seu brando calor que sempre quisL
e se não me alucino nem divido,
é que fui humil-ssimo aprendi).
0im, a felicidade se decora
como um soneto de 7am<esL e após
nunca se esquece. *ão h' mais desraça
que apaue os rastros dessa lona aurora.
Meli) amor, #mada, esse que em nós
tem a força da terra que não passa!
3ivro 7antia ncompleta, Editora #rtenova, :io de 9aneiro, 455
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4. ( ano da uarda
( ano da uarda
Deus fe) um ano para cada homem,
confiou+lhe seu corpo e seu destino.Disse+lhe2 = Nmpede que as pai&<es o domem.
Ouarda+o para ser bom desde menino.P
*a inumer'vel multidão dos povos,
na confusão das l-nuas e das entes,
não falta um ano em meio aos anos novos
para seuir os seres inocentes.
$or mais que a vida dispa as ilus<es
e enodoe a pure)a, por ferina
que sea, e mate a fé, mate a esperança,
h' sempre uma hora para os coraç<es
em que, dobrando o canto de uma esquina,
volta o ano da uarda da criança.
3ivro (s #nos em Terra Editora %onteiro 0oares :io de 9aneiro 454
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Q. # #ssunção
# #ssunção
# mais pura das mulheres,entre elas abençoada,
sobe para os céus abertos
pelos anos carreada.
#s almas todas dos homens,
em perfeita comunhão,
se untam para pedir+lhe
sua doce intercessão.
:ede nos céus naveando,
por entre os astros subindo,não se sabe se %aria
vai morta ou se vai sorrindo.
#nos e estrelas em volta
da mãe de *osso 0enhor
cantam cantias de roda,
embalos de puro amor.
3ivro (s #nos em Terra Editora %onteiro 0oares :io de 9aneiro 454
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. # andorinha
# andorinha
a uma andorinha
caminho do 7éu.
$artiu+se uma asa,
caiu num mundéu.
= N*o céu não se caçaP,
me reclama o 3u-s.
= N%as foi na viaemP,
a #ninha lhe di).
(ra esta andorinha,muito distra-da,
caiu num mundéu,
quase perde a vida.
9esus pequenino
no colo a peou,
com cuspe e palavra
a asinha sarou.
3ivro (s Bichos no 7éu, :io de 9aneiro, 45J
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6. ( astronauta
( astronauta
a um astronauta
pelo céu so)inho2
dei&ou seu fouete,
perdeu seu caminho.
Era tudo branco
= por dentro ou por fora =
porém não chorava,
porque homem não chora.
$ediu2 = N%eu 0enhor,acabai com a Ouerra,
mesmo que eu não possa
voltar para a Terra!P
Moi Deus e mandou
um ano levar
o moço, na $'scoa,
de volta pro lar.
E e&ércitos de asas
vieram pelo arcom palmas e rosas
a Ouerra acabar.
3ivro (s Bichos no 7éu, :io de 9aneiro, 45J
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;. # dor
# dor
Ma) que a dor apenas te aponte num canto da boca2
assim as pedras escondidas no marse desmancham na espuma dos recifes.
Em #rca da #liança, 3ivro 7antia ncompleta, :io, 45
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>. Di'loo
Di'loo
Rm homem cheou e disse2
= # mim interessa sobretudo o porqu das coisas.$or que a cobraI
%as outro respondeu2
= # mim ainda mais interessa o para qu.
$ara que o marI
Em #rca da #liança, 3ivro 7antia ncompleta, :io, 45
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. Eleia
Eleia
# pedra, e o que h' dentro dela.# 'rvore, e o que h' dentro dela.
( corpo, e o que h' dentro dele.
3eves são as nuvens no céu.
%esmo no cemitério abandonado
h' flores e velas acesas2 o amor vive.
(s asmineiros cobrem as sepulturas
pobres como renda cheirosa e lençol branco.
#s mãos se fecham. 9untas escondem
a veia aberta.
Em #rca da #liança, 3ivro 7antia ncompleta, :io, 45
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A. *oite
*oite
( pior não é quando o sono custa a chear.
H' sempre invenç<es Fvelhas e novasG para suportar a vida.
8uantos séculos ter' a palavra passatempoIG
0e não sabes me&er no amão, que menino viste os velhos oarem na
varanda,
vai ao cinema ou mesmo toma 30D.
# televisão não te d' sonoI
( pior é acordar no meio da noite
e esperar = esperar! = até que as sombras se me&am na antemanhã.
Em #rca da #liança, 3ivro 7antia ncompleta, :io, 45
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5. $'tria
$'tria
*ão te quero, Brasil, para sonhar+te
na fantasia in@til de quem dorme,nem muito menos chearia a odiar+te
na confissão de um desespero enorme.
Em cada face que a meu lado escuta
procuro ler+te. E veo desde o campo
onde a flor mi@da encobre a lae bruta
e cheira aos pés do meu cavalo pampo.
#bro a anela sobre a rua escura
e alta. # cidade rande ri mas sente
crescer, sob aço e vidro, a desventura.
$'tria, te escondo em mim. Ss a semente
que no sanue ermina impressentida
para que não pereça ressequida.
0ão $aulo, abril de 45Q
Em #rca da #liança, 3ivro 7antia ncompleta, :io, 45
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J. 0oneto do amor teimoso
0oneto do amor teimoso
#mo+te hoe do mesmo amor teimosodaquele dia em que te vi primeiro
e se te amei desde o primeiro instante
hei de te amar até o derradeiro.
0omam+se em mim para te amar a vida
e a morte2 nem amais eu suspeitara
que do capricho pela adolescente
viesse esta força indefinida e rara.
#mor feito resina, porque chora,
calado como as coisas, como o chão,mas capa) de irromper = estranha lava =
numa festa de flor, só flor, mais nada,
cobrindo o tronco velho e os alhos secos
como as quaresmas que teu filho amava.
Em #rca da #liança, 3ivro 7antia ncompleta, :io, 45
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4. 0oneto do retrato de $ortual que o autor não conseue concluir
por se ver perdido em meio /s suas lembranças
0oneto do retrato de $ortual que o autor não conseue concluir por
se ver perdido em meio /ssuas lembranças
%ulheres no mercado da montanhaL
campos abertos, p'lido trialL
e o mar emendo, numa dor estranha,
bicho vencido, aos pés do pinheiralL
e o casarão do amio em meio / serraL
e os rios a descer entre vinhedos
sobre o sanue dos homens e da terraL
vilasL barcosL touradasL arvoredosLe o pão de ló na quinta, o arro) de pato
que mãos amadas sabem preparar...
%as onde me perdiI Este retrato
dói de escreverI Dói mais de recordar.
0anram nele sobreiros mutilados
na desordem dos sonhos acordados.
Em #rca da #liança, 3ivro 7antia ncompleta, :io, 45
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6Q. 0oneto de *ossa 0enhora do Bom $arto
0oneto de *. 0. do Bom $arto
# adolescente era a palmeira esuia
de tranças. %as no mel do seu cabelotal mistério morava que de v+lo
a alma desesperada renascia.
Era a Bele)aI # simples aleriaI
Era a presença do sutil desveloI
Era a raça, era o corpo, era a poesiaI
Era a saudade do materno )eloI
Era a esperança, a fé, a caridadeI
mposs-vel di)+lo com certe)a.
%as nela havia tanta eternidade
que p1s *ossa 0enhora do Bom $arto
nove bocas em torno / nossa mesa
e uma sombra perene em nosso quarto.
# "isita do #no, livro 7antia ncompleta, 45
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6. 0oneto do menino chorão
0oneto do menino chorão
Mui menino chorão. #s alerias
alaavam de sol os meus instantesmas afloravam l'rimas constantes,
poços de timide) entre meus dias.
Daqui me curvo sobre aquele pranto.
:io, feiras, cavalos, pescadores,
currais e tanques, céu no chão sem dores,
e o menino no meio a chorar tanto.
0em nenhuma ra)ão. %as pressentia
o sofrimento que depois viria,
maré de areia como um rosso mar.
Hoe, sobrevivente malferido,
de olho seco, submisso, desmedido,
quero chorar mas não sei mais chorar.
Tempo de 3isboa, livro 7antia ncompleta, :io, 45
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66. lhéu
lhéu
*asci numa ilha.
Era meu destino.*uma ilha vivo
desde pequenino,
a estender os braços
pelo mundo todo
em busca de traços
que / terra me liuem.
8uero o continente!
*ão me dei&em só,
não me quero ausente.
*inuém me compreende
esta busca ansiosa2tenho o mar comio,
quero ainda a rosa.
9ouem fora a Uncora!
$ois o amor que achei,
meu anel de amios
e a casa do rei
tra)em sede e fome
de mais terra e céu.
$or Deus compreendam
quanto sou ilhéu!
7areço de afetosem roda de mim.
Moi sorte ou desraça,
numa ilha vim.
Tempo de en&urrada
nessa ilha nasci,
como a 'ua que corre
sou daqui, dali.
$or Deus me acarinhem
que nasci na ilha,
num ms de en&urrada,ms de 'ua andarilha,
sobrados e terra
porém terra pouca,
lavado a)uleo
sob uma 'ua rouca.
%eu amor me abraça
porque sou ilhéu
ando só = na areia
entre 'uas e céu.
(s mirantes do lhéu, livro Boca da *oite, 454
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6; 7r1nica da outra #mérica
7r1nica da outra #mérica
# Homero ca)a+0'nche)
0onhei contio, %anuel, mas o sonho não basta.
8ue pena não estares vivo = e conosco = para nos acompanhares = e
uiares =
nesta visita a um mundo insuspeitado. *ão *orte #mérica!
*ão, pelo menos, a #mérica do *orte do mito contemporUneo,
substituta do dem1nio das abus<es medievais.
Em Harvard o velho livreiro de JQ anos
que não sabia se abriria aos s'bados = era tão velho!
e só abria ou fechava quando lhe dava vontade, mais para servir /s
moças e rapa)es,e menos porque não pudesse andar só
do que por h'bito de amor e osto da
companhia esperava a mulher para sair do pequeno quarto
coalhado de livros em cua porta orulhosamente escrevera2
N$oetrC! (nlC poetrC! *o laVs,
*o science,
*o economics,
*o public health, (nlC literature!P
r-amos untos / missa dos estudantes católicos na Harvard Warde participar-amos da aleria coletiva pelo batismo de #le&ander,
no Xidnapped, sim, não raptado mas admitido /s portas de uma esperança
maior,
e ouvir-amos a mãe de #le&ander falar sobre o tempo em que o trou&e no
ventre,
e o pai de #le&ander sobre a confiança no ser humano.
Depois comunar-amos sob as espécies do pão e do vinho,
o esp-rito de Deus seria em nós uma aleria de primavera,
e dançar-amos em roda, com o padre e as
crianças, de mãos dadas, uma canção das ilhas, com sereias e ervas,
Deus, vento e sol.
8ue não diria o 7outoI
Era capa) de entrar na roda também.
( Dante %ilano ficaria só olhandoI *ão é capa).
3evar+te+-amos em seuida a conhecer 0eu
Oilberto que est' h' cinco anos na #mérica e não sabe
inls = nem pretende aprender =
pois para lavar chão basta a fala dos #çores
e, entretanto, ' tem uma casa de trs andares
e ouve o 7ardeal de Boston nesta nossa fala de *ossa 0enhora.
8/16/2019 Seleção textos Odylo Costa, filho
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Em *ova orque a mulher na noite me disse2
= 9e suis une trYs pauvre femme!
Todavia não lhe dei esmola.
Esse pecado ser+me+' cobrado no 9u-)oI Deus me perdoe.
%anuel, que saudade!De repente sou todo recordação de filhos e amios mortos e vivos
e tenho de recorrer ao amor sem limites de
7risto e de Zalt Zhitman para me reencontrar comio = e com a
esperança.
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$avana para um preto defunto
de maio de 4>5
0e alum dos meus leitores conheceu o preto %anuel do
*ascimento, que era carabineiro de elevador no rande e frio
edif-cio de tristes colunas neras, que fica atr's da Escola deBelas #rtes, que saiba apenas que ele morreu, mas não queira
saber como foi. Basta a triste)a de sab+lo morto, porque se o
conheceu, certamente ostava dele. # profissão de carabineiro
tem suas vantaens, como ele costumava me di)er, e entre essas
est' a de estar subindo sempre, mesmo descendo se tem a certe)a
de que vai subir de novo. %as o certo é que este subir e descer
não em anos, mas em minutos, termina cansando até a morte. D' um
tédio enorme da vida. 7onheço aluns que procuram fuir da
monotonia de subir e descer contando o n@mero de passaeiros Fh'
até um aparelho para issoG. (utros foem e ficam lone,
sonhando, dei&am só o corpo atendendo maquinalmente aos comandos
mal silabados.
%anuel do *ascimento descobriu um eito de fuir muito melhor2
conversando. Ele era um desses homens que Deus enche de aleria
e solta no mundo2 e a aleria desse tipo é profunda, mas não
silenciosa como a do nosso maior poeta. Ela ou rebenta pelos
poros, pelas mãos, pela fala, ou a ente enlouquece. # verdade é
que %anuel do *ascimento parecia mesmo um p'ssaro, com sua farda
a)ul, o nari) sem-tico, o biode nero no rosto nero, uma
anhuma que em ve) de soltar seu rito de solidão e de lamento,
transmitisse aos demais seres uma lição de pacincia e decoraem2 aleria.
%orreu, isto é, mataram+no. 8uem foiI 8uando peruntei isso,
ouvi de muitas bocas uma coisa imposs-vel, uma coisa que
lembrava as superstiç<es não direi da dade %édia, mas de nossa
dade 7ontemporUnea, aluma coisa assim de indefinida ou
misteriosa como o %orceo de Dusseldorf, o Homem da 7apa $reta,
MranXenstein ou o %icróbio. Di)iam2 foi a $ol-cia. %as apenas
voltando a mim, reai contra a imaem que formara de uma sombra
nera e iante, sem nome nem mãos. Rm dos que foram v+lo no
necrotério me disse que se notava n-tida, na arca do peito, amarca de uma botinaL e se botina havia, alum pé a calçara.
*essa mialha de lóica é que me seurei para voltar a mim e
raciocinar com calma. Dio mialha de lóica porque quem afirma
que uma botina, para matar um homem, precisa estar calçadaI
Depois é que fui liando os demais detalhesL soube que %anuel do
*ascimento tinha bebido um pouco na tarde de s'bado, quisera
entrar num baile em Botafoo, parece que ou preto não entrava ou
ele não era sócio, chamaram os uardas Fos uardas, os soldados,
é sempre mais aceit'vel do que este mito, a $ol-ciaG, deram nele
até o Distrito, onde morreu. 0e no Distrito apenas morreu ou
ainda apanhou, ninuém soube contar. E se era mesmo porque preto
não entrava na afieira de Botafoo, não procurei saber, fui de
8/16/2019 Seleção textos Odylo Costa, filho
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saber. 8ueriam me contar, mas me recusava a ouvir. *ão seria
monstruoso que mesmo entre os pobres houvesse o preconceito de
corI *ão quis saber ou então não dormiria tranq[ilo, iria, pela
primeira ve), / sessão esp-rita, para convocar o velho 9oaquim
*abuco, contar a ele que não bastava que os neros tivessem
profiss<es diversas e até reliião diversa, ' aora nem nobaile dos brancos pobres podiam entrar. #ceitei a versão de que
%anuel do *ascimento não entrara no baile porque não era sócio.
*em mesmo porque tivesse bebido, por que quem pode dei&ar de
beber um pouco neste pa-s e com este overnoI
7reio também, para honra dos uardas ou soldados, que eles forma
v-timas de um monstruoso mal+entendido, um dos maiores desta
terra de equ-vocos. De muita ente tenho ouvido que a função da
pol-cia é bater. N(nde voc viu pol-cia que não bataIP, me
peruntava um antio e perpétuo estudante de direito em Belo
Hori)onte. E arumentava, triunfante e desatinado qual se fora
um dos irmãos Oóis %onteiro2 N$ol-cia que não bate não é
pol-cia. $ol-tica tem que baterP. Docemente, declarei que me
parecia que o fim da pol-cia é impedir que se bata e não bater,
não substituir+se aos que batem. # utilidade de uma pol-cia que
batesse só me pareceria defens'vel se todos os desordeiros \ e
dos demais criminosos \ abdicassem sinceramente das suas
atribuiç<es, direitos e deveres, em favor da pol-cia, que então
tomaria a si as funç<es, que deve prevenir, daqueles que deve
prender. Estabelecer+ia então um reime lóico, claro e
perfeitamente coerente, baseado no e&clusivo NsóP e não no
contraditório NtambémP. E&emplo2 NsóP a pol-cia mata, só apol-cia anavalha, só a pol-cia esbordoa, só a pol-cia rouba, só
a pol-cia furta, só a pol-cia atenta contra a moral e os bons
costumes. E ser-amos todos feli)es.
7onfesso francamente que o sistema atual me parece um pouco Fum
pouquinho sóG ilóico. # pol-cia /s ve)es intervém quando h'
dois sueitos briando, embora sea uma bria proporcionada e
arad'vel. (utras ve)es intervém quando um herói autntico, um
desses que uardam na terra, sob os mais sutis disfarces, a
imaem da cavalaria andante, bebeu um pouco e desafia de)enas de
outros. $oder+se+ia supor que entra ao lado da minoria, mesmoquando essa minoria não precisa de auda nem ritou2 N#qui, d?El
:eCP, para restabelecer o equil-brio de uma boa bria. %as não,
não é a dinidade da luta que a preocupa. ntervém sempre ao
lado da maioria, e intervém para retirar do local, sob pancada,
a minoria Fmesmo quando ela é de um só e est' vencendoG e para,
conservando a desproporção, impor+lhe a humilhação da derrota.
ntervém ao lado dos filisteus contra 0ansão, transforma a
vitória de 0ansão na mais esmaadora derrota, e, satisfeita de
ter imposto a vinança de muitos contra a revolta de um só, que
não a convocara, esfrea as mãos de contente.
Tão e&aerada quanto a opinião do antio estudante de Belo
Hori)onte foi a dos médicos que encontrei ontem. Eram contra a
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forca, o fu)ilamento, mas achavam que um caso desses ustificava
a pena de morte2 o abuso do poder que provoca morte d?homem.
$enso de outro eito. 8ue haa um inquérito, est' bem, mas nem
isso mesmo a rior é necess'rio. Entre as poucas coisas que
podemos confiar na vida, est' o ulamento divino. Miquemos
tranq[ilos que Deus h' de medir se houve crimeL e se crimehouve, de que importa a ustiça dos homensI Melinto pode ser
senador, ir' para as profundas. Estivesse eu tão tranq[ilo
quanto /s demais coisas desse mundo quanto estou neste ponto,
isto é, quanto / presença de outro mundo nos nossos destinos.
( que me dói é saber tão pouco da morte de %anuel do *ascimento,
mas posso afirmar que pareceu com sua vida. Ele era sempre tão
iual a si próprio, mesmo depois tantas horas de trabalho
monótono. #inda sinto sua mão no meu ombro, numa alere
recomendação que esqueci, naquele s'bado. Era s'bado, a tarde
fria, quieta, a)ul, tudo convidava a beber um pouco. 0e beber
vinho é ou não um bom costume, não entrarei nessa discussão.
3embrarei apenas que para simboli)ar o 0eu sanue, *osso 0enhor
9esus 7risto escolheu o vinho, não a 'uaL e que nem de Hitler,
nem de 0talin, ambos derramadores e bebedores de sanue de
homens, nunca se ouviu di)er que tomassem alum dia um porre+
mãe. %as parece que nem no porre+mãe estava %anuel do
*ascimentoL e disso tenho pena, embora deva acrescentar que
ainda que estivesse, não era motivo para o matarem. $orém tanto
não estava que ao chear na Deleacia creio que ainda riu para
mulher. Entreou+lhe o relóio e o dinheiro que tra)ia. # alma
deu+a a Deus, e era leve. Bastou um ano para lev'+la aos pés do7riador. E nem foi preciso um ano muito forte.
$.0. Espero não ter escrito um chorinho muito soluçado para este
nero defunto2 ele não ostaria. S certo que nem sempre atendia
aos seus pedidos. $or e&emplo2 não votei nele para vereador.
Todavia por um motivo muito simples2 nenhum partido o apresentou
candidato. #inda assim me pediu o voto2 NEu sei que o senhor não
vai votar em branco. Tem de votar é em preto mesmoP. *em o seu
próprio voto ele teve. Talve) tenha votado em branco. 3ia os
proramas dos partidos, eram todos tão iuais. *ão me lembro selhe pedi voto para este admir'vel moleque da rua 7arioca, para
esse $edro ]avier de #ra@o, que não h' eito de envelhecerL que
perto dos cinq[enta anos ainda recorda o menino alaoano que
pulava muro, fa)ia com-cio e tirava ornal em %aceió. *ão creio
que %anuel do *ascimento pertencesse a nenhum partidoL se
pertencesse, a 7Umara e o 0enado talve) ouvissem discursos
inflamados peruntando por ele. Também não adiantaria nada. (
eito é tocar p?ra frente, nunca esquecendo que quem desce sobe
de novoL quem sobe, tem que descer. E que vive, est' sueito a
morrer, inclusive se um dia tiver a desraça de ser preso. Dirão
depois que sofria do coração.