selecao de materiais de informacao - principios e tecnicas (waldomiro vergueiro)

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Waldomiro Vergueiro Seleção de materiais de informação Princípios e técnicas 2ª edição Vergueiro, Waldomiro Seleção de materiais de informação : princípios e técnicas / Waldomiro Vergueiro. – 2. ed. Brasília, DF : Briquet de Lemos / Livros, 1997. ISBN 85-85637-11-0 1. Bibliotecas – Serviços de aquisição 2. Livros – Seleção 3. Livros – Política de seleção I. Título

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Seleo de materiais de informao: princpios e prticas

Waldomiro VergueiroSeleo de materiais de informao

Princpios e tcnicas

2 edio

Vergueiro, WaldomiroSeleo de materiais de informao : princpios e tcnicas / Waldomiro Vergueiro. 2. ed. Braslia, DF : Briquet de Lemos / Livros, 1997.

ISBN 85-85637-11-0

1. Bibliotecas Servios de aquisio 2. Livros Seleo 3. Livros Poltica de seleo I. Ttulo

Sumrio

31.A seleo: um momento de deciso

52.Consideraes gerais que influenciam a seleo

6O assunto

6O usurio

6O documento

7O preo

7Questes complementares

73.Em busca de critrios de seleo

8Critrios que abordam o contedo dos documentos

9Critrios que abordam a adequao ao usurio

10Critrios relativos a aspectos adicionais do documento

114.Seleo de materiais especiais e multimeios

12Peridicos

13Histrias em quadrinhos

13Livros infanto-juvenis

15Filmes e vdeos

16Discos e fitas

17Diapositivos

18Outros materiais

185.Seleo de documentos eletrnicos

19CD-ROMs

21Bases de dados On-line

22Documentos disponveis na Internet

246.Organizando o processo de seleo

24Quem seleciona?

26Mecanismos para identificao, avaliao e registro

27Formulrios para indicao e seleo de ttulos

27Instrumentos auxiliares da seleo

287.Poltica de seleo

30Componentes do documento de poltica de seleo

30Identificao dos responsveis pela seleo de materiais.

318.Doaes

329.Reconsiderao da deciso de seleo

3210.Tpicos especiais de seleo

33Seleo e formao profissional

34Seleo e censura

37Seleo e cooperao bibliotecria

38Seleo e direitos autorais

4111.O futuro da seleo

41A adequabilidade do livro

42O custo do livro

42O contexto social da informao

43A seleo de materiais na era da informao eletrnica

4512.Consideraes finais

4513.Bibliografia complementar

46Livros

47Peridicos especializados e artigos especficos

48Documentos e listas de discusso na Internet

1. A seleo: um momento de deciso

O bibliotecrio talvez no saiba, mas h um momento em que chamado para tomar uma deciso. Ou seja: um momento de deciso. No que deva sentir-se uma Shirley MacLaine ou uma Anne Bancroft, mas a sensao talvez seja parecida com a que elas experimentaram no filme Momento de deciso (The turningpoint) (se algum ainda no assistiu, assista). H um momento em que o poder de deciso pode estar nas mos do bibliotecrio. quando da seleo. De livros, peridicos, discos, filmes. De qualquer material passvel de fazer parte do acervo. De qualquer item cuja incorporao ao conjunto existente contribua para que se aproxime mais dos objetivos estabelecidos para aquele agrupamento de materiais informacionais. Assim, ao menos potencialmente, o bibliotecrio interfere na vida de inmeras pessoas. Quando um simples ato profissional define o universo de informaes a que um grupo de usurios ter acesso, pode-se dizer que o bibliotecrio detm o poder. O poder.

Mas, considerando o acima exposto, algum poder perguntar: o que, exatamente, significa isso? Entre outras coisas, significa que o bibliotecrio, queira ou no, um elemento que est permanentemente interferindo no processo social. Isto, sem dvida, uma espcie de poder. O quanto este poder interfere de fato no processo social j uma outra questo, que provavelmente exigir uma resposta mais elaborada.

O universo das probabilidades infinito: imagine-se, por exemplo, que um grande pesquisador necessita de uma informao sobre determinado componente qumico, e que essa informao lhe permitir desenvolver uma vacina contra a AIDS. Vai biblioteca e descobre que ela no possui o ttulo que traz essa informao. Preenche um formulrio sugerindo a aquisio do livro e espera sua chegada. O bibliotecrio, ao analisar o pedido, decide que aquele documento no est entre as prioridades da coleo e o rejeita. Infelizmente, o pesquisador no tem a possibilidade de utilizar outras fontes, pois algum tempo depois da deciso falece em um acidente automobilstico. Com isso, anos de pesquisa so comprometidos e uma descoberta cientfica atrasada. Tudo isso porque o bibliotecrio no selecionou o material que permitiria ao pesquisador concluir sua pesquisa...

claro que isso tudo um exagero. No o caso de se deixar envolver pela parania. Esse exerccio de imaginao busca apenas salientar que o efeito que uma deciso pode ter sobre a vida dos usurios realmente inimaginvel.

Assim como se pergunta o que efetivamente esse poder do qual o bibliotecrio est imbudo, pode-se questionar se e quanto ele est preparado para assumir esse papel ou utilizar esse poder (presume-se: em benefcio da sociedade). Infelizmente, deve-se admitir que a resposta a essas perguntas, pelo menos na maioria dos casos, seria negativa. Os motivos? Muitos e variados, indo desde a falta de conhecimentos bsicos sobre o mercado editorial o que, para dizer o mnimo, lhe possibilitaria tomar as decises de maneira mais eficiente -, at sua inconscincia sobre a importncia da atividade de seleo. Por isso, o mais das vezes, esse poder acaba se transformando em fumaa. Foge. s vezes por culpa do profissional, mas nem sempre. s vezes os demais personagens do sistema informacional (superiores hierrquicos, como diretores, secretrios municipais e prefeitos; ou grupos de usurios, como os pesquisadores, os professores, etc.) assumem esse poder. E o bibliotecrio fica a contemplar outros tomando decises nas quais muito teria a contribuir. travestido de ajudante-de-ordens, executor, escudeiro e outras denominaes to ou mais degradantes quanto essas (pelo menos, sob este ponto de vista). Uma situao no muito agradvel para um profissional com um perfil de nvel superior, deve-se convir...

O que foi dito acima leva, preliminarmente, necessidade de estabelecer uma premissa bsica, sem a qual toda a discusso que se pretende fazer a seguir perder sua razo de ser: o bibliotecrio tem algo a dizer no que se refere seleo de materiais para as bibliotecas (se algum no concordar com isso, far melhor em fechar o livro neste momento e sair para comer uma pizza...). Como fundamento dessa premissa, devem-se salientar dois pontos:

1) O bibliotecrio conhece, ou deveria conhecer, o acervo sob sua responsabilidade, sabendo melhor do que ningum em que aspectos ele est fraco, em que aspectos ele est forte, em que aspectos ele atingiu um estgio ideal de desenvolvimento;

2) O bibliotecrio conhece, ou deveria conhecer, o usurio cujas necessidades informacionais tem por obrigao procurar atender, sabendo avaliar objetivamente suas demandas e diferenciando as que tm caractersticas mais duradouras, ligadas a necessidades reais, das que so ditadas por tendncias espordicas, influncia dos meios de comunicao de massa ou modismos.

Estes deveriam ser argumentos suficientes para que os bibliotecrios participassem mais ativamente no processo de seleo. Na realidade, devido aos senes apontados, isto acaba no acontecendo. Nem todos os profissionais conhecem suficientemente bem o acervo sob sua responsabilidade, de modo a poderem tomar decises eficientes a respeito de incluses ou excluses que poderiam ou deveriam ser feitas nesse acervo. O mesmo se pode afirmar em relao aos usurios: em nmero de vezes maior que o desejado, no passam de ilustres desconhecidos para os bibliotecrios. As excees vo sempre dizer respeito queles usurios mais assduos biblioteca, que acabam se transformando, bem ou mal, no parmetro para todos os outros. Nesses casos, a exceo vista como se fosse a regra e as decises acabam muitas vezes tendo-a por base. Desnecessrio enumerar a variedade de distores que podem originar-se de uma prtica como essa. As bibliotecas j so um testemunho por demais gritante.

Mas que no se entenda erradamente o que aqui se prope: no se est defendendo a participao nica e exclusiva do bibliotecrio na seleo, alijando todos os usurios, como se eles no tivessem, por sua vez, nada a colaborar para o processo. Isto seria excesso de radicalismo, algo parecido com levantar a bandeira da biblioteca para os bibliotecrios que muitas vezes est por trs de um corporativismo mal-intencionado e/ou idiota. Absolutamente. Os usurios devem atuar no processo de seleo e em muitos casos ser deles a deciso final. O bibliotecrio dever sempre participar com seu conhecimento da coleo, propondo uma direo coerente para o acervo e garantindo, assim, que os objetivos para ela estabelecidos no se percam com o passar do tempo. Sua participao essencial para evitar que a coleo se transforme em um agrupamento mais ou menos desajeitado de documentos que nem sempre tm muita coisa em comum.

Parece tambm evidente que ao bibliotecrio deve caber a organizao da seleo de maneira racional e eficiente, estipulando regras, definindo critrios ou estabelecendo responsabilidades. Assim, mesmo quando no ele quem diz o sim ou o no definitivo, sua presena faz-se sentir durante todo o processo. Talvez se possa afirmar que, no que diz respeito seleo, uma das melhores contribuies do bibliotecrio esteja em sua capacidade de coordenar demandas e necessidades. conflitantes, de maneira a garantir que o resultado final seja o mais harmonioso possvel. Neste sentido ele , acima de tudo, um negociador.

Talvez o exemplo mais caracterstico desta funo de negociador do bibliotecrio seja a atividade de seleo desenvolvida em bibliotecas especializadas ou mesmo universitrias. No Brasil, ao contrrio de outros pases, o bibliotecrio no um especialista na rea em que atua. Isto equivale a dizer que um profissional que trabalha em uma biblioteca especializada em biologia ou medicina, por exemplo, no tem conhecimento formal, especializado, dessas reas. Por melhores intenes que possua, ele , usando-se uma expresso popular, apenas um leigo no assunto. E provavelmente jamais passar disso, embora os anos de experincia possam vir a trazer-lhe, de modo mais ou menos eventual, um razovel conhecimento da literatura da rea em que atua. Mesmo querendo ser o mais otimista- possvel, difcil acreditar que possa ir muito alm disso. Da ser possvel afirmar que a melhor contribuio que o bibliotecrio poder prestar ao usurio especializado ser a de coordenar as diversas demandas ou necessidades existentes, balanceando o acervo segundo a importncia relativa dos assuntos, priorizando a seleo em funo dos projetos em desenvolvimento na instituio ou dos cursos existentes, atuando em conjunto com uma comisso de seleo composta por especialistas nos assuntos representados no acervo.

Nos casos em que a deciso final de seleo no pertena ao bibliotecrio, ser necessrio que ele tenha um conhecimento bastante preciso dos procedimentos adotados nesse processo, de modo a poder defender as necessidades da coleo. Talvez at se devesse dizer: exatamente quando no possui o poder da deciso final que o bibliotecrio deve ser ainda mais zeloso em suas preocupaes com o desenvolvimento da coleo. A experincia mostra que os usurios tendem a enxergar de maneira bastante limitada o acervo, estabelecendo suas necessidades pessoais mais imediatas como o parmetro de todas as decises sobre a coleo. O bibliotecrio tem condies de ir muito mais alm.

A objetividade no processo de seleo uma meta sempre almejada. Sem ela, existe o risco de surgirem acusaes de favoritismo ou ineficcia da parte de cada usurio que no se sinta satisfeito com a escolha efetuada. Para fazer frente a essas acusaes, a nica alternativa demonstrar que os materiais foram includos no acervo segundo parmetros objetivos de qualidade ou necessidade.

Nem sempre isso ser fcil de realizar. Por trs de tudo estar a questo de definir, entre os milhares ou milhes de materiais de informao que so lanados no mercado, quais os melhores para uma biblioteca especfica. No simplesmente definir quais os - melhores mas, isto sim, quais os melhores para um determinado conjunto de usurios, alvo de uma coleo j existente (ou no). Na raiz dessa questo estar embutida a necessidade de conhecer a fundo essa comunidade a cujas necessidades aquele conjunto de documentos deve atender. Na raiz dessa questo est, tambm, a compreenso de que a atividade de seleo no realizada no vazio, mas efetuada dentro de um determinado contexto sociocultural, com tenses, ambivalncias, disputas e negociaes.

No h como fugir dessa realidade. Da mesma forma, virtualmente impossvel abolir a atividade de seleo das bibliotecas. No existem nem existiro recursos financeiros suficientes para adquirir fsicos para acomodar, ou humanos para.processar a quantidade de materiais que invariavelmente chegaria s bibliotecas, por mais especializadas que fossem. Mesmo que se admitisse a hiptese absurda de obter todos os materiais sem despender diretamente um nico centavo, por meio de doaes, as outras dificuldades continuariam presentes. No h como fugir da seleo. O sonho da biblioteca de Alexandria cada vez mais se configura como apenas isso: um sonho. Bonito, sim. Maravilhoso, talvez. Mas, ainda assim, um sonho.

Alguns bibliotecrios argumentaro que essa histria de organizar o processo de seleo parece coisa de terico: na prtica, no dia-a-dia, no se tem tempo para tanta elucubrao, pois as decises tm que ser tomadas rapidamente. No h tempo para estabelecer critrios, por mais positivos que sejam. No h tempo para avaliar as diversas alternativas, por mais que isto seja necessrio. No h tempo para a discusso nem para formar comisses, por mais que isto seja aconselhvel. s vezes, tudo tem que ser decidido quase num estalar de dedos para no se perder a possibilidade de utilizar uma verba destinada aquisio; no fazer isso significaria perder esse valor na dotao oramentria do ano seguinte, e no d para se correr esse risco. Outras vezes, no possvel interromper as demais atividades da biblioteca para examinar um a um os itens de uma doao, escolhendo apenas os que interessam de fato ao acervo.

Tudo isso e no verdade. Dizer que no se dispe de tempo para estabelecer critrios de seleo uma falcia porque, na maioria das vezes, a falta de critrios tambm obedece a um critrio, que no interessa ao profissional elucidar. Afirmar que os prazos para utilizao de certas verbas so irrevogveis pode at ser uma boa justificativa, mas sua credibilidade prejudicada quando utilizada durante anos e anos (afinal, no existe nada mais previsvel do que a imprevisibilidade das verbas...). E dizer que a sistematizao do processo de seleo preocupao de tericos parece ser uma maneira de evitar tomar uma posio, preservando-se uma prtica que pretende justificar-se por si mesma.

No verdade que as bibliotecas funcionem ou possam funcionar sem a utilizao de critrios de seleo. Bem ou mal, eles existem. Uma biblioteca que s armazena livros j tem um grande critrio de seleo estabelecido, bastando apenas refin-lo. O mesmo acontece com a que armazena livros e peridicos, ou livros e discos, ou livros e filmes, e assim por diante. Pode-se afirmar que existe uma gradao de critrios de seleo, alguns mais amplos do que outros. Muitas bibliotecas limitam-se ao estabelecimento de grandes critrios gerais, ligados ao tipo de publicao ou a grandes abrangncias temticas. Do mesmo modo, pode-se afirmar que h uma deciso ou um critrio de seleo por trs de cada documento da biblioteca, como se cada um fosse o testemunho vivo da atividade de um profissional, de sua preocupao, ou descaso, com o usurio ou com seu papel de intermediador entre o universo do conhecimento e a comunidade. Como dito acima, a falta de critrios no deixa de ser um critrio tambm... a questo principal deix-lo em evidncia. No, absolutamente, neg-lo.

2. Consideraes gerais que influenciam a seleo

Em muitos casos, a prpria rea de atuao da biblioteca implica um critrio de seleo. Basta fazer uma relao das vrias denominaes que indicam a especializao das instituies bibliotecrias: biblioteca de qumica, biblioteca de fsica, biblioteca de comunicaes e artes, biblioteca de arquitetura, etc. Tem-se, ento, uma primeira grande-subdiviso ou, melhor dizendo, um grande critrio de seleo, o assunto.

Outro tipo de especializao, muitas vezes presente na denominao que as bibliotecas adotam, refere-se definio do usurio. Estabelecer uma biblioteca infantil implica a seleo de ttulos adequados a esse pblico. Mais uma vez, tem-se um primeiro grande critrio de seleo: a clientela.

Os exemplos poderiam continuar por pginas e pginas, mas, para os objetivos pretendidos, j so suficientes, ou seja, demonstrar que existe uma graduao de critrios de seleo, de grandes (ou amplos) a especficos. Isto, em princpio, no parece ser uma noo de muito difcil entendimento para os bibliotecrios, principalmente se lembrarmos dos sistemas de classificao decimal, os to conhecidos sistemas Dewey e CDU, que trabalham com este conceito na diviso do conhecimento humano, partindo do geral para o especfico.

Outra comparao possvel com uma corrida de obstculos. Imaginemos todos os documentos competindo para atingir um determinado objetivo (sua incluso no acervo) e tendo que ultrapassar certos obstculos que existem no caminho (os critrios de seleo). Alguns sero bem-sucedidos, vencendo todos os obstculos que lhes foram colocados. Outros tropearo e tero que ser excludos da, competio. Como em uma corrida verdadeira, na medida em que as dificuldades vo ficando mais complexas e as exigncias se tornando mais rgidas, maior o nmero de candidatos que no conseguem chegar ao final.

Esta pode parecer uma maneira irreverente de descrever a atividade de seleo em bibliotecas. Mas, na prtica, no foge muito disso. A questo principal est na colocao dos obstculos/ ,critrios de seleo corretos. Se forem fceis de ultrapassar, provvel que seja grande o nmero dos que alcanaro o objetivo final, e talvez isto cause problemas no futuro com a acomodao ou mesmo manuteno dos vencedores. Se os critrios forem rgidos, poucos sero bem-sucedidos, o que pode gerar dificuldades de disponibilidade dos materiais. Infelizmente, no h uma soluo simplista. Como em uma corrida verdadeira, cada caso tem suas peculiaridades especficas de percurso, de competidor, de pblico, etc. No existem respostas fceis.

Antes de se entrar propriamente na problemtica da elaborao de critrios (que ser tratada com detalhes no prximo captulo), necessrio refletir um pouco sobre os fatores gerais que influenciam o processo de seleo. Nunca demais salientar que, entre outras coisas, a forma de abordar esse processo ser diretamente influenciada pelo tipo de biblioteca. Em bibliotecas especializadas, a primeira questo a ser respondida estar ligada definio temtica do acervo, enquanto que em bibliotecas pblicas ela se ligar definio da comunidade, caracterizando se os usurios reais e potenciais, ou, indo mais alm, os usurios preferenciais. No caso das primeiras, o processo de seleo comear com a definio dos grandes assuntos que devero estar representados no acervo. Mesmo quando a caracterizao do usurio o ponto de partida, o processo de seleo no poder deixar de inicialmente considerar os grandes grupos de assunto. Essas duas consideraes esto praticamente juntas.

Essa breve discusso leva necessariamente a se questionar sobre a existncia de procedimentos comuns seleo de materiais, que estariam presentes em qualquer tipo de instituio bibliotecria. Na realidade, esses procedimentos existem. Todas as bibliotecas iniciam o processo de seleo com consideraes abrangentes, que so depois refinadas e adequadas a cada uma em particular. Essas consideraes vo se referir ao assunto, ao usurio, ao documento em si e a seu preo. A ordem em que essas consideraes so feitas poder variar, e em muitos casos elas so colocadas simultaneamente. Mas estaro presentes, de modo indispensvel, em todas as bibliotecas. Entenda-se, portanto, que a ordem em que so enfocadas neste livro obedece apenas a uma distino metodolgica e no de importncia.

O assunto

Uma das primeiras consideraes a serem feitas na seleo de materiais em bibliotecas enfocar a problemtica do assunto, a fim de verificar se os materiais passveis de incorporao ao acervo (em princpio, todo o universo do conhecimento j registrado em algum tipo de suporte) esto ou no includos nos parmetros gerais de assunto ou reas de cobertura da coleo. muito difcil encontrar bibliotecas que no faam alguma restrio quanto aos assuntos tratados nos documentos que devem fazer parte do acervo. Em seguida, traam-se as prioridades de coleta para esses assuntos. O estabelecimento dessas prioridades, que poderia ser encarado como um refinamento do critrio inicial, tornar-se- necessrio devido impossibilidade material de selecionar da mesma maneira todos os assuntos de interesse. Da mesma forma, ser necessrio, em um momento posterior da atividade de seleo, definir os assuntos que sejam considerados afins rea de atuao da biblioteca, que tero uma representao mnima em seu acervo ou estaro disponveis em outros lugares, a serem previstos, como uma alternativa de acesso.

O usurio

As consideraes quanto s caractersticas do usurio real ou potencial esto diretamente ligadas definio do benefcio que cada material incorporado ao acervo poder trazer comunidade a que a biblioteca almeja servir. Em geral, essas consideraes iniciais estaro ligadas a uma primeira avaliao da adequao ao usurio do material a ser selecionado. Pouco adiantar possuir materiais de altssima qualidade que jamais despertaro qualquer interesse e ficaro mofando nas estantes, gerando despesas com manuteno, limpeza, acomodao, etc. sempre bom lembrar a anedota sobre uma biblioteca pblica do interior que possua, lindamente encadernada em couro de primeira qualidade, a coleo completa das obras de Goethe... em alemo gtico.

Enfim, a resposta correta a essa questo envolve um conhecimento bastante aprofundado dos usurios, suas caractersticas e preferncias. Esse conhecimento no deve ser confundido com a familiaridade superficial que se adquire em relao a usurios mais assduos, cujos interesses o bibliotecrio acaba conhecendo mais detalhadamente do que os daqueles usurios no to assduos (ou to comunicativos). Deve-se tomar cuidado para no confundir os interesses de alguns com os interesses de todos, procurando-se definir mecanismos que permitam no s a avaliao global dos usurios mas que impeam, tambm, ~ aparecimento de favoritismos. Neste caso, evidencia-se a ligao da seleo com outra atividade do desenvolvimento de colees: o estudo de comunidade.

O documento

Cada documento desempenhar um papel no conjunto do acervo. Neste sentido, a terceira pergunta a ser feita nos procedimentos iniciais de qualquer processo de seleo buscar uma definio precisa da necessidade de cada documento. Em outras palavras, o bibliotecrio dever responder (a si mesmo) se a coleo dispe de material suficiente sobre o assunto em causa, ou tipo de documento em particular, e, em caso afirmativo, se necessita de mais. Isto implicar uma avaliao anterior do acervo, por mais elementar que ela seja, sem a qual a resposta ser um mero palpite. Fica claro que preciso desenvolver mecanismos, ainda que mnimos ou rudimentares, que permitam ao responsvel pela biblioteca um conhecimento objetivo do acervo no que concerne tanto distribuio dos assuntos como sua representatividade em relao ao nmero de usurios, de cursos ou disciplinas, de linhas de pesquisa, etc. Tambm neste caso toma-se evidente a ligao da seleo com outra atividade do desenvolvimento de colees: a avaliao de colees.

O preo

A quarta considerao dir respeito ao custo do material: o bibliotecrio ter que definir se a biblioteca tem condies de arcar com o custo de cada documento. Sabendo-se que os recursos disponveis para aquisio no so inesgotveis (na realidade, raramente so suficientes) toma-se imprescindvel definir quanto a biblioteca pode comprometer-se em relao ao preo do material. A experincia mostra que esta exigncia, pelo menos no Brasil, acaba deixando fora da coleo grande parte dos documentos. Mesmo, porm, em pases com mais recursos financeiros para as bibliotecas, as duas coisas esto ficando cada vez mais prximas devido ao aumento do preo dos materiais bibliogrficos. conveniente desenvolver algum tipo de sistema de avaliao que permita comparar o custo do documento com o provvel beneficio que ele trar ao conjunto do acervo e aos usurios, interligando-se, ento, todas as consideraes anteriormente feitas. Mais especificamente, fica clara aqui a relao da seleo com a atividade de aquisio de materiais.

Questes complementares

Outras duas consideraes podem ser feitas no sentido de dimensionar corretamente as anteriores. A primeira diz respeito probabilidade de o material selecionado ser alvo potencial de vandalismo, furtos ou mutilaes, bem como gerar objees dos usurios devido sua incorporao ao acervo. No uma questo que leve necessariamente recusa de seleo, mas representa, sem dvida, fatos a serem pesados na deciso. Um material muito valioso acarretar custos adicionais, com respeito sua segurana, que talvez a biblioteca tenha dificuldades para cobrir; custos que, na realidade, so superiores ao preo da compra. Materiais sobre assuntos polmicos tambm podem trazer mais problemas do que benefcios biblioteca, devendo ter sua necessidade para o acervo cuidadosamente estudada, visando uma deciso mais objetiva a seu respeito.

A ltima considerao concerne a uma primeira estimativa de qualidade do material selecionado. Nem sempre o bibliotecrio tem informaes suficientes que lhe permitam determinar ou fazer uma estimativa da qualidade dos documentos. Para tentar fazer essa avaliao, dever utilizar todos os dados disponveis, seja no prprio material (orelha do livro, apresentao, ndice, bibliografia, etc.) seja ouvindo a opinio de especialistas.

Essas consideraes so feitas cotidianamente no processo de seleo. So realizadas, depois de certo tempo, quase que automaticamente, pode-se at dizer inconscientemente, na medida em que so incorporadas rotina de trabalho. O que no garante que sejam infalveis. importante, alis, salientar que infalibilidade algo que jamais existir na seleo; esta sempre um trabalho de aproximao, buscando-se dados objetivos que permitam prever a importncia futura do documento para o usurio e para a coleo. Um correto estabelecimento de critrios de seleo contribuir para que essas previses sejam realizadas da forma mais acura~a possvel, mantendo-se o aparecimento de erros em nveis aceitveis. Mas isto j assunto para outro captulo.

3. Em busca de critrios de seleo

A literatura especializada est repleta de critrios, muitas vezes repetitivos e mesmo contraditrios, destinados ao julgamento dos materiais a serem selecionados. De todo modo, eles visam guiar o bibliotecrio no trabalho peridico de seleo, garantindo a coerncia do acervo no transcorrer do tempo. Graas ao conjunto de critrios de seleo, comumente denominado poltica de seleo, possvel manter um direcionamento racional para a coleo medida que os profissionais se incorporam ou se afastam da equipe de trabalho. A poltica de seleo procura garantir que todo material seja incorporado ao acervo segundo razes objetivas predeterminadas e no segundo idiossincrasias ou preferncias pessoais. Igualmente, ela que garante que as lacunas existentes no acervo no so fruto do descaso ou ineficincia do profissional responsvel pela seleo, mas se coadunam com o processo de planejamento vigente na instituio bibliotecria, sendo coerentes com os propsitos e objetivos estabelecidos para sua atuao.

Antes de entrar propriamente nos critrios de seleo, importante fazer uma advertncia: a organizao da atividade de seleo mediante o estabelecimento de critrios s eficiente quando todos os envolvidos trabalham de modo racional, dispostos a discutir objetivamente a aplicao ou aplicabilidade desses critrios. Na medida em que os envolvidos na problemtica da seleo afastam-se do racional, mergulhando no terreno do passional ou do autoritarismo, os critrios de seleo tornam-se cada vez mais incuos. No existe critrio de seleo que possa anular ou dissuadir uma autoridade superior firmemente decidida a fazer valer a sua vontade... ou um bibliotecrio disposto a imprimir seus preconceitos pessoais ao acervo sob sua responsabilidade. Neste sentido, os critrios consubstanciados na poltica de seleo devem ser vistos como uma espcie de constituio: no existe nenhuma que consiga resistir a governantes com disposio e fora suficiente para desrespeit-la. claro que isto nunca foi razo para que as constituies no fossem elaboradas; da mesma forma, a prepotncia de autoridades superiores tambm no razo para que os critrios de seleo no sejam elaborados. nesses momentos que so ainda mais necessrios, visando tornar evidente o exerccio da prepotncia.

Antes de mais nada, preciso esclarecer que os critrios que sero relacionados a seguir so apenas uma sugesto. Cada profissional dever procurar desenvolver os critrios mais apropriados para a coleo pela qual responsvel, que podero ou no incluir os que forem aqui citados. Utilizando uma comparao no muito criativa, pode-se afirmar que desenvolver uma coleo como organizar um guarda-roupa pessoal: cada um tem critrios prprios para definir as vestimentas que dele faro parte e esses critrios variaro segundo caractersticas individuais, como altura, peso, etc. Os critrios sugeridos no so uma frmula passvel de generalizao, mas apenas algumas das muitas possibilidades existentes. Assim devem ser encarados.

A literatura especializada costuma apresentar uma grande variedade de critrios. s vezes a diferena entre alguns mnima, apenas uma questo de enfoque ou preferncia terminolgica. Neste texto, os critrios foram organizados de modo que pudessem ser mais bem assimilados didaticamente, mesmo com o risco de classificar um ou outro de forma inadequada. Assim, considerando-se os objetivos deste livro, optou-se por agrupar os muitos critrios utilizados na seleo de materiais em bibliotecas, citados na literatura especializada, segundo o tipo de enfoque por eles adotados:

Critrios que abordam o contedo dos documentos

Autoridade. Busca definir a qualidade do material a partir da reputao de seu autor, editora ou patrocinador. Baseia-se na premissa de que o fato de um autor ter produzido materiais de qualidade no passado um indicador razoavelmente confivel de sua produo futura. Da mesma forma, algumas editoras costumam notabilizar-se pela qualidade dos materiais que editam, funcionando como um ndice de confiabilidade do contedo dos documentos com a prtica, o bibliotecrio aprender a identificar as editoras de excelncia nas reas de interesse da biblioteca, geralmente as que contam com editores ou comisses editoriais de reconhecida competncia, e far a seleo desses materiais quase que de forma automtica. Por exemplo, sabendo-se que as editoras Library Association Publishing, Libraries Unlimited e Scarecrow Press so bastante conceituadas nas reas de biblioteconomia e cincia da informao, o fato de um livro ter sido publicado por alguma delas ir pesar favoravelmente na sua avaliao. O mesmo pode ser afirmado em relao a documentos patrocinados por instituies de destaque em sua rea de atuao. Documentos patrocinados por instituies como a FAO ou a UNESCO costumam ter bom nvel, merecendo, em princpio, uma avaliao favorvel. Cada biblioteca dever identificar essas instituies ou editoras de prestgio, cujos nomes funcionam como aval dos materiais a que do origem, e fazer com que essas informaes estejam disponveis aos responsveis pela seleo, constando do documento de poltica de seleo.

claro, no entanto, que no existem garantias suficientemente seguras em relao a este critrio. O fato de uma editora ter publicado dezenas de obras de altssima qualidade, gozando de uma slida reputao no mercado, no quer dizer que todos os materiais que ela publicar tero o mesmo nvel. Revistas especializadas costumam utilizar um sistema de rodzio de seus editores responsveis, mudando-os periodicamente; isso, muitas vezes, pode implicar queda da qualidade dos artigos.

Preciso. Visa evidenciar o quanto a informao veiculada pelo documento exata, rigorosa, correta. Para analisar um documento sob este ponto de vista, o bibliotecrio precisar muitas vezes da opinio de um especialista, pois nem sempre a impreciso est to evidente quanto se desejaria que estivesse.

Lembro-me de uma obra enciclopdica sobre histrias em quadrinhos, aparentemente exata, que, primeira vista, deixou-me bastante impressionado; no entanto, uma leitura atenta evidenciou erros primrios. Fiquei assustado ao ler ali que um amigo desenhista de histrias em quadrinhos, com quem estivera na semana anterior, havia morrido fazia mais de dois anos...

Imparcialidade. Procura verificar se todos os lados do assunto so apresentados de maneira justa, sem favoritismos, deixando clara, ou no, a existncia de preconceitos. Deve-se ter em mente, no entanto, que esta imparcialidade poder ou no ser pr-requisito necessrio para incluso na coleo.

Muitas vezes, obras no-imparciais representam uma viso alternativa de determinado assunto, funcionando como uma espcie de contraponto a obras j existentes no acervo. Outras vezes, obras aparentemente imparciais disseminam veladamente preconceitos contra determinadas camadas da sociedade, como minorias raciais, mulheres, homossexuais, etc. Durante muito tempo, por exemplo, acreditou-se que os livros didticos eram obras imparciais, pois se limitavam a funcionar como instrumentos para a transmisso de conhecimentos considerados especficos para fins educacionais. Anlises feitas por pesquisadores conceituados, entre os quais se pode destacar Umberto Eco, mostraram que essa certeza no passava de uma grande falcia.

A imparcialidade nem sempre algo muito fcil de ser definido e, acima de tudo, pode ser encarada tanto de um ngulo negativo (disseminao de preconceitos sociais) como positivo (exteriorizao de pontos de vista minoritrios). Cada profissional definir a melhor maneira para, no contexto de seu campo de trabalho especfico, abordar essa polmica questo.

Atualidade. Uma informao desatualizada perde muito de seu valor. Para bibliotecas onde a atualidade dos dados tem muita importncia, este critrio decisivo. importante ter esse fato bem claro, pois afetar diretamente a atividade de seleo.

A velocidade com que as informaes se desatualizam varia conforme a rea de conhecimento em que a biblioteca atua. Documentos de algumas das chamadas cincias exatas, como a computao, se desatualizam rapidamente. Por isso, os bibliotecrios das reas de cincias exatas necessitam estar bastante atentos a este critrio, visando minimamente acompanhar o ritmo com que novas tecnologias surgem e desaparecem. Nas cincias humanas, obras antigas costumam ser muito valorizadas pelos pesquisadores, por constiturem uma contribuio j reconhecida e incorporada ao conhecimento (da, provavelmente, a importncia maior que as cincias humanas do s obras monogrficas).

Convm, por exemplo, estar alerta para mudanas polticas e estruturais na sociedade moderna, que fazem com que mapas ou enciclopdias recentes logo percam sua atualidade. As mudanas no Leste europeu, por exemplo, demonstram como o final do sculo xx est sendo palco de modificaes surpreendentes, que afetam o trabalho de todos que tm o fornecimento de informaes fidedignas entre suas obrigaes profissionais.

No trabalho de seleo, os bibliotecrios devero manter-se atentos a trabalhos que se apresentam como edies atualizadas ou revistas de obras j publicadas, procurando avaliar de maneira objetiva quanto da informao contida nesses documentos realmente informao nova e no a mesma anteriormente divulgada, apenas em uma diferente apresentao.

Cobertura/Tratamento. Refere-se forma como o assunto tratado. Na aplicao deste critrio, o bibliotecrio distinguir:

se o texto entra em detalhes suficientes sobre o assunto ou se a abordagem apenas superficial;

se todos os aspectos importantes foram cobertos ou alguns foram tratados ligeiramente ou deixados de fora.

importante salientar que tambm neste caso no existe resposta fcil. O fato de um documento no realizar a cobertura total de um assunto ou fazer um tratamento apenas superficial no significa que no possa vir a ser de interesse para determinado acervo. A especificidade da clientela e/ou coleo dever ser levada em conta, pois este critrio pode ser utilizado de uma forma por uma biblioteca e de forma totalmente diversa por outra. Muitas vezes, para correta aplicao deste critrio, importante contar com a colaborao de um especialista.

Critrios que abordam a adequao ao usurio

Convenincia. Intimamente ligado ao critrio de cobertura! tratamento. Procura verificar se o trabalho apresentado em um nvel, de vocabulrio e visual, que seja compreensvel pelo usurio. Em geral, neste critrio so levantados aspectos relativos idade dos usurios, desenvolvimento intelectual, etc.

Na aplicao deste critrio, fica evidente quanto necessria a interao do bibliotecrio com o pblico: para analisar corretamente o documento, ser preciso que o profissional tenha conhecimento profundo do usurio cujas necessidades informacionais procura atender, conseguindo determinar de modo exato suas limitaes e potencial idades. Pouco adiantar colocar no acervo itens inadequados para o tipo de utilizao pretendida ou que efetuada pelo usurio. Por exemplo, se o objetivo de um texto para a biblioteca for atender realizao de trabalho em grupo, ele deve ser adequado para isso, em termos fsicos e de contedo.

Idioma. Trata-se de definir se a lngua do documento acessvel aos usurios da coleo.

Em muitas bibliotecas esta anlise facilmente realizada por no existir to grande diversidade de publicaes em sua rea de interesse e nem grupos de usurios com necessidades lingsticas especficas. Em algumas bibliotecas especializadas, no entanto, esta verificao da lngua de publicao ter necessariamente que ser feita item por item, assunto por assunto.

Relevncia/Interesse. Busca definir se o documento relevante para a experincia do usurio, sendo-lhe de alguma utilidade. Da mesma forma, tenta-se verificar se o texto tem condies de despertar sua imaginao e curiosidade.

Alm de, como nos dois critrios anteriores, implicar a necessidade de um conhecimento mais aprofundado dos usurios, no seria exagero dizer que este critrio exigir do bibliotecrio algum conhecimento das caractersticas dos textos literrios e tcnicos. Ou, melhor dizendo, um interesse pessoal pela leitura.

Estilo. Muitas vezes o estilo utilizado no apropriado ao assunto ou objetivo do texto. Este critrio procura verificar este fato, bem como constatar se ele adequado ao usurio-alvo. Ningum, por exemplo, por em dvida a excelncia do estilo de Machado de Assis, mas bastante discutvel a adequao de alguns de seus livros, como Dom Casmurro ou Memrias pstumas de Brs Cubas, a uma clientela infanto-juvenil.

Critrios relativos a aspectos adicionais do documento

Caractersticas fsicas. Abrangem os aspectos materiais dos itens a serem selecionados.

Na aplicao deste critrio, o bibliotecrio, em face do uso pretendido para o material e as caractersticas dos usurios, verificar se os caracteres tipogrficos foram bem escolhidos, tm boa legibilidade, tamanho apropriado, etc. Verificar se a encadernao resistente para o uso em biblioteca, fazendo, inclusive, uma estimativa de sua durabilidade e das possibilidades ou necessidade de futuros reparos. Analisar a qualidade do papel, submetendo-o a escrutnio semelhante ao da encadernao.

As caractersticas fsicas so muito importantes para materiais com previso de alta demanda ou dirigidos para pblicos especficos. Em certos pases, existe uma florescente indstria editorial dirigida para a populao de terceira idade, com livros impressos em formato grande e com caracteres tipogrficos grados. No Brasil, a indstria de livros infantis tem procurado utilizar material resistente e adequado para crianas, podendo-se apontar experincias de produo de livros de plstico, pano, etc.

Aspectos especiais. Neste item analisam-se a incluso e a qualidade de bibliografias, apndices, notas, ndices, etc. Enfim, todos os elementos que contribuem para melhor utilizao do documento. s vezes, mais que constatar a existncia desses elementos, ser preciso avaliar se valorizam a obra e no constituem apenas um fator totalmente suprfluo para suas finalidades.

Contribuio potencial. Este critrio leva em considerao a coleo existente, na qual o documento a ser selecionado dever ocupar um lugar especfico.

Material algum ser incorporado ao acervo por simples inrcia, mas para torn-lo mais completo. Assim, preciso que cada item seja analisado do ponto de vista de sua relao com os demais, verificando-se quanto contrabalana outros trabalhos, trazendo uma perspectiva diferente e enriquecedora ao acervo, ou se simplesmente se soma ao que existe, gerando redundncia de informaes. Esta verificao ser importante para se ter uma estimativa de uso futuro.

Custo. Presumindo-se que a considerao inicial sobre a possibilidade de a biblioteca arcar com o custo do material tenha sido realizada e seja positiva, este critrio procurar identificar alternativas financeiramente mais compensadoras para a biblioteca. Verificar se h edies mais baratas (encadernaes simples, miolo em papel inferior ou edies de bolso), tomando cuidado para no afetar alguns dos critrios anteriores. Tambm so analisados outros fatores que, indiretamente, acabam afetando o custo total da obra para a instituio. Por exemplo, os custos com processamento tcnico, armazenamento, segurana, etc.

conveniente que o bibliotecrio procure definir um sistema de avaliao capaz de lhe informar com razovel confiabilidade o quanto mais barato adquirir um material e incorpor-lo ao acervo, ao invs de solicit-lo por emprstimo a outra biblioteca, quando necessrio. Cada vez mais, a acessibilidade aos documentos por meio do intercmbio com outras instituies torna-se uma alternativa vivel sua disponibilidade fsica.

Estes so apenas alguns dos critrios comumente utilizados para avaliao de documentos no processo de seleo. Existem vrios outros (dois autores norte-americanos, Mary Carter e Wallace Bonk, em Building library collections, chegam a relacionar mais de 150). Desnecessrio citar todos os critrios j utilizados ou mesmo imaginados; independentemente disso, cada profissional ter que se defrontar, em algum momento, com a necessidade de estabelecer seus prprios critrios. Importante salientar que os critrios sugeridos neste livro so apenas indicativos e nem sempre podem ser aplicados a todos os documentos; sua aplicao depender do material que se est analisando. Em obras de fico, critrios como a representao de um importante movimento, gnero literrio ou cultura nacional, bem como caractersticas de originalidade e apresentao artsticas so pontos que devem ser considerados. Em obras de no-fico, a objetividade e clareza acabam predominando sobre outros aspectos.

Os critrios de seleo aqui abordados no se aplicam apenas a livros, mas a todos os materiais. Evidentemente, haver critrios especficos para certos tipos de documentos. Ser preciso elaborar critrios complementares para a seleo de peridicos, filmes, discos, diapositivos, etc. Todos devem ser coerentes com os objetivos da biblioteca. inconcebvel, por exemplo, a utilizao de critrios de seleo totalmente opostos para livros e peridicos, ou para livros e materiais audiovisuais.4. Seleo de materiais especiais e multimeios

Para as finalidades deste captulo, so materiais especiais ou multimeios todos os materiais de biblioteca, exceo dos livros. Assim, aqui se incluem os peridicos em geral (revistas especializadas, jornais, etc.), os materiais audiovisuais (filmes, discos, fitas cassetes, diapositivos, etc.) e as novas tecnologias (CDS, softwares em disquete, etc.).

Um ponto importante que deve ser colocado como premissa discusso de critrios que os diferentes veculos de comunicao no podem ser encarados como adversrios em uma grande disputa pela preferncia da sociedade. Nenhuma forma de comunicao consolidada imediatamente destruda pelo aparecimento de novos veculos. As formas anteriores modificam-se, tm seu pblico diversificado e continuam valendo. Estratificam-se. Assim sempre tem acontecido e no h motivos que faam acreditar que isto vir a modificar-se em futuro prximo.

Bob Usherwood, em The public library as public knowledge, lembra que, h alguns anos, a televiso inglesa apresentou uma srie sobre o desenvolvimento das tecnologias da informao no final do sculo, na qual um bibliotecrio respondia a um usurio: No, eu no posso verificar em um livro, senhor, isto uma biblioteca, no um museu. Isto evidencia a crena generalizada de que os veculos de informao, como os conhecemos atualmente, esto fadados a desaparecer. H anos se prev o fim dos livros com o advento das novas tecnologias informacionais, da mesma forma como se previu o fim do cinema com o aparecimento da televiso e do videocassete. A realidade, no entanto, mostrou que as previses apocalpticas eram exageradas e os antigos meios de comunicao e transmisso de conhecimento continuaram existindo, ainda que com modificaes. H 30 anos, talvez menos, Marshall McLuhan previu que em 1990 a palavra impressa e sua leitura seriam apenas uma lembrana; muita gente acreditou nele. Ao contrrio, a publicao de livros apenas aumentou de l para c, incorporando vastas camadas da populao10 influncia da leitura.

Cada vez mais novos espaos de influncia so definidos. Esta parece ser a nica constatao vlida. Muito do que tem sido afirmado pertence ao campo do sonho, da previso, da futurologia sem garantias de efetividade. No que concerne rea de atuao dos bibliotecrios, o mais certo ser conceituar a biblioteca como lima instituio armazenadora e disseminadora de informaes e no de tipos de documentos especficos, pois a variedade desses tende a multiplicar-se quase que em proporo geomtrica.

No se pretender tratar da seleo de todos os outros tipos de documentos existentes no mercado. Provavelmente, poca do lanamento deste texto, ele j estaria desatualizado, havendo muitos outros materiais dos quais no se teria tratado. O elenco a ser apresentado enfocar alguns dos materiais que j podem, at com relativa facilidade, ser encontrados nas bibliotecas. Na elaborao de critrios especficos para a seleo desses outros materiais devem ser buscados critrios mais adequados para cada um, levando em considerao suas peculiaridades. Os critrios de seleo estaro sempre diretamente ligados ao tipo de material selecionado; por exemplo: o custo total de qualquer obra em multimeio influenciado em muito maior proporo pelo custo de sua manuteno do que o custo de uma obra impressa comum.

Peridicos

A seleo de uma publicao peridica difere basicamente da de um livro ou monografia no sentido de que na primeira estabelece-se um compromisso com sua continuidade, enquanto que no livro essa deciso se esgota naquele momento. Fora alguns casos especficos, no h razo para a biblioteca selecionar apenas alguns fascculos de um peridico. Ela dever necessariamente adquirir, e provavelmente conservar, o ttulo como um todo, a partir do momento em que optar por ele. No caso dos peridicos, o ato de seleo se repete de tempos em tempos, ao se tomar uma deciso pela continuidade ou pelo encerramento da assinatura. Fica evidente, ento, o perigo de fazer renovao de assinaturas por inrcia, simplesmente porque um ttulo vem sendo assinado h muito tempo, sem considerar fatores importantes como o uso ou relevncia do ttulo para o usurio atual.

Esse compromisso com a continuidade acarretar, por exemplo, a necessidade de considerar atentamente as implicaes do ttulo para a biblioteca, em termos de utilizao do espao, algo que no to essencial quando da seleo de livros. Colees de peridicos crescem e ocupam um grande espao; isto comum em bibliotecas especializadas, pois a informao veiculada em peridicos tem importncia muito grande para seus usurios, em geral pesquisadores, que necessitam de informaes atualizadas.

Vinculada avaliao do espao disponvel para acomodao dos peridicos est a anlise global do custo desse material. Nesse sentido, o valor pago pela assinatura de um ttulo no o nico custo com que a biblioteca est arcando ao optar por sua aquisio; existem vrios custos, diretos e indiretos, que devem ser considerados. Mas, s para ficar no preo das assinaturas, importante salientar que, em se tratando de peridicos cientficos, ele tem subido muito acima dos ndices inflacionrios dos pases onde so produzidos. Como uma assinatura de peridico representa um comprometimento, por tempo indeterminado, de uma percentagem razovel do oramento da biblioteca, importante que essa anlise de custo seja feita periodicamente. Isto muito importante com novas assinaturas, para no permitir que cresa em demasia o investimento da biblioteca em novos ttulos.

Em paralelo s anlises de ocupao do espao e custo da assinatura, importante ter-se clareza quanto utilizao futura dos ttulos, a fim de avaliar quando vale a pena fazer uma assinatura e quando a melhor opo solicitar o fascculo por emprstimo a outra biblioteca. Neste caso, estatsticas de emprstimo entre bibliotecas podem oferecer subsdios valiosos para a tomada de decises ( claro que, em caso de ttulos recm-lanados esta alternativa fica prejudicada).

Julgar a qualidade de um peridico nem sempre tarefa fcil. Fora a opinio do especialista, sempre uma ajuda indispensvel, h outros indicadores que permitem ao bibliotecrio uma avaliao satisfatria. Vrios desses indicadores constam da contracapa ou das pginas iniciais do fascculo, principalmente em peridicos especializados. Um deles a existncia de um comit editorial, cuja funo apreciar os artigos submetidos a publicao, um dado tido como garantia de qualidade. Isto significa que um artigo, para ser publicado em um peridico que possua comisso editorial, ser examinado por um ou vrios especialistas, que decidiro se o trabalho atende aos requisitos de qualidade estabelecidos. Quando esse comit composto por especialistas de instituies ou pases diferentes, supe-se que a garantia de qualidade seja ainda maior, caracterizando uma publicao onde no existe endogenia de grupos ou linhas de pensamento.

De certa maneira, quando se verifica a existncia e composio de comisses editoriais e se considera este dado na seleo de publicaes peridicas, est-se trabalhando com o critrio da autoridade: acredita-se que os especialistas da comisso editorial emprestam sua reputao ao peridico.

Pode-se dizer que o mesmo critrio est sendo utilizado quando, conhecendo-se o rigor com que os ttulos so indexados em bases de dados especializadas, aceita-se como subsdio para a tomada de deciso a presena de um peridico nessas bases. Supe-se que quanto maior for o nmero de bases que indexam o peridico, maior ser a garantia de sua qualidade. Assim, quando se tem que decidir entre dois peridicos, ambos com o mesmo nvel de interesse para a biblioteca, pode-se utilizar, como critrio de desempate, o fato de um deles ser indexado por bases de dados da rea. H razes para acreditar que um peridico indexado ter maior probabilidade de ser utilizado, na medida em que as bases de dados funcionaro como fontes secundrias, permitindo ao usurio ter acesso ao contedo dos peridicos indexados.

Ao se utilizar a presena em bases de dados como critrio de seleo, deve-se atentar para ttulos recentes, para os quais ainda no houve tempo de serem avaliados e indexados em bases de dados, embora possuam qualidade para isso. Em geral, essas bases, antes de incluir novos ttulos, adotam a poltica de aguardar at que tenham mais elementos para aferir sua qualidade.

No caso de peridicos em lnguas estrangeiras inacessveis aos usurios, a presena de um resumo em idioma acessvel, em geral o ingls, deve ser considerada na seleo. Leva-se esse dado em conta no apenas porque com o resumo as informaes ficam disponveis e a probabilidade de utilizao maior, mas tambm porque isso indica que o ttulo prope-se a uma circulao internacional, universo onde as exigncias so maiores.Todos esses critrios tero maior aplicabilidade nas bibliotecas especializadas ou universitrias, devido aos objetivos dessas instituies e s caractersticas especficas de seus usurios. Para bibliotecas pblicas deve-se reconhecer que sua utilidade limitada, pois nem sempre a questo ser colocada com tal nvel de especificidade, de modo a exigir a aplicao de padres de qualidade utilizados na avaliao de peridicos cientficos. Nelas, os critrios mais relevantes sero provavelmente os que dizem respeito adequao dos peridicos aos usurios.

Histrias em quadrinhos

Ultimamente, vem sendo dada grande ateno s histrias em quadrinhos, com a imprensa mundial registrando um incremento no nmero de artigos, resenhas, reportagens e entrevistas com autores especializados nesse material. Mesmo, e talvez principalmente, em nosso pas, uma busca em jornais e revistas revelar um interesse maior em relao s histrias em quadrinhos. Isto, aos poucos, veio influir nas bibliotecas brasileiras, na medida em que o pblico passou a buscar essas publicaes e solicitar que fizessem parte do acervo.

Tradicionalmente, a maioria das bibliotecas sempre manteve os quadrinhos afastados de suas prateleiras. Muitas vezes os bibliotecrios partilharam com o pblico, ou com algumas parcelas desse pblico, os preconceitos que existiam contra essas publicaes. Sabe-se hoje que esses preconceitos foram uma das maiores injustias cometidas contra um meio de comunicao de massa no s legtimo mas tambm de grande penetrao popular. A evoluo dos tempos tem mostrado que a maioria das barreiras levantadas contra as histrias em quadrinhos baseavam-se em opinies preconcebidas, elitistas, carentes de qualquer argumento lgico. Pesquisas srias e bem-coordenadas tm colocado por terra todas as alegaes de que os quadrinhos levavam as crianas preguia mental, afastavam-nas dos estudos, desviavam-nas de salutares hbitos de leitura, prejudicavam seu desenvolvimento intelectual, etc. Por todos esses motivos, parece apropriado refletir um pouco sobre os critrios de seleo que podero e devero ser aplicados a esses materiais.

primeira vista, as histrias em quadrinhos limitar-se-iam s vendidas em bancas de jornais, os tradicionais gibis (da o aparecimento de um novo substantivo na rea biblioteconmica de lngua portuguesa - gibitecas: bibliotecas de histrias em quadrinhos). De fato, os gibis existem em grande nmero, com enorme variedade de temas e gneros. Com certeza, constituiro a maioria de qualquer acervo dedicado a esse material; h gibis infantis, adultos, de super-heris, de aventuras, erticos, pornogrficos, etc. O bibliotecrio dever, com base no conhecimento que tem de seu pblico e na avaliao de suas demandas, definir os gneros que faro parte do acervo.

As mesmas consideraes acerca da disponibilidade de espao para peridicos, feitas antes, aplicam-se s histrias em quadrinhos. Em geral, talvez seja arriscado optar pela exaustividade em relao ao material quadrinhstico. A produo brasileira, para no falar da norte-americana ou espanhola, grande, e isto comprometeria, em curtssimo prazo, a disponibilidade de espao. importante que cada biblioteca defina de maneira clara a quais tipos de histrias em quadrinhos ir dedicar seus esforos de coleta e disseminao.

Alm dos gibis, em geral impressos em papel de qualidade inferior, de pouca resistncia, o mercado tambm oferece a opo de lbuns e graphic novels, publicaes muitas vezes de maiores dimenses e de apresentao luxuosa, que so resistentes e durveis. Nas bibliotecas, onde o manuseio do material ser mais freqente, a opo por uma edio em lbum ou graphic novel ser uma alternativa mais vivel. Consideraes referentes a armazenamento e acomodao, bem como outras relativas ao custo de aquisio, podem reforar, ou no, esta concluso.

Quanto maior for a variedade de histrias em quadrinhos que a biblioteca incorporar a seu acervo maiores sero as implicaes para os profissionais, em termos de tratamento, recuperao, cuidados especiais e armazenamento, bem como um conhecimento mais aprofundado desse material. medida que os quadrinhos so incorporados s bibliotecas, maiores se tomam as exigncias dos leitores, que passam a solicitar as tiras de jornais, os fanzines (revistas elaboradas por fs de histrias em quadrinhos), as revistas alternativas, os livros e artigos especializados. Por isso, antev-se a necessidade de os bibliotecrios se familiarizarem com esse material, a fim de conhecer melhor as particularidades e os tipos de suportes das histrias em quadrinhos, para poderem formular critrios adequados para sua seleo.

Livros infanto-juvenis

As bibliotecas pblicas costumam ter uma grande quantidade de materiais de informao voltados para crianas e jovens, principalmente textos de literatura infanto-juvenil. As bibliotecas escolares, ainda que sejam to poucas no Brasil, tambm possuem esse tipo de publicao, utilizando-o para o processo didtico e incentivo s atividades de leitura, e colocando-o disposio dos estudantes em seus momentos de lazer e entretenimento.

O Brasil possui uma grande produo editorial voltada para o pblico infanto-juvenil, que abrange de livros paradidticos a textos traduzidos de inmeros idiomas. O mercado muito dinmico, com um fluxo constante de novas produes e autores. Alguns autores atingem vendas estrondosas e so muito solicitados por crianas e jovens nas bibliotecas.

Profissionais da informao que atuam junto ao pblico mais jovem identificam os autores de maior popularidade pela simples verificao do estado fsico de suas obras, que com freqncia exigem reparos e/ou reencadernaes e logo atingem tal desgaste que exige seu descarte e substituio (quando isso possvel). So casos fceis para o bibliotecrio responsvel pela seleo, pois muitas crianas tendem a ler e reler os ttulos e autores que mais lhes agradam, buscando sempre os mesmos livros ou solicitando que lhes contem repetidas vezes as mesmas histrias, como se a cada vez estivessem reencontrando um velho e querido amigo, em quem confiam e por quem tm especial carinho.

A afirmao acima apenas reitera o fato de que profissionais que atuam na seleo de materiais de informao para crianas e jovens precisam ter um contato bem prximo com seu pblico, para conhecer as peculiaridades e idiossincrasias de cada leitor. No basta conhecer sua comunidade por meio de dados estatsticos ou perfis mais ou menos genricos. preciso estar no meio do pblico, conhecer e conversar com crianas e jovens que freqentam a biblioteca, estabelecer um dilogo proveitoso com os pais, avs ou outros parentes que acompanham as crianas, visitar as escolas e discutir com os professores os livros que recomendam. Se, para os bibliotecrios isto j importante, para os responsveis pela definio dos ttulos a que o pblico infanto-juvenil ter acesso na biblioteca vital. A infncia e adolescncia so os perodos em que se alicera a formao integral de qualquer indivduo, e as bibliotecas pblicas e escolares podem dar uma grande contribuio nesse sentido, tanto pela possibilidade de acesso a materiais informacionais adequados a esse pblico como pelas atividades que desenvolvem em torno deles.

Essa uma responsabilidade muito grande e no deve ser vista de maneira leviana. Selecionar materiais que atendam s necessidades do pblico infanto-juvenil est no cerne desta questo, pois a produo editorial muito variada e nem sempre de qualidade apropriada. s vezes, por trs de figuras atraentes e histrias divertidas est a disseminao de preconceitos e o velado incentivo a discriminaes de ordem racial, cultural ou social. Os bibliotecrios devem estar atentos a essas obras, familiarizando-se com suas caractersticas mais marcantes, que incluem:

A ausncia de minorias raciais, como se a sociedade fosse composta por uma populao homognea de raa branca;

A representao negativa das minorias, seja retratando-as como figuras caricatas, seja colocando-as como personagens antipticos, quando no so escolhidos como os viles da histria, seja reservando para elas papis considerados de menor importncia social (como empregadas domsticas, criados, trabalhadores no-especializados, mendigos, etc.);

A colocao da figura feminina em situao de dependncia em relao ao homem, tanto em termos econmicos e sociais (a dona de casa que no responsvel pelo sustento da famlia) como emocionais ( o homem quem toma as decises importantes, deixando para ela apenas as questes que no tm grande significao);

Representao positiva das classes sociais dominantes, retratadas como pessoas simpticas, bonitas, felizes e modelos de comportamento a serem seguidos pelas crianas.

Dezenas de outros exemplos poderiam ser citados, mas talvez seja mais interessante deixar aos bibliotecrios a tarefa de identific-los em sua prtica diria de seleo. Como subsdio a essa atividade, a leitura do texto de Flvia Rosemberg, que trata da relao entre literatura infantil e ideologia, e dos livros de Maria de Lourdes Nosella e Umberto Eco, sobre a disseminao de preconceitos em obras didticas, pode ser bastante proveitosa.

Ateno especial deve ser dada a materiais infanto-juvenis editados pela indstria de comunicao de massa, presentes em grande quantidade no mercado. muito comum que desenhos animados ou seriados televisivos sejam transplantados para o formato impresso, em produes muitas vezes realizadas s pressas, com o simples intuito de tirar o mximo proveito da popularidade momentnea dos personagens (enfim, de lucro, puro e simples). Em geral, o resultado pobre, com histrias insignificantes e desenhos abaixo da crtica. Representam apenas o deslavado aproveitamento de imagens produzidas para outro meio de comunicao, s quais se acrescenta um texto que nem sempre consegue lhes dar muita coerncia narrativa. Deve-se, no entanto, ter em mente que haver sempre algumas excees a essa regra, e a identificao e incorporao ao acervo de obras que fujam mesmice da produo de massa sero uma das tarefas a serem desenvolvidas pelo responsvel pela seleo.

Alguns dos critrios gerais de seleo citados no captulo anterior devero ser objeto de adaptao, quando aplicados a livros infanto-juvenis. O critrio de autoridade, por exemplo, ir relacionar-se tanto ao autor do texto como ao ilustrador, quando forem diferentes, baseando a deciso de seleo em obras anteriores realizadas individualmente ou em conjunto, ou at mesmo da coleo em que o livro foi publicado (como as sries Vaga-Lume e Veredas, para apenas citar duas das mais conhecidas).

O critrio da convenincia levar em conta a faixa etria da criana, analisando a adequao do texto ao desenvolvimento intelectual de seu usurio potencial. Alm disso, a avaliao das caractersticas fsicas dos livros considerar principalmente a resistncia do material empregado, dando-se, quando possvel, preferncia a material mais resistente, de maior durabilidade.

importante desenvolver critrios que levem em conta a especificidade do pblico e as caractersticas da literatura infanto-juvenil, a relao entre texto e ilustraes, a apresentao grfica, etc., a fim de estabelecer uma poltica de seleo adequada.

Alm dos pontos mencionados, deve-se, sempre que possvel, buscar o apoio de especialistas da rea, que j desenvolveram parmetros crticos para julgamento da qualidade da produo editorial destinada a crianas e jovens. Uma comisso especial de seleo, composta por especialistas em literatura infanto-juvenil e por bibliotecrios que atendem a esse pblico, uma boa alternativa para garantir o nvel de excelncia do acervo.

Existem alguns instrumentos auxiliares para a seleo de livros infanto-juvenis produzidos no Brasil. So em geral bibliografias, muitas vezes com resenhas crticas, elaboradas por instituies ligadas rea. Nem sempre esto atualizadas ou abrangem muita coisa do imenso universo de publicaes infanto-juvenis. Constituem, apesar dessas limitaes, fontes valiosas para identificao de itens que devem ser acrescentados ao acervo.

Filmes e vdeos

A presena de filmes e vdeos em bibliotecas no novidade em outros pases. Em bibliotecas norte-americanas, principalmente escolares, h muito tempo vem sendo discutida a incorporao de filmes a seus acervos, salientando-se sua importncia no processo didtico-pedaggico. Em paralelo, uma indstria produtora de filmes com essa finalidade desenvolveu-se nos pases mais adiantados, atendendo a um mercado consumidor de dimenses e poder aquisitivo suficientes para justificar sua existncia.

No Brasil, a utilizao de filmes no processo educacional foi prejudicada por preos muitas vezes proibitivos tanto do material como da aparelhagem necessria exibio (no se descartando certa dose de preconceito dos professores na utilizao desses meios). A popularizao do videocassete est modificando essa situao, mas sua presena ainda deve ser considerada lima exceo, pelo menos em parcela significativa das escolas. Imagina-se, e talvez no seja excesso de otimismo, que este quadro tende a modificar-se, provavelmente em prazo muito curto.

Devido em grande parte questo econmica, a discusso sobre a presena de filmes em bibliotecas brasileiras ir restringir-se incorporao de fitas de videocassete. Antes de entrar na busca de critrios, deve-se discutir o papel que esse material representar no conjunto do acervo. Sua abertura para outros materiais no deve ser fruto de modismos ou de um esforo irrefletido para tomar popular a biblioteca. Nem como o velho chamariz para o livro impresso, como muitas vezes se costuma fazer com os cursos de corte e costura, croch e outras atividades.

As bibliotecas pblicas no existem para competir com a iniciativa privada, atuando paralelamente a ela. Isto quer dizer que, no caso de filmes em vdeo, coloc-los no acervo para atender apenas e to-somente demanda individual por filmes da indstria cinematogrfica pode, sob muitos aspectos, ser encarado como uma m aplicao de dinheiro pblico. Em quase todos os bairros h locadoras que tornam esses materiais disponveis, cobrando taxas de aluguel acessveis. A questo primordial criar uma identidade prpria para a coleo de filmes em videocassete nas bibliotecas, diferenciando-a das existentes nas locadoras.

Para uma biblioteca especializada em cinema, existe todo um significado em possuir uma coleo de filmes e fitas de vdeo cassete para dar suporte s necessidades de pesquisa dos usurios. Isto fcil de compreender. Do mesmo modo, o acervo de filmes de uma biblioteca escolar existe para dar suporte ou ser utilizado como instrumento didtico por professores e alunos. O mesmo se aplica a bibliotecas acadmicas e universitrias. Em uma biblioteca pblica, a presena desse material sempre teve por objetivo ampliar o espectro de atuao da biblioteca, possibilitando um melhor atendimento das necessidades informacionais dos usurios. Muitas vezes isto inclui tambm o emprstimo domiciliar, duplicando eventualmente o servio oferecido pelas locadoras. Mas, como se disse acima, no pode limitar-se apenas a isso. Para uma biblioteca pblica, possuir um acervo de fitas de videocassete deve significar que este material est inserido em um processo de planejamento global de servios, uma proposta concreta de interveno na sociedade. Assim, alm do emprstimo domiciliar, pode-se fornecer espao para projees comunitrias, seguidas ou no de debates sobre os filmes exibidos. Da mesma forma, algumas reas do acervo so enriquecidas pela incluso de materiais em vdeo. o caso, por exemplo, de gravaes de partidas de futebol, em esportes; de peas teatrais ou verses cinematogrficas de romances, em literatura; e de apresentaes de orquestras ou peras, na rea de msica. Deste modo, o usurio ter ampliado seu acesso a materiais informacionais, complementando sua pesquisa (ou seu lazer) por intermdio de vrios meios de comunicao.

Do ponto de vista tcnico, a avaliao de filmes e fitas de videocassete, para incorporao ao acervo das bibliotecas, deve considerar vrios fatores; a minudncia da aplicao desses fatores, entretanto, depender dos objetivos da biblioteca. Bibliotecas especializadas levam em conta detalhes de fotografia, como a composio da obra, o trabalho da cmara, a fidelidade de cor e distino claro/escuro, que muitas vezes no sero de vital importncia em outras instituies. A qualidade da edio e dos efeitos especiais tambm um aspecto a ser levado em conta em uma avaliao mais rigorosa. Em filmes de animao e desenhos animados, as tcnicas utilizadas so muito importantes.

Alm desses aspectos, relativos parte visual dos filmes, itens como a fidelidade do som e a qualidade/credibilidade dos efeitos sonoros tambm podem ser considerados na avaliao.

provvel que bibliotecas especializadas em cinema considerem atentamente a adequao da produo cinematogrfica para outros suportes, preocupao que dificilmente existir em outras bibliotecas. Quando um filme produzido para exibio em telas grandes transposto para uma fita de videocassete, so feitos recortes e adaptaes, a fim de tomar as imagens adequadas dimenso do monitor de TV. Isto gera perdas da imagem original, do que resulta uma cpia muito distinta da que lhe deu origem; essas perdas podem ser inaceitveis para um pesquisador, para quem a fidedignidade da imagem de capital importncia. Em bibliotecas pblicas esse fator no ter a mesma importncia.

claro que os critrios assinalados dizem respeito apenas qualidade da cpia ou exemplar. Ao chegar a esse ponto, questes bsicas devero ter sido anteriormente respondidas, como a adequao do material ao usurio, sistema de vdeo mais apropriado para a biblioteca (VHS ou Betamax), implicaes financeiras para a instituio, etc. So quesitos para os quais no existem receitas prontas. Cada biblioteca ter de analisar sua realidade especfica e chegar a uma resposta que lhe seja satisfatria.

No futuro talvez a escolha deixe de ser sobre qual sistema de videocassete e passe a ser entre videocassete e videodisco, tambm chamado videolaser. A imagem de um aparelho de videodisco superior de um videocassete. A preciso do contraste, ausncia de fantasmas e qualidade das cores do a impresso de um filme em trs dimenses. Alm disso, o acesso aleatrio e a durabilidade, fazem-no a melhor opo para as bibliotecas.

Novidades esto surgindo na rea de filmes e vdeos, colocando em xeque muitas das tecnologias existentes.Uma delas um disco de material plstico e leitura ptica, do mesmo tamanho de um CD de msica ou CO-ROM, mas com capacidade sete a 26 vezes maior. Conhecido como ovo (digital versatile disc (disco verstil digital), armazena filmes com definio duas vezes melhor do que a do vdeo VHS e superior do videodisco, alm de contar com seis canais de som. Outras vantagens: pode-se escolher o udio de um filme em at oito idiomas e as legendas entre 32 lnguas; podem-se cortar cenas do filme, assistindo-se apenas s de maior interesse; e possvel assistir a cenas que ficaram de

fora na verso oficial e entrevistas com atores e o diretor. Enfim, com o DVO qualquer pessoa poder at alterar o final do filme, fazendo, por exemplo, com que Ingrid Bergman termine nos braos de Humphrey Bogart em Casablanca (1942). O paraso.

Discos e fitas

Discos e fitas de udio h tempos fazem parte do acervo de bibliotecas. Alm das especializadas, muitas bibliotecas pblicas possuem este material, a fim de atender aos interesses e necessidades da clientela. Na maioria dessas ltimas predominam os gneros musicais mais populares, mas j se percebe a preocupao em incorporar fitas cassetes para o ensino de idiomas estrangeiros, rea onde apresentam resultados bastante positivos.

A deciso tcnica de seleo tem compreendido a escolha entre discos, em geral de vinil, e fitas cassetes. Muitas bibliotecas costumam ter como norma a aquisio preferencial de discos. Quando o usurio solicita o emprstimo de um disco, seu contedo gravado em fita cassete, que emprestada, mas no o disco. Assim, preserva-se a integridade do disco, evitando-se arranhaduras ou outros danos.Quanto durabilidade ou resistncia, os discos so facilmente arranhados pelo manuseio indevido; com o passar do tempo, a reproduo do som pode ficar distorcida. No entanto, preciso assinalar que so hoje em dia muito mais resistentes do que eram h algumas dcadas. Fitas cassetes, por seu lado, so vulnerveis a acidentes, podendo ser facilmente apagadas ou danificadas.

No que diz respeito ao contedo, alguns autores costumam assinalar que os discos so mais indicados para gravaes de msica clssica, que requerem maior qualidade de reproduo, enquanto as fitas cassetes so mais indicadas para os lbuns de msica popular. Este argumento parece ser, em primeiro lugar, um pouco preconceituoso, por insinuar que os amantes dos gneros populares sejam ouvintes de segunda classe que ficaro satisfeitos com um produto de qualidade inferior. A aplicao deste critrio ao acervo deixa subentendida a seguinte mensagem: se quiserem uma qualidade melhor, aprimorem o gosto. Em segundo lugar, devido ao aperfeioamento tecnolgico ocorrido nos ltimos anos, tanto nas fitas cassetes como nos aparelhos reprodutores, o argumento perde quase por completo sua credibilidade. hoje em dia, a qualidade do som obtido com discos ou fitas se equivale, independentemente do gnero da msica.

Na realidade, o aperfeioamento tecnolgico influiu na discusso acima mencionada de maneira bastante diversa, transformando-a radicalmente. Hoje em dia, a opo primeira no se d mais entre disco e fita cassete, mas entre ambos e o compact disc (CD). Por vrios motivos. A qualidade de som do compact disc muitissimamente superior, permitindo uma audio mais completa de todos os acordes envolvidos na gravao. A resistncia do CO, excetuando-se condies excepcionais, quase total.

O que se afirmou quanto ao futuro do videodisco j realidade no que diz respeito aos CDs de udio, a comear pelas vantagens de acesso aleatrio (sem contato direto do usurio com o material, bom lembrar) e maior durabilidade. Sua grande desvantagem ainda est ligada ao preo, superior ao dos discos comuns, agora denominados discos de vinil, e das fitas cassetes. Talvez no seja excesso de otimismo imaginar que esta diferena venha a diminuir em futuro prximo, devido a uma maior popularizao dessa tecnologia. Por outro lado, uma anlise objetiva do custo-benefcio dos compact discs talvez possa demonstrar uma discrepncia bem menor do que aquela que os nmeros brutos, a princpio, deixam vislumbrar. Considerando-se as vantagens obtidas em relao durabilidade, armazenamento e qualidade da reproduo dos CDS, a diferena de preo passa a ser um fator de muito menor impacto. Cabe aos bibliotecrios o desenvolvimento de mecanismos de avaliao desse custo-benefcio que permitam uma deciso mais bem alicerada.

Diapositivos

Para a seleo de diapositivos (slides) deve-se considerar, alm da adequao aos usurios, aspectos tcnicos como perfeio das cores, qualidade da imagem projetada, e se so compatveis com o equipamento de projeo existente. Neste ltimo aspecto, implicaes sobre o custo tanto para aquisio do equipamento como. sua manuteno devero ser avaliadas, optando-se pelo que oferecer o maior nmero de vantagens.As caractersticas do pblico so provavelmente os pontos mais importantes a serem considerados, pois influenciaro muito na formulao dos critrios de seleo. Selecionar diapositivos para professores universitrios uma tarefa de maior complexidade do que selecion-los para utilizao por estudantes de primeiro grau. O nvel de exigncia de um docente que vai utilizar um diapositivo em uma aula de anatomia humana ser muito maior do que o do estudante de primeiro grau que usar o material como ilustrao de uma aula de cincias. No primeiro caso, a perfeio de detalhes ser o principal critrio para seleo. No segundo, essa exigncia pode no ser um fator to determinante.

Buscando sistematizar o assunto, a Profa. Maria Luiza Loures Rocha Perota, em seu livro Multimeios: seleo, aquisio, processamento, armazenagem, emprstimo, um dos poucos textos em portugus a enfocar o tema, sugere, resumidamente, os seguintes critrios de seleo:

1) Interesse concreto para o usurio;

2) A informao contida em cada vista deve ser clara, concisa, verdadeira e atualizada, limitar-se a um s6 tema preferencialmente, pois facilita a assimilao por parte do espectador;

3) Figuras simples. Os desenhos tcnicos complexos no so apropriados para serem apresentados em um s6 quadro;

4) Devem-se escolher ilustraes nas quais o tema mais importante se destaque do fundo;

5) Os dados numricos devem ser apresentados sob a forma de grficos ou de quadros, por serem de mais fcil compreenso;

6) Observar a qualidade do material: de pelcula, dos impressos [sic] de revelao, fixao, produtor, etc.

Alm dessas, outras consideraes poderiam ser feitas. Por exemplo, algumas bibliotecas do preferncia a conjuntos de diapositivos, acompanhados por material para utilizao simultnea projeo, incluindo desde textos explicativos at fitas cassetes com a apresentao j organizada pelos editores. seleo desses conjuntos exige que se levem em conta a coerncia entre os diversos componentes do todo e a relao entre o texto escrito/ gravado com o contedo dos diapositivos. Em alguns casos, talvez seja necessrio o auxlio de especialistas para responder com clareza a esses questionamentos.

Muitas bibliotecas preferem elas mesmas produzir seus diapositivos, com imagens feitas a partir de livros ou peridicos constantes de seu acervo. O nvel de exigncia quanto qualidade das reprodues, dependendo de sua finalidade, poder ser maior ou menor. Merece cuidado especial a adequao do suporte fotogrfico, para se obter o resultado mais satisfatrio possvel.

Outro aspecto para o qual os profissionais devem estar atentos refere-se ao direito autoral de obras intelectuais ou artsticas.

Fotografias, quadros, gravuras, etc. so protegidos por lei quanto sua reproduo em outro suporte ou sua exposio pblica, requerendo autorizao dos detentores dos direitos autorais. No convm tratar esta questo com leviandade. Sempre existe o risco de um processo judicial, por leso de direitos autorais.

Outros materiais

Como se comentou no incio deste captulo, no se pretendeu aqui esgotar todos os tipos de materiais que podem fazer parte do acervo das bibliotecas. Esta seria uma pretenso muito ambiciosa, inevitavelmente fadada ao fracasso. Para as finalidades deste texto, buscou-se apenas fazer uma abordagem muito ampla de alguns dos materiais mais comuns, de modo a possibilitar aos profissionais um conhecimento bsico desta rea da seleo. Bibliotecas que possuam colees de materiais no enfocados neste texto (como brinquedos, incunbulos, microformas, transparncias, mapas e globos, fotografias etc.) devero aplicar-lhes as mesmas reflexes aqui feitas em relao a peridicos, histrias em quadrinhos, filmes e vdeos, etc. Este ser um exerccio fascinante que muitos benefcios trar aos profissionais e comunidade a que devem servir.

5. Seleo de documentos eletrnicos

Quem acompanha de perto a evoluo dos suportes de informao sabe como eles se diversificaram nos ltimos anos com a possibilidade de armazenamento digital de dados. O armazenamento de dados em computadores de grande porte, a aquisio de CD-ROMs ou disquetes com bases de dados bibliogrficos, o acesso on-line ou via Internet a computadores remotos, etc. fazem parte de um leque de alternativas disponveis para tornar a informao mais acessvel, maximizando seu uso.

Cada vez mais, profissionais da informao que atuam em diferentes reas do conhecimento so chamados a se posicionar em relao a esses meios eletrnicos, decidindo pela sua incorporao ao acervo. imprescindvel, ento, ter previamente definidos os critrios para realizar essa avaliao de maneira correta, de modo a preservar os mesmos padres de qualidade que conseguiram colocar em seus acervos tradicionais.

Na seleo de documentos eletrnicos consideram-se aspectos de contedo, acesso, suporte e custo. As consideraes sobre contedo so iguais s feitas sobre documentos impressos, na medida em que sua incluso se justificar com base nos objetivos da biblioteca e no interesse dos usurios. Optar por documentos eletrnicos s porque so modernos, bonitos e atrativos no se justifica. preciso que o contedo esteja de acordo com os parmetros de assunto definidos pela instituio e haja razovel certeza de que significaro acrscimo valioso em termos de expectativas e necessidades dos usurios. As vantagens e limitaes do documento devem ser evidentes em termos de qualidade intrnseca, mesmo que para isso se tenha de ouvir especialistas.

Em termos de acesso, os documentos eletrnicos devem ser avaliados no apenas quanto sua maior facilidade para realizar buscas especficas, possibilitadas por mecanismos automatizados que permitem atingir um nmero maior de relaes entre conceitos do que as conseguidas em buscas manuais. Embora este seja um dos pontos centrais da deciso de seleo, a anlise deve englobar tambm questes como a compatibilidade do documento eletrnico com o sistema de automao da biblioteca. Outro ponto importante a autorizao do fornecedor para que os documentos sejam acessveis em rede local ou tenham sua utilizao restringida a computadores isolados c as implicaes que essas duas alternativas tero no custo do material

Quando os documentos eletrnicos constituem instrumentos de referncia, como ndices, resumos ou sumrios de peridicos, . a biblioteca deve estar preparada para um impacto na demanda de materiais, pois os usurios tero conhecimento de documentos que talvez no estejam disponveis no acervo.

Dispor de estrutura administrativa que responda de modo eficiente a essas demandas, inclusive com a possibilidade de emprstimo entre bibliotecas e comutao bibliogrfica, pode ser uma medida prudente para evitar que o acirramento da ansiedade pela informao conduza frustrao do usurio. Em termos de relaes pblicas, para no falar do apoio que a instituio deve receber da comunidade a que serve, isto desastroso.

As questes relacionadas com o suporte necessrio para utilizao do documento eletrnico so sempre muito pertinentes. Para muitas bibliotecas, trata-se de materiais com os quais seu pessoal no tem ainda suficiente familiaridade, para utilizao independente. Necessitaro, portanto, de um perodo de adaptao e mesmo de treinamento antes que estejam aptos a proporcionar aos usurios a ajuda que com certeza iro solicitar.

Os usurios precisaro receber orientao para .que se tomem independentes no uso dos novos recursos. Isto significa dizer que, no momento da seleo, ser preciso examinar a questo da disponibilidade de elementos complementares aos documentos eletrnicos. Entre eles est a existncia e qualidade dos manuais de instrues e a disponibilidade de suporte tcnico por linha telefnica que permita dirimir, junto ao produtor/fornecedor, as dvidas sobre a utilizao do documento eletrnico. Isso, porm, no tudo, pois tambm a qualidade das instrues dever ser avaliada, bem como a facilidade ou dificuldade de acesso ao suporte tcnico. De pouco adianta dispor de um nmero telefnico para contato se estiver sempre ocupado ou houver incompatibilidade entre o horrio da biblioteca e o do fornecedor do produto, etc.

Por fim, fatores relacionados com o custo do documento em formato eletrnico tm um peso grande na deciso de seleo. Por custo entenda-se no apenas o mais evidente, como o valor da compra do produto. Devem ser considerados todos os demais custos, como os de atualizao (correspondentes renovao das assinaturas de peridicos), manuteno e uso (neste caso, tambm a disponibilidade em rede local, que pode significar um acrscimo, s vezes salgado, ao preo inicial de aquisio).

A comparao de preos entre os documentos impressos e seus similares eletrnicos costuma ser mais complicada do que aquela com que esto acostumados os bibliotecrios quando comparam os preos de livros ou materiais de referncia em papel. Mais complicada ainda essa comparao quando diz respeito apenas a documentos eletrnicos, pois as estratgias de preo dos diversos produtores varia e nem sempre fcil determinar qual mais vantajosa em termos de custo-benefcio.

No que tange aos documentos eletrnicos, preciso refinar cada vez mais os instrumentos de anlise de custos, de modo a englobar o maior nmero possvel, tanto os diretos (preo, custo dos equipamentos necessrios, etc.) como os indiretos (despesas com treinamento do pessoal, tempo gasto na orientao dos usurios, impresso das informaes contidas nos documentos, etc.).

Considerando os objetivos deste livro, torna-se invivel o enfoque detalhado de cada uma das possibilidades oferecidas pela informao eletrnica nos dias de hoje. Dada a rapidez com que a rea avana, no momento do lanamento desta obra ela j estaria desatualizada. Desta forma, sero vistas apenas algumas alternativas, com consideraes sobre suas caractersticas e discutindo-se alguns dos critrios que lhes so mais apropriados.

CD-ROMs

CD-ROM significa compact disc-read only memory [disco compacto - memria apenas de leitura], uma tecnologia desenvolvida na ltima dcada e que armazena grande quantidade de informaes em discos compactos similares aos utilizados para gravaes sonoras. A produo desta tecnologia vem crescendo em progresso geomtrica, em todas as reas do conhecimento.

A popularizao do CD-ROM e de outras tecnologias para armazenamento da informao est ocorrendo nas bibliotecas no mundo inteiro. No Brasil, sua disseminao ainda no se compara com a dos pases mais desenvolvidos, mas j podem ser encontrados em muitas bibliotecas especializadas e universitrias, a maioria delas situadas no eixo Rio de Janciro-So Paulo, mas, cada vez mais, tambm nas outras regies do pas. Embora, ao que se saiba, no tenha ainda sido realizado qualquer tipo de levantamento para conhecer o ritmo de crescimento do nmero de CD-ROMs nas bibliotecas brasileiras, de se admitir que esse nmero esteja crescendo alm das expectativas. A cada dia se reduzem os preos dos equipamentos de informtica e mais bibliotecas adquirem microcomputadores que j trazem uma unidade de leitura de CD-ROM. Da mesma forma, a maior disponibilidade e diversidade de produtos nesse formato tambm leva a uma queda de preos, equiparando-os e muitas vezes at mesmo deixando-os inferiores aos preos dos documentos impressos.

Alguns leitores talvez venham a pensar que esta tecnologia, por ser ainda bastante recente, afetar apenas algumas bibliotecas especializadas ou universitrias, principalmente devido pouca disponibilidade de recursos oramentrios nas bibliotecas pblicas. Mesmo correndo o risco de ser acusado de excesso de otimismo, penso ser esta uma concluso equivocada. Nunca demais lembrar que h poucos anos nenhum cidado comum de classe mdia sequer cogitava na possibilidade de possuir um computador pessoal. Pouco antes, o mesmo ocorria com a televiso em cores. O barateamento dos equipamentos eletrnicos em geral levar, sem dvida, incluso dos CD-ROMs no acervo das bibliotecas pblicas. Talvez isso at ocorra muito mais cedo do que os bibliotecrios imaginam (quem viver, ver!).

preciso, portanto, que os bibliotecrios saibam lidar com esse novo tipo de documento e com as implicaes que ele dever ter em suas atividades profissionais. Pois ele j est entre ns e no tardar para que invada as searas das bibliotecas pblicas brasileiras.

Os CD-ROMs tm crescido bastante na rea de entretenimento, abrangendo inmeros brinquedos e jogos. Tambm h muitos produtos para o ensino, seja para utilizao em sala de aula, como complemento pedaggico, seja para estudo independente. Embora, nas bibliotecas, seu maior impacto tenha ocorrido na rea de obras de referncia, a deciso de incorporar ao acervo material de entretenimento nesse formato talvez seja uma das primeiras que os profissionais da informao tero de ponderar.

Existe uma grande variedade de bases de dados bibliogrficos em CD-ROM. Obras de referncia tradicionalmente publicadas em papel, assim como a maioria dos servios de indexao, esto disponveis nesse suporte. Este panorama deve se alterar nos, prximos anos, fazendo com que se intensifique a necessidade, para os bibliotecrios, de saber avaliar esses materiais de maneira adequada, o que no se resume a comparar o material impresso com o material em formato eletrnico. mais do que isso.

Entre as vantagens dos produtos bibliogrficos em CD-ROM deve-se destacar a facilidade de busca em comparao com as verses impressas dos mesmos ttulos. Isto fica ainda mais evidente quando preciso fazer uma pesquisa bibliogrfica que abranja vrios anos. Enquanto a pesquisa em uma base de dados impressa obriga o usurio a fazer vrias viagens s estantes e a manusear dezenas de volumosas edies, aquela realizada em um CD-ROM no afetada pelo perodo estipulado, sendo feita da mesma forma, caso fosse definido um perodo mais limitado. H de se concordar que fazer uma busca bibliogrfica sentado diante do computador muito mais agradvel do que faz-la com dispndio de fora e deslocamentos fsicos (talvez os fanticos por condicionamento fsico discordem dessa afirmativa...).

Bases de dados em CD-ROM podem ser utilizadas com o auxlio de variado nmero de opes, que facilitam a recuperao das informaes. Entre elas esto as buscas por assuntos, por nmeros de classificao, nome de autores, ttulos, palavras-chave, datas, etc. Ademais, os termos de busca podem ser combinados utilizando-se a lgica booleana, do que resultam estratgias muito mais precisas do que as realizadas em bases de dados impressas. lgico que essas opes variam de produto para p