seguranÇa e saÚde no trabalho de catadores de … · a importância do surgimento destes tipos de...

89
FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE E DO MEIO AMBIENTE ALEXANDRE ROMERO AUGUSTO SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS: FORMAÇÃO CONTINUADA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL VOLTA REDONDA 2017

Upload: others

Post on 31-Dec-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE E DO MEIO AMBIENTE

ALEXANDRE ROMERO AUGUSTO

SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE

MATERIAIS RECICLÁVEIS: FORMAÇÃO CONTINUADA EM

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

VOLTA REDONDA 2017

Page 2: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIA DE VOLTA REDONDA

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE E DO MEIO AMBIENTE

SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE

MATERIAIS RECICLÁVEIS: FORMAÇÃO CONTINUADA EM

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado

Profissional em Ensino em Ciências da Saúde e do

Meio Ambiente, como requisito parcial à obtenção

do título de Mestre em Ensino em Ciências da Saúde

e do Meio Ambiente.

Aluno:

Alexandre Romero Augusto

Orientadora:

Prof.ª Dr.ª Rosana Aparecida Ravaglia Soares

Coorientador:

Prof. Dr. Ronaldo Figueiró Portella Pereira

Volta Redonda 2017

Page 3: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

FICHA CATALOGRÁFICA

Bibliotecária: Alice Tacão Wagner - CRB 7/RJ 4316

R763s Romero, Alexandre Augusto.

Segurança e saúde no trabalho de catadores de materiais recicláveis:

formação continuada em educação ambiental. / Alexandre Augusto Romero.

- Volta Redonda: UniFOA, 2017. 83 p. Il.

Orientador(a): Profª Dra. Rosana Aparecida Ravaglia Soares Coorientador(a): Dr. Ronaldo Figueiró Portella Pereira Dissertação (Mestrado) – UniFOA / Mestrado Profissional em Ensino

em Ciências da Saúde e do Meio Ambiente, 2017. 1. Ciências da saúde - dissertação. 2. Reciclagem - trabalhos. 3. Educação

Ambiental. I. Soares, Rosana Aparecida Ravaglia. II. Pereira, Ronaldo Figueiró Portella. III. Centro Universitário de Volta Redonda. IV. Título.

CDD – 610

Page 4: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública
Page 5: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

DEDICATÓRIA

A Deus por iluminar o meu caminho e

sustentar a minha vida, marcada por

conquistas e realizações diárias, que às vezes

não dou o devido valor, mas, sei que a graça

de Deus se faz presente em todos os

momentos de minha existência. Aos nossos

familiares, pela paciência, carinho,

companheirismo e compreensão diante

nossas ausências.

Page 6: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

AGRADECIMENTOS

Eu, Alexandre Romero Augusto, agradeço a minha esposa Janice e aos meus

filhos Arthur e Ana Luíza pelos incentivos e apoio dado durante o Curso de Mestrado

Profissional em Ensino em Ciências da Saúde e do Meio Ambiente, a toda minha

família, mesmo que distantes, por sempre terem me apoiado a cada momento decisivo

de minha vida e dedicação aos estudos.

Agradeço a minha orientadora Prof.ª Dr.ª Rosana Aparecida Ravaglia Soares

pela extrema dedicação para elaboração de nossa pesquisa e desenvolvimento da

mesma, sempre com ideias inovadoras e criatividade. Buscando nossa interação com

muito entusiasmo, proporcionando todos encontros em um momento de aprendizado

e ensinamento, respeitando e acatando as opiniões com seriedade, ética,

determinação e muito profissionalismo. O meu muito obrigado, é pequeno ao tão

valioso trabalho em equipe que fizemos para chegar a este tão sonhado resultado.

Conquistamos outros valores como: união, respeito, cooperação, participação,

envolvimento e comprometimento. Tenho certeza que valeu a pena.

Agradeço aos docentes pelos valiosos ensinamentos transmitidos com muita

dignidade durante esta caminhada para nos tornar ainda mais críticos e cientes de

nosso papel na sociedade. Aos nossos colegas de turma pela convivência, troca de

experiência e apoio dado durante o curso. Aos funcionários do MECSMA por ajudarem

nosso sucesso acontecer... A todos vocês, o meu imenso agradecimento.

Page 7: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

RESUMO

Este estudo visa a conscientização de segurança e as melhores condições de trabalho

para obras de reciclagem. Todas as mudanças propostas seguiram os Padrões

Regulatórios atuais de acordo com o assunto. O Brasil, apesar de ser uma das

maiores economias do mundo, tem uma das piores distribuições de renda, que levou

milhares de pessoas a sobreviver nas ruas, eliminando materiais recicláveis. Essa

atividade, expõe os catadores ao risco de acidentes, e é vista negativamente pela

sociedade em geral. A atividade é considerada como suja e perigosa, às vezes

contribuindo para dificultar e piorar a gestão pública de resíduos. Por outro lado,

quando organizados através de cooperativas ou associações de catadores de

reciclagem podem se tornar parceiros de programas institucionais de gerenciamento

seletivo de resíduos, o que, por sua vez, pode alterar esse perfil estigmatizado. O

estudo torna-se importante porque visa avaliar o gerenciamento seletivo de resíduos

como uma ação que pode integrar com sucesso as necessidades econômicas,

sociais, ocupacionais e ambientais de um município. A metodologia foi baseada na

coleta de informações pré-existentes no local com revisão da literatura, análise do

histórico sobre cooperativas no Brasil, pesquisa sociocultural e desenvolvimento de

estratégias educacionais e criação de um portfólio. Diante dos problemas encontrados

foram propostas várias melhorias e alguns programas de conscientização sobre

acidentes de segurança. Após a revisão da literatura e pesquisa de campo, foram

propostas algumas melhorias, bem como programas de conscientização que regem a

segurança e a saúde no trabalho. Como produto, foi desenvolvida a oficina HAD (Hoje,

Amanhã e Depois) em três etapas: na primeira, confeccionou-se a Caixa dos Desejos,

na segunda, estendeu-se o Varal das Queixas e, por fim, construiu o Plano de Ações,

sistematizando as demandas dos cooperados e dividindo o trabalho entre eles.

Palavras-chave: trabalhos de reciclagem, educação ambiental, segurança e saúde

no trabalho.

Page 8: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

ABSTRACT

This study aims to raise safety awareness and better working conditions for recyclers.

All proposed changes follow the current Regulatory Standards according to the

subject. Brazil, despite being one of the largest economies in the world, has one of the

worst income distributions, which has caused thousands of people to survive on the

streets, eliminating recyclable materials. This activity exposes the collectors to the risk

of accidents and is viewed negatively by society in general. The activity is considered

as dirty and dangerous, sometimes contributing to hinder and worsen public waste

management. On the other hand, when organized through cooperatives or

associations of recyclers, they can become partners in selective waste management

institutional programs, which, in turn, can change this stigmatized profile. The study

becomes important because it aims to evaluate the selective waste management as

an action that can successfully integrate the economic, social, occupational and

environmental needs of a municipality. The methodology was based on pre-existing

information collection with literature review, historical analysis of cooperatives in Brazil,

socio-cultural research and development of educational strategies and creation of a

portfolio. In the face of the problems encountered, several improvements and some

awareness programs on safety accidents were proposed. After reviewing the literature

and field research, some improvements have been proposed as well as awareness

programs that govern safety and health at work. As a product, the HAD (Today,

Tomorrow and After) workshop was developed in three stages: in the first, the Desires

Box was developed, the second, the Complaints Handout was extended and, finally,

the Action Plan, systematizing the demands of the cooperative and dividing the work

between them.

KEYWORDS: recycle workes, environmental education, occupational safety and

health.

Page 9: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 15

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .......................................................................... 17

2.1. Teorias de Aprendizagem ............................................................................ 17

3. COOPERATIVISMO ........................................................................................... 21

3.1. História do Cooperativismo .......................................................................... 23

3.2. Sistema Cooperativista ................................................................................ 23

3.3. Cooperativismo no Brasil ............................................................................. 25

3.4. Princípios do Cooperativismo ....................................................................... 27

3.4.1. Os Sete Princípios do Cooperativismo: ................................................. 27

3.5. Cooperativa X Apelo Socioambiental ........................................................... 29

3.6. Catadores de Materiais reutilizáveis e recicláveis ........................................ 32

3.7. Cargas de Trabalho Aplicadas aos Catadores ............................................. 34

4. SAÚDE NA PERSPECTIVA DO COOPERATIVISMO........................................ 39

5. SEGURANÇA DO TRABALHO .......................................................................... 42

5.1. História da Segurança do Trabalho .............................................................. 42

5.2. Evolução Histórica da Segurança do Trabalho ............................................ 42

5.3. Definições aplicados à segurança do trabalho ............................................. 45

5.4. Normas Regulamentadoras ......................................................................... 46

5.4.1. NR6: EPI – Equipamento de Proteção Individual .................................. 48

5.4.2. NR9: PPRA - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais .............. 50

5.4.3. NR12: Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos ............. 50

5.4.4. NR15: Atividades e Operações Insalubres ............................................ 50

5.4.5. NR17: Ergonomia .................................................................................. 51

5.4.6. NR24: Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho ..... 51

5.5. Perigos e riscos nas atividades com resíduos sólidos ................................. 51

6. MEIO AMBIENTE NO CONTEXTO DOS CATADORES .................................... 55

Page 10: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

6.1. Resíduos Sólidos Municipais ....................................................................... 55

6.2. Classificação dos Resíduos ......................................................................... 60

6.2.1. Decretos e Leis à atuação dos Catadores: ............................................ 62

7. EDUCAÇÃO ....................................................................................................... 64

8. METODOLOGIA ................................................................................................. 68

8.1. Desenvolvimento do Estudo ......................................................................... 68

8.2. Funcionamento da Cooperativa Reciclar VR ............................................... 71

9. RESULTADO E DISCUSSÃO ............................................................................ 74

9.1. Resultado ..................................................................................................... 75

9.1.1. Descrição ............................................................................................... 75

9.1.2. 1.ª Etapa - Caixa dos Desejos ............................................................... 76

9.1.3. 2.ª Etapa - Varal das Queixas ................................................................ 79

9.1.4. 3.ª Etapa - Plano de Ações .................................................................... 80

10. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 82

11. REFERÊNCIAS ............................................................................................... 84

Page 11: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

LISTAS DE FIGURAS

Figura 1 - É essa a educação ambiental que não desejamos ................................... 20

Figura 2 - Equipamento de Proteção Individual – EPI ............................................... 49

Figura 3 - Aterro Sanitário ......................................................................................... 59

Figura 4 - Localização da Cooperativa Recicla VR, na cidade de Volta Redonda .... 69

Figura 5 - Materiais depositados para reciclagem ..................................................... 69

Figura 6 - Materiais depositados na área do Galpão ................................................. 70

Figura 7 - Vista frontal da Cooperativa ...................................................................... 71

Figura 8 - Caminhões da PMVR com materiais coletados ........................................ 72

Figura 9 - Materiais dispostos nas esteiras ............................................................... 72

Figura 10 - Prensas do local ...................................................................................... 73

Figura 11 - Confecção da Caixa dos Desejos ........................................................... 77

Figura 12 - Desejos escritos em pedaço de papel e depositado na Caixa dos

Desejos ..................................................................................................................... 77

Figura 13 - Desejos escritos e depositados na Caixa dos Desejos ........................... 78

Figura 14 - Fixação das peças no Varal das Queixas ............................................... 79

Page 12: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

LISTAS DE QUADROS

Quadro 1 - Evolução Histórica da Segurança do Trabalho ......................................................... 43

Quadro 2 - Classificação dos resíduos sólidos .............................................................................. 61

Page 13: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

LISTA DE SIGLAS

1. ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

2. ACI - Aliança Cooperativa Internacional

3. AIDS- Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

4. ASO - Atestado de Saúde Ocupacional

5. CA - Certificado de Aprovação

6. CEMPRE – Compromisso Empresarial para a Reciclagem

7. CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

8. CLT - Consolidação das Leis do Trabalho

9. CRL/VR – Centro de Recebimento de Lixo no município de Volta Redonda

10. CRM – Conselho Regional de Medicina

11. DDS – Diálogo Diário de Segurança

12. EPA - Environmental Protection Agency / Agência de Proteção Ambiental

13. EPI – Equipamento de Proteção Individual

14. EPR – Equipamento de Proteção Respiratória

15. INSS - Instituto Nacional do Seguro Social

16. IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

17. ISO (International Standards Organization)

18. MNCR - Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis

19. MPC - Medidas de Proteção Coletiva

20. MTE - Ministério do Trabalho e Emprego

21. NR – Normas Regulamentadoras

22. NBR - Norma Brasileira

Page 14: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

23. OCA - Organização das Cooperativas da América

24. OCB - Organização das Cooperativas Brasileiras

25. OCESP – Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo

26. OMS - Organização Mundial de Saúde

27. ONU - Organização das Nações Unidas

28. PCMSO - Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional

29. PEV - Ponto de Entrega Voluntária

30. PNRS- Política Nacional de Resíduos Sólidos

31. PPR - Programa de Proteção Respiratória

32. PPRA - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais

33. SESMT - Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e Medicina do

Trabalho

34. SICREDI - Sistema de Crédito Cooperativo

35. SINMETRO - Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade

Industrial

36. SMAC - Secretaria Municipal de Ação Comunitária

37. SSST - Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho

38. SUS – Sistema Único de Saúde

39. UBM - Universidade de Barra Mansa

40. UNICEF - United Nations Children's Fund / Fundo das Nações Unidas para a

Infância

Page 15: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

15

1. INTRODUÇÃO

O contexto social no Brasil, que possui uma das piores distribuições de renda

do mundo, tem levado um número cada vez maior de pessoas como alternativa a

sobrevivência através da coleta de materiais recicláveis no lixo domiciliar em

instituições fabris, comércio etc.

Tal atividade, além da exposição aos riscos de acidentes, é vista negativamente

pela sociedade, em geral, por ser realizada de forma desorganizada, utilizando-se as

ruas e terrenos baldios para segregar e armazenar o material, dificultando o trabalho

do serviço público de limpeza. Por outro lado, ao se organizarem através de

cooperativas ou associações de catadores, tais trabalhadores podem se tornar

parceiros de programas institucionais de coleta seletiva e mudar este perfil

estigmatizado.

A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o

acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública e privada em seus

métodos de trabalhos possibilitam a geração de emprego e renda, resgate da

cidadania dos catadores e a redução de despesas com programas de coleta seletiva

nas instituições. Além disso, as cooperativas otimizam a organização do trabalho dos

catadores nas ruas, evitando os problemas na coleta do lixo, como o armazenamento

de materiais recicláveis em logradouros públicos, redução de despesas com coleta,

transferência e disposição final de resíduos separados.

Neste contexto, a pesquisa avaliou a coleta seletiva de lixo como uma ação que

pôde integrar com sucesso os interesses econômicos, sociais, ocupacionais e

ambientais. Os catadores vivem em contato direto com os resíduos, tornando-os

permanentemente sujeitos a acidentes com cacos de vidro, pregos, latas abertas ou

enferrujadas e frascos de aerossol, não esquecendo o risco à saúde, em decorrência

do contato com materiais contaminados descartados por hospitais ou pessoas

doentes. Dessa forma, ressalte-se a importância da inserção de uma metodologia

baseada na gestão de segurança e saúde ocupacional.

O trabalho não costuma ser fonte apenas de prazer, satisfação, subsistência,

mas pode também gerar doenças ocupacionais, aquelas diretamente relacionadas à

atividade desempenhada pelo trabalhador ou às condições de trabalho, às quais ele

está submetido e são decorrentes da exposição destes aos riscos da atividade que

Page 16: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

16

desenvolve. Catar e coletar os materiais recicláveis pode expor o trabalhador a riscos

relacionados a características próprias da atividade e do contexto social em que estão

inseridos.

A Educação Ambiental tem sido muito abordada em paralelo à sua prática pelos

próprios educadores ambientais, face ao caráter interdisciplinar da área. Para a

construção do embasamento teórico a fim de compreender os problemas ambientais,

a Educação Ambiental Crítica deve ser instrumentalizada em bases pedagógicas, por

ser uma dimensão da educação, mas também lutar pela transformação das pessoas

e dos grupos sociais.

Nesse contexto, a pesquisa proposta pelo presente trabalho respondeu ao

questionamento: Como avaliar o comportamento dos catadores de materiais

recicláveis mediante a exposição dos eventos relacionados a acidentes ocorridos pela

falta de conhecimento relacionado a segurança no trabalho? A ação proposta

contribuiu para orientação e conscientização destes profissionais na atuação da

separação de materiais recicláveis?

Diante disso, este trabalho tem como objetivo geral identificar os fatores críticos

de segurança e saúde ocupacional, propondo melhorias e alternativas aos catadores

de materiais recicláveis no CRL/VR – Centro de Recebimento de Lixo no município de

Volta Redonda – RJ. Os objetivos específicos são:

a) Investigar os riscos ocupacionais do ambiente de trabalho da Cooperativa;

b) Sensibilizar os catadores de materiais recicláveis sobre a importância do uso de

EPI;

c) Fornecer solução prática através de “oficinas” com material de auxílio para

conscientização e motivação.

Portanto, o trabalho buscou verificar a incidência de acidentes dos

catadores que trabalham nesta cooperativa de Volta Redonda, bem como

conhecer algumas características desta categoria, tais como o nível de

escolaridade, as condições de trabalho, higiene e os perigos enfrentados durante

a realização de suas atividades.

Page 17: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

17

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Teorias de Aprendizagem

Para fundamentação teórica deste projeto, foi abordada a Pedagogia Crítica,

Dialógica e Conscientizadora baseada em Paulo Freire, além da abordagem temática

relativa ao tema.

A pedagogia proposta por Paulo Freire, também conhecida como pedagogia

libertadora, consiste na educação voltada para a conscientização da opressão, que

permitiria a consequente ação transformadora e parte da concepção de que o ato de

conhecer não é uma doação do educador, mas um processo que se estabelece no

contato do educando com o mundo vivido, lembrando que este se encontra em

continua transformação. Ainda mais, a relação entre educador e educandos e destes

entre si é dialógica: e o diálogo, como sabemos, supõe troca, não imposição. Essa

postura permite que o conhecimento adquirido seja crítico, porque autenticamente

reflexivo, implicando o constante desvelamento da realidade para nela se posicionar.

“O importante na educação libertadora, é que os homens se sintam sujeitos de seu pensar, discutindo o seu pensar, sua própria visão de mundo, manifestada implícita ou explicitamente, nas suas sugestões e nas de seus companheiros” (FREIRE, 1982, p. 141).

Coerente com estes princípios, o método de alfabetização não se reduz a mera

técnica, que o professor conheceria de antemão. Ao contrário, ele precisa do

educando, para saber o que lhe interessa e o motiva. Por isso Freire recomenda o

levantamento do universo vocabular dos grupos, a fim de escolher palavras

geradoras, que certamente variam conforme o lugar.

“A alfabetização de adultos, para que não seja puramente mecânica e memorizada, o que há de fazer é proporcionar-lhes que se conscientizem para se alfabetizarem" (FREIRE, 1971, p. 120).

Ao longo das mais diversas experiências de Paulo Freire pelo mundo, o

resultado sempre se apresentou ao autor. A pessoa iletrada chega humilde e culpada,

mas aos poucos descobre com orgulho que também é um fazedor de cultura e, mais

Page 18: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

18

ainda, que a condição de inferioridade não se deve à sua incompetência, mas à sua

humanidade roubada.

O método de Paulo Freire pretende superar a dicotomia entre teoria e prática:

no processo, quando o indivíduo descobre que sua prática supõe um saber, conclui

que, de certa maneira, conhecer é interferir na realidade. Percebendo-se como sujeito

da história, toma a palavra daqueles que até então detêm seu monopólio. Alfabetizar

é, em última instância, ensinar o uso da palavra. Podendo permear com o estudo de

E. A. C. - Educação Ambiental Crítica e os autores como Guimarães, Layargues e

Loureiro, além da abordagem temática relativa ao tema.

“A Educação Ambiental Crítica objetiva promover ambientes educativos de mobilização desses processos de intervenção sobre a realidade e seus problemas socioambientais, para que possamos nestes ambientes superar as armadilhas paradigmáticas e propiciar um processo educativo, em que nesse exercício, estejamos, educandos e educadores, nos formando e contribuindo, pelo exercício de uma cidadania ativa, na transformação da grave crise socioambiental que vivenciamos todos” (Guimarães, 2004).

A contribuição destes autores e a concepção da Educação Ambiental Crítica

colaboram para a construção e elaboração da oficina, que tem por objetivo a

conscientização e identificação dos fatores críticos de segurança e saúde ocupacional

na busca do aprofundamento das atividades, além da abordagem conceitual,

utilizaremos a prática para desenvolver o conhecimento e transformação da realidade

dos problemas socioambientais na cooperativa.

De acordo com Guimarães (2004, p. 3) a E. A. C. "(...) primeiro lugar, a desvelar

esses embates presentes, para que numa compreensão (complexa) do real se

instrumentalize os atores sociais para intervir nessa realidade".

“Mas apenas o desvelamento não resulta automaticamente numa ação diferenciada, é necessária a práxis, em que a reflexão subsidie uma prática criativa e essa prática dê elementos para uma reflexão e construção de uma nova compreensão de mundo. Mas esse não é um processo individual, mas que o indivíduo vivencia na relação com o coletivo em um exercício de cidadania, na participação em movimentos coletivos conjuntos de transformação da realidade socioambiental” (GUIMARÃES, 2004).

A Educação Ambiental Crítica procura ampliar o olhar dos educandos e

favorece a reflexão dos papéis sociais de todos envolvidos no processo da crise

ambiental. O educando, através do olhar crítico é capaz de analisar quais são as

causas das crises ambientais. Todavia, as pessoas necessitam de liberdade de

Page 19: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

19

pensar e que elas possam, após um primeiro contato interagir com os conhecimentos

apreendidos, constituindo opiniões que se apropriem dos saberes necessários para

uma existência social ativa e participante.

A partir desta concepção, percebemos que a Educação Ambiental Crítica tem

como proposta a inserção no processo educativo, contribuindo numa mudança social,

assumindo uma proposta de mudança cultural e política. Portanto, na educação

formal, certamente esse processo educativo não ocorre somente dentro da

Universidade, e sim processo de troca de experiências e saberes entre educadores e

educandos na sociedade. Estabelecem um comportamento ecológico e ambiental

consciente mediante a crise atual em que vivemos.

"A Educação Ambiental é uma dimensão do processo educativo voltada para a participação de seus atores, educandos e educadores, na construção de um novo paradigma que contemple as aspirações populares de melhor qualidade de vida socioeconômica e um mundo ambientalmente sadio” (GUIMARÃES, 1995, p. 14-15).

Guimarães (2004) ao defender uma Educação Ambiental Crítica de acordo com

a leitura crítica de Paulo Freire, subsidiada pela Teoria Crítica, embasado na

compreensão de Educação Ambiental e a inserção desta no processo de

transformação da realidade, por ele designada socioambiental. O autor defende em

seu estudo o desenvolvimento de uma educação formal, que realize uma interface

entre a Educação Ambiental e a Educação Popular, de forma a propor o

desenvolvimento de uma ação pedagógica da Educação Ambiental Crítica através de

projetos que se voltem para além das salas de aula.

De acordo com Loureiro (2004) trata-se de uma Educação Ambiental que se

origina no escopo das pedagogias críticas e emancipatórias, especialmente dialéticas,

em suas interfaces com a chamada teoria da complexidade, visando um novo

paradigma para uma nova sociedade.

Loureiro (2004) ainda sinaliza que a vertente transformadora da Educação

Ambiental, no Brasil, está alicerçada, com relação às suas bases teóricas e

metodológicas, na pedagogia de Paulo Freire. Assim, seu estudo tem o intuito de

evidenciar as especificidades de uma Educação Ambiental Transformadora até se

chegar às diferenciações, para fins didáticos, da Educação Ambiental Convencional.

Fornece um percurso que facilite a compreensão daquela, em seus pontos de

distinção e semelhança com as demais vertentes tendo um novo patamar de

Page 20: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

20

compreensão do processo educativo. Isso permite aproximações com uma

perspectiva Crítico-Transformadora de EA, ao prever mudança cultural e mudança

social mediante processos coletivos pautados no diálogo, na problematização do

mundo e na ação.

No contexto da construção de metodologias para a ação educativa ambiental e

com base nas ideias de Layrargues (1999), que advoga a favor dos temas ambientais

como geradores da formação crítica, os quais devem ser tomados como ponto de

partida para análises críticas da realidade “socioambiental”, com vistas a superar o

caráter informativo em busca de uma educação preocupada com a formação do

sujeito ecológico.

“A possibilidade de articular a metodologia da pesquisa-ação com a resolução

de problemas ambientais locais permite evitar que o risco do reducionismo

contamine a prática educativa, não se restringindo a mera resolução do

problema abordado” (LAYRARGUES, 1999, p. 08).

A figura 1 ilustra esse fim provisório em relação ao assunto. A educação

ambiental que não é desejada, a educação ambiental conservadora, que por exemplo,

ensina a realizar a separação dos tipos de lixo, como na coleta seletiva de lixo, mas

não a entender a complexidade e a verdadeira origem dos problemas

socioambientais.

Figura 1 - É essa a educação ambiental que não desejamos Fonte: Blog Educação Ambiental Crítica

Page 21: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

21

3. COOPERATIVISMO

Origina-se da palavra cooperação. É uma doutrina cultural e socioeconômica,

fundamentada na liberdade humana e nos princípios cooperativos. A cultura

cooperativista busca desenvolver a capacidade intelectual das pessoas de forma

criativa, inteligente, justa e harmônica, visando a sua melhoria contínua. Os seus

princípios buscam, pelo resultado econômico e o desenvolvimento social, ou seja, a

melhoria da qualidade de vida.

Com essas novas posturas frente à questão dos resíduos, pode-se observar

que uma política de desenvolvimento sustentável ambiental e social começa a ser

apresentada. Nessa política, os desempregados e trabalhadores do setor informal da

economia se organizam em empreendimentos solidários auto gestionários

(cooperativas), intensificando a educação ambiental junto à população e construindo

uma nova alternativa de geração de trabalho, renda e beneficiamento de materiais

recicláveis.

"O cooperativismo é um movimento, uma filosofia de vida e um modelo socioeconômico capaz de unir desenvolvimento econômico e bem-estar social. Seus referenciais fundamentais são: participação democrática, solidariedade, independência e autonomia." (ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS - OCB).

Os conceitos que identificam e são intrínsecos ao cooperativismo são:

a) Cooperar – unir-se a outras pessoas para conjuntamente enfrentar

situações adversas, no sentido de transformá-las em oportunidade e bem-estar

econômico e social.

b) Cooperação – método de ação pelo qual indivíduos ou familiares com

interesses comuns constituem um empreendimento. Os direitos são iguais para

todos e o resultado alcançado é repartido somente entre os integrantes, na

proporção da participação de cada um.

Page 22: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

22

c) Sócios – indivíduo, profissional, produtor de qualquer categoria ou

atividade econômica que se associa a uma cooperativa para exercer atividade

econômica ou adquirir bens de consumo e/ou duráveis.

O conceito de cooperativa de acordo com Rios (2007, p. 20) preconiza que, as

cooperativas são um tipo de empreendimento em que o motivo de “serviço” substitui

o “lucro” em que o grupo “proprietário usuário” substitui o “intermediário”. Pode-se

definir uma cooperativa como uma associação voluntária com fins econômicos,

podendo nela ingressar os que exercem uma mesma atividade. Para Soares (2006,

p. 21) “cooperativa é uma associação autônoma de pessoas que se unem

voluntariamente para satisfazerem aspirações e necessidades econômicas, sociais e

culturais comuns, por meio de uma empresa de propriedade coletiva e

democraticamente gerida”. Estes dois conceitos convergem, de certo modo, quanto à

definição do conceito de cooperativa como empreendimento ou associação de

pessoas que se unem para satisfazer suas necessidades e aspirações comuns. Mas

percebe-se que existem cooperativas que extrapolam este conceito, como é o caso

de cooperativas que nascem no seio de organizações sociais e são motivadas por

necessidades que vão para além do financeiro. Como exemplo citam-se as

cooperativas de produtores rurais de áreas de reforma agrária e as cooperativas de

mulheres camponesas. Assim, a cooperativa é uma das formas de organização dos

trabalhadores

De acordo com Layargues (2002, p. 180), a permanência da falta de suportes

sociais relativos à atividade laboral dos catadores é, assim, reforçada pela inexistência

de políticas que transformem as carências e vulnerabilidades em direitos sociais

relativos ao trabalho e à condição urbana dos catadores. Isto se dá em decorrência

de não se conseguir consolidar e disseminar uma política que vá além das dispersas

e isoladas iniciativas de criação de cooperativas e associações de catadores, as quais

não chegam se converter em articulações maiores e mais coesas.

Mesmo que dotadas de significativa importância no interior de um processo de

organização conforme visto antes, as iniciativas de associar e cooperativar os

catadores em grupos de produção distanciados uns dos outros não são capazes de

transformar os processos de trabalho e de organização dos catadores numa política

pública que contemple a dimensão social da cadeia produtiva de reciclagem de

materiais.

Page 23: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

23

3.1. História do Cooperativismo

O cooperativismo surge no século XVI na Inglaterra devido o advento da

Revolução Industrial. Com a Revolução Industrial a utilização de maquinários no lugar

de mão de obra operária fez emergir grande número de desempregados, e uma

alternativa desenvolvida pelos trabalhadores à situação de desemprego foi o trabalhar

no modelo de cooperativista (SINGER, 1999 p. 23).

Em 21 de dezembro de 1844 no bairro de Rochdale, em Manchester

(Inglaterra), 27 tecelões e uma tecelã fundaram a "Sociedade dos Probos Pioneiros

de Rochdale" com o resultado da economia mensal de uma libra de cada participante

durante um ano (FRANZONI, 1996). Tendo o homem como principal finalidade, e não

o lucro, os tecelões de Rochdale buscavam naquele momento uma alternativa

econômica para atuarem no mercado, frente ao capitalismo ganancioso que os

submetiam a preços abusivos, exploração da jornada de trabalho de mulheres e

crianças (que trabalhavam até 16h) e do desemprego crescente advindo da revolução

industrial. Naquele momento a constituição de uma pequena cooperativa de consumo

no então chamado "Beco do Sapo" (Toad Lane) estaria mudando os padrões

econômicos da época e dando origem ao movimento cooperativista. Tal iniciativa foi

motivo de deboche por parte dos comerciantes, mas logo no primeiro ano de

funcionamento o capital da sociedade aumentou para 180 libras e cerca de dez mais

tarde o "Armazém de Rochdale" já contava com 1.400 cooperantes. O sucesso dessa

iniciativa passou a ser um exemplo para outros grupos.

O cooperativismo evoluiu e conquistou um espaço próprio, definido por uma

nova forma de pensar o homem, o trabalho e o desenvolvimento social. Por sua forma

igualitária e social o cooperativismo é aceito por todos os governos e reconhecido

como fórmula democrática para a solução de problemas socioeconômicos e de

libertação do trabalhador dos vínculos patrimoniais.

3.2. Sistema Cooperativista

De acordo com Araújo e Silva (2011, p. 15) uma importante particularidade das

cooperativas é o ato cooperativo; somente através dele esses empreendimentos

podem legitimar a relação cooperativista com o quadro social, com a finalidade única

de tornar vantajosa a participação econômica dos associados em algo que eles não

Page 24: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

24

teriam fora de uma cooperativa, uma vez que elas eliminam atravessadores, reduzem

custos, customizam produtos e serviços, oferecem suporte às operações financeiras,

além da tributação ser reduzida para esses atos.

“Denominam-se atos cooperativos os praticados entre as cooperativas e seus associados, entre estes e aquelas e pelas cooperativas entre si quando associados, para a consecução dos objetivos sociais. Parágrafo único. O ato cooperativo não implica operação de mercado, nem contrato de compra e venda de produto ou mercadoria” (BRASIL,1971).

A valorização da união entre as cooperativas existe desde o seu surgimento, e

hoje elas estão organizadas internacionalmente. A entidade que coordena esse

movimento nos cinco continentes é a Aliança Cooperativa Internacional - ACI. Criada

em 1895 e atualmente sediada em Genebra, Suíça, essa associação não

governamental e independente reúne, representa e presta apoio às cooperativas e

suas correspondentes organizações objetivam a integração, autonomia e

desenvolvimento do cooperativismo. (ACI – Aliança Cooperativa Internacional...,

2016)

Em 1946 o movimento cooperativista representado pela A. C. I. - Aliança

Cooperativa Internacional foi uma das primeiras organizações não governamentais a

ter uma cadeira no Conselho da ONU - Organização das Nações Unidas. (ACI –

Aliança Cooperativa Internacional..., 2016)

Desde 16 de Setembro de 1997, para nosso orgulho, foi eleito presidente da A.

C. I., o brasileiro, produtor agrícola e professor - Roberto Rodrigues. Primeiro não

europeu a assumir o cargo principal em 103 anos de existência da organização.

Quando no Brasil, a sede do presidente da A. C. I. fica também nas dependências da

Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (OCESP). (ACI – Aliança

Cooperativa Internacional..., 2016)

No âmbito do continente americano essa articulação é feita hoje pela

Organização das Cooperativas da América - OCA fundada em 1963. Essa entidade

tem sua sede na cidade de Bogotá, Colômbia, e integra as representações de vinte

países, incluindo o Brasil. (ACI – Aliança Cooperativa Internacional..., 2016)

Page 25: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

25

3.3. Cooperativismo no Brasil

As cooperativas no Brasil, começaram a surgir a partir de 1889, em Minas

Gerais, enquanto a mais antiga em atividade está no Rio Grande do Sul.

Segundo Carvalho (2013, p. 41) o cooperativismo aparece no Brasil no século

XIV, com o surgimento de cooperativas de militares e funcionários públicos que

visavam suprir necessidades específicas; desde então o desenvolvimento deste

sistema socioeconômico teve crescimento contínuo, sendo apresentado nas mais

diversas formas de cooperativas, seja de crédito, de saúde, de trabalho etc.

O cooperativismo tem a representação política, que é organizada da seguinte

forma: Aliança Cooperativa Internacional (ACI); ACI Américas; Organização das

Cooperativas Brasileiras (OCB); Serviço Nacional de Aprendizagem do

Cooperativismo (Sescoop Nacional); Organização das Cooperativas Estaduais

(OCE’s). A representação de todo o sistema cooperativista nacional cabe à OCB, que

se institucionalizou legalmente através da lei federal 5.764/71, de 16/12/1971

(OCEMG, 2010, p.8).

“Política Nacional do Cooperativismo que institui o sistema jurídico das sociedades cooperativas: “Cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil não sujeitas à falência, constituídas para prestar serviços aos associados” Lei 5.764/1971.

O crescimento desta forma de organização foi consolidado no país através da

promulgação da Lei n.º 5.764 de 16 de dezembro de 1971, que definiu a Política

Nacional de Cooperativismo, sob o qual estão todas as cooperativas formalizadas

criadas no Brasil.

As primeiras iniciativas cooperativistas no Brasil surgiram pouco tempo depois

que o movimento despertou no mundo. Passados menos de 50 anos da criação da

primeira cooperativa, na Inglaterra, em 844, os brasileiros registram formalmente a

sua pioneira. Em Minas Gerais, foi formalizada a Sociedade Cooperativa Econômica

dos Funcionários Públicos de Ouro Preto, no ano de 889. Assim como os tecelões de

Rochdale, os precursores brasileiros eram cooperados de consumo, mas a Sociedade

Cooperativa oferecia produtos diversificados, desde gêneros alimentícios até

residências e crédito.

Page 26: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

26

A partir da organização mineira, outras rapidamente surgiram pelo País. No

início do movimento, muitas cooperativas eram formadas por funcionários públicos,

militares, profissionais liberais e operários, que juntos buscavam atender melhor às

suas necessidades. Outras estavam vinculadas a empresas, as quais estimulavam a

cooperação entre os funcionários, principalmente no Estado de São Paulo (BRASIL,

2006).

Ainda no século XIX, nasciam as organizações que se tornaram destaques do

cooperativismo brasileiro: as agropecuárias. A primeira registrada foi a Società

Cooperativa delle Convenzioni Agricoli, fundada no Rio Grande do Sul, na região de

Veranópolis, em 89. A partir daí esse segmento se desenvolveu com vigor no Sul do

País, estimulado por imigrantes europeus e asiáticos, que traziam dos seus

continentes o conhecimento da doutrina e buscavam a união para amenizar as

dificuldades de começar vida nova longe da terra natal (BRASIL, 2006).

Por volta de 90, o setor agropecuário ganhou impulso também em Minas

Gerais, no Sudeste do Brasil, quando as cooperativas foram incentivadas pelo então

governador João Pinheiro, que buscou organizar a produção e a comercialização do

café (BRASIL, 2006).

Porém, a cooperativa mais antiga ainda em funcionamento no Brasil é do ramo

de crédito. Em 90, ela foi idealizada pelo padre jesuíta suíço Theodor Amstad, grande

conhecedor do sistema cooperativo europeu. Era formada por colonos de origem

alemã que habitavam Nova Petrópolis, no Rio Grande do Sul. A organização nasceu

com o nome de Sociedade Cooperativa Caixa de Economia e Empréstimos de Nova

Petrópolis e desde 99 adota a denominação Sicredi Pioneira, pois integra o Sistema

de Crédito Cooperativo – Sicredi (BRASIL, 2006).

Portanto, foi no início dos anos 90 que o cooperativismo começou a se delinear

no Brasil, influenciado pela religiosidade e pelo pensamento político dos imigrantes.

O movimento seguiu principalmente o chamado “modelo alemão”, que defendia a

educação cooperativista para estimular a solidariedade entre as pessoas, a união de

todo o sistema na defesa dos interesses comuns e a distinção entre o cooperativismo

e a economia de mercado, sendo o primeiro marcado pelo comprometimento com a

justiça social (BRASIL, 2006).

Page 27: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

27

3.4. Princípios do Cooperativismo

O Brasil é filiado à Aliança Cooperativa Internacional (ACI) desde 1989. Em

1992, o País começou a participar da direção da entidade, quando o então presidente

da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Roberto Rodrigues, foi eleito

presidente da ACI Américas, o que lhe conferia automaticamente o cargo de vice-

presidente. Em 1997, Rodrigues foi o primeiro não-europeu a assumir o cargo de

presidente mundial da ACI, ocupando a função até 2001. Rodrigues é também autor

do sétimo princípio do cooperativismo, que prega o “interesse pela comunidade”.

3.4.1. Os Sete Princípios do Cooperativismo:

Para Soares (2006, p. 21), estes são os princípios que norteiam as práticas das

cooperativas: adesão livre e voluntária, gestão democrática e livre, autonomia e

independência, educação, treinamento e informação, cooperação entre as

cooperativas, e preocupação com a comunidade.

As principais características da empresa cooperativa, citadas são:

“Propriedade, gestão e repartição comum. A propriedade significa que estamos diante de uma associação de pessoas e não do capital, a segunda significa que o poder de decisão final é da assembleia geral a repartição coletiva indica que a distribuição das sobras se faz segundo a participação dos sócios” (RIOS, 2007, p. 18).

a) Adesão voluntária e livre

As cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas

aptas a utilizar os seus serviços e a assumir as responsabilidades como membros,

sem discriminações de sexo, sociais, raciais, políticas e religiosas (OCB, 2004).

b) Gestão democrática e livre

As cooperativas são organizações democráticas, controladas pelos seus

membros, que participam ativamente na formulação das suas políticas e na tomada

de decisões. Os homens e as mulheres, eleitos como representantes dos demais

membros, são responsáveis perante estes. Nas cooperativas de primeiro grau, os

Page 28: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

28

membros têm igual direito de voto (um membro, um voto); as cooperativas de grau

superior são também organizadas de maneira democrática (OCB, 2004).

c) Participação econômica dos membros

Os membros contribuem equitativamente para o capital das cooperativas e

controlam-no democraticamente. Parte desse capital é, normalmente, propriedade

comum da cooperativa. Os membros recebem, habitualmente, se houver uma

remuneração limitada ao capital integralizado, como condição de sua adesão (OCB,

2004). E destinam os excedentes a uma ou mais das seguintes finalidades:

1) Desenvolvimento das suas cooperativas, eventualmente através da criação

de reservas, parte das quais, pelo menos uma, será indivisível;

2) Benefício aos membros na proporção das suas transações com a

cooperativa;

3) Apoio a outras atividades aprovadas pelos membros.

d) Autonomia e independência

As cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua,

controladas pelos seus membros. Se firmarem acordos com outras organizações,

incluindo instituições públicas, ou recorrerem à capital externo, devem fazê-lo em

condições que assegurem o controle democrático pelos seus membros e mantenham

a autonomia da cooperativa (OCB, 2004).

e) Educação, formação e informação

As cooperativas promovem a educação e a formação dos seus membros, dos

representantes eleitos e dos trabalhadores, de forma que estes possam contribuir,

eficazmente, para o desenvolvimento das suas cooperativas. Informam o público em

geral, particularmente os jovens e os líderes de opinião, sobre a natureza e as

vantagens da cooperação (OCB, 2004).

Page 29: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

29

f) Inter cooperação

As cooperativas servem de forma mais eficaz os seus membros e dão mais

força ao movimento cooperativo, trabalhando em conjunto através das estruturas

locais, regionais, nacionais e internacionais (OCB, 2004).

g) Interesse pela comunidade

As cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das suas

comunidades através de políticas aprovadas pelos membros (OCB, 2004).

3.5. Cooperativa X Apelo Socioambiental

Parte do lixo depositado nos lixões e aterros se transforma rapidamente em

renda para famílias inteiras, levando inclusive crianças para o trabalho nesse

ambiente hostil. Sem organização, muitas dessas famílias e dessas crianças passam

a ser exploradas por empresas privadas e empreendedores individuais que atuam

com a revenda de material reciclável. Nesse contexto se destaca a importância social

das cooperativas, como uma forma de organizar os catadores de forma que elas

possam ganhar pela sua própria produção, sem ter seu trabalho duro explorado, além

de ser uma forma de tirar as crianças desse mercado de trabalho tão duro quanto

perigoso. Através da organização de cooperativas de catadores o setor público

também passa a atuar nesse meio, possibilitando a inserção de projetos sociais e

ações de saúde, promovendo uma melhor qualidade de vida para essas pessoas.

Analisando os sentidos atribuídos pelos sujeitos às suas vivências e práticas sociais

(GODOY, 2006).

Um gerenciamento adequado dos resíduos sólidos, eficaz e eficiente, é

imperioso para o controle ambiental e, consequente, promoção da qualidade de vida

das populações, sendo necessária uma ação articulada dos diversos segmentos

envolvidos no processo, desde a produção de bens e produtos até o consumidor final,

mediados pelo Estado e com controle social (OLIVEIRA, 2011, p.39).

Constatados danos causados ao meio ambiente e à saúde do homem pelo

modo de geração e gerenciamento inadequados de resíduos sólidos, Poder Público e

sociedade vêm procurando meios de minimizar a degradação da natureza e aumentar

Page 30: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

30

o bem-estar dos cidadãos. Assim, buscando solucionar esse problema, uma série de

referenciais técnicos foi criada por gestores governamentais, com a colaboração de

segmentos da sociedade civil, para enfrentar as questões relacionadas aos resíduos

sólidos (OLIVEIRA, 2011, p.40).

Com esse desejo, faz-se necessário instituir uma ampla rede de instrumentos

legais, elaborada com a participação de vários segmentos sociais, pois a

responsabilidade no planejamento, normatização e organização dos serviços públicos

de limpeza urbana, manejo dos resíduos sólidos e a preservação do meio ambiente é

dever de todos. Bem verdade que já há algumas louváveis iniciativas sendo feitas,

mas ainda existe muito a fazer. É fundamental o atendimento aos dispositivos legais

para o equacionamento dos problemas existentes (OLIVEIRA, 2011, p.40).

O Poder Público, de livre iniciativa ou sob pressões sociais, tem evidenciado

sua preocupação com o meio ambiente e a saúde humana criando leis, regulamentos,

decretos, portarias e normas sobre a gestão dos resíduos sólidos (desde a sua

geração, descarte, acondicionamento, coleta, transporte, transbordo,

armazenamento, tratamento, beneficiamento e disposição final). Tais instrumentos

legais regulam o comportamento de todos, inclusive do próprio Poder Público, dos

seus gestores, das empresas públicas e privadas, e dos consumidores, objetivando

gerir de forma ambientalmente adequada os resíduos sólidos, por meio de preceitos

de regulação, controle e fiscalização (OLIVEIRA, 2011, p.40).

No contexto de certezas sobre os danos socioambientais causados pelos

resíduos sólidos e da responsabilidade de toda a sociedade pela preservação

ambiental e promoção da saúde, começou-se a instaurar uma consciência ambiental

sobre a necessidade urgente de implantação de políticas ambientais que promovam

mudança das práticas degradadoras há muito exercidas (OLIVEIRA, 2011, p.40).

A crescente geração de resíduos e sua destinação inadequada são grandes

problemas atuais, e a atuação do catador junto ao poder público é fundamental para

um gerenciamento sustentável e seguro desses materiais (LIXO E CIDADANIA, 2013,

p. 30).

O acelerado processo de urbanização, aliado ao consumo crescente de

produtos descartáveis, provocou sensível aumento do volume e diversificação do

resíduo gerado, além da sua concentração espacial. Desse modo, o encargo de

gerenciá-lo de forma sustentável e segura deve ser encarado como prioridade por

todos os municípios que enfrentam o desafio da geração de resíduos em grandes

Page 31: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

31

quantidades, como também pelas comunidades pequenas e médias que precisam

encontrar soluções que preservem suas fontes de água (LIXO E CIDADANIA, 2013,

p. 30).

A produção de resíduos é um fenômeno inevitável que ocorre em quantidades

e composições variáveis conforme o nível de desenvolvimento econômico, a

população e seus diferentes estratos sociais. Os sistemas de limpeza urbana devem

promover a coleta, o tratamento e a destinação ambiental e sanitária de forma correta

e segura – tarefa que enfrenta limitações de ordem financeira, deficiência na

capacitação técnica e profissional, descontinuidade política e administrativa e

ausência de controle ambiental, entre outros grandes desafios (LIXO E CIDADANIA,

2013, p. 30).

O Plano Municipal de Gestão de Resíduos Sólidos (Referência), obrigatório a

todos os municípios a partir de agosto de 2012, é o documento que descreve as ações

relativas ao manejo dos resíduos sólidos, contemplando os aspectos de geração,

segregação, acondicionamento, coleta (convencional ou seletiva), armazenamento,

transporte, tratamento, disposição final e proteção à saúde pública (LIXO E

CIDADANIA, 2013, p. 31).

O diagnóstico da situação e a definição das ações são essenciais para se

determinar o modelo de gerenciamento para o município, que só pode ocorrer após o

levantamento da dimensão atual do problema e respectivos prognósticos, como

também dos recursos humanos, materiais e financeiros de que se dispõe ou que

poderão ser obtidos (LIXO E CIDADANIA, 2013, p. 31).

No gerenciamento integrado os prefeitos e representantes devem estimular a

diminuição da geração de resíduos; implementar pesquisas de tecnologias não

agressivas ao ambiente e compatíveis com a realidade socioeconômica; assegurar a

recuperação e a descontaminação de áreas degradadas; desenvolver programas de

Educação Ambiental; implantar unidades de destinação final de resíduos que

minimizem os impactos ambientais; fazer o controle adequado do transporte e

transbordo de resíduos e materiais perigosos; adotar programas de cooperação com

outras esferas de governo; atualizar a taxa de limpeza urbana visando ao custeio da

coleta e ao destino final dos resíduos sólidos domiciliares; e investir na fiscalização e

no controle ambiental para impedir a disposição inadequada de resíduos (LIXO E

CIDADANIA, 2013, p. 31).

Page 32: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

32

Das responsabilidades das prefeituras mais diretamente relacionadas aos

catadores, constam a elaboração de um plano de gerenciamento integrado de

resíduos sólidos com a inclusão de catadores; a redução de resíduos por meio de

programas de pré-seleção, reciclagem e reutilização; e o reconhecimento, a

capacitação e o apoio às organizações de catadores de materiais recicláveis (LIXO E

CIDADANIA, 2013, p. 32).

A atuação dos catadores junto ao poder público no que toca a esses três itens

dá-se pelos seguintes motivos: primeiro, porque o plano de gerenciamento deve

apresentar uma frente de coleta seletiva na qual os catadores são os principais

agentes; segundo, porque a diminuição da disposição de resíduos por meio do

estabelecimento de pré-seleção pode ser entendida como segregação, triagem,

acondicionamento e posterior venda do que é reciclável, atividades que competem

aos catadores; e, por fim, o reconhecimento e a valorização dos catadores de

materiais recicláveis e sua inclusão social só podem ser conseguidos com a

participação ativa da categoria (LIXO E CIDADANIA, 2013, p. 32).

É com o trabalho dos catadores que tem início todo um processo de reciclagem

de resíduos domiciliares no Brasil. O UNICEF - United Nations Children's Fund / Fundo

das Nações Unidas para a Infância estima que eles sejam responsáveis por mais de

60% do papel e papelão reciclado no país, bem como por 90% do material que

alimenta as indústrias de reciclagem, fazendo do Brasil um dos maiores recicladores

de alumínio do mundo, por exemplo. Os catadores encaminham para a reciclagem

mais de 20% dos resíduos sólidos urbanos. Conforme assinalado em publicação do

CEMPRE - Compromisso Empresarial para a Reciclagem, a importância dos

catadores de recicláveis fica mais perceptível por diminuírem as despesas da

prefeitura com o recolhimento do lixo e a quantidade que chega aos aterros ou lixões.

A iniciativa do UNICEF contribuiu para trazer à discussão pública a situação daqueles

que sobrevivem do lixo na realidade brasileira (CAMPANI, et al, 2005).

3.6. Catadores de Materiais reutilizáveis e recicláveis

O meio de sobrevivência com materiais recicláveis é reconhecido como

atividade que interfere diretamente no processo saúde-doença dos trabalhadores.

Apresenta a possibilidade de trazer danos a sua saúde, pois estes podem adoecer ou

Page 33: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

33

morrer por consequência da profissão ou condições adversas em que seu trabalho é

ou foi realizado.

Os catadores de materiais recicláveis são verdadeiros agentes ambientais. Eles

são responsáveis por grande parte de todo o material que as indústrias de reciclagem

operam no Brasil. Permitem, por exemplo, que o País seja o maior "reciclador" de

alumínio do mundo (CALDERONI, 2003).

As pessoas catadoras de materiais recicláveis e reutilizáveis desempenham

papel fundamental na implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos

(PNRS), com evidência à gestão integrada dos resíduos sólidos. De maneira geral,

atuam nas atividades da coleta seletiva, triagem, classificação, processamento e

comercialização dos resíduos reutilizáveis e recicláveis, colaborando de forma

significativa à cadeia produtiva da reciclagem.

A manipulação dos resíduos sólidos pode expor o trabalhador que cata e coleta

materiais recicláveis a riscos de ordem química, física, biológica, social, ergonômica

e mecânica, interferindo na saúde.

Os catadores possuem muitos conhecimentos específicos e habilidades para

identificar, coletar, separar e vender resíduos recicláveis; “garimpam” no lixo o

desperdício de recursos naturais, que retornam ao processo produtivo como matéria-

prima secundária.

Alguns estão organizados em cooperativas, onde é possível maior

produtividade. Eles ajudam as prefeituras a diminuir o lixo nos aterros e lixões,

impulsionam as empresas de reciclagem e garantem o sustento da família

(CALDERONI, 2003).

Sua ação, em muitos casos realizada sob condições precárias de trabalho, se

dá individualmente, de forma autônoma e dispersa nas ruas e em lixões, como

também, coletivamente, por meio da organização produtiva em cooperativas e

associações.

Por sua história e capacidade de articulação, eles se fizeram presentes no

debate sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que os aponta como parceiros

preferenciais na gestão desses resíduos, e conquistaram seu reconhecimento como

categoria profissional, oficializado na Classificação Brasileira de Ocupações.

A Classificação Brasileira de Ocupação é o documento que reconhece, nomeia

e codifica os títulos, além de descrever as características das ocupações do mercado

de trabalho brasileiro, abordando habilidades complexas.

Page 34: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

34

A atividade profissional dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis,

foi reconhecida pelo Ministérios do Trabalho e Emprego desde 2002 (MNRC, 2006),

segundo a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), colabora para o aumento da

vida útil dos aterros sanitários e para a diminuição da demanda por recursos naturais,

na medida em que abastece as indústrias recicladoras para reinserção dos resíduos

em suas ou em outras cadeias produtivas, em substituição ao uso de matérias-primas

virgem.

O catador de material reciclável possui o número 5192-05 como código.

Segundo essa classificação, o catador também pode ser denominado catador de

ferro-velho, catador de papel e papelão, catador de sucata, catador de vasilhame,

enfardador de sucata, separador de sucata, triador de sucata. Desse modo, o lixo

passou a ser reciclável e o catador, “catador de recicláveis”, agente ambiental,

“parceiro da limpeza”, dentre outras denominações (CARMO, 2008). A classificação

dessa profissão é feita em seis itens nos quais todas as faces do trabalho dos

catadores podem ser observadas e entendidas:

1) Descrição sumária;

2) Condições gerais de exercício;

3) Formação e experiência;

4) Áreas de atividades;

5) Competências pessoais e

6) Recursos de trabalho.

3.7. Cargas de Trabalho Aplicadas aos Catadores

A seguir, de acordo com as principais cargas de trabalho e exposição a que se

submetem os cooperados das cooperativas de matérias recicláveis. Dentre elas

destacaremos as cargas físicas, químicas, orgânicas, fisiológicas, mecânicas e

psíquicas.

Page 35: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

35

a) Cargas físicas:

Por realizarem suas atividades em um local que não está totalmente coberto,

ficam constantemente expostos a intempéries como as variações bruscas de

temperatura, ao calor e frio excessivos e à chuva (VELLOSO, 2004).

O odor emanado dos líquidos e gases tóxicos decorrentes da decomposição

do lixo, animais mortos e outros vetores podem causar mal-estar, cefaleias e náuseas

nos trabalhadores e pessoas que se encontrem próximas ao local de trabalho. Nem

sempre lembrada, a questão estética é bastante importante, uma vez que a visão

desagradável dos resíduos pode causar desconforto e náusea (FERREIRA, 2001).

b) Cargas químicas:

Nos resíduos sólidos pode ser encontrada uma variedade muito grande de

resíduos químicos, dentre os quais merecem destaque pela presença mais constante:

pilhas e baterias; óleos e graxas; pesticidas/ herbicidas, solventes; tintas; produtos de

limpeza; cosméticos; remédios; aerossóis (FERREIRA, 2001).

Uma significativa parcela destes resíduos é classificada como perigosa e pode

ter efeitos deletérios à saúde humana e ao meio ambiente. Metais pesados como

chumbo, cádmio e mercúrio, incorporam-se a cadeia biológica, tem efeito cumulativo

e podem provocar diversas doenças como saturnismo e distúrbios do sistema

nervoso, entre outras. Pesticidas e herbicidas tem elevada solubilidade em gorduras

que, combinada com a solubilidade química em meio aquoso, pode levar a

magnificação biológica e provocar intoxicações agudas no ser humano, assim como

efeitos crônicos (KUPCHELLA, 1993). Um agente comum nas atividades com resíduo

é a poeira, que pode ser responsável por desconforto e perda momentânea da visão,

e por problemas respiratórios e pulmonares (CARRANZA, 2002; FERREIRA, 2001).

c) Cargas orgânicas:

Os agentes biológicos presentes nos resíduos sólidos podem ser responsáveis

pela transmissão de doenças.

Microrganismos patogênicos ocorrem nos resíduos sólidos municipais

mediante a presença de lenços de papel, curativos, fraldas descartáveis, papel

Page 36: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

36

higiênico, absorventes, agulhas e seringas descartáveis e camisinhas, originados da

população; dos resíduos de pequenas clínicas, farmácias e laboratórios e, na maioria

dos casos, dos resíduos hospitalares, misturados aos resíduos domiciliares

(COLLINS, 1992; FERREIRA, 1997).

Alguns agentes que podem ser ressaltados são: os agentes responsáveis por

doenças do trato intestinal (Ascaris lumbricoides, Escherichia coli, Salmonella etc.); o

vírus causador da hepatite (principalmente do tipo B), pela sua capacidade de resistir

em meio adverso; e o vírus causador da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

(AIDS), pelo risco associado aos resíduos hospitalares, mesmo apresentando

baixíssima resistência em condições adversas. Além desses, devem também ser

referidos microrganismos responsáveis por dermatites (FERREIRA, 2001).

A transmissão, muitas vezes, se dá por vetores que encontram nos resíduos

em condições adequadas de sobrevivência e proliferação, tais como insetos e animais

roedores e peçonhentos.

Entre os resíduos com presença de microrganismos, merecem ainda serem

mencionados os resíduos infecciosos dos serviços de saúde que, pela falta de uma

melhor compreensão dos modos de transmissão dos agentes associados a doenças

infecciosas, tem sido alvo de receio por parte da população em geral (FERREIRA,

1997; REINHARDT, 1996). Contudo, isto não deve servir de justificativa para que as

instituições de saúde não estabeleçam procedimentos gerenciais de redução de riscos

associados a tais resíduos (principalmente dos perfuro cortantes) coma sua

desinfecção ou esterilização.

Os catadores estão expostos principalmente a acidentes com agulhas e a

objetos perfuro cortantes, mas a contaminação biológica torna-se importante a partir

do momento que esses indivíduos têm contato direto com o lixo hospitalar. Nessa

situação apresentam risco tão importante quanto aqueles que realizam a limpeza dos

hospitais e clínicas. Segundo Ferreira (1997), mordidas de animais (cães e ratos) e

picadas de formigas também podem ocasionar enfermidades de tipo infeccioso,

parasitário ou alérgico.

d) Cargas fisiológicas:

Os trabalhadores realizam uma atividade de trabalho que exige grande esforço

físico. Tais esforços incluem movimentos repetitivos, levantamento de peso, postura

Page 37: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

37

inadequada de trabalho, trabalho físico pesado e posição estática, os quais se

relacionam a problemas musculoesqueléticos, causando principalmente, lombalgias e

dores no corpo, além de estresse.

Os problemas musculoesqueléticos apresentam alta frequência entre a

população, sendo sua prevalência em torno de 30% em pessoas com idade entre 25

e 74 anos de idade (LIIRA, 1996).

Entre trabalhadores expostos a carregamento de peso, posição estática ou

viciosa, entre outros, o risco deste tipo de morbidade pode dobrar (SILVA, 2002).

Supõe-se que as atividades de lazer sejam fatores de proteção a problemas

musculoesqueléticos, especificamente a dores lombares crônicas, enquanto as

atividades ocupacionais, fatores de risco para estas. Assim sendo, os catadores estão

mais expostos a cargas fisiológicas e consequentemente a problemas nas estruturas

que suportam o corpo humano (SILVA, 2004).

e) Cargas mecânicas:

Os riscos de acidentes e de agravos à saúde dependem da atividade exercida

pelo trabalhador. Alguns dos acidentes mais frequentes entre os trabalhadores que

manuseiam diretamente os resíduos sólidos são:

1) Cortes com vidro: caracterizam o acidente mais comum entre trabalhadores da

coleta de lixo domiciliar e do processo de reciclagem. A principal causa destes

acidentes é a falta de informação e conscientização da população em geral,

que não se preocupa em isolar o lixo ou separar os vidros quebrados dos

apresentados à coleta domiciliar. A adoção obrigatória de sacos plásticos para

o acondicionamento do lixo, apesar de trazer efeitos positivos para a limpeza

urbana, amplia os riscos para os catadores pela opacidade e ausência de

qualquer rigidez. Outro fator que contribui para a ocorrência deste tipo de

acidentes é a falta de uso de luvas por parte dos catadores. O uso de luvas

reduz o risco de cortes nas mãos, mas não tem impacto no risco de cortes em

braços e pernas que também apresentam uma frequência importante

(FERREIRA, 2001).

Page 38: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

38

2) Cortes e perfurações com outros objetos pontiagudos: espinhos, pregos,

agulhas de seringas e espetos são responsáveis por corriqueiros acidentes

envolvendo catadores. Os motivos são semelhantes ao dos cortes com vidro.

f) Cargas psíquicas:

Os catadores são expostos a jornadas de trabalho muitos das vezes

exaustivas, visto que permanecem muito tempo em posições incomodas, realizando

tarefas de triagem de materiais, separação e seleção de itens a serem destinados a

reciclagem (CARRANZA, 2002).

Os principais estressores psicossociais no trabalho são (LEVI, 1984):

sobrecarga quantitativa (muita coisa para fazer em pouco tempo), atividades pouco

estimulantes ou monótonas, conflitos de papéis e responsabilidades, falta de controle

sobre a sua própria situação (outros decidem o trabalho a fazer), falta de apoio social

e trabalho em regime precário.

Como os catadores são muito pobres, recebem baixa remuneração e possuem,

na sua maioria, famílias numerosas, sofrem grande pressão, por parte de si próprios,

para conseguirem sobreviver. Essa luta diária pela sobrevivência, com futuro incerto

e sem perspectivas de melhora, pode levar esses indivíduos a uma maior condição

de estresse.

Page 39: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

39

4. SAÚDE NA PERSPECTIVA DO COOPERATIVISMO

A Qualidade de Vida promove reflexões e ações sobre o que o cooperado

precisa para garantir seu bem-estar físico e psicológico.

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 descreve no:

“Art. 200 - Ao Sistema Único de Saúde, compete, além de outras atribuições,

nos termos da lei... II - executar as ações de vigilância sanitária e

epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador; VIII - colaborar na

proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho”.

De acordo com a Divisão de Saúde Mental da Organização Mundial da Saúde

(OMS, 1995), e conforme Fleck (2008, p. 61) qualidade de vida define-se como "a

percepção do indivíduo sobre sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema

de valores nos quais ele vive, e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões

e preocupações". Um grupo de pesquisadores enumeraram algumas características

importantes para a avaliação da qualidade de vida. Unidas elas formam um conjunto

de fatores que devem existir para o indivíduo perceber sua vida como melhor:

mudança de comportamento, vivência de valores, crescimento profissional e humano,

disciplina e respeito, cuidados com os ambientes, atenção à saúde, vivência da

espiritualidade, entre outros.

Em relação à saúde, ela é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS)

como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não meramente a

ausência de doença ou enfermidade”, que é recomendável, mas inclui elementos que

estão longe de suprir a medicina tradicional e apolítica.

Dessa forma pode-se afirmar que “qualidade de vida” é um conceito que busca

mensurar as condições de vida de um ser humano. Nela pode-se considerar o bem

físico, mental, psicológico, além das relações sociais com amigos e família.

A OMS vem implementando um Plano de Ação Global de Saúde dos

Trabalhadores 2008-2014 aprovada pela Assembleia Mundial de Saúde em 2007,

com os seguintes objetivos:

Page 40: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

40

a) Concepção e implementação de instrumentos de política sobre a saúde

dos trabalhadores;

b) Proteger e promover a saúde no local de trabalho;

c) Melhorar o desempenho e acesso a serviços de saúde ocupacional;

d) Fornecer e comunicar evidência para a ação e prática, e

e) Incorporar a saúde dos trabalhadores em outras políticas.

No Brasil, recentemente publicou-se duas importantes políticas:

1) Portaria N.º 1.823, de 23 de agosto de 2012 - Política Nacional de Saúde

do Trabalhador e da Trabalhadora.

2) Decreto N.º 7602, de 7 de novembro de 2011 - Política Nacional de

Segurança e Saúde no Trabalho - PNSST.

Pereira et al (2006, p. 28) descrevem a definição de Qualidade de Vida como:

“A qualidade de vida reflete a percepção que têm os indivíduos de que suas necessidades estão sendo satisfeitas ou, ainda, que lhes estão sendo negadas oportunidades de alcançar a felicidade e a auto realização, com independência de seu estado de saúde físico ou as condições sociais e econômicas”.

Além desses fatores, saúde, educação, habitação e o acesso a saneamento

básico também são levados em consideração para tal mensuração. Em consonância

com esse contexto, para a realidade das cooperativas de catadores, a área de

Qualidade de Vida busca promover a reflexão acerca daquilo que os cooperados

entendem que seja uma melhor qualidade de vida para eles – ou seja, o que precisam

para ter uma vida melhor. Com a área dedicada a essa questão em atividade, os

cooperados podem ampliar a sua percepção do que podem conseguir por meio da

cooperativa, compreendendo que, além de cooperar para gerar renda, podem também

se unir para promover outros aspectos que proporcionem uma vida melhor.

“A atividade de catação gera renda para diversas famílias, apesar da precarização sofrida pelos catadores. Uma alternativa para melhoria de renda, condições de trabalho e qualidade de vida seria organização dos trabalhadores em associação ou cooperativas” (TROMBETA, 2012).

Page 41: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

41

Esse olhar visa estar atento não apenas às questões que vão além da

cooperativa, como o acesso à saúde, saneamento básico, família etc., mas também

às questões internas, como o relacionamento interpessoal, a coesão grupal e a saúde

do trabalhador.

Page 42: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

42

5. SEGURANÇA DO TRABALHO

5.1. História da Segurança do Trabalho

De acordo com Reis (2015), a preocupação com a segurança e a saúde dos

trabalhadores não é algo recente, pelo contrário, dados históricos mostram que ela

existe desde o século IV a.C., quando Hipócrates descobriu a origem das

enfermidades que acometiam os trabalhadores das minas. Mais tarde, Aristóteles

cuidou do atendimento e da prevenção dessas doenças. Também no século IV a.C.,

Platão descobriu algumas doenças do esqueleto comuns a determinados

trabalhadores no exercício de sua profissão.

Já no século I d.C., Plínio publicou a História Natural, primeira obra a tratar da

segurança do trabalho. Nela é recomendado o uso de máscaras por parte daqueles

que trabalhavam com chumbo, mercúrio e poeiras. Avicena (908-1037) conseguiu

relacionar o saturnismo (cólicas) às pinturas feitas com tintas à base de chumbo.

Os séculos XV e XVI também puderam contar com significativas contribuições

no tocante à segurança no trabalho. Dentre elas destacam-se a publicação das obras

de Ulrich Ellembog, nas quais são recomendadas medidas de higiene do trabalho, e

os estudos de Paracelso sobre as infecções que acometiam os mineiros do Tirol

(REIS, 2015).

5.2. Evolução Histórica da Segurança do Trabalho

Dentre os fatos que marcaram a Segurança do Trabalho na Europa e nas

Américas, entre os séculos XVII e XX, conforme Reis (2015) e adaptada por mim os

textos em forma de tabela, podem-se destacar:

Page 43: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

43

Quadro 1 - Evolução Histórica da Segurança do Trabalho

FATOS MARCANTES DE SEGURANÇA DO TRABALHO

ANO

LOCALIDADE

FATO RELEVANTE

1601 Inglaterra Foi criada a Lei dos Pobres.

1666 Londres As casas, obrigatoriamente, deveriam ser

construídas com paredes de pedras e tijolos e as ruas

deveriam ser alargadas para que a propagação do

fogo fosse dificultada.

1700 Itália Bernardino Ramazzini, divulga sua obra clássica De

Morbis Articum Diatriba (As Doenças dos

Trabalhadores). Ramazzini analisou as doenças que

acometiam trabalhadores que desempenhavam

trabalhos repetitivos.

1783 Inglaterra A Lei dos Pobres foi substituída pela Lei das Fábricas.

1802 Inglaterra Foi aprovada a primeira Lei de proteção aos

trabalhadores, a "Lei de Saúde e Moral dos

Aprendizes", que reduziu a jornada de trabalho para

12 horas, proibindo também o trabalho noturno, e

regulamentou a idade mínima para trabalhar.

Entre

1844 e

1848

Inglaterra Foram aprovadas as primeiras Leis de Segurança no

Trabalho e Saúde Pública, que vieram para

regulamentar os problemas de saúde e doenças

profissionais.

1862 França Foram regulamentadas a higiene e a segurança no

trabalho.

Page 44: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

44

1865 Alemanha Foi aprovada a Lei de Indenização Obrigatória aos

Trabalhadores, responsabilizando o empregador por

eventuais acidentes.

1888 Brasil Abolição de escravidão.

1903 Estados Unidos Foi promulgada a primeira lei sobre indenização aos

trabalhadores, limitada ao empregador e aos

trabalhadores federais.

1919 Suíça Foi criada a Organização Internacional do Trabalho -

OIT (Parte XIII, substituindo a Associação

Internacional de Proteção Legal do Trabalhador).

1921 Estados Unidos A lei sobre indenização aos trabalhadores, limitada

ao empregador e aos trabalhadores federais, seus

benefícios foram estendidos a todos os

trabalhadores.

1943 Brasil Foi criado o Decreto-lei n. º 5.452 de 01 de maio,

regulamenta o Capítulo V do Título II da Constituição

das Leis do Trabalho - CLT, que trata da Segurança

e Medicina do Trabalho.

1977 Brasil A Lei n.º 6.514 de 22 de dezembro, altera o Capítulo

V do Título II da CLT.

1978 Brasil Publicada a Portaria n.º 3.214 de 08 de junho, que

aprova as Normas Regulamentadoras - NR.

Atualmente existem 36 NR, constantemente

revisadas, atualizadas e disponibilizadas no site no

Ministério do Trabalho e Emprego.

Fonte: O Autor.

Page 45: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

45

5.3. Definições aplicados à segurança do trabalho

Segundo Gonçalves (2011), antes de iniciar a abordagem técnica - jurídica

propriamente dita acerca das Disposições Gerais de Segurança e Saúde no Trabalho,

é oportuno resgatar quatro conceitos elementares visando facilitar a compreensão da

temática em apreço. São elas:

a) Meio ambiente de trabalho: pode ser entendido como o espaço físico no qual

são desenvolvidas atividades profissionais produtivas (industriais, comerciais

administrativas ou de serviços) onde podem estar presentes os agentes físicos,

químicos, biológicos, mecânicos, ergonômicos e outros, naturais ou artificiais

que, associados ou não, podem desencadear reações biopsicofisiólogicas e

sociais com repercussões na saúde, na integridade física e na qualidade de

vida do trabalhador.

b) Saúde: de acordo com a conceituação difundida pela Organização Mundial de

Saúde (OMS), entidade vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU),

corresponde a um estado dinâmico de completo bem-estar físico, mental e

social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade.

c) Saúde ocupacional ou Saúde no trabalho: pode ser definida como a ciência

que, por meio de metodologias e técnicas próprias, estuda as possíveis causas

e consequências das doenças ocupacionais, nelas incluídas as doenças

profissionais e as do trabalho, objetivando não só a prevenção das moléstias

laborais como, também, a promoção do completo bem-estar físico, mental e

social dos trabalhadores.

d) Segurança do trabalho: pode ser tida como a ciência que, por meio de

observações, analises e metodologia apropriada estuda as possíveis causas e

consequências de acidentes de trabalho, de modo a propor as soluções

tecnicamente adequadas, objetivando a prevenção de infortúnios de labor e a

manutenção da integridade física e da saúde dos trabalhadores, de modo a

contribuir decisivamente para a perfeita interação humana no meio ambiente

de trabalho.

Page 46: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

46

Apesar da grande quantidade de legislação que trata da questão do trabalho

no Brasil, ainda são muito reduzidos o interesse e o conhecimento do cidadão comum

acerca da temática.

O que observamos, na realidade, é que o tratamento dado ao acidente do

trabalho fica centrado no ponto de vista meramente social. A Lei 8.213, que trata dos

benefícios da Previdência Social, estabelece em seu art.19:

“Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho".

De acordo com Reis (2015), podemos também acrescentar aos conceitos

abordados até aqui algumas outras definições importantes, tais como:

a) Doença profissional: assim entendida a produzida ou desencadeada pelo

exercício do trabalho e constante da respectiva relação elaborada pelo

Ministério do Trabalho e da Previdência Social.

b) Doença do trabalho: assim entendida a adquirida ou desencadeada em

função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se

relacione diretamente. A doença ocupacional do ponto de vista da legislação

equipara-se ao acidente do trabalho. Não apenas em termos de

classificação como nas disposições, prazos e sanções.

Os trabalhadores, especialmente os desprovidos de formação escolar e

profissional adequada, não tem consciência dos riscos ocupacionais a que ficam

expostos em sua atividade laboral e, por conta disso, quase sempre têm sido as

maiores vítimas dos infortúnios laborais.

5.4. Normas Regulamentadoras

As Normas Regulamentadoras são elaboradas por uma comissão tripartite

composta por representantes do Governo, dos Empregadores e dos Empregados.

São de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos

Page 47: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

47

públicos de administração direta e indireta, bem como todos os órgãos que possuam

empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. As Normas têm

o relevante papel para estabelecer condições que assegurem a saúde e a segurança

do trabalhador, prevenindo, protegendo, recuperando e preservando a sua higidez

física e mental no âmbito das relações de labor.

“A lei n.º 6.514 de 22 de dezembro de 1977, estabeleceu a redação dos ART. 154 a 201 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, relativas à segurança e medicina do trabalho”. (BLOG DO INBEP, 2017)

Além disso, também conhecidas por NR, são normas que regulamentam,

fornecem parâmetros e instruções sobre Saúde e Segurança do Trabalho. São trinta

e seis, sendo trinta e uma Normas Regulamentadoras e cinco Normas

Regulamentadoras Rurais. Foram regulamentadas pelo então Ministério do Trabalho,

nos termos da Portaria MTE n.º 3.214, de 8 de junho de 1978, instituidora das

primeiras vinte e oito normas regulamentadoras de segurança e saúde no trabalho,

cada uma tratando de um tema específico; sendo conveniente destacar que as

normas regulamentadoras subsequentes (NR-29 a NR-36), foram objetos de Portarias

Ministeriais específicas.

“Conforme, o art. 200 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT cabe ao Ministério do Trabalho estabelecer as disposições complementares às normas relativas à segurança e medicina do trabalho”. (BLOG DO INBEP, 2017)

Em decorrência da acelerada revolução tecnológica que tem desencadeado

profundas mudanças na relação capital – trabalho, as normas preventivas de

acidentes laborais encontram-se em contínuo processo de atualização e

modernização, objetivando a promoção da melhoria das condições ambientais de

trabalho; a final de contas, é missão institucional do Estado velar pela saúde e

integridade física de sua força produtiva.

As normas de segurança e medicina do trabalho têm relevante papel de

estabelecer condições que assegurem a saúde e a segurança do trabalhador,

prevenindo, protegendo, recuperando e preservando a sua higidez física e mental no

âmbito das relações de labor.

Page 48: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

48

“A Constituição Federal de 1988, em seu art. 7.º, inciso XXII, assegurou o direito de "redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança”. (BLOG DO INBEP, 2017)

Conforme Rangel (2014), a redação das normas regulamentadoras, e sua

legislação complementar, como por exemplo, leis, portarias, decretos e Instruções

Normativas compõem as bases para a normatização das ações de proteção à saúde

e a segurança do trabalho. Desta forma, apresentam-se a seguir, de modo resumido

as normas regulamentadoras e seus objetivos.

5.4.1. NR6: EPI – Equipamento de Proteção Individual

Para os fins de aplicação desta Norma Regulamentadora, considera-se

Equipamento de Proteção Individual - EPI, todo dispositivo ou produto, de uso

individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de

ameaçar a segurança e a saúde no trabalho.

A sexta Norma Regulamentadora do Trabalho, cujo título é “Equipamento de

Proteção Individual (EPI)”, exemplificados na Figura 09, apresenta as definições

legais, formas de proteção, grupos de EPI, requisitos de comercialização e

responsabilidades de todos os envolvidos na fabricação, comercialização,

implementação, uso e fiscalização. A NR6 trata, entre outros aspectos, das

responsabilidades e classificação dos grupos de EPI visando controle da exposição

aos agentes ambientais nocivos, quando as medidas de ordem coletiva (engenharia

e administrativas) não forem suficientes ou tecnicamente possíveis de serem

implementadas.

A NR6, em seu Anexo I (LISTA DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO

INDIVIDUAL), classifica os EPI em nove grupos, conforme a parte ou órgão do corpo

a ser protegido:

1) Proteção da cabeça (capacetes de segurança e capuz de segurança);

2) Proteção dos olhos e face (óculos de segurança, protetores faciais e máscaras

de solda);

3) Proteção auditiva (protetores auditivos circum-auriculares, de inserção ou semi-

auriculares);

Page 49: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

49

4) Proteção respiratória (respiradores: purificadores de ar, de adução de ar e de

fuga);

5) Proteção do tronco (vestimentas de segurança que ofereçam proteção ao

tronco contra riscos de origem térmica, mecânica, química, radioativa e

meteorológica e umidade proveniente de operações com uso de água, e colete

à prova de balas);

6) Proteção para membros superiores (luvas, creme protetor, manga, braçadeira

e dedeira);

7) Proteção dos membros inferiores (calças, calçados, meias e perneiras de

segurança);

8) Proteção do corpo inteiro (macacão de segurança, conjunto de segurança

formado por calça e blusão, jaqueta ou paletó, vestimenta de segurança para

proteção de todo o corpo);

9) Proteção contra quedas com diferença de nível (dispositivo trava-quedas de

segurança e cinturão de segurança e talabarte de segurança).

Figura 2 - Equipamento de Proteção Individual – EPI Fonte: 3M, 2016.

Page 50: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

50

5.4.2. NR9: PPRA - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais

Esta Norma Regulamentadora - NR estabelece a obrigatoriedade da

elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que

admitam trabalhadores como empregados, do Programa de Prevenção de Riscos

Ambientais - PPRA, visando à preservação da saúde e da integridade dos

trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente

controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no

ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos

recursos naturais.

5.4.3. NR12: Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos

Esta Norma Regulamentadora e seus anexos definem referências técnicas,

princípios fundamentais e medidas de proteção para garantir a saúde e a integridade

física dos trabalhadores e estabelece requisitos mínimos para a prevenção de

acidentes e doenças do trabalho nas fases de projeto e de utilização de máquinas e

equipamentos de todos os tipos, e ainda à sua fabricação, importação,

comercialização, exposição e cessão a qualquer título, em todas as atividades

econômicas, sem prejuízo da observância do disposto nas demais Normas

Regulamentadoras - NR aprovadas pela Portaria n.º 3.214, de 8 de junho de 1978,

nas normas técnicas oficiais e, na ausência ou omissão destas, nas normas

internacionais aplicáveis.

5.4.4. NR15: Atividades e Operações Insalubres

São consideradas atividades ou operações insalubres as que se desenvolvem:

a) Acima dos limites de tolerância previstos nos Anexos n.º: 1, 2, 3, 5, 11 e 12;

b) Nas atividades mencionadas nos Anexos n.º: 6, 13 e 14;

c) Comprovadas através de laudo de inspeção do local de trabalho, constantes

dos Anexos n.º: 7, 8, 9 e 10.

Page 51: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

51

Entende-se por "Limite de Tolerância", para os fins desta Norma, a

concentração ou intensidade máxima ou mínima, relacionada com a natureza e o

tempo de exposição ao agente, que não causará danos à saúde do trabalhador,

durante a sua vida laboral.

5.4.5. NR17: Ergonomia

Esta NR visa a estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das

condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo

a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente.

5.4.6. NR24: Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho

A aludida NR24 estipula diversas recomendações preventivas a serem

implementadas no âmbito das empresas públicas e privadas, que possuam

empregados regidos pelo Estatuto Obreiro. Essas determinações normativas, como

se constatará na oportuna transcrição integral e atualizada da referida norma

regulamentadora, encontram-se agrupadas em sete tópicos, a saber:

a) Instalações sanitárias

b) Vestiários

c) Refeitórios

d) Cozinhas

e) Alojamento

f) Condições de higiene e conforto por ocasião das refeições

g) Disposições gerais

5.5. Perigos e riscos nas atividades com resíduos sólidos

São frequentemente presentes nos resíduos sólidos, os agentes de ordem

física como gases e odores emanados dos resíduos, poeiras, ruídos excessivos,

exposição ao frio, ao calor, à fumaça e ao monóxido de carbono; químicos como

líquidos que vazam de pilhas e baterias, óleos e graxas, pesticidas, herbicidas,

solventes, tintas, produtos de limpeza, cosméticos, remédios, aerossóis, metais

Page 52: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

52

pesados como chumbo, cádmio e mercúrio; agentes biológicos, tais como

microrganismos patogênicos: vírus, bactérias e fungos; riscos de acidentes com

materiais perfuro cortantes, com vidros, lascas de madeira, objetos pontiagudos; e

ergonômicos, como posturas inadequadas, vibração e levantamento manual de peso.

“O trabalho desenvolvido pelos catadores permite a exposição desses sujeitos a agentes físicos: ruído, poeira, calor e frio; agentes químicos: embalagens contaminadas por substâncias tóxicas sólidas, líquidas ou gasosas e agentes biológicos: bactérias, fungos, vírus e parasitas” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).

Segundo Cavalcante e Franco (2007), essa exposição pode acontecer de modo

de direto, quando há um contato imediato dos trabalhadores com os agentes

patogênicos presentes nos resíduos, e de modo indireto, por meio da amplificação de

algum fator de risco, que age de forma descontrolada sobre o entorno e por três vias

principais: a ocupacional, a ambiental e a alimentar.

Os ambientes e condições insalubres de trabalho são os principais

responsáveis pela incidência, cada vez maior, de doenças ocupacionais e eventos

indesejáveis entre os trabalhadores da coleta de materiais recicláveis. Vale ressaltar

que a exposição do indivíduo a situações que podem ocasionar acidentes e lesões,

sofrem interferência do contexto, do comportamento e medidas de prevenção

tomadas. A percepção do risco, a sensação e condições de segurança, a auto-gestão

e o conhecimento também podem influenciar nas ações de controle adotadas pelos

trabalhadores.

Os catadores de materiais recicláveis estão expostos a posturas forçadas,

esforços físicos, tais como, os movimentos de levantar, carregar ou empurrar pesos

exagerados e movimentos repetitivos que são cargas de trabalho associadas as dores

lombares.

“A Instituição tem a obrigação legal de avaliar todos os fatores externos, que permeiam a relação homem/trabalho, e introduzir medidas de segurança e saúde, que previnam possíveis riscos iminentes. Ao indivíduo é dado o direito de saber qual a tarefa a executar, onde será desenvolvida, quais as ferramentas disponíveis para realizá-las, que interação terá com terceiros (clientes) e, também, que interação terá com o meio ambiente” (ALVES, 2001 p.73).

Page 53: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

53

A exposição e vulnerabilidade individual do trabalhador a situações de risco

estão vinculadas a condições cognitivas, econômicas, políticas, de poder,

comportamentais, situacionais e sociais. Neste contexto de incertezas, de

desigualdades, de exposição a riscos enfrentados diariamente pelos catadores de

materiais recicláveis, faz-se necessário pesquisar qual a percepção de risco

ocupacional tem esta categoria profissional, o que implica em desvelar os significados

inerentes à percepção do indivíduo frente às situações corriqueiras de trabalho.

É imprescindível, portanto, o conhecimento da relação entre percepção de risco

ocupacional entre os catadores de materiais recicláveis e a possibilidade de redução

de acidentes e doenças que ocorrem e vitimizam trabalhadores, elevando os custos

sociais daí advindos. Dessa forma, considera-se fundamental conhecer a percepção

de risco para prevenção e promoção da saúde no trabalho.

Com a constatação das relações saúde, trabalho e doença, entre catadores de

materiais recicláveis, torna-se essencial identificar e controlar os fatores de risco para

a saúde, presentes nos ambientes e condições de trabalho, bem como prevenir e

tratar danos aos indivíduos. Sendo assim, por meio de ações de promoção à saúde,

devem-se valorizar os aspectos positivos do trabalho e prevenir agravos à saúde dos

trabalhadores envolvidos diante precariedade laboral. Os catadores, mesmo

exercendo uma atividade reconhecidamente benéfica para a sociedade, sofrem

também uma série de preconceitos devido à própria natureza de sua atividade – neste

caso, por trabalharem com o que a sociedade chama de "lixo".

“Ao mexerem no lixo a procura de materiais que possam ser comercializados, os catadores estão expostos a todos os tipos de risco de contaminação presentes nos resíduos, além dos riscos à sua integridade física por acidentes causados pelo manuseio dos mesmos” (FERREIRA, 2001).

O lixo pode também ser uma grande fonte de riqueza. Em seus domínios são

encontrados papéis, latas de alumínio, plástico, vidro, metais, borracha e isopor entre

outros materiais. Tais materiais apresentam importante valor de mercado para as

indústrias de reciclagem que, por meio do reaproveitamento dessa matéria são

capazes de criar novos materiais para o mercado, comum a grande economia de

tempo, energia e dinheiro, além de reduzirem a agressão ao meio ambiente.

Page 54: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

54

Neste caso, Magalhães (2012 p. 44) menciona o termo “lixo” ser rejeitado em

razão das conotações negativas que a palavra traz, deve-se mencionar, também, que,

semanticamente, ele só é aplicável a quem o descarta. Para as pessoas que recolhem

o material e lhe dão um destino diferente do descarte, o termo “lixo”, no estrito sentido

do termo, não é correto, já que se trata precisamente do material que irá ser

aproveitado para lhes prover o sustento.

Page 55: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

55

6. MEIO AMBIENTE NO CONTEXTO DOS CATADORES

6.1. Resíduos Sólidos Municipais

Uma das questões mais importantes atualmente é a utilização e a disposição

de resíduos sólidos municipais (lixo residencial e comercial). Audiências públicas para

se discutir as propostas existentes de localização de um novo aterro ou construção de

um incinerador ou de organização de um programa de reciclagem para a comunidade

ocorrem regularmente.

O gerenciamento dos resíduos sólidos é um importante tema para estudos,

pesquisas e campo de trabalho, pois é uma problemática atual que deve ser

enfrentada por todos os atores sociais devido à poluição do ambiente e os problemas

sanitários que afetam a saúde pública. Para isso, é necessário que cada estado e

município cumpram a Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei n.º 12.305 (BRASIL,

2010), se tratando de sua administração, tratamento, acumulação e destinação final

inadequadas que ainda é um problema geral de todos os estados do Brasil.

Uma das alternativas adequadas para o gerenciamento dos resíduos sólidos é

a redução do descarte de resíduos em aterros controlados, aterros sanitários e a céu

aberto por meio da implantação de programas de coleta seletiva, que viabiliza o

reaproveitamento do material, por meio da separação do resíduo sólido reciclável na

fonte geradora, tornando possível a reciclagem e reintroduzindo a matéria no processo

produtivo. O reaproveitamento, a reciclagem e a reutilização dos resíduos são tidos

como alternativas possíveis para a problemática dos resíduos sólidos.

“O lixão é um grande espaço destinado apenas a receber lixo. Isso significa que nada é planejado para “abrigar” os resíduos de forma menos agressiva ao meio ambiente. Não há tratamento para o chorume” (CINTRA, 2011).

Em vários lugares ocorreram sérias contaminações dos lençóis freáticos por

causa dos produtos químicos descarregados nos aterros. Mesmo os "aterros

sanitários" da década de 1970 e início de 1980 apenas cobriam o lixo com uma

camada de terra todos os dias. Regulamentações ambientais fortes foram adotadas

na década de 1980 e passaram a determinar que os aterros deveriam ser "seguros"

para evitar a contaminação pela percolação do chorume (chorume, também

Page 56: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

56

denominado "lixo líquido", é o líquido que resulta da percolação da água pelo perfil do

solo de um aterro sanitário) (CINTRA, 2011).

COSTA (2011) ressalta que a única forma ambientalmente correta para

disposição final de Resíduos Sólidos no solo é o aterro sanitário, concebidos conforme

as NBR 8.419/1996 (Projeto de Aterros Sanitários de RSU) ou NBR 15.849/2010 que

trata especificamente sobre as diretrizes para Aterros Sanitários de Pequeno Porte -

ASPP, juntamente com a Resolução CONAMA 404, de 11 de novembro de 2008, que

estabelece critérios e diretrizes para o licenciamento ambiental de aterro sanitário de

pequeno porte de resíduos sólidos urbanos.

Segundo Costa (2011), existem quatro ou cinco opções não exclusivas para

solucionar a crise de resíduos sólidos municipais:

Reduzir a quantidade de lixo produzido;

Instituir programas de reciclagem vigorosos;

Processar o lixo em usinas que transformem resíduos em energia ou

insumos aproveitáveis;

Construir aterros sanitários mais "seguros";

Digestão anaeróbica.

A primeira opção é óbvia, mas, difícil de pôr em prática. Somos sociedade do

consumo e, jogamos as coisas fora. Pense nos itens comuns que são utilizados todos

os dias e que vão para o lixo: copos de descartáveis, caixas de suco, colheres de

plástico, fraldas descartáveis, garrafas de refrigerantes etc. As pessoas terão muita

dificuldade de abrirem mão facilmente de seus estilos de vida descartável (COSTA,

2011).

A redução do lixo na origem aliviaria muito a carga dos programas de

reciclagem, incineradores e aterros. A sociedade percebe o aumento do custo dos

alimentos causado pelas embalagens, o que responsabiliza o aumento de volume

descartado nos lixos tanto em nível comercial e doméstico. Na maior parte dos

esforços de reciclagem, o lixo é separado em jornais, garrafas de vidro, latas de aço

e alumínio, plásticos leves e resíduos perigosos. Na falta de leis dos Estados, obrigam

a realizar a reciclagem com produtos. Cabem às Comunidades desenvolverem

programas de reciclagem ou coleta seletiva (COSTA, 2011).

Page 57: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

57

Os materiais recicláveis podem ser separados em casa, na lixeira durante a

coleta ou instalação de processamento. A separação em casa parece ter o maior

impacto sobre o fluxo de resíduos, especialmente se os materiais separados são

coletados no mesmo dia que o resto do lixo; instalações de entrega voluntária

facilitariam o centro de muitos programas de coleta seletiva atingindo uma pequena

fração da participação obtida pelos programas de coleta domiciliar. O problema do lixo

começa antes: no momento do consumo. Há um conceito mundial dos 3Rs: reduzir,

reutilizar e reciclar. Reduz-se lixo quando se consome menos e melhor, para isso,

podemos comprar produtos com embalagem de material reciclável. Reutilizar é exaurir

a capacidade de algo satisfazer uma necessidade, antes de descartá-lo, exemplos de

ações: doação de brinquedos e roupas ao invés de jogar fora. Reciclagem é método

alternativo de tratamento do lixo e último ponto do ciclo da produção. A reciclagem

ainda não se tornou atrativa para todos os setores. A coleta seletiva é oito vezes mais

cara que a convencional. Em compensação, reduz os custos ambientais e sociais

(PINHEL, 2013).

A reciclagem tem sido uma prática comum ao longo da história humana, ou

seja, permitindo recuperar e reutilizar materiais de produtos consumidos. A principal

razão para estes tipos de reciclagem foi a vantagem econômica de obtenção de

matéria-prima reciclada em vez de adquirir material virgem, bem como a falta de

remoção de resíduos públicos em locais cada vez mais povoadas. Atualmente, os

principais motivos para a reciclagem têm sido a crescente escassez e do custo dos

recursos naturais, incluindo: petróleo, gás, carvão, minérios, árvores e a poluição do

ar, água e da terra pelos resíduos (PINHEL, 2013).

Existem dois tipos de reciclagem, internas e externas. A reciclagem interna é a

reutilização num processo de materiais que são um produto residual de processo de

fábrica que, é comum na indústria metalúrgica. A reciclagem externa é a recuperação

de materiais a partir de um produto que é usado para fora não são mais úteis, tais

como um conjunto de jornais e revistas velhas para o fabrico de papel de jornal ou

outros produtos de papel. Reciclar é se sentir melhor, aplique conceitos em reusar e

reduzir. A reciclagem é benéfica de duas formas: reduz as entradas de energia e

matéria prima para um sistema de produção e reduz a quantidade de resíduos

produzidos para eliminação (CEMPRE, 2010).

Alguns materiais como o alumínio podem ser reciclados indefinidamente,

porque não há nenhuma alteração para os materiais. Outros materiais reciclados

Page 58: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

58

como papel requerem uma percentagem de matérias-primas, como fibras de madeira

que são adicionados para compensar a degradação de fibras existentes (CEMPRE,

2010).

Uma vez que os materiais que estão sendo processados são mais puros,

menos energia é necessária para processá-los e menos energia é necessária para o

transporte desde o local de extração - minas de bauxita e minério de alumínio no Brasil

ou florestas de coníferas na Escandinávia. Isso reduz geralmente, os custos

econômicos ambientais, sociais e de produção. Há quatro métodos principais:

curbsides, centros de coleta, centros de recompra e programas de reembolso

(CEMPRE, 2010).

É importante o recolhimento, separação e tratamento dos materiais, que serão

reciclados. Depois de limpo e separados, os materiais recicláveis estão prontos para

a segunda parte do ciclo de reciclagem. A compra de produtos reciclados completa o

ciclo de reciclagem. Pelos governos, "compra de reciclados", bem como empresas e

consumidores individuais, cada um desempenham um papel tão importante no sentido

de tornar o processo de reciclagem muito bem-sucedida. Ideias criativas e divertidas

para reciclagem podem tirar proveito do lixo para confecção de artigos artesanais.

Assim, lixo tem uma grande importância no artesanato (CEMPRE, 2010).

Conforme Layrargues (2002, p. 182), o discurso ecológico veicula a “questão

do lixo” como sendo, antes de tudo, um problema de natureza técnica e não de ordem

social, cultural ou política. É idealizado dessa forma, o discurso oficial não permitindo

que sejam visualizadas outras dimensões da problemática dos resíduos.

A reciclagem não é apenas boa para o ambiente, mas pode também, ajudar

economizar dinheiro e introduzir projetos onde a reciclagem seja empregada de forma

criativa. Usando ideias práticas, pode-se transformar frascos de alimentos de bebê,

sacos de papel e vários outros itens em obras-primas artificiais.

Historicamente, Layrargues (2002, p. 192-193) lembra que, a coleta e

destinação de resíduos para sua reinserção na reciclagem sempre cumpriu uma

importante função social no Brasil, porque o trabalho na reciclagem tem consistido, na

grande maioria das vezes, em uma oportunidade única de geração de renda para os

mais pobres.

Estamos ficando sem espaço para novos aterros para colocar nosso lixo. Hoje,

existe menos de um quarto de aterros do que no fim da década de 1980, e esse

Page 59: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

59

número continua a diminuir. Nem tudo pode ser reciclado ou incinerado, e os aterros

continuarão sendo necessários.

Um dos problemas de muitos dos atuais aterros é a contaminação do lençol

freático como resultado da percolação do lixo causada pelas chuvas e fonte d'água

subterrâneas. Para evitar este problema, aterros "seguros" ou sanitários atualmente

têm de ser construídos em terrenos distantes de locações com águas subterrâneas

ativas e revestidos com mantas plásticas e de argilas que vão capturar o chorume. A

Figura 3, mostra o esquema gráfico do Aterro Sanitário.

Alguns aterros possuem um sistema de manta dupla: plástico, argila, plástico,

argila, o que impede o vazamento de chorume para o subsolo. O local também pode

ser um sistema de coleta de chorume e um monitoramento contínuo para garantir que

não ocorram vazamentos ou contaminação do lençol freático. O chorume coletado é

levado para estações de tratamento de esgoto.

“Diariamente, o material é aterrado com equipamentos específicos para este fim. Existem, também, tubulações que captam o metano, gás liberado pela decomposição de matéria orgânica” (CINTRA, 2011).

Quando o aterro está cheio e pronto para fechamento, uma manta plástica é

colocada sobre seu topo e coberta com terra. Contudo, existe um debate entre a EPA

Figura 3 - Aterro Sanitário Fonte: Cidade do Futuro, 2016.

Page 60: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

60

(Environmental Protection Agency / Agência de Proteção Ambiental) e outras

instituições com relação a esses métodos de fechamento. A EPA quer

armazenamento seco para minimizar a contaminação da água. Outros preferem

manter os resíduos úmidos para acelerar a decomposição. Neste método, o chorume

é recirculado pelo perfil do aterro para acelerar a decomposição. Um benefício é a

produção de metano no aterro por meio de quebra de compostos orgânicos complexos

do lixo por bactérias. Aterros ativos já estão produzindo metano (gás incolor, inodoro

- CH4; principal componente do gás natural). Algumas vezes, as tubulações de

plástico branco que circulam o metano para tanques de armazenamento podem ser

vistas.

A compostagem é outro método para lidarmos com partes do nosso lixo,

podendo ser coletados, triturados e arranjados em pilhas para sofrer decomposição.

O produto resultante dessa decomposição é um rico material composto que pode ser

utilizado na agricultura, em viveiros e em paisagismo.

6.2. Classificação dos Resíduos

Devido à crescente expansão industrial brasileira foi necessário realizar a

revisão da legislação responsável pela classificação dos resíduos sólidos na qual se

enquadram os de origem industrial siderúrgica. Neste contexto, a Política Nacional de

Resíduos Sólidos (PNRS, A Lei n.º 12.305, de 2/08/2010) foi criada com o objetivo de

garantir a conservação do meio ambiente, segurança da população e sua destinação

correta. Nela são consideradas as variáveis ambiental, social, cultural, econômica,

tecnológica e de saúde pública, bem como a promoção do desenvolvimento

sustentável e da ecoeficiência (SOUSA, 2012 apud ABRELPE, 2015a).

A Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR 10004: 2004 (Tabela

2), visa à classificação dos resíduos sólidos quanto aos seus riscos potenciais ao meio

ambiente e a saúde pública, para que estes resíduos possam ter manuseios e

destinação final adequada de acordo com sua classificação. Esta classificação ocorre

conforme suas características específicas tais como toxicidade, inflamabilidade,

corrosividade, reatividade e sua atividade de origem.

A metodologia empregada para realizar a classificação dos resíduos sólidos

está regulamentada nas seguintes normas brasileiras:

Page 61: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

61

NBR 10005 – Procedimento para obtenção de extrato lixiviado de resíduos

sólidos;

NBR 10006 - Procedimento para obtenção de extrato solubilizado de resíduos

sólidos;

NBR 10007:2004 – Amostragem de resíduos sólidos.

A PNRS confere destaque à importância dos catadores na gestão integrada

dos resíduos sólidos, estabelecendo como alguns de seus princípios o:

“Reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania” e a “responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos” (PNRS, A Lei n.º 12.305, de 2/08/2010).

Quadro 2 - Classificação dos resíduos sólidos

ABNT NBR 10004:2004

DEFINIÇÂO

Classe IIB (Inerte)

São aqueles que, quando amostrados de uma forma representativa e submetidos a um contato dinâmico e estático com água destilada ou deionizadas, à temperatura ambiente não tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor.

Classe IIA (Não Inerte)

São aqueles que não se enquadram nas classificações de resíduos classe I - Perigosos ou de resíduos classe II B – Inertes. Estes resíduos podem ter propriedades, tais como: biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água.

Classe I (Perigoso)

Sólidos que em função de suas características de inflamabilidade, reatividade, corrosividade, toxicidade e patogenicidade, podem apresentar risco à saúde pública, provocando ou contribuindo para um aumento de mortalidade ou incidência de doenças; e apresentam efeitos adversos ao meio ambiente, quando manuseados ou destinados de forma inadequada.

Fonte: ABNT 10004, 2004

A PNRS, incentiva a criação e o desenvolvimento de cooperativas ou de outras

formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis e determina

a priorização de sua participação nos sistemas de coleta seletiva e de logística. A esse

Page 62: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

62

conceito, destaca-se a Lei n.º 11.445/2007, essa institui as diretrizes nacionais para o

saneamento básico, na qual já havia sido estabelecida a contratação de cooperativas

e associações de catadores de materiais recicláveis, por parte do titular dos serviços

públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, dispensável de licitação.

A base nos princípios da autogestão, fortalece a organização produtiva dos

catadores em cooperativas e associações, da economia solidária e do acesso às

oportunidades de trabalho decente e representa, portanto, um passo fundamental

para ampliar o leque de atuação desta categoria profissional na implementação da

PNRS, em particular na cadeia produtiva da reciclagem, manifestando-se em

oportunidades de geração de renda e de negócios, dentre os quais, a comercialização

em rede, a prestação de serviços, a logística reversa e a verticalização da produção

(JUCON, 2016).

Para contribuir e aprimorar a atuação desse segmento na prática da PNRS,

importantes conquistas têm sido alcançadas para o fortalecimento da atuação dos

catadores com melhoria das condições de trabalho com a atuação e apoio do governo

federal, o que fortalece as cooperativas e associações de catadores de materiais

reutilizáveis e recicláveis, por meio de um conjunto de ações empreendidas por

diferentes órgãos, o que requer articulação e integração entre ações de cunho social,

ambiental e de ordem econômica (SOUSA, 2012 apud ABRELPE, 2015a).

6.2.1. Decretos e Leis à atuação dos Catadores:

a) Decreto n.º 5.940, de 25 de outubro de 2006: institui a separação dos

resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da

administração pública federal direta e indireta, na fonte geradora, e a sua

destinação às associações e cooperativas dos catadores de materiais

recicláveis, e dá outras providências.

b) Lei n.º 11.445, de 5 de janeiro de 2007: estabelece diretrizes nacionais

para o saneamento básico; altera as Leis n.º 6.766, de 19 de dezembro

de 1979, 8.036, de 11 de maio de 1990, 8.666, de 21 de junho de 1993,

8.987, de 13 de fevereiro de 1995; revoga a Lei n.º 6.528, de 11 de maio

de 1978; e dá outras providências. Essa Lei alterou o inciso XXVII do

Page 63: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

63

caput do art. 24 da Lei n.º 8.666, de 21 de junho de 1993, tornando

dispensável a licitação “na contratação da coleta, processamento e

comercialização de resíduos sólidos urbanos recicláveis ou reutilizáveis,

em áreas com sistema de coleta seletiva de lixo, efetuados por

associações ou cooperativas formadas exclusivamente por pessoas

físicas de baixa renda reconhecidas pelo poder público como catadores

de materiais recicláveis, com o uso de equipamentos compatíveis com

as normas técnicas, ambientais e de saúde pública”.

c) Decreto n.º 7.217, de 21 de junho de 2010: regulamenta a Lei

n.º 11.445, de 5 de janeiro de 2007, que estabelece diretrizes nacionais

para o saneamento básico, e dá outras providências.

d) Lei n.º 12.305, de 2 de agosto de 2010: institui a Política Nacional de

Resíduos Sólidos; altera a Lei n.º 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e

dá outras providências.

e) Decreto n.º 7.404, de 23 de dezembro de 2010: regulamenta a Lei

n.º 12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de

Resíduos Sólidos, cria o Comitê Interministerial da Política Nacional de

Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a Implantação dos

Sistemas de Logística Reversa, e dá outras providências.

f) Decreto n.º 7.405, de 23 de dezembro de 2010: institui o Programa

Pró-Catador, denomina Comitê Interministerial para Inclusão Social e

Econômica dos Catadores de Materiais Reutilizáveis e Recicláveis o

Comitê Interministerial da Inclusão Social de Catadores de Lixo criado

pelo Decreto de 11 de setembro de 2003, dispõe sobre sua organização

e funcionamento, e dá outras providências.

Page 64: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

64

7. EDUCAÇÃO

A história da educação brasileira é marcada pelo autoritarismo e pelo elitismo,

e somos, todos nós, produto dessa concepção ultrapassada. Já vem de muitos

séculos o preconceito que diz que por natureza o branco sabe mais do que o negro,

que o conhecimento europeu é mais completo que a cultura indígena ou que a cultura

norte-americana é mais rica que a popular brasileira. A educação por muito tempo

orientou-se pela noção de que o indivíduo é uma gaveta vazia a ser preenchida de

conhecimento.

Foi o que Paulo Freire (2005) chamou de “educação bancária”, concepção pela

qual seria possível apenas despejar um suposto conhecimento na cabeça vazia das

pessoas para educá-las. O tempo passou e muito se discutiu sobre esse modelo de

ensino; no entanto, ele continua presente nas relações do dia a dia. Além disso, as

iniciativas de preparação profissional, orientadas por uma ideologia empresarial que

promete sucesso e dinheiro, partem da mesma origem elitista que concebia o sucesso

profissional como um dom individual, e não como processo de formação histórica e

coletiva.

Os empresários e gestores públicos não acreditam que os catadores de

materiais recicláveis possam ser senhores de seus próprios destinos e não confiam a

eles a autogestão de seus empreendimentos. E como não dizer o mesmo das muitas

iniciativas de educação profissional existentes, que pretendem instruir os catadores a

melhor realizar seu trabalho com instruções pontuais e pouco aprofundadas? A

educação bancária está presente quando se considera essencial apenas a instrução

técnica – o “apertar parafusos” – na formação profissional dos trabalhadores,

acreditando que cabe ao catador aprender apenas o essencial para a subsistência.

(PINHEL et.al., 2013, p. 111).

Há os que acreditam que a tarefa de administrar e gerir as cooperativas e

associações é de técnicos qualificados especificamente para isso, cabendo ao catador

o trabalho braçal. É evidente que há tarefas específicas de técnicos especializados e

que as organizações de catadores precisam desse conhecimento técnico, não há

nada de errado na contratação de especialistas para estarem a serviço da

organização. O que está em questão é o papel político dos técnicos e da construção

do conhecimento dentro da organização de catadores. Por princípio, o protagonismo

Page 65: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

65

político e as decisões administrativas devem partir dos catadores, que podem contar

com a orientação profissional de técnicos como subsídio para promover e aprofundar

sua prática. No entanto, o que se observa em muitas iniciativas de formação de

cooperativas é o caminho inverso. As ONG se apropriam de tarefas para “ajudar” as

organizações, tornando-as dependentes. (PINHEL et.al., 2013, p. 111).

Foi criticando esse modelo de “profissionalização” que os catadores ligados ao

Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis - MNCR que decidiram

criar seu próprio programa de formação, considerando que o catador e a catadora não

precisam simplesmente estar preparados para o trabalho, mas têm que gerir seu

trabalho, precisam entender sua realidade social e superá-la, precisam assumir seu

protagonismo político. Trata-se de pôr em xeque o modelo atual que separa a função

daqueles que trabalham da função dos que pensam e decidem (MNCR, 2009).

Em suma, o MNCR defende um projeto de Instrução Integral preconizado no

início do século por trabalhadores ligados ao movimento operário. O projeto desse

grupo de trabalhadores libertários propunha uma educação voltada à preparação

integral do trabalhador, tanto do ponto de vista profissional como político. A pedagogia

libertária também se preocupou em não distanciar a teoria da prática, antecipando o

método de Paulo Freire.

“A instrução deve ser igual em todos os graus para todos; por conseguinte, deve ser integral, quer dizer, deve preparar as crianças de ambos os sexos tanto para a vida intelectual como a vida do trabalho, visando a que todos possam chegar a ser pessoas completas” (BAKUNIN, 2003).

De acordo com a história, a constituição de grupos organizados de catadores,

que alguns autores chamam de empreendimentos, aconteceu no final da década de

1980, como a criação da Cooperativa de Catadores Autônomos de Papel, Papelão,

Aparas e Materiais Reaproveitáveis (COOPAMARE), no estado de São Paulo - SP,

em 1989, e da Associação de Catadores de Papel, Papelão e Outros (ASMARE), em

1990, que no processo de mobilização para a sua fundação, reuniu centenas de

catadores de rua em Belo Horizonte - MG. Tais iniciativas representaram um avanço

em relação à possibilidade de desenvolvimento de estratégias de inclusão por meio

da organização do trabalho cooperativo. A concepção da ASMARE e da

COOPAMARE também evidenciou o trabalho desenvolvido pela Igreja Católica,

sobretudo as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e as Pastorais de rua, que, ora

Page 66: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

66

com uma perspectiva assistencialista, ora libertadora, contribuíram, significativamente

para esse processo (KEMP, 2008, p. 35).

A alternativa pela formação de empreendimentos geridos coletivamente revela,

por um lado, a necessidade de adaptação ao mercado de comercialização e o

aumento do poder de barganha, uma vez que as indústrias transformadoras exigem

que a venda seja realizada com alta quantidade e um mínimo de qualidade na entrega

do produto. Assim, a constituição de um empreendimento coletivo solidário contribui,

diretamente, para a reconstituição de pertencimento social e para a recuperação do

sentido de coletividade. Fato mostrado por Kemp, como:

“O econômico como projeto e atividade passa a ser suporte de algo mais essencial, que é a participação efetiva, o exercício de uma solidariedade pública, o engajamento expressivo e a recriação do laço social. Nesse cenário, o que se coloca é a capacidade de cada um tornar-se ator e contribuir para a produção de um bem e de um sentido comum” (KEMP, 2008, p. 32).

Alfabetização e a escolarização são direitos sociais que muitas vezes são

negados, sobretudo, no contexto desigual no qual vivem os catadores. Por outro lado,

esta negação torna-se um grave problema social, uma vez que, a pessoa que não lê

e não escreve possui, dentre outras questões, mais dificuldade de inclusão social e

profissional, impactando assim, na qualidade de vida do sujeito e da família.

“Há maior presença do sexo feminino entre os catadores organizados, a escolaridade dificilmente ultrapassa o ensino fundamental, os catadores contribuem significativamente com a renda familiar e, sua renda é obtida principalmente com a comercialização de recicláveis, atingindo menos de um salário mínimo. Entre os catadores os vínculos de trabalho são frágeis, a contribuição para o sistema previdenciário acontece na minoria das vezes e a entrada para a atividade responde à falta de outra opção. Em geral, o catador tem experiência de trabalho anterior à catação, mas, não necessariamente alcançava renda mais alta. Os mais antigos não desejam trocar de ocupação e a maioria reconhece a importância da atividade para o meio ambiente e a sociedade; a proximidade do local de trabalho também reforça a escolha da atividade de catação” (IPEA, 2012, p. 22).

Segundo pesquisa do IPEA (2013), a porcentagem de catadores analfabetos é

de 20,5%. Isso representa um grave problema social, pois limita as oportunidades

profissionais e leva a exclusão social, além de afetar a qualidade de vida do indivíduo

e de sua família.

Page 67: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

67

A proposta educacional do MNCR contempla também o conteúdo programático

político sintetizado em sua Carta de Princípios e de Objetivos e em suas Bases de

Acordo, documentos orientadores da luta do MNCR construídos ao longo de um

Congresso Nacional e dois Congressos Latino-americanos, além de encontros de

representantes de todo o Brasil. Não bastava então apenas educar, seria preciso

fomentar novas formas de organização política e social, propor novas metas de vida

e superação da realidade. “Na grande empreitada de formação dos militantes do

MNCR, criar a cultura do diálogo, debater, estudar, nos formar individual e

coletivamente é dever de todos (as), para que entre nós não haja mais coitados nem

doutores, mas protagonistas, lutadores”. A empreitada foi construída com base na

realidade da categoria e na necessidade presente de avançar rumo à garantia de

direitos e melhores condições de trabalho.

“O catador torna-se o intermediário que deve ser eliminado do processo e, de fato, é o que vem ocorrendo, já que para a indústria da reciclagem, o fortalecimento desse grupo social significa uma potencial perda da sua capacidade de concentração de renda” (LAYRARGUES, 2005, p. 202).

A educação bancária, a ideologia empresarial e o preconceito de classe contra

o catador são opostos ao que propõe o programa de formação política do MNCR, que,

apesar de muito abrangente, sempre se propôs a ser uma ferramenta impulsionadora,

a ser construída e complementada durante o processo de formação.

“Incentivo à organização autônoma dos catadores, por meio de cooperativas e associações que procuram especializar estes trabalhadores e dar regularidade à atividade de catação. Como qualquer setor produtivo que abastece a indústria brasileira, as organizações de catadores precisam de infraestrutura para tornar o trabalho regular e de qualidade, assim como para aumentar a capacidade de processamento de resíduos, agregando novos catadores e formalizando novos postos de trabalho no país” (MNCR, 2009, p. 22).

Page 68: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

68

8. METODOLOGIA

O presente estudo foi realizado em uma cooperativa na cidade de Volta

Redonda (Rio de Janeiro) que, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) 2016, tem 182,483 Km2, 257.803 habitantes e densidade

demográfica 1.412,75 (hab./ Km2). Atualmente é composta por 12 (doze) Secretarias

e 13 (treze) Autarquias, o que permite e facilita o funcionamento do poder público

municipal.

Segundo dados do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2013), Volta

Redonda-RJ tem Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) igual a 0,771 respeitando

as particularidades (número de bairros e de habitantes, condições sociais,

econômicas, sanitárias, ambientais etc.).

A pesquisa envolveu a busca e a leitura de arquivos virtuais e impressos sobre

o tema principal do trabalho: segurança e saúde no trabalho de catadores de materiais

recicláveis, bem como materiais consultados como: artigos, monografias,

dissertações, teses, leis, decretos, normas, manuais etc. Permitiu construir um breve

retrato da história dos catadores, organizar cronologicamente as lutas e avanços da

categoria, discorrer sobre a múltipla importância do segmento e sobre suas condições

de vida, trabalho, saúde, informações pré-existentes na cooperativa dos dados

sociocultural, de acidentes e elaboração de estratégias educativas, registros

fotográficos e observação dos cooperativados.

O trabalho de campo ocorreu entre os meses de julho de 2016 e janeiro de

2017, em encontros quinzenais na semana as terças-feiras e quintas-feiras. Tendo

participação também aos sábados, de forma quinzenal.

8.1. Desenvolvimento do Estudo

A empresa onde foi desenvolvido o estudo, apresenta em sua razão social o

nome fantasia de RECICLAR VR. A área está situada na Rua Trinta e Cinco, número

650, próximo ao bairro Vila Santa Cecília, na cidade de Volta Redonda, interior do Rio

de Janeiro. O empreendimento está situado sob as coordenadas (22°32,04’81’’ S,

44°05,54’79’’ O), conforme figura 4.

Page 69: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

69

No entorno da cooperativa há algumas habitações familiares, a Escola Técnica

Pandiá Calógeras e a unidade da Universidade de Barra Mansa - UBM. A área está

em uma posição estratégica, estando isolada do movimento urbano, sob o domínio de

um ambiente natural, reserva de mata ao redor da cooperativa. Sua área física conta

com um galpão onde são realizados os trabalhos pelos cooperados que nela labutam

e uma área externa onde são depositados os materiais que chegam à cooperativa,

conforme pode ser visto nas figuras 5, 6 e 7 abaixo.

Figura 4 - Localização da Cooperativa Recicla VR, na cidade de Volta Redonda Fonte: Google Earth, 02/09/2016

Figura 5 - Materiais depositados para reciclagem Fonte: O Autor

Page 70: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

70

A RECICLAR VR, se mantém basicamente do trabalho dos catadores que

encontram como matéria prima, o chamado de “lixo” pela sociedade, a fonte de

sobrevivência destes cidadãos. Ali são reunidas sobras de materiais de construção,

pedaços de metais e madeiras, papéis, papelões, plásticos e sucatas em geral. Não

existe um PEV - Ponto de Entrega Voluntário. Aqui cabe falar em entrega seletiva por

muitas pessoas que residem na proximidade e até mesmo, pessoas de outros bairros

da Cidade que conhecem ou já ouviram falar deste local e dos serviços executados

pelos cooperados. Estas práticas, difundem o reaproveitamento destes materiais

como forma de reduzir a retirada dos recursos naturais. Somente dois caminhões da

prefeitura fazem alguns circuitos, recolhendo material reciclável em alguns bairros e

estabelecimentos comerciais e municipais. Para ajudar o poder público em ampliar a

coleta seletiva, a comunidade pode se reunir e adotar procedimentos nos prédios, nas

ruas, nos bairros ou então, proceder à doação direta nas cooperativas.

Figura 6 - Materiais depositados na área do Galpão Fonte: O Autor.

Page 71: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

71

O espaço físico da cooperativa apresenta algumas salas oriundas de uma

antiga escola no qual serve para guardar os produtos, estadia de cooperados durante

o serviço e funcionamento dos setores administrativos. Esse passa a ser um local

onde se podem depositar materiais de que não se precisa mais, mas que poderão

servir como moeda social. Sua reversão através do trabalho de todos os cooperados,

rende na maioria das vezes, o salário do mês para cada um deles.

8.2. Funcionamento da Cooperativa Reciclar VR

A cooperativa de reciclagem desenvolve o processo de tratamento dos

materiais recicláveis e os enviam às empresas recicladoras, mas até esta fase existe

uma série de etapas que a antecedem:

a) Recebimento: materiais trazidos pelo caminhão da PMVR exibido na

Figura 08, que passa nos comércios, condomínios, UniFOA, Posto AP, Bob’s,

Fóruns, White Martins, Fundação CSN, Neto Esportes, Gráfica Paixão, bairros

São João e Vila Brasília, Café Faraó, Secretaria Municipal de Obras e

Restaurante Bom Prato;

Figura 7 - Vista frontal da Cooperativa Fonte: O Autor

Page 72: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

72

b) Coleta: nela os catadores coletam o lixo reciclável como alumínio, papel,

plástico e vidro, e entregam à cooperativa;

c) Triagem: quando o material chega às cooperativas ele precisa ser separado

para que nas empresas recicladoras sejam tratados e reciclados. Nesta etapa,

os resíduos são dispostos nas esteiras, trabalho realizado exclusivamente

pelas mulheres. Vide figura 9.

Figura 8 - Caminhões da PMVR com materiais coletados Fonte: O Autor.

Figura 9 - Materiais dispostos nas esteiras Fonte: O Autor.

Page 73: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

73

d) Prensa: o material já separado é prensado e para que isso aconteça é

preciso de grandes prensas que compactam material em grande quantidade.

Esse trabalho, por ser uma atividade pesada, é realizado pelos homens.

e) Venda: nessa etapa todo o material é transportado e vendido para

empresas recicladoras que fazem o processo de reciclagem, tornando a usar

esses materiais como matéria-prima.

Em Volta Redonda, somente dois caminhões da prefeitura fazem os circuitos,

recolhendo material reciclável em alguns bairros. Apenas uma cooperativa de forma

oficial (Folha Verde no bairro Voldac) e duas outras cooperativas de forma irregular

com processo de regulamentação. Enquanto não é cumprida a promessa do poder

público de ampliar a coleta seletiva, a comunidade pode se arregimentar e adotar

procedimentos nos prédios, nas ruas, nos bairros ou, procederem à doação direta

para projetos assistenciais. A renda obtida com lixo pode ser utilizada em projetos

sociais.

Figura 10 - Prensas do local Fonte: O Autor.

Page 74: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

74

9. RESULTADO E DISCUSSÃO

Quanto à produção, a cooperativa conta com um resultado mensal de 27

toneladas por mês e uma produção anual aproximada de 324 toneladas por ano,

sendo reciclados 27% de plástico, 65% de papel e 8% de metal. O vidro quase não

apresenta significância em volume.

Em visita a RECICLAR VR, foi possível conseguir as seguintes informações:

a) diariamente 16 pessoas atuam na triagem do lixo, recebendo

mensalmente uma média salarial de R$ 600,00 (seiscentos reais);

b) na cooperativa não há sistemas de registro de ponto, o controle é feito

manualmente e o pagamento do pessoal é feito pelo dia trabalhado;

c) não contam com nenhum incentivo do governo do Estado, somente com

o governo Municipal - Prefeitura de Volta Redonda;

d) todo material triado é vendido facilmente;

e) não existem Pontos de Entrega Voluntária (PEV) na cidade;

h) o relacionamento entre os integrantes da cooperativa é tido como regular;

i) o material não utilizado na triagem é colocado em sacos e disposto como

lixo para recolhimento da Prefeitura;

l) os cooperados são antigos catadores de lixões em sua grande maioria,

havendo a necessidade de capacitação técnica com os mesmos;

m) são utilizados como maquinários duas prensas, um elevador de carga,

duas paleteras, uma empilhadeira, uma picotadeira de papel e uma balança

digital;

n) o maior desafio enfrentado pela cooperativa é a conscientização dos

próprios cooperados.

O material recolhido pelo caminhão cedido pela prefeitura de Volta Redonda é

todo direcionado às três cooperativas do município: a própria Reciclar VR, a Folha

Verde e a Cidade do Aço, onde fazem a triagem e a venda. Todas funcionam em

espaços da prefeitura com parceria gerida pela Secretaria Municipal de Ação

Comunitária (SMAC).

Page 75: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

75

A coleta seletiva já existe há muito tempo em Volta Redonda. Em 2014, foi

criado um Comitê Gestor da coleta seletiva entre Secretarias Municipais: Ação

Comunitária, Meio Ambiente, Cultura, Planejamento e Políticas Públicas para

Mulheres, Guarda Municipal, Defesa Civil, Gabinete do Prefeito, entre outras. Com

esse Comitê formado, começou a se fazer um trabalho para melhorar a coleta seletiva

e as cooperativas.

Através desse Comitê foi possível separar a empresa que realiza a coleta

seletiva da empresa que recolhe o lixo comum e orgânico.

Isso reflete avanços para a população com um melhor atendimento e para as

cooperativas que recebem mais materiais em especial aqueles previamente

selecionados.

Cabe ressaltar que as práticas da coleta seletiva e reciclagem sozinhas não

são as únicas alternativas para o gerenciamento dos resíduos sólidos. É importante

integrar opções, estimular o processo participativo, universalizar a cobertura dos

serviços, consolidar bases legais, captar recursos, garantir destino final adequado,

implantar programas de educação sanitária e ambiental e reduzir o consumo.

9.1. Resultado

Conforme o objetivo da presente pesquisa e de acordo com as diretrizes do

Programa de Mestrado Profissional em Ensino de Ciências da Saúde e do Meio

Ambiente foi desenvolvido como produto, um programa de capacitação no

gerenciamento de recicláveis no formato de uma Oficina com elaboração da Caixa

dos Desejos, Varal de Queixas e Plano de Ação.

9.1.1. Descrição

Na oficina denominada HAD (Hoje, Amanhã e Depois) os participantes são

levados a pensar fora dos condicionantes comuns, diagnosticando os seus desejos e

as suas queixas em processo coletivo. A oficina constituiu uma forma de produção

coletiva do conhecimento a partir do princípio de que todos têm a aprender e a ensinar,

cada qual a sua maneira, e em conjunto devem encontrar os caminhos para enfrentar

os desafios e buscar as soluções.

Page 76: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

76

Esta dinâmica também reúne atividades para promover a reflexão, fomentar

debates sobre diversos temas e contribuir para a organização das ideias de

determinado grupo em torno da construção de projetos coletivos, transformando

desejos em realidade.

Em suma, o método estimula a participação de todos os componentes do grupo

e pretende:

a) Visualizar os desejos de futuro de cada membro para o grupo;

b) Apontar os problemas e dificuldades que afetam e preocupam o

grupo;

c) Reconhecer o que há de comum entre eles, na percepção de suas

causas;

d) Perceber os temas mais relevantes no seu contexto e as condições e

alternativas que existem para trabalhá-los coletivamente;

As atividades utilizadas nesta metodologia foram a Caixa dos Desejos e o Varal

de Queixas. O objetivo foi organizar toda a formação a ser administrada a partir dos

desejos e das reivindicações do grupo, auxiliando assim a cooperativa a sistematizar

as demandas e transformá-las em metas, o que possibilitou a construção de um plano

de ação condizente com a realidade e assumido pelo grupo.

A Oficina HAD foi desenvolvida em três etapas: na primeira, confeccionou-se a

Caixa dos Desejos; na segunda, estendeu-se o Varal das Queixas; e, por fim,

construiu o Plano de Ações, sistematizando as demandas dos cooperados e dividindo

o trabalho entre eles.

9.1.2. 1.ª Etapa - Caixa dos Desejos

Corresponde aos objetivos que se pretende alcançar ao final de um período

determinado. Nesta dinâmica partiu-se do pressuposto de que para se realizar algo

de valor é preciso ter espaço para sonhar. Os cooperados utilizaram os seguintes

materiais: tesoura, cola, papel de presente, fita crepe e uma caixa de sapato (retirada

dos resíduos que recebem no galpão). Nesta etapa, vimos a manifestação voluntária

de algumas mulheres para montar e enfeitar a Caixa dos Desejos - Figura 11. Com

isso, percebeu-se a interligação e a interdependência entre as diferentes pessoas da

Page 77: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

77

Cooperativa. Cada qual, com seus desejos e manifestações de alegria, descontração

e atenção a oficina.

Na sequência, foram distribuídos pedaços retangulares de papéis para cada

cooperado responder as seguintes perguntas: “Qual é o seu desejo (Figura 12) para

a Cooperativa?” e “Como você deseja que a Cooperativa esteja em um ano?”. Neste

momento, dissemos que cada um poderia dar mais de uma resposta.

Figura 11 - Confecção da Caixa dos Desejos Fonte: O Autor.

Figura 12 - Desejos escritos em pedaço de papel e depositado na Caixa dos Desejos Fonte: O Autor.

Page 78: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

78

Buscou-se promover a reflexão e a transformação de desejos em palavras.

Cada cooperado, escreveu seus desejos no pedaço de papel. Neste momento,

conseguimos perceber a existência de alguns cooperados que não sabiam escrever.

O que nos levou a ajudá-los na escrita e também, solicitarmos que algum outro colega

o faça. Nesse momento, foi sugerido que cada cooperado lê-se e explicasse seu

desejo, ou mesmo que algum cooperado fizesse a leitura voluntariamente.

Depois que todos fizeram a leitura de seus desejos, analisamos em conjunto,

se de fato, cada manifestação era um desejo coletivo da Cooperativa. Caso existisse

algum com que o coletivo não se identificasse, a permanência dele na Caixa dos

Desejos era negociada com todos. A negociação coletiva mostrou que existia muitos

desejos parecidos entre os cooperados. Fizemos um agrupamento para facilitar a

sistematização e para que o grupo pudesse perceber que, por serem sonhados juntos,

esses desejos podem se tornar realidade.

Após todos terem manifestados seus desejos escritos no pedaço de papel, foi

solicitado, colocá-los dentro da Caixa dos Desejos - Figura 13.

Alguns exemplos de desejos que surgiram na Oficina Hoje, Amanhã e Depois

aplicada na Cooperativa: necessidade de mais materiais para trabalharem, aumentar

a renda, buscar mais parceiros, melhorar e organizar o espaço de trabalho, conseguir

através de doações alguns mais equipamentos como: balança, prensa, esteira,

armários, ferramentas e bags.

Figura 13 - Desejos escritos e depositados na Caixa dos Desejos Fonte: O Autor.

Page 79: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

79

9.1.3. 2.ª Etapa - Varal das Queixas

A segunda etapa correspondeu ao momento de discussão dos desafios

a serem alcançados. Queixar serve para desabafar e pensar nas dificuldades que a

cooperativa terá de enfrentar para atingir seus desejos. Os papéis pendurados em

forma de roupas como: calça, calcinha, cueca, gravata, saia, sutiã e toalha foram

distribuídos para cada cooperado responder as seguintes perguntas: Qual é a

dificuldade para alcançar seu desejo na cooperativa?”. Ou ainda: O que impede que

a cooperativa alcance o que você desejou para ela? Cada cooperado pode dar mais

de uma resposta. Reclamar costuma ser mais fácil que desejar uma necessidade.

Por isso, os cooperados tendem a desenvolver esta etapa mais facilmente, mas

vale a mesma cautela para os auxiliá-los conforme descrita anteriormente,

assessorando a expressão das dificuldades, assim como o ajudando àqueles que não

escrevem. Após todos terem lamentado, o grupo “levanta” o Varal das Queixas -

Figura 14, no qual cada cooperado fixa sua peça no varal, lado a lado.

Na sequência, todas as queixas, as quais também podem ser chamadas de

desafios, foram lidas e o grupo refletiu coletivamente sobre elas. Nesse momento

seguimos o mesmo procedimento adotado para a Caixa dos Desejos (leitura realizada

por nós como interlocutores, pelos cooperados ou por um cooperado voluntário).

Mais uma vez, a reflexão coletiva mostrou que há muitos desafios semelhantes.

A ideia foi agrupá-los para facilitar a sistematização, mas também para que os

Figura 14 - Fixação das peças no Varal das Queixas Fonte: O autor.

Page 80: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

80

cooperados pudessem escolher quais desafios desejariam ser resolvidos em primeiro

lugar, em segundo, em terceiro, e assim por diante, listando-se, dessa forma, as

prioridades da Cooperativa.

Alguns exemplos de desafios que surgiram nas Oficinas HAD aplicados em

Cooperativas: a separação dos materiais recicláveis está ruim por falta de um maior

espaço, não conseguem pagar o INSS - Instituto Nacional do Seguro Social, temos

dificuldade em trabalhar de fato no Sistema Cooperativista, grande entra-e-sai

(rotatividade) de cooperados, dificuldade de aproximação do poder público de nossa

cidade. Sabe-se que a realidade do trabalho de uma cooperativa de catadores é

complexa e que muitos são os desafios para se construir um futuro melhor. Por outro

lado, são esses desafios que dão mais motivação e deixam claro que somente em

conjunto, com cooperação e solidariedade, será possível transformar a cooperativa.

No dicionário, “oficina” significa "lugar onde se exerce um ofício (mini Aurélio

2006 p. 590)", neste, ocorrem grandes transformações”.

9.1.4. 3.ª Etapa - Plano de Ações

A elaboração da terceira etapa, consistiu no Plano de Ações que

corresponde à sistematização das demandas e compromissos do grupo, ao estímulo

à ação coletiva e construtiva e ao estabelecimento de ações futuras, com a definição

de membros responsáveis e prazos de execução.

Ao término da “confecção” da Caixa dos Desejos, todos os desejos foram

listados. Estes, por si só, já se caracterizam como objetivos – ou melhor, metas. Eis o

início da listagem das metas da Cooperativa.

Ao término do “levantamento” do Varal das Queixas, os desafios foram listados

e colocados em ordem de prioridades. O próximo passo foi transformar esses desafios

em metas. Foi um exercício simples. Tomando-se como exemplo o desafio “não

conseguimos pagar o INSS”, este pode ser transformado na meta: “todos os

cooperados pagando o INSS”.

Com uma lista única de metas, estas podem ser novamente colocadas em

ordem de prioridade. É importante ressaltar que o objetivo da capacitação é trabalhar

para que o grupo possa atingir todas as metas levantadas. As prioritárias são aquelas

que serão trabalhadas primeiro ou com maior ênfase.

Page 81: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

81

Para cada meta foi atribuída uma ou mais ações, bem como um ou mais

responsáveis, e um prazo. Este é o Plano de Ações. É fundamental que este plano

seja construído de forma totalmente participativa. Uma vez que os cooperados

levantaram as metas, eles também serão os protagonistas na construção das ações

a serem tomadas, bem como na escolha dos responsáveis e na definição dos prazos.

Page 82: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

82

10. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os cooperados têm saberes diferenciados acerca das atividades que requerem

atitudes de segurança e educação ambiental. A maioria, apresenta certa dificuldade

de assimilação e conscientização.

Por meio da Oficina, foi possível sensibilizar os cooperados para questões que

dizem respeito ao comportamento humano referente a proteção individual e ações

voltadas para o meio ambiente. Nossa intenção, é dar continuidade a esse trabalho

com a realização de outros eventos como esse, para que a temática Segurança do

Trabalho e Educação Ambiental sejam estritamente debatidas e levada à formação

do curso para agentes comunitários de materiais recicláveis, de maneira a contribuir

para uma mudança efetiva de atitude e na forma de olhar o entorno, o meio ambiente,

o local com que eles se relacionam, a água que consomem entre outras coisas que

diuturnamente passam desapercebidas por eles. Esperamos que a proposta da oficina

trabalhada durante a pesquisa possa servir de base para aqueles que estejam

interessados em desenvolver um trabalho dessa natureza, melhorando ou

aprimorando os métodos.

Durante a investigação deste trabalho, gostaria de ter intervindo nas realidades

encontradas, principalmente nas observações em campo do estudo de caso na

Cooperativa, mas isso implicaria uma pesquisa-ação, o que demandaria trabalho mais

extenso e acredito que fugiria de uma investigação de mestrado. Essa ideia seria mais

bem aproveitada em um doutorado, conforme orientações recebidas.

Este estudo, nos trouxe a preocupação com a inclusão da temática Segurança

do Trabalho e Educação Ambiental no cotidiano dos catadores de materiais

recicláveis, por ser tema de preocupação, para cuja efetivação todos precisam

contribuir. Todos têm consciência que precisamos mudar nossos comportamentos

para a garantia de um planeta melhor para nós e futuras gerações. Nesse sentido,

acreditamos que nossa pesquisa proporcionou um auxílio válido. Além desta, nossa

pesquisa permitiu mudar nosso modo de ser, favorecendo nosso crescimento

humano, quando percebemos que, se nós mesmos podemos mudar, poderemos

mudar o planeta.

De qualquer forma, a observação e interação dos cooperados com o ambiente

social e o ambiente natural podem estar sendo estimuladas a partir de oficinas nas

quais seus tutores podem construir ativamente as atividades pedagógicas. De acordo

Page 83: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

83

com o interesse dos cooperados, atividades de Educação Ambiental na rua podem

estimular o “olhar para dentro” e o “olhar para fora” do local escolhido para as

atividades, levando à compreensão do ambiente urbano e ao entendimento de suas

relações com a natureza.

Page 84: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

84

11. REFERÊNCIAS

ABRELPE (a). Estimativas dos Custos para viabilizar Universalização da Destinação Adequada de Resíduos Sólidos no Brasil. São Paulo, jun. 2015.

ACI – Aliança Cooperativa Internacional. Disponível em: <http://agropar.coop.br/aci-alianca-cooperativa-internacional.html />. Acesso em: 10 out. 2016 ALVES, O. D. et. al. Em direção a uma Universidade Saudável. Manual sobre ergonomia. São Paulo: UNICAMP, 2001. ARAÚJO, E. A.; SILVA, W. A. C. Sociedades Cooperativas e sua Importância para o Brasil. Revista Alcance - Eletrônica, v. 18 - n. 1 - p. 43-58 / jan-mar 2011. Disponível em: <http://siaiweb06.univali.br/seer/index.php/ra/article/view/610/1845>. Acesso em: 10 out. 2016. BAKUNIN, Mikhail. A Instrução Integral. Trad. Luiz Roberto Malta. São Paulo: Imaginário, 2003. BERNARDES, G. B. Ética em pesquisa com seres humanos: origem e documentação reguladora – TCC - EsSEx. Rio de Janeiro: 2008. BOFF, L. Saber cuidar: ética do humano - compaixão pela terra. 8. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1999. BUARQUE, Sérgio C. Construindo o desenvolvimento local sustentável. Rio de Janeiro: Garamond, 2002. BRASIL, 3M do. Boletins técnicos. Disponível em:<www.3m.com.br>. Acesso em 25 de março de 2014 BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Evolução do cooperativismo no Brasil: DENACOOP em ação. – Brasília: MAPA, 2006.124 p. CALDERONI, S. Os bilhões perdidos no lixo, 4 ed. São Paulo: Humanitas Editora 2003. CAMPANI, D. B.; GRIMBERG, E.; PIRES, J.; MAGALHÃES, T. Programa Nacional Lixo & Cidadania. In: Congresso Interamericano de Resíduos 2005, México, D.F; AIDIS/DIRSA;2005.1-9p. Disponível em <http://www.bvsde.paho.org/bvsaidis/mexico2005/campani2.pdf>. Acesso em: 10 out. 2016. CARMO, M. S. F. A Problematização do Lixo e dos Catadores: estudos de caso múltiplo sobre políticas públicas sob uma perspectiva foucaultiana. Rio de Janeiro: FGV – EBAPE, Tese (Doutorado em Administração), 2008. CARRANZA, A. C.; ZELAYA L, Iglesias S. El Salvador - Trabajo infantil en los basureros: una evaluación rápida. Geneve: Oficina Internacional del Trabajo; 2002.

Page 85: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

85

CARVALHO, A. M. R. Cooperativa de catadores de materiais recicláveis de Assis - COOCASSIS: espaço de trabalho e de sociabilidade e seus desdobramentos na consciência. Tese de Doutorado, Psicologia Social e do Trabalho, Universidade de São Paulo, 2008. CARVALHO, J. M. G. Estudo sobre o processo de formação da rede de cooperativas de catadores de materiais recicláveis do Vale do Paraíba - Estado de São Paulo. Dissertação de Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental, Universidade de São Paulo, 2013. CAVALCANTE, S.; FRANCO, M. F. A. Profissão perigo: percepção de risco à saúde entre os catadores do lixão do Jangurussu. Revista mal-estar e subjetividade, Fortaleza, v. 7, n. 1, p. 211-231, 2007. CIDADE DO FUTURO, 2016. Acesso em: < https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwjqpqvw0uPSAhWEl5AKHe5VDo8QjRwIBw&url=http%3A%2F%2Fwww.cidadedofuturo.no.comunidades.net%2Flixao-x-aterro&psig=AFQjCNHh1lXZ1_eRf03ISAbE4ly4w-UFNw&ust=1490049725376003>. Acesso em: 02 set. 2016. CINTRA, Lydia. Entenda a diferença entre lixão e aterro sanitário. Super Interessante. São Paulo, 19 mai. 2011. Disponível em: < http://super.abril.com.br/blogs/ideias-verdes/qual-a-diferenca-entre-lixao-e-aterrosanitario/>. Acesso em: 10 out. 2016. COLLINS, C. H. K. D. The microbiological hazards of municipal and clinical wastes. Journal of Applied Bacteriology 1992;73:1-6. COMPROMISSO EMPRESARIAL PARA RECICLAGEM. Lixo Municipal: Manual de Gerenciamento Integrado. 3 ed. São Paulo: CEMPRE, 2010. ______. Diagnóstico sobre os catadores de resíduos sólidos. Brasília: Ipea, 2011. DIAS, Genebaldo Freire. Dinâmicas e instrumentação para educação ambiental.1 ed. São Paulo: 2010. EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA, O contraponto necessário a hegemonia da educação ambiental conservadora. Disponível em: <https://eacritica.wordpress.com/2012/02/23/educacao-ambiental-critica-o-contraponto-necessario-a-hegemonia-da-educacao-ambiental-conservadora/>. Acesso em: 28 de nov. 2015

FERREIRA, J. A; ANJOS, L. A. Aspectos de saúde coletiva e ocupacional associados à gestão dos resíduos sólidos municipais. Cadernos de Saúde Pública 2001; 17(3): 689-696. FLECK, M. P. A. et al. A avaliação de qualidade de vida. Porto Alegre: Artmed, 2008.

FRANZONI, Gervásio. O .T. C.: introdução à contabilidade. São Paulo. FTD, 1996.

Page 86: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

86

FREIRE, Paulo. Papel da Educação na Humanização: Revista Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1971 p. 120. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 11. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982 p. 141. GONÇALVES, R. C. M. A voz dos catadores de lixo em sua luta pela sobrevivência, 2005. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Políticas Públicas e Sociedade). Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, Ceará. GODOY, A. S. Estudo de Caso Qualitativo. In: GODOI, C. K.; BANDEIRA-DE-MELLO, R.; SILVA, A. B. da. Pesquisa Qualitativa em Estudos Organizacionais: Paradigmas, Estratégias e Métodos. São Paulo: Saravia, p. 115-146, 2006.

GONÇALVES, D. C et al. Manual de segurança e saúde no trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2011. GUIMARÃES, Mauro. A dimensão ambiental na educação. 6. ed. Campinas: Papirus, 1995. GUIMARÃES, M. A formação de educadores ambientais. Campinas, SP: Papirus

(Coleção Papirus Educação) 2004, 171 p. GUIMARÃES, Valter Soares. Formação de professores: saberes, identidade e profissão. Campinas, SP: Papirus, 2004. JUCON, Sofia. Logística Reversa – Desenvolvimento da logística reversa ganha impulso com a implementação dos acordos setoriais. Revista Meio Ambiente Industrial. São Paulo, n. 118 ano XX, p. 22-38, jan-fev. 2016.

KEMP, Valéria Heloísa. Empreendimentos solidários: desafios para enfrentar a naturalização das desigualdades sociais. In KEMP, Valéria Heloísa; CRIVELLARI, Helena Maria Tarchi (orgs.). Catadores na cena urbana: Construção de políticas socioambientais. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008. p. 23-48. KUPCHELLA, C. D. & HYLAND, M.C., 1993. Environmental Science – Living Within the System of Nature. London: Prentice-Hall International. LAYRARGUES, P. P. A resolução de problemas ambientais locais deve ser um tema-gerador ou a atividade-fim da educação ambiental? In: REIGOTA, M. (org.). Verde cotidiano: o meio ambiente em discussão. Rio de Janeiro: DP&A Editora. 1999 LAYRARGUES, P.P. O cinismo da reciclagem in Educação Ambiental: repensando o espaço da cidadania. Cortez Editora. 2002 LAYRARGUES, P. P. O cinismo da reciclagem: o significado ideológico da reciclagem da lata de alumínio e suas implicações para a educação ambiental. In: SOFFIATI, A.; LOUREIRO, C. F. B. Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. São Paulo. Cortez, 2005, p. 179-219.

Page 87: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

87

LEVI, L. Work, stress and health. Scandinavian journal of work enviromental health 1984;10:495-500. LIIRA, J. P.; SHANNON, H. S.; CHAMBERS, L. W.; HAINES, T. A. Long-term back problems and physical work exposures in the 1990 Ontario Health Survey. Am J Public Health 1996;86(3):382-387. LOUREIRO, C. F. B. A educação ambiental como prática social contextualizada. In: ______. (Org.). Cidadania e meio ambiente. Salvador: Centro de Recursos Ambientais, 2003. p. 8693. LOUREIRO, C. F. B. Educação Ambiental Transformadora. In LAYRARGUES, Philippe Pomier (org.). Identidades da educação ambiental brasileira. Brasília: MMA, 2004 (p.65-84). MAGNI, A. A. C. Cooperativas de catadores de resíduos sólidos urbanos: perspectivas de sustentabilidade. Dissertação (Mestrado em Saúde Ambiental) - Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. ______. Ministério da Saúde. Saúde do Trabalhador. Cadernos de Atenção Básica, n.5. Brasília, DF, 2002. MNCR – Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis. A crise financeira e os catadores de materiais recicláveis. IPEA – Mercado de trabalho, 41, Nov. 2009b, p. 21-24. OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras. Cooperativismo Brasileiro: Uma História. Ribeirão Preto, SP: Versão Br Comunicação e Marketing, 2004. 150 p. OLIVEIRA, D. A; M. Percepção de riscos ocupacionais em catadores de materiais recicláveis: estudo em uma cooperativa em Salvador – Bahia. 2011. Originalmente apresentada como Tese de Mestrado Saúde, Ambiente e Trabalho, Salvador: Universidade Federal da Bahia, Salvador ORGANIZAÇÃO E SINDICATO DAS COOPERATIVAS DE MINAS GERAIS. Informações econômicas e sociais do cooperativismo mineiro. Belo Horizonte: Gerência Técnica do Sistema Ocemg/Sescoop-MG. 2010. PINHEL, J. R. et.al. Do lixo à Cidadania: guia para a formação de cooperativas de catadores de materiais recicláveis. 1.ed. São Paulo: Peirópolis, 2013. RANGEL, S. V. D. (2014). Ensino de Engenharia: Elaboração de Manual de Procedimentos de Segurança para Prática de Laboratório. Dissertação de Mestrado Profissional do Centro de Pós-Graduação em Ensino em Ciências da Saúde e do Meio Ambiente. REINHARDT, P. A.; GORDON, J. A. C. J. Medical waste management. In: May-Hall CG, editor. Hospital epidemiology and infection control. 1ª ed. Baltimore: Williams & Wilkins; 1996. p. 1099-1108.

Page 88: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

88

REIS, R. S. Segurança e Medicina do Trabalho: normas regulamentadoras. São Caetano do Sul: Yendis, 2015. RIBEIRO, H. et al. Coleta seletiva com inclusão social: cooperativismo e sustentabilidade. São Paulo: Annablume, 2009. RIBEIRO, J. X. P. Princípios cooperativistas na percepção dos associados: estudo em uma cooperativa de crédito de Minas Gerais. Dissertação (Mestrado acadêmico em Administração) - Faculdade Novos Horizontes, Minas Gerais: Belo Horizonte, 2012. RIOS, G. S. L. O que é cooperativismo. São Paulo: Brasiliense, 2007. SANTOS, F. R. A colonização da terra do Tucujús. In: LEVI, G.; SCHMIDT. História do Amapá.2. ed. Macapá: Valcan, 1994. cap. 3, p. 15-24. SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO. Manuais de Legislação. 73.ed. São Paulo: Atlas, 2014. SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO. Manuais de Legislação. Atlas. 75.ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2015. SILVA, M. C. Lombalgia em adultos de Pelotas: prevalência e fatores de risco [Dissertação de mestrado]. Pelotas: Universidade Federal de Pelotas - UFPEL; 2002. SILVA, M. C.; FASSA, A. G.; VALLE, N. C. J. Dor lombar crônica em uma população adulta do sul do Brasil: prevalência e fatores associados. Cadernos de Saúde Pública 2004. SILVA, G. B.; COSTA, M. S. C. Estudo dos riscos ocupacionais e implementação de propostas em educação aos catadores de resíduos recicláveis do lixão em Parnaíba, PI. X Simpósio de Produção cientifica]. Disponível em: <http://www. yumpu.com/pt/document/view/12959186/estudodos-riscos-ocupacionais-e-implementacao-de-uespi>. Acesso em: 02 set. 2016. SINGER, P. Globalização e desemprego: diagnósticos e alternativas. São Paulo: Contexto, 1999.

______. Situação Social das Catadoras e dos Catadores de Material Reciclável e Reutilizável. Brasília: Ipea, 2013. SOUSA, C. M.; MENDES, A. M. (2006). Viver do lixo ou no lixo? A relação entre saúde e trabalho na ocupação de catadores de material reciclável cooperativos no Distrito Federal - Estudo exploratório. Psicologia Organizações e Trabalho, 6: 13-42.

TROMBETA, L. R. O trabalho de catadores de materiais recicláveis: da precarização à organização do trabalho. Revista Pegada, São Paulo, v. 13, n. 1, p. 55-75, jun. 2012.

Page 89: SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE … · A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública

89

VELLOSO, M. P. Criatividade e resíduos resultantes da atividade humana: da produção do lixo à nomeação do resto [tese]. Rio de Janeiro (RJ): Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz; 2004.