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FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA
MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE E DO MEIO AMBIENTE
ALEXANDRE ROMERO AUGUSTO
SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE
MATERIAIS RECICLÁVEIS: FORMAÇÃO CONTINUADA EM
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
VOLTA REDONDA 2017
FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIA DE VOLTA REDONDA
MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE E DO MEIO AMBIENTE
SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO DE CATADORES DE
MATERIAIS RECICLÁVEIS: FORMAÇÃO CONTINUADA EM
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
Profissional em Ensino em Ciências da Saúde e do
Meio Ambiente, como requisito parcial à obtenção
do título de Mestre em Ensino em Ciências da Saúde
e do Meio Ambiente.
Aluno:
Alexandre Romero Augusto
Orientadora:
Prof.ª Dr.ª Rosana Aparecida Ravaglia Soares
Coorientador:
Prof. Dr. Ronaldo Figueiró Portella Pereira
Volta Redonda 2017
FICHA CATALOGRÁFICA
Bibliotecária: Alice Tacão Wagner - CRB 7/RJ 4316
R763s Romero, Alexandre Augusto.
Segurança e saúde no trabalho de catadores de materiais recicláveis:
formação continuada em educação ambiental. / Alexandre Augusto Romero.
- Volta Redonda: UniFOA, 2017. 83 p. Il.
Orientador(a): Profª Dra. Rosana Aparecida Ravaglia Soares Coorientador(a): Dr. Ronaldo Figueiró Portella Pereira Dissertação (Mestrado) – UniFOA / Mestrado Profissional em Ensino
em Ciências da Saúde e do Meio Ambiente, 2017. 1. Ciências da saúde - dissertação. 2. Reciclagem - trabalhos. 3. Educação
Ambiental. I. Soares, Rosana Aparecida Ravaglia. II. Pereira, Ronaldo Figueiró Portella. III. Centro Universitário de Volta Redonda. IV. Título.
CDD – 610
DEDICATÓRIA
A Deus por iluminar o meu caminho e
sustentar a minha vida, marcada por
conquistas e realizações diárias, que às vezes
não dou o devido valor, mas, sei que a graça
de Deus se faz presente em todos os
momentos de minha existência. Aos nossos
familiares, pela paciência, carinho,
companheirismo e compreensão diante
nossas ausências.
AGRADECIMENTOS
Eu, Alexandre Romero Augusto, agradeço a minha esposa Janice e aos meus
filhos Arthur e Ana Luíza pelos incentivos e apoio dado durante o Curso de Mestrado
Profissional em Ensino em Ciências da Saúde e do Meio Ambiente, a toda minha
família, mesmo que distantes, por sempre terem me apoiado a cada momento decisivo
de minha vida e dedicação aos estudos.
Agradeço a minha orientadora Prof.ª Dr.ª Rosana Aparecida Ravaglia Soares
pela extrema dedicação para elaboração de nossa pesquisa e desenvolvimento da
mesma, sempre com ideias inovadoras e criatividade. Buscando nossa interação com
muito entusiasmo, proporcionando todos encontros em um momento de aprendizado
e ensinamento, respeitando e acatando as opiniões com seriedade, ética,
determinação e muito profissionalismo. O meu muito obrigado, é pequeno ao tão
valioso trabalho em equipe que fizemos para chegar a este tão sonhado resultado.
Conquistamos outros valores como: união, respeito, cooperação, participação,
envolvimento e comprometimento. Tenho certeza que valeu a pena.
Agradeço aos docentes pelos valiosos ensinamentos transmitidos com muita
dignidade durante esta caminhada para nos tornar ainda mais críticos e cientes de
nosso papel na sociedade. Aos nossos colegas de turma pela convivência, troca de
experiência e apoio dado durante o curso. Aos funcionários do MECSMA por ajudarem
nosso sucesso acontecer... A todos vocês, o meu imenso agradecimento.
RESUMO
Este estudo visa a conscientização de segurança e as melhores condições de trabalho
para obras de reciclagem. Todas as mudanças propostas seguiram os Padrões
Regulatórios atuais de acordo com o assunto. O Brasil, apesar de ser uma das
maiores economias do mundo, tem uma das piores distribuições de renda, que levou
milhares de pessoas a sobreviver nas ruas, eliminando materiais recicláveis. Essa
atividade, expõe os catadores ao risco de acidentes, e é vista negativamente pela
sociedade em geral. A atividade é considerada como suja e perigosa, às vezes
contribuindo para dificultar e piorar a gestão pública de resíduos. Por outro lado,
quando organizados através de cooperativas ou associações de catadores de
reciclagem podem se tornar parceiros de programas institucionais de gerenciamento
seletivo de resíduos, o que, por sua vez, pode alterar esse perfil estigmatizado. O
estudo torna-se importante porque visa avaliar o gerenciamento seletivo de resíduos
como uma ação que pode integrar com sucesso as necessidades econômicas,
sociais, ocupacionais e ambientais de um município. A metodologia foi baseada na
coleta de informações pré-existentes no local com revisão da literatura, análise do
histórico sobre cooperativas no Brasil, pesquisa sociocultural e desenvolvimento de
estratégias educacionais e criação de um portfólio. Diante dos problemas encontrados
foram propostas várias melhorias e alguns programas de conscientização sobre
acidentes de segurança. Após a revisão da literatura e pesquisa de campo, foram
propostas algumas melhorias, bem como programas de conscientização que regem a
segurança e a saúde no trabalho. Como produto, foi desenvolvida a oficina HAD (Hoje,
Amanhã e Depois) em três etapas: na primeira, confeccionou-se a Caixa dos Desejos,
na segunda, estendeu-se o Varal das Queixas e, por fim, construiu o Plano de Ações,
sistematizando as demandas dos cooperados e dividindo o trabalho entre eles.
Palavras-chave: trabalhos de reciclagem, educação ambiental, segurança e saúde
no trabalho.
ABSTRACT
This study aims to raise safety awareness and better working conditions for recyclers.
All proposed changes follow the current Regulatory Standards according to the
subject. Brazil, despite being one of the largest economies in the world, has one of the
worst income distributions, which has caused thousands of people to survive on the
streets, eliminating recyclable materials. This activity exposes the collectors to the risk
of accidents and is viewed negatively by society in general. The activity is considered
as dirty and dangerous, sometimes contributing to hinder and worsen public waste
management. On the other hand, when organized through cooperatives or
associations of recyclers, they can become partners in selective waste management
institutional programs, which, in turn, can change this stigmatized profile. The study
becomes important because it aims to evaluate the selective waste management as
an action that can successfully integrate the economic, social, occupational and
environmental needs of a municipality. The methodology was based on pre-existing
information collection with literature review, historical analysis of cooperatives in Brazil,
socio-cultural research and development of educational strategies and creation of a
portfolio. In the face of the problems encountered, several improvements and some
awareness programs on safety accidents were proposed. After reviewing the literature
and field research, some improvements have been proposed as well as awareness
programs that govern safety and health at work. As a product, the HAD (Today,
Tomorrow and After) workshop was developed in three stages: in the first, the Desires
Box was developed, the second, the Complaints Handout was extended and, finally,
the Action Plan, systematizing the demands of the cooperative and dividing the work
between them.
KEYWORDS: recycle workes, environmental education, occupational safety and
health.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 15
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .......................................................................... 17
2.1. Teorias de Aprendizagem ............................................................................ 17
3. COOPERATIVISMO ........................................................................................... 21
3.1. História do Cooperativismo .......................................................................... 23
3.2. Sistema Cooperativista ................................................................................ 23
3.3. Cooperativismo no Brasil ............................................................................. 25
3.4. Princípios do Cooperativismo ....................................................................... 27
3.4.1. Os Sete Princípios do Cooperativismo: ................................................. 27
3.5. Cooperativa X Apelo Socioambiental ........................................................... 29
3.6. Catadores de Materiais reutilizáveis e recicláveis ........................................ 32
3.7. Cargas de Trabalho Aplicadas aos Catadores ............................................. 34
4. SAÚDE NA PERSPECTIVA DO COOPERATIVISMO........................................ 39
5. SEGURANÇA DO TRABALHO .......................................................................... 42
5.1. História da Segurança do Trabalho .............................................................. 42
5.2. Evolução Histórica da Segurança do Trabalho ............................................ 42
5.3. Definições aplicados à segurança do trabalho ............................................. 45
5.4. Normas Regulamentadoras ......................................................................... 46
5.4.1. NR6: EPI – Equipamento de Proteção Individual .................................. 48
5.4.2. NR9: PPRA - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais .............. 50
5.4.3. NR12: Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos ............. 50
5.4.4. NR15: Atividades e Operações Insalubres ............................................ 50
5.4.5. NR17: Ergonomia .................................................................................. 51
5.4.6. NR24: Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho ..... 51
5.5. Perigos e riscos nas atividades com resíduos sólidos ................................. 51
6. MEIO AMBIENTE NO CONTEXTO DOS CATADORES .................................... 55
6.1. Resíduos Sólidos Municipais ....................................................................... 55
6.2. Classificação dos Resíduos ......................................................................... 60
6.2.1. Decretos e Leis à atuação dos Catadores: ............................................ 62
7. EDUCAÇÃO ....................................................................................................... 64
8. METODOLOGIA ................................................................................................. 68
8.1. Desenvolvimento do Estudo ......................................................................... 68
8.2. Funcionamento da Cooperativa Reciclar VR ............................................... 71
9. RESULTADO E DISCUSSÃO ............................................................................ 74
9.1. Resultado ..................................................................................................... 75
9.1.1. Descrição ............................................................................................... 75
9.1.2. 1.ª Etapa - Caixa dos Desejos ............................................................... 76
9.1.3. 2.ª Etapa - Varal das Queixas ................................................................ 79
9.1.4. 3.ª Etapa - Plano de Ações .................................................................... 80
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 82
11. REFERÊNCIAS ............................................................................................... 84
LISTAS DE FIGURAS
Figura 1 - É essa a educação ambiental que não desejamos ................................... 20
Figura 2 - Equipamento de Proteção Individual – EPI ............................................... 49
Figura 3 - Aterro Sanitário ......................................................................................... 59
Figura 4 - Localização da Cooperativa Recicla VR, na cidade de Volta Redonda .... 69
Figura 5 - Materiais depositados para reciclagem ..................................................... 69
Figura 6 - Materiais depositados na área do Galpão ................................................. 70
Figura 7 - Vista frontal da Cooperativa ...................................................................... 71
Figura 8 - Caminhões da PMVR com materiais coletados ........................................ 72
Figura 9 - Materiais dispostos nas esteiras ............................................................... 72
Figura 10 - Prensas do local ...................................................................................... 73
Figura 11 - Confecção da Caixa dos Desejos ........................................................... 77
Figura 12 - Desejos escritos em pedaço de papel e depositado na Caixa dos
Desejos ..................................................................................................................... 77
Figura 13 - Desejos escritos e depositados na Caixa dos Desejos ........................... 78
Figura 14 - Fixação das peças no Varal das Queixas ............................................... 79
LISTAS DE QUADROS
Quadro 1 - Evolução Histórica da Segurança do Trabalho ......................................................... 43
Quadro 2 - Classificação dos resíduos sólidos .............................................................................. 61
LISTA DE SIGLAS
1. ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
2. ACI - Aliança Cooperativa Internacional
3. AIDS- Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
4. ASO - Atestado de Saúde Ocupacional
5. CA - Certificado de Aprovação
6. CEMPRE – Compromisso Empresarial para a Reciclagem
7. CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
8. CLT - Consolidação das Leis do Trabalho
9. CRL/VR – Centro de Recebimento de Lixo no município de Volta Redonda
10. CRM – Conselho Regional de Medicina
11. DDS – Diálogo Diário de Segurança
12. EPA - Environmental Protection Agency / Agência de Proteção Ambiental
13. EPI – Equipamento de Proteção Individual
14. EPR – Equipamento de Proteção Respiratória
15. INSS - Instituto Nacional do Seguro Social
16. IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
17. ISO (International Standards Organization)
18. MNCR - Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis
19. MPC - Medidas de Proteção Coletiva
20. MTE - Ministério do Trabalho e Emprego
21. NR – Normas Regulamentadoras
22. NBR - Norma Brasileira
23. OCA - Organização das Cooperativas da América
24. OCB - Organização das Cooperativas Brasileiras
25. OCESP – Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo
26. OMS - Organização Mundial de Saúde
27. ONU - Organização das Nações Unidas
28. PCMSO - Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
29. PEV - Ponto de Entrega Voluntária
30. PNRS- Política Nacional de Resíduos Sólidos
31. PPR - Programa de Proteção Respiratória
32. PPRA - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
33. SESMT - Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e Medicina do
Trabalho
34. SICREDI - Sistema de Crédito Cooperativo
35. SINMETRO - Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial
36. SMAC - Secretaria Municipal de Ação Comunitária
37. SSST - Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho
38. SUS – Sistema Único de Saúde
39. UBM - Universidade de Barra Mansa
40. UNICEF - United Nations Children's Fund / Fundo das Nações Unidas para a
Infância
15
1. INTRODUÇÃO
O contexto social no Brasil, que possui uma das piores distribuições de renda
do mundo, tem levado um número cada vez maior de pessoas como alternativa a
sobrevivência através da coleta de materiais recicláveis no lixo domiciliar em
instituições fabris, comércio etc.
Tal atividade, além da exposição aos riscos de acidentes, é vista negativamente
pela sociedade, em geral, por ser realizada de forma desorganizada, utilizando-se as
ruas e terrenos baldios para segregar e armazenar o material, dificultando o trabalho
do serviço público de limpeza. Por outro lado, ao se organizarem através de
cooperativas ou associações de catadores, tais trabalhadores podem se tornar
parceiros de programas institucionais de coleta seletiva e mudar este perfil
estigmatizado.
A importância do surgimento destes tipos de cooperativas e o
acompanhamento de sua gestão por parte da iniciativa pública e privada em seus
métodos de trabalhos possibilitam a geração de emprego e renda, resgate da
cidadania dos catadores e a redução de despesas com programas de coleta seletiva
nas instituições. Além disso, as cooperativas otimizam a organização do trabalho dos
catadores nas ruas, evitando os problemas na coleta do lixo, como o armazenamento
de materiais recicláveis em logradouros públicos, redução de despesas com coleta,
transferência e disposição final de resíduos separados.
Neste contexto, a pesquisa avaliou a coleta seletiva de lixo como uma ação que
pôde integrar com sucesso os interesses econômicos, sociais, ocupacionais e
ambientais. Os catadores vivem em contato direto com os resíduos, tornando-os
permanentemente sujeitos a acidentes com cacos de vidro, pregos, latas abertas ou
enferrujadas e frascos de aerossol, não esquecendo o risco à saúde, em decorrência
do contato com materiais contaminados descartados por hospitais ou pessoas
doentes. Dessa forma, ressalte-se a importância da inserção de uma metodologia
baseada na gestão de segurança e saúde ocupacional.
O trabalho não costuma ser fonte apenas de prazer, satisfação, subsistência,
mas pode também gerar doenças ocupacionais, aquelas diretamente relacionadas à
atividade desempenhada pelo trabalhador ou às condições de trabalho, às quais ele
está submetido e são decorrentes da exposição destes aos riscos da atividade que
16
desenvolve. Catar e coletar os materiais recicláveis pode expor o trabalhador a riscos
relacionados a características próprias da atividade e do contexto social em que estão
inseridos.
A Educação Ambiental tem sido muito abordada em paralelo à sua prática pelos
próprios educadores ambientais, face ao caráter interdisciplinar da área. Para a
construção do embasamento teórico a fim de compreender os problemas ambientais,
a Educação Ambiental Crítica deve ser instrumentalizada em bases pedagógicas, por
ser uma dimensão da educação, mas também lutar pela transformação das pessoas
e dos grupos sociais.
Nesse contexto, a pesquisa proposta pelo presente trabalho respondeu ao
questionamento: Como avaliar o comportamento dos catadores de materiais
recicláveis mediante a exposição dos eventos relacionados a acidentes ocorridos pela
falta de conhecimento relacionado a segurança no trabalho? A ação proposta
contribuiu para orientação e conscientização destes profissionais na atuação da
separação de materiais recicláveis?
Diante disso, este trabalho tem como objetivo geral identificar os fatores críticos
de segurança e saúde ocupacional, propondo melhorias e alternativas aos catadores
de materiais recicláveis no CRL/VR – Centro de Recebimento de Lixo no município de
Volta Redonda – RJ. Os objetivos específicos são:
a) Investigar os riscos ocupacionais do ambiente de trabalho da Cooperativa;
b) Sensibilizar os catadores de materiais recicláveis sobre a importância do uso de
EPI;
c) Fornecer solução prática através de “oficinas” com material de auxílio para
conscientização e motivação.
Portanto, o trabalho buscou verificar a incidência de acidentes dos
catadores que trabalham nesta cooperativa de Volta Redonda, bem como
conhecer algumas características desta categoria, tais como o nível de
escolaridade, as condições de trabalho, higiene e os perigos enfrentados durante
a realização de suas atividades.
17
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. Teorias de Aprendizagem
Para fundamentação teórica deste projeto, foi abordada a Pedagogia Crítica,
Dialógica e Conscientizadora baseada em Paulo Freire, além da abordagem temática
relativa ao tema.
A pedagogia proposta por Paulo Freire, também conhecida como pedagogia
libertadora, consiste na educação voltada para a conscientização da opressão, que
permitiria a consequente ação transformadora e parte da concepção de que o ato de
conhecer não é uma doação do educador, mas um processo que se estabelece no
contato do educando com o mundo vivido, lembrando que este se encontra em
continua transformação. Ainda mais, a relação entre educador e educandos e destes
entre si é dialógica: e o diálogo, como sabemos, supõe troca, não imposição. Essa
postura permite que o conhecimento adquirido seja crítico, porque autenticamente
reflexivo, implicando o constante desvelamento da realidade para nela se posicionar.
“O importante na educação libertadora, é que os homens se sintam sujeitos de seu pensar, discutindo o seu pensar, sua própria visão de mundo, manifestada implícita ou explicitamente, nas suas sugestões e nas de seus companheiros” (FREIRE, 1982, p. 141).
Coerente com estes princípios, o método de alfabetização não se reduz a mera
técnica, que o professor conheceria de antemão. Ao contrário, ele precisa do
educando, para saber o que lhe interessa e o motiva. Por isso Freire recomenda o
levantamento do universo vocabular dos grupos, a fim de escolher palavras
geradoras, que certamente variam conforme o lugar.
“A alfabetização de adultos, para que não seja puramente mecânica e memorizada, o que há de fazer é proporcionar-lhes que se conscientizem para se alfabetizarem" (FREIRE, 1971, p. 120).
Ao longo das mais diversas experiências de Paulo Freire pelo mundo, o
resultado sempre se apresentou ao autor. A pessoa iletrada chega humilde e culpada,
mas aos poucos descobre com orgulho que também é um fazedor de cultura e, mais
18
ainda, que a condição de inferioridade não se deve à sua incompetência, mas à sua
humanidade roubada.
O método de Paulo Freire pretende superar a dicotomia entre teoria e prática:
no processo, quando o indivíduo descobre que sua prática supõe um saber, conclui
que, de certa maneira, conhecer é interferir na realidade. Percebendo-se como sujeito
da história, toma a palavra daqueles que até então detêm seu monopólio. Alfabetizar
é, em última instância, ensinar o uso da palavra. Podendo permear com o estudo de
E. A. C. - Educação Ambiental Crítica e os autores como Guimarães, Layargues e
Loureiro, além da abordagem temática relativa ao tema.
“A Educação Ambiental Crítica objetiva promover ambientes educativos de mobilização desses processos de intervenção sobre a realidade e seus problemas socioambientais, para que possamos nestes ambientes superar as armadilhas paradigmáticas e propiciar um processo educativo, em que nesse exercício, estejamos, educandos e educadores, nos formando e contribuindo, pelo exercício de uma cidadania ativa, na transformação da grave crise socioambiental que vivenciamos todos” (Guimarães, 2004).
A contribuição destes autores e a concepção da Educação Ambiental Crítica
colaboram para a construção e elaboração da oficina, que tem por objetivo a
conscientização e identificação dos fatores críticos de segurança e saúde ocupacional
na busca do aprofundamento das atividades, além da abordagem conceitual,
utilizaremos a prática para desenvolver o conhecimento e transformação da realidade
dos problemas socioambientais na cooperativa.
De acordo com Guimarães (2004, p. 3) a E. A. C. "(...) primeiro lugar, a desvelar
esses embates presentes, para que numa compreensão (complexa) do real se
instrumentalize os atores sociais para intervir nessa realidade".
“Mas apenas o desvelamento não resulta automaticamente numa ação diferenciada, é necessária a práxis, em que a reflexão subsidie uma prática criativa e essa prática dê elementos para uma reflexão e construção de uma nova compreensão de mundo. Mas esse não é um processo individual, mas que o indivíduo vivencia na relação com o coletivo em um exercício de cidadania, na participação em movimentos coletivos conjuntos de transformação da realidade socioambiental” (GUIMARÃES, 2004).
A Educação Ambiental Crítica procura ampliar o olhar dos educandos e
favorece a reflexão dos papéis sociais de todos envolvidos no processo da crise
ambiental. O educando, através do olhar crítico é capaz de analisar quais são as
causas das crises ambientais. Todavia, as pessoas necessitam de liberdade de
19
pensar e que elas possam, após um primeiro contato interagir com os conhecimentos
apreendidos, constituindo opiniões que se apropriem dos saberes necessários para
uma existência social ativa e participante.
A partir desta concepção, percebemos que a Educação Ambiental Crítica tem
como proposta a inserção no processo educativo, contribuindo numa mudança social,
assumindo uma proposta de mudança cultural e política. Portanto, na educação
formal, certamente esse processo educativo não ocorre somente dentro da
Universidade, e sim processo de troca de experiências e saberes entre educadores e
educandos na sociedade. Estabelecem um comportamento ecológico e ambiental
consciente mediante a crise atual em que vivemos.
"A Educação Ambiental é uma dimensão do processo educativo voltada para a participação de seus atores, educandos e educadores, na construção de um novo paradigma que contemple as aspirações populares de melhor qualidade de vida socioeconômica e um mundo ambientalmente sadio” (GUIMARÃES, 1995, p. 14-15).
Guimarães (2004) ao defender uma Educação Ambiental Crítica de acordo com
a leitura crítica de Paulo Freire, subsidiada pela Teoria Crítica, embasado na
compreensão de Educação Ambiental e a inserção desta no processo de
transformação da realidade, por ele designada socioambiental. O autor defende em
seu estudo o desenvolvimento de uma educação formal, que realize uma interface
entre a Educação Ambiental e a Educação Popular, de forma a propor o
desenvolvimento de uma ação pedagógica da Educação Ambiental Crítica através de
projetos que se voltem para além das salas de aula.
De acordo com Loureiro (2004) trata-se de uma Educação Ambiental que se
origina no escopo das pedagogias críticas e emancipatórias, especialmente dialéticas,
em suas interfaces com a chamada teoria da complexidade, visando um novo
paradigma para uma nova sociedade.
Loureiro (2004) ainda sinaliza que a vertente transformadora da Educação
Ambiental, no Brasil, está alicerçada, com relação às suas bases teóricas e
metodológicas, na pedagogia de Paulo Freire. Assim, seu estudo tem o intuito de
evidenciar as especificidades de uma Educação Ambiental Transformadora até se
chegar às diferenciações, para fins didáticos, da Educação Ambiental Convencional.
Fornece um percurso que facilite a compreensão daquela, em seus pontos de
distinção e semelhança com as demais vertentes tendo um novo patamar de
20
compreensão do processo educativo. Isso permite aproximações com uma
perspectiva Crítico-Transformadora de EA, ao prever mudança cultural e mudança
social mediante processos coletivos pautados no diálogo, na problematização do
mundo e na ação.
No contexto da construção de metodologias para a ação educativa ambiental e
com base nas ideias de Layrargues (1999), que advoga a favor dos temas ambientais
como geradores da formação crítica, os quais devem ser tomados como ponto de
partida para análises críticas da realidade “socioambiental”, com vistas a superar o
caráter informativo em busca de uma educação preocupada com a formação do
sujeito ecológico.
“A possibilidade de articular a metodologia da pesquisa-ação com a resolução
de problemas ambientais locais permite evitar que o risco do reducionismo
contamine a prática educativa, não se restringindo a mera resolução do
problema abordado” (LAYRARGUES, 1999, p. 08).
A figura 1 ilustra esse fim provisório em relação ao assunto. A educação
ambiental que não é desejada, a educação ambiental conservadora, que por exemplo,
ensina a realizar a separação dos tipos de lixo, como na coleta seletiva de lixo, mas
não a entender a complexidade e a verdadeira origem dos problemas
socioambientais.
Figura 1 - É essa a educação ambiental que não desejamos Fonte: Blog Educação Ambiental Crítica
21
3. COOPERATIVISMO
Origina-se da palavra cooperação. É uma doutrina cultural e socioeconômica,
fundamentada na liberdade humana e nos princípios cooperativos. A cultura
cooperativista busca desenvolver a capacidade intelectual das pessoas de forma
criativa, inteligente, justa e harmônica, visando a sua melhoria contínua. Os seus
princípios buscam, pelo resultado econômico e o desenvolvimento social, ou seja, a
melhoria da qualidade de vida.
Com essas novas posturas frente à questão dos resíduos, pode-se observar
que uma política de desenvolvimento sustentável ambiental e social começa a ser
apresentada. Nessa política, os desempregados e trabalhadores do setor informal da
economia se organizam em empreendimentos solidários auto gestionários
(cooperativas), intensificando a educação ambiental junto à população e construindo
uma nova alternativa de geração de trabalho, renda e beneficiamento de materiais
recicláveis.
"O cooperativismo é um movimento, uma filosofia de vida e um modelo socioeconômico capaz de unir desenvolvimento econômico e bem-estar social. Seus referenciais fundamentais são: participação democrática, solidariedade, independência e autonomia." (ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS - OCB).
Os conceitos que identificam e são intrínsecos ao cooperativismo são:
a) Cooperar – unir-se a outras pessoas para conjuntamente enfrentar
situações adversas, no sentido de transformá-las em oportunidade e bem-estar
econômico e social.
b) Cooperação – método de ação pelo qual indivíduos ou familiares com
interesses comuns constituem um empreendimento. Os direitos são iguais para
todos e o resultado alcançado é repartido somente entre os integrantes, na
proporção da participação de cada um.
22
c) Sócios – indivíduo, profissional, produtor de qualquer categoria ou
atividade econômica que se associa a uma cooperativa para exercer atividade
econômica ou adquirir bens de consumo e/ou duráveis.
O conceito de cooperativa de acordo com Rios (2007, p. 20) preconiza que, as
cooperativas são um tipo de empreendimento em que o motivo de “serviço” substitui
o “lucro” em que o grupo “proprietário usuário” substitui o “intermediário”. Pode-se
definir uma cooperativa como uma associação voluntária com fins econômicos,
podendo nela ingressar os que exercem uma mesma atividade. Para Soares (2006,
p. 21) “cooperativa é uma associação autônoma de pessoas que se unem
voluntariamente para satisfazerem aspirações e necessidades econômicas, sociais e
culturais comuns, por meio de uma empresa de propriedade coletiva e
democraticamente gerida”. Estes dois conceitos convergem, de certo modo, quanto à
definição do conceito de cooperativa como empreendimento ou associação de
pessoas que se unem para satisfazer suas necessidades e aspirações comuns. Mas
percebe-se que existem cooperativas que extrapolam este conceito, como é o caso
de cooperativas que nascem no seio de organizações sociais e são motivadas por
necessidades que vão para além do financeiro. Como exemplo citam-se as
cooperativas de produtores rurais de áreas de reforma agrária e as cooperativas de
mulheres camponesas. Assim, a cooperativa é uma das formas de organização dos
trabalhadores
De acordo com Layargues (2002, p. 180), a permanência da falta de suportes
sociais relativos à atividade laboral dos catadores é, assim, reforçada pela inexistência
de políticas que transformem as carências e vulnerabilidades em direitos sociais
relativos ao trabalho e à condição urbana dos catadores. Isto se dá em decorrência
de não se conseguir consolidar e disseminar uma política que vá além das dispersas
e isoladas iniciativas de criação de cooperativas e associações de catadores, as quais
não chegam se converter em articulações maiores e mais coesas.
Mesmo que dotadas de significativa importância no interior de um processo de
organização conforme visto antes, as iniciativas de associar e cooperativar os
catadores em grupos de produção distanciados uns dos outros não são capazes de
transformar os processos de trabalho e de organização dos catadores numa política
pública que contemple a dimensão social da cadeia produtiva de reciclagem de
materiais.
23
3.1. História do Cooperativismo
O cooperativismo surge no século XVI na Inglaterra devido o advento da
Revolução Industrial. Com a Revolução Industrial a utilização de maquinários no lugar
de mão de obra operária fez emergir grande número de desempregados, e uma
alternativa desenvolvida pelos trabalhadores à situação de desemprego foi o trabalhar
no modelo de cooperativista (SINGER, 1999 p. 23).
Em 21 de dezembro de 1844 no bairro de Rochdale, em Manchester
(Inglaterra), 27 tecelões e uma tecelã fundaram a "Sociedade dos Probos Pioneiros
de Rochdale" com o resultado da economia mensal de uma libra de cada participante
durante um ano (FRANZONI, 1996). Tendo o homem como principal finalidade, e não
o lucro, os tecelões de Rochdale buscavam naquele momento uma alternativa
econômica para atuarem no mercado, frente ao capitalismo ganancioso que os
submetiam a preços abusivos, exploração da jornada de trabalho de mulheres e
crianças (que trabalhavam até 16h) e do desemprego crescente advindo da revolução
industrial. Naquele momento a constituição de uma pequena cooperativa de consumo
no então chamado "Beco do Sapo" (Toad Lane) estaria mudando os padrões
econômicos da época e dando origem ao movimento cooperativista. Tal iniciativa foi
motivo de deboche por parte dos comerciantes, mas logo no primeiro ano de
funcionamento o capital da sociedade aumentou para 180 libras e cerca de dez mais
tarde o "Armazém de Rochdale" já contava com 1.400 cooperantes. O sucesso dessa
iniciativa passou a ser um exemplo para outros grupos.
O cooperativismo evoluiu e conquistou um espaço próprio, definido por uma
nova forma de pensar o homem, o trabalho e o desenvolvimento social. Por sua forma
igualitária e social o cooperativismo é aceito por todos os governos e reconhecido
como fórmula democrática para a solução de problemas socioeconômicos e de
libertação do trabalhador dos vínculos patrimoniais.
3.2. Sistema Cooperativista
De acordo com Araújo e Silva (2011, p. 15) uma importante particularidade das
cooperativas é o ato cooperativo; somente através dele esses empreendimentos
podem legitimar a relação cooperativista com o quadro social, com a finalidade única
de tornar vantajosa a participação econômica dos associados em algo que eles não
24
teriam fora de uma cooperativa, uma vez que elas eliminam atravessadores, reduzem
custos, customizam produtos e serviços, oferecem suporte às operações financeiras,
além da tributação ser reduzida para esses atos.
“Denominam-se atos cooperativos os praticados entre as cooperativas e seus associados, entre estes e aquelas e pelas cooperativas entre si quando associados, para a consecução dos objetivos sociais. Parágrafo único. O ato cooperativo não implica operação de mercado, nem contrato de compra e venda de produto ou mercadoria” (BRASIL,1971).
A valorização da união entre as cooperativas existe desde o seu surgimento, e
hoje elas estão organizadas internacionalmente. A entidade que coordena esse
movimento nos cinco continentes é a Aliança Cooperativa Internacional - ACI. Criada
em 1895 e atualmente sediada em Genebra, Suíça, essa associação não
governamental e independente reúne, representa e presta apoio às cooperativas e
suas correspondentes organizações objetivam a integração, autonomia e
desenvolvimento do cooperativismo. (ACI – Aliança Cooperativa Internacional...,
2016)
Em 1946 o movimento cooperativista representado pela A. C. I. - Aliança
Cooperativa Internacional foi uma das primeiras organizações não governamentais a
ter uma cadeira no Conselho da ONU - Organização das Nações Unidas. (ACI –
Aliança Cooperativa Internacional..., 2016)
Desde 16 de Setembro de 1997, para nosso orgulho, foi eleito presidente da A.
C. I., o brasileiro, produtor agrícola e professor - Roberto Rodrigues. Primeiro não
europeu a assumir o cargo principal em 103 anos de existência da organização.
Quando no Brasil, a sede do presidente da A. C. I. fica também nas dependências da
Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (OCESP). (ACI – Aliança
Cooperativa Internacional..., 2016)
No âmbito do continente americano essa articulação é feita hoje pela
Organização das Cooperativas da América - OCA fundada em 1963. Essa entidade
tem sua sede na cidade de Bogotá, Colômbia, e integra as representações de vinte
países, incluindo o Brasil. (ACI – Aliança Cooperativa Internacional..., 2016)
25
3.3. Cooperativismo no Brasil
As cooperativas no Brasil, começaram a surgir a partir de 1889, em Minas
Gerais, enquanto a mais antiga em atividade está no Rio Grande do Sul.
Segundo Carvalho (2013, p. 41) o cooperativismo aparece no Brasil no século
XIV, com o surgimento de cooperativas de militares e funcionários públicos que
visavam suprir necessidades específicas; desde então o desenvolvimento deste
sistema socioeconômico teve crescimento contínuo, sendo apresentado nas mais
diversas formas de cooperativas, seja de crédito, de saúde, de trabalho etc.
O cooperativismo tem a representação política, que é organizada da seguinte
forma: Aliança Cooperativa Internacional (ACI); ACI Américas; Organização das
Cooperativas Brasileiras (OCB); Serviço Nacional de Aprendizagem do
Cooperativismo (Sescoop Nacional); Organização das Cooperativas Estaduais
(OCE’s). A representação de todo o sistema cooperativista nacional cabe à OCB, que
se institucionalizou legalmente através da lei federal 5.764/71, de 16/12/1971
(OCEMG, 2010, p.8).
“Política Nacional do Cooperativismo que institui o sistema jurídico das sociedades cooperativas: “Cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil não sujeitas à falência, constituídas para prestar serviços aos associados” Lei 5.764/1971.
O crescimento desta forma de organização foi consolidado no país através da
promulgação da Lei n.º 5.764 de 16 de dezembro de 1971, que definiu a Política
Nacional de Cooperativismo, sob o qual estão todas as cooperativas formalizadas
criadas no Brasil.
As primeiras iniciativas cooperativistas no Brasil surgiram pouco tempo depois
que o movimento despertou no mundo. Passados menos de 50 anos da criação da
primeira cooperativa, na Inglaterra, em 844, os brasileiros registram formalmente a
sua pioneira. Em Minas Gerais, foi formalizada a Sociedade Cooperativa Econômica
dos Funcionários Públicos de Ouro Preto, no ano de 889. Assim como os tecelões de
Rochdale, os precursores brasileiros eram cooperados de consumo, mas a Sociedade
Cooperativa oferecia produtos diversificados, desde gêneros alimentícios até
residências e crédito.
26
A partir da organização mineira, outras rapidamente surgiram pelo País. No
início do movimento, muitas cooperativas eram formadas por funcionários públicos,
militares, profissionais liberais e operários, que juntos buscavam atender melhor às
suas necessidades. Outras estavam vinculadas a empresas, as quais estimulavam a
cooperação entre os funcionários, principalmente no Estado de São Paulo (BRASIL,
2006).
Ainda no século XIX, nasciam as organizações que se tornaram destaques do
cooperativismo brasileiro: as agropecuárias. A primeira registrada foi a Società
Cooperativa delle Convenzioni Agricoli, fundada no Rio Grande do Sul, na região de
Veranópolis, em 89. A partir daí esse segmento se desenvolveu com vigor no Sul do
País, estimulado por imigrantes europeus e asiáticos, que traziam dos seus
continentes o conhecimento da doutrina e buscavam a união para amenizar as
dificuldades de começar vida nova longe da terra natal (BRASIL, 2006).
Por volta de 90, o setor agropecuário ganhou impulso também em Minas
Gerais, no Sudeste do Brasil, quando as cooperativas foram incentivadas pelo então
governador João Pinheiro, que buscou organizar a produção e a comercialização do
café (BRASIL, 2006).
Porém, a cooperativa mais antiga ainda em funcionamento no Brasil é do ramo
de crédito. Em 90, ela foi idealizada pelo padre jesuíta suíço Theodor Amstad, grande
conhecedor do sistema cooperativo europeu. Era formada por colonos de origem
alemã que habitavam Nova Petrópolis, no Rio Grande do Sul. A organização nasceu
com o nome de Sociedade Cooperativa Caixa de Economia e Empréstimos de Nova
Petrópolis e desde 99 adota a denominação Sicredi Pioneira, pois integra o Sistema
de Crédito Cooperativo – Sicredi (BRASIL, 2006).
Portanto, foi no início dos anos 90 que o cooperativismo começou a se delinear
no Brasil, influenciado pela religiosidade e pelo pensamento político dos imigrantes.
O movimento seguiu principalmente o chamado “modelo alemão”, que defendia a
educação cooperativista para estimular a solidariedade entre as pessoas, a união de
todo o sistema na defesa dos interesses comuns e a distinção entre o cooperativismo
e a economia de mercado, sendo o primeiro marcado pelo comprometimento com a
justiça social (BRASIL, 2006).
27
3.4. Princípios do Cooperativismo
O Brasil é filiado à Aliança Cooperativa Internacional (ACI) desde 1989. Em
1992, o País começou a participar da direção da entidade, quando o então presidente
da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Roberto Rodrigues, foi eleito
presidente da ACI Américas, o que lhe conferia automaticamente o cargo de vice-
presidente. Em 1997, Rodrigues foi o primeiro não-europeu a assumir o cargo de
presidente mundial da ACI, ocupando a função até 2001. Rodrigues é também autor
do sétimo princípio do cooperativismo, que prega o “interesse pela comunidade”.
3.4.1. Os Sete Princípios do Cooperativismo:
Para Soares (2006, p. 21), estes são os princípios que norteiam as práticas das
cooperativas: adesão livre e voluntária, gestão democrática e livre, autonomia e
independência, educação, treinamento e informação, cooperação entre as
cooperativas, e preocupação com a comunidade.
As principais características da empresa cooperativa, citadas são:
“Propriedade, gestão e repartição comum. A propriedade significa que estamos diante de uma associação de pessoas e não do capital, a segunda significa que o poder de decisão final é da assembleia geral a repartição coletiva indica que a distribuição das sobras se faz segundo a participação dos sócios” (RIOS, 2007, p. 18).
a) Adesão voluntária e livre
As cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas
aptas a utilizar os seus serviços e a assumir as responsabilidades como membros,
sem discriminações de sexo, sociais, raciais, políticas e religiosas (OCB, 2004).
b) Gestão democrática e livre
As cooperativas são organizações democráticas, controladas pelos seus
membros, que participam ativamente na formulação das suas políticas e na tomada
de decisões. Os homens e as mulheres, eleitos como representantes dos demais
membros, são responsáveis perante estes. Nas cooperativas de primeiro grau, os
28
membros têm igual direito de voto (um membro, um voto); as cooperativas de grau
superior são também organizadas de maneira democrática (OCB, 2004).
c) Participação econômica dos membros
Os membros contribuem equitativamente para o capital das cooperativas e
controlam-no democraticamente. Parte desse capital é, normalmente, propriedade
comum da cooperativa. Os membros recebem, habitualmente, se houver uma
remuneração limitada ao capital integralizado, como condição de sua adesão (OCB,
2004). E destinam os excedentes a uma ou mais das seguintes finalidades:
1) Desenvolvimento das suas cooperativas, eventualmente através da criação
de reservas, parte das quais, pelo menos uma, será indivisível;
2) Benefício aos membros na proporção das suas transações com a
cooperativa;
3) Apoio a outras atividades aprovadas pelos membros.
d) Autonomia e independência
As cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua,
controladas pelos seus membros. Se firmarem acordos com outras organizações,
incluindo instituições públicas, ou recorrerem à capital externo, devem fazê-lo em
condições que assegurem o controle democrático pelos seus membros e mantenham
a autonomia da cooperativa (OCB, 2004).
e) Educação, formação e informação
As cooperativas promovem a educação e a formação dos seus membros, dos
representantes eleitos e dos trabalhadores, de forma que estes possam contribuir,
eficazmente, para o desenvolvimento das suas cooperativas. Informam o público em
geral, particularmente os jovens e os líderes de opinião, sobre a natureza e as
vantagens da cooperação (OCB, 2004).
29
f) Inter cooperação
As cooperativas servem de forma mais eficaz os seus membros e dão mais
força ao movimento cooperativo, trabalhando em conjunto através das estruturas
locais, regionais, nacionais e internacionais (OCB, 2004).
g) Interesse pela comunidade
As cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das suas
comunidades através de políticas aprovadas pelos membros (OCB, 2004).
3.5. Cooperativa X Apelo Socioambiental
Parte do lixo depositado nos lixões e aterros se transforma rapidamente em
renda para famílias inteiras, levando inclusive crianças para o trabalho nesse
ambiente hostil. Sem organização, muitas dessas famílias e dessas crianças passam
a ser exploradas por empresas privadas e empreendedores individuais que atuam
com a revenda de material reciclável. Nesse contexto se destaca a importância social
das cooperativas, como uma forma de organizar os catadores de forma que elas
possam ganhar pela sua própria produção, sem ter seu trabalho duro explorado, além
de ser uma forma de tirar as crianças desse mercado de trabalho tão duro quanto
perigoso. Através da organização de cooperativas de catadores o setor público
também passa a atuar nesse meio, possibilitando a inserção de projetos sociais e
ações de saúde, promovendo uma melhor qualidade de vida para essas pessoas.
Analisando os sentidos atribuídos pelos sujeitos às suas vivências e práticas sociais
(GODOY, 2006).
Um gerenciamento adequado dos resíduos sólidos, eficaz e eficiente, é
imperioso para o controle ambiental e, consequente, promoção da qualidade de vida
das populações, sendo necessária uma ação articulada dos diversos segmentos
envolvidos no processo, desde a produção de bens e produtos até o consumidor final,
mediados pelo Estado e com controle social (OLIVEIRA, 2011, p.39).
Constatados danos causados ao meio ambiente e à saúde do homem pelo
modo de geração e gerenciamento inadequados de resíduos sólidos, Poder Público e
sociedade vêm procurando meios de minimizar a degradação da natureza e aumentar
30
o bem-estar dos cidadãos. Assim, buscando solucionar esse problema, uma série de
referenciais técnicos foi criada por gestores governamentais, com a colaboração de
segmentos da sociedade civil, para enfrentar as questões relacionadas aos resíduos
sólidos (OLIVEIRA, 2011, p.40).
Com esse desejo, faz-se necessário instituir uma ampla rede de instrumentos
legais, elaborada com a participação de vários segmentos sociais, pois a
responsabilidade no planejamento, normatização e organização dos serviços públicos
de limpeza urbana, manejo dos resíduos sólidos e a preservação do meio ambiente é
dever de todos. Bem verdade que já há algumas louváveis iniciativas sendo feitas,
mas ainda existe muito a fazer. É fundamental o atendimento aos dispositivos legais
para o equacionamento dos problemas existentes (OLIVEIRA, 2011, p.40).
O Poder Público, de livre iniciativa ou sob pressões sociais, tem evidenciado
sua preocupação com o meio ambiente e a saúde humana criando leis, regulamentos,
decretos, portarias e normas sobre a gestão dos resíduos sólidos (desde a sua
geração, descarte, acondicionamento, coleta, transporte, transbordo,
armazenamento, tratamento, beneficiamento e disposição final). Tais instrumentos
legais regulam o comportamento de todos, inclusive do próprio Poder Público, dos
seus gestores, das empresas públicas e privadas, e dos consumidores, objetivando
gerir de forma ambientalmente adequada os resíduos sólidos, por meio de preceitos
de regulação, controle e fiscalização (OLIVEIRA, 2011, p.40).
No contexto de certezas sobre os danos socioambientais causados pelos
resíduos sólidos e da responsabilidade de toda a sociedade pela preservação
ambiental e promoção da saúde, começou-se a instaurar uma consciência ambiental
sobre a necessidade urgente de implantação de políticas ambientais que promovam
mudança das práticas degradadoras há muito exercidas (OLIVEIRA, 2011, p.40).
A crescente geração de resíduos e sua destinação inadequada são grandes
problemas atuais, e a atuação do catador junto ao poder público é fundamental para
um gerenciamento sustentável e seguro desses materiais (LIXO E CIDADANIA, 2013,
p. 30).
O acelerado processo de urbanização, aliado ao consumo crescente de
produtos descartáveis, provocou sensível aumento do volume e diversificação do
resíduo gerado, além da sua concentração espacial. Desse modo, o encargo de
gerenciá-lo de forma sustentável e segura deve ser encarado como prioridade por
todos os municípios que enfrentam o desafio da geração de resíduos em grandes
31
quantidades, como também pelas comunidades pequenas e médias que precisam
encontrar soluções que preservem suas fontes de água (LIXO E CIDADANIA, 2013,
p. 30).
A produção de resíduos é um fenômeno inevitável que ocorre em quantidades
e composições variáveis conforme o nível de desenvolvimento econômico, a
população e seus diferentes estratos sociais. Os sistemas de limpeza urbana devem
promover a coleta, o tratamento e a destinação ambiental e sanitária de forma correta
e segura – tarefa que enfrenta limitações de ordem financeira, deficiência na
capacitação técnica e profissional, descontinuidade política e administrativa e
ausência de controle ambiental, entre outros grandes desafios (LIXO E CIDADANIA,
2013, p. 30).
O Plano Municipal de Gestão de Resíduos Sólidos (Referência), obrigatório a
todos os municípios a partir de agosto de 2012, é o documento que descreve as ações
relativas ao manejo dos resíduos sólidos, contemplando os aspectos de geração,
segregação, acondicionamento, coleta (convencional ou seletiva), armazenamento,
transporte, tratamento, disposição final e proteção à saúde pública (LIXO E
CIDADANIA, 2013, p. 31).
O diagnóstico da situação e a definição das ações são essenciais para se
determinar o modelo de gerenciamento para o município, que só pode ocorrer após o
levantamento da dimensão atual do problema e respectivos prognósticos, como
também dos recursos humanos, materiais e financeiros de que se dispõe ou que
poderão ser obtidos (LIXO E CIDADANIA, 2013, p. 31).
No gerenciamento integrado os prefeitos e representantes devem estimular a
diminuição da geração de resíduos; implementar pesquisas de tecnologias não
agressivas ao ambiente e compatíveis com a realidade socioeconômica; assegurar a
recuperação e a descontaminação de áreas degradadas; desenvolver programas de
Educação Ambiental; implantar unidades de destinação final de resíduos que
minimizem os impactos ambientais; fazer o controle adequado do transporte e
transbordo de resíduos e materiais perigosos; adotar programas de cooperação com
outras esferas de governo; atualizar a taxa de limpeza urbana visando ao custeio da
coleta e ao destino final dos resíduos sólidos domiciliares; e investir na fiscalização e
no controle ambiental para impedir a disposição inadequada de resíduos (LIXO E
CIDADANIA, 2013, p. 31).
32
Das responsabilidades das prefeituras mais diretamente relacionadas aos
catadores, constam a elaboração de um plano de gerenciamento integrado de
resíduos sólidos com a inclusão de catadores; a redução de resíduos por meio de
programas de pré-seleção, reciclagem e reutilização; e o reconhecimento, a
capacitação e o apoio às organizações de catadores de materiais recicláveis (LIXO E
CIDADANIA, 2013, p. 32).
A atuação dos catadores junto ao poder público no que toca a esses três itens
dá-se pelos seguintes motivos: primeiro, porque o plano de gerenciamento deve
apresentar uma frente de coleta seletiva na qual os catadores são os principais
agentes; segundo, porque a diminuição da disposição de resíduos por meio do
estabelecimento de pré-seleção pode ser entendida como segregação, triagem,
acondicionamento e posterior venda do que é reciclável, atividades que competem
aos catadores; e, por fim, o reconhecimento e a valorização dos catadores de
materiais recicláveis e sua inclusão social só podem ser conseguidos com a
participação ativa da categoria (LIXO E CIDADANIA, 2013, p. 32).
É com o trabalho dos catadores que tem início todo um processo de reciclagem
de resíduos domiciliares no Brasil. O UNICEF - United Nations Children's Fund / Fundo
das Nações Unidas para a Infância estima que eles sejam responsáveis por mais de
60% do papel e papelão reciclado no país, bem como por 90% do material que
alimenta as indústrias de reciclagem, fazendo do Brasil um dos maiores recicladores
de alumínio do mundo, por exemplo. Os catadores encaminham para a reciclagem
mais de 20% dos resíduos sólidos urbanos. Conforme assinalado em publicação do
CEMPRE - Compromisso Empresarial para a Reciclagem, a importância dos
catadores de recicláveis fica mais perceptível por diminuírem as despesas da
prefeitura com o recolhimento do lixo e a quantidade que chega aos aterros ou lixões.
A iniciativa do UNICEF contribuiu para trazer à discussão pública a situação daqueles
que sobrevivem do lixo na realidade brasileira (CAMPANI, et al, 2005).
3.6. Catadores de Materiais reutilizáveis e recicláveis
O meio de sobrevivência com materiais recicláveis é reconhecido como
atividade que interfere diretamente no processo saúde-doença dos trabalhadores.
Apresenta a possibilidade de trazer danos a sua saúde, pois estes podem adoecer ou
33
morrer por consequência da profissão ou condições adversas em que seu trabalho é
ou foi realizado.
Os catadores de materiais recicláveis são verdadeiros agentes ambientais. Eles
são responsáveis por grande parte de todo o material que as indústrias de reciclagem
operam no Brasil. Permitem, por exemplo, que o País seja o maior "reciclador" de
alumínio do mundo (CALDERONI, 2003).
As pessoas catadoras de materiais recicláveis e reutilizáveis desempenham
papel fundamental na implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS), com evidência à gestão integrada dos resíduos sólidos. De maneira geral,
atuam nas atividades da coleta seletiva, triagem, classificação, processamento e
comercialização dos resíduos reutilizáveis e recicláveis, colaborando de forma
significativa à cadeia produtiva da reciclagem.
A manipulação dos resíduos sólidos pode expor o trabalhador que cata e coleta
materiais recicláveis a riscos de ordem química, física, biológica, social, ergonômica
e mecânica, interferindo na saúde.
Os catadores possuem muitos conhecimentos específicos e habilidades para
identificar, coletar, separar e vender resíduos recicláveis; “garimpam” no lixo o
desperdício de recursos naturais, que retornam ao processo produtivo como matéria-
prima secundária.
Alguns estão organizados em cooperativas, onde é possível maior
produtividade. Eles ajudam as prefeituras a diminuir o lixo nos aterros e lixões,
impulsionam as empresas de reciclagem e garantem o sustento da família
(CALDERONI, 2003).
Sua ação, em muitos casos realizada sob condições precárias de trabalho, se
dá individualmente, de forma autônoma e dispersa nas ruas e em lixões, como
também, coletivamente, por meio da organização produtiva em cooperativas e
associações.
Por sua história e capacidade de articulação, eles se fizeram presentes no
debate sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que os aponta como parceiros
preferenciais na gestão desses resíduos, e conquistaram seu reconhecimento como
categoria profissional, oficializado na Classificação Brasileira de Ocupações.
A Classificação Brasileira de Ocupação é o documento que reconhece, nomeia
e codifica os títulos, além de descrever as características das ocupações do mercado
de trabalho brasileiro, abordando habilidades complexas.
34
A atividade profissional dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis,
foi reconhecida pelo Ministérios do Trabalho e Emprego desde 2002 (MNRC, 2006),
segundo a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), colabora para o aumento da
vida útil dos aterros sanitários e para a diminuição da demanda por recursos naturais,
na medida em que abastece as indústrias recicladoras para reinserção dos resíduos
em suas ou em outras cadeias produtivas, em substituição ao uso de matérias-primas
virgem.
O catador de material reciclável possui o número 5192-05 como código.
Segundo essa classificação, o catador também pode ser denominado catador de
ferro-velho, catador de papel e papelão, catador de sucata, catador de vasilhame,
enfardador de sucata, separador de sucata, triador de sucata. Desse modo, o lixo
passou a ser reciclável e o catador, “catador de recicláveis”, agente ambiental,
“parceiro da limpeza”, dentre outras denominações (CARMO, 2008). A classificação
dessa profissão é feita em seis itens nos quais todas as faces do trabalho dos
catadores podem ser observadas e entendidas:
1) Descrição sumária;
2) Condições gerais de exercício;
3) Formação e experiência;
4) Áreas de atividades;
5) Competências pessoais e
6) Recursos de trabalho.
3.7. Cargas de Trabalho Aplicadas aos Catadores
A seguir, de acordo com as principais cargas de trabalho e exposição a que se
submetem os cooperados das cooperativas de matérias recicláveis. Dentre elas
destacaremos as cargas físicas, químicas, orgânicas, fisiológicas, mecânicas e
psíquicas.
35
a) Cargas físicas:
Por realizarem suas atividades em um local que não está totalmente coberto,
ficam constantemente expostos a intempéries como as variações bruscas de
temperatura, ao calor e frio excessivos e à chuva (VELLOSO, 2004).
O odor emanado dos líquidos e gases tóxicos decorrentes da decomposição
do lixo, animais mortos e outros vetores podem causar mal-estar, cefaleias e náuseas
nos trabalhadores e pessoas que se encontrem próximas ao local de trabalho. Nem
sempre lembrada, a questão estética é bastante importante, uma vez que a visão
desagradável dos resíduos pode causar desconforto e náusea (FERREIRA, 2001).
b) Cargas químicas:
Nos resíduos sólidos pode ser encontrada uma variedade muito grande de
resíduos químicos, dentre os quais merecem destaque pela presença mais constante:
pilhas e baterias; óleos e graxas; pesticidas/ herbicidas, solventes; tintas; produtos de
limpeza; cosméticos; remédios; aerossóis (FERREIRA, 2001).
Uma significativa parcela destes resíduos é classificada como perigosa e pode
ter efeitos deletérios à saúde humana e ao meio ambiente. Metais pesados como
chumbo, cádmio e mercúrio, incorporam-se a cadeia biológica, tem efeito cumulativo
e podem provocar diversas doenças como saturnismo e distúrbios do sistema
nervoso, entre outras. Pesticidas e herbicidas tem elevada solubilidade em gorduras
que, combinada com a solubilidade química em meio aquoso, pode levar a
magnificação biológica e provocar intoxicações agudas no ser humano, assim como
efeitos crônicos (KUPCHELLA, 1993). Um agente comum nas atividades com resíduo
é a poeira, que pode ser responsável por desconforto e perda momentânea da visão,
e por problemas respiratórios e pulmonares (CARRANZA, 2002; FERREIRA, 2001).
c) Cargas orgânicas:
Os agentes biológicos presentes nos resíduos sólidos podem ser responsáveis
pela transmissão de doenças.
Microrganismos patogênicos ocorrem nos resíduos sólidos municipais
mediante a presença de lenços de papel, curativos, fraldas descartáveis, papel
36
higiênico, absorventes, agulhas e seringas descartáveis e camisinhas, originados da
população; dos resíduos de pequenas clínicas, farmácias e laboratórios e, na maioria
dos casos, dos resíduos hospitalares, misturados aos resíduos domiciliares
(COLLINS, 1992; FERREIRA, 1997).
Alguns agentes que podem ser ressaltados são: os agentes responsáveis por
doenças do trato intestinal (Ascaris lumbricoides, Escherichia coli, Salmonella etc.); o
vírus causador da hepatite (principalmente do tipo B), pela sua capacidade de resistir
em meio adverso; e o vírus causador da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
(AIDS), pelo risco associado aos resíduos hospitalares, mesmo apresentando
baixíssima resistência em condições adversas. Além desses, devem também ser
referidos microrganismos responsáveis por dermatites (FERREIRA, 2001).
A transmissão, muitas vezes, se dá por vetores que encontram nos resíduos
em condições adequadas de sobrevivência e proliferação, tais como insetos e animais
roedores e peçonhentos.
Entre os resíduos com presença de microrganismos, merecem ainda serem
mencionados os resíduos infecciosos dos serviços de saúde que, pela falta de uma
melhor compreensão dos modos de transmissão dos agentes associados a doenças
infecciosas, tem sido alvo de receio por parte da população em geral (FERREIRA,
1997; REINHARDT, 1996). Contudo, isto não deve servir de justificativa para que as
instituições de saúde não estabeleçam procedimentos gerenciais de redução de riscos
associados a tais resíduos (principalmente dos perfuro cortantes) coma sua
desinfecção ou esterilização.
Os catadores estão expostos principalmente a acidentes com agulhas e a
objetos perfuro cortantes, mas a contaminação biológica torna-se importante a partir
do momento que esses indivíduos têm contato direto com o lixo hospitalar. Nessa
situação apresentam risco tão importante quanto aqueles que realizam a limpeza dos
hospitais e clínicas. Segundo Ferreira (1997), mordidas de animais (cães e ratos) e
picadas de formigas também podem ocasionar enfermidades de tipo infeccioso,
parasitário ou alérgico.
d) Cargas fisiológicas:
Os trabalhadores realizam uma atividade de trabalho que exige grande esforço
físico. Tais esforços incluem movimentos repetitivos, levantamento de peso, postura
37
inadequada de trabalho, trabalho físico pesado e posição estática, os quais se
relacionam a problemas musculoesqueléticos, causando principalmente, lombalgias e
dores no corpo, além de estresse.
Os problemas musculoesqueléticos apresentam alta frequência entre a
população, sendo sua prevalência em torno de 30% em pessoas com idade entre 25
e 74 anos de idade (LIIRA, 1996).
Entre trabalhadores expostos a carregamento de peso, posição estática ou
viciosa, entre outros, o risco deste tipo de morbidade pode dobrar (SILVA, 2002).
Supõe-se que as atividades de lazer sejam fatores de proteção a problemas
musculoesqueléticos, especificamente a dores lombares crônicas, enquanto as
atividades ocupacionais, fatores de risco para estas. Assim sendo, os catadores estão
mais expostos a cargas fisiológicas e consequentemente a problemas nas estruturas
que suportam o corpo humano (SILVA, 2004).
e) Cargas mecânicas:
Os riscos de acidentes e de agravos à saúde dependem da atividade exercida
pelo trabalhador. Alguns dos acidentes mais frequentes entre os trabalhadores que
manuseiam diretamente os resíduos sólidos são:
1) Cortes com vidro: caracterizam o acidente mais comum entre trabalhadores da
coleta de lixo domiciliar e do processo de reciclagem. A principal causa destes
acidentes é a falta de informação e conscientização da população em geral,
que não se preocupa em isolar o lixo ou separar os vidros quebrados dos
apresentados à coleta domiciliar. A adoção obrigatória de sacos plásticos para
o acondicionamento do lixo, apesar de trazer efeitos positivos para a limpeza
urbana, amplia os riscos para os catadores pela opacidade e ausência de
qualquer rigidez. Outro fator que contribui para a ocorrência deste tipo de
acidentes é a falta de uso de luvas por parte dos catadores. O uso de luvas
reduz o risco de cortes nas mãos, mas não tem impacto no risco de cortes em
braços e pernas que também apresentam uma frequência importante
(FERREIRA, 2001).
38
2) Cortes e perfurações com outros objetos pontiagudos: espinhos, pregos,
agulhas de seringas e espetos são responsáveis por corriqueiros acidentes
envolvendo catadores. Os motivos são semelhantes ao dos cortes com vidro.
f) Cargas psíquicas:
Os catadores são expostos a jornadas de trabalho muitos das vezes
exaustivas, visto que permanecem muito tempo em posições incomodas, realizando
tarefas de triagem de materiais, separação e seleção de itens a serem destinados a
reciclagem (CARRANZA, 2002).
Os principais estressores psicossociais no trabalho são (LEVI, 1984):
sobrecarga quantitativa (muita coisa para fazer em pouco tempo), atividades pouco
estimulantes ou monótonas, conflitos de papéis e responsabilidades, falta de controle
sobre a sua própria situação (outros decidem o trabalho a fazer), falta de apoio social
e trabalho em regime precário.
Como os catadores são muito pobres, recebem baixa remuneração e possuem,
na sua maioria, famílias numerosas, sofrem grande pressão, por parte de si próprios,
para conseguirem sobreviver. Essa luta diária pela sobrevivência, com futuro incerto
e sem perspectivas de melhora, pode levar esses indivíduos a uma maior condição
de estresse.
39
4. SAÚDE NA PERSPECTIVA DO COOPERATIVISMO
A Qualidade de Vida promove reflexões e ações sobre o que o cooperado
precisa para garantir seu bem-estar físico e psicológico.
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 descreve no:
“Art. 200 - Ao Sistema Único de Saúde, compete, além de outras atribuições,
nos termos da lei... II - executar as ações de vigilância sanitária e
epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador; VIII - colaborar na
proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho”.
De acordo com a Divisão de Saúde Mental da Organização Mundial da Saúde
(OMS, 1995), e conforme Fleck (2008, p. 61) qualidade de vida define-se como "a
percepção do indivíduo sobre sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema
de valores nos quais ele vive, e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões
e preocupações". Um grupo de pesquisadores enumeraram algumas características
importantes para a avaliação da qualidade de vida. Unidas elas formam um conjunto
de fatores que devem existir para o indivíduo perceber sua vida como melhor:
mudança de comportamento, vivência de valores, crescimento profissional e humano,
disciplina e respeito, cuidados com os ambientes, atenção à saúde, vivência da
espiritualidade, entre outros.
Em relação à saúde, ela é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não meramente a
ausência de doença ou enfermidade”, que é recomendável, mas inclui elementos que
estão longe de suprir a medicina tradicional e apolítica.
Dessa forma pode-se afirmar que “qualidade de vida” é um conceito que busca
mensurar as condições de vida de um ser humano. Nela pode-se considerar o bem
físico, mental, psicológico, além das relações sociais com amigos e família.
A OMS vem implementando um Plano de Ação Global de Saúde dos
Trabalhadores 2008-2014 aprovada pela Assembleia Mundial de Saúde em 2007,
com os seguintes objetivos:
40
a) Concepção e implementação de instrumentos de política sobre a saúde
dos trabalhadores;
b) Proteger e promover a saúde no local de trabalho;
c) Melhorar o desempenho e acesso a serviços de saúde ocupacional;
d) Fornecer e comunicar evidência para a ação e prática, e
e) Incorporar a saúde dos trabalhadores em outras políticas.
No Brasil, recentemente publicou-se duas importantes políticas:
1) Portaria N.º 1.823, de 23 de agosto de 2012 - Política Nacional de Saúde
do Trabalhador e da Trabalhadora.
2) Decreto N.º 7602, de 7 de novembro de 2011 - Política Nacional de
Segurança e Saúde no Trabalho - PNSST.
Pereira et al (2006, p. 28) descrevem a definição de Qualidade de Vida como:
“A qualidade de vida reflete a percepção que têm os indivíduos de que suas necessidades estão sendo satisfeitas ou, ainda, que lhes estão sendo negadas oportunidades de alcançar a felicidade e a auto realização, com independência de seu estado de saúde físico ou as condições sociais e econômicas”.
Além desses fatores, saúde, educação, habitação e o acesso a saneamento
básico também são levados em consideração para tal mensuração. Em consonância
com esse contexto, para a realidade das cooperativas de catadores, a área de
Qualidade de Vida busca promover a reflexão acerca daquilo que os cooperados
entendem que seja uma melhor qualidade de vida para eles – ou seja, o que precisam
para ter uma vida melhor. Com a área dedicada a essa questão em atividade, os
cooperados podem ampliar a sua percepção do que podem conseguir por meio da
cooperativa, compreendendo que, além de cooperar para gerar renda, podem também
se unir para promover outros aspectos que proporcionem uma vida melhor.
“A atividade de catação gera renda para diversas famílias, apesar da precarização sofrida pelos catadores. Uma alternativa para melhoria de renda, condições de trabalho e qualidade de vida seria organização dos trabalhadores em associação ou cooperativas” (TROMBETA, 2012).
41
Esse olhar visa estar atento não apenas às questões que vão além da
cooperativa, como o acesso à saúde, saneamento básico, família etc., mas também
às questões internas, como o relacionamento interpessoal, a coesão grupal e a saúde
do trabalhador.
42
5. SEGURANÇA DO TRABALHO
5.1. História da Segurança do Trabalho
De acordo com Reis (2015), a preocupação com a segurança e a saúde dos
trabalhadores não é algo recente, pelo contrário, dados históricos mostram que ela
existe desde o século IV a.C., quando Hipócrates descobriu a origem das
enfermidades que acometiam os trabalhadores das minas. Mais tarde, Aristóteles
cuidou do atendimento e da prevenção dessas doenças. Também no século IV a.C.,
Platão descobriu algumas doenças do esqueleto comuns a determinados
trabalhadores no exercício de sua profissão.
Já no século I d.C., Plínio publicou a História Natural, primeira obra a tratar da
segurança do trabalho. Nela é recomendado o uso de máscaras por parte daqueles
que trabalhavam com chumbo, mercúrio e poeiras. Avicena (908-1037) conseguiu
relacionar o saturnismo (cólicas) às pinturas feitas com tintas à base de chumbo.
Os séculos XV e XVI também puderam contar com significativas contribuições
no tocante à segurança no trabalho. Dentre elas destacam-se a publicação das obras
de Ulrich Ellembog, nas quais são recomendadas medidas de higiene do trabalho, e
os estudos de Paracelso sobre as infecções que acometiam os mineiros do Tirol
(REIS, 2015).
5.2. Evolução Histórica da Segurança do Trabalho
Dentre os fatos que marcaram a Segurança do Trabalho na Europa e nas
Américas, entre os séculos XVII e XX, conforme Reis (2015) e adaptada por mim os
textos em forma de tabela, podem-se destacar:
43
Quadro 1 - Evolução Histórica da Segurança do Trabalho
FATOS MARCANTES DE SEGURANÇA DO TRABALHO
ANO
LOCALIDADE
FATO RELEVANTE
1601 Inglaterra Foi criada a Lei dos Pobres.
1666 Londres As casas, obrigatoriamente, deveriam ser
construídas com paredes de pedras e tijolos e as ruas
deveriam ser alargadas para que a propagação do
fogo fosse dificultada.
1700 Itália Bernardino Ramazzini, divulga sua obra clássica De
Morbis Articum Diatriba (As Doenças dos
Trabalhadores). Ramazzini analisou as doenças que
acometiam trabalhadores que desempenhavam
trabalhos repetitivos.
1783 Inglaterra A Lei dos Pobres foi substituída pela Lei das Fábricas.
1802 Inglaterra Foi aprovada a primeira Lei de proteção aos
trabalhadores, a "Lei de Saúde e Moral dos
Aprendizes", que reduziu a jornada de trabalho para
12 horas, proibindo também o trabalho noturno, e
regulamentou a idade mínima para trabalhar.
Entre
1844 e
1848
Inglaterra Foram aprovadas as primeiras Leis de Segurança no
Trabalho e Saúde Pública, que vieram para
regulamentar os problemas de saúde e doenças
profissionais.
1862 França Foram regulamentadas a higiene e a segurança no
trabalho.
44
1865 Alemanha Foi aprovada a Lei de Indenização Obrigatória aos
Trabalhadores, responsabilizando o empregador por
eventuais acidentes.
1888 Brasil Abolição de escravidão.
1903 Estados Unidos Foi promulgada a primeira lei sobre indenização aos
trabalhadores, limitada ao empregador e aos
trabalhadores federais.
1919 Suíça Foi criada a Organização Internacional do Trabalho -
OIT (Parte XIII, substituindo a Associação
Internacional de Proteção Legal do Trabalhador).
1921 Estados Unidos A lei sobre indenização aos trabalhadores, limitada
ao empregador e aos trabalhadores federais, seus
benefícios foram estendidos a todos os
trabalhadores.
1943 Brasil Foi criado o Decreto-lei n. º 5.452 de 01 de maio,
regulamenta o Capítulo V do Título II da Constituição
das Leis do Trabalho - CLT, que trata da Segurança
e Medicina do Trabalho.
1977 Brasil A Lei n.º 6.514 de 22 de dezembro, altera o Capítulo
V do Título II da CLT.
1978 Brasil Publicada a Portaria n.º 3.214 de 08 de junho, que
aprova as Normas Regulamentadoras - NR.
Atualmente existem 36 NR, constantemente
revisadas, atualizadas e disponibilizadas no site no
Ministério do Trabalho e Emprego.
Fonte: O Autor.
45
5.3. Definições aplicados à segurança do trabalho
Segundo Gonçalves (2011), antes de iniciar a abordagem técnica - jurídica
propriamente dita acerca das Disposições Gerais de Segurança e Saúde no Trabalho,
é oportuno resgatar quatro conceitos elementares visando facilitar a compreensão da
temática em apreço. São elas:
a) Meio ambiente de trabalho: pode ser entendido como o espaço físico no qual
são desenvolvidas atividades profissionais produtivas (industriais, comerciais
administrativas ou de serviços) onde podem estar presentes os agentes físicos,
químicos, biológicos, mecânicos, ergonômicos e outros, naturais ou artificiais
que, associados ou não, podem desencadear reações biopsicofisiólogicas e
sociais com repercussões na saúde, na integridade física e na qualidade de
vida do trabalhador.
b) Saúde: de acordo com a conceituação difundida pela Organização Mundial de
Saúde (OMS), entidade vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU),
corresponde a um estado dinâmico de completo bem-estar físico, mental e
social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade.
c) Saúde ocupacional ou Saúde no trabalho: pode ser definida como a ciência
que, por meio de metodologias e técnicas próprias, estuda as possíveis causas
e consequências das doenças ocupacionais, nelas incluídas as doenças
profissionais e as do trabalho, objetivando não só a prevenção das moléstias
laborais como, também, a promoção do completo bem-estar físico, mental e
social dos trabalhadores.
d) Segurança do trabalho: pode ser tida como a ciência que, por meio de
observações, analises e metodologia apropriada estuda as possíveis causas e
consequências de acidentes de trabalho, de modo a propor as soluções
tecnicamente adequadas, objetivando a prevenção de infortúnios de labor e a
manutenção da integridade física e da saúde dos trabalhadores, de modo a
contribuir decisivamente para a perfeita interação humana no meio ambiente
de trabalho.
46
Apesar da grande quantidade de legislação que trata da questão do trabalho
no Brasil, ainda são muito reduzidos o interesse e o conhecimento do cidadão comum
acerca da temática.
O que observamos, na realidade, é que o tratamento dado ao acidente do
trabalho fica centrado no ponto de vista meramente social. A Lei 8.213, que trata dos
benefícios da Previdência Social, estabelece em seu art.19:
“Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho".
De acordo com Reis (2015), podemos também acrescentar aos conceitos
abordados até aqui algumas outras definições importantes, tais como:
a) Doença profissional: assim entendida a produzida ou desencadeada pelo
exercício do trabalho e constante da respectiva relação elaborada pelo
Ministério do Trabalho e da Previdência Social.
b) Doença do trabalho: assim entendida a adquirida ou desencadeada em
função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se
relacione diretamente. A doença ocupacional do ponto de vista da legislação
equipara-se ao acidente do trabalho. Não apenas em termos de
classificação como nas disposições, prazos e sanções.
Os trabalhadores, especialmente os desprovidos de formação escolar e
profissional adequada, não tem consciência dos riscos ocupacionais a que ficam
expostos em sua atividade laboral e, por conta disso, quase sempre têm sido as
maiores vítimas dos infortúnios laborais.
5.4. Normas Regulamentadoras
As Normas Regulamentadoras são elaboradas por uma comissão tripartite
composta por representantes do Governo, dos Empregadores e dos Empregados.
São de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos
47
públicos de administração direta e indireta, bem como todos os órgãos que possuam
empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. As Normas têm
o relevante papel para estabelecer condições que assegurem a saúde e a segurança
do trabalhador, prevenindo, protegendo, recuperando e preservando a sua higidez
física e mental no âmbito das relações de labor.
“A lei n.º 6.514 de 22 de dezembro de 1977, estabeleceu a redação dos ART. 154 a 201 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, relativas à segurança e medicina do trabalho”. (BLOG DO INBEP, 2017)
Além disso, também conhecidas por NR, são normas que regulamentam,
fornecem parâmetros e instruções sobre Saúde e Segurança do Trabalho. São trinta
e seis, sendo trinta e uma Normas Regulamentadoras e cinco Normas
Regulamentadoras Rurais. Foram regulamentadas pelo então Ministério do Trabalho,
nos termos da Portaria MTE n.º 3.214, de 8 de junho de 1978, instituidora das
primeiras vinte e oito normas regulamentadoras de segurança e saúde no trabalho,
cada uma tratando de um tema específico; sendo conveniente destacar que as
normas regulamentadoras subsequentes (NR-29 a NR-36), foram objetos de Portarias
Ministeriais específicas.
“Conforme, o art. 200 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT cabe ao Ministério do Trabalho estabelecer as disposições complementares às normas relativas à segurança e medicina do trabalho”. (BLOG DO INBEP, 2017)
Em decorrência da acelerada revolução tecnológica que tem desencadeado
profundas mudanças na relação capital – trabalho, as normas preventivas de
acidentes laborais encontram-se em contínuo processo de atualização e
modernização, objetivando a promoção da melhoria das condições ambientais de
trabalho; a final de contas, é missão institucional do Estado velar pela saúde e
integridade física de sua força produtiva.
As normas de segurança e medicina do trabalho têm relevante papel de
estabelecer condições que assegurem a saúde e a segurança do trabalhador,
prevenindo, protegendo, recuperando e preservando a sua higidez física e mental no
âmbito das relações de labor.
48
“A Constituição Federal de 1988, em seu art. 7.º, inciso XXII, assegurou o direito de "redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança”. (BLOG DO INBEP, 2017)
Conforme Rangel (2014), a redação das normas regulamentadoras, e sua
legislação complementar, como por exemplo, leis, portarias, decretos e Instruções
Normativas compõem as bases para a normatização das ações de proteção à saúde
e a segurança do trabalho. Desta forma, apresentam-se a seguir, de modo resumido
as normas regulamentadoras e seus objetivos.
5.4.1. NR6: EPI – Equipamento de Proteção Individual
Para os fins de aplicação desta Norma Regulamentadora, considera-se
Equipamento de Proteção Individual - EPI, todo dispositivo ou produto, de uso
individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de
ameaçar a segurança e a saúde no trabalho.
A sexta Norma Regulamentadora do Trabalho, cujo título é “Equipamento de
Proteção Individual (EPI)”, exemplificados na Figura 09, apresenta as definições
legais, formas de proteção, grupos de EPI, requisitos de comercialização e
responsabilidades de todos os envolvidos na fabricação, comercialização,
implementação, uso e fiscalização. A NR6 trata, entre outros aspectos, das
responsabilidades e classificação dos grupos de EPI visando controle da exposição
aos agentes ambientais nocivos, quando as medidas de ordem coletiva (engenharia
e administrativas) não forem suficientes ou tecnicamente possíveis de serem
implementadas.
A NR6, em seu Anexo I (LISTA DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO
INDIVIDUAL), classifica os EPI em nove grupos, conforme a parte ou órgão do corpo
a ser protegido:
1) Proteção da cabeça (capacetes de segurança e capuz de segurança);
2) Proteção dos olhos e face (óculos de segurança, protetores faciais e máscaras
de solda);
3) Proteção auditiva (protetores auditivos circum-auriculares, de inserção ou semi-
auriculares);
49
4) Proteção respiratória (respiradores: purificadores de ar, de adução de ar e de
fuga);
5) Proteção do tronco (vestimentas de segurança que ofereçam proteção ao
tronco contra riscos de origem térmica, mecânica, química, radioativa e
meteorológica e umidade proveniente de operações com uso de água, e colete
à prova de balas);
6) Proteção para membros superiores (luvas, creme protetor, manga, braçadeira
e dedeira);
7) Proteção dos membros inferiores (calças, calçados, meias e perneiras de
segurança);
8) Proteção do corpo inteiro (macacão de segurança, conjunto de segurança
formado por calça e blusão, jaqueta ou paletó, vestimenta de segurança para
proteção de todo o corpo);
9) Proteção contra quedas com diferença de nível (dispositivo trava-quedas de
segurança e cinturão de segurança e talabarte de segurança).
Figura 2 - Equipamento de Proteção Individual – EPI Fonte: 3M, 2016.
50
5.4.2. NR9: PPRA - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
Esta Norma Regulamentadora - NR estabelece a obrigatoriedade da
elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que
admitam trabalhadores como empregados, do Programa de Prevenção de Riscos
Ambientais - PPRA, visando à preservação da saúde e da integridade dos
trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente
controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no
ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos
recursos naturais.
5.4.3. NR12: Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos
Esta Norma Regulamentadora e seus anexos definem referências técnicas,
princípios fundamentais e medidas de proteção para garantir a saúde e a integridade
física dos trabalhadores e estabelece requisitos mínimos para a prevenção de
acidentes e doenças do trabalho nas fases de projeto e de utilização de máquinas e
equipamentos de todos os tipos, e ainda à sua fabricação, importação,
comercialização, exposição e cessão a qualquer título, em todas as atividades
econômicas, sem prejuízo da observância do disposto nas demais Normas
Regulamentadoras - NR aprovadas pela Portaria n.º 3.214, de 8 de junho de 1978,
nas normas técnicas oficiais e, na ausência ou omissão destas, nas normas
internacionais aplicáveis.
5.4.4. NR15: Atividades e Operações Insalubres
São consideradas atividades ou operações insalubres as que se desenvolvem:
a) Acima dos limites de tolerância previstos nos Anexos n.º: 1, 2, 3, 5, 11 e 12;
b) Nas atividades mencionadas nos Anexos n.º: 6, 13 e 14;
c) Comprovadas através de laudo de inspeção do local de trabalho, constantes
dos Anexos n.º: 7, 8, 9 e 10.
51
Entende-se por "Limite de Tolerância", para os fins desta Norma, a
concentração ou intensidade máxima ou mínima, relacionada com a natureza e o
tempo de exposição ao agente, que não causará danos à saúde do trabalhador,
durante a sua vida laboral.
5.4.5. NR17: Ergonomia
Esta NR visa a estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das
condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo
a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente.
5.4.6. NR24: Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho
A aludida NR24 estipula diversas recomendações preventivas a serem
implementadas no âmbito das empresas públicas e privadas, que possuam
empregados regidos pelo Estatuto Obreiro. Essas determinações normativas, como
se constatará na oportuna transcrição integral e atualizada da referida norma
regulamentadora, encontram-se agrupadas em sete tópicos, a saber:
a) Instalações sanitárias
b) Vestiários
c) Refeitórios
d) Cozinhas
e) Alojamento
f) Condições de higiene e conforto por ocasião das refeições
g) Disposições gerais
5.5. Perigos e riscos nas atividades com resíduos sólidos
São frequentemente presentes nos resíduos sólidos, os agentes de ordem
física como gases e odores emanados dos resíduos, poeiras, ruídos excessivos,
exposição ao frio, ao calor, à fumaça e ao monóxido de carbono; químicos como
líquidos que vazam de pilhas e baterias, óleos e graxas, pesticidas, herbicidas,
solventes, tintas, produtos de limpeza, cosméticos, remédios, aerossóis, metais
52
pesados como chumbo, cádmio e mercúrio; agentes biológicos, tais como
microrganismos patogênicos: vírus, bactérias e fungos; riscos de acidentes com
materiais perfuro cortantes, com vidros, lascas de madeira, objetos pontiagudos; e
ergonômicos, como posturas inadequadas, vibração e levantamento manual de peso.
“O trabalho desenvolvido pelos catadores permite a exposição desses sujeitos a agentes físicos: ruído, poeira, calor e frio; agentes químicos: embalagens contaminadas por substâncias tóxicas sólidas, líquidas ou gasosas e agentes biológicos: bactérias, fungos, vírus e parasitas” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).
Segundo Cavalcante e Franco (2007), essa exposição pode acontecer de modo
de direto, quando há um contato imediato dos trabalhadores com os agentes
patogênicos presentes nos resíduos, e de modo indireto, por meio da amplificação de
algum fator de risco, que age de forma descontrolada sobre o entorno e por três vias
principais: a ocupacional, a ambiental e a alimentar.
Os ambientes e condições insalubres de trabalho são os principais
responsáveis pela incidência, cada vez maior, de doenças ocupacionais e eventos
indesejáveis entre os trabalhadores da coleta de materiais recicláveis. Vale ressaltar
que a exposição do indivíduo a situações que podem ocasionar acidentes e lesões,
sofrem interferência do contexto, do comportamento e medidas de prevenção
tomadas. A percepção do risco, a sensação e condições de segurança, a auto-gestão
e o conhecimento também podem influenciar nas ações de controle adotadas pelos
trabalhadores.
Os catadores de materiais recicláveis estão expostos a posturas forçadas,
esforços físicos, tais como, os movimentos de levantar, carregar ou empurrar pesos
exagerados e movimentos repetitivos que são cargas de trabalho associadas as dores
lombares.
“A Instituição tem a obrigação legal de avaliar todos os fatores externos, que permeiam a relação homem/trabalho, e introduzir medidas de segurança e saúde, que previnam possíveis riscos iminentes. Ao indivíduo é dado o direito de saber qual a tarefa a executar, onde será desenvolvida, quais as ferramentas disponíveis para realizá-las, que interação terá com terceiros (clientes) e, também, que interação terá com o meio ambiente” (ALVES, 2001 p.73).
53
A exposição e vulnerabilidade individual do trabalhador a situações de risco
estão vinculadas a condições cognitivas, econômicas, políticas, de poder,
comportamentais, situacionais e sociais. Neste contexto de incertezas, de
desigualdades, de exposição a riscos enfrentados diariamente pelos catadores de
materiais recicláveis, faz-se necessário pesquisar qual a percepção de risco
ocupacional tem esta categoria profissional, o que implica em desvelar os significados
inerentes à percepção do indivíduo frente às situações corriqueiras de trabalho.
É imprescindível, portanto, o conhecimento da relação entre percepção de risco
ocupacional entre os catadores de materiais recicláveis e a possibilidade de redução
de acidentes e doenças que ocorrem e vitimizam trabalhadores, elevando os custos
sociais daí advindos. Dessa forma, considera-se fundamental conhecer a percepção
de risco para prevenção e promoção da saúde no trabalho.
Com a constatação das relações saúde, trabalho e doença, entre catadores de
materiais recicláveis, torna-se essencial identificar e controlar os fatores de risco para
a saúde, presentes nos ambientes e condições de trabalho, bem como prevenir e
tratar danos aos indivíduos. Sendo assim, por meio de ações de promoção à saúde,
devem-se valorizar os aspectos positivos do trabalho e prevenir agravos à saúde dos
trabalhadores envolvidos diante precariedade laboral. Os catadores, mesmo
exercendo uma atividade reconhecidamente benéfica para a sociedade, sofrem
também uma série de preconceitos devido à própria natureza de sua atividade – neste
caso, por trabalharem com o que a sociedade chama de "lixo".
“Ao mexerem no lixo a procura de materiais que possam ser comercializados, os catadores estão expostos a todos os tipos de risco de contaminação presentes nos resíduos, além dos riscos à sua integridade física por acidentes causados pelo manuseio dos mesmos” (FERREIRA, 2001).
O lixo pode também ser uma grande fonte de riqueza. Em seus domínios são
encontrados papéis, latas de alumínio, plástico, vidro, metais, borracha e isopor entre
outros materiais. Tais materiais apresentam importante valor de mercado para as
indústrias de reciclagem que, por meio do reaproveitamento dessa matéria são
capazes de criar novos materiais para o mercado, comum a grande economia de
tempo, energia e dinheiro, além de reduzirem a agressão ao meio ambiente.
54
Neste caso, Magalhães (2012 p. 44) menciona o termo “lixo” ser rejeitado em
razão das conotações negativas que a palavra traz, deve-se mencionar, também, que,
semanticamente, ele só é aplicável a quem o descarta. Para as pessoas que recolhem
o material e lhe dão um destino diferente do descarte, o termo “lixo”, no estrito sentido
do termo, não é correto, já que se trata precisamente do material que irá ser
aproveitado para lhes prover o sustento.
55
6. MEIO AMBIENTE NO CONTEXTO DOS CATADORES
6.1. Resíduos Sólidos Municipais
Uma das questões mais importantes atualmente é a utilização e a disposição
de resíduos sólidos municipais (lixo residencial e comercial). Audiências públicas para
se discutir as propostas existentes de localização de um novo aterro ou construção de
um incinerador ou de organização de um programa de reciclagem para a comunidade
ocorrem regularmente.
O gerenciamento dos resíduos sólidos é um importante tema para estudos,
pesquisas e campo de trabalho, pois é uma problemática atual que deve ser
enfrentada por todos os atores sociais devido à poluição do ambiente e os problemas
sanitários que afetam a saúde pública. Para isso, é necessário que cada estado e
município cumpram a Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei n.º 12.305 (BRASIL,
2010), se tratando de sua administração, tratamento, acumulação e destinação final
inadequadas que ainda é um problema geral de todos os estados do Brasil.
Uma das alternativas adequadas para o gerenciamento dos resíduos sólidos é
a redução do descarte de resíduos em aterros controlados, aterros sanitários e a céu
aberto por meio da implantação de programas de coleta seletiva, que viabiliza o
reaproveitamento do material, por meio da separação do resíduo sólido reciclável na
fonte geradora, tornando possível a reciclagem e reintroduzindo a matéria no processo
produtivo. O reaproveitamento, a reciclagem e a reutilização dos resíduos são tidos
como alternativas possíveis para a problemática dos resíduos sólidos.
“O lixão é um grande espaço destinado apenas a receber lixo. Isso significa que nada é planejado para “abrigar” os resíduos de forma menos agressiva ao meio ambiente. Não há tratamento para o chorume” (CINTRA, 2011).
Em vários lugares ocorreram sérias contaminações dos lençóis freáticos por
causa dos produtos químicos descarregados nos aterros. Mesmo os "aterros
sanitários" da década de 1970 e início de 1980 apenas cobriam o lixo com uma
camada de terra todos os dias. Regulamentações ambientais fortes foram adotadas
na década de 1980 e passaram a determinar que os aterros deveriam ser "seguros"
para evitar a contaminação pela percolação do chorume (chorume, também
56
denominado "lixo líquido", é o líquido que resulta da percolação da água pelo perfil do
solo de um aterro sanitário) (CINTRA, 2011).
COSTA (2011) ressalta que a única forma ambientalmente correta para
disposição final de Resíduos Sólidos no solo é o aterro sanitário, concebidos conforme
as NBR 8.419/1996 (Projeto de Aterros Sanitários de RSU) ou NBR 15.849/2010 que
trata especificamente sobre as diretrizes para Aterros Sanitários de Pequeno Porte -
ASPP, juntamente com a Resolução CONAMA 404, de 11 de novembro de 2008, que
estabelece critérios e diretrizes para o licenciamento ambiental de aterro sanitário de
pequeno porte de resíduos sólidos urbanos.
Segundo Costa (2011), existem quatro ou cinco opções não exclusivas para
solucionar a crise de resíduos sólidos municipais:
Reduzir a quantidade de lixo produzido;
Instituir programas de reciclagem vigorosos;
Processar o lixo em usinas que transformem resíduos em energia ou
insumos aproveitáveis;
Construir aterros sanitários mais "seguros";
Digestão anaeróbica.
A primeira opção é óbvia, mas, difícil de pôr em prática. Somos sociedade do
consumo e, jogamos as coisas fora. Pense nos itens comuns que são utilizados todos
os dias e que vão para o lixo: copos de descartáveis, caixas de suco, colheres de
plástico, fraldas descartáveis, garrafas de refrigerantes etc. As pessoas terão muita
dificuldade de abrirem mão facilmente de seus estilos de vida descartável (COSTA,
2011).
A redução do lixo na origem aliviaria muito a carga dos programas de
reciclagem, incineradores e aterros. A sociedade percebe o aumento do custo dos
alimentos causado pelas embalagens, o que responsabiliza o aumento de volume
descartado nos lixos tanto em nível comercial e doméstico. Na maior parte dos
esforços de reciclagem, o lixo é separado em jornais, garrafas de vidro, latas de aço
e alumínio, plásticos leves e resíduos perigosos. Na falta de leis dos Estados, obrigam
a realizar a reciclagem com produtos. Cabem às Comunidades desenvolverem
programas de reciclagem ou coleta seletiva (COSTA, 2011).
57
Os materiais recicláveis podem ser separados em casa, na lixeira durante a
coleta ou instalação de processamento. A separação em casa parece ter o maior
impacto sobre o fluxo de resíduos, especialmente se os materiais separados são
coletados no mesmo dia que o resto do lixo; instalações de entrega voluntária
facilitariam o centro de muitos programas de coleta seletiva atingindo uma pequena
fração da participação obtida pelos programas de coleta domiciliar. O problema do lixo
começa antes: no momento do consumo. Há um conceito mundial dos 3Rs: reduzir,
reutilizar e reciclar. Reduz-se lixo quando se consome menos e melhor, para isso,
podemos comprar produtos com embalagem de material reciclável. Reutilizar é exaurir
a capacidade de algo satisfazer uma necessidade, antes de descartá-lo, exemplos de
ações: doação de brinquedos e roupas ao invés de jogar fora. Reciclagem é método
alternativo de tratamento do lixo e último ponto do ciclo da produção. A reciclagem
ainda não se tornou atrativa para todos os setores. A coleta seletiva é oito vezes mais
cara que a convencional. Em compensação, reduz os custos ambientais e sociais
(PINHEL, 2013).
A reciclagem tem sido uma prática comum ao longo da história humana, ou
seja, permitindo recuperar e reutilizar materiais de produtos consumidos. A principal
razão para estes tipos de reciclagem foi a vantagem econômica de obtenção de
matéria-prima reciclada em vez de adquirir material virgem, bem como a falta de
remoção de resíduos públicos em locais cada vez mais povoadas. Atualmente, os
principais motivos para a reciclagem têm sido a crescente escassez e do custo dos
recursos naturais, incluindo: petróleo, gás, carvão, minérios, árvores e a poluição do
ar, água e da terra pelos resíduos (PINHEL, 2013).
Existem dois tipos de reciclagem, internas e externas. A reciclagem interna é a
reutilização num processo de materiais que são um produto residual de processo de
fábrica que, é comum na indústria metalúrgica. A reciclagem externa é a recuperação
de materiais a partir de um produto que é usado para fora não são mais úteis, tais
como um conjunto de jornais e revistas velhas para o fabrico de papel de jornal ou
outros produtos de papel. Reciclar é se sentir melhor, aplique conceitos em reusar e
reduzir. A reciclagem é benéfica de duas formas: reduz as entradas de energia e
matéria prima para um sistema de produção e reduz a quantidade de resíduos
produzidos para eliminação (CEMPRE, 2010).
Alguns materiais como o alumínio podem ser reciclados indefinidamente,
porque não há nenhuma alteração para os materiais. Outros materiais reciclados
58
como papel requerem uma percentagem de matérias-primas, como fibras de madeira
que são adicionados para compensar a degradação de fibras existentes (CEMPRE,
2010).
Uma vez que os materiais que estão sendo processados são mais puros,
menos energia é necessária para processá-los e menos energia é necessária para o
transporte desde o local de extração - minas de bauxita e minério de alumínio no Brasil
ou florestas de coníferas na Escandinávia. Isso reduz geralmente, os custos
econômicos ambientais, sociais e de produção. Há quatro métodos principais:
curbsides, centros de coleta, centros de recompra e programas de reembolso
(CEMPRE, 2010).
É importante o recolhimento, separação e tratamento dos materiais, que serão
reciclados. Depois de limpo e separados, os materiais recicláveis estão prontos para
a segunda parte do ciclo de reciclagem. A compra de produtos reciclados completa o
ciclo de reciclagem. Pelos governos, "compra de reciclados", bem como empresas e
consumidores individuais, cada um desempenham um papel tão importante no sentido
de tornar o processo de reciclagem muito bem-sucedida. Ideias criativas e divertidas
para reciclagem podem tirar proveito do lixo para confecção de artigos artesanais.
Assim, lixo tem uma grande importância no artesanato (CEMPRE, 2010).
Conforme Layrargues (2002, p. 182), o discurso ecológico veicula a “questão
do lixo” como sendo, antes de tudo, um problema de natureza técnica e não de ordem
social, cultural ou política. É idealizado dessa forma, o discurso oficial não permitindo
que sejam visualizadas outras dimensões da problemática dos resíduos.
A reciclagem não é apenas boa para o ambiente, mas pode também, ajudar
economizar dinheiro e introduzir projetos onde a reciclagem seja empregada de forma
criativa. Usando ideias práticas, pode-se transformar frascos de alimentos de bebê,
sacos de papel e vários outros itens em obras-primas artificiais.
Historicamente, Layrargues (2002, p. 192-193) lembra que, a coleta e
destinação de resíduos para sua reinserção na reciclagem sempre cumpriu uma
importante função social no Brasil, porque o trabalho na reciclagem tem consistido, na
grande maioria das vezes, em uma oportunidade única de geração de renda para os
mais pobres.
Estamos ficando sem espaço para novos aterros para colocar nosso lixo. Hoje,
existe menos de um quarto de aterros do que no fim da década de 1980, e esse
59
número continua a diminuir. Nem tudo pode ser reciclado ou incinerado, e os aterros
continuarão sendo necessários.
Um dos problemas de muitos dos atuais aterros é a contaminação do lençol
freático como resultado da percolação do lixo causada pelas chuvas e fonte d'água
subterrâneas. Para evitar este problema, aterros "seguros" ou sanitários atualmente
têm de ser construídos em terrenos distantes de locações com águas subterrâneas
ativas e revestidos com mantas plásticas e de argilas que vão capturar o chorume. A
Figura 3, mostra o esquema gráfico do Aterro Sanitário.
Alguns aterros possuem um sistema de manta dupla: plástico, argila, plástico,
argila, o que impede o vazamento de chorume para o subsolo. O local também pode
ser um sistema de coleta de chorume e um monitoramento contínuo para garantir que
não ocorram vazamentos ou contaminação do lençol freático. O chorume coletado é
levado para estações de tratamento de esgoto.
“Diariamente, o material é aterrado com equipamentos específicos para este fim. Existem, também, tubulações que captam o metano, gás liberado pela decomposição de matéria orgânica” (CINTRA, 2011).
Quando o aterro está cheio e pronto para fechamento, uma manta plástica é
colocada sobre seu topo e coberta com terra. Contudo, existe um debate entre a EPA
Figura 3 - Aterro Sanitário Fonte: Cidade do Futuro, 2016.
60
(Environmental Protection Agency / Agência de Proteção Ambiental) e outras
instituições com relação a esses métodos de fechamento. A EPA quer
armazenamento seco para minimizar a contaminação da água. Outros preferem
manter os resíduos úmidos para acelerar a decomposição. Neste método, o chorume
é recirculado pelo perfil do aterro para acelerar a decomposição. Um benefício é a
produção de metano no aterro por meio de quebra de compostos orgânicos complexos
do lixo por bactérias. Aterros ativos já estão produzindo metano (gás incolor, inodoro
- CH4; principal componente do gás natural). Algumas vezes, as tubulações de
plástico branco que circulam o metano para tanques de armazenamento podem ser
vistas.
A compostagem é outro método para lidarmos com partes do nosso lixo,
podendo ser coletados, triturados e arranjados em pilhas para sofrer decomposição.
O produto resultante dessa decomposição é um rico material composto que pode ser
utilizado na agricultura, em viveiros e em paisagismo.
6.2. Classificação dos Resíduos
Devido à crescente expansão industrial brasileira foi necessário realizar a
revisão da legislação responsável pela classificação dos resíduos sólidos na qual se
enquadram os de origem industrial siderúrgica. Neste contexto, a Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS, A Lei n.º 12.305, de 2/08/2010) foi criada com o objetivo de
garantir a conservação do meio ambiente, segurança da população e sua destinação
correta. Nela são consideradas as variáveis ambiental, social, cultural, econômica,
tecnológica e de saúde pública, bem como a promoção do desenvolvimento
sustentável e da ecoeficiência (SOUSA, 2012 apud ABRELPE, 2015a).
A Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR 10004: 2004 (Tabela
2), visa à classificação dos resíduos sólidos quanto aos seus riscos potenciais ao meio
ambiente e a saúde pública, para que estes resíduos possam ter manuseios e
destinação final adequada de acordo com sua classificação. Esta classificação ocorre
conforme suas características específicas tais como toxicidade, inflamabilidade,
corrosividade, reatividade e sua atividade de origem.
A metodologia empregada para realizar a classificação dos resíduos sólidos
está regulamentada nas seguintes normas brasileiras:
61
NBR 10005 – Procedimento para obtenção de extrato lixiviado de resíduos
sólidos;
NBR 10006 - Procedimento para obtenção de extrato solubilizado de resíduos
sólidos;
NBR 10007:2004 – Amostragem de resíduos sólidos.
A PNRS confere destaque à importância dos catadores na gestão integrada
dos resíduos sólidos, estabelecendo como alguns de seus princípios o:
“Reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania” e a “responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos” (PNRS, A Lei n.º 12.305, de 2/08/2010).
Quadro 2 - Classificação dos resíduos sólidos
ABNT NBR 10004:2004
DEFINIÇÂO
Classe IIB (Inerte)
São aqueles que, quando amostrados de uma forma representativa e submetidos a um contato dinâmico e estático com água destilada ou deionizadas, à temperatura ambiente não tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor.
Classe IIA (Não Inerte)
São aqueles que não se enquadram nas classificações de resíduos classe I - Perigosos ou de resíduos classe II B – Inertes. Estes resíduos podem ter propriedades, tais como: biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água.
Classe I (Perigoso)
Sólidos que em função de suas características de inflamabilidade, reatividade, corrosividade, toxicidade e patogenicidade, podem apresentar risco à saúde pública, provocando ou contribuindo para um aumento de mortalidade ou incidência de doenças; e apresentam efeitos adversos ao meio ambiente, quando manuseados ou destinados de forma inadequada.
Fonte: ABNT 10004, 2004
A PNRS, incentiva a criação e o desenvolvimento de cooperativas ou de outras
formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis e determina
a priorização de sua participação nos sistemas de coleta seletiva e de logística. A esse
62
conceito, destaca-se a Lei n.º 11.445/2007, essa institui as diretrizes nacionais para o
saneamento básico, na qual já havia sido estabelecida a contratação de cooperativas
e associações de catadores de materiais recicláveis, por parte do titular dos serviços
públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, dispensável de licitação.
A base nos princípios da autogestão, fortalece a organização produtiva dos
catadores em cooperativas e associações, da economia solidária e do acesso às
oportunidades de trabalho decente e representa, portanto, um passo fundamental
para ampliar o leque de atuação desta categoria profissional na implementação da
PNRS, em particular na cadeia produtiva da reciclagem, manifestando-se em
oportunidades de geração de renda e de negócios, dentre os quais, a comercialização
em rede, a prestação de serviços, a logística reversa e a verticalização da produção
(JUCON, 2016).
Para contribuir e aprimorar a atuação desse segmento na prática da PNRS,
importantes conquistas têm sido alcançadas para o fortalecimento da atuação dos
catadores com melhoria das condições de trabalho com a atuação e apoio do governo
federal, o que fortalece as cooperativas e associações de catadores de materiais
reutilizáveis e recicláveis, por meio de um conjunto de ações empreendidas por
diferentes órgãos, o que requer articulação e integração entre ações de cunho social,
ambiental e de ordem econômica (SOUSA, 2012 apud ABRELPE, 2015a).
6.2.1. Decretos e Leis à atuação dos Catadores:
a) Decreto n.º 5.940, de 25 de outubro de 2006: institui a separação dos
resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da
administração pública federal direta e indireta, na fonte geradora, e a sua
destinação às associações e cooperativas dos catadores de materiais
recicláveis, e dá outras providências.
b) Lei n.º 11.445, de 5 de janeiro de 2007: estabelece diretrizes nacionais
para o saneamento básico; altera as Leis n.º 6.766, de 19 de dezembro
de 1979, 8.036, de 11 de maio de 1990, 8.666, de 21 de junho de 1993,
8.987, de 13 de fevereiro de 1995; revoga a Lei n.º 6.528, de 11 de maio
de 1978; e dá outras providências. Essa Lei alterou o inciso XXVII do
63
caput do art. 24 da Lei n.º 8.666, de 21 de junho de 1993, tornando
dispensável a licitação “na contratação da coleta, processamento e
comercialização de resíduos sólidos urbanos recicláveis ou reutilizáveis,
em áreas com sistema de coleta seletiva de lixo, efetuados por
associações ou cooperativas formadas exclusivamente por pessoas
físicas de baixa renda reconhecidas pelo poder público como catadores
de materiais recicláveis, com o uso de equipamentos compatíveis com
as normas técnicas, ambientais e de saúde pública”.
c) Decreto n.º 7.217, de 21 de junho de 2010: regulamenta a Lei
n.º 11.445, de 5 de janeiro de 2007, que estabelece diretrizes nacionais
para o saneamento básico, e dá outras providências.
d) Lei n.º 12.305, de 2 de agosto de 2010: institui a Política Nacional de
Resíduos Sólidos; altera a Lei n.º 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e
dá outras providências.
e) Decreto n.º 7.404, de 23 de dezembro de 2010: regulamenta a Lei
n.º 12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de
Resíduos Sólidos, cria o Comitê Interministerial da Política Nacional de
Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a Implantação dos
Sistemas de Logística Reversa, e dá outras providências.
f) Decreto n.º 7.405, de 23 de dezembro de 2010: institui o Programa
Pró-Catador, denomina Comitê Interministerial para Inclusão Social e
Econômica dos Catadores de Materiais Reutilizáveis e Recicláveis o
Comitê Interministerial da Inclusão Social de Catadores de Lixo criado
pelo Decreto de 11 de setembro de 2003, dispõe sobre sua organização
e funcionamento, e dá outras providências.
64
7. EDUCAÇÃO
A história da educação brasileira é marcada pelo autoritarismo e pelo elitismo,
e somos, todos nós, produto dessa concepção ultrapassada. Já vem de muitos
séculos o preconceito que diz que por natureza o branco sabe mais do que o negro,
que o conhecimento europeu é mais completo que a cultura indígena ou que a cultura
norte-americana é mais rica que a popular brasileira. A educação por muito tempo
orientou-se pela noção de que o indivíduo é uma gaveta vazia a ser preenchida de
conhecimento.
Foi o que Paulo Freire (2005) chamou de “educação bancária”, concepção pela
qual seria possível apenas despejar um suposto conhecimento na cabeça vazia das
pessoas para educá-las. O tempo passou e muito se discutiu sobre esse modelo de
ensino; no entanto, ele continua presente nas relações do dia a dia. Além disso, as
iniciativas de preparação profissional, orientadas por uma ideologia empresarial que
promete sucesso e dinheiro, partem da mesma origem elitista que concebia o sucesso
profissional como um dom individual, e não como processo de formação histórica e
coletiva.
Os empresários e gestores públicos não acreditam que os catadores de
materiais recicláveis possam ser senhores de seus próprios destinos e não confiam a
eles a autogestão de seus empreendimentos. E como não dizer o mesmo das muitas
iniciativas de educação profissional existentes, que pretendem instruir os catadores a
melhor realizar seu trabalho com instruções pontuais e pouco aprofundadas? A
educação bancária está presente quando se considera essencial apenas a instrução
técnica – o “apertar parafusos” – na formação profissional dos trabalhadores,
acreditando que cabe ao catador aprender apenas o essencial para a subsistência.
(PINHEL et.al., 2013, p. 111).
Há os que acreditam que a tarefa de administrar e gerir as cooperativas e
associações é de técnicos qualificados especificamente para isso, cabendo ao catador
o trabalho braçal. É evidente que há tarefas específicas de técnicos especializados e
que as organizações de catadores precisam desse conhecimento técnico, não há
nada de errado na contratação de especialistas para estarem a serviço da
organização. O que está em questão é o papel político dos técnicos e da construção
do conhecimento dentro da organização de catadores. Por princípio, o protagonismo
65
político e as decisões administrativas devem partir dos catadores, que podem contar
com a orientação profissional de técnicos como subsídio para promover e aprofundar
sua prática. No entanto, o que se observa em muitas iniciativas de formação de
cooperativas é o caminho inverso. As ONG se apropriam de tarefas para “ajudar” as
organizações, tornando-as dependentes. (PINHEL et.al., 2013, p. 111).
Foi criticando esse modelo de “profissionalização” que os catadores ligados ao
Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis - MNCR que decidiram
criar seu próprio programa de formação, considerando que o catador e a catadora não
precisam simplesmente estar preparados para o trabalho, mas têm que gerir seu
trabalho, precisam entender sua realidade social e superá-la, precisam assumir seu
protagonismo político. Trata-se de pôr em xeque o modelo atual que separa a função
daqueles que trabalham da função dos que pensam e decidem (MNCR, 2009).
Em suma, o MNCR defende um projeto de Instrução Integral preconizado no
início do século por trabalhadores ligados ao movimento operário. O projeto desse
grupo de trabalhadores libertários propunha uma educação voltada à preparação
integral do trabalhador, tanto do ponto de vista profissional como político. A pedagogia
libertária também se preocupou em não distanciar a teoria da prática, antecipando o
método de Paulo Freire.
“A instrução deve ser igual em todos os graus para todos; por conseguinte, deve ser integral, quer dizer, deve preparar as crianças de ambos os sexos tanto para a vida intelectual como a vida do trabalho, visando a que todos possam chegar a ser pessoas completas” (BAKUNIN, 2003).
De acordo com a história, a constituição de grupos organizados de catadores,
que alguns autores chamam de empreendimentos, aconteceu no final da década de
1980, como a criação da Cooperativa de Catadores Autônomos de Papel, Papelão,
Aparas e Materiais Reaproveitáveis (COOPAMARE), no estado de São Paulo - SP,
em 1989, e da Associação de Catadores de Papel, Papelão e Outros (ASMARE), em
1990, que no processo de mobilização para a sua fundação, reuniu centenas de
catadores de rua em Belo Horizonte - MG. Tais iniciativas representaram um avanço
em relação à possibilidade de desenvolvimento de estratégias de inclusão por meio
da organização do trabalho cooperativo. A concepção da ASMARE e da
COOPAMARE também evidenciou o trabalho desenvolvido pela Igreja Católica,
sobretudo as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e as Pastorais de rua, que, ora
66
com uma perspectiva assistencialista, ora libertadora, contribuíram, significativamente
para esse processo (KEMP, 2008, p. 35).
A alternativa pela formação de empreendimentos geridos coletivamente revela,
por um lado, a necessidade de adaptação ao mercado de comercialização e o
aumento do poder de barganha, uma vez que as indústrias transformadoras exigem
que a venda seja realizada com alta quantidade e um mínimo de qualidade na entrega
do produto. Assim, a constituição de um empreendimento coletivo solidário contribui,
diretamente, para a reconstituição de pertencimento social e para a recuperação do
sentido de coletividade. Fato mostrado por Kemp, como:
“O econômico como projeto e atividade passa a ser suporte de algo mais essencial, que é a participação efetiva, o exercício de uma solidariedade pública, o engajamento expressivo e a recriação do laço social. Nesse cenário, o que se coloca é a capacidade de cada um tornar-se ator e contribuir para a produção de um bem e de um sentido comum” (KEMP, 2008, p. 32).
Alfabetização e a escolarização são direitos sociais que muitas vezes são
negados, sobretudo, no contexto desigual no qual vivem os catadores. Por outro lado,
esta negação torna-se um grave problema social, uma vez que, a pessoa que não lê
e não escreve possui, dentre outras questões, mais dificuldade de inclusão social e
profissional, impactando assim, na qualidade de vida do sujeito e da família.
“Há maior presença do sexo feminino entre os catadores organizados, a escolaridade dificilmente ultrapassa o ensino fundamental, os catadores contribuem significativamente com a renda familiar e, sua renda é obtida principalmente com a comercialização de recicláveis, atingindo menos de um salário mínimo. Entre os catadores os vínculos de trabalho são frágeis, a contribuição para o sistema previdenciário acontece na minoria das vezes e a entrada para a atividade responde à falta de outra opção. Em geral, o catador tem experiência de trabalho anterior à catação, mas, não necessariamente alcançava renda mais alta. Os mais antigos não desejam trocar de ocupação e a maioria reconhece a importância da atividade para o meio ambiente e a sociedade; a proximidade do local de trabalho também reforça a escolha da atividade de catação” (IPEA, 2012, p. 22).
Segundo pesquisa do IPEA (2013), a porcentagem de catadores analfabetos é
de 20,5%. Isso representa um grave problema social, pois limita as oportunidades
profissionais e leva a exclusão social, além de afetar a qualidade de vida do indivíduo
e de sua família.
67
A proposta educacional do MNCR contempla também o conteúdo programático
político sintetizado em sua Carta de Princípios e de Objetivos e em suas Bases de
Acordo, documentos orientadores da luta do MNCR construídos ao longo de um
Congresso Nacional e dois Congressos Latino-americanos, além de encontros de
representantes de todo o Brasil. Não bastava então apenas educar, seria preciso
fomentar novas formas de organização política e social, propor novas metas de vida
e superação da realidade. “Na grande empreitada de formação dos militantes do
MNCR, criar a cultura do diálogo, debater, estudar, nos formar individual e
coletivamente é dever de todos (as), para que entre nós não haja mais coitados nem
doutores, mas protagonistas, lutadores”. A empreitada foi construída com base na
realidade da categoria e na necessidade presente de avançar rumo à garantia de
direitos e melhores condições de trabalho.
“O catador torna-se o intermediário que deve ser eliminado do processo e, de fato, é o que vem ocorrendo, já que para a indústria da reciclagem, o fortalecimento desse grupo social significa uma potencial perda da sua capacidade de concentração de renda” (LAYRARGUES, 2005, p. 202).
A educação bancária, a ideologia empresarial e o preconceito de classe contra
o catador são opostos ao que propõe o programa de formação política do MNCR, que,
apesar de muito abrangente, sempre se propôs a ser uma ferramenta impulsionadora,
a ser construída e complementada durante o processo de formação.
“Incentivo à organização autônoma dos catadores, por meio de cooperativas e associações que procuram especializar estes trabalhadores e dar regularidade à atividade de catação. Como qualquer setor produtivo que abastece a indústria brasileira, as organizações de catadores precisam de infraestrutura para tornar o trabalho regular e de qualidade, assim como para aumentar a capacidade de processamento de resíduos, agregando novos catadores e formalizando novos postos de trabalho no país” (MNCR, 2009, p. 22).
68
8. METODOLOGIA
O presente estudo foi realizado em uma cooperativa na cidade de Volta
Redonda (Rio de Janeiro) que, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) 2016, tem 182,483 Km2, 257.803 habitantes e densidade
demográfica 1.412,75 (hab./ Km2). Atualmente é composta por 12 (doze) Secretarias
e 13 (treze) Autarquias, o que permite e facilita o funcionamento do poder público
municipal.
Segundo dados do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2013), Volta
Redonda-RJ tem Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) igual a 0,771 respeitando
as particularidades (número de bairros e de habitantes, condições sociais,
econômicas, sanitárias, ambientais etc.).
A pesquisa envolveu a busca e a leitura de arquivos virtuais e impressos sobre
o tema principal do trabalho: segurança e saúde no trabalho de catadores de materiais
recicláveis, bem como materiais consultados como: artigos, monografias,
dissertações, teses, leis, decretos, normas, manuais etc. Permitiu construir um breve
retrato da história dos catadores, organizar cronologicamente as lutas e avanços da
categoria, discorrer sobre a múltipla importância do segmento e sobre suas condições
de vida, trabalho, saúde, informações pré-existentes na cooperativa dos dados
sociocultural, de acidentes e elaboração de estratégias educativas, registros
fotográficos e observação dos cooperativados.
O trabalho de campo ocorreu entre os meses de julho de 2016 e janeiro de
2017, em encontros quinzenais na semana as terças-feiras e quintas-feiras. Tendo
participação também aos sábados, de forma quinzenal.
8.1. Desenvolvimento do Estudo
A empresa onde foi desenvolvido o estudo, apresenta em sua razão social o
nome fantasia de RECICLAR VR. A área está situada na Rua Trinta e Cinco, número
650, próximo ao bairro Vila Santa Cecília, na cidade de Volta Redonda, interior do Rio
de Janeiro. O empreendimento está situado sob as coordenadas (22°32,04’81’’ S,
44°05,54’79’’ O), conforme figura 4.
69
No entorno da cooperativa há algumas habitações familiares, a Escola Técnica
Pandiá Calógeras e a unidade da Universidade de Barra Mansa - UBM. A área está
em uma posição estratégica, estando isolada do movimento urbano, sob o domínio de
um ambiente natural, reserva de mata ao redor da cooperativa. Sua área física conta
com um galpão onde são realizados os trabalhos pelos cooperados que nela labutam
e uma área externa onde são depositados os materiais que chegam à cooperativa,
conforme pode ser visto nas figuras 5, 6 e 7 abaixo.
Figura 4 - Localização da Cooperativa Recicla VR, na cidade de Volta Redonda Fonte: Google Earth, 02/09/2016
Figura 5 - Materiais depositados para reciclagem Fonte: O Autor
70
A RECICLAR VR, se mantém basicamente do trabalho dos catadores que
encontram como matéria prima, o chamado de “lixo” pela sociedade, a fonte de
sobrevivência destes cidadãos. Ali são reunidas sobras de materiais de construção,
pedaços de metais e madeiras, papéis, papelões, plásticos e sucatas em geral. Não
existe um PEV - Ponto de Entrega Voluntário. Aqui cabe falar em entrega seletiva por
muitas pessoas que residem na proximidade e até mesmo, pessoas de outros bairros
da Cidade que conhecem ou já ouviram falar deste local e dos serviços executados
pelos cooperados. Estas práticas, difundem o reaproveitamento destes materiais
como forma de reduzir a retirada dos recursos naturais. Somente dois caminhões da
prefeitura fazem alguns circuitos, recolhendo material reciclável em alguns bairros e
estabelecimentos comerciais e municipais. Para ajudar o poder público em ampliar a
coleta seletiva, a comunidade pode se reunir e adotar procedimentos nos prédios, nas
ruas, nos bairros ou então, proceder à doação direta nas cooperativas.
Figura 6 - Materiais depositados na área do Galpão Fonte: O Autor.
71
O espaço físico da cooperativa apresenta algumas salas oriundas de uma
antiga escola no qual serve para guardar os produtos, estadia de cooperados durante
o serviço e funcionamento dos setores administrativos. Esse passa a ser um local
onde se podem depositar materiais de que não se precisa mais, mas que poderão
servir como moeda social. Sua reversão através do trabalho de todos os cooperados,
rende na maioria das vezes, o salário do mês para cada um deles.
8.2. Funcionamento da Cooperativa Reciclar VR
A cooperativa de reciclagem desenvolve o processo de tratamento dos
materiais recicláveis e os enviam às empresas recicladoras, mas até esta fase existe
uma série de etapas que a antecedem:
a) Recebimento: materiais trazidos pelo caminhão da PMVR exibido na
Figura 08, que passa nos comércios, condomínios, UniFOA, Posto AP, Bob’s,
Fóruns, White Martins, Fundação CSN, Neto Esportes, Gráfica Paixão, bairros
São João e Vila Brasília, Café Faraó, Secretaria Municipal de Obras e
Restaurante Bom Prato;
Figura 7 - Vista frontal da Cooperativa Fonte: O Autor
72
b) Coleta: nela os catadores coletam o lixo reciclável como alumínio, papel,
plástico e vidro, e entregam à cooperativa;
c) Triagem: quando o material chega às cooperativas ele precisa ser separado
para que nas empresas recicladoras sejam tratados e reciclados. Nesta etapa,
os resíduos são dispostos nas esteiras, trabalho realizado exclusivamente
pelas mulheres. Vide figura 9.
Figura 8 - Caminhões da PMVR com materiais coletados Fonte: O Autor.
Figura 9 - Materiais dispostos nas esteiras Fonte: O Autor.
73
d) Prensa: o material já separado é prensado e para que isso aconteça é
preciso de grandes prensas que compactam material em grande quantidade.
Esse trabalho, por ser uma atividade pesada, é realizado pelos homens.
e) Venda: nessa etapa todo o material é transportado e vendido para
empresas recicladoras que fazem o processo de reciclagem, tornando a usar
esses materiais como matéria-prima.
Em Volta Redonda, somente dois caminhões da prefeitura fazem os circuitos,
recolhendo material reciclável em alguns bairros. Apenas uma cooperativa de forma
oficial (Folha Verde no bairro Voldac) e duas outras cooperativas de forma irregular
com processo de regulamentação. Enquanto não é cumprida a promessa do poder
público de ampliar a coleta seletiva, a comunidade pode se arregimentar e adotar
procedimentos nos prédios, nas ruas, nos bairros ou, procederem à doação direta
para projetos assistenciais. A renda obtida com lixo pode ser utilizada em projetos
sociais.
Figura 10 - Prensas do local Fonte: O Autor.
74
9. RESULTADO E DISCUSSÃO
Quanto à produção, a cooperativa conta com um resultado mensal de 27
toneladas por mês e uma produção anual aproximada de 324 toneladas por ano,
sendo reciclados 27% de plástico, 65% de papel e 8% de metal. O vidro quase não
apresenta significância em volume.
Em visita a RECICLAR VR, foi possível conseguir as seguintes informações:
a) diariamente 16 pessoas atuam na triagem do lixo, recebendo
mensalmente uma média salarial de R$ 600,00 (seiscentos reais);
b) na cooperativa não há sistemas de registro de ponto, o controle é feito
manualmente e o pagamento do pessoal é feito pelo dia trabalhado;
c) não contam com nenhum incentivo do governo do Estado, somente com
o governo Municipal - Prefeitura de Volta Redonda;
d) todo material triado é vendido facilmente;
e) não existem Pontos de Entrega Voluntária (PEV) na cidade;
h) o relacionamento entre os integrantes da cooperativa é tido como regular;
i) o material não utilizado na triagem é colocado em sacos e disposto como
lixo para recolhimento da Prefeitura;
l) os cooperados são antigos catadores de lixões em sua grande maioria,
havendo a necessidade de capacitação técnica com os mesmos;
m) são utilizados como maquinários duas prensas, um elevador de carga,
duas paleteras, uma empilhadeira, uma picotadeira de papel e uma balança
digital;
n) o maior desafio enfrentado pela cooperativa é a conscientização dos
próprios cooperados.
O material recolhido pelo caminhão cedido pela prefeitura de Volta Redonda é
todo direcionado às três cooperativas do município: a própria Reciclar VR, a Folha
Verde e a Cidade do Aço, onde fazem a triagem e a venda. Todas funcionam em
espaços da prefeitura com parceria gerida pela Secretaria Municipal de Ação
Comunitária (SMAC).
75
A coleta seletiva já existe há muito tempo em Volta Redonda. Em 2014, foi
criado um Comitê Gestor da coleta seletiva entre Secretarias Municipais: Ação
Comunitária, Meio Ambiente, Cultura, Planejamento e Políticas Públicas para
Mulheres, Guarda Municipal, Defesa Civil, Gabinete do Prefeito, entre outras. Com
esse Comitê formado, começou a se fazer um trabalho para melhorar a coleta seletiva
e as cooperativas.
Através desse Comitê foi possível separar a empresa que realiza a coleta
seletiva da empresa que recolhe o lixo comum e orgânico.
Isso reflete avanços para a população com um melhor atendimento e para as
cooperativas que recebem mais materiais em especial aqueles previamente
selecionados.
Cabe ressaltar que as práticas da coleta seletiva e reciclagem sozinhas não
são as únicas alternativas para o gerenciamento dos resíduos sólidos. É importante
integrar opções, estimular o processo participativo, universalizar a cobertura dos
serviços, consolidar bases legais, captar recursos, garantir destino final adequado,
implantar programas de educação sanitária e ambiental e reduzir o consumo.
9.1. Resultado
Conforme o objetivo da presente pesquisa e de acordo com as diretrizes do
Programa de Mestrado Profissional em Ensino de Ciências da Saúde e do Meio
Ambiente foi desenvolvido como produto, um programa de capacitação no
gerenciamento de recicláveis no formato de uma Oficina com elaboração da Caixa
dos Desejos, Varal de Queixas e Plano de Ação.
9.1.1. Descrição
Na oficina denominada HAD (Hoje, Amanhã e Depois) os participantes são
levados a pensar fora dos condicionantes comuns, diagnosticando os seus desejos e
as suas queixas em processo coletivo. A oficina constituiu uma forma de produção
coletiva do conhecimento a partir do princípio de que todos têm a aprender e a ensinar,
cada qual a sua maneira, e em conjunto devem encontrar os caminhos para enfrentar
os desafios e buscar as soluções.
76
Esta dinâmica também reúne atividades para promover a reflexão, fomentar
debates sobre diversos temas e contribuir para a organização das ideias de
determinado grupo em torno da construção de projetos coletivos, transformando
desejos em realidade.
Em suma, o método estimula a participação de todos os componentes do grupo
e pretende:
a) Visualizar os desejos de futuro de cada membro para o grupo;
b) Apontar os problemas e dificuldades que afetam e preocupam o
grupo;
c) Reconhecer o que há de comum entre eles, na percepção de suas
causas;
d) Perceber os temas mais relevantes no seu contexto e as condições e
alternativas que existem para trabalhá-los coletivamente;
As atividades utilizadas nesta metodologia foram a Caixa dos Desejos e o Varal
de Queixas. O objetivo foi organizar toda a formação a ser administrada a partir dos
desejos e das reivindicações do grupo, auxiliando assim a cooperativa a sistematizar
as demandas e transformá-las em metas, o que possibilitou a construção de um plano
de ação condizente com a realidade e assumido pelo grupo.
A Oficina HAD foi desenvolvida em três etapas: na primeira, confeccionou-se a
Caixa dos Desejos; na segunda, estendeu-se o Varal das Queixas; e, por fim,
construiu o Plano de Ações, sistematizando as demandas dos cooperados e dividindo
o trabalho entre eles.
9.1.2. 1.ª Etapa - Caixa dos Desejos
Corresponde aos objetivos que se pretende alcançar ao final de um período
determinado. Nesta dinâmica partiu-se do pressuposto de que para se realizar algo
de valor é preciso ter espaço para sonhar. Os cooperados utilizaram os seguintes
materiais: tesoura, cola, papel de presente, fita crepe e uma caixa de sapato (retirada
dos resíduos que recebem no galpão). Nesta etapa, vimos a manifestação voluntária
de algumas mulheres para montar e enfeitar a Caixa dos Desejos - Figura 11. Com
isso, percebeu-se a interligação e a interdependência entre as diferentes pessoas da
77
Cooperativa. Cada qual, com seus desejos e manifestações de alegria, descontração
e atenção a oficina.
Na sequência, foram distribuídos pedaços retangulares de papéis para cada
cooperado responder as seguintes perguntas: “Qual é o seu desejo (Figura 12) para
a Cooperativa?” e “Como você deseja que a Cooperativa esteja em um ano?”. Neste
momento, dissemos que cada um poderia dar mais de uma resposta.
Figura 11 - Confecção da Caixa dos Desejos Fonte: O Autor.
Figura 12 - Desejos escritos em pedaço de papel e depositado na Caixa dos Desejos Fonte: O Autor.
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Buscou-se promover a reflexão e a transformação de desejos em palavras.
Cada cooperado, escreveu seus desejos no pedaço de papel. Neste momento,
conseguimos perceber a existência de alguns cooperados que não sabiam escrever.
O que nos levou a ajudá-los na escrita e também, solicitarmos que algum outro colega
o faça. Nesse momento, foi sugerido que cada cooperado lê-se e explicasse seu
desejo, ou mesmo que algum cooperado fizesse a leitura voluntariamente.
Depois que todos fizeram a leitura de seus desejos, analisamos em conjunto,
se de fato, cada manifestação era um desejo coletivo da Cooperativa. Caso existisse
algum com que o coletivo não se identificasse, a permanência dele na Caixa dos
Desejos era negociada com todos. A negociação coletiva mostrou que existia muitos
desejos parecidos entre os cooperados. Fizemos um agrupamento para facilitar a
sistematização e para que o grupo pudesse perceber que, por serem sonhados juntos,
esses desejos podem se tornar realidade.
Após todos terem manifestados seus desejos escritos no pedaço de papel, foi
solicitado, colocá-los dentro da Caixa dos Desejos - Figura 13.
Alguns exemplos de desejos que surgiram na Oficina Hoje, Amanhã e Depois
aplicada na Cooperativa: necessidade de mais materiais para trabalharem, aumentar
a renda, buscar mais parceiros, melhorar e organizar o espaço de trabalho, conseguir
através de doações alguns mais equipamentos como: balança, prensa, esteira,
armários, ferramentas e bags.
Figura 13 - Desejos escritos e depositados na Caixa dos Desejos Fonte: O Autor.
79
9.1.3. 2.ª Etapa - Varal das Queixas
A segunda etapa correspondeu ao momento de discussão dos desafios
a serem alcançados. Queixar serve para desabafar e pensar nas dificuldades que a
cooperativa terá de enfrentar para atingir seus desejos. Os papéis pendurados em
forma de roupas como: calça, calcinha, cueca, gravata, saia, sutiã e toalha foram
distribuídos para cada cooperado responder as seguintes perguntas: Qual é a
dificuldade para alcançar seu desejo na cooperativa?”. Ou ainda: O que impede que
a cooperativa alcance o que você desejou para ela? Cada cooperado pode dar mais
de uma resposta. Reclamar costuma ser mais fácil que desejar uma necessidade.
Por isso, os cooperados tendem a desenvolver esta etapa mais facilmente, mas
vale a mesma cautela para os auxiliá-los conforme descrita anteriormente,
assessorando a expressão das dificuldades, assim como o ajudando àqueles que não
escrevem. Após todos terem lamentado, o grupo “levanta” o Varal das Queixas -
Figura 14, no qual cada cooperado fixa sua peça no varal, lado a lado.
Na sequência, todas as queixas, as quais também podem ser chamadas de
desafios, foram lidas e o grupo refletiu coletivamente sobre elas. Nesse momento
seguimos o mesmo procedimento adotado para a Caixa dos Desejos (leitura realizada
por nós como interlocutores, pelos cooperados ou por um cooperado voluntário).
Mais uma vez, a reflexão coletiva mostrou que há muitos desafios semelhantes.
A ideia foi agrupá-los para facilitar a sistematização, mas também para que os
Figura 14 - Fixação das peças no Varal das Queixas Fonte: O autor.
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cooperados pudessem escolher quais desafios desejariam ser resolvidos em primeiro
lugar, em segundo, em terceiro, e assim por diante, listando-se, dessa forma, as
prioridades da Cooperativa.
Alguns exemplos de desafios que surgiram nas Oficinas HAD aplicados em
Cooperativas: a separação dos materiais recicláveis está ruim por falta de um maior
espaço, não conseguem pagar o INSS - Instituto Nacional do Seguro Social, temos
dificuldade em trabalhar de fato no Sistema Cooperativista, grande entra-e-sai
(rotatividade) de cooperados, dificuldade de aproximação do poder público de nossa
cidade. Sabe-se que a realidade do trabalho de uma cooperativa de catadores é
complexa e que muitos são os desafios para se construir um futuro melhor. Por outro
lado, são esses desafios que dão mais motivação e deixam claro que somente em
conjunto, com cooperação e solidariedade, será possível transformar a cooperativa.
No dicionário, “oficina” significa "lugar onde se exerce um ofício (mini Aurélio
2006 p. 590)", neste, ocorrem grandes transformações”.
9.1.4. 3.ª Etapa - Plano de Ações
A elaboração da terceira etapa, consistiu no Plano de Ações que
corresponde à sistematização das demandas e compromissos do grupo, ao estímulo
à ação coletiva e construtiva e ao estabelecimento de ações futuras, com a definição
de membros responsáveis e prazos de execução.
Ao término da “confecção” da Caixa dos Desejos, todos os desejos foram
listados. Estes, por si só, já se caracterizam como objetivos – ou melhor, metas. Eis o
início da listagem das metas da Cooperativa.
Ao término do “levantamento” do Varal das Queixas, os desafios foram listados
e colocados em ordem de prioridades. O próximo passo foi transformar esses desafios
em metas. Foi um exercício simples. Tomando-se como exemplo o desafio “não
conseguimos pagar o INSS”, este pode ser transformado na meta: “todos os
cooperados pagando o INSS”.
Com uma lista única de metas, estas podem ser novamente colocadas em
ordem de prioridade. É importante ressaltar que o objetivo da capacitação é trabalhar
para que o grupo possa atingir todas as metas levantadas. As prioritárias são aquelas
que serão trabalhadas primeiro ou com maior ênfase.
81
Para cada meta foi atribuída uma ou mais ações, bem como um ou mais
responsáveis, e um prazo. Este é o Plano de Ações. É fundamental que este plano
seja construído de forma totalmente participativa. Uma vez que os cooperados
levantaram as metas, eles também serão os protagonistas na construção das ações
a serem tomadas, bem como na escolha dos responsáveis e na definição dos prazos.
82
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os cooperados têm saberes diferenciados acerca das atividades que requerem
atitudes de segurança e educação ambiental. A maioria, apresenta certa dificuldade
de assimilação e conscientização.
Por meio da Oficina, foi possível sensibilizar os cooperados para questões que
dizem respeito ao comportamento humano referente a proteção individual e ações
voltadas para o meio ambiente. Nossa intenção, é dar continuidade a esse trabalho
com a realização de outros eventos como esse, para que a temática Segurança do
Trabalho e Educação Ambiental sejam estritamente debatidas e levada à formação
do curso para agentes comunitários de materiais recicláveis, de maneira a contribuir
para uma mudança efetiva de atitude e na forma de olhar o entorno, o meio ambiente,
o local com que eles se relacionam, a água que consomem entre outras coisas que
diuturnamente passam desapercebidas por eles. Esperamos que a proposta da oficina
trabalhada durante a pesquisa possa servir de base para aqueles que estejam
interessados em desenvolver um trabalho dessa natureza, melhorando ou
aprimorando os métodos.
Durante a investigação deste trabalho, gostaria de ter intervindo nas realidades
encontradas, principalmente nas observações em campo do estudo de caso na
Cooperativa, mas isso implicaria uma pesquisa-ação, o que demandaria trabalho mais
extenso e acredito que fugiria de uma investigação de mestrado. Essa ideia seria mais
bem aproveitada em um doutorado, conforme orientações recebidas.
Este estudo, nos trouxe a preocupação com a inclusão da temática Segurança
do Trabalho e Educação Ambiental no cotidiano dos catadores de materiais
recicláveis, por ser tema de preocupação, para cuja efetivação todos precisam
contribuir. Todos têm consciência que precisamos mudar nossos comportamentos
para a garantia de um planeta melhor para nós e futuras gerações. Nesse sentido,
acreditamos que nossa pesquisa proporcionou um auxílio válido. Além desta, nossa
pesquisa permitiu mudar nosso modo de ser, favorecendo nosso crescimento
humano, quando percebemos que, se nós mesmos podemos mudar, poderemos
mudar o planeta.
De qualquer forma, a observação e interação dos cooperados com o ambiente
social e o ambiente natural podem estar sendo estimuladas a partir de oficinas nas
quais seus tutores podem construir ativamente as atividades pedagógicas. De acordo
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com o interesse dos cooperados, atividades de Educação Ambiental na rua podem
estimular o “olhar para dentro” e o “olhar para fora” do local escolhido para as
atividades, levando à compreensão do ambiente urbano e ao entendimento de suas
relações com a natureza.
84
11. REFERÊNCIAS
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