cadeia produtiva da reciclagem e organizaÇÃo de redes de cooperativas de catadores

Download CADEIA PRODUTIVA DA RECICLAGEM E ORGANIZAÇÃO DE REDES DE COOPERATIVAS DE CATADORES

If you can't read please download the document

Upload: api-3762195

Post on 14-Jun-2015

975 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

1

CADEIA PRODUTIVA DA RECICLAGEM E ORGANIZAO DE REDES DE COOPERATIVAS DE CATADORES: OPORTUNIDADES E ELEMENTOS CRTICOS PARA A CONSTRUO DE TECNOLOGIA SOCIAL DE COMBATE POBREZA E INCLUSO SOCIAL NO ESTADO DA BAHIA

RELATRIO FINALFAPESBProf. Joo Damsio (Coord.)

GERI/UFBACentro de Referncia de Catadores de Materiais Reciclveis

PANGEA

Salvador, novembro de 2008

UFBa

2

Este trabalho no teria sido possvel sem o apoio da FAPESB, FAPESB de seus tcnicos e consultores, aos quais a Equipe Executora agradece.

3

EQUIPE EXECUTORA Coordenao Joo Damsio - Coordenao Geral Antonio Bunchaft - Supervisor Adherbal de Almeida Regis - Adjunto da Superviso

Pesquisadores Seniores Luiz Gustavo Delmont Coordenador da Pesquisa Direta Lcio Flvio da Silva Freitas Pesquisador Roberto Maximiniano - Pesquisador Gracil Mrcia Gonalves Moreira Pesquisadora

Auxiliares de Pesquisa Jlia Trindade Alves Cunha Taise Luz Miranda George Souza Santos Almeida Ana Cristina Sacramento de Jesus

4

AGRADECIMENTOSA Equipe Executora agradece ao apoio da FAPESB particularmente por entender que este trabalho ganharia em qualidade com a extenso do seu prazo de concluso em um ano, sem nus financeiros adicionais. A incluso da PARTE C deste trabalho, sobre a REDE CATA RIO originalmente no prevista com certeza enriquece a busca por Tecnologias de Incluso Social atravs da Comercializao Conjunta de materiais reciclveis. Os agradecimentos ao PANGEA, ao Centro de Referncia de Catadores de Materiais Reciclveis e s cooperativas baianas da REDE CATABAHIA so obrigatrios: os inestimveis servios prestados foram vitais para a realizao deste trabalho, e permitiram um grau de detalhamento da operao da REDE CATABAHIA apresentado na PARTE D -- que seria de outra forma indisponvel. A Fundao AVINA disponibilizou recursos adicionais que tornaram possveis os levantamentos diretos e as anlises apresentadas nas PARTES A e B deste trabalho, respectivamente sobre a REDE CATA SAMPA e o SISTEMA CAS. Estes apoios trouxeram riqueza de detalhes ao trabalho, e a Equipe Executora muito grata por isso. Finalmente, os agradecimentos devem ser dirigidos Petrobrs, ao Banco do Brasil e Fundao Banco do Brasil que atravs de financiamentos pontuais possibilitaram os levantamentos diretos das trinta e trs unidades de catadores de materiais reciclveis do Rio de Janeiro, que resultaram na proposta da REDE CATA RIO, constante da PARTE C deste trabalho.

5

RESUMOA produo de bens atravs do reuso e da reciclagem j demonstrou ser uma prtica economicamente eficiente, tecnologicamente vivel e ambientalmente correta. Alm disso, apresenta-se como um potente instrumento de reduo da pobreza e de incluso social. A principal barreira comercializao dos materiais coletados pelos catadores diretamente para as indstrias recicladoras alm da correta triagem a escala e a regularidade do suprimento para atender demanda. As Redes de Comercializao introduzem estratgicas logsticas e organizativas no curto-prazo, amplamente capazes de gerar ganhos em eficincias, com razovel poder de difuso, e com potencial para melhorar o padro de vida dos catadores filiados a cooperativas e associaes ligadas a essas Redes. Uma Rede de Comercializao possibilita que certos tipos de materiais que so coletados por cooperativas que no apresentam escala produtiva sejam vendidos a preos melhores. Uma Rede de Comercializao junta os esforos de diferentes cooperativas e , de fato, uma eficiente estratgia de negcios para enfrentar um mercado concentrado povoado por intermedirios. Este trabalho seccionado em quatro partes: a PARTE A apresenta a anlise da REDE CATA SAMPA; a PARTE B trata da iniciativa empresarial do SISTEMA CAS paraguaio; a PARTE C descreve a proposta da REDE CATA RIO; e a PARTE D analisa o funcionamento da REDE CATABAHIA. PALAVRAS-CHAVE: Reciclagem, Resduos Urbanos, Cooperativas, Redes de Comercializao, Materiais Reciclveis.

ABSTRACTThe production of goods through re-use and recycling has already shown to be a technologically feasible, environmentally correct and economically efficient practice. Besides, it is a potent instrument of social inclusion and poverty reduction. The main bottleneck to the direct sales of materials from catadores to the recycling industries besides correct selection is scale and regularity in delivery to attend demand. Trading Networks introduce organizational and logistic strategies in the short-run, fully able to generate gains in efficiencies, with reasonable diffusion power, and with a potential for improvement of the life standards of catadores affiliated to cooperatives and associations. A Trading Network allows that certain types of materials which are collected in cooperatives which do not display a productive scale to be sold at better prices. A Trading Network puts together the efforts of different cooperatives and, in fact, is actually an efficient management strategy to face a concentrated market filled by middlemen. This work is sectioned in four parts: PART A deals with the analysis of CATA SAMPA Trading Network; PART B deals with the entrepreneurship of Paraguayan CAS SYSTEM; PART C deals with the proposal of CATA RIO Trading Network; and PART D analyses the functioning of CATABAHIA Trading Network. KEY WORDS: Recycling, Urban Waste, Cooperatives, Trading Network, Recyclable Materials

6

NDICE GERALEQUIPE EXECUTORAAGRADECIMENTOS RESUMO - ABSTRACTS 3 4 5 12 29 29 31 34 36 44

INTRODUO GERAL ESTRUTURA DO TRABALHO PARTE A: A REDE CATA SAMPASEO A.1: INTRODUO PARTE AA.1.1. COOPERATIVAS DA REDE CATA SAMPA A.1.2. ESTRUTURA DA REDE CATA SAMPA A.1.3. O FUNCIONAMENTO DA CENTRAL DA REDE CATA SAMPA

SEO A.2: ANLISE DA PRODUO E COMERCIALIZAO DAS COOPERATIVAS DA REDE CATA SAMPAA.2.1. PRODUO FSICA DAS COOPERATIVAS DA REDE CATA SAMPA A.2.2. VALORES DOS MATERIAIS COMERCIALIZADOS PELAS COOPERATIVAS DA REDE CATA SAMPA A.2.3. AVALIAO DA COMERCIALIZAO CONJUNTA: VOLUME E VALORES DOS MATERIAIS RECICLVEIS NA REDE CATA SAMPA

44 52 58

SEO A.3: RETIRADAS DO GALPO A PARTIR DO PROCESSAMENTO DE GRANDES GERADORES, COLETA SELETIVA, FEIRAS E EVENTOS SEO A.4: EFICINCIAS FSICAS DAS COOPERATIVAS DA REDE CATA SAMPA SEO A.5: EFICINCIAS ECONMICAS DAS COOPERATIVAS DA REDE CATA SAMPA SEO A.6: GANHOS DE EFICINCIA NA REDE CATA SAMPA E EFICINCIA GLOBAL SEO A.7: ANLISE DOS GRUPOS DE EFICINCIA

66

70

74

78

86

7

FSICA CATA SAMPA SEO A.8: ANLISE DOS GRUPOS DE EFICINCIA ECONMICA CATA SAMPA96

SEO A.9: A EFICINCIA DE MERCADO DAS COOPERA- 109 TIVAS DA REDE CATA SAMPA

PARTE B: UMA ESTRUTURA EMPRESARIAL O PROJETO ALTERVIDASEO B.1: INTRODUO PARTE B SEO B.2: A VISITA A ASSUNO E A COLETA DE DADOS SEO B.3: A TICA DO CAS CENTRALB.3.1. PREOS DE COMPRAS E PREOS DE VENDAS DE MATERIAIS RECICLVEIS B.3.2. PROCEDNCIA DOS MATERIAIS RECICLVEIS ADQUIRIDOS PELO CAS CENTRAL B.3.3. AS RECEITAS LQUIDAS E OS LUCROS BRUTOS DO CAS CENTRAL B.3.4. EFICINCIA FSICA E EFICINCIA ECONMICA DO CAS CENTRAL

112

112 117

118 118 123 132 147

SEO B.4: A TICA DOS CATADORESB.4.1. AS RECEITAS DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLVEIS B.4.1.1. CARRINHEIROSB.4.1.2. OS CATADORES NOS GRANDES GERADORES B.4.1.3. CATADORES DO VERTEDERO E OUTROS CATADORES B.4.1.4. CARRINHEIROS, GRANDES GERADORES E CATADORES DO VERTEDERO: MDIAS PONDERADAS

149 149 151 152 154 157 158

B.4.2. EFICINCIA FSICA E EFICINCIA ECONMICA DOS TRS GRUPOS DE CATADORES

SEO B.5: A TICA DO SISTEMA CAS

160

8 B.5.1. A NATUREZA DO SISTEMA CAS B.5.2. EFICINCIA FSICA E EFICINCIA ECONMICA DO SISTEMA CAS B.5.3. ANLISE COMPARATIVA DAS EFICINCIAS DOS SEGMENTOS DO SISTEMA CAS 160 161 167

SEO B.6: OBSERVAES COMPLEMENTARES

171

PARTE C: A REDE CATA RIOSEO C.1: INTRODUO PARTE C SEO C.2: A AMOSTRA DAS UNIDADES DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLVEIS NA REGIO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIROC.2.1. CARACTERIZAO DA AMOSTRA DAS UNIDADES DE CATADORES C.2.2. AS 33 UNIDADES DE CATADORES DA AMOSTRA DO UNIVERSO AMOSTRAL PESQUISADO C.2.3. AS UNIDADES DO UNIVERSO AMOSTRAL NO-PESQUISADO

176 176 178

178 180 185

SEO C.3: AS UNIDADES DE CATADORES AGRUPADAS E 187 SUAS EFICINCIAS RELATIVASC.3.1. EFICINCIA FSICA E EFICINCIA ECONMICA C.3.2. ANLISE DOS GRUPOS DE EFICINCIA C.3.3. ANLISE DA EFICINCIA FSICA NA PRODUO DE MATERIAIS RECICLVEIS: DETALHAMENTO POR PRODUTOS C.3.4. ANLISE DA EFICINCIA ECONMICA NA PRODUO DE MATERIAIS RECICLVEIS: DETALHAMENTO POR PRODUTOS C.3.5. ANLISE DA EFICINCIA DE MERCADO NA PRODUO DE MATERIAIS RECICLVEIS: DETALHAMENTO POR PRODUTOS C.3.6. SUMRIO DOS GRUPOS DE EFICINCIA 187 193 198 202 206 212 213

SEO C.4: OS ENTREPOSTOS DA REDE CATA RIO: COMPOSIO E LOCALIZAOC.4.1. CONSIDERAES INICIAIS C.4.2. ASPECTOS ESTRATGICOS SOBRE OS ENTREPOSTOS E A CENTRAL CATA RIO C.4.3. O ENTREPOSTO DAS DOCAS C.4.4. O ENTREPOSTO NORTE

213 214 218 228

9 C.4.5. O ENTREPOSTO DUTRA C.4.6. O NCLEO DO ENTREPOSTO DE ITABORA C.4.7. SUMRIO DOS QUATRO ENTREPOSTOS DA REDE CATA RIO 242 255 262

265 SEO C.5: REAS DE INFLUNCIA DOS ENTREPOSTOS E PERSPECTIVAS DE LOGSTICA DA CENTRAL CATA RIO C.5.1. CONSIDERAES INICIAIS C.5.2. AS REAS DE INFLUNCIA DOS QUATRO ENTREPOSTOS C.5.3. PERSPECTIVAS DE LOGSTICA DA CENTRAL CATA RIO 265 269 272 278

SEO C.6. BENEFCIOS ECONMICOS POTENCIAIS DECORRENTES DA IMPLANTAO DOS QUATRO ENTREPOSTOS E DA CENTRAL CATA RIOC.6.1. CARACTERIZAO DOS BENEFCIOS ECONMICOS POTENCIAIS ANALISADOS C.6.2. BENEFCIOS ECONMICOS POTENCIAIS DECORRENTES IMPLANTAO DO ENTREPOSTO DAS DOCAS C.6.3. BENEFCIOS ECONMICOS POTENCIAIS DECORRENTES IMPLANTAO DO ENTREPOSTO NORTE C.6.4. BENEFCIOS ECONMICOS POTENCIAIS DECORRENTES IMPLANTAO DO ENTREPOSTO DUTRA C.6.5. BENEFCIOS ECONMICOS POTENCIAIS DECORRENTES IMPLANTAO DO NCLEO DO ENTREPOSTO DE ITABORA

278 DA DA DA DA 280 288 294 300 306

SEO C.7. ANLISE DAS EFICINCIAS RELATIVAS DOS QUATRO ENTREPOSTOSC.7.1. ANLISE DAS EFICINCIAS FSICAS DOS ENTREPOSTOS: DETALHAMENTO POR PRODUTOS C.7.2. ANLISE DAS EFICINCIAS ECONMICAS DOS ENTREPOSTOS: DETALHAMENTO POR PRODUTOS C.7.3. ANLISE DAS EFICINCIAS DE MERCADO DOS ENTREPOSTOS: DETALHAMENTO POR PRODUTOS C.7.4. SUMRIO DOS ENTREPOSTOS: BENEFCIOS POTENCIAIS CONJUNTOS

306 311 316 322

PARTE D: PERSPECTIVAS DA REDE CATABAHIASEO D.1. INTRODUO PARTE DSEO D.2. HISTRICO DA REDE CATABAHIA

328 328 330

10

SEO D.3. ESTRATGIA ADOTADA PELO PROJETO CATABAHIAD.3.1. CAPACITAO D.3.1.1. CONTEDO DA CAPACITAO D.3.1.2. ASPECTOS PEDAGGICOS E PARTICIPATIVOS D.3.2. INCUBAO D.3.2.1. INCUBADORAS NA REDE CATABAHIA D.3.2.2. LINHAS ESTRATGICAS DA INCUBAO D.3.2.2.1. ASSISTNCIA SOCIAL INTEGRADA D.3.2.2.2. COLETA SELETIVA E LOGSTICA D.3.2.2.3. TRIAGEM DE MATERIAIS, COMERCIALIZAO E ADMINISTRAO D.3.2.2.4. COMUNICAO E EDUCAO AMBIENTAL

334

335 335 336 337 337 338 338 339 340 341 342 343 347 352 355 359 367 370 375 376 377 377 378 378 379 380 382 384 385

SEO D.4. ANALISE INDIVIDUAL DAS COOPERATIVASD.4.1. COOPERATIVA DE CATADORES E RECICLADORES DE ALAGOINHAS - CORAL D.4.2. COOPERATIVA DE CATADORES DE ITAIR D.4.3. COOPERATIVA DE CATADORES DA UNIDADE DE CANABRAVA - COOPERBRAVA D.4.4. COOPERATIVA DE CATADORES DE JEQUI - COOPERJE D.4.5. COOPERATIVA DE CATADORES AGENTES ECOLGICOS DE CANABRAVA - CAEC D.4.6. COOPERATIVA DE BADAMEIROS DE FEIRA DE SANTANA COOBAFS D.4.7. COOPERATIVA DOS CATADORES RECICLA CONQUISTA VITRIA DA CONQUISTA D.4.8. COOPERATIVA DE RECICLAGEM E COMPOSTAGEM DA COSTA DOS COQUEIROS - VERDECOOP

SEO D.5. RESULTADOS SUMARIZADOSD.5.1. D.5.2. GRUPO D.5.3. D.5.4. D.5.5. D.5.6. D.5.7. D.5.8. D.5.9. ASSISTNCIA SOCIAL DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL E RELACIONAMENTO EM ASSISTNCIA SADE ALFABETIZAO E INCLUSO DIGITAL PROMOO DA CIDADANIA COLETA DE MATERIAIS RECICLVEIS COMERCIALIZAO CONJUNTA COMUNICAO E EDUCAO AMBIENTAL PONTOS DE DIVULGAO E SENSIBILIZAO

11 D.5.10. PALESTRA E OFICINAS COM EXIBIES AUDIOVISUAIS D.5.11. ABORDAGEM DOMICILIAR E SETORIAL D.5.12. VISITA MONITORADA D.5.13. CAMPANHA DE ARRECADAO DE MATERIAIS RECICLVEIS D.5.14. REDE DE MULTIPLICADORES E FRUNS LIXO E CIDADANIA D.5.15. NIBUS ITINERANTE E TEATRO 385 386 386 386 387 387 388

SEO D.6. RESULTADOS AMBIENTAIS SEO D.7. IMPACTOS NA FORMULAO DE POLTICAS PBLICAS SEO D.8. PERSPECTIVAS FUTURAS DA REDE CATABAHIAD.8.1. SUSTENTABILIDADE

390

392

392

REFERNCIAS

395

12

INTRODUO GERAL ESTRUTURA DO TRABALHOA pobreza e a desigualdade social ocupam um lugar central nos debates acerca da recente experincia do desenvolvimento brasileiro, seus aspectos futuros e as opes disponveis de polticas pblicas. Um fato marcante que, comparado a outros pases, o Brasil se destaca em termos de desigualdade, representando uma parcela significativa da pobreza da Amrica Latina. Segundo dados do IPEA, existem atualmente no Brasil cerca de 56,9 milhes de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza, isto , aproximadamente 31% da populao e cerca de 24,7 milhes de pessoas abaixo da linha da indigncia. Seguindo uma metodologia diferente, o Programa Fome Zero do Governo Federal divulga um resultado onde 58 milhes de pessoas esto vivendo em condies abaixo da linha da pobreza. A incluso scio-econmica, ao incorporar grupos populacionais menos favorecidos dinmica produtiva, alm de constituir-se por si num objetivo fundamental a ser alcanado, est intimamente associada a aes pr-ativas de gerao de emprego e renda. Dessa forma -- se no bastassem consideraes de carter tico -- a deciso de construir uma sociedade socialmente justa e coesa se impe at mesmo por clculo econmico, de modo que as aes voltadas para o desenvolvimento econmico e para o desenvolvimento social no sejam antagnicas entre si, mas, sobretudo, complementares. A catao de materiais reciclveis um fenmeno tpico de pases em desenvolvimento variando de cidade para cidade em intensidade e complexidade, geralmente congregando pssimas condies de trabalho, falta de apoio do poder pblico e desprezo da populao (MOTTA, 2002). O quadro de desemprego no pas vem aumentando o contingente de pessoas inseridas em atividades informais -destacada a de catao de materiais reciclveis -- que vem se configurando nos centros urbanos, como uma das atividades que recebe um significativo contingente de pessoas inseridas em

13 situao de pobreza crtica. Registram-se hoje cerca de 800.000 catadores em todo o pas (estimativa da ONG CARITAS) e cerca de 25.000 catadores na Bahia (estimativa da ONG PANGEA). Cabe ressaltar que tais catadores, na sua maioria, so advindos dos lixes das cidades, trabalhando nas piores condies possveis, muitas vezes dividindo espaos com animais disseminadores de vetores patognicos. A reciclagem do lixo urbano apresenta relevncias ambientais, econmicas e sociais, com implicaes que se desdobram em diversas esferas: na organizao espacial; na preservao e economia de energia; na gerao de empregos; no desenvolvimento de produtos; nas finanas pblicas; no saneamento bsico; na proteo da sade pblica; e na gerao de renda e reduo do desperdcio de recursos ambientais. De fato, a atividade de catao destaca-se por ter matria-prima abundante; por ser uma atividade rudimentar sem necessidade de conhecimento tcnico apurado - e por ter um mercado dinmico, mesmo em tempos de constrangimento macroeconmico. A simples observao dos nmeros da reciclagem na Bahia d a dimenso do potencial dessa atividade. Limitando-se, a ttulo de exemplo, recuperao e reciclagem do plstico, no ano de 1999 eram 25 empresas instaladas no Estado, capazes de reciclar um total de 14.332 toneladas de plsticos por ano. Tal mercado j movimentava um total de 20 milhes de reais por ano e gerava 605 empregos formais diretos. Contudo, esta populao de catadores encontra-se desorganizada, trabalhando em pssimas condies, em situao de pobreza crtica, lidando diariamente com o lixo sem a utilizao de equipamentos de proteo, vivendo assim expostos a diversas doenas. Tambm patente a explorao de seu trabalho, sua renda mdia no ultrapassa os U$ 30 mensais -- ndice considerado pela ONU como de pobreza extrema. Diante deste contexto algumas aes estruturantes vm modificando esta situao no Brasil e em particular no estado da Bahia: a) Criao do Comit Interministerial de Incluso Social e Econmica dos Catadores de Materiais Reciclveis: atravs desta iniciativa o Governo Federal, em 2003, coloca questo do catador como sujeito de poltica pblica. O Movimento Nacional

14 dos Catadores integra o comit. Desde ento, observa-se uma redefinio da poltica pblica em prol do catador com abertura de programas e projetos junto a Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome, Ministrio do Meio Ambiente, Ministrio da Cincia e tecnologia, Fundao Banco do Brasil, PETROBRS, BNDES, Fundao AVINA, Banco Interamericano de Desenvolvimento, entre outras agncias nacionais e internacionais de fomento; Implementao do Programa Reciclar para Crescer: programa da Secretaria Estadual de Combate Pobreza e as Desigualdades Sociais explicitamente reconhece e afirma a atividade da reciclagem como uma estratgia de combate pobreza e incluso social dos catadores. Vem apoiando iniciativas de organizao dos catadores no Estado da Bahia; Criao do Movimento dos Catadores de Materiais Reciclveis no Estado da Bahia: foi realizado nos dias 06 e 07 de fevereiro de 2004 o I Encontro de Catadores de Materiais Reciclveis do Estado da Bahia, fruto da parceria entre o Movimento Nacional de Catadores de Materiais Reciclveis e o PANGEA Centro de Estudos Socioambientais (secretaria estadual do movimento na Bahia). Nos dias 01 e 02 de setembro de 2005 o encontro foi reeditado, o II Encontro de Catadores de Materiais Reciclveis do Estado da Bahia aprofundou propostas de busca da organizao dos catadores em redes de comercializao como alternativa para a melhoria dos preos praticados; Constituio da REDE CATABAHIA, originalmente formada por cooperativas de catadores de Salvador, Feira de Santana, Vitria da Conquista, Jequi, Itapetinga e Itoror. A REDE CATABAHIA responsabiliza-se incubao de cooperativas; capacitao em gesto cooperativa; educao ambiental; e sistema de logstica da coleta seletiva visando arrecadao do material nos diversos municpios. Destaca-se a comercializao conjunta e em escala dos materiais triados, ultrapassando os atravessadores e negociando diretamente com a indstria recicladora, permitindo a realizao de melhores preos. A REDE CATABAHIA uma iniciativa da ONG PANGEA, com patrocnio da PETROBRS e apoio do Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome.

b)

c)

d)

15

Assim, o estudo da implementao de cooperativas de reciclagem de resduos slidos como forma de gerao de postos de trabalho surge como forma de integrar tais desenvolvimentos sociais e econmicos e ao mesmo tempo retirar uma parcela dessas pessoas em condio marginalizada, reintegrando-as sociedade. O estudo da viabilidade econmica e a implantao de cooperativas de reciclagem de resduos slidos urbanos -como forma de gerao de postos de trabalho -- destaca-se presentemente como estratgia para integrar o desenvolvimento econmico e social, recuperando sociedade uma parcela dos catadores de materiais reciclveis informais no Brasil. Estudos desenvolvidos pelo GERI/UFBa em parceria com a ONG PANGEA, demonstram que tais cooperativas apresentam baixo custo de implementao e um dos menores custos de criao de postos de trabalho. Ademais, o processo cooperado da catao e reciclagem de resduos slidos urbanos possui um forte carter de autosustentabilidade, gerando -- aps sua implementao -- reais condies de combate pobreza e de efetiva incluso social, constituindo empregos formais, assegurando renda para estes catadores, resgatando sua dignidade e, mais importante ainda, viabilizando a mobilidade social de uma categoria miservel. Para que existam ganhos de eficincia econmica e melhor utilizao dos materiais reciclveis so necessrias informaes prvias sobre o comportamento da produo total vis--vis as crescentes quantidades de reciclveis, por tipo de materiais, bem como uma caracterizao mais detalhada dos atores envolvidos nesse processo. Apesar da atividade de catao representar uma potencialidade no combate pobreza, a melhor delineao de polticas pblicas relacionadas atividade de catao de materiais reciclveis exige quesitos informacionais at ento indisponveis. Em outras palavras, faltam dados e informaes que possam indicar em quais ramos da cadeia da reciclagem possvel obter maior agregao de valor e qual o padro tecnolgico adequado, visando inserir as redes de comercializao num processo mais verticalizado.

16 Observa-se um conjunto de pontos de estrangulamento que criam obstculos para que esse processo possa tornar-se uma poltica pblica ampla e eficaz, a saber: a) Faltam estudos que permitam a mensurao dos impactos scio-econmicos e ambientais da atividade dos catadores, base da cadeia de reciclagem; b) Ausncia de informaes que possam revelar como se realiza e qual a dimenso da apropriao do excedente gerado especificamente na cadeia da coleta do reciclvel, onde se concentram os catadores e os atravessadores; c) Inexistem medidas confiveis de quantificao dos custos locais e regionais para a criao de uma poltica de gerao de postos de trabalho nesse segmento; Sem essas informaes torna-se impossvel conhecer as escalas operacionais de eficincias adequadas. Como montar uma organizao de catadores, diante dessas indagaes? Algumas questes bsicas e muito importantes merecem uma resposta: Qual o tamanho timo de uma planta de beneficiamento de materiais reciclveis? Qual o numero timo de prensas e outros equipamentos adequados para esta planta? Qual o nmero de catadores associados que podem estar inseridos nesta planta? Quais so os fluxos adequados de beneficiamento da produo que permitem otimizar o processo produtivo e transformar mercadoria em dinheiro no mais curto espao de tempo possvel? Qual a relao capital/trabalho tima numa planta de catadores compatvel com os melhores nveis de eficincias? Como podem ser mensurados os nveis de eficincia fsica, econmica e de mercado de uma planta de materiais reciclveis? As questes supracitadas foram alvo de estudo do grupo GERI (Grupo de Estudos de Relaes Intersetoriais) da UFBa (Universidade Federal da Bahia) sob a coordenao do Prof. Joo Damsio -- e envolveu a articulao entre o saber acadmico e cientfico, e a experincia de cooperativas e associaes de catadores em 22 Estados da Federao de todas as Regies do Brasil.1

1

O GERI foi criado em 1983 e registrado desde 1985 como um grupo de pesquisas consolidado pelo CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico. um grupo de pesquisas da Faculdade de Cincias Econmicas da Universidade Federal da Bahia Salvador Brasil.

17 O estudo foi realizado em parceria com o Centro de Referncia de Catadores de Materiais Reciclveis ligado ONG PANGEA (Salvador-Bahia) e encomendado/financiado pelo Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome - MDS2. As respostas s questes acima aludidas apontaram para uma direo segura: a criao de um mdulo de unidade bsica de cooperativa de catadores que -- embora adaptvel s diferentes e especficas condies locais, culturais e regionais especficas servisse de parmetro padro de referncia, quando levados em considerao os pr-requisitos para a elevada produtividade e a alta eficincia. O mdulo de unidade bsica procurou criar as condies de rompimento do crculo vicioso de ineficincias no 3 processamento de materiais reciclveis . Com referncia a esses mdulos bsicos, foi ento proposto um investimento total de cerca de R$ 169 milhes4 com o objetivo de equipar 244 cooperativas e associaes de catadores em 22 Estados Federais Brasileiros. O estudo referido, desenvolvido em 2005-6, construiu e props linhas mestras e blueprints agregando referencial e sustentao terica -- que permitiram ao governo brasileiro, atravs do Banco de Desenvolvimento Econmico e Social BNDES - tomar a inciativa de lanar um amplo programa de investimentos em capital fsico para as cooperativas brasileiras de catadores. Pela primeira vez na histria do banco foi publicado um edital nacional aberto s organizaes de catadores de materiais reciclveis, com o objetivo de apoiar financeiramente a capitalizao de suas cooperativas, na forma de equipamentos e instrumentos de trabalho. O site do BNDES: http://www.bndes.gov.br/linhas/catadores.aspAnlise do Custo de Gerao de Postos de Trabalho na Economia Urbana para o Segmento dos Catadores de Materiais Reciclveis elaborado pelo Prof. Dr. Joo Damsio para o PANGEA/ Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome (MDS) em 2006. O estudo encontra-se no prelo, para publicao, com prefcio do Ministro Patrus Ananias, do MDS. 3 Favor referir-se a op.cit. pp. 87-112. 4 Cerca de US$ 105 milhes taxa de cmbio corrente.2

18

anuncia um fundo social de Apoio a Projetos de Catadores de Materiais Reciclveis onde cita textualmente o seguinte: A participao do BNDES nas aes Federais voltadas para esse segmento iniciou-se em 2007, com a publicao do I Ciclo de Apoio a Projetos de Estruturao Produtiva de Cooperativas no mbito da iniciativa Apoio a Projetos de Catadores de Materiais Reciclveis. Foram apresentados 127 projetos, das quais 67 foram julgadas elegveis para fins de enquadramento. Dentre estes, foram enquadrados 44 projetos, dos quais 34 foram 5 aprovados, no valor de R$ 23 milhes . Estima-se que estas operaes resultaro em incremento de cerca de 2.300 postos de trabalho nas cooperativas e de 45% na renda mdias dos cooperados.6

5 6

Cerca de US$ 14.375.000,00 taxa de cmbio corrente. Grifo nosso, JD.

19

FONTE: Capturado da Internet no endereo fornecido. 2008

20 O apoio do BNDES ao segmento foi estruturado com base no estudo intitulado"Anlise do Custo de Gerao de Postos de Trabalho na Economia Urbana para o Segmento dos Catadores de Materiais Reciclveis"7, em que foram tipificadas as cooperativas e as associaes de catadores e proposto um mdulo de unidade bsica de investimentos para cada tipo, de acordo com seu estgio de desenvolvimento, visando a gerao de novos postos de trabalho e aumento de eficincia no segmento. Esses foram os nmeros do ano passado, 2007. Este ano o processo est aberto novamente para submisso de propostas, para uma potencial concesso de valores semelhantes. Vale a pena lembrar que esses recursos no so destinados na forma de emprstimos: so recursos de investimento social, executados a partir dos lucros do prprio banco. Contudo, a partir da anlise ao longo de toda cadeia produtiva e da comercializao do material reciclvel que so identificadas as barreiras e oportunidades de que depende o potencial presumido de gerao de emprego e renda na atividade de catao de resduos urbanos. A capacidade de identificar os principais atores das cadeias e sub-cadeias produtivas na comercializao de materiais reciclveis, por sua natureza e tipo, uma necessidade inicial. Essa etapa leva compreenso das diferentes formas de produo, de apropriao de valores, e dos ganhos relativos ao longo da cadeia para uma dada logstica na coleo, distribuio e triagem de cada um dos materiais reciclveis e finalmente, s caractersticas das estruturas de mercado existentes. O maior impedimento para que os catadores consigam vender diretamente materiais reciclveis para a indstria recicladora reside, alm da triagem adequada, em conseguir ter escala e regularidade de fornecimento. A indstria no pode conviver com quantidades reduzidas e irregularidade de fornecimento, sob pena de comprometer o seu processo produtivo. O controle de qualidade do material

7

Damsio, Joo (2006) - op.cit.

21 reciclvel exige volume, limpeza, acondicionamento correto e pontualidade. Muitos catadores -- por no possurem essas informaes disponveis em suas cooperativas e associaes -- so desorganizados economicamente e trabalham, em sua grande maioria, de forma isolada. Coletam os reciclveis na rua e no lixo, e vendem os materiais no-triados em pequenas quantidades a cada dia8, de forma atomizada, para a vantagem das estruturas de intermediao. Os atravessadores e sucateiros estabelecem com os catadores uma relao de trabalho que precria e indigna, comprando os materiais coletados a preos irrisrios -- a exemplo do papelo e do PET que no Estado da Bahia vendido respectivamente pelos catadores a R$ 0,07/kg e R$ 0,15/kg e posteriormente revendido pelos atravessadores a R$0,25/ kg e R$ 1,00 para a indstria recicladora. Ao se encontrarem desprovidos de capital -- instrumentos de trabalho, capacitao, organizao social e econmica -os catadores so submetidos a uma lgica perversa de explorao por parte de uma cadeia de atravessadores de materiais reciclveis, cuja base informal -- mas que progressivamente vai se formalizando -- at alcanar cadeias dinmicas da economia da reciclagem globalizada, como o setor do plstico, PET, alumnio e papel. Esse quadro fomenta uma situao de estrutural dependncia e endividamento por parte dos catadores, apropriando um excedente fundamental do trabalho realizado pelos mesmos. Mas, mesmo quando adquirem alguns equipamentos, organizando-se em cooperativas ou associaes, o volume por eles coletado ainda costuma ser pequeno, o que ainda os retm como refns da intermediao comercial. No obtm escala para atender a indstria. Nessas circunstncias, os catadores precisam adquirir novas escalas em novos patamares: a venda conjunta de materiais reciclveis em Redes de Comercializao.

8

O horizonte dirio de sobrevivncia implica na venda cotidiana do material reciclvel, o que impede a formao de estoque, subjuga o catador e reduz o preo dos materiais coletados.

22 As Redes de Comercializao9 introduzem novas estratgias logsticas e organizacionais no curto-prazo, amplamente capaz de gerar ganhos em eficincia, com razovel poder de difuso, e com o potencial de melhorar o padro de vida dos catadores filiados a cooperativas e associaes ligadas a essas Redes. Em uma Rede de Comercializao entram cooperativas que so estruturalmente diferentes: so colocadas lado a lado cooperativas de elevada eficincia e grupos de catadores que ainda povoam as ruas e lixes, e que apresentam eficincias extremamente baixas. Uma Rede de Comercializao possibilita que certos tipos de materiais que so coletados por cooperativas que no apresentam escala produtiva sejam vendidos a preos melhores. O seu principal objetivo agrupar e em alguns casos estocar -- materiais reciclveis at que sejam obtidos os volumes necessrios para atender s especificaes de demanda das indstrias. Em todos os casos, evidente que os retornos so maiores do que aqueles que seriam obtidos pela comercializao individual, descentralizada. Nesse sentido, uma Rede de Comercializao uma agregao de valores, que junta os esforos de diferentes cooperativas e , de fato, uma eficiente estratgia de negcios para enfrentar um mercado concentrado povoado por intermedirios. No deve ser surpreendente que, apesar de haver excees, os maiores ganhos em eficincia econmica obtidos atravs da Comercializao em Rede so apresentados pelas cooperativas menores e menos estruturadas. Elas so as que mais lucram, pelas externalidades positivas do arranjo mercantil desse procedimento. O aprendizado das caractersticas de uma Rede de Comercializao passa a ser uma estratgia empresarial para os catadores. Constitui-se numa central de inteligncia que articula as pequenas, mdias e grandes organizaes de catadores para uma comercializao simultnea e sistemtica. Se as Redes de Comercializao forem suficientemente eficientes para alcanar grandes volumes mensais eA REDE CATABAHIA foi a primeira Rede de Comercializao no Brasil. Para uma discusso mais detalhada de uma Rede de Comercializao funcionando em So Paulo, favor referir-se PARTE A deste estudo. Para um diagnstico e proposta de uma Rede de Comercializao na Regio Metropolitana do Rio de Janeiro, referir-se PARTE C deste estudo.9

23 regularidade de fornecimento, podem ultrapassar as estruturas de intermediao, e vender diretamente para a indstria recicladora, obtendo melhores preos para o mesmo volume de materiais. A compreenso e diagnstico sobre a constituio e o funcionamento de uma rede de comercializao tambm conseguem possibilitar a anlise do mercado consumidor de reciclados de forma regional e/ou nacional. Ao viabilizar a construo de um sistema de informaes sobre tendncias atuais e futuras das cadeias e sub-cadeias produtivas, possibilita observar os movimentos de mdio e de longo prazo agregando informaes sobre posicionamentos estratgicos das organizaes dos catadores. Porm, mesmo as Redes de Comercializao de cooperativas de catadores ainda no so capazes de construir estoques produtivos para enfrentar sazonalidades do mercado, at porque, em geral, no tm as informaes necessrias para compreender como se d a formao de estoque no mercado por sub-cadeias, quais so e como operam as categorias de anlise que incidem na formao e na variao do preo ao longo do tempo.10 Ainda existe uma grande ausncia de dados e de informaes que pudessem indicar em quais segmentos das subcadeias de reciclagem seria possvel agregar os maiores valores, e quais seriam os nveis tecnolgicos adequados, de forma a inserir as Redes de Comercializao em um processo mais verticalizado. Podem ser observados diversos gargalos que se tornam obstculos para que esse procedimento se torne uma poltica pblica ampla e eficiente. As Redes de Comercializao para cooperativas de catadores de materiais reciclveis so um fenmeno de menos de trs anos em toda a Amrica Latina, ainda singulares, restritas quase ao Brasil, com muita dose de experimentao e pouco conhecidas academicamente. Isto implica em que a construo de um conhecimento articulado a esta experincia prtica, significa um deslocamento do posicionamento estratgico dos catadores na cadeia produtiva, de meros fornecedores individuais, para

10

O preo da Nafta no mercado internacional impacta na resina virgem do PET que em certas situaes pode ser mais barata do que a resina reciclagem, por mais paradoxal que seja.

24 organizaes econmicas regionais e nacionais de fornecimento de matria prima para a indstria.11 Uma melhor compreenso das cadeias e sub-cadeias produtivas do processo de reciclagem e a adoo de medidas que apiem a organizao de Redes de Comercializao para cooperativas e associaes de catadores, certamente abrir novas oportunidades para a acumulao de conhecimento crtico para a estruturao de uma tecnologia social de combate pobreza, favorecendo a incluso social. Ademais, proposies de fortalecimento institucional e consolidao de tecnologias de gesto em rede das cooperativas de catadores, garantindo a auto-sustentabilidade das mesmas, configuram-se em elementos chave para o sucesso de medidas que visem a incluso social da populao que hoje vive margem do setor produtivo, retirando do lixo seu sustento. A proposta desta pesquisa visa o preenchimento de algumas dessas lacunas. Desta forma, o principal objetivo do presente estudo diagnosticar e analisar elementos crticos e oportunidades do mercado de reciclagem e de coleta de materiais reciclveis a partir de experincias concretas e de dados primrios. A coleo de experincias bem e mal sucedidas visa construir subsdios tcnicos indispensveis para a formulao de polticas pblicas de Redes de Comercializao Conjunta como tecnologia social que, por sua vez, viabiliza a incluso scio-econmica e proporciona a organizao e valorizao integrada dos materiais reciclveis coletados pelos catadores de rua e de lixo. O material reciclvel tem como caracterstica geral pouco peso e muito volume. Pagar para carregar ar muito freqente nas operaes de coleta seletiva.

11

A REDE CATABAHIA, abordada na pesquisa deste projeto, a primeira rede nacional que inaugurou esta estratgia, sendo referncia para o Brasil. Foi considerada em 2007, pelas Naes Unidas, como uma das 50 melhores experincias visando alcanar os Objetivos de Desenvolvimento do MILNIO -- na categoria do combate misria. Como experincia que , acumulou um conjunto de prticas, que obteve sucesso. Trata-se aqui de analisar a experincia, enfatizar a natureza da comercializao conjunta, sistematiz-las junto com um conjunto de outras prticas e tcnicas, visando constituir um modelo de agregao de valor em benefcio da incluso social.

25 A densidade na distribuio do material reciclvel num territrio se deve a trs elementos fundamentais, a saber: a renda da comunidade que habita aquele territrio; a populao daquela regio/cidade; e a presena de grandes empresas. Quanto mais elevada a renda de uma comunidade, maior a proporo entre materiais reciclveis e o lixo orgnico produzido nesse territrio. Da mesma forma, maior tambm ser o valor econmico per capita contido nos resduos domsticos. Qualquer catador de rua, organizado ou no, sabe disso -- o que pode ser observado pela sua efetiva distribuio territorial. Quanto maior for a populao de uma regio e/ou cidade, maior a densidade territorial de resduos existentes. O nmero de catadores nesse territrio tende a acompanhar essa densidade. O conhecimento do territrio e a forma de escoamento do material reciclvel so necessidades logsticas essenciais eficincia da atividade. Quanto mais empresas existirem numa cidade/regio maior ser a densidade de resduos concentrada em pequenos espaos territoriais. A negociao do acesso aos resduos dos grandes produtores de materiais reciclveis12 -- e a adequao da coleta e triagem in loco desses materiais -- uma informao necessria para possibilitar o aumento das eficincias fsicas e econmicas. A modelagem correta de captao de materiais reciclveis -- atravs da distribuio num territrio de um determinado conjunto numrico de entrepostos estrategicamente localizados, at chegar a um galpo central -- conhecimento emprico muitas vezes no sistematizado, nem articulado aos modelos formais existentes. A modelagem correta para um consorciamento articulado para transbordo entre carrinhos de coleta atravs de trao humana e caminhes de recolhimento com o objetivo de obter o maior volume de materiais reciclveis com menor custo econmico possvel -- tambm conhecimento emprico ainda no-sistematizado, nem agregado a modelos formais. Atualmente, os registros de montagem de sistemas de captao de materiais reciclveis que levem em conta ao mesmo tempo as variveis de peso e volume so essencialmente12

Supermercados, Shopping Centers, Cadeias Varejistas, Hotis, Restaurantes e algumas indstrias.

26 errticos. Isso devido principalmente irregularidade temporal na distribuio dos resduos urbanos quanto s variveis territoriais e nveis de renda da regio considerada. Aqui, novamente, o conhecimento emprico adquirido joga um papel determinante na eficincia da atividade. At o momento, modelos matemticos de consorciamento para fins logsticos atravs de rotinas computacionais -- que considerem variveis como centrais / entrepostos / galpes e os transbordos entre carrinhos de coleta de trao humana e caminhes de recolhimento em geral produziram resultados errticos e pouco confiveis. Como dito acima, o conhecimento emprico das variaes sazonais especficas -- e mesmo dos perodos do dia favorveis coleta -- so determinantes para o sucesso da logstica e de um desempenho eficiente13. As questes apresentadas demonstram a importncia de reunir mais informaes sobre o processo dinmico de valorao de preos dos materiais reciclveis, em circunstncias onde a logstica tenha papel relevante. A ausncia dessas informaes acarreta ineficincia e a elevao de custos para os catadores de materiais reciclveis -- seja pela simples adoo de sistemas desarticulados de coleta, seja pela utilizao ineficiente de caminhes de transbordo. Os pontos acima elencados ensejam a necessidade de construir um informaes estruturadas sobre qual modelos de arranjo de circuitos logsticos de coleta seletiva sejam economicamente sustentveis e operacionalmente viveis para situaes diversificadas, onde as variveis supracitadas tm intensidades diferentes em cada territrio, em cada poca do ano e at em cada hora do dia. O presente estudo estruturado em 4 partes, aqui denotadas pelas letras maisculas do alfabeto latino A, B, C e D: A PARTE A ocupa-se com um estudo diagnstico da REDE CATA SAMPA, uma Rede de Comercializao Conjunta que foiPortanto, em acordo com a referncia ao desenvolvimento das capacidades locais de inovao, [e] modernizao da infra-estrutura de disseminao da informao - BID-Program Profile-Knowledge Economy (KE) Program-Feb, 2008 item 2.7. Nossa traduo, JD.13

27 constituda na Regio Metropolitana de So Paulo por dezenove cooperativas de catadores de materiais reciclveis em 2006/07. O estudo dessa rede tornou-se fundamental para os objetivos deste trabalho por ensejar a oportunidade de estudar comparativamente os ganhos em eficincias e em receitas obtidos pela comercializao conjunta. Um aporte de recursos da Fundao AVINA viabilizou a incluso desta etapa neste trabalho. A PARTE B foi diretamente inspirada pelo trabalho de Mrcio Magera14, que prope e defende a empresarializao das cooperativas de catadores de materiais reciclveis por ele consideradas ineficientes e incapazes de obter adequados nveis de produtividade. A virtual inexistncia de experincias empresariais bem sucedidas nesse segmento no Brasil aonde a maior parte das organizaes de catadores tem a figura jurdica de cooperativas ou associaes independentes tornou necessrio o levantamento de dados em uma experincia aparentemente bem sucedida que conta com financiamento do BID. Na PARTE B apresentada a avaliao da experincia empresarial da ALTERVIDA em Assuno, Paraguai. Seus resultados so comparados com os obtidos pela REDE CATA SAMPA e os efeitos de incluso social so justapostos. O mesmo aporte de recursos da Fundao AVINA tambm viabilizou a incluso desta etapa neste trabalho. A PARTE C analisa e prope uma vasta Rede de Comercializao Conjunta, composta por quatro Entrepostos e uma Central de Logstica e Administrao. Quando entrar em funcionamento poder incorporar cerca de setenta e sete organizaes de catadores de materiais reciclveis localizadas na Regio Metropolitana do Rio de Janeiro. A anlise das eficincias produtivas e de mercado dessas unidades possibilitou uma viso macroscpica que certamente ser til, no futuro, para compor uma mais ampla estrutura de comercializao em rede para o Estado da Bahia. Esta etapa foi viabilizada por aporte de recursos do Banco do Brasil e de sua Fundao, alm da PETROBRS. Finalmente, a PARTE D trata diretamente das cooperativas que hoje constituem a REDE CATABAHIA. Essa rede formada pela organizao intermunicipal de dez plantas de cooperativas baianas de catadores de materiais reciclveis. Visa implantao de um organismo especfico para o desempenho de atividades relacionadas coleta e14

Cf. Magera, M. Os Empresrios do Lixo Um Paradoxo da Modernidade Editora tomo 2005.

28 comercializao de materiais reciclveis, gerando novos postos de trabalho e definindo estratgias mais eficientes de insero no mercado. A REDE CATABAHIA focaliza suas aes em projetos de gerao de condies de competitividade para as cooperativas de catadores atravs da Comercializao Conjunta de materiais reciclveis.

29

PARTE A: A REDE CATA SAMPAA.1. INTRODUO PARTE ADurante a execuo do presente trabalho, surgiu a oportunidade de efetuar o diagnstico de uma rede de Comercializao Conjunta que comeava a ser estruturada na Regio Metropolitana de So Paulo, a REDE CATA SAMPA. Esta rede foi explicitamente inspirada nos moldes da REDE CATABAHIA j pr-existente mas exibia uma densidade de volumes de materiais reciclveis que apenas o conglomerado paulistano produz. Tornou-se evidente que analisar e entender os procedimentos implementados pela REDE CATA SAMPA seria instrumental para aumentar a robustez do presente trabalho, dando origem a esta PARTE A. A REDE CATA SAMPA foi criada em 2006 com o objetivo de congregar cooperativas e associaes de catadores de materiais reciclveis na Regio Metropolitana de So Paulo. Hoje conta com 17 cooperativas/associaes/grupos-emformao, alm da chamada Central, um galpo no bairro do Glicrio, que joga o papel de racionalizador logstico, apoio tcnico, processamento e estocagem de materiais reciclveis. Realizar este diagnstico no foi uma tarefa simples! Durante oito semanas foram efetuadas diversas campanhas de levantamento de dados primrios, via preenchimento direto de questionrios, entrevistas e envio eletrnico de dados adicionais. Assim, partiu-se de um nmero inicialmente avaliado em nove cooperativas/associaes dentro da rede as mais ativas para logo elev-lo para onze, com a incluso da Coopamare e do galpo da REDE CATA SAMPA. Num segundo momento foram agregadas mais duas cooperativas (CooperGlicrio e CooperSantos), o que exigiu uma nova rodada de levantamento de dados. Finalmente, ao ficar mais bem explicitados os mecanismos de comercializao conjunta e de retiradas a partir do processamento de materiais de grandes fornecedores no galpo da central e/ou provenientes de feiras e eventos, foram agregadas mais quatro grupos-em-formao, ainda no propriamente constitudos como cooperativas.15

Para facilitar a referncia, todos essas cooperativas, associaes e grupos-em-formao sero genericamente chamados de cooperativas neste diagnstico, apenas com o efeito de evitar cansativa circunlocuo.

15

30 A tarefa de levantamento de dados no ms-base deste estudo (agosto de 2007) foi ainda prejudicada pela prpria existncia da Rede e da comercializao conjunta, uma vez que algumas informaes traziam dupla contagem em relao aos dados fornecidos pela Central, ao passo que outras chegavam com a comercializao conjunta j deduzida. Vrias rodadas de compatibilizao das informaes primrias foram necessrias para que fosse possvel emergir um conjunto de dados conexos e depurados. Adicionalmente, o mecanismo das retiradas proporcionais ao nmero de trabalhadores-horas empenhados por cada uma das cooperativas nas diversas empreitadas contribuiu para turvar um pouco mais o quadro: neste caso, como veremos mais detalhadamente adiante, optou-se por considerar a proporo de retiradas de cada cooperativa em um perodo mais amplo, tomando-se aqui a mdia destinada a cada cooperativa no perodo julho/agosto/setembro de 2007. Dessa forma, embora o longo perodo de levantamento de dados, crtica, depurao e adio de novos dados tenha sido muito mais longo do que o inicialmente estimado, cremos que tenha sido finalmente possvel a observao analtica de um quadro que manifesta de forma clara, a beleza e a complexidade dessa empreitada coletiva que resulta da REDE CATA SAMPA.

31

A.1.1. COOPERATIVAS DA REDE CATA SAMPAAs dezessete cooperativas que hoje constituem a REDE CATA SAMPA so muito diversas entre si: vo desde organizaes de alta eficincia, como o caso da Coopamare, at grupos-derua, no-formalizados em etapas de organizao e que apresentam baixssima eficincia. QUADRO A.1.1: DADOS GERAIS: NMERO DE COOPERADOS, PRODUAO FSICA E VENDAS TOTAIS DAS COOPERATIVAS Agosto de 2007

FONTE: CATASAMPA Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

No QUADRO A.1.1 acima e nas FIGURAS A.1.1, A.1.2 e A.1.3 a seguir so apresentados os dados relativos aos nmeros de cooperados; gravimetria do volume fsico produzido; e do valor global das vendas de cada cooperativa para o ms de agosto de 2007:

32

FIGURA A.1.1: NMERO DE COOPERADOS POR COOPERATIVA REDE CATA SAMPA Agosto de 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

importante notar aqui que a cooperativa #18 -- aqui representada como REDE CATA SAMPA -- refere-se ao galpo da Central no Glicrio, e os seus dados correspondem aos processamentos que so coletivamente apropriados como retiradas. O seu nmero de cooperados , portanto, uma mdia de catadores ativos no galpo no ms de agosto de 2007. Por razes metodolgicas que permitam a comparao e avaliao relativas, a Central ser aqui tratada como uma cooperativa. Entretanto necessrio sempre lembrar que NO se trata de uma cooperativa como as demais, uma vez que seus resultados so repartidos entre cooperativas participantes da REDE CATA SAMPA.

33

FIGURA A.1.2: PRODUO FSICA DAS COOPERATIVAS REDE CATA SAMPA Agosto de 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

A primeira constatao a considervel desproporo entre a Coopamare e as demais cooperativas da rede. Por ser maior e muito mais eficiente que as demais, a agregao de seus dados sempre introduzir um vis para mais que ser, no mais das vezes, neutralizado pela comparao dos dados obtidos com a sua excluso. Isto ser observado sempre que o vis seja notvel, como veremos adiante. Ademais, a Coopamare no participa da comercializao conjunta e suas retiradas em receitas, a partir do material processado no galpo, corresponde a apenas 5,3% do total rateado e a 2% do seu faturamento bruto. Esta participao marginal da Coopamare em relao s atividades desenvolvidas pela rede ser evidente nas sees subseqentes.

34

FIGURA A.1.3: VALOR DAS VENDAS DAS COOPERATIVAS REDE CATA SAMPA Agosto de 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

A.1.2. ESTRUTURA DA REDE CATA SAMPAA REDE CATA SAMPA estruturada ao redor de DUAS atividades: a Comercializao Conjunta, e o processamento de materiais arrecadados em grandes geradores, coleta seletiva, feiras e eventos. A Comercializao Conjunta permite que alguns tipos de materiais sejam arrecadados em diversas cooperativas que no tem escala produtiva que permita preos melhores: o objetivo reunir e se for o caso estocar materiais reciclveis at que seja obtido o volume necessrio para atender s demandas em nveis de comercializao superiores aos que seriam obtidos pela comercializao individual descentralizada. Nesse sentido, a comercializao conjunta une os esforos das diversas cooperativas e de fato uma forma eficiente de fazer frente a um mercado concentrado e povoado por atravessadores.

35 O processamento de materiais arrecadados em grandes geradores, coleta seletiva e feiras e eventos feito no galpo da Central do Glicrio. As cooperativas interessadas FIGURA A.1.4: ESTRUTURA DA REDE CATA SAMPA

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto PANGEA

em participar nos resultados, enviam catadores para cada empreitada, e o nmero de horas dedicadas s tarefas comuns por seus cooperados serve de parmetro de referncia para a

36 partilha dos recursos obtidos descontados 5% relativos aos custos operacionais, que revertem prpria Central. A FIGURA A.1.4 acima procura descrever essa estrutura. As linhas azuis ligadas ao crculo demonstram as cooperativas que so beneficiadas pela comercializao conjunta. As linhas vermelhas indicam que existe alguma participao das cooperativas respectivas nas retiradas a partir do processamento de materiais arrecadados em grandes geradores e feiras e eventos. As cores que preenchem os retngulos de cada cooperativa indicam as suas eficincias relativas, e sero mais bem qualificadas na anlise que se segue nas prximas sees. Entretanto, tomamos a liberdade de j explicit-las desde logo, com o objetivo de denotar os diferentes nveis de eficincias globais relativas entre as cooperativas da REDE CATA SAMPA. Notar que a cooperativa #13 CooperSantos ainda no participa de nenhuma dessas duas atividades da rede, embora conste que ela efetivamente coligada a ela.

A.1.3. O FUNCIONAMENTO DA CENTRAL DA REDE CATA SAMPAA metodologia de funcionamento do galpo da Central da REDE CATA SAMPA foi detalhadamente fornecida pela sua Assessoria de Logstica.16 Quanto comercializao conjunta:A venda conjunta no galpo no ocorre com datas prestabelecidas. A comercializao no galpo ocorre somente quando se acumula uma quantidade interessante de material, suficiente para ser retirada ou entregue ao comprador. Essa quantidade varia de material para material, mas segue essa regra: papelo/papel branco/aparas plsticas - 5 ton.; copinho plstico - 2 a 3 ton.; PEAD/PP - 2 ton.; tetrapak - 10 a 12 ton. Os 5% so deduzidos aps a venda dos materiais e antes do repasse s bases. Os custos com esta operao no so deduzidos da mesma, mas, os 5% teriam, teoricamente, esse papel. A deduo dos 5% ocorre sobre a receita bruta da comercializao, ou seja, da venda ocorre o desconto dos 5% na maioria dos casos, exceto quando se trata de Feiras e Eventos.Os dados nesta seo so citados diretamente da correspondncia com Joo Ruschel, Assessor de Logstica da REDE CATA SAMPA e aqui reproduzidos.16

37Neste caso, da venda dos materiais arrecadados so deduzidas as despesas operacionais (combustvel, transporte, alimentao, pedgio, estacionamento, etc.), deduzido 5% e o restante distribudo s cooperativas que participaram do processo, proporcionalmente s horas gastas por cada um de seus integrantes.

O envio de catadores de cooperativas da REDE CATA SAMPA para o galpo parece ser voluntrio, embora no tenha sido possvel estabelecer com clareza a natureza dos critrios que norteiam a escalao dos nomes que so enviados, nem sequer como o nmero de catadores de cada cooperativa disposio do galpo determinado. Nas palavras da Assessoria de Logstica:Quando falamos nas cooperativas que enviam cooperados para o galpo, temos duas situaes: a) Quando ocorrem Feiras e Eventos, algumas cooperativas, normalmente de 6 a 8 bases, costumam enviar pessoas para contribuir. As bases que normalmente no enviam pessoas no o fazem por localizarem-se muito distante das Feiras, o que encarece muito o transporte das pessoas, toma muito tempo e desgasta fisicamente, e outras no enviam pessoas por acabarem se prejudicando em suas atividades cotidianas (poucas pessoas); b) Quando as bases trazem materiais ao galpo para prensagem, algumas enviam, ou no, pessoas para realizar este trabalho (fazer os fardos). Ultimamente, a maioria das bases que enviam materiais ao galpo no tem encaminhado pessoas. Neste caso, a equipe do galpo [...] realiza este trabalho e a base dona do material, abre mo, alm dos 5% da Rede, mais 10% por no ter beneficiado seus materiais com sua prpria mo-deobra. Quem normalmente envia pessoas para Feiras ou para prensar materiais : - #01 Cooperalto (participa de Feiras); - #03 Coures (participa de Feiras); - #07 Cruma (participa de Feiras); - #04 Cora (participa de Feiras); - #02 Chico Mendes (participa de Feiras); - #10 Fnix (participa de Feiras e prensa materiais no Galpo); - #09 Cruffi (participa de Feiras e prensa materiais no Galpo); - #05 Jacupia (participa de Feiras e prensa materiais no Galpo); - #14 Sempre Verde (participa de Feiras e prensa materiais no Galpo); - #15 Ame (prensa materiais no Galpo); - #16 Camare (prensa materiais no Galpo); - #18 Coopersampa (prensa materiais no Galpo).

38Quem no tem enviado pessoas ao galpo, ou a Feiras, : - #13 Coopersantos; - #06 Ares; - #08 Coofemar; - #11 Coopamare; - #12 Cooperglicrio; - #17 Magnlia Dei.

Aparentemente a declarao acima reflete uma posio de momento, uma vez que os dados de repartio das retiradas referentes aos meses de julho, agosto e setembro de 2007 enviados pela mesma Assessoria de Logstica incluem a #06 Ares, a #08 Coofemar, a #11 Coopamare, e a #11 CooperGlicrio entre as participantes, e excluem a #14 Sempre Verde, a #15 Ame e a #16 Camare. Em outras palavras, os dados numricos encaminhados aps repetidas consultas no correspondem s descries acima. Optou-se por aceitar os dados numricos como descritivos e representativos do que se passou no perodo referido, e as declaraes acima como uma avaliao momentnea da disponibilizao de pessoal das cooperativas da rede no trabalho do galpo. Esta opo metodolgica indica que podem existir flutuaes sensveis no mdio prazo entre as efetivas fatias que so destinadas na forma de retiradas a cada uma das cooperativas que participam da REDE CATA SAMPA. Para este trabalho, seguiremos a descrio para as formas de participao das cooperativas na REDE CATA SAMPA apresentada no QUADRO A.1.2:17

17

Parece ser possvel que esses tipos de participao possam ser alterados em perodos diferentes, porm esta foi a configurao que a equipe executora conseguiu levantar a partir dos dados recolhidos no perodo da pesquisa direta.

39

QUADRO A.1.2: PARTICIPAO DAS COOPERATIVAS NAS REDE CATA SAMPA

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

Quanto s dinmica e logstica internas rede, reproduzimos abaixo a descrio mais detalhada fornecida pela administrao da REDE CATA SAMPA:METODOLOGIA E ESTRUTURA DO GALPO E EQUIPE COOPERSAMPA I) Introduo A equipe e o galpo Coopersampa atendem a quatro tipos diferentes de modalidade, que so: 1) Grandes Geradores; 2) Coleta Seletiva; 3) Comercializao Conjunta; 4) Fortalecimento a Grupos Pouco Estruturados. Abaixo, modalidade. veremos, de forma breve, um pouco sobre cada

40

II) Tipos de Modalidades 1) Grandes Geradores A modalidade Grandes Geradores pode ser observando-se, de forma geral, dois aspectos: compreendida

a) Como o conjunto de atividades e esforos despendidos por dois ou mais grupos, envolvidos diretamente no processo de coleta e beneficiamento (triagem e enfardamento) de materiais reciclveis; b) Como o processo de coleta e beneficiamento de materiais reciclveis oriundos de fontes com grande capacidade de gerao de resduos, onde grande capacidade pode ser entendida como um volume mdio de, no mnimo, uma tonelada por dia, por gerador. Com base nestas descries, podemos classificar Grandes Geradores as seguintes possibilidades: como

i) Feiras e eventos de grande porte; ii) Grandes empresas privadas, de diversos setores, produtivos ou no, como, por exemplo, indstria e varejo; iii) Entidades pblicas de grande porte; iv) Condomnios, desde que atendam a pelo menos um dos requisitos acima descritos. 2) Coleta Seletiva Pode ser compreendida como o processo de coleta e beneficiamento de materiais reciclveis, onde o mesmo grupo de catadores realiza, de forma constante, esse trabalho. Nesse contexto, podemos considerar como geradores as seguintes possibilidades: a) Condomnios que no atendam a nenhum dos requisitos aos Grandes Geradores; b) Residncias; c) Programas municipais que gerem postos de trabalho aos catadores locais.

413) Comercializao Conjunta Trata-se do resultado prtico da unio de diversas cooperativas que, agregando seus materiais reciclveis e tratando-os com padres semelhantes de qualidade, conseguem vend-los diretamente indstria (incio do ciclo produtivo), por um valor mais solidrio e justo. A Comercializao Conjunta pode ocorrer de duas formas: a) Com estocagem no galpo Coopersampa as cooperativas/associaes vinculadas REDE CATA SAMPA tm seus materiais beneficiados e estocados no galpo para uma comercializao futura, agregando materiais de bases diversas, at que se obtenha o volume mnimo necessrio; b) Sem estocagem as vendas podem ocorrer diretamente das bases envolvidas na REDE CATA SAMPA, onde o(s) prprio(s) comprador(es) pode(m) ser responsabilizar pela retirada dos reciclveis. 4) Fortalecimento a Grupos Pouco Estruturados O galpo Coopersampa tem como uma de suas principais finalidades o fortalecimento das bases vinculadas REDE CATA SAMPA atravs: a) Da disponibilidade da estrutura do galpo Coopersampa, com bancadas de triagem, bags, prensas, rea de estocagem, entre outros benefcios; b) Da disponibilidade de veculos para o transporte de materiais reciclveis para beneficiamento ou mesmo comercializao dos mesmos; c) Do auxlio de uma equipe tcnica contratada pelo Projeto Cata Sampa, onde so disponibilizadas formaes e o suporte na execuo de tarefas especficas. Consideraes Finais fundamental mencionarmos dois itens: a) O instrumento jurdico que regular as normas e relaes inerentes ao galpo e equipe Coopersampa o Instituto de Base Orgnica Cata Sampa, devidamente constitudo; Est prevista a adoo de iniciativas educativo-sociais, como Programas de Incluso Digital, capacitaes gerais e formaes diversas, que buscam propiciar o desenvolvimento dos catadores, comunidade local e sociedade em geral.

42 FIGURA A.1.5: ESTRUTURA DA REA DE LOGSTICA DA REDE CATA SAMPA

ESTRUTURA DA REA DE LOGSTICAR O B E R T O

WILSON (KULA)

LILIAN

JOO RUSCHEL (TC. LOGSTICA)

ANTNIO CLADIO (MOTORISTA)

JOO CARLOS (MOTORISTA)

MARCOS (MOTORISTA)

FONTE: CATASAMPA 2007

FIGURA A.1.6: ESTRUTURA DO GALPO CATA SAMPA

ESTRUTURA DO GALPO COOPERSAMPACOMERCIALIZAO

COORD. GERAL

LOGSTICA

SECRETRIA COORD. OPERAC. MOTORISTASCOOPERADOS EQUIPE COOPERSAMPA

AUX. CONTBIL

SEGURANAS

FONTE: CATASAMPA 2007

43 FIGURA A.1.7: FLUXOGRAMA DE ENTRADA, BENEFICIAMENTO, ESTOQUE E SADA DE MATERIAIS REDE CATA SAMPAFLUXOGRAMA DE ENTRADA, BENEFICIAMENTO, ESTOQUE E SADA DE MATERIAIS1) CONTATO PARA UTILIZAO DO GALPO 2) COLETA DOS MATERIAIS 3) TRANSPORTE DOS MATERIAIS AO GALPO 4) CHEGADA DO MATERIAL 5) O MATERIAL RELACIONADO NO CONTROLE DE ENTRADA 6) O MATERIAL ENCAMINHADO PESAGEM 7) A PESAGEM RELACIONADA NO CONTROLE DE ENTRADA 8) O MATERIAL ENCAMINHADO AO PR-ARMAZENAMENTO 9) O MATERIAL RELACIONADO NO CONTROLE DE PR-ARMAZENAGEM 10) O MATERIAL ENCAMINHADO TRIAGEM 11) O MATERIAL SEPARADO ENCAMINHADO PRENSAGEM 12) O MATERIAL PRENSADO 13) O MATERIAL ENCAMINHADO PESAGEM 14) O MATERIAL RELACIONADO NO CONTROLE DE FARDOS 15) O MATERIAL INSPECIONADO 16) O MATERIAL RETORNA TRIAGEM 17) O MATERIAL RETORNA PRENSAGEM 18) O CONTROLE DE FARDOS CORRIGIDO, SE NECESSRIO 19) O MATERIAL ENCAMINHADO AO ESTOQUE 20) O MATERIAL RELACIONADO NO CONTROLE DE ESTOQUE 21) O MATERIAL COMERCIALIZADO 22) O MATERIAL RELACIONADO NO CONTROLE DE COMERCIALIZAO 23) O MATERIAL SER RETIRADO NO GALPO 24) O MATERIAL SER ENTREGUE AO COMPRADOR 25) O MATERIAL RELACIONADO NO CONTROLE DE SADA 26) SADA DO MATERIAL 27) REPASSE DOS RECURSOS 28) O CONTROLE DE REPASSE DE RECURSOS PREENCHIDO 29) OS CONTROLES SO ARQUIVADOS LEGENDA : OPERAO INSPEO TRANSPORTE SECRETRIA COORD. EQUIPE MOTORISTAS COOPERADOS COMPRADOR / ADM. OPERAC. COMERCIALIZ. AUX. CONTBIL

FONTE: CATASAMPA 2007

44

A.2. ANLISE DA PRODUO E COMERCIALIZAO DAS COOPERATIVAS DA REDE CATA SAMPANesta seo sero apresentadas as anlises da produo e comercializao das cooperativas da REDE CATA SAMPA, do ponto de vista da avaliao gravimtrica das produes fsicas de materiais reciclveis, seguida da estimativa dos valores de comercializao bruta desses materiais. Em todos os casos so destacados vinte grupos de materiais reciclveis e os montantes desses comercializados com a rede, fora da rede e os valores totais produzidos e comercializados.

A.2.1) PRODUO FSICA DAS COOPERATIVAS DA REDE CATA SAMPANos QUADROS A.2.1 a A.2.6 a seguir so tabulados os valores da gravimetria em Kg referentes s produes fsicas de cada uma das cooperativas da REDE CATA SAMPA:

45 QUADRO A.2.1: QUANTIDADES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E FORA DA REDE CATA SAMPA (I) - em KG - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

46 QUADRO A.2.2: QUANTIDADES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E FORA DA REDE CATA SAMPA (II) - em KG - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

Observar que, em cada caso, so explicitados os percentuais do que comercializado atravs da REDE CATA SAMPA e o que comercializado localmente, de forma descentralizada.

47 QUADRO A.2.3: QUANTIDADES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E FORA DA REDE CATA SAMPA (III) - em KG - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

48 QUADRO A.2.4: QUANTIDADES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E FORA DA REDE CATA SAMPA (IV) - em KG - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

49 QUADRO A.2.5: QUANTIDADES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E FORA DA REDE CATA SAMPA (V) - em KG - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

50 QUADRO A.2.6: QUANTIDADES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E FORA DA REDE CATA SAMPA (VI) - em KG - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

51 O QUADRO A.2.7 abaixo sumariza a produo fsica total dos grupos de vinte materiais reciclveis comercializados na rede, fora da rede e o total geral. Observa-se que Vidro, Ferro, Metais No-Ferrosos e Plstico Misto, e Outros Materiais No-Discriminados no so comercializados de forma conjunta pela REDE CATA SAMPA. Os demais materiais so parcialmente atravs da Rede e localmente. Notar que materiais reciclveis tm mais de dois comercializao efetuada atravs da REDE CATA comercializados seis grupos de teros de sua SAMPA.

Em termos globais a comercializao conjunta corresponde a 22% do volume fsico gravimtrico comercializados pelas cooperativas da rede. QUADRO A.2.7: QUANTIDADES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E FORA DA REDE CATA SAMPA (TOTAIS) - em KG - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

52

A.2.2) VALORES DOS MATERIAIS COMERCIALIZADOS PELAS COOPERATIVAS DA REDE CATA SAMPANos QUADROS A.2.8 a A.2.16 a seguir so tabulados os valores dos materiais comercializados pelas cooperativas da REDE CATA SAMPA. Deve ser observado que na ltima coluna (sombreada em rosa) de cada cooperativa esto listados valores que seriam obtidos pela comercializao local com os preos individuais explicitamente declarados caso a comercializao conjunta no existisse. Os percentuais apresentados na base dessas colunas deve ser interpretado como ganho de escala na comercializao conjunta auferido por cada cooperativa. Notar tambm que certos produtos so comercializados apenas na presena da rede, pois as cooperativas no teriam volumes nem mecanismos para efetivar a comercializao dos respectivos materiais reciclveis. QUADRO A.2.8: VALORES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E FORA DA REDE CATA SAMPA (I) - em R$ - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

53

QUADRO A.2.9: VALORES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E FORA DA REDE CATA SAMPA (II) - em R$ - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

QUADRO A.2.10: VALORES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E FORA DA REDE CATA SAMPA (III) - em R$ - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

54

QUADRO A.2.11: VALORES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E FORA DA REDE CATA SAMPA (IV) - em R$ - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

QUADRO A.2.12: VALORES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E FORA DA REDE CATA SAMPA (V) - em R$ - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

55 QUADRO A.2.13: VALORES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E FORA DA REDE CATA SAMPA (VI) - em R$ - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

QUADRO A.2.14: VALORES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E FORA DA REDE CATA SAMPA (VII) - em R$ - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

56 QUADRO A.2.15: VALORES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E FORA DA REDE CATA SAMPA (VIII) - em R$ - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

QUADRO A.2.16: VALORES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E FORA DA REDE CATA SAMPA (IX) - em R$ - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

57 O QUADRO A.2.17 abaixo sumariza os valores globais da comercializao de materiais reciclveis das cooperativas dentro e fora da REDE CATA SAMPA. Em valores correntes (R$) percebe-se que o percentual comercializado atravs da rede atinge 28 pontos percentuais, levando a um ganho de escala de cerca de 16% no agregado. QUADRO A.2.17: VALORES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E FORA DA REDE CATA SAMPA (TOTAIS) - em R$ - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

Embora esses valores possam parecer relativamente pequenos, necessrio entender que a no-participao da comercializao conjunta da Coopamare e de duas outras cooperativas menores viesam criticamente esses dados percentuais para baixo, como vemos no QUADRO A.2.18 abaixo. Observa-se que o percentual dos valores da comercializao conjunta sobe para 38% quando excluda a Coopamare; e a 42% quando tambm excludas a Chico Mendes e a CooperSantos:

58

QUADRO A.2.18: VALORES DE MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E FORA DA REDE CATA SAMPA (TOTAIS) Excludas as que no fazem comercializao conjunta - em R$ - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

A.2.3) AVALIAO DA COMERCIALIZAO CONJUNTA: VOLUME E VALORES DOS MATERIAIS RECICLVEIS NA REDE CATA SAMPANa seo anterior foi possvel observar que os nveis de participao das cooperativas na comercializao conjunta bastante desuniforme. Em um extremo situam-se as cooperativas que no participam da comercializao conjunta ou que o fazem de uma maneira muito marginal. compreensvel que cooperativas como a #13 CooperSantos (que no participa) e a #3 Coures (que tem apenas 2% de suas vendas na rede) tenham dificuldades de integrao rede pelas distncias envolvidas entre as suas sedes e o galpo da Central do Glicrio. Afinal a primeira situa-se em Santos e a segunda em Suzano no mais propriamente na Regio Metropolitana de So Paulo. As distncias envolvidas ainda dificultam o transporte dos materiais e podem inviabilizar uma logstica eficiente. Mas possvel calcular dados os diferenciais de preos dos materiais reciclveis obtidos pela comercializao local e a conjunta que a CooperSantos poderia obter um ganho de at 42% atravs da rede, e a Coures realizar um benefcio at 130% maior.

59 Entretanto, parece mais difcil explicar a ausncia de comercializao em rede da #02 Chico Mendes e da #11 Coopamare, ambas situadas na cidade de So Paulo: a primeira poderia ter uma vantagem at 25% maior, e mesmo a Coopamare a maior e mais eficiente de todas elas teria um potencial de ganhos at 20% maior, caso aderissem comercializao conjunta. QUADRO A.2.19: GANHOS COM A COMERCIALIZAO NA REDE CATA SAMPA Agosto de 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

No outro extremo, pode ser observado no QUADRO A.2.19, que algumas cooperativas vm obtendo ganhos percentuais considerveis com a comercializao conjunta: #15 Ame (67%); #06 Ares (54%); #16 Camare (52%); #14 SempreVerde (51%) a maioria de grupos-em-formao e cooperativas ainda pouco estruturadas. Assim, podemos tirar uma concluso preliminar que a comercializao conjunta vem sendo capaz de dar escala e preos melhores para cooperativas menos estruturadas e

60 equipadas ao mesmo tempo em que at grandes cooperativas como a Coopamare teriam a ganhar com o comrcio em rede. O QUADRO A.2.20 e as FIGURAS A.2.1 e A.2.2 ilustram e sumarizam as participaes de todas as cooperativas da REDE CATA SAMPA na comercializao conjunta: QUADRO A.2.20: Quantidades e Valores Comercializados Dentro e Fora da REDE JUL/AGO/SET 2007 de CATA Materiais SAMPA -

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

61 FIGURA A.2.1: GRAVIMETRIA DOS MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E FORA DA REDE - em KG - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

62 FIGURA A.2.2: VALORES DOS MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E FORA DA REDE - em R$ - JUL/AGO/SET 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

A presena da Coopamare na tabulao agregada e sua ausncia na comercializao conjunta viesam os valores e dificulta a visualizao dos grficos. A fim de evidenciar melhor o papel da comercializao conjunta entre as cooperativas menores e menos eficientes, reproduzimos os mesmos dados sem a Coopamare no QUADRO A.2.21 e nas FIGURAS A.2.3 e A.2.5. As FIGURAS A.2.4 e A.2.5 explicitam comparativos da disperso entre comercializao dentro e fora da REDE CATA SAMPA para volumes e valores: pode ser observado que ainda existem degraus de ampliao da comercializao conjunta a serem conquistados, dadas as assimtricas inseres das cooperativas nesse processo.

63 QUADRO A.2.21: Quantidades e Valores Comercializados Dentro e Fora da REDE JUL/AGO/SET 2007 SEM A COOPAMARE de CATA Materiais SAMPA -

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

64 FIGURA A.2.3: GRAVIMETRIA DOS MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E FORA DA REDE - em KG - JUL/AGO/SET 2007 SEM A COOPAMARE

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

FIGURA A.2.4: COMPARATIVO DOS MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E FORA DA REDE - em KG - JUL/AGO/SET 2007 SEM A COOPAMARE

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

65 FIGURA A.2.5: VALORES DOS MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E FORA DA REDE - em R$ - JUL/AGO/SET 2007 SEM A COOPAMARE

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

FIGURA A.2.6: COMPARATIVO DOS VALORES DOS MATERIAIS COMERCIALIZADOS DENTRO E FORA DA REDE - em KG - JUL/AGO/SET 2007 SEM A COOPAMARE

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

66

A.3. RETIRADAS DO GALPO A PARTIR DO PROCESSAMENTO DE GRANDES GERADORES, COLETA SELETIVA, FEIRAS E EVENTOS.Deve ter ficado bastante claro a partir da leitura da seo anterior que a cooperativa #18 REDE CATA SAMPA que a representao do galpo da Central aqui adotada a mais inserida na comercializao conjunta, uma vez que a sua promotora quanto logstica e quanto s vendas para a indstria. Como vimos tambm, o funcionamento do processamento no galpo recruta catadores de diversas cooperativas da rede, contabiliza as horas dedicadas ao trabalho coletivo por cada um deles, e reverte 95% do apurado (no caso mais geral) s cooperativas fornecedoras da mo-de-obra na forma de retiradas. Essas retiradas so, em princpio, proporcionais s horas dedicadas pelos catadores de cada cooperativa produo conjunta. A obteno de dados coerentes sobre essas retiradas no foi uma tarefa trivial, uma vez que este processo ainda se encontra em fase de implantao plena -- e aparentemente apresentando considerveis flutuaes em volume e valores produzidos e revertidos s cooperativas. verdade que FEIRAS e EVENTOS podem ter ocorrncia errtica e ocasional, porm os materiais reciclveis procedentes de grandes geradores e da coleta seletiva devem prover considervel volume previsvel que contribusse eventualmente para a estabilizao relativa desses procedimentos, aumentando o grau de sistematizao das retiradas de cada cooperativa. Isto dito, para os efeitos deste diagnstico optou-se por obter uma mdia das retiradas no perodo julho / agosto / setembro de 2007, para que fossem evitadas flutuaes extremas. Ainda assim, deve-se ter em mente que os valores aqui apresentados so, por assim dizer, episdicos como ainda parecem ser todos os valores de retiradas nesta fase de implantao da REDE CATA SAMPA. Desta forma, os dados apresentados a seguir devem ser vistos mais como uma descrio fotogrfica de momento, do que uma estrutura ossificada de distribuio de resultados. Com base Logstica da nos dados apresentados pela Assessoria de REDE CATA SAMPA foi possvel estimar a

67 participao mdia das cooperativas nas retiradas. O QUADRO A.3.1 descreve esses percentuais: QUADRO A.3.1: PARTICIPAO RETIRADAS DA CENTRAL JULHO/AGOSTO/SETEMBRO DE 2007 MDIA DAS COOPERATIVAS REDE CATA SAMPA NAS

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

Como pode ser imediatamente visto, Cruma, #09 Cruffi e #12 CooperGlicrio participaes nas atividades do galpo primeira beneficiada por mais de um retiradas.

as cooperativas #07 mantiveram elevadas da Central, sendo a quinto de todas as

Com base nesses percentuais, torna-se possvel a construo de uma estimativa do faturamento bruto de cada uma das cooperativas no perodo. O QUADRO A.3.2 descreve as origens e montantes obtidos a partir de cada uma das atividades na REDE CATA SAMPA, enquanto o QUADRO A.3.3 avalia os GANHOS obtidos com a comercializao conjunta, com retiradas e ganhos totais com a REDE CATA SAMPA.

68 QUADRO A.3.2: Faturamento Total: Valores de Materiais Comercializados Dentro e Fora da REDE CATA SAMPA e Retiradas de Feiras e Galpo - AGO 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

QUADRO A.3.3: Avaliao Percentual dos Ganhos: Valores de Materiais Comercializados Dentro e Fora da REDE CATA SAMPA e Retiradas de Feiras e Galpo - AGO 2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

69 De forma semelhante ao que foi observado na comercializao conjunta, pode-se perceber que a incluso das retiradas exacerba as disparidades dos efeitos positivos da existncia da REDE CATA SAMPA sobre as diferentes cooperativas. De uma forma geral, parece que a rede exerce um efeito positivo, mais visvel sobre as cooperativas menos aparelhadas e mais desorganizadas, e isto soa desejvel. A FIGURA A.3.1 descreve os ganhos globais quando rebatidos sobre os valores auferidos sem a REDE CATA SAMPA: FIGURA A.3.1: GANHOS GLOBAIS PROPORCIONADOS PELA REDE CATA SAMPA - AGO 2007 EM R$

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

70

A.4. EFICINCIAS FSICAS DAS COOPERATIVAS DA REDE CATA SAMPAUm critrio muito caro anlise econmica o critrio de eficincia. Existem muitas maneiras de se procurar medir a eficincia de um processo produtivo ou de uma organizao. Uma das mais comuns a utilizao da relao (produto)/(trabalho) tanto em termos fsicos, como em termos de valorao (R$) a fim de permitir que sejam avaliados eventuais diferenciais na produo per capita, ou seja, por trabalhador cooperado. Essa uma medida da produtividade mdia, ou eficincia que passa a ser utilizada nesse trabalho.18 Nesta seo so apresentados os dados sobre a eficincia fsica, e na prxima seo as estimativas sobre a eficincia econmica. As eficincias fsicas das cooperativas da REDE CATA SAMPA ou suas produtividades mdias da produo fsica per capita, ou seja, por cooperado, medidas em Kg/ms so apresentadas no QUADRO A.4.1. Sombreados em amarelo esto os valores SEM a rede, e suas ordenaes; em verde os valores COM a rede e as novas ordenaes relativas, alm dos percentuais de ganhos obtidos pela existncia da rede.

Aqui adotada a mesma conceituao apresentada no trabalho de Damsio, J. ANLISE DO CUSTO DE GERAO DE POSTOS DE TRABALHO NA ECONOMIA URBANA PARA O SEGMENTO DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLVEIS PANGEA 2006 no prelo.

18

71 QUADRO A.4.1: Eficincias Fsicas das Cooperativas da REDE CATA SAMPA - AGO/2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

A visualizao das alteraes na ordenao relativa das cooperativas segundo as suas eficincias fsicas SEM a rede e COM a rede razoavelmente difcil de ser apreendida no QUADRO A.4.1. Assim, reordenando as cooperativas de acordo com suas eficincias fsicas decrescentes finais COM a rede, obtemos os dados apresentados no QUADRO A.4.2, onde os movimentos relativos podem ser mais bem apreciados: QUADRO A.4.2: Eficincias Fsicas das Cooperativas da REDE CATA SAMPA - AGO/2007 - REORDENADA

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

72

As alteraes nas eficincias fsicas que afetam as ordenaes relativas SEM e COM a REDE CATA SAMPA podem ser ainda melhor percebidas observando a FIGURA A.4.1. Deve ser entendido que a variao nas ordenaes relativas das eficincias fsicas so resultantes dos efeitos de ganhos muito diferenciados obtidos pelas cooperativas em suas participaes na rede. Basta lembrar que caso os ganhos fossem uniformemente distribudos entre as cooperativas, a ordenao original no teria sido alterada. Na prxima seo, com as evidncias geradas pelas ordenaes das eficincias econmicas, o quadro ficar mais explcito.

73

FIGURA A.4.1: REORDENADA

Eficincias

Fsicas

das

Cooperativas

da

REDE

CATA

SAMPA

-

AGO/2007

-

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

74

A.5. EFICINCIAS ECONMICAS DAS COOPERATIVAS DA REDE CATA SAMPAAs eficincias econmicas ou retornos brutos mdios so calculados pelos valores comercializados das produes fsicas per capita, ou seja, por cooperado, medidos em R$/ms. O QUADRO A.5.1 apresenta os valores desses indicadores de eficincia econmica para as cooperativas da REDE CATA SAMPA. Para tornar a leitura desse QUADRO mais imediata, necessrio lembrar que agora as eficincias econmicas relativas so afetadas DUAS VEZES em suas ordenaes, a partir de suas posies originais SEM a rede! As colunas sombreadas em amarelo representam as respectivas eficincias econmicas das cooperativas SEM a REDE CATA SAMPA. As colunas sombreadas em verde aps contabilizao dos ganhos pela comercializao conjunta representam as eficincias econmicas e suas variaes em ordenaes relativas COM a rede. Finalmente, aps a adio das retiradas do galpo da Central, chega-se s colunas sombreadas em rosa, representando as eficincias econmicas finais, em uma nova reordenao relativa. Novamente, como no caso das eficincias fsicas, o QUADRO A.5.2 reapresenta os mesmos valores, agora reordenados segundo os valores decrescentes de suas eficincias econmicas finais. A FIGURA A.5.1 descreve esses movimentos de variao das eficincias econmicas e de suas ordenaes relativas nas trs etapas: sem a rede; com a comercializao conjunta; e a verso final, aps a incorporao das retiradas.

75

QUADRO A.5.1: Eficincias Econmicas das Cooperativas da REDE CATA SAMPA - AGO/2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

76

QUADRO A.5.2: Eficincias Econmicas das Cooperativas da REDE CATA SAMPA - AGO/2007 REORDENADA

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

77

FIGURA A.5.1: Eficincias Econmicas das Cooperativas da REDE CATA SAMPA - AGO/2007 REORDENADA

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

78

A.6. GANHOS DE EFICINCIA NA REDE CATA SAMPA E EFICINCIA GLOBALConforme apresentado nas Sees A.4 e A.5 anteriores, observamos que a presena da REDE CATA SAMPA de fato adiciona logstica, economias de escala e racionalidade ao processo de comercializao que so traduzidos em ganhos de eficincia para as cooperativas. Tambm foi observado que esses ganhos so muito diferentes entre as cooperativas da rede, e o QUADRO A.6.1 resume esses ganhos, alm de suas ordenaes relativas: QUADRO A.6.1: Ganhos de Eficincia das Cooperativas da REDE CATA SAMPA pela Comercializao Conjunta e Central - AGO/2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

Da mesma maneira que nas sees precedentes, o QUADRO A.6.2 reproduz os dados acima segundo uma reordenao das eficincias econmicas finais em ordem decrescente.

79 QUADRO A.6.2: Ganhos de Eficincia das Cooperativas da REDE CATA SAMPA pela Comercializao Conjunta e Central - AGO/2007 REORDENADA

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

A FIGURA A.6.1 reordena as cooperativas da REDE CATA SAMPA segundo os ganhos em eficincia econmica final, aps a incluso da comercializao conjunta e das retiradas do galpo da Central do Glicrio. Observa-se que, embora haja excees, os maiores ganhos em eficincia econmica tendem a ser auferidos pelas cooperativas menores e/ou menos estruturadas. Em particular, observa-se que a Coopamare a mais organizada e eficiente cooperativa de catadores de materiais reciclveis da cidade de So Paulo quase no beneficiada pela existncia da REDE CATA SAMPA at agora sendo ainda uma incgnita saber se algum dia ela ser devidamente integrada. Do ponto de vista formal isto parece ser um contra-senso, uma vez que a plena entrada da Coopamare na rede traria benefcios amplos tanto para ela mesma, como para as demais cooperativas da rede uma vez que existe espao para adicionais economias de escala e ganhos sinergticos.

80

FIGURA A.6.1: Ganhos de Eficincia das Cooperativas Comercializao Conjunta e Central - AGO/2007 REORDENADA

da

REDE

CATA

SAMPA

pela

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

81 Isto visto, cabe agora uma pergunta retrica: mas, se as cooperativas so beneficiadas pelos aumentos de suas eficincias fsicas e econmicas (embora diferencialmente), alterando as suas respectivas ordenaes relativas, o que que isto significa em relao categorizao de suas eficincias absolutas? Em outras palavras, j sabemos que as eficincias fsicas e econmicas so alteradas, mas, o que isto altera a situao original dessas cooperativas? Em geral, melhoram as suas posies, j sabemos, mas permanecem ineficientes? Ou sero capazes de apresentar saltos de produtividades que as faam mudar de categorias de eficincia? evidente que para tentar dar uma resposta minimamente satisfatria a essas perguntas, NO podemos apenas continuar a tomar como referncias to-somente as prprias cooperativas da REDE CATA SAMPA j que isto simplesmente resultaria em raciocnio circular, passvel de falseamento emprico. Tampouco o caso de buscar a introduo de anlises estatsticas mais rebuscadas, uma vez que a comercializao conjunta e os mecanismos de retiradas introduzem capilaridades entre as cooperativas que impedem que sejam tratadas como unidades isoladas e auto-suficientes. Por outro lado, justamente a existncia dessas capilaridades que trazem luz o mrito da REDE CATA SAMPA... A atitude que permite uma sada desse raciocnio circular tomar como quadro-de-fundo (framework) alguma amostra de cooperativas de catadores de materiais reciclveis que fosse representativa do quadro nacional, sobre o qual ento fossem sobrepostas as cooperativas da REDE CATA SAMPA, em suas etapas de ganhos de eficincia. Se isso fosse feito, ento seria possvel no apenas categorizar os respectivos ganhos de eficincia, como tambm seria possvel estimar as eficincias globais e eventuais mudanas de categorizao. Para lanar um pouco de luz a essas questes, utilizamos as mesmas vinte cooperativas desidentificadas, amostradas em um estudo anterior.19 Naquele estudo foram estudadas trs cooperativas de alta produtividade global; oito cooperativas de mdia produtividade global; e nove cooperativas de baixa produtividade global. O QUADRO A.6.3 apresenta o cruzamentoFavor consultar Damsio, J. ANLISE DO CUSTO DE GERAO DE POSTOS DE TRABALHO NA ECONOMIA URBANA PARA O SEGMENTO DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLVEIS PANGEA 2006 no prelo.19

82 QUADRO A.6.3: Eficincia Comparativa das Cooperativas da REDE CATA SAMPA - Ordenao - AGO/2007

FONTE: CATASAMPA 2007 Dados trabalhados pelo projeto - PANGEA

83 dos dados daquele estudo com as dezessete cooperativas da REDE CATA SAMPA. Na primeira coluna esto situadas as vinte cooperativas da amostra daquele estudo, identificadas por abreviaturas como COOP 01 a COOP 20, e estratificadas segundo as suas eficincias globais em alta eficincia global (faixa horizontal sombreada em azul; mdia eficincia global (sombreado verde); e baixa eficincia global (sombreado amarelo). Observar que a anlise multivariada aqui aplicada agrupou a COOP 01 naquele estudo considerada como de baixa eficincia global, a uma nova categoria que se tornou necessria: a rea horizontal sombreada em rosa, significando cooperativas de baixssima eficincia global. A segunda coluna apresenta as vinte cooperativas daquela amostra agrupadas estatisticamente com as dezoito cooperativas da REDE CATA SAMPA, sem a considerao dos ganhos da rede. Observamos que no grupo de alta eficincia global encontramos as COOP 18 a 20 (do estudo anterior) mais a #11 Coopamare e a #18 REDE CATA SAMPA (o galpo da Central) que de resto apresenta a mais alta produtividade global dentre todas alis, como deveramos esperar que fosse, graas s caractersticas favorveis peculiares (grandes fornecedores, coleta seletiva, feiras, eventos). No grupo de mdia eficincia global situam-se as COOP 10 a 17 e as cooperativas (em ordem decrescente) #02 Chico Mendes e #03 Coures. No grupo de baixa eficincia global colocam-se as COOP 02 a 09 e as cooperativas #06 Ares; #05 Jacupia; #04 Cora; #12 CooperGlicrio; #07 Cruma; #13 CooperSantos; #08 Cofemar; #09 Cruffi; e #01 Cooperalto. Finalmente, no ltimo grupo, de baixssima eficincia global, encontramos a COOP 01, alm das cooperativas #17 Magnlia Dei; #10 Fnix; #15 Ame; #16 Camare; e #14 SempreVerde. Essa filiao a grupos de eficincia global ser a utilizada daqui por diante para proceder s anlises agregadas. Em outras palavras, apenas uma cooperativa (a Coopamare) mais a Central sero consideradas de alta eficincia global; duas outras de mdia eficincia global; nove cooperativas de baixa eficincia global; e cinco de baixssima eficincia global. Com o quadro das vinte cooperativas do estudo anterior mantido esttico, as duas ltimas colunas explicitam os movimentos relativos para cima das cooperativas da REDE CATA SAMPA, na medida em que so computados os ganhos de eficincias fsicas e econmicas obtidos pela comercializao conjunta e pelas retiradas do galpo.

84

Pode ser agora observados, em toda a sua extenso, os benefcios gerados pela REDE CATA SAMPA s suas cooperativas: a ltima coluna mostra como algumas delas foram promovidas entre categorias, resultando no seguinte quadro final: trs (inclusive o galpo) entre as de alta eficincia global; cinco entre as de mdia eficincia global; sete de baixa eficincia global; e trs ainda entre as de baixssima eficincia global. O QUADRO A.6.4 procura explicitar esses movimentos de ganhos de eficincia gl