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SEGUNDA TURMA

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SEGUNDA TURMA

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RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N~ 1.436-0 - RS

(Registro n~ 91.0024007-9)

Relator: O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro

Recorrente: Lorena Bertuol Barros

Advogados: Drs. Luiz Fernando Couto Schiavon e outros

'fribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul

Impetrado: Secretário de Recursos Humanos e Modernização Adminis-trativa do Estado do Rio Grande do Sul

Recorrido: Estado do Rio Grande do Sul

Advogada: Dra. Eliana Soledade Graeft Martins

EMENTA: AdministrativOl. ServidOlr públicOl. CargOl em cOlmissãOl. ApOlsentadOlria prOlPOlrciOlnal aOl tempOl de serviçOl. COlnstituiçãOl, art. 40, § 2~.

I - Se a legislaçãOl IOlcal (Lei n~ L 751, de 22.02.52, art. 182) COlnce­de Ol direitOl à apOlsentadOlria POlr tempOl de serviçOl, bem COlmOl a cOlmpulsória e POlr invalidez, previstos nas COlnstituições anteriOl­res, aOl servidOlr que tenha exercidOl efetiva e ininterruptamente car­gOl de prOlvimentOl em cOlmissãOl pOlr cincOl anOlS, nãOl há deixar de re­cOlnhecer-Ihe, também, Ol direitOl à apOlsentadOlria propOlrciOlnal aOl tempOl de serviçOl, cOlntempladOl na vigente COlnstituiçãOl Federal (art. 40, UI, c) e na COlnstituiçãOl Estadual em vigOlr (art. 38, UI, c).

U - RecursOl OlrdináriOl prOlvidOl. Segurança cOlncedida.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, em que são partes as aci­ma indicadas:

Decide a Segunda Turma do Su­perior Tribunal de Justiça, prosse­guindo no julgamento, e na confor-

midade dos votos e das notas taqui­gráficas anexas, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provi­mento, nos termos do voto do Sr. Mi­nistro-Relator.

Participaram do julgamento os Srs. Ministros Hélio Mosimann, Pe­çanha Martins e Ari Pargendler.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 127-186, julho 1997. 129

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Brasília, 23 de agosto de 1995 (data do julgamento).

Ministro HÉLIO MOSIMANN, Presidente. Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, Relator.

Publicado no DJ de 11-09-95.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO: Lorena Bertuol Barros impetrou mandado de segu­rança, objetivando obter aposentado­ria voluntária, proporcional ao tem­po de serviço em cargo em comissão junto à Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Rio Grande do Sul.

O Primeiro Grupo de Câmaras Cíveis do Egrégio Tribunal a quo, por maioria, denegou a segurança em acórdão assim ementado (fls. 58):

"Servidor público.

Cargo em comissão.

Aposentadoria voluntária.

N a ausência de legislação per­tinente não é aplicável ao servidor em cargo em comissão a aposen­tadoria voluntária prevista no in­ciso lII, do art. 38, da CE/89, diante do disposto no § 2~ do mes­mo artigo."

Inconformada, a vencida manifes­tou o presente recurso ordinário, em que pleiteia a reforma do aresto re­corrido por entender que a Constitui­ção Federal de 1988 garante tal direi­to aos servidores públicos temporários.

Contra-arrazoado o recurso pelo Estado do Rio Grande do Sul (fls. 86-88), subiram os autos e, neste 'lli.bunal, manifestou-se a douta Sub­procuradoria Geral da República pe­lo seu improvimento (fls. 100-102).

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO (Relator): A impe­trante, investida desde 23.10.75 em cargo em comissão, contando mais de 25 anos de serviço, por ter pres­tado, durante 10 anos, serviço na iniciativa privada, pleiteou, com apoio na legislação local e no texto constitucional, a sua aposentadoria proporcional ao tempo de serviço.

Contra o acórdão que denegou a sua pretensão, manifestou o presen­te recurso ordinário, insistindo em que lhe seja concedida a segurança.

Creio que lhe assiste razão. Com efeito, mesmo antes da atual Cons­tituição, a legislação gaúcha conce­dia aposentadoria aos servidores temporários, ocupantes de cargo em comissão por mais de cinco anos, nos casos previstos na Constituição Fe­deral, vigentes à época em que foi editada. Assim, afigura-se-me que o texto constitucional vigente, repeti­do na Constituição Estadual, que acrescentou o caso de aposentadoria proporcional ao tempo de serviço, é aplicável de imediato. Não está a exigir qualquer lei regulamentado­ra, mesmo porque essa reclamada lei não poderia extinguir os casos pre­vistos na Constituição Federal.

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A propósito, bem argumentou a impetrante, nas suas razões de re­curso (fls. 76-80):

"A Recorrente, de acordo com o que historiou na ação de manda­do de segurança, há mais de quin­ze anos que é servidora pública temporária, exercendo a função atinente ao cargo que ocupa em comissão junto a Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Rio Grande do Sul. Juntado o tempo em que trabalhou como servidor temporário com o que trabalhou na iniciativa privada, atinge os vinte e cinco anos de trabalho e, assim acreditou-se pronta para se aposentar, volun­tariamente, por tempo de serviço e com proventos proporcionais.

Isso porque entendeu que sua situação integra o suporte fático da norma jurídica contida no ar­tigo 40, inciso IH, alínea c, da Constituição da República. Assim, por ter essa convicção, a Recor­rente pediu a sua aposentadoria com proventos proporcionais ao tempo de serviço. Com efeito, a norma constitucional invocada preceitua, em seu caput, que "o servidor será aposentado: C .. )", o que significa dizer, em outras pa­lavras, que funcionários públicos, servidores temporários e com car­go em comissão, empregados pú­blicos pelo regime da Consolida­ção das Leis do Trabalho et coe­tera, são titulares do direito sub­jetivo ao otium cum dignitate. Hoje, não existe mais distinção, feita pela anterior Constituição,

entre funcionário público e servi­dor público, no que se refere ao direito à aposentadoria.

A Recorrente, como disse, por ser servidora pública com cargo em comissão, por certo que se en­contra no rol dos servidores públi­cos a quem a norma constitucio­nal beneficiou. Ainda mais: pode se aposentar "(lII) voluntariamen­te C.') c) aos trinta anos de servi­ço, se homem, e aos vinte e cinco, se mulher, com proventos propor­cionais a esse tempo."

O § 2~ do artigo 40, atrás trans­crito, por seu tempo, preceitua que "A lei disporá sobre a aposentado­ria em cargos ou empregos tempo­rários". Ao legislador ordinário fi­cou, portanto, reservada a tarefa de regulamentar a aposentadoria do servidor com cargo em comis­são, oportunidade em que se sub­meterá, evidentemente, aos crité­rios fixados pela norma constitu­cional. Exemplificando, o legisla­dor, ao produzir o ato jurídico le­gislativo ordinário, não poderá res­tringir o exercício dos direitos já concedidos na Carta Magna, tais como a aposentadoria (a) voluntá­ria (b) no tempo ali previsto e (c) com proventos proporcionais ao pe­ríodo trabalhado. E isso pela intui­tiva razão de "Desde a promulga­ção das novas normas constitucio­nais, devem ser conformes a elas toda a legislação anterior e futura, todos os atos e negócios jurídicos, todas as sentenças, ante o princí­pio da hierarquia normativa e da supremacia da Constituição, do qual decorre a obrigatoriedade

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imediata de seus preceitos" (Ma­ria Helena Diniz, in Norma Constitucional e seus Efeitos", Ed. Saraiva, 1989, pág. 43).

Esse, a propósito, é o ponto de vista do ilustre Celso Antônio Bandeira de Mello, in, "Regime Constitucional dos Servidores da Administração Direta e Indireta, RT, 2~ ed., pág. 120: "O § 2~ do art. 40 determina que "a lei dispo­rá sobre a aposentadoria em car­gos ou empregos temporários", o que, de resto, confirma a possibi­lidade de emprego nas pessoas de direito público. A nível legal já se conhecia a aposentação em cargo de ocupação temporária. É o que sucede, em relação a cargos de provimento em comissão. Em ge­ralos estatutos dos funcionários deferem-na a quem conte pelo menos 15 anos de exercício, con­quanto não seja titular de cargo algum de provimento efetivo. De toda sorte, agora a própria Cons­tituição prevê que terá de ser re­gulada e não apenas para cargos, mas também para empregos tem­porários." (grifo nosso).

Depois, acentue-se que existe lei estadual beneficiando o servidor pú­blico temporário com a inativida­de remunerada. A Lei 1.751/52, em seu artigo 182, in verbis, alcançou aos servidores com cargo em comis­são o benefício da aposentadoria. Senão vejamos: "As disposições re­lativas à aposentadoria aplicam-se ao funcionário em comissão que contar mais de cinco anos de exer­cício efetivo e ininterrupto em car­gos de provimento dessa natureza".

A própria Constituição do Estado do Rio Grande do Sul, através de seu artigo 38, inciso IlI, alínea c, normatiza a matéria: "O servidor público será aposentado: C .. ) III -voluntariamente C .. ) c) aos trinta anos de serviço, se homem, e aos vinte e cinco, se mulher, com pro­ventos proporcionais a esse tempo." (grifos nossos).

Assim, conclui-se que, existin­do uma norma constitucional pre­vendo a aposentadoria do servidor público com cargo em comissão e se existe lei estadual tratando so­bre o mesmo tema, só que produ­zida no tempo em que vigia a an­terior Constituição mas compatí­vel com a atual, se opera a recep­ção dessa norma ordinária, forte no princípio da continuidade da ordem jurídica. E isso pela intui­tiva razão de "o princípio da con­tinuidade da legislação, a despei­to da mudança de Constituição, apenas traduz a necessidade de se evitar o vazio jurídico C .. ) a ante­rioridade não se impõe contra as regras posteriores que sejam con­trárias às anteriores, mas enche o que, no tempo futuro, está vazio (Pontes de Miranda, in Comen­tários à Constituição de 1967, '!b­mo VI, págs. 379 e seguintes).

Resumidamente, vê-se que a Constituição Federal de 1988 con­cedeu ao servidor público com car­go em comissão o beneficio da apo­sentadoria voluntária, aos vinte e cinco anos, se mulher, e com pro­ventos proporcionais ao tempo tra­balhado. A lei ordinária estadual, criada sob a vigência da anterior

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Carta Magna, já concedia o bene­fício da aposentadoria a servidor público com cargo em comissão, desde que exercendo essa função há cinco anos. Logo, não só inexis­te conflito entre a lei ordinária anteriormente produzida, como também o ordenamento jurídico, criado a partir da promulgação da nova Carta Magna, recebeu a lei velha, dando-lhe novos fundamen­tos de validade.

Ao adotar um ponto de vista divergente, o Recorrido passou a defender a idéia de que os direitos subjetivos, criados pelo legislador constitucional, devem permanecer como uma simples abstração, co­mo uma figura que aguarda reto­que definitivo, até que o legislador ordinário, na oportunidade em que se produzirem as condições para tanto, crie uma norma regu­lamentando a espécie. Até que is­so ocorra, entretanto, servidores públicos com cargo em comissão não se aposentarão, voluntaria­mente, não obstante a Magna Carta, ao se referir, genericamen­te, ao "servidor", tenha-o contem­plado com esse direito."

Cumpre assinalar que os fatos e a legislação mencionados no texto transcrito são reconhecidos no voto do Relator, segundo se verifica a fls. 60-64, que chegou à conclusão diver­sa sob o único argumento de inexis­tir legislação prevendo a aposenta­doria proporcional ao tempo de ser­viço de servidor temporário, embora contemplasse os demais casos pre­vistos na Constituição Federal (por

invalidez, compulsória e por tempo de serviço).

Por isso mesmo, ao dissentir, ar­gumentou o ilustre Desembargador Milton dos Santos Martins (fls. 64-65):

"Sr. Presidente, eminentes Co­legas. Estou em, data venia, di­vergir da douta maioria que já julgou o feito, justamente funda­do no parecer do nobre Procura­dor do Estado, que transcreve o art. 40 da Constituição da Repú­blica onde se estabelecem as hipó­teses de aposentadoria. O que preocupou o intérprete do parecer, e agora o eminente Relator, foi is­so de o § 2~ do mesmo artigo, co­mo acontece, também, com o art. 38 e seu parágrafo, na Constitui­ção do Estado, referir que a lei disporá sobre a aposentadoria em cargos ou em empregos temporá­rios. Mas foi o próprio parecer que lembrou que já existe a disposição restritiva quanto à aposentadoria em cargos ou empregos temporá­rios, ou seja, que as disposições relativas à aposentadoria, segun­do o art. 182, e aí não é limitada ao Estatuto, aplicam-se aos fun­cionários em comissão que conta­rem com mais de cinco anos de exercício efetivo e ininterrupto em cargos de provimento dessa natu­reza.

Então, parece que o único re­quisito a mais seria este: de con­tar cinco anos de exercício efetivo e ininterrupto em cargos de pro­vimento. Quer dizer, antes de cin­co anos, não se daria, por exem-

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pIo, eu pergunto, por invalidez? Era uma questão. Talvez não se pudesse dar efetivamente, antes de cinco anos.

Agora, qual o impedimento de se dar aposentadoria especial aos 30 anos de serviço, se homem, aos 25 anos, se mulher, com proven­tos proporcionais a esse tempo? Não há impedimento nenhum. E a norma que existe na Constitui­ção não diz que a legislação ordi­nária providenciará na aposenta­doria. Não. Dispõe apenas que o servidor será aposentado. Então, quer-me parecer que esse coman­do legal aí tem aplicação a todo servidor. De outra parte, a norma específica relativa aos cargos ou empregos temporários já está no art. 182 do Estatuto, no sentido de que tenham no mínimo 5 anos. Ainda assim, essa restrição é questionável em se tratando de, eventualmente, uma aposentado­ria por invalidez permanente, vin­culada, por exemplo, com o pró­prio trabalho.

Então, eminentes Colegas, es­tou, data venia, em conceder o mandado de segurança para que se assegure à Dona Lorena Ber­tuoul Barros aposentadoria pro­porcional a voluntária a que faz jus por já contar, inquestionavel­mente, e isso não é discutido, com 25 anos de serviço, e, ao que cons­ta aqui, mais de 5 anos ou quase 10 anos de serviço, inclusive, em cargo em comissão."

Isto posto, em conclusão, conheço do recurso e dou-lhe provimento a fim de conceder a segurança.

VOTO - VISTA

O SR. MINISTRO ARI PARGEN­DLER: A Recorrente ocupa, ou ocu­pava à data da impetração, cargo em comissão, e nele quer se aposentar porque tem 25 (vinte e cinco anos) de serviço.

A lei estadual, de caráter estatu­tário, prevê a aposentadoria no car­go em comissão, desde que o funcio­nário conte mais de 5 (cinco) anos de exercício efetivo e ininterrupto nas respectivas funções (art. 182, caput).

Sem embargo disso, o pedido foi indeferido na via administrativa, ao fundamento de que "o direito à apo­sentadoria dos detentores de cargos em comissão é regido pela regra do artigo 182 da Lei n~ 1.751, de 1952, para as hipóteses de inativação com­pulsória, por invalidez e pelo tempo de serviço que enseja proventos in­tegrais" (informações, fls. 36).

Assim era, de fato, à época da pu­blicação da lei estadual, mas, decor­ridos mais de quarenta anos, ela pas­sou a ser influenciada pelas Consti­tuições que lhe sobrevieram; por exemplo, o tempo de serviço nela exi­gido para a aposentadoria da mulher era de 35 (trinta e cinco) anos, pas­sando, por efeito da Constituição Fe­deral de 1967, a ser de 30 (trinta) anos.

Com a Constituição Federal de 1988, os funcionários públicos efeti­vos podem se aposentar com venci­mentos proporcionais ao tempo de serviço, este de 30 (trinta) anos pa­ra os homens, e de 25 (vinte e cinco) anos para as mulheres.

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o texto da lei estadual, que remon­ta ao ano de 1952, nada refere a es­se respeito, mas nem por isso se sus­tenta que esse direito não possa ser exercido.

Por que tratamento diferente pa­ra os detentores de cargos em comis­são que, implementando os 5 (cinco) anos de efetivo exercício, já tinham, à luz da legislação estadual, o direi­to à aposentadoria?

A causa de tal prática não pode se fundar no § 2~, do artigo 40 da Cons­tituição Federal, a cujo teor "a lei disporá sobre a aposentadoria em cargos ou empregos temporários".

Isso, todavia, não implica a revo­gação de lei que, já existente, disci-

pline a matéria sem ofensa à Cons­tituição Federal.

De outro modo, v.g., nem tería­mos em vigor o Código Tributário Nacional.

A técnica empregada pelo artigo 18, § 1~, Emenda Constitucional n~ 1, de 1969, foi exatamente essa.

Quer dizer, o Recorrido pode, nos limites do texto básico, dispor a res­peito da matéria como melhor lhe parecer; enquanto vigente, todavia, o artigo 182 da Lei Estadual n~ 1. 751, de 1952, deve aplicá-lo.

Voto, por isso, no sentido de, acom­panhando o eminente Relator, dar provimento ao recurso ordinário pa­ra conceder a ordem.

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N~ 5.931 - SP

(Registro n~ 95.0031578-5)

Relator: O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro

Recorrente: Federação Brasileira das Associações de Bancos-Febraban

Advogados: Drs. Geraldo Faca Vidigal e outro

Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

Impetrados: Prefeito do Município de São Paulo, Secretário dos Negó-cios Jurídicos da Prefeitura do Município de São Paulo, Se­cretário das Finanças da Prefeitura de São Paulo, Secretá­rio das Administrações Regionais da Prefeitura de São Pau­lo e Secretário do Governo do Município de São Paulo

RMENTA: Mandado de segurança. Extinção do processo: caduci­dade e falta de interesse de agir. Improcedência. Julgamento do seu mérito por esta Corte: impossibilidade, no caso.

I - Se a impetração, efetivada em 17.03.93, se insurge contra o Decreto Municipal n~ 32.991, de 09.02.93, publicado no Diário Ofi­cial do dia seguinte, não há como identificar a sua caducidade à vista do art. 18 da Lei n~ 1.533, de 31-12-51.

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U - Se o mandamus visa afastar ameaças ilegais, atuais e concre­tas, decorrentes do citado decreto municipal, endereçadas aos as­sociados da impetrante, aflora, claramente, o justo receio enseja­dor da ação. É o que acontece no caso, em que o ato atacado visa submeter o funcionamento e os serviços dos Bancos, filiados à im­petrante, à fiscalização municipal, com aplicação de multas.

lU - Não há confundir caducidade do direito à impetração com caducidade do direito objeto da impetração. Só neste último caso é que se pode ter presente a regra do art. 269, IV, do CPC.

IV - Mesmo que se tratasse de matéria meritória a caducidade, não caberia a esta Corte apreciar o mérito da causa, por implicar supressão do grau de jurisdição originário.

V - Recurso ordinário provido, a fim de que, afastada a carên­cia da ação, prossiga o Tribunal a quo no julgamento da impetração.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, em que são partes as aci­ma indicadas:

Decide a Segunda Turma do Su­perior Tribunal de Justiça, na con­formidade dos votos e das notas ta­quigráficas anexas, por unanimida­de, conhecer do recurso e dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator.

Participaram do julgamento os Srs. Ministros Peçanha Martins e Ari Pargendler.

Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Hélio Mosimann.

Brasília, 08 de fevereiro de 1996 (data do julgamento).

Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, Relator.

Publicado no DJ de 26-02-96.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO: A Federação Brasileira das Associações de Bancos - Febraban impetrou mandado de segurança coletivo, preventivo, com pedido de liminar, em face do Prefei­to do Município de São Paulo e ou­tros, para o fim de se desobrigarem os Bancos, seus filiados, do cumpri­mento do disposto no Decreto Muni­cipal n~ 32.991, de 1993, do Municí­pio de São Paulo, isentando-os das pretensões de fiscalização e das mul­tas previstas naquele diploma muni­cipal e determinando que os impe­trados, por si ou por seus prepostos, se abstenham de notificar ou autuá­los, pelo descumprimento do referi­do decreto, de fiscalizá-los ou de im­por-lhes multas, até o julgamento do mérito deste feito.

Fundou-se, em suma, a impetra­ção em que os associados da impe­trante já cumprem as determinações

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do Conselho Monetário Nacional, di­vulgadas pela Resolução n~ 1.568-BACEN, mantida pelo art. 3~ da Cir­cular n~ 2.019, também do Banco Central, não podendo, pois, aceitar nenhum tipo de fiscalização por par­te da Prefeitura de São Paulo, em razão da sua absoluta incompetên­cia sendo inconstitucionais o Decre­to Municipal n~ 32.991, de 1993, e a Lei Municipal n~ 11.209, de 1992, em que se apóia.

Deferida a liminar (fls. 28), o Ple­nário do Egrégio 'lli.bunal a quo jul­crou extinto o processo, sem aprecia­~ão do mérito, por faltar à impe~ran­te uma dos condições da ação (mte­resse de agir) e por caducidade da impetração.

A impetrante opôs embargos de declaração, sob a alegação de omis­são, aduzindo que a impetração não foi contra a lei em tese, mas contra o Decreto Municipal n~ 32.991, de 09.02.93, de efeitos concretos, con­tendo ameaças subjetivas de multas e de fiscalização, sendo, por isso mesmo, tempestiva.

Rejeitados os embargos (fls. 96-102), a impetrante manifestou o presente recurso ordinário, pleiteando a refor­ma do acórdão recorrido que a julgou carecedora da ação, se não se enten­der, desde logo, de deferir-lhe a segu­rança, como pleiteada.

Com a manifestação do Ministério Público do Estado de São Paulo (fls. 151-156), subiram os autos e, neste 'fribunal, manifestou-se a Subprocu­radoria Geral da República no senti­do de que, afastada a carência da ação, seja o recurso provido, com a concessão da segurança (fls. 164-168).

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO (Relator): Impro­cedem as preliminares conducentes à carência da ação.

Primeiramente, verifica-se que a impetração não se dirige contra a Lei Municipal n~ 11.209/92, mas contra o Decreto Municipal n~ 32.991/93, que lhe deu execução. Datando este de­creto de 09.02.93, com publicação no Diário Oficial do dia 10 subseqüente (fls. 23), e tendo sido a impetração protocolizada em 17.03.93 (fls. 2), re­sulta claro que foi observado o prazo de 120 dias previsto no art. 18 da Lei n~ 1.533, de 31.12.51. Improcede, pois, a pretendida caducidade.

Outrossim, não se trata, no caso, de mandado de segurança contra a lei em tese. Com efeito, a impetração visa afastar ameaças ilegais, atuais e concretas, decorrentes do citado decreto municipal, contra os filiados da impetrante, aflorando, claramen­te, o justo receio ensejador da ação.

Na verdade, os preceitos consubs­tanciados nos arts. 1~, 3~ e 5~ do de­creto objeto deste mandamus con­têm trechos que consubstanciam exi­gências ilegais de prática de atos pe­los Bancos, ensejadoras de ameaças, atuais e concretas, de submeter o seu funcionamento e seus serviços à fiscalização municipal, por meio de multas. Eis os textos dos citados dis­positivos:

"Art. 1~ - As instituições finan­ceiras e estabelecimentos bancá­rios situados no Município de São Paulo ficam obrigados a afixarem, em suas agências, e postos de ser-

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viço, cartazes indicativos de todos os serviços oferecidos de forma não gratuita, acompanhados dos respectivos preços, devidamente atualizados.

Art. 3~ - As instituições financei­ras e estabelecimentos bancários terão um prazo de 30 (trinta) dias, contados da data da publica­ção deste decreto, para o atendi­mento das exigências constantes dos artigos 1~ e 2~.

§ 1~ - Decorrido o prazo fixado no caput deste artigo, o não cum­primento do disposto neste decre­to sujeitará os infratores a multa equivalente a 50 (cinqüenta) Uni­dades de Valor Fiscal do Municí­pio de São Paulo - UFM, devida por agência ou posto de serviço, conforme previsto no artigo 2 9 da Lei n 9 11.209, de 20 de maio de 1992.

§ 2~ - Ficará caracterizada a si­tuação de reincidência menciona­da no parágrafo único do artigo 2~ da Lei n~ 11.209, de 20 de maio de 1992, quando, após 30 (trinta) dias da imposição da multa afixa­da no parágrafo anterior, persis­tir a desobediência às determina­ções da lei citada e deste decreto.

§ 3~ - Serão também considera­dos reincidentes as instituições financeiras e os estabelecimentos bancários que, já tendo recebido a multa defmida no parágrafo 12, venham a qualquer tempo, infrin­gir as disposições da Lei n~ 11.209, de 20 de maio de 1992, e deste de­creto.

§ 4~ - Nas hipóteses de reincidên­cia, será lavrada multa equivalen­te a 100 (cem) Unidades de Valor Fiscal do Município de São Paulo -UFM.

Art. 52 - Este decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em con­trário."

Isto posto, afasto a segunda pre­liminar, porquanto, não incide, no caso, a Súmula n~ 266-STF.

Ao contrário do sustentado pela Subprocuradoria Geral da Repúbli­ca (fls. 167-168), afastadas as preli­minares, não cabe julgar o mérito da impetração. Embora sejam aplicá­veis ao recurso ordinário as regras relativas à apelação (CPC, art. 540, com a redação da Lei n~ 8.950, de 13.12.94), resulta claro que, no caso, ao declarar a caducidade da impe­tração, o acórdão recorrido não jul­gou o seu mérito. Com efeito, não há confundir caducidade do direito à impetração, com caducidade do direi­to objeto da impetração. Só neste úl­timo caso é que se pode ter presen­te a regra do art. 269, IV, do CPC, citada no referido parecer.

Ademais, ainda que se tratasse de matéria meritória a caducidade, não caberia a esta Corte, no caso, ir adiante no seu julgamento, para apreciar o mérito da causa, por is­so implicar supressão do grau de ju­risdição originário.

Em conclusão, conheço do recur­so e dou-lhe provimento para que, afastadas as preliminares em que se fundou o acórdão recorrido, pros­siga o Tribunal a quo no julgamen­to da causa.

138 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 127-186, julho 1997.

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RECURSO ESPECIAL N~ 15.387-0 - CE

(Registro n~ 91.0020693-8)

Relator: O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro

Recorrente: Fazenda Nacional

Procuradores: Drs. Maria da Graça Aragão e outros

Recorrida: Construtora Argus Ltda.

Advogados: Drs. José Parente Pinheiro e outro

EMENTA: Embargos declaratórios. Omissão não suprida. Acór­dão recorrido que remete à fundamentação de julgado anterior: ne­cessidade de documentar o teor deste.

I - Se a Turma fundamentou o seu julgado em acórdão do Ple­no, que decidiu argüição de inconstitucionalidade de lei, impõe-se que a decisão reportada seja integrada, documentadamente, ao aresto fracionário.

H - Dissídio pretoriano caracterizado. IH - Recurso especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, em que são partes as aci­ma indicadas:

Decide a Segunda Thrma do Su­perior Tribunal de Justiça, na con­formidade dos votas e das notas ta­quigráficas anexas, por unanimida­de, conhecer do recurso e dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator.

Participaram do julgamento os Srs. Ministros Hélio Mosimann, Pe­çanha Martins e Américo Luz.

Brasília, 14 de junho de 1995 (da­ta do julgamento).

Ministro HÉLIO MOSIMANN, Presidente. Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, Relator.

Publicado no DJ de 07-08-95.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO: Trata-se de re­curso especial, interposto pela União Federal, com fundamento no art. 105, IIl, letras a e c, da Constituição Federal, contra o v. acórdão do E. Tribunal Regional Federal da 5~ Re­gião, que rejeitou os seus embargos declaratórios, assim ementado (fls. 78):

"Embargos declaratórios. Decisão da 'TUrma. Argüição de inconstitu­cionalidade suscitada em outro processo.

Quando, em processo de compe­tência das Câmaras ou Thrmas, verificar-se o incidente de incons­titucionalidade, a decisão do Ple-

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no passa a ser parte integrante do acórdão que vier a ser proferido pelo órgão fracionado. 'lbdavia, em processo diverso, em que não foi suscitado o incidente, mesmo que se discuta questão de direito idên­tica, as razões e os fundamentos (consubstanciados nas notas ta­quigráficas) daquela decisão ple­nária não se incorporam formal­mente ao acórdão do órgão fracio­nado, embora sobre este julga­mento produzam efeitos.

A função do julgador, nos embar­gos declaratórios, não é responder à perquirição sobre decisão em ar­güição de inconstitucionalidade de lei suscitada em outro processo submetido ao julgamento do Tri­bunal."

Alega a recorrente negativa de vi­gência aos arts. 165, 458, H e IH e 535, H, do Código de Processo Civil, por não ter sido juntada aos autos a decisão do Tribunal Pleno relativo à decretação de inconstitucionalidade dos Decretos-Leis nQ!! 2.445 e 2.449/88 e dissídio jurisprudencial com o acór­dão do TRF - 2':! Região e do Colen­do STF.

Sem contra-razões (fls. 100v.), o recurso, cujo processamento foi ad­mitido (fls. 101-103), subiu a esta Corte, onde me veio distribuído.

Às fls. 108-110 manifestou-se a douta Subprocuradoria Geral da Re­pública, em parecer da Dra. Heleni­ta Amélia G. Caiado de Acioli, pelo conhecimento e provimento do recur­so.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO (Relator): O acór­dão da Thrma julgou a causa, cingin­do-se a mencionar o precedente ple­nário, que declarou a inconstitu­cionalidade dos Decretos-Leis nQ!!. 2.445/88 e 2.449/88.

A vencida opôs embargos declara­tórios, objetivando conhecer os fun­damentos que serviram de base à aludida declaração de inconstitucio­nalidade.

Os declaratórios foram rejeitados, ao argumento de que "as razões e os fundamentos (consubstanciados nas notas taquigráficas) daquela decisão plenária não se incorporam formal­mente ao acórdão do órgão fraciona­do, embora sobre ele produzam efei­tos" e de que "a função do julgador, nos embargos declaratórios, não é responder à perquirição sobre deci­são em argüição de inconstituciona­lidade de lei suscitada em outro pro­cesso submetido ao julgamento do Tribunal".

Ao assim decidir, o aresto recorri­do entrou em confronto com os para­digmas colacionados. É o que se de­preende da ementa abaixo transcri­ta:

"RE: acórdão recorrido que re­mete à fundamentação de julgado anterior: necessidade de documen­tação do teor deste.

Ao conhecimento e julgamento do RE é imprescindível a ciência da motivação do acórdão recorri­do, salvo se a ausência dela é o

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fundamento do recurso extraordi­nário; assim, se a decisão recorri­da apenas se reporta à fundamen­tação do precedente do 'Iribunal a quo, não se conhece do recurso extraordinário, se o recorrente não opôs embargos de declaração nem fez a prova de teor do prece­dente invocado". (AC. no RE 121.487-2-CE, Rel. Min. Sepúlve­da Pertence - in DJU de 14.09.90, pág. 9.425).

Conheço, pois, do recurso.

E, no mérito, lhe dou provimento. Com efeito, a regra é a de que as de­cisões judiciais devem ser motivadas, a fim de possibilitarem o exercício do direito de defesa, segundo se de­preende do art. 458, II, do C.P.C. Aliás, a norma referida adquiriu status constitucional. A Lei Maior, em vigor, diz expressamente que "to­dos os julgamentos dos órgãos do Po­der Judiciário serão públicos, e fun­damentadas todas as decisões, sob pena de nulidade" (art. 93, IX).

Em concreto, se assim não se en­tender, estar-se-á, na prática, a pos­sibilitar se torne inviável, inclusive, o apelo extremo manifestado. Com efeito, em despacho publicado no DJU de 18.04.91, pág. 4.515-16, o ilustre Ministro Marco Aurélio ne­gou seguimento ao Recurso Extraor­dinário n~ 134.248-0-PE, em que se discutia exatamente a constituciona­lidade da Lei n~ 7.689, de 1988, adu­zindo:

"A leitura do acórdão prolatado nestes autos revela que o Órgão fracionado da Corte de origem re-

solveu a controvérsia consideran­do pronunciamento do Pleno sobre a inconstitucionalidade de deter­minada lei federal. Acontece, po­rém, que, confirmando a máxima segundo a qual a economia de tempo é o mal de nosso século, li­mitou-se o aludido Órgão à mera referência ao que julgado pelo Pleno e que culminou na declara­ção de inconstitucionalidade, sem transcrever as razões respectivas ou juntar, aos presentes autos, a peça pertinente. Assim, não é da­do conhecer a fundamentação do que deliberado em torno da in­constitucionalidade, não podendo a fixação dos fundamentos ficar ao sabor da capacidade intuitiva dos integrantes deste Tribunal. Verificado o incidente de inconsti­tucionalidade, a decisão do Pleno passa a ser parte integrante do Acórdão proferido pelo Órgão fra­cionado, sendo indispensável, por­tanto, que se conheçam os motivos pelos quais se chegou à conclusão acerca da procedência da pecha. Simplesmente, não se tem o que confrontar com o teor da Carta Magna para dizer-se da procedên­cia, ou não, do que assentado no Acórdão - a inconstitucionalida­de - que a recorrente pretende alvejar com o recurso em questão."

Isto posto e à vista do parecer da Subprocuradoria Geral da Repúbli­ca, em conclusão, conheço do recur­so e lhe dou provimento, a fim de que o julgado Plenário do Egrégio 'Iribunal a quo seja integrado ao aresto da Thrma, que nele se fun­dou.

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RECURSO ESPECIAL N~ 29.035 - PR

(Registro n~ 92.0028332-2)

Relator: O Sr. Ministro Adhemar Maciel

Recorrente: Estado do Paraná

Advogados: Drs. Júlio César Ribas Boeng e outros

Recorrida: C. R. Almeida S. A. Engenharia e Construções

Advogados: Drs. Galeno Lacerda e outros

EMENTA: Processual Civil. Mandado de segurança. Decisão in­deferitória de pedido de intervenção como assistente. Apresentação de agravo de instrumento. Writ concedido. Interposição de apela­ção. Ordem do julgamento: agravo e depois, se for o caso, a apela­ção, e não o contrário. Provimento do agravo de instrumento: insub­sistência dos atos processuais posteriores incompatíveis com o re­sultado do julgamento do agravo. Precedentes do STF, do STJ e do extinto TFR. Recurso provido.

I - Havendo num mesmo processo recursos de apelação e de agra­vo de instrumento, este deve ser julgado antes daquele. Preceden­tes do STJ: REsp n. 49.652/RJ, REsp n. 17.0301PE e REsp n. 43.784JM:T.

11 - Por força do efeito devolutivo, o provimento do agravo de ins­trumento torna insubsistentes todos os atos processuais (inclusi­ve a sentença proferida durante o processamento do agravo) incom­patíveis com o resultado do julgamento deste recurso. Preceden­tes do STF: RE n. 89.980/SP e RE n. 94.344/BA. Precedente do extin­to TFR: AC n. 125.835/RJ.

lU - Recurso especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:

Decide a Segunda Thrma do Su­perior Tribunal de Justiça, por una­nimidade, conhecer do recurso e dar­lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-relator, na forma do relatório e notas taquigráficas cons­tantes dos autos, que ficam fazendo

parte integrante do presente julga­do. Votaram de acordo os Srs. Mi­nistros Hélio Mosimann e Peçanha Martins. Impedido o Sr. Ministro Ari Pargendler. Ausente, justifica­damente, o Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro.

Custas, como de lei.

Brasília, 12 de dezembro de 1996 (data do julgamento).

142 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 127-186, julho 1997.

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Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. Ministro ADHEMAR MACIEL, Relator.

Publicado no DJ de 24-02-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO ADHEMAR MACIEL: O Estado do Paraná inter­põe recurso especial contra acórdão proferido pelo TRF da 4~ Região.

C. R. Almeida S.A. - Engenharia de Construções, ora recorrida, impe­trou mandado de segurança contra o ato do presidente da Companhia Paranaense de Energia - CopeI que a desclassificou da licitação para a construção da Usina Hidrelétrica de Segredo.

Apoiando-se no art. 50 do CPC, o Estado do Paraná, fiador das obriga­ções assumidas pela CopeI para a construção da referida usina, reque­reu a sua intervenção no feito como assistente da CopeI.

Em 31/08/88, o juiz de primeiro grau indeferiu o pedido de interven­ção do Estado como assistente, dan­do ensejo à interposição - em 15/09/88 - de agravo de instrumen­to por parte do Estado do Paraná.

No dia 05/09/88, o juiz concedeu a segurança para declarar nula a desclassificação da ora recorrida, dando ensejo à remessa ex officio e à interposição de apelação, a qual foi improvida pela 2~ Thrma do ex­tinto TFR, em acórdão que foi em­bargado de declaração pelo Estado do Paraná.

Após rejeitar os embargos de de­claração interpostos contra o acórdão do extinto TRF, a 1~ Thrma do TRF da 4~ Região, à unanimidade de vo­tos, não conheceu do agravo de ins­trumento, em acórdão assim emen­tado:

"Processual Civil. Agravo ide ins­trumento. Decisão que denega pe­dido de ingresso no feito, na qua­lidade de assistente ad adjuvan­do.

1. Recurso prejudicado face a de­cisão da questão de mérito, em grau de apelação, com inversão da ordem de julgamento dos recursos.

2. A decisão interlocutória só pode­ria ser revista, se acaso desconsti­tuído o provimento que decidiu o mérito da demanda, o que não se verifica na via dos embargos de declaração.

3. Agravo de instrumento não co­nhecido" (fl. 251).

Irresignado, o Estado do Paraná interpôs embargos de declaração, os quais foram rejeitados.

Não se dando por vencido, o Esta­do do Paraná recorre de especial pe­la alínea a do permissivo constitu­cional. Alega que o acórdão recorri­do contrariou os arts. 522 e 559 do CPC, além do art. 5~, LV, da CF/88. Requer seja dado provimento ao es­pecial para determinar o julgamen­to do mérito do agravo.

A recorrida apresentou contra-ra­zões.

O vice-presidente do TRF da 4~ Região, eminente Juiz Doria Fur-

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quim, admitiu o especial, concluin­do que "o recurso merece prosperar" (fi. 343).

O Ministério Público Federal opi­nou pelo improvimento do recurso.

Os autos deram entrada em meu gabinete em 10/07/96 (fi. 401).

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO ADHEMAR MACIEL (Relator): Senhor Presiden­te, em primeiro lugar noticio que o então Juiz Ari Pargendler, que ora abrilhanta esta Corte, participou dos julgamentos do agravo de instrumen­to e dos respectivos embargos de de­claração.

O recurso especial merece prospe­rar.

Como já dito no relatório, a ape­lação interposta contra a sentença concessiva da segurança foi julgada antes do agravo de instrumento in­terposto contra a decisão que inde­feriu o pedido de assistência no pro­cesso de mandado de segurança.

Ora, o caput do art. 559 do CPC estabelece que "a apelação não será incluída em pauta antes do agravo de instrumento interposto no mesmo processo". Caso a apelação e o agra­vo de instrumento tenham sido in­cluídos na mesma pauta, determina o parágrafo único do dispositivo re­tro que "se ambos os recursos hou­verem de ser julgados na mesma sessão, terá precedência o agravo". Daí a conclusão do Professor Nelson Nery Júnior:

"O julgamento do agravo deve preceder ao da apelação, quer te­nham de ser julgados na mesma sessão ou não" Nery Júnior, Nelson. "Comentários ao Código de Processo Civil", 2~ ed., Editora Revista dos 'fribunais, 1996, pág. 992).

N o mesmo sentido é a lição do Professor Barbosa Moreira, in verbis:

"Não se incluirá em pauta a ape­lação (art. 559, caput) antes do agravo interposto no mesmo pro­cesso, mas que não tenha ficado retido nos autos (quanto à hipóte­se de retenção, v. infra, § 20, n~ IV, 4). Se, por equívoco, o presi­dente incluir na pauta a apelação, a despeito de haver agravo pen­dente, a irregularidade será cor­rigida, ex officio ou por provoca­ção de qualquer das partes ou de outro membro do corpo julgador, no prazo que mediar entre a pu­blicação da pauta e a sessão de julgamento, ou no próprio curso desta, retirando-se da pauta a apelação, até que naquela se pos­sa incluir o agravo. Omissis. O agravo será sempre incluído em pauta antes da apelação interpos­ta no processo, ou julgado antes dela, se ambos constarem da pau­ta da mesma sessão (art. 559 e parágrafo único)" (Moreira, Jo­sé Carlos Barbosa. "O novo pro­cesso civil brasileiro" - 18~ ed., 1996, páginas 164 e 172) (grifei).

O Professor Humberto Theodo­ro Júnior também ensina que "o

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tribunal ad quem, antes de apreciar a apelação, deverá decidir os agravos de instrumento porventura interpos­tos no mesmo processo (art. 559)" (Theodoro Júnior, Humberto. "Curso de direito processual civil". vaI. I, 10!O ed., Forense, 1993, pág. 563).

Aliás, em seu voto-condutor pro­ferido no julgamento dos embargos de declaração interpostos contra o acórdão do extinto TFR, a eminente Juíza Ellen Gracie N orthfleet reco­nheceu que "o julgamento da apela­ção, desconsiderando a existência do agravo, atropelou a interposição des­te último que, no atual estado dos autos, ficou prejudicado" (fl. 299) (grifei). Concluiu, ainda, a ínclita re­latora, que o agravo de instrumento restou "prejudicado face a decisão da questão de mérito, em grau de ape­lação, com inversão da ordem de jul­gamento dos recursos" (fl. 251) (gri­fei).

Como se vê, o art. 559 do CPC es­tabelece a ordem dos julgamentos dos recursos pendentes no mesmo processo: em primeiro lugar, o agra­vo de instrumento; depois, e se for o caso, a apelação, e não o contrário, como ocorreu no caso dos autos.

A propósito, já tive oportunidade de apreciar hipótese similar à dos autos quando do julgamento do REsp n. 49.652/RJ, cujo acórdão res­tou assim ementado:

"Processual Civil. Mandado de se­gurança. Apelação julgada por Thrma diferente daquela do agra­vo de instrumento previamente

distribuído. Contrariedade aos arts. 548 e 559 do CPC. Omissis Recurso especial conhecido (alínea a do autorizativo constitucional) para anular a decisão" (REsp n. 49.652/RJ, 6!O 'furma do STJ, unâ­nime, publicado na RSTJ 67/478).

Há, ainda, outro precedente da Cor­te que merece ter a ementa transcrita:

Processual Civil. Agravo. Apela­ção. Ordem de julgamento.

Contraria o art. 559 do CPC acór­dão a julgar apelação sem apre­ciar o agravo de instrumento inter­posto na mesma causa" (REsp n. 17.030IPE, 3!O 'furma do STJ, unâ­nime, relator Ministro Cláudio San­tos, publicado no DJ de 23/11/92). No mesmo sentido: REsp n. 43.784/ MT, 3!O 'furma do STJ, relator Mi­nistro Nilson Naves, publicado no DJ de 14/11/94.

Feitas essas considerações, passo ao exame do pedido recursal, in ver­bis:

Pelo exposto, requer seja o recur­so recebido e processado na forma da Lei n~ 8.038/90, a fim de que, conhecido e provido pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça, se­ja o acórdão reformado, determi­nando-se o julgamento do mérito do agravo de instrumento conside­rado prejudicado pela decisão ora recorrida" (fl. 281).

Como se vê, o Estado do Paraná pretende ver seu agravo de instru­mento julgado no mérito, ao funda-

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mento de que "se for provido, ficará sem efeito tudo quanto tiver ocorri­do posteriormente à sua interposição e seja incompatível com o aco1himen­to do agravo" (fl. 279).

Realmente, o efeito devolutivo do agravo de instrumento assegura que o provimento desse recurso torna in­subsistentes todos os atos processuais posteriores à decisão interlocutória impugnada e incompatíveis com o re­sultado do julgamento, inclusive a sentença proferida durante o proces­samento do agravo.

Por oportuno, transcrevo as emen­tas dos seguintes precedentes do STF:

"- O efeito devolutivo do agravo de instrumento, interposto contra o despacho saneador, faz com que a sentença, proferida na causa, fi­que com sua eficácia condiciona­da ao desprovimento do agravo, no que concerne às questões nele ventiladas" (RE n. 89.980/SP, 1~ 'fu.rma do STF, unânime, relator Ministro Soares Muiíoz, publica­do na RTJ 91/320).

Agravo de instrumento. Efeito de­volutivo.

A preeminência da decisão que dá provimento ao agravo de instru­mento, para anular o processo a partir do despacho saneador, sobre a sentença final anteriormente pro­ferida, resulta do efeito devolutivo daquele recurso, máxime quando a sentença pende de apelação.

Recurso extraordinário não conhe­cido" (RE n. 94.344/BA, 1~ 'fu.rma do STF, unânime, relator Minis-

tro Soares Muiíoz, publicado na RTJ 101/386).

Nesse sentido foi o acórdão unâni­me proferido pela 4~ 'fu.rma do extin­to TFR, conforme se apreende da ementa do precedente:

"Processo Civil- FNT.

Provido agravo de instrumento in­terposto de decisão que indeferi­ra prova pericial, os atos subse­qüentes à decisão reformada res­taram sem efeito. Recursos preju­dicados." (AC n. 125.835/RJ, 4~ 'fu.rma do extinto TFR, unânime, reI. Min. Armando Rollemberg, DJ 21/03/89).

A respeito do tema, invoco o pro­nunciamento do Professor Nelson N ery Júnior:

"Se a sentença foi prolatada e con­tra ela não foi interposto recurso de apelação, é de se reconhecer que a preclusão foi obstada pela interposição de agravo. Assim, pe­lo efeito devolutivo do agravo já interposto, aquela matéria não foi alcançada pela preclusão do deci­sumo A decorrência natural disto é que a eficácia da sentença fica condicionada ao desprovimento do recurso de agravo. Se este for pro­vido, todos os atos posteriores do procedimento terão sido anulados e outra sentença deverá ser profe­rida omissis.

Pode ser que, depois da interposi­ção do agravo, sobrevenha senten­ça da qual não se interponha re­curso. A preclusão da faculdade

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de apelar não interfere no agravo já interposto, cuja interposição obstou a preclusão sobre a ques­tão incidente decidida interlocuto­riamente no processo. Conseqüen­temente, ainda que o agravante não apele da sentença, o agravo deve ser julgado e, se provido, anula todos os atos subseqüentes à sua interposição que forem in­compatíveis com o resultado do julgamento do agravo, incluída aqui a sentença" (Nery Júnior, Nelson. "Comentários ao Código de Processo Civil". 2!! ed., Editora Revista dos 'fribunais, 1996, pág. 992).

Em suma, havendo num mesmo processo recursos de apelação e de agravo de instrumento, este deve ser julgado antes daquele, ainda mais se o prévio julgamento do apelo acarre­tar prejuízo ao agravante, como no caso dos autos. Além disso, o provi­mento do agravo de instrumento tor-

na insubsistentes todos os atos pro­cessuais posteriores à decisão inter­locutória impugnada e incompatíveis com o resultado do julgamento.

Com essas considerações, conhe­ço do recurso especial e dou-lhe pro­vimento para determinar seja profe­rido novo julgamento do agravo de instrumento.

É como voto.

VOTO-VOGAL

O SR. MINISTRO ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO: Sr. Presidente, o Eminente Ministro-Relator demons­trou exaustivamente que, quando do julgamento no Egrégio 'fribunal a quo, houve uma inversão, julgou-se primeiro a apelação ao invés de jul­gar o agravo de instrumento e tal proceder implica violação à literali­dade do art. 559 do Código de Pro­cesso Civil. Acompanho o douto vo­to proferido por S. Exa.

RECURSO ESPECIAL N~ 36.479 - SP

(Registro n~ 93.0018229-3)

Relator: O Sr. Ministro Adhemar Maciel

Recorrente: Viação Ribeirão Pires Ltda.

Advogados: Drs. Eduardo Jessnitzer e outros

Recorrida: Fazenda do Estado de São Paulo

Advogados: Drs. Cristina Margarete Wágner Mastrobuono e outros

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 127-186, julho 1997. 147

Page 22: SEGUNDA TURMA - ww2.stj.jus.br · RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N~ 1.436-0 - RS (Registro n~ 91.0024007-9) Relator: O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro Recorrente: Lorena

EMENTA: Processual Civil. Execuções fiscais ajuizadas isolada­mente contra a mesma devedora. Embargos apresentados. Proces­sos reunidos pelo Juiz de Primeiro Grau e julgados simultaneamen­te na mesma sentença. Soma dos valores de cada ação para efeito de alçada recursal: impossibilidade. Precedentes. Recurso não co­nhecido.

I - A Fazenda Pública do Estado de São Paulo ajuizou 10 (dez) exe­cuções fiscais contra a ora recorrente, a qual apresentou uma de­zena de embargos de devedor. O juiz de primeiro grau determinou o processamento de tão-somente um dos embargos, englobando to­das as execuções fiscais. Depois, julgou improcedentes, numa mes­ma sentença, todos os embargos às execuções. Inconformada, a ora recorrente interpôs apelação, a qual não foi conhecida pelo TJSP, ao fundamento de que não cabe apelação nos processos executivos fiscais de valor igualou inferior a 50 ORTN's. Não se dando por vencida, a executada recorre de especial.

11 - Apesar de reunidos os embargos às execuções fiscais e julga­dos na mesma sentença, não se somam os valores de cada ação pa­ra o efeito da alçada do art. 34 da Lei de Execução Fiscal. Não há que se falar em "apelação", se todas as ações têm valor inferior à alçada recursal.

lU - Inteligência do art. 34 da Lei n. 6.830/80.

IV - Precedente do extinto TFR: Ag n. 44.9411SP.

V - Precedente do STJ: REsp n. 36.419/SP.

VI - Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:

Decide a Segunda Turma do Su­perior Tribunal de Justiça, por una­nimidade, não conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro­relator, na forma do relatório e no­tas taquigráficas constantes dos au­tos, que ficam fazendo parte inte­grante do presente julgado. Votaram de acordo os Srs. Ministros Ari Par­gendler, Antônio de Pádua Ribeiro, Hélio Mosimann e Peçanha Martins.

Custas, como de lei. Brasília, 20 de fevereiro de 1997

(data do julgamento). Ministro PEÇANHA MARTINS,

Presidente. Ministro ADHEMAR MACIEL, Relator.

Publicado no DJ de 24-03-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO ADHEMAR MACIEL: Viação Ribeirão Pires Ltda. interpõe recurso especial con­tra acórdão proferido pelo T JSP.

148 R. sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 127-186, julho 1997.

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A ora recorrente ajuizou ação in­cidental de embargos de devedor contra a Fazenda do Estado de São Paulo.

'lendo em vista a existência de vá­rias execuções fiscais envolvendo as mesmas partes e na mesma fase processual, o juiz de primeiro grau determinou o processamento tão-so­mente dos presentes embargos em relação a todas as execuções, juntan­do-se por linha os outros embargos de devedor.

Posteriormente, o juiz recebeu os embargos, suspendeu as execuções fiscais e determinou a citação da Fazenda Pública do Estado de São Paulo.

A Fazenda Pública impugnou os embargos.

A ora recorrente apresentou répli­ca.

Por fim, o juiz proferiu sentença, na qual julgou improcedentes os em­bargos às execuções fiscais movidas pela Fazenda Pública.

Inconformada, a ora recorrente apelou.

A 6~ Câmara Civil do TJSP, à unanimidade de votos, não conheceu da apelação ao fundamento de que o recurso cabível na hipótese é o de embargos infringentes, pois não há que se falar, para fins de alçada re­cursal, em soma dos valores dos pro­cessos executivos fiscais reunidos.

Irresignada, Viação Ribeirão Pires Ltda. recorre de especial pelas alí­neas a e c do permissivo constitucio­nal. Alega que o acórdão proferido pelo TJSP contrariou o § 42 do art.

62 da Lei n. 6.830/80 e o art. 259, II, do CPC. Aduz que "reunidos os pro­cessos eles passam a ser um só tra­mitar, uma só sentença e um só re­curso" (fi. 81). Invoca em seu prol aresto proferido pelo 1~ TACIVSP. Requer seja dado provimento ao re­curso especial, determinando o rejul­gamento da apelação.

A Fazenda Pública apresentou contra-razões.

O recurso especial foi admitido na origem.

O Ministério Público Federal opi­nou pelo provimento do recurso es­pecial em parecer assim ementado:

"Execução Fiscal. Reunião de exe­cuções para julgamento conjunto, implica na soma de seus valores para efeito de alçada. Pelo provi­mento do recurso" (fi. 108).

Os autos deram entrada em meu gabinete em 10/07/96 (fl. 113).

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO ADHEMAR MACIEL (Relator): Senhor Presiden­te, o recurso especial não merece prosperar.

O acórdão proferido pelo T JSP es­tá assim fundamentado:

"Procede a preliminar de não co­nhecimento, argüida pela Fazen­da do Estado de São Paulo.

Cada umas das execuções em apenso tinha, quando da distri-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 127-186, julho 1997. 149

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buição, valor correspondente a 123,40 BTN's, muito inferior às 50 ORTN's referidas no art. 34 da Lei n. 6.830/80 (equivalentes, na época da distribuição, nos termos do Provimento CG n. 47/89, a 308,5 BTN's).

O fato de terem sido apensadas várias execuções, para possibilitar o julgamento conjunto dos embar­gos, não implica na soma de seus valores para efeito de alçada, con­forme julgado do Egrégio 'Ihbunal Federal de Recursos, referido por Theotonio Negrão, no seu Códi­go de Processo Civil, em nota 11, ao art. 34, da Lei n. 6.830/80, in verbis:

' .... , se reunidas as execuções e julgadas numa só sentença, a alçada se determina, apesar disso, de acordo com o valor de cada ação.'

Incabível, assim, a apelação inter­posta pela embargante por ser o aludido art. 34 expresso em dizer que nas causas de alçada só se admitem embargos infringentes e de declaração" (fls. 76/77).

Realmente, nesse sentido era a jurisprudência do extinto TFR, con­forme se apreende da ementa do se­guinte precedente da relatoria do eminente Ministro Torreão Braz:

"Execuções fiscais autônomas, reu­nidas para uma sentença única. Devem ser consideradas isolada­mente, com vistas a determinação da alçada.

Agravo de instrumento não conhe­cido" (Ag n. 44-941/SP, 5!! Thrma do extinto TFR, unânime, relator Ministro Torreão Braz, publicado no DJ de 07/11/85).

Outra não é a orientação desta 'furma, conforme o disposto na emen­ta do seguinte acórdão da relatoria do eminente Ministro Antônio de Pá­dua Ribeiro:

"Execução fiscal. Recurso. Alçada. Lei n. 6.830, de 22/09/80, art. 34. Interpretação.

I - Reunidas as execuções e jul­gadas numa só sentença, a alçada se determina, apesar disso, de acordo com o valor de cada ação.

Precedente do TFR.

II - Recurso especial conhecido, mas desprovido." (REsp n. 36.419/SP, 2!! Turma do STJ, unânime, relator Ministro Antô­nio de Pádua Ribeiro, publicado no DJ de 11/10/93).

Em suma, apesar de reunidos os embargos às execuções fiscais e jul­gados simultaneamente na mesma sentença, não se somam os valores de cada ação para o efeito da alçada do art. 34 da Lei de Execução Fiscal. Por conseqüência, não há que se fa­lar em apelação se todas as ações têm valor inferior à alçada recursal.

Com essas considerações, não co­nheço do recurso especial.

É como voto.

150 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 127-186, julho 1997.

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RECURSO ESPECIAL N~ 41.630 - SP

(Registro n~ 93.0034303-3)

Relator: O Sr. Ministro Ari Pargendler

Recorrente: Município de Santos

Advogado: Dr. Santiago Moreira Lima

Recorrido: Serviço de Proteção ao Crédito - SPC

Advogados: Drs. Ricardo do Amaral S. M. de Carvalho e outro

EMENTA: Tributário. ISS. Serviço de proteção ao crédito. A socie­dade civil, que organizada sob o nome de "serviço de proteção ao crédito", mantém banco de dados e que, à base dele, presta infor­mações a associados, mediante paga, está sujeita ao Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza. Pouco importa que a remuneração do serviço seja dimensionada sem o propósito de lucro; a regra de tributação desse imposto independe do resultado da atividade, in­teressando-lhe apenas o fato econômico da circulação de bens ima­teriais, na espécie caracterizado pelo preço pago, a cada consulta, pelas informações obtidas. Recurso especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento, para restabelecer a sentença de primeiro grau, nos termos do voto do Sr. Mi­nistro-Relator. Participaram do jul­gamento os Srs. Ministros Antônio de Pádua Ribeiro, Hélio Mosimann, Peçanha Martins e Adhemar Maciel.

Brasília, 18 de março de 1997 (da­ta do julgamento).

Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. Ministro ARI PARGEN­DLER, Relator.

Publicado no DJ de 14-04-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO ARI PARGEN­DLER: O Serviço de Proteção ao Crédito, criado pelo Sindicato do Co­mércio Varejista de Santos, propôs ação ordinária contra o Município de Santos para obter a declaração de que está desobrigado de recolher o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (fi. 02/13).

O MM. Juiz de Direito Dr. Ricar­do de Almeida Dias julgou proceden­te a ação, à base da seguinte moti­vação:

"A Lei 72/87 alterou o Código Tributário Municipal, no que se refere à lista de serviços, ofere­cendo novo rol, e, pelos itens 21 e 23, consideram-se serviços, aque-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 127-186, julho 1997. 151

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les prestados por: Item 21 - "As­sessoria ou consultoria de qual­quer natureza, não contida em outros itens desta lista ... "; Item 23 - "Análises, inclusive de sis­temas, exames, pesquisas e infor­mações, coleta e processamento de dados de qualquer natureza". Por outro lado, o Código Tributário Municipal não isentou as associa­ções de classe da obrigação daque­le tributo. Verifica-se que a auto­ra é uma pessoa jurídica criada pelo Sindicato do Comércio Vare­jista de Santos, com características de sociedade civil registrada no Cartório de Títulos e Documentos, com direção própria, cobrando jóia para o ingresso em seu quadro as­sociativo e mensalidade para to­dos os associados e taxa de con­sulta, cobrada cada vez que o as­sociado usa o serviço da autora, na pesquisa sobre a idoneidade de algum pretenso cliente. Ora, a questão é meramente interpreta­tiva e não há como excluir a auto­ra da obrigação tributária impos­ta pela municipalidade, pois está perfeitamente caracterizado o fa­to gerador daquele tributo nos serviços prestados por ela aos seus associados. Independe da in­cidência tributária a situação ju­rídica da autora, ou seja, o fato de ser associação fechada, sem aten­der terceiros não componentes do quadro associativo. A lei munici­pal, como já dito, não exclui taxa­tivamente a autora da obrigação tributária relativa ao ISS, sendo ela, portanto, devida. O fato gera­dor enquadra-se perfeitamente na

sua atividade, ou seja, a prestação de serviços aos seus associados, no recolhimento de dados relati­vos à idoneidade dos eventuais clientes. A base de cálculo para o imposto é o preço dos serviços prestados que, conforme informa­ção da autora, em cada consulta feita pelo associado, este tem que pagar uma taxa à sociedade, re­sultando daí a sua receita" (fls. 74/76).

Seguiu-se apelação (fls. 78/87), provida pela Egrégia Sexta Câmara do Primeiro Tribunal de Alçada Ci­vil do Estado de São Paulo, Relator o eminente Juiz Luiz Carlos Ribeiro Borges (fls. 111/113).

Lê-se no julgado:

"A prestação de serviços de qualquer natureza, que se afigu­re suscetível de tributação pelo ISS é aquela que se enquadre dentro de determinados pressu­postos, dentre os quais o da fina­lidade lucrativa. Constitui, esse, um requisito essencial, consoante o autorizado magistério de Ber­nardo Ribeiro de Moraes: "O lucro, embora em potência, deve estar contido na atividade presta­da (explorada). Caso contrário, não haverá incidência do ISS" (Doutri­na e Prática do Imposto Sobre Serviços, pág. 121). Ora, essa fina­lidade de lucro não se distingue na atividade própria desenvolvi- . da pelos Serviços de Proteção ao Crédito, consistente em prestar informações a seus associados a respeito da idoneidade dos clien-

152 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 127-186, julho 1997.

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tes que pretendam fazer compras em seus estabelecimentos. A au­sência dessa intenção de auferir lucros explicita-se não apenas na natureza da atividade do apelan­te, como ainda no teor de seus es­tatutos, onde está escrito que suas receitas, representadas pelas con­tribuições dos usuários, encargos adicionais e sobretaxas, destinam­se à manutenção, conservação e ampliação do órgão e à constitui­ção de um fundo de reserva (fls. 15/18, arts. 72 e 82). Nem há moti­vos para se entender que a taxa de consulta cobrada pelo apelan­te porventura se aparte daquela destinação declarada nos estatu­tos. Ainda que a Municipalidade apelada tenha sustentado que seus exatores apuraram a existên­cia de receitas provenientes de serviços tributados pelo ISS, dete­ve-se no terreno das meras alega­ções, sem qualquer prova de que o apelante assim visasse e obti­vesse lucros com a realização de seus serviços. Destarte, sem que concorra a fundamental premissa da finalidade lucrativa dos servi­ços prestados, não há como en­quadrar o apelante nos itens das listas de serviços apontados pela apelada e pela douta sentença" (fls. 112/113).

Daí o presente recurso especial, com base no artigo 105, inciso III, le­tra a, da Constituição Federal, por violação do artigo 82 do Decreto-Lei n 2 406, de 1968, bem assim do arti­go 333, I, do Código de Processo Ci­vil (fls. 124/129).

Originariamente não admitido (fls. 1311133), o recurso especial foi processado por força de agravo de instrumento provido pelo eminente Ministro José de Jesus Filho (fl. 144).

O Ministério Público Federal, na pessoa do eminente Subprocurador­Geral da República Dr. Fávila Ribei­ro, opinou pelo provimento do recur­so (fls. 152/154).

VOTO

O SR. MINISTRO ARI PARGEN­DLER (Relator): Nos termos do ar­tigo 82 do Decreto-Lei n 2 406, de 1968, "o imposto, de competência dos Municípios, sobre serviços de qual­quer natureza, tem como fato gera­dor a prestação, por empresa ou pro­fissional autônomo, com ou sem es­tabelecimento fixo, de serviço cons­tante da lista anexa".

O item 24 da lista de serviços adotada pela Lei Complementar n 2

56, de 1987, arrola, entre os serviços tributados pelo Imposto Sobre Ser­viços de Qualquer Natureza, os de "análises, inclusive de sistemas, exa­mes, pesquisas e informações, coleta e processamento de dados de qual­quer natureza".

O Serviço de Proteção ao Crédito, criado pelo Sindicato do Comércio Varejista de Santos, no modo como os autos o retratam, é um banco de dados, à base do qual os associados da entidade obtém, mediante paga, informações relevantes para o exer­cício da atividade comercial.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 127-186, julho 1997. 153

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Fora de toda dúvida, há aí uma prestação de serviços mediante re­muneração, suficiente para a inci­dência do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza.

Pouco importa que a remuneração desse serviço seja dimensionada sem o propósito de lucro; a regra de tri­butação, no que se refere ao Impos­to Sobre Serviços de Qualquer N atu-

reza, independe do resultado da ati­vidade, interessando-lhe apenas o fa­to econômico da circulação de bens imateriais, na espécie caracterizada pelo preço pago, a cada consulta, pe­las informações obtidas.

Voto, por isso, no sentido de co­nhecer do recurso especial e de dar­lhe provimento para restabelecer a autoridade da sentença de 12 grau.

RECURSO ESPECIAL N2 45.385 - SE

(Registro n2 94.0007360-7)

Relator: O Sr. Ministro Adhemar Maciel

Recorrente: Fazenda Nacional

Procuradores: Drs. Maria da Graça Aragão e outros

Recorrido: Leandro Correa Barros

EMENTA: Processual Civil. Execução fiscal. Leilão negativo. Pra­zo para a Fazenda Pública pleitear a adjudicação dos bens penho­rados: a qualquer tempo após o término da hasta pública. Inteli­gência do art. 24 da Lei n. 6.830/80. Recurso provido.

I - O legislador não fixou prazo para o requerimento de adjudi­cação dos bens penhorados para a hipótese de leilão sem licitan­te (art. 24, lI, a, da Lei de Execução Fiscal). Por conseqüência, não há que se falar que o pedido de adjudicação deve ser feito imedia­tamente após o término do leilão negativo, nem há que se fixar tal prazo em 30 (trinta) dias depois de finda a hasta pública, pois se desejasse estabelecer tais termos, o legislador o faria expressamen­te, como o fez em relação ao leilão com licitantes (art. 24, 11, b, da Lei n. 6.830/80). Portanto, a Fazenda Pública pode pleitear a ad­judicação a qualquer tempo após o término do leilão negativo, pe­lo preço da avaliação atualizado monetariamente.

II - Recurso especial conhecido e provido.

154 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 127-186, julho 1997.

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ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:

Decide a Segunda Thrma do Su­perior Tribunal de Justiça, por una­nimidade, conhecer do recurso e dar­lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-relator, na forma do relatório e notas taquigráficas cons­tantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julga­do. Votaram de acordo os Srs. Minis­tros Ari Pargendler, Antônio de Pá­dua Ribeiro, Hélio Mosimann e Pe­çanha Martins.

Custas, como de lei.

Brasília, 24 de fevereiro de 1997 (data do julgamento).

Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. Ministro ADHEMAR MACIEL, Relator.

Publicado no DJ de 31-03-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO ADHEMAR MACIEL: A Fazenda Nacional inter­põe recurso especial contra acórdão proferido pelo TRF da 5~ Região.

A ora recorrente ajuizou execução fiscal contra Leandro Corrêa Barros.

Após o leilão, sem a existência de licitantes, a Fazenda Nacional re­quereu a adjudicação do bem penho­rado.

O juiz de primeiro grau indeferiu o requerimento de adjudicação ao fundamento de que "o pedido de fi. 71 não foi formulado depois de findo

o leilão, mas depois de sete dias de findo o leilão" (fi. 04).

Inconformada, a Fazenda N acio­naI interpôs agravo de instrumento.

Posteriormente, a 2~ Thrma do TRF da 5~ Região, por maioria de votos (2 votos vencedores, contra o voto-vencido do Juiz Nereu Santos), negou provimento ao agravo de ins­trumento. O então Juiz José Delga­do, relator designado para o acórdão, sintetizou o caso dos autos na se­guinte ementa:

"Processual Civil. Agravo. Interpre­tação do art. 24, 11, da Lei 6.830/ 80.

1 - O termo "findo o leilão" con­tido no art. 24, II, da Lei n~ 6.830/80, significa o instante em que a hasta pública é encerrada.

2 - Em conseqüência, o pedido de adjudicação, pelo preço da ava­liação, quando não há licitantes ao leilão, deve ser feito pela Fa­zenda Pública no momento em que o leilão é considerado como ultimado.

3 - Agravo improvido por maio­ria, por entender o nobre Juiz Re­lator que esse procedimento da Fazenda Pública podia ocorrer em qualquer tempo, após findo o lei­lão" (fi. 39).

Irresignada, a Fazenda Nacional recorreu de especial pela alínea a do permissivo constitucional. Alega que o acórdão proferido pelo TRF da 5~ Região contrariou o art. 24 da Lei n. 6.830, o qual confere à Fazenda Pú­blica o direito de requerer a adjudi-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 127-186, julho 1997. 155

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cação no prazo de 30 (trinta) dias contados do encerramento do leilão.

A recorrida não apresentou con­tra-razões.

O recurso especial foi inadmitido na origem, dando ensejo à interposi­ção de agravo de instrumento, o qual foi provido pelo eminente Ministro Américo Luz.

O Ministério Público Federal opi­nou pelo provimento do recurso es­pecial.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO ADHEMAR MACIEL (Relator): Senhor Presiden­te, o recurso especial merece prospe­rar.

O acórdão recorrido foi conduzido pelo voto proferido pelo ora Ministro José Delgado, então juiz do TRF da 5~ Região, in verbis:

"A hipótese que se examina é a que permite à Fazenda Pública, com suporte no art. 24, II, da Lei n~ 6.830/80, adjudicar os bens pe­nhorados findo o leilão.

A agravante entende que o termo posto na lei - findo o leilão -permite que o pedido de adjudica­ção seja feito até 30 (trinta) dias após.

Entendo que não deve ser essa a interpretação a ser aplicada ao re­ferido dispositivo, cujo conteúdo ideológico não permite entendi­mento extensivo.

Assim, corretamente colheu o ma­gistrado o querer da lei, quando entendeu que 'o termo findo o lei­lão significa o instante em que a hasta pública é encerrada'. Não vejo como se compreender de ou­tro modo, sob pena de se tratar de modo privilegiado a Fazenda PÚ­blica, haja vista que, a se pensar diferentemente, está se impedin­do que o bem sej a levado a nova praça e alcance um preço mais sa­tisfatório para as partes.

Há de se considerar a adjudicação como meio excepcional do credor receber o seu débito, especialmen­te em momento inflacionário como o vivido pelo país, quando nunca ocorre leilão de bem com o preço da avaliação atualizado.

Por tais fundamentos, nego provi­mento ao agravo" (fi. 37).

Já o voto-vencido, da lavra do re­lator originário, o Juiz N ereu San­tos, está assim fundamentado:

"O MM. Juiz agravado indeferiu o pedido de adjudicação formula­do pela agravante, em despacho exarado nos seguintes termos:

'Vistos, etc ...

O credor pode adjudicar os bens penhorados, findo o leilão, se não houver licitante, cf. a alínea a, do inc. II, do art. 24, LEF.

O inc. II traz, de forma bem clara, o termo - findo o leilão - como o momento exato no qual o credor deve fazer o pedi­do de adjudicação.

156 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 127-186, julho 1997.

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o termo findo o leilão significa o instante em que a hasta pú­blica é encerrada. A redação dada ao inc. II, do art. 24, LEF, só conduz o julgador a este ca­minho.

Assim, como o pedido de fl. 71 não foi formulado depois de fin­do o leilão, mas depois de sete dias de findo o leilão, o indefiro.

................................. ' (fls. 10).

Creio não assistir razão ao julga­dor de 1~ grau. É que o prazo es­tabelecido no art. 24 da Lei n~ 6.830180 é singelo, correndo auto­maticamente da data do leilão. A propósito, aliás em nota ao dispo­sitivo mencionado, Theotonio Negrão, em seu Código de Pro­cesso Civil e legislação processual em vigor (19~ ed., 1989), comenta:

'Não havendo licitante, o pedi­do de adjudicação pode ser for­mulado mais de 30 dias após o leilão, ... '

Outro também não foi o entendi­mento da egrégia 1~ 'furma deste 'Ihbunal quando do julgamento do Agravo de Instrumento n~ 555/SE, do qual foi Relator o eminente Juiz Francisco Falcão, que na ementa do acórdão de sua lavra ensinou:

'Executivo fiscal. Bem penhora­do. Leilão negativo. Adjudica­ção.

Findo o leilão, não havendo li­citante, pode a Fazenda Nacio-

nal adjudicar o bem pelo preço da avaliação.

Inteligência do art. 24, item II, alineas a e b, da Lei n~ 6.830180.

Agravo provido. Decisão refor­mada.' (DJU de 17.08.90).

N as razões de seu voto, aquele magistrado acolhe integralmente a lição de Antônio Carlos Cos­ta e Silva, em sua obra "Teoria e Prática do Processo Fiscal", que diz,

'A redação da alínea b, do item II, do art. 24 da Lei n~ 6.830180, não deixa margem a qualquer dúvida: se não houve licitante não há prazo fixo. Se houver, há o de trinta dias, dentro do qual a Fazenda Pública poderá exercitar o seu direito' (pág. 546).

Diante do exposto, por concordar integralmente com a tese mencio­nada, conheço do agravo para dar­lhe provimento, reformando a de­cisão de 1 ~ Grau para deferir o pe­dido de adjudicação" (fls. 30/31).

Como se vê, a controvérsia cinge­se à inteligência do art. 24 da Lei de Execução Fiscal, que dispõe:

"Art. 24. A Fazenda Pública pode­rá adjudicar os bens penhorados:

I - antes do leilão, pelo preço da avaliação, se a execução não for embargada ou se rejeitados os embargos;

II - findo o leilão:

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a) se não houver licitante, pelo preço da avaliação;

b) havendo licitante, com prefe­rência, em igualdade de condições com a melhor oferta, no prazo de 30 (trinta) dias.

Parágrafo único. Se o preço da avaliação ou o valor da melhor oferta for superior ao dos créditos da Fazenda Pública, a adjudica­ção somente será deferida pelo juiz se a diferença for depositada, pela exeqüente, à ordem do juízo, no prazo de 30 (trinta) dias".

o legislador não fixou prazo para o requerimento de adjudicação dos bens penhorados para a hipótese de leilão negativo, ou seja, sem licitan­te. Por conseqüência, não há que se falar que o pedido de adjudicação de­ve ser feito imediatamente após o fim do leilão, nem há que se fixar tal prazo em 30 (trinta) dias depois de finda a hasta pública, pois se desejas­se estabelecer tais termos, o legisla­dor o faria expressamente, como o fez em relação ao leilão com licitantes (art. 24, II, b, da Lei n. 6.830/80). Portanto, a Fazenda Pública pode pleitear a adjudicação a qualquer tempo após o término do leilão nega­tivo, pelo preço atualizado da avalia­ção.

N esse sentido é a hodierna juris­prudência das 1~ e 2~ 'furmas do TRF da 5~ Região, conforme se apreende das ementas dos seguintes preceden­tes, inclusive da relatoria do ora Mi­nistro José Delgado:

"Processual Civil. Agravo de ins­trumento. Execução fiscal. Adjudi-

cação pela Fazenda Pública de bens penhorados.

1. Não havendo licitantes no lei­lão realizado, poderá, a qualquer tempo, ser manifestado o interes­se na adjudicação dos bens por parte da Fazenda Pública, por não haver prazo fixado em lei pa­ra tanto.

2. Agravo provido" (Ag n. 503.161/SE, 2~ Turma do TRF da 5~ Região, unânime, relator Juiz Araken Mariz, publicado no DJ de 26/08/94).

"Se não ocorreram interessados na arrematação, pode a Fazenda ad­judicar o bem penhorado a qual­quer tempo.

Inexistência de prazo cominado em lei ou de razões que recomen­dem seja a faculdade processual exercida imediatamente após o encerramento do leilão" (Ag n. 502.287/SE, 1~ Turma do TRF da 5~ Região, unânime, relator Juiz Rivaldo Costa, publicado no DJ de 16/04/93).

"Em havendo leilão, se não houver licitante, a adjudicação dos bens penhorados poderá ser exercida pela Fazenda Pública, a qualquer prazo, desde que findo o leilão, pelo preço de avaliação" (Ag n. 501.182/SE, 2~ Turma do TRF da 5~ Região, por maioria, relator Juiz José Delgado, publicado no DJ de 07/06/91).

"Processual Civil. Execução fiscal. Pedido de adjudicação indeferido. Inexistência de licitantes. Prazo.

- Em havendo leilão sem licitan­tes, a adjudicação dos bens penho-

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rados poderá ser exercida pela Fazenda Pública, a qualquer tem­po, ressalvado ao devedor o direi­to de ter a avaliação corrigida mo­netariamente.

- O prazo de trinta dias só é fi­xado quando houver licitantes, a fim de que não persista a insegu­rança dos pretendentes à aquisi­ção do bem levado a leilão. Fora daí a lei não faz restrição ao direi­to da credora na busca da satisfa­ção do seu crédito.

- Agravo provido. Decisão refor­mada" (Ag n. 501.346/SE, 1~ 'fur­ma do TRF da 5~ Região, unâni­me, relator Juiz Castro Meira, pu­blicado no DJ de 20/09/91).

"Processual Civil. Execução fiscal. Pedido de adjudicação indeferido. Inexistência de licitantes. Facul­dade que pode ser exercida pela Fazenda Pública, a qualquer tem­po." (Ag n. 501.252/SE, 2~ 'furma do TRF da 5~ Região, unânime, relator Juiz Lázaro Guimarães, publicado no DJ de 14/06/91).

"Execução fiscal. Leilão. Ausência de licitantes. Adjudicação pela Fa­zenda Nacional dos bens penhora­dos. Momento. Art. 24, da LEF.

I - Para que a Fazenda Pública exercite o direito de adjudicação de que trata o art. 24, II, a e b, da LEF, não há prazo fixo, bas­tando somente que não tenha ha­vido licitantes no leilão. II - Agravo provido" (Ag n. 500.414/SE, 2~ 'furma do TRF da 5~ Região, unânime, relator Juiz Nereu Santos, publicado no DJ de 21/12/90).

"Executivo fiscal. Fazenda Nacio­nal. Adjudicação. Ausência de li­citante no leilão. Prazo.

- Não tendo havido licitante quando do leilão do bem penhora­do, o pedido de adjudicação com base no art. 24, II, a, pode ser for­mulado em prazo além dos 30 (trinta) dias previstos para a hi­pótese da alínea b, que diz respei­to à existência de licitantes.

- Agravo a que se dá provimen­to." (Ag n. 500.415/SE, 1~ 'furma do TRF da 5~ Região, unânime, relator Juiz Orlando Rebouças, publicado no DJ de 18/06/90).

O TRF da 4~ Região também já firmou que "não havendo licitantes, a adjudicação poderá ser pedida a qualquer tempo" (AC n. 413.005/SC, 2~ 'furma do TRF da 4~ Região, unâ­nime, relator Juiz Doria Furquim, publicado no DJ de 25/01195).

No mesmo sentido foi o acórdão proferido pelo TJSP, quando do jul­gamento do AI n. 87.936-2:

"Execução fiscal - Leilão - Fal­ta de licitantes - Pedido de adju­dicação dos bens penhorados pe­la Fazenda - Prazo - Inexistên­cia - Aplicação, por analogia, do art. 24, parágrafo único, da Lei 6.830/80.

Não havendo a lei estipulado o lapso temporal para o exercício da faculdade de requerimento da ad­judicação quando remanesce como interessado único o exeqüente, ra­zão não há para restringir-se tal prazo por período menor que 30

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dias" (AI n. 87.9.36-2, 9~ Câmara Civil do TJSP, unânime, relator Desembargador Carmargo Viana, publicado na RT 596/98).

Por fim, transcrevo a ementa do bem lançado parecer do Ministério Público Federal:

"Execução fiscal. Fazenda Nacio­nal. Ausência de licitantes. Adju­dicação. Indispensável a atualiza­ção da avaliação. Inexistindo licitantes, a Fazenda Pública poderá adjudicar os bens

penhorados, desde que seja feita a atualização da avaliação, para evitar locupletamento da exeqüen­te.

Parecer pelo provimento do recur­so" (fi. 67).

Com essas considerações, conhe­ço do recurso especial e dou-lhe pro­vimento para deferir o pedido de ad­judicação, pelo preço da avaliação atualizado monetariamente.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N~ 45.491 - SP

(Registro n~ 94.0007591-0)

Relator: O Sr. Ministro Ari Pargendler

Recorrente: Flórida Indústria e Comércio de Produtos Químicos Ltda.

Advogados: Drs. José Luiz Matthes e outro

Recorrida: Fazenda do Estado de São Paulo

Advogados: Drs. Márcia Ferreira Couto e outros

EMENTA: Processo Civil. Perícia. Assistente técnico. Substituição. Inviabilidade. No regime da Lei n!? 8.455, de 1992, que alterou a re­dação do artigo 424 do Código de Processo Civil, o assistente téc­nico, depois de intimado sem recusar o encargo, já não pode ser substituído, salvo por motivo de força maior devidamente compro­vado. Recurso especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Segunda Thrma do Superior 'fribu-

nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Adhemar Maciel, por unanimidade,

160 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 127-186, julho 1997.

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conhecer do recurso e dar-lhe provi­mento, nos termos do voto do Sr. Mi­nistro-Relator. Participaram do jul­gamento os Srs. Ministros Hélio Mo­simann, Peçanha Martins e Adhe­mar Maciel. O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro não participou do julgamento, nos termos do art. 162, parágrafo 2~, do RI/STJ.

Brasília, 06 de março de 1997 (da­ta do julgamento).

Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. Ministro ARI PARGEN­DLER, Relator.

Publicado no DJ de 14-04-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO ARI PARGEN­DLER: Nos autos de execução fiscal, o Estado de São Paulo, depois de in­dicar assistente técnico (fi. 14), re­quereu-lhe a substituição (fi. 18), pe­dido que foi deferido pelo MM. Juiz de Direito (fi. 19). A contraparte, Flórida Indústria e Comércio de Pro­dutos Químicos, interpôs agravo de instrumento, ao fundamento de que "o art. 424 do CPC admitia a subs­tituição tanto do perito como do as­sistente técnico, mas tal faculdade foi revogada pela Lei n~ 8.455, de 24.08.92, restringindo a substituição apenas ao perito", (fi. 02). A Egrégia Décima Nona Câmara Civil do Tri­bunal de Justiça do Estado de São Paulo negou provimento ao agravo (fls. 34136) . Lê-se no acórdão: "Mal­grado tenha sido eliminado do ca­put do art. 424 a parte final, ou se­ja, aquela concernente ao assisten­te técnico, a interpretação teleológi­ca da norma não conduz ao entendi-

menta de a mesma situação descri­ta nos incisos que a compõe deixa­rem de abranger a figura do assis­tente, até porque a intenção de afas­tamento de vigência limitou-se aos arts. 430, 431 e 432, parágrafo úni­co, conforme redação do art. 3~ da Lei n~ 8.455, de 24.08.92" (fls. 34/35) - Daí a interposição do presente re­curso especial, com base no artigo 105, inciso lU, letra a, da Constitui­ção Federal, por violação do artigo 424, do Código de Processo Civil, for­te em que "aqui o assistente técnico da Fazenda foi regularmente com­promissado, e no ato do compromis­so não alegou qualquer impedimen­to" (fls. 41143).

VOTO

O SR. MINISTRO ARI PARGEN­DLER (Relator): O texto primitivo da primeira parte do caput do arti­go 424 dispunha: "O perito ou o as­sistente técnico pode ser substituído quando:". Já o texto atual, na reda­ção da Lei n~ 8.455, de 1992, foi as­sim alterado: "O perito pode ser substituído quando:". O confronto, entre uma e outra norma, induz, realmente, à interpretação de que o perito pode ser substituído, o assis­tente técnico, não; interpretação que, sobre estar conforme a letra da lei, também está de acordo com o espíri­to da reforma.

Na lição de Arruda Alvim, "como somente o perito, na sistemática im­primida pela Lei 8.455/92 exerce munus público - veja-se que os as­sistentes são de confiança da parte, não mais auxiliares do juiz, em sen­tido amplo - somente ele, não mais

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os assistentes, é que pode ser subs­tituído quando carecer de conheci­mento técnico ou científico (art. 424, I) e, ainda, quando, sem motivo legí­timo, deixar de cumprir o encargo no prazo que, desde sua nomeação foi assinado (art. 424, II, com a redação da Lei n~ 8.455/92, que retirou da re­dação original a possibilidade de substituição do perito quando não prestado, quando devido, o compro­misso" - in Manual de Direito Pro­cessual Civil, Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, 5;} edição, 1996, 2~ Vol., pág. 530).

Assim é que, depois de intimado sem recusar o encargo, o assistente técnico não mais pode ser substituí­do, salvo motivo de força maior de­vidamente comprovado.

Voto, por isso, no sentido de conhe­cer do recurso especial e de lhe dar provimento para indeferir a substi­tuição do assistente técnico.

VOTO - VISTA

O SR. MINISTRO HÉLIO MOSI­MANN: O recurso trata apenas da interpretação a ser dada ao artigo 424 do Código de Processo Civil, com a redação da Lei n~ 8.455/92.

Indaga-se sobre a substituição do assistente técnico, em face da nova disposição legal.

Realmente, o texto anterior admi­tia que o perito e o assistente técni­co pudessem ser substituídos nas condições ali apontadas. A lei atual fala apenas no perito.

O voto do eminente Relator vem respaldado na lição de Arruda Al­vim, para quem a substituição só se

dá em relação ao perito, que exerce munus público. Os assistentes téc­nicos "são auxiliares das partes, não da Justiça" (Cândido Dinamarco). Por isso, só poderão ser substituí­dos em situações excepcionais (força maior), conforme o voto antes profe­rido.

Acompanho, pois, o Relator, dan­do provimento ao recurso.

VOTO - VISTA

O SR. MINISTRO ADHEMAR MACIEL: Trata-se de pedido de vis­ta. O eminente relator, Ministro Pargendler, conheceu e proveu o re­curso especial interposto por Flórida Indústria e Comércio de Produtos Químicos Ltda. O Ministro Mosi­mann e V. Exa., Senhor Presidente, se alinharam com o relator.

A recorrente ajuizou ação inciden­tal de embargos à execução fiscal. O juiz de direito, depois de compromis­sado o assistente técnico, deferiu sua substituição pura e simples. É con­tra esta decisão que recorreu a ora recorrente especial.

O TJSP, tendo como relator o emi­nente Des. 'Ielles Corrêa, negou pro­vimento ao agravo de instrumento.

A recorrente alega que houve vio­lação do art. 424 do CPC, que, com a alteração dada pela Lei n. 8.455/92, já não mais admite a substituição de assistente técnico.

Senhor Presidente, também acom­panho o relator, que trouxe à colação preciosa doutrina de Arruda Alvim.

Thmbém conheço e dou provimen­to ao recurso.

É meu voto.

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RECURSO ESPECIAL N~ 59.610 - SP

(Registro n~ 95.0003648-7)

Relator: O Sr. Ministro Peçanha Martins

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Recorrida: Galvão e Barbosa Ltda.

Advogados: Margarida Maria Pereira Soares e outros, e Júlio Gomes de Carvalho Neto e outro

EMENTA: Processual Civil e Tributário - ICMS - Veículos - Le­gitimidade ad causam - Fato gerador - Ocorrência - Recolhimen­to antecipado - Precedentes.

- O industrial, o comerciante ou o prestador de serviços são sujei­tos passivos por substituição, relativamente ao imposto devido pe­las anteriores ou subseqüentes saídas de mercadorias ou presta­ções de serviço.

- A antecipação do prazo de recolhimento do imposto não violou a legislação federal, porque não houve modificação quanto ao fa­to gerador do tributo, que é a saída da mercadoria do estabeleci­mento do contribuinte.

- Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Se­gunda Thrma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar provimento. Vota­ram com o Relator os Ministros Adhe­mar Maciel, Ari Pargendler e Hélio Mosimann. Ausente, justificadamen­te, o Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro.

Brasília, 06 de fevereiro de 1997 (data do julgamento).

Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 22-04-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO PEÇANHA MARTINS: A Fazenda do Estado de São Paulo manifestou recurso espe­cial com apoio na letra a do permis­sivo constitucional contra acórdão do 'lli.bunal de Justiça estadual que, em votação unânime, negou provimento aos recursos oficial e de apelação in­terpostos pela ora recorrente nos au­tos de ação mandamental impetrada por Galvão e Barbosa Ltda., ora re­corrida, concessionária de veículos, visando ver assegurado o direito de recolher o ICMS pelo valor das ope­rações de venda até 06 de abril de 1992 e, a partir daí, na forma estabe­lecida pelo Decreto 34.803/92.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 127-186, julho 1997. 163

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o v. acórdão recorrido rejeitou as preliminares de carência da ação, sustentando ser a impetrante, ora recorrida, a contribuinte de fato, por ser quem antecipa o pagamento, re­passando às montadoras o valor do ICMS, para receber os veículos e, posteriormente, comercializá-los. Quanto aos argumentos de constitu­cionalidade do regime de pagamen­to por antecipação, entendeu o v. acórdão recorrido, ser exigida a obrigação tributária sem a ocorrên­cia do fato gerador do tributo, sen­do impossível a incidência.

Daí os embargos de declaração opostos pela Fazenda estadual, vi­sando a apreciação dos arts. 116, CTN; 2~, § 3~, 17 e 25, II do Convê­nio ICM 66/88; 155, § 2~, I e XII, a da Constituição FederaV88; 3~ e 6~, CPC e 34, § 8~ do ADCT. Rejeitados os embargos, recorre especialmente a Fazenda, alegando negativa de vi­gência e contrariedade aos disposi­tivos legais acima indicados, baten­do-se pela preliminar de carência de ação da ora recorrida, mencionando o julgado do STF, no caso de compra de máquinas e equipamentos nacio­nais, na implantação de projetos de interesse nacional.

Interposto, também, recurso ex­traordinário para o STF que restou inadmitido pelo 'Ihbunal a quo, jun­tamente com este recurso especial.

Interpostos os agravos de instru­mento contra os despachos denega­tórios de ambos os recursos.

Dei provimento ao agravo para melhor apreciar o recurso especial e determinei sua inclusão em pauta para julgamento.

Dispensei o parecer do Ministério Público Federal, nos termos regimen­tais.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO PEÇANHA MARTINS (Relator): Tratam os au­tos, em síntese, da legalidade ou não da exigência da antecipação do ICMS na venda de veículos automo­tores, em decorrência do regime de substituição tributária, determina­do pelos Convênios 66/88 e 107/89.

Preliminarmente, argúi a recor­rente ilegitimidade da recorrida e falta de interesse de agir, dizendo violados os arts. 3~ e 6~ do CPC.

N esta parte, não assiste razão à recorrente. Ora, no momento em que a impetrante (revendedor) adquire o veículo da montadora, deve anteci­par o pagamento do ICMS, o que ca­racteriza ofensa ao seu direito sub­jetivo de só pagar o imposto após a efetivação da venda ao consumidor. Esta a lição que podemos extrair do trecho do voto do il. Ministro Cesar Rocha, ao relatar o REsp 48.083-3/ SP, valendo transcrever:

"É que a legitimidade de parte, nos moldes definidos pela norma contida no art. 3~ do Código de Pro­cesso Civil, já se satisfaz com a pos­sibilidade, demonstrada quanto sa­tis, de existência do alegado direi­to do autor contra o réu, o que le­vou Frederico Marques a afirmar que legitimatio ad causam sig­nifica existência de pretensão ju­ridicamente razoável.

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Sem dúvida que a impetrante tem, assim, interesse processual, que é aquele, na lição de Arruda Alvim, que se expressa pela in­dispensabilidade do uso do proces­so para o autor, sob pena de, não o sendo, ficar o autor sem meios para fazer valer a sua pretensão.

Ora, a exigência que é feita à impetrante de antecipar o paga­mento do tributo tão logo quando adquira o veículo da montadora, importa em, pelo menos em tese, ofensa ao seu direito subjetivo de só pagar a exação após a efetiva­ção da venda do veículo ao consu­midor."

N esta linha, afasto as prelimina­res para reconhecer à impetrante, ora recorrida, como parte legítima no feito.

No mérito, porém, assiste razão à recorrente.

A forma de cobrança do tributo tem sua origem no Convênio 66/88, cujo art. 25, II, e § único dispõem:

"Art. 25 - A lei poderá atribuir a condição de substituto tributário a:

1- ....................... .

II - produtor, extrator, gera­dor, inclusive de energia, indus­trial, distribuidor, comerciante ou transportador, pelo pagamento do imposto devido nas operações sub­seqüentes;

111 - ..................... .

IV- ..................... .

Parágrafo único - Caso o res­ponsável e o contribuinte estejam

situados em Estados diversos a substituição dependerá de acordo entre estes."

Ratificando os Convênios 107/89 e 08/90, o Governo do Paraná editou os Decretos 6.465/89, 7.004/90 e 7.187/90, sucessivamente, estatuin­do o art. 3~ deste último que o art. 1 ~ do Decreto 6.465/89, alterado pelo segundo Decreto (7.004/90), passa a ter a redação seguinte:

"Art. 1~ - Ao estabelecimento in­dustrial fabricante, desta ou de ou­tra Unidade Federada, que promo­ver a saída de veículos novos clas­sificados no Código 8701.20.9900, e nas posições 8702 a 8706 e 8709 da Nomenclatura Brasileira de Mercadorias - Sistema Harmoni­zado, fica atribuída a responsabi­lidade pela retenção e recolhimen­to do ICMS devido na subseqüen­te saída ou na entrada com desti­no de ativo imobilizado."

Considerando que a regra da subs­tituição tributária, no que concerne especificamente ao ICMS, foi pro­pugnada pela Lei Complementar n~ 44/83, extraio do parecer da ilustre Subprocuradora-Geral, Dra. Leda Maria Soares Janot, o seguinte tópi­co:

"Em que pese o inconformismo da Recorrente, data venia, o ape­lo não merece prosperar, vez que a Lei Complementar n~ 44, de 7 de dezembro de 1983, que alterou o Decreto-lei n~ 406, de 31 de de­zembro de 1968, - o qual já foi reconhecido como Lei Comple-

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mentar Normativa do ICM pelo Pretório Excelso - trouxe consa­grado seu art. 6~, § 3~, c, a respon­sabilidade do produtor ou indus­trial quanto ao imposto devido pe­lo comerciante varejista. Assim, não se pode dizer que este dispo­sitivo esteja em contradição com o art. 128 do CTN, vez que são leis que estão no mesmo nível hie­rárquico, e ao invés de contradize­rem elas se complementam." (fls. 171).

Sobre o recepcionamento do De­creto-lei n~ 406/68 pela Constituição vigente, este Tribunal já se pronun­ciou de modo favorável, em questões relativas a desembaraço aduaneiro (REsps n2§. 14.41O-RJ, ReI. Min. Gar­cia Vieira, e 20.324-RJ, ReI. Min. Demócrito Reinaldo)."

Assim, a exigência do pagamento antecipado do ICMS nada tem de ilegal ou inconstitucional. A uma, porque o Decreto-lei n~ 406/68, reco­nhecido como lei complementar, es­tá recepcionado na Nova Carta. A duas, porque amparada nos Convê­nios 66/88 e 107/89 editados de acor­do com o art. 34, § 8~ do ADCT.

Como precedente desta Thrma va­le citar ainda:

"ICMS. Veículos. Legitimidade ad causam. Substituição tributá­ria. Sujeitos passivos. Fato gera­dor. Ocorrência.

I - São sujeitos passivos por substituição, o industrial, o co­merciante ou o prestador do ser­viço, relativamente ao imposto devido pelas anteriores ou subse­qüentes saídas de mercadorias ou prestações de serviços.

II - Conforme já decidiu esta Corte, "com o pagamento anteci­pado não ocorre o recolhimento do imposto antes da ocorrência do fa­to gerador. O momento da inci­dência da lei não se confunde com a cobrança do tributo. O fato ge­rador do ICM é a saída da merca­doria do estabelecimento do con­tribuinte". Precedentes.

III - Recurso conhecido e pro­vido, no âmbito desta Corte." (REsp 50.844-SP, D.J. 10.10.94, ReI. Min. José de Jesus Filho)."

De todo exposto, conheço do recur­so e lhe dou provimento.

RECURSO ESPECIAL N~ 79.860 - SP

(Registro n~ 95.0060254-7)

Relator: O Sr. Ministro Ari Pargendler

Recorrente: Município de Guarulhos

Advogados: Drs. José Gaspar Moreira de Pontes e outros

Recorridos: Carlos Chnaiderman e outros

166 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 127-186, julho 1997.

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Advogados: Drs. Luiz Justiniano de Arantes Fernandes e outros

Interessados: Paschoal Thomeu, Samica Isolamentos S/A

Advogados: Drs. João Carlos Pannocchia, e Denise Maria Wolff Jorge e outros

EMENTA: Processo Civil. Ação popular. Alvará de licença. Pedi­do de anulação. Superveniente revogação do ato. Subsistência do processo. A revogação está relacionada com a conveniência do ato administrativo; a anulação, com a sua legalidade. Revogado o ato impugnado na ação popular, nem assim o respectivo objeto fica pre­judicado - subsiste em razão de sua finalidade: a anulação do ato administrativo. Hipótese em que o acerto dessa conclusão ficou comprovado no caso concreto; revogado o ato impugnado, seguiu­se a revogação do ato que o revogou, com o expresso restabeleci­mento do ato impugnado - que deve ser examinado sob o prisma da legalidade, tal qual inicialmente postulado. Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Segunda Thrma do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, não conhe­cer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participa­ram do julgamento os Srs. Minis­tros Hélio Mosimann, Peçanha Mar­tins e Adhemar Maciel. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro An­tônio de Pádua Ribeiro.

Brasília, 06 de fevereiro de 1997 (data do julgamento).

Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. Ministro ARI PARGEN­DLER, Relator.

Publicado no DJ de 22-04-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO ARI PARGEN­DLER: Eloi Alfredo Pieta e Carlos Chnaiderman ajuizaram ação popu­lar contra Paschoal Thomeu, Muni­cípio de Guarulhos e Samica Isola­mentos S.A. pedindo, liminarmente, a suspensão dos alvarás de licença para desmembramento nQ§. 001191 -S.D.U., 002/91 - S.D.U. e 003/91 -S.D.U., bem assim, a final, a anula­ção dos indigitados alvarás (fls. 02/09).

A teor da petição inicial, os aludi­dos alvarás autorizaram o parcela­mento de área urbana, sob a moda­lidade de desmembramento, com manifesta contrariedade à Lei n 2

6.766, de 1979, cujo artigo 22 dispõe:

"O parcelamento do solo urba­no poderá ser feito mediante 10-

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teamento ou desmembramento, observadas as disposições desta Lei e as das legislações estaduais e municipais pertinentes.

1. Considera-se loteamento a subdivisão de gleba em lotes des­tinados à edificação, com abertu­ra de novas vias de circulação, de logradouros públicos ou prolonga­mento, modificação ou ampliação das vias existentes.

2. Considera-se desmembramen­to a subdivisão de gleba em lotes destinados à edificação, com apro­veitamento do sistema viário exis­tente, desde que não implique na abertura de novas vias e logradou­ros públicos, nem no prolongamen­to, modificação ou ampliação dos já existentes" .

In casu - está dito na petição inicial - "oficializou-se quatro ruas inexistentes com a finalidade de be­neficiar a empresa que pleiteava o parcelamento da área, que desta for­ma exonerou-se da exigência de par­celar a área na modalidade de lotea­mento, o que acarretaria o ônus de transferir para o município, no mí­nimo, 35% da área a ser dividida, nos termos do art. 42, § 12, da Lei n2

6.766, de 1979" (fl. 05).

No curso do processo, o Município de Guarulhos deu conta de que, "nos termos do Decreto 17.954 pu­blicado no Boletim Oficial da Prefei­tura Municipal de Guarulhos de 27 de julho de 1993, a Prefeitura Mu­nicipal de Guarulhos revogou os De­cretos 16.447, 16.449, 16.450 e 16.451, de 22.04.91 e cancelou os Al-

varás 001191 - SDU expedido no PA 4.256/91 em 05.08.91, 002/91 -SDU expedido no PA 4.525/91 em 05.08.91 e 003/91 - SDU expedido no PA 4.524/91 em 06.08.91" (fl. 2.158), requerendo, por isso, a extin­ção do processo na forma do artigo 62, § 42, da Lei n2 4.717, de 1965 (fl. 2.159).

O MM. Juiz de Direito, Dr. Ulis­ses Mário de Campos Pinheiro, ex­tinguiu o processo sem julgamento de mérito, por perda de objeto, com base no artigo 267, VI, do Código de Processo Civil (fls. 2.195/2.198), se­guindo-se embargos de declaração (fls. 2.203/2.207 e 2.217/2.219), rejei­tados (fls. 2.209/2.211 e 2.219).

A apelação (fls. 2.220/2.237) foi provida pela Egrégia Sexta Câmara Civil do 'fribunal de Justiça do Esta­do de São Paulo, Relator o eminen­te Desembargador Ernani de Paiva, em acórdão assim ementado: "Ação popular. Julgamento de extinção em face da revogação do ato impugnado. Fato que não impede o conhecimen­to do mérito. Se o ato administrati­vo acoimado de nulo vem a ser sim­plesmente revogado, não se pode afirmar que perdeu o objeto a ação popular, pois persiste o interesse do autor em ver proclamada a nulida­de do mesmo ato em decisão que en­frente o mérito da controvérsia" (fl. 2.287).

Daí o presente recurso especial, interposto com base no artigo 105, inciso lII, letra a, da Constituição Federal, por violação dos artigos 12

e 22, da Lei n 2 4.717, de 1965 (fls. 2.301/2.304).

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o Ministério Público Federal, na pessoa do eminente Subprocurador­Geral da República, Dr. Fávila Ri­beiro, opinou pelo improvimento do recurso (fls. 2.361/2.362).

Supervenientemente, Carlos Chnai­derman requereu a juntada de docu­mentos, um deles consistente na pá­gina A-lO do jornal Folha Metropo­litana, edição de 02 de dezembro de 1995, onde está publicado o Decreto n~ 19.219, do Prefeito Municipal de Guarulhos, do seguinte teor:

"Artigo 1 ~ - Fica revogado o Decreto n~ 17.954, de 26 de julho de 1993 e restabelecidos os Decre­tos n2.a. 16.447, 16.449, 16.450 e 16.451, de 22 de abril de 1991, que deram denominações a vias públicas.

Artigo 2~ - Ficam restabeleci­dos os Alvarás 001191, 002/91 e 003/91 - SDU, expedidos nos Processos Administrativos n2.a. 4.526/91, 4.525/91 e 4.524/91.

Artigo 3~ - Este Decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposi­ções em contrário" (fl. 2.371).

Nessa petição, Carlos Chnaider­man sustenta que " ... considerando que a própria Prefeitura editou o Decreto 19.219, revogando expressa­mente o Decreto Municipal 17.954/93, inexiste qualquer fundamento para que se apreciem, sequer, os motivos alegados pelo Município" (fls. 2.365/ 2.366).

VOTO

O SR. MINISTRO ARI PARGEN­DLER (Relator): Lê-se no julgado:

"Conforme dispõe o artigo 5~, LXXIII, da Constituição da Repú­blica, a ação popular visa à anu­lação de ato lesivo ao patrimônio público, à moralidade administra­tiva, ao meio ambiente ou ao pa­trimônio histórico e cultural. Pe­de-se, na ação popular, a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio de en­tidades públicas (Lei n~ 4.717, de 29.06.65, artigos 1~ e 2~). Na sen­tença que concluir pela procedên­cia da ação popular, o juiz decre­tará a invalidade do ato impugna­do, condenando os seus responsá­veis e os beneficiários a pagar perdas e danos (lei cit., artigo 11). ... Ora, no caso presente, a ilega­lidade e a lesividade ao patrimô­nio do município não foram consi­deradas no recente Decreto do Executivo de n~ 17.954, de 27.7.93 (fi. 2.160), o qual se limitou a re­vogar decretos anteriores e a can­celar alvarás expedidos (artigos 1~ e 2~). Futura deliberação da admi­nistração municipal, no sentido de ser proclamada a nulidade dos atos praticados nos procedimentos administrativos, ficou na depen­dência de parecer a cargo de co­missão designada pela Secretaria de Economia e Planejamento (art. 3~). Vale observar que anulação e revogação de atos administrativos são institutos diferentes e diver­sa é a conseqüência jurídica deles

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emanada .... Se, no caso, o decre­to municipal de 1993 desconsti­tuiu os atos administrativos ata­cados na ação popular pelo aspec­to de mérito, mediante revogação daqueles atos (fls. 2.248/2.250), não pode pronunciar-se o juiz so­bre o conteúdo desse decreto do Executivo. Pois "é o mérito um campo que fica totalmente na es­fera discricionária da Administra­ção Pública e nesta esfera o Poder Judiciário não tem a possibilida­de de intervir" (J. Cretella Jú­nior, ob. cit., n~ 172, pág. 165). E se ao Judiciário é vedado imis­cuir-se em ato de revogação, dita­do por razões de conveniência e oportunidade da Administração, também não lhe é permitido, com base no indigitado ato revogatório, extinguir a ação popular por falta de objeto, sem avaliar cumprida­mente a pedido de anulação for­mulado na inicial. Destarte, por não cogitar o mencionado decreto da anulação de atos administrati­vos, e sim tão-somente de sua re­vogação, persiste o interesse dos demandantes em que seja exami­nada a questão em torno da ilega­lidade e da lesividade dos mesmos atos, até agora não apreciada quer pelos órgãos municipais quer pelo Judiciário. Bem lembrou, a propó­sito, o parecer do douto Procurador de Justiça que sempre será possí­vel à Administração revogar a pró­pria revogação do ato, de modo que tal expediente venha a ser "utilizado no intuito de subtrair da Justiça a apreciação da sua lega­lidade, frustrando a expectativa

dos cidadãos". Merece transcrição, por último, a lição de Celso An­tônio Bandeira de Mello segun­do a qual "a revogação suprime um ato ou seus efeitos, mas res­peita os efeitos que já transcorre­ram; portanto, o ato revogador tem eficácia ex nunc, ou seja, desde agora, ao contrário da inva­lidação, que opera ex tunc, isto é, desde então, retroativamente" (Curso de Direito Administrativo, 5~ edição, pág. 222). Ora, se os atos impugnados nesta ação popu­lar produziram efeitos jurídicos até que ocorreu sua revogação pe­lo decreto de 1993, subsiste o in­teresse dos autores no reconheci­mento da eventual ilegalidade da­queles atos, de sorte que, eviden­ciada porventura lesão ao patri­mônio municipal, possa haver re­serva da área mínima de 35% da gleba, destinada ao sistema de circulação e à implantação de equipamentos urbanos' (fls. 2.288/ 2.292).

O acerto dessa motivação foi com­provado no curso do processo; o De­creto n~ 19.219, de 02 de dezembro de 1995, do Prefeito Municipal de Guarulhos, revogando o Decreto n~ 17.954, de 27 de julho de 1993, res­tabeleceu expressamente os Decre­tos nº-O. 16.447, 16.449, 16.450 e 16.451, de 22 de abril de 1991, bem assim os Alvarás 001191, 002/91 e 003/91 - SDU, expedidos nos Pro­cessos Administrativos nº-O. 4.526/91, 4.525/91 e 4.524/91 (artigos 1~ e 2~).

O Prefeito Municipal pode, eviden­temente, revogar ato praticado no exercício de sua competência e, de-

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pois, revogar o ato de revogação; mas isso não subtrai esses atos ao exame da respectiva legalidade, muito me­nos prejudica o objeto da ação popu­lar - que subsiste porquanto o pedi-

do nela articulado diz respeito à anulação dos alvarás de licença, não à sua revogação.

Voto, por isso, no sentido de não conhecer do recurso especial.

RECURSO ESPECIAL N~ 80.668 - SC

(Registro n~ 95.0062049-9)

Relator: O Sr. Ministro Hélio Mosimann

Recorrentes: Roberto Antonio Bertocco e outros

Advogados: Miguel Herminio Daux e outro

Recorrida: União Federal

EMENTA: F.G.T.S. Contas vinculadas. Correção dos saldos pelo I.P.C. Legitimidade passiva da Caixa Econômica Federal.

A Caixa Econômica Federal é parte legítima nas ações que ob­jetivam aplicação do IPC nos saldos das contas vinculadas do F.G.T.S.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados a discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Segunda 'furma do Superior '!ribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, não conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Peça­nha Martins, Adhemar Maciel e An­tônio de Pádua Ribeiro. Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Ari Pargendler.

Brasília, 27 de fevereiro de 1997 (data do julgamento).

Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. Ministro HÉLIO MOSI­MANN, Relator.

Publicado no DJ de 31-03-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO HÉLIO MOSI­MANN: '!rata-se de recurso especial interposto por Roberto Antonio Ber­tocco e outros, fundado no artigo 105, inciso lII, alíneas a e c, da Constitui­ção Federal, contra acórdão que deu pela ilegitimidade passiva da União Federal, na ação em que optantes do FGTS pleiteiam diferenças de corre­ção monetária dos depósitos.

R. Sup. 'frib. Just., Brasília, a. 9, (95): 127-186, julho 1997. 171

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Sustentam os recorrentes, em sÍn­tese, contrariedade a dispositivos do CPC, além de dissídio jurispruden­cial.

Com as contra-razões de fls. 121/ 125, vieram os autos a esta superior instância.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO HÉLIO MOSI­MANN (Relator): Destaco, porque se­melhante, precedente oriundo desta egrégia 'furma, REsp n~ 102.267-RS, onde proferi o voto posto nos seguin­tes termos:

"Em caso análogo, da relatoria do eminente Ministro Peçanha Martins, REsp n~ 80.669-SC, in DJ de 09.09.96, figurando como advogado o mesmo que aqui atua, Dr. Miguel Hermínio Daux, esta egrégia Segunda 'furma consoli­dou o entendimento consubstan­ciado na seguinte ementa:

"Processual Civil. FGTS. Cor­reção do saldo. Legitimidade da CEF. Precedentes. Recurso espe­cial. Ausência de prequestiona­mento.

1. A Caixa Econômica Fede­ral, como gestora e centraliza­dora do FGTS, é parte legítima nas ações relativas à correção monetária dos saldos das con­tas do referido Fundo, entendi­mento pacífico desta Corte com o qual o acórdão recorrido se compatibiliza.

2. O recurso especial pelo fundamento da letra a exige o prequestionamento do disposi­tivo de lei federal invocado pe­lo recorrente.

3. Recurso não conhecido."

Entendo, assim, correta a deci­são que indeferiu a denunciação a lide da União Federal, uma vez tratar a hipótese de correção mo­netária dos saldos das contas vin­culadas ao FGTS, e a mesma não está legitimada para integrar a relação processual como litiscon­sorte passiva.

Conheço do recurso, pelo dissí­dio jurisprudencial, mas lhe nego provimento.

É como voto."

No caso, a ação foi endereçada so­mente contra a União Federal, ao fi­nal excluída da relação processual por ilegitimidade passiva. Impossí­vel a modificação da causa na via re­cursal, resta à parte interessada mo­ver nova ação qualificando no pólo passivo a Caixa Econômica Federal.

Não conheço do recurso.

É o voto.

VOTO-VOGAL

O SR. MINISTRO ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO: Sr. Presidente, com ressalva do meu ponto de vista sobre a matéria, tendo em conta o decidido pela egrégia I!! Seção, em incidente de uniformização de juris­prudência suscitado sobre a matéria, acompanho o ilustre Relator.

172 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 127-186, julho 1997.

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RECURSO ESPECIAL N~ 87.953 - SP

(Registro n~ 96.0008915-9)

Relator: O Sr. Ministro Hélio Mosimann

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Advogados: Beatriz Correa Netto Cavalcanti e outros

Recorridos: José Bezerra de Souza e cônjuge

Advogados: Sonia Marcia Hase de Almeida Baptista e outros

EMENTA: Desapropriação. Levantamento do preço. Despesas com publicação de editais para conhecimento de terceiros. Artigo 34 do Decreto-Lei n!! 3.365.

Ao expropriante cabe adiantar as despesas com publicação de editais, para conhecimento de terceiros, nos casos de levantamen­to do preço, previstos no artigo 34 da chamada Lei das Desapro­priações.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, não conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Peça­nha Martins, Adhemar Maciel e Ari Pargendler. Ausente, ocasionalmen­te o Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro.

Brasília, 3 de março de 1997 (da­ta do julgamento).

Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. Ministro HÉLIO MOSI­MANN, Relator.

Publicado no DJ de 31-03·97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO HÉLIO MOSI­MANN: Cuida-se de recurso especial interposto pela Fazenda do Estado de São Paulo, fundado no artigo 105, inciso lU, alínea a, da Constituição Federal, contra acórdão do 'lhbunal de Justiça do Estado, que em agra­vo de instrumento extraído de ação expropriatória, determinou que as despesas dos editais previstas no ar­tigo 34 do Decreto-Lei n~ 3.365/41 corressem por conta da exproprian­te e não do expropriado.

Sustenta a recorrente, em sínte­se, que o v. decisum regional afron­tou o disposto nos artigos 535, II, do CPC e 34, do Decreto-Lei 3.365/4l.

Com as contra-razões de fls. 92/ 116, vieram os autos a esta superior instância.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 127-186, julho 1997. 173

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É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO HÉLIO MOSI­MANN (Relator): No que respeita ao tema, de destacar-se a orientação da Corte no sentido de que, em ação ex­propriatória, incumbe ao exproprian­te adiantar as despesas com os edi­tais necessários ao levantamento da indenização.

Destaco, da egrégia Primeira 'fur­ma, o que decidido quando do julga­mento do REsp n~ 58.995-SP:

"Processual Civil. Desapropria­ção. Despesas com editais (art. 34, DeL. 3.365/1941).

Incumbe ao expropriante adian­tar as despesas com editais que se fizerem necessários ao levanta­mento da indenização fixada, em atenção ao princípio da justa inde­nização.

Recurso provido." (ReI. Min. Jo­sé de Jesus Filho, DJ de 16.12.96).

N a linha do precedente colaciona­do, não conheço do recurso.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N~ 90.860 - RS

(Registro n~ 96.0017781-3)

Relator: O Sr. Ministro Peçanha Martins

Recorrente: Gauchafértil Sociedade de Fertilizantes Ltda.

Recorrida: Fazenda Nacional

Advogados: Oseas Davi Viana e outros, e Silma Renilda Duarte e outros

EMENTA: Processual Civil. Recurso especial. Mandado de segu­rança. Apreensão de mercadoria. Imposição da pena de perdimen­to no curso do processo. Perda do objeto da ação. Inocorrência. L Decretada a invalidade do processo administrativo, este não po­deria ter curso normal com a imposição posterior da pena de per­dimento, embora a sentença estivesse com a eficácia suspensa por força de recurso. 2. Atendidos os pressupostos de constituição e desenvolvimento re­gular da ação mandamental, dirigida corretamente contra a auto­ridade coatora, a impetrante tinha direito ao julgamento de méri­to pelo Tribunal que não é incompetente, nem houve perda de ob­jeto da ação. 3. Recurso especial provido para afastar a extinção do processo e de­terminar o retorno dos autos à instância de origem, para que esta julgue o mérito do mandado de segurança como entender de direito.

174 R. Sup. 'frib. Just., Brasília, a. 9, (95): 127-186, julho 1997.

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, por maioria, conhecer do recur­so e lhe dar provimento. Vencido o Sr. Ministro Antônio de Pádua Ri­beiro. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Adhemar Maciel, Ari Pargendler, Antônio de Pádua Ribei­ro e Hélio Mosimann.

Brasília, 28 de novembro de 1996 (data do julgamento).

Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 07-04-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO PEÇANHA MARTINS: Gauchafértil - Socieda­de de Fertilizantes Ltda. interpôs si­multaneamente recursos extraordi­nário e especial contra acórdão do TRF da 4~ Região, complementado por decisão proferida em embargos declaratórios, cujas respectivas ementas rezam:

"Processual Civil. Mandado de segurança. Apreensão de mercado­rias. Aplicação subseqüente da pe­na de perdimento. Perda do obje­to do writ.

- Impetração dirigida contra ato de apreensão de mercadorias em processo administrativo fiscal, sem requerimento de liminar pa-

ra sustar o seu curso regular. Exaurida a instância fiscal, pela continuação do processo, até a de­cisão final do Ministro da Fazen­da, declarando o perdimento dos bens apreendidos, restou sem ob­jeto o mandado de segurança, por ser ineficaz quanto àquela deci­são, desconstituir o ato de apreen­são praticado por autoridade de nível hierárquico inferior. Extin­ção do processo.

''Voto vencido: pela incompetên­cia absoluta, no que se relaciona com a decretação da pena de per­dimento pelo Senhor Ministro da Fazenda e conseqüente anulação do processo". (fl. 757)

"Processual Civil. Embargos de declaração - Constatada omissão no julgamento acolhem-se os em­bargos, para completá-lo, autori­zando a conversão do depósito em renda da União Federal. Rejeição do recurso quanto a aspectos nos quais não se verificou obscurida­de, contradição ou omissão.

"Processual Civil. Acórdão. Ementa. Omissão. Erro material. Suprimento de ofício.

- Omitidos na ementa vocábu­los necessários ao perfeito resumo da decisão, supre-se a falha, de ofício" (fi. 798).

O recorrente interpôs ainda em­bargos infringentes os quais foram indeferidos por seu absoluto desca­bimento em mandado de segurança (fi. 825).

O recurso especial vem pelos per­missivos das letras a e c alegando o

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recorrente contrariedade e negativa de vigência ao art. 1 ~ da Lei 1.533/51, por ter o acórdão decretado a perda do objeto da impetração; contrarie­dade e negativa de vigência ao art. 459/CPC, incorrendo em nulidade in­sanável porque, atendidos os pressu­postos de constituição e desenvolvi­mento válido do processo, o recorren­te tinha direito a julgamento de mé­rito: contrariedade e negativa de vi­gência ao art. 535, I e II, do CPC, por não terem sido sanadas as dúvi­das, contradições e omissões do jul­gado; finalmente, negativa de vigên­cia e contrariedade ao art. 555/CPC. Embora fundamentado, também, na letra c, não foi indicado qualquer paradigma divergente. Pede o provi­mento do recurso seja para anular o acórdão recorrido, determinando-se ao 'fribunal a quo que profira outro; seja para acolher-se a incompetência e a conseqüente nulidade do proces­so ab initio, seja para o STJ enfren­tar a impetração como originária; se­ja, enfim, para acolher-se o pedido de segurança restabelecendo-se a de­cisão de primeiro grau.

Sem contra-razões, os recursos fo­ram inadmitidos na origem sendo interpostos agravos para o STF e STJ.

o especial foi remetido a esta Corte em razão do provimento do agravo de instrumento, sendo-me distribuído por dependência.

Dispensado o pronunciamento do Ministério Público Federal, na forma do art. 256/RISTJ.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO PEÇANHA MARTINS: O mandado de seguran­ça foi impetrado contra o Delegado da Receita Federal que determinou a apreensão de 107.707 sacos de açúcar presumindo destinarem-se a exportação clandestina. A impetran­te postulou, liminarmente, a suspen­são imediata do leilão da mercadoria apreendida com sua conseqüente li­beração, e, "como pedido de fundo", a cessação do procedimento adminis­trativo instaurado.

A liminar concedida foi depois modificada, devido à perecibilidade da mercadoria, realizando-se a lici­tação cujo produto foi posto à dispo­sição do juízo que, a final, julgou a ação procedente reconhecendo a ile­galidade do ato impugnado e libe­rando o valor da arrematação em fa­vor da autora, a quem caberia o di­reito de vindicar, em ação própria, a reparação dos danos decorrentes da pena de perdimento decretada pelo Ministro da Fazenda no curso do processo.

Essa situação, contudo, foi rever­tida na segunda instância que extin­guiu o processo pela perda do obje­to, daí a interposição deste recurso especial pelos fundamentos das le­tras a e c.

O ilustre Relator-vencido, Juiz Gilson Dipp, declarou a incompetên­cia absoluta do Tribunal Regional, votando pela anulação do processo ab initio. O voto-condutor da maio­ria vencedora, da lavra do ilustre Juiz Silvio Dobrowolski, no entanto,

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entendeu que a impetração não fo­ra dirigida contra o Ministro da Fa­zenda; visava, primordialmente, a apreensão da mercadoria pelo Dele­gado da Receita Federal com pedido liminar de suspensão dos leilões de­signados e a conseqüente liberação da mercadoria, enfeixando a conces­são da ordem dentro desses limites, motivo pelo qual o processo adminis­trativo seguiu seu trâmite, sobrevin­do a decisão ministerial determinan­do o perdimento, concluindo:

"Em virtude da decretação do perdimento, inútil discutir, ape­nas o ato administrativo anterior, da apreensão pura e simples. A desconstituição deste é ineficaz quanto àquela decisão, conseqüên­cia natural do imposto não coarc­tado do processo administrativo.

"Como a impetrante não cuidou de obstar-lhe o passo, o processo evoluiu e alcançou conseqüência tal, que é impossível desfazer por meio desta ação mandamental.

"Pelo exposto, deixo de reconhe­cer a incompetência, mas julgo ex­tinto o presente mandado pela perda do seu objeto." (fi. 751).

Thmbém pela extinção do proces­so, embora por motivo diverso, o vo­to convergente de fi. 754, que arre­mata:

"O que seguramente não é pos­sível, nesta ação mandamental, é considerar inválida a Portaria Mi­nisterial, decidindo-se pela libera­ção do depósito em favor do impe­trante.

"Reafirmo: não se trata de in­competência do Juízo, eis que a ação precedeu o ato de Sua Exce­lência o Ministro. Cuida-se, po­rém, de demanda que perdeu o objeto, tendo em vista a impossi­bilidade do deferimento da pre­tensão, através deste meio proces­sual."

Infere-se de tudo isso que o moti­vo principal da decretação da extin­ção do processo foi a superveniência do ato do Ministro da Fazenda apli­cando a pena de perdimento, por não ter a recorrente providenciado a sus­tação do processo administrativo que seguiu seu curso.

Sucede que o pedido de fundo da ação mandamental foi justamente de cessação do procedimento adminis­trativo instaurado contra a impetran­te e este foi concedido pela sentença definitiva que confirmou a liminar, antes, concedida.

Se é certo que a sentença reconhe­ceu a ilegalidade do ato objurgado (apreensão da mercadoria) e, em con­seqüência, a invalidade do processo administrativo, a despeito de estar com sua eficácia suspensa por força do duplo grau e da apelação voluntá­ria da União, estando o processo sub judice, o procedimento administra­tivo, cuja invalidade fora decretada, não poderia ter curso normal, inclu­sive com a imposição do perdimento pela autoridade superior.

Vale observar que a impetração foi dirigida regularmente contra ato do Delegado da Receita Federal, que procedeu à apreensão, atendendo

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plenamente aos pressupostos de constituição e desenvolvimento regu­lar do processo e, atendidas essas exigências, a autora tinha direito ao julgamento de mérito pelo Tribunal, tanto mais porque não era caso de incompetência absoluta, porquanto o ato coator não fora de Ministro de Estado, nem de perda do objeto pois houve pedido específico de sustação do procedimento administrativo (de­ferido pela sentença), sobre o qual a segunda instância deveria pronun­ciar-se. Como bem definida na deci­são de primeiro grau, a questão do perdimento seria objeto de ação pos­terior.

Isto posto, conheço do recurso pe­lo fundamento da letra a, e lhe dou provimento para afastar o decreto de extinção do processo por perda do objeto, determinando o retorno dos autos ao Tribunal de origem, a fim de que julgue o mérito da demanda.

VOTO - VISTA

VENCIDO

O SR. MINISTRO ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO: Na assentada anterior, o Ministro Peçanha Mar­tins assim relatou o feito:

"Gauchafértil - Sociedade de Fertilizantes Ltda. interpôs simul­taneamente recursos extraordiná­rio e especial contra acórdão do TRF da 4~ Região, complementa­do por decisão proferida em em­bargos declaratórios, cujas respec­tivas ementas rezam:

"Processual Civil. Mandado de segurança. Apreensão de mercadorias. Aplicação subse­qüente da pena de perdimento. Perda do objeto do writ.

- Impetração dirigida con­tra ato de apreensão de merca­dorias em processo administra­tivo fiscal, sem requerimento de liminar para sustar o seu curso regular. Exaurida a ins­tância fiscal, pela continuação do processo, até a decisão final do Ministro da Fazenda, decla­rando o perdimento dos bens apreendidos, restou sem objeto o mandado de segurança, por ser ineficaz quanto àquela de­cisão, desconstituir o ato de apreensão praticado por auto­ridade de nível hierárquico in­ferior. Extinção do processo.

''Voto vencido: pela incompe­tência absoluta, no que se rela­ciona com a decretação da pena de perdimento pelo Senhor Mi­nistro da Fazenda e conseqüen­te anulação do processo" (fls. 757).

"Processual Civil. Embargos de declaração - Constatada omissão no julgamento acolhem­se os embargos, para completá­lo, autorizando a conversão do depósito em renda da União Fe­deral. Rejeição do recurso quan­to a aspectos nos quais não se verificou obscuridade, contradi­ção ou omissão.

"Processual Civil. Acórdão. Ementa. Omissão. Erro mate­rial. Suprimento de ofício.

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- Omitidos na ementa vocá­bulos necessários ao perfeito resumo da decisão, supre-se a falha, de ofício". (fi. 798).

O recorrente interpôs ainda embargos infringentes os quais fo­ram indeferidos por seu absoluto descabimento em mandado de se­gurança (fi. 825).

O recurso especial vem pelos permissivos das letras a e c ale­gando o recorrente contrariedade e negativa de vigência ao art. 12

da Lei 1.533/51, por ter o acórdão decretado a perda do objeto da im­petração; contrariedade e negati­va de vigência ao art. 459/CPC, in­correndo em nulidade insanável porque, atendidos os pressupostos de constituição e desenvolvimento válido do processo, o recorrente ti­nha direito a julgamento de méri­to: contrariedade e negativa de vi­gência ao art. 535, I e II, do CPC, por não terem sido sanadas as dú­vidas, contradições e omissões do julgado; finalmente, negativa de vigência e contrariedade ao art. 555/CPC. Embora fundamentado, também, na letra c, não foi indica­do qualquer paradigma divergen­te. Pede o provimento do recurso seja para anular o acórdão recor­rido, determinando-se ao 'Ihbunal a quo que profira outro; seja pa­ra acolher-se a incompetência e a conseqüente nulidade do processo ab initio, seja para o STJ enfren­tar a impetração como originária; seja, enfim, para acolher-se o pe­dido de segurança restabelecendo­se a decisão de primeiro grau.

Sem contra-razões, os recursos foram inadmitidos na origem sen­do interpostos agravos para o STF e STJ.

O especial foi remetido a esta Corte em razão do provimento do agravo de instrumento, sendo-me distribuído por dependência.

Dispensado o pronunciamento do Ministério Público Federal, na forma do art. 256/RISTJ."

A seguir, proferiu o seguinte voto:

"O mandado de segurança foi impetrado contra o Delegado da Receita Federal que determinou a apreensão de 107.707 sacos de açúcar presumindo destinarem-se a exportação clandestina. A impe­trante postulou, liminarmente, a suspensão imediata do leilão da mercadoria apreendida com sua conseqüente liberação, e, "como pedido de fundo", a cessação do procedimento administrativo ins­taurado.

A liminar concedida foi depois modificada, devido à perecibilida­de da mercadoria, realizando-se a licitação cujo produto foi posto à disposição do juízo que, a final, julgou a ação procedente reconhe­cendo a ilegalidade do ato impug­nado e liberando o valor da arre­matação em favor da autora, a quem caberia o direito de vindi­car, em ação própria, a reparação dos danos decorrentes da pena de perdimento decretada pelo Minis­tro da Fazenda no curso do pro­cesso.

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Essa situação, contudo, foi re­vertida na segunda instância que extinguiu o processo pela perda do objeto, daí a interposição des­te recurso especial pelos funda­mentos das letras a e c.

O ilustre Relator-vencido, Juiz Gilson Dipp, declarou a incompe­tência absoluta do 'lhbunal Regio­nal, votando pela anulação do processo ab initio. O voto-condu­tor da maioria vencedora, da la­vra do ilustre Juiz Silvio Dobro­wolski, no entanto, entendeu que a impetração não fora dirigida contra o Ministro da Fazenda; vi­sava, primordialmente, a apreen­são da mercadoria pelo Delegado da Receita Federal com pedido li­minar de suspensão dos leilões designados e a conseqüente libe­ração da mercadoria, enfeixando a concessão da ordem dentro des­ses limites, motivo pelo qual o processo administrativo seguiu seu trâmite, sobrevindo a decisão ministerial determinando o perdi­mento, concluindo:

"Em virtude da decretação do perdimento, inútil discutir, apenas o ato administrativo anterior, da apreensão pura e simples. A desconstituição des­te é ineficaz quanto àquela de­cisão, conseqüência natural do imposto não coarctado do pro­cesso administrativo.

"Como a impetrante não cui­dou de obstar-lhe o passo, o pro­cesso evoluiu e alcançou conse­qüência tal, que é impossível desfazer por meio desta ação mandamental.

"Pelo exposto, deixo de reco­nhecer a incompetência, mas julgo extinto o presente manda­do pela perda do seu objeto." (fi. 751).

Também pela extinção do pro­cesso, embora por motivo diverso, o voto convergente de fi. 754, que arremata:

"O que seguramente não é possível, nesta ação mandamen­tal, é considerar inválida a Por­taria Ministerial, decidindo-se pela liberação do depósito em favor do impetrante.

"Reafirmo: não se trata de incompetência do Juízo, eis que a ação precedeu o ato de Sua Excelência o Ministro. Cuida­se, porém, de demanda que perdeu o objeto, tendo em vis­ta a impossibilidade do deferi­mento da pretensão, através deste meio processual."

Infere-se de tudo isso que o motivo principal da decretação da extinção do processo foi a super­veniência do ato do Ministro da Fazenda aplicando a pena de per­dimento, por não ter a recorrente providenciado a sustação do pro­cesso administrativo que seguiu seu curso.

Sucede que o pedido de fundo da ação mandamental foi justa­mente de cessação do procedimen­to administrativo instaurado con­tra a impetrante e este foi conce­dido pela sentença definitiva que confirmou a liminar, antes, conce­dida.

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Se é certo que a sentença reco­nheceu a ilegalidade do ato objur­gado (apreensão da mercadoria) e, em conseqüência, a invalidade do processo administrativo, a despei­to de estar com sua eficácia sus­pensa por força do duplo grau e da apelação voluntária da União, estando o processo sub judice, o procedimento administrativo

cuja invalidade fora decretada' não poderia ter curso normal in~ clusive com a imposição do p~rdi­mento pela autoridade superior.

Vale observar que a impetração foi dirigida regularmente contra ato do Delegado da Receita Fede­ral, que procedeu à apreensão, atendendo plenamente aos pres­supostos de constituição e desen­volvimento regular do processo e, atendidas essas exigências, a au­tora tinha direito ao julgamento de mérito pelo Tribunal, tanto mais porque não era caso de in­competência absoluta, porquanto o ato coator não fora de Ministro de Estado, nem de perda do obje­to pois ouve pedido específico de sustação do procedimento adminis­trativo (deferido pela sentença), so­bre o qual a segunda instância de­veria pronunciar-se. Como bem de­finida na decisão de primeiro grau, a questão do perdimento seria ob­jeto de ação posterior.

Isto posto, conheço do recurso pelo fundamento da letra a, e lhe dou provimento para afastar o de­creto de extinção do processo por perda do objeto, determinando o retorno dos autos ao Tribunal de origem, a fim de que julgue o mé­rito da demanda."

Seguiram-se os votos dos ilustres Ministros Adhemar Maciel e Ari Pargendler, acompanhando o ilustre Relator.

Em seguida, pedi vista dos autos e ora os tenho em mesa, a fim de que o julgamento possa prosseguir.

Dos estudos a que procedi, cheguei a conclusão diversa do ilustre Rela­tor. Com efeito, ao julgar extinto o processo, por perda de objeto, o acór­dão recorrido não teve ensejo de vio­lar os preceitos da legislação federal colacionados pela recorrente. Ade­mais, nenhum dissenso pretoriano foi demonstrado. O caso, é, pois, da­ta venia, de não conhecimento do recurso.

Eis, a respeito da perda do objeto da impetração, o voto do Juiz Silvio Dobrowolski (fls. 751):

"1. A impetração não foi dirigi­da contra o ato do Senhor Minis­tro da Fazenda declaratório do per­dimento das coisas apreendidas. Vi­sava, primordialmente, a mera apreensão da mercadoria, e, por is­so houve o pedido de liminar para:

"a) suspensão imediata dos leilões designados, acima men­cionados;

b) liberação da mercadoria apreendida." (f. 9).

2. Como o provimento liminar foi deferido dentro de tais marcos o processo administrativo fiscal teve prosseguimento e chegou à decisão ministerial.

3. O que há, pois, não é uma questão de competência, mas de

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perda de objeto, pela impossibili­dade de se deferir o writ, supera­da a pretensão nele postulada.

De fato.

Em virtude da decretação do perdimento, inútil discutir, ape­nas o ato administrativo anterior, da apreensão pura e simples. A desconstituição desta é ineficaz quanto àquela decisão, conseqüên­cia natural do impulso não coarc­tado do processo administrativo.

Como a impetrante não curou de obstar-lhe o passo, o processo evoluiu e alcançou conseqüência tal, que é impossível desfazer por meio desta ação mandamental.

4. Pelo exposto, deixo de reco­nhecer a incompetência, mas jul­go extinto o presente mandado pela perda do seu objeto."

No mesmo sentido votou o Juiz Fábio Bittencourt da Rosa, que ar­gumentou (fls. 754):

"Este mandado de segurança visou a atacar, entre outras coi­sas, ato de apreensão de 107.707 sacos de açúcar.

Por ocasião de seu ajuizamento, ainda não existia a Portaria Mi­nisterial do Excelentíssimo Senhor Ministro da Fazenda, que decretou o perdimento da mercadoria.

Logo, a coação era exercida pe­lo Delegado da Receita Federal, descartando-se a hipótese de in­competência do Juízo.

Perecível o produto, foi vendi­do, posteriormente, em leilão,

mantendo-se em depósito o valor resultante. Quer dizer: não exis­te o açúcar, mas o dinheiro, que é seu substituto.

'Ibdavia, o mandamus postu­lou somente:

"a) suspensão dos leilões de­signados, acima mencionado;

b) liberação da mercadoria apreendida."

Como se vê, não se pediu o so­brestamento do procedimento ad­ministrativo, que prosseguiu, con­cluindo-se com o ato ministerial.

Ora, impossível é, através des­te mandado de segurança, negar vigência ao ato de Sua Excelência o Ministro da Fazenda, liberando o depósito, que equivaleria à libe­ração do produto apreendido.

A discussão desta lide se esgo­tou. Somente através do meio pro­cessual próprio a pretensão ao re­cebimento dos valores poderá ser exercida. Nesse sentido, estou de acordo com o voto do eminente Juiz Silvio Dobrowolski.

O que seguramente não é pos­sível, nesta ação mandamental, é considerar inválida a Portaria Mi­nisterial, decidindo-se pela libera­ção do depósito em favor do Impe­trante.

Reafirmo: não se trata de in­competência do Juízo, eis que a ação precedeu o ato de Sua Exce­lência o Ministro. Cuida-se, po­rém, de demanda que perdeu o objeto, tendo em vista a impossi­bilidade do deferimento da pre-

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tensão, através deste meio proces­sual.

Em face do exposto, voto no sentido de julgar extinto o proces­so, com fundamento no artigo 267, inciso IV, do Código de Pro­cesso Civil."

Em embargos declaratórios, ale­gou a impetrante (fls. 792): "equívo­co e omissão de parte dos votos ven­cedores, "afirmando que na impetra­ção não havia sido pedida a cessação do procedimento administrativo con­tra a impetrante, quando exata e precisamente é este o pedido de fun­do formulado no mandamus, como se vê de fls. 09 dos autos, deixando­se, assim, de ser apreciado o pedido formulado, incidindo, destarte, o V. acórdão em decisão infra ou extra petita" Cf. 762)."

'Ibdavia, esclareceu o voto-condu­tor do aresto proferido nos referidos embargos (fls. 794-795):

"Os votos vencedores estão bem resumidos na parte inicial da emen­ta. "O equívoco e a conseqüente omissão na apreensão do pedido" inexistiram.

O que se afirmou neles é de não ter havido pedido de liminar para sustar o processo adminis­trativo, que em virtude disso se exauriu, impossível atender a pre­tensão de liberar mercadorias e ao pedido para que "cesse qual­quer procedimento administrati­vo contra a impetrante" Cf. 9).

De que modo, agora, fazer ces­sar o processo administrativo, se este já se extinguiu?

Para alcançar a cessação do processo administrativo, a impe­trante deveria ter pedido liminar para sustá-lo, e não apenas, rela­tivamente ao leilão.

Por igual, a restituição de mer­cadorias, endereçada contra ato do Delegado da Receita Federal do Rio Grande do Sul, restou sem objeto pela simples circunstância de que o Ministro da Fazenda de­clarou-as objeto de perdimento.

A omissão inexistiu. O proces­so foi julgado com base em preju­dicial impeditiva do exame do mé­rito."

No contexto assinalado, verifica­se que não há mesmo como afastar a perda de objeto da impetração. Com efeito, o pedido feito, objetiva­va:

a) como liminar, a suspensão imediata dos leilões designados da mercadoria apreendida; e a libe­ração das referidas mercadorias; e

b) como pedido da ordem impe­trada, a cessação do procedimen­to administrativo instaurado con­tra a impetrante (fls. 9).

Foi concedida liminar apenas pa­ra suspender o leilão da mercadoria apreendida, liminar essa que foi de­pois modificada, para que fosse per­mitida a realização do leilão da mercadoria, porque perecível esta, permanecendo o valor da alienação judicial à disposição do juízo, tudo como estabelecido no art. 30, §§ 1~ e 2~ do Decreto-lei n~ 1.455, de 07.04.1976.

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As informações esclareceram que o Ministro da Fazenda aplicou a pe­na de perdimento da mercadoria ati­nente à presente impetração, susci­tando a preliminar de sua perda de objeto (fls. 415-416). Nesse sentido, anexou cópia do ato ministerial, da­tado de 09.06.81 (fls. 483). Note-se que a impetração foi ajuizada nesta mesma data (fls. 1) e despachada no dia subseqüente (fls. 2).

Consoante se verifica, sem que houvesse qualquer ato sustando o andamento do procedimento admi­nistrativo, foi prolatado o ato minis­terial em 09.06.81, só vindo a ser

proferida a sentença concessiva do writ em 05.12.85, quando a impetra­ção já havia perdido o seu objeto. De fato, quando da prolação do decisó­rio, o procedimento administrativo já se encontrava extinto e, por isso, não era mais possível suspender-se o seu curso. E mais: extinto por ato da au­toridade ministerial não sujeita à ju­risdição do Juiz Federal.

Em suma: não há divisar ofensa aos preceitos legais colacionados pe­la recorrente.

Isto posto, em conclusão, não co­nheço do recurso.

RECURSO ESPECIAL N2 110.436 - SP

(Registro n2 96.0064497-7)

Relator: O Sr. Ministro Hélio Mosimann

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Advogado: José Ramos Nogueira Neto

Recorrido: Isaura de Marchi Vieira

ElVIENTA: Execução. Penhora. Lei n!! 8.009/90. Aparelho de televi­são. Impenhorabilidade. Voto vencido.

Pelas disposições da Lei n e 8.009/90, o aparelho de televisão que hoje normalmente se encontra na modesta residência do executa­do, tornou-se impenhorável, assim como o imóvel destinado à en­tidade familiar.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Segunda 'furma do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se-

guir, por maioria, conhecer do recur­so pela letra c mas negar-lhe provi­mento, nos termos do voto do Sr. Mi­nistro-Relator, vencido o Sr. Minis­tro Ari Pargendler. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Peça­nha Martins, Adhemar Maciel, Ari

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Pargendler e Antônio de Pádua Ri­beiro.

Brasília, 20 de fevereiro de 1997 (data do julgamento).

Ministro PEÇANHA MARTINS, Presidente. Ministro HÉLIO MOSI­MANN, Relator.

Publicado no DJ de 31-03-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO HÉLIO MOSI­MANN: Cuida-se de recurso especial interposto pela Fazenda o Estado de São Paulo, fundado no artigo 105, inciso lU, alínea c, da Constituição Federal, contra acórdão que negou provimento a recurso de agravo, ma­nifestado, pela ora recorrente, de de­cisão que indeferiu a incidência de penhora sobre televisor de proprie­dade da recorrida, ao argumento de que o mesmo "tornou-se um eletro­doméstico comum e que pode ser en­contrado nos lares mais humildes ... e nem deve ser considerado supér­fluo na medida em que, proporcio­nando informação e lazer, constitui­se em aparelho simplesmente útil".

Sustenta a recorrente, unicamen­te divergência jurisprudencial com julgado oriundo da egrégia Primei­ra 'Ib.rma desta Corte.

Sem contra-razões, posto que não oferecidas, vieram os autos a esta superior instância.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO HÉLIO MOSI­MANN (Relator): Conheço do recur-

so, pelo dissídio, embora não rigoro­samente demonstrado nos termos re­gimentais, mas lhe nego provimen­to, vez que perfilho o entendimento, quanto ao tema, adotado pelas egré­gias 'Ierceira e Quarta 'Ib.rmas, con­forme dão conta os seguintes prece­dentes:

"Móveis - Impenhorabilidade.

A Lei 8.009/90 fez impenhorá­veis, além do imóvel residencial próprio da entidade familiar, os equipamentos e móveis que o guarnecem, excluindo veículos de transporte, objetos de arte e ador­nos suntuosos. O favor compreen­de o que usualmente se mantém em uma residência e não apenas o indispensável para fazê-la habi­tável. Devem, pois, em regra, ser reputados insusceptíveis de pe­nhora aparelhos de televisão e de som." (REsp n~ 57.226-RJ, ReI. Min. Eduardo Ribeiro, D.J. de 15.5.95).

"Processual Civil. Lei 8.009/1990. Superveniência. Penhora levada a efeito antes de sua vigência. Des­constituição. Direito transitório. Aparelho de televisão e geladeira. Impenhorabilidade. Hermenêuti­ca. Recurso provido.

I - A Lei 8.009/1990, de apli­cação imediata, incide no curso da execução se ainda não efetuada a alienação forçada, tendo o condão de levantar a constituição sobre os bens afetados pela impenhora­bilidade.

II - A referida lei, ao dispor que os equipamentos, inclusive os

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Page 60: SEGUNDA TURMA - ww2.stj.jus.br · RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N~ 1.436-0 - RS (Registro n~ 91.0024007-9) Relator: O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro Recorrente: Lorena

móveis que guarnecem a residên­cia, são impenhoráveis, não abar­ca tão-somente os indispensáveis à moradia, mas também aqueles que usualmente integram uma re­sidência, como geladeira, mesa e televisão, que não se qualificam como objetos de luxo ou adorno.

UI - Ao Juiz, em sua função de intérprete e aplicador da lei, em atenção aos fins sociais a que ela se dirige e as exigências do bem comum, como admiravelmen­te adverte o art. 5~, LICC, incum­be dar exegese construtiva e valo­rativa que se afeiçoe aos seus fins teleológicos, sabido que ela deve refletir não só os valores que a inspiraram mas também as trans­formações culturais e sócio-políti­cas da sociedade a que se desti­na." (REsp n~ 106.051-SP, ReI. Min. Sálvio de Figueiredo 'Ieixei­ra, D.J. de 9.12.96).

N a linha dos precedentes colacio­nados, conheço do recurso, pelo dis­sídio, mas lhe nego provimento.

É como voto.

VOTO - VENCIDO

O SR. MINISTRO ARI PARGEN­DLER: A Lei n~ 8.009, de 1990, veio para garantir a residência do deve­dor, sem prejuízo da penhora dos bens que a ela não aderem necessa­riamente, incluindo-se entre estes o aparelho de televisão que assim po-

de ser comprometido para o paga­mento de dívidas.

Voto, por isso, no sentido de conhe­cer do recurso especial e de lhe dar provimento.

VOTO - VOGAL

O SR. MINISTRO ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO: Sr. Presidente, considero que, realmente, essa lei, embora afinada com bons propósitos, leva a grandes dificuldades, porque a regra é que o patrimônio do deve­dor garante suas dívidas.

A lei não delimita muito bem a extensão da sua abrangência e gera dificuldades que têm sido objeto de temperamentos jurisprudenciais.

No caso presente, é com dificulda­de que aplico essa lei porque tudo é muito relativo. Esse que é o proble­ma: a questão da relatividade. Pe­nhorar uma televisão da residência de uma pessoa que tenha outros re­cursos ou que tenha várias televi­sões é algo perfeitamente admissível, mas há aqueles outros casos que se referem a pessoas pobres, em que a televisão realmente assume uma co­notação diferente, passa a ser um bem de grande importância para a família como um todo. A lei tem es­se sentido de amparo à família.

Acredito que o tema deve ser me­lhor explicitado pelo legislador. Até que isso ocorra, vou acompanhar os precedentes, mas irei continuar a meditar sobre o assunto.

Acompanho o Ministro-Relator.

186 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (95): 127-186, julho 1997.