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SÉCULO XIX: COLEÇÃO SÉRGIO FADEL

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Créditos

MATERIAIS EDUCATIVOS DVDTECA ARTE NA ESCOLAOrganização: Instituto Arte na Escola

Coordenação: Mirian Celeste Martins Gisa Picosque

Projeto gráfico e direção de arte: Oliva Teles Comunicação

MAPA RIZOMÁTICO

Copyright: Instituto Arte na Escola

Concepção: Mirian Celeste Martins Gisa Picosque

Concepção gráfica: Bia Fioretti

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Shirlene Vila Arruda - Bibliotecária)

INSTITUTO ARTE NA ESCOLA

Século XIX: coleção Sérgio Fadel / Instituto Arte na Escola ; autoria de Elaine Schmidlin ; coordenação de Mirian Celeste Martins e Gisa Picosque. – São Paulo : Instituto Arte na Escola, 2010.

(DVDteca Arte na Escola – Material educativo para professor-propositor ; 148)

Foco: CT-B-18/2010 Conexões TransdisciplinaresContém: 1 DVD ; Biografias; Glossário ; BibliografiaISBN 978-85-7762-053-1

1. Artes - Estudo e ensino 2. Artes plásticas - Século 19 3. Pintura - Brasil 4. Artistas viajantes 5. Coleção de arte I. Schmidlin, Elaine II. Martins, Mirian Celeste III. Picosque, Gisa IV. Título V. Série

CDD-700.7

SÉCULO XIX: COLEÇÃO SÉRGIO FADEL Copyright: Instituto Arte na Escola

Autor deste material: Elaine Schmidlin

Revisão de textos: Nelson Luis Barbosa

Padronização bibliográfica: Shirlene Vila Arruda

Diagramação e arte final: Jorge Monge

Autorização de imagens: Cesar Millan de Brito

Fotolito, impressão e acabamento: Indusplan Express

Tiragem: 200 exemplares

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Ficha técnicaGênero: Documentário.

Palavras-chave: Pintura; coleção; museu; concepções de ensino de arte; história do Brasil; artistas viajantes; academia; heranças culturais; cultura brasileira.

Foco: Conexões Transdisciplinares

Tema: A história da arte a partir do acervo da coleção da família Fadel.

Personalidades abordadas: Rugendas, Debret, Pedro Américo, Victor Meirelles, Baptista da Costa, Estêvão da Silva, Georg Grimm, Antônio Parreiras, Eliseu Visconti, entre outros.

Indicação: A partir do 6º ano do Ensino Fundamental.

Nº da categoria: CT-B-18

Direção: Zelito Viana.

Realização/Produção: Mapa Filmes, Rio de Janeiro.

Ano de produção: 2004.

Duração: 21’.

Coleção/Série: Arte para todos.

SinopseO século XIX tem como marca uma produção artística brasilei-ra com forte influência estrangeira. Porém, há também nessa época artistas que buscam uma interpretação própria da arte. Essas reflexões fazem parte deste documentário que conta a história da arte brasileira a partir do enfoque dado pela coleção de Hecilda e Sérgio Fadel. A formação das academias de belas artes e as influências das políticas coloniais na formação cultural do nosso país são comentadas também por críticos de arte e historiadores.

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Trama inventivaPonto de contato, conexão, enlaçado em Os olhos da Arte com um outro território provocando novas zonas de contágio e reflexão. Abertura para atravessar e ultrapassar saberes: olhar transdisciplinar. A arte se põe a dialogar, a fazer contato, a contaminar temáticas, fatos e conteúdos. Nessa intersecção, arte e outros saberes se alimentam mutuamente, ora se com-plementando, ora se tensionando, ora acrescentando, uns aos outros, novas significações. A arte, ao abordar e abraçar, com imagens visionárias, questões tão diversas como a ecologia, a política, a ciência, a tecnologia, a geometria, a mídia, o incons-ciente coletivo, a sexualidade, as relações sociais, a ética, entre tantas outras, permite que na cartografia proposta se desloque o documentário para o território das Conexões Transdisciplinares. Que sejam estas então: livres, inúmeras e arriscadas.

O passeio da câmeraA definição da arte do século XIX para o crítico de arte Italo Campofiorito e para o restaurador Cláudio Valério inicia o documentário. São eles que comentam obras e artistas neste documentário, que apresenta também a professora de História da Arte Maria Beatriz de Mello e Souza e Marta Fadel, advogada e filha dos colecionadores Hecilda e Sérgio Fadel, que conta sobre o início da coleção e o interesse de seus pais pela arte brasileira, sobretudo pelos artistas viajantes do século XIX.

D. João VI e a vinda da Família Real ao Brasil são ressignificados neste documentário que mostra o Jardim Botânico do Rio de Janeiro e os empreendimentos de D. João VI no Brasil, como a vinda da Missão Artística Francesa patrocinada pelo monarca que gerou a criação da Academia Imperial de Belas Artes (Aiba). Comentários são feitos sobre as obras de Debret, Victor Mei-relles, Pedro Américo, além dos pintores negros do século XIX, focalizando Estêvão da Silva, pintor de frutas, que protagonizou à época o primeiro happening da arte brasileira, colocando frutas

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atrás de suas naturezas-mortas. A temática brasileira, a pintura ao ar livre, o grupo de pintores considerados os maiores paisagistas brasileiros e a criação do Ateliê Livre do largo de São Francisco são apresentados, evidenciando que o século XIX pode ser con-siderado o mais importante século da pintura brasileira.

O documentário possibilita a abordagem da pintura no território de Linguagens Artísticas e da história da arte, da academia e os artistas viajantes em Saberes Estéticos e Culturais. A cultura brasileira pode ser o foco de Patrimônio Cultural e as concep-ções de ensino de arte podem ser aprofundadas no território de Formação: Processos de Ensinar e Aprender. A história do Brasil em Conexões Transdisciplinares marca o contexto potencial da coleção Fadel.

Os olhos da ArteAcademia. Com esta palavra, o crítico de arte Italo Campofiorito define a arte do século XIX. A forma acadêmica baseada na imitação da natureza vinda com a Missão Artística Francesa em 1816 modificou a estrutura do ensino artístico no Brasil, com forte inspiração neoclássica.

Até o início do século XIX o ensino de arte no Brasil ocorria de modo informal e artesanal em oficinas de artistas. As academias inicialmente surgidas na Itália e depois na França exerceram influência em toda a Europa, desenvolvendo um conceito de ortodoxia estética no ensino. Nikolaus Pevsner (2005, p. 334) nos mostra que elas “nasceram em Florença no momento em que surgiam o absolutismo e o maneirismo, um estilo caracterizado pela rigidez de suas composições [...] se difundiram pela Europa na segunda metade do século XVIII, quando por toda a parte os príncipes imitavam as instituições francesas e as novas regras do movimento neoclássico se impuseram na arte”.

Lilia Moritz Schwarcz, na introdução à edição brasileira do referido livro de Pevsner (2005, p. 9) informa que no final do século XVIII, uma típica academia de artes deveria ter um acervo de pinturas, gravuras e:

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Nicolas Antoine Taunay - Largo da Carioca em 1816, c.1816 óleo sobre tela, 45 x 56 cm Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro/RJ

Jean Baptiste Debret - Casario, 1816-1831 aquarela sobre papel, 12,4 x 20,1 cm Museus Castro Maya - IPHAN/MinC, Rio de Janeiro/RJ

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deveria estar bem provida, em suficiente variedade, de todos os objetos necessário para o ensino de arte do desenho. Esses objetos são basica-mente os seguintes: livros de desenho contendo ilustrações, primeiro de partes do corpo humano, formas e proporções variadas de cabeças, nari-zes, orelhas, lábios, olhos, etc; depois, de partes maiores e do corpo por inteiro. Copiá-las deverá ser a primeira tarefa do principiante. Em seguida ele deverá desenhar figuras retiradas das mais consagradas obras de arte, executar desenhos perfeitos de esculturas antigas, uma seleção de figuras retiradas dos grandes mestres, de Rafael, Michelangelo, os Carracci e outros. Copiando essas obras, os estudantes terão um primeiro contato com as esferas superiores da arte. Além de uma coleção de desenhos é preciso possuir uma coleção de modelos em gesso em que estejam representadas as obras mais nobres da Antiguidade e algumas obras mais recentes [...] Os estudantes deverão desenhá-las com assiduidade, porque isso não só ajuda a aprender a ver corretamente e a desenvolver a capacidade de apreciar as belas formas [...] A academia deve ter, além disso, modelos, homens de formas harmoniosas para posar sobre um estrado ou uma mesa...

O rigor formal neoclássico foi o referencial trazido ao Brasil pelos artistas vindos com a Missão Artística Francesa em 1816, que gerou a criação no Rio de Janeiro em 1826 da Academia Imperial de Belas Artes (Aiba) seguindo o modelo francês. A pequena coleção de quadros trazidos por Joachim Lebreton, chefe dessa missão – obras destinadas ao estudo e à contemplação de alunos e do público em geral –, incorporou-se à pinacoteca da Academia Imperial de Belas Artes, antigo nome da Escola Nacional de Belas Artes (Enba), e iniciou o que viria a ser o acervo do Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), ocu-pando o mesmo prédio da antiga escola, sua sede desde 1908, que revela influências dos palácios renascentistas franceses e do estilo neoclássico.

O método de ensino priorizava a técnica, as regras de compo-sição e o desenho, a cópia de modelos consagrados, a pintura com modelo vivo e em ateliê, além de estudos teóricos de pers-pectiva, anatomia, geometria, história e filosofia. Havia também certa hierarquia de gêneros artísticos, estando a pintura histórica acima das demais, seguida pelos retratos, paisagens, natureza-morta e a pintura de gênero ou de costumes.

Segundo Pevsner (2005), as academias evidenciavam a interven-ção do Estado, com uma unidade de estilo e de ensino de arte,

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com o planejamento de cidades, ruas, monumentos, objetos de design. Houve uma mudança nas formas de organização profis-sional das artes e do sistema paralelo de instrução artística, que mostram vínculos fortes entre arte e sociedade.

Para Italo Campofiorito, porém, os artistas trouxeram a forma da academia francesa, porém, não trouxeram o seu conteúdo já que a arte do século XIX no Brasil é, acima de tudo, nacional.

No século XIX a identidade brasileira se fortalece com repre-sentação de sua história, com a temática dos embates militares como as batalhas pintadas por Victor Meirelles e Pedro Américo. Ambos ganharam prêmios de viagem na Aiba do Rio de Janeiro e foram estudar em academias francesas e italianas. Segundo Italo Campofiorito, Pedro Américo era um pintor tipicamente francês na organização formal, e Victor Meirelles, brasileiro. Para esse crítico, dos dois grandes mestres, a crítica acadêmica considera Pedro Américo muito melhor, e isso quer dizer que ele parece muito mais francês do que Victor Meirelles, ou seja, muito mais próximo do modelo e da forma franceses acadêmicos. Para ele, entretanto, Victor chegou mais longe. Ele influenciou, entre outros, a pintura de Baptista da Costa, um paisagista verdadeiramente brasileiro que revelou o verde na natureza e não mais o verde concebido na palheta como preconizava o ensino acadêmico.

O século XIX foi também o século da escravidão e aquele que produziu os maiores pintores negros brasileiros. Entre eles, Ra-fael Pinto Bandeira, os irmãos Arthur e João Timótheo da Costa, Rafael Frederico e Estêvão da Silva, pintor de naturezas-mortas. Na forma todos demonstravam conhecimentos acadêmicos eru-ditos, porém, para a academia, a questão temática da natureza-morta era ainda considerada menor que os de maior valor como a história, os retratos, as cenas de gênero e a paisagem.

A temática genuinamente brasileira pode ser vista na obra de Almei-da Júnior, confirmando o comentário do restaurador Cláudio Valério, para quem não foi o Modernismo de 22 que inaugurou a temática brasileira, pois ela já estava presente na pintura do século XIX.

Temática expressa também nas típicas paisagens brasileiras,

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especialmente depois da ruptura com a forma acadêmica e a valorização da pintura ao ar livre, preconizada por Georg Grimm, que chega ao Brasil em 1880. Para Grimm, a pintura da paisagem não poderia acontecer em ateliê como se dava na academia. Não valiam os modelos franceses, pois a paisagem natural, a flora e a fauna deveriam estar presentes, liberando a expressão para a percepção naturalista da paisagem. Ele liderou o chamado Grupo Grimm, integrado por Castagneto, Caron, Garcia y Vasquez, Francisco Ribeiro, Antônio Parreiras, França Júnior e Thomas Driendl, com quem exercita a prática da pintura ao ar livre.

São muitos os artistas que no século XIX deixaram suas marcas, fiéis à academia, usufruindo suas bolsas no exterior, trazendo assim outras influências para o Brasil ou indo contra a direção monarquista com a criação de um Ateliê Livre, como fizeram Hen-rique e Rodolfo Bernardelli e Rodolfo Amoedo, entre outros.

Podemos imaginar a importância desse momento histórico pelo fato de que a Exposição Geral de Belas Artes de 1884 teve 300 mil visitantes, quando a população do Rio de Janeiro era de aproximadamente 600 mil habitantes. Por isso, para muitos, o século XIX é o mais importante século da pintura brasileira.

O passeio dos olhos do professorO documentário aborda a arte produzida no século XIX a partir da vinda da Missão Artística Francesa ao Brasil. A arte acadê-mica é a proposta formal que pode impulsionar o seu processo pedagógico com enfoque na experimentação, na pesquisa e no aprofundamento de conceitos relativos à arte do século XIX. Seria interessante registrar as impressões em um diário de bordo antes do seu planejamento pedagógico. Para tanto, sugerimos uma pauta do olhar.

Como as imagens do documentário afetam o seu pensar pedagógico sobre o ensino de arte no Brasil?

A vinda da Missão Artística Francesa modificou a concepção do ensino de arte no Brasil. Você vê influências ainda hoje?

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A professora Maria Beatriz de Mello e Souza comenta que a historiografia atual reflete sobre as reais motivações que trouxeram a Família Real ao Brasil, revendo alguns precon-ceitos. Como você vê isso no documentário e na escola?

O conceito de arte acadêmica perpassa a arte do século XIX?

Como a pintura da paisagem ao ar livre transforma o ensino acadêmico?

O que chamaria a atenção dos alunos neste documentário?

Após apreciação e registro em seu diário de bordo, amplie seus focos revendo suas anotações e proponha uma pauta do olhar para os seus alunos.

Percursos com desafios estéticos

O passeio dos olhos dos alunosAlgumas possibilidades para provocar a entrada no documentário:

Primeira missa no Brasil é uma obra de Victor Meirelles. Os alunos já a viram no livro de história do Brasil? No documen-tário, Italo Campofiorito comenta a obra e diz que ela parece uma ópera. “Aquele índio, aquela árvore, parece um palco e a qualquer momento alguém vai começar a cantar. Tem uma índia montada em uma árvore à direita de quem olha o quadro e aparece uma arara montada na árvore. É tão brasi-leiro aquilo, apesar de ter sido pintado na Europa”. Meirelles chegou a pedir aos amigos que lhe enviassem um caixote com a vegetação típica de nossas praias para pintar seus detalhes. Podemos começar com uma leitura dessa imagem. Depois podemos comparar suas leituras com o comentário de Italo Campofiorito no documentário. Por que a obra parece uma ópera? O que mais podemos conhecer sobre a pintura do século XIX por meio deste documentário?

A paisagem é uma temática do século XIX. Nicolas Antoine Taunay, Georg Grimm, Baptista da Costa são artistas que reve-

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laram a paisagem daquele século. Trazer algumas obras desses e de outros paisagistas para uma leitura comparativa pode dar início de um enfoque sobre arte acadêmica que impulsione a curiosidade do aluno, o que o documentário pode ampliar.

A moldura na obra acadêmica é um fator importante no enqua-dramento e rigor formal da pintura do século XIX. As grandes dimensões da pintura podem também ser focos de interesse nessa proposição. Podemos preparar molduras em papelão de diversos formatos e tamanhos e buscar enquadramentos na natureza dos arredores da escola. A imitação da nature-za na representação e o enquadramento da cena na arte acadêmica eram fatores importantes a serem considerados na representação. Após essa experimentação, que outras leituras os alunos podem fazer a partir do documentário.

Desvelando a poética pessoalA arte acadêmica vinda com a Missão Artística Francesa ao Brasil é abordada nos comentários de Italo Campofiorito, Cláudio Valério e Maria Beatriz de Mello e Souza. A forma e o conteúdo são focos propulsores na poética dos artistas do século XIX e podem desencadear experimentações de processos de criação. A forma de registro dos costumes, da etnia, de classes sociais e da natureza vinda com os artistas viajantes nas expedições exploratórias do século XIX pode ser experimentada pelos alu-nos e provocar processos de criação reveladores de poéticas pessoais. Algumas sugestões:

Os artistas viajantes contribuíram com a construção de um registro visual do Brasil com a vinda das expedições explo-ratórias e com a Missão Artística Francesa. Debret foi um dos artistas vindos com a Missão e retratou a vida na corte, o trabalho escravo, a cidade do Rio de Janeiro, o cotidiano, a família. Sua Viagem pitoresca e histórica ao Brasil de 1834 é um dos mais importantes registros da vida social brasileira do século XIX. Experimentar olhar para o trajeto percorrido até a escola pode ser uma maneira de desencadear processos de

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aprendiz de arte

bens simbólicos

bens patrimoniais materiais, museu

política cultural

qual FOCO?

qual CONTEÚDO?

o que PESQUISAR?

Zarpando

SaberesEstéticos eCulturais

história da arte

ConexõesTransdisciplinares

arte e ciênciashumanas

ensino de arte

Linguagens Artísticas

Formação: Processos de Ensinar e Aprender

história do Brasil

artesvisuais

prêmios, bolsa de estudo

PatrimônioCultural

preservação e memória

cultura brasileira, coleção, heranças culturais

concepções de ensino de arte, educação do olhar, escola de arte, história do ensino de arte pintura,

muraldesenho,

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meiostradicionais

academia, arte brasileira, missões artísticas e científicas no Brasil; artistas viajantes

aprender com os mestres, aprender com outros artistas, referências culturais

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criação. Os registros podem se tornar ensaios fotográficos ou se transformar em desenhos, pinturas, colagens...

A forma e o conteúdo são aspectos a serem explorados na experimentação poética. A forma acadêmica prescindia do modelo, da imitação da natureza, exigindo estudo de observação e um apuro técnico primordialmente na linguagem do desenho, considerado pela academia mais importante que a cor. A proposição seria organizar no espaço da sala de aula um ateliê. No centro podem ser colocados objetos, frutas, modelos vivos para serem observados por todos que se posicionarão em volta. Como as poéticas pessoais se revelam nesse tipo de trabalho? Há preocupação com o desenho realista? Que outras ações expressivas podem ser imaginadas a partir desses modelos?

Ampliando o olhar O crítico de arte Italo Campofiorito menciona em um dos

depoimentos o embate acadêmico entre Pedro Américo e Victor Meirelles a partir das obras Batalha do Avahy (hoje Avaí) e Batalha dos Guararapes. Para Italo, os dois artistas são grandes mestres da pintura no século XIX, porém a crítica aca-dêmica considera Pedro Américo melhor que Victor Meirelles. Segundo Italo, isso se deve ao fato de que a forma de Pedro Américo chegou mais perto do modelo formal francês. Uma leitura das imagens das obras mencionadas poderia ajudar na ampliação do conceito de forma acadêmica no século XIX.

O pintor negro de naturezas-mortas Estêvão da Silva prota-gonizou, segundo Italo Campofiorito, o primeiro happening na arte brasileira ao colocar atrás de seus quadros pinturas de frutas, maracujás e abacaxis verdadeiros que exalavam seu perfume durante uma exposição. Para Italo, Estêvão era um cidadão curiosíssimo que, certa ocasião, recebeu em uma concorrência estabelecida por D. Pedro II a premiação com o segundo lugar. Porém, não satisfeito, foi reclamar com o impe-rador, pois não era escravo, mas pintor e aluno da Academia

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e, portanto, merecia o primeiro lugar. Esse fato resultou na suspensão de suas atividades discentes na Academia por um ano. A partir de Estêvão podemos propor ações de intervenção que provoquem os vários sentidos para além da visão.

A diversidade da cultura e da natureza brasileira foi uma temática do século XIX nas obras de artistas viajantes como Rugendas e Debret, que vieram em expedições explorató-rias do século XIX registrando os costumes, as etnias, e a natureza daquela época. Podemos propor um percurso de viagem convidando a registrar as singularidades regionais do Brasil de ontem e de hoje. A proposição poderia ser o registro fotográfico dos costumes culturais, da vegetação, da fauna, da flora de sua cidade junto a pesquisas envolvendo esses mesmos aspectos no século XIX e hoje. Podemos ampliar o foco propondo relações com as áreas de História e Geografia na busca de pontos que possam auxiliar na construção dessa proposição, registradas em um caderno de viagem.

Como leram a Primeira missa no Brasil alunos universitários, professores, educadores de museus e índios pataxós? Essa questão levou Teresinha Sueli Franz (2003) a fazer entrevistas e pensar no desenvolvimento da compreensão crítica da arte percebendo quatro níveis de resposta: ingênuos, principian-tes, aprendizes e especialistas. Essa é uma interessante leitura para nós, professores, refletirmos sobre a questão da leitura da imagem e do desenvolvimento estético.

Conhecendo pela pesquisa O restaurador Cláudio Valério comenta no documentário que

a arte do século XIX é, acima de tudo, nacional. Para ele, é no século XIX que o Brasil passa a ter suas raízes nacionais e o Brasil passa a ser Brasil. A vinda da Missão Artística Francesa em 1816 ao Brasil traz a ideia de formar novos artistas e, continua Cláudio, foi ali que D. João VI começou a fundar o Brasil. Uma pesquisa sobre a Missão Artística Francesa e a constituição da Academia Imperial de Belas Artes (Aiba),

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hoje Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EBA/UFRJ), pode ampliar o olhar para o foco do ensino de arte no Brasil e também para os comentários de Cláudio Valério.

Entre os artistas viajantes que vieram com a Missão Artística Francesa chefiada por Lebreton estava Jean Baptiste Debret, pintor francês, que publicou Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, uma série de gravuras sobre paisagens e costumes do Brasil do início do século XIX. Johann Moritz Rugendas, pintor alemão, chegou ao Brasil em 1821 na expedição do barão de Langsdorff viajando pelo Brasil com a finalidade de coletar material para pinturas e desenhos. Sua temática era a paisagem e cenas cotidianas que foram publicadas no livro Viagem pitoresca através do Brasil. Uma pesquisa na internet sobre os artistas viajantes do século XIX pode desencadear olhares significativos ao documentário.

A professora de História da Arte Maria Beatriz de Mello e Souza comenta sobre a historiografia atual que reflete so-bre as reais motivações da vinda da Família Real ao Brasil. Podemos propor uma pesquisa sobre a história da vinda de D. João VI ao Brasil. Investigar e conhecer os diversos aspectos da história que levaram a transferência da corte portuguesa ao Brasil e os empreendimentos aqui realizados por D. João VI, nomeados no documentário, pode ampliar as conexões entre arte e história.

O século XIX foi o século da escravidão no Brasil, e também o século em que surgiram os maiores pintores negros da arte brasileira, segundo Cláudio Valério. Rafael Pinto Bandeira, os irmãos Arthur e João Timótheo da Costa, Rafael Frederico, Estêvão da Silva, entre outros, realizaram no século XIX uma pintura totalmente erudita. A proposição poderia iniciar com uma pesquisa sobre os pintores negros do século XIX e a temática da escravidão. No documentário, Cláudio Valério comenta sobre um fato ocorrido durante a exposição de 1874 na Galeria Imperial, quando a princesa Isabel teria visto um pequeno quadro e perguntado se o artista havia

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recebido um prêmio por ele. Quando informaram a ela que o quadro não havia recebido prêmio nenhum ela instituiu a Medalha Princesa Isabel, mais tarde transformado em Prêmio Princesa Isabel, e o entregou ao artista. A pesquisa poderia se desdobrar também para a cultura afro-brasileira propondo relações com a questão na atualidade.

A temática genuinamente brasileira de Almeida Júnior em sua fase realista foi foco de comentários de Italo Campofio-rito e Cláudio Valério. O Modernismo de 22, para Cláudio Valério, não inaugurou a temática da brasilidade já presente na pintura do século XIX. A proposição poderia iniciar com uma pesquisa envolvendo a temática em Almeida Júnior no século XIX e desdobrar-se para o modernismo brasileiro com a Semana de Arte Moderna. Seria aconselhável assistir ao documentário Modernismo: os anos 20, presente no acervo da DVDteca Arte na Escola.

Amarrações de sentidos: portfólioComo organizar todas as proposições pedagógicas realizadas e que ofereceram experimentação, ampliação e aprofundamento de conhecimentos sobre a arte do século XIX na coleção de He-cilda e Sérgio Fadel? Portfólios podem ser compostos de muitos modos. A série de trabalhos experimentada com a linguagem da fotografia e do desenho em forma de registros visuais de percursos entre a casa e a escola pode se desdobrar em um caderno de trajetos ou de viagem. As proposições de pesquisa sobre a Missão Artística Francesa, o ensino nas academias, a história da vinda da Família Real podem ser agregadas em um arquivo histórico sobre o século XIX. A série de desenhos de observação com a temática natureza-morta pode compor um portfólio em forma de livro de artista contendo também as imagens das obras dos artistas. As proposições pedagógicas realizadas podem também ser organizadas em uma forma de coleção a partir de categorias temáticas. Natureza-morta, cenas de gênero, paisagem, costumes e cenas cotidianas podem ser formas de categorização dessa pequena coleção. As poéticas

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experimentadas podem ser evidenciadas em pequenos textos sobre a forma acadêmica. Essas proposições podem potencia-lizar o percurso com a arte acadêmica do século XIX na coleção de Hecilda e Sérgio Fadel.

Valorizando a processualidadeO processo vivenciado com a forma acadêmica na arte do século XIX pode desencadear reflexões sobre o conhecimento apropriado por alunos e professores. Questionar em grande grupo sobre os momentos significativos dessa experiência pode revelar o que aprenderam nos trajetos pedagógicos percorridos com o docu-mentário. Perceber os avanços no conhecimento sobre academia, arte acadêmica, rigor formal na representação, a história do Brasil e a Missão Artística Francesa proporciona intersecções importantes na compreensão das influências estéticas daquele período que podem ser comentadas e valorizadas nesse processo. Houve nas conversas avanços na compreensão sobre a forma acadêmica do século XIX apresentada no documentário? A experimentação com a linguagem do desenho e da fotografia ampliou olhares para o foco saberes estéticos e culturais? Como foram perce-bidos os comentários no documentário? Eles reverberaram nos comentários sobre os trabalhos, visuais e textuais, produzidos pelos seus alunos? Quais os sentidos despertados com a arte do século XIX? Como organizaram suas produções no caderno de trajetos e no livro de artista? Quais critérios foram adotados para essa organização? O diário de bordo do professor pode contribuir com outras questões para essa avaliação. Destacar os sentidos adquiridos ao longo do processo vivenciado e perceber o que os alunos aprenderam nos trajetos percorridos com as proposições e o documentário são questões importantes nessa avaliação.

Personalidades abordadasEstêvão Roberto da Silva (Rio de Janeiro/RJ, ca.1844-1891) – Pintor e professor. Foi o primeiro pintor negro formado pela Academia Imperial de Belas Artes (Aiba). Em 1880, na 25ª Exposição Geral de Belas Artes da Aiba, Silva protestou, na presença do imperador D. Pedro II, por discordar da premiação que lhe fora des-tinada: o segundo lugar. Uma comissão avaliou sua atitude como insubordinação

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e suspendeu-o das atividades discentes por um ano. A partir da década de 1880, Silva lecionou no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro.

Jean Baptiste Debret (França, 1768 - 1848) – Pintor, desenhista e gravurista. Integrou a Missão Artística Francesa (1816) que tinha entre outros objetivos organizar a criação da Academia Imperial de Belas Artes (Aiba) no Rio de Janeiro, na qual foi professor de pintura. Quando retornou à França, publicou Viagem pitoresca e histórica ao Brasil (1834-1839) que apresenta aspectos da natureza e dos costumes sociais do Brasil do século XIX. Foi aluno de Jacques-Louis David, líder da escola neoclássica francesa.

João Baptista da Costa (Itaguaí/RJ, 1865 - Rio de Janeiro/RJ, 1926) – Pin-tor, desenhista e professor. Em 1885, ingressou na Academia Imperial de Belas Artes (Aiba) e foi aluno de Zeferino da Costa, José Maria de Medeiros e Rodolfo Amoedo. Recebeu o prêmio de viagem ao exterior, a Paris, na 1ª Exposição Geral de Belas Artes em 1894. Em 1906, tornou-se professor da Escola Nacional de Belas Artes (Enba), antiga Aiba, substituindo Rodolfo Amoedo na cadeira de Pintura. Como professor, teve como aluno, entre outros, Candido Portinari. De 1915 até 1926, assumiu a direção da Enba.

Johann Georg Grimm (Alemanha, 1846 - Itália, 1887) – Pintor, professor, decorador. Entre 1868 e 1870, frequentou a Academia de Belas Artes de Munique. Veio ao Brasil em 1878 e realizou frequentes viagens ao interior do Rio de Janeiro e Minas Gerais produzindo estudos de paisagem e fazendas de café. De 1882 a 1884, tornou-se professor de paisagem, flores e animais da Academia Imperial de Belas Artes (Aiba). Em meados de 1884, rompeu com a Aiba por divergências relativas à metodologia de ensino da instituição. Formou, então, um grupo de artistas, mais tarde conhecido como Grupo Grimm, integrado por Castagneto, Caron, Garcia y Vasquez, Francisco Ri-beiro, Antônio Parreiras, França Júnior e Thomas Driendl, com quem exercita a prática da pintura ao ar livre. Em 1887, retorna à Europa.

Pedro Américo de Figueiredo e Mello (Areia/PB, 1843 - Florença/Itália 1905) – Pintor, desenhista, professor. Foi estudante da Academia Imperial de Belas Artes (Aiba) do Rio de Janeiro em 1856 e frequentou, entre 1859 e 1864, a Escola Nacional Superior de Belas Artes de Paris. Após viagem à Itália, retornou ao Rio de Janeiro e foi professor de Desenho, na Aiba. Em 1865, fixou-se em Bruxelas e titulou-se doutor em Ciências Naturais. Retornando ao Rio de Janeiro, continuou como professor de Estética, História da Arte e Arqueologia na Aiba. Pintou Independência ou morte pertencente ao Museu Paulista da Universidade de São Paulo, no Ipiranga.

Victor Meirelles de Lima (Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis/ SC, 1832 - Rio de Janeiro/ RJ, 1903) – Pintor, desenhista e professor. Foi estudante da Academia Imperial de Belas Artes (Aiba) em 1849. Em 1852 ganhou o prêmio de viagem ao exterior e, no ano seguinte, seguiu para a Itália. Continuou sua formação em Paris em 1857 na Escola Superior de Belas Artes.

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Retornou ao Rio de Janeiro em 1861 e no ano seguinte foi nomeado profes-sor de Pintura Histórica na Aiba. A partir de 1886 dedicou-se à execução de panoramas. Entre eles destacam-se: o Panorama circular da cidade do Rio de Janeiro, e Entrada da esquadra legal no porto do Rio de Janeiro.

GlossárioAcademia – Com a academia, a pintura deixa de ser um ofício ensinado pelo mestre ao aprendiz. Converte-se numa disciplina como a Filosofia a ser ensinada em academias. A palavra academia deriva do nome da residência onde o filosofo grego Platão ensinava a seus discípulos e foi gradualmente aplicada a reuniões de homens eruditos em busca de sabedoria. Os artistas italianos do século XVI chamaram primeiramente seus locais de reunião de “academias” para sublinhar aquela igualdade com os humanistas que eles tinham em alto apreço, mas somente no século XVIII essas academias assu-miram gradualmente a função de ensinar arte a estudantes. Assim, os antigos métodos, pelos quais os grandes mestres do passado tinham aprendido seu ofício, triturando cores e ajudando os mais velhos, entraram em declínio. Fonte: GOMBRICH, Ernst H. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC, 1999, p. 379.

Artistas viajantes – Artistas cuja produção se encontra ligada ao ato de viajar. Os desenhos e pinturas têm um caráter documental, acompanhando deslo-camentos no espaço, descobertas de paisagens e tipos humanos. De modo geral, esses artistas integraram expedições artísticas e científicas que, nas Américas, desde sua descoberta, no século XVI, atravessaram territórios com a finalidade de registrar a flora, a fauna e o povo. No Brasil desde a chegada dos portugueses no século XVI até o século XIX, os relatos e registros dos artistas viajantes descrevem as novas paisagens projetando imagens variadas da terra e do homem. Espécimes naturais desconhecidos, animais estranhos e homens “primitivos” compõem o imaginário europeu acerca do Novo Mundo, descrito ora como “inferno”, ora como “paraíso terreal”. A riqueza da produção dos artistas viajantes, seja pelo seu valor artístico, seja por conta de seus pontos de vista e suas descrições acerca das novas terras e gentes, desperta a atenção de analistas de diversas áreas: geógrafos, antropólogos, historiadores da arte e da cultura. Fonte: BELLUZZO, Ana Maria de Moraes. O Brasil dos viajantes: um lugar no universo. São Paulo: Metalivros, 1994. v.2.

Belas Artes (beaux arts) – Expressão registrada em 1752, um século depois da fundação da Academia. Formada a partir do seu modelo, o sintagma Belas letras (belles lettres) é uma expressão em uso desde o século XVI referindo-se a eloquência, gramática e poesia, reconhecidas como arte liberal no sistema medieval de organização dos conhecimentos, envolvendo arquitetura, gravura, pintura e escultura. Fonte: MELLO, Celina Maria Moreira de. A literatura francesa e a pintura: ensaios críticos. Rio de Janeiro: Ed. 7 Letras: Faculdade de Letras da UFRJ, 2004.

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Neoclassicismo – Movimento cultural europeu, do século XVIII e parte do século XIX, que defendeu a retomada da arte antiga, especialmente greco-romana, considerada modelo de equilíbrio, clareza e proporção. O movimento, de grande expressão na escultura, pintura e arquitetura, recusou a arte imediatamente an-terior, o barroco e o rococó, associada ao excesso, à desmedida e aos detalhes ornamentais. À sinuosidade dos estilos anteriores, o neoclassicismo opõe a definição e o rigor formal. Contra uma concepção de arte de atmosfera romântica, apoiada na imaginação e no virtuosismo individual, os neoclássicos defendem a supremacia da técnica e a necessidade do projeto, ou seja, o desenho a comandar a execução da obra, seja a tela ou o edifício. A concepção do ensino de arte se dá por meio de regras comunicáveis, o que se efetiva nas academias de arte, valorizadas como lugar da formação do artista. Fonte: CHILVERS, Ian. Dicionário Oxford de arte. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

BibliografiaAZEVEDO, Célia Maria Marinho de. Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites: século XIX. 3.ed. São Paulo: Annablume, 2004.

BELLUZZO, Ana Maria de Moraes. O Brasil dos viajantes: um lugar no universo. São Paulo: Metalivros, 1994. v.2.

BUENO, Alexei. Arte e história do Brasil na coleção Fadel. Rio de Janeiro: Instituto Cultural Sérgio Fadel, 2008.

______. O Brasil do século XIX na coleção Fadel. Rio de Janeiro: Instituto Cultural Sérgio Fadel, 2004.

BUENO, Eduardo. Brasil: uma história. São Paulo: Ática, 2002.

CAMPOFIORITO, Quirino. História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983.

COLI, Jorge. Como estudar a arte brasileira do século XIX?. São Paulo: Senac São Paulo, 2005.

FRANZ, Teresinha Sueli. Educação para uma compreensão crítica da arte. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2003.

KOSSOY, Boris; CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. O olhar europeu: o negro na iconografia brasileira do século XIX. São Paulo: Edusp, 1994.

MARTINS, Francisco. Arte negra no Brasil do século 18. Disponível em: <http:// afro-latinos.palmares.gov.br/_temp/sites/000/6/download/brasil/artigo-artesplasticas-01.pdf>. Acesso em: abr. 2009.

MELLO, Celina Maria Moreira de. A literatura francesa e a pintura: ensaios críticos. Rio de Janeiro: Ed. 7 Letras: Faculdade de Letras da UFRJ, 2004.

NAVES, Rodrigo. A forma difícil: ensaios sobre arte brasileira. São Paulo: Ática, 1996.

PEDROSA, Mário. Acadêmicos e modernos: textos escolhidos III. Org. Otília Beatriz Fiori Arantes. São Paulo: Edusp, 1998.

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PEVSNER, Nikolaus. Academias de arte: passado e presente. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

Webgrafiaos sites a seguir foram acessados em 7 abr. 2009.

19&20 - Arte Brasileira do Século XIX e Início do XX. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/19e20/?>.

BRASIL Império - Gastronomia e Cultura. Disponível em: <http://www.brasilimperiocultural.com/sitebrasilimperio/ArtigoExibir.aspx?id=608>.

ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de artes visuais. Disponível em: <http://www.itaucultural.org.br/enciclopedia>.

EXPEDIÇÃO de Langsdorff. Disponível em: <www.brasil.discovery.com/features/000914langsdorff/langsdorffhome.html>.

HISTÓRIA - imagem e narrativas. Disponível em: <http://www.historiaima-gem.com.br/bancodeimagens/outrosacessos.php>.

MUSEU da Escola de Belas Artes D. João VI. Disponível em: <http://acd.ufrj.br/museu>.

MUSEU Imperial. Disponível em: <http://www.museuimperial.gov.br>.

MUSEU Nacional de Belas Artes. Disponível em: <http://www.mnba.gov.br>.

PRANCHAS de Debret. Disponível em: <http://www.bibvirt.futuro.usp.br/imagens/pranchas_de_debret>.

FilmografiaA ARTE no auge do Império. Dir. Denoy de Oliveira. São Paulo: Instituto Itaú Cultural, 1989. 1 DVD (14 min.). (Panorama histórico brasileiro). Acompanha material educativo para professor-propositor. DVDteca Arte na Escola.

INDEPENDÊNCIA. Dir. João Batista de Andrade. São Paulo: Instituto Itaú Cultural, 1991. 1 DVD (18 min.). (Panorama histórico brasileiro). Acompanha material educativo para professor-propositor. DVDteca Arte na Escola.

MODERNISMO: os anos 20. Dir. Roberto Moreira. São Paulo: Instituto Itaú Cultural, 1992. 1 DVD (19 min.). (Panorama histórico brasileiro). Acompanha material educativo para professor-propositor. DVDteca Arte na Escola.

RUGENDAS: o ilustrador de mundos. Dir. Walter Silveira e Estela Padovan. São Paulo: Módulos, 1999. 1 DVD (30 min.). Acompanha material educativo para professor-propositor. DVDteca Arte na Escola.

TRAJETÓRIA da luz na arte brasileira por Paulo Herkenhoff. Dir. Alex Gabas-si. São Paulo: Instituto Itaú Cultural, 2001. 1 DVD (56 min.). (Aspectos da cultura brasileira). Acompanha material educativo para professor-propositor. DVDteca Arte na Escola.

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