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SECRETARIA FEDERAL DE CONTROLE INTERNO
RELATÓRIO DE FISCALIZAÇÃO
Ordem de Serviço: 201601348
Município/UF: Tietê/SP
Órgão: MINISTERIO DA EDUCACAO
Instrumento de Transferência: Não se Aplica
Unidade Examinada: TIETE - GABINETE DO PREFEITO
Montante de Recursos Financeiros: R$ 1.645.420,00
1. Introdução
Os trabalhos de campo foram realizados no período de 04 a 08 de abril de 2016 sobre a
aplicação dos recursos do programa 2030 - Educação Básica / 8744 - Apoio à Alimentação
Escolar na Educação Básica no município de Tietê/SP.
A ação fiscalizada destina-se a verificar o cumprimento das normas e orientações relativas à
execução do programa, tendo como objeto: o processo de aquisição de alimentos e distribuição
dos gêneros às escolas das redes estadual/municipal de ensino, a regular oferta de alimentação
nas escolas de acordo com a legislação do programa em vigor e a correta constituição e atuação
dos conselhos no acompanhamento da execução do programa.
O período de exame abrangeu os anos de 2014 e 2015. Os recursos financeiros transferidos
ao município pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, para aplicação no
âmbito do programa sob exame totalizaram no período R$1.645.420,00.
2. Resultados dos Exames
Os resultados da fiscalização serão apresentados de acordo com o âmbito de tomada de
providências para saneamento das situações encontradas, bem como pela forma de
monitoramento a ser realizada por esta Controladoria.
2.1 Parte 1
Nesta parte serão apresentadas as situações evidenciadas que demandarão a adoção de
medidas preventivas e corretivas por parte dos gestores federais, visando à melhoria da
execução dos Programas de Governo ou à instauração da competente tomada de contas
especiais, as quais serão monitoradas pela Controladoria-Geral da União.
2.1.1. Restrição aos trabalhos de fiscalização.
Fato
Foram requeridos, por meio da Solicitação de Fiscalização – SF n° 201601348-01, datada
de 05 de maio de 2016, todos os cardápios servidos no período entre janeiro de 2014 e
dezembro de 2015 e o controle da quantidade de merenda e ou gênero alimentício servido,
que atestasse cada nota fiscal paga no período em exame.
Em 09 de maio de 2016, data limite para o atendimento da solicitação, não foram
apresentados controles que suportassem as quantidades de gêneros alimentícios pagos com
as notas fiscais, sendo apresentadas apenas as quantidades de merendas servidas. Já com
relação aos cardápios foi apresentado apenas parte deles e com estrutura diferenciada em
relação ao edital, com alterações quantitativas e qualitativas. Ou seja, houve uma alteração
na estrutura dos cardápios que não está formalizada no processo. Como exemplo da situação,
no edital constavam sete tipos de cardápios (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7), mas no mês de abril de 2015
constaram apenas cinco (1, 3, 4, 5 e 6). A estrutura também foi modificada: o cardápio 1 do
edital, por exemplo, previa desjejum, almoço e lanche, enquanto que o cardápio 1 do mês de
abril de 2015 previa desjejum, colação, almoço, lanche e lanche de saída. Apesar disto, nos
controles apresentados pelo gestor para embasar os pagamentos das notas fiscais, constou a
mesma estrutura do edital, com cardápios numerados de 1 a 7.
Em 11 de maio de 2016, foi questionada a situação por meio da Solicitação de Fiscalização
– SF n° 201601348-02. Por meio de Ofício sem número, de 11 de maio de 2016, o gestor se
manifestou da seguinte forma:
“Com relação a questão quantitativa, verifica-se que o processo foi finalizado no ano de
2013, sendo que no ano de 2014, houve acréscimos de alunos em cada escola, fato pelo qual
o número de refeições aumentou. Ademais é certo que com a fiscalização da Prefeitura
acerca da qualidade das refeições servidas, fizeram com que os alunos tivessem maior
aceitação da merenda servida, fato pelo qual dependendo do cardápio a taxa de repetição
tornou-se maior.
Importante ainda, mencionar que houve a inauguração no ano de 2015, da Escola “Prof.
Romeu Rui” para atendimento de alunos dos Berçários 1 e 2 e maternais 1 e 2, fato pelo
qual, por si só, foi determinante para o aumento no número de refeições servidas.
Ademais, com base nos cardápios verifica-se que periodicamente os cardápios são
modificados para que haja maior rotatividade de refeições, sendo certo que com essa
variação a aceitação das crianças é melhor, fato pelo qual ocorre maior consumo da
merenda.
Importante, ainda, frisar que não há limite de repetição por criança, uma vez que muitas
daquelas crianças estudam nas escolas, tem como única a refeição servida nas escolas, fato
pelo qual há caráter social no desenvolvimento do fornecimento de alimentação.
Diante dessa realidade é certo que não há como limitar o número de repetições que uma
determinada criança pode realizar, sob pena de se testar privando o aluno carente e que
necessita dessa alimentação.
Ainda, convém informar que o ano de 2015 passamos por fiscalização do FNDE em parceria
com a UNIFESP, a qual avaliou toda a estrutura do fornecimento da merenda escolar, tendo
sido muito bem avaliados o fornecimento de merenda nas escolas, meios de controle,
qualidade e quantidade disponível por aluno.
Assim, resta certo que a questão de quantidade de refeições servidas é variável por dois
motivos: de acordo com o número de alunos na unidade escolar e de acordo com a taxa de
repetição de cada aluno, o qual dependendo do cardápio há grande procura por parte dos
alunos.
Já com a questão da modificação dos cardápios, convém esclarecer que no Termo
Descritivo há menção clara de que os cardápios poderão ser alterados, conforme
transcrição abaixo:
2.5.1 – Os cardápios deverão ser submetidos à análise e aprovação da Prefeitura 40
(quarenta) dias antes de sua vigência, e poderão ser alterados desde que solicitado pela
Seção de Nutrição com antecedência de 72 (setenta e duas) horas de sua implantação.
A modificação não faz necessária a formalização no contrato, haja vista que cada refeição
servida já tem seu preço definido em contrato, sendo apenas a junção de produtos diferentes,
dentro de um cardápio formados pelos valores pré-estabelecidos e previamente autorizados
a modificação pelos termos do processo licitatório.
Com relação aos controles, verifica-se que o Nutricionista F. está de férias, fato pelo qual
alguns documentos solicitados encontram-se em poder do funcionário. Tendo em vista que
o ofício da presente fiscalização foi entregue no dia 05 de maio de 2016, não houve tempo
hábil antes das férias do servidor para a coleta dos dados solicitados.
Porém, informamos que outra servidora que se encontrava lotada na Secretaria de
Educação, estará disponível no dia 12 de maio de 2016 para esclarecimentos que se fizerem
necessários.”
Com esta resposta nem o gestor esclareceu os questionamentos, tampouco a servidora que
estaria disponível em 12 de maio de 2016.
Com relação aos controles, não restou esclarecido como a Prefeitura vem atestando as
quantidades de gêneros alimentícios das respectivas notas fiscais, uma vez que o controle
apresentado trata apenas das quantidades de merendas servidas sem correlacionar com os
quantitativos de gêneros alimentícios pagos.
Já com relação aos cardápios, o questionamento fazia referência à quantidade de tipos de
cardápios de 1 a 7 e não à quantidade de merendas servidas. O outro ponto questionado diz
respeito à alteração na estrutura dos cardápios e não aos tipos de alimentos em cada cardápio.
Sendo assim, registra-se que houve restrição, por parte da prefeitura, aos trabalhos de
fiscalização da aplicação dos recursos federais repassados ao município no âmbito do Pnae,
ao deixar de fornecer a documentação solicitada pela CGU.
Nesse contexto, a apresentação de documentação solicitada de forma tempestiva se mostra
imprescindível para a realização dos trabalhos de fiscalização e sua exigência encontra
fundamento no art. 26 da Lei 10.180/2001, verbis, que estatui ser obrigatória a prestação
de informação, documento ou processo exigido pela CGU. Acrescente-se, ainda, que o
mesmo comando normativo sujeita a sanções qualquer pessoa que venha a criar obstáculo à
realização das atividades da CGU.
##/Fato##
2.1.2. Superfaturamento por quantidade de, no mínimo, R$ 366.872,38 para os anos
de 2014 e 2015.
Fato
Foi verificado um superfaturamento de R$ 366.872,38 referente à execução do Programa
Nacional de Alimentação Escolar – Pnae nos anos de 2014 e 2015, no âmbito do processo
Pregão Presencial nº 22/2013.
Comparando-se as quantidades pagas com as quantidades de alunos informadas pela
Prefeitura, obtiveram-se os dois quadros a seguir.
Quadro – Cálculo do superfaturamento por quantidade no ano de 2014
Educação Básica e Projetos – Cardápio 3 para o ano de 2014
Emeb Educandário Rosa Mística
Período entre janeiro e junho de
2014 Lanche Manhã Almoço
Lanche
Tarde Total
Quantidade de merendas pagas 19640 26028 5954
Quantidade de merendas em
função da quantidade de alunos
informados pela Prefeitura para
o ano de 2014
4982 4982 4982
Diferença 14658 21046 972
Valor unitário 2,06 3,2 2,22
Valor R$ 30.195,48 R$ 67.347,20 R$ 2.157,84 R$ 99.700,52
Período entre julho e dezembro
de 2014 Lanche Manhã Almoço
Lanche
Tarde
Quantidade de merendas pagas 21081 25354 6900
Quantidade de merendas em
função da quantidade de alunos
informados pela Prefeitura para
o ano de 2014
6254 6254 6254
Diferença 14.827,00 19.100,00 646,00
Valor unitário 1,95 3,03 2,1
Total R$ 28.912,65 R$ 57.873,00 R$ 1.356,60 R$ 88.142,25
Total superfaturado por
quantidade R$ 187.842,77
Fonte: Planilha de controle de distribuição das merendas da Prefeitura Municipal.
Quadro – Cálculo do superfaturamento por quantidade no ano de 2015
Educação Básica e Projetos – Cardápio 3 para o ano de 2015
Período entre 01/01/2015 a
31/04/2015 Lanche Manhã Almoço
Lanche
Tarde Total
Quantidade de merendas
pagas 10574 11988 2110
Quantidade de merendas em
função da quantidade de
alunos informados pela
Prefeitura para o ano de 2015
(34)
1836 1836 1836
Diferença 8738 10152 274
Valor unitário R$ 1,96 R$ 3,30 R$ 2,10
Valor R$ 17.126,48 R$ 33.501,60 R$ 575,40 R$ 51.203,48
Período entre 01/05/2015 a
31/12/2015 Lanche Manhã Almoço
Lanche
Tarde
Quantidade de merendas
pagas 27985 29462 6230
Quantidade de merendas em
função da quantidade de
alunos informados pela
Prefeitura para o ano de 2015
(34)
5168 5168 5168
Diferença R$ 22.817,00 R$ 24.294,00 R$ 1.062,00
Valor unitário R$ 2,07 R$ 3,22 R$ 2,23
Total R$ 47.231,19 R$ 78.226,68 R$ 2.368,26 R$ 127.826,13
Total superfaturado por
quantidade R$ 179.029,61
Fonte: Planilha de controle de distribuição das merendas da Prefeitura Municipal.
Para o cálculo foi considerado uma merenda por aluno (sem considerar a possível repetição
e possíveis faltas do alunado). Ademais, a Diretora da Escola informou haver “pouca
repetição” de merendas.
A escola que apresentou a grande divergência entre o quantitativo de alunos e o quantitativo
de merendas servidas foi a Emeb Educandário Rosa Mística e, portanto, o cálculo do
superfaturamento foi baseado nesta escola.
Somando-se R$ 179.029,61 (2015) com R$ 187.842,77 (2014) obtemos R$ 366.872,38, que
é o valor total superfaturado por quantidade, considerando somente a Escola Emeb
Educandário Rosa Mística.
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
2.2 Parte 2
Nesta parte serão apresentadas as situações detectadas cuja competência primária para
adoção de medidas corretivas pertence ao executor do recurso federal.
Dessa forma, compõem o relatório para conhecimento dos Ministérios repassadores de
recursos federais, bem como dos Órgãos de Defesa do Estado para providências no âmbito
de suas competências, embora não exijam providências corretivas isoladas por parte das
pastas ministeriais. Esta Controladoria não realizará o monitoramento isolado das
providências saneadoras relacionadas a estas constatações.
2.2.1. Ausência de orçamento detalhado que demonstrasse os custos envolvidos na
contratação.
Fato
Visando o fornecimento de alimentação escolar aos alunos do município, a Prefeitura de
Tiête/SP realizou, em junho de 2013, o Pregão Presencial n° 22/2013.
O objeto da licitação previa a contratação de empresa especializada para a execução de
serviços contínuos para atender o programa de alimentação escolar, contemplando o preparo
e fornecimento de todos os gêneros alimentícios, insumos, armazenamento, distribuição,
supervisão, mão de obra especializada, reposição e manutenção de equipamentos e utensílios
necessários para a execução dos serviços.
Em análise do Processo Administrativo n° 54/2013, pertinente ao Pregão, verificou-se que
não consta o orçamento detalhado do custo global da contratação e tampouco é demonstrada,
de forma justificada, a motivação técnica para os quantitativos de serviços estimados para a
licitação.
No processo administrativo não há documentação que evidencie que a prefeitura tenha
elaborado orçamento detalhado em planilhas que expressassem a composição dos custos que
compunham o valor dos cardápios, em atendimento ao disposto no inciso II do § 2º do art.
7º da Lei 8.666/1993.
O número de alunos a serem atendidos foi estimado em “mais de seis mil”, conforme consta
no documento intitulado “Justificativa”, assinado pelo Secretário Municipal de Educação.
Não há informação sobre o número de alunos por escola e/ou turma. O total de cardápios/dia,
para atendimento do alunado, foi estimado em 10.929, de acordo com os orçamentos
apresentados. De acordo com dados do Censo Escolar, disponibilizado no portal do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, o município possuía, no ano
letivo de 2013, 7.683 alunos matriculados na rede pública de ensino (municipal e estadual).
Constam no processo três orçamentos, apresentados pelas empresas Geraldo J. Coan Cia
Ltda. (CNPJ n° 62.436.262/0001-21), Nutrivida Alimentação e Serviços Ltda. ME (CNPJ
n° 05.688.503/0001-15) e Filog Comércio e Serviço de Refeições Ltda. EPP (CNPJ n°
08.871.367/0001-92), sendo que em nenhum há qualquer tipo de detalhamento dos custos
previstos para elaboração dos cardápios.
Nesses orçamentos as empresas apresentam apenas o valor unitário de cada cardápio, sem
detalhar os custos inerentes à formação de preços dos mesmos. Não há, por exemplo,
informações sobre o custo da mão de obra empregada, dos insumos, do BDI, dos gêneros
alimentícios, etc.
Cabe ressaltar, ainda, que não há registro, no processo administrativo, de que tenha sido
considerado nos orçamentos, e por conseguinte no certame licitatório, estudo sobre a evasão
de alunos, o que impacta no número de cardápios servidos e, consequentemente, no valor do
contrato.
Pelo exposto, verifica-se que a licitante vencedora foi contratada pela prefeitura sem se ter
conhecimento se os custos envolvidos na formação dos preços apresentados por ela eram ou
não condizentes com o objeto da licitação.
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
2.2.2. Realização de orçamento estimativo junto a empresas que possuem algum tipo
de relacionamento, ainda que indireto, entre seus representantes e sócios.
Fato
Os orçamentos prévios pertinentes ao Pregão n° 22/2013, foram fornecidos pelas empresas
Geraldo J. Coan Cia Ltda., Nutrivida Alimentação e Serviços Ltda. ME e Filog Comércio e
Serviço de Refeições Ltda. EPP.
A empresa Geraldo J. Coan era a prestadora do serviço de fornecimento de merenda escolar
no município de Tiête/SP, por conta do Contrato n° 118/10 então vigente. A empresa tem
como um de seus sócios a Coroa Participações Ltda. (CNPJ n° 10.922.572/0001-81), com
50% de participação, que por sua vez era proprietária, dentre outras, da ERJ Administração
e Restaurantes de Empresas Ltda. (CNPJ nº 44.164.606/0001-38).
A empresa Nutrivida tem como seu principal proprietário (CPF n° ***.815.658-**) o ex-
sócio fundador da empresa Fercel - Comércio de Produtos de Limpeza e Descartáveis Ltda.,
primeiro nome empresarial da atual Angá Alimentação e Serviços Ltda. (CNPJ n°
11.282.223/00001-05), empresa essa que veio a ser a vencedora do Pregão Presencial n°
22/2013. A outra sócia (CPF n° ***.814.628-**) da empresa Nutrivida teve vínculos
empregatícios com as empresas Nutri & Saúde Refeições Coletivas Ltda. (CNPJ n°
05.081.979/0004-36) e NSX Administradora e Participações Societárias Ltda. (CNPJ n°
10.740.039/0001-07), ambas dos mesmos proprietários da empresa AEX Alimenta
Comércio de Refeições e Serviços Ltda. (CNPJ n° 11.404.495/0001-30) participante do
Pregão vencido pela Angá.
A empresa Nutrivida não possuía empregados registrados em seu quadro funcional nos anos
2009, 2010, 2011, 2012 e 2013.
O orçamento apresentado pela Filog Comércio e Serviço, sediada em Campinas/SP, é
assinado pelo Diretor Comercial (CPF n° ***.187.608-**) da empresa que também é ex-
funcionário da empresa Geraldo J. Coan. Atualmente o nome dele consta, desde o ano de
2009, como funcionário da empresa F G Indústria e Comércio de Refeições Ltda. (CNPJ n°
22.792.535/0001-85) que tem sede em Manaus/AM.
Cabe ressaltar, ainda, que um dos sócios (CPF n° ***.241.378-**) da Angá, no período da
licitação, em junho de 2013, era funcionário da empresa ERJ e, entre 2003 e 2006, foi
funcionário da Geraldo J. Coan. Uma ex-sócia (CPF n° ***.438.611-**) da Roca Cozinhas
Industriais Ltda., segundo, e penúltimo, nome empresarial utilizado pela Angá, também foi
ex-funcionária das empresas Geraldo J. Coan e ERJ.
As informações relacionadas a vínculos empregatícios de funcionários, de sócios das
empresas, da mesma forma da que apresenta o número de empregados registrados na
empresa Nutrivida, foram obtidas a partir de consultas realizadas em sistemas corporativos
da CGU.
Pelo exposto, constata-se que os orçamentos prévios utilizados para estimar o valor da
contratação foram realizados junto a empresas com ligação entre seus sócios e dirigentes, e
todos de alguma forma com passagens pela empresa Geraldo J Coan, sediada em Tiête/SP,
até então fornecedora da merenda escolar no município. Tal fato comprometeu a elaboração
do orçamento estimativo utilizado no Pregão n° 22/2013.
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
2.2.3. Evidência de ligação, ainda que indireta, entre as duas únicas empresas
participantes do certame licitatório.
Fato
Nove empresas retiraram o Edital de Licitação pertinente ao Pregão Presencial n° 22/2013.
Na fase de lance participaram somente as empresas Angá Alimentação e Serviços Ltda. e
AEX Alimenta Comércio de Refeições e Serviços Ltda. (CNPJ n° 11.404.495/0001-30).
A vencedora do certame licitatório foi a empresa Angá Alimentação e Serviços Ltda com
uma proposta no valor de R$5.600.000,00. Em 21 de junho de 2013, a prefeitura firmou o
Contrato n° 32/2013, com a Angá, no valor de R$5.599.962,00.
O valor contratado ficou cerca de 5,35% maior do que a média (R$5.314.287,40) dos três
orçamentos obtidos pela prefeitura. No entanto, após questionamento do Tribunal de Contas
do Estado de São Paulo – TCESP a respeito do fato, a prefeitura e a Angá acordaram em
reduzir o valor do contrato para o valor orçado. O ato foi formalizado, entre as partes, por
meio do 3° Termo de Aditamento, assinado em 01 de julho de 2014.
Cabe ressaltar que uma das sócias da empresa Nutrivida, cujo sócio principal foi fundador
da Angá, é ex-funcionária da Nutri & Saúde Refeições Coletivas e da NSX Administradora
e Participações Societárias Ltda., que conforme apontado em item deste Relatório são dos
mesmos proprietários da empresa AEX Alimenta Comércio de Refeições e Serviços Ltda.
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
2.2.4. Ausência de designação formal do fiscal do contrato.
Fato
Para o contrato sob exame, a prefeitura não designou formalmente um representante para
acompanhar e fiscalizar sua execução, conforme preceitua o art. 67 da Lei 8.666/93.
Deve-se salientar que o fiscal de contratos é figura essencial para o acompanhamento da
correta e adequada execução contratual. Em decorrência da atuação eficaz do fiscal, pode-
se evitar eventuais prejuízos ao Erário e até mesmo propiciar economia à Administração
Pública.
Ademais, cabe citar que a Lei de Licitações não facultou ao gestor a nomeação do fiscal de
contrato; firmou uma determinação insculpida no art. 67 da respectiva lei.
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
2.2.5. Ausência de justificativa para os aditamentos que acresceram cerca de 28% ao
valor original do Contrato n° 32/2013. Ausência de demonstração da vantajosidade das
prorrogações contratuais.
Fato
O contrato firmado entre a prefeitura de Tiête/SP e a empresa Angá foi aditado nove vezes.
Os termos de aditamentos trataram da prorrogação da vigência, do reajuste e da redução dos
valores inicialmente pactuados.
O valor inicial do contrato de R$5.599.962,00 sofreu alteração, após desconto acordado entre
a prefeitura e a Angá, visando atender apontamento do Tribunal de Contas do Estado de São
Paulo – TCESP que questionou a contratação da vencedora do certame por valor maior do
que a média dos orçamentos realizados.
Com a redução formalizada por meio do 3° Termo de Aditamento, firmado em 01 de julho
de 2014, o valor do contrato passou a ser de R$5.314.168,00.
Outra alteração no valor do contrato ocorreu em decorrência de atendimento à solicitação de
reajuste pleiteada pela contratada. O reajuste de cerca de 6,45% foi formalizado por meio do
6° Termo de Aditamento, datado de 04 de maio de 2015. Por conseguinte, o valor do contrato
foi alterado para R$5.656.931,84.
Em 14 de julho de 2015, a Angá encaminhou à prefeitura nova solicitação de reajuste do
valor do Contrato n° 32/2013.
A procuradoria jurídica do município, por meio do Memorando n° 38/2015, datado de 30 de
agosto de 2015, assinado pela Diretora do Departamento de Consultoria e Análise, se
manifestou pelo indeferimento do reajuste solicitado. Entendeu a parecerista ser indevido o
aumento pleiteado, considerando que o contrato já havia sido reajustado em maio daquele
ano, e que, portanto, novo reajuste só poderia ocorrer após decorrido o prazo de doze meses.
Em que pese o parecer contrário, o prefeito municipal por meio do 8° Termo de Aditamento,
assinado em 30 de novembro de 2015, autorizou um acréscimo no montante de
R$477.095,49 ao contrato.
Assim, considerando-se os reajustes ocorridos por ocasião do 6° e 8° Termos de Aditamento,
o valor do Contrato n° 32/2013 passou a ser R$6.134.027,33.
Por meio do 9° Termo de Aditamento, datado de 04 de janeiro de 2016, foi prorrogada a
vigência do contrato até 02 de janeiro de 2017 e alterado o valor do contrato para
R$6.800.000,00. Em relação ao último termo de aditamento, o aumento foi de cerca de
10,85%.
Não há no processo administrativo, pertinente à contratação, nenhum documento que embase
o reajuste e a alteração de valores formalizados pela prefeitura por meio do 8° e 9° Termos
de Aditamento.
Por fim, cabe registrar que a prefeitura, em descumprimento aos preceitos contidos na Lei
nº 8.666/93, em especial o disposto no inciso II, § 2o, do artigo 57, reajustou e/ou prorrogou
o prazo de vigência de oito dos nove termos de aditamento, do contrato sob exame, sem a
demonstração da vantajosidade alcançada pela municipalidade com as prorrogações
contratuais.
Saliente-se que os orçamentos que constam no Processo Administrativo n° 54/103, a fim de
demonstrar a vantajosidade da quarta prorrogação contratual, estão em nome das empresas
Silvana Silva Lemos - ME (CNPJ n° 19.205.841/0001-63), cuja proprietária é contadora da
empresa Angá e de diversas outras do mesmo grupo, da TW Serviços de Alimentação Ltda.
ME (CNPJ n° 07.634.008/0001-59), empresa sediada em Santos/SP e que tem capital de
R$10.000,00, conforme registro na Junta Comercial de São Paulo – Jucesp, e da Filog que
já havia fornecido cotação de preços por ocasião da elaboração do orçamento estimativo do
certame licitatório.
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
2.2.6. Discrepâncias entre os preços cobrados pelas mesmas refeições servidas nos
diversos cardápios. Ausência de detalhamento de custos que permitam comprovar a
compatibilidade dos valores cobrados pelas refeições.
Fato
Na análise do contrato firmado entre a prefeitura e a Angá, constatou-se que os mesmos tipos
de refeições apresentam valores diferentes na composição dos sete cardápios existentes e até
dentro de um mesmo cardápio.
As refeições denominadas Lanche da manhã, da tarde, de entrada (exceto pelo lanche de
entrada do cardápio “6”) ou apenas lanche são compostas basicamente pelos mesmos
produtos (um suco de polpa ou uma bebida láctea e um pão de leite ou francês com um
recheio que pode ser de queijo, requeijão, presunto ou margarina), mas, no entanto,
apresentam preços totalmente diferentes.
No cardápio “7”, composto por “Lanche da manhã”, “Almoço” e “Lanche da tarde”, por
exemplo, o “Lanche da tarde” tem um custo, após o 6° Termo de Aditamento, de R$2,15. Já
o “Lanche da manhã” com a mesma composição custa R$3,31, ou seja, cerca de 55% a mais.
Os per capitas de insumos que compõem as refeições são os mesmos.
Nos demais cardápios, o preço desse tipo de lanche varia entre R$2,07 e R$2,54.
Outra discrepância bastante acentuada é a encontrada ao compararmos os valores cobrados
entre o “Lanche de entrada” que compõe o cardápio “6” (composto por uma bebida láctea e
biscoito salgado ou maisena), pelo qual é cobrado R$2,48, e o valor do almoço do cardápio
“7” (composto de arroz, feijão, algum tipo de carne ou omelete, salada e fruta ou gelatina de
sobremesa) que tem um custo de R$2,85.
O custo estimado do “Lanche de entrada” não chega nem a R$1,00, considerando-se somente
os valores e per capita dos insumos utilizados. Deve-se acrescentar a essa estimativa o valor
inerente aos custos da empresa, os quais não foram detalhados na contratação, mas que
evidentemente não podem corresponder a 148% (no caso de os insumos utilizados custarem
R$1,00 por lanche).
As comparações demonstram que não se justificam, em princípio, as variações de preços
apontadas nos dois exemplos citados. Essas situações podem ter gerado um prejuízo
significativo aos erários municipal e federal.
A ausência da elaboração de um orçamento estimativo detalhado que demonstre a
composição dos custos unitários contribui para que seja possível a ocorrência de situações
desse tipo.
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
2.2.7. Variação de preços dos gêneros alimentícios adquiridos com recursos
financeiros do Pnae evidenciando a ausência do devido processo licitatório. Preço
exorbitante pago pela unidade do ovo de galinha.
Fato
Na análise das prestações de contas do Pnae, referentes aos anos de 2014 e 2015,
encaminhadas pelo município ao FNDE, verificou-se que os gêneros alimentícios que
constam nas notas fiscais apresentam variação de preços nos dois anos analisados.
Os preços da quase totalidade dos insumos adquiridos variaram de um ano para o outro e até
mesmo no mesmo ano. Somente dois itens não tiveram os valores alterados nas notas fiscais
das prestações de contas analisadas: o “Bolo Simples”, cujo valor do kg ficou em R$20,52
no período, e o item denominado “Casal”, cujo valor do kg ficou em R$7,55.
A título exemplificativo, das variações de preços ocorridas, pode-se citar o caso do Óleo de
Soja (embalagem de 900 ml) que em notas fiscais do ano de 2014 apresentava os seguintes
preços: R$3,95 (abril), R$4,35 (junho) e R$4,99 (julho), e nas do ano de 2015 R$3,98 (abril)
R$3,65 (maio) e R$3,98 (setembro).
O fato corrobora com o apontado neste relatório de que a prefeitura do munícipio não
promoveu o devido processo licitatório para aquisição dos gêneros alimentícios, visto que
nas aquisições efetuadas por meio de um processo licitatório os valores das mercadorias não
poderiam variar da forma citada.
Outro fato relevante verificado nas prestações de contas foi o valor cobrado pelo ovo de
galinha em três notas fiscais apresentadas pela Angá. Na prestação de contas do ano de 2014,
constam duas Notas Fiscais de n°s 000.000.335 e 000.000.408, nas quais os ovos custaram
R$12,15 a unidade - no caso foram adquiridos 69 e 77 ovos, respectivamente. Na prestação
de contas de 2015, consta na Nota Fiscal n° 000.001.871 que foram adquiridos pela
prefeitura 177 ovos pelo valor de R$11,95 cada. Nas demais notas fiscais em que constam a
aquisição de ovos, o valor da unidade variou entre R$0,40 e R$0,45.
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
2.2.8. Fragilidade nos controles de entrega e distribuição de merendas.
Fato
A empresa Angá Alimentação e Serviços Ltda. (CNPJ 11.282.223/0001-05) é responsável
pela merenda no município e distribui os alimentos semanalmente em cada escola.
Com isso, foram visitadas seis escolas no município de Tietê/SP para verificar como são
realizados os controles de entrega das merendas.
As escolas selecionadas foram:
1) Emeb Profª Aglassi Elinda Fernandes Rodrigues;
2) Emeb Athayde Daniel;
3) Emeb Educandário Rosa Mística;
4) Emeb Profª Lyria de Toledo Pasquali;
5) Emeb Profª Maria Carmela Rondo Marcuz;
6) Emeb Vereador Nelson Pinto.
Em cada escola foram entrevistadas as respectivas Diretoras ou quem estava responsável
pela escola no momento da entrevista, assim como as merendeiras.
Nas seis escolas visitadas foram prestados os mesmos esclarecimentos sobre o controle da
merenda: é preenchida uma planilha com a quantidade diária de merendas que foram
servidas na quinzena anterior. Apesar de estas planilhas serem assinadas pelas diretoras,
quem informa a quantidade que deve ser preenchida é uma funcionária da empresa Angá,
chamada de supervisora.
Ou seja, a própria empresa determina a quantidade de merendas que cada escola deve
receber. Além disto, não são computadas as quantidades de merendas servidas efetivamente
em cada escola; não existe este tipo de controle. As Diretoras informaram que as
supervisoras da empresa faziam uma conta em função da quantidade de carne consumida,
mas elas não sabiam mais detalhes.
Outra fragilidade nos controles é a falta de balança ou outro equipamento para medir os
produtos entregues pela agricultura familiar.
Ademais, a falta de um controle adequado é demonstrada pela repetição dos números de
merenda em todos os dias da semana, como por exemplo:
Quadro - Merendas servidas por escola no dia 16 de abril de 2015
Creches - Cardápio 1
Dia 16 de abril de 2015
Desjeju
m Almoço Lanche
Mamadeira
.
Emeb Artemísia de Almeida Barros 80 80 70 120
Emeb Gervasio de Jesus Sutillo Florian 50 50 60 53
Emeb Lázaro Aguirre de Siqueira Filho 50 50 50 27
Emeb prof. Aparício de Campos Madureira 70 75 70 80
Emeb prof. Esaú de Camargo Pontes 100 150 120 140
Emeb Roberto Sottovia 85 75 85 60
Emeb Vereador Nelson Pinto 50 75 50 120
Emeb Dr. Ruy Silveira Melo 30 30 30 107
Emeb Prof Romeu Rui 30 50 30 36
Emeb Maria de Lourdes Toledo Teixeira 20 20 20 53
Emeb Athayde Daniel 18 25 18 40
Total Diário 583 680 603 836
Fonte: Planilha de controle de distribuição das merendas da Prefeitura Municipal.
Este exemplo mostra que a grande maioria dos números são dezenas redondas.
Quadro - Merendas servidas por escola na segunda quinzena de abril de 2015
Creches - Cardápio 1
Dia
16
Dia
17
Dia
22
Dia
23
Dia
24
Dia
27
Dia
28
Dia
29
Dia
30
Desj. Desj. Desj. Desj. Desj. Desj. Desj. Desj. Desj.
Emeb Artemísia de
Almeida Barros 80 80 80 75 80 80 80 80 80
Emeb Gervasio de
Jesus Sutillo Florian 50 50 50 40 50 50 50 50 50
Emeb Lázaro Aguirre
de Siqueira Filho 50 50 50 40 50 50 50 50 50
Emeb prof. Aparício
de Campos Madureira 70 70 70 70 70 70 70 70 70
Emeb prof. Esaú de
Camargo Pontes 100 100 100 100 100 100 100 100 100
Emeb Roberto
Sottovia 85 85 85 60 85 85 85 85 100
Emeb Vereador
Nelson Pinto 50 50 50 45 50 50 50 50 50
Emeb Dr. Ruy Silveira
Melo 30 30 30 30 30 30 30 30 30
Emeb Prof Romeu Rui 30 30 30 35 30 30 30 30 30
Emeb Maria de
Lourdes Toledo
Teixeira
20 20 20 20 20 20 20 20 20
Emeb Athayde Daniel 18 18 18 18 18 18 18 18 18
Total 583 583 583 533 583 583 583 583 598
Fonte: Planilha de controle de distribuição das merendas da Prefeitura Municipal.
Neste outro exemplo observa-se que dia após dia os números praticamente se repetem.
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
2.2.9. Descrições das notas fiscais não correspondem aos gêneros alimentícios
constantes dos respectivos cardápios.
Fato
Com o objetivo de contratar empresa para a preparação e fornecimento de alimentação escolar
aos alunos do município, a Prefeitura de Tiête/SP realizou, em junho de 2013, o Pregão
Presencial n° 22/2013.
Apenas duas empresas participaram da fase de lance, empresas Angá Alimentação e Serviços
Ltda. (CNPJ 11.282.223/0001-05) e AEX Alimenta Comércio de Refeições e Serviços Ltda.
(CNPJ n° 11.404.495/0001-30). A vencedora do certame licitatório foi a empresa Angá
Alimentação e Serviços Ltda, sendo firmado o Contrato n° 32/2013, no valor de
R$5.599.962,00, em 21 de junho de 2013.
Foram comparados os gêneros alimentícios descritos nas notas fiscais emitidas pela empresa
Angá Alimentação e Serviços Ltda. com os respectivos cardápios da primeira quinzena de
abril de 2015, e observou-se que diversos produtos constantes dos cardápios não estavam
descritos nas respectivas notas fiscais do período.
Quadro – Comparação entre as descrições dos produtos dos cardápios e as respectivas
notas ficais para a primeira quinzena de abril de 2015
Tipos de
cardápios
servidos
diariamente
Cardápios da primeira quinzena de
abril de 2015
Apresenta correspondente
nas notas ficais?
1
suco de mamão com laranja não
suco de abacaxi com couve não
suco de laranja com cenoura não
suco de maça com laranja não
polenta ao molho de tomate com carne
moída não
carne em cubos suína com amndioca não
3
carne em cubos suína com mandioca não
salada de chicória não
4 e 6
biscoito salgado não
rosquinha de chocolate não
Fonte: Notas fiscais apresentadas pela Prefeitura Municipal e respectivos cardápios.
As notas fiscais utilizadas para comparação foram:
Tabela – Notas fiscais da primeira quinzena de abril de 2015
Nota fiscal número Valor Data
1710 R$ 23.547,68 15/04/2015
1711 R$ 40.715,71 15/04/2015
1712 R$ 28.105,49 15/04/2015
1713 R$ 39.694,30 15/04/2015
1714 R$ 198.094,78 15/04/2015
Total R$ 330.157,96
Fonte: Notas fiscais apresentadas pela Prefeitura Municipal.
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
2.2.10. Notas fiscais emitidas após a entrega dos produtos.
Fato
O processo de distribuição, controle, atesto e pagamento ocorre da seguinte forma: a empresa
Angá Alimentação e Serviços Ltda. (CNPJ 11.282.223/0001-05), responsável pela merenda
no município, distribui os alimentos semanalmente em cada escola. Cada Diretora preenche e
assina os quantitativos de merendas que devem ser pagos para a empresa quinzenalmente.
Após este controle, a empresa emite as notas fiscais. Procedendo desta forma, a empresa
apenas emite a nota fiscal ao final de cada quinzena, e com isso circula com as mercadorias
sem as respectivas notas fiscais.
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
2.2.11. Quantitativo de gêneros alimentícios das notas fiscais não correspondem ao
quantitativo de merendas entregues.
Fato
Conforme pode ser observado nos quadros a seguir, as quantidades descritas nas notas fiscais
emitidas pela empresa Angá Alimentação e Serviços Ltda. (CNPJ 11.282.223/0001-05)
vencedora do certame Pregão Presencial nº 22/2013, não correspondem aos respectivos
controles para o mesmo período.
Quadro – Quantitativo de “carne bovina em cubos” servida na primeira quinzena de
abril de 2015 registrados nos controles.
Carne bovina em cubos
Data Cardápio 1 Cardápio 3 Cardápio 4 Cardápio 5 Cardápio 6 Total
01/04/2015 - - - - - -
02/04/2015 - - - - - -
03/04/2015 - - - - - -
04/04/2015 - - - - - -
05/04/2015 - - - - - -
06/04/2015 - - - - - -
07/04/2015 - - - - - -
08/04/2015 - - - - - -
09/04/2015 - - - - - -
10/04/2015 - - - - - -
11/04/2015 - - - - - -
12/04/2015 - - - - - -
13/04/2015 - - - - - -
14/04/2015 - - - - - -
15/04/2015 705 1.355 4.450 - - -
Total de
porções
pelos
controles
(unidade
com 40 g)
705 1.355 4.450 0 0 6.510
Total em
gramas (g) 260.400
Total em
Kg
registrados
nos
controles
260,4
Total em
Kg nas
notas
fiscais
244,0
Fonte: Notas fiscais da empresa Angá e respectivos controles de merendas servidas.
Quadro – Quantitativo de “pão de leite” servido na primeira quinzena de abril de 2015
registrado nos controles.
Pão de leite
Data Cardápio 1 Cardápio 3 Cardápio 4 Cardápio 5 Cardápio 6
01/04/2015 - - - 710 920 -
02/04/2015 603 1.230 - - 1.050 -
03/04/2015 - - - - - -
04/04/2015 - - - - - -
05/04/2015 - - - - - -
06/04/2015 603 1.230 - 710 920 -
07/04/2015 - - - - 1.050 -
08/04/2015 613 - - 710 920 -
09/04/2015 613 1.020 - - 1.050 -
10/04/2015 613 2.250 - 710 920 -
11/04/2015 - - - - - -
12/04/2015 - - - - - -
13/04/2015 603 1.230 - 710 920 -
14/04/2015 613 1.020 - - 1.050 -
15/04/2015 - - - 710 920 -
Total de
porções
pelos
controles
4.261 7.980 0 4.260 9.720 26.221
Total nas
notas
fiscais
30.004
Fonte: Notas fiscais da empresa Angá e respectivos controles de merendas servidas.
Quadro - Quantitativo de “pão de leite” servido na primeira quinzena de abril de 2015
registrado em nota fiscal.
Pão de leite
Número da nota fiscal Quantidade
1.711 30.004
Fonte: Notas fiscais da empresa Angá.
Quadro – Quantitativo de “carne bovina em cubos” servida na primeira quinzena de
abril de 2015 registrados nos controles.
Carne bovina em cubos
Número da nota fiscal Quantidade (Kg)
1.712 244
Fonte: Notas fiscais da empresa Angá.
As notas fiscais da empresa Angá utilizadas para comparação foram:
Quadro – Relação das notas fiscais utilizadas na análise.
Nota fiscal número Valor Data
1710 R$ 23.547,68 15/04/2015
1711 R$ 40.715,71 15/04/2015
1712 R$ 28.105,49 15/04/2015
1713 R$ 39.694,30 15/04/2015
1714 R$ 198.094,78 15/04/2015
Total R$ 330.157,96
Fonte: Notas fiscais da empresa Angá.
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
2.2.12. O Conselho Municipal de Alimentação Escolar - CAE não está atuando de
forma satisfatória quanto ao desempenho das atribuições previstas na Resolução
FNDE nº 26/2013.
Fato
Conforme se verificou nas atas do Conselho Municipal de Alimentação Escolar referentes
aos exercícios de 2014 e 2015, em 2014 apenas duas reuniões foram realizadas e em 2015
as reuniões passaram a ser bimestrais. O Conselho Municipal de Alimentação Escolar só
iniciou visitas nas escolas municipais em 2015, o que denota pouca atuação no período.
Ademais, em entrevista aos membros do CAE constatou-se que não existia em 2014 uma
rotina de fiscalização das escolas, além da própria escola de cada membro.
Além de contar com poucos membros atuantes para fiscalizar a execução da merenda nas
escolas, o CAE de Tietê não analisa a parte financeira (notas fiscais, extratos e pagamentos),
nem o processo de licitação, tampouco acompanha o controle do quantitativo de “merendas”
apontadas na fatura apresentada pela empresa, ou seja, não atua no monitoramento e
fiscalização da aplicação dos recursos, contrariando a determinação do artigo 35, da
Resolução FNDE nº 26, de 17 de junho de 2013.
Cabe observar que o artigo 36 da mesma Resolução estabelece que os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios devem:
“II – fornecer ao CAE, sempre que solicitado, todos os documentos e informações referentes
à execução do PNAE em todas as etapas, tais como: editais de licitação e/ou chamada pública,
extratos bancários, cardápios, notas fiscais de compras e demais documentos necessários ao
desempenho das atividades de sua competência;”
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
2.2.13. Falta de controle na aquisição de gêneros alimentícios provenientes da
agricultura familiar.
Fato
Constatou-se a ausência dos controles dos recebimentos dos gêneros alimentícios no ano de
2015. De acordo com o gestor, estes produtos são entregues diretamente pelos produtores nas
escolas. No entanto, não existe equipamento, como por exemplo balança, para atestar as
quantidades recebidas. Ademais, quem recebe os produtos são as merendeiras, que são
funcionárias da empresa terceirizada.
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
2.2.14. Falta de aplicação do percentual mínimo estabelecido no âmbito do Programa
Nacional de Alimentação Escolar - Pnae para aquisição de gêneros alimentícios
oriundos da agricultura familiar.
Fato
A Prefeitura do município de Tietê/SP não adquiriu, nos anos de 2014 e 2015, produtos
alimentícios oriundos da agricultura familiar e do empreendedor rural familiar em percentual
mínimo de 30% dos recursos financeiros repassados pelo FNDE, para serem aplicados no
Pnae, em atendimento ao disposto nos artigos 18 da Resolução/FNDE nº 38, de 16 julho 2009,
e 24 da Resolução/FNDE nº 26, de 17 de junho de 2013.
Conforme declaração prestada pelo gestor municipal, a aquisição de gêneros alimentícios da
agricultura familiar atingiu o valor de R$ 60.490,52, ou seja, cerca de 7,49% do valor total
repassado pelo governo federal no ano de 2015 (R$ 807.380,00). Em 2014 não houve
aquisição da agricultura familiar e o total repassado pelo governo federal foi de
R$ 838.040,00.
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
2.2.15. Recursos repassados ao município pelo FNDE para aplicação no Pnae.
Fato
Para execução do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) o FNDE repassou ao
município de Tiête/SP, no período de 01 de janeiro de 2014 a 31 de dezembro de 2015,
abrangido por esta ação de controle, o montante de R$1.645.420,00, assim detalhados:
Quadro - Recursos Federais - Pnae
Exercício Valor (R$)
2014 838.040,00
2015 807.380,00
Total 1.645.420,00
Fonte: FNDE-SIGEF e extratos da conta bancária Pnae.
Os recursos foram utilizados no pagamento das despesas decorrentes da aquisição de gêneros
alimentícios para a merenda escolar, efetuadas por meio do Chamamentos Público n°
02/2014, no caso de produtos oriundos da agricultura familiar, e do Pregão Presencial n°
22/2013, cujo objeto era a terceirização do serviço de preparo e fornecimento de merenda
escolar.
O montante aplicado pela prefeitura, no Pnae, nos anos de 2014 e 2015, conforme
informações disponíveis na página do Portal da Transparência Municipal disponibilizada no
sítio do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, foi de R$5.158.272,63 e
R$5.011.136,58, respectivamente.
##/Fato##
2.2.16. Utilização irregular de um mesmo certame licitatório para contratação de
serviços e gêneros alimentícios, a serem adquiridos com recursos financeiros do Pnae.
Fato
O contrato atualmente vigente para o fornecimento de merenda escolar nas unidades
educacionais, assistenciais e creches, do munícipio de Tiête/SP, tem como origem o Pregão
Presencial n° 22/2013 realizado no mês de junho de 2013, cujo objeto previa a contratação
de empresa para execução de serviços de preparo e fornecimento de merenda escolar,
contemplando o fornecimento de todos os gêneros alimentícios.
A vencedora do certame licitatório foi a empresa Angá Alimentação e Serviços Ltda. Por
conseguinte foi firmado, em 21 de junho de 2013, o Contrato n° 32/2013, no valor de
R$5.599.962,00. O termo contratual vem sendo prorrogado, consoante o art. 57, inciso II da
Lei n° 8.666/1993.
Os recursos financeiros federais repassados ao munícipio para aplicação no âmbito do
Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) são utilizados pela prefeitura para o
pagamento dos gêneros alimentícios fornecidos pela contratada.
No entanto, de acordo com o disposto no art. 53 da Resolução do Conselho Deliberativo do
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação n° 38, de 16 de julho de 2009, vigente à
época da contratação, transcrito a seguir, os recursos do Pnae somente podem ser utilizados
para aquisição de gêneros alimentícios, adquiridos em processo próprio.
“(...)
Art. 53. A aquisição de qualquer item ou serviço, com exceção dos gêneros alimentícios,
deverá estar desvinculada do processo de compra do PNAE.
Parágrafo Único: Os recursos financeiros de que trata § 1º do art. 5º da Lei 11.947/2009
serão utilizados exclusivamente na aquisição de gênero alimentícios.”
A Resolução CD/FNDE n° 38/2009 foi revogada pela Resolução CD/FNDE n° 26, de 17 de
junho de 2013, que, no entanto, mantém a mesma orientação quanto à aquisição de gêneros
alimentícios com recursos do Pnae, conforme se pode verificar no art. 18 da resolução, in
verbis:
“(...)
Art. 18 Os recursos financeiros repassados pelo FNDE no âmbito do PNAE serão utilizados
exclusivamente na aquisição de gêneros alimentícios.
Parágrafo único. A aquisição de qualquer item ou serviço, com exceção dos gêneros
alimentícios, deverá estar desvinculada do processo de compra do PNAE.”
Verifica-se, pelos normativos citados, a exigência de que os processos de compras
relacionados à aquisição de gêneros alimentícios, quando empregados recursos financeiros
federais repassados para aplicação no Pnae, devem ser realizados de forma desvinculada da
contratação de serviços.
Sendo assim, os recursos federais repassados ao município de Tiête/SP com vistas à
aquisição de gêneros alimentícios para atendimento ao Pnae estão sendo utilizados de
maneira irregular, visto que a prefeitura não promoveu o devido processo licitatório para
contratação dos gêneros alimentícios.
##/Fato##
Manifestação da Unidade Examinada
Não houve manifestação da unidade examinada.
##/ManifestacaoUnidadeExaminada##
Análise do Controle Interno
Diante da ausência de manifestação da unidade examinada após a apresentação dos fatos, a
análise do Controle Interno sobre a constatação consta registrada acima, no campo ‘fato’.
##/AnaliseControleInterno##
3. Conclusão
Com base nos exames realizados, conclui-se que a aplicação dos recursos federais não está
adequada e exige providências de regularização por parte dos gestores federais.
Do montante fiscalizado de R$1.645.420,00, foi identificado prejuízo de R$366.872,38,
referente ao item 2.1.2.
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Chefe da Controladoria Regional da União no Estado de São Paulo