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SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DO ESTADO DE SÃO PAULO II INFORME TÉCNICO LEISHMANIOSE VISCERAL AMERICANA SETEMBRO 2003 CENTRO DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA “PROF. ALEXANDRE VRANJAC” SUPERINTENDÊNCIA DE CONTROLE DE ENDEMIAS INSTITUTO ADOLFO LUTZ COORDENAÇÃO DO PROGRAMA ESTADUAL DE DST/AIDS INSTITUTO PASTEUR

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SSEECCRREETTAARRIIAA DDEE EESSTTAADDOO DDAA SSAAÚÚDDEE

DDOO EESSTTAADDOO DDEE SSÃÃOO PPAAUULLOO

II INFORME TÉCNICO

LEISHMANIOSE VISCERAL AMERICANA

SETEMBRO 2003

CENTRO DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA “PROF. ALEXANDRE VRANJAC”

SUPERINTENDÊNCIA DE CONTROLE DE ENDEMIAS

INSTITUTO ADOLFO LUTZ

COORDENAÇÃO DO PROGRAMA ESTADUAL DE DST/AIDS

INSTITUTO PASTEUR

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APRESENTAÇÃO

Este segundo informe técnico referente às atividades de vigilância e controle da

Leishmaniose Visceral Americana - LVA, é parte da primeira revisão das atividades

contidas no informe anterior e que servirá para a elaboração do Manual de Vigilância e

Controle da Leishmaniose Visceral Americana no Estado de São Paulo, que vem a ser

a proposta da Secretaria de Estado da Saúde.

Com relação ao informe anterior, entre outras alterações, simplificou-se a

classificação dos municípios, revisou-se o esquema de tratamento para humanos, o

fluxo de notificação de casos humanos e caninos e, a vigilância e o controle vetorial.

Apesar do avanço ainda ser pequeno, para um efetivo controle desta parasitose

emergente no Estado de São Paulo, espera-se, com este segundo informe, estar

contribuindo para uma melhor orientação dos técnicos da SES e dos municípios.

Espera-se, também, que contribuições sejam encaminhadas, visando dentro de um

processo construtivo, o aperfeiçoamento do que será o futuro Manual.

Grupo de Trabalho da Leishmaniose Visceral Americana

[email protected]

[email protected]

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PARTICIPANTES DA ELABORAÇÃO DESTE II INFORME TÉCNICO DE

LEISHMANIOSE VISCERAL AMERICANA

Vera Lucia Fonseca de Camargo-Neves – SUCEN

Lisete Lage Cruz – CVE

Regina Gomes de Almeida – IAL

Maria de Lourdes Reichmann - IP

Adriana Lopes Vieira - SUCEN

Aparecida Helena Souza Gomes – IAL

Carmen Moreno Glasser - SUCEN

Clóvis Pauliquévis Jr – SUCEN

Denise Lotufo Estevan – DST/AIDS

Eunice B. Galati – FSP/USP

Hermínia Yohko Kanamura – SUCEN

José Eduardo Tolezano – IAL

Lílian Aparecida Colebrusco Rodas – SUCEN

Márcia Dalastra Laurenti – FM/USP

Maria Regina Cardoso Sandoval – IP

Ricardo Ciarovolli - SUCEN

Rita Maria da Silva - IAL

Roberta Maria F. Spínola - CVE

Rodrigo Angerami - CVE

Suely Yassumaro – SUCEN

Susy Perpétuo Sampaio – SUCEN

Vera Lucia P. Chioccola – IAL

Walquyria Pereira Pinto – DST/AIDS

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ÍNDICE

1 – INTRODUÇÃO 6

2 – AGENTE ETIOLÓGICO 7

3 – RESERVATÓRIO 7

4 - VETOR E MODO DE TRANSMISSÃO 8

5 – PERÍODO DE INCUBAÇÃO 9

6 – PERÍODO DE TRANSMISSIBILIDADE 9

7- SUSCEPTIBILIDADE E IMUNIDADE 9

8 - ASPECTOS CLÍNICOS 9

8.1 - ASPECTOS CLÍNICOS EM HUMANOS 9

8.1.1 - INFECÇÃO ASSINTOMÁTICA 9

8.1.2 - INFECÇÕES OLIGOSSINTOMÁTICAS OU "SUB-CLÍNICAS" 10

8.1.3 - FORMA AGUDA 10

8.1.4 - CALAZAR CLÁSSICO 11

8.2 – EM CÃES 12

9 – DIAGNÓSTICO 13

9.1 – EM HUMANOS 13

9.1.1 - DADOS EPIDEMIOLÓGICOS 13

9.1.2 - DADOS CLÍNICOS 13

9.1.3 - DADOS LABORATORIAIS 14

9.1.4 - DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL 14

9.2 – EM CÃES 14

10 - TRATAMENTO 15

10.1 - EM HUMANOS 15

10.1.1 - MANUSEIO DA PLAQUETOPENIA 17

10.1.2 - PACIENTE NEUTROPÊNICO FEBRIL 18

10.1.3 - ACOMPANHAMENTO DO PACIENTE 19

10.1.4 - CO-INFECÇÃO LEISHMANIOSE VISCERAL / HIV 19

10.1.4.1 - ASPECTOS CLÍNICOS DA LEISHMANIOSE VISCERAL / HIV 20

10.1.4.2 - DIAGNÓSTICO DA LEISHMANIOSE VISCERAL / HIV 21

10.1.4.3 - TRATAMENTO DA LEISHMANIOSE VISCERAL / HIV 21

10.2 – EM CÃES 23

11 - VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA 24

11.1 - DEFINIÇÃO DE CASO 24

11.1.1 - CASO HUMANO SUSPEITO 24

11.1.2 - CASO HUMANO CONFIRMADO 24

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11.1.3 - CASO CANINO SUSPEITO 25

11.1.4 - CASO CANINO CONFIRMADO 27

11.1.5 - CASO AUTÓCTONE 27

11.2 - INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA 27

11.2.1 – CÃO SUSPEITO 28

11.2.2 - CASO SUSPEITO HUMANO 29

11.3 - CLASSIFICACÃO DO MUNICÍPIO 30

11.3.1 - SILENCIOSO NÃO RECEPTIVO 30

11.3.2 - SILENCIOSO RECEPTIVO 31

11.3.3 - EM INVESTIGAÇÃO 31

11.3.4 - MUNICÍPIOS COM TRANSMISSÃO CONFIRMADA 31

11.4 – ATIVIDADES DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA 32

11.4.1 - DIRIGIDAS À POPULAÇÃO HUMANA 32

11.4.2 - DIRIGIDAS À POPULAÇÃO CANINA 32

11.5 - ATIVIDADES DE VIGILÂNCIA ENTOMOLÓGICA 33

11.5.1 - NOTIFICAÇÃO DE INSETOS INCÔMODOS PELA POPULAÇÃO 33

11.5.2 - LEVANTAMENTO ENTOMOLÓGICO 34

11.5.3 - INVESTIGAÇÃO DE FOCO 35

11.5.4 - UNIDADE FIXA 36

12 - MEDIDAS DE CONTROLE DE LVA 38

12.1 - CONTROLE DO RESERVATÓRIO CANINO 38

12.2 - CONTROLE DO VETOR 38

12.2.1 - MANEJO AMBIENTAL 39

12.2.2 - BORRIFAÇÃO COM INSETICIDA DE AÇÃO RESIDUAL 40

12.3 - AÇÕES EDUCATIVAS 41

12.3.1 - NOTIFICAÇÃO DE INSETOS SUSPEITOS 41

12.3.2 - CUIDADOS COM CÃES 41

12.3.3 - SANEAMENTO DOMICILIAR 42

13 - AVALIAÇÃO DA PREVALÊNCIA CANINA FOCAL 43

14 - ORIENTAÇÕES PARA COLETA E ENVIO DE AMOSTRAS PARA O INSTITUTOADOLFO LUTZ

43

14.1 – PARA HUMANOS 43

14.2 – PARA CÃES 44

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1 - INTRODUÇÃO

A Leishmaniose Visceral ou Calazar é uma infecção zoonótica que afeta animais

e o homem. Está amplamente distribuída em todo o mundo, ocorrendo na Ásia, na

Europa, na África e nas Américas.

Na América do Sul, o conhecimento da doença data de 1913, quando foi descrita

pela primeira vez no Paraguai o primeiro caso em necrópsia de paciente oriundo do

município de Corumbá - MS. Posteriormente, em 1934 a partir de um estudo realizado

por PENNA et al. para o diagnóstico e distribuição da febre amarela no Brasil, 41 casos

positivos para o protozoário foram identificados em lâminas de viscerotomias praticadas

post-mortem. Esses indivíduos eram oriundos das Regiões Norte e Nordeste.

A transmissão da doença vem sendo descrita em vários municípios, de todas as

regiões do Brasil, exceto na região Sul. A doença ocorre em zonas rurais, periurbanas e

urbanas de grandes centros urbanos como Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG),

Araçatuba (SP), Corumbá e Três Lagoas (MS) entre outros. Atualmente, no Brasil a

LVA está registrada em 19 dos 27 estados (dado em revisão - FUNASA 2003).

No Estado de São Paulo a doença era conhecida apenas devido a casos

importados, aqui diagnosticados. Porém, em 1998, no Município de Araçatuba, região

oeste do Estado, foram detectados cães com suspeita de LVA e presença de

Leishmania sp. em exame parasitológico direto. Este fato associado à presença do

inseto transmissor - Lutzomyia longipalpis - no município, detectada em 1997,

desencadeou uma investigação epidemiológica que levou à identificação de Leishmania

(L.) chagasi como agente causal, confirmando a transmissão autóctone de LVA em

cães na área urbana de Araçatuba e, em 1999 houve a confirmação do primeiro caso

autóctone humano no Estado de São Paulo, no município de Araçatuba.

Até julho de 2003, em 41 municípios da região Oeste do Estado foi identificado o

vetor Lu. longipalpis; destes, 23 municípios, apresentaram transmissão da leishmaniose

visceral canina, com positividades variando de 2,2 a 10,1%; e destes, 13 municípios

apresentaram casos humanos autóctones. Embora todos os esforços venham sendo

empenhados no sentido de conter a expansão da doença, verifica-se que à medida que

há a adaptação do vetor nos municípios do Estado, somado ao fluxo migratório,

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responsável pela introdução da fonte de infecção para o vetor; a endemia está em plena

expansão pelo território paulista.

Com isso, nesse segundo informe, estão descritas as ações de controle da

leishmaniose visceral, com referência aos três elos da cadeia epidemiológica e, tem

como principal objetivo orientar os profissionais de saúde e de outros setores do poder

público e da sociedade no controle da endemia.

2 – AGENTE ETIOLÓGICO

É um protozoário da família Trypanosomatidae, gênero Leishmania, com três

espécies envolvidas com a infecção na leishmaniose visceral, dependendo da região

geográfica: Leishmania (L.) donovani, na Ásia e África; Leishmania (L.) infantum na

Ásia, Europa e África, e Leishmania (L.) chagasi nas Américas (incluindo o Brasil), onde

a doença é denominada Leishmaniose Visceral Americana (LVA) ou Calazar

Neotropical.

As leishmanias apresentam duas formas: uma flagelada ou promastigota,

encontrada no tubo digestivo do inseto vetor e outra aflagelada ou amastigota, que é

intracelular obrigatória, sendo encontrada nas células do sistema fagocítico

mononuclear do hospedeiro vertebrado.

3 - RESERVATÓRIO

São animais vertebrados, mamíferos, principalmente canídeos, sendo os mais

importantes a raposa , no ciclo silvestre e rural e o cão , no ciclo rural e,

particularmente, nas áreas urbanas.

Destacam-se no ciclo silvestre e rural a raposa – Lycalopex vetulus, no Nordeste

do Brasil e Cerdocyon thous, na Amazônia brasileira, nas regiões Centro-Oeste e

Sudeste.

Tanto no Brasil como nas Américas, o cão doméstico – Canis familiaris é o

principal reservatório da Leishmania (L.) chagasi no ciclo rural e, especialmente, no

urbano, sendo este animal a principal fonte de infecção para o homem.

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Os gambás, também, têm sido apontados como reservatórios do parasita. Na

Bahia, isolou-se o parasita de Didelphis albiventris e, na Colômbia, Didelphis

marsupialis parece ter importância significativa na epidemiologia da doença.

4 - VETOR E MODO DE TRANSMISSÃO

O vetor da LVA é um inseto da família Phlebotominae, cuja principal espécie é a

Lutzomyia longipalpis, nas Américas. Embora, na Colômbia e na Venezuela, ao lado

desta espécie, tenha sido descrita a participação da Lutzomyia evansi e, no Brasil, nas

cidades de Corumbá e Ladário, no Estado de Mato Grosso do Sul, a Lutzomyia cruzi

vem sendo a responsável pela transmissão da doença.

Os insetos desta subfamília são pequenos (cerca de 2,5 - 3,0 mm) de coloração

cor palha e, em posição de repouso, suas asas permanecem erectas e semi abertas.

Devido a essas características são popularmente conhecidos como mosquito palha e

asa dura e em algumas regiões do Estado de São Paulo são chamados de birigui.

O ciclo biológico do vetor se processa no ambiente terrestre e passa por 4 fases:

ovo, larva – com 4 estádios, pupa e adulto. Desenvolvem-se em locais úmidos,

sombreados e ricos em matéria orgânica. À temperaturas entre 25 - 28ºC, o

desenvolvimento do ovo à fase adulta ocorre em cerca de 30 dias. As formas aladas

abrigam-se nos mesmos locais dos criadouros e em anexos peridomiciliares,

principalmente em abrigos de animais domésticos. Somente as fêmeas são

hematófagas obrigatórias, pois necessitam de sangue para o desenvolvimento dos

ovos. Estes insetos sugam uma ampla gama de animais vertebrados de sangue quente.

Em zona urbana do município de Araçatuba – SP verificou-se que entre os animais

vertebrados o cão parece ser a principal fonte de alimentação. A atividade

hematofágica, predominantemente, noturna inicia-se cerca de 1 hora após o

crepúsculo. Ambos os sexos tendem a não se afastar muito de seus criadouros ou

locais de abrigo podendo se deslocar até cerca de 1 Km, com a expressiva maioria não

indo além dos 250 m. Em laboratório, a longevidade da fêmea é estimada, em média,

de 20 dias.

Até o momento, não foi comprovada a transmissão direta de animal para animal,

animal para pessoa ou pessoa para pessoa.

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5 - PERÍODO DE INCUBAÇÃO

Em seres humano, varia de 10 dias a 24 meses, sendo em média de 2 a 4

meses.

Em animais,este período varia de 3 a 7 meses, podendo se manifestar após

anos depois de terem saído de áreas endêmicas.

6 - PERÍODO DE TRANSMISSIBILIDADE

Ocorre enquanto persistir o parasitismo na pele ou no sangue circulante dos

animais.

7- SUSCEPTIBILIDADE E IMUNIDADE

A suscetibilidade é universal, porém a incidência é maior em crianças menores

de 5 anos de idade.

8 - ASPECTOS CLÍNICOS

8.1 - ASPECTOS CLÍNICOS EM HUMANOS

Dependendo da interação agente – hospedeiro, a infecção por L. (L.) chagasi

pode resultar em diferentes tipos de infecção e manifestações clínicas, em função da

resposta do organismo infectado.

8.1.1 - INFECÇÃO ASSINTOMÁTICA

Ocorre quando a resposta ao agente é uma reação local com destruição do

parasita fagocitado por histiócitos e interação parasita-hospedeiro, com persistência do

parasita na forma latente no organismo, por tempo indeterminado.

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Esta forma clínica é evidenciada em diferentes estudos clínicos que mostram alta

taxa de indivíduos sorologicamente positivos ou reatores no teste intradérmico, sem

evidência de doença clínica. Cerca de 30% dos adultos de áreas endêmicas tem teste

intradérmico fortemente positivo sem história de doença prévia.

Quando a resposta do organismo se dá através de fagocitose e multiplicação dos

parasitas dentro dos macrófagos com disseminação para o sistema reticuloendotelial,

dependendo de fatores de risco associados, temos um espectro de doença que varia

desde formas oligossintomáticas ("sub-clínicas") até a síndrome completa ou calazar

propriamente dito.

8.1.2 - INFECÇÕES OLIGOSSINTOMÁTICAS OU "SUB-CLÍNICAS"

Esta forma é a mais freqüente nas áreas endêmicas. Devido à presença da

Leishmania nos macrófagos teciduais, pulmões, intestinos, linfonodos e, principalmente,

nos órgãos hematopoiéticos, surgem manifestações inespecíficas como: febre, tosse

seca, diarréia, sudorese, adinamia persistente e discreta visceromegalia, com baço

geralmente impalpável e fígado um pouco aumentado. Estes sintomas podem persistir

por cerca de 3 a 6 meses com resolução espontânea sem terapêutica específica ou

evoluir para calazar clássico no período de 2 a 15 meses.

Entre os fatores de risco associados com o desenvolvimento do calazar estão a

desnutrição (crianças desnutridas infectadas têm um risco relativo nove vezes maior de

desenvolver calazar quando infectadas do que crianças nutridas) e imunossupressão

primária ou secundária (principalmente infecção pelo HIV).

8.1.3 - FORMA AGUDA

A forma aguda disentérica caracteriza-se por febre alta, tosse e diarréia

acentuada podendo ser semelhante a quadros sépticos. Pode haver alterações

hematológicas e hepatoesplenomegalia discreta, podendo o fígado estar normal e o

baço não ultrapassar 5 cm. Geralmente, tem menos de 2 meses de história. O quadro

pode ser confundido com o da febre tifóide, malária, esquistossomose mansônica,

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doença de Chagas aguda, toxoplasmose aguda, histoplasmose aguda e outras doenças

febris agudas.

A elevação de globulinas séricas é marcante com grande concentração de

anticorpos específicos IgM e IgG anti-leishmania. O encontro do parasita no mielograma

não é tão habitual como nos casos clássicos, porém o parasitismo esplênico e hepático

é intenso.

8.1.4 - CALAZAR CLÁSSICO

As características desta forma são semelhantes nas diferentes regiões do

mundo, sendo uma doença de evolução prolongada com sinais de desnutrição proteico-

calórica e aspecto edemaciado do paciente com abdomen protuso devido a

hepatoesplenomegalia. As alterações de pele (coloração pardacenta ou de cera velha

nas Américas e escurecida na Índia), são freqüentemente observadas.

Nos casos de calazar clássico com manifestações agudas pode haver um início

abrupto com febre alta. Os sintomas iniciais são pouco característicos, porém a febre é

persistente com 2 a 3 picos diários ou às vezes, intermitentes. Associam-se sintomas

gastrointestinais (diarréia, disenteria ou obstipação, náuseas e vômitos), adinamia,

prostração, sonolência, mal estar e progressivo emagrecimento. Podem ocorrer

manifestações hemorrágicas como epistaxes, petéquias, sangramento gengival e

outros, porém pouco freqüentes no início do quadro. As manifestações respiratórias

lembram um "resfriado comum que não está passando", com tosse seca ou pouco

produtiva.

No período de estado as características da doença ficam mais marcantes. A

febre quase sempre está presente variando de 37 a 38ºC, chegando a 40ºC

ocasionalmente, quase sempre devido a complicações bacterianas ou virais

associadas. É freqüente febre irregular com períodos de apirexia de 1 ou 2 semanas.

Há um emagrecimento lento que leva a caquexia acentuada apesar do apetite

preservado. Associa-se palidez, cabelos secos e quebradiços, cílios alongados,

dificuldade de deambulação, edema de pés e mãos. O abdômen é volumoso às custas

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de exuberante hepatoesplenomegalia. O baço é de consistência elástica ou levemente

endurecida atingindo a cicatriz umbilical ou, em alguns casos, a crista ilíaca do lado

oposto. A hepatomegalia pode atingir diversos tamanhos, há o aumento tanto do lobo

direito como do esquerdo e, às vezes, fazendo um plastrão único com o baço, dando a

impressão de uma única víscera no abdômen. A sintomatologia geral é rica e, além da

tosse e sintomas gastrointestinais, são comuns: dispnéia de esforço, cefaléia, zumbido,

dores musculares, artralgia, retardo da puberdade e amenorréia.

Na fase final os pacientes estão gravemente enfermos, embora tolerem níveis

críticos de hemoglobina no sangue periférico (5 – 6g%). São comuns dispnéia ao

mínimo esforço, sopro sistólico plurifocal e insuficiência cardíaca. A pancitopenia

periférica com globulinas elevadas é regra. Estes casos geralmente não respondem

prontamente ao tratamento habitual e o óbito é freqüente como conseqüência de

complicações. As causas de óbito mais comuns são broncopneumonias,

gastroenterites, septicemias, hemorragias agudas, insuficiência cardíaca devido à

anemia grave, caquexia e coagulopatias transfusionais.

8.2 – EM CÃES

A intensidade do parasitismo aparentemente não está associada diretamente à

gravidade do quadro clínico, podendo ser observados cães muito infectados, com

sintomatologia leve.

A enfermidade é de gravidade variável e as lesões cutâneas são as observações

mais freqüentes e aparentes, consistindo em áreas de alopecia, com descamação

eczematosa, principalmente ao redor dos olhos (óculos), nas articulações e pregas de

pele. Algumas vezes, observam-se pequenas ulcerações, que podem ou não estar

cobertas por crostas, no focinho, pavilhão auricular e dorso. As lesões cutâneas

apresentam-se infectadas por grande quantidade de Leishmania sp. Podem ser

observadas ulcerações nas mucosas nasal e bucal, o que favorece ao vetor um acesso

direto aos macrófagos parasitados das lesões cutâneas.

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Ocorrem, com freqüência, conjuntivite, queratite e anemia. O sinal

patognomônico da leishmaniose visceral canina e, comum na maioria dos casos

sintomáticos, é o crescimento exagerado das unhas ou onicogrifose.

Na doença crônica, muitos animais, manifestam anorexia, febre irregular, apatia,

polipnéia, palidez de mucosas, caquexia, linfoadenopatia generalizada, leucopenia,

emaciação, hepatoesplenomegalia. Em alguns casos ocorrem edemas em diferentes

partes do corpo e hemorragias nasais. Não são raros longos períodos de remissão,

seguidos pelo reaparecimento da doença. Mais freqüentemente, a infecção progride

lentamente para a morte. As hemorragias por trombocitopenia também podem ser

fatais.

As lesões observadas à necropsia consistem, principalmente, no

desaparecimento do tecido adiposo, esplenomegalia, hepatomegalia, medula óssea de

consistência gelatinosa e de cor vermelha intensa, linfoadenopatia e ulcerações no

intestino, que podem não estar presentes.

9 – DIAGNÓSTICO

9.1 – EM HUMANOS

O diagnóstico é baseado em dados epidemiológicos, clínicos e laboratoriais:

9.1.1 - DADOS EPIDEMIOLÓGICOS

Avaliar o local de residência ou viagens para áreas reconhecidamente

endêmicas ou com possibilidade de introdução recente da doença. Também, deverão

ser avaliadas a ocorrência de casos caninos e a presença do vetor.

9.1.2 - DADOS CLÍNICOS

A síndrome clássica de febre, hepatoesplenomegalia, anemia e manifestações

hemorrágicas é bastante sugestiva de calazar. As formas oligossintomáticas são de

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difícil diagnóstico fora das áreas de transmissão já conhecidas, devendo-se estar

atento, portanto, para quadros de tosse persistente, diarréia intermitente por mais de

três semanas, adinamia, aumento discreto de fígado e/ou baço, geralmente sem febre.

Estes quadros, freqüentemente, são confundidos com processos virais ou

enteroparasitoses.

9.1.3 - DADOS LABORATORIAIS

Observa-se no calazar clássico várias alterações no hemograma como: anemia,

com hemoglobina inferior a 10g%; leucopenia, com leucócitos podendo ser inferiores a

2.000 células/mm³ e plaquetopenia, com plaquetas inferiores a 100.000 células/mm³ e,

freqüentemente, abaixo de 40.000 células/mm³. Podem ser observadas alterações de

enzimas hepáticas com valores de transaminases duas vezes maior que o valor normal.

As proteínas plasmáticas mostram albumina inferior a 3,5g% e globulinas muito

elevadas, acima de 5g%, podendo chegar a 10g%, com aumento específico da fração

gama o que é bastante característico e representa a grande quantidade de anticorpos

específicos no soro. No calazar agudo os achados laboratoriais são menos evidentes,

com anemia e leucopenia discretas e plaquetas normais, porém as globulinas estão

elevadas. Na forma oligossintomática os exames laboratoriais estão normais ou com

discretas alterações comuns as parasitoses intestinais.

9.1.4 - DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

O diagnóstico diferencial deve considerar a febre tifóide, tuberculose, malária,

esquistossomose, AIDS, mononucleose infecciosa, hepatite crônica, cirrose, leucemia,

linfoma e endocardite bacteriana.

9.2 – EM CÃES

O diagnóstico de escolha é a demonstração do parasito através de exame direto

de amostras coletadas de lesão de pele, biópsia de linfonodo ou medula. Em município

em que a transmissão da LVA ainda não tenha sido confirmada deverá ser realizada a

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identificação da espécie de Leishmania, confirmada pelos laboratórios de referência

nacional.

O diagnóstico deverá ser feito em todos os cães que compõe a área delimitada

nos municípios com transmissão autóctone confirmada de LVA, através de exames

sorológicos: Reação de imunofluorescência direta (RIFI), kit Biomanguinhos, sendo que

o resultado considerado positivo tem como ponto de corte o título igual ou superior a

1:40.

10 - TRATAMENTO

10.1 - EM HUMANOS

As opções terapêuticas para o tratamento de humanos são:

A) Antimoniato Pentavalente (Antimoniato N-metil-glucamina)

O antimoniato pentavalente (Sbv), comercialmente conhecida como Glucantime,

é considerada como droga de primeira escolha e, seu esquema terapêutico é

padronizado conforme recomendações da OMS. A droga disponível no Brasil é

apresentada na forma de frascos de 5ml que contêm 1,5g do antimoniato bruto,

correspondendo a 405 mg de Sbv, 1ml equivale a 81mg d Sbv .

Tempo de tratamento mínimo 20 dias e máximo de 40 dias.Nos casos de recidiva

da doença, a FUNASA recomenda um segundo tratamento mais prolongado ( 30 ou 40

dias) com a mesma droga, antes de considerar que o paciente é refratário ao

tratamento com antimônios. ( anexo 3)

Todo paciente deve ser avaliado clinicamente antes do início de tratamento.

Atenção especial deve ser dada a pacientes acima de 50 anos e àqueles com

antecedentes de hepatopatia, nefropatia e pancreatopatia crônicas, risco para doenças

cardiovasculares (arritmias, doença coronariana, cardiopatias congênitas, hipertensão

arterial crônica, Doença de Chagas etc...).

A dose preconizada é de 20mg/Sbv/kg/dia, por via endovenosa (EV) ou

intramuscular (IM). O cálculo da dose se dá a partir de mg/Sbv /kg/dia. O

limite máximo é de 3 ampolas (15ml ou 1215 mg Sbv) ao dia.

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! Recomenda-se avaliação eletrocardiográfica antes do início do

tratamento e semanalmente após o início do mesmo. Durante o

tratamento é recomendada a realização de pelo menos um

eletrocardiograma semanal até o fim do tratamento.No caso de

pacientes que apresentem comorbidades passíveis de complicação,

preconiza-se exame eletrocardiográfico duas vezes por semana.

! O ideal é que a monitorização cardíaca contínua durante a infusão do

medicamento até, no mínimo, 30 minutos após o término do mesmo,

deva ser realizada rotineiramente, principalmente para aqueles

pacientes que apresentem maior risco para o desenvolvimento de

arritmias cardíacas.

! Caso seja(m) verificada(s) alteração eletrocardiográficas durante o

tratamento, intensificar monitorização clínica e eletrocardiográfica do

paciente; nessas situações avaliar caso a caso a necessidade de

suspensão do tratamento, caso a caso.

! As alterações cardíacas secundárias ao tratamento mais

freqüentemente relatadas são as alterações de repolarização

(representadas pelo achatamento ou inversão da onda T e o

alargamento do espaço QT) e alterações de ritmo.

! Exames bioquímicos (uréia, creatinina, transaminases (AST/TGO e

ALT/TGP), bilirrubinas, fosfatase alcalina, amilase), dosagem de

eletrólitos (sódio, potássio) e hemograma devem ser realizados

semanalmente a fim de se identificar possíveis efeitos adversos e/ou

descompensação de patologias prévias (hepatopatia e nefropatias).

Avaliar caso a caso as alterações e as medidas a serem adotadas,

dentre as quais a redução ou suspensão da droga.

O uso do antimoniato pentavalente é contra-indicado em gestantes,

pacientes com insuficiência renal e/ou hepatocítica, arritmias cardíacas e

Doença de Chagas.

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B) Esquemas alternativos

Dentre os esquemas alternativos de tratamento incluem-se a Anfotericina B,

Anfotericina B lipossomal, Anfotericina B coloidal, Pentamidina.

10.1.1 - MANUSEIO DA PLAQUETOPENIA

Nos casos de plaquetopenia, em que o número total de plaquetas for inferior a

50.000 células / mm³ (cinqüenta mil), recomenda-se que a via de administração

parenteral de medicamentos,incluindo-se a do antimonial pentavalente, seja

endovenosa (EV). Isso se deve ao fato de que a via intramuscular (IM) oferece grande

risco de formação de hematomas (inclusive intramusculares), os quais, além de

proporcionar grande desconforto ao paciente, podem ser foco de infecções

secundárias.

No caso da adoção da via IM é fundamental observar o surgimento de sinais

flogísticos locais (dor, calor, hiperemia, edema/enduramento). Nestes casos, descartar

a região acometida como local de aplicação. Se necessário, reavaliar o número de

plaquetas e adotar a via EV.

! Em pacientes com plaquetopenia em que o número total de

plaquetas for inferior a 10.000 (dez mil) células/ mm3 recomenda-se

considerar a transfusão profilática de plaquetas mesmo na ausência

de sangramentos ativos.

! Em situações de sangramentos ativos, quando possível, deve-se

adotar medidas locais (compressão, tamponamentos , aplicação de

gelo etc.) .Entretanto, quando medidas locais não forem efetivas e/ou

paciente sob risco de vida (hemorragia gastrointestinal, hematúria

etc.) a transfusão de plaquetas deve ser considerada.

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10.1.2 - PACIENTE NEUTROPÊNICO FEBRIL

Pacientes com LVA freqüentemente apresentam neutropenia (número de

neutrófilos inferior a 1000 células/ mm3) associada a leucopenia. Nessas situações tais

pacientes apresentam risco elevado para infecções bacterianas e fúngicas secundárias,

muitas vezes evoluindo para sepse. Diante disso, nessas situações recomenda-se a

investigação de possíveis focos infecciosos através de:

! Hemograma;

! Hemocultura (no mínimo 3 amostras);

! Urina I / EAS;

! Urocultura;

! Raio X de tórax e seios da face;

! Cultura de escarro;

! Punção liquórica (citologia, bioquímica e cultura) caso haja sinais de

infecção de sistema nervoso central, tais como: cefaléia, náusea /

vômito, rigidez de nuca, alteração do nível de consciência, crises

convulsivas, etc:

- Avaliar número de plaquetas antes da punção;

- Descartar hemorragia em sistema nervoso central;

! Ficar atento sempre para contaminação de cateteres periféricos e

centrais.

A escolha do antibiótico a ser administrado deve ser fundamentada, sempre que

possível, nos microorganismos isolados. Quando houver evidências de infecções

secundárias, mas sem o isolamento de microorganismos, optar por antibioticoterapia de

amplo espectro.

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10.1.3 - ACOMPANHAMENTO DO PACIENTE

A avaliação da resposta à terapêutica é feita através da regressão da febre nos

primeiros cinco dias de tratamento, melhora do estado geral e nutricional, regressão da

esplenomegalia em aproximadamente 50% e melhora dos parâmetros hematológicos

até o término do esquema.

Os critérios de cura clínica são: aumento progressivo de peso, regressão da

esplenomegalia (baço residual pode persistir por meses); ausência de febre, a partir da

primeira semana de tratamento e, normalização dos exames laboratoriais inespecíficos,

a partir da segunda semana de tratamento.

O paciente deverá ter seguimento durante um ano, sendo mensal nos primeiros

seis meses e trimestral a partir do sexto mês.

10.1.4 - CO-INFECÇÃO LEISHMANIOSE VISCERAL / HIV

A leishmaniose visceral (LV) é uma doença de crescente importância em

indivíduos portadores da infecção por HIV, o que vem motivando recomendações para

que esta doença seja incluída como critério indicativo de diagnóstico de AIDS.

A partir de meados da década de oitenta esta co-infecção tornou-se a principal

causa de aumento de incidência de LV na região do Mediterrâneo, tendo sido registrada

em 33 países de vários continentes - Ásia, África, América do Sul (inclusive o Brasil) e

Europa - com aproximadamente 2.000 casos notificados até o ano 2000, a maioria dos

quais em países do sudoeste europeu (Espanha, Portugal, França e Itália).

Com o advento da HAART (Highly active antiretroviral therapy) houve, nos

últimos anos, uma significativa mudança na epidemiologia e no prognóstico da co-

infecção, com evidente constatação de redução da incidência. em .países como a Itália,

França e Espanha.

No Brasil, a ampliação da área de distribuição geográfica da AIDS e sua

extensão para camadas mais pobres da população e a crescente urbanização da LV

fazem supor que a prevalência da co-infecção LV / HIV venha a aumentar nos próximos

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anos. Por outro lado, dado que a HAART é amplamente distribuída em nosso país, é

possível que também aqui seja verificado impacto na redução da incidência.

A manifestação da leishmaniose como doença associada à AIDS pode ocorrer

após infecção primária por Leishmania sp ou após reativação de infecção pregressa,

reativação esta associada à imunodeficiência causada pelo HIV.

Em algumas regiões de Portugal e da Espanha a LV é a terceira infecção

oportunista mais comum em casos de AIDS. Nestes países, a elevada freqüência desta

associação é devida tanto à reativação da infecção leishmaniótica quanto a uma forma

alternativa (antroponótica) de infecção primária, decorrente da inoculação intra-venosa

de Leishmania sp, por meio de compartilhamento de agulhas e seringas, entre viciados

em drogas (transmissão inter-humana). Dentre os casos notificados, cerca de 90%

eram do sexo masculino, predominantemente na faixa etária de 31 a 40 anos e, na

distribuição da casuística por categoria de exposição ao HIV, houve predomínio de

usuários de drogas endovenosas.

10.1.4.1 - ASPECTOS CLÍNICOS DA LEISHMANIOSE VISCERAL / HIV

A tríade clássica – febre, hepatoesplenomegalia, pancitopenia – se manifesta em

75% dos casos. Estudo recente comparando 73 casos de LV / AIDS com 39 casos de

LV clássica evidenciou menor freqüência de esplenomegalia (80.8%) entre os pacientes

HIV positivos do que entre os HIV negativos (97.4%). Dentre outros dados observados

nesta série cabe destacar que as contagens de linfócitos CD4 resultaram menores que

200 células/ mm3 em 87.1% dos casos de AIDS.

Da mesma forma que na LV clássica a hipergamaglobulinemia é uma importante

alteração laboratorial.

Outros sintomas e sinais comuns são: astenia, emagrecimento e adenomegalias.

O acometimento de trato gastrointestinal é freqüente podendo ocorrer diarréia, disfagia,

odinofagia e epigastralgia. O trato respiratório é freqüentemente envolvido, geralmente

de forma assintomática. O acometimento cutâneo isolado é incomum, havendo,

entretanto, relatos de casos de encontro de amastigotas em pele íntegra, em tatuagens,

e em lesões de Sarcoma de Kaposi, herpes simples e herpes zoster.

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Devem ser incluídas no diagnóstico diferencial doenças oportunísticas tais como:

tuberculose disseminada, micobacterioses outras disseminadas, linfomas, infecção por

CMV , infecções fúngicas entre outras . O diagnóstico diferencial entre Histoplasmose e

LVA é de extrema importância , não apenas em relação às manifestações clínicas ,

mas devido a conhecida semelhança morfológica no exame parasitológico direto entre

os respectivos agentes etiológicos .

10.1.4.2 - DIAGNÓSTICO DA LEISHMANIOSE VISCERAL / HIV

Testes usados em estudos epidemiológicos de larga escala, como sorologia e

reação de Montenegro têm, notadamente em HIV positivos, baixa sensibilidade. Mais

de 40% dos pacientes com co-infecção têm testes sorológicos para Leishmania

negativos sendo, portanto, a demonstração do parasita, em tecidos, pré-requisito para o

diagnóstico e para instituição do tratamento.

O isolamento do agente em amostras de sangue, através de exame direto ou

cultura, tem positividade maior do que a observada na LV clássica, mas não se constitui

em método diagnóstico de eleição dado que sua sensibilidade é menor do que a

verificada em materiais obtidos a partir de medula óssea, sendo que sensibilidade de 70

a 93% e de 60 a 100% são registradas, respectivamente, em exame direto de aspirado

e em mielocultura. São, também, relatados em vários trabalhos, isolamento de

Leishmania sp em material de biópsias de gânglios e de trato gastrintestinal.

Quanto às medidas de vigilância impõem-se, entre outras, o diagnóstico precoce

dos casos de co-infecção. Para que este diagnóstico seja implementado, o Programa

Estadual de Controle de DST/AIDS recomenda a realização de teste sorológico anti-HIV

em todos os pacientes com leishmaniose visceral maiores de 13 anos que residam nas

áreas endêmicas do Estado de São Paulo.

10.1.4.3 - TRATAMENTO DA LEISHMANIOSE VISCERAL / HIV

O tratamento utilizado na co-infecção tem sido semelhante ao indicado para a LV

em indivíduos imunocompetentes.

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! ANTIMONIAL PENTAVALENTE

A droga de escolha é o antimonial pentavalente (Sbv), na dose de 20mg/Kg/dia,

sem limite máximo diário, durante quatro semanas, período que pode ser prolongado

dependendo da resposta.

De preferência a via de administração é intra-venosa, pois a aplicação

intramuscular, além de dolorosa, pode ser impraticável devido ao grande volume da

solução.

Quanto aos efeitos colaterais, verifica-se toxicidade pancreática, cardíaca e

renal. Dosagem das enzimas pancreáticas, hepáticas, avaliação da função renal e

eletrocardiograma devem ser solicitados antes e durante o tratamento. Hiperamilasemia

é muito freqüente e pancreatite pode ocorrer, principalmente em imunocomprometidos.

Até o momento, não existem dados suficientes na literatura com relação a

interação medicamentosa entre Glucantime e Antiretrovirais. Recomenda-se

monitorização laboratorial rigorosa na co-administração de drogas que potencialmente

causam pancreatite, como: DDI, d4T e 3TC.

! ANFOTERICINA B

A Anfotericina B é uma alternativa, já que é um potente agente anti-Leishmania

que pode ser usado como droga opcional de primeira linha. A dose é de 0,5mg/Kg/dia

até uma dose total de 1,5 a 2,0g. Dentre os efeitos adversos mais importantes temos a

nefrotoxicidade, hipocalemia, hipomagnesemia e anemia.

! OUTROS ESQUEMAS

Outras drogas já foram testadas, porém com experiência muito limitada, dentre

elas: Pentamidina, Itraconazol, Paramomicina, Tetraciclina, Allopurinol, Miltefosina,além

da combinação de antimonial com Interferon-gama.

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! PROFILAXIA SECUNDÁRIA

A terapia de manutenção está indicada em todos os casos. Dentre os pacientes

co-infectados, 60 à 90% apresentam recidivas após 12 meses de tratamento. Não

dispomos de estudos randomizados comparando as drogas. O Glucantime tem se

mostrado eficaz na terapia de supressão. Em um estudo de 37 pacientes

acompanhados durante um ano, 93% não apresentaram recidivas.

Sugere-se a manutenção do Glucantime como primeira opção, na dose de 850

mg/mês. A dose da Anfotericina B não está estabelecida, podendo ser utilizada

Anfotericina lipossomal, 03mg/Kg/mês (dose máxima 200mg/mês) ou Pentamidina intra-

venosa, na dose de 04mg/Kg, 2 à 4 vezes/semana, como alternativas. Alguns trabalhos

têm sugerido o uso do Itraconazol, na dose de 400 mg/dia, porém com experiência

ainda muito limitada.

Até que sejam realizados estudos conclusivos, a profilaxia secundária não deve

ser interrompida mesmo nos casos em que houver melhora da resposta imune após a

utilização de HAART.

10.2 – EM CÃES

As tentativas de tratamento de cães, utilizando drogas que tem eficácia em

humanos, não tem logrado êxito.

Vários ensaios terapêuticos resultaram em fracasso ou até exacerbação da

doença, ou então, há apenas a melhora do estado geral e dos sintomas, mas o

parasitismo permanece, continuando o animal a ser uma fonte de infecção para o

flebotomíneo.

Além disto, o tratamento de cães pode induzir resistência dos parasitas.

Portanto, os medicamentos utilizados para tratamento humano NÃO devem ser

usados no tratamento canino, a fim de evitar o desenvolvimento de cepas

resistentes, o que dificultaria ainda mais o tratamento da doença no homem.

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11 - VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA

11.1 - DEFINIÇÃO DE CASO

11.1.1 - CASO HUMANO SUSPEITO

Indivíduo proveniente de área endêmica ou área onde esteja ocorrendo surto,

com febre de duração de mais de 2 semanas.

11.1.2 - CASO HUMANO CONFIRMADO

Um caso humano suspeito passa a ser confirmado se preencher um dos

seguintes critérios:

A) LABORATORIAL

! se houver identificação de Leishmania (Leishmania) chagasi, a partir

da cultura e/ou inoculação em hamster ;

! se houver encontro de Leishmania sp em exame parasitológico

direto.

B) CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO

! Casos que tenham exame parasitológico direto e identificação

negativos, com ou sem sorologia reagente, porém com clínica

fortemente sugestiva, isto é, paciente com hepatoesplenomegalia

acompanhada de pancitopenia, desde que afastadas outras

hipóteses diagnósticas, e apresentem resposta favorável à prova

terapêutica, nos municípios onde já houver confirmação de

transmissão autóctone de LVA.

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11.1.3 - CASO CANINO SUSPEITO

Cão que apresente pelo menos um dos três seguintes sintomas: onicogrifose

(alongamento das unhas), descamação (mais freqüente na região periocular e bordas

da orelha) ou úlceras de pele (geralmente nas extremidades), associado(s) ou não

aos seguintes sintomas: ceratoconjuntivite, coriza, apatia, emagrecimento, diarréia,

hemorragia intestinal, vômitos, edema das patas, paresia das patas posteriores e

caquexia.

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FLUXOGRAMA PARA A DEFINIÇÃO DE CASO DE LEISHMANIOSE

VISCERAL AMERICANA - CANINA

CÃO SUSPEITO

DEFINIÇÃO

CÃO QUE APRESENTE PELO MENOS UM DOS

SEGUINTES SINTOMAS:

" alongamento das unhas (onicogrifose),

" úlcera de pele (mais freqüente nas extremidades),

" descamação da pele (mais freqüente na região

periocular e bordas da orelha)

+

associado ou não aos seguintes sintomas:

- ceratoconjuntivite,

- coriza,

- apatia,

- diarréia,

- edema de patas,

- paresia das patas posteriores,

- caquexia e,

- hemorragia intestinal e vômitos.

IINVESTIGAÇÃO

- Local Provável de Infecção

- Parasitológico

- Busca ativa de cães suspeitos

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11.1.4 - CASO CANINO CONFIRMADO

Um caso canino suspeito passa a ser confirmado se preencher um dos seguintes

critérios:

A) CLÍNICO-LABORATORIAL

! Se houver identificação de Leishmania (Leishmania) chagasi, a partir

da cultura e/ou inoculação em hamster;

! Se houver encontro de Leishmania sp em exame parasitológico

direto, nos municípios onde já houver confirmação de transmissão

autóctone de LVA.

B) IMUNOLÓGICO

! Através de sorologia positiva para leishmaniose, nos municípios onde

já houver confirmação de transmissão autóctone de LVA.

11.1.5 - CASO AUTÓCTONE

Caso humano ou canino confirmado, cujo local provável de infecção é o mesmo

da residência. Esta definição pode ser aplicada considerando o município ou o estado

como residência.

11.2 - INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA

Diante da notificação de um caso suspeito, humano ou canino, de Leishmaniose

Visceral Americana (LVA), deverá ser desencadeada a investigação epidemiológica

com o objetivo de:

! Confirmar o caso, sempre que possível através da identificação do

agente etiológico;

! Definir o local provável de infecção do mesmo;

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! Classificar o município quanto à transmissão de LVA, sempre que

possível a partir da ocorrência do primeiro caso.

11.2.1 - CÃO SUSPEITO

A seguir são descritos os procedimentos para a investigação epidemiológica a

partir de um caso canino suspeito, conforme apresentado no fluxograma no ANEXO2.

1. Obter amostras para confirmação laboratorial, a ser realizada no Instituto

Adolfo Lutz (IAL): - aspirado de linfonodo ou de medula óssea para exame

parasitológico direto;

2. Se o animal já tiver algum exame realizado em outro laboratório, se

possível, obter a lâmina junto ao mesmo, para confirmação no IAL. Se isto não for

possível, colher novo material conforme item 1;

3. Investigar o local provável de infecção do animal levantando tempo de

residência no atual endereço, procedência anterior, deslocamentos e tempo de

permanência nos diferentes locais;

4. Averiguar se existem outros animais suspeitos clinicamente no mesmo

local e coletar amostras para confirmação laboratorial destes cães;

5. Se o parasitológico direto e/ou cultura forem positivos:

a) Notificar a SUCEN regional para que esta realize a investigação

entomológica;

b) Proceder à eutanásia do cão em que a Leishmania chagasi foi

identificada.

A seguir são descritos os passos a serem seguidos para a investigação

epidemiológica em municípios silenciosos, isto é, municípios sem

transmissão conhecida de LVA.

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5.1. Se a pesquisa entomológica for positiva, realizar inquérito sorológico

canino focal em um raio de 200 metros ou ampliar o raio até completar

o mínimo de 100 cães no foco. Em vista destes resultados classificar o

município.

5.2. Se a pesquisa entomológica for negativa:

a) Com detecção de novos casos caninos confirmados pelo encontro da

Leishmania chagasi realizar inquérito sorológico canino focal em um

raio de 200 metros ou ampliar o raio até completar o mínimo de 100

cães no foco. Em vista destes resultados classificar o município e

manter a vigilância entomológica.

b) Sem a detecção de novos casos caninos, manter a vigilância

entomológica.

5.3. Uma vez confirmada a transmissão de LVA no município, deverão ser

desencadeadas as medidas propostas para o controle da doença no

Estado.

11.2.2 - CASO SUSPEITO HUMANO

A seguir são descritos os procedimentos para a investigação epidemiológica a

partir de um caso humano suspeito, conforme apresentado no fluxograma no ANEXO3.

1. Obter amostras para diagnóstico laboratorial a ser realizado no IAL de

aspirado de medula óssea ou aspirado esplênico para realização de:

a) Exame parasitológico direto de esfregaço em lâmina para

microscopia;

b) Identificação de Leishmania através de cultura em meio NNN ou

similar, inoculação em animais de laboratório e/ou técnicas

moleculares;

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c) Se algum destes exames já tiver sido realizado em outro laboratório,

requisitar as lâminas e/ou cultura para a confirmação no IAL. Caso

isto não seja possível, enviar outras amostras para o IAL.

2. Investigar o local provável de infecção do caso, levantando os

deslocamentos para outros municípios e outros estados, assim como as datas de ida e

retorno. Investigar também as mudanças de residência dentro do município com as

respectivas datas.

3. Se o caso for confirmado:

! Iniciar tratamento e;

! Se o caso for autóctone: realizar busca ativa de outros casos

humanos sintomáticos de todos os residentes na área de 200

metros ao redor do caso, incluindo os moradores do domicílio do

caso;

! Encaminhar as pessoas com sintomas para avaliação médica no

local de referência, definido pelo município;

! Realizar inquérito sorológico canino focal, caso não tenha sido

realizado ainda;

! Iniciar as medidas de controle do reservatório canino, caso ainda

não tenham sido iniciadas;

! Notificar a SUCEN regional para realização da avaliação

entomológica e sanitária, e adoção das medidas de controle do

vetor, em conjunto com o município.

11.3 - CLASSIFICACÃO DO MUNICÍPIO

11.3.1 - SILENCIOSO NÃO RECEPTIVO

! Município sem presença conhecida do vetor e sem notificação de casos

suspeitos, humanos ou caninos.

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11.3.2 - SILENCIOSO RECEPTIVO

! Município com presença do vetor e sem notificação de casos suspeitos

humanos ou caninos.

11.3.3 - EM INVESTIGAÇÃO

! Município com ou sem vetor, com caso humano ou canino clinicamente

suspeito e aguardando resultado da investigação epidemiológica;

! Município com ou sem vetor, com cão positivo para Leishmania sp no

parasitológico direto ou na sorologia, aguardando conclusão de outros

itens da investigação;

! Municípios onde já foram implementadas parte ou todas as atividades

previstas na investigação, mas que não preencheram os critérios para a

confirmação de transmissão de LVA ;

! Municípios onde a investigação deverá ser complementada com atividades

ainda não realizadas e/ou com a continuidade daquelas já implementadas.

11.3.4 - MUNICÍPIOS COM TRANSMISSÃO CONFIRMADA

Municípios com confirmação da transmissão, envolvendo caso humano e/ou

canino serão adotados os seguintes critérios, conforme a classificação anterior do

município:

! Caso humano autóctone de LVA confirmado por critério parasitológico

e/ou com identificação de L. (L) chagasi, com ou sem confirmação de caso

canino, com ou sem encontro de Lu. longipalpis;

! Caso canino autóctone confirmado através de identificação de L. (L.)

chagasi, com ou sem encontro do vetor;

! Caso canino autóctone positivo para Leishmania sp no exame

parasitológico direto, com detecção de Lu. longipalpis em área urbana de

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município, próximo a outros municípios com transmissão e encontro do

parasita em outros cães, com a identificação de L. (L.) chagasi.

11.4 – ATIVIDADES DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA

11.4.1 - DIRIGIDAS À POPULAÇÃO HUMANA:

! Busca passiva de casos (parasitológico direto, identificação de Leishmania

sp);

! Busca ativa de casos sintomáticos em áreas de transmissão de LVA;

11.4.2 - DIRIGIDAS À POPULAÇÃO CANINA:

! Busca passiva de casos (sorologia, parasitológico direto, identificação de

L. chagasi).

! Busca ativa de cães sintomáticos para exame parasitológico em área

focal.

! Inquérito sorológico: Coleta de amostras de sangue para RIFI de cães com

ou sem sinais de LVA para identificação da positividade sorológica canina

, podendo ser realizado com diferentes áreas de abrangência, tais como:

! FOCAL – terá dois objetivos de acordo com a situação

epidemiológica do município:

- em municípios em investigação, com objetivo de avaliar a

positividade sorológica canina,será realizado em um raio

mínimo de 200 m ao redor de casos caninos com

parasitológico e/ou sorológico positivos ou em um raio até

obter material para sorologia de no mínimo 100 cães.

- em municípios com transmissão confirmada, tem como

objetivo avaliar a extensão e positividade do foco e a detecção

de cães a serem eliminados.Será realizado no raio inicial de

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200 m, a partir do local de procedência de casos caninos e/ou

humanos confirmados, ampliando-se o raio de ação em

relação ao local de procedência dos cães detectados com

sorologia positiva.

! AMOSTRAL – em uma amostra aleatória de cães, por setor

(setorização utilizada no Programa de Controle de Dengue), nos

municípios silenciosos e em áreas silenciosas dos municípios

que já apresentam transmissão da doença;

! TOTAL – realizado em municípios com transmissão,

abrangendo 100% dos cães das áreas de transmissão já

conhecida, para a eliminação dos cães positivos.

11.5 - ATIVIDADES DE VIGILÂNCIA ENTOMOLÓGICA

As pesquisas entomológicas são de responsabilidade da SES, terão caráter

qualitativo e quantitativo e serão realizadas com metodologias diferentes conforme os

objetivos propostos.

11.5.1 - NOTIFICAÇÃO DE INSETOS INCÔMODOS PELA POPULAÇÃO

Insetos encaminhados pela população deverão ser registrados e identificados

nos Laboratórios dos Serviços Regionais da SUCEN. Uma vez identificados como Lu.

longipalpis, deverá ser considerada a pesquisa realizada pelo morador, devendo ser

registrada no boletim de captura para flebotomíneos "Boletim para a captura de

flebotomíneos".

Os inquéritos caninos amostral e total serão desencadeados após análise

com as instituições que compõem o Programa de Vigilância de LVA do

Estado de São Paulo.

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Quando a detecção tiver sido realizada em municípios silenciosos não

receptivos, o SR – SUCEN deverá realizar nova pesquisa entomológica para avaliar a

distribuição do vetor, conforme o item a seguir.

11.5.2 - LEVANTAMENTO ENTOMOLÓGICO

Objetivo: Este tipo de levantamento visa detectar a presença de Lu. longipalpis

em municípios silenciosos não receptivos e conhecer a dispersão do vetor nos mesmos.

Metodologia: Esta pesquisa terá caráter qualitativo e deverá ser realizada

durante o período mais favorável para este levantamento, isto é, o período de outubro a

abril, podendo estender-se até a 1ª quinzena de maio, desde que a temperatura média

mensal do município esteja acima de 20º C.

Para a realização do levantamento entomológico deverão ser utilizadas

armadilhas de isca luminosa. As pesquisas serão realizadas, prioritariamente em

municípios próximos a áreas de transmissão, bimestralmente, durante o período

favorável, sendo repetidas anualmente, até o momento em que a Lu. longipalpis for

detectada.

Para cada setor (setorização utilizada no Programa de Controle de Dengue)

serão previamente selecionados dois imóveis, para exposição de uma armadilha em

cada peridomicílio.

Para a seleção dos imóveis deverão ser observadas as seguintes características:

residências com amplo peridomicílio (de preferência quintais com pelo menos 1 lote de

aproximadamente 10 x 30 metros), com presença de vegetação abundante,

principalmente, árvores frondosas ou arbustos; com acúmulo de matéria orgânica no

solo (folhas e frutas caídas, fezes de animais, etc.); presença de animais domésticos:

cães, galinhas, porcos, cavalos, vaca, boi, cabrito, coelho etc., que possam servir como

fonte de alimento para o flebotomíneo. Para tanto, poderão ser utilizados os relatórios

emitidos pelo programa DIAGAMB, quando da avaliação da situação do saneamento

dos imóveis.

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Para a pesquisa entomológica deverão ser empregadas armadilhas de isca

luminosas no peridomicílio, de preferência junto aos locais com possibilidade de criação

de flebotomíneos e/ou nos abrigos de animais domésticos, que serviriam como fonte de

alimento para o flebotomíneo.

As armadilhas deverão ficar expostas durante um período de 12 horas, a partir

de 30 minutos após o crepúsculo vespertino (tábua dos horários do crepúsculo poderá

ser obtida em jornal), por 3 noites consecutivas. Para tanto, os moradores deverão ser

orientados para a troca das pilhas, das câmaras coletoras e acondicionamento das

mesmas até que um encarregado venha buscá-las, no final da semana. As câmaras

coletoras deverão ser acondicionadas em sacos plásticos, devidamente etiquetadas, e

mantidas sob refrigeração, até o momento da identificação, que deverá ser realizada

pelos Laboratórios de Entomologia do SR - SUCEN.

Os dados das coletas e os resultados da identificação deverão ser registrados no

boletim padronizado, pela SUCEN, "Boletim para a captura de flebotomíneos". Para

cada imóvel pesquisado deverá ser preenchido um boletim que receberá um número

correspondente, no campo número da captura entomológica, por noite de captura. O

registro deverá ser feito mesmo quando a captura for negativa.

11.5.3 - INVESTIGAÇÃO DE FOCO

Objetivo: A investigação de foco visa detectar a presença de Lu. longipalpis na

área focal de municípios silenciosos não receptivos, isto é, com suspeita de cão ou

humano com LVA ou em municípios com transmissão onde ainda não tenha sido

detectada a presença do vetor.

Metodologia: A pesquisa deverá ser realizada no(s) domicílio(s) de permanência

do caso humano ou cão e em mais 41 residências, dando preferência àquelas com

características mais sugestivas para a presença do vetor, ou seja, aquelas residências

que possuam amplo peridomicílio (de preferência quintais com pelo menos 1 lote,

aproximadamente 10 x 30 metros), com presença de vegetação abundante,

principalmente árvores frondosas ou arbustos; com acúmulo de matéria orgânica no

solo (folhas e frutas caídas, fezes de animais, etc.); presença de animais domésticos

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(cães, galinhas, porcos, cavalos, vaca, boi, cabrito, coelho etc..), que possam servir

como fonte de alimento para o flebotomíneo.

Para a escolha das residências a serem pesquisadas, deverão ser observados

todos os imóveis da área delimitada do inquérito focal (200 m de raio ou um raio até

completar um mínimo de 100 cães na área do foco). Também, deverá ser observado o

critério da distribuição das residências por toda área do foco.

Caso não se obtenha as 41 casas com características mais sugestivas para a

presença do vetor, escolher as residências vizinhas àquelas já selecionadas.

Uma vez escolhidos os 42 imóveis da área delimitada, as capturas deverão ser

realizadas no intra e peridomicílio, simultaneamente. Para tanto, serão utilizadas 2

duplas com rendimento de 7 imóveis/dupla, por 3 noites consecutivas. As casas a

serem pesquisadas, para cada noite de captura, deverão ser sorteadas, aleatoriamente,

do total das casas pré-selecionadas (14 residências/noite). Durante a pesquisa no

peridomicílio deverão ser priorizados os abrigos de animais e locais de repouso (locais

sombreados próximos à vegetação ou paredes).

O período para a captura será no mínimo 20 minutos e no máximo de 30

minutos, caso o intra e/ou o peridomicílio sejam maior do que 1 lote de terreno. O

período total de captura em um dia de atividade é aproximadamente 3 horas. O início

da captura deverá ser 30 minutos após o pôr do sol (tábua dos horários do crepúsculo

poderá ser obtida em jornal local).

A coleta deverá ser realizada através da captura manual, com aspiradores,

restringindo-se o emprego do capturador de Castro a locais em que haja dificuldade de

realizar a captura com o aspirador, tanto no intra como no peridomicílio, devendo ser

observada a condição de simultaneidade.

Os insetos coletados deverão ser acondicionados nas câmaras coletoras, e

mantidos sob refrigeração, até o momento da identificação, que deverá ser realizada

nos Laboratórios de Entomologia do SR - SUCEN.

As capturas deverão ser realizadas, mensalmente, durante o período de outubro

a abril, até a detecção da Lu. longipalpis. No caso da captura ser negativa, esta deverá

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ser repetida no próximo período favorável, no mesmo foco ou em outros setores do

município.

11.5.4 - UNIDADE FIXA

Objetivo: A captura entomológica em unidades fixas visa monitorar a flutuação

da população de Lu. longipalpis em micro-regiões com presença de municípios

silenciosos receptivos e com transmissão, para avaliar a influência das condições

meteorológicas e o impacto das medidas de controle do vetor (manejo ambiental ou

medidas de controle químico), ao longo do tempo.

A seleção dos municípios que serão acompanhados por unidades fixas deverá

ser realizada pelo nível central. A atividade poderá ser executada pelo SR - SUCEN ou

município, porém sob responsabilidade do Estado.

Metodologia: As pesquisas entomológicas deverão ser realizadas,

mensalmente, através de armadilhas de isca luminosa em todos os setores do

município ou naqueles pertencentes a áreas delimitadas considerando a presença de

casos humanos e/ou caninos e/ou a presença do vetor.

Em cada setor deverão ser selecionadas duas a três residências com

características ambientais mais sugestivas para o estabelecimento e manutenção de

criadouros do vetor, ou seja, aquelas residências que possuam amplo peridomicílio (de

preferência quintais com pelo menos 1 lote, aproximadamente 10 x 30 metros), com

presença de vegetação abundante, principalmente árvores frondosas ou arbustos; com

acúmulo de matéria orgânica no solo (folhas e frutas caídas, fezes de animais, etc);

presença de animais domésticos (cães, galinhas, porcos, cavalos, vaca, boi, cabrito,

coelho etc), que possam servir como fonte de alimento para o flebotomíneo.

As armadilhas de isca luminosa deverão ser expostas no intra e peridomicílios

das residências selecionadas por 4 noites consecutivas. As armadilhas deverão ser

dispostas, de preferência, em abrigos de animais, a aproximadamente 1 metro do nível

do solo e, no intradomicílio, próxima a uma fonte de alimento para o flebotomíneo. O

período de exposição é de 12 horas/noite, iniciando-se 30 minutos após o crepúsculo

vespertino. Para tanto, deverão ser orientados os moradores para a troca e destino final

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das pilhas, utilização da extensão elétrica, troca das câmaras coletoras. Estas deverão

ser acondicionadas em sacos plásticos, devidamente etiquetados, e mantidas sob

refrigeração, até o momento da identificação, que deverá ser realizada nos Laboratórios

de Entomologia dos SR - SUCEN.

12 - MEDIDAS DE CONTROLE DE LVA

12.1 - CONTROLE DO RESERVATÓRIO CANINO

Serão eliminados os cães conforme segue:

! cães errantes, após o tempo de espera estabelecido para

resgate,selecionando-se um grupo representativo,conforme sua área

de procedência,para realização de exames.

! cães com exame sorológico e/ou parasitológico positivo em

municípios com transmissão confirmada.

! Cães com identificação de L. chagasi, mesmo em municípios em

investigação.

12.2 - CONTROLE DO VETOR

A estratégia de controle do vetor deve ser organizada tendo como base as

informações obtidas com as atividades de vigilância entomológicas, vigilância da

população canina e ocorrência de casos humanos, e deve ser implementada nos

municípios receptivos e, principalmente, naqueles com transmissão.

Trata-se de uma estratégia de controle integrado cujas atividades visam:

! Modificar as condições sanitárias que favorecem a proliferação de

Lu. longipalpis em áreas urbanas, intensificando as ações,

prioritariamente, nos setores com prevalência canina maior que 2%.

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! Reduzir a densidade de Lu. longipalpis a níveis próximos a zero no

intradomicílio, por um período de 12 meses, nas áreas onde tenha

sido confirmado caso humano autóctone de LVA .

12.2.1 - MANEJO AMBIENTAL

O manejo ambiental deverá ser priorizado em municípios com transmissão e nos

silenciosos receptivos. Consiste na limpeza de peridomicílios, terrenos baldios, praças e

parques públicos, a fim de reduzir a quantidade de matéria orgânica e de locais

sombreados, condições que favorecem a manutenção de criadouros do vetor. Para

tanto, serão recomendadas as seguintes medidas de manejo aos responsáveis pelos

imóveis: poda de árvores, arbustos e gramados, capinação e eliminação de matéria

orgânica.

Para sistematizar ações de orientação e de vigilância sanitária voltadas aos

responsáveis por imóveis que apresentem condições favoráveis à proliferação de

formas imaturas de Lu. longipalpis (imóveis de risco), em áreas urbanas, será realizado

o levantamento ambiental que visa mapear esses imóveis.

O levantamento deverá ser realizado pelas equipes municipais responsáveis pelo

controle de vetores. Sugere-se que seja realizado durante as visitas da atividade Casa

a Casa do Programa de Controle de Dengue. As informações obtidas nessas visitas

deverão ser registradas em boletim padronizado "Boletim para a Avaliação das

Condições de Saneamento dos Imóveis". Durante as visitas realizadas ao longo do ano,

os moradores deverão ser orientados pelos agentes, sobre os cuidados com os jardins

e quintais para evitar criadouros de Aedes e de flebotomíneos.

A seleção dos imóveis de risco deverá ser realizada a partir do diagnóstico

ambiental, e a limpeza deverá ser executada pelo munícipe, com apoio da Prefeitura,

principalmente para o transporte e destino final do material removido. s Os resultados

dos levantamentos ambientais realizados pelos municípios deverão ser discutidos em

reuniões periódicas, pelas Secretarias Municipais de Saúde em conjunto com o nível

regional da SES, instituições de saneamento básico e outras afins, para definição do

planejamento das medidas de saneamento em domicílios, imóveis não residenciais,

terrenos baldios e logradouros públicos, envolvendo a população e o poder público,

visando a implementação adequada das ações.

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Em setores com prevalência canina superior a 2%, as ações dirigidas aos

imóveis de risco deverão ser intensificadas, por meio de visitas específicas para

acompanhamento das condições sanitárias e reforço das orientações para a

manutenção adequada do peridomicílio desses imóveis.

Em áreas com ocorrência de casos humanos, devem ser intensificadas as ações

de manejo ambiental, precedendo a borrifação de inseticida.

12.2.2 - BORRIFAÇÃO COM INSETICIDA DE AÇÃO RESIDUAL

Quando da notificação de caso humano autóctone de LVA, deverá ser realizada

uma aplicação de inseticidas de ação residual, no intra e peridomicílio das residências

localizadas em uma área de no mínimo 200 metros de raio em torno da residência do

caso, no período de outubro a abril, de modo a reduzí-la a níveis próximos de zero no

intradomicílio.

Recomenda-se, também, para municípios cuja ocorrência de casos humanos

seja mais antiga, a aplicação de inseticidas de ação residual em áreas delimitadas

considerando o número e a distribuição dos casos humanos nos últimos 5 anos, a

prevalência canina, e a situação sócio-econômica da população acometida pela

doença. A aplicação do inseticida de ação residual deverá ser realizada

preferencialmente no período de janeiro a abril, de modo a reduzir a densidade de Lu.

longipalpis a níveis próximo de zero no intradomicílio.A delimitação das áreas que

receberão uma aplicação anual de inseticida de ação residual será definida pelo

município em conjunto com o nível regional da SES.

O inseticida atualmente recomendado pelo Ministério da Saúde e utilizado para

esse fim, no Estado de São Paulo, é a cipermetrina, do grupo dos piretróides sintéticos.

São empregadas as formulações pó molhável ou concentrado emulsionável, de acordo

com o acabamento das paredes a tratar, na dosagem de 125 mg de cipermetrina/ m2 de

superfície tratada.

Esta atividade deverá ser executada pelo município.

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12.3 - AÇÕES EDUCATIVAS

As ações educativas serão desenvolvidas considerando a adoção de linhas

metodológicas problematizadoras, dialógicas e participativas e que considerem fatores

sociais e culturais para garantir a compreensão e envolvimento da comunidade nas

ações de vigilância e controle da LVA nos seus vários aspectos. Terão também o papel

de instrumento facilitador para o desenvolvimento das ações de vigilância

epidemiológica, entomológica, de inquéritos humanos e caninos a serem realizadas por

equipes da saúde.

Pressupõem o estabelecimento de estratégias que contemplem envolvimentos

intersetoriais e interinstitucionais bem como utilização das informações sobre condições

sanitárias dos imóveis de áreas receptivas emitidas pelos relatórios do programa

informatizado DIAGAMB.

12.3.1 - NOTIFICAÇÃO DE INSETOS SUSPEITOS

Ações educativas que estimulem a população a notificar insetos incômodos

podem ser programadas, principalmente em municípios silenciosos não receptivos

vulneráveis e poderão resultar na intensificação da vigilância entomológica para

detecção da presença de Lutzomyia longipalpis nesses municípios.

12.3.2 - CUIDADOS COM CÃES

Estabelecer no desenvolvimento das atividades de controle de zoonoses e

doenças transmitidas por vetores, ações educativas com abordagem sobre transmissão

de doenças cujo reservatório é o cão, dando ênfase ao agravante que o abandono

deste animal na cidade representa na problemática dessas doenças. No conceito

“posse responsável” de cães buscar:

! Mudança de atitude, onde ser um proprietário responsável inclui a

adoção legal de procedimentos e cuidados que garantam não só o

bem estar do animal, como também de criá-los de tal forma para que

não sejam causa de qualquer espécie de constrangimento a pessoas

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ou risco à saúde pública e, especificamente para LVA, cuidados no

que se refere à não permanência do cão no intradomicílio, visando

reduzir o contato homem – vetor. Inclui, além de cuidados com sua

alimentação e higiene, até o estabelecimento de um registro geral do

animal (RGA) como alternativa de identificar o proprietário.

! Envolvimento dos profissionais veterinários e das instituições não

governamentais, principalmente as de proteção de animais para

atuar em ações de esclarecimentos sobre posse responsável de

cães para o controle da LVA.

12.3.3 - SANEAMENTO DOMICILIAR

Estabelecer o desenvolvimento de ações educativas com enfoque em

saneamento domiciliar que venham a garantir: mobilização da população e formação

educacional.

Mobilização social: As ações de mobilização da população em áreas de risco

de LVA deverão ser contínuas e intensificadas de forma coordenada ao

desenvolvimento das ações de vigilância e controle da doença, envolvendo:

! Agentes de saúde: é fundamental que a área de Informação,

Educação e Comunicação-IEC participe das atividades de

capacitação dos agentes, principalmente no que se refere ao

componete educativo do manejo ambiental;

! Grupos organizados, poder público e entidades de classe: utilizar os

eventos na comunidade (reuniões, feiras de saúde, festas regionais,

cultos, missas, etc.) e recursos disponíveis de divulgação (mídia,

carro de som, exposições dialogadas, material, etc.).

Formação Educacional: As ações deverão ser destacadas nas disciplinas de

Meio Ambiente e Saúde dos parâmetros curriculares nacionais (PCN), que estão em

vigor na rede de ensino do estado de São Paulo com enfoque em ações de manejo

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ambiental, principalmente no que se refere a necessidade de limpeza de quintais e

terrenos bem como à telagem das residências e canis (tela fina) para minimizar a

problemática da LVA. Desta forma, é fundamental a articulação da área de IEC com a

coordenação pedagógica das Diretorias de Ensino na definição das estratégias e metas

relacionadas com as questões acima apontadas. A avaliação deve ocorrer durante todo

o desenvolvimento dos trabalhos implementados. É fundamental garantir um processo

permanente de discussão das práticas educativas, numa perspectiva de troca de

conhecimentos entre equipe da saúde e comunidade, propondo a criação de

instrumentos de divulgação e eventos para envolvimento e participação efetiva da

sociedade no controle da LVA, interagindo com um meio ambiente saudável e

conseqüentemente, melhor qualidade de vida.

13 - AVALIAÇÃO DA PREVALÊNCIA CANINA FOCAL

As medidas de controle aplicadas na área de foco deverão ser avaliadas

anualmente, isto é, nova coleta de sangue de cães deverá ser realizada nessas áreas

para avaliar a variação na prevalência após eliminação de cães infectados.

14 - ORIENTAÇÕES PARA COLETA E ENVIO DE AMOSTRAS PARA O

INSTITUTO ADOLFO LUTZ

14.1 – PARA HUMANOS

• PARASITOLÓGICO DIRETO: coletar, através de punção aspirativa, material

de medula óssea ou baço, depositar pequena quantidade na extremidade de algumas

lâminas de microscopia e, com a borda de outra lâmina fazer o esfregaço no sentido

contrário. Secar à temperatura ambiente e enviar ao laboratório em caixas ou tubos

para lâminas ou, então, envoltas em papel alumínio.

• IDENTIFICAÇÃO DE LEISHMANIA: poderá ser feita a partir de diferentes

materiais biológicos, obtidos de diferentes formas:

! Creme leucocitário: coletar 5 a 10 ml de sangue periférico em tubo

com anticoagulante EDTA.

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! Aspirado de medula ou baço: coletar, através de punção aspirativa,

material de medula óssea ou de baço e semear em meio NNN ou

similar e enviar ao IAL em temperatura ambiente, ou acondicionar em

meio de transporte e enviar ao IAL congelado a –20ºC. Para obter o

meio de cultura ou transporte contatar previamente o IAL regional.

! Fragmento de baço, fígado ou medula óssea: em caso de óbito,

coletar o material através de punção biópsia ou necropsia.

Acondicionar e enviar conforme descrito acima.

• SOROLOGIA: coletar 5 a 10 ml (3 a 5 ml para crianças) de sangue periférico

em tubo seco (sem anticoagulante) e enviar ao laboratório:

! o sangue total (caso não seja possível centrifugar e separar o soro),

no prazo máximo de 6 horas, acondicionado em isopor refrigerado;

! o soro (separado após centrifugação), no prazo máximo de 24 horas

se refrigerado de 2 a 8ºC ou no prazo de até 72 horas - se congelado

a -20ºC - transportado em isopor com gelo.

14.2 – PARA CÃES

• SOROLOGIA: pode ser coletada da seguinte forma:

! Papel filtro: por de punção da ponta da orelha com lanceta e

impregnação de papel filtro padronizado, com amostra de sangue de

no mínimo 3 cm de diâmetro, distribuído uniformemente frente e

verso, enviado ao IAL à temperatura ambiente no prazo de 1 semana

ou refrigerado no prazo de 1 mês;

! Punção venosa: através de seringa e agulha para coleta de 3 a 5 ml

de sangue periférico que deve ser acondicionado e enviado ao IAL

conforme descrito para humanos.

• PARASITOLÓGICO DIRETO: poderá ser realizado com material obtido de

raspado de lesão cutânea ou punção aspirativa de linfonodo ou medula óssea. Pequena

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quantidade deste material deve ser colocado na extremidade da lâmina de microscopia

e feito esfregaço com a borda de outra lâmina. Deverá ser preparada mais de uma

lâmina. Acondicionar e enviar ao IAL conforme descrito para humanos.

• IDENTIFICAÇÃO DE LEISHMANIA: deverá ser realizada a partir de

diferentes materiais biológicos como fragmento de lesão de pele, baço, fígado,medula

óssea e/ou linfonodo,. Estes dois últimos materiais podem ser coletados com o animal

ainda em vida .Após a morte ou a eutanásia dos animais,devem ser coletador

fragmentos de baço e fígado, além de linfonodos e medula óssea. O material deverá ser

acondicionado e encaminhado ao IAL conforme descrito para humanos.

• Atenção quanto ao preenchimento das requisições, planilhas e

amostras que acompanharão as amostras coletadas.

• Informar sempre o tipo de papel filtro utilizado: Whatmann nº 1 ou

Klabin nº 80.

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ANEXO 1 - FLUXOGRAMA DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA DE CASO

HUMANO DE LEISHMANIOSE VISCERAL AMERICANA

COLHERMEDULA ÓSSEA

Investigaçãohospitalar

MANTÉM FEBRIL,HEPATOESPLENOMEGALIA EALTERAÇÃO LABORATORIAL

Investigaçãoambulatorial

REPETIR PD

FEBRE > 2SEM.

EX. FÍSICO

C/ HEPATOMEGALIA( > 1 cm DO RCD)

C/ ESPLENOMEGALIA S/ ESPLENOMEGALIA

COLHER EXAMESINESPECÍFICOS

Hb < 5,0Leuc < 3.000

Plaq < 100.000Globul. ↑

Hb < 9,0 eLeuc < 4.000 ePlaq < 150.000E Globulina ↑

Hb ≥ 9,0Leuc ≥ 4.000

Plaq ≥ 200.000Globul. normal

Parasitológico Direto

DESCARTAR OUTRASHD

S/ HEPATOMEGALIA

RETORNO AMBULATORIALEM 2 SEM.

FEBRIL EESPLENOMEGALIA

MANTÉMFEBRIL

SEMESPLENOME-

GALIA

PENSAR OUTRAS HD

INTERNAÇÃO

SEGUIMENTO AMBULATORIAL

POSITIVO

Tratamento

NEGATIVO

Estado geralcomprometido

Descartar outras HD

Estado geralpreservado

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ANEXO 2 - FLUXOGRAMA DE INVESTIGAÇÃO DE CASO SUSPEITOCANINO DE LEISHMANIOSE VISCERAL AMERICANA EM MUNICÍPIO

SILENCIOSO

(1) coletar material para parasitológico: de aspirado de linfonodo ou de medula óssea

ou em necrópsia (material de baço e fígado).(2) coletar material para isolamento de Leishmania: de biópsia de lesão, aspirado de

linfonodo ou de medula óssea.

CÃO SUSPEITO

ParasitológicoNEGATIVO

ManterVigilância

PARASITOLÓGICO

INVESTIGAÇÃO

Novos casos caninos

confirmados por

encontro de L chagasi

Novos casos caninos positivos paraLeishmania sp

MANTER VIGILÂNCIA ENTOMOLÓGICACLASSIFICAR O MUNICÍPIO

Sem confirmação de novoscasos caninos

por encontro de L .chagasi

Identificação de L.chagasi ⊕ (2)

PARASITOLÓGICOPOSITIVO (1)

PARA LEISHMANIASP

EUTANÁSIA

PESQUISAENTOMOLÓGICA

POSITIVA NEGATIVA

NOTIFICAR ÀSUCEN

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ANEXO 3 - FLUXO DE TRATAMENTO LEISHMANIOSE VISCERALAMERICANA - HUMANA

LVAParasitológico POSITIVO

Avaliação clínica e laboratorial: cardíaca , renal e respiratória

Glucantime 20mg/kg/dia Primeira série 20 a 30 diasMáximo 3 ampolas (IM-EV) 1 ml = 81 mg

Monitorizar a cada infusão:

PAFRFC

Temperatura

ALTERADOAvaliação da respostaterapêutica

NORMAL

A L T A

NEGATIVA

Nova série - Glucantime30 a 40 dias

Mantém sintomas -

2º recidiva

DROGA DE 2 º ESCOLHA

ReavaliarmedicaçãoPOSITIVA:

FEBRE: regressão nos lº 7 dias detratamento

PESO: aumento progressivo durantetratamento

BAÇO: diminuição em 50% até o final dotratamento (hepatimetria)

ESTADO GERAL: melhora até o fim dotratamento