secretaria de estado da educaÇÃo - paraná...da poesia com varal e declamação de poesias....
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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃOSuperintendência da Educação
Diretoria de Políticas e Programas Educacionais Programa de Desenvolvimento Educacional
CADERNO PEDAGÓGICO – PROFESSOR PDE
INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR FACULDADE ESTADUAL DE CIÊNCIAS E LETRAS DE CAMPO MOURÃO -
FECILCAM
PROFESSOR ORIENTADOR IES: PROF. Ms. WILSON DE MOURA RODRIGUES
PROFESSORA PDE: MARIA SOCORRO CORDEIRO ALDIVINO
- NRE: Campo Mourão – PR
- Escola de implementação: Colégio Estadual São Judas Tadeu – EFM
- Público objeto da intervenção: Professores da 8ª série do Ensino Fundamental
ÁREA/DISCIPLINA: Língua Portuguesa
TEMA: A LEITURA POÉTICA
TITULO: VÁRIAS POSSIBILIDADES DE LEITURA DO TEXTO POÉTICO
QUINTA DO SOL - PRPDE 2010
MARIA SOCORRO CORDEIRO ALDIVINO
VÁRIAS POSSIBILIDADES DE LEITURA DO TEXTO POÉTICO
Trabalho apresentado por Maria Socorro Cordeiro Aldivino, Professora PDE, na área de Língua Portuguesa, sob a orientação do Professor Ms. Wilson Rodrigues de Moura.
QUINTA DO SOL2011
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Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
(...)
Chega mais perto e contempla as palavras.Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutrae te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:Trouxeste a chave?
(Procura da poesia, Carlos Drummond de Andrade)
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SUMÁRIO
1. IDENTIFICACÃO....................................................................................................... 5
2. INTRODUÇÃO............................................................................................................. 6
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA................................................................................8A importância da leitura na escola...................................................................................... 8O texto poético.................................................................................................................... 10
4. ATIVIDADES............................................................................................................... 14Os níveis de leitura.............................................................................................................. 154.1 Carlos Drummond de Andrade ................................................................................ 164.2 João Cabral de Melo Neto.......................................................................................... 244.3 Varal de poesias........................................................................................................... 31
5. AVALIAÇÃO................................................................................................................ 32
6. REFERÊNCIAS............................................................................................................ 33
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1. IDENTIFICACÃO
NOME DO PROFESSOR PDE: Maria Socorro Cordeiro Aldivino
ÁREA PDE: Língua Portuguesa
PROFESSOR ORIENTADOR: Ms. Wilson Rodrigues de Moura
IES VINCULADA: Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão -
FECILCAM
ESCOLA DE IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO: Colégio Estadual São Judas Tadeu -
EFM
MUNICÍPIO: Quinta do Sol
NRE: Campo Mourão
PÚBLICO OBJETO DE INTERVENÇÃO: Professores de Língua Portuguesa da 8ª série do
Ensino Fundamental
TEMA DE ESTUDO: A Leitura Poética.
TÍTULO: Várias possibilidades de leitura do texto poético.
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2. INTRODUÇÃO
Este caderno tem como meta apresentar uma proposta de trabalho com textos
poéticos, com os professores das 8ªs séries do Colégio Estadual São Judas Tadeu – EFM, que
possui atualmente 853 alunos, distribuídos nos turnos de funcionamento (manhã – tarde –
noite), sendo 404 alunos do Ensino Fundamental e 228 alunos do Ensino Médio. Seus alunos
são essencialmente do município e pertence à classe média/baixa. Grande parte dos alunos são
filhos de pais assalariados (a maioria ganha um salário mínimo/mês), filhos de funcionários
públicos, empregadores e empregados do comércio, trabalhadores volantes, principalmente
cortadores de cana.
No turno da manhã estudam os alunos residentes na zona urbana e no turno
vespertino estudam os que vêm da zona rural, beneficiados pelo transporte escolar. Os alunos
do período noturno, em sua maioria, são trabalhadores tanto da zona urbana quanto da rural.
Também neste turno ocorre o maior número de evasão, pois os alunos não conseguem
conciliar trabalho e escola.
Tem-se notado bastante desinteresse e falta de perspectiva da maior parte dos
adolescentes e jovens, o que não ocorre devido às suas condições financeiras, mas sim pela
falta de objetivos, o que gera, na escola, o desinteresse pela aprendizagem e consequente
indisciplina. Diante desse problema, o Colégio tem procurado desenvolver projetos que
ofereçam aos alunos oportunidades de acesso à cultura e desperte o senso crítico, o gosto pela
leitura, pelo esporte e também em criar nos mesmos uma consciência ambiental.
No tocante à leitura, os professores de Língua Portuguesa promovem vários projetos
durante todo o ano letivo, porém em datas específicas, como dia do livro, dia da literatura, dia
da poesia com varal e declamação de poesias. Realizam-se também festivais (folclore e da
canção). A biblioteca da escola também tem alguns projetos de leitura de livros literários e de
gibis.
Para estarem em consonância com as DCEs – Diretrizes Curriculares Estaduais e
com o PPP – Projeto Político da Escola, os professores não se atêm apenas às leituras da
disciplina específica, mas à literatura de maneira geral, além de revistas e jornais que são
assinadas pela escola, porém, os alunos ainda lêem muito pouco.
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Neste cenário, entende-se que este trabalho de leitura que envolva todos os
professores de Língua Portuguesa das 8ªs séries da escola, estimulará os alunos também a
lerem e a produzirem os seus textos. Como o gênero mais lido na escola ainda são os livros de
literatura clássica, principalmente os romances, a leitura de textos poéticos precisa ser
incentivada, a fim de que os professores e alunos descubram o prazer de ler. Desta forma, um
trabalho que incentive a leitura de textos poéticos junto aos professores pode ser o início para
muitos jovens e adolescentes despertarem o gosto pela leitura, contribuindo, assim, para o seu
pleno desenvolvimento.
Assim, pretende-se compreender por que professores e alunos das 8ªs séries do
Colégio Estadual São Judas Tadeu – EFM de Quinta do Sol – PR, têm dificuldades para ler
textos poéticos e ao mesmo tempo, criar condições para possibilitar a leitura dos mesmos
junto aos alunos, desenvolvendo-lhes uma visão crítica do mundo. Este trabalho propõe
leitura teórica sobre o gênero poesia aos professores de Língua Portuguesa das 8ªs séries da
referida escola, e incentivar os professores de Língua Portuguesa das 8ª séries a trabalharem
com textos poéticos junto a seus alunos.
Assim, este trabalho será divulgado em toda a escola, bem como fará parte do
Projeto Político da escola, da Proposta Curricular de Língua Portuguesa e do Plano de
Trabalho Docente para que a leitura de textos poéticos seja, de fato, ampliada no âmbito
escolar.
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3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A importância da leitura na escola
A leitura na escola vem, nos últimos tempos, apenas cumprindo uma formalidade.
Desde muito cedo, na fase da alfabetização, quando se prioriza sons e letras, a decodificação
de palavras isoladas, a formação de frases e períodos, afasta-se o aluno do real sentido da
leitura. Também tem se percebido que muitos livros didáticos apresentam propostas de
leituras totalmente desvinculadas da realidade do aluno, provocando desinteresse e
desconhecimento de como os textos poéticos podem intervir na motivação por determinada
prática pedagógica.
ZILBERMAN (1988, p. 94), afirma que:
A leitura é o fenômeno que respalda o ensino da literatura e, ao mesmo tempo, o ultrapassa, porque engloba outras atividades pedagógicas, via de regra de tendência mais prática. De modo que, a literatura enquanto evento cultural e social, depende do modo de como a literatura é encarada pelos professores, por extensão, pelos livros didáticos que encaminham a questão; pois de uma maneira ou outra, eles se encarregam de orientar a ação docente em sala de aula.
Ler é um direito de todos e leva o cidadão à cultura e ao conhecimento e, sem
dúvida, desenvolver o prazer pela leitura é o grande desafio da escola, nos dias de hoje. A
mesma autora diz que formar leitores envolve um posicionamento firme da escola e dos
professores:
Pensar a questão da formação do leitor não significa, portanto, constatar tão-somente uma crise de leitura; o tema envolve, antes de mais nada, uma tomada de posição relativamente ao significado do ato de ler, já que se associa a ele um elenco de contradições, originário, de um lado, da organização específica da sociedade brasileira, de outra, do conjunto da sociedade burguês e capitalista. (ZILBERMAN, 1988, p. 20)
Segundo AZEVEDO (2009, p. 66), “a leitura de ficção e de poesia pode ter um
papel regenerador e insubstituível”, e ainda afirma que a função da literatura, principalmente
através da poesia, possibilita o contato direto com o “discurso subjetivo”, ou seja, um mesmo
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texto didático e impessoal pode se transformar em algo que traz sensações diferentes. Para o
autor,
(...) é pela literatura que se entra em contato com temas humanos complexos, ausentes dos livros utilitários, mas essenciais: a paixão, a busca do autoconhecimento, a angústia, a luta do velho contra o novo, o ciúme, a confusão entre a realidade e a fantasia, a mentira, a existência nos diferentes pontos de vista sobre um mesmo assunto, etc. (Carta na escola, p. 66).
Uma proposta na escola que priorize a leitura de textos poéticos, sem dúvida,
contribuirá para o despertar do aluno para o mundo da literatura, contribuindo para sua
formação, ampliando sua visão de mundo.
Segundo as DCE de Língua Portuguesa, (2006, p. 31),
A leitura compreende, assim, o contato do aluno com uma ampla variedade de textos produzida numa igualmente ampla variedade de práticas sociais. Trata-se de propiciar o desenvolvimento de uma atitude crítica que leva o aluno a perceber o sujeito presente nos textos e, ainda, a uma atitude responsiva diante dele.
Para que o leitor seja competente, é preciso ultrapassar a compreensão da superfície
textual, isto é, não entender somente as informações que estão explícitas no texto. Ler um
texto consiste num processo dinâmico entre sujeitos que instituem trocas de experiência por
meio do próprio texto. Por isso, a presença de textos no contexto escolar colabora na
formação desse leitor competente.
As Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa também compreendem a leitura
como
(...) um ato dialógico, interlocutivo, que envolve demandas sociais, históricas, políticas, econômicas, pedagógicas e ideológicas de determinado momento. Ao ler, o indivíduo busca as suas experiências, os seus conhecimentos prévios, a sua formação familiar, religiosa, cultural, enfim, as várias vozes que o constituem (DCEs, 2008, p. 56).
Quanto mais dialogar com o texto, mais experiências significativas o leitor tem com
o texto escrito, mais desenvoltura o aluno vai adquirir para dialogar com ele. Nesse sentido, as
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DCE também afirmam que o texto literário “permite múltiplas interpretações, uma vez que é
na recepção que ele significa (...), traz lacunas, vazios, que serão preenchidos conforme o
conhecimento de mundo, as experiências de vida, as ideologias, as crenças, os valores, etc.,
que o leitor carrega consigo” (DCEs, 2008, p. 59).
Ao se entender que a principal função do texto é a interlocução, a abordagem textual
deve reconhecer as diversidades existentes em tipos de textos, as características que os
formam e onde eles são usados, ou seja, o seu contexto, para, assim, identificar e até
classificar os mesmos.
O texto poético
Ao optar em trabalhar com este tipo de texto, o professor estará, consequentemente,
favorecendo um ambiente de aprendizagem e formação de leitores para toda a vida.
Marcuschi defende o trabalho com textos na escola a partir da abordagem do gênero textual,
que segundo ele é “uma noção vaga para os textos materializados encontrados no dia-a-dia e
que apresentam as características sócio-comunicativas definidas pelos conteúdos,
propriedades funcionais, estilo e composição característica” (MARCUSCHI, 2002, citado por
SILVA, 2010, p. 29). Já para Bakthin (1992, p. 261), os gêneros são tipos relativamente
estáveis de enunciados elaborados pelas mais diversas esferas da atividade humana, ou seja,
ou seja, são as ações sócio-comunicativas que permitem a interação.
Sem dúvida, o texto faz parte do nosso cotidiano. O prazer da leitura vem das
emoções que ela desperta em cada leitor, pois o texto age sobre o leitor, causando reações de
recepção; a relação daquele com este é sempre receptiva e ativa, de aceitação ou de recusa, já
que a leitura é uma experiência que modifica atitudes, emociona, distrai, informa e convence.
Como afirma Bakthin, (1992, p. 298),
A obra predetermina as posições responsivas do outro nas complexas condições da comunicação verbal de uma dada esfera cultural. A obra é um elo na cadeia da comunicação verbal; do mesmo modo que a réplica do diálogo, ela se relaciona com outras obras – enunciados: com aquelas a que ela responde e com aquelas que lhe respondem, e, ao mesmo tempo, nisso semelhante à réplica do diálogo, a obra está separada das outras pela fronteira absoluta da alternância dos sujeitos falantes.
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Sendo o texto uma unidade discursiva e “não um objeto fixo num dado momento no
e responsiva a outros textos, desse modo, estabelece relações dialógicas” (DCEs, 2008, p. 51),
o trabalho com gêneros textuais e, portanto, textos diversificados, é uma oportunidade de
trabalhar com a língua em seus usos do dia-a-dia, neste caso, o trabalho com poemas.
Para realizar um trabalho de forma competente com textos, é preciso que o professor
conceba a linguagem como uma forma de diálogo. Neste sentido, Travaglia (2006), também
apresenta o texto como uma situação de interação entre os sujeitos. Para ele, a linguagem é a
expressão do pensamento, é um instrumento de comunicação (a língua vista como um
código), e é uma forma ou processo de interação.
Na primeira concepção, linguagem como expressão do pensamento, o autor afirma
que “as pessoas não se expressam bem porque não pensam” (TRAVAGLIA, 2006, p. 21) e,
por isso, para que o homem exteriorize seu pensamento por meio de uma linguagem
articulada e organizada, é preciso que o organize de maneira lógica. Na terceira concepção, o
autor afirma que ao usar a língua, o indivíduo não faz tão somente “traduzir e exteriorizar um
pensamento, ou transmitir informações a outrem, mas sim realizar ações, agir, atuar sobre o
interlocutor” (p. 23).
Assim, o diálogo é que caracteriza a linguagem e no texto poético esse processo
dialógico também ocorre. MOISÉS (1973, p. 47 e 53), define a poesia como criar, no sentido
de imaginar, e é expressa em versos. Afirma ainda que “o poema comunica ao leitor a poesia
que existiu no poeta (...)” e “a poesia passa para o poema na medida em que este funciona
como o reservatório de signos que conduzem à poesia ou preservam-na de esvair-se”.
Também se considera importante colocar aqui o significado de poesia e poema,
devido à confusão que os dois termos normalmente causa:
Poesia é a linguagem subjetiva, que utilizamos para exprimir nossos sentimentos e nossas emoções, com elementos sonoros: ritmo, rima e verso. Até a Idade Média, a poesia era cantada. Só depois é que se separou o poema da música. Já o poema é a forma da poesia. Em geral, confundimos poema com poesia, porque escrevemos poesia em poema, embora se possa escrever também poesia em prosa. Um poema é composto de vários versos e estrofes. Vamos dizer que o poema é a roupa mais comum da poesia. É a parte concreta da poesia enquanto a poesia é a parte imaterial. Os poemas têm elementos sonoros importantes, como métrica, ritmo e rima, justamente porque eram acompanhados de música e dela guardam esses elementos (LACERDA, 2010, s/d)
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Já para FERREIRA (1993), a poesia é a que tem caráter que emociona, toca a
sensibilidade, sugere emoções por meio de uma linguagem, enquanto que o poema é a obra
em verso em que há poesia. E para OBERG (2006, p. 147), “a poesia, como de resto toda a
literatura, é a arte da palavra – sua essência é linguagem esteticamente organizada, de modo a
buscar a expressão e a comunicação.”
A mesma autora afirma que a poesia toca, emociona, mobiliza o ser humano, “tanto
no nível racional quanto no emocional, possibilitando uma vinculação diferenciada do homem
consigo mesmo, com o outro e com o mundo (p. 147)”. Desta forma, a presença de muitos
textos poéticos na sala de aula, cria vínculos com o leitor, tornando possível compartilhar
experiências poéticas também com os outros alunos,
A leitura de textos poéticos exige a participação ativa do aluno na construção de
imagens, sensações e conceitos presentes nos textos. Muito mais do que um instrumento de
comunicação, a leitura permite trabalhar com o mundo dos símbolos e da fantasia. Essas
viagens criativas e imaginativas, realizadas pelos leitores possibilitam o desenvolvimento da
crítica, que é uma das mais importantes capacidades humanas.
As DCEs de Língua Portuguesa afirmam que a leitura de um poema é diferente da
leitura de um artigo de opinião, já que neste, elementos como local e data de publicação,
contexto e tema, dentre outros, devem ser analisados: “Numa atividade de leitura com o texto
poético, é preciso observar o valor estético, o seu conteúdo temático, dialogar com os
sentimentos revelados, as suas figuras de linguagem, as suas intenções” (2008, p. 72). O
mesmo documento salienta que no trabalho com textos poéticos, o professor deve trabalhar
com a leitura expressiva, estimulando, assim, nos alunos, a sensibilidade estética. Também é
preciso que antes de “apresentá-lo para os educandos, o professor deve estudar, apreciar,
interpretar, enfim, fruir o poema” (2008, p. 76).
Para OBERG (2006, p. 149),
Os poemas não são feitos com o objetivo de ensinarem conteúdos curriculares ou de servirem como estratégias ao ensino dos temas transversais ou de outras disciplinas. E é, exatamente, neste suposto, “não ensinar” formal que eles nos ensinam. Trata-se, no entanto, de uma outra
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qualidade de acaso educativa, mais ampla e relacionada à formação humana e cultural dos sujeitos.
O ato de ler um poema justifica-se em si mesmo, pois “a linguagem poética requer
formas de aproximação, que incluem não apenas aspectos cognitivos, mas também
imaginativos, afetivos e sensoriais” (OBERG, 2006, 149).
Sem dúvida, para que o professor estimule o aluno a ler e o faça com prazer, é
preciso primeiro que o próprio professor goste do que está realizando. O professor pode
também propor outras atividades após a leitura dos poemas, como desenhar, dramatizar,
escrever novos poemas e conhecer novos gêneros, aprimorando a compreensão, interpretação
e análise, adequando ao nível da sala e de cada aluno.
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4. ATIVIDADES
Serão realizados encontros com os professores das 8ªs séries do Colégio, com o
objetivo de mostrar aos professores a importância da leitura de textos poéticos, orientando-os.
Para tanto, a leitura dos mesmos com uma breve análise dos poemas se faz necessário. Os
professores serão incentivados a falarem, expondo suas opiniões sobre os textos lidos,
explorando as sensações produzidas pelo texto.
O trabalho com o texto poético permite a criação de espaço onde o imaginário e o
sonho das pessoas é aguçado, permitindo expor sentimentos e emoções. Desta forma, nos
encontros, será proposto aos professores que declamem poemas uma vez ou mais, podendo
até ser um a cada dia. Explicar ao professor que estas atividades podem ocorrer a partir de
estratégias bastante simples e diversas, desde as mais simples leituras e declamações
realizadas pelo professor em algum momento de sua aula, até atividades mais elaboradas,
como ensaios e preparação para um jogral, por exemplo.
Também será realizada a interpretação de poemas com o grupo de professores, para
que percebam a profundidade de um poema, assim como demonstrar a importância da
declamação (leitura em voz alta, com ritmo e melodia).
Também serão desenvolvidas outras atividades de leitura de poemas, culminando
com um varal de poesias. Os autores escolhidos foram Carlos Drummond de Andrade e João
Cabral de Melo Neto, cujas poesias serão assim trabalhadas:
- leitura do poema (pelos professores ou por mim);
- breve contextualização do texto (época, autor);
- questionamento sobre o que poema nos diz, que sensações produziu no leitor;
- análise do poema;
- releitura do mesmo (se for necessário).
Assim, em um primeiro momento, realizar-se-á uma atividade de leitura que leve a:
• Conhecimento do conjunto das regras e das combinações para seu funcionamento;
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• Descoberta de um sentido real para o texto;
• Entendimento de palavras e expressões em seus contextos;
• Conhecimento das relações gramáticas básicas;
Em um segundo momento, procurará levar os participantes do grupo durante a
leitura a distinguir as características básicas do texto (no caso, o poema), em razão de seu
formato e conteúdo.
Os níveis da leitura
Sendo o poema a expressão de sentimentos, emoções e experiências, como afirmam as
DCEs (2006, p. 32), ao colocar que o texto “carrega em si ideologias, mas somente a partir da
visão do mundo de quem o lê é possível estabelecer relações que venham aceitar ou refutar os
valores ali presentes”, entende-se que o poema tem sua organização tanto sintática quanto
interpretativa e por isso, aplicando cada um dos níveis abaixo, pode-se analisar os elementos,
atribuindo ao poema valores significativos.
Os níveis propostos por Franco Junior1 (1996) são: nível de decodificação, da
associação, da análise e da interpretação. No primeiro nível, o da decodificação, é o que diz o
texto, ou seja, abrange o conjunto de signos linguísticos que constitui a expressão corporal da
mensagem, que é o texto.
O nível da associação, é aquilo que o texto faz lembrar; o leitor coloca o texto lido
“num conjunto de paradigmas que lhes são fornecidos, quase que automaticamente, pela sua
memória afetivo-intelectual”. Este nível interfere na construção da leitura e na interpretação
do texto literário.
O terceiro nível, da análise, verifica-se como o texto diz o que diz; neste nível, é
preciso dominar um conjunto mínimo de conceitos que permita estudar o texto literário com
rigor e objetividade, privilegiando a identificação dos elementos que constituem a sua
estrutura e estudando as relações. Já o nível de interpretação, implica naquilo que o texto
quer dizer com aquilo que diz, ou seja, é um juízo crítico e um posicionamento de valor do
1 FRANCO JR, Arnaldo. Níveis de leitura: teoria e prática. Maringá: EDUEM, 1996.
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leitor perante o texto. Juntamente com os níveis anteriores, este nível corrobora para que a
leitura ocorra com profundidade.
Zafalon (2008) ao citar Bakhtin (1997), também afirma que o texto não é um objeto
fixo num momento histórico; ele lança seus sentidos e tem sua continuidade nas composições
de leitura que ele suscita, Então, não se pode apenas perguntar “O que o texto pode querer
dizer?”, mas também “Como o texto funciona em relação ao que quer dizer?”.
Desta forma, aplicar-se-á estes níveis nos poemas que serão analisados de Carlos
Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto.
4.1 Carlos Drummond de Andrade
Este poema de Carlos Drummond de Andrade nos remete a uma reflexão de vida, ou
como firma Zafalon (2008), que a partir da leitura, o indivíduo é capaz de compreender
melhor a sua realidade e seu papel como sujeito nela inserido ou quando a autora cita Larossa
(2000), que “ler consiste em ver as coisas diferentes, coisas dantes nunca vistas, entregar-se
ao texto, abandonar-se nele e não apenas apropriar-se dele para nossos fins” (ZAFALON,
2008, p. 3).
Texto 1: Consolo na praia2
Vamos, não chores...A infância está perdida.
A mocidade está perdida.Mas a vida não se perdeu.O primeiro amor passou.O segundo amor passou.O terceiro amor passou.Mas o coração continua.Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?
2 Disponível em http://educaterra.terra.com.br/literatura/poesiamoderna/2003/06/06/001.htm, acesso em julho de 2011.
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A injustiça não se resolve.À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.Mas virão outros.
Tudo somado, deviasprecipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...Dorme, meu filho.
a) Inicialmente pode-se questionar (decodificando a palavra):• O que diz o texto?• O que significa humour?• O que significa protesto?
b) Associando à experiência do aluno:
• Você já se sentiu meio perdido na vida?
• Você já teve uma grande perda?
c) Analisando o texto:
O primeiro verso do poema Vamos, não chores... só é complementado ao final do
poema, quando o autor coloca todos os problemas que o eu lírico passou...e já se pode
perguntar por que ele choraria ou não choraria, demonstrando todo o sentimento do poeta. Em
seguida, são apresentadas as razões pelas quais ele deveria chorar: pela infância e pela
mocidade perdidas, porque não foram vividas de acordo ou simplesmente porque já passaram.
Na seqüência, usa a conjunção mas, o que produz no leitor um debate (Mas a vida não
se perdeu), ou seja, usa vida não no sentido orgânico da palavra, mas sim que conseguiu
resistir às adversidades da vida. Em seguida, o autor enumera o que se passou: o primeiro, o
segundo e o terceiro amor, usando, para isso, o verbo no passado, embora no último verso
desta estrofe, use continua, como se estivesse continuando até agora.
Também nas estrofes seguintes, continua enumerando o que perdeu, mas sempre
colocando o que continua tendo (perdeu o amigo, a viagem, não tem casa, etc... mas tem um
cão / tem o humour, etc), ou seja retrata o que perde e o que não perde.
O texto é marcado, assim, por antíteses, paralelismo dos valores que foram destruídos
e aqueles que não foram. Porém, no final, ocorre uma dupla negação, onde tudo se dissolve –
Precipitar-te, de vez, nas águas – e juntam-se os elementos, água, areia, vento, somados à
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nudez do eu lírico, que é aconselhado a dormir (Dorme, meu filho), que é um acalanto falso,
ou seja, vai apagar-se, acabar em nada.
d) Posicionamento crítico do aluno sobre o poema:
• Você acha que para se ganhar algo na vida, é preciso sempre perder algo?
• O que significa pra você o último verso do poema?
• Por que o título Consolo na praia?
Texto 2: Infância3
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.Eu sozinho menino entre mangueiras.
lia a história de Robinson Crusoé,comprida história que não acaba mais.
No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeua ninar nos longes da senzala - nunca se esqueceu
chamava para o café.Café preto que nem a preta velha
café gostosocafé bom.
Minha mãe ficava sentada cosendoolhando para mim:
- Psiu... Não acorde o menino.Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!
Lá longe meu pai campeavano mato sem fim da fazenda.
E eu não sabia que minha históriaera mais bonita que a de Robinson Crusoé.
Ao trabalhar o texto Infância com os professores e posteriormente com os alunos,
deve-se levar em consideração o que afirmam as DCEs de Língua Portuguesa que entendem a
prática de leitura como um processo de interação entre o texto e o leitor que produz
3 Disponível em http://www.kplus.com.br/materia.asp?co=312&rv=Cigarra. Acesso em julho de 2011.
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significado. Nesse sentido, o tema do poema, comum a todas as pessoas, se revela como um
meio eficiente de significados, onde os alunos poderão falar de suas emoções, lembranças e
experiências de vida.
a) Decodificando a palavra:• O que diz o texto?• O que significa senzala?• O que significa cosendo?
b) Associando à experiência do aluno:
• Sua família era como essa retratada na poesia?
• Você gostaria que sua família fosse assim?
• Sua história também é mais bonita do que a de algum livro que você já leu?
• Você se vê nesse texto? De que maneira?
• Este texto provocou em você lembranças boas ou ruins?
• A leitura do poema trouxe-lhe a lembrança de algum lugar da sua infância?
c) Analisando o texto:
O poeta relembra a sua infância, usando o verbo no passado: o pai montava a cavalo, a
mãe ficava cosendo, etc, numa grande monotonia, o que só contrastava com as aventuras das
histórias de Robinson Crusoé que lia. Demonstra a solidão do menino – Eu sozinho menino, já
que o pai ia para o campo, a mãe cosia e o irmão dormia, por isso ele não podia fazer barulho.
Assim, fugia da monotonia, lendo as histórias, tornando-as presentes.
Na segunda estrofe, ao ser chamado para o café, interrompe a leitura, que é um
momento presente, com o não acaba, aprendeu e nunca esqueceu; depois volta falar do pai.
Na época da infância, o poeta refugiava-se nas aventuras de Robinson Crusoé, não
percebendo que sua vida era mais bonita que as aventuras que lia.
d) Posicionamento crítico sobre o poema:
• Quem foi Robinson Crusoé?
• Por que a história do menino é mais bonita do que a de Robinson Crusoé?
• O que ele fazia?
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• Qual o sentimento predominante desse menino e como são as imagens criadas por esse
menino?
Texto 3: Quadrilha4
João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
É importante no trabalho com este texto que os alunos exerçam o seu pensamento
crítico e criativo, expondo suas ideias, já que a “linguagem literária é capaz de deixar lacunas
que são preenchidas quando o leitor interage com o texto, unindo à leitura suas experiências
anteriores, ‘atualizando’ o ato de leitura, aproveitando-se da plurissignificação do texto
literário para executar leituras variadas” (ZAFALON, 2008, p. 5).
a) Decodificando a palavra:
• O que diz o texto?
• O que significa a palavra quadrilha?
b) Associando à experiência do aluno:
• Você já se apaixonou por alguém?
• Já amou alguém e não foi correspondido?
• Você conhece alguém que ama e não é amado?
c) Analisando o texto:
A poesia é formada por uma oração principal João amava Teresa e em seguida por
outras que partem desta, ligadas pelo pronome que, dando ideia de indefinição, de
desencontro, um nada. Possui ritmo, lembrando mesmo uma quadrilha, inclusive, pela troca
de pares.
4 Disponível em http://pensador.uol.com.br/frase/Mzk0MDY/. Acesso em julho de 2011.
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A segunda parte do poema parece fugir do mundo do desejo e ir para a realidade:
alguém foi para os Estados Unidos, outro morreu, um não se casou, revelando uma
passividade dos personagens. O termo suicidar-se mostra que o ser humano só tem controle
sobre si mesmo, dando também ideia de evasão, de fuga.
O fato de Lili ter se casado com J. Pinto Fernandes, revela tradicionalidade, dinheiro e
até alguém muito masculino que entra na história, ou seja, casou-se com um sobrenome, é um
objeto. Todos os personagens desejam algo, mas não conseguem, pois dependem do querer e
do desejo do outro.
d) Posicionamento crítico sobre o poema:
• É possível alguém se casar com outra pessoa sem amar, apenas por dinheiro?
Texto 4: Procura da poesia5
Não faças versos sobre acontecimentos.Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escurosão indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
O canto não é a naturezanem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.
5 Disponível em http://www.interativ.com.br/t,60,procura_da_poesia__carlos_drumond_de_andrade.html. Acesso em julho de 2011.
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Não dramatizes, não invoques,não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de famíliadesaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.
Não recomponhastua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e amemória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.Que se partiu, cristal não era.
Penetra surdamente no reino das palavras.Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavrae seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-ocomo ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutrae te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:Trouxeste a chave?
Repara:ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.
O professor deve estabelecer uma ligação entre o aluno e o texto, para que ele se
descubra em seu papel de interação com o texto, mesmo que o tema seja a própria poesia.
Lajolo (2001), a firma que outro aspecto a ser destacado na leitura é a percepção dos
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elementos de linguagem que o texto manipula. Dessa forma, cabe à escola promover esse
encontro entre leitor e texto, para que o leitor se reconheça na obra, sinta que a sua cultura
está vinculada, de alguma forma, com o texto lido.
a) Decodificando a palavra:
• O que diz o texto?
• O que significa a palavra estático?
• Há outras palavras no texto que você desconhece? Faça uma lista para que se possa
discutir o significado no texto.
b) Associando à experiência do aluno:
• Você gosta de escrever?
• Já escreveu um poema? Falava sobre o quê?
c) Analisando o texto:
Na primeira parte do poema, o autor define o que não é poesia, utilizando-se da
palavra Não (Não faças versos ... / Não faças poesia.../ Não cantes... / Não dramatizes.... Para
ele, a matéria usada para a poesia não são as emoções, o meio social, o corpo e sim as
palavras e a forma como elas são arranjadas.
Na seqüência, o poeta fala sobre o que é poesia, a linguagem e sua entrada no mundo
da linguagem e das palavras. Utiliza-se de figuras de linguagem, dentre elas a gradação, o que
contribui para que uma palavra complete e enriqueça a outra.
Ao final, o autor começa a procura pela poesia, a necessidade de recuperar a palavra,
de dar sentido aos poemas a serem escritos. O eu-lírico convida o leitor a contemplar o
misterioso das palavras, cujos significados são diferentes dos do dicionário (Ei-los sós e
mudos, em estado de dicionário.), mas que transcendem os mais belos sentidos da vida e que
exigem que sejam decifradas, por isso é preciso trazer a chave.
d) Posicionamento crítico sobre o poema:
• O que o autor explica na primeira parte do poema?
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• Você concorda com o autor, ao afirmar que
“Chega mais perto e contempla as palavras.Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutrae te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:Trouxeste a chave?”
4.2 João Cabral de Melo Neto
Texto 5: Tecendo o amanhã6
Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos.De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação.A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão.
Faz-se necessário que seja feita uma explicação sobre o autor da obra, situando-o no
contexto da literatura brasileira, bem como a sua temática. Sendo o mais importante poeta da
geração de 45, as obras de João Cabral seguem duas linhas: a metapoética e a participante. A
primeira, abange os poemas de investigação do próprio fazer poético e a segunda, é aquela
que tem como tema o Nordeste, com todos os problemas voltados para a questão social, como
a miséria, a fome, dentre outros (DUARTE, s/d).
a) Decodificando a palavra:
6 Disponível em http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/joao-cabral-de-melo-neto/tecendo-o-amanha.php. Acesso em julho de 2011.
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• O que diz o texto?
• O que significa a palavra tênue?
• O que é entretendendo?
b) Associando à experiência do aluno:
• Você conhece o provérbio Uma andorinha só não faz verão?
• Relate uma experiência onde foi preciso a união de forças para que uma atividade se
realizasse.
c) Analisando o texto:
O primeiro verso do poema nos remete a um velho provérbio popular: Uma andorinha
só não faz verão e afirma uma verdade que Um galo sozinho não tece uma manhã, que ele
precisará de outros galos, ou seja, tudo que se produz, resulta da participação de outros. No
terceiro verso, continua repetindo a formação do primeiro verso, mostrando que os resultados
se conseguem com a soma de esforços.
As orações fazem com que as sensações aumentem: assim como os termos se
incorporam, também as ações vão se cruzando para “tecer o amanhã”, ou seja, dá a ideia de
tecido, os atos que se completam, num trabalho solidário dos galos, transforma o amanhã,
fazendo com que ação se complete.
Também se pode perceber que o autor da ação, no caso o galo, está presente até o final
do texto, mudando apenas de galo para galos, já que são necessários vários galos para
completar a ação de tecer a manhã, assim como a palavra entretender, usada no final do
poema, lembrando todas as fases que foram necessárias para a finalização da tarefa.
d) Posicionamento crítico sobre o poema:
a) Nos dias atuais, a solidariedade, a ajuda mútua tem ocorrido entre as pessoas?
b) Por que o egoísmo está tão “em moda” na atualidade? O que podemos fazer para mudar
essa realidade?
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Texto 6: O ferrageiro de Carmona7
Um ferrageiro de Carmona,que me informava de um balcão:
"Aquilo? É de ferro fundido,foi a forma que fez, não a mão.
Só trabalho em ferro forjadoque é quando se trabalha ferro:então, corpo a corpo com ele,
domo-o, dobro-o, até o onde quero.
O ferro fundido é sem luta,é só derramá-lo na forma.
Não há nele a queda de braçoe o cara a cara de uma forja.
Existe a grande diferençado ferro forjado ao fundido:é uma distância tão enorme
que não pode medir-se a gritos.
Conhece a Giralda em Sevilha?De certo subiu lá em cima.Reparou nas flores de ferro
dos quatro jarros das esquinas?
Pois aquilo é ferro forjado.Flores criadas numa outra língua.
Nada têm das flores de forma,moldadas pelas das campinas.
Dou-lhe aqui humilde receita,Ao senhor que dizem ser poeta:
O ferro não deve fundir-senem deve a voz ter diarréia.
Forjar: domar o ferro à força,Não até uma flor já sabida,
Mas ao que pode até ser florSe flor parece a quem o diga.
a) Decodificando a palavra:
• O que diz o texto?
• O que significa a palavra forjado?7 Disponível em http://www.tanto.com.br/ronaldowerneck-dpc.htm. Acesso em julho de 2011.
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b) Associando à experiência do aluno:
• Você conhece alguma peça feita por ferreiro?
• O autor compara o ferreiro ao poeta, assim, o que são as flores citadas no poema? E as
flores de ferro? E o ferro fundido?
c) Analisando o texto:
O poema mostra que há duas maneiras de se trabalhar com ferro, a fundição e o
forjamento, ou adquirindo uma forma através da forma (ô), ou pelas mãos do ferreiro, que dá
ao ferro a forma (ô) que quiser. Também faz uma referência à língua, usando termos como
receita, ao senhor que dizem ser poeta, ou (...) a voz ter diarréia, que, segundo Fiorin et al
(2006, p. 206), “(...) há duas maneiras de trabalhar a linguagem: a fundição, que deve ser lida
como a construção de textos a partir de uma fórmula, e o forjamento, que deve ser concebido
como a produção original dos textos.”
A imitação e a criação propagada pelo autor estão presentes no ferro como na
linguagem – onde, nenhuma das formas, fundir o ferro, sem originalidade ou criar pelo
processo de forjamento são positivas.
d) Posicionamento crítico sobre o poema:
• Em algum momento, você já se sentiu forjado, forçado a realizar alguma tarefa?
• Ao escrever, ou realizar suas atividades escolares, você consegue fazê-las livremente?
• O texto mostra o trabalho árduo, solitário, até doloroso do ferreiro. Você concorda
com isso? Todo trabalho é árduo, difícil?
Texto 7: O cão sem plumas8
(...)
Como o rio
aqueles homens
8 Disponível em http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/o/o_cao_sem_plumas_poema. Acesso em julho de 2011.
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são como cães sem plumas
(um cão sem plumas
é mais
que um cão saqueado;
é mais
que um cão assassinado.
Na paisagem do rio
difícil é saber
onde começa o rio;
onde a lama
começa do rio;
onde a terra
começa da lama;
onde o homem,
onde a pele
começa da lama;
onde começa o homem
naquele homem.
É importante saber que o poema O cão sem plumas é composto de quatro momentos
(Paisagem do Capibaribe, I e II, Fábula do Capibaribe, III e Discurso do Capibaribe, IV) e que
o excerto acima pertence ao quarto momento, onde descreve as condições sub-humanas nas
palafitas do Recife, características da obra do autor João Cabral de Melo Neto.
a) Decodificando a palavra:
• O que diz o texto?
• O que significa a palavras saqueado?
• Há figuras de linguagem no texto? Quais?
b) Associando à experiência do aluno:
• Você conhece algum desastre que tenha ocorrido com a natureza no lugar onde você
vive?
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• Há rios poluídos, lixões abertas ou pesdsoas vivendo em condições sub-humanas em
sua localidade?
c) Analisando o texto:
O poema faz pensar sobre as condições sociais e econômicas do homem que
habita as margens do rio, refletindo sobre o que faz as pessoas a serem realmente homens,
com a contribuição da região e do lugar em que vivem, no caso, próximo a um rio, com
sujeiras, detritos.
Há também um posicionamento do autor, chamando a atenção do leitor sobre o fato de
que o rio será aquilo que o homem fizer dele, ou seja, a “sociedade pode transformar um rio
em um não-rio, o mar, em um não-mar e também o homem em um não-homem”
(SUASSUNA, 2009).
d) Posicionamento crítico sobre o poema:
• Nos dias atuais, o que o homem tem feito com o meio ambiente?
Texto 8: Morte e Vida Severina (excerto)9
"...E não há melhor respostaque o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,que também se chama vida,ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;mesmo quando é uma explosãocomo a de há pouco, franzina;mesmo quando é a explosão
de uma vida severina."
(Morte e Vida Severina)
9 Disponível em http://www.revista.agulha.nom.br/joao.html#bio. Acesso em julho de 2011.
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O poema pertence à fase participante do poeta, onde retrata os problemas do
Nordeste brasileiro, a fome, a miséria, a indigência. É uma peça teatral que apresenta a
história de um dos tantos Severinos de Maria, que saíam da Paraíbas pra fugir da velhice que
mats os jovens aos trinta nos, de sede e de fome.
a) Decodificando a palavra:
• O que diz o texto?
• O que significa a palavra severina?
b) Associando à experiência do aluno:
• A sua família já passou por sérias dificuldades? Como foi?
• Você conhece pessoas que sofrem, passam fome ou que tenham perdido um filho, por
falta de condições para sobreviver?
c) Analisando o texto:
Este trecho é a última parte do poema, que reforça a mensagem final do poema, de que
mesmo a vida quase morte severina, aparentemente sem saída ou esperança, pode e deve ser
vivida; assim, a explosão de uma vida era a alternativa para se continuar vivendo, mesmo que
a vida seja severina.
d) Posicionamento crítico sobre o poema:
• De quem é a responsabilidade pelas condições de vida das pessoas?
• O que se pode fazer para melhorar a vida das pessoas?
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4.3 Varal de poesias
Para a realização desta atividade, inicialmente será proposto:
• leitura de vários poemas, individual e coletivamente;
• pesquisa de poemas no laboratório de informática;
• montagem de varais poéticos, envolvendo textos poéticos de autores consagrados e de
alunos das 8ªs séries do colégio;
• ler, interpretar, apreciar e discutir textos poéticos dos autores pesquisados.
O varal de poesias será composto de peças de roupas e tecidos estendidos, onde cada
peça apresentará uma poesia de modo criativo e estimule os demais alunos a lerem os poemas.
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5. AVALIAÇÃO
A avaliação será feita pela observação da participação dos professores nas atividades
propostas, através da realização de leitura compreensiva dos textos, da localização de
informações explícitas e implícitas nos textos, através dos argumentos levantados pelos
mesmos.
A compreensão das propostas pelos professores será avaliada a partir da discussão em
cada uma das atividades.
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6. REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Ricardo. Qual a “função” da literatura?, Revista Carta na Escola. Seção Carta ao professor. Disponível em http://almaquiobastos.blogspot.com/2009_08_01_archive.html. Acesso em 16 de fevereiro de 2011.
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992, p. 261-305.
DUARTE. Vânia. João Cabral de Melo Neto e sua engenhosidade poética. Disponível em http://www.brasilescola.com/literatura/joao-cabral-melo-neto-sua-engenhosidade-poetica.htmAcesso em julho de 2011.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
FIORIN, José Luiz, SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto – leitura e redação. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
GONÇALVES, Santa Elizabeth Vioto. Leitores de fato e de juízo. Artigo apresentado ao PDE, 2008.
LACERDA, Priscila Brasil Gonçalves. O texto poético: poemas e letras de música. Disponível em http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=18835 acessado em 02 de março de 2011.
MARCUSCHI, L. A. (2002). Gêneros textuais: definição e funcionalidade In SILVA, Silvio Ribeiro da. Gênero textual e tipologia textual. Disponível em http://www.algosobre.com.br/gramatica/genero-textual-e-tipologia-textual.html
MOISES, Massaud. A criação literária: introdução à problemática da literatura. 5. ed. São Paulo, Melhoramentos, 1973.
PARANÁ, Governo do Estado do. Secretaria de Educação do Estado do Paraná. Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Língua Portuguesa. Curitiba, 2006.
___________. Governo do Estado do. Secretaria de Educação do Estado do Paraná. Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Língua Portuguesa. Paraná, 2008.
OBERG, Silvia. Como vai a poesia? In: Práticas de Leitura e escrita. Maria Angélica Freire de Carvalho, Rosa Helena Mendonça (orgs.). – Brasília : Ministério da Educação, 2006.
ROJO, Roxane. Letramento e diversidade textual. In: Práticas de Leitura e escrita. Maria Angélica Freire de Carvalho, Rosa Helena Mendonça (orgs.). – Brasília : Ministério da Educação, 2006.
SUASSUNA, Flavia. O cão sem plumas, de João Cabral de Melo Neto. Disponível em http://pe360graus.globo.com/vestibular/educacao-e-carreiras/literatura/2009/09/27/CNT,356,35,588,VESTIBULAR,1318-O-CAO-PLUMAS-JOAO-CABRAL-MELO-NETO.aspx. Acesso em julho de 2011.
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TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino da gramática, 11. ed. - São Paulo: Cortez, 2006.
ZAFALON, Miriam. Refletindo sobre a leitura e o ensino da literatura. (2008). Disponível em http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/192-4.pdf. Acesso em julho de 2011.
ZILBERMAN, Regina. A leitura e o ensino da literatura. São Paulo: Contexto, 1988.
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