secretaria de estado da educaÇÃo - … · ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais,...

25

Upload: vudiep

Post on 03-Nov-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - … · ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais, ou seja, de que o espaço local faz parte de conjuntos maiores e que, por sua vez,
Page 2: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - … · ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais, ou seja, de que o espaço local faz parte de conjuntos maiores e que, por sua vez,

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

______________________________________________________

WILMA ANCHIETA SPANHOLI

GEOGRAFANDO O CÓRREGO DO LEME: PRÁTICAS E SABERES EDUCATIVOS

_________________________________________________________

LONDRINA 2012

Page 3: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - … · ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais, ou seja, de que o espaço local faz parte de conjuntos maiores e que, por sua vez,

WILMA ANCHIETA SPANHOLI

GEOGRAFANDO O CÓRREGO DO LEME: PRÁTICAS E SABERES EDUCATIVOS

Artigo – Etapa final em cumprimento ao Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da Secretaria de Estado de Educação, realizado junto à Universidade Estadual de Londrina. Orientadora: Profª. Drª Jeani Delgado Paschoal Moura

LONDRINA

2012

Page 4: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - … · ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais, ou seja, de que o espaço local faz parte de conjuntos maiores e que, por sua vez,

2

GEOGRAFANDO O CÓRREGO DO LEME:

PRÁTICAS E SABERES EDUCATIVOS

Autora: Wilma Anchieta Spanholi.1 Orientadora: Jeani Delgado Paschoal Moura2

RESUMO

O presente artigo é resultado dos estudos realizados no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), cujo objetivo é o de analisar e compreender a formação e transformação das diversas paisagens em diferentes escalas espaço-temporais identificando assim, os problemas ambientais locais/globais frente à ação do homem, como resultado da organização capitalista, decorrentes da forma de exploração e uso dos recursos naturais. O trabalho foi realizado num recorte espacial de bacia hidrográfica urbana, da sub-bacia hidrográfica do Ribeirão Cambé, mais especificamente do Córrego do Leme, pois a mesma compõe um campo fértil para o desenvolvimento de atividades educativas numa abordagem multi e interdisciplinar, tendo como objeto de estudo o conjunto de seus elementos naturais e sociais e de suas inter-relações. O trabalho teve como público alvo, alunos da 8ª série do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Vicente Rijo no município de Londrina, Paraná. A metodologia envolveu práticas pedagógicas em diferentes linguagens, como: a leitura de imagens (cartográficas, fotográficas e icnográficas), a técnica denominada “Memória Viva” e o Trabalho de Campo. Essas atividades possibilitaram a análise e a identificação das paisagens e das alterações ocorridas ao longo do tempo, bem como dos problemas socioambientais existentes. Os recursos pedagógicos utilizados possibilitaram ao aluno a formação de conceitos fundamentais da Geografia, bem como a compreensão da produção e reprodução do espaço geográfico e das transformações determinadas pela forma de ocupação e organização espacial em diversas escalas espaço-temporais. Palavras-chave: Paisagem. Imagem. Espaço geográfico. Alterações ambientais.

1 Introdução

Partindo da premissa de que a paisagem é uma das categorias de análise

da Geografia para a compreensão do espaço geográfico, o presente artigo faz uma

abordagem sobre as alterações socioambientais em microbacias hidrográficas

urbanizadas mediante uso de diferentes linguagens. O trabalho teve como recorte

espacial, o córrego do Leme, afluente do ribeirão Cambé, que faz parte da bacia do

rio Tibagi. O estudo do rio e de sua bacia hidrográfica é oportuno, dada a atual crise 1 Autora, graduada em Geografia, docente do Colégio Estadual Vicente Rijo – Londrina/PR. 2 Orientadora, Profª Drª do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina,

Londrina/PR

Page 5: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - … · ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais, ou seja, de que o espaço local faz parte de conjuntos maiores e que, por sua vez,

2

ambiental, pois os mesmos permitem a abordagem integrada dos seus aspectos

naturais e sociais, das inter-relações sociedade-natureza e da totalidade do

ambiente. Para o desenvolvimento do trabalho, a escolha da microbacia na qual a

escola está localizada é de grande relevância, vez que viabiliza a leitura dos

fenômenos geográficos em diferentes escalas espaço-temporais.

Para a concretização do presente trabalho, foram realizadas atividades em

diferentes linguagens como a leitura e interpretação de imagens cartográficas,

fotográficas e icnográficas, aplicação da técnica “Memória Viva” e a metodologia de

aula de campo. Essa diversidade de recursos didáticos contribuiu na análise,

identificação e interpretação das formas de ocupação e organização do espaço

geográfico urbano por meio da sua produção e reprodução, refletidas em alterações

socioambientais. A proposição de práticas pedagógicas diferenciadas possibilitou

aos alunos a construção de conceitos básicos geográficos e de sensibilização

socioambiental, além de tornar as aulas de Geografia mais envolventes,

dinamizadoras e prazerosas.

O estudo apresenta uma reflexão sobre a importância da Geografia na

compreensão da produção e reprodução do espaço geográfico, atendendo aos

interesses do capital e, como consequência, uma efetiva degradação e alterações

socioambientais sem precedentes, refletindo, assim, na vida dos cidadãos. Portanto,

o estudo partiu da abordagem teórico-metodológica da categoria de análise

geográfica - a paisagem – pois por meio da sua percepção, análise e interpretação,

o aluno pode entender melhor a sua realidade e o seu papel como sujeito crítico,

atuante e transformador do seu espaço de vivência na sua concretude.

2 A Geografia e as Práticas Pedagógicas no Estudo Socioambiental

O mundo atual, ditado pelo modo de produção capitalista, tem-se

caracterizado como complexo e dinâmico devido ao acelerado avanço tecnológico e,

principalmente, do volume e rapidez na transmissão das informações. Nessa

sociedade em que tudo acontece num ritmo acelerado, o ensino de Geografia tem

assumido um importante papel na aprendizagem do aluno. É nessa disciplina que o

aluno compreenderá a produção e a transformação do espaço geográfico provocada

pela ação antrópica e de suas possíveis consequências socioambientais regidas por

esse sistema econômico.

Page 6: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - … · ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais, ou seja, de que o espaço local faz parte de conjuntos maiores e que, por sua vez,

3

A Geografia como disciplina curricular trata de temas atuais e tem o papel de

instrumentalizar o aluno para a análise do espaço geográfico mediante situações

concretas em que o mesmo terá condições de compreender melhor a sua realidade

e o seu papel como sujeito crítico, atuante do seu espaço de vivência. De acordo

com essa análise, Cavalcanti (1998, p. 192) afirma que:

O ensino de geografia deve proporcionar ao aluno a compreensão de espaço geográfico na sua concretude, nas suas contradições, contribuindo para a formação de raciocínios e concepções mais articulados e aprofundados a respeito do espaço, pensando os fatos e acontecimentos mediante várias explicações.

Balizado nessas concepções e discussões, será apresentado nesse artigo,

um estudo sobre as transformações sócio-espaciais, baseado em propostas teórico-

metodológicas e na realização de atividades práticas pedagógicas em diferentes

linguagens, tendo como base a leitura da paisagem e de suas alterações

socioambientais. Para o ensino de Geografia as Diretrizes Curriculares do Estado do

Paraná (DCEs) propõem que os conteúdos específicos sejam trabalhados de forma

“crítica e dinâmica, de maneira que a teoria, a prática e a realidade estejam

interligadas, em coerência com os fundamentos teóricos propostos”, bem como se

amplie a abordagem dos conhecimentos específicos que deles são derivados,

disponíveis em “diferentes materiais didáticos.” (PARANÁ, 2006, p. 41).

É importante lembrar que para que haja a produção do conhecimento

geográfico de forma significativa, é fundamental o estudo da paisagem vivenciada

pelo aluno, levantando hipóteses, refletindo sobre o que foi observado e

investigando possíveis soluções para os problemas ambientais detectados. Enfim,

problematizar a paisagem analisada é o caminho metodológico para que o aluno se

sinta parte integrante de sua realidade e sujeito transformador do seu meio. Para

Santos, é importante o estudo da paisagem para o entendimento do espaço

geográfico, pois:

Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista alcança. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons, etc. E ainda, a paisagem não é dada para todo o sempre é objeto de mudança. È o resultado de adições e subtrações sucessivas, é uma espécie de marca da história, do trabalho, das técnicas (SANTOS, 1997, p. 61-68).

Page 7: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - … · ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais, ou seja, de que o espaço local faz parte de conjuntos maiores e que, por sua vez,

4

A leitura da paisagem tem grande importância para a compreensão do aluno

sobre como se formou e como está em constante transformação o seu espaço de

vivência. Nesse sentido, Santos (1997, p. 83) concebe paisagem como:

[...] a expressão materializada do espaço geográfico, interpretando-a como forma. Desse modo, considera paisagem como um constituinte do espaço geográfico (sistema de objeto). Para o autor, “a paisagem é um conjunto de formas que num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e a natureza”. Ou ainda, “a paisagem se dá como conjunto de objetos reais concretos.”

Portanto, a paisagem não é formada apenas por seus elementos visíveis,

mas também pelos elementos não visíveis, cuja leitura para a sua compreensão

exige mais do que uma simples observação que varia de acordo com o olhar do

observador.

Partindo do conceito de que “ler” uma paisagem consiste em observar,

analisar e interpretar suas diferentes expressões atribuindo significados aos diversos

elementos que a compõe, propõe-se a leitura e a interpretação da mesma por meio

de diferentes linguagens, dentre elas, da imagem cartográfica, fotográfica e

icnográfica, da prática denominada “Memória Viva” e do estudo do meio, entre

outras, pois esses, como materiais didático-pedagógicos, irão estimular o aluno à

observação, à descrição, além de auxiliar na leitura e apreensão da paisagem,

apresentando resultados significativos na produção do conhecimento geográfico,

pois por meio de sua observação e interpretação, o aluno compreenderá a

espacialidade e a temporalidade dos fenômenos geográficos estudados, podendo

assim, analisar e refletir sobre o mundo no qual está inserido.

3 A Imagem como Prática no Ensino de Geografia

De acordo com levantamento e análise parcial dos Parâmetros Curriculares

Nacionais por Silva (2004), os mesmos apresentam discussões sobre variadas

práticas pedagógicas capazes de colocar os alunos em diferentes situações de

vivência com os lugares, para que possam construir novas compreensões a seu

respeito, produzindo assim um conjunto de conhecimentos referentes a conceitos,

procedimentos e atitudes que possam:

Page 8: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - … · ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais, ou seja, de que o espaço local faz parte de conjuntos maiores e que, por sua vez,

5

Orientá-los a compreender a importância das diferentes linguagens na leitura da paisagem, desde imagens, músicas e literatura de dados e documentos de diferentes fontes e informação, de modo que, interprete, analise e relacione informações sobre o espaço (BRASIL, 1998, p. 35).

Nesse trabalho, a leitura e interpretação de imagens foi um dos condutores

fundamentais para produção do conhecimento geográfico, pois por meio da sua

observação, percepção e análise, o aluno pode compreender a produção e a

transformação socioambiental provocada no espaço geográfico. A imagem constitui

várias possibilidades para a construção de conceitos na compreensão do

conhecimento geográfico, porque segundo Katuta (2004), o uso de diferentes

linguagens no ensino e, especificamente, aquelas ligadas ao sentido da visão,

devem ser entendidas como formas de apreensão, codificação, conhecimento e

apresentação da diversidade do real.

Desse modo, as atividades pedagógicas propostas e desenvolvidas com

alunos da série final do Ensino Fundamental, conseguiram demonstrar que a

utilização de imagens como as cartográficas (mapas, cartas, fotos aéreas, croquis,

entre outras, possibilitaram, no aluno, o desenvolvimento de habilidades, conceitos e

noções cartográficas que efetivamente levaram o mesmo a compreender a realidade

apresentada, além de constatar que os conteúdos próprios da Geografia estão

presentes no seu espaço de vivência e que por meio da leitura, análise,

interpretação, da codificação e da descodificação destes, ele pode compreender as

ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais, ou seja, de que o espaço

local faz parte de conjuntos maiores e que, por sua vez, forma o todo, dando assim,

importância e significado aos mesmos. De acordo com Santos (1991, p. 3), os

mapas são recursos didático-pedagógicos apropriados, pois eles ”[...] correspondem

a representações mais seletivas da realidade e podem ser destinados a vários fins,

tendo em vista o processo de conhecer e entender a realidade.”

Desse modo, neste estudo foram utilizadas imagens cartográficas e

fotográficas de bacias hidrográficas de diferentes espacialidades e temporalidades,

imagens essas como: o mapa do Brasil, do Paraná, e o mapa de Londrina,

demonstrando especificamente a bacia hidrográfica em questão - a micro-bacia do

ribeirão Cambé e o mapa denominado “rio da minha rua” representando as

principais bacias hidrográficas da área urbana de Londrina. Também foram

Page 9: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - … · ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais, ou seja, de que o espaço local faz parte de conjuntos maiores e que, por sua vez,

6

utilizadas fotografias aéreas de recortes espaciais da área urbana da cidade, com

destaque ao córrego do Leme em estudo. As propostas de atividades com leitura,

análise e interpretação da paisagem por meio da comparação e da sobreposição

dessas imagens, tornaram possível ao aluno fazer a localização e a identificação

clara das bacias hidrográficas de diferentes espacialidades, bem como dos

fenômenos geográficos da área de estudo, possibilitando assim, a compreensão da

produção e da reprodução do espaço geográfico e de suas transformações sócio-

espaciais ocorridas ao longo do tempo.

As atividades pedagógicas e as afirmações apresentadas acima se

sustentam segundo reflexões feitas pelos alunos, apresentadas a seguir.

Para entendermos melhor a posição e a importância do córrego do Leme estudado por nós, a professora e os instrutores nos apresentaram mapas hidrográficos do Brasil, do Paraná e de Londrina, respectivamente; por fim, o mapa “O rio da minha rua” para trabalharmos com atividades, tendo como finalidade demonstrar a conexão entre os rios, e quanto dependente um rio é do outro e a importância que ele tem para a nossa vida (Alunos B. R. P.; J. R. M.; G. P. V. C).

Segundo relato apresentado acima pelos alunos, fica claro que com a

realização das diferentes atividades, dentre elas a cartográfica, os alunos puderam

ampliar a visão do seu espaço de vivência, já que, para a compreensão do espaço

geográfico e de suas alterações socioambientais, de forma significativa, como foi

evidenciada pelo testemunho do educando, foi necessária a realização de análises

de imagens cartográficas em diferentes escalas espaço-temporais, pois por meio

das interrelações existentes entre o local, o regional e o global, foi possível

compreender a diversidade da organização desse espaço. A seguir o relato do aluno

(C.G.T) ratifica essa análise.

[...] fizemos em sala de aula trabalhos com mapas que nos ajudaram a entender que o córrego do Leme é um dos afluentes do ribeirão Cambezinho e que este é afluente do rio Tibagi - quer dizer que os córregos, os lagos e os rios são importantes porque eles se interligam, ou seja, um alimenta o outro, e que dependemos dele para nossa sobrevivência e que para que ele tenha vida, precisa que as pessoas não destruam os meios que dão sua harmonia, e ainda, [...] O espaço geográfico que estudamos foi se transformando, muitas árvores foram sendo cortadas e o homem urbanizando cada vez mais a cidade. O homem sempre está produzindo e reproduzindo o

Page 10: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - … · ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais, ou seja, de que o espaço local faz parte de conjuntos maiores e que, por sua vez,

7

espaço, por exemplo, quando ele constrói, ele mesmo pode destruir e reproduzir algo novo naquele lugar (Aluno C. G. T).

Assim, percebemos que essas reflexões feitas pelos alunos vêm ao encontro

das propostas das DCEs em relação à utilização de imagens cartográficas, em que

os mapas e seus conteúdos sejam lidos pelos estudantes como textos passíveis de

interpretação, problematização e análise crítica dos diferentes espaços geográficos.

Desse modo, podemos concluir que a linguagem cartográfica é de fundamental

importância na produção teórico-prática do conhecimento geográfico, pois, segundo

Rua et al. (1993, p. 13):

[...] ter o domínio da leitura de mapas é um processo de diversas etapas porque primeiro é acolhida a compreensão que o aluno tem da realidade em exercícios de observar e representar o espaço vivido, com o uso da escala intuitiva e criação de símbolos que identifiquem os objetos. Depois, aos poucos, são desenvolvidas as noções de escala e legenda, de acordo com a convenção cartográfica oficial. Ao apropriar-se da linguagem cartográfica, o aluno estará apto a reconhecer representações de realidades mais complexas, que exigem maior nível de abstração.

Ainda na linguagem imagética, a fotografia foi outro instrumento didático que

compôs o trabalho, por considerarmos que a sua utilização como ferramenta de

aprendizagem é primordial no ensino de Geografia vez que oportuniza a

visualização da paisagem e de informações que muitas vezes não estão ao alcance

da observação direta do aluno, nas palavras de Asari, Antonello e Tsukamoto (2004,

p. 194),

[...] por mais que a fotografia seja produzida com certa finalidade, a sua representação vai conter um meio de informação e conhecimento, e o seu conteúdo irá ajudar o aluno a se constituir como um leitor crítico da paisagem, levando-o à compreensão de conceitos e acontecimentos, muitas vezes, abstratos e complexos.

Desse modo, as imagens fotográficas utilizadas para o desenvolvimento do

trabalho possibilitaram a leitura da paisagem por meio da sua percepção tornando

viável, a identificação e compreensão dos fenômenos físicos, naturais e humanos e

da inter-relação existente entre os mesmos em escala local, regional e global,

oportunizando, dessa forma, a elaboração de conceitos importantes para a produção

Page 11: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - … · ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais, ou seja, de que o espaço local faz parte de conjuntos maiores e que, por sua vez,

8

do conhecimento geográfico, ou seja, o entendimento das relações sócio-espaciais.

Para Asari, Antonello e Tsukamoto (2004, p. 183):

[...] a utilização da fotografia pode estimular a observação e a descrição das paisagens pelos alunos, preparando-os como leitor crítico, levando-os à compreensão de conceitos muitas vezes abstratos e complexos. Dessa forma, tirarem suas próprias conclusões e elaborarem soluções para problemas da sua realidade.

Para a leitura e compreensão da paisagem da área de estudo e de suas

alterações socioambientais, foram utilizadas imagens fotográficas recentes

produzidas pelos próprios alunos durante o per(curso) feito no córrego do Leme e,

de fotografias antigas levantadas pelos mesmos no museu, nas bibliotecas e em

diferentes órgãos municipais. A utilização dessas imagens possibilitou a

interpretação e a identificação dos elementos naturais que a compõe e de suas

alterações ambientais provocadas pela ação do homem ao longo do tempo. O

estudo se deu por meio de comparação de imagens de diferentes temporalidades

com a seleção dos elementos naturais, da relação desses elementos entre si e com

outros elementos percebidos, na formação de conjuntos homogêneos e na relação

com conhecimentos geográficos anteriores. Segundo Kossoy (1999, p. 99):

Toda e qualquer fotografia, além de ser um resíduo do passado, é também um testemunho visual onde se pode detectar – tal como ocorre nos documentos escritos – não apenas os elementos constitutivos que lhe deram origem do ponto de vista material. No que toca à imagem fotográfica, uma série de dados poderão ser reveladores, postos que jamais mencionados pela linguagem escrita da história. Por outro lado, apesar da sua aparente credibilidade, nelas também correm omissões intencionais, acréscimos e manipulações de toda ordem.

Page 12: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - … · ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais, ou seja, de que o espaço local faz parte de conjuntos maiores e que, por sua vez,

9

Figura 1 - Aerofotogrametria da área do lago Igapó com vista do córrego do Leme.

Fonte: Museu Histórico. Autor desconhecido.

Figura 2 - Vista aérea da área urbana de Londrina com destaque integral do Vale do córrego do Leme.

Fonte: Museu Histórico de Londrina. Autor: Oswaldo Leite, 1970.

As figuras 1 e 2 demonstram um recorte espacial da área urbana de

Londrina, destacando o Lago Igapó e o vale do córrego do Leme estudado. A foto

aérea como recurso didático-pedagógico é fundamental na leitura da paisagem, pois

juntamente com os mapas e o trabalho de campo, possibilita a identificação e a

interpretação dos elementos naturais e culturais que compõem o espaço geográfico

e as transformações socioambientais ocorridas ao longo do tempo. Assim, as

afirmações acima se asseguram com depoimentos de vários alunos quanto à

localização e identificação das regiões da cidade, do espaço geográfico onde vivem,

do reconhecimento do espaço da escola, da identificação da área urbana e rural,

Page 13: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - … · ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais, ou seja, de que o espaço local faz parte de conjuntos maiores e que, por sua vez,

10

das áreas verdes e de áreas de construções, áreas destinadas à população de baixa

renda, e áreas de construções de alto padrão.

Concordamos com Santos (2009) quando afirma que, “a interpretação das

fotos aéreas tem significativa contribuição, na construção de conceitos próprios da

Geografia e habilidades para a leitura crítica do espaço geográfico entre o local e o

global de forma integrada”.

Figura 3 - Vale córrego do Leme, 1974: antes da construção do Zerão.

Fonte: Museu Histórico de Londrina. Autor: Oswaldo Leite, 1974.

A figura 3 apresenta o vale do córrego do Leme antes da construção da área

de lazer – “Zerão”. Podemos observar no centro da imagem a existência do córrego

e na sua cabeceira, parte da sua mata ciliar preservada com espécies vegetais

naturais. À esquerda um alagado, com um tipo de vegetação próprio (taboal) que,

posteriormente, foi aterrado.

Esse lugar já era ocupado como pode ser observado na imagem - à

esquerda da figura a existência de chácara com o uso da terra destinado ao cultivo

de horta.

Durante a atividade proposta de leitura e interpretação dessas imagens, a

aluna (A. P. C. R) registrou a seguinte observação: “Nessa época, ainda

conseguimos ver pouca interferência do homem, mas ele já deixava suas marcas de

destruição (o lixo)”.

Page 14: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - … · ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais, ou seja, de que o espaço local faz parte de conjuntos maiores e que, por sua vez,

11

Figura 4 - Baixada do Leme com vista do córrego do Leme.

Fonte: Museu Histórico de Londrina. Autor: Oswaldo Leite, 1976.

Figura 5 - Baixada do Leme – Zerão com vista do córrego do Leme.

Fonte: Museu Histórico de Londrina. Autor: Oswaldo Leite, 1979.

Por meio da observação das imagens 3 e 4, os alunos puderam perceber

que durante a segunda metade da década de 1970, houve uma intensificação no

processo de produção e transformação do espaço geográfico estudado. A

percepção das imagens conjuntamente com os relatos dos informantes qualificados

demonstrou todo o processo de construção da área de “lazer” (Zerão) e revelou as

consequências materializadas em forma de grandes alterações ambientais como: a

retirada da vegetação natural, especialmente da mata ciliar, as erosões e o

assoreamento do rio como resultado do desmatamento, a canalização do rio, a

construção do aterro, a poluição da água por esgotos clandestinos, e as ocupações

irregulares. De acordo com a apreciação do depoimento do senhor Ricardo esse

espaço geográfico sofreu alterações, por ter sido organizado para atender aos

Page 15: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - … · ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais, ou seja, de que o espaço local faz parte de conjuntos maiores e que, por sua vez,

12

interesses de alguns, pois “[...] o que se tem ouvido falar é que a construção dessa

área foi em substituição de outra área (Concha Acústica), localizada na região

central da cidade, destinada a manifestações políticas e sociais, durante o período

da ditadura militar” e disse mais, “essa área do Zerão foi planejada de forma

estratégica para conter essas manifestações, já que os espaços destinados a

reuniões e encontros (anfiteatro e arquibancadas), foram construídos no fundo de

vale e para isso, tiveram que degradar e alterar esse ambiente.”

Figura 6 - Anfiteatro do Zerão: nascente do córrego do Leme.

Fonte - Museu Histórico de Londrina. Autor: Roberto Brasiliano, 1998.

Figura 7 - Vista da área urbana de Londrina com destaque ao

Zerão e ao córrego do Leme.

Fonte: Museu Histórico de Londrina. Autor: Roberto Brasiliano, 1998.

A cidade é o resultado do trabalho humano, obra de pessoas e grupos que a

estão, constantemente, construindo e reconstruindo. As imagens 6 e 7 retratam esse

Page 16: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - … · ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais, ou seja, de que o espaço local faz parte de conjuntos maiores e que, por sua vez,

13

processo de produção e transformação do espaço geográfico da cidade de Londrina,

ao longo do tempo e, em especial, do vale do córrego do Leme e do seu entorno.

Sendo assim, constatamos que a imagem fotográfica é uma importante ferramenta

na leitura da paisagem, na medida em que, ao trabalharmos as diferentes paisagens

presentes ao longo de um período histórico e proporcionar uma leitura dos fatos

passados, comparando-os diante das transformações ocorridas no tempo e no

espaço, o aluno compreenderá a relação da sociedade-natureza revelada por meio

da paisagem urbana.

A observação e a percepção da paisagem por meio de fotografias foram

seguidas de questionamentos como os que se seguem.

Observe as imagens fotográficas apresentadas e responda: Em quais

períodos aparecem o predomínio de elementos naturais? Que características

despertaram mais a sua atenção em cada uma das paisagens? Quais elementos

caracterizam uma paisagem urbana e em quais períodos eles estão mais presentes?

É possível identificar os elementos invisíveis da paisagem existentes no lugar

demonstrado? As imagens demonstram a área urbana de Londrina com destaque

para o córrego do Leme entre os períodos de 1970 a 1998. Descreva as principais

transformações ocorridas nessa paisagem. Que elementos mudaram? Quais

permaneceram?

Assim, foi possível uma identificação e interpretação clara da paisagem e de

suas transformações socioambientais de forma consistente e significativa, como

pode ser constatada na reflexão feita por alguns alunos envolvidos no trabalho,

apresentada a seguir. Para os alunos:

[...] O espaço onde vivemos está em constante transformação, onde o homem modifica a natureza em seu benefício, isso melhora e amplia cidades, tornando a vida humana cada vez mais simples, porém muitas dessas mudanças prejudicam a natureza, devastando florestas, pavimentando estradas e canalizando rios. Para demonstrar o dinamismo da transformação feita pela humanidade, nossa professora de Geografia propôs um projeto, no qual foi nomeado “Geografando o Córrego do Leme: Práticas e Saberes Educativos”. O córrego do Leme foi o lugar escolhido por ser nosso espaço de vivência. No percurso do córrego do Leme, pudemos perceber o desprezo e o desrespeito da sociedade para com o meio ambiente, tudo por ganância. Além da intensa poluição produzida na água do rio, a erosão do solo é grave e a mata ciliar não existe mais. O que existe é uma vegetação totalmente inadequada (introduzida), possuindo árvores frutíferas e Santa Bárbara, toda essa destruição prejudica a nossa sobrevivência (Alunos M. H. B, Z. C. L. N).

Page 17: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - … · ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais, ou seja, de que o espaço local faz parte de conjuntos maiores e que, por sua vez,

14

O relato apresentado acima certifica que o conhecimento do espaço

vivenciado e experenciado pelo aluno, faz com que o mesmo tenha um novo olhar

sobre o lugar, trazendo novos valores, dando-lhes novos significados.

4 O Trabalho de Campo como Instrumento Pedagógico no Ensino de Geografia

O trabalho de campo apresenta-se como recurso pedagógico de

fundamental importância no processo de ensino-aprendizagem, especialmente, no

ensino de Geografia por proporcionar ao aluno a vivência do teórico de forma prática

e concreta, possibilitando ao mesmo reconhecer a importância da relação

homem/natureza, tornando assim, esse processo mais criativo e dinâmico dando

significado ao conhecimento geográfico. Desse modo, possibilita-se a compreensão

da realidade do espaço geográfico por meio da percepção da paisagem. Para

Cavalcanti (2002, p. 77):

A paisagem problematizada através de uma observação direta do lugar de vivência do aluno ou de uma observação indireta de uma paisagem representada pode fornecer elementos importantes para a construção de conhecimentos referentes ao espaço nela expresso.

Portanto, o objetivo do trabalho de campo foi de oportunizar ao aluno a saída

da sala de aula para olhar a sua volta, observar, ver, sentir, cheirar e perceber na

sua concretude a paisagem estudada e o seu entorno e, por meio da percepção,

refletir sobre a sua condição de agente produtor e transformador consciente daquele

lugar. Para Silva (2002) o trabalho de campo é um instrumento capaz de auxiliar

na “leitura” da realidade, desvendar o entorno e estabelecer a mediação entre o

registro, o conhecimento sistematizado e o seu significado. Nesse processo

dinâmico e dialético busca-se o entendimento da realidade, especialmente naquilo

que ela se apresenta como inexplicável, por isso mesmo, instigadora.

Assim sendo, propusemos nesse trabalho a observação da área de estudo

in loco, fazendo um per(curso) da nascente à foz do córrego do Leme, onde o aluno

deveria perceber o seu entorno, verificando inclusive o uso e a ocupação do solo da

área em questão. Segundo Favarão e Gratão (2007, p. 186) “são múltiplas as

maneiras de ver e sentir a paisagem, a escola, a cidade, o lugar – o “rio”. Por meio

Page 18: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - … · ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais, ou seja, de que o espaço local faz parte de conjuntos maiores e que, por sua vez,

15

da observação do rio ele pode ser percebido e (per)corrido pela perspectiva

experiencial do olhar geográfico. A cada passo, a cada novo olhar ao longo do

per(curso), novas informações e novas revelações! Dessa forma, o rio é

aprendido/apreendido a partir de uma profunda interação entre os personagens do

lugar - alunos e paisagem.

Ao longo da caminhada, observamos um grande envolvimento, participação

e interatividade entre aluno-professor-monitor, demonstrado a cada parada, com

registros fotográficos, escritos, questionamentos, indagações e discussões

realizados após observações e levantamentos dos elementos da paisagem e de

suas alterações ambientais provocadas pela ação antrópica. Para Urquiza e Asari

(2007, p. 293) “o aluno envolvido com o conteúdo a ser explorado por meio do

trabalho de campo dará um maior significado à sua vida, pois ele modifica sua

maneira de agir perante a sociedade.”

O trabalho de campo abre um leque de atividades diferenciadas e que dão

embasamento para o desenvolvimento do trabalho e na construção do

conhecimento geográfico. A “Memória Viva” é uma técnica que fez parte do trabalho

de campo e a sua finalidade é a de auxiliar na compreensão da origem de um

determinado lugar. Tem como objetivo principal a interação do aluno junto à

população da área de estudo para melhor compreensão sobre os fatos históricos

que ocorreram ao longo do tempo do espaço geográfico em questão.

Esse instrumento de pesquisa pode ser utilizado por intermédio de

informações obtidas por diversas fontes; além da oral, os alunos puderam, junto aos

antigos moradores, localizar documentos escritos, fotografias para complementar e

desvendar a história do lugar. De acordo com Calvente, Moura e Antonello (2003, p.

391):

Essa técnica de pesquisa consiste em entrevistar pessoas da comunidade com relação às transformações do meio e utilizar essa entrevista para fazer uma relação com o conteúdo ensinado em sala de aula. Proporciona aos alunos a possibilidade de, em contato com as lembranças do antigo meio, utilizar o raciocínio abstrato e refletir sobre as causas e conseqüências das mudanças do meio no decorrer dos tempos.

Na aplicação da “Memória Viva”, foram convidados previamente para a

entrevista, alguns moradores do entorno da área de estudo que, segundo essa

Page 19: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - … · ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais, ou seja, de que o espaço local faz parte de conjuntos maiores e que, por sua vez,

16

técnica de pesquisa, são denominados como informantes qualificados, ou seja,

pessoas que apresentam tendência a conversar, ouvir, dialogar, com raízes antigas

no local/bairro/cidade.

Consideramos essa atividade uma das mais expressivas no decorrer do

trabalho, dada a inter-relação e a interatividade entre os personagens participantes,

na busca da compreensão desse espaço apreendido, uma vez que, o resgate da

memória do espaço vivenciado e experenciado é fundamental para a apreensão de

uma visão mais abrangente da realidade local, o que possibilita, acima de tudo, a

captação e a identificação das singularidades locais. Os alunos sentaram em forma

de círculo na arquibancada do anfiteatro que faz parte da área de estudo,

juntamente com os antigos moradores Dona Eutália, Senhor Marcelo e Senhor

Ricardo. As informações em relação à história do lugar e das transformações

ocorridas ao longo do tempo foram perpassadas para o grupo por meio de

questionamentos preparados pelos alunos anteriormente. A riqueza de informações

e de detalhes sobre as transformações ocorridas naquele espaço geográfico foram

impressionantes e foram registradas pela aluna F. A. F T. “[...] a Dona Eutália

falando de como era esse lugar, parece que tô vendo um filme mostrando todas as

mudanças no longo tempo.”

Figura 8 - Entrevista - Informantes qualificados

Fonte: Autora.

Page 20: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - … · ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais, ou seja, de que o espaço local faz parte de conjuntos maiores e que, por sua vez,

17

Figura 9 - Entrevista – Informantes qualificados

Fonte: Autora.

As imagens 8 e 9, mostram o momento de interação entre os participantes

da técnica pedagógica denominada “Memória Viva”, alunos, professores e

informantes qualificados. Segundo análise de Archella e Calvente (2008, 159) [...]

essa técnica proporciona ao aluno o desenvolvimento da capacidade de ouvir outras

pessoas sem um pré-julgamento de sua formação escolar [...]”.

O momento foi de descontração e de muita atenção pois, os alunos e

professores que acompanhavam o trabalho, ficaram maravilhados com as

informações transmitidas pela Dona Eutália e seus dois filhos sobre os fatos

históricos e as transformações que ocorreram naquela região e em especial naquele

lugar como, por exemplo, o volume de água que existia na área de nascentes que

formavam até pequenas cachoeiras, no aspecto social, períodos de abandono

daquela área pelo poder público, onde a mesma passou a abrigar pessoas

dependentes de drogas amedrontando os moradores da região e os mesmos não

tinham nenhuma assistência. Todas as atividades que envolveram essa técnica

contribuíram de forma expressiva na produção do conhecimento dos alunos.

No retorno à sala de aula, os alunos estavam impressionados com as

histórias que ouviram e com todas as informações recebidas. O caminho estava

aberto para o início da sistematização do trabalho, ou seja, para a organização do

conhecimento adquirido. Todos os dados e informações levantados, tais como os

materiais coletados, os registros transcritos, desenhados e as imagens fotográficas

foram compilados e analisados. Posteriormente, foi destinado um espaço de tempo

para debates, levando em conta as dúvidas e os questionamentos dos alunos, além

Page 21: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - … · ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais, ou seja, de que o espaço local faz parte de conjuntos maiores e que, por sua vez,

18

da elaboração de croquis baseados nos registros fotográficos, representando a área

de estudo e as alterações socioambientais observadas e percebidas ao longo da

caminhada pela extensão do rio, e de relatório, apresentando as análises e reflexões

sobre a realidade da forma de organização e as transformações do espaço

geográfico estudado e as consequências refletidas na sociedade.

Figura 10 - Croqui – Alterações ambientais (Aluna F. A. F. T)

Fonte: Autora.

Figura11 - Croqui – Alterações ambientais Alunas: (C. G. T) e (B. R. P)

Fonte: Autora.

As figuras 10 e 11 revelam os resultados da percepção da paisagem por

meio de desenho – elaboração de croqui com base em fotografias produzidas pelos

próprios alunos. Desse modo, a degradação e as alterações ambientais provocadas

Page 22: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - … · ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais, ou seja, de que o espaço local faz parte de conjuntos maiores e que, por sua vez,

19

pela ação do homem modificando esse espaço geográfico, foram representadas e

desvendadas pelas construções em cima das nascentes, com a poluição da água do

rio por dejetos líquidos e sólidos, pelo desmatamento, entre outros. A utilização de

croqui em sala de aula na produção do conhecimento é muito válida por se tratar de

um desenho, em que os alunos expressam seus diferentes conhecimentos e

entendimentos da realidade. O valor de um desenho como recurso para avaliação

pode ser medido por meio das palavras de Freitas (2005, p. 82):

[...] esses recursos didáticos são essenciais para o entendimento das transformações que ocorrem na sociedade, ou seja, como um recurso que instrumentaliza as discussões de conceitos que levem a um entendimento maior de noções espaciais além da compreensão das relações entre os elementos do quadro natural e deste com os homens e dos homens entre si.

O trabalho foi concluído com uma “Mostra Imagética e Icnográfica”,

apresentada no Salão Nobre da escola, aberta à comunidade, cujo objetivo foi

compartilhar e envolver a comunidade escolar com as questões socioambientais de

seu espaço de vivência e, ao mesmo tempo, desenvolver a Educação Ambiental

Informal. Os resultados foram positivos, dado o interesse, a participação e interação

dos pais, alunos, professores e da comunidade escolar de um modo geral.

6 Considerações Finais

A Geografia apresenta um potencial singular para o desenvolvimento da

capacidade de interpretação do espaço geográfico e tem a função de criar

mecanismos pertinentes para a construção de conhecimentos básicos na formação

de cidadão com visão crítica da sociedade na qual ele faz parte. Assim, o estudo de

microbacias hidrográficas, principalmente naquela em que a escola está inserida é

relevante, dada a atual crise ambiental, pois o estudo do rio permite a abordagem

integrada dos seus aspectos naturais e sociais, das inter-relações sociedade-

natureza e da totalidade do ambiente, viabilizando assim, a leitura dos fenômenos

geográficos em diferentes escalas espaço-temporais. “O rio é a manifestação do

meio ambiente, da relação social, da relação do sujeito com o tempo, com o corpo,

com a vida e com a morte. O rio expressa a relação dos fenômenos da natureza

(natureza física e natureza humana); relação de si com o outro, de si com a bacia

Page 23: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - … · ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais, ou seja, de que o espaço local faz parte de conjuntos maiores e que, por sua vez,

20

hidrográfica; de si com o meio ambiente” (GRATÃO, 1991, p. 4). Desse modo,

consideramos as bacias hidrográficas um campo fértil para o desenvolvimento de

atividades educativas diferenciadas numa abordagem multi e interdisciplinar,

envolvendo a comunidade escolar e que possibilita uma visão integrada do meio

ambiente.

Acreditamos que o trabalho conseguiu atingir os objetivos, dadas as

proposições de atividades consideradas pelos alunos como dinâmicas e motivadoras

e que levaram os mesmos a refletir sobre os fatos, obtendo mudanças no seu

comportamento mediante sensibilização com as alterações socioambientais

estudadas. Com isso, os alunos puderam participar de um processo de ensino-

aprendizagem mais significativo.

Compartilhando com a ideia de alguns professores que o ensino de

Geografia atual busca um novo olhar sobre as práticas e saberes educativos, as

atividades propostas nesse estudo se justificam por ter colocado os alunos numa

perspectiva de indagação que os levaram a reflexão e a compreensão de sua

realidade.

Nas Diretrizes Curriculares Estaduais (DCEs) é recomendado a utilização de

imagens na produção do conhecimento geográfico, sendo os mapas e as fotografias

essenciais para o estudo das categorias de análise da Geografia que se fizeram

presentes nesse estudo como: paisagem, lugar, região. Desse modo, a leitura de

imagens, cartografias e fotográficas permitiu ao aluno uma maior compreensão da

concepção de espaço geográfico.

O trabalho de campo foi outra ferramenta imprescindível, pois, o mesmo

abriu um leque de possibilidades de atividades auxiliando na leitura da paisagem

estudada, entre elas a entrevista com antigos moradores, pois por meio de uma

conversa informal, realizada num “Círculo de Conversa”, os alunos ouviram

atentamente os pioneiros e com as informações claras e consistentes conseguiram

entender sobre a história do lugar e todo o seu processo de transformação. Nesse

sentido, Lacoste (1985, p. 1-23) propõe que os geógrafos retomem a prática do

trabalho de campo, pois é por meio dele que o aluno irá entender as contradições e

o processo de apropriação dos recursos naturais pelas sociedades humanas,

compreendendo assim, a dinâmica espacial própria dessa relação entre sociedade e

espaço.

Page 24: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - … · ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais, ou seja, de que o espaço local faz parte de conjuntos maiores e que, por sua vez,

21

Assim, este trabalho possibilitou ao educando condições para ele se sentir

parte integrante do conteúdo estudado e compreender melhor a sua realidade, e o

seu papel como sujeito crítico, atuante e transformador do seu espaço de vivência.

Referências ARCHELA, R. S.; CALVENTE, M. D. C (Org.). Ensino de geografia: tecnologias digitais e outras técnicas passo a passo. Londrina: EDUEL, 2008.

ASARI, A. Y.; ANTONELLO, I. T.; TSUKAMOTO, R. Y. (Org.). Múltiplas geografias: ensino, pesquisa, reflexão. Londrina: Humanidades, 2004.

BRASIL. Ministério da Educação e Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio: Ciências Humanas e suas Tecnologias. Brasília: MEC/SEF, 1998.

CALVENTE, M. D. C. M. H.; MOURA, J. D. P.; ANTONELLO, I. T. Memória viva como instrumento para o ensino de geografia. Geografia – Revista do Departamento de Geociências, Londrina, v. 11, n. 1, p. 391-402, jan./jul. 2003

CAVALCANTI, L. Geografia, escola e construção do conhecimento. 10. ed. Campinas: Papirus, 1998.

CAVALCANTI, L. S. Geografia e práticas de ensino. Goiânia: Alternativa, 2002.

FREITAS, E. P. Uma análise do ensino de geografia utilizando as representações cartográficas no 2º ciclo nas escolas públicas de Natal - Rio Grande do Norte. 2005. Tese (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal. Disponível em: <http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/2011/geografia/ensino_carto_educ_infantil.pdf>. Acesso em: 14 jun. 2012.

GRATÃO, L. H. B. O caminho do rio: uma expressão musico(eco)lógica. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO DE GEOGRAFIA “FALA PROFESSOR”, 2., 1991, São Paulo. Anais... Londrina: AGB–USP, 1991. Mimeo.

FAVARÃO, C. F. M.; GRATÃO, L. H. B. Toda escola, toda cidade, todo lugar tem um rio. É preciso descobri-lo! Vamos lá? Caminhando... pelo córrego Taboca Sertanóplis (PR). In: CALVENTE, M. D. et al. (Org.). Múltiplas geografias: ensino-pesquisa-reflexão. Londrina: Humanidades, 2007. v. 4

KATUTA, A. M. Linguagens: instrumento de conhecimento, dominação ou meio de comunicação? In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEÓGRAFOS, 6., 2004, Goiânia. Resumos... Goiânia, 2004.

KOSSOY, B. Realidade e ficções na trama fotográfica. São Paulo: Ateliê, 1999.

LACOSTE, I. A pesquisa e o trabalho de campo: um problema político para pesquisadores, estudantes e cidadãos. Seleção de Textos, São Paulo, n. 11, p. 1-23, 1985.

Page 25: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - … · ordens de grandeza de diferentes conjuntos espaciais, ou seja, de que o espaço local faz parte de conjuntos maiores e que, por sua vez,

22

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Diretrizes Curriculares de Geografia para a Educação Básica. Curitiba, 2006.

RUA, J. et al. Para ensinar geografia: contribuição com 1º e 2º graus. Rio de Janeiro: Access, 1993.

SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1997.

SANTOS, M. O mapa e o ensino: aprendizagem da geografia. Belo Horizonte: IGC/ UFMG, 1991.

SANTOS, V. M. N.; COMPIANI, Mauricio. Formação de professores para o estudo do ambiente: projetos escolares e a realidade socioambiental local. Terrae Didatica, Campinas, v. 5, n. 1, p. 72-86, out. 2009.

SILVA, A. M. R. Trabalho de campo: prática “andante” de fazer geografia. Revista do Departamento de Geografia, Rio de Janeiro, n. 11, p. 61-74, 2002.

SILVA, R. M. O uso da fotografia no ensino de geografia. 2004. Monografia (Pós-Graduação em Ensino de Geografia) - Universidade Estadual de Londrina, Londrina.

URQUIZA, L. B.; ASARI, A. Y. Trabalho de campo: fonte motivadora no ensino de Geografia. In: CALVENTE, M. D. C. et al. (Org.). Múltiplas geografias: ensaio-pesquisa-reflexão. Londrina: Humanidades, 2007. v. 4, p. 281-303.