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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL PDE

SUELY SATIKO TAMURA

VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS ALIMENTOS GENETICAMENTE MODIFICADOS: UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

MARINGÁ – PR 2010

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO

EDUCACIONAL - PDE

SUELY SATIKO TAMURA

VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS ALIMENTOS GENETICAMENTE MODIFICADOS: UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Artigo apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional. Orientadora: Sandra Aparecida de Oliveira Collet

MARINGÁ – PR 2010

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VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS ALIMENTOS GENETICAMENTE MODIFICADOS: uma proposta de intervenção

Autora: Suely Satiko Tamura1

Orientadora: Sandra Aparecida de Oliveira Collet2

Resumo

Ao tratar da modificação genética sabemos que esta prática tem causado polêmica, pois ainda não se conhecem as vantagens ou as desvantagens relativas à utilização dos alimentos geneticamente modificados no organismo humano, bem como as consequências para o ambiente de disseminação de plantas transgênicas. Assim sendo, este artigo tem como objetivo investigar o que os alunos da Educação de Jovens e Adultos – CEEBJA de Umuarama - Paraná conhecem sobre os alimentos geneticamente modificados (transgênicos) e quais as suas percepções sobre as aplicações e implicações desta biotecnologia, visando uma prática pedagógica de ensino e aprendizagem para a compreensão das vantagens e desvantagens da sua utilização na alimentação. As estratégias de ação pautaram-se em explicações orais, debates, apresentação de vídeos para discussões em grupo, leitura e reflexão de textos, pesquisas na internet. A prática desenvolvida na implementação possibilitou aos alunos a oportunidade de descobrir as vantagens e desvantagens dos transgênicos, levantando hipóteses sobre o fenômeno estudado, estabelecendo relações entre situações aparentemente distintas para chegarem à sistematização do conhecimento científico. Acreditamos que os conhecimentos adquiridos pelos alunos permitiram que os mesmos excedessem o saber de senso comum ou as primeiras impressões adquiridas na vivência cotidiana. Palavras-chave: transgênicos; vantagens; desvantagens; utilização; organismo humano. 1 Introdução

Esse artigo é resultado da pesquisa desenvolvida no Programa de

Desenvolvimento Educacional, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná

1Graduada em Ciências Biológicas. Mestre em Engenharia Ambiental. Professora da Rede Pública

Estadual de Ensino. 2

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(PDE/PR). As ações apresentadas foram implementadas junto aos alunos da

disciplina de Biologia na Educação de Jovens e Adultos (EJA) da cidade de

Umuarama-Paraná, tendo como tema de estudo as vantagens e desvantagens dos

alimentos geneticamente modificados como uma proposta de intervenção.

Investigações realizadas sobre o processo de ensino e aprendizagem têm

desvendado que os alunos apresentam concepções, ou seja, conceitos intuitivos,

espontâneos, alternativos que, muitas vezes, apresentam-se distanciados dos

conhecimentos científicos podendo comprometer a aprendizagem significativa

(GASPARIN, 2005). Estas ideias ou crenças, comumente de bases empíricas, são

saberes que os sujeitos adquirem, não raro nas vivências diárias, em ambientes não

escolares.

Isso faz pensar que, apesar de estarmos vivendo uma era de ricas

descobertas científicas e tecnológicas discutidas no contexto escolar e

constantemente anunciadas nas escolas ou na mídia, a maioria da população

parece sentir-se despreparada para emitir opiniões fundamentadas acerca de temas

como a transgenia, clonagem e genômica. Isto evidencia que nem sempre os

conhecimentos adquiridos na escola permitem que os indivíduos excedam o saber

de senso comum ou as primeiras impressões adquiridas na vivência.

Segundo as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná Biologia (DCEs),

Paraná (2008), o ensino e aprendizagem envolve não somente a aprendizagem de

conhecimentos científicos, mas também a compreensão de como se forma um

determinado conceito. De acordo com essas diretrizes, a aquisição mecânica de

informações sobre os conceitos científicos não satisfaz os pré-requisitos necessários

para o ensino. Daí a necessidade de o docente investir em uma prática pedagógica

que priorize uma nova maneira de pensar as “coisas” que cercam a vida do aluno.

Ao tratar da modificação genética sabemos que esta prática tem causado

polêmica, pois ainda não se conhecem as vantagens ou as desvantagens relativas à

utilização dos alimentos geneticamente modificados no organismo humano, bem

como as consequências para o ambiente de disseminação de plantas transgênicas.

Conforme Marinho e Minayo-Gomez (2004, p. 96), “[...] a aplicação da

engenharia genética, principal ferramenta da moderna biotecnologia a agricultura

vem provocando profundas controvérsias quanto a possíveis riscos à saúde e ao

meio ambiente, assim como sobre suas implicações nos âmbitos político,

socioeconômico e ético”. Alguns países da Europa, por exemplo, proíbem a

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importação de soja transgência. No Brasil, a pesquisa nesse campo vem sendo

controlada pelo governo, através da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança

(CTNBio).

Portanto, este artigo tem como objetivo investigar o que os alunos da

Educação de Jovens e Adultos – CEEBJA de Umuarama - Paraná conhecem sobre

os alimentos geneticamente modificados (transgênicos) e quais as suas percepções

sobre as aplicações e implicações desta biotecnologia, visando uma prática

pedagógica de ensino e aprendizagem para a compreensão das vantagens e

desvantagens da sua utilização na alimentação.

Acreditamos que conceber a biologia de maneira significativa na Educação

de Jovens e Adultos requer incutir na prática pedagógica a permissão de observar

os acontecimentos da natureza. Não é preciso recriá-lo em sala de aula. Para tanto,

basta a sua observação na própria natureza e a sua transformação para facilitar a

vida enquanto seres vivos deste planeta.

Assim sendo, primeiramente tratamos de algumas considerações teóricas

sobre os trangênicos. Na sequencia, apresentamos o caminho metodológico, os

resultados e discussão da intervenção realizada. Por fim, abordamos as conclusões

sobre o estudo proposto.

2 Considerações sobre os Transgênicos

Por meio do cultivo seletivo de plantas que eram maiores, mais fortes e

menos suscetíveis às doenças, os agricultores cultivaram plantas mais produtivas,

sem ter o conhecimento da engenharia genética, um processo fundamental utilizado

na Biotecnologia (CORDEIRO, 2000; MONQUERO, 2005).

A redescoberta das leis da herança biológica no ano de 1900 por Abade

Gregor Mendel possibilitou planejar cruzamentos controlados que eram

acompanhados de uma planejada seleção. Com esses conhecimentos, o progresso

do melhoramento genético aumentou significativamente no século XX, com o

consequente aumento da produtividade agropecuária, mais que nos milhares de

anos anteriores (CORDEIRO, 2000).

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Na contemporaneidade, a engenharia genética pode manipular o material

genético da célula e, com isso, produzir uma nova característica em um organismo.

Genes de plantas, microorganismos e animais podem ser recombinados e

introduzidos nos núcleos das células de qualquer um desses organismos

(MONQUERO, 2005).

As décadas de 70 e 80 foram responsáveis pelas grandes mudanças na

biologia com as descobertas da organização do funcionamento, bem como da

variação do material genético dos organismos vivos. Desse conhecimento,

decorreram tecnologias que viabilizaram combinações de material genético em

laboratório (VOGT, 2010).

As pesquisas em torno do DNA recombinante, além da revolução instaurada

no universo dos estudos da vida permitiram o surgimento de novas práticas

científicas e tecnológicas. Foi o campo híbrido entre ciência e tecnologia: a

biotecnologia que desencadeou as mudanças relativas também ao comportamento

ético da sociedade civil diante das novas questões que a manipulação genética de

seres vivos trouxe para o homem (NODARI; GUERRA, 2000).

Com o desenvolvimento da engenharia genética entendida como o conjunto

de técnicas capazes de permitir a identificação, manipulação e multiplicação de

genes dos organismos vivos, que se chegou ao estágio de criar transgênicos, por

meio da mistura dos genes de espécies do reino vegetal e do animal. Os organismos

que tiverem genes de outras espécies incluídos em seu genoma (o conjunto dos

genes de um organismo) são chamados de transgênicos (PEDRANCINI et al.,

2008). Por meio dessa técnica, tem-se produzido plantas transgênicas resistentes a

causadores de doenças.

A transformação do código genético de plantas, animais ou microorganismos

por meio da engenharia genética já é uma realidade com os produtos transgênicos.

Tal procedimento suprime atividades de genes ou transfere-os de uma espécie para

outra. Transferência esta que permite substituição, acrescentando ou retirando um

comando químico ou gene de uma cadeia genética, para obter um organismo

geneticamente modificado (OGM) ou transgênico (LEITE, 2000).

Organismos transgênicos são seres vivos obtidos por uma tecnologia

biológica (biotecnologia), denominada transgênese ou transgenia que consiste em

uma manipulação genética (adição de um gene estrangeiro animal ou vegetal), ao

genoma (conjunto dos genes de uma espécie) de um ser vivo qualquer, animal ou

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vegetal (OLIVEIRA, 2010). Pesquisas foram realizadas para o desenvolvimento de

plantas transgênicas tolerantes a herbicidas (substância empregada na destruição

de ervas daninhas), e plantas que apresentam outras melhorias, como o tomate que

demora para apodrecer (MONQUERO, 2005; PEDRANCINI et al., 2008).

A dinâmica da história da civilização humana ganhou nova evidência com a

intensificação e aperfeiçoamento dos avanços científicos e tecnológicos no campo

da genética e da biologia molecular (PEDRANCINI et al., 2008). O homem tornou-se

capaz de intervir nos processos naturais dos sistemas biológicos, mediante a

utilização de técnicas modernas e altamente sofisticadas que possibilitam a

transformação e criação de seres vivos.

A revolução ocasionada pela inserção das biotecnologias nas atividades de

investigação científica, transmutando a ciência em tecnociência voltada à satisfação

de objetivos utilitários imediatos, trouxe questionamentos importantes, uma vez que

a decisão da utilização ou não dos resultados alcançados tanto “para o bem como

para o mal”, não depende dos laboratórios, mas de uma opção consciente ou de um

consenso social esta frase está confusa, precisa reescrever. Segundo Sgreccia

(apud DIAFÉRIA, 2002), em nenhum momento da história da humanidade a ética foi

considerada tão importante na medicina, na biologia e na sociedade, pois as

descobertas científicas fizeram com que a moral voltada para a preocupação com a

vida, se tornasse de interesse para todos.

A civilização tecnológica emerge impondo a necessidade de uma reflexão

desvelada acerca dos parâmetros éticos que embasam a prática dos cientistas,

objetivando o direcionamento dos resultados para o progresso de toda a

humanidade. O reconhecimento e a construção de uma nova ética são fundamentais

nesse momento histórico, para que o ser humano possa viver em harmonia com os

resultados da ciência e da tecnologia na atual sociedade, estabelecendo parâmetros

de respeito ao próximo, embasados em valores morais que possam conduzir a uma

realização satisfatória dos anseios humanos (DIAFÉRIA, 2002; ARAÚJO; NODARI,

2011).

Dentre os principais argumentos a favor dos transgênicos, citam-se: a

necessidade do aumento da produção de alimentos a baixo custo; o aumento da

renda do produtor agrícola; as vantagens ambientais; a competição no mercado

mundial de produtos agrícolas; a ausência de riscos à saúde humana e ao meio

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ambiente; a inevitabilidade da presença dos transgênicos no Brasil (ARAÚJO;

NODARI, 2011).

Para Candeira (2001), os transgênicos têm a vantagem de viabilizar o

aumento da produção e da produtividade com redução de custos, sendo uma

alternativa para a comercialização de produtos agrícolas. Poderá ocorrer melhor

controle ambiental em relação à redução ou extinção do uso de agrotóxicos;

aumento da variabilidade genética pela inserção de genes exógenos em genomas

funcionais; proporcionar maior velocidade na geração de novas cultivares,

melhoramento genético de plantas com o desenvolvimento de uma agricultura

saudável e competitiva.

Muito embora a área com transgênicos esteja em constante crescimento em

vários países, e apesar de sua aprovação por milhares de pesquisadores, em

especial geneticistas e da ausência de qualquer efeito prejudicial à saúde humana,

animal e no meio ambiente, decorrente dos milhões de pessoas consumidoras

desses produtos desde 1996, persiste, ainda, uma forte oposição aos transgênicos.

Está cada vez mais evidente que os transgênicos são tão ou mais seguros que os

não transgênicos para a saúde humana e animal (PATERNIANI, 2002).

A significativa redução do uso de agroquímicos associados aos transgênicos

mais cultivados atualmente resistentes a insetos/pragas e a herbicidas contribui para

a maior proteção do meio ambiente (PATERNIANI, 2002; BORÉM; SANTOS, 2011).

O uso de organismos transgênicos tem o potencial de oferecer benefícios

reais à agricultura, na qualidade da alimentação e na saúde, entre outros setores,

mas há incertezas acerca de diversos aspectos do uso de Organismos

Geneticamente Modificados (OGMs). Porém, muitas pesquisas continuam sendo

realizadas para dirimir as dúvidas acerca dos riscos para que estes sejam

devidamente avaliados e controlados, a fim de que o potencial das novas

tecnologias torne-se claro e acessível para a sociedade. É preciso respeitar as

legítimas preocupações do público (BORÉM; SANTOS, 2011).

Os principais argumentos contrários aos transgênicos estão relacionados aos

temores quanto aos prejuízos à saúde humana, animal e ao meio ambiente, tais

como os riscos de contaminação genética da biodiversidade (empobrecimento da

biodiversidade); os riscos de poluição ambiental (aumento da contaminação dos

solos e lençóis freáticos, pelo uso intensificado de agrotóxicos); os riscos à saúde

humana e animal; extinção de espécies (eliminação de insetos e microorganismos

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benéficos ao equilíbrio ecológico); a desnacionalização da pesquisa brasileira; a

formação de oligopólios na produção de sementes; a vulnerabilidade dos

mecanismos estatais de controle; a perda de mercados de produtos agrícolas

brasileiros; aparecimento de alergias; aumento da resistência a antibióticos e

aparecimento de novos vírus, decorrente da recombinação de vírus intrincados com

outros já existentes (ARAÚJO; NODARI, 2011).

Caso algumas das consequências negativas da engenharia genética

ocorram é impossível controlá-las, por se constituírem em formas vivas, podem

sofrer mutações, se multiplicar ou ser dizimadas no meio ambiente. Então se o dano

é grande, mesmo uma baixa probabilidade pode significar um risco inaceitável.

Portanto, o impacto de um transgene no ambiente e na saúde humana, deve ser

criteriosamente avaliado (ARAÚJO; NODARI, 2009).

Cordeiro (2011) aponta as seguintes desvantagens das plantas

transgênicas:

a) Somente poucos laboratórios têm os dispendiosos equipamentos e

reagentes, e pesquisadores capazes de obter organismos transgênicos com toda a

segurança requerida pela Lei de Biossegurança, fiscalizada pela Comissão Nacional

Técnica de Biossegurança CTNBio;

b) Após a obtenção do organismo transgênico, segue-se a fase mais longa e

dispendiosa, de cinco ou mais anos, e milhões de dólares para selecionar e

desenvolver o produto. Somente empresas têm arcado com os custos necessários

para lançar novas variedades transgênicas;

c) Apesar de todas as precauções, as pessoas leigas, ou mesmo

pesquisadores de áreas afins, temem que possam existir inconvenientes no futuro;

Alguns ambientalistas acreditam que os transgênicos podem provocar

complicações desconhecidas para a saúde humana. Não há resultados científicos

que comprovem esses efeitos, nem que demonstrem a segurança dos produtos.

Assim, diante de tal situação, onde há muita inquietação do consumidor em

relação aos transgênicos, a melhor resposta é deixar que cada consumidor escolha

se quer ou não alimentar-se com transgênicos. A solução para tal impasse seria

rotular os alimentos transgênicos com advertência de que a segurança dos

transgênicos para a saúde humana, ainda não foi comprovada.

Sob a visão sócio-econômica e do consumidor é preciso mais

experimentação, para melhor conhecimento sobre os riscos e vantagens dos

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transgênicos, bem como garantir a rastreabilidade dos ingredientes ao longo de toda

a cadeia alimentar de forma a possibilitar aos consumidores optarem pelo consumo

de alimentos livres de Organismos Geneticamente Modificados (NODARI; GUERRA,

2000).

Conforme Cordeiro (2011), a questão dos transgênicos desencadeia muitas

discussões científicas com reflexos econômicos, devendo observar os diplomas

legais em vigor, assim como os princípios do Direito Ambiental, notadamente, o

princípio da prevenção, além dos direitos dos consumidores.

Os transgênicos têm causado polêmica, e as discussões giram em torno de

aspectos comerciais, sociais e financeiros. As empresas que desenvolvem os

transgênicos estão interessadas muito mais na questão financeira do que na saúde

e qualidade de vida dos consumidores (NODARI; GUERRA, 2000). Com a grande

demanda no mercado mundial, torna-se um problema controlar a produção agrícola

de transgênicos e informar corretamente o consumidor que, muitas vezes, nem se

quer sabe que está levando para casa um produto transgênico.

Daí porque é de suma importância da participação consciente e efetiva dos

cidadãos brasileiros em diferentes âmbitos na temática, não deixando de analisar

que, acima de qualquer interesse, seja qual for, deve prevalecer sempre o bom

senso e a saúde dos indivíduos.

3 O Caminho Metodológico

As estratégias de ação buscaram promover estudos para a compreensão dos

transgênicos e suas implicações na alimentação, saúde e meio ambiente; diferenciar

alimentos convencionais e orgânicos dos alimentos geneticamente modificados;

propor dinâmicas para o debate sobre os prós e contras dos transgênicos.

Os eventos propostos para a implementação pedagógica constituíram-se em

um conjunto de procedimentos, ideias, vivências e práticas, tendo os alunos do

Centro de Educação Básica de Jovens e Adultos – CEEBJA da cidade de

Umuarama-Paraná, como membros ativos do processo ensino e aprendizagem em

Biologia.

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Em cada etapa, os alunos foram levados a discutir o material qualitativo

gerado na situação investigativa, possibilitando a elucidação da problemática

suscitada, por meio de aulas expositivas, apresentação de vídeos, leituras,

compreensão de textos, atividades de escrita, dinâmicas de grupo, apresentação de

vídeos, entre outras, divididas em quatro encontros, que perfizeram um total de 32

horas conforme exigência do Programa de Desenvolvimento Educacional, da

Secretaria de Estado da Educação do Paraná (PDE/PR).

4 Resultados e Discussão

Apesar da existência de significativos instrumentos legais e instâncias

decisórias específicas sobre a questão dos transgênicos no Brasil, as práticas não

condizentes com a legislação em vigor têm gerado uma acirrada polêmica entre

diversos atores envolvidos, como cientistas, agricultores, ambientalistas e

representantes do governo (MARINHO; MINAYO-GOMEZ, 2004).

Para subsidiar as discussões iniciais sobre os transgênicos no primeiro

encontro após a apresentação do projeto aos alunos, o professor procurou investigar

o conhecimento dos alunos sobre os alimentos geneticamente modificados

(transgênicos), a partir de algumas questões: Você já ouviu falar sobre os

transgênicos? O quê você entende sobre transgênico? Você acha que existe alguma

diferença entre Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) e os transgênicos?

Como você acha que se faz um transgênico? Você conhece algum transgênico? Cite

exemplos. Na sua vida cotidiana você tem utilizado algum transgênico? Quais as

vantagens que você vê em produzir os transgênicos? Quais as desvantagens da

transgenia? Você é contra ou a favor dos transgênicos? Por quê?

As concepções e opiniões manifestadas pelos estudantes em relação aos

transgênicos revelaram que os mesmos não tinham compreensão sobre a temática,

como revelam os discursos:

Eu não sei direito o que é esse negócio de transgênico, a gente vê muita coisa na televisão, até entende algumas coisas, como se os transgênicos podem ser ruim ou bom para a saúde, mas na realidade a gente só sabe que essas plantas são diferentes daquelas que a gente encontra na natureza (Aluno 1).

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Meu colega mora no sítio e disse que o pai dele plantou um tipo de milho transgênico. Ele disse que o pai dele fez isso porque esse tipo de milho é muito mais resistente a doenças e aos insetos, mas eu não sei direito por que é assim. Agora o que eu queria saber é se isso faz bem ou mal para a nossa saúde? (Aluno 2). Na televisão sempre passa algumas coisas sobre isto, principalmente naqueles programas que falam do meio ambiente e no Globo Repórter. Eu entendi que eles mudam a semente da planta, agora eu não sei direito como faz isso. Aqui na escola no ano passado a professora trabalhou um pouco esse assunto e a gente discutiu se isso é bom ou ruim para a sociedade, mas eu acho que falta a gente entender melhor desse assunto para dar uma opinião mais certa (Aluno 3). Quanto a gente vê falar desse assunto parece que as pessoas que defendem o meio ambiente acham que não é bom plantar alimentos transgênicos, porque eles estragam a natureza, mas eu não sei direito porque isso acontece, se tem diferença entre um planta que é transgênica e outra que não é (Aluno 4). Quando minha mãe vai ao supermercado ela gosta de comprar produtos que são naturais, que são considerados orgânicos e ela sempre fala que não gosta de comprar esses alimentos que são feitos com transgênicos, que não são bom para a nossa saúde, mas ela também fala que nem sempre dá para saber se os produtos tem ou não coisas transgênicas (Aluno 5).

Para esclarecer o que são transgênicos, o professor trabalhou com o texto

proposto por Ramos e Sanmatin (2000), primeiramente, por meio de leitura

individual, explicações orais pelo professor e, num segundo momento, por meio de

um debate com a classe.

O texto apontou que poucos assuntos geram tanta controvérsia como os

transgênicos. Organismos transgênicos, ou organismos geneticamente modificados

(OGMs), são animais, plantas e microorganismos que sofrem modificações geradas

pela transferência de características (genes) de uma espécie para a outra. A

discussão sobre as vantagens e desvantagens desta “interferência biotecnológica”

do homem na natureza fica mais complexa quando falamos na produção,

comercialização e consumo de alimentos transgênicos.

Os alimentos transgênicos são produzidos através da engenharia genética,

obtendo-se, assim, dentre as muitas possibilidades, feijão com proteína da

castanha-do-pará, trigo com genes de peixe, tomates que não apodrecem, milho

com genes de bactérias que matam insetos e soja resistente a herbicidas.

Como atividade complementar apresentamos um vídeo intitulado “Alimentos

Transgênicos”. Após, a apreciação do vídeo, professor e alunos discutiram aspectos

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relevantes do texto apresentado e do vídeo, enfatizando as controvérsias sobre o

que são transgênicos. Após, os alunos foram reunidos em duplas para listar os

principais alimentos transgênicos apresentados no texto e no vídeo apresentado

para debateram com outras duplas os alimentos listados.

Pesquisando na internet nós aprendemos que no Brasil tem muitos produtos que são transgênicos. Tem uma empresa chamada Embrapa que fez uma batata que é resistente a vírus. Também tem um feijão que foi feito por essa empresa que é resistente a uma doença chamada mosaico dourado. A gente aprendeu a EMBRAPA é a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária e eles fazem pesquisas com plantas e animais (Grupo 1). Fazendo uma pesquisa sobre alimentos transgênicos nós aprendemos que no Brasil existem muitos alimentos que são transgênicos, como o óleo de soja que é feito com soja modificada. Também tem os produtos que são feitos de milho, que também podem ser feitos com o milho transgênico. Nós vimos que tem uma pesquisa onde foi colocado na soja o hormônio do crescimento e que dá para fazer plantas que podem curar doenças no futuro, isso quer dizer que a gente vai comer alimentos que vão curar doenças que a gente tem (Grupo 2). Nós aprendemos muita coisa com essa aula. Vimos que são muitos os alimentos que são transgênicos ou que podem ser fabricados com produtos transgênicos. Dentre eles tem o milho, a soja, a escarola, a moranga, a batata, o alface e muitos outros que estão sendo criados nos laboratórios. O que a gente tem que pensar é se estes produtos são bons para a nossa saúde e para o meio ambiente (Grupo 3).

Explicamos que a modificação por transferência de genes pode ser feita por

algumas técnicas. De modo geral, a engenharia genética permite que se retire o

gene de um organismo e se transfira para outro. Esses genes entram na sequência

de DNA (onde estão às características de um ser vivo) do organismo receptor,

gerando uma reprogramação. Entre as técnicas mais utilizadas para manipulação

genética estão a micro-injeção (uso de micro-agulhas), microencapsulação

(transferência de genes através de cápsulas), eletroporação (por corrente elétrica),

fusão celular e técnicas de hibridização (RAMOS; SANMATIN, 2000).

Para facilitar a compreensão dos transgênicos o professor entregou aos

alunos uma ficha com termos relacionados ao vocabulário técnico dos transgênicos

para que em duplas, pesquisassem no dicionário, livros, revistas, internet o

significado dos seguintes termos: alimentos geneticamente modificados,

biotecnologia, cultivares, DNA/RNA recombinante, engenharia genética, gene

inseticida, modificação genética, monsanto, Organismos Geneticamente Modificados

(OGMS).

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Durante a pesquisa, o professor acompanhou todos os momentos do

processo: a discussões, as negociações, as intervenções, os questionamentos, as

descobertas, as buscas, as pesquisas, as articulações dos alunos e alunas.

No segundo encontro discutimos as implicações dos transgênicos na

alimentação, saúde e meio ambiente por meio de uma exposição oral. Os alunos

foram lembrados que a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida de uma população

decorre da quantidade e qualidade dos alimentos consumidos por uma população,

assim como de seu estilo de vida, com base no texto proposto por Affonso (2011). O

texto considera que a integridade e a biodiversidade da flora e fauna subterrânea

implicam em uma variedade de nutrientes para as plantas. Isso acarreta melhor

qualidade dos alimentos ingeridos. Entretanto, a nutrição é o resultado da interação

entre o alimento ingerido e o organismo, ou seja, o mesmo alimento pode ter efeitos

distintos em pessoas diferentes. O alimento consegue exercer totalmente sua função

quando o organismo está em condições de assimilá-lo, separar o que é aproveitável

do que é dispensável, transformá-lo e transportá-lo aos tecidos que dele necessitam.

É fundamental que o homem recupere sua sensibilidade e reconheça suas

demandas essenciais, fazendo escolhas alimentares mais saudáveis diante de

tantos novos produtos disponíveis nas prateleiras dos supermercados.

No mundo todo, pesquisadores e cientistas estão desenvolvendo pesquisas

sobre as reais conseqüências da utilização de alimentos geneticamente modificados

no organismo humano e no meio-ambiente. Consumidores de países onde já ocorre

a comercialização de alimentos transgênicos exigem a sua rotulagem, assim como

os orgânicos, para que possam ser distinguidos na hora da escolha do alimento.

Após a leitura e discussões iniciais, os alunos foram convidados a refletir em

grupos de até três alunos sobre as implicações dos transgênicos na alimentação,

saúde e meio ambiente, a partir de um texto intitulado “Os 10 maiores perigos dos

alimentos transgênicos para a saúde e para o meio ambiente.

Para a discussão do texto proposto, após a leitura individual, cada aluno

apresentou suas contribuições que foram discutidas com outros membros dos

grupos que foram incumbidos de completar, refutar e/ou acrescentarem ideias ao

texto. Nessa construção a intenção dialética do processo foi contribuir para que os

alunos tivessem uma visão recíproca do texto, produzindo novos conhecimentos

sobre os transgênicos.

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Assim sendo, cada membro da equipe interagiu com os colegas de classe,

estabelecendo uma rede de comunicação, onde todos assumirão os papéis de

escritores, pesquisadores, revisores e críticos. Após, sugeriu-se que os alunos

pesquisassem na internet sobre as implicações dos transgênicos na alimentação,

saúde e meio ambiente. Para tal, foi utilizado o espaço do laboratório de informática

da escola para a pesquisa.

Na sequência, o professor refletiu em conjunto com os alunos sobre as

vantagens e desvantagens do processo de manipulação genética para obtenção de

um alimento transgênico ou geneticamente modificado. Durante esse trabalho, os

alunos foram divididos em dois grupos: o primeiro analisou as vantagens; e o

segundo, as desvantagens do uso dos transgênicos no cotidiano.

Apresentamos o Quadro 1 a seguir destacando a comparação entre

transgênicos e não transgênicos.

QUADRO 1 - PARALELO ENTRE TRANSGÊNICOS E NÃO TRANSGÊNICOS

TRANSGÊNICOS NÃO TRANSGÊNICOS

A) As sementes são mais produtivas do que as tradicionais

A) A produção depende do ano, da safra, das pragas. Além disso, dizem que as sementes transgênicas são mais caras que as não transgênicas.

B) O uso da soja transgênica e de agrotóxicos reduz as perdas por erosão

B) O que reduz a erosão é o plantio direto, não as sementes transgênicas.

C) As sementes transgênicas dão liberdade de escolha para o agricultor: se quiser usa, se não quiser não usa.

C) As empresas que vendem transgênicos dominam cada vez mais o mercado brasileiro de sementes. Elas podem, facilmente, vender só transgênicos, acabando com a oferta de sementes não transgênicas e deixando o agricultor sem liberdade de escolha. Existe, também, o risco de uma lavoura de milho transgênico contaminar as lavouras vizinhas de milho não transgênicas, pela polinização, e assim prejudicar a produção das sementes próprias dos agricultores e acabar com a variedade.

D) Os transgênicos não fazem mal, já que nunca ninguém ficou doente por causa deles.

D) Nos Estados Unidos, por exemplo, o milho transgênico Bt Star Link teve que ser recolhido depois de causar alergia em várias pessoas. Além disso, as alterações genéticas podem vir a se manifestar somente em longo prazo.

E) Os transgênicos podem ajudar a reduzir a fome no mundo, pois eles são mais produtivos e mais nutritivos.

E) Os transgênicos não são mais produtivos do que as variedades próprias dos agricultores ou as variedades melhoradas comerciais. Além disso, os alimentos naturais não fazem mal à saúde e são mais baratos. O problema da fome não é por falta de alimentos, mas sim, por causa da sua má distribuição.

Fonte: Jornal Por um Brasil Livre de Transgênicos (2001).

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Nesta atividade, os alunos foram orientados para realizar uma pesquisa em

livros, revistas, jornais distribuídos pelo professor. De posse das informações

coletadas, os alunos apresentaram os resultados aos colegas de classe. Diante de

algumas sugestões do professor, os alunos fizeram um levantamento de dados,

formando opiniões com relação à questão abordada.

No terceiro encontro, trabalhamos com a diferença entre alimentos

convencionais, orgânicos e geneticamente modificados. Para aprofundar os

conhecimentos fizemos uma leitura e explicações sobre o texto proposto por Affonso

(2011). Com base no texto debatemos que a agricultura orgânica busca o equilíbrio

e o desenvolvimento sustentável do meio ambiente, fauna, flora e ser humano, onde

todos possam interagir com respeito. Explicamos que alimentos orgânicos são

aqueles cultivados sem insumos químicos, respeitando o meio ambiente e as

relações sociais. É possível encontrar verduras, legumes, frutas, óleos, carnes, ovos

e até cervejas e vinhos orgânicos.

Segundo o Instituto Biodinâmico (IBD), uma das instituições que certifica

esses alimentos no Brasil, o mercado brasileiro desse tipo de alimento teve taxas de

crescimento de 30% a 50% ao ano e já temos a segunda maior área de agricultura

orgânica do mundo. Como a produção orgânica objetiva a realização de processos

produtivos em equilíbrio com o ambiente no cultivo, os agrotóxicos sintéticos,

adubos químicos e sementes transgênicas são proibidos. Os animais são criados

sem uso de hormônios de crescimento, anabolizantes ou antibióticos, e de rações

comerciais.

Como atividade complementar apresentamos um vídeo intitulado “Alimentos

Orgânicos”. Após as discussões, os alunos fizeram uma síntese do conteúdo

abordado, com destaque nas principais diferenças entre os alimentos orgânicos,

alimentos geneticamente modificados e os convencionais. Os alunos registraram a

sua compreensão sobre o assunto da seguinte forma:

Depois que a gente trabalhou com esses textos e os vídeos nós aprendemos muita coisa, agora eu entendi o que é transgênico e o que é um produto orgânico e sei que os produtos orgânicos são aqueles que não usam produtos químicos para serem produzidos e não são de sementes transgênicas. Os alimentos transgênicos, que também são conhecidos como (OGM) são aqueles que foram modificados geneticamente no laboratório. Agora que eu aprendi isso eu vou preferir comprar produtos que não tem transgênicos, porque os pesquisadores ainda estão pesquisando para saber se os transgênicos podem ser ruim para a saúde da gente (Grupo 1).

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Quando a gente compra um produto ele pode ter sido feito com algum transgênico. Existem países que não aceitam que os produtos transgênicos sejam vendidos, isso deve ser porque os pesquisadores ainda não chegaram a uma decisão final, se os transgênicos fazem bem ou mal para a saúde das pessoas. Neste caso, agora que nós vimos o vídeo eu vou preferir comer produtos naturais, que não tem veneno ou que não seja transgênico, eu ainda acho que é melhor para a saúde. Ainda bem que tem uma lei que obriga as fábricas a identificar os produtos que tem transgênicos, daí a gente pode escolher melhor (Grupo 2). Depois de tudo que a gente estudo e aprendeu muito sobre os transgênicos eu acho que ainda é preciso que os cientistas estudem mais sobre esse tipo de alimento para depois a gente comer mais tranquilo. Eu acho que a gente deve escolher alimentos orgânicos para comer, nós vamos preferir esses produtos para nossa alimentação (Grupo 3). Aquilo que a gente come é muito importante para a nossa vida, por isso nós achamos que aprender sobre o que é um alimento transgênico e orgânico foi muito importante. Os pesquisadores ainda não têm certeza se os alimentos transgênicos fazem mal para a nossa saúde, até tem países que não compram produtos transgênicos, nós acreditamos que esses países fizeram muitas pesquisas para tomar essa decisão, por isso, nós vamos prestar mais atenção quando for no mercado para evitar esse tipo de alimento, mas no futuro, quem sabe a gente vai comer esse tipo de alimento sem ter medo (Grupo 4).

No quarto encontro debatemos os prós e contra sobre os transgênicos. O

professor iniciou a aula relembrando que os transgênicos são espécies cuja

constituição genética foi alterada com genes de outros seres vivos, com o intuito de

modificar determinadas características naturais por outras “melhores” (como

resistência a pragas, carne mais macia, dentre outras).

Explicamos que a ideia de produzir, com segurança, alimentos geneticamente

modificados que contribuam para combater a fome em diversas populações no

mundo é aceita pela maioria dos pesquisadores. Assim, comentamos que esse tema

gera muita controvérsia, pois segundo Diaféria (2002), de um lado, há o discurso de

que os transgênicos podem resolver o problema da fome no mundo, e as facilidades

que poderão trazer para a vida humana; mas, por outro lado, a competição destes

organismos com as espécies naturais apresenta potencial de riscos à biodiversidade

e à saúde.

Para ilustrar o conteúdo apresentamos um texto fotocopiado para leitura e

discussão em grupo sobre “Os prós dos transgênicos”. Com base nas considerações

de Diaféria (2002) explicamos que o alimento geneticamente modificado pode ter a

função de prevenir, reduzir ou evitar riscos de doenças, através das plantas

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modificadas geneticamente. É possível produzir vacinas e os microorganismos

modificados podem produzir iogurtes fermentados que estimulam o sistema

imunológico; o uso de transgênicos pode reduzir o uso dos agrotóxicos (herbicidas,

inseticidas e fungicidas), que podem causar sérios problemas aos seres vivos,

sendo que a produção prejudicará menos o meio ambiente; as plantas

geneticamente modificadas podem adquirir resistência ao ataque de insetos, de

pragas e à seca; através da resistência obtida, a planta sofre menos interferências

de pragas e doenças, aumentando, assim, a produtividade agrícola através do

desenvolvimento de lavouras mais produtivas. Outro ponto é o aumento de produção

de alimentos, que alguns especialistas afirmam poder reduzir o problema da fome.

Esse aumento ainda poderia contribuir para a redução dos custos de produção,

facilitando, assim, a vida do agricultor.

Com relação às posições contra os transgênicos refletimos sobre alguns

aspectos importantes e que propiciou o debate acirrado entre os alunos. Foi

lembrado que o lugar em que o gene é inserido não pode ser controlado

completamente, podendo causar resultados inesperados, uma vez que outros os

genes podem ser afetados; há um considerável aumento do número de casos de

pessoas alérgicas a determinados alimentos em virtude das novas proteínas que

são produzidas pela alteração genética dos alimentos; além dos riscos à saúde

também há riscos ambientais.

Argumentamos, ainda, com base em Diaféria (2002), que quanto maior a

variedade genética no sistema da agricultura, mais este sistema estará adaptado

para enfrentar pragas, doenças e mudanças climáticas que tendem a afetar apenas

algumas variedades de plantas. Explicamos que algumas plantas que eram antes

cultivados para serem usados na alimentação podem ser modificadas. Essas plantas

modificadas podem cruzar com plantas normais e estas adquirem o transgene.

Após as explicações e debates em grupo reforçamos o conteúdo com

reflexões sobre a temática da biossegurança, com ênfase nos prós e contras da

introdução de transgênicos na alimentação, saúde e ambiente com embasamento

em Diaféria (2002).

Assim, com base nos módulos anteriores estudados, a turma foi dividida em

dois grupos: o grupo dos prós e o grupo dos contras. A divisão foi aleatória, para

estimular os alunos a argumentarem de forma que pudessem defender o que lhes foi

atribuído, mesmo que não fosse o que realmente tinham como opinião pessoal.

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Sorteamos um grupo para iniciar a atividade, estipulando um tempo fixo para

as discussões. O grupo sorteado fez as argumentações em conformidade com a

temática proposta, enquanto os alunos do outro grupo assistiram a discussão, com

registros dos pontos mais interessantes para eles, podendo argumentar contra ou a

favor do que foi exposto. Após o término do tempo, o segundo grupo iniciou a sua

discussão; enquanto o outro grupo procedeu aos registros de suas observações.

Encerrado o prazo, as anotações dos alunos foram recolhidas, com a

posterior abertura de discussões para toda a turma. De acordo com a discussão e a

partir das informações obtidas foram apontadas as possíveis lacunas e erros

conceituais existentes. Ao final da aula os conteúdos foram expostos em um mural

para compartilhar a temática com a comunidade escolar.

5 Conclusões

Objetivando investigar o conhecimento e percepções dos alunos sobre os

alimentos geneticamente modificados (transgênicos) e as aplicações e implicações

desta biotecnologia concluímos que os alunos avançaram em seus conhecimentos a

partir da metodologia utilizada.

As estratégias de ação pautadas em práticas diferenciadas como explicações

orais, debates, apresentação de vídeos para discussões em grupo, leitura e reflexão

de textos, pesquisas na internet, permitiram que os alunos se envolvessem com a

temática abordada, viabilizando as descobertas.

A descoberta foi uma dimensão muito explorada na implementação

pedagógica, sobretudo, porque os alunos tiveram a oportunidade de descobrir a

beleza do funcionamento da natureza, levantando hipóteses sobre o fenômeno

estudado, estabelecendo relações entre situações aparentemente distintas para

chegarem à sistematização do conhecimento científico.

Acreditamos que os conhecimentos adquiridos pelos alunos em relação às

vantagens e desvantagens dos transgênicos permitiram que os mesmos

excedessem o saber de senso comum ou as primeiras impressões adquiridas na

vivência cotidiana.

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O estudo ficou limitado a uma turma do CEEBEJA. Portanto, sugere-se que a

prática seja desenvolvida em outras turmas da escola e em outras escolas da rede

pública de ensino.

Referências

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