s.beauvoir - deve-se queimar sade?

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7/23/2019 S.Beauvoir - Deve-se Queimar Sade? http://slidepdf.com/reader/full/sbeauvoir-deve-se-queimar-sade 1/48 DEVE-SE QUEIMAR SADE?  FAUT-IL BRÛLER SADE? Simone de Beauvoir 1955 "Voluntarioso, colérico, arrebatao, e!treao e tuo, e u esre#raento e ia#ina$%o &uanto aos costues coo i#ual nunca 'ou(e, ateu até o )anatiso, eis e uas *ala(ras coo eu sou+ e re*ito ate-e ou aceite-e assi,  *or&ue eu aais uarei." Eles escolheram matá-lo, primeiro a foo le!to !o t"#io #os cala$o%&os, #epois pela cal'!ia e pelo es(%ecime!to) esta morte, ele pr*prio a #ese+ara Ua (e/ )ec'aa a co(a,  *lante-l'e e cia bolotas, a )i e &ue co o te*o... esa*are$a a )ace a terra os (est0#ios a in'a se*ultura, tal coo eu es*ero &ue a in'a e1ria se a*a#ar2 a lebran$a os 'oens. Das s%as 'ltimas o!ta#es esta foi a '!ica respeita#a, por"m m%ito ca%telosame!te a lem$ra!&a #e Sa#e foi #esfi%ra#a por le!#as est'pi#as 1 ) se% pr*prio !ome se #il%i% em palaras som$rias sa#ismo, sá#ico) se%s #iários .!timos per#eram-se, (%eimaram-se os ma!%scritos / os #e0 ol%mes #as o%r!"es #e 2lora$elle por i!stia&3o #o pr*prio filho / se%s liros foram proi$i#os) em$ora, !os fi!s #o s"c%lo 4I4, Si!$%r!e e al%!s c%riosos se i!teressem pelo se% caso, s* com Apolli!aire lhe será #a#o %m l%ar !as letras fra!cesas) ai!#a assim, está lo!e #e t6-lo co!(%ista#o oficialme!te " poss.el folhear o$ras ale!ta#as e mi!%ciosas so$re 7as I#"ias #o s"c%lo 4VIII8, mesmo so$re 7a Se!si$ili#a#e #o s"c%lo 4VIII8, sem !elas e!co!trar %ma '!ica e0 o se% !ome :ompree!#e- se (%e, em represália co!tra este sil6!cio esca!#aloso, os #eotos #e Sa#e fossem lea#os a sa%#ar !ele %m e!ial profeta s%a o$ra a!%!ciaria ao mesmo tempo ;iet0sche, Stir!er, 2re%# e o s%rrealismo) mas este c%lto, $asea#o como to#os os c%ltos !%m e(%.oco, #ii!i0a!#o o 7#ii!o mar(%6s8 aca$a, por se% t%r!o, atrai&oa!#o-o) (%a!#o #ese+ar.amos compree!#6-lo, prescreem-!os a#orá-lo <s cr.ticos (%e !3o fa0em #e Sa#e %m mo!stro !em %m .#olo, mas ape!as %m homem, %m escritor, co!tam-se !os #e#os #a m3o =ra&as a eles, Sa#e olto% e!fim > terra, 1 3 (el'o Sae anano &ue l'e trou!esse cestos e rosas, res*irano-as (olu*tuosaente e er#ul'ano- as e se#uia, co u riso sar4nico, na laa os re#atos+ os ornalistas e 'oe ensinara-nos coo se )abrica esta es*écie e 'ist1rias.

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7/23/2019 S.Beauvoir - Deve-se Queimar Sade?

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DEVE-SE QUEIMAR SADE?

 FAUT-IL BRÛLER SADE?

Simone de Beauvoir

1955

"Voluntarioso, colérico, arrebatao, e!treao e tuo, e u esre#raento e

ia#ina$%o &uanto aos costues coo i#ual nunca 'ou(e, ateu até o )anatiso,

eis e uas *ala(ras coo eu sou+ e re*ito ate-e ou aceite-e assi,

 *or&ue eu aais uarei."

Eles escolheram matá-lo, primeiro a foo le!to !o t"#io #os cala$o%&os, #epois

pela cal'!ia e pelo es(%ecime!to) esta morte, ele pr*prio a #ese+ara Ua (e/ )ec'aa a co(a,

 *lante-l'e e cia bolotas, a )i e &ue co o te*o... esa*are$a a )ace a terra os

(est0#ios a in'a se*ultura, tal coo eu es*ero &ue a in'a e1ria se a*a#ar2 a

lebran$a os 'oens.

Das s%as 'ltimas o!ta#es esta foi a '!ica respeita#a, por"m m%ito

ca%telosame!te a lem$ra!&a #e Sa#e foi #esfi%ra#a por le!#as est'pi#as1) se% pr*prio !ome

se #il%i% em palaras som$rias sa#ismo, sá#ico) se%s #iários .!timos per#eram-se,

(%eimaram-se os ma!%scritos / os #e0 ol%mes #as o%r!"es #e 2lora$elle por i!stia&3o #o

pr*prio filho / se%s liros foram proi$i#os) em$ora, !os fi!s #o s"c%lo 4I4, Si!$%r!e e

al%!s c%riosos se i!teressem pelo se% caso, s* com Apolli!aire lhe será #a#o %m l%ar !as

letras fra!cesas) ai!#a assim, está lo!e #e t6-lo co!(%ista#o oficialme!te " poss.el folhear

o$ras ale!ta#as e mi!%ciosas so$re 7as I#"ias #o s"c%lo 4VIII8, mesmo so$re 7a

Se!si$ili#a#e #o s"c%lo 4VIII8, sem !elas e!co!trar %ma '!ica e0 o se% !ome :ompree!#e-

se (%e, em represália co!tra este sil6!cio esca!#aloso, os #eotos #e Sa#e fossem lea#os a

sa%#ar !ele %m e!ial profeta s%a o$ra a!%!ciaria ao mesmo tempo ;iet0sche, Stir!er, 2re%#

e o s%rrealismo) mas este c%lto, $asea#o como to#os os c%ltos !%m e(%.oco, #ii!i0a!#o o

7#ii!o mar(%6s8 aca$a, por se% t%r!o, atrai&oa!#o-o) (%a!#o #ese+ar.amos compree!#6-lo,

prescreem-!os a#orá-lo

<s cr.ticos (%e !3o fa0em #e Sa#e %m mo!stro !em %m .#olo, mas ape!as %m

homem, %m escritor, co!tam-se !os #e#os #a m3o =ra&as a eles, Sa#e olto% e!fim > terra,

1 3 (el'o Sae anano &ue l'e trou!esse cestos e rosas, res*irano-as (olu*tuosaente e er#ul'ano-as e se#uia, co u riso sar4nico, na laa os re#atos+ os ornalistas e 'oe ensinara-nos coo se)abrica esta es*écie e 'ist1rias.

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para !osso meio Mas o!#e se sit%a ele +%stame!te? Em (%e merece o !osso i!teresse?

Se%s pr*prios a#mira#ores reco!hecem, #e $om ra#o, (%e a s%a o$ra " !a

maior parte ile.el) filosoficame!te, s* escapa > $a!ali#a#e para af%!#ar !a i!coer6!cia

Q%a!to a se%s .cios, tampo%co espa!tam pela orii!ali#a#e) !esse #om.!io Sa#e !a#a

i!e!to% e, !os trata#os #e psi(%iatria, e!co!tramos em prof%s3o casos pelo me!os t3o

estra!hos (%a!to o #ele ;a er#a#e, !3o " como a%tor !em como pererti#o se%al (%e Sa#e

se imp@e > !ossa ate!&3o " pela rela&3o (%e crio% e!tre estes #ois aspectos #e si mesmo As

a!omalias #e Sa#e a#(%irem alor #es#e o mome!to em (%e, em e0 #e s%portá-las como %m

#a#o temperame!to, ela$ora %m ime!so sistema a fim #e reii!#icá-las) i!ersame!te, se%s

liros pre!#em-!os #es#e (%e compree!#amos (%e, atra"s #as s%as repeti&@es, #os se%s

clich6s, #as s%as i!"pcias, ele te!ta com%!icar-!os %ma eperi6!cia c%+a partic%lari#a#e

resi#e, to#aia, !o fato #e ela (%erer-se i!com%!icáel Sa#e te!to% co!erter o se% #esti!opsicofisiol*ico !%ma op&3o "tica) e #esse ato, pelo (%al ass%mia esta separa&3o, prete!#e%

fa0er %m eemplo e %m apelo " por esse la#o (%e s%a ae!t%ra se reeste #e lara

si!ifica&3o h%ma!a

o#eremos, sem re!ear a !ossa i!#ii#%ali#a#e, satisfa0er !ossas aspira&@es >

%!iersali#a#e? <% " ape!as pelo sacrif.cio #as !ossas #ifere!&as (%e po#eremos i!terar-!os

!a coletii#a#e? Este pro$lema i!teressa a to#os !*s

Em Sa#e, as #ifere!&as s3o lea#as at" o escB!#alo, e a ime!si#3o #o se%

tra$alho literário mostra-!os com (%e pai3o ele #ese+aa ser aceito pela com%!i#a#e

h%ma!a o co!flito, a (%e !e!h%m i!#i.#%o escapa sem me!tir a si pr*prio, e!co!tramo-lo

!ele !a forma mais etrema C o para#oo, e em certo se!ti#o o tri%!fo #e Sa#e, (%e, por

haer-se o$sti!a#o !as s%as si!%lari#a#es, !os a+%#a a #efi!ir o #rama h%ma!o em s%a

e!erali#a#e

ara compree!#er a eol%&3o #e Sa#e, para apree!#er !esta hist*ria a parte #es%a li$er#a#e, para aaliar se%s 6itos e #errotas, seria 'til co!hecer eatame!te os #a#os #e

s%a sit%a&3o I!feli0me!te, apesar #o 0elo #e se%s $i*rafos, a pessoa e a hist*ria #e Sa#e

perma!ecem o$sc%ras em m%itos po!tos ;3o poss%.mos #ele !e!h%m retrato a%t6!tico, e as

#escri&@es (%e a se% respeito !os #eiaram se%s co!temporB!eos s3o m%ito po$res <s

#epoime!tos #o processo #e Marselha reelam-!o, aos tri!ta e #ois a!os, 7#e $ela apar6!cia,

rosto cheio, estat%ra m"#ia, esti!#o %m fra(%e ci!0e!to e cal&@es #e se#a cor #e marailha,

com %ma pl%ma !o chap"%, a espa#a !a ci!ta e %ma $e!ala !a m3o8 Ei-lo aos ci!(e!ta e

tr6s a!os, #e acor#o com %m atesta#o #e resi#6!cia #ata#o #e #e maio #e 19F 7Alt%ra #e

ci!co p"s e #%as polea#as, ca$elo (%ase $ra!co, rosto re#o!#o, fro!te #esco$erta, olhos

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a0%is, !ari0 com%m, (%eio re#o!#o8 <s si!ais #e GF #e mar&o #e 19H s3o %m po%co

#ifere!tes 7Alt%ra #e ci!co p"s, #%as polea#as e %ma li!ha, !ari0 m"#io, $oca pe(%e!a,

(%eio re#o!#o, ca$elos loiro-aci!0e!ta#os, rosto oal, fro!te #esco$erta e alta, olhos a0%l-

claros8 er#era, e!t3o a s%a 7$ela apar6!cia8, ta!to (%e escreia al%!s a!os a!tes #a

astilha A#(%iri, por falta #e eerc.cio, %ma corp%l6!cia t3o ra!#e (%e mal me posso meerC esta corp%l6!cia (%e come&a por impressio!ar :harles ;o#ier (%a!#o e!co!tra Sa#e, em

1JK, em Sai!te-"laie 7Uma o$esi#a#e e!orme, (%e lhe em$ara&a os moime!tos,

impe#ia-o #e mostrar %m resto #e ra&a e eleB!cia #e (%e se s%rpree!#iam est.ios !o

co!+%!to #as s%as ma!eiras <s olhos ca!sa#os co!seraam, to#aia, alo #e $rilha!te e

fe$ril, rea!ima!#o-se #e e0 em (%a!#o, como a fa%lha epira!te #e %ma $rasa eti!ta8

Estes testem%!hos, os '!icos (%e poss%.mos, mal !os permitem eocar %m

rosto si!%lar) ho%e (%em #issesseG  (%e a #escri&3o #e ;o#ier lem$ra <scar Lil#ee!elheci#o) mas tam$"m s%ere Mo!tes(%ie%, Ma%rice Sachs, lem$ra!#o em Sa#e (%al(%er

coisa #e :harl%s) #e (%al(%er mo#o " i!#.cio m%ito fráil < mais lame!táel ai!#a " (%e

este+amos t3o mal i!forma#os acerca #e s%a i!fB!cia Se tomarmos o relato #e Valco%r por %m

es$o&o #e a%to$iorafia, Sa#e teria co!heci#o #es#e ce#o o resse!time!to e a iol6!cia)

cria#o +%!to #e o%is-oseph #e o%r$o!, (%e ti!ha +%stame!te a s%a i#a#e, parece (%e se

#efe!#e% #a arroB!cia eo.sta #o pe(%e!o pr.!cipe com f'rias e pa!ca#as t3o $r%tais (%e se

tor!o% !ecessário afastá-lo #a corte

;3o assiste #'i#a #e (%e s%a esta#a !o triste castelo #e Sa%ma!e e !a

#eca#e!te a$a#ia #e C$re%il lhe ha+a marca#o a imai!a&3o) mas, a respeito #os se%s c%rtos

a!os #e est%#o, #a passaem pelo e"rcito, #a s%a i#a #e e!til m%!#a!o e li$erti!o !a#a

sa$emos #e si!ificatio o#emos te!tar i!feri-lo #a s%a o$ra para a s%a i#a, como, aliás,

fe0 NlossosOi, (%e 6, !o *#io ota#o por Sa#e > m3e, a chae #essa i#a e #essa o$ra) mas

ele i!#%0i% esta hip*tese #o papel represe!ta#o pela m3e !os escritos #e Sa#e) limito%-se a

#escreer so$ certo B!%lo o m%!#o imai!ário #o mar(%6s) !3o !os reelo% as s%as ra.0es !om%!#o real De fato, " a priori, se%!#o es(%emas erais, (%e s%speitamos a importB!cia #as

rela&@es #e Sa#e com o pai e com a m3e) em se% porme!or espec.fico, elas !os escapam

Q%a!#o come&amos a #esco$rir Sa#e, ele +á " homem feito e !3o sa$emos

como se tor!o% o (%e " Semelha!te i!orB!cia impe#e-!os #e apreciar s%as te!#6!cias e

atit%#es espo!tB!eas) a !at%re0a #a s%a afetii#a#e, os aspectos si!%lares #a s%a se%ali#a#e

s%rem-!os como #a#os (%e simplesme!te !os c%mpre co!statar Desta #eploráel lac%!a

res%lta (%e a i!timi#a#e #e Sa#e !os escapará sempre) to#a eplica&3o #eiará atrás #e si %m

G  Desbores Le Vrai Visa#e u ar&uis e Sae.

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res.#%o (%e ape!as s%a hist*ria i!fa!til po#eria esclarecer :o!t%#o, esses limites impostos >

!ossa compree!s3o !3o #eem #esa!imar-!os, por(%e Sa#e, como #issemos, !3o se ci!i% a

sofrer passiame!te as co!se(6!cias #e s%as primitias op&@es) o (%e !ele !os i!teressa,

m%ito mais #o (%e s%as a!omalias, " a ma!eira como as ass%mi%

De s%a se%ali#a#e ele fe0 %ma "tica, e ma!ifesto% essa "tica em %ma o$ra

literária) " por este moime!to refleti#o #a s%a i#a #e a#%lto (%e Sa#e co!(%isto% er#a#eira

orii!ali#a#e A ra03o #os se%s ostos !os perma!ece o$sc%ra, mas "-!os poss.el perce$er

como co!erte% esses ostos em pri!c.pios e por (%e os afirmo% at" o fa!atismo

Parte II

S%perficialme!te, aos i!te e tr6s a!os, Sa#e assemelha-se a (%al(%er #os filhos-fam.lia #e

se% tempo) i!str%.#o, aprecia o teatro, as artes, a leit%ra) per#%lário, ma!t"m %ma ama!te, a

ea%oisi!, e fre(e!ta as casas #e re!#e0-o%s) casa-se sem e!t%siasmo, #e acor#o com a

o!ta#e pater!a, com %ma +oem #a pe(%e!a !o$re0a, por"m rica, Re!"e-"laie #e

Mo!tre%il

;essa alt%ra eclo#e o #rama (%e reperc%tirá / e se repetirá #%ra!te to#a a s%a

i#a casa#o em maio, " preso em o%t%$ro por ecessos cometi#os !%ma casa (%e isitaa#es#e o m6s #e +%!ho) os motios #essa pris3o s3o $asta!te raes para (%e Sa#e #iri+a ao

oer!a#or #o pres.#io cartas #esaira#as, s%plica!#o (%e se+am ma!ti#os em sere#o, #o

co!trário, #i0 ele, estará irreme#iaelme!te per#i#o Este epis*#io !os fa0 presse!tir (%e o

erotismo #e Sa#e +á aprese!taa %m caráter i!(%ieta#or) hip*tese co!firma#a %m a!o mais

tar#e, (%a!#o o i!spetor Marais a#erte as cafeti!as para (%e !3o mais ce#am m%lheres ao

mar(%6s or"m, o se% i!teresse resi#e me!os !as i!forma&@es (%e !os propicia #o (%e !a

reela&3o (%e co!stit%i% para o pr*prio Sa#e !o i!.cio #e s%a i#a #e a#%lto, ele #esco$re$r%talme!te (%e e!tre s%a eist6!cia social e os pra0eres i!#ii#%ais " imposs.el %ma

co!cilia&3o

< +oem Sa#e !a#a tem #e reol%cio!ário, se(%er #e reolta#o) está

perfeitame!te #isposto a aceitar a socie#a#e como ela ") o$e#ie!te ao pai , a po!to #e rece$er

#ele, aos i!te e tr6s a!os, %ma esposa (%e lhe #esara#a, !3o e!cara o%tro #esti!o al"m #o

(%e here#itariame!te lhe está i!#ica#o será mari#o, paiF, mar(%6s, capit3o, castel3o, te!e!te-

F  5losso6s7i aira-se e &ue Sae l'e n%o ani)este nen'u rancor+ as Sae n%o etestaes*ontaneaente a autoriae+ aite &ue u ini(0uo use e abuse e seus ireitos. 8ereiro os bens *aternos, a*enas coe$a *or se o*or 9 socieae nu *lano ini(iual e a)eti(o, atra(és as ul'ereses*osa e so#ra.

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e!eral) !3o #ese+a a$sol%tame!te re!%!ciar aos priil"ios (%e s%a co!#i&3o e a fort%!a #a

esposa lhe ara!tem

:o!t%#o, isso !3o mais o satisfaria) oferecem-lhe oc%pa&@es, caros, ho!ras,

mas !e!h%m empree!#ime!to, !a#a (%e i!teresse, (%e #iirta, (%e aite) !3o (%er ser ape!as

o perso!aem p'$lico c%+as atit%#es to#as s3o coma!#a#as pelas co!e!&@es e pela roti!a,mas tam$"m %m i!#i.#%o io e, se há %m l%ar o!#e este possa afirmar-se, !3o " o leito

o!#e o acolhe fatalme!te %ma esposa irt%osa, mas a casa esc%sa o!#e compra o #ireito #e

#ese!ca#ear se%s so!hos Um #esses so!hos " com%m > maioria #os +oe!s aristocratas #esse

tempo) re$e!tos #e %ma classe #eca#e!te, (%e ai!#a !3o há m%ito #eti!ha %m po#er co!creto,

mas (%e !3o mais poss%i (%al(%er i!fl%6!cia real so$re o m%!#o, te!tam ress%scitar

sim$olicame!te, !o sere#o #as alcoas, a co!#i&3o #e (%e co!seram a !ostalia, a #o

#"spota fe%#al solitário e so$era!o) as orias #o D%(%e #e :harolais, e!tre o%tras, eramfamosas e sa!%i!ole!tas, e " #essa il%s3o #e so$era!ia (%e Sa#e, por s%a e0, tem se#e <

(%e se #ese+a (%a!#o se o0a? Q%e t%#o o (%e !os cerca ape!as se oc%pa #e !*s, pe!se em

!*s, se i!teresse ape!as por !*s !3o há homem (%e !3o (%eira ser #"spota (%a!#o A

em$ria%e0 #a tira!ia lea ime#iatame!te > cr%el#a#e, por(%e o li$erti!o, molesta!#o o o$+eto

#e (%e se sere, eperime!ta to#os os e!ca!tos (%e %m i!#i.#%o !eroso proa ao fa0er %so

#as s%as for&as) #omi!a, " tira!o

;a reali#a#e, " %ma proe0a $em mes(%i!ha chicotear, me#ia!te retri$%i&3o

a+%sta#a, al%mas m%lheres) e (%e Sa#e atri$%a a isso tama!ha importB!cia " %m fato (%e o

p@e #es#e loo em pa%ta S%rpree!#e (%e fora #as pare#es #e s%a 7pe(%e!a casa8 ele !3o

pe!se #e forma !e!h%ma em fa0er %so #as s%as for&as) !3o se lhe perce$e !e!h%ma am$i&3o,

!e!h%m esp.rito #e i!iciatia, (%al(%er o!ta#e #e po#er e !3o esto% mesmo lo!e #e

imai!á-lo coar#e ;3o há #'i#a #e (%e ele sistematicame!te imp%ta aos se%s her*is to#as

as caracter.sticas (%e a socie#a#e co!si#era como taras) mas #escree% la!is com tal

complac6!cia (%e !os assiste o #ireito #e s%por (%e se te!ha pro+eta#o !este, e tais palaras

a#(%irem o tom #ireto #e %ma co!fiss3o Um me!i!o #eci#i#o teria ass%sta#o a(%ele

colosso mostraa-se t.mi#o e coar#e, e a i#"ia #a l%ta me!os periosa, mas em i%al#a#e

#e for&as, leá-lo-ia a f%ir at" o fim #a terra Q%e Sa#e, ora por esto%ame!to, ora por

e!erosi#a#e, te!ha si#o capa0 #e etraaa!tes a%#ácias, !3o co!tra#i0 a hip*tese #e %ma

timi#e0 me#rosa em rela&3o aos se%s semelha!tes, e mais eralme!te #ia!te #a reali#a#e #o

m%!#o Se fala ta!to !a fortale0a #e alma, !3o " (%e a poss%a mas por(%e a i!e+a !a

a#ersi#a#e, lastima-se, aita-se, #es!orteia-se < temor > falta #o #i!heiro, (%e

i!cessa!teme!te o perse%e, tra#%0 %ma i!(%ieta&3o mais #if%sa ele #esco!fia #e t%#o e #e

to#os por(%e se se!te i!a#apta#o E o " comporta-se #esor#e!a#ame!te, ac%m%la #.i#as,

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ealta-se #esproposita#ame!te, foe o% re!#e-se sem crit"rio) cai em to#as as arma#ilhas

assa a #esi!teressar-se #esse m%!#o a %m tempo a$orreci#o e amea&a#or (%e !a#a lhe

prop@e #e áli#o e ao (%al pe#e #emais) irá $%scar, alh%res, a s%a er#a#e

Q%a!#o escree (%e a pai3o #o o0o s%$or#i!a e re'!e ao mesmo tempo

to#as as o%tras, #á-!os eata #escri&3o #e s%a pr*pria eperi6!cia) s%$or#i!o% a s%aeist6!cia ao se% erotismo por(%e este se lhe afi%ro% a '!ica reali0a&3o poss.el #esta

eist6!cia) se ele se lhe #eota com tal .mpeto, impr%#6!cia e o$sti!a&3o, " por(%e co!ce#e

maior importB!cia >s hist*rias (%e atra"s #o ato ol%pt%oso ele pr*prio se relata #o (%e aos

aco!tecime!tos co!ti!e!tes escolhe% o imai!ário

Decerto, come&o% por +%lar-se se%ro em se%s para.sos (%im"ricos (%e %m

compartime!to esta!(%e parecia separar #o %!ierso #o s"rio E tale0 !3o ho%esse

esto%ra#o !e!h%m escB!#alo, !3o passasse #e %m #easso com%m, co!heci#o !os locaisespeciali0a#os pelos ostos %m ta!to especiosos) !essa "poca, haia m%itos li$erti!os (%e se

e!treaam >s piores orias, imp%!eme!te) mas parece-me (%e !o caso #e Sa#e o escB!#alo

era fatal) há certos 7pererti#os se%ais8 aos (%ais se aplica eatame!te o mito #e Mr P#e e

#o Do%tor eOll) esperam, #e i!.cio, satisfa0er os 7.cios8 sem comprometer se% perso!aem

oficial) mas, caso se+am $asta!te imai!atios para pe!sar-se, aca$am #esmascara!#o-se por

%ma ertiem em (%e se mist%ram ero!ha e or%lho por eemplo, :harl%s, apesar #os se%s

ar#is e pelos se%s pr*prios ar#is Em (%e me#i#a ho%e prooca&3o !a impr%#6!cia #e Sa#e?

C imposs.el #i06-lo Sem #'i#a, (%is afirmar a ra#ical separa&3o e!tre s%a i#a familiar e

se%s pra0eres pria#os) e, #ecerto, !3o po#ia co!te!tar-se com esse tri%!fo cla!#esti!o se!3o

lea!#o-o ao po!to-limite o!#e ele %ltrapassaa a cla!#esti!i#a#e S%a s%rpresa se assemelha

a #e %ma cria!&a (%e $ate !%m aso at" (%e$rá-lo ri!ca!#o com o perio, +%laa-se ai!#a

so$era!o) mas a socie#a#e espreitaa-o) ela rec%sa (%al(%er partilha, reclama ca#a i!#i.#%o

sem resera, e !3o tar#o% a apo#erar-se #o sere#o #e Sa#e e a i!terá-lo !a fi%ra #o crime

Sa#e come&o% reai!#o por s'plicas, h%mil#a#e e ero!ha) pe#i% (%e lhe

permitissem reer a esposa, ac%sa!#o-se #e t6-la ofe!#i#o raeme!te) solicita %m co!fessor e

a$re-lhe a alma Isto !3o " p%ra hipocrisia) #e %m #ia para o%tro opero%-se %ma terr.el

metamorfose comportame!tos !at%rais, i!oce!tes, (%e at" e!t3o !3o passaam #e fo!tes #e

pra0er, ei-los co!erti#os em atos p%!.eis, e o mo&o e!til tra!sformo%-se em c3o sar!e!to

C proáel (%e ele tiesse co!heci#o #es#e a i!fB!cia / tale0 atra"s #as s%as rela&@es com

a m3e / o o#ioso #ilacerame!to #o remorso) por"m o escB!#alo #e 1F reaia-o #e

ma!eira #ramática Sa#e presse!te (%e #oraa!te será %m crimi!oso para o resto #a i#a ois

atri$%i #emasia#o alor >s s%as #iers@es para e!carar, por %m i!sta!te se(%er, a possi$ili#a#e

#e re!%!ciar a elas, e !3o tar#ará a li$ertar-se #a ero!ha pelo #esafio C !otáel (%e o

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primeiro #os se%s atos #eli$era#ame!te esca!#alosos se sit%e loo ap*s a #ete!&3o a

ea%oisi! acompa!ha-o ao palácio #e a :oste, e so$ o !ome #e Mme #e Sa#e #a!&a e

represe!ta #ia!te #e to#a a !o$re0a proe!&al, e!(%a!to o capel3o #o mar(%6s se 6

co!stra!i#o a %ma tácita c%mplici#a#e

A socie#a#e !eo%-lhe (%al(%er li$er#a#e cla!#esti!a, prete!#e% sociali0ar ose% erotismo i!ersame!te, a i#a social #o mar(%6s #ese!rolar-se-á #oraa!te !%m pla!o

er*tico Visto !3o ser poss.el separar tra!(ilame!te o mal #o $em, para se e!trear

alter!atiame!te a %m e a o%tro, " em face #o $em e mesmo em f%!&3o #ele (%e c%mpre

reii!#icar o mal Q%e a s%a atit%#e %lterior tem s%as ra.0es !o resse!time!to, Sa#e !o-lo

co!fio% em árias oport%!i#a#es  82 alas &ue *arece enurecias 9 )or$a e sere

suscet0(eis e eo$:es e &ue (%o 9s (e/es easiao lon#e o &ue nelas toaos *or

ini)eren$a e cruelae n%o *assa e u oo s1 elas con'ecio e sentir ais (i(aente&ue as outras;.

E Dolma!c"5 imp%ta se%s .cios > mal#a#e #os home!s  Foi a in#rati%o eles

&ue secou eu cora$%o, sua *er)0ia &ue estruiu e i as (irtues )unestas *ara as &uais

eu tal(e/ ti(esse nascio coo (1s... A moral #emo!.aca, (%e mais tar#e ele eriirá em teoria,

" i!icialme!te para Sa#e %ma eperi6!cia ii#a

2oi atra"s #e Re!"e-"laie (%e Sa#e co!hece% to#a a se!sa$oria #a irt%#e e

o se% t"#io ele os co!f%!#e !%ma aers3o (%e s* %m ser #e car!e e osso po#e s%scitar) mas o

(%e tam$"m apre!#e #e Re!"e com #el.cia, " (%e, so$ a s%a fi%ra co!creta, car!al,

i!#ii#%al, o $em po#e ser e!ci#o em com$ate si!%lar) a esposa !3o " para ele %ma i!imia,

mas, como to#os os perso!ae!s #e esposas (%e ela lhe i!spiro%, %ma .tima #e elei&3o a (%e

se #ese+a c'mplice As rela&@es #e lamo!t com a esposa refletem sem #'i#a com $asta!te

eati#3o as #e Sa#e com a mar(%esa) lamo!t se compra0 em acariciar a esposa !o i!sta!te

em (%e trama co!tra ela as mais !eras ma(%i!a&@es) i!fliir %m o0o / Sa#e compree!#e%-

o ce!to e ci!(e!ta a!os a!tes #os psica!alistas, e s3o !%merosas em s%a o$ra as .timas

s%$meti#as ao pra0er a!tes #e tort%ra#as / po#e ser %ma iol6!cia tirB!ica, e o carrasco

#isfar&a#o em ama!te e!ca!ta-se com er a apaio!a#a cr"#%la, #esfaleci#a #e

ol%pt%osi#a#e e rati#3o, co!f%!#ir a mal#a#e com a ter!%ra

U!ir alerias t3o s%tis > reali0a&3o #e %m #eer social foi, #ecerto, o (%e

a!imo% Sa#e a #ar tr6s filhos > esposa Mas o$tee ai!#a o%tras a!tae!s a irt%#e tor!o%-se

alia#a #o .cio e s%a escraa D%ra!te a!os, Mme #e Sa#e aco$erto% as c%lpas #o mari#o,

a+%#o%-o cora+osame!te a f%ir #e Miola!s, faorece% o caso #a irm3 com o mar(%6s e #epois

as orias #o castelo #e a :oste) cheo% a tor!ar-se ela pr*pria crimi!osa (%a!#o, para a!%lar

H  Aline et Valcour.5  La *'iloso*'ie ans le bouoir.

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as ac%sa&@es #e ;a!o!, esco!#e% talheres #e prata em s%a $aaem Sa#e !%!ca lhe

ma!ifesto% (%al(%er reco!hecime!to, e a i#"ia #e rati#3o " %ma #as (%e ele e!terra mais

o$sti!a#ame!te) sem #'i#a, eperime!taa por ela essa ami0a#e am$.%a (%e to#o #"spota

#e#ica ao (%e " i!co!#icio!alme!te se% =ra&as a ela, !3o s* p#e reco!ciliar o papel #e

mari#o, pai e fi#alo com se%s pra0eres, como ai!#a esta$elece% a irrec%sáel s%periori#a#e#o .cio so$re a $o!#a#e, a #e#ica&3o, a fi#eli#a#e e a #ec6!cia, e ri#ic%lari0o%

marailhosame!te a socie#a#e, s%$mete!#o a i!stit%i&3o #o casame!to e to#as as irt%#es

co!+%ais aos caprichos #e s%a imai!a&3o e #e se%s se!ti#os

Se Re!"e-"laie " o 6ito mais tri%!fa!te #a Sa#e, Mme #e Mo!tre%il res%me

a s%a #errota) ela e!car!a a +%sti&a a$strata e %!iersal co!tra a (%al o i!#i.#%o se #espe#a&a)

" co!tra ela (%e o mar(%6s reclama mais acer$ame!te a alia!&a #a esposa a!ha!#o o

processo aos olhos #a irt%#e, a lei per#e m%ito #o se% po#er) pois s%as armas mais tem.eis!3o s3o a pris3o e o ca#afalso, mas o e!e!o com (%e i!fecta os cora&@es %l!eráeis So$ a

i!fl%6!cia #a m3e, Re!"e pert%r$a-se) a +oem freira ass%sta-se) a socie#a#e hostil i!si!%a-se

!o lar #e Sa#e, arr%.!a-lhe os pra0eres, ele mesmo sofre s%a i!fl%6!cia) apostrofa#o,

amal#i&oa#o, #%i#a #e si) e a(%i está o s%premo crime cometi#o por Mme #e Mo!tre%il

co!tra ele %m c%lpa#o " primeirame!te %m ac%sa#o) foi ela (%e fe0 #e Sa#e %m crimi!oso

Eis por (%e atra"s #os se%s liros !%!ca mais #eiará #e ri#ic%lari0á-la, #e

ailtá-la, #e tort%rá-la) !ela ele assassi!a s%as pr*prias c%lpas C poss.el (%e a hip*tese #e

NlossosOi te!ha f%!#ame!to e (%e Sa#e te!ha a$omi!a#o a pr*pria m3e assim o s%ere a

!at%re0a si!%lar #a s%a se%ali#a#e) mas essa i!imi0a#e tale0 !3o perma!ecesse t3o ia se

a m3e #e Re!"e lhe !3o ho%esse tor!a#o o#iosa a mater!i#a#e) e, para falar a er#a#e, ela

represe!to% !a eist6!cia #o e!ro %m papel assa0 importa!te e atro0 para permitir s%por (%e

#iriia esse *#io t3o-some!te co!tra ela C #e (%al(%er mo#o a ela (%e a filha $r%talme!te

i!+%ria !as 'ltimas pái!as #a hilosophie #a!s le $o%#oir

Parte III 

Se Sa#e foi fi!alme!te e!ci#o pela sora e pela lei, tor!o%-se c'mplice #essa #errota

Q%al(%er (%e fosse a parte #o acaso e a #a s%a impr%#6!cia !o escB!#alo #e 1F, o certo "

(%e #a. por #ia!te ele $%sco% !o perio a ealta&3o #os se%s pra0eres) !este se!ti#o, po#e-se

#i0er (%e #ese+o% as perse%i&@es, em$ora s%porta#as com i!#i!a&3o Era $ri!car com o

foo escolher o #omi!o #e áscoa para atrair > s%a casa #e Arc%eil a me!#ia Rose Neller)

chicotea#a, aterrori0a#a, mal presa, ela f%i% !%a, prooca!#o %m escB!#alo (%e Sa#e tee #e

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paar, com #%as $rees #ete!&@es

D%ra!te os tr6s a!os #e e.lio / e!tremea#os #e al%!s per.o#os #e seri&o / 

(%e ele passo% e!t3o !as s%as terras #e roe!&a, parece% a+%i0a#o) #esempe!ho%

co!scie!ciosame!te o papel #e castel3o e #e mari#o #á #ois filhos > esposa, rece$e a

home!aem #a com%!i#a#e #e Sa%ma!e, c%i#a #o se% par(%e, l6, fa0 represe!tar com"#ias !ose% teatro, %ma #as (%ais #e s%a a%toria) to#aia " mal recompe!sa#o por esta i#a e#ifica!te

em 11 pre!#em-!o por #.i#as Solto, arrefece o 0elo irt%oso) se#%0 a +oem c%!ha#a, por

(%em parece ter ti#o, #%ra!te c%rto lapso #e tempo, %ma i!cli!a&3o $asta!te si!cera professa,

irem, irm3 #e s%a esposa, to#os esses t.t%los emprestam > ae!t%ra %m sa$or pica!te

Apesar #isso, ai proc%rar em Marselha o%tras #istra&@es, e em 1G 7o caso

#os $om$o!s ca!tari#a#os8 ass%me propor&@es impreistas e terrifica!tes) e!(%a!to foe para

a Itália com a c%!ha#a, " co!#e!a#o a morte por co!t%mácia, $em como se% cria#o ato%r, eam$os s3o (%eima#os em ef.ie !a ra&a #e Ai A +oem ref%ia-se !%m co!e!to !a 2ra!&a,

o!#e aca$ará se%s #ias) ele e!terra-se !a Sa$*ia) apa!ha#o e e!carcera#o !a pris3o #e

Miola!s, a esposa a+%#a-o a f%ir mas, #es#e e!t3o, " %m homem ac%a#o Q%er percorre!#o as

estra#as #a Itália, (%er esco!#i#o em se% solar, compe!etra-se #e (%e !%!ca mais lhe será

permiti#a %ma eist6!cia !ormal De e0 em (%a!#o, lea a s"rio se% papel se!horial) como

%m r%po #e come#ia!tes se i!stalasse !as s%as proprie#a#es para !elas represe!tar < mari#o

cor!o, espa!ca#o e satisfeito, irrita#o tale0 por esse t.t%lo, ma!#a rasar to#os os carta0es

por 7esca!#alosos e ate!tat*rios >s li$er#a#es #a Ire+a8) ep%lsa #o se% #om.!io %m certo

Sai!t-De!is / co!tra o (%al alime!taa araos / #eclara!#o 7Te!ho #ireito #e ep%lsar #e

mi!has terras as pessoas (%e !3o t6m eira !em $eira8

Estes la!ces #e a%tori#a#e !3o $astam para #istra.-lo) te!ta reali0ar o so!ho (%e

o$se#ará se%s liros !a soli#3o #o castelo #e a :oste, i!stala %m serralho #*cil aos se%s

caprichos) com a c%mplici#a#e #a mar(%esa, re'!e ali #iersos cria#os $o!itos, %m secretário

iletra#o, mas #e prese!&a ara#áel, %ma co0i!heira e %ma cria#a #e (%arto apetitosas, al"m

#e #%as mo&i!has for!eci#as por cafeti!as

or"m, o castelo #e a :oste !3o " a i!acess.el fortale0a #as :e!t i!t

lo%r!"es) a socie#a#e espreita-o As mo&i!has foem, a camareira retira-se para #ar > l%0 %m

filho c%+a pater!i#a#e atri$%i ao mar(%6s, o pai #a co0i!heira ale+a Sa#e com %m tiro #e

pistola, o li!#o secretário " reclama#o pelos pais S* Re!"e-"laie se co!forma eatame!te

com o papel (%e lhe co!si!o% o mari#o) to#os os #emais reii!#icam s%as pr*prias

eist6!cias e Sa#e compree!#e mais %ma e0 (%e lhe !3o " poss.el fa0er #esse m%!#o

#emasia#o real o se% teatro

Esse m%!#o !3o se limita a fr%strar-lhe os so!hos rep%#ia-o Sa#e foe para a

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Itália, por"m Mme #e Mo!tre%il, (%e lhe !3o per#oa a se#%&3o #a filha mais !oa, espreita-o)

olta!#o > 2ra!&a, arrisca-se a ir a aris, e a #ama aproeita a ocasi3o para fa06-lo e!carcerar

!o castelo #e Vi!ce!!es em 1F #e feereiro #e 1 De olta a Ai, ap*s o +%lame!to,

ref%ia-se em a :oste o!#e e!saia, so$ o olhar resi!a#o #a esposa, %m i#.lio com Mlle

Ro%sset, s%a oer!a!ta Mas a #e !oem$ro #e 1J está #e !oo em Vi!ce!!es,e!+a%la#o, como %ma fera, atrás #e #e0e!oe portas #e ferro

:ome&a e!t3o o%tra hist*ria) #%ra!te o!0e a!os #e catieiro / primeiro em

Vi!ce!!es, #epois !a astilha / ao!i0a %m homem e !asce %m escritor < homem " loo

(%e$ra!ta#o) re#%0i#o > impot6!cia, i!ora!#o (%a!to tempo ai #%rar s%a #ete!&3o, se%

esp.rito etraia-se em #el.rios i!terpretatios por meio #e cálc%los mi!%ciosos, sem $ase em

(%al(%er #a#o, te!ta a#ii!har (%al será o termo #o se% catieiro I!telect%alme!te refa0-se

#epressa, como proa s%a correspo!#6!cia com Mme #e Sa#e e com Mlle Ro%sset Mas a s%acar!e a$#ica) ele proc%ra !os pra0eres #a mesa %ma compe!sa&3o para o +e+%m se%al) co!ta o

se% cria#o :artero! (%e !a pris3o 7f%maa cachim$o como %m corsário8 e 7comia por

(%atro8 Eaera#o em t%#o, se%!#o a s%a pr*pria co!fiss3o, tor!a-se $%l.mico) ma!#a ir

pela esposa e!ormes cestos #e alime!to e a or#%ra apo#era-se #ele Em meio >s s%as (%eias,

ac%sa&@es, +%stifica&@es e s'plicas, #ierte-se ai!#a %m po%co a tort%rar a mar(%esa fi!e-se

ci%me!to, atri$%i-lhe !eras ma(%i!a&@es, e (%a!#o ela o isita ce!s%ra-lhe as estime!tas,

eie-lhe apar6!cia mais a%stera To#aia, essas #istra&@es s3o raras e m%ito t6!%es A partir

#e 1JG " s* > literat%ra (%e ai pe#ir o (%e a i#a !3o mais lhe co!ce#e a aita&3o, o

#esafio, a si!ceri#a#e e to#as as alerias #a imai!a&3o E mesmo !isso, " eaera#o escree

#o mesmo mo#o (%e come, com fre!esi

Ao Diáloo e!tre %m pa#re e %m mori$%!#o s%ce#em-se as :e!t i!t

o%r!"es #e So#ome, os l!fort%!es #e la ert%, Ali!e et Valco%r Se%!#o o catáloo #e 1JJ,

teria escrito e!t3o tri!ta e ci!co atos #e teatro, meia #'0ia #e co!tos, a (%ase totali#a#e #e

ortefe%ille #%! homme #e lettres) e sem #'i#a a lista !3o está completa

Q%a!#o reco$ra a li$er#a#e, !a seta-feira sa!ta #o a!o #e 19K, Sa#e po#e

esperar, e espera, (%e %ma !oa era se a$ra para ele A esposa reclama a separa&3o) os filhos

 / %m #os (%ais se prepara para emirar e o%tro " caaleiro #e Malta / s3o-lhe estra!hos, o

mesmo s%ce#e!#o com a 7r%#e campo!esa8 (%e tem por filha i$erto #a fam.lia proc%rará

i!terar-se, ele a (%em a a!tia socie#a#e tratara como pária, !a(%ela (%e aca$a #e lhe

#eoler a #i!i#a#e #e ci#a#3o Represe!tam-se p%$licame!te as s%as pe&as, <tier! o$t"m

mesmo ra!#e 6ito I!scrito !a Sectio! #es i(%es, " !omea#o se% presi#e!te e re#ie com

e!t%siasmo me!sae!s e peti&@es Mas se% i#.lio com a Reol%&3o #%ra po%co Sa#e co!ta

ci!(e!ta a!os, %m passa#o (%e o tor!a s%speito, %m temperame!to #e aristocrata (%e se%

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*#io > aristocracia !3o a$ra!#o%) e ei-lo #e !oo #ii#i#o C rep%$lica!o, e teoricame!te

eie mesmo %m socialismo i!teral e a a$oli&3o #a proprie#a#e mas empe!ha-se em

co!serar se% solar e s%as terras) esse m%!#o a (%e te!ta a#aptar-se " ai!#a %m m%!#o

#emasia#o real, c%+as $r%tais resist6!cias o ferem) e " %m m%!#o re#ii#o por essas leis

%!iersais (%e ele co!si#era a$stratas, falsas e i!+%stas) (%a!#o em !ome #elas a socie#a#e sepermite o assass.!io, o mar(%6s retira-se com horror :ompree!#e-o m%ito mal (%em se

a#mira #e (%e, em e0 #e solicitar %m posto #e comissário #o poo !a pro.!cia, (%e lhe

permitiria tort%rar e matar, ele se te!ha #esacre#ita#o pelo h%ma!ismo) s%por-se (%e 7amaa o

sa!%e8 como se ama a mo!ta!ha e o mar? 7Derramar sa!%e8 era %m ato c%+a si!ifica&3o

po#ia, em certas circ%!stB!cias, ser para ele motio #e ealta&3o) mas o (%e, so$ret%#o, pe#ia

> cr%el#a#e era (%e ela lhe reelasse como co!sci6!cia e li$er#a#e, ao mesmo tempo em (%e

como car!e, i!#i.#%os si!%lares e s%a pr*pria eist6!cia) +%lar, co!#e!ar, er morrer a#istB!cia pessoas a!!imas, a isso se rec%sa

< (%e ele mais o#io% !a elha socie#a#e foi a prete!s3o #esta, e #a (%al ele foi

.tima, #e +%lar e p%!ir #e mo#o al%m po#eria #esc%lpar o Terror Q%a!#o o homic.#io se

tor!a co!stit%cio!al, passa a ser ape!as a o#iosa epress3o #e pri!c.pios a$stratos tor!a-se

#es%ma!o Eis por (%e, !omea#o mem$ro #o +'ri #e ac%sa&3o, Sa#e e!e!#ra (%ase sempre

#esc%lpas em faor #os r"%s) rec%so%-se a pre+%#icar em !ome #a lei Mme #e Mo!tre%il e s%a

fam.lia (%a!#o a sorte #e to#os estaa em s%as m3os) foi mesmo o$ria#o a #emitir-se #a

f%!&3o #e presi#e!te #a Sectio! #es i(%es) escree% a =a%fri# <ul#uei-e co*elio a

 *assar a caeira ao eu (ice-*resiente+ eles &ueria &ue eu coetesse u 'orror, ua

esuaniae nunca assenti.

Em #e0em$ro #e 19F foi e!carcera#o so$ a ac%sa&3o #e 7mo#era!tismo8)

solto tre0e!tos e sete!ta e ci!co #ias #epois, escree com t"#io =in'a eten$%o nacional,

co a #uil'otina ebai!o os ol'os, )e/-e ce (e/es ais al o &ue teria )eito toas as

bastil'as ia#in2(eis.

C (%e, com essas rosseiras hecatom$es, a pol.tica #emo!stra com ecessia

ei#6!cia co!si#erar os home!s %ma simples cole&3o #e o$+etos, ao passo (%e Sa#e eie, ao

re#or #e si, %m %!ierso pooa#o #e seres si!%lares) o 7mal8 #e (%e ele fi0era se% ref'io

#esa!ece-se (%a!#o o crime " reii!#ica#o pela irt%#e) o Terror, (%e " eerci#o em s3

co!sci6!cia, co!stit%i a mais ra#ical !ea&3o #o m%!#o #emo!.aco #e Sa#e

7< ecesso #e Terror em$oto% o crime8, escree% Sai!t-%st ;3o " ape!as

por(%e Sa#e está elho, asto, (%e s%a se%ali#a#e a#ormece%) a %ilhoti!a assassi!o% a

!era poesia #o erotismo) para #eleitar-se em h%milhar a car!e, ealtá-la, era preciso alori0á-

la) ela !3o tem mais se!ti#o !em alor (%a!#o os home!s po#em ser tra!(ilame!te trata#os

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como coisas) Sa#e ai!#a sa$erá ress%scitar em se%s liros a eperi6!cia passa#a) e reaiar

se% a!tio %!ierso) por"m !3o mais acre#ita !ele em se% sa!%e e em se%s !eros

;a#a há #e f.sico !a lia&3o (%e o pre!#e >(%ela a (%em chama Se!si$le Se%s

'!icos pra0eres er*ticos, tira-os #a co!templa&3o #e pi!t%ras o$sce!as i!spira#as em %sti!e

com (%e or!ame!ta %m a$i!ete secreto) recor#a-se) mostra-se, por"m, i!capa0 #e (%al(%erarre$atame!to e o simples e!caro #e ier aca$r%!ha-o) li$erto #os (%a#ros sociais e

familiares em (%e s%focaa, mas c%+a s*li#a mol#%ra lhe era !ecessária, arrasta-se #a mis"ria

para a #oe!&a) e!#i#os com pre+%.0os os $e!s #e a :oste, #epressa lhes #eoro% o pro#%to)

ref%ia#o em casa #e %m re!#eiro, e #epois !%m celeiro com o filho #e Se!si$le, a!ha!#o

(%are!ta sol#os por #ia como emprea#o !o espetác%lo #e Versalhes, o #ecreto #e GJ #e +%!ho

#e 199 (%e pro.$e riscá-lo #a lista #os emira#os o!#e ele fora i!scrito (%a!#o !o$re,

arra!ca-lhe estas palaras #esespera#as A morte e a mis"ria, eis a recompe!sa (%e o$te!hopelo me% i!tra!sie!te apeo > Rep'$lica

Rece$e, e!treta!to, %m certifica#o #e resi#6!cia e #e ciismo, e em #e0em$ro

#e 199 represe!ta em <tier! o papel #e 2a$r.cio, mas +á !o come&o #e 1JKK está !o

hospital #e Versalhes, 7morre!#o #e fome e #e frio8 e amea&a#o #e pris3o por #.i#as C t3o

#esra&a#o !o m%!#o hostil #os assim chama#os lires, (%e seria l.cito per%!tar se ele !3o

preferi% oltar > soli#3o e > se%ra!&a #a pris3o) po#emos pelo me!os #i0er (%e, para ter a

impr%#6!cia #e fa0er circ%lar %sti!e, e a lo%c%ra #e p%$licar olo" o!#e ataca osefi!a, Mme

Tallie!, Tallie!, arras e o!aparte, era !ecessário (%e a i#"ia #e %ma !oa recl%s3o lhe !3o

rep%!asse #emais Secreto o% co!fesso, se% #ese+o " satisfeito) ei-lo em 5 #e a$ril #e 1JK1

e!carcera#o em Sai!te-"laie, e " a., e #epois em :hare!to! / o!#e o acompa!hará Mme

#e Q%es!et (%e co!se%e %m (%arto pr*imo #o se%, fa0e!#o-se passar por s%a filha / (%e

termi!ará os se%s #ias

;at%ralme!te, t3o loo " preso e #%ra!te a!os, Sa#e protesta e aita-se) mas ao

me!os po#e #e#icar-se o%tra e0 e com #isplic6!cia > pai3o (%e s%$stit%i% !ele a #o o0o

escreer ;%!ca paro% Ao sair #a astilha a maior parte #os se%s pap"is per#e%-se, e ele

 +%lo% #estr%.#o o ma!%scrito #as o%r!"es #e So#ome / %m rolo #e #o0e metros (%e

esco!#era c%i#a#osame!te e foi salo, sem (%e ele o so%$esse Depois #a hilosophie #a!s le

$o%#oir, escrita em 195, comps !oa s'm%la a ers3o i!teirame!te #ese!oli#a e

mo#ifica#a #e %sti!e, se%i#a #e %liette, (%e aparece%, re!ea#a por ele, em 19)

p%$licame!te ma!#o% e#itar os :rimes #e lAmo%r Em Sai!te-"laie a$sore-se !%ma o$ra

ime!sa em #e0 ol%mes es o%r!"es #e 2lora$elle o% la ;at%re #"oil"e) e c%mpre atri$%ir-

lhe tam$"m, em$ora o liro !3o te!ha apareci#o com se% !ome, os #ois ol%mes #e a

mar(%ise #e :a!es

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C sem #'i#a por(%e, #a. em #ia!te, o se!ti#o eist6!cia resi#e #efi!itiame!te

!o se% tra$alho #e escritor, (%e Sa#e, em s%a i#a (%oti#ia!a, ape!as #ese+a a pa0 asseia

com Se!si$le !os +ar#i!s #o asilo, escree e promoe a represe!ta&3o #e com"#ias para os

#oe!tes aceita compor %m improiso para cele$rar %ma isita #o arce$ispo #e aris) !o

#omi!o #e áscoa #istri$%i p3o $e!to e recolhe esmolas !a ire+a #a par*(%ia Se%testame!to proa (%e !3o re!eo% !e!h%ma #e s%as co!ic&@es) mas estaa ca!sa#o #e l%tar

7Era poli#o at" a o$se(%iosi#a#e / #i0 ;o#ier / afáel at" a %!&3o e falaa

respeitosame!te #e t%#o o (%e se respeita8 Se%!#o A!e ito%, a i#"ia #a elhice e #a morte

ca%saa-lhe horror 7A(%ele homem empali#ecia > i#"ia #a morte e #esmaiaa ao er os se%s

ca$elos $ra!cos8 Morre%, co!t%#o, sere!ame!te, itima#o a G #e #e0em$ro #e 1J1H por 7%ma

o$str%&3o p%lmo!ar em forma #e asma8

Da #olorosa eperi6!cia (%e foi s%a i#a, o tra&o mais relea!te " (%e e!tre os#emais home!s e ele esta lhe !3o reelo% !e!h%ma soli#arie#a#e ;e!h%m empree!#ime!to

com%m liaa e!tre si os 'ltimos re$e!tos #e %ma !o$re0a #eca#e!te) Sa#e pooo% a soli#3o

a (%e o co!#e!aa o !ascime!to com +oos er*ticos t3o eaera#os (%e se%s pares se

oltaram co!tra ele) (%a!#o %m !oo m%!#o #espo!to%, arrastaa atrás #e si %m passa#o

pesa#o #emais %m #esacor#o co!sio mesmo, s%speito aos o%tros, esse aristocrata o$ceca#o

por so!hos #e #espotismo !3o po#ia si!cerame!te aliar-se > $%r%esia asce!#e!te) em$ora a

ac%se #a opress3o em (%e o poo " ma!ti#o, este "-lhe to#aia estra!ho) !3o perte!ce a

(%al(%er #as classes c%+o a!tao!ismo #e!%!cia, " #e si pr*prio o '!ico semelha!te Se s%a

forma&3o afetia fosse #ifere!te, tale0 ele p%#esse co!trariar esse #esti!o) mas, #%ra!te to#a

i#a, s%re como %m eoc6!trico i!etera#o) s%a i!#ifere!&a pelos aco!tecime!tos eteriores,

s%as o$se#a!tes preoc%pa&@es #e #i!heiro, as ca%telas ma!.acas #e (%e cerca s%as

#eassi#@es, o #el.rio i!terpretatio es$o&a#o em Vi!ce!!es e o aspecto es(%i0ofr6!ico #e

se%s so!hos reelam %m temperame!to ra#icalme!te i!troerti#o Esta coi!ci#6!cia

apaio!a#a co!sio mesmo, se pore!t%ra lhe marco% limites, #e%, por o%tro la#o, > s%a i#a

o caráter eemplar (%e !os lea a i!terroá-lo ho+e

Parte IV 

Sa#e fe0 #o erotismo o se!ti#o e a epress3o #e to#a a s%a eist6!cia !3o ", porta!to,

c%riosi#a#e ociosa te!tar especificar-lhe a !at%re0a Di0er com Ma%rice Pei!e (%e ele t%#o

eperime!to% e t%#o amo%, " escamotear o pro$lema) e a palara alola!ia po%co !os

a#ia!ta para a compree!s3o #e Sa#e) ele ti!ha ei#e!teme!te %ma i#iossi!crasia se%al $em

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#efi!i#a, mas !3o " fácil apree!#6-la) se%s c'mplices e .timas calaram-se) ape!as #ois

escB!#alos r%i#osos er%eram, rapi#ame!te, a corti!a atrás #a (%al se esco!#e ha$it%alme!te

a #eassi#3o) se%s #iários e mem*rias per#eram-se, s%as cartas s3o pr%#e!tes, e !os liros ele

i!e!ta-se mais #o (%e se reela

>oncebi tuo o &ue se *oe conceber nesse #nero, as naturalente n%o )i/tuo o &ue concebi ne co certe/a o )arei aais, escree% ele) !3o foi sem motio (%e se

comparo% > schopatholoia Se%alis #e Nrafft-E$i! e !i!%"m pe!saria em imp%tar a este

to#as as perers@es (%e ele cataloa) #o mesmo mo#o Sa#e esta$elece% sistematicame!te, #e

acor#o com as receitas #e %ma esp"cie #e arte com$i!at*ria, %m repert*rio #as possi$ili#a#es

se%ais #o homem " certo (%e !3o as ie% to#as !em se(%er as so!ho% em s%a pr*pria

car!e

;3o s* co!ta coisas #emais, como !a maioria #as e0es co!ta mal Se%s relatosse parecem com as ra%ras (%e il%stram %sti!e e %liette !a e#i&3o #e 19 a a!atomia e as

posi&@es #os perso!ae!s s3o #ese!ha#as com %m realismo mi!%cioso, mas a sere!i#a#e

#esa+eita#a e mo!*to!a #os rostos tor!am perfeitame!te irreais s%as horr.eis $aca!ais)

atra"s #as frias orias (%e o a%tor co!certa " #if.cil #iscer!ir %ma co!fiss3o ia :o!t%#o,

há em se%s roma!ces sit%a&@es (%e ele trata com especial complac6!cia, testem%!ha!#o por

al%!s #os se%s her*is %ma simpatia to#a partic%lar) a ;oirce%il, la!is, =er!a!#e e,

so$ret%#o, a Dolma!c" ele empresto% m%itos #e se%s ostos e i#"ias or e0es tam$"m !%ma

carta, !%m i!ci#e!te, !o ro#eio #e %m #iáloo, irrompe %ma frase impreista e ia (%e !3o "

o eco #e (%al(%er o0 estra!ha S3o essas ce!as, esses her*is e esses tetos priileia#os (%e

c%mpre i!terroar

op%larme!te, sa#ismo si!ifica cr%el#a#e) f%stia&@es, sa!rias, tort%ras,

mortes o primeiro tra&o (%e fere !a o$ra #e Sa#e " realme!te o (%e a tra#i&3o associo% ao se%

!ome < epis*#io #e Rose Neller !o-lo mostra chicotea!#o s%a .tima com #iscipli!as e %ma

cor#a !o#osa, e sem #'i#a pica!#o-a #e ca!ieta#as e #errama!#o-lhe cera !as escoria&@es)

em Marselha saca #a ali$eira %m chicote #e tiras #e perami!ho com alfi!etes e!torta#os !as

po!tas e pe#e (%e lhe traam aras #e %r0e) em to#a a s%a co!#%ta com a esposa ma!ifesta

ei#e!te cr%el#a#e me!tal De resto, eprimi% com a$%!#B!cia #o pra0er (%e se po#e

eperime!tar fa0e!#o sofrer os o%tros) mas, (%a!#o se co!te!ta em ree#itar a clássica

#o%tri!a #os esp.ritos a!imais, esclarece-!os po%co Trata-se, a*enas, e abalar a assa os

nossos ner(os *elo c'o&ue ais (iolento *oss0(el+ ora, n%o '2 @(ia e &ue a or atuano

uito ais intensaente &ue o *ra/er, os c'o&ues resultantes sobre n1s essa sensa$%o

 *rou/ia nos outros ser%o essencialente e ua (ibra$%o ais )orte.

 As con)iss:es e Sae n%o corrobora neste *onto o e*oiento e Rose 5eller.

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Sa#e !3o #issipa o mist"rio por (%e a iol6!cia #e %ma i$ra&3o se tor!a

co!sci6!cia ol%pt%osa 2eli0me!te, es$o&a alh%res eplica&@es mais si!ceras < fato " (%e a

i!t%i&3o orii!al, a partir #a (%al se ela$oro% to#a a se%ali#a#e, e, porta!to, to#a a "tica #e

Sa#e, " a i#e!ti#a#e f%!#ame!tal e!tre o coito e a cr%el#a#e Seria a crise #e ol%pt%osi#a#e

%ma esp"cie #e raia se a i!te!&3o #esta m3e #o 6!ero h%ma!o !3o resi#isse em ser otratame!to #o coito o mesmo #a c*lera? Q%al " o homem $em co!stit%.#o (%e !3o #ese+a

molestar o se% o0o, e!t3o? ;a #escri&3o (%e !os #á #o D%(%e #e la!is > $eira #o orasmo,

#eemos sem #'i#a er %ma tra!sposi&3o para o mo#o "pico #os cost%mes #o a%tor ritos

 *a(orosos, atro/es blas)ias l'e esca*a(a o *eito inc'ao, seus ol'os *arecia es*eir

c'aas, es*ua(a, relinc'a(a..., c'e#a(a eso a estran#ular.

< pr*prio Sa#e, #e acor#o com o #epoime!to #e Rose Neller, 7se ps a #ar

ritos a%#os e me#o!hos8 a!tes #e cortar as cor#as (%e imo$ili0aam s%a .tima A carta7a%!ilha e ma!ilha8 co!firma (%e ele eperime!to% o orasmo como %ma crise semelha!te >

epil"ptica, aressia e assassi!a como a raia

:omo se eplica esta si!%lar iol6!cia? Tem-se per%!ta#o se #e fato Sa#e

!3o seria se%alme!te #"$il) m%itos #os se%s perso!ae!s / =er!a!#e e!tre o%tros, t3o #o

se% ara#o / s3o mal seri#os, t6m ra!#e #ific%l#a#e !a ere&3o e !a e+ac%la&3o)

proaelme!te Sa#e co!hece% esses paores) mas " o ecesso #e #eassi#3o (%e parece t6-lo

lea#o a essa semi-impot6!cia, (%e " tam$"m o caso #e !%merosos #os se%s li$erti!os) e!tre

estes, aliás, m%itos s3o $em #ota#os e Sa#e al%#e com fre(6!cia ao ior #o pr*prio

temperame!to elo co!trário, a alia!&a #e apetites ar#e!tes com %m 7isolismo8 afetio

ra#ical " (%e se me afi%ra a chae #o se% erotismo

Des#e a a#olesc6!cia at" s%as pris@es, Sa#e co!hece% sem #'i#a #e ma!eira

preme!te, at" mesmo o$se#a!te, as solicita&@es #o #ese+o) em compe!sa&3o há %ma

eperi6!cia (%e ele parece a$sol%tame!te i!orar a #a pert%r$a&3o ;%!ca a ol%pt%osi#a#e

s%re em se%s relatos como es(%ecime!to #e si, #el.(%io, a$a!#o!o) comparem-se, por

eemplo, as ef%s@es #e Ro%ssea% com as fre!"ticas $lasf6mias #e %m ;oirce%il, #e %m

Dolma!c", o% !a Reliiosa #e Di#erot as emo&@es #a S%periora com os pra0eres $r%tais #as

tr.$a#es #e Sa#e ;o her*i sá#ico, a aressii#a#e #o macho !3o " ate!%a#a pela com%m

metamorfose #o corpo em car!e) !em %m mome!to ele se per#e em s%a a!imali#a#e

perma!ece t3o l'ci#o e t3o cere$ral (%e, em e0 #e o pert%r$arem em se%s arre$atame!tos, os

#isc%rsos filos*ficos s3o para ele %m afro#is.aco ;a(%ele corpo frio, te!so, re$el#e a to#o

e!feiti&ame!to, co!ce$e-se (%e o #ese+o e o pra0er se #ese!ca#eiem em crise f%riosa

f%lmi!am-!o como %ma esp"cie #e aci#e!te orB!ico em e0 #e co!stit%.rem %ma atit%#e

ii#a !a %!i#a#e psicofisiol*ica #o i!#i.#%o =ra&as a esse eaero, o ato se%al cria

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a(%ela il%s3o #e o0o so$era!o (%e o tor!a aos olhos #e Sa#e o pr6mio i!comparáel) mas

falta-lhe %ma #ime!s3o esse!cial c%+a a%s6!cia o sa#ismo se esfor&ará por compe!sar ela

pert%r$a&3o, a eist6!cia " empree!#i#a em si e !o o%tro ao mesmo tempo como s%$+etii#a#e

e passii#a#e) atra"s #essa %!i#a#e am$.%a os #ois comparsas se co!f%!#em) ca#a (%al fica

li$erto #a s%a pr*pria prese!&a e ati!e %ma com%!ica&3o ime#iata com o o%tro A mal#i&3o(%e pesa so$re Sa#e / e (%e s* s%a i!fB!cia !os po#eria eplicar / " esse a%tismo (%e o

impe#e #e +amais se es(%ecer e #e +amais reali0ar a prese!&a #e o%trem

Se ele ho%esse si#o #e temperame!to frio, !e!h%m pro$lema teria s%ri#o)

mas há i!sti!tos (%e o la!&am para esses o$+etos estra!hos aos (%ais " i!capa0 #e se %!ir

precisa i!e!tar ma!eiras si!%lares #e apree!#6-las Mais tar#e, (%a!#o se%s #ese+os se

em$otarem, co!ti!%ará a ier !esse %!ierso er*tico (%e pela se!s%ali#a#e, pelo t"#io, pelo

#esafio e pelo resse!time!to se tor!o% o '!ico áli#o a se%s olhos e s%as ma!o$ras ter3o porfim, e!t3o, proocar a ere&3o e o orasmo or"m, mesmo !o tempo em (%e estes lhe eram

fáceis, Sa#e !ecessitaa #e ro#eios para #ar > s%a se%ali#a#e a si!ifica&3o (%e !ela se

es$o&aa sem chear a completar-se a eas3o #e s%a co!sci6!cia para s%a car!e, a apree!s3o

#o o%tro como co!sci6!cia atra"s #a car!e

;ormalme!te, " pela ertiem #o o%tro feito car!e (%e ca#a (%al se e!feiti&a

em s%a pr*pria car!e Se o i!#i.#%o perma!ece fecha#o !a soli#3o #a s%a co!sci6!cia,

escapa a essa pert%r$a&3o e ape!as co!se%e %!ir-se ao o%tro por meio #e represe!ta&@es) %m

ama!te cere$ral e frio espia ai#ame!te o o0o #a ama!te, e !ecessita afirmar-se como a%tor

#ele por !3o #ispor #e o%tro meio #e ati!ir s%a pr*pria co!#i&3o car!al) po#emos (%alificar

#e sá#ica esta co!#%ta (%e compe!sa a separa&3o por %ma tira!ia refleti#a Sa#e sa$e, como

imos, (%e i!fliir o pra0er po#e ser %m ato aressio, e se% #espotismo tomo% por e0es esse

aspecto) mas ele !3o o satisfa0 Em primeiro l%ar rep%!a-lhe essa esp"cie #e i%al#a#e (%e

cria %ma ol%pt%osi#a#e com%m Se os obetos &ue nos ser(e #o/a, ei-los ese lo#o

uito ais *reocu*aos consi#o eso o &ue conosco, e o nosso #o/o, *ortanto,

contrariao. A iéia e (er outro #o/ar coo ele, le(a-o a ua es*écie e i#ualae &ue

 *reuica os ini/0(eis encantos &ue o es*otiso *ro*orciona ent%o. E, e aneira aina

ais cate#1rica, eclara Too o #o/o *artil'ao se en)ra&uece.

Al"m #isso, as se!sa&@es ara#áeis s3o #emasia#o $e!i!as) " #ilacera#a e

sa!re!ta (%e a car!e se reela como car!e #a ma!eira mais #ramática en'ua es*écie e

sensa$%o é ais ati(a e ais incisi(a &ue a a or suas i*ress:es s%o )ires.

Mas, para (%e atra"s #os sofrime!tos i!flii#os e% me tor!e tam$"m car!e e

sa!%e, " !ecessário (%e !a passii#a#e #o o%tro e% reco!he&a mi!ha pr*pria co!#i&3o,

porta!to (%e %ma li$er#a#e e %ma co!sci6!cia o ha$item < li$erti!o seria realme!te #i!o #e

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lástima se aisse so$re %m o$+eto i!erte (%e !a#a se!tisse Eis por (%e as co!tor&@es e

(%ei%mes #a .tima s3o i!#ispe!sáeis > felici#a#e #o carrasco a po!to #e Ver!e%il co$rir a

esposa com %ma esp"cie #e to%ca (%e lhe ampliaa os ritos) em s%a reolta o o$+eto

tort%ra#o afirma-se como me% semelha!te e e% ati!i, por se% i!term"#io, a(%ela s.!tese #o

esp.rito e #a car!e (%e a pri!c.pio se rec%saraSe o fim alme+a#o " ao mesmo tempo escapar #e si pr*prio e #esco$rir a

reali#a#e #as eist6!cias alheias, há ai!#a o%tro cami!ho (%e se a$re fa0er-se molestar por

o%trem Sa#e !3o o i!ora #e mo#o al%m e %sa em Marselha chicotes e erastas, ta!to para

flaelar como para se fa0er flaelar) trata-se, sem #'i#a, #e %ma #as s%as práticas mais

com%!s e to#os os se%s perso!ae!s se fa0em alereme!te chicotear  in#ué u(ia 'oe e

&ue a )la#ela$%o ten'a u e)eito ecisi(o na restaura$%o o (i#or e!tinto *elo e!cesso e

(olu*tuosiae.Pá o%tra ma!eira ai!#a #e reali0ar a passii#a#e em Marselha, Sa#e fa0-se

so#omi0ar por se% cria#o ato%r, (%e parece m%ito acost%ma#o a prestar-lhe esse 6!ero #e

seri&o) se%s her*is imitam-!o > porfia) e ele #eclaro% a$ertame!te, !os termos mais ios,

(%e o a%e #o pra0er se alca!&a com$i!a!#o a so#omia atia e passia C essa a perers3o #e

(%e fala com maior fre(6!cia e ara#o, at" mesmo com apaio!a#a eem6!cia

ara (%em osta #e classificar os i!#i.#%os com eti(%etas $em #efi!i#as,

prop@em-se #es#e loo #%as per%!tas Sa#e seria so#omita? Seria !o f%!#o maso(%ista? ;o

(%e co!cer!e > so#omia, se% aspecto f.sico, o papel #esempe!ha#o por se%s cria#os, a

prese!&a em a :oste #o li!#o secretário iletra#o, a e!orme importB!cia (%e em se%s escritos

co!ce#e a essa fa!tasia e o ar#or #e s%as +%stificatias, t%#o co!firma ser esse %m #os aspectos

esse!ciais #a s%a se%ali#a#e Sem #'i#a as m%lheres #esempe!haram ra!#e papel ta!to em

s%a i#a como em s%a o$ra) ele fre(e!to% !%merosas prostit%tas, ma!tee a ea%oisi! e

o%tras ama!tes #e me!or importB!cia, se#%0i% a c%!ha#a, re%!i% m%lheres e mo&i!has !o

solar #e a :oste, flerto% com Mlle Ro%sset e aca$o% se%s #ias ao la#o #e Mme Q%es!et, sem

falar #os la&os impostos pela socie#a#e, em$ora altera#os a se% mo#o, (%e o %!iam a Mme #e

Sa#e or"m, (%e rela&@es tee com elas? C #e !otar (%e !os #ois '!icos testem%!hos

recolhi#os so$re s%a atii#a#e se%al !3o se perce$e (%e Sa#e te!ha 7co!heci#o8

!ormalme!te s%as compa!heiras) !o caso #e Rose Neller sacio%-se chicotea!#o-a, mas !3o

lhe toco%) > prostit%ta #e Marselha props #eiar-se 7co!hecer por trás8 pelo se% cria#o, o%

e!t3o por ele) como a m%lher rec%sasse, limito%-se a al%!s co!tactos, e!(%a!to se fa0ia

7co!hecer8 por ato%r Se%s perso!ae!s #iertem-se #e $om ra#o em #eflorar mo&i!has

esta iol6!cia sa!re!ta e sacr.lea liso!+eia a imai!a&3o #e Sa#e) mas, mesmo (%a!#o

perertiam %ma irem, preferiam, !o mais #as e0es, tratá-la como a %m rapa0 #o (%e fa0er

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correr se% sa!%e) ários #os se%s perso!ae!s ma!ifestam prof%!#a rep%!B!cia pela

7fre!te8 #as m%lheres) o%tros s3o mais ecl"ticos, mas !3o #eiam #'i#as so$re s%as

prefer6!cias Sa#e +amais a$o% essa parte #o corpo femi!i!o (%e As Mil e Uma ;oites t3o

 +oialme!te cele$ram) ma!ifesta ape!as #espre0o pelos po$res efemi!a#os (%e poss%em

!ormalme!te s%as esposas Tee filhos com a m%lher, mas +á imos em (%e co!#i&@es) e#a#as as si!%lares farras a (%e se e!treaa em a :oste, (%em proa (%e ele pr*prio te!ha

e!rai#a#o ;a!o!? ;at%ralme!te, !3o po#er.amos atri$%ir a Sa#e as opi!i@es (%e professam

em se%s roma!ces os pe#erastas especiali0a#os) mas o ar%me!to (%e ele p@e !a $oca #o

$ispo #as o%r!"es #e So#or!e está $asta!te pr*imo #a s%a alma para (%e o possamos

co!si#erar %ma co!fiss3o) !o (%e respeita ao pra0er, #i0 ele 3 ra*a/ é uito el'or &ue a

o$a+ consierai-o *elo lao o al, &ue é &uase se*re o (eraeiro atrati(o o *ra/er+ o

crie *arecer-(os-2 aior co u ser inteiraente a (ossa es*écie o &ue co u &ue on%o é, e ese esse oento o #o/o ser2 obrao.

o%co importa (%e Sa#e te!ha escrito > esposa (%e o se% '!ico erro foi amar

#emais as m%lheres) trata-se #e carta oficial e hip*crita) e " por %ma #ial"tica roma!esca (%e

ele lhes #á em se%s liros os pap"is mais tri%!fa!tes a mal#a#e esta$elece !elas

impressio!a!te co!traste com a #o&%ra tra#icio!al #o se% seo) (%a!#o s%peram pelo crime

s%a a$+e&3o !at%ral, #emo!stram, com mais espalhafato (%e os home!s, (%e !e!h%ma sit%a&3o

po#eria impe#ir a eplos3o #e %m temperame!to a%#acioso) e se imai!ariame!te se tor!am

os carrascos mais ma!.ficos, " por(%e !a reali#a#e s3o .timas !atas seris, lam%rie!tas,

mistifica#as, passias, atra"s #e to#a a o$ra salie!tam o #espre0o e a rep%!B!cia (%e !a

er#a#e ca%saam ao a%tor Seria a m3e (%e Sa#e #etestaa !elas? o#emos tam$"m

per%!tar se o mar(%6s !3o o#iaria esse seo por co!si#erá-lo !3o o se% compleme!to, mas o

se% #%plo, e #o (%al !a#a po#ia rece$er) se%s ra!#es celera#os t6m mais calor e i#a (%e

se%s o%tros her*is, !3o s* por motios est"ticos, mas por(%e lhe s3o mais pr*imos ;3o creio

#e mo#o al%m, (%e este+a retrata#o, como se prete!#e%, !a chorami!as %sti!e) mas %liette,

(%e sofre% os mesmos tratos (%e a irm3 em se% or%lho e pra0er, retrata-o certame!te Sa#e

se!te-se m%lher e ofe!#e-o !as m%lheres !3o serem o macho (%e ele #ese+a > maior e mais

etraaa!te #e to#as, a D%ra!#, #ota-a #e %m clit*ris ia!tesco (%e lhe permite comportar-

se se%alme!te como %m homem

C imposs.el especificar em (%e me#i#a as m%lheres foram para Sa#e o%tra

coisa (%e s%ce#B!eos o% +o%etes, mas o (%e estamos !o #ireito #e afirmar " (%e s%a

se%ali#a#e era esse!cialme!te a!al < apeo #e Sa#e ao #i!heiro co!firma-o) as hist*rias #e

ca&a a hera!&as represe!taram papel e!orme em s%a i#a) o ro%$o s%re em s%a o$ra como

%ma co!#%ta se%al c%+a eoca&3o $asta para proocar o orasmo E se se rec%sa a

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i!terpreta&3o fre%#ia!a #a c%pi#e0, há %m fato i!e(%.oco (%e Sa#e a$ertame!te reco!hece%

s%a coprofilia Em Marselha oferece p.l%las a %ma m%lher #i0e!#o-lhe 7(%e isso a ecitaria a

soltar ases8, e mostra-se #ecepcio!a#o por !3o recolher o $e!ef.cio preisto) " #e a#mirar

(%e os #ois caprichos so$re os (%ais te!to% eplicar-se mais prof%!#ame!te se+am a cr%el#a#e

e a coprofaia At" (%e po!to se lhe e!treaa? Pá m%ita #istB!cia e!tre as práticas es$o&a#asem Marselha e >s orias ecreme!t.cias #as o%r!"es #e So#ome) mas a importB!cia (%e

co!ce#e a estas, o c%i#a#o com (%e lhes #escree os ritos e so$ret%#o os preparatios, proam

(%e !3o se trata a(%i #e frias i!e!&@es sistemáticas se!3o #e fa!tasmas afetios or o%tro

la#o, a etraor#i!ária $%limia #e Sa#e prisio!eiro !3o po#eria eplicar-se ape!as pela

ociosi#a#e) comer s* po#e ser %m s%$stit%to #a atii#a#e er*tica (%a!#o perma!ece como

e(%ial6!cia i!fa!til e!tre as f%!&@es astro-i!testi!ais e as f%!&@es se%ais, o (%e certame!te

se perpet%o% em Sa#e) ele lia estreitame!te a oria alime!tar > oria er*tica  %o '2 *ai!:es&ue el'or se alie 9 lu!@ria o &ue a bebeeira e a #lutoneria,  o$sera) e esta co!f%s3o

aca$a-se !os fa!tasmas #e a!tropofaia $e$er sa!%e, e!olir esperma e ecreme!tos, comer

cria!&as, " saciar o #ese+o pela a!i(%ila&3o #o se% o$+eto) o o0o !3o comporta troca, #om,

reciproci#a#e o% rat%ita ma!ific6!cia se% #espotismo " o #a aare0a (%e opta por #estr%ir o

(%e !3o po#e assimilar

A coprofilia #e Sa#e tem ai!#a o%tro se!ti#o Se é a coisa sua &ue ais

a#raa no ato e lubriciae, &uanto ais essa coisa )or sua, ais e(e a#raar.  E!tre os

atratios se%ais mais ei#e!tes, Sa#e coloca a elhice, a fei'ra, o fe#or) esta lia&3o #a

porcaria com o erotismo " !ele t3o orii!al (%a!to a #a cr%el#a#e e eplica-se #e ma!eira

a!áloa A $ele0a " #emasia#o simples, apree!#emo-la por %m +%lame!to i!telect%al (%e !3o

arra!ca a co!sci6!cia > s%a soli#3o !em o corpo > s%a i!#ifere!&a) ao passo (%e a porcaria

ailta) o homem (%e ie !a porcaria, como a(%ele (%e fere o% se #eia ferir, reali0a-se como

car!e) " !a s%a #esra&a e !a s%a h%milha&3o (%e esta se tor!a %m a$ismo o!#e se s%$mere o

esp.rito e o!#e se re'!em os i!#i.#%os separa#os) 0%r0i#o, pe!etra#o, esporcalha#o, s* #esse

mo#o Sa#e co!se%e a$olir s%a prese!&a o$se#a!te

To#aia ele !3o " maso(%ista !o se!ti#o pop%lar #a palara) 0om$a r%#eme!te

#os home!s (%e se tor!am escraos #e %ma m%lher  Abanono-os ao (il *ra/er e carre#ar

as al#eas co &ue a nature/a l'es 2 o ireito e subu#ar os outros+ &ue esses aniais

(e#ete na bai!e/a, &ue os a(ilta. < %!ierso #o maso(%ista " máico, e #a. por (%e " (%ase

sempre fetichista) os o$+etos, sapatos, peles, chicotes / est3o carrea#os #e efl'ios (%e t6m

o po#er #e o tra!sformar em coisa) e " isso o (%e ele eplicitame!te proc%ra a$olir-se

tor!a!#o-se o$+eto i!erte

< m%!#o #e Sa#e " esse!cialme!te racio!al e prático) os o$+etos / materiais

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o% h%ma!os / (%e serem a se%s pra0eres, s3o %te!s.lios sem mist"rio, e ele 6 clarame!te

!a h%milha&3o %m ar#il or%lhoso) Sai!t-2o!#, por eemplo, #eclara A 'uil'a$%o e certos

atos e libertina#e ser(e e *rete!to ao or#ul'o. E em o%tro po!to Sa#e #i0 #o li$erti!o (%e

o estao e a(iltaento &ue caracteri/a a&uele e &ue o er#ul'ais casti#ano-o, a#raa-

l'e, i(erte-o, eleita-o e ele #o/a consi#o eso o ter io bastante lon#e *ara erecer utrataento assi.

Pá, !o e!ta!to, e!tre essas #%as atit%#es %m .!timo pare!tesco) se o maso(%ista

(%er per#er-se, " para fasci!ar-se pelo o$+eto com (%e prete!#e co!f%!#ir-se, e este esfor&o o

reco!#%0 > s%a s%$+etii#a#e) eii!#o (%e o parceiro o maltrate, tira!i0a-o) s%as ei$i&@es

h%milha!tes, as tort%ras sofri#as, tam$"m h%milham e tort%ram o o%trem) i!ersame!te

emporcalha!#o e feri!#o, o carrasco emporcalha-se e fere-se, participa #essa passii#a#e (%e

ele reela e, proc%ra!#o apree!#er-se como ca%sa #os torme!tos (%e i!flie, " e!(%a!toi!str%me!to, porta!to como o$+eto (%e ele se ati!e) estamos, porta!to, a%tori0a#os a %!ificar

estas co!#%tas so$ a #esi!a&3o #e sa#omaso(%ismo) resta ape!as co!si#erar (%e, a #espeito

#a e!erali#a#e #o termo, elas po#em co!cretame!te oferecer ra!#e #iersi#a#e Sa#e !3o "

Sacher Masoch < (%e o caracteri0a especialme!te " a te!s3o #e %ma o!ta#e (%e se aplica a

reali0ar a car!e sem se per#er !ela Em Marselha, ele fa0-se chicotear, por"m, #e e0 em

(%a!#o, corre at" a est%fa e marca > faca, !o t%$o, o !'mero #e chicota#as (%e aca$a #e

rece$er a h%milha&3o ole-se ime#iatame!te em fa!farro!a#a) so#omi0a#o, f%stia ao

mesmo tempo %ma m%lher) e " essa %ma #e s%as fa!tasias faoritss 0%r0i#o e pe!etra#o,

0%r0ir e pe!etrar !o mesmo i!sta!te %ma .tima s%$missa

Parte V 

á tie ocasi3o #e #i0er (%e #esco!heceria o se!ti#o e o alca!ce #as si!%lari#a#es #e Sa#e,(%em se limitasse a co!si#erá-las simples #a#os) elas est3o sempre carrea#as #e si!ifica&3o

"tica

A partir #o escB!#alo #e 1F, o erotismo #e Sa#e #eia #e ser ape!as %ma

atit%#e i!#ii#%al " tam$"m %m #esafio > socie#a#e ;%ma carta > esposa, eplica como

tra!sformo% se%s ostos em pri!c.pios Estes *rinc0*ios e #ostos )ora *or i le(aos até o

)anatiso C escre(e ele C e o )anatiso é obra as *erse#ui$:es os eus tiranos.   A

i!te!&3o s%prema (%e a!ima to#a a atii#a#e se%al " (%e ela se (%er crimi!osa cr%el#a#e o%im%!#.cie, trata-se #e reali0ar o mal Sa#e ime#iatame!te eperime!to% o coito como

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cr%el#a#e, #espe#a&ame!to e crime) e, por resse!time!to, reii!#ico%-lhe teimosame!te o

!er%me) isto (%e a socie#a#e se alia > !at%re0a para o (%erer crimi!oso em se%s pra0eres,

ele fará #o pr*prio crime %m pra0er 3 crie é a ala a lubriciae. ue seria u #o/o

esaco*an'ao o crie? %o é o obeti(o a libertina#e &ue nos o(e, é a iéia o al.

 o *ra/er e torturar e inuriar ua bela ul'er C escree ele / '2 a es*écie e *ra/er&ue 2 o sacrilé#io ou a *ro)ana$%o os obetos o)erecios ao nosso culto.

;3o foi por acaso (%e, para chicotear Rose Neller, escolhe% o #omi!o #e

áscoa) e foi !o i!sta!te em (%e props iro!icame!te co!fessá-la (%e a s%a ecita&3o se%al

ati!i% o paroismo) !3o há afro#is.aco mais po#eroso (%e o #esafio ao em 3s eseos &ue

e!*erientaos *elos #ranes cries s%o se*re ais (iolentos, &ue os &ue e!*erientaos

 *elos *e&uenos.

Sa#e pratica o mal para se se!tir c%lpa#o, o% escapa > c%lpa$ili#a#e

ass%mi!#o-o? Re#%0i-lo a (%al(%er #essas atit%#es seria m%tilá-lo) ele !3o asse!ta !a a$+e&3o

complace!te !em !a impr%#6!cia esto%a#a) mas oscila co!t.!%a e #ramaticame!te, e!tre a

arroB!cia e a má co!sci6!cia

E!treemos, assim, o alca!ce #a cr%el#a#e e #o maso(%ismo #e Sa#e Este

homem (%e aliaa a %m temperame!to iole!to / loo e!fra(%eci#o, ao (%e parece / %m

7isolismo8 afetio (%ase patol*ico, proc%ro% %m s%ce#B!eo #a pert%r$a&3o atra"s #as #ores

sofri#as o% i!flii#as S%a cr%el#a#e tem %m se!ti#o m%ito compleo Em primeiro l%ar,

s%re como a reali0a&3o etrema e ime#iata #o i!sti!to #o coito, s%a ass%!&3o total) afirma a

ra#ical separa&3o #o o%tro o$+eto, e #o i!#i.#%o so$era!o, isa a #estr%i&3o ci%me!ta #o (%e

se !3o po#e aarame!te assimilar, mas so$ret%#o, mais #o (%e a coroar imp%lsiame!te o

orasmo, te!#e #e ma!eira preme#ita#a a proocá-lo) permite apree!#er atra"s #o o%tro a

%!i#a#e co!sci6!cia-car!e e pro+etá-la em si) e!fim, reii!#ica lireme!te o caráter crimi!oso

(%e a !at%re0a e a socie#a#e co!si!aram ao erotismo or o%tro la#o, fa0e!#o-se so#omi0ar,

flaelar, ailtar, Sa#e chea tam$"m > reela&3o #e si mesmo como car!e passia) sacia o

#ese+o #e a%top%!i&3o e aceita a c%lpa$ili#a#e a (%e o otaram, tor!a!#o loo #a h%mil#a#e

ao or%lho pelo #esafio ;a ce!a sá#ica completa, o i!#i.#%o #á asas > s%a !at%re0a sa$e!#o-

a má, ass%mi!#o-a aressiame!te como tal) co!f%!#e a i!a!&a com o crime e tra!sforma

este em l*ria

Pá %m ato (%e se prop@e como a mais etrema#a reali0a&3o sim%ltB!ea #acr%el#a#e e #o maso(%ismo, por(%e o i!#i.#%o !ele se afirma #e ma!eira priileia#a como

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tira!o e como crimi!oso " o assass.!io Tem-se s%ste!ta#o m%itas e0es (%e ele co!stit%i o

s%premo arremate #a se%ali#a#e sá#ica A me% er, essa opi!i3o $aseia-se !%m mal-

e!te!#i#o Sem #'i#a " com o fim apolo"tico, (%e Sa#e em s%as cartas se #efe!#e t3o

e!ericame!te #e !%!ca ter si#o %m assassi!o, mas pe!so (%e a i#"ia rep%!a-lhe

si!cerame!te C er#a#e (%e ele so$recarrea se%s relatos #e mo!str%osas hecatom$es, masisso por !3o haer perersi#a#e c%+a si!ifica&3o a$strata aprese!te ei#6!cia t3o f%l%ra!te

(%a!to o assass.!io) ele represe!ta a reii!#ica&3o easpera#a #e %ma li$er#a#e sem lei e sem

temor Al"m #isso, o a%tor, prolo!a!#o i!#efi!i#ame!te !o papel a ao!ia #a s%a .tima,

po#e eter!i0ar o i!sta!te priileia#o em (%e %m esp.rito l'ci#o ha$ita %m corpo (%e

imaterialme!te se #era#a, i!s%fla ai!#a %m passa#o io !o #espo+o i!co!scie!te

Mas, !a er#a#e, (%e faria %m tira!o #esse o$+eto i!erte (%e " %m ca#áer?

;at%ralme!te, há !a passaem #a i#a para a morte (%al(%er coisa #e ertii!oso, e o sá#ico a

(%em fasci!am os co!flitos #a co!sci6!cia e #a car!e, #e $om ra#o se erá a%tor #e t3o

ra#ical metamorfose) mas, se " !ormal (%e ele reali0e !a ocasi3o essa eperi6!cia

priileia#a, !3o " poss.el (%e ela lhe proporcio!e a satisfa&3o s%prema) essa li$er#a#e (%e

se prete!#ia tira!i0ar at" o a!i(%ilame!to, a!i(%ila!#o-se #esli0o% para fora #o m%!#o o!#e a

tira!ia a #omi!aa) se os perso!ae!s #e Sa#e m%ltiplicam i!#efi!i#ame!te as mata!&as, "

por(%e !e!h%ma co!se%e satisfa06-lo) co!cretame!te, elas !3o tra0em (%al(%er sol%&3o para

os pro$lemas (%e atorme!tam o li$erti!o, pois o fim (%e este perse%e !3o " ape!as o pra0er)

!i!%"m empree!#eria t3o apaio!a#a e periosame!te a $%sca #e %ma se!sa&3o, tiesse ela a

iol6!cia #e %ma crise epil"ptica) mais #o (%e isso, o tra%matismo fi!al #ee ara!tir, pela s%a

ei#6!cia, o 6ito #e %ma empresa c%+o risco o %ltrapassa i!fi!itame!te) por"m !a maioria #os

casos, ao co!trário, ele a i!terrompe sem co!cl%.-la, e, (%a!#o se prolo!a por %m assass.!io,

este ape!as lora co!firmar a #errota la!is estra!%la com %ma f'ria (%e " a #o pr*prio

orasmo, e há #esespero !essa raia em (%e o #ese+o se apaa sem saciar-se) os pra0eres (%e

ele preme#ita s3o me!os selae!s e mais compleos E!tre o%tros, %m epis*#io #e %liette "si!ificatio) ecita#o pela co!ersa #a +oem, ;oirce%il (%e po%co apreciaa os pra0eres

solitários, o% se+a, a(%eles a (%e a e!te se e!trea s* com %m parceiro, loo chamo% os

amios ;*s !3o somos s%ficie!tes ;3o, #eia-me Mi!has pai@es co!ce!tra#as !%m

'!ico po!to s3o como os raios #o astro re%!i#os pela le!te i!ce!#ia#ora, (%eimam loo o

o$+eto so$re o (%al i!ci#em ;3o " por escr'p%lo a$strato (%e ele se pro.$e tal ecesso, "

a!tes a certe0a #e (%e ap*s o espasmo assassi!o achar-se-ia fr%stra#o

;ossos i!sti!tos !os i!#icam fi!s imposs.eis #e alca!&ar se !os limitamos a

se%ir-lhes os imp%lsos ime#iatos) " preciso s%perá-los, refleti-los e i!e!tar e!e!hosame!te

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os meios #e satisfa06-los C a prese!&a #e co!sci6!cias estra!has (%e !os a+%#ará a tomar, em

rela&3o a eles, o rec%o !ecessário

A se%ali#a#e em Sa#e !3o " #a compet6!cia #a $ioloia " %m fato social As

orias em (%e ele se compra0 s3o (%ase sempre coletias) em Marselha reclama #%as

m%lheres e " acompa!ha#o, pelo cria#o) em a :oste ora!i0ara %m serralho e, !os se%s

roma!ces, os li$erti!os formam er#a#eiras com%!i#a#es A a!taem co!siste em primeiro

l%ar !o !'mero #e com$i!a&@es (%e assim se oferece aos se%s #esrerame!tos, mas essa

sociali0a&3o #o erotismo tem ra0@es mais prof%!#as Em Marselha chama ao cria#o 7Se!hor

Mar(%6s8 e prefere 6-lo 7co!hecer8 com o se% !ome %ma m%lher a 7co!hec6-la8 ele pr*prio)

a represe!ta&3o #a ce!a er*tica tem mais i!teresse a se%s olhos #o (%e a eperi6!cia #ii!a

;as o%r!"es #e So#ome, os caprichos s3o (%ase sempre co!ta#os a!tes #e postos em prática)

por esse #es#o$rame!to o ato co!erte-se em espetác%lo isto a #istB!cia !o mome!to em (%e

" eec%ta#o) assim co!sera a si!ifica&3o (%e %m arre$atame!to solitário e $estial

o$sc%receria) por(%e se o #easso coi!ci#isse eatame!te com se%s estos, e a .tima com

s%as emo&@es, li$er#a#e e co!sci6!cia se per#eriam !o #esario #a car!e, se!#o esta ape!as

sofrime!to im$ecil e a(%ele ol%pt%osi#a#e co!%lsia) ra&as aos testem%!hos re%!i#os em

tor!o #eles, ma!t"m-se %ma prese!&a (%e a+%#a o i!#i.#%o a estar ele pr*prio prese!te C

atra"s #as represe!ta&@es (%e Sa#e espera ati!ir-se, e para se er " !ecessário ser isto)

tira!i0a!#o %ma .tima, ele " o$+eto para os (%e o o$seram) i!ersame!te, co!templa!#o

!%ma car!e (%e iole!ta as iol6!cias (%e ele s%porta, rec%pera-se como i!#i.#%o !o seio #a

s%a passii#a#e) a co!f%s3o #o para-si e #o para o%tro se reali0a <s c'mplices s3o

si!%larme!te !ecessários para #otar a se%ali#a#e #e %ma #ime!s3o #emo!.aca) " por eles

(%e o ato cometi#o o% s%porta#o reeste %ma forma se%ra em e0 #e se #il%ir em mome!tos

co!ti!e!tes) tor!a!#o-se real, to#a perersi#a#e se ei#e!cia poss.el, com%m, a e!te

familiari0a-se t3o i!timame!te com ele (%e se tem #ific%l#a#e em +%lá-lo co!#e!áel) para se

espa!tar, se apaorar, " !ecessário co!templar-se #e lo!e, atra"s #e olhos alheios

Mas este rec%rso a o%trem, em$ora precioso, !3o $asta ai!#a para s%primir as

co!tra#i&@es (%e implica a te!tatia sá#ica) falha!#o em apree!#er !a eperi6!cia ii#a a

%!i#a#e am$.%a #a eist6!cia, +amais se co!se%irá reco!str%.-la i!telect%alme!te or

#efi!i&3o, %ma represe!ta&3o !%!ca po#eria coi!ci#ir com a i!timi#a#e #a co!sci6!cia !em

com a opaci#a#e #a car!e, e m%ito me!os po#eria reco!ciliá-las) %ma e0 #issocia#os, estes

#ois mome!tos #a reali#a#e h%ma!a op@em-se, e (%a!#o se perse%e %m, o o%tro f%rta-se Se

i!flie sofrime!tos #emasia#o i!te!sos, o i!#i.#%o #esaira-se, a$#ica, per#e a so$era!ia)

%m ecesso #e rosseria prooca o e!+o (%e co!traria o pra0er) a cr%el#a#e " praticame!te

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#if.cil #e eercer a !3o ser em limites m%ito mo#estos, e teoricame!te implica %ma

co!tra#i&3o (%e tra#%0 a #estas #%as passae!s 3s atrati(os ais i(inos s%o nulos &uano a

subiss%o e a obeincia no-los n%o ( o)erecer, e :%mpre iole!tar o o$+eto #o !osso

#ese+o) o pra0er " maior (%a!#o ele se re!#e <!#e e!co!trar assim lires escraos? A sol%&3o

" recorrer ao compromisso) com m%lheres estipe!#ia#as e a$+etame!te co!cor#a!tes, Sa#e%ltrapassa %m po%co os limites co!e!cio!a#os) co!tra %ma esposa (%e %ar#a em s%a

o$e#i6!cia %ma certa #i!i#a#e h%ma!a, ele permite-se al%mas iol6!cias, mas o ato er*tico

i#eal !%!ca será reali0a#o C este o se!ti#o prof%!#o #as palaras (%e Sa#e coloca !a $oca #e

"rme < (%e fa0emos a(%i !3o " se(%er a imaem #o (%e #ese+ar.amos fa0er

;3o (%e proe0as er#a#eirame!te etraor#i!árias este+am praticame!te

proi$i#as, mas mesmo as (%e se po#eriam eocar !os #el.rios mais etremos aca$ariam

#ecepcio!a!#o o se% a%tor Atacar o sol, priar #ele o %!ierso o% %tili0á-lo para i!ce!#iar o

m%!#o, isso sim, seriam crimesW Mas se este so!ho parece apa0i%a#or, " por(%e o crimi!oso

!ele pro+eta s%a #estr%i&3o +%!tame!te com o %!ierso) so$reie!#o, ele se e!co!traria

fr%stra#o ;%!ca o crime sá#ico se ei#e!ciaria a#e(%a#o > i!te!&3o (%e o a!ima) a .tima

!%!ca " mais (%e %m a!áloo, o i!#i.#%o ape!as se reali0a como imaem, e a rela&3o #e

am$os !3o passa #a par*#ia #o #rama (%e os poria realme!te em l%ta !a s%a i!com%!icáel

i!timi#a#e) por isso o $ispo #as :e!t i!t +o%r!"es !%!ca cometia %m crime sem co!ce$er

o%tro !o mesmo i!sta!te < mome!to #a co!spira&3o " para o li$erti!o %m mome!to

priileia#o, por(%e ele po#e i!orar e!t3o o #esme!ti#o (%e fatalme!te lhe oporá a

reali#a#e) e se o relato #esempe!ha !as orias sá#icas %m papel primor#ial, #esperta!#o

facilme!te se!ti#os so$re os (%ais +á !3o at%am os o$+etos #e car!e e osso, " por(%e estes !3o

se #eiam i!teralme!te ati!ir se!3o em s%a a%s6!cia :om efeito, há ape!as %m mo#o #e se

satisfa0er com os fa!tasmas (%e cria a #eassi#3o +oar com a pr*pria irreali#a#e #eles

Escolhe!#o o erotismo, Sa#e escolhe% o imai!ário) s* !o imai!ário co!se%irá i!stalar-se

com se%ra!&a, sem arriscar #ecep&@es, como, aliás, o repete ao lo!o #a s%a o$ra < o0o#os se!ti#os " sempre rei#o pela imai!a&3o

< homem s* po#e aspirar > felici#a#e %tili0a!#o to#os os caprichos #a

imai!a&3o C por ela (%e escapará ao espa&o, ao tempo, > pris3o, > pol.cia, ao a0io #a

a%s6!cia, >s prese!&as opacas, aos co!flitos #a eist6!cia, > morte, > i#a e a to#as as

co!tra#i&@es ;3o " pela cr%el#a#e (%e se reali0a o erotismo #e Sa#e " pela literat%ra

o#e parecer > primeira ista (%e Sa#e escree!#o o%tra coisa !3o fe0 mais #o

(%e reair, como ta!tos o%tros, > s%a sit%a&3o #e prisio!eiro A i#"ia !3o lhe era i!teirame!te

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estra!ha %ma #as pe&as represe!ta#as em a :oste, em 1G, era sem #'i#a #e s%a

composi&3o, e o cofre (%e a co!ti!ha, arrom$a#o ra&as > Mme #e Mo!tre%il, i!cl%.a,

re#ii#as pela s%a m3o, certas 7pe(%e!as folhas8 (%e eram proaelme!te !otas so$re a

se%ali#a#e) por o%tro la#o espero% (%atro a!os, #epois #e preso em Vi!ce!!es, para

empree!#er %ma o$ra er#a#eira Em o%tro cala$o%&o #a mesma fortale0a, Mira$ea% (%etam$"m emia 7Esto% e!terra#o io !%m t'm%lo8, proc%raa, escree!#o, %ma #iers3o

tra#%&@es, correspo!#6!cia $re+eira, e!saios so$re os ma!#atos #e pris3o, te!taa

sim%lta!eame!te matar o tempo, #istrair a car!e e mi!ar a socie#a#e hostil) Sa#e o$e#ece a

motios a!áloos, e!tret"m-se, e mais #e %ma e0 compo!#o se%s roma!ces aca$o% #a!#o o

se% safa!3o) tam$"m ele (%er i!ar-se #os se%s carrascos) escree > esposa com +oial

a0e#%me Aposto (%e oc6 imai!o% fa0er marailhas re#%0i!#o-me a %ma a$sti!6!cia atro0

(%a!to ao peca#o #a car!e ois $em, e!a!o%-se o (%e fe0 foi lear-me a criar fa!tasias(%e terei #e reali0ar

Mas se foi se% e!carcerame!to (%e o leo% a essa #ecis3o, esta tem co!t%#o

ra.0es m%ito mais prof%!#as Sa#e sempre se co!to% hist*rias atra"s #os se%s

#esrerame!tos, mas a reali#a#e (%e seria #e mo#elo >s s%as fa!tasias, em$ora empresta!#o-

lhes s%a espess%ra pert%r$aa-as tam$"m com s%as resist6!cias) a opaci#a#e #as coisas

s%$mere-lhes as si!ifica&@es, e s3o estas, pelo co!trário, (%e a palara ret"m) %ma cria!&a

 +á sa$e (%e os ra$iscos !as pare#es s3o mais o$sce!os (%e os *r3os o% estos (%e eocam,

por(%e a i!te!&3o por!oráfica !eles se afirma em s%a p%re0a) #e to#os os sacril"ios, a

$lasf6mia " o mais fácil e se%ro) os perso!ae!s #e Sa#e taarelam i!cessa!teme!te, e !o

caso #e Rose Neller ele pr*prio se compra0 em lo!os #isc%rsos < escreer, melhor ai!#a

(%e o falar, " s%scet.el #e #ar >s imae!s a soli#e0 #e %m mo!%me!to, resiste a to#as as

co!testa&@es =ra&as a ela, a irt%#e co!sera se% f%!esto prest.io !o i!sta!te em (%e "

#e!%!cia#a como hipocrisia e tolice) o crime em s%a ra!#e0a perma!ece crimi!oso) !%m

corpo ao!i0a!te a li$er#a#e po#e ai!#a palpitar

A literat%ra permite a Sa#e #ese!ca#ear e fiar os se%s so!hos, e tam$"m

so$rep%+ar as co!tra#i&@es impl.citas em (%al(%er sistema #emo!.aco) mais #o (%e isso ela

pr*pria " %m ato #emo!.aco, pois (%e ei$e aressiame!te fa!tasias crimi!osas) " isso (%e

lhe empresta se% alor i!comparáel Se acharmos para#oal (%e %m 7isolista8 te!ha se

comprometi#o t3o apaio!a#ame!te !%m esfor&o #e com%!ica&3o, " por(%e compree!#emos

mal Sa#e) ele !a#a tem #o misa!tropo (%e prefere > s%a esp"cie os a!imais e as florestas

ire!s) separa#o #os o%tros, o$ceca-o essa i!acess.el prese!&a) se !o mais rec!#ito #a s%a

i#a reclama como testem%!has co!sci6!cias estra!has, " !at%ral (%e #ese+e epor-se #ia!te

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#o asto p'$lico a (%e po#e prete!#er %m liro

Parte VI 

Se% i!t%ito seria ape!as esca!#ali0ar? Em 195, escree% Vou o)erecer-(os #ranes

(eraes+ ser%o ou(ias+ ser%o re)letias+ se ne toas a#raare *elo enos restar%o

al#uas e terei contribu0o e al#o *ara o *ro#resso as lu/es e )icarei satis)eito.  E em a

!o%elle %sti!e  au aar os 'oens ocultano-l'es (eraes t%o essenciais, &uais&uer

&ue sea os resultaos.

Depois #e haer presi#i#o a Sectio! #es i(%es e re#ii#o em !ome #a

coletii#a#e #isc%rsos e peti&@es, p#e, em s%as horas mais otimistas, a$ar-se #e ser %m #os

porta-o0es #a h%ma!i#a#e) #a s%a eperi6!cia reti!ha e!t3o, !3o o aspecto mal#ito mas a

a%t6!tica ri(%e0a Esses so!hos loo se #issiparam, mas " ecessiame!te simples e!cla%s%rar

Sa#e !o sata!ismo) !ele a si!ceri#a#e mist%ra-se i!etri!caelme!te > má-f") ara#a-lhe (%e

a er#a#e esca!#ali0e, mas tam$"m, se se resole ao escB!#alo, " por(%e este ma!ifesta a

er#a#e) !o mome!to em (%e reii!#ica arroa!teme!te se%s erros, #á a si mesmo ra03o Ao

p'$lico (%e #eli$era#ame!te %ltra+a, (%er tam$"m tra!smitir %ma me!saem se%s escritos

refletem a am$ial6!cia #e s%a rela&3o com o m%!#o #a#o e com o%trem

< (%e mais #eeria s%rpree!#er " o mo#o #e epress3o (%e ele escolhe%) ele,

(%e c%ltio% t3o ciosame!te s%a si!%lari#a#e, seria #e esperar (%e proc%rasse tam$"m

tra#%0ir s%a eperi6!cia !%ma forma si!%lar, como fe0, por eemplo, a%tr"amo!t Mas em

primeiro l%ar o s"c%lo 4VIII oferecia po%cas possi$ili#a#es l.ricas) Sa#e o#iaa a e!fa#o!ha

se!si$ili#a#e (%e e!t3o se co!f%!#ia com a poesia) os tempos !3o estaam ma#%ros para %m

7poeta mal#ito8 E !a#a pre#isp%!ha Sa#e a ra!#es a%#ácias literárias) %m er#a#eiro cria#or

#ee / pelo me!os em certo pla!o, em certo mome!to / ter-se ra#icalme!te li$erta#o #o#a#o e emerir para al"m #os o%tros home!s !%ma total soli#3o or"m em Sa#e há %ma

.!tima fra(%e0a (%e s%a arroB!cia mal #isfar&a) a socie#a#e i!stalo%-se em s%a alma mesmo

so$ a fi%ra #a c%lpa$ili#a#e) !3o #isp@e #os meios !em #o tempo para rei!e!tar o m%!#o, o

homem e a si mesmo) tem #emasia#a pressa, pressa #e se #efe!#er á #isse (%e escree!#o

ele proc%ra a!tes #e t%#o co!(%istar %ma $oa co!sci6!cia) para isso tem #e o$riar os o%tros a

a$sol6-lo e mesmo a aproá-lo) ar%me!ta em e0 #e se afirmar, e para se fa0er o%ir toma

#a socie#a#e formas literárias e #o%tri!as eperime!ta#as 2orma#o por %m s"c%loracio!alista, !e!h%ma arma lhe parece mais se%ra (%e o racioc.!io Ele, (%e escree% Too

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o *rinc0*io e oral uni(ersal é ua (eraeira &uiera, s%$mete-se #ocilme!te >s

co!e!&@es erais #a est"tica co!temporB!ea e >s prete!s@es #a l*ica %!iersal

Assim se eplicam s%a arte e se% pe!same!to) (%a!#o se reii!#ica, " sempre

te!ta!#o !o mesmo moime!to #esc%lpar-se S%a o$ra " %m empree!#ime!to am$.%o para ir

at" ao etremo #o crime, a$oli!#o a s%a c%lpa$ili#a#eorta!to, " !ormal e ei#e!te (%e o 6!ero faorito #e Sa#e se+a a par*#ia Ele

!3o proc%ra i!stit%ir %m %!ierso !oo limita-se a lear ao ri#.c%lo, pela ma!eira como o

imita, a(%ele (%e lhe " imposto, e come&a por fi!ir acre#itar !as (%imeras (%e o pooam a

i!oc6!cia, a $o!#a#e, a #e#ica&3o, a e!erosi#a#e e a casti#a#e) (%a!#o em Ali!e et Valco%r,

em %sti!e e !os :rimes #e lAmo%r pi!ta %!t%osame!te a irt%#e, !3o se trata ape!as #e %ma

ma!o$ra pr%#e!te) as 7a0es8 com (%e este %sti!e s3o mais (%e %m artif.cio literário

c%mpre #ar %ma reali#a#e > irt%#e se (%eremos #iertir-!os em h%milhá-la Defe!#e!#o se%sco!tos #a pecha #e imorali#a#e, Sa#e escree hipocritame!te ue se #abar2 e )a/er

ressaltar a (irtue, &uano as )ei$:es o (0cio &ue a cerca n%o s%o )orteente acentuaas?

Mas ele e!te!#e t%#o ao co!trário como co!ce#er ao .cio se% sa$or se o leitor !3o "

se#%0i#o pela miraem #o $em? C m%ito mais ol%pt%oso l%#i$riar as pessoas ho!estas #o

(%e esca!#ali0á-las e, tra&a!#o !o papel per.frases a&%cara#as, Sa#e sa$oreo% os a%#os

pra0eres #a mistifica&3o I!feli0me!te ele #ierte-se em eral mais #o (%e !os #ierte) (%ase

sempre s%a li!%aem tem a mesma frie0a e se!sa$oria #os co!tos e#ifica!tes (%e #ecalca, e

os epis*#ios #es#o$ram-se se%!#o co!e!&@es i%alme!te se!sa$oro!as :o!t%#o foi pela

par*#ia (%e Sa#e loro% se%s mais i$ra!tes 6itos art.sticos rec%rsor #o roma!ce !ero,

como !oto% Ma%rice Pei!e, ele " #emasia#o racio!alista para se a$ismar !o fa!tástico)

(%a!#o se a$a!#o!a >s etraaB!cias #a imai!a&3o, !3o sa$emos o (%e mais a#mirar !ele

se a eem6!cia "pica o% a iro!ia) o milare " (%e esta se reela $asta!te s%til para !3o arr%i!ar

se%s #el.rios) pelo co!trário, empresta-lhes %ma seca poesia (%e os #efe!#e co!tra !ossa

i!cre#%li#a#e Este som$rio h%mor (%e ele sa$e !a oport%!i#a#e oltar co!tra si mesmo, "

mais (%e %m simples processo) co!f%!#i!#o a ero!ha e o or%lho, a er#a#e e o crime,

Sa#e " ha$ita#o pelo 6!io #a co!tra#i&3o) " (%a!#o escar!ece (%e ele " mais s"rio, e (%a!#o

s%a má-f" salta aos olhos " (%e ele " mais si!cero) se%s eaeros oc%ltam fre(e!teme!te

i!6!%as er#a#es, ao passo (%e atra"s #e racioc.!ios po!#era#os !os #á er#a#eiras

e!ormi#a#es) se% pe!same!to emprea-se em fr%strar (%em (%isesse fiá-lo e #esse mo#o ele

ati!e se% o$+etio (%e " preoc%par-!os S%a pr*pria forma te!#e a #esco!certar-!os) fala com

o0 mo!*to!a e e!lea#a, e come&a a e!te#iar-!os (%a!#o #e repe!te, amara, sar#!ica,

o$sce!a, %ma er#a#e il%mi!a esses !eoeiros (%e lhe ressaltam o f%lor $r%tal) e!t3o, !a s%a

 +oiali#a#e e iol6!cia, !a s%a arroB!cia e cr%e0a, o estilo #e Sa#e tor!a-se o #e %m ra!#e

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escritor

E!treta!to !i!%"m pe!saria em colocar %sti!e ao la#o #e Ma!o! esca%t o%

#as iaiso!s #a!ere%ses ara#oalme!te, " a pr*pria !ecessi#a#e #a o$ra #e Sa#e (%e lhe

co!si!o% os limites est"ticos ele !3o tomo% #ia!te #ela o rec%o i!#ispe!sáel a %m artista)

para e!fre!tar a reali#a#e propo!#o-se recriá-la, faltaa-lhe o afastame!to !ecessário) ele !3oe!fre!to% a si mesmo limito%-se a pro+etar para fora #e si se%s fa!tasmas) s%as !arratias t6m

a irreali#a#e, a falsa eati#3o e a mo!oto!ia #os #ea!eios es(%i0ofr6!icos " para #eleite

pr*prio (%e as relata, e !3o se preoc%pa em imp-las a %m leitor

As resist6!cias #o m%!#o !3o s3o se(%er eoca#as, !em as o%tras, mais

pat"ticas ai!#a, (%e Sa#e e!co!traa !o sere#o #e s%a alma :aer!as, s%$terrB!eos, castelos

misteriosos, o arse!al #o roma!ce !ero toma !ele %m se!ti#o si!%lar, sim$oli0a o

isolame!to #a imaem) a percep&3o remete > totali#a#e #o #a#o, porta!to aos o$stác%los (%eeste e!ole) a imaem " perfeitame!te #*cil e plástica, !ela s* e!co!tramos o (%e lá foi

posto, " o #om.!io e!ca!ta#o #e o!#e !e!h%m po#er loraria #esalo+ar o #"spota solitário) "

ela (%e Sa#e imita !o mome!to em (%e prete!#e emprestar-lhe literariame!te %ma opaci#a#e

or isso !3o se oc%pa #as coor#e!a#as espaciais e temporais em rela&3o >s

(%ais to#o o aco!tecime!to er#a#eiro se sit%a) os l%ares (%e eoca !3o s3o #este m%!#o, e

mais #o (%e ae!t%ras s3o (%a#ros ios (%e !eles se #ese!rolam) a #%ra&3o !3o at%a so$re o

%!ierso #e Sa#e) !3o há f%t%ro al%m #a s%a o$ra !em !a s%a o$ra ;3o s* as orias para (%e

!os co!i#a !3o se passam em parte al%ma o% em tempo al%m, como ai!#a, o (%e " mais

rae, !3o p@em !i!%"m em +oo) as .timas s3o imo$ili0a#as em s%a a$+e&3o lacrimosa, e

os carrascos em se% fre!esi) o a%tor so!ha-se complace!teme!te !eles em e0 #e lhes

emprestar s%a #e!si#a#e ia) eles !3o co!hecem o remorso, escassame!te a sacie#a#e,

i!oram a máoa, matam com i!#ifere!&a, s3o a$stratas e!car!a&@es #o mal or"m, !3o se

er%e!#o so$re !e!h%m f%!#o social, familiar o% h%ma!o, o erotismo per#e se% caráter

etraor#i!ário, #eia #e ser co!flito, reela&3o, eperi6!cia priileia#a) !3o #esco$re mais

e!tre os i!#i.#%os !e!h%ma rela&3o #ramática, a!tes reressa > s%a r%#e0a $iol*ica) como

se!tir.amos o a!tao!ismo #as li$er#a#es estra!has, o% a (%e#a #o esp.rito !a car!e, se por

to#a parte, ol%pt%osa o% tort%ra#a, s* a car!e se oste!ta? < pr*prio horror se eti!%e !os

ecessos em (%e !e!h%ma co!sci6!cia está co!cretame!te prese!te) se ta!ta a!'stia se eala

#e %m co!to #e E#ar# Alla! oe como, por eemplo, < o&o e o 6!#%lo, " por(%e !*s

apree!#emos a sit%a&3o .!tima #o i!#i.#%o) os perso!ae!s #e Sa#e ape!as os colhemos por

fora) eles s3o t3o artificiais e moem-se !%m m%!#o t3o ar$itrário (%a!to os pastores #e

2loria!, e por isso essas !eras $%c*licas t6m a a%steri#a#e #e %ma col!ia !%#ista

As #eassi#@es (%e Sa#e p@e em ce!a com mi!'cia esotam sistematicame!te

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as possi$ili#a#es a!atmicas #o corpo h%ma!o mais #o (%e #esco$rem compleos afetios

si!%lares To#aia, se ele falho% em #ar-lhes %ma er#a#e est"tica, presse!ti% formas se%ais

at" e!t3o i!s%speita#as, especialme!te a (%e re'!e *#io > m3e-frii#e0-cere$ralismo-so#omia-

passia-cr%el#a#e A lia&3o #a imai!a&3o com o (%e chamamos .cio, !i!%"m a #estaco%

mais iorosame!te) e por i!sta!tes ele !os a$re so$re a rela&3o #a se%ali#a#e com aeist6!cia, $os(%e+os #e s%rpree!#e!te prof%!#i#a#e Deemos e!t3o a#mirar !ele !o

#om.!io #a psicoloia %m er#a#eiro i!oa#or? ;3o " fácil #eci#ir Atri$%i-se sempre #emais

o% #e me!os a %m prec%rsor) como se há #e me#ir o alor #e %ma er#a#e (%e, se%!#o a

epress3o #e Peel, !3o eio a ser? C #a eperi6!cia (%e res%me e #o m"to#o (%e i!a%%ra

(%e %ma i#"ia tira se% alor) mas %ma f*rm%la c%+a !oi#a#e !os se#%0, se !e!h%m

#ese!olime!to a co!firma, !3o sa$eremos (%e cr"#ito lhe co!ce#er) ficaremos te!ta#os o%

$em a a%me!tá-la com to#a a si!ifica&3o #e (%e ela %lteriorme!te se e!ri(%ece%, o% peloco!trário a re#%0ir-lhe o alca!ce ao m.!imo or isso #ia!te #e Sa#e o leitor imparcial hesita)

por e0es ao irar %ma pái!a, e!co!tra %ma frase i!espera#a (%e parece a$rir cami!hos

ire!s, mas loo o pe!same!to se re#%0, e o!#e esperaa %ma o0 i$ra!te e si!%lar, o%e

ape!as a fasti#iosa repeti&3o #e Pol$ach e #e a Mettrie <$sere-se, por eemplo, (%e em

195 Sa#e escree 3 ato o #o/o con(é ser ua *ai!%o &ue suborina a si toas as outras,

 *oré &ue ao eso te*o as re@ne. ;3o ape!as !a primeira parte #este teto Sa#e presse!te

o (%e se chamo% o 7pa!-se%alismo8 #e 2re%#, se!3o (%e fa0 #o erotismo a mola real #as

co!#%tas h%ma!as) !a se%!#a parte, prop@e, al"m #o mais, (%e a se%ali#a#e está carrea#a

#e si!ifica&@es (%e a %ltrapassam) a li$i#o está em to#a parte e " sempre m%ito mais #o (%e

ela mesma Sa#e, i!#%$itaelme!te, presse!ti% esta ra!#e er#a#e As 7perers@es8 (%e o

%lo co!si#era mo!str%osi#a#es morais o% taras fisiol*icas, sa$e ele (%e e!olem o (%e

ho+e se chamaria %ma i!te!cio!ali#a#e X esposa ele escree% (%e to#o o ca*ric'o... reonta

se*re a u *rinc0*io e elicae/a) e em Ali!e et Valco%r, afirma 3s re&uintes ( a*enas

a elicae/a+ *ortanto é *oss0(el ter uitos, ebora seaos o(ios *or coisas &ue

 *arece e!clu0-la. Ele compree!#e% tam$"m (%e !ossos ostos s3o motia#os, !3o pelas

(%ali#a#es i!tr.!secas #o o$+eto, mas pela rela&3o (%e este ma!t"m com o i!#i.#%o) !%ma

passaem #a ;o%elle %sti!e te!ta eplicar a coprofilia s%a resposta " $al$%cia!te, mas o

(%e i!#ica / %tili0a!#o ca!hestrame!te a !o&3o #e imai!a&3o / " (%e a er#a#e #e %ma

coisa resi#e !3o !a s%a prese!&a $r%ta, mas !o se!ti#o (%e ela reesti% para !*s !o #ecorrer

#e !ossa eperi6!cia si!%lar I!t%i&@es como estas a%tori0am-!os a sa%#ar em Sa#e %m

prec%rsor #a psica!álise, mas i!feli0me!te ele #esalori0a-as (%a!#o teima em repisar,

se%!#o Pol$ach, os pri!c.pios #o paralelismo psicofisiol*ico uano a anatoia )or

a*er)ei$oaa, )acilente se eonstrar2 *or eio ela a rela$%o a or#ani/a$%o o 'oe

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co os #ostos &ue o ti(ere a)etao.

A co!tra#i&3o " s%rpree!#e!te !a impreista passaem #as :e!t i!t o%r!"es

o!#e ele se i!terroa so$re os atratios se%ais #a feal#a#e Ali2s est2 *ro(ao ser o 'orror, a

iun0cie, a coisa re*u#nante &ue a#raa &uano se )... A bele/a é a coisa si*les, a

lealae é a coisa e!traorin2ria, e as ia#ina$:es arentes n%o '2 @(ia &ue *re)erese*re a coisa e!traorin2ria 9 coisa si*les. Esta lia&3o (%e ele i!#ica co!f%same!te e!tre

o horror e o #ese+o, ostar.amos (%e Sa#e a #efi!isse) mas #e repe!te ele chea a %ma

co!cl%s3o (%e a!%la a (%est3o proposta Toas essas coisas e*ene a nossa con)ora$%o,

os nossos 1r#%os, a aneira coo eles s%o a)etaos, e n1s soos t%o inca*a/es e uar

os nossos #ostos nesse *articular coo e (ariar as )oras os nossos cor*os.

arece > primeira ista para#oal (%e este homem, (%e ti!ha por si mesmo %ma

pre#ile&3o t3o ar#e!te, ha+a apreoa#o teorias (%e !eam > si!%lari#a#e i!#ii#%al (%al(%ersi!ifica&3o) reclama esfor&os para melhor se compree!#er o cora&3o h%ma!o, te!to%

eplorar-lhe os mais estra!hos aspectos, eclama ue eni#a, o 'oe, a$a-se Voc be

sabe &ue nin#ué analisa as coisas coo eu, e co!t%#o fa0-se #isc.p%lo #e a Mettrie (%e,

co!f%!#i!#o o homem com a má(%i!a e a pla!ta, re#%0 a !a#a a psicoloia Apesar #e

#esco!certa!te, esta a!ti!omia eplica-se facilme!te Decerto " me!os fácil ser %m mo!stro

#o (%e al%mas pessoas parecem acre#itar 2asci!a#o como se% pr*prio mist"rio, Sa#e

ass%sta-se com este e, em e0 #e eprimir, (%er #efe!#er-se As palaras (%e empresta a

lamo!t s3o %ma co!fiss3o  Eu )irei eus es(ios *elo racioc0nio+ n%o e eti(e na

@(ia (enci, esarrai#uei, estru0 e eu cora$%o tuo o &ue *uesse *erturbar os eus

 *ra/eres. A primeira tarefa li$era#ora, como ele mil e0es repeti%, " tri%!far so$re o remorso)

e, trata!#o-se #e rep%#iar (%al(%er se!time!to #e c%lpa, (%al a #o%tri!a mais se%ra #o (%e a

(%e solapa a pr*pria i#"ia #e respo!sa$ili#a#e? Mas seria erro rosseiro (%erer e!cerrá-lo

!ela) como ta!tos o%tros, ele $aseia-se !o #etermi!ismo para reii!#icar s%a li$er#a#e

iterariame!te, esses #isc%rsos, teci#os #os l%ares-com%!s com (%e Sa#e

e!tremeia s%as $aca!ais, termi!am por priá-los #e to#a a erossimilha!&a e i#a) ele (%ase

!3o mais se #irie ao leitor, mas a si mesmo) s%as repeti&@es t6m o alor #e %m rito #e

p%rifica&3o c%+a repeti&3o lhe " t3o !at%ral (%a!to a co!fiss3o ao #eoto Sa#e !3o !os #á a

o$ra #e %m homem li$erto, fa0-!os participar #o se% esfor&o #e li$era&3o Mas " +%stame!te

por a. (%e ele !os pre!#e s%a te!tatia " mais a%t6!tica (%e to#os os i!str%me!tos por ele

%tili0a#os Se se #esse por satisfeito com o #etermi!ismo (%e professa, #eeria ter rep%#ia#o

to#as as s%as preoc%pa&@es "ticas) mas estas se imp%!ham com tal ei#6!cia (%e !e!h%ma

l*ica po#ia o$sc%recer ara al"m #as fáceis #esc%lpas (%e fasti#iosame!te i!oca, teima em

atacar, em i!terroar-se E " ra&as a esta si!ceri#a#e o$sti!a#a (%e, !3o se!#o %m artista

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co!s%ma#o o% %m fil*sofo coere!te, merece ser sa%#a#o como %m ra!#e moralista

Etrema#o em t%#o, Sa#e !3o po#ia acomo#ar-se aos compromissos #e.stas #o

se% s"c%lo) " com %ma #eclara&3o #e ate.smo / o Diáloo e!tre %m pa#re e %m mori$%!#o,

(%e em 1JG i!a%%ra s%a o$ra á mais #e %ma e0, #es#e o Testame!t #e ea! Meslier,

apareci#o em 1G9, a eist6!cia #e De%s haia si#o !ea#a) Ro%ssea% o%sara aprese!tar !a;o%elle P"loYse %m ate% simpático, o Sr #e Lolmar, o (%e !3o impe#i% (%e, em 15H, o

a#re M"l"a! fosse meti#o !a pris3o por ter escrito oroastre, e a Mettrie tiesse #e f%ir

para +%!to #e 2re#erico II V%lari0a#o em 1K, por Pol$ach, !o Ssteme #e la ;at%re, e

tam$"m pelos li$elos re%!i#os !esse mesmo a!o so$ o t.t%lo #e Rec%eil hilosophi(%e,

professa#o com eem6!cia por Slai! Mar"chal, o ate.smo !em por isso #eiaa #e ser %ma

#o%tri!a periosa !%m s"c%lo (%e iria colocar o pr*prio ca#afalso so$ a "i#e #o Ser

S%premo Arora!#o-o, Sa#e comete #eli$era#ame!te %m ato #e prooca&3o (%e " tam$"m%m ato si!cero Apesar #o i!teresse pelo est%#o #e NlossosOi, acho (%e ele atrai&oa Sa#e, ao

co!si#erar s%a apaio!a#a !eatia #e De%s como a co!fiss3o #e %ma !ecessi#a#e) s%ste!ta-

se ho+e facilme!te o sofisma #e (%e atacar De%s " afirmá-lo, mas, !a er#a#e, trata-se #e %ma

!o&3o i!e!ta#a pelos home!s (%e o ate% co!testa Sa#e eplico%-se clarame!te a esse

respeito (%a!#o escree%  A iéia e Deus é o @nico erro &ue eu n%o *osso *eroar aos

'oens+ e se essa mistifica&3o " a (%e ele ataca #es#e loo, " por(%e, como $om her#eiro #e

Descartes, proce#e #o simples para o compleo, #a me!tira rosseira para erros mais

falaciosos) ele sa$e (%e para li$ertar o i!#i.#%o #os .#olos aos (%ais a socie#a#e o alie!a, "

preciso come&ar por ara!tir s%a a%to!omia #ia!te #o c"%) se o homem !3o ho%esse si#o

aterrori0a#o pelo ra!#e espa!talho a (%e est%pi#ame!te re!#e c%lto, !3o teria t3o facilme!te

sacrifica#o s%a li$er#a#e e s%a er#a#e) escolhe!#o De%s ele re!eo%-se, e " esse o se% erro

imper#oáel ;a er#a#e, !3o há co!tas a prestar a !e!h%m +%i0 tra!sce!#e!te, !3o há o%tra

i!stB!cia al"m #a Terra Sa#e !3o i!ora (%a!to a cre!&a !o i!fer!o e !a eter!i#a#e po#eria

eacer$ar a cr%el#a#e) Sai!t-2o!# e!carece-lhes a espera!&a, a fim #e o0ar com os

sofrime!tos sem limites #os #a!a#os #ierte-se tam$"m a imai!ar %m #emi%ro #ia$*lico

em (%e se e!car!aria a mal#a#e #if%sa #a !at%re0a, mas !em por %m i!sta!te Sa#e ma!t"m

essas hip*teses, a !3o ser por meros +oos #e esp.rito) !3o se reco!hece !os perso!ae!s aos

(%ais os atri$%i, e ref%ta-os pela $oca #os se%s porta-o0es) (%a!#o eoca o crime a$sol%to,

pe!sa em mortificar a !at%re0a e !3o em ferir De%s < (%e po#emos ce!s%rar >s s%as

#eclama&@es co!tra a relii3o, " (%e elas repro#%0em com fasti#iosa mo!oto!ia l%ares-

com%!s +á astos, e ai!#a assim lhe #á %m tom pessoal (%a!#o, a!tes #e ;iet0sche, #e!%!cia

!o cristia!ismo %ma relii3o #e .timas, > (%al !a s%a opi!i3o #ee ser s%$stit%.#a por %ma

i#eoloia #a for&a

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De (%al(%er mo#o !3o se po#e pr em #'i#a s%a $oa-f" < temperame!to #e

Sa#e " f%!#ame!talme!te irreliioso) !3o há !ele (%al(%er est.io #e i!(%ieta&3o metaf.sica

está #emasia#ame!te oc%pa#o em reii!#icar s%a eist6!cia, para se i!terroar so$re o se!ti#o

e o fim #ela ;este po!to s%as co!ic&@es !%!ca foram #esme!ti#as se a+%#o% > missa e

a#%lo% %m $ispo, foi por(%e, elho e al(%e$ra#o, escolhera a hipocrisia, mas se% testame!to "i!e(%.oco A morte o ass%sto%, pela mesma ra03o (%e a #ecrepit%#e, como #issol%&3o #e s%a

i!#ii#%ali#a#e o me#o #o al"m !%!ca aparece em s%a o$ra Sa#e s* (%er oc%par-se #os

home!s, e t%#o (%a!to !3o " h%ma!o lhe " estra!ho

 Garte VII 

To#aia, !o meio #os home!s está so0i!ho) !a me#i#a em (%e o s"c%lo 4VIII foi te!ta!#oa$olir o rei!a#o #e De%s so$re a Terra, foi s%$stit%i!#o-o por o%tro .#olo) ate%s e #e.stas

 +%!tam-se !o c%lto (%e re!#em a esta !oa e!car!a&3o #o em S%premo a ;at%re0a) eles !3o

prete!#em #e mo#o al%m re!%!ciar >s como#i#a#es #e %ma moral cate*rica e %!iersal) os

alores tra!sce!#e!tes #esmoro!aram, o pra0er " reco!heci#o como a me#i#a #o $em e por

este he#o!ismo o amor-pr*prio " rea$ilita#o 7Deemos come&ar por #i0er a !*s mesmos (%e

!a#a temos a fa0er !este m%!#o eceto proporcio!ar-!os se!sa&@es e se!time!tos

ara#áeis8, escree, por eemplo, Mme #% :hatelet or"m estes t.mi#os eotistas post%lam

%ma or#em !at%ral (%e ara!te a harmo!iosa co!cilia&3o #os i!teresses partic%lares com o

i!teresse eral) $asta %ma ora!i0a&3o racio!al, o$ti#a atra"s #e %m pacto o% co!trato, para

(%e a socie#a#e prospere em $e!ef.cio #e ca#a %m e #e to#os Dessa relii3o otimista, Sa#e

eio a ser o tráico #esme!ti#o

< s"c%lo 4VIII pi!to% fre(e!teme!te o amor com tristes e som$rias cores)

Richar#so!, r"ost, D%clos e :r"$illo! (%e Sa#e cita com apre&o / e, so$ret%#o, aclos (%e

ele prete!#e i!orar / criaram perso!ae!s mais o% me!os satB!icos) por"m a mal#a#e #eles

tem sempre oriem !%ma perers3o #o esp.rito o% #a o!ta#e, !3o !a espo!ta!ei#a#e or

ca%sa #e se% caráter i!sti!tio, o erotismo propriame!te #ito " pelo co!trário rea$ilita#o)

i!6!%o, s3o, 'til > esp"cie, o #ese+o se%al co!f%!#e-se, se%!#o Di#erot, com o pr*prio

moime!to #a i#a, e as pai@es (%e #ese!ca#eia s3o t3o $oas e fec%!#as (%a!to ele se as

freiras #a Reliie%se se e!tream a mal#a#es 7sá#icas8, " por(%e reprimem os apetites em e0

#e saciá-los Ro%ssea%, c%+a eperi6!cia se%al foi complea e po%co riso!ha, eprime-o por

s%a e0 em termos e#ifica!tes 7Doces ol%pt%osi#a#es, ol%pt%osi#a#es p%ras, ias, sem

(%al(%er mist%ra #e torme!to8 E ai!#a 7< amor (%e e% co!ce$o, (%e che%ei a se!tir,

i!flama-se > imaem il%s*ria #a perfei&3o #o o$+eto ama#o) e essa mesma il%s3o o lea ao

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e!t%siasmo #a irt%#e) pois esta i#"ia e!tra sempre !a #e %ma m%lher perfeita8 Mesmo em

R"tif #e la reto!!e, se o pra0er ass%me %m caráter tempest%oso " co!t%#o e!l6o, la!%i#e0,

ter!%ra Sa#e " o '!ico a #esco$rir a se%ali#a#e como eo.smo, tira!ia, cr%el#a#e) !%m

i!sti!to !at%ral ele s%rpree!#e %m co!ite ao crime Isto $astaria para lhe #ar !a hist*ria #a

se!si$ili#a#e #o se% s"c%lo %m l%ar > parte, mas #essa i!t%i&3o ele etrai% co!se(6!cias"ticas ai!#a mais si!%lares

Declarar a !at%re0a má !3o era em si %ma i#"ia !oa Po$$es, (%e Sa#e

co!hecia $em, e cita #e $om ra#o, #eci#ira (%e 7o homem " o lo$o #o homem8 e o esta#o #a

!at%re0a %m esta#o #e %erra) %ma importa!te li!ha #e moralistas e sat.ricos i!leses se%i%-o

por esses cami!hos e!tre o%tros Sift, (%e Sa#e le% ta!to a po!to #e copiá-lo Em 2ra!&a,

Va%e!ar%es retomo% a tra#i&3o p%rita!a e +a!se!ista, ori%!#a #o cristia!ismo, (%e co!f%!#e

a car!e com o peca#o orii!al ale e com maior $rilho %ffo! asse!taram (%e a ;at%re0a!3o " i!teralme!te $oa, e se a le!#a #o $om selaem se perpet%o% #es#e o s"c%lo 4VI,

especialme!te com Di#erot e os E!ciclope#istas, +á !os come&os #o s"c%lo 4VIII Cmeric #e

:r%c" se re$elaa co!tra ela) a hist*ria, as iae!s e a ci6!cia foram aos po%cos

#esacre#ita!#o-a Era fácil a Sa#e s%ste!tar por !%merosos ar%me!tos a tese impl.cita em s%a

eperi6!cia er*tica e (%e a socie#a#e iro!icame!te co!firmo%, isto (%e o mete% !a pris3o por

haer o$e#eci#o a se%s i!sti!tos) mas a #ifere!&a e!tre ele e se%s a!tecessores resi#e em (%e,

#epois #e terem #e!%!cia#o a perersi#a#e #a !at%re0a, eles lhe op%!ham %ma moral artificial

(%e proi!ha #e De%s o% #a socie#a#e, ao passo (%e, #o cre#o eralme!te aceito 7A ;at%re0a

" $oa, siamo-la8, Sa#e, re+eita!#o o primeiro po!to, co!sera para#oalme!te o se%!#o <

eemplo #a ;at%re0a %ar#a %m alor imperatio, em$ora s%a lei se+a %ma lei #e *#io e

#estr%i&3o or meio #e (%e artif.cio ele assim olto% co!tra se%s #eotos o c%lto !oo, " o

(%e precisamos est%#ar mais #e perto

Sa#e co!ce$e% #e #ifere!tes ma!eiras a rela&3o e!tre o homem e a ;at%re0a)

s%as aria&@es afi%ram-se-me me!os como as co!+%!t%ras #e %ma #ial"tica #o (%e como

tra#%0i!#o a hesita&3o #e %m pe!same!to (%e ora limita s%as a%#ácias, ora se #ese!ca#eia

#ese!frea#ame!te Q%a!#o se restri!e a proc%rar +%stifica&@es premat%ras, Sa#e a#ota %ma

is3o meca!icista #o m%!#o e Mettrie ara!ti% i!#ifere!&a moral #os atos h%ma!os, ao

#eclarar 7;*s !3o somos mais c%lpa#os se%i!#o o imp%lso #os moime!tos primitios (%e

!os oer!am #o (%e o ;ilo o " #as s%as i!%!#a&@es e o mar #as s%as o!#as8 Assim, Sa#e,

para se #esc%lpar, se compara >s pla!tas, aos a!imais e aos eleme!tos Em s%as m3os e% !3o

passo #e %ma má(%i!a (%e elaJ p@e em moime!to co!forme lhe apra0 Em$ora ele se ha+a

>). Sae o 'orror, a iun0cie, a coisa re*u#nante &ue a#raa &uano se )...+ ora, one se encontrar2el'or o &ue nu obeto (iciao?... =uitas *essoas *re)ere *ara os seus #o/os ua ul'er (el'a, )eia eaté alc'eirosa a ua o(e (i$osa e lina.

J  A ature/a

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mil e0es e!tri!cheira#o atrás #e afirma&@es a!áloas, estas !3o eprimem se% pe!same!to

si!cero Em primeiro l%ar, a ;at%re0a !3o " a se%s olhos %ma mecB!ica i!#ifere!te) há %ma

si!ifica&3o em se%s aatares, a po!to #e po#ermos #iertir-!os imai!a!#o (%e %m 6!io

ma% a co!#%0) !a er#a#e, " cr%el e #eora#ora, " ha$ita#a pelo esp.rito #e #estr%i&3o) ela

#ese+aria o a!i(%ilame!to total #as criat%ras #esa$rocha#as, a fim #e o0ar #a fac%l#a#e (%etem #e criar o%tras !oas

or o%tro la#o, o homem !3o " se% escrao) +á em Ali!e et Valco%r, Sa#e

i!#icaa (%e ele po#e s%$trair-se > ;at%re0a e oltar-se co!tra ela <%semos e!fim %ltra+ar

essa ;at%re0a i!i!teli.el para melhor sa$er a arte #e #esfr%tá-la E #e ma!eira mais #ecisia

#eclara em %liette Uma e0 cria#o o homem !3o mais #epe!#e #a ;at%re0a #epois (%e a

;at%re0a o crio%, !3o tem mais !e!h%m po#er so$re o homem Tor!a a i!sistir) em s%a rela&3o

com a !at%re0a o homem " comparáel > esp%ma, ao apor (%e se elea #o l.(%i#o rarefeito,!%m recipie!te, pelo foo esse apor !3o " cria#o, " res%lta!te, hetero6!eo) tira a s%a

eist6!cia #e %m eleme!to estra!ho, po#e ser o% !3o ser, sem (%e o eleme!to #e (%e ema!a

sofra com isso) !a#a #ee a esse eleme!to e esse eleme!to, !a#a lhe #ee Em$ora !3o se!#o

pera!te o %!ierso mais (%e %m floco #e esp%ma, essa mesma i!si!ificB!cia asse%ra ao

homem s%a a%to!omia) a or#em #a !at%re0a !3o po#eria escrai0á-lo, isto ele lhe ser

ra#icalme!te hetero6!eo) por isso %ma #ecis3o "tica "-lhe permiti#a, !3o competi!#o a

!i!%"m #itar-lha or (%e, #os cami!hos (%e #ia!te #ele se a$rem, Sa#e escolhe% e!t3o o

(%e pela imita&3o #a !at%re0a o leo% ao crime? C !ecessário a$arcar to#o o co!+%!to #o se%

sistema para respo!#er a esta per%!ta o o$+etio #o sistema " precisame!te +%stificar os

7crimes8 a (%e ele +amais prete!#e% re!%!ciar

;*s somos sempre mais i!fl%e!cia#os #o (%e imai!amos pelas i#"ias (%e

com$atemos) sem #'i#a, " como ar%me!to a# homi!em (%e Sa#e %tili0a fre(e!teme!te o

!e%tralismo) achei %m pra0er mali!o em reii!#icar a faor #o mal os eemplos (%e se%s

co!temporB!eos prete!#iam eplorar em $e!ef.cio #o $em) mas tam$"m, sem #'i#a al%ma,

ele #á por asse!te (%e o fato f%!#ame!ta o #ireito Q%a!#o (%er #emo!strar (%e o li$erti!o

está a%tori0a#o a oprimir as m%lheres, eclama ;3o proo% a ;at%re0a (%e !*s t.!hamos esse

#ireito, #a!#o-!os a for&a !ecessária para s%$met6-las aos !ossos #ese+os? o#er-se-iam

m%ltiplicar as cita&@es a!áloas A ;at%re0a fe0-!os !ascer to#os i%ais, Sofia, #i0 a D%$ois a

%sti!e Se o #esti!o se compra0 em alterar este primeiro pla!o #as leis erais, ca$e-!os

corriir-lhe os caprichos E a ce!s%ra capital (%e Sa#e #irie aos c*#ios impostos pela

socie#a#e, " (%e eles s3o artificiais) !%ma passaem especialme!te si!ificatia 9, compara-os

aos (%e i!stit%.ssem %ma com%!i#a#e #e ceos ;3o passa!#o estes #eeres #e co!e!&@es,

9 >itao *or =aurice Reine Le =ar&uis e Sae, *2#. H.

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s3o realme!te (%im"ricos < homem co!str%i% leis $asea!#o-se !os se%s pe(%e!os

co!hecime!tos) se%s pe(%e!os ar#is e s%as pe(%e!as !ecessi#a#es, mas !a#a há #e real em

t%#o isso :he%emos > !at%re0a mesma, e facilme!te compree!#eremos (%e t%#o (%a!to

arra!+amos e #eci#imos está t3o lo!e #a perfei&3o #as s%as istas e " t3o i!ferior a ela (%a!to

o s3o relatiame!te >s !ossas leis as #esta socie#a#e #e ceos Mo!tes(%ie% a!tecipara (%e asleis #epe!#em #o clima, #as circ%!stB!cias, at" #a #isposi&3o #as 7fi$ras8 #o !osso corpo)

po#er-se-ia co!cl%ir (%e !elas se epressam os #iersos aspectos (%e atra"s #o espa&o e #o

tempo aprese!ta a !at%re0a Mas (%a!#o Sa#e !os passeia i!ca!saelme!te pela ata!ia,

pelo Taiti e pelos a!t.po#as, " para !os #emo!strar (%e a #iersi#a#e #as reras #ita#as lhos

co!testa #efi!itiame!te o alor) se s3o relatias, afi%ram-se-lhe ar$itrárias, e importa !otar

(%e co!e!cio!al e (%im"rico s3o para ele si!!imos A !at%re0a co!sera, !a s%a opi!i3o,

%m caráter sara#o) i!#iis.el, '!ica, " %m a$sol%to fora #o (%al !3o há reali#a#eC fato pate!te (%e o pe!same!to #e Sa#e !3o se+a !este po!to completame!te

coere!te, (%e te!ha eol%.#o, (%e !em to#os os se%s mome!tos se+am i%alme!te si!ceros)

mas as s%as i!co!se(6!cias !3o s3o t3o flara!tes (%a!to se po#eria imai!ar A !at%re0a "

má, porta!to a socie#a#e (%e #ela se afasta merece !ossa s%$miss3o / este seria %m

siloismo #emasia#o simples Em primeiro l%ar, a hipocrisia #a socie#a#e tor!a-a s%speita

ela i!oca a !at%re0a mesmo (%a!#o lhe " hostil, mas, a #espeito #o a!tao!ismo (%e lhe

ma!ifesta, tem !ela s%as ra.0es) at" !a ma!eira como a co!tra#i0, #emo!stra s%a perers3o

orii!al A i#"ia #e i!teresse eral !3o poss%i (%al(%er f%!#ame!to !at%ral <s i!teresses #os

partic%lares s3o (%ase sempre opostos aos #a socie#a#e) mas foi para saciar %m i!sti!to

!at%ral (%e ela foi i!e!ta#a, a sa$er, a o!ta#e tirB!ica #os po#erosos Em e0 #e retificar a

or#em primitia #o m%!#o, as leis s* lhe araam a i!+%sti&a To#os !*s !os assemelhamos,

eceto !a for&a) (%er #i0er (%e !3o há e!tre os i!#i.#%os !e!h%ma #ifere!&a #e ess6!cia, e a

#istri$%i&3o #esi%al #as for&as po#eria ter si#o compe!sa#a pelo co!trário, os fortes

arroaram-se to#as as s%periori#a#es e at" mesmo as i!e!taram

Pol$ach e m%itos o%tros com ele haiam #e!%!cia#o a hipocrisia #os c*#ios

c%+o fim '!ico " a opress3o #os fracos) Morell e rissot haiam, e!tre o%tros, #emo!stra#o

(%e a proprie#a#e !3o repo%sa em (%al(%er f%!#ame!to !at%ral) a socie#a#e fa$rico% to#as as

pe&as #essa i!stit%i&3o i!.(%a 7;3o há proprie#a#e ecl%sia !a !at%re0a8, escree% rissot

7A palara está risca#a #o se% c*#io) este i!feli0 esfaima#o po#e lear, #eorar esse p3o (%e

lhe perte!ce por(%e ele tem fome a fome " o se% t.t%lo8 C (%ase !os mesmos termos (%e

Sa#e, !a hilosophie #a!s le $o%#oir, reclama (%e se s%$stit%a a i#"ia #e o0o pela #e

proprie#a#e) como po#eria esta a$ar-se #e co!stit%ir %m #ireito %!iersalme!te reco!heci#o

(%a!#o o po$re se i!s%re co!tra ela e o rico s* pe!sa em a%me!tá-la por meio #e !oos

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a&am$arcame!tos? C por %ma total i%al#a#e #as fort%!as e #as co!#i&@es (%e se #eeria

a$ater o po#erio #o mais forte, e !3o por leis i!'teis

Mas o fato " (%e foram os fortes (%e fi0eram essas leis em se% proeito) s%a

pres%!&3o ma!ifesta-se #a ma!eira mais o#iosa !os castios (%e eles se arroam o #ireito #e

i!fliir eccaria s%ste!tara (%e o fim #o castio " reparar, mas (%e !i!%"m #ee prete!#erp%!ir Sa#e, !a s%a esteira, er%e-se com ir%l6!cia co!tra to#a a sa!&3o #e caráter epiat*rio

Z mata#ores, e!carcera#ores, est'pi#os e!fim #e to#os os rei!a#os e #e to#os os oer!os,

(%a!#o preferireis *s a ci6!cia #e co!hecer o homem > #e o e!carcerar e #e o matar? C

co!tra a pe!a #e morte (%e ele especialme!te se i!s%re) prete!#e-se +%stificá-la pela lei #e

Tali3o, mas ai!#a essa " %ma (%imera sem (%al(%er rai0 !a reali#a#e) em primeiro l%ar, !3o

eiste a reciproci#a#e e!tre os pr*prios i!#i.#%os, s%as eist6!cias !3o s3o come!s%ráeis)

#epois !3o há (%al(%er a!aloia e!tre %m assass.!io cometi#o imp%lsiame!te, por pai3o o%!ecessi#a#e, e o assassi!ato friame!te preme#ita#o por +%.0es) e como po#eria este #e al%m

mo#o compe!sar a(%ele? o!e #e ate!%ar a cr%el#a#e #a !at%re0a, a socie#a#e s* sa$e

easperá-la lea!ta!#o ca#afalsos

;a er#a#e, ela !%!ca fe0 mais #o (%e opor ao mal %m mal maior) !a#a a

a%tori0a a reclamar a !ossa leal#a#e < famoso co!trato i!oca#o por Po$$es e por Ro%ssea%

!3o passa #e %m mito como po#eria a li$er#a#e i!#ii#%al reco!hecer-se !a or#em (%e a

oprime? < pacto !3o co!"m aos fortes, (%e !3o t6m i!teresse em a$#icar #e (%al(%er #os

se%s priil"ios, !em aos fracos c%+a i!feriori#a#e ratifica) e!tre estes #ois r%pos s* po#erá

eistir %m esta#o #e %erra, e os pr*prios alores s3o i!compat.eis com os #o o%tro ;o

i!sta!te em (%e ele s%$tra.a cem l%.ses #a ali$eira #e %m homem, fa0 %ma coisa

perfeitame!te +%sta para si, em$ora o homem ro%$a#o a e!carasse com o%tros olhos ;o

#isc%rso (%e atri$%i a :oe%r #e 2er, Sa#e #e!%!cio% com eem6!cia a mistifica&3o $%r%esa

(%e co!siste em eriir em pri!c.pios %!iersais se%s i!teresses #e classe !e!h%ma moral

%!iersal " poss.el, #es#e (%e as co!#i&@es co!cretas em (%e iem os i!#i.#%os !3o se+am

homo6!eas

Mas se a socie#a#e trai% s%as pr*prias prete!s@es, !3o #eemos te!tar reformá-

la? A li$er#a#e #o i!#i.#%o !3o po#e +%stame!te emprear-se !essa tarefa? ;3o me parece

#%i#oso (%e Sa#e te!ha e!cara#o por e0es esta sol%&3o ;ote-se (%e, em Ali!e et Valco%r,

ele #escree com i%al complac6!cia a socie#a#e a!ár(%ica #os ca!i$ais, (%e #á #ireito >

cr%el#a#e i!sti!tia #o homem, e a socie#a#e com%!ista #e am", em (%e o mal " #esarma#o

pela +%sti&a ;3o me parece, a$sol%tame!te, (%e ha+a iro!ia !esta 'ltima pi!t%ra, $em como

!o apelo i!seri#o em hilosophie #a!s le $o%#oir 2ra!&ais1K... A atit%#e #e Sa#e #%ra!te a

1K J A)ira-se &ue Sae n%o enossa esta eclara$%o, *or&uanto a *:e na boca o >a(aleiro+ as o ca(aleiroliita-se a ler u te!to &ue Dolancé, *orta-(o/ e Sae, se recon'ece autor.

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Reol%&3o proa $em (%e ele #ese+o% si!cerame!te i!terar-se !%ma coletii#a#e) sofre%

prof%!#ame!te com o ostracismo #e (%e foi o$+eto) so!ha com %ma socie#a#e i#eal #a (%al

se%s ostos i!#ii#%ais !3o o ecl%.ssem !a er#a#e, acha ele, estes !3o co!stit%iriam, para

%ma com%!i#a#e esclareci#a, %m perio s"rio) am" ara!te (%e !3o seria i!como#a#o pelos

6m%los #e Sa#e As pessoas #e (%e me fala s3o raras, !3o me preoc%pam E !%ma carta, Sa#eafirma %o s%o as o*ini:es ou os (0cios os *articulares &ue *reuica o Estao+ s%o os

costues o 'oe *@blico. < fato " (%e os atos #e li$erti!aem !3o i!fl%em !o m%!#o,

(%ase se #iriam $ri!ca#eiras) Sa#e protee-se atrás #a s%a i!si!ificB!cia e chea mesmo a

s%erir (%e estaria pro!to a sacrificá-los #ita#os pelo #esafio e pelo resse!time!to, eles

per#eriam o se!ti#o !%m m%!#o sem *#io) a$oli!#o as proi$i&@es (%e lhe emprestam o

atratio #o crime, s%primir-se-ia a pr*pria l%$rici#a#e) tale0 Sa#e te!ha er#a#eirame!te

pe!sa#o com !ostalia !a .!tima co!ers3o (%e !ele proocaria a #os o%tros home!s, mastam$"m tale0 esperasse (%e se%s .cios fossem aceitos a t.t%lo ecepcio!al por %ma

coletii#a#e (%e, respeita!#o a si!%lari#a#e i!#ii#%al, o reco!hecesse como ece&3o

De (%al(%er mo#o, está co!e!ci#o #e (%e as pessoas (%e se limitam a

erastar #e e0 em (%a!#o %ma m%lher s3o me!os !ocias #o (%e %m arremata#or #e

impostos As i!+%sti&as firma#as, as prearica&@es oficiais, os crimes co!stit%cio!ais, eis o

er#a#eiro flaelo) e " esse o corte+o !ecessário #as leis a$stratas (%e prete!#em impor-se

%!iformeme!te > pl%rali#a#e #e i!#i.#%os ra#icalme!te separa#os Uma +%sta ora!i0a&3o

eco!mica tor!aria i!'teis c*#ios e tri$%!ais, por(%e o crime !asce #a !ecessi#a#e e #a

#esi%al#a#e e #esapareceria ao mesmo tempo (%e se%s motios) " %ma esp"cie #e a!ar(%ia

racio!al (%e co!stit%i !o e!te!#er #e Sa#e o reime i#eal) < rei!a#o #as leis " i!ferior ao #a

a!ar(%ia) a maior proa #o (%e #io " a o$ria&3o em (%e fica (%al(%er oer!o #e mer%lhar

ele pr*prio !a a!ar(%ia (%a!#o #ese+a refa0er a s%a co!stit%i&3o ara a$olir as a!tias leis

6-se for&a#o a i!sta%rar %m reime reol%cio!ário em (%e !3o há leis #esse reime !ascem

por fim !oas leis, mas este se%!#o esta#o ", to#aia, me!os p%ro (%e o primeiro, pois #ele

#eria

Decerto tal racioc.!io !3o parece m%ito co!i!ce!te) mas o (%e Sa#e

!otaelme!te compree!#e% foi (%e a i#eoloia #o se% tempo ape!as tra#%0ia %m sistema

eco!mico, o (%al, co!cretame!te tra!sforma#o, a!%laria as mistifica&@es #a moral $%r%esa

em po%cos #os se%s co!temporB!eos #ese!oleram, #e ma!eira t3o etrema, co!cep&@es

t3o pe!etra!tes

To#aia, !3o foi pelo cami!ho #as reformas sociais (%e Sa#e #efi!itiame!te

e!ere#o%) o co!+%!to #e s%a i#a e #e s%a o$ra !3o se re%lo% por estes #ea!eios %t*picos)

!3o lhe seria poss.el acre#itar !eles por m%ito tempo, #o f%!#o #os cala$o%&os o% #epois #o

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Terror <s aco!tecime!tos co!firmaram s%a eperi6!cia .!tima) o maloro #a socie#a#e !3o

co!stit%i simples aci#e!te Aliás, tor!a-se ei#e!te (%e o i!teresse por ele co!ce#i#o a se%

poss.el 6ito " i!teirame!te #e or#em espec%latia C o se% pr*prio caso (%e o o$se#a) po%co

se preoc%pa em co!erter-se, i!teressa-lhe m%ito mais ser co!firma#o em s%as prefer6!cias

Se%s .cios co!#e!am-!o > soli#3o ele #emo!strará a !ecessi#a#e #a soli#3o e a s%premacia#o mal A $oa-f" lhe " fácil, por(%e esse aristocrata #esa#apta#o !3o e!co!tra em parte

al%ma home!s (%e se+am se%s semelha!tes) em$ora #esco!fie #as e!erali0a&@es, atri$%i% >

s%a sit%a&3o o alor #e %ma fatali#a#e metaf.sica) < homem está isola#o !o m%!#o To#as as

criat%ras !ascem isola#as e sem (%al(%er !ecessi#a#e %mas #as o%tras Se a #iersi#a#e #os

i!#i.#%os fosse comparáel / como o pr*prio Sa#e m%itas e0es s%ere /, > (%e #ifere!cia

e!tre si as pla!tas o% os a!imais, %ma socie#a#e racio!al co!se%iria #omi!á-la) $astaria

respeitar a si!%lari#a#e #e ca#a %m) mas o homem !3o sofre ape!as a s%a soli#3oreii!#ica-a co!tra to#os, #e o!#e se se%e (%e há heteroe!ei#a#e #e alores !3o s* #e %ma

classe para o%tra, mas #e %m i!#i.#%o para o%tro To#as as pai@es t6m #ois se!ti#os,

%liette %m m%ito i!+%sto em rela&3o > .tima, o%tro si!%larme!te +%sto em rela&3o a (%em o

eerce E esse a!tao!ismo f%!#ame!tal !3o po#erá ser %ltrapassa#o por(%e " a pr*pria

er#a#e Se os prop*sitos h%ma!os prete!#essem reco!ciliar-se !a com%m proc%ra #o

i!teresse eral, seriam !ecessariame!te i!a%t6!ticos, pois !3o há o%tra reali#a#e al"m #a #o

i!#i.#%o fecha#o em si e hostil a (%al(%er o%tro i!#i.#%o (%e lhe #isp%te a so$era!ia < (%e

impe#e a li$er#a#e #o i!#i.#%o #e optar pelo $em " (%e este !3o eiste !o c"% a0io, !em !a

terra i!+%sta, !em se(%er !%m hori0o!te i#eal !3o está em parte al%ma < mal " %m a$sol%to

a (%e ape!as se op@em !o&@es fa!tásticas, e s* há %m mo#o #e !os afirmarmos pera!te ele

ass%mi-lo

Isto por(%e há %ma i#"ia (%e, atra"s #e to#o se% pessimismo, Sa#e rep%#ia

fero0me!te a #e sofrer or isso o#eia a hipocrisia resi!a#a (%e se e!feita com o !ome #e

irt%#e) #e fato, ela " %ma s%$miss3o est'pi#a ao rei!a#o #o mal, tal como a socie#a#e o

reco!stit%i%, e !ela o homem re!%!cia co!+%!tame!te > s%a a%te!tici#a#e e > s%a li$er#a#e

Sa#e está em co!#i&@es #e mostrar (%e a casti#a#e e a tempera!&a !em se(%er se +%stificam

pela %tili#a#e) os preco!ceitos (%e co!#e!am o i!cesto, a so#omia e o%tros caprichos se%ais,

isam ape!as a!i(%ilar o i!#i.#%o, impo!#o-lhe %m co!formismo i!epto or"m, as irt%#es

máimas (%e prea o s"c%lo t6m %m se!ti#o mais prof%!#o te!tam #isfar&ar as i!s%fici6!cias

#emasia#o ei#e!tes #a lei :o!tra a tolerB!cia, Sa#e !3o lea!ta o$+e&3o, #ecerto por(%e !3o

6 !i!%"m eerc6-la) mas ataca fa!aticame!te a(%ilo (%e chamamos h%ma!i#a#e e

$e!efic6!cia) s3o mistifica&@es isa!#o co!ciliar o (%e " i!co!ciliáel os i!sacia#os apetites

#o po$re e a c%pi#e0 eo.sta #o rico Retoma!#o a tra#i&3o #e a Rochefo%ca%l#, mostra !3o

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passarem elas #a máscara so$ a (%al se #isfar&a o i!teresse ara co!ter a arroB!cia #os

po#erosos, os fracos i!e!taram a i#"ia #a frater!i#a#e (%e !3o asse!ta em (%al(%er $ase

s*li#a <ra, pe&o-lhe (%e me #ia se #eo amar %m ser ape!as por(%e ele eiste o% se parece

comio, e por ca%sa #estas simples rela&@es hei #e s%$itame!te preferi-lo a mim Q%a!ta

hipocrisia !os priileia#os (%e oste!tam e#ifica!te fila!tropia (%a!#o co!se!tem !a a$+etaco!#i&3o #os oprimi#osW Esta falsa se!si$ili#a#e estaa t3o espalha#a !a "poca (%e o pr*prio

Valmo!t, em casa #e aclos, se e!ter!ecia at" as lárimas pratica!#o a cari#a#e) e "

ei#e!teme!te essa mo#a (%e i!cita Sa#e a #ese!ca#ear co!tra a $e!efic6!cia to#a s%a má-f"

e to#a s%a si!ceri#a#e Decerto ele 0om$a (%a!#o, ao maltratar m%lheres, prete!#e serir os

cost%mes se fosse permiti#o aos li$erti!os molestá-las imp%!eme!te / afirma ele / a

prostit%i&3o se tor!aria %m of.cio t3o perioso (%e !i!%"m a a$ra&aria) mas " com ra03o (%e

#e!%!cia atra"s #esses sofismas a i!co!se(6!cia #e %ma socie#a#e (%e protee o (%e elaco!#e!a e (%e, a%tori0a!#o a #eassi#3o, lea ao pelo%ri!ho o #easso C com a mesma

tráica iro!ia (%e ele proclama os perios #a esmola) se os miseráeis !3o forem re#%0i#os ao

#esespero, amea&am reoltar-se, e o mais se%ro seria etermi!á-los to#os) !esse pro+eto (%e

atri$%i a Sai!t-2o!#, Sa#e #ese!ole o c"le$re pa!fleto #e Sift e certame!te !3o se

i#e!tifica com se% perso!aem) co!t%#o, o ci!ismo #a(%ele aristocrata, (%e esposa a to#o

tra!se os i!teresses #e s%a classe, " mais áli#o a se%s olhos (%e os compromissos #os

o0a#ores e!ero!ha#os S%a i#"ia " clara s%primir os po$res o% s%primir a po$re0a, mas

!3o perpet%ar com meias me#i#as a i!+%sti&a e a opress3o) e, so$ret%#o, !3o prete!#er

resatar etors@es, #eia!#o aos #espo+a#os %m #.0imo i!si!ifica!te Se os perso!ae!s #e

Sa#e preferem #eiar morrer #e fome %m #esra&a#o a s%+arem-se com %ma esmola (%e !a#a

lhes c%staria, " por(%e rec%sam apaio!a#ame!te to#a a c%mplici#a#e com os home!s #e $em

c%+a co!sci6!cia se acomo#a a pre&o t3o il

A irt%#e !3o merece (%al(%er a#mira&3o o% rati#3o, por(%e, lo!e #e refletir as ei6!cias

#e %m $em tra!sce!#e!te, sere os i!teresses #os (%e a oste!tam) " l*ico (%e Sa#e chea a

esta co!cl%s3o Mas afi!al #e co!tas, se o i!teresse " a '!ica lei #o i!#i.#%o, por (%e

#espre0á-la? Q%e s%periori#a#e tem ela so$re o .cio? Sa#e respo!#e% m%itas e0es e com

eem6!cia a esta per%!ta) !o caso #e se escolher a irt%#e, #i0-!os Q%e falta #e moime!toW

Q%e eloW !a#a me emocio!a, !a#a me pert%r$a er%!to e% isso " o0ar? Q%a!ta #ifere!&a

!o parti#o co!trárioW, como os me%s se!ti#os s3o afaa#os e me%s *r3os ecita#osW E ai!#a

A felici#a#e está ape!as !o (%e pert%r$a e s* o crime pert%r$a :o!si#era!#o o he#o!ismo

professa#o pelo se% s"c%lo, este ar%me!to " #e certo peso) t%#o o (%e se po#eria o$+etar-lhe "

(%e Sa#e e!erali0a se% caso partic%lar !3o po#em al%mas almas ser pert%r$a#as tam$"m

pelo $em? Mas ele rec%sa esse ecletismo A irt%#e s* po#e proporcio!ar %ma felici#a#e

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(%im"rica fora #os se!ti#os !3o há er#a#eira felici#a#e e !e!h%m #eles " #eleita#o pela

irt%#e Tal #eclara&3o po#e s%rpree!#er, isto (%e Sa#e fe0 +%stame!te #a imai!a&3o a mola

#o .cio) mas atra"s #as fa!tasias #e (%e se alime!ta este apree!#e %ma er#a#e, e a proa "

(%e ele termi!a !o orasmo, o% se+a, !%ma se!sa&3o firme, e!(%a!to as il%s@es #e (%e se

!%tre a irt%#e +amais s3o rec%pera#as pelo i!#i.#%o #e ma!eira co!creta) a se!sa&3o, #eacor#o com a filosofia (%e Sa#e toma > s%a "poca, " a '!ica me#i#a #a reali#a#e e, se a

irt%#e !3o #esperta !e!h%ma, " por(%e !3o tem (%al(%er f%!#ame!to real) Sa#e eplico%-se

ai!#a mais clarame!te !o se%i!te paralelo e!tre a irt%#e e o .cio A primeira " (%im"rica, o

o%tro " real) a primeira res%lta #os preco!ceitos, o o%tro $aseia-se !o racioc.!io, %m me #á t,

!3o si!to (%ase !a#a pela o%tra Q%im"rica, fa!tástica, a irt%#e fecha-!os !%m m%!#o #e

apar6!cias, ao passo (%e s%a .!tima lia&3o com a car!e ara!te a a%te!tici#a#e #o (%e se

chama .cio Utili0a!#o o oca$%lário #e Stir!er, ao (%al com ra03o se comparo% Sa#e, #ir-se-ia (%e a irt%#e alie!a o i!#i.#%o !esta e!ti#a#e a0ia, o Pomem) s* !o crime ele se

reii!#ica e se reali0a como e% co!creto Se o po$re se resi!a, o% te!ta em 3o l%tar por se%s

irm3os, " ma!o$ra#o, il%#i#o, %m o$+eto i!erte #e (%e a !at%re0a #es#e!ha, !3o " !a#a)

" !ecessário, tal como a D%$ois o% :oe%r #e 2er, te!tar passar para o la#o #os fortes < rico

(%e aceita passiame!te se%s priil"ios tam$"m s* eiste > ma!eira #e %ma coisa) s*

a$%sa!#o #os se%s po#eres, tor!a!#o-se tira!o, carrasco, e!t3o " al%"m) $e!eficiar-se-á

ci!icame!te #a i!+%sti&a (%e o faorece, em e0 #e se per#er em #ea!eios fila!tr*picos

<!#e estariam as .timas #a !ossa i!fBmia se to#os os home!s fossem crimi!osos? ;3o

#eiemos !%!ca #e ma!ter esse poo so$ o +%o #o erro e #a me!tira / #eclara Esteral

Voltamos, porta!to, > i#"ia #e (%e o homem s* po#e o$e#ecer > !at%re0a má?

So$ o preteto #e sala%ar#ar a s%a a%te!tici#a#e, !3o assassi!aremos s%a li$er#a#e? ;3o)

pois se esta !3o po#e co!tra#i0er o #a#o, " capa0 #e se s%$trair a ele para ass%mi-lo) " !%ma

te!tatia a!áloa > co!ers3o est*ica (%e ela tam$"m retoma por s%a co!ta a reali#a#e !%ma

#ecis3o ol%!tária ;3o eiste co!tra#i&3o em Sa#e, por preco!i0ar ao mesmo tempo crime, e

se i!#i!ar m%itas e0es co!tra a i!+%sti&a, o eo.smo o% a cr%el#a#e #os home!s11) ele s* tem

#espre0o pelos .cios t.mi#os, pelas mal#a#es imp%lsias (%e se limitam a refletir

passiame!te a perersi#a#e #a !at%re0a) " para eitar ser ma% > ma!eira #e %m %lc3o o% #e

%m policial, (%e c%mpre tor!ar-se crimi!oso) !3o " o caso #e se s%$meter ao %!ierso, se!3o

#e imitá-lo !%m lire #esafio C essa a atit%#e reii!#ica#a > $eira #o Et!a pelo (%.mico

Alma!i Sim, me% amio, sim, a$omi!o a !at%re0a) e " por co!hec6-la $em (%e a #etesto)

i!str%.#o #os se%s me#o!hos sere#os, se!ti %ma esp"cie #e pra0er i!#i0.el em copiar-lhe os

horrores Imitá-la-ei, mas #etesta!#o-a S%as re#es mort.feras est3o este!#i#as ape!as so$re

11  este *onto a analo#ia é c'ocante co Stirner, &ue conena tabé o crie (ul#ar, #abano a*enasa&uele e &ue se reali/a a re(olta o eu.

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!*s, te!temos e!ol6-la tam$"m <ferece!#o-me ape!as os se%s efeitos, ela oc%ltaa-me

to#as as s%as ca%sas Restri!i-me, porta!to, > imita&3o #os primeiros) !3o po#e!#o a#ii!har

o motio (%e colocaa o p%!hal em s%as m3os, so%$e arre$atar-lhe a arma e %tili0ei-a como

ela Este teto #á o mesmo som am$.%o #as palaras #e Dolma!c" 2oi a i!rati#3o #eles

(%e seco% me% cora&3o) ele !os recor#a (%e foi !o #esespero e !o resse!time!to (%e Sa#e seoto% ao mal E " !este po!to (%e se% perso!aem se #isti!%e #o sá$io a!tio !3o se%e a

!at%re0a com amor e aleria) copia-a, a$omi!a!#o-a e sem compree!#6-la) e ele mesmo se

(%er sem se aproar < mal !3o " harmo!ioso) s%a ess6!cia " #ilacerame!to

Este #ilacerame!to #ee ser ii#o !%ma te!s3o co!sta!te) #o co!trário se

cristali0aria em remorso e so$ este aspecto co!stit%i %m perio mortal la!chot o$sero% (%e

o her*i sá#ico se ota >s piores catástrofes #es#e (%e por (%al(%er escr'p%lo #eole >

socie#a#e se% po#er so$re ele) arrepe!#er-se, hesitar, " reco!hecer +%.0es e, porta!to, a#mitirser c%lpa#o, em e0 #e se reii!#icar como lire a%tor #os pr*prios atos) (%em co!se!te !a

passii#a#e merece to#as as #errotas (%e o m%!#o hostil lhe i!fliirá Ao co!trário <

er#a#eiro li$erti!o a#ora at" as ce!s%ras (%e lhe merecem as s%as a$omi!áeis proe0as ;3o

se t6m isto mesmo os (%e cheam a a#orar os s%pl.cios (%e a i!a!&a h%ma!a lhes prop@e,

sofrea!#o-os com aleria e olha!#o o ca#afalso como !%m tro!o #e l*ria? Eis o homem !o

'ltimo estáio #a corr%p&3o refleti#a ;esse estáio s%premo, !3o " ape!as #os preco!ceitos e

#a ero!ha (%e o homem se li$erta, mas #e to#os os temores S%a sere!i#a#e alca!&a a #o

sá$io a!tio (%e co!si#eraa f'teis as 7coisas (%e !3o #epe!#em #e !*s8) mas este se limitaa

#e mo#o i!teirame!te !eatio a #efe!#er-se #os sofrime!tos poss.eis) o !ero estoicismo #e

Sa#e promete %ma felici#a#e positia) por isso :oe%r #e 2er prop@e como alter!atia <% o

crime (%e !os tor!a feli0es, o% o ca#afalso (%e !os impe#e #e ser #esra&a#os ;a#a po#e

amea&ar o homem (%e sa$e tra!sformar s%as pr*prias #errotas em tri%!fos) ele !3o tem me#o

#e !a#a por(%e, para ele, t%#o " $om A $r%tal artificiali#a#e #as coisas !3o esmaa o homem

lire por(%e !3o lhe i!teressa) ape!as s%a si!ifica&3o lhe co!cer!e e esta s* #epe!#e #ele)

%m i!#i.#%o (%e chicoteia o% pe!etra o%tro, ta!to po#e ser o se!hor como o escrao) a

am$ial6!cia #a #or e #o pra0er, #a h%milha&3o e #o or%lho, permite ao li$erti!o #omi!ar

se+a (%e sit%a&3o for por isso %liette sa$e tra!sformar em o0o os mesmos torme!tos (%e

aca$r%!ham %sti!e ;o f%!#o, o co!te'#o #a eperi6!cia carece #e importB!cia o (%e co!ta

" a i!te!&3o com (%e o i!#i.#%o a a!ima Assim o he#o!ismo termi!a em ataraia, o (%e

co!firma o para#oal pare!tesco e!tre o sa#ismo e o estoicismo a felici#a#e prometi#a ao

i!#i.#%o res%me-se !a i!#ifere!&a E% so% feli0, mi!ha (%eri#a, #es#e (%e me e!treo

friame!te a to#os os crimes / #i0 ressac A cr%el#a#e s%re so$ %ma l%0 !oa, como %ma

ascese Q%em sa$e tor!ar-se i!se!s.el aos males alheios, tor!a-se i!acess.el aos pr*prios

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;3o " mais para a pert%r$a&3o (%e c%mpre te!#er, mas para a apatia Sem #'i#a, o li$erti!o

pri!cipia!te !ecessita #e emo&@es iole!tas para eperime!tar a er#a#e #a s%a eist6!cia

si!%lar) por"m, %ma e0 (%e ele a co!(%ista, $asta-lhe a forma p%ra #o crime para ara!tir-

lha) Este poss%i %m caráter #e ra!#iosi#a#e e s%$limi#a#e (%e o arre$ata e prealecerá

sempre so$re os atratios mo!*to!os #a irt%#e, tor!a!#o i!'teis to#as as satisfa&@esco!ti!e!tes (%e fossemos te!ta#os a etrair #ela or %ma seeri#a#e a!áloa > #e Na!t e

(%e tem s%a oriem !a mesma tra#i&3o p%rita!a, Sa#e !3o co!ce$e o ato lire se!3o alheio a

(%al(%er se!si$ili#a#e se esse ato o$e#ecesse a motios afetios, faria ai!#a #e !*s os

escraos #a !at%re0a e !3o i!#i.#%os a%t!omos

Tal escolha " permiti#a a (%al(%er i!#i.#%o, se+a (%al for a s%a sit%a&3o) %ma

#as .timas e!cerra#a !o har"m #os fra#es o!#e pe!a %sti!e, loro% escapar ao se% #esti!o

#a!#o proas #e se% alor ap%!halo% %ma #as compa!heiras com %ma cr%el#a#e (%e lheale% a a#mira&3o #os se%s se!hores e a tor!o% rai!ha #o serralho) os (%e ficam #o la#o #os

oprimi#os " por $aie0a #e alma e #ee-se rec%sar-lhes to#a a compai3o Q%e (%eres t% (%e

ha+a #e com%m e!tre o (%e t%#o po#e e a(%ele (%e !a#a o%sa? A oposi&3o #os #ois er$os "

si!ificatia o%sar, para Sa#e, " #es#e loo po#er la!chot ace!t%o% a a%steri#a#e #esta

moral (%ase to#os os crimi!osos #e Sa#e sofrem morte iole!ta, e " o m"rito #eles (%e

tra!sforma s%as #esra&as em l*ria Mas, #e fato, a morte !3o " a pior #as #errotas, e se+a

(%al for o fim (%e lhes resera, Sa#e asse%ra a se%s her*is %m #esti!o (%e lhes permite

reali0arem-se Esse otimismo repo%sa !%ma is3o aristocrática #a h%ma!i#a#e, e!ole!#o

ela pr*pria, em s%a cr%el#a#e implacáel, %ma #o%tri!a #a pre#esti!a&3o) pois essa (%ali#a#e

#e alma (%e permite a raros eleitos rei!ar so$re %m $a!#o #e co!#e!a#os, s%re como %ma

ra&a ar$itrariame!te #ispe!sa#a #es#e sempre %liette estaa sala e %sti!e per#i#a < mais

i!teressa!te ai!#a " (%e o m"rito !3o po#eria acarretar o 6ito se !3o fosse reco!heci#o) a

for&a #e alma #e Val"rie o% #e %liette #e !a#a lhes seriria se !3o merecesse a a#mira&3o #e

se%s tira!os Dii#i#os, separa#os, tem-se, porta!to, #e a#mitir (%e estes se i!cli!am +%!tos

#ia!te #e certos alores) e, com efeito, so$ essas fi%ras #iersas c%+a e(%ial6!cia " por Sa#e

ara!ti#a, orasmo-!at%re0a-ra03o, estes escolhem a reali#a#e) o% mais eatame!te ela se lhes

imp@e) " por s%a me#ia&3o (%e o tri%!fo #o perso!aem fica asse%ra#o) mas o (%e o sala

em 'ltimo caso " (%e ele aposto% !a er#a#e ara al"m #e to#as as co!ti!6!cias, Sa#e

acre#ita !%m a$sol%to (%e !%!ca po#eria #ecepcio!ar (%em o i!oca como s%prema i!stB!cia

Se !em to#os os home!s a$ra&am %ma moral t3o se%ra, " ape!as #ei#o > s%a

p%sila!imi#a#e, pois !3o se lhe po#e opor (%al(%er o$+e&3o áli#a Ela !3o po#eria ofe!#er

%m De%s (%e !3o passa #e (%imera) e, se!#o a ;at%re0a #iis3o, hostili#a#e, mesmo atacá-la

seria co!formar-se com ela) ce#e!#o a se%s preco!ceitos !at%ralistas, Sa#e escree% < '!ico

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er#a#eiro crime seria %ltra+ar a !at%re0a, e acresce!ta loo em se%i#a C poss.el imai!ar

(%e a !at%re0a !os #esse a possi$ili#a#e #e %m crime (%e a %ltra+asse? T%#o o (%e aco!tece "

i!tera#o por ela) o pr*prio assassi!ato ela o acolhe com i!#ifere!&a, pois o pri!c.pio #e i#a

#e to#os os seres o%tro !3o " (%e o #a morte) esta morte " ape!as imai!ária S* o homem

atri$%i importB!cia > s%a pr*pria eist6!cia, mas ele po#eria a!i(%ilar totalme!te a s%a esp"ciesem (%e o %!ierso eperime!tasse por isso a me!or altera&3o) ele prete!#e poss%ir %m

caráter sara#o (%e o tor!aria i!tocáel, mas !3o passa #e %m a!imal e!tre o%tros S* o

or%lho #o homem " (%e erii% o assass.!io em crime A $em #i0er, a #efesa #e Sa#e " t3o

e!"rica (%e termi!a !ea!#o ao crime to#o o caráter crimi!oso) ele pr*prio aca$a por

compree!#6-lo a 'ltima parte #e %liette " %m esfor&o co!%lsio para rea!imar a chama #o

Mal) por"m %lc@es, i!c6!#ios, e!e!o, peste, se !3o há De%s, se o homem " ape!as %m

sopro, se a !at%re0a co!se!te em t%#o, as piores #easta&@es caem !a i!#ifere!&a Aimpossi$ili#a#e #e %ltra+ar a !at%re0a ", !a mi!ha opi!i3o, o maior s%pl.cio #o homemW / 

eme Sa#e E se ele ape!as ho%esse aposta#o !o horror #ia$*lico #o crime, s%a "tica se

sal#aria por %m re"s total) mas se ele pr*prio s%$scree essa #errota, " por(%e traa ai!#a

o%tra $atalha s%a prof%!#a co!ic&3o #e (%e o crime " $om

E em primeiro l%ar, (%a!to > !at%re0a ele !3o " ape!as i!ofe!sio sere-a

Sa#e eplica em %liette (%e o esp.rito #os tr6s rei!os, caso !3o ho%esse o$stác%los, se

tor!aria t3o iole!to a po!to #e paralisar a marcha #o %!ierso ;3o haeria mais raita&3o

!em moime!to) lea!#o em se% seio a co!tra#i&3o, as perersi#a#es h%ma!as arra!cam-!o a

essa esta!a&3o (%e amea&aria tam$"m %ma socie#a#e m%ito irt%osa Sa#e le% certame!te a

2á$%la #as A$elhas #e Ma!#eille, (%e tiera !o come&o #o s"c%lo ra!#e 6ito) o a%tor

#emo!straa !ela (%e as pai@es e os crimes #os partic%lares a+%#am a prosperi#a#e p'$lica, e

s3o at" os maiores $a!#i#os (%e tra$alham mais atiame!te para o $em com%m) (%a!#o %ma

co!ers3o i!tempestia fa0ia tri%!far a irt%#e, a colm"ia ficaa arr%i!a#a Sa#e tam$"m

eps m%itas e0es (%e %ma coletii#a#e (%e ca.sse !a irt%#e se eria ao mesmo tempo

precipita#a !a i!"rcia Pá a(%i como %m presse!time!to #a teoria heelia!a, se%!#o a (%al

!3o se po#eria a$olir 7a i!(%ieta&3o #o esp.rito8 sem proocar o fim #a hist*ria Em Sa#e,

por"m, a imo$ili#a#e aparece !3o como ple!it%#e co!ela#a se!3o como p%ra a%s6!cia) a

h%ma!i#a#e o$sti!a-se em cortar pelas co!e!&@es #e (%e se cercam to#os os se%s .!c%los

com a !at%re0a, e aca$aria se!#o %m páli#o fa!tasma se al%mas almas resol%tas !3o

ma!tiessem em se% seio e co!tra s%a o!ta#e os #ireitos #a er#a#e (%e " #iis3o, %erra,

aita&3o) +á $asta (%e !ossos se!ti#os limita#os !os impe&am #e alca!&ar a reali#a#e em se%

Bmao / #i0 Sa#e !o teto si!%lar em (%e !os compara to#os a ceos / !3o !os m%tilemos

ai!#a mais por osto, te!temos %ltrapassar !ossos limites < ser mais perfeito (%e po#emos

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co!ce$er será a(%ele (%e mais se afastar #e !ossas co!e!&@es e as co!si#erar mais

#espre0.eis Se a #ep%sermos !o se% co!teto, esta #eclara&3o lem$ra a reii!#ica&3o #e

Rim$a%# em faor #e %m 7#esrerame!to sistemático8 #e to#os os se!ti#os, e tam$"m as

te!tatias #os s%rrealistas para pe!etrar, al"m #os artif.cios h%ma!os, !o cora&3o misterioso

#o real or"m " mais como moralista #o (%e como poeta (%e Sa#e te!ta (%e$rar a pris3o #asapar6!cias A socie#a#e mistifica#ora e mistifica#a co!tra a (%al se i!s%re i!oca o 7se8

hei#eeria!o !o (%al se a$isma a a%te!tici#a#e #a eist6!cia, e tam$"m !ele se trata #e

rec%perá-la por %ma #ecis3o i!#ii#%al Estas compara&@es !3o s3o rat%itas :%mpre sit%ar

Sa#e !a ra!#e fam.lia #os (%e para al"m #a 7$a!ali#a#e #a i#a (%oti#ia!a8 #ese+am

co!(%istar %ma er#a#e ima!e!te a este m%!#o ;essa perspectia o crime aparece-lhe como

%m #eer ;%ma socie#a#e crimi!osa, " preciso ser crimi!oso Esta f*rm%la res%me s%a "tica

elo crime, o li$erti!o rec%sa to#a c%mplici#a#e com as torpe0as #o #a#o, #e (%e a massa "ape!as o refleo passio, porta!to a$+eto) ele impe#e a socie#a#e #e a#ormecer !a i!+%sti&a e

cria %m esta#o apocal.ptico (%e o$ria to#os os i!#i.#%os a ass%mir, !%ma te!s3o i!cessa!te,

s%a separa&3o, e, porta!to, s%a pr*pria er#a#e

C, to#aia, em !ome #o i!#i.#%o (%e se po#eria, parece, er%er co!tra Sa#e as

o$+e&@es mais co!i!ce!tes, por(%e ele " $em real e o crime o %ltra+a realme!te ;este po!to

o pe!same!to #e Sa#e reela-se etrema#o !a#a poss%i er#a#e para mim al"m #o (%e está

e!olto !a mi!ha eperi6!cia, e a esta a .!tima prese!&a #e o%trem escapa ra#icalme!te, !3o

me co!cer!i!#o porta!to e !3o po#e!#o #itar-me !e!h%m #eer om$amos #o torme!to #os

o%tros) e o (%e po#eria ter #e com%m co!osco esse torme!to? E ai!#a ;3o há compara&3o

al%ma e!tre o (%e eperime!tam os o%tros e o (%e !*s se!timos) a #or mais i!te!sa !os

o%tros #ee certame!te ser !%la para !*s, e o mais lee afao #o pra0er por !*s

eperime!ta#o !os comoe < fato " (%e os '!icos la&os s*li#os e!tre os home!s s3o os (%e

eles criam tra!sce!#e!#o-se !%m m%!#o com%m por pro+etos com%!s) o se!s%alismo

he#o!ista (%e o s"c%lo 4VIII professa !3o prop@e ao i!#i.#%o o%tro pro+eto (%e o #e

7proporcio!ar a si se!sa&@es e se!time!tos ara#áeis8, cristali0a-o !a s%a solitária

ima!6!cia ;%ma passaem #e %sti!e, Sa#e mostra-!os %m cir%ri3o (%e te!cio!a #issecar a

filha para a+%#ar o proresso #a ci6!cia, e, porta!to, #a h%ma!i#a#e apree!#i#a !o se% #eir

tra!sce!#e!te, esta tem porta!to %m alor a se%s olhos) mas re#%0i#o > s%a 3 prese!&a em si,

o (%e " %m homem? Um p%ro fato #espo+a#o #e (%al(%er alor, (%e me #i0 ta!to respeito

(%a!to %ma pe#ra i!erte < pr*imo !3o " !a#a para mim !3o há a me!or rela&3o e!tre ele e

mim

Estas #eclara&@es parecem co!tra#it*rias com a atit%#e real #e Sa#e) salta aos

olhos (%e, se !a#a ho%esse #e com%m e!tre o torme!to #a .tima e o carrasco, este !3o

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po#eria etrair #a. !e!h%m pra0er Mas !a er#a#e o (%e Sa#e co!testa " a eist6!cia a priori

#e %ma #a#a rela&3o e!tre mim e o o%tro so$re o (%al mi!ha co!#%ta #eeria a$stratame!te

re%lar-se) ele !3o !ea a possi$ili#a#e #e esta$elecer al%ma, e se rec%sa a o%trem %m

reco!hecime!to "tico $asea#o !as falsas !o&@es #e reciproci#a#e e %!iersali#a#e, " para se

a%tori0ar a (%e$rar co!cretame!te as $arreiras car!ais (%e isolam as co!sci6!cias :a#a %matestem%!ha ape!as por si) o pre&o (%e ela se atri$%i !3o lhe permite i!ocar (%al(%er #ireito

para impor a o%trem mas ela po#e reii!#icá-lo #e ma!eira si!%lar e atia em atos C o

parti#o (%e escolhe o crimi!oso) e pela iol6!cia #e s%a afirma&3o, tor!a!#o-se real para o

o%tro ele reela tam$"m o o%tro como eisti!#o realme!te :%mpre, to#aia, !otar (%e / 

m%ito #ifere!teme!te #o co!flito #escrito por Peel / este processo !3o comporta para o

i!#i.#%o !e!h%m risco ele !3o p@e em +oo s%a prima0ia e, aco!te&a o (%e aco!tecer, !3o

aceitará se!hor) e!ci#o, retomará a %ma soli#3o (%e aca$aria pela morte, mas eleperma!eceria so$era!o

Assim, o o%tro !3o represe!ta para o #"spota %m perio (%e po#eria ati!i-lo

!o Bmao #e se% ser) co!t%#o, esse m%!#o estra!ho #e (%e ele está ecl%.#o irrita-o, (%er

pe!etrá-lo

ara#oalme!te, !esse #om.!io i!ter#ito, "-lhe permiti#o s%scitar aco!tecime!tos, e a

te!ta&3o " ta!to mais ertii!osa (%a!to estes ser3o i!come!s%ráeis com s%a eperi6!cia

Sa#e !%merosas e0es i!sisti% !esse po!to !3o " a #esra&a #e o%trem (%e ealta o li$erti!o,

mas o sa$er-se a%tor #ela) há !isso para ele m%ito mais (%e %m pra0er #ia$*lico a$strato

(%a!#o ele trama s%as som$rias ma(%i!a&@es, 6 s%a li$er#a#e metamorfosear-se para o%trem

em #esti!o) e como a morte " mais se%ra (%e a i#a, e o sofrime!to (%e a felici#a#e, " !as

perse%i&@es e !o assass.!io (%e ele ass%mirá esse mist"rio Mas impor-se > .tima est%pefata

so$ a fi%ra #a fatali#a#e !3o " o $asta!te) e!a!a#a, mistifica#a, po#e-se poss%.-la, mas s*

eter!ame!te) reela!#o-se ela, o carrasco i!cita-a a ma!ifestar !os ritos o% s'plicas s%a

li$er#a#e) se esta !3o se reela, a .tima " i!#i!a #a tort%ra, " morta o% es(%eci#a) po#e

tam$"m s%ce#er (%e pela iol6!cia #e s%a reolta, f%a, s%ic.#io o% it*ria, ela escape ao

atorme!ta#or) o (%e este reclama " (%e, oscila!#o #a rec%sa para a s%$miss3o, re$el#e o%

co!se!ti!#o, ela reco!he&a #e (%al(%er mo#o !a li$er#a#e #o tira!o se% #esti!o) e!t3o está

lia#a a ele pelo mais estreito #os la&os, formam er#a#eirame!te %m par

Pá casos mais raros em (%e a li$er#a#e #a .tima, sem se f%rtar ao #esti!o (%e

lhe cria o tira!o, co!se%e so$rep%+á-lo M%#a o sofrime!to em pra0er, a ero!ha em

or%lho, tor!a-se %ma c'mplice C e!t3o (%e o #easso se acha em ple!o a%e ;3o f%i para

%m esp.rito li$erti!o pra0er mais io #o (%e fa0er pros"litos Depraar %ma criat%ra i!oce!te

" ei#e!teme!te %m ato satB!ico) mas #a#a a am$ial6!cia #o mal, a!ha!#o-lhe %m a#epto

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opera-se tam$"m %ma a%t6!tica co!ers3o < ro%$o #a iri!#a#e, e!tre o%tros, s%re, a esta

l%0, como %ma cerim!ia #e i!icia&3o Mesmo (%e para imitar a !at%re0a se+a preciso %ltra+á-

la, em$ora o %ltra+e se a!%le +á (%e ela mesma o reclama, ao iole!tar %m i!#i.#%o, for&amo-

lo a ass%mir s%a separa&3o, e atra"s #isso ele e!co!tra %ma er#a#e (%e o reco!cilia com se%

a!tao!ista :arrasco e .tima se reco!hecem como semelha!tes !o espa!to, !a estima e at"!a a#mira&3o Tem-se +%stame!te mostra#o (%e +amais eiste alia!&a #efi!itia e!tre os

li$erti!os #e Sa#e) s%as rela&@es i!#icam %ma co!sta!te te!s3o) mas o fato #e Sa#e fa0er

tri%!far sistematicame!te o eo.smo so$re a ami0a#e !3o impe#e (%e ele #ote esta #e %ma

reali#a#e ;oirce%l fa0 m%ita (%est3o #e pree!ir %liette #e (%e está preso a ela ape!as por

ca%sa #o pra0er (%e e!co!tra em s%a compa!hia mas tal pra0er implica e!tre am$os %ma

rela&3o co!creta) ca#a (%al se se!te co!firma#o em si mesmo pela prese!&a #e %m alter eo, "

%ma a$soli&3o e %ma ealta&3o A #eassi#3o coletia reali0a e!tre os li$erti!os #e Sa#e %maer#a#eira com%!h3o " atra"s #a co!sci6!cia #os o%tros (%e ca#a (%al apree!#e o se!ti#o

#e se%s atos e s%a pr*pria fi%ra, " !%ma car!e estra!ha (%e eperime!to a mi!ha) " e!t3o (%e

!a er#a#e o pr*imo eiste para mim < escB!#alo #a coeist6!cia !3o se #eia pe!sar, mas

po#e-se e!cer-lhe o mist"rio pela ma!eira como Alea!#re corta o !* *r#io " !ecessário

i!stalar-se !ele por atos Q%e e!ima " o homemW / Sim, me%, amio, e foi isso (%e leo%

%m homem #e m%ito esp.rito a #i0er (%e ale mais f (%e compree!#6-lo < erotismo aparece

em Sa#e como %m mo#o #e com%!ica&3o, o '!ico áli#o) po#e-se #i0er, paro#ia!#o %ma

frase #e :la%#el, (%e em Sa#e 7o p6!is " o cami!ho mais c%rto #e %ma alma para o%tra8

Parte VIII 

C trair Sa#e otar-lhe %ma simpatia m%ito fácil) pois " a mi!ha #esra&a (%e ele (%er, mi!ha

s%+ei&3o e mi!ha morte) e ca#a e0 (%e tomamos parti#o pelo me!i!o (%e esa!o% %m sátiro,er%emo-!os co!tra ele or o%tro la#o, ele tam$"m !3o me pro.$e #e me #efe!#er) a#mite

(%e %m pai #e fam.lia i!%e o% impe&a, ai!#a (%e pelo assass.!io, a iola&3o #e se% filho <

(%e ele reclama " (%e !a l%ta (%e op@e eist6!cias i!co!ciliáeis, ca#a (%al se empe!he

co!cretame!te em !ome #a s%a pr*pria eist6!cia Aproa a e!#etta, mas !3o os tri$%!ais

po#e-se matar, mas !3o +%lar As prete!s@es #o +%i0 s3o mais arroa!tes (%e as #o tira!o,

por(%e este se limita a coi!ci#ir co!sio mesmo, ao passo (%e o o%tro te!ta eriir s%as

opi!i@es em lei %!iersal) s%a te!tatia $aseia-se !%ma me!tira, pois ca#a (%al está fecha#oem s%a pr*pria pele e ele !3o po#erá tor!ar-se me#ia#or #e i!#i.#%os separa#os #os (%ais ele

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pr*prio está separa#o E (%e !%merosos #esses i!#i.#%os se li%em, (%e +%!tos se alie!em

em i!stit%i&@es #as (%ais !e!h%m " mais o se!hor, isso !3o lhes #á (%al(%er #ireito !oo o

!'mero !a#a tem a er com o caso ;3o há meio al%m #e me#ir o (%e " i!come!s%ráel

ara f%ir aos co!flitos #a eist6!cia !*s !os ref%iamos !%m %!ierso #e apar6!cias e a

pr*pria eist6!cia se f%rta) cre!#o #efe!#er-!os, a!i(%ilamo-!os < ime!so m"rito #e Sa#eestá em (%e ele reii!#ica, co!tra as a$stra&@es e alie!a&@es (%e !3o passam #e f%as, a

er#a#e #o homem ;i!%"m mais apaio!a#ame!te #o (%e ele " apea#o ao co!creto

amais co!ce#e% al%m cr"#ito ao 7#i0-se8 #e (%e os esp.ritos me#.ocres se !%trem

pre%i&osame!te) s* a#ere >s er#a#es (%e se lhe oferecem !a ei#6!cia #e s%a eperi6!cia

ii#a) por isso %ltrapasso% o se!s%alismo #e s%a "poca para tra!sformá-lo !%ma moral #a

a%te!tici#a#e

;3o si!ifica isto (%e a sol%&3o por ele proposta !os satisfa&a or(%e se a

ra!#e0a #e Sa#e pro"m #e (%e ele (%is apree!#er !a s%a sit%a&3o si!%lar a pr*pria

ess6!cia #a co!#i&3o h%ma!a, #a. res%ltam tam$"m se%s limites A sa.#a (%e escolhe%, ele a

co!si#ero% áli#a para to#os, e com ecl%s3o #e (%al(%er o%tra !isso e!a!o%-se

#%plame!te Apesar #e to#o se% pessimismo, ele está socialme!te #o la#o #os priileia#os e

!3o compree!#e% (%e a i!i(i#a#e social ati!e o i!#i.#%o at" em s%as possi$ili#a#es "ticas)

a pr*pria reolta " %m l%o !ecessário #a c%lt%ra, #os *cios, %m rec%o #ia!te #as ei6!cias

#a eist6!cia) se os her*is #e Sa#e a paam com s%as i#as, pelo me!os " #epois (%e ela #e% a

essas i#as %m se!ti#o áli#o) ao passo (%e para a ime!sa maioria #os home!s ela e(%ialeria

a %m s%ic.#io est'pi#o :o!trariame!te a se%s #ese+os, " a sorte e !3o o m"rito (%e operaria a

sele&3o #e %ma elite crimi!osa Se se o$+etar (%e ele !%!ca iso% > %!iersali#a#e, (%e lhe

$astaa ara!tir a pr*pria sala&3o, !3o se lhe fa0 +%sti&a) ele props-se como eemplo, isto

(%e escree% / e com (%e pai3o / s%a eperi6!cia) e sem #'i#a !3o pres%mia (%e esse

apelo fosse o%i#o por to#os, mas !3o pe!saa em #irii-lo ape!as aos mem$ros #as classes

priileia#as c%+a arroB!cia #etestaa) essa esp"cie #e pre#esti!a&3o em (%e acre#itaa,co!ce$ia-a #emocraticame!te e !3o teria (%eri#o #esco$rir (%e el3 #epe!#ia #as

circ%!stB!cias eco!micas #as (%ais, !a s%a i#"ia, ela #eia permitir escapar

or o%tro la#o, Sa#e !3o s%ps (%e p%#esse eistir o%tro cami!ho al"m #a

re$eli3o i!#ii#%al) ele co!hece ape!as %ma alter!atia a #a moral a$strata o% #o crime)

i!ora a a&3o Se s%speito% (%e %ma com%!ica&3o co!creta e!tre os i!#i.#%os " permiti#a

atra"s #e %ma empresa (%e i!terasse to#os os home!s !o pro+eto eral #e ser %m homem,

!3o se #etee !ela) rec%sa!#o ao i!#i.#%o s%a tra!sce!#6!cia, ota-o a %ma i!si!ificB!cia

(%e a%tori0a a iole!tá-lo) mas essa iol6!cia, eerce!#o-se !o a0io, tor!a-se irris*ria, e o

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tira!o (%e proc%ra afirmar-se por ela termi!a #esco$ri!#o assim o se% pr*prio !a#a

A esta co!tra#i&3o, e!treta!to, Sa#e po#e opor o%tra ois o so!ho acaricia#o

pelo s"c%lo 4VIII #e co!ciliar os i!#i.#%os !o seio #e s%a ima!6!cia " #e (%al(%er mo#o

impraticáel o #esme!ti#o (%e iria i!fliir-lhe o Terror, Sa#e e!car!o%-o a se% mo#o #e

ma!eira pat"tica) o i!#i.#%o (%e !3o co!cor#a em re!ear s%a si!%lari#a#e " rep%#ia#o pela

socie#a#e Mas se escolhermos !3o reco!hecer em ca#a i!#i.#%o se!3o a tra!sce!#6!cia (%e

o %!e co!cretame!te a se%s semelha!tes, somos lea#os a alie!á-los to#os a !oos .#olos, e

s%a i!si!ificB!cia si!%lar parecerá ta!to mais ei#e!te) sacrificaremos o ho+e ao ama!h3, a

mi!oria > maioria, a li$er#a#e #e ca#a %m >s reali0a&@es coletias A pris3o e a %ilhoti!a

ser3o as co!se(6!cias l*icas #essa !ea&3o A me!tirosa frater!i#a#e aca$a em crimes !os

(%ais a irt%#e reco!hece se% rosto a$strato 7;a#a se parece ta!to com a irt%#e como %m

ra!#e crime8, #isse Sai!t-%st ;3o será prefer.el ass%mir esse mal #o (%e s%$screer esse

$em (%e arrasta co!sio a$stratas hecatom$es? Ei#e!teme!te " imposs.el el%#ir este

#ilema Se a totali#a#e #os home!s (%e pooam a terra estiesse prese!te a to#os, em to#a s%a

reali#a#e, !e!h%ma a&3o coletia seria permiti#a e para ca#a %m #eles o ar se tor!aria

irrespiráel A ca#a i!sta!te milhares #e i!#i.#%os sofrem e morrem, i!%tilme!te,

i!+%stame!te, sem (%e isso !os afete !ossa eist6!cia s* " poss.el a esse pre&o < m"rito #e

Sa#e !3o está ape!as em ter rita#o $em alto o (%e ca#a (%al se co!fessa e!ero!ha#ame!te

está em !3o ter toma#o parti#o :o!tra a i!#ifere!&a escolhe% a cr%el#a#e or isso, sem

#'i#a, e!co!tra ta!tos ecos ho+e, em (%e o i!#i.#%o se sa$e .tima me!os #a mal#a#e #os

home!s #o (%e #a $oa co!sci6!cia #eles) " ir em se% socorro i!iciar a #emoli&3o #esse

terrifica!te otimismo ;a soli#3o #os cala$o%&os, Sa#e reali0o% %ma !oite "tica a!áloa >

!oite i!telect%al em (%e se e!ole% Descartes) !3o fe0 +orrar #ela %ma ei#6!cia, mas pelo

me!os co!testo% to#as as respostas #emasia#o fáceis Se resta al%ma espera!&a #e s%perar

al%m #ia a separa&3o #os i!#i.#%os, " com a co!#i&3o #e !3o me!ospre0á-la) #o co!trário,

as promessas #e felici#a#e e #e +%sti&a e!olem as piores amea&as Sa#e ie% at" o fim omome!to #o eo.smo, #a i!+%sti&a, #a #esra&a, sempre reii!#ica!#o-lhe a er#a#e < (%e

fa0 o s%premo alor #e se% testem%!ho " (%e ele !os i!(%ieta <$ria-!os a eami!ar #e !oo

o pro$lema esse!cial (%e, so$ o%tras fi%ras, o$se#a !osso tempo a er#a#eira rela&3o #o

homem com o homem