saúde mental e serviço social

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1 *Acadêmicas no 6º período do curso de Serviço Social da Faculdade Novos Horizontes. EQUIPE INTERDISCIPLINAR MULTIDISCIPLINAR E O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES DE COMPETÊNCIAS Atuação do assistente social junto à equipe multiprofissional interdisciplinar de saúde mental no IPSEMG. Angela Teodoro Manoel* Kerlen dos Santos Costa* Roselania de O. Zape* RESUMO O presente artigo busca entender a importância e o papel do assistente social no âmbito da saúde mental junto a demais profissionais na rede de assistência a saúde, a partir da atuação do profissional no Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais-IPSEMG Tem como objetivo salientar a importância da presença do profissional de serviço social nas equipes multidisciplinares, interdisciplinares de saúde mental. Analisando sua historicidade e mostrar os avanços que transcorreu sua trajetória, desde a adequação do mesmo na sociedade como também na reconstrução da subjetividade do individuo. Avaliando também os desafios atualmente existentes para o desenvolvimento do trabalho do profissional do Serviço Social na saúde mental tendo como princípios a emancipação e autonomia e o desenvolvimento da cidadania do usuário da Política de Saúde Mental. Palavras-chave: Saúde Mental, Serviço Social, Multidisciplinaridade, Interdisciplinar. 1. INTRODUÇÃO A complexidade de algumas demandas sociais contemporâneas requer a atuação de uma equipe multiprofissional, ou seja, a união de diversas áreas de conhecimento, a fim ampliar a capacidade técnica de compreender a realidade, assim como, atender as demandas apresentadas. Já a interdisciplinaridade exige mais que a presença de diferentes profissionais, mais, uma mudança de posturas na relação entre os mesmos, a fim de, não apenas compartilhar experiências, mas se completarem e cooperarem em busca da melhor solução das demandas apresentadas. O assistente social sendo um profissional que atua junto as mais diversas expressões da questão social nos espaços sócio ocupacionais, exerce o papel que busca a humanização do atendimento tendo como objetivos a garantia de direitos e efetivação da cidadania. Nas equipes de saúde o assistente social ganhou maior espaço a partir da constituição 1988 onde a saúde passou a ser reconhecida como direto universal. Nesse contexto utilizando-se de seu conhecimento teórico- metodológico, deve articular aos demais profissionais da equipe de saúde a fim de formular estratégias para a consolidação dos direitos á saúde.

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    *Acadmicas no 6 perodo do curso de Servio Social da Faculdade Novos Horizontes.

    EQUIPE INTERDISCIPLINAR MULTIDISCIPLINAR E O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES DE

    COMPETNCIAS

    Atuao do assistente social junto equipe multiprofissional interdisciplinar

    de sade mental no IPSEMG.

    Angela Teodoro Manoel* Kerlen dos Santos Costa*

    Roselania de O. Zape*

    RESUMO O presente artigo busca entender a importncia e o papel do assistente social no mbito da sade mental junto a demais profissionais na rede de assistncia a sade, a partir da atuao do profissional no Instituto de Previdncia dos Servidores do Estado de Minas Gerais-IPSEMG Tem como objetivo salientar a importncia da presena do profissional de servio social nas equipes multidisciplinares, interdisciplinares de sade mental. Analisando sua historicidade e mostrar os avanos que transcorreu sua trajetria, desde a adequao do mesmo na sociedade como tambm na reconstruo da subjetividade do individuo. Avaliando tambm os desafios atualmente existentes para o desenvolvimento do trabalho do profissional do Servio Social na sade mental tendo como princpios a emancipao e autonomia e o desenvolvimento da cidadania do usurio da Poltica de Sade Mental. Palavras-chave: Sade Mental, Servio Social, Multidisciplinaridade, Interdisciplinar.

    1. INTRODUO

    A complexidade de algumas demandas sociais contemporneas requer a atuao de uma equipe multiprofissional, ou seja, a unio de diversas reas de conhecimento, a fim ampliar a capacidade tcnica de compreender a realidade, assim como, atender as demandas apresentadas. J a interdisciplinaridade exige mais que a presena de diferentes profissionais, mais, uma mudana de posturas na relao entre os mesmos, a fim de, no apenas compartilhar experincias, mas se completarem e cooperarem em busca da melhor soluo das demandas apresentadas.

    O assistente social sendo um profissional que atua junto as mais diversas expresses da questo social nos espaos scio ocupacionais, exerce o papel que busca a humanizao do atendimento tendo como objetivos a garantia de direitos e efetivao da cidadania. Nas equipes de sade o assistente social ganhou maior espao a partir da constituio 1988 onde a sade passou a ser reconhecida como direto universal. Nesse contexto utilizando-se de seu conhecimento terico-metodolgico, deve articular aos demais profissionais da equipe de sade a fim de formular estratgias para a consolidao dos direitos sade.

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    No campo da sade mental o assistente social deve direcionar sua atuao na perspectiva de contribuir para a eliminao do histrico preconceito associado loucura, romper com o conceito de aprisionamento, fortalecer os espaos de participao dos doentes mentais, estabelecer a mediao tornando-se uma ponte entre a famlia e a equipe, a fim de, obter uma viso mais ampla dos fatos, e atuar na perspectiva de garantia de direitos e promovendo o fortalecimento dos vnculos familiares das pessoas com sofrimento mental. Sendo assim, a pergunta norteadora deste trabalho : Quais so os motivos que levam o distanciamento dos familiares das pessoas em sofrimento mental e por vezes at o abandono?

    A sade mental atualmente tem se encontrado de forma extensa em divulgaes, entretanto sem muito aprofundamento no assunto. Infelizmente nos deparamos com uma srie de preceitos do senso comum, sendo possvel perceber a falta de informao quanto ao assunto sade mental. Sendo a sociedade a que impe o conceito de normalidade, as pessoas buscam serem aceitas, e as que apresentam alguma caracterstica considerada anormal, no caso as pessoas com transtornos psquicos, essas so marginalizadas tendo como decorrncia o desamparo e a rejeio de familiares e amigos.

    A escolha do tema deste trabalho se justifica a partir das inquietaes que perpassaram devido o contato direto com a rea de sade mental. Diante da reflexo do tema percebe-se tambm a necessidade de contribuir com o meio acadmico atravs desta pesquisa, a fim de fomentar a discusso sobre o tema trazendo aspectos pertinentes a proteo e os direitos das pessoas com transtornos mentais que reformula o modelo assistencial em sade mental. Percebe-se ainda a oportunidade de contribuir com a promoo dessa problemtica tonando mais acessvel o assunto a fim de contribuir com sensibilizao da sociedade quanto importncia do apoio familiar aos pacientes em sofrimento mental do Instituto de Previdncia dos Servidores do Estado de Minas Gerais (IMPSEG).

    Essa pesquisa tem como objetivo geral salientar a importncia da presena do profissional de servio social nas equipes multidisciplinares, interdisciplinares de sade mental. Os objetivos especficos consistem em verificar a importncia da famlia na recuperao e incluso dos portadores de sofrimento mental que esto em tratamento no IPSEMG. Pretende-se ainda, analisar de que forma o assistente social contribui dentro das equipes multidisciplinares e interdisciplinares de sade mental, na perspectiva de fortalecimento dos vnculos familiares das pessoas em situao de sofrimento mental.

    A temtica sade mental se caracteriza um trabalho complexo requerendo uma multidisciplinariedade e interdisciplinaridade, onde o assistente social atua nas diversas demandas que surgem na assistncia sade. H necessidade de consolidar servios j existentes para que possa ser qualificada a ateno aos pacientes de sade mental com uma integrao imprescindvel da famlia e sociedade visa contribuir para o fortalecimento da cidadania da pessoa como um dos essenciais focos do tratamento a essas demandas. Sendo essa uma de vrias estratgias que esto disposio dos profissionais de sade, estado e populao.

    Entender a relevncia da necessidade da discusso deste assunto e sua efetiva aplicabilidade essencial para que se possa obter outro olhar para os pacientes de sade mental no somente dentro das instituies de sade mental, mas reinseri-las no convvio familiar e comunitrio. A superao deste desafio poder assim ser o incio do reconhecimento da pessoa em condio de sade mental como cidado de direitos para a sociedade em que est inserido.

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    2. DESENVOLVIMENTO

    2.1. AO MULTIDISCIPLINAR E INTERDISCIPLINAR

    Devido complexidade que perpassam das demandas na sociedade contempornea faz-se necessria uma iterao de diferentes reas de formao profissional a fim de realizar a leitura das demandas e problemticas dessas realidades, na perspectiva de garantir a integralidade nos atendimentos das aes e servios. Nessa conjuntura envolvem duas temticas essenciais a interdisciplinaridade e a multidisciplinaridade.

    A multidisciplinaridade pode ser entendida como a participao de disciplinas distintas, tcnico ou cientfico a fim de intervirem em uma mesma demanda, no entanto, nessa equipe existe uma relao lado a lado, que deve ser estimulada e coordenada pela instituio. Desta forma se tem a realidade analisada a partir de vrias disciplinas culminando em diversas percepes sem a necessidade de estarem interligadas, ou seja, cada profissional vai fazer o que estiver dentro da sua rea de formao a fim de proporcionar o bem estar do paciente (BOSIO 2009).

    A interdisciplinaridade se caracteriza pela interao de duas ou mais disciplinas de forma no fragmentada, atuando em conjunto, focados na mesma finalidade, cada profissional com suas habilidades e conhecimentos distintos promovendo a troca de conhecimentos, a fim de se chegar a um consenso final. Segundo Oliveira et. al., 2011 pg. 33:

    Assim, a interdisciplinaridade deve ser entendida como um processo em construo; uma postura profissional que envolve capacidade de cooperao, respeito diversidade, abertura para o outro, vontade de colaborao, dilogo, humildade e ousadia. No algo que se aprende somente em sala de aula, pois est inerente ao ntimo de cada profissional.

    Percebe-se que o trabalho desenvolvido a partir das equipes multiprofissionais e interdisciplinares busca proporcionar alternativas que vo alm da analise superficial, mas, prope a compreenso dos fatos em toda a sua complexidade a partir de diferentes anglos do conhecimento. Apesar da definio distinta para multidisciplinar e interdisciplinar essas percepes fazem referencia a modo de funcionamento das equipes, ou seja, as equipes no so estticas, mas, dinmicas e podem atuar ora de forma estratificada ora de forma integrada (GALVAN, 2007).

    A interdisciplinaridade e a multidisciplinaridade so duas temticas que vem sendo muito utilizadas nas equipes de sade, embora tenham definies diversificadas esses conceitos sugerem uma relevante mudana na forma de atendimento ao paciente, pois, entende-se que o bem estar do ser humano configura-se no bom funcionamento de todas as reas fsica mental e social. Nesse sentido Oliveira, et. Al. 2001 pg.31 pontua que: O setor sade chamado a responder a uma pluralidade de necessidades e especificidades, s transies e mudanas ocorridas, centrando-se no ser humano, individual ou coletivo.

    2.2. HISTRICO DA SADE MENTAL

    O tema sade mental vem ao longo dos anos passando por vrias modificaes, dentre elas a estigmatizao de um individuo distinguido como louco causando a sua excluso no meio social, dificultando assim o exerccio de sua

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    cidadania. A anlise da historicidade da sade mental, conforme relata Torre e Amarante (2001) caracteriza-se pela medida em que a humanidade foi se desenvolvendo, ou seja, para cada grupo cultural as questes relacionadas sade mental eram tratadas conforme a sensibilizao do problema, sendo este representado como particularidade de cada cultura. Pode- se relatar que na Antiguidade as crianas que nascessem ou desenvolvessem algum tipo de doenas definida pela sociedade como anormal eram abandonas.

    No perodo da Idade Mdia de acordo com Silveira e Braga (2005) ainda era existente a excluso do louco. A loucura no era vista em sua totalidade e complexidade, nem promovia o interesse em estudos especficos, assim eram criados estabelecimentos que tinham como internos os indivduos retirados do convvio social do qual no se adaptavam.

    Silveira e Braga (p. 593, 2005) descrevem:

    o sculo XVIII que vem, definitivamente, marcar a apreenso do fenmeno da loucura como objeto do saber mdico, caracterizand66 como doena mental e, portanto, passvel de cura. o Sculo das Luzes, onde a razo ocupa um lugar de destaque, pois atravs dela que o homem pode conquistar a liberdade e a felicidade. Ocorre valorizao do pensamento cientfico e em meio a esse contexto que ocorre o surgimento do hospital como espao teraputico. Entretanto, deve-se ter cuidado ao imprimir a esse acontecimento uma tica humanitria e altrusta, pois essa medicalizao do hospital no se deu visando uma ao positiva sobre o doente ou a doena, mas simplesmente uma anulao dos efeitos negativos do hospital. Para garantir seu funcionamento, o modelo hospitalar necessitava da instaurao de medidas disciplinares que viessem garantir a nova ordem. Assim, surge uma arte de delimitao desse espao fsico, onde so fundamentais os princpios de vigilncia constante e registro contnuo, de forma a garantir que nenhum detalhe escape a esse saber.

    No sculo XIX, o que a sociedade justificava como anormal eram repassados a polcia. Os loucos eram excludos e marginalizados, eram trancafiados nas Cadeias Pblicas, jogados prpria sorte, pois no se adequavam ao sistema, (...) sofriam (...) maus tratos, eram mantidos nos pores das Casas de Misericrdia (BREMER, 2006, p. 10.)

    No Brasil colnia, o sistema era de escravido e a fora de trabalho era com fins lucrativos de mercado, com valor de uso e de troca, portanto a sociedade no se intimidava com a loucura, pois tambm no a reconhecia como patologia. (SILVA, BARROS E OLIVEIRA, 2002, p. 6).

    Abordar temtica sade mental se tornou assunto de excluso, de recluso e asilamento. Atualmente essa realidade ainda persiste em nosso meio, entretanto, omitido e de certa forma menos exclusivo. Por no se admitir a excluso, corre-se o risco de no se admitir a diferena. Esta no pode ser negada, necessrio reconhec-la e conviver com ela sem ter que excluir, conforme a grande aspirao da reforma psiquitrica. (GONALVES e SENA, 2001, p. 49)

    No sculo XIX, Silva, Barros e Oliveira (2002), descrevem que o processo de industrializao chegava ao Rio de Janeiro, sendo tambm as cidades em processo de urbanizao. As doenas e epidemias nesta poca comearam intervir nos interesses econmicos e polticos. Portanto, o saneamento inicia-se com base em interditar a transio dos que no se enquadravam no perfil estabelecido pela sociedade. No inicio do sculo XX, no havia uma poltica mais centrada em sade mental, porm, a responsabilizao do Estado pela a questo social decorreu neste

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    sculo. Assim o modelo ainda de tratamento era a remoo e excluso, havia uma indicao clnica, o tratamento moral.

    Um dos marcos para a histria da sade mental conforme relata Gonalves e Sena (2001), no Brasil foi a reforma psiquitrica que ocorreu na dcada de 70 do sculo XX, onde diversos movimentos e questionamentos a atualidade da poca comearam a surgir, bem como criticas ao modelo psiquitrico, reformulando a prtica profissional, e elaborando propostas de transformao. A desistitucionalizao como tambm a substituio do manicmio por outros mtodos teraputicos, foi sendo estudado e proposto durante este perodo na sociedade e pelos prprios profissionais dessa rea.

    Foi se problematizando e se construindo questes e propostas de como se daria um tratamento completo direcionado aos que fossem diagnosticados como doentes mentais, a fim de desmitificar o que havia sido construdo ao longo dos anos pela sociedade.

    No manicmio coloca-se em funcionamento a regra, a disciplina e o tratamento moral para a reeducao do alienado, atravs do que se torna possvel a construo do conceito de uma subjetividade alienada, desregrada. Ao mesmo tempo, a instituio torna-se o lugar de tratamento e a institucionalizao, uma necessidade. (...) Clnica torna-se uma relao estratgica nos espaos sociais, e no o ato mdico ou psicoteraputico do espao do consultrio. Pode se exercer em diferentes pontos, heterogneos do campo social. (TORRE E AMARANTE, p. 76 e 78, 2001)

    Amaral (p. 294, 1997), afirma que:

    A implementao de uma nova poltica pblica, com as implicaes socioculturais da proposta da reforma psiquitrica brasileira passa pela necessidade de articulao intersetorial e por aes que contribuam para alterar as representaes sociais sobre a loucura e os direitos dos doentes mentais.

    Borges (2013), afirma que a partir da dcada de 70, configura-se uma, poca

    de extremas mudanas e reinvindicaes no Brasil a partir da expanso dos movimentos sociais, que tambm trouxeram criticas ao modelo de assistncia a sade mental, como maus tratos, mercantilizao da loucura entre outras questes. Em 1987, uma conferencia de sade mental, foi realizada no Rio de Janeiro, sendo criado tambm no mesmo ano o primeiro Centro de Ateno Psicossocial - CAPS, em So Paulo, transformando a ateno sade mental.

    Atravs de outro marco como a Constituio Federal de 1988, um novo sistema de sade foi criado, trabalhando de forma articulada com os gestores de cada poder, sendo federal, estadual e municipal; sob o poder do controle social exercido atravs dos conselhos comunitrios de sade. Em seu Artigo 196, declarado:

    A sade direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios para sua promoo, proteo e recuperao.

    Diante da Lei de No 10.216, de 6 de Abril De 2001, que dispe sobre a

    proteo e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em sade mental. Esta lei estimulou a construo de um

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    modelo humanizado de ateno integral na rede pblica de sade, que modificou o foco da hospitalizao como centro, ou nica possibilidade de tratamento aos pacientes.

    Conforme o Ministrio da Sade, publicado pelo Portal Brasil1 (2011): Entre os pontos de retrocesso esto a privatizao da sade, inclusive na rea da sade mental, com o crescente incentivo s comunidades teraputicas, e a internao compulsria. Por outro lado, pesquisadores e trabalhadores da rea reconhecem que tambm houve muitos avanos: ao longo destas quase trs dcadas, os investimentos do Ministrio da Sade mudaram da medicalizao para o tratamento, exemplo disso, a criao dos Centros de Ateno Psicossociais (Caps), alm da mudana de pensamento da populao que atualmente acredita em maneiras alternativas de cuidado com os pacientes de doenas mentais.

    Na sociedade atual ainda existe e persiste o preconceito, de forma a pensar que os considerados anormais so indivduos sem direitos, e que por isto devem ser presos, ou internados, retirando-lhe deles a cidadania. Infelizmente a doena mental ainda no analisada nem divulgada por inteiro como sendo parte da subjetividade de um individuo, ou seja, o mesmo deve ser entendido como normal dentro de seu prprio espao ou grupo de particularidades, visto como um portador de direitos especficos, no que tange a suas caractersticas. Rompendo com o senso comum e olhares sinuosos, na busca em divulgar o que realmente a doena mental, e suas especificidades. Conforme Rego e Amaral (2009), as doenas mentais podem ocorrer em perodos duradouros, bem como o individuo pode no necessariamente ter nascido com ela, porm a situao atual do ru pode ser diferente daquela do momento do crime, tambm relatam que a doena mental no afeta todas as funes psquicas, enquanto que outras das quais relacionadas com a doena esto inteiramente danificadas.

    Dentre algumas doenas mais conhecidas, a Associao de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares2, expe:

    Esquizofrenia: A Esquizofrenia uma doena mental grave e crnica que, sem tratamento, impossibilita a pessoa de se comportar normalmente na famlia, no trabalho e na comunidade. A pessoa que sofre de esquizofrenia pode falar incoerentemente, deixar de falar, ter respostas emocionais desadequadas, humor embotado ou neutro, ausncia de respostas emocionais ou perodos longos de exaltao ou depresso, ideias de perseguio e grandeza ou outras de contedo fantstico. Com um tratamento farmacolgico adequado, grande parte destes sintomas atenuam-se ou desaparecem. Perturbaes Ansiosas: H trs principais tipos de perturbaes ansiosas: Fobias; Perturbao de Pnico; Perturbao Obsessivo-Compulsiva. As pessoas com Fobias sentem imenso terror quando confrontadas com situaes especficas (estarem em locais superlotados ou terem de falar em pblico) ou com certos objetos (pontes ou animais, por exemplo). As fobias podem impedir a pessoa de ter uma vida normal, obrigando o indivduo a fazer adaptaes na Atividade diria, evitando essas situaes ou objetos. A Perturbao do Pnico caracterizada pelo aparecimento repentino de um sentimento de terror (pnico), sem causa aparente. Durante o ataque de pnico, a pulsao

    1 Disponvel em: http://www.brasil.gov.br/saude/2011/04/pais-mostra-avancos-na-assistencia-a-

    saude-mental-nos-dez-anos-da-reforma-psiquiatrica. Acesso em: 14 de out. de 2014. 2 A Associao tem como mbito todo o territrio nacional, abrange doentes, familiares, mdicos, psiclogos, enfermeiros, tcnicos de servio social e outros profissionais. Disponvel em: http://www.adeb.pt/pages/objectivos#sthash.2Q4EVPe4.dpuf. Acesso: 14 de out. de 2014.

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    aumenta, a respirao torna-se rpida e o doente pode suar ou ficar com vertigens. A pessoa passa a recear constantemente que as crises se repitam. Quem sofre de Doena Obsessivo-Compulsiva tem pensamentos repetitivos, persistentes, involuntrios, de contedo estranho ao Eu e a propenso a comportamentos ritualizados, que o doente no consegue controlar, tais como lavar constantemente as mos, verificar repetidas vezes, contar, arrumar entre outros.

    As doenas mentais so condies de anormalidade ou comprometimento de

    ordem psicolgica, mental ou cognitiva. Entretanto, para cada uma h uma particularidade, como os que desenvolveram patologias devido o uso excessivo de lcool ou outras drogas, ou desenvolveram em sua infncia, ou at mesmo nasceram com determinada doena. Portanto, a atuao do profissional de Servio Social no pode ser focalizada a atender somente um aspecto, mas sim toda a discusso biopsicossocial do usurio. (BREMER, p. 31, 2006)

    2.3. SADE MENTAL E FAMILIA

    no ambiente familiar que se expressa o sentido de cuidado e proteo dos indivduos considerados dependentes, sejam elas crianas, adolescentes, idosos ou qualquer em condies de sade mental. Assim tendo em vista esta responsabilizao implicada famlias automaticamente surgem consequncias e danos ao bem estar deste ambiente.

    Segundo Bandeira e Barroso (2005, p. 39) h na literatura da rea, portanto, evidncias de que a sobrecarga sentida pelos familiares de doentes mentais pode resultar em consequncias negativas para a sua sade mental, diminuindo assim sua qualidade de vida.

    Como agravante a esta situao a sociedade traz uma excluso desses indivduos os tendo como incapazes, como fardo e totalmente dependentes. Diante desta questo afirmam Spadini e Souza (2006, p.124): A estigmatizao da loucura, isto , crtica, a censura, a classificao da loucura gera no doente uma perda de sua cidadania, por meio de ataques preconceituosos e vexatrios sendo segregado da sociedade. Neste ponto no sentira este peso somente o indivduo, mas o seu meio, sua famlia. O preconceito ultrapassou dcadas, culturas, civilizaes e no foi extinguido, mas foi se modificando com o passar do tempo.

    Diante deste cenrio de segregao a famlia comea ganhar espao nas discusses referentes s pessoas em situao de sofrimento mental, pois trabalha-las somente at ento no trouxe resultados necessrio o enlace com as famlias. Nessa perspectiva o Ministrio de sade (2005, p.33) reafirma:

    Usurios e familiares passam a entrar na cena do debate poltico, e empoderam-se como atores e protagonistas da Reforma e da construo de uma rede substitutiva de servios. A II Conferncia Nacional de Sade Mental, realizada em 1992, marca a participao expressiva, pela primeira vez na histria, de usurios dos servios de sade mental e seus familiares.

    Este pode ser considerado o incio para mudar a at ento a situao em que as famlias e o pacientes se encontravam. Entretanto como todo comeo a seus desafios e fracassos. Bandeira e Barroso (2005) relatam que no foram desenvolvidos mecanismos de apoio necessrios e eficiente s famlias no que diz respeito ao acompanhamento cotidiano dos pacientes na comunidade em especial nos casos dos que sofrem de distrbios mais graves e persistentes. Como afirma

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    Guedes et. al. (2010): este trabalho exige a construo efetiva de redes de cuidado de servios entre diferentes setores sociais, envolvendo toda sociedade cada um com suas diferentes estratgias de cuidado visando a sociabilidade do indivduo.

    Pois se no mais aceitvel estigmatizar, excluir e recluir os loucos, tambm no se pode reduzir a reforma psiquitrica devoluo destes s famlias, como se estas fossem, indistintamente, capazes de resolver a problemtica da vida cotidiana acrescida das dificuldades geradas pela convivncia, pela manuteno e pelo cuidado com o doente mental (GONALVES; SENA, 2001, p.51).

    Envolver a famlia a rede de atendimento aos pacientes de sade mental alivi-los da total responsabilidade que lhe era imposta. Pode-se citar algumas consequncias geradas pela responsabilizao unilateral da famlia como a adeso dos pacientes ao medicamento vivenciado cotidianamente pelos familiares. Outras situaes so explicitadas por Bandeira, Barroso(2005): A agresso, fsica e verbal dos pacientes contra seus familiares, algumas vezes o uso de lcool e drogas agravam a convivncia familiar e ainda o dcit dos pacientes no desempenho das atividades do cotidiano interfere diretamente na formao de sua autonomia, consequentemente gerando aumento de sua dependncia das pessoas da famlia.

    Segundo Pereira (2003, p. 81):

    (...) a problemtica da convivncia com a doena mental no contexto familiar, gerando relaes conflituosas e muitas vezes desagregadoras, das quais emerge a questo do fardo imputado famlia. Frequentemente aparece, nos casos estudados, a mulher (em geral a me), como cuidadora, ou seja, aquela que assume o tratamento, os cuidados bsicos, a ateno para com o portador do transtorno mental, mesmo quando se sente cansada e com poucos aportes.

    Essa precariedade deixam as famlias com a alternativa de assumir, elas mesmas, a tarefa de fornecer ao paciente esse acompanhamento intensivo, sem no entanto estarem preparadas para fazer isso (BANDEIRA e BARROSO 2005). Aps o incio da participao das famlias no processo de atendimento aos pacientes de sade mental se obtm maior qualidade neste novo processo. Segundo o Ministrio da Sade (2005) frente a este cenrio organizados em associaes, usurios e familiares passam a participar, discutir os equipamentos de sade gerando uma discusso no campo da Reforma Psiquitrica que ultrapassa o campo tcnico dos servios existentes que apresentam diculdades em fornecer um atendimento completo, integrado e sucientes aos pacientes e suas famlias.

    Para Bandeira e Barroso (2005, p.35):

    Os servios comunitrios de sade mental em vrios pases tm sido frequentemente considerados insucientes e fragmentados e tm enfrentado diculdades em fornecer um atendimento que ajude efetivamente os pacientes a viverem de forma satisfatria na comunidade, o

    que afeta diretamente as suas famlias.

    H a necessidade de ser ter foco no resgate da cidadania do sujeito em condio de sade mental. Dentro desta perspectiva Guedes et al. (2010) diz que alguns mecanismos como os Servios Residenciais Teraputicos (SRT) que visam a desistitucionalizao so necessrio para proporcionar muito alm da moradia, mas o viver na cidade, pois estes no so precisamente servios de sade, mas ambientes para viver, morar e que devem estar articulados com a rede de ateno psicossocial proporcionando assim suporte na reabilitao psicossocial.

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    Gonalves e Sena (2001, p.51) pontuam que:

    Evidencia-se, tambm, a tendncia dos rgos formadores em manter a doena mental como um fenmeno biolgico ou um desvio sobre os quais o profissional sabe e pode intervir a despeito da singularidade e subjetividade do sujeito/doente mental, do sujeito/ famlia e do sujeito/comunidade. Tambm no so valorizadas as mltiplas determinaes sociais, econmicas, polticas, culturais e religiosas,

    individuais e coletivas.

    O comprometimento na atuao dos profissionais de sade dentro do processo de reabilitao psicossocial dos pacientes de doena mental e suas famlias estratgico para a mudana na assistncia sade mental reconstruindo o exerccio de cidadania. Para Guedes et al. (2010) esta mudana tem em vista a superao do modelo hospitalocntrico e segregador trazendo desafios na implementao da forma de cuidar em liberdade sendo este indivduo dotado de potenciais vendo a liberdade como bem maior.

    A sade, sendo percebida como recurso para a produo de vida diria dos usurios, exige novos modos de tratar e de acolher o sujeito em sofrimento, principalmente o portador de transtorno mental, na sua vida diria e em seu espao comunitrio. Desse modo, a unidade bsica tornou-se fundamental para esse tipo de acompanhamento (DIMENSTEIN, 2009, p.65).

    Ainda segundo relatos de Guedes et al. (2010, p.551):

    Sendo assim, no espao de cuidados, a criao e a manuteno do ambiente teraputico e da interao profissional-doente fazem-se constantes sendo de responsabilidade da equipe interdisciplinar que atende nos servios extra-hospitalares. Portanto, fica evidente a modificao de postura do profissionais para uma abordagem holstica, considerando a individualidade do ser humano, o contexto de sade e doena em que ele est inserido, o relacionamento interpessoal, permeando a coparticipao no processo da reabilitao e a promoo do autocuidado como forma de responsabilizar o sujeito pela sua sade.

    Diante deste cenrio importante ressaltar e salientar que na atualidade o

    desafio no s de avanar nas conquistas, mas considerar as j alcanadas e que de alguma forma visam o tratamento e a qualidade de vida dos pacientes em condies de doenas mentais. Com isso ainda Guedes et al. (2010) refere que em uma viso macropoltica est necessidade elaborao de polticas pblicas que deliberem e possibilitem aos servios a articulao com atores fora de seus domnios para a construo de redes em constante dilogo nos diversos espaos em que cada usurio ir se inserir e constri sua vida de modo a garantir o cuidado de acordo com as necessidades especficas de sade de cada usurio.

    Gonalves e Sena (2001, p.54) relatam:

    A ocorrncia de uma contradio importante entre as propostas da reforma psiquitrica e a devoluo ou manuteno do doente mental na famlia pde ser confirmada. O doente mental est sendo entregue famlia sem o devido conhecimento das reais necessidades e condies da famlia, especialmente das cuidadoras em termos materiais, psicossociais, de sade e qualidade de vida, aspectos estes profundamente interligados.

    No entanto Guedes et al. (2010) diz que essa busca pela reafirmao dos ideais modernos de igualdade e o cuidar em liberdade gera alguns impasses como,

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    o aumento da demanda de usurios, alocao de recursos financeiros do SUS, necessidades de qualificao do cuidado e formao profissional em sade mental, assim como a rejeio a esse servio.

    Para Dimenstein (2009, p.71):

    (...) a perspectiva de um atendimento efetivo para as demandas em sade mental na unidade bsica vislumbrada como necessria, entretanto, um trabalho articulado entre essa instituio e o servio especializado no percebido ainda. Isso acontece porque, tradicionalmente, o modelo hierarquizado de atendimento em sade produziu uma fragmentao e burocratizao na formas de relacionamento entre os servios, instituindo formas de se conceber e de se intervir, acarretando uma desresponsabilizao em detrimento da corresponsabilizao entre profissionais e servios de sade.

    Pereira e Junior (2003) apontam os Ncleos de Ateno Psicossocial (NAPS) como ferramenta importante no acompanhamento dos paciente e das famlias, pois tm desenvolvido formas de assistncia voltadas para as necessidades dos pacientes incluindo a ateno a grupos de familiares dos pacientes, sendo estes coordenados por membros das equipe multidisciplinar em sade.

    Em relao ao Sistema nico de Sade tem-se os protagonistas deste processo tais como os gestores do SUS, os trabalhadores em sade, e principalmente os usurios e os familiares dos Centros de Atendimento Psicossociais (CAPS) e de outros servios substitutivos protagonismo estes insubstituveis (MINISTRIO DA SADE 2005).

    De acordo com Guedes et al. (2010) a implementao dos Servios Residenciais Teraputicos (SRT) foi um grande avano para a qualidade de vida dos usurios de sade mental abarcando tambm suas famlias, pois a integralidade na atividade coletiva e social de suma importncia, onde Integrar fazer rede, ampliar, fazendo valer uma poltica das relaes e de qualidade. nessa perspectiva Pereira (2003, p.) afirma:

    (...) que a sade mental deve ser entendida, como um campo de interveno prioritrio tambm para as equipes do Programa de Sade da Famlia (PSF), pois tm a potencialidade de: atuar no s na unidade, mas no espao social onde a comunidade vive e circula; estabelecer vnculos de compromisso e corresponsabilidade com a populao; trabalhar norteados por uma perspectiva ampliada sobre os modos de vida, de sade e doena articulada ao contexto familiar e cultural; intervir sobre fatores de risco aos quais a comunidade est exposta sendo os transtornos mentais um dos mais evidentes por meio de parcerias estabelecidas com diferentes segmentos sociais e institucionais, visando interferir em situaes que transcendem a especificidade do setor sade e tm efeitos determinantes sobre as condies de vida e sade dos indivduos- famlias-comunidade.

    Dentro dos conceitos explicitados entender a necessidade de refletir e elaborar coletivamente sobre os problemas e sentimentos advindos desta situao propiciam o reconhecimento de novas possibilidades de enfrentamento junto as famlias, as polticas, a sociedade e os pacientes portadores de doenas mentais. Sob esta perspectivas o trabalho de assistncia junto famlia ainda um desafio na ampla rede de atendimento s questes referentes sade mental, pois ainda a uma desarticulao entre as esferas sociais, sendo necessrio a interferncia da atuao de um profissional qualificado, tendo como base de seu projeto tico poltico a emancipao humana visando o dilogo para que seja realizado um atendimento

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    integral e qualificado para a manuteno da qualidade de vida dos pacientes e suas famlias.

    2.4. PAPEL DO ASSISTENTE SOCIAL NA EQUIPE DE SADE MENTAL

    O Assistente Social um profissional que possui formao para atuar nas diversas realidades, a sade mental uma das reas em que o profissional de servio social encaixa perfeitamente, pois, abrange vrios aspectos, trazendo muitos impasses para as equipes multidisciplinares, desta forma, essencial a presena de um profissional capacitado para realizar uma analise conjuntural e encontrar alternativas para superao dessas realidades apresentadas (LEME3, 2013, citado por SCHEFFER e SILVA, 2014, p 374.).

    Segundo LIMA, 2004 na dcada de 1940 foi desenvolvido na cidade do Rio de Janeiro um modelo de abordagem na rea da sade mental denominada de Nice da Silveira que posteriormente influenciou a prtica do Assistente Social nessa rea, nesse sentido o autor se refere s oficinas teraputico-expressivas. Esses tratamentos eram realizados em asilos, no entanto, haviam atividades exteriores que tinham como objetivo estimular o desenvolvimento pessoal do doente mental.

    Posteriormente ainda na dcada de 1940 o Servio Social comeou a ganhar fora na temtica de sade mental no Brasil. Surge ento uma nova forma de interveno. Os Assistentes Sociais passaram a ocupar os hospitais psiquitricos incorporado nas equipes de profissionais que eram coordenadas por mdicos e profissionais que no possuam formao universitria. Os atendimentos eram feitos por pequenas equipes denominadas de uniprofissionais, onde prevalecia a autonomia do mdico e da direo da instituio. As equipes eram situadas na porta de entrada e sada entre as atribuies profissional se encontrava; levantamento de dados sociais para priorizao das demandas, comunicao com familiares para alta do paciente, elaborao de atestados sociais, encaminhamentos, entre outros (VASCONCELOS, 2002).

    Na dcada de 1960 surgiu um novo modelo de atendimento as demandas da sade mental as comunidades teraputicas que perduraram at o inicio de 1970, elas foram consideradas com um avano e serviram para referenciar os profissionais que atuavam na rea da sade mental a participao do Assistente social. Nesse modelo os Assistentes Sociais utilizava-se de tcnicas coletivas como grupos teraputicos, operativos, assembleia, entre outros. Havia uma maior abertura para a interao da famlia buscando a humanizao dos atendimentos de sade mental (LIMA, 2004).

    Ainda de acordo com Lima, 2004, as comunidades teraputicas trouxeram inovaes no que se refere a relao dos profissionais da equipe. Fomentou o questionamento quanto as funes de cada trabalhador da rea e das relaes de poder entre eles principalmente eliminando a superioridade do mdico na equipe proporcionando o carter interdisciplinar nas equipes de sade mental. Desta forma essas mudanas refletiram positivamente em uma interveno mais profunda com a

    3 LEME, Carla Cristina Cavalcanti Paes. O assistente social na sade mental, um trabalho diferenciado, uma prtica indispensvel. Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ, 2013.

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    aproximao da famlia a fim de promover a reinsero do paciente no meio familiar e comunitrio.

    A Reforma Psiquitrica e a Reforma Sanitria ocorridas na dcada de 1970, trouxe um novo conceito de sade que passa a ser reconhecida como base fundamental na sociedade. Nesse contexto os profissionais da rea da sade mental tambm passam a atuar de forma mais comprometida a com foco em garantir a dignidade e atendimento humanizado e baseando se nos direitos sociais j conquistados na poca (PEREIRA E GUIMARES, 2013).

    Segundo Bisneto 2009, citado por (Pereira e Guimares, 2013 pg. 5),

    Dessa forma, a Reforma Psiquitrica trouxe uma abertura muito grande para a atuao do Servio Social na sade mental, devido a formao social e poltica desse profissional. Esse Movimento influenciou o agir profissional, que passa a dar novos encaminhamentos metodolgicos ao trabalho profissional, com a possibilidade de o assistente social intervir de forma

    efetiva nas expresses da questo social no campo da sade mental.

    O movimento da Reforma Psiquitrica trouxe importantes mudanas em relao postura dos profissionais envolvidos nessa temtica, dentre outras, as aes desenvolvidas no mbito da sade mental deveriam ser baseadas no trabalho grupal e em equipe promovendo a multidisciplinariedade e a interdisciplinaridade a fim de oferecer ao paciente um atendimento integralizado sendo avaliado em todos os aspectos e no apenas na percepo do mdico (VASCONCELOS, 2002). Nesse cenrio a participao do Assistente Social nas equipes de sade mental configura-se para o paciente como um importante instrumento de acesso aos direitos, pois, um profissional capacitado a orientar e informar, promovendo a aproximao das fontes onde possa efetivar esses direitos. Sua atuao caracterizada pela viso crtica que questiona o cotidiano institucional no intuito de promover o melhor funcionamento da equipe a fim de atender as necessidades dos usurios dos servios de sade mental (ROSA e MELO, 2009).

    Ainda nessa temtica, Rocha e Gimenez, 2010, pontuam que uma das principais caractersticas do Assistente Social nesse contexto transformar em um elo de ligao, entre o paciente, os familiares e a equipe tcnica, uma vez que, possui capacitao terica metodolgica que lhe proporciona uma viso conjuntural desta forma pode facilitar a integrao e o desenvolvimento do trabalho.

    Portanto, a atuao do profissional de servio social no mbito da sade mental de grande importncia e no se realiza sozinha, mas, a atuao se efetiva em interao com outras reas do conhecimento, na perspectiva de recuperao, integrao no mbito familiar assim como em todos os aspectos de sua vida social. Sendo assim faz-se necessrio um profissional com capacidade de realizar a analise conjuntural a realidade incluindo todos os mbitos da situao, usurios, familiares, equipamentos institucionais e tambm uma anlise das questes polticas, econmicas, sociais e ideolgicas que permeiam a dimenso da instituio, a fim de buscar uma melhor prestao de servios aos usurios de Sade Mental, bem como assistncia e o fortalecimento dos vnculos familiares (OLIVEIRA,2010).

    3. APRESENTAO E ANLISE DE DADOS

    A primeira seo deste item apresenta o entrevistado e descreve a instituio pesquisada. Caracterizando-a quanto ao tipo de servio prestado e tratamentos oferecidos. Na segunda seo, ser feita a anlise de dados, atravs de discusso e

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    comparao entre dados do referencial terico deste trabalho e as opinies mais relevantes da entrevistada. Sero utilizados nomes fictcios no intuito de preservar do sujeito de pesquisa, a assistente social atuante no Hospital Governador Israel Pinheiro, situada na Alameda Ezequiel Dias 225, Bairro Centro, Belo Horizonte/MG. executado neste Hospital atendimento s pessoas em condio de doena mental que esto em crise, tem como objetivo a estabilizao dos pacientes para retomada do tratamento ambulatorialmente e reinseri-lo no ambiente familiar e social, a superao desta situao e o retorno s suas atividades cotidianas.

    3.1. ANALISE DE DADOS

    De acordo com Bosio (2009) A multidisciplinaridade pode ser entendida como a participao de vrias disciplinas distintas, tcnico ou cientfico a fim de intervirem em uma mesma demanda, no entanto nessa equipe existe uma relao lado a lado, que deve ser estimulada e coordenada pela instituio. Neste sentido afirma a assistente social entrevistada que a ao multiprofissional de suma importncia em todas as reas, essencial no que diz respeito sade como um todo especificamente sade mental. A multidisciplinariedade nesta instituio se d atravs dos profissionais da enfermagem com seus tcnicos e auxiliares, Mdicos psiquiatras e seus residentes, Nutricionistas, Assistentes Sociais, Psiclogos Secretrios Administrativos entre outros.

    Em relao a interdisciplinaridade segundo Oliveira et. al. (2011) ela se caracteriza pela interao de duas ou mais disciplinas de forma no fragmentada, atuando em conjunto, focados na mesma finalidade, cada profissional com suas habilidades e conhecimentos distintos promovendo a troca de conhecimentos, a fim de se chegar a um consenso final. A entrevistada relata que a interdisciplinaridade est ligada multiprofissionalidade, pois necessrio o conhecimento tcnico de cada profissional para que haja uma discusso dos casos atendidos levando a uma ao conjunta no diagnostico ou possvel tratamento para cada caso.

    Apesar da definio distinta para multidisciplinar e interdisciplinar essas percepes fazem referncia a modo de funcionamento das equipes, ou seja, as equipes no so estticas, mas, dinmicas e podem atuar ora de forma estratificada ora de forma integrada (GALVAN, 2007). Assim afirma a Assistente Social cada profissional traz informaes que contribuem para definio do tratamento dos pacientes. Os exames realizados e seus resultados direcionam para ao diagnstico final para adequar o tratamento a ser feito.

    Nesse sentido Oliveira, et. Al. (2001 pg.31) pontua que: O setor sade chamado a responder a uma pluralidade de necessidades e especificidades, s transies e mudanas ocorridas, centrando-se no ser humano, individual ou coletivo. Segundo a entrevistada o perfil dos pacientes que buscam atendimento nesta instituio so diversos como etilistas, drogaticios, pacientes com distrbios mentais, depresso, sendo em demandas voluntrias e involuntrias. Afirma ainda a desproporo de gnero a ser atendido justamente devido especificidades que levaram ao atendimento.

    Por no se admitir a excluso, corre-se o risco de no se admitir a diferena. Esta no pode ser negada, necessrio reconhec-la e conviver com ela sem ter que excluir, conforme a grande aspirao da reforma psiquitrica. (GONALVES e SENA, 2001, p. 49). A Assistente Social entrevistada diz que a reforma psiquitrica trouxe mudanas ao tratamento das pessoas com doena mental por no haver internaes por longos perodos e o acesso ao tratamento ambulatorial, reinserindo

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    o indivduo ao seu meio. Silva, Barros e Oliveira (2002), descreve que no incio do sculo XX, no havia uma poltica mais centrada em sade mental, porm, a responsabilizao do Estado pela questo social decorreu neste sculo. Assim o modelo ainda de tratamento era a remoo e excluso, havia uma indicao clnica, o tratamento moral.

    Um dos marcos para a histria da sade mental conforme relata Gonalves e Sena (2001), no Brasil foi a reforma psiquitrica que ocorreu na dcada de 70 do sculo XX, onde diversos movimentos e questionamentos a atualidade da poca comearam a surgir, bem como crticas ao modelo psiquitrico, reformulando a prtica profissional, e elaborando propostas de transformao. Amaral (p. 294, 1997), afirma que a implementao de uma nova poltica pblica com as implicaes socioculturais da proposta da reforma psiquitrica brasileira passa pela necessidade de articulao intersetorial. Diante disto a entrevistada reafirma a importncia da reforma disponibilizando atendimento ambulatorial com instrumentos como CAPS/CERSAM, das terapias ocupacionais, acompanhamento com psiclogos, entre outros que englobam o tratamento ambulatorial.

    Borges (2013) afirma que em 1987, uma conferncia de sade mental, foi realizada no Rio de Janeiro, sendo criado tambm no mesmo ano o primeiro Centro de Ateno Psicossocial - CAPS, em So Paulo, transformando a ateno sade mental. Atravs de outro marco como a Constituio Federal de 1988, um novo sistema de sade foi criado, trabalhando de forma articulada com os gestores de cada poder, sendo federal, estadual e municipal. No decorrer das dcadas ocorreram outros avanos no tratar do pacientes de sade mental que criado a Lei de No 10.216, de 6 de Abril De 2001, que dispe sobre a proteo e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em sade mental. Esta lei estimulou a construo de um modelo humanizado de ateno integral na rede pblica de sade, que modificou o foco da hospitalizao como centro, ou nica possibilidade de tratamento aos pacientes.

    Conforme Rego e Amaral (2009), as doenas mentais podem ocorrer em perodos duradouros, bem como o indivduo pode entrar em crise em outras etapas da sua vida, no necessariamente nascendo com ela, e a situao atual do ru pode ser diferente daquela do momento do crime. Diante desta complexidade que a entrevistada relata que no h como mensurar a proporo de pacientes que buscam atendimento no IPSEMG uma vez que cada indivduo com sua particularidade entraro em crise em determinado momento, passando por determinadas situaes.

    Segundo Bandeira e Barroso (2005, p. 39) h na literatura da rea, evidncias de que a sobrecarga sentida pelos familiares de doentes mentais pode resultar em consequncias negativas para a sua sade mental, diminuindo assim sua qualidade de vida. Nesta perspectiva a entrevistada relata que por os atendimentos serem prestados somente aos pacientes o retorno ao ambiente familiar fica a cargo dos familiares, tanto no acompanhamento do tratamento, quanto na responsabilizao das famlias pelos mesmos. Pois se no mais aceitvel estigmatizar, excluir e recluir os loucos, tambm no se pode reduzir a reforma psiquitrica devoluo destes s famlias, como se estas fossem, indistintamente, capazes de resolver a problemtica da vida cotidiana acrescida das dificuldades geradas pela convivncia, pela manuteno e pelo cuidado com o doente mental (GONALVES; SENA, 2001, p.51).

    Segundo a Assistente Social entrevistada no IPSEMG as famlias so orientadas pela equipe multiprofissional a como lidar com os pacientes aps a alta

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    hospitalar. So informaes como locais para acompanhamento psicossocial, datas marcadas para retornos psiquitricos, psicolgicos e outras especialidades. Envolver a famlia a rede de atendimento aos pacientes de sade mental alivi-los de algumas consequncias geradas pela responsabilizao unilateral da famlia como a adeso dos pacientes ao medicamento que vivenciado cotidianamente pelos familiares. Outras situaes so explicitadas por Bandeira, Barroso(2005): A agresso, fsica e verbal dos pacientes contra seus familiares, algumas vezes o uso de lcool e drogas agravam a convivncia familiar e ainda o dcit dos pacientes no desempenho das atividades do cotidiano interfere diretamente na formao de sua autonomia, consequentemente gerando aumento de sua dependncia das pessoas da famlia.

    Essa precariedade deixam as famlias com a alternativa de assumir, elas mesmas, a tarefa de fornecer ao paciente esse acompanhamento intensivo, sem no entanto estarem preparadas para fazer isso (Bandeira e Barroso 2005). Como nos afirma a entrevistada que este interfere no tratamento dos pacientes uma vez que necessrio reforar com as famlias a importncia da presena da mesma no acompanhamento do tratamento do paciente, pois a famlia parte essencial no cuidado permanente, mesmo que seja aplicado a esta a responsabilidade de estabilidade do mesmo. Segundo o Ministrio da Sade (2005) frente a este cenrio organizados em associaes, usurios e familiares passam a participar, discutir os equipamentos de sade gerando uma discusso no campo da Reforma Psiquitrica que ultrapassa o campo tcnico dos servios existentes que apresentam diculdades em fornecer um atendimento completo, integrado e suciente aos pacientes e suas famlias.

    A sade, sendo percebida como recurso para a produo de vida diria dos usurios, exige novos modos de tratar e de acolher o sujeito em sofrimento, principalmente o portador de transtorno mental na sua vida diria e em seu espao comunitrio (DIMENSTEIN, 2009, p.65). Com isso ainda Guedes et al. (2010) refere que em uma viso macropoltica est necessidade elaborao de polticas pblicas que deliberem e possibilitem aos servios a articulao com atores fora de seus domnios para a construo de redes em constante dilogo nos diversos espaos em que cada usurio ir se inserir e constri sua vida de modo a garantir o cuidado de acordo com as necessidades especficas de sade de cada usurio. De acordo com relatos da entrevistada na enfermaria psiquitrica do IPSEMG o tratamento do paciente acontece de acordo com suas especificidades, com atendimentos dirios com psiquiatras, psiclogos, com Assistentes Sociais, checagem dos dados vitais realizado pelos enfermeiros e tcnicos, sendo quando necessrio solicitados interconsulta que so atendimentos de outras especialidade visando diagnosticar e elaborar o tratamento mais adequado ao paciente. Ainda segundo a entrevistada necessrio que a equipe multiprofissional esteja inteirada do histrico do paciente, onde estas informaes so conseguidas atravs de entrevistas realizadas com as famlias dos pacientes.

    A entrevistada relata que ainda h alguns desafios a serem superados em relao a interdisciplinaridade uma vez que um profissional depende da colaborao do outro para a concluso do atendimentos e para contatos com outras esferas distintas do IPSEMG e que so necessrio ao tratamento ps alta dos pacientes. Pereira e Junior (2003) apontam os Ncleos de Ateno Psicossocial (NAPS) como ferramenta importante no acompanhamento dos paciente e das famlias, pois tm desenvolvido formas de assistncia voltadas para as necessidades dos pacientes

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    incluindo a ateno a grupos de familiares dos pacientes, sendo estes coordenados por membros das equipe multidisciplinar em sade.

    Todavia a sociedade traz uma excluso desses indivduos os tendo como incapazes, como fardo e totalmente dependentes. Diante desta questo afirmam Spadini e Souza (2006, p.124): A estigmatizao da loucura, isto , crtica, a censura, a classificao da loucura gera no doente uma perda de sua cidadania, por meio de ataques preconceituosos e vexatrios sendo segregado da sociedade. Neste ponto no sentira este peso somente o indivduo, mas o seu meio, sua famlia. O preconceito ultrapassou dcadas, culturas, civilizaes e no foi extinguido, mas foi se modificando com o passar do tempo. A entrevistada diz que no fortalecimento dos vnculos familiares destes pacientes que se deve comear o trabalho de insero e preparao para alta hospitalar do paciente.

    O Assistente Social um profissional que possui formao para atuar nas diversas realidades, a sade mental uma das reas em que o profissional de servio social encaixa perfeitamente, pois, abrange vrios aspectos, trazendo muitos impasses para as equipes multidisciplinares, desta forma, essencial a presena de um profissional capacitado para realizar uma anlise conjuntural e encontrar alternativas para superao dessas realidades apresentadas (LEME4, 2013, citado por SCHEFFER e SILVA, 2014, p 374). A Assistente Social entrevistada diz que o profissional de servio social tem que se ater a condio social do paciente e de sua famlia, pois os direitos destes esto garantidos no papel, porm na realidade muitas das vezes eles no os tem, nem ao menos para suprir suas necessidades bsicas.

    Segundo Lima (2004), na dcada de 1940 foi desenvolvido um modelo de abordagem na rea da sade mental denominada de Nice da Silveira que se refere s oficinas teraputico-expressivas que tinham como objetivo estimular o desenvolvimento pessoal do doente mental. Neste perodo as equipes eram situadas na porta de entrada e sada entre as atribuies profissional se encontrava; levantamento de dados sociais para priorizao das demandas, comunicao com familiares para alta do paciente, elaborao de atestados sociais, encaminhamentos, entre outros (VASCONCELOS, 2002). Assim relata a entrevistada que houveram muitas mudanas aps a reforma psiquitrica porm alguns aspectos ainda permanecem no atendimento aos pacientes de sade mental e suas famlias como as entrevistas realizadas com o objetivo de obter o maior nmero de informaes pertinentes aos pacientes, esclarecimento das condies sociais em que est inserido, trabalho da programao da alta hospitalar do paciente, ainda alguns encaminhamentos aos setores de suporte para tratamento ambulatorial do paciente.

    Com este avano havia uma maior abertura para a interao da famlia buscando a humanizao dos atendimentos de sade mental. Desta forma essas mudanas refletiram positivamente em uma interveno mais profunda com a aproximao da famlia a fim de promover a reinsero do paciente no meio familiar e comunitrio (LIMA, 2004). A entrevistada frisa a importncia do acompanhamento das famlias ao tratamento dos pacientes de sade mental, tendo em vista que o perodo em que o paciente se encontra internado no IPSEMG um perodo de estabilizao e temporrio, assim posteriormente a alta hospitalar o paciente segue seu tratamento acompanhado pela famlia e os pontos de referncia.

    4 LEME, Carla Cristina Cavalcanti Paes. O assistente social na sade mental, um trabalho diferenciado, uma prtica indispensvel. Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ, 2013.

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    De acordo com relatos da entrevistada a atuao do Assistente Social neste cenrio essencial tendo em vista fragmentao das polticas e suportes as famlias e aos pacientes uma instabilidade e ausncia da continuidade do tratamento. Uma vez que as unidades de emergncias atendem somente emergncias psiquitricas, onde no h orientaes ou esclarecimento e direcionamentos aos pacientes e as famlias. Nesse contexto os profissionais da rea da sade mental tambm passam a atuar de forma mais comprometida com foco em garantir a dignidade e atendimento humanizado e baseando se nos direitos sociais j conquistados na poca. (PEREIRA E GUIMARES, 2013).

    Nesse cenrio a participao do Assistente Social nas equipes de sade mental configura-se para o paciente como um importante instrumento de acesso aos direitos, pois, um profissional capacitado a orientar e informar, promovendo a aproximao das fontes onde possa efetivar esses direitos. Sua atuao caracterizada pela viso crtica que questiona o cotidiano institucional no intuito de promover o melhor funcionamento da equipe a fim de atender as necessidades dos usurios dos servios de sade mental (ROSA e MELO, 2009). Ainda segundo a entrevistada a atuao do Assistente Social no IPSEMG est pautada no cdigo de tica da profisso tendo em vistas a emancipao dos pacientes e o fortalecimento dos vnculos familiares devido o distanciamento destas relaes. Diz tambm que orientar e esclarecer o familiar e os demais profissionais que atuam na equipe multiprofissional uma das aes interdisciplinares realizada pelo Assistente Social, para que o paciente seja entendido e tratado como um todo e como sujeito de direitos, sendo preservada sua dignidade.

    Ainda nessa temtica, Rocha e Gimenez, 2010, pontuam que uma das principais caractersticas do Assistente Social nesse contexto transformar em um elo, de ligao, o paciente, os familiares e a equipe tcnica, uma vez que, possui capacitao terica metodolgica que lhe proporciona uma viso conjuntural de forma facilitar a integrao e o desenvolvimento do trabalho. A Assistente social entrevistada expe que o diferencial deste profissional seu olhar crtico ao indivduo e o meio em que est inserido, articular as aes para proporcionar aps alta hospitalar o bom funcionamento dos equipamentos que permeiam a estabilidade destes pacientes.

    4. CONSIDERAES FINAIS

    Diante do histrico da sade mental, a falta de informao o estigma e preconceito ainda so identificados nos dias atuais, entretanto aps os movimentos da dcada de 70 os avanos que decorreram durante anos buscando melhorias hoje se baseiam em leis.

    Neste estudo percebe-se o quanto a sade mental sofreu modificaes quanto a prtica e nota-se o quanto se torna necessrio o profissional do Servio Social como membro da equipe interdisciplinar e multidisciplinar, pois um dos profissionais que concretiza os servios de forma humanizada.

    Embasando-se a respeito da reforma psiquitrica, na construo dos direitos do doente mental, pode-se afirmar que a sade mental uma rea com vastas possibilidades de atuao profissional. Contudo indispensvel a interveno do profissional de servio social, devido o mesmo apresentar um conhecimento diferenciado e especifico quanto as questes e relaes sociais, desempenhando suas funes e competncias baseadas nos princpios que regem a profisso, e as diretrizes que apontam e abrangem o caminho para o Servio Social na sade.

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    Junto a demais profissionais no campo de sade mental, cabe a eles oferecerem um tratamento digno e responsvel para o paciente, porm cada especialidade nica e possui sua tcnica voltada totalmente para um determinado problema, o profissional do Servio Social essencial nesta por ter como instrumento de trabalho de interveno a questo social, possui a responsabilidade de trabalhar a grandeza social da reforma psiquiatra, como unidade psicossocial.

    De modo a atender e promover o indivduo igualmente e de forma justa os assistentes sociais possuem caractersticas como fazer anlises criticas, propositivas, tambm possuem habilidades para sugerir alternativas socialmente aceitveis no atual contexto capitalista, possibilitando assim condies ao doente mental de se promoverem socialmente e conseqentemente favorecer a sua sade mental.

    Portanto, o assistente social no espao da sade mental busca desempenhar suas funes informando e orientando o usurio e sua famlia na busca pelos seus direitos sociais. Tambm lutando por novas aes na legislao, de forma que o individuo no considerado saudvel mentalmente, seja visto como cidado portador de direitos pelo Estado, a Sociedade e a Famlia. Considerando e tendo como metas novas aes que vise e conceda como direito a cidadania na sua total plenitude ao paciente, usurio deste sistema.

    Diante desta anlise podemos considerar que o papel do assistente social junto a outros profissionais nesta rea de trabalho de fundamental importncia, pois o mesmo o que atua na perspectiva de garantia direitos, com base no projeto tico poltico e em seus conhecimentos adquiridos na durante sua formao acadmica, de modo que faa acontecer o que est presumido em lei, tendo em vista a implantao e implementao de novas polticas pblicas direcionadas ao enfrentamento dessa temtica.

    INTERDISCIPLINARY AND MULTIDISCIPLINARY TEAM WORK OF

    SOCIAL WORKER : DEVELOPING SKILLS SKILLS

    Actions of the social worker with the interdisciplinary multidisciplinary mental health team in IPSEMG

    ABSTRACT

    This article seeks to understand the importance and the role of the social

    worker in mental health along with other professionals in the health care network , from the professional expertise of the Institute of Security Servers in the State of Minas Gerais- IPSEMG Its aim to highlight the importance of the presence of social service work in multidisciplinary , interdisciplinary teams of mental health. Analyzing its historicity and show the advances that passed its trajectory , since the suitability of the society but also in the reconstruction of the subjectivity of the individual . Also evaluating the currently existing for the development of the work of professional social work in mental health as having principles emancipation and autonomy and the development of citizenship User's Mental Health Policy challenges .

    Keywords : Mental Health , Social Service , Multidisciplinary , Interdisciplinary .

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