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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ANNA FLÁVIA MONTENEGRO LISBÔA SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE MENTAL: LIMITES E POSSIBILIDADES DA ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CAPS III LESTE – NATAL/RN NATAL/RN 2016

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Page 1: SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE MENTAL: LIMITES E … · Palavras-chaves: Saúde mental, Serviço Social, reforma psiquiátrica. ABSTRACT This work aims to understand the limits, possibilities

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

ANNA FLÁVIA MONTENEGRO LISBÔA

SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE MENTAL: LIMITES E POSSIBILIDADES DA ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CAPS III LESTE –

NATAL/RN

NATAL/RN

2016

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ANNA FLÁVIA MONTENEGRO LISBÔA

SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE MENTAL: LIMITES E POSSIBILIDADES DA ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CAPS III LESTE – NATAL/RN

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

como parte dos requisitos para a obtenção do

grau de bacharel em Serviço Social pela

Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Orientador: Professor Mestre Tibério Lima

Oliveira

NATAL/RN 2016

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Catalogação da Publicação na Fonte.

UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA

Lisbôa, Anna Flávia Montenegro.

Serviço social e saúde mental: limites e possibilidades da atuação do

Assistente Social no CAPS III Leste – Natal/RN/ Anna Flávia Montenegro

Lisbôa. - Natal, RN, 2016.

78f.

Orientador: Prof. Me. Tibério Lima Oliveira.

Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio

Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de

Serviço Social.

1. Serviço Social - Saúde - Monografia. 2. Saúde mental - Monografia. 3.

Reforma psiquiátrica. – Monografia. I. Oliveira, Tibério Lima. II. Universidade

Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/BS/CCSA CDU 364.622-53

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AGRADECIMENTOS

Hoje realizo mais um sonho. Não foi fácil. Precisei me esforçar, ter muita de-

terminação e paciência para chegar até aqui, mas esse sonho não seria possível se

eu não tivesse pessoas tão especiais ao meu lado.

Agradeço primeiramente a Deus, força maior, a quem confio minha vida, por

nunca ter me abandonado e por ter me escutado quando em minhas orações, lhe

pedia forças para continuar seguindo em frente. Sem Ele eu não estaria aqui.

Aos meus pais, Dison e Flávia, por todo o apoio que sempre me deram, além

do amor incondicional, a confiança em mim depositada e pelo incentivo para que eu

pudesse concluir uma segunda graduação. Agradeço por me mostrarem sempre o

melhor caminho a ser seguido. É graças ao esforço de vocês em sempre me propor-

cionar o melhor que hoje cheguei até aqui.

Aos meus irmãos, Bia e Rui, pela paciência com os meus dias de estresse, de

angustia, por sempre torcerem por mim e, principalmente por todo o incentivo que

me dão.

Ao CAPS III Leste e sua equipe maravilhosa por ter me acolhido tão bem.

Sem duvidas jamais esquecerei o aprendizado adquiri ao longo dos meses em que

estive lá.

À Cassandra, minha supervisora de campo durante o estágio, pelo incentivo,

competência, dedicação, paciência e por todas as coisas que me permitiu aprender -

e que não foram poucas.

À Tibério, meu orientador, pela paciência e compreensão, pelos ensinamen-

tos e dedicação. Muito obrigado!

À Sabrina, Héryca, as Vanessa’s, Clara e Ana Luiza, minhas companheiras

de graduação que levo pra vida! Obrigada por todo o conhecimento compartilhado,

pela ajuda sempre, por tornarem minhas tardes mais alegres e pela amizade maravi-

lhosa que construímos durante esses anos. Caminhar e aprender com vocês foi uma

experiência única. Vocês fazem parte disso! Obrigada.

A todos, a minha mais sincera gratidão!

Anna Flávia M. Lisbôa

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“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.”

Carl Jung

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RESUMO

Este trabalho possui como objetivo apreender os limites, possibilidades e

desafios do assistente social inseridos no campo da saúde mental, mais

precisamente no Centro de Atenção Psicossocial Dr. André Luiz, o CAPS III LESTE.

Para tanto, discutiu-se as fases do tratamento destinado à loucura desde os

primórdios das civilizações, fazendo alusão a marcos histórico, tais como os

tratamentos proferidos por Phillipe Pinel e o atual modelo pensado por Franco

Basaglia. Neste sentido, foi-se feito um recorte de instituição e localidade, posto que,

tratou-se da atual situação da rede articulada em saúde mental no Município de

Natal. Por conseguinte, explanou-se a importância da construção e apreensão da

política de saúde mental pelos profissionais que se inserem nessa área, bem como a

importância da sociedade civil na formulação e avaliação dessas políticas com a

finalidade de construir respostas eficazes para este segmento. A partir daí, avalia-se

a importância dos assistentes sociais nessa política, evidenciando quais suas

contribuições a partir dos suportes teórico-metodológicos, ético-político e técnico-

operativo que respaldam a profissão, nos mais diversos campos socio-ocupacionais,

dentre eles no campo da saúde mental.

Palavras-chaves: Saúde mental, Serviço Social, reforma psiquiátrica.

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ABSTRACT

This work aims to understand the limits, possibilities and challenges of the so-

cial worker inserted in the field of mental health, more precisely in the Center for

Psychosocial Attention Dr. André Luiz, CAPS III LESTE. For that, the phases of the

treatment destined to insanity from the beginnings of the civilizations have been dis-

cussed, alluding to historical landmarks, such as the treatments given by Phillipe Pi-

nel and the current model thought by Franco Basaglia. In this sense, it was made a

cut of institution and locality, since, it was the present situation of the network articu-

lated in mental health in the Municipality of Natal. Therefore, the importance of buil-

ding and apprehending mental health policy by the professionals involved in this area

was emphasized, as well as the importance of civil society in formulating and evalua-

ting these policies in order to build effective responses to this segment. From this, the

importance of the social workers in this policy is evaluated, evidencing their contribu-

tions from the theoretical-methodological, ethical-political and technical-operational

supports that support the profession in the most diverse socio-occupational fields,

among them in the Field of mental health.

Key-words: Mental health, Social work, psychiatric reform.

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Sumário 1. INTRODUÇÂO ...................................................................................................... 9

2. A SAÚDE MENTAL NO BRASIL, BREVE RESGATE HISTÓRICO .................... 18

2.1. REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL, DESINSTITUCIONALIZAÇÃO E LUTA ANTIMANICOMIAL .......................................................................................... 18

2.2. OS DESAFIOS HISTÓRICOS DA EFETIVAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO BRASIL CONTEMPORÂNEO .............................................................. 28

2.3. ANÁLISE DA CONJUNTURA DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL EM NATAL/RN ................................................................................................................. 36

3. O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL EM NATAL/RN ........................................................................................................... 45

3.1. A ATUAÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NO CAMPO DA SAÚDE MENTAL E NA LUTA POR DIREITOS ...................................................................................... 45

3.2. O FAZER PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NO CAPS LESTE: DESAFIOS E PERSPECTIVAS..................................................................................54 3.3. A IMPORTÂNCIA DO ASSISTENTE SOCIAL NA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL.....................................................................................................................63 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................71 REFERÊNCIAS..........................................................................................................75

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1. INTRODUÇÂO

A presente monografia objetiva tecer reflexões acerca das trajetórias, limites e

desafios colocados para o assistente social no campo da saúde mental. O intuito

central é compreender o fazer profissional no Centro de Atenção Psicossocial1 Dr.

André Luiz Lima (CAPS III LESTE), como também expor quais as principais

possibilidades de enfrentamento das expressões da questão social encontradas

neste ambiente.

A doença mental é um transtorno de ordem psíquica presente na sociedade

desde as mais antigas civilizações. Apesar de ser reconhecida atualmente como

uma patologia, durante vários séculos criava-se uma cultura com diversos mitos a

respeito da doença, e com isto, excluíam-se as pessoas com transtorno mental do

convívio em sociedade.

Com a ausência de cuidados específicos direcionados as este grupo, de

acordo com Passos e Amstalden (2012) era comum que estes acabassem

realizando mendicância pelas ruas, principalmente quando pertenciam as camadas

mais populares. Com o avanço e desenvolvimento da sociedade capitalista, esse

tipo de atividade foi se tornando indesejada, pois se pregava a idéia de “higienização

social” com o banimento do convívio social. Neste sentido, as pessoas com doença

mental ficavam à margem de uma sociedade excludente, sendo privada da interação

com amigos e familiares.

Diante desta constatação, no século XVIII, surge um novo modelo de

tratamento destinado à loucura. Nesta forma inédita de combate aos

desdobramentos doença mental, previa-se a criação de hospitais destinados apenas

à internação de pessoas com transtornos psíquicos, deste modo surgiu e se

propagou pela Europa a criação de diversos manicômios.

Os grandes hospitais psiquiátricos cumpriam com a sua função original de

retirar do convívio em sociedade as pessoas com doença mental, uma vez que,

estas eram internadas para tratamento e com isto eram afastadas da mendicância

1O CAPS se constitui em um serviço público baseado na psiquiatria preventiva comunitária, por meio

de equipes de atendimento multidisciplinar formada por profissionais, que visam à inserção da família no tratamento, bem como a permanência na comunidade onde reside o paciente. De acordo com Ribeiro (2004) é uma ampliação da intensidade dos cuidados com as pessoas com transtornos mentais, incluindo a diversidades dos mesmos, bem como os locais onde estão inseridos.

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realizada nas ruas das cidades em ascensão às quais teriam que ficar livres de

fatores indesejáveis, com a omissão ao invés do fornecimento de tratamento

adequado para esta questão. (PASSOS E AMSTALDEN, 2012).

O tratamento direcionado a loucura nos manicômios se constituía

demasiadamente em violação dos direitos humanos, pois para conter surtos

psicóticos eram utilizados métodos que causavam dor e sofrimento, tais como

choques, camisas de força, banhos frios, isolamento, entre outros castigos físicos e

psíquicos.

É possível compreender que este modelo de tratamento baseado no

isolamento da pessoa com doença mental, não se tinha a pretensão de realizar os

cuidados necessários que os pacientes necessitavam, a real intenção era eliminar

do convívio social as pessoas que sofriam com transtornos psíquicos, por meio do

isolamento em hospitais psiquiátricos, e com isto, omitia-se os desdobramentos

referentes a esta questão, ou seja, escondia o real problema.

Em meio as constantes violações nos direitos das pessoas acometidas por

doença mental, no século XX foi difundida por toda e Europa, e posteriormente,

implantada no Brasil, uma forma mais humanitária destinada ao tratamento da

loucura. O tratamento hospitalar e manicomial foi sendo substituído por uma rede de

atenção ambulatorial e os pacientes mais graves em surto psicótico, seriam

atendidos em hospitais gerais.

No que tange a chegada desse novo modelo de tratamento no Brasil, tem-se

que o mesmo foi propagado em um momento de grande efervescência dos

movimentos sociais no país que havia saído de um longo e intenso momento de

cerceamento de liberdade provocado pela ditadura Militar.

Deste modo, surge o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental

(MTSM), no final de década de 1970. O intuito do movimento, composto

principalmente por trabalhadores em saúde e membros da sociedade civil era de

difundir um modelo mais humanizado para o tratamento das pessoas com doença

mental, substituindo os hospitais psiquiátricos por tratamento ambulatoriais e

denunciando a mercantilização da loucura nos serviços prestados pela rede privada

de saúde. (VASCONCELOS ET AL, 2009).

Desde as reivindicações do MSTM por políticas públicas que abarcassem

ações para tornar o tratamento destinado à loucura mais humanizado, tais como a

abertura de uma rede territorial para tratamento ambulatorial que priorizasse os

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vínculos afetivos e a convivência comunitária e a divisão necessária para atender

públicos diversificados com transtornos psíquicos, tais como adultos, crianças e

dependentes químicos.

Todos estes avanços conquistados a partir do lançamento questão da loucura

na cena pública, através de pautas reivindicadas pelo MTSM, na tentativa de

alcançar soluções viáveis e humanitárias direcionadas ao tratamento da doença

mental, colaborou para que esta luta adquirisse visibilidade e alcançasse conquistas

significativas como a lei 10.216, sancionada no ano de 2001, a qual dispõe sobre os

direitos das pessoas portadoras de doença mental e redireciona o modelo de

assistência em saúde mental.

Com todas essas significativas mudanças de rompimento com o modelo de

tratamento voltado para o isolamento e abandono das pessoas com doença mental,

ainda há inúmeros desafios para que todas as formas de preconceito e descaso

sejam erradicadas da sociedade. Na atualidade, luta-se para que não haja um

retrocesso diante das conquistas já efetivadas, principalmente diante da ofensiva

neoliberal a qual, segundo Iamamoto (2004), sustenta que a os serviços públicos

organizados através dos princípios da universalidade e gratuidade provocam o

superdimensionamento nos gastos públicos.

Somados a estes fatores oriundos da perspectiva neoliberal está o relativo

avanço da privatização dos serviços públicos, como também a exaltação do terceiro

setor, os quais trazem a baila questões da responsabilidade civil por parte da

sociedade, bem como das empresas capitalistas por meio de programas sociais.

Com um passado repleto pela barbárie e os desdobramentos advindos da

privatização dos serviços públicos com enxugamento da máquina pública, é

perceptível que os avanços da Luta Antimanicomial não conseguiram erradicar todos

os desdobramentos das questões que abarcam o universo das pessoas que

possuem doença mental e necessitam ter seus direitos efetivados.

A partir destas constatações, enxergou-se que a doença mental, bem como o

tratamento destinado às pessoas diagnosticadas com esta patologia se constitui

como uma latente expressão da Questão Social2, a qual teve um passado repleto de

violação de direitos humanos, apesar de ser possível observar significativos

2Por Questão social entende-se que seja, como assevera Iamamoto (2001), o conjunto de expressões

das desigualdades sociais presentes na sociedade capitalista madura, e impensáveis sem a intermediação do Estado.

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avanços, com novas formas de tratamento. Pode-se evidenciar que o passado

extenso de desrespeito e ausência de um tratamento eficaz, colabora para que

alguns comportamentos e atitudes conservadoras ainda perdurem entre os membros

da sociedade civil e profissionais que trabalham com saúde mental.

Em decorrência disso, ainda é persistente o preconceito com pessoas

acometidas por doenças mentais na sociedade, como também de todos os

desdobramentos que ocorrem cotidianamente por causa de descriminações injustas.

Evidencia-se que o assistente social, por ser um profissional que trabalha com

emancipação política e humana3, atuando na defesa intransigente por direitos

humanos, e no combate a todas as formas de exploração, deve ter um pensamento

crítico frente a esta questão.

Posto isso, seu artigo VI, dos princípios fundamentais do código de Ética do

Serviço Social está previsto o ”Empenho na eliminação de todas as formas de

preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos

socialmente discriminados e à discussão das diferenças”.

Para apreender e pensar criticamente nesse tema foi essencial a realização

do estágio curricular obrigatório no curso de Serviço Social da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte (UFRN), no CAPS III – LESTE, entre os semestres letivos

2015.1 e 2015.2. Posto que, apesar de o espaço sócio ocupacional ser composto

por uma equipe interdisciplinar, percebeu-se que o trabalho do assistente social se

possuía de fundamental importância para o funcionamento da instituição.

Identificou-se que a população usuária do serviço era composta

majoritariamente, por pessoas pertencentes à classe trabalhadora com baixo nível

de escolaridade e pouco grau de instrução. Somados a isso, a instituição recebia

pessoas para tratamento ambulatorial em situação de risco social, com diversos

direitos sociais, teoricamente assegurados na Constituição Federal, mas que são

constantemente violados.

Neste sentido, averiguou-se que a assistente social desempenhava atividades

que se instituía de suma importância para que os pacientes da instituição tivessem

acesso a outros direitos, tais como benefícios administrados pela previdência social,

3De acordo com os apontamentos realizado por Souza e Domingues (2012), com base na análise do

conceito elucidado Por Marx, emancipação Política diz respeito a liberdade dos homens em relação ao Estado. Já a emancipação humana abrange superação da exploração dos homens pelos homens. Os autores afirmam ainda que a primeira seria a emancipação parcial realizada pela burguesia, já a segunda seria total, realizada pelo proletariado.

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assistência social, emissão de documentos, direcionamento para programas

habitacionais, entre outros.

Para dar solução às demandas colocadas para a resolubilidade na instituição,

o profissional deve estar diretamente engajado com os arcabouços Teóricos-

metodológicos, Ético-políticos e Técnico-operativos4 do Serviço Social. Deste modo,

pensou-se em tecer reflexões a respeito do trabalho do assistente social no espaço

sócio-ocupacional com o intuito de evidenciar quais os desafios e limites postos a

prática para a consolidação dos direitos das pessoas com doenças mentais.

Nesta linha de raciocínio, é perceptível que os assistentes sociais atuam nas

mais incisivas manifestações da questão social, tal como elas se expressam na vida

dos diversos segmentos das classes subalternas em suas relações com o bloco de

poder, como também com as iniciativas coletivas pela conquista, na busca pela

efetivação e ampliação pelos direitos de cidadania e nas correspondentes políticas

públicas. (IAMAMOTO, 2012).

Entende-se que o Assistente Social é um profissional que tem como

instrumento de trabalho a questão social, nas suas mais diversas expressões e que

esta sofre diversas metamorfoses na atual conjuntura da sociedade neoliberal. Tal

afirmativa provoca a reflexão de que este profissional necessita está sempre

atualizado para responder as mais diversas requisições postas pelos usuários dos

serviços com a finalidade de efetivar os direitos da população usuária do serviço.

Neste entendimento, a importância da pesquisa dá-se pela deficiência do

debate e da literatura com o tema saúde mental, no âmbito acadêmico do curso de

serviço social, bem como no meio profissional, o qual não se constitui como

amplamente divulgado e discutido, por isto, se desperta o interesse pela temática,

com a intenção de gerar maior visibilidade e pensar alternativas para atuação com

junto a essa temática.

Com isto, pensou-se que com a carência de discussões sobre o campo da

saúde mental na academia, os estudantes não irão possuir conhecimento das

atividades desempenhadas pelo assistente social no CAPS. Percebeu-se também

4Evidencia-se que o serviço social possui três dimensões as quais são interligadas e não podem ser

pensadas de forma isolada. De acordo com Sousa (2008) dimensão teórico-metodológicas refere-se a teoria e métodos utilizados pela profissão para que seja permitido enxergar a dinâmica da sociedade; Ético-político implica dizer que o assistente social necessita assumir valores éticos morais para balizar a sua pratica; Técnico operativa, aduz as técnicas e instrumentais utilizados para dá respostas as requisições operativas postas pelos usuários do serviço, garantindo assim uma inserção adequada ao mercado de trabalho.

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que os acadêmicos do curso de serviço social têm dificuldades até mesmo de

diferenciar as modalidades dos CAPS existentes, não sabendo discernir qual o

público atendido por cada instituição.

Essa ausência de conhecimento sobre os CAPS, bem como sobre o

atendimento prestado, cria uma lacuna na formação profissional dos assistentes

sociais. Destarte, o pensamento crítico e a atuação pensada para responder as

demandas postas à profissão, só serão efetivamente respondidos com uma atuação

profissionais baseadas pelas dimensões profissionais interligadas.

Destaca-se também que de acordo com o Código de ética do Assistente

Social, no que se referem aos seus princípios fundamentais, respectivamente em

seus artigos 2º e 5º, explicitam a defesa intransigente dos direitos humanos, como

também afirmam o compromisso com a equidade e a justiça social. Com isto, os

profissionais são evocados para endossar a Luta Antimanicomial para buscar a

efetivação dos direitos das pessoas com doença mental.

Este embate que contou com a presença da sociedade civil, familiares de

pessoas com doença mental e trabalhadores em saúde os quais reivindicavam por

melhores condições de trabalho, foi responsável por todo o avanço no tratamento

destinado a este segmento na busca incessante por políticas públicas para o

tratamento da loucura.

Conforme os manifestantes do MTSM almejavam, principalmente a liberdade

nos tratamentos das pessoas com doença mental, para que estas viessem a ter

cuidados baseados na convivência familiar e comunitária ao invés de ser

aprisionado e submetido a tratamentos humilhantes e degradantes que impedissem

o convívio social.

Posto isto, na recente conquista em favor das pessoas acometidas por

doença mental, qual seja a lei 10.216/2001, no que se refere o seu segundo

parágrafo, prevê que, o tratamento será realizado de forma estrutura, de modo a

oferecer assistência integral à pessoa com transtornos mentais, e com isto inclui

serviços médicos, de assistência social, psicológicos, operacionais, de lazer, entre

outros. Neste sentido, evidencia-se, através da referida lei, a necessidade da

presença do Assistente social na efetivação do tratamento das pessoas identificadas

com a referida patologia.

Diante do exposto, verifica-se a relevância do estudo para a categoria

profissional, visto que a saúde mental se constitui como uma expressão da questão

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social que se faz presente nos espaços sócio-ocupacionais nos quais o assistente

social é requisitado a prestar seus serviços. A categoria profissional não deve se

omitir a frente a esta questão, como também deve unir forças na luta por uma

sociedade livre de manicômios.

Para subsidiar a realização do trabalho será feito um estudo de cunho

qualitativo de delineamento bibliográfico, balizados por pesquisas já realizadas

publicadas em formato de livros e artigos e publicadas de autores como Vasconcelos

et al (2002), Vasconcelos (2007) Bravo (2002), Gama (2012), entre outros. A

concepção desses autores será fundamental para realização de reflexões a respeito

do tema posto em questão para o debate. A viabilidade da pesquisa se dará de

forma a exploração da bibliografia.

Também serão utilizados documentos produzidos pela a equipe do próprio

CAPS e relatórios emitidos pelo Ministério da Saúde, desde o ano 2000 até o

presente ano, referentes à atual situação da efetivação da política de saúde mental

no Brasil, como também serão usados dados divulgados pelo Ministério da Saúde,

com relação à implementação da lei 10.026/2001. Será realizada uma análise da

referida lei em consonância com outras iniciativas tais como a de humanização do

SUS, a assistência à Saúde prevista na Constituição Federal, entre outras.

Para situarmos o estudo, também será analisado dados referentes a

instituição com a qual se pensou a pesquisa, ou seja, será exposto dados referentes

ao perfil social e econômico dos pacientes que utilizam os serviços prestados pelo

CAPS III Leste. Seqüencialmente, será realizada uma análise com relação aos

trabalhos desenvolvidos pelo setor de Serviço Social contido na instituição.

A pesquisa terá como ponto de partida a perspectiva critico dialética para a

apreensão da totalidade do objeto a ser estudado, partindo do macrossocial para o

microssocial. De acordo com Netto (2011), se faz necessário compreender a

aparência do objeto para que possa se chegar à essência do estudo em questão.

Com isto, será utilizado o método quantitativo acerca das análises de dados

fornecidos pela instituição com a finalidade de provocar reflexões a respeito destes.

No que concerne aos objetivos da presente pesquisa, seu objetivo geral é

apreender o fazer profissional dos assistentes sociais nos Centro de atenção

Psicossocial. Já com os objetivos específicos, deseja-se analisar a atual conjuntura

da saúde mental nos CAPS, especificamente no CAPS III Leste; Discutir as

competências, habilidades e principais problemas apresentados pelos assistentes

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sociais inseridos no CAPS; Discutir acerca da importância do profissional do Serviço

Social nos CAPS, no município de Natal/RN, baseando-se a partir do CAPS III

Leste.

Para tanto, o trabalho está dividido em dois capítulos, cada um deles

contendo três seções. No primeiro capítulo, intitulado “A saúde mental no Brasil: um

breve relato histórico” será abordado o histórico do tratamento destinado à loucura

desde os primórdios da sociedade, de modo que serão explanados os principais

avanços e retrocessos nesta área, enfatizando as particularidades brasileiras e da

cidade do Natal/RN, no tratamento destinado a pessoas acometidas por transtornos

mentais.

Assim sendo, a primeira sessão será refeito um breve resgate histórico

contemplando a Luta Antimanicomial no Brasil. Na segunda, será feita uma análise

da lei destinada a pessoas com doença mental, como também será refletido sobre a

política de saúde mental no país em consonância com outras iniciativas e leis

realizadas para subsidiar o Sistema Único de saúde, tais como a Política de

Humanização do SUS. Na terceira sessão será exposta a instituição na qual se

baseou para a realização da pesquisa, tecendo reflexões sobre o perfil econômico e

social dos pacientes usuários dos serviços fornecidos pelo CAPS III Leste.

No segundo capítulo intitulado “O trabalho do assistente social na política de

saúde mental em Natal/RN”, será dividido em três sessões, de modo que contribuirá

para a discussão da temática no âmbito acadêmico e profissional do Serviço Social,

mostrando de que forma esta expressão da questão social pode ser enfrentada de

modo que propicie a efetivação de direitos sociais voltadas para o público das

pessoas que possuem doença mental.

Na primeira sessão do segundo capítulo, será abordada a atuação do

assistente social no campo da saúde mental, na tentativa da efetivação de direitos.

Já na segunda sessão será evidenciado o trabalho do profissional do serviço social

no CAPS, com intuito de evidenciar os desafios e perspectivas postas ao profissional

no referido campo sócio-ocupacional. Na terceira sessão será colocado de forma

crítica para o debate quais as contribuições do assistente social para a política de

saúde mental brasileira.

Por fim, serão apresentadas as considerações finais da pesquisa elucidando

quais foram os principais apontamentos extraídos da análise dos dados em questão,

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como também será moldada, a partir destas visões adquiridas, possíveis soluções

para o enfrentamento da problemática discutida.

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2. A SAÚDE MENTAL NO BRASIL, BREVE RESGATE HISTÓRICO

“O hospício é construído para controlar e reprimir os trabalhadores que perderam a capacidade de responder aos interesses capitalistas de produção”.

Franco Basaglia

Neste capítulo será exposta a concepção de loucura, bem como do

tratamento destinado a esta expressão, desde os primórdios da sociedade até a

contemporaneidade, enfatizando a importância e articulação dos movimentos sociais

pelo reconhecimento dos direitos sociais das pessoas acometidas por doenças

mentais, com ênfase no histórico do Brasil. Será abordado também o histórico para

implantação da política de saúde mental no país. Por conseguinte, será analisada a

conjuntura atual da política de saúde mental e as particularidades da cidade de

Natal/RN.

2.1. REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL, DESINSTITUCIONALIZAÇÃO E LUTA ANTIMANICOMIAL

Desde os primórdios das civilizações, têm-se a presença de pessoas com

transtornos de ordem psicológica, nas mais diversas sociedades. Antes de se tornar

uma discussão essencialmente da área da saúde, a loucura habitava o imaginário

popular das mais diversas formas, sendo enxergada como possessão demoníaca,

motivo de chacota e escárnio, até a marginalização social pelo motivo de que estas

pessoas não se enquadrarem nos preceitos morais exigidos pela sociedade.

Todavia, apesar de a patologia não ser recente, ao longo dos séculos, a forma

de lidar com a doença, foram modificadas graças aos avanços da medicina, em

áreas como a psicologia e psiquiatria nas quais foram desenvolvidas formas mais

humanitárias de se tratar os pacientes com transtornos psicológicos. Contudo, esse

viés humanitário no trato as patologias relacionadas à psique humana, é recente,

uma vez que, tais doenças eram tratadas de forma cruel e degradante. No entanto,

esta realidade tende a mudar no século XIX. (PASSOS E AMSTALDEN, 2012)

Page 20: SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE MENTAL: LIMITES E … · Palavras-chaves: Saúde mental, Serviço Social, reforma psiquiátrica. ABSTRACT This work aims to understand the limits, possibilities

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No período do Renascimento5, (1300 – 1600) as pessoas com transtornos

mentais eram consideradas inaceitáveis para o convívio em sociedade, sendo

banidas dos muros das cidades européias, ficando, nas palavras de Passos e

Amstalden (2012) fadadas a vagarem pelas cidades, como também eram postas em

navios, para navegarem sem destino pelos mares até ancorarem em algum porto.

Em consonância a isto, na idade média6, as pessoas consideradas loucas

eram confinadas em asilos e grandes hospitais, submetidos ao convívio com

pacientes com doenças infectocontagiosas e venéreas, submetidas a tratamentos

agressivos e que não contribuíam para estabilizar o estado emocional desses

pacientes.

Neste sentido, era comum que famílias que possuíam membros com

transtornos mentais, internassem os pacientes em asilos ou em hospitais, isolados

do convívio social e com o cerceamento da liberdade de locomoção, interação com

parentes e familiares, bem como ocorria o total desconhecimento sobre o tratamento

ofertado. Com relação as modalidades de combate ao surto, sabe-se que os mais

violentos eram acorrentados e para os mais sociáveis, era permitido à saída para

realizar mendicância nas ruas. (PASSOS E AMSTALDEN, 2012)

No século XVIII, essa realidade é modificada após o surgimento de uma nova

proposta, para o tratamento da loucura. Nesse modelo hospitalocentrico, tratavam-

se apenas pessoas com problemas psíquicos, o qual foi formulado por Phillipe Pinel,

considerado o pai da psiquiatria, recomendava que as pessoas com doença mental

fossem libertadas das correntes e transferidas para manicômios, destinadas apenas

para esse fim. Com isto, várias experiências e novos tratamentos foram testados e

difundidos por toda a Europa.

Neste modelo, até então inédito de tratamento, defendia-se a redução de

alienados, propondo uma ação disciplinadora por parte dos médicos dos

manicômios, com o intuito de modificar a realização de condutas inconvenientes por

parte dos pacientes. Esse tratamento denotava um caráter meramente moral

destinado ao tratamento da loucura. Neste viés, advoga-se que:

5Movimento cultural Europeu que iniciou-se no século XVI até o século XVI

6Período histórico Europeu que compreende os séculos V e XV, o qual inicia-se com a queda do

Império Romano e estende-se até a idade Moderna.

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Esse modelo se completa com o conjunto de dispositivos, de feições cristalizadas, criados ainda no século XIX, a partir de práticas elaboradas num contexto histórico preciso, em relação a uma problemática social concreta: um código teórico (as nosografias clássicas), uma tecnologia de intervenção (o tratamento moral), um dispositivo institucional (o asilo), um corpo de profissionais (os médicos-chefes) e um estatuto do usuário (o alienado, definido como menor, e passível de assistência). (DEVARA E COSTA-ROSA, 2007, p. 60).

. Nesta mesma linha de raciocínio, Rosa (2000) reitera que foi a partir da

Revolução Francesa com “pressupostos alienistas” que Phillippe Pinel forneceu

bases para o entendimento da loucura como uma doença mental no centro dos

princípios iluministas baseados na igualdade e na liberdade. O alienismo de Pinel

pregava um tratamento moral a partir do trabalho balizado no princípio terapêutico,

firmado na disciplina com o acompanhamento de banhos e duchas e isolamento

terapêutico através da exclusão do paciente do convívio em sociedade.

Todavia, apesar desse novo método tratar a loucura de forma moral, com o

passar do tempo, engessou-se e tornou-se vazio de idéias originais, e foi substituído

por tratamentos corretivos dos hábitos dos pacientes. Com isto, no século XIX, eram

utilizados nos tratamentos medidas tais como, chicotadas, sangrias, banhos frios e

máquinas giratórias.

No que se refere ao Brasil, até 1830 não existiam tratamentos adequados

para as pessoas que sofriam com doenças mentais. Aqueles que tinham patologias

de ordem psíquica, quando pertencentes à burguesia eram trancafiados em casa, já

as pertencentes à classe subalterna, habitavam os porões da Santa Casa de

Misericórdia7. Nestes termos, complementa-se que:

A loucura só vem a ser objeto de intervenção por parte do Estado no início do século XIX, com a chegada da Família Real ao Brasil, depois de ter sido socialmente ignorada por quase trezentos anos. Nesse período de modernização e consolidação da nação brasileira como um país independente, passa-se a ver os loucos como “resíduos da sociedade e uma ameaça à ordem pública”. Aos loucos que apresentassem comportamento agressivo não mais se permitia continuar vagando nas ruas, principalmente quando sua situação socioeconômica era desfavorável [...]. (FONTE, 2012, p. 12).

7A Santa Casa de Misericórdia foi criada na cidade de Santos, região litorânea do Estado de São

Paulo, quando o Brasil ainda era uma colônia de Portugal, no ano de 1543. O intuito da criação do Hospital era atender as pessoas que aqui residiam.

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Assim sendo, o primeiro manicômio destinado ao tratamento de pacientes

com doença mental é construído em 1952, por D. Pedro II, vinculado a Santa Casa

de Misericórdia. Ressalta-se que, nos prontuários dos pacientes do Hospício D.

Pedro II, havia distinção por classe social, sendo os internados de 1ª e 2ª classe

ocupando quartos individuais e realizando trabalhos manuais e jogos, e os de 3ª e 4ª

classe trabalhavam na cozinha, jardinagem e serviço de manutenção. Com relação

ao tratamento desigual destinado aos alienados das classes populares em

comparação com os pertencentes às classes abastadas, tem-se que:

O isolamento em relação à família é prioritário e indispensável apenas para um tipo específico de louco: o caso do louco que vaga pela rua, pois a família pobre não tem possibilidade alguma de garantir a segurança e o tratamento. Para famílias ricas, que quisessem manter junto dela o alienado, o internamento não deveria ser imposto, pois, ainda que com limitações, acreditava-se que ela poderia reproduzir um hospício no interior de sua ampla residência. (FONTE, 2012, p. 03).

Cabe enfatizar que os tratamentos dos pacientes das primeiras classes

alcançavam melhores resultados. O modelo de tratamento de saúde desta época

pode ser visualizado como celetista e excludente, pois pessoas com doenças

mentais integrantes a segmentos populares eram obrigados a trabalhar na

instituição e com isto tinham um tratamento prolongado devido a não adequação da

terapia que não contribuía para a promoção de sua recuperação.

Observa-se que o tratamento era destinado apenas para os membros das

classes ricas, e os membros das classes subalternas serviam apenas para realizar a

manutenção do ambiente hospitalar, e sua recuperação sendo deslocada para o

segundo plano. Cumpria-se com a obrigação de realizar uma “higienização social”

com a retirada de pessoas “indesejáveis” de uma sociedade ao passo que se

desenvolvia, se tornava excludente.

Neste viés, de acordo com os apontamentos feitos por Fonte (2012), os

manicômios tinham a função de abrigar as pessoas consideradas “desajustadas”

que realizavam mendicância e eram oriundas das camadas populares. Não era raro

que estas fossem retiradas das ruas contra sua vontade e por meio da repressão

policial.

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Por conseguinte, Passos e Amstalden (2012) alegam que se criaram em

diversos estados brasileiros hospitais psiquiátricos e colônias agrícolas destinadas

ao tratamento de doentes mentais. O intuito dessas unidades hospitalares era

oferecer um ambiente calmo e tranqüilo para reabilitação através do trabalho.

Porém, as referidas unidades tornam-se mal sucedidas devido à falta de assistência

às pessoas que viviam em situação de risco social, tais como órfãos, prostitutas e

mendigos que passaram a se asilar nestas unidades.

Em consonância a criação de vários leitos psiquiátricos criados em todo o

país, Fonte (2012), aponta que está a questão da higienização, pois acreditava-se,

necessariamente, que as pessoas com doença mental teriam que ser mantidas

isoladas em hospício, ficando, portanto, longe do convívio em sociedade. Deste

modo, “o sistema e a mentalidade vigente na época estavam organizadas em torno

da internação, principalmente da internação prolongada”.

No entanto, evidencia-se também que para as famílias que são pertencentes

aos segmentos das camadas mais populares da sociedade que arcar com os

cuidados e com os custos referentes aos tratamentos de membros pertencentes a

entidade familiar com transtornos mentais, se constitui em uma dificuldade latente,

assim sendo, estas preferem, em algumas ocasiões, optar pelo tratamento asilar.

Para Rosa (2000), tem-se que:

[…] Pela precariedade e instabilidade em sua condição de vida, de trabalho e, ainda, diante da inexistência no Brasil de políticas sociais universais, voltam-se para o hospital psiquiátrico como mais um dispositivo acionado no rol de suas estratégias de sobrevivência para aliviar o peso temporal e psíquico, denotando a atenção e o cuidado dependente. (ROSA, 2000, p. 267)

Mesmo com o crescente número de leitos em hospitais psiquiátricos nos mais

diversos estados do país, como assevera Fonte (2012) a oferta de internamento não

abarcava a demanda, como também não cessava o problema das pessoas que

sofriam com transtorno mental. Quaisquer resquícios de surtos psiquiátricos já se

recomenda a internação, principalmente daquelas pessoas pertencentes a camadas

mais populares da sociedade. Diante deste circuito fechado, passou-se a pensar em

novas propostas de tratamento.

Ao se pensar em novas propostas para o tratamento da loucura, a partir da

segunda metade do século XX, é iniciado na Itália, principalmente, por Franco

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Basaglia, psiquiatra italiano, um modo revolucionário para se conduzir as instituições

voltadas para o tratamento de pessoas com transtornos mentais. Apesar de seu

início ocorrer no país supracitado, seu método inovador é difundido por toda a

Europa como também e implantado no Brasil.

Basaglia propôs que o tratamento da loucura fosse realizada de forma

igualitária e humanizada, deste modo sugeria que as internações e o isolamento

social fossem substituídos por tratamentos ambulatoriais e a interação junto a

sociedade, para que os manicômios fossem desabitados e substituídos por

instituições mais voltadas a reabilitação de pacientes com transtornos mentais.

Neste sentido, afirma-se que Basaglia:

[...] ao se deparar com a violência do manicômio e a destruição das pessoas internadas, inicia um radical processo de crítica e de transformação da instituição. Seus escritos problematizaram a condição da pessoa internada e os significados do manicômio, questionando a Psiquiatria, seus instrumentos e sua finalidade como ciência. Basaglia destacava que a transformação da condição do paciente internado exigia a criação de propostas que tivessem por princípio a sua liberdade. (YASUI, 2015, p. 17).

Este novo modelo de tratamento que criticava veementemente o antigo

modelo manicomial, é baseado no respeito aos direitos humanos, como também é

alçado na cidadania8 das pessoas que sofrem com transtornos mentais.

Particularmente, este tratamento inovador é amplamente repercutido no Brasil e

endossado a luta dos trabalhadores em saúde mental.

Nesta linha de raciocínio, o novo modelo implementado no Brasil tinha a

proposta da substituição dos manicômios por uma rede de instituições articuladas,

regionalizadas e voltadas para a reabilitação do convívio em sociedade das pessoas

com transtorno mental, como também priorizava a liberdade individual e a inclusão

social do indivíduo, diferentemente do modelo alienista, que nas palavras de Rosa

(2000), produz e administra a enfermidade.

Somados a este novo modelo de tratamento, e endossando a luta por um

tratamento que priorizasse os direitos da pessoa com transtornos mentais, surge o

movimento de reforma psiquiátrica composto por pessoas da sociedade civil,

8 Pondera-se que na sociedade capitalista a concepção de cidadania é reduzida, posto que não pode

ser ampliada neste modo de produção. Portanto, é limitada, principalmente a determinados segmentos populacionais.

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trabalhadores da área da saúde mental, com também familiares das pessoas com

patologias de ordem psicológica. O intuito do movimento não era apenas de

denunciar o manicômio como um ambiente violento e danoso para os pacientes,

mas de substituí-lo por um modelo em que se respeitasse os direitos destas pessoas

acometidas por transtornos mentais.

Este movimento inicia-se no final da década de 1970, após o país ter

enfrentado um longo período de repressão posto pela Ditadura Militar, mas que no

referido decênio, vivia um momento de efervescência dos movimentos sociais. Neste

viés, ocorre “[...] um forte processo de questionamento das políticas de assistência

psiquiátrica vigente na época.” (VASCONCELOS et al, 2002, p. 22). Assim sendo,

tem-se o início do Movimento Social pela Reforma psiquiátrica no Brasil.

No ano de 1978, com a efervescência dos movimentos sociais, os

trabalhadores em saúde mental iniciam reivindicações por melhores condições de

trabalho, como também se unem a segmentos da sociedade civil e parentes dos

pacientes com transtornos mentais no intuito de lutar por um tratamento mais

humano de combate as doenças psíquicas. Deste modo, surge o Movimento dos

Trabalhadores em Saúde (MTSM).

No que concerne os períodos históricos do Movimento de reforma

psiquiátrica, Vasconcelos et al (2002) aponta que ocorreram cinco períodos distintos

entre os anos de 1978 até o ano de 1995. Nesta linha tênue, afirma-se que tais

períodos foram compostos por avanços que possibilitaram a criação de leis que

visam proteger e assegurar os direitos das pessoas com transtornos mentais.

Desta feita, de acordo com os estudos de Vasconcelos et al (2002), no

primeiro período (1978-1982) do MTSM ocorreu uma mobilização da sociedade civil

contra a mercantilização da loucura e o “alisamento genocida” que assolavam os

hospitais psiquiátricos públicos e privados. Neste primeiro momento, buscava-se

denunciar os maus-tratos realizados nas instituições destinadas a internação

psiquiátrica, como também buscava-se humanizar estes ambientes hospitalares.

Neste primeiro período o MTSM também reivindicava melhores condições de

trabalho para os profissionais da área, como também apostava na expansão dos

serviços ambulatoriais para um tratamento mais humanizado, uma vez que,

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principalmente nos hospitais privados, ocorria o que Vasconcelos et al (2002),

chama de indústria da loucura, ou seja, a grosso modo, as pessoas com transtornos

mentais eram internadas para gerar lucro para estes hospitais privados. A partir

destes processos reformadores da psiquiatria, o asilo é enxergado:

[…] Como uma instituição que, no plano ético e jurídico, viola os direitos humanos dos portadores de transtorno mental sem reconhece-lhes os direitos inerentes à condição de cidadania. No aspecto clínico, pela sua ineficácia terapêutica, tornou-se um espaço patogênico e cronificador; na sua face institucional reproduz a violência por sustentar-se em relações de poder desigual e em relações interpessoais, desumanas, massificadoras, burocratizadas, figurando assim como uma instituição total – que fecha os indivíduos na lógica e no tempo construído organizacionalmente. (ROSA, 2000, p. 265-266).

No que concerne ao segundo período, reafirma-se a concepção de modelo

não asilar do tratamento destinado a loucura. Nestes termos como Vasconcelos et al

(2002) endossa que foi reclamado a expansão e a formalização do modelo

sanitarista de saúde, que posteriormente desembocou na criação do Sistema Único

de Saúde, com ações voltadas para a criação de equipes multiprofissionais de

saúde e ambulatoriais de saúde mental.

Neste período, é válido salientar também que ocorreu a entrada de lideranças

do MSTM nas secretarias estaduais de saúde, com a eleição de governos estaduais

oposicionistas, nos Estados de São Paulo e Minas Gerais, no ano de 1982. Com

esta ocupação foi possível objetivar que cessasse a criação de novos leitos

psiquiátricos, e a redução onde possível fosse, como também que ações de saúde

de forma regionalizada, houvesse um controle nas internações, a rede ambulatorial

fosse expandida, e também fosse promovida a humanização e processos de

reinserção social. (VASCONCELOS et al, 2002, p.24).

Quanto ao terceiro período do Movimento de Reforma psiquiátrico brasileiro,

Vasconcelos et al (2002), aponta grandes avanços, mas também retrocessos, dentro

de um curto espaço de tempo, que ocorreu entre os anos de 1987 até o ano de

1992.

Com relação aos retrocessos, o autor aponta que houve um fechamento

temporário dos espaços políticos, tendo em vista que, foram eleitos, a nível Federal

e Estadual, governos que iam de encontro a interesses democráticos e populares,

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que impediram avanços significativos neste campo. Apesar do retrocesso,

Vasconcelos et al (2002), aponta eu nesse período foi vivenciado a consolidação de

conquistas do período anterior, tais como a Constituição Federal de 1988 e a Lei

orgânica da saúde de 1990.

Com relação a conquista da regulamentação do Sistema Único de saúde, e a

lei 8.080 de 1990, a qual dispõe sobre a proteção e recuperação da saúde e a

organização dos serviços correspondentes; como também a Lei 8.142 de 1990 a

qual dispõe sobre a participação da comunidade no SUS e sobre a transferência dos

recursos dos entes federativos, sabe-se que ambas foram frutos de reivindicações

alcançadas graças ao Movimento de Reforma Sanitária9.

É também nesse período que no seio do próprio MTSM desenvolve uma

crítica ao próprio movimento, no sentido de que salientava-se a necessidade de

firmar uma “realiança” com os movimentos populares, como também com a opinião

pública em geral. (VASCONCELOS et al, 2000, p. 25).

Outro importante avanço datado do terceiro período constituiu na tentativa de

transformação do sistema de saúde mental. Neste sentido, uma das primeiras

iniciativas constituiu no Projeto de Lei Paulo Delgado, o qual propunha a extinção e

a substituição gradativa dos serviços manicomiais por serviços ambulatoriais. Deste

período, também se deriva um laboratório de atenção psicossocial que

posteriormente serviu como experiência importante para a implantação dos CAPS.

De acordo com os apontamentos de Vasconcelos et al (2002), o quarto

período ocorreu entre os anos de 1992 e 1995. Ainda segundo o autor mencionado,

este período foi o que conteve mudanças significativas na história da política de

saúde mental no Brasil. Foi neste período que ocorreu a II Conferência Nacional de

Saúde Mental, como também foram lançadas portarias ministeriais para financiar os

novos serviços para o tratamento da doença mental, em particular o tratamento da

atenção psicossocial.

9 A reforma sanitária constituiu-se em um movimento reivindicatório que, de acordo com Bravo (2000),

contou com a participação de novos sujeitos sociais na discussão das condições de vida da

população brasileira com o intuito de provocar transformações necessárias para a melhoria da

qualidade de vida da população, bem como ofertar melhores condições de saúde para os

trabalhadores desta área.

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Posteriormente, Vasconcelos et al (2002), aponta que ocorreu a

“despolitização saneadora”, ou seja, ocorreu uma redução significativa do número de

leitos em hospitais privados e públicos, neste último o índice de diminuiu 27,8% dos

leitos, correspondendo ao total de 27 mil leitos em todo o Brasil. Destaca-se também

que apesar da significativa redução, ainda há uma significativa parcela de leitos de

internamento, visto que, alguns hospitais conseguiram camuflar este serviço.

Datado do quarto período, consta a criação de dois mil leitos psiquiátricos em

hospitais gerais e duzentos CAPS (hospitais dias e Centros), e Núcleos de atenção

psicossocial (NAPS), efetivando a substituição gradual do tipo manicomial para o

novo modelo de atenção. Em consonância a isto, também foi notável o crescimento

No quinto e último período da reforma psiquiátrica, Vasconelos et al (2002)

aponta que este período, que corresponde ao período a partir do ano de 1995, até a

presente data, foi marcado pela ofensiva neoliberal do Governo de Fernando

Henrique Cardoso (FHC), com intensas taxas de desemprego e conseqüentemente

aumento da miséria e violência social.

Apesar de ter ocorrido um verdadeiro bloqueio nas tentavas de avanço para o

tratamento de saúde mental, houve significativos avanços tais como a legislação

federal sobre cooperativas sociais para a inclusão de pessoas com dependência

química, como também foi lançada uma portaria para regulamentar as comunidades

terapêuticas. Sustenta-se também que foram inseridas nas unidades básicas de

saúde, equipes multidisciplinares para realização de trabalho com a comunidade

sendo possível o desenvolvimento de trabalhos em saúde mental. (VASCONCELOS

ET AL, 2000).

Ademais, salienta-se que no ano de 2001, um projeto de lei sancionou a

criação da lei que dispõe sobre a proteção e o direito das pessoas portadoras de

transtornos mentais e que também redirecionou o modelo de assistência a saúde

mental no Brasil. A Lei 10.216 foi aprovada aos dias seis de Abril do ano de 2001,

após mais de dez anos em tramitação no Congresso Nacional. Significou um marco

histórico na Luta Antimanicomial brasileira a qual se estende desde o final da década

de 1970.

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Esta significativa conquista alcançada diante de luta e reivindicações permite,

de acordo com Mateus e Mari (2013), avanços para além da efetivação de direitos,

pois com a legislação também será regulamentada o atendimento em saúde mental,

seu financiamento, credenciamento de técnicos e serviços, padrões mínimos de

qualidade em saúde mental, entre outros aspectos.

Nesta linha de raciocínio, Yasui (2015), ao explanar sobre as conquistas fruto

das reivindicações dos trabalhadores em saúde mental e segmentos da sociedade

civil assegura que “a reforma Psiquiátrica transformou-se em uma ampla política

pública, ampliando a rede de serviços e as ações da saúde mental, reduzindo leitos

psiquiátricos, aumentando o investimento na rede extra-hospitalar” (YASUI, 2015, p.

16).

Nesta ótica, conclui-se que as conquistas efetivadas na área de saúde mental

no Brasil, tais como a Política Nacional destinada a pessoas acometidas por

transtornos mentais, a legislação vigente no país e o tratamento ambulatorial que

permite convívio familiar e comunitário se constitui em medidas essenciais para a

efetivação dos direitos das pessoas com esta patologia. Tais medidas foram

essenciais para que o histórico de abandono destinado ao tratamento da loucura

fosse superado.

Por conseguinte, busca-se tecer novos caminhos para que os direitos das

pessoas com transtorno mental sejam efetivados em uma sociedade repleta por

antagonismo de classe que reflete em descriminação e opressão nos mais

diversificados segmentos minoritários e oprimidos.

2.2. OS DESAFIOS HISTÓRICOS DA EFETIVAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL NO BRASIL CONTEMPORÂNEO

Após a Ditadura Militar o Brasil viveu um período de relativa efervescência

com o advento de Movimentos Sociais os quais clamavam por democracia, após

vários anos de cerceamento de liberdade. Neste sentido, para firmar o pacto com os

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direitos humanos e sociais dos cidadãos brasileiros, foi promulgada a Constituição

Federal no ano de 198810.

Fruto das reivindicações da classe trabalhadora a CF implementou a política

de Seguridade Social, prevista em ser artigo 194, a qual está alçada em três pilares,

a Previdência Social, política contributiva, assistência social, política não contributiva

destinada a quem dela necessitar, e a saúde que se constitui em um direito universal

efetivado através do Sistema Único de Saúde (SUS).

Em seu texto original, no artigo 196, a CF aduz sobre o SUS enfatizando que

as ações e os serviços públicos estão dispostos de forma regionalizada11 e

hierarquizada12 e que constituem um Sistema Único de Saúde, que possui como

diretrizes a descentralização13, a participação comunitária e o atendimento integral,

com prioridade para as atividades de prevenção a saúde.

No que se refere à saúde mental, a partir deste marco histórico, no ano de

1990, é criada a Coordenação Geral de Saúde Mental (CGSM), a qual passa a

coordenar a política de saúde mental no Brasil. Com a criação, potencializa-se as

ações voltadas para a adequação a nova modalidade de tratamento da doença

mental no país no âmbito do SUS, com a redução de leitos em hospitais,

psiquiátricos e o financiamento de serviços em comunidades. (MATEUS E MARI,

2013).

Como parte do processo de substituição do internamento psiquiátrico, surgem

os centros de atenção psicossocial, os CAPS. Estes centros são substitutivos do

tratamento de internação e propõe a substituição por serviços ambulatoriais que

10

De acordo com o código de ética do serviço social uma sociedade livre de exploração de classe não seria possível em uma sociedade que adota o modo de produção capitalista, contudo estes direitos assegurados teoricamente são limitados, bem como não são efetivados de forma ampla para todos. 11

Regionalização significa dizer que os atendimentos são estruturados a partir de regiões de saúde, as quais têm em comum, rede de transporte público interligada, aspectos populacionais, índices de vulnerabilidade social, entre outros.

12 A hierarquização está dividida em atenção primária (estratégia de saúde da família (ESF),

secundária (média complexidade, como centro especializados) e terciária (internação em grandes hospitais).

13 Descentralização refere-se a forma de financiamento a qual é realizada pelos três entes

federativos, Governo federal, Estadual e Municipal.

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priorizem o convívio social familiar e na comunidade em vez de propor o isolamento

do paciente. Neste sentido, assevera-se que:

Os CAPS são instituições destinadas a acolher os pacientes com transtornos mentais, estimular sua integração social e familiar, apoiá-los em suas iniciativas de busca da autonomia, oferecer-lhes atendimento médico e psicológico. Sua característica principal é buscar integrá-los a um ambiente social e cultural concreto, designado como seu “território”, o espaço da cidade onde se desenvolve a vida quotidiana de usuários e familiares. Os CAPS constituem a principal estratégia do processo de reforma psiquiátrica. (BRASIL, 2004, p. 09).

Por conseguinte, evidencia-se que esse serviço é a principal referência na

substituição do modelo hospitalocêntrico14, uma vez que, se mostra em um

componente estratégico para a efetivação de saúde mental no país, como também

contribui para que seja diminuída a omissão assistencial presente no atendimento de

pessoas acometidas por transtorno mental, expandida ao longo dos séculos. Neste

viés, complementa-se que:

Os CAPS, assumindo um papel estratégico na organização da rede comunitária de cuidados, farão o direcionamento local das políticas e programas de Saúde Mental: desenvolvendo projetos terapêuticos e comunitários, dispensando medicamentos, encaminhando e acompanhando usuários que moram em residências terapêuticas, assessorando e sendo retaguarda para o trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde e Equipes de Saúde da Família no cuidado domiciliar. (BRASIL, 2004, p. 12).

Neste sentido, os CAPS foram criados oficialmente a partir da portaria GM

224 no ano de 1992, e eram definidos como unidades de saúde locais e

regionalizada. Não obstante, a portaria GM 336 de 19 de fevereiro de 2002

regulamenta diversos tipos de serviços substitutivos do modelo alienista,

estabelecendo normas para o funcionamento Núcleos de atenção psicossocial

(NAMPS), os Centros de Referência em Saúde Mental (CERSAms) e os CAPS, os

quais possuem como finalidade oferecer atendimento diurno a pessoas com doença

mental severa e persistente.

Ademais, a última portaria supracitada dispõe também sobre as modalidades

de CAPS existentes e quais públicos são destinados ao atendimento em cada

centro. Deste modo, os centros são organizados de forma hierarquizada e dividida 14

Modelo hospitalocentrico é como é chamado a forma de tratamento da loucura no século XVIII,

idealizada por Philipe Pinel. O tratamento consistia em internações e ausência de convívio social e familiar, além de utilizar meios violadores de direitos para conter os surtos psicóticos.

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entre CAPS I15, CAPS II16, CAPS III17, CAPSi II18, CAPS AD II19, todas estes centros

estão destinados a atendimento de um público diversificado para tratamento de

transtornos mentais20.

Todos os serviços mencionados fazem parte de um conjunto integrado de

ações que constituem uma rede de atendimento em saúde mental, a qual também

está inclusa os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), Centros de conveniência,

ambulatórios de saúde mental e hospitais gerais, tendo como principais

características a municipalização, o controle social, o atendimento gratuito e que

fortalecem os princípios da reforma psiquiátrica. (BRASIL, 2005). Assim sendo, tem-

se que:

A ideia fundamental aqui é que somente uma organização em rede, e não apenas um serviço ou equipamento, é capaz de fazer face à complexidade das demandas de inclusão de pessoas secularmente estigmatizadas, em um país de acentuadas desigualdades sociais. É a articulação em rede de diversos equipamentos da cidade, e não apenas de equipamentos de saúde, que pode garantir resolutividade, promoção da autonomia e da cidadania das pessoas com transtornos mentais. Para a organização desta rede, a noção de território é especialmente orientadora. (BRASIL, 2004, p. 25)

Neste viés, tem-se que a articulação da rede de serviços de atendimento as

pessoas com transtorno mental deve ser interligada com a finalidade de efetivar

15

O Centro é determinado como sendo porte I quando atende uma população entre 20.000 e 70.000 habitantes. O atendimento deve ser realizado em 2 (dois) turnos, de segunda a sexta-feira, das 8 h às 18 h, com o atendimento máximo de 30 pacientes por dia.

16 O Centro determinado como sendo de porte II quando atende uma população adscrita entre 70.000

mil e 200.000 mil habitantes. O atendimento deve ocorrer em 2 (dois) ou 3 (três) turnos, este último estendido até as 21 h, com o atendimento máximo de 45 pacientes por dia.

17 O Centro determinado como sendo de porte III quando atende uma população adscrita acima de

200 mil habitantes. O funcionamento deve ocorrer durante 24 h, diariamente, incluindo finais de semana e feriados, limitando-se a atender no máximo 60 pacientes por turno.

18 Centro de Atendimento Psicossocial infantil destinada a atender crianças e adolescentes com

transtornos mentais. O Serviço deve funcionar em dois turnos, iniciando às 8 h até as 18 h, podendo ainda funcionar em um terceiro turno até as 21 h. O limite máximo de pacientes atendidos por dia são de 25 (vinte e cinco) pacientes.

19 Centro de Atendimento Psicossocial destinado a atender pessoas com transtornos mentais

provocados pela dependência química gerada a partir do consumo abusivo de Álcool e outras drogas. O Serviço deve funcionar em dois turnos, sendo das 8 h até as 18 h, podendo ser estendido até um terceiro turno, funcionando das 18 h até as 21 h. O limite máximo de pacientes atendidos por dia é de 25 (vinte e cindo)

20 Fonte: Portaria GM 336/02 de 2002. Disponível em:

http://www.saude.mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=322

Page 33: SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE MENTAL: LIMITES E … · Palavras-chaves: Saúde mental, Serviço Social, reforma psiquiátrica. ABSTRACT This work aims to understand the limits, possibilities

32

maior suporte no atendimento e nas necessidades mais básicas e vitais deste

segmento.

Apesar dos significativos avanços alcançados pela CF, a recente democracia

do Brasil sofre um duro golpe logo após regulamentar o acesso aos direitos dos

cidadãos. A ofensiva Neoliberal21 chega ao Brasil com o Governo do Presidente

Fernando Collor de Melo, em 1992, e com a nova política, há um grande desmonte

dos direitos sociais alcançados após muita luta e resistência da classe trabalhadora.

Após a ofensiva, houve um relativo aumento de privatização dos serviços

públicos, nos quais podem-se citar os serviços fornecidos pelas prestadoras de

saúde. De acordo com Iamamoto (2008), em tempos de neoliberalismo, tende-se a

enaltecer o setor privado e a diminuir todos os serviços ofertados pelo setor público,

na tentativa de retirar a credibilidade e com isto a obrigação do Estado de fornecer

serviços públicos de qualidade.

Não obstante, também tende-se a responsabilizar a sociedade civil pelo

fornecimento de serviços a população subalterna com o enaltecimento do terceiro

setor22. Neste sentido, os membros da sociedade são chamados a contribuir com

instituições voltadas para o atendimento do público mais carente, com a finalidade

de retirar a responsabilidade do Estado no fornecimento de serviços básicos para a

efetivação de direitos. Esta retirada maciça da responsabilidade estatal no

fornecimento de serviços públicos provoca:

[…] Mudanças ocorridas e em processo, referentes à perda de direitos de cidadania por serviços e políticas sociais, assistenciais e por uma seguridade social estatais e universais e de qualidade (particularmente em países centrais), e à sua precarização e focalização (particularmente nos países periféricos) à remercantilização e refilantropização da “questão social”, afetam profundamente tanto os setores mais carentes quanto o conjunto dos trabalhadores. (MONTAÑO, 2002, p. 14).

21

A política neoliberal é oriunda da crise estrutural do capital, sobretudo em períodos de recessão, nos quais pessoas tendem a ter maiores problemas relacionados a transtornos mentais, fruto do acirramento das desigualdades sociais, do avanço da violência, intensificação das expressões da questão social que muitas vezes são vistas e/ou resolvidas por perspectivas alienadas e conservadoras. 22

De acordo com Montaño (2002), há um isolamento mediante setorialização de esferas da sociedade, deste modo, ocorre a mistificação da sociedade civil, definida como terceiro setor, a qual aparente ser popular, homogênea e sem contradições de classes e que buscaria um bem comum em oposição ao Estado, primeiro setor, considerado burocrático e ineficiente, e ao mercado segundo setor, que angaria lucros e contribui para facilitar a hegemonia do capital na sociedade.

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33

Diante de todos estes desmontes de direitos sociais conquistados

anteriormente com muita luta e resistência através de movimentos sociais

constituídos por diversos segmentos da classe trabalhadora, vê-se o desmonte e a

regressão de serviços públicos, entre eles os de saúde, afetando, particularmente os

serviços de tratamento ambulatorial substitutivo do internamento destinado as

pessoas acometidas com transtornos mentais.

Entretanto, apesar do avanço vivenciado pela CF e o retrocesso vivido a partir

da ofensiva neoliberal há que se destacar também algumas recentes conquistas, tais

como o incentivo a política de humanização do SUS, as portarias que regulamentam

o funcionamento dos serviços de saúde mental, como também a promulgação da lei

10.216/2001, a qual faz alusão a proteção de direitos das pessoas acometidas por

transtorno mental.

Com base na organização social e institucional das práticas de atenção do

SUS, foi criada pelo Ministério da Saúde, no ano de 2003, a Política Nacional de

Humanização do SUS, para atuar como política transversal de fortalecimento, da

atenção e gestão da qualificação do sistema.

A criação da política transversal deveu-se a necessidade de avanços e

qualificação no Sistema Nacional de Humanização com enfoque em atender as

necessidades dos usuários, como também de enfatizar o trabalho dos gestores da

área com o intuito de reconhecer a singularidade presente em cada sujeito.

A Política Nacional de Humanização do SUS está balizada por três princípios,

são eles: a inseparabilidade entre a atenção e a gestão dos processos de produção

de saúde, a transversalidade e autonomia e o protagonismo dos sujeitos. Esta

política tem construção tripartite com participação do governo federal, estadual e

municipal e prioriza que os sujeitos envolvidos no atendimento sejam protagonistas

e busquem a universalidade no acesso e a integralidade do cuidado na equidade da

oferta dos serviços de saúde.

A política supracitada e promulgada no ano de 2003 se constitui em um sólido

avanço para a rede de atenção do SUS, uma vez que as ações são realizadas para

os usuários, e conseqüentemente estes devem ser atores e precursores dos

serviços, uma vez que, são destinados para o atendimento destes, e para sucesso

Page 35: SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE MENTAL: LIMITES E … · Palavras-chaves: Saúde mental, Serviço Social, reforma psiquiátrica. ABSTRACT This work aims to understand the limits, possibilities

34

na efetivação da política, se faz de necessário ouvir os atores sociais e as

demandas postas por eles.

Analisando a Política Nacional de Humanização do SUS em comparação com

os princípios da Reforma Psiquiátrica, infere-se que a primeira reafirma os princípios

da segunda, bem como dá suporte para o fortalecimento das propostas em debate

em torno da saúde mental. Deste modo, concorda-se com Yasui (2015), quando o

autor afirma que tanto a PNH, quanto RP buscam se afirmar com força e resistência

mesmo diante do projeto hegemônico da sociedade que tende a inferiorizar a

capacidade autônoma dos sujeitos.

Em consonância à política de humanização, foi promulgada a lei 10.216/2001

a qual faz alusão à proteção social da pessoa com transtorno mental, independente

de raça, cor, religião, condição sexual, grau da patologia ou qualquer outro tipo de

descriminação. Ademais, a lei também redireciona o modelo de assistência em

saúde mental com a finalidade de humanizar o atendimento.

No que se refere a concordância com a PHN e a RP a lei que protege os

direitos das pessoas acometidas por transtornos mentais, em seu parágrafo único

revela que são direitos destes pacientes receberem tratamento adequado no SUS,

como também ser tratado de forma humana, com o único intuito de beneficiar a sua

saúde e a inserção na comunidade, em atividades laborativas e no seio do

acolhimento familiar.

A referida lei também traz detalhes sobre o atendimento destinado as pessoas

com transtornos mentais, como também orientação para os profissionais de saúde

que atuam na área da saúde mental. Deste modo, orienta-se que o paciente deve

ser atendido por uma equipe multidisciplinar, composta por médicos, assistentes

sociais, psicólogos, terapeutas ocupacionais, entre outros profissionais.

Ademais, no que se refere a questão do atendimento ambulatorial, o

internamento do paciente só é recomendado quando todas as tentativas de

recuperação forem esgotadas e não restarem mais alternativas para o controle do

surto psicótico. Esta estratégia é utilizada para que seja priorizada a liberdade do

paciente acometido por transtorno mental, com base nos princípios que asseveram

um atendimento humanizado.

Page 36: SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE MENTAL: LIMITES E … · Palavras-chaves: Saúde mental, Serviço Social, reforma psiquiátrica. ABSTRACT This work aims to understand the limits, possibilities

35

Contudo, a referida lei também aduz a participação e a importância do

profissional do serviço social na inserção da equipe multidisciplinar que compõe a

equipe de atendimento para a pessoa com saúde mental, pois o assistente social

busca efetivar o acesso a direitos, bens e serviços e se faz de fundamental

relevância a menção ao profissional dessa área na legislação supracitada. Com isto,

percebe-se a importância da inserção da profissão no referido espaço

sóciocupacional.

Diante do exposto, pode-se perceber que foram inúmeros os avanços e

retrocessos para a efetivação da política de saúde mental no Brasil, visto que

Mateus e Mari (2015) apontam que:

“Toda a política brasileira vem sendo desenhada buscando os princípios de respeito à dignidade e às liberdades individuais dos usuários dos serviços de saúde mental, em especial os portadores de transtorno mental grave”. (MATEUS E MARI, 2015, p.22)

Apesar de todos os avanços refletidos na PNH, RP em consonância com a Lei

10.216/2001, ressalta-se que um grande desafio que se faz presente na Luta

Antimanicomial na atualidade, trata-se da questão das pessoas que desenvolveram

transtornos mentais por fazerem uso abusivo de álcool e outras drogas.

A questão que se traz a baila é que a sociedade ainda possui uma visão muito

limitada e conservadora a respeito do uso de algumas drogas consideradas ilícitas

no Brasil. A proibição do uso de algumas substâncias entorpecentes faz com que

não se tenha controle da qualidade do produto ofertado, e com isto muitas pessoas

fazem uso irrestrito destes psicoativos, mesmo que seja proibido o consumo e a

comercialização.

O uso abusivo destas substâncias em pessoas que se enquadram em um

grupo de risco, tais como pessoas com histórico de dependentes na família,

esquizofrênicos e adolescentes correm mais riscos de sofrer dependência e com isto

desenvolver transtorno mental decorrente do uso abusivo de substâncias

entorpecentes.

Em consequência desse grave expressão da questão social pensa-se em

estratégias de enfrentamento às drogas com base na repressão, descriminação do

usuário e internações compulsórias. Essas internações que não priorizam a

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36

liberdade a singularidade do indivíduo consiste em um retrocesso que divergem das

políticas de saúde mental brasileiras na atualidade.

Ao olharmos para a corrente conservadora que ainda domina amplos setores da sociedade e que se refletem nos modos de se fazer a gestão na saúde, como as recentes ações para internação compulsória dos dependentes químicos, temos a sensação de que estamos muito distantes de ver implantada os princípios que acima nomeamos (YASUI, 2015, p. 19).

Neste sentido, elencamos como principais desafios a efetivação da política

de saúde mental brasileira, o desmonte de direitos da ofensiva neoliberal, o histórico

conservador dado ao tratamento da loucura desde os primórdios da sociedade e a

visão arcaica com a qual a sociedade brasileira enxerga as substâncias psicoativas,

criminalizando algumas delas.

2.3. ANÁLISE DA CONJUNTURA DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL EM NATAL/RN

Nesse tópico iremos apresentar análise da conjuntura da política de saúde

mental em Natal/RN. O SUS é organizado de forma hierarquizada e descentralizada,

com financiamento realizado pelas três esferas governamentais, quais sejam, fede-

ral, municipal e estadual. Deste modo, a atenção básica de saúde deve receber

maiores investimentos do governo municipal. Tais investimentos são destinados a

promoção e a prevenção da saúde destinado a atenção primária.

Em seu artigo 196, de acordo com a CF as condições de saúde são postas

através de políticas sociais e econômicas que tenham como foco a redução de ris-

cos de doenças e outros agravos e o acesso igualitário às ações para a sua promo-

ção e proteção. (BRASIL, 1988).

Na perspectiva de prevenção de doenças e outros agravos é que está alçada

a rede de saúde mental na cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte (RN). A

rede é composta por unidades da atenção básica de saúde e da rede hospitalar que

integram e se complementam no que diz respeito ao atendimento das pessoas aco-

metidas por transtorno mental na capital potiguar.

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37

Na capital, dispõe-se de alguns serviços substitutivos do modelo manicomial,

tais como o CAPS III leste, objeto do presente estudo; CAPS Infantil; CAPS II Oeste,

CAPS AD Leste, CAPS II Norte, APTAD, localizado na Zona Sul, e por fim, o ambu-

latorial em saúde mental localizado no bairro da Ribeira.

No que concerne a expansão desses serviços no Estado do Rio Grande, San-

tos e Miranda (2014) afirmam que atualmente há uma expansão quantitativa desses

serviços substitutivos, que em linhas gerais, passou de 0,62 para 0,69 CAPS para

cada 100 (cem) mil habitantes 2007 e 2008, para a abrangência de 0,89 por 100

(cem) mil habitantes no ano de 2011.

Nesta ótica, o CAPS III Leste, Dr. André Luiz, é mantido com recursos muni-

cipais e recebe investimentos através da Prefeitura Municipal do Natal. O centro faz

parte da atenção básica de saúde, ou seja, da atenção primária, que visa tratar e

prevenir agravos decorrentes de surtos provocados por transtornos mentais severos

e continuados. A demanda atendida pela instituição é oriunda de moradores das

áreas de abrangência das Zonas Sul e Leste da cidade. O atendimento em saúde

mental é realizado com pessoas de baixa renda.

O Centro supramencionado foi inaugurado no mês de novembro do ano de

2010, e até maio do ano de 2015, mantinha cerca de 1.186 prontuários abertos, divi-

didos entre pacientes em uso de leitos, pacientes intensivos, pacientes semi-

intensivos, e pacientes não intensivos. O centro está localizado na Rua Mipibu, no

bairro de Petrópolis, no município de Natal/RN.

Para ingressar no serviço, o usuário atenderá os critérios de possuir transtor-

nos metais graves, severos e persistentes, serem (ou não) egressos de internações

em instituições psiquiátricas, residir em bairros da área de abrangência dos distritos

Leste e Sul, ter idade mínima 18 (dezoito) anos e estar acompanhado por um famili-

ar ou responsável e munido de documento de identificação.

No que se refere a equipe presente na instituição sabe-se que esta deve ser

composta por uma equipe multidisciplinar assim com está descrita na legislação es-

pecífica para pessoas que são acometidas por transtornos mentais. Deste modo, a

equipe pode ser composta por profissionais de nível superior e nível médio, como

elencado a seguir:

[...] Os profissionais de nível superior são: enfermeiros, médicos, psi-cólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, pedagogos,

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professores de educação física ou outros necessários para as ativi-dades oferecidas nos CAPS. Os profissionais de nível médio podem ser: técnicos e/ou auxiliares de enfermagem, técnicos administrati-vos, educadores e artesãos. Os CAPS contam ainda com equipes de limpeza e de cozinha. (BRASIL, 2004, p. 26).

Por conseguinte, infere-se que o acolhimento e a integração desta equipe é

de fundamental importância para a recuperação dos pacientes que recebem trata-

mento no centro, visto que, juntas desenvolvem atividades terapêuticas, projetos

sociais e promovem a reabilitação psicossocial. Destaca-se que o tempo de perma-

nência do paciente na instituição depende da efetivação e do empenho dos profissi-

onais na recuperação dos mesmos.

A equipe interdisciplinar é importante na medida em que, de acordo com San-

tos e Miranda (2014), deixa de centralizar as atividades em torno da figura do médi-

co, o que configura um avanço em torno da articulação no entorno do processo de

trabalho que envolve a saúde mental.

Esmiuçando, o CAPS supracitado conta hoje com a presença de um médico

psiquiatra, um assistente social, psicólogo, terapeuta ocupacional e um psicopeda-

gogo e uma equipe de enfermeiros e técnicos em enfermagem. Não obstante, nota-

se que a instituição é composta por uma pequena equipe que necessitaria de uma

ampliação para que viesse atender toda a demanda posta ao Centro.

Os serviços ofertados pelo centro são prestados por etapas iniciando pela tri-

agem, passando pelo atendimento individual, oficinas terapêuticas, dispensação de

medicamentos, escuta da família e assembléias, acolhimento noturno, matriciamento

e visitas domiciliares.

Ocorrem três formas distintas de intervenção no referido centro com relação

ao tratamento dos pacientes. Para os pacientes que não serão tratados pelo CAPS

III Leste, o paciente é acolhido e posteriormente encaminhado para algum serviço de

atendimento, dependendo da intensidade da patologia.

Nos casos de permanência do tratamento no Centro, primeiramente é realiza-

do o acolhimento do paciente, em seguida é feita a triagem, posteriormente a escuta

familiar e individual, avaliação médica, discussão do caso e elaboração do projeto

terapêutico singular (PTS).

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39

Com relação à rede de saúde mental na cidade de Natal, sabe-se que a

mesma conta com todas as modalidades de CAPS do porte I, porte II, porte III,

CAPS infantil e álcool e outras drogas, e as clínicas de terapêuticas de recuperação.

Apesar de o serviço ofertar tratamento para a implantação de diversos públicos, os

centros não estão localizados em todas as zonas da capital Natalense23.

Com isto, as áreas mais distantes da cidade, que em geral onde residem as

pessoas pertencentes aos segmentos mais populares da sociedade que não se

mostram carentes apenas de recursos financeiros, mas também a acesso a forma-

ção e a bens de serviços, não contam com este tipo de serviço.

Por esta ótica, observa-se que existe a dificuldade de uma família que possui

membro com transtorno mental e necessita realizar tratamento diário em um Centro

que esteja localizado em lugares distantes, dificulta o acesso ao serviço fornecido, e

com isto, reporta-se ao passado, no hospício Dom Pedro II, quando os pacientes

membros das classes mais ricas desempenhavam atividades e tinha uma recupera-

ção mais rápida, enquanto que os membros das camadas mais pobres da sociedade

eram obrigados a realizar tarefas e com isto, mantinha seu tratamento prolongado.

Somados a estes fatores cabe ressaltar também que os tratamentos ambula-

toriais substitutivos da internação na referida cidade enfrentam muitos outros fatores

que dificultam a sua total efetivação. É comum que estes serviços sofram com a su-

perlotação e que este inchaço no atendimento culmine com que não haja mais a

possibilidade de se realizar o atendimento na unidade.

Este fator viola a lei 10.216/2001 que visa proteger os direitos das pessoas

acometidas por transtorno mental, uma vez que, a legislação prevê que este seg-

mento terá acesso ao melhor tratamento fornecido pelo SUS, no entanto, o trata-

mento que deve ser fornecido pelo ente governamental não é suficiente para atender

a demanda.

Sobre a atual situação da rede de saúde mental no município de Natal, relata-

se que:

23

Não obstante, no serviços substitutivos do modelo manicomial, fruto da conquista da Reforma

psiquiátrica, prioriza-se também a questão da terriorialidade para que as pessoas acometidas por

transtornos mentais possam priorizar o convívio social em sua comunidade sem necessidade de

rompimento de vínculos. No entanto, no caso analisando, particularizando a cidade do Natal, como a

assistência e o trabalho de rede é pouco articulado, culmina por romper esses vínculos territoriais.

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40

A rede de atenção psicossocial formatada para o município enfrenta entraves consideráveis, especialmente ligados ao reduzido quantita-tivo de serviços e equipamentos disponíveis, diante da alta demanda de usuários e escassez de recursos humanos. Dessa forma, o cui-dado prestado acaba não acontecendo de maneira satisfatória ou simplesmente esse cuidado é negligenciado. (PESSOA JÚNIOR, 2011, p. 119).

Por conseguinte, ao se referirem a rede de atenção a saúde mental, Santos e

Miranda (2014), advogam que:

Consiste em um grande desafio que necessita de estudos e planeja-mentos por parte dos órgãos gestores, a fim de criar uma articulação entre os serviços substitutivos, a atenção básica, os hospitais gerais, e demais órgãos sociais, visto que os portadores de transtornos men-tais não freqüentam apenas os CAPS e ambulatórios, eles também são acometidos por outras doenças, também precisam de atendi-mento nas unidades básicas de saúde, e também precisam ser rein-seridos na sociedade, e para tal, necessita de parceiros. (SANTOS E MIRANDA, 2014, p. 109)

Nesta mesma linha de raciocínio, sobre a rede de atenção à saúde mental em

Natal, com relação a instalação do CAPS, complementa-se que apesar dos avanços,

ainda há muitas dificuldades a serem enfrentadas. De acordo com Santos (2007), o

número de leitos em instituições manicomiais ainda é muito elevado, havendo pou-

cos leitos nos serviços substitutivos e em hospitais gerais da capital.

Neste sentido, tem-se que há reais dificuldades para que haja uma efetivação

da política de saúde mental na cidade de Natal, posto que, os serviços ofertados não

são oferecidos de modo que comporte o atendimento de toda a demanda posta para

os centros. Concorda-se com Pessoa Júnior (2011), em seus apontamentos, quando

o autor afirma que “entre os mais de 20 anos decorrentes do processo de Reforma

Psiquiátrica brasileira, amarga mais desafios do que conquistas efetivas”.

Ainda de acordo com Pessoa Júnior (2011), são elencados em sua pesquisa

três principais elementos que se constituem como desafios postos para a continui-

dade do serviço. O autor menciona a ausência ou a frequência irregular de profissio-

nais, o número insuficiente de CAPS, e a dificuldade de implementação do serviço

em cidades de pequeno e médio porte.

Por conseguinte, menciona-se ainda a dificuldade no atendimento do serviço

ambulatorial. Para ter acesso a este serviço, se faz necessário realizar marcação de

atendimento o que se estende por meses até a consulta ser realizada. Enfatiza-se

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41

que nesse serviço a demanda é bem maior do que a quantidade de consultas ofer-

tadas pela quantidade de profissionais.

A rede de atendimento psicossocial de Natal também conta com o hospital

que é referência em saúde mental, o Hospital Colônia Dr. João Machado (HJM). En-

tre as décadas de 1960 e 1970, Santos (2007), informa que o referido hospital era a

única referência de tratamento psiquiátrico no município de Natal. As novas propos-

tas baseadas no modelo da reforma psiquiatra só foram implementadas no municí-

pio no final da década de 1980.

A unidade de saúde citada compõe um modelo de tratamento destinado às

pessoas com transtorno mental, que diverge do modelo Basagliano, defendido pela

PNH, RP e na lei 10.216/2001. Nesta unidade de saúde, ainda se realiza interna-

ções por longos períodos de pacientes considerados graves.

Com relação ao João Machado, o Hospital é referência no estado do Rio

Grande do Norte no atendimento de pacientes graves, trazidos ou não pelo Sistema

de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), e por isso atende pacientes de outros

municípios do estado.

Com as mudanças oriundas da reforma psiquiátrica, o hospital sofreu algu-

mas alterações, tais como a redução de leitos de internamento, porém a proposta

seria que o serviço fosse substituído aos poucos pelo tratamento ambulatorial e com

isto, fosse perdendo a sua funcionalidade até ser fechado de forma definitiva.

Diante do exposto, considera-se que a rede de atendimento em saúde mental

no município de Natal enfrenta diversos problemas os quais impedem que os servi-

ços sejam articulados e prestados de modo que sejam eficazes no tratamento das

pessoas acometidas por transtornos mentais.

As dificuldades se iniciam na atenção básica, quando o intervalo de tempo en-

tre a marcação da consulta e o atendimento realizado pelo médico psiquiatra se pro-

longa por alguns meses até que seja realizada a consulta. Somados a este fator evi-

dencia-se a ausência ou escassez de médicos psiquiatras nos CAPS da cidade.

Destarte, reforça-se a necessidade de promover um diálogo intersetorial entre

os diversos serviços que compõem a rede de atenção psicossocial e saúde mental

do Município do Natal, como os CAPS, os ambulatórios, as residências terapêuticas,

e o próprio Hospital Dr. João Machado, dados os poucos avanços conseguido nos

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42

últimos anos. Deve-se, a partir de então, concentrar esforços em direção às novas

demandas assistenciais emergentes advindas com o aumento do contingente popu-

lacional e os poucos investimentos financeiros destinados nesse campo. (PESSOA

JUNIOR, 2011).

Ainda com relação a estrutura dos CAPS no município de Natal, complemen-

ta-se que:

Em sua maioria apresentava-se sucateados; com problemas de infil-trações; instalações elétricas e hidráulicas antigas; espaço inade-quado para o atendimento da demanda, que não é pequena, faltando salas para o atendimento individuais e grupais; escassez de material apropriado para oficinas terapêuticas e atividades de lazer; medica-mentos, pessoal administrativo e recursos humanos deficientes; além da falta de valorização na formação dos profissionais, com a ausên-cia ou pequena oferta de cursos de capacitação na área de formação de saúde mental e falta de supervisão, o que interfere na motivação destes profissionais em aprimorar e melhoras suas práticas profissi-onais. (SANTOS, PESSOA JÚNIOR E FERNANDES, 2014, P. 95).

Esta afirmação pode ser constatada com o fato de que o CAPS III do municí-

pio de Natal não realiza atendimentos noturnos pela ausência de médico psiquiatra

que realize plantões noturnos. Isto posto, atualmente, o referido centro está tempo-

rariamente impedido de abrir novos prontuários para atender pacientes recém-

chegados pela ausência de profissionais.

No que se refere à atenção terciária na saúde mental no município de Natal,

com os internamentos no Hospital Colônia Dr. João Machado (HJM), ressalta-se que

este sofre as conseqüências da ineficiência da rede de atenção básica, uma vez

que, o tratamento ambulatorial evitaria um número significativo de internações.

De acordo com o estudo de Pessoa Júnior (2011), após a internação psiquiá-

trica, os pacientes procuram a rede de atenção básica pra dar continuidade ao tra-

tamento psiquiátrico, porém com todas as dificuldades enfrentadas pelo serviço

prestado pela atenção básica e a dificuldade de articulação da rede, estes culminam

por retornar ao internamento hospitalar.

Neste sentido, os atendimentos essenciais para o tratamento das pessoas

acometidas por transtornos mentais que poderiam ser solucionados na atenção bá-

sica são direcionados para o HJM, como nos casos de entrega de receitas e atesta-

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dos médicos e consultas, porém essas demandas culminam por contribuir com a

superlotação da referida unidade de saúde.

Com isto, percebeu-se que, de acordo com os apontamentos realizados pelos

autores supramencionados, a capital potiguar enfrenta diversas dificuldades que im-

pedem uma articulação eficaz na rede de atenção a saúde mental. Em síntese, os

principais problemas mencionados no município são: a ausência de profissionais

e/ou profissionais capacitados para o atendimento em saúde mental, poucas vagas

ofertadas em leitos em hospitais gerais e centros e ausência de estrutura nos servi-

ços substitutivos.

Ademais, no ano de 1995, foi sancionada a lei Estadual 6.758 aos dias 4

(quatro) de janeiro, a qual dispõe sobre a adequação dos hospitais psiquiátricos, lei-

tos psiquiátricos em hospitais gerais, construção de unidades psiquiátrica e dá ou-

tras providências. Já em seu primeiro artigo a lei proíbe a criação de novos hospitais

no modelo asilar, bem como a criação de novos leitos nestas unidades de saúde.

A legislação supracitada também faz menção à criação de leitos psiquiátricos

em hospitais gerais, em seu artigo 5º. Neste sentido, esta medida seria essencial

para reduzir a superlotação do HJM o qual atende pacientes oriundos de todas as

regiões do estado.

Todavia, a ausência de leitos em hospitais gerais do interior de estado culmi-

na com a vinda dos pacientes em surto psicótico para a capital do estado, e com

isto, ocorre o afastamento do lar, família e da comunidade, no entanto, a continuida-

de dos vínculos do paciente é essencial para sua recuperação, como é defendido na

reforma psiquiátrica brasileira.

Contudo, conclui-se que além do mau funcionamento da rede de saúde men-

tal no município de Natal, ainda vive-se resquícios do tratamento asilar na cidade,

posto que devido à ausência de articulação nos serviços de atendimento básico, os

serviços mais simples se concentram em torno do HJM, provocando superlotação,

como também respalda o modelo asilar.

Percorreu-se todo esse trajeto, evidenciado-se desde os primórdios do trata-

mento destinado a loucura da idade média até a contemporaneidade com os avan-

ços e retrocessos, tais como o modelo asilar e o modelo atual idealizado por Basi-

glia, iniciado na Europa e difundido por todo o ocidente. Por conseguinte, foram dis-

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cutidos os principais avanços ocorridos no Brasil no que concerne a trajetória da sa-

úde mental brasileira.

Ademais, chegou-se ao caso específico do município de Natal, particularizan-

do as instituições ligadas a rede de tratamento destinado à saúde mental na cidade,

bem como os principais problemas enfrentados na capital para a efetivação da polí-

tica de saúde mental.

É neste cenário de avanços e retrocessos que estão inseridos os assistentes

sociais que atuam direitamente na política de saúde mental. Apesar dos respaldos

Teorico-metodológicos, Ético-políticos, e Tecnico-operativo, o referido campo enfren-

ta diversos desafios que são postos em forma de requisições para a intervenção do

profissional, como será enfatizado no próximo capítulo.

Inicialmente, verifica-se que o profissional que atua diretamente com saúde

mental deve estar preparado para se inserir em uma equipe multidisciplinar e atuar

em conjunto para fornecer o melhor tratamento para os pacientes, observando a

singularidade no tratamento e o contexto social no qual o paciente está inserido. As-

sim sendo, o profissional precisa estar em sintonia com as normas do trabalho em

equipe, respeitando as atribuições de cada profissional, como também afirmando

sua autonomia, sempre relativa.

Posto isto, evidencia-se as dificuldades postas à todos os trabalhadores em

saúde mental, particularizando o caso da capital potiguar, uma vez que a rede do

município não está articulada da forma que deveria provocando uma lacuna nos ser-

viços prestados que necessitam estar diretamente interligados.

Diante disto, de todos estes desafios, o profissional deve estar em consonân-

cia com as diretrizes da reforma psiquiátrica, da política nacional de humanização e

na lei que rege os direitos das pessoas acometidas por transtornos mentais, uma

vez que para se buscar efetivar os direitos destas pessoas, é necessário ter conhe-

cimento sobre as principais diretrizes da política de saúde mental brasileira.

Somados a este fator, destaca-se que o profissional também terá respaldo

não só na legislação que aduz sobre a saúde mental, mas também no projeto ético e

político do serviço social, no código de ética que baliza a atuação profissional como

também na lei que regulamenta a profissão.

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45

3. O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL EM NATAL/RN

Este capítulo tratará da relevância do assistente social na área da saúde men-

tal, realizando um recorte na política de saúde mental na cidade de Natal/RN, apre-

sentando quais as principais possibilidades e desafios postos em forma de demanda

para o serviço social que atua na rede de atendimento à pessoas acometidas por

transtornos mentais nesse município. Neste sentido, para embasar a discussão, será

tomado como base os instrumentos normativos da profissão, e a legislação vigente

que trata da saúde mental, com a finalidade de tecer reflexões para o enfrentamento

dessa expressão pungente da questão social.

3.1. A ATUAÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NO CAMPO DA SAÚDE MENTAL E NA LUTA POR DIREITOS

Os assistentes sociais são profissionais inseridos na divisão social e técnica do

trabalho, possuindo como “matéria prima” do seu fazer profissional as mais

diversificadas expressões da questão social. Por se constituir em produto inerente

ao modo de produção capitalista, tais expressões sofrem metamorfoses a partir das

crises cíclicas intrínsecas a este modo de produção. Estas transformações culminam

com uma questão social sob novas roupagens, colocando novas demandas para os

assistentes sociais. Em consonância a isto, respalda-se que:

A Questão Social em suas variadas expressões, em especial,

quando se manifesta nas condições objetivas de vida dos segmentos

mais empobrecidos da população, é, portanto, a "matéria-prima" e a

justificativa da constituição do espaço do Serviço Social na divisão

sociotécnica do trabalho e na construção/atribuição da identidade da

profissão. (YAZBECK, 2009, p. 06).

Nesta ótica, os assistentes sociais são chamados a atuarem nos mais

diversos campos sociocupacionais, com o intuito de responderem a estas demandas

postas para a intervenção da profissão. Isto posto, estes profissionais inseriram-se

também nos hospitais psiquiátricos, entretanto a perspectiva de atuação nesta

época diverge da atual, uma vez que nos primórdios da profissão a atuação

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profissional atendia aos interesses da classe burguesa. Para Vasconcelos et al

(2008), a formação da profissão no Brasil, na segunda década do século XX,

coincide com o espaço e o tempo do surgimento do movimento higenista.

Por este prisma, de acordo com Vasconcelos et al (2008), tem-se que:

O contexto histórico e político brasileiro de desenvolvimento dos

serviços sociais como iniciativa de Estado e da emergência das

primeiras escolas de Serviço Social, na década de 30, foi fortemente

marcado pelas abordagens e pela ação política do movimento de

higiene mental, em relação de complementaridade e de demarcação

de áreas de competência. (VASCONCELOS ET AL, 2008, p. 128)

Por esta ótica, a intervenção do profissional do Serviço Social, de acordo com

os apontamentos de Vasconcelos (2009), se restringia a intervenção médica,

diferentemente do atual que é voltado para questões emergenciais ligadas a

pobreza dos pacientes, tais como suporte familiar, e comunitário

No que concerne a inserção do assistente social no campo da saúde mental,

sabe-se que estes passaram a integrar a equipe multidisciplinar dos hospitais

psiquiátricos na década de 1940. Contudo, nesse histórico processo, o trabalho

desse profissional teve sua relevância reduzida. O saber profissional na década de

1950 era extremamente reduzido aos conhecimentos da área médica, sem nenhum

tipo de intervenção transformadora. (BUSSULA, OLIVEIRA E VOLPATO, 2013).

De acordo com os estudos de Pereira e Guimarães (2013) nesta época o

trabalho do assistente social era influenciado pela doutrina social católica, bem como

pela lógica social higienista. As atividades realizadas consistiam em levantamentos

de informações a respeito da família dos pacientes, preparação de alta médica e

atestados sociais.

De acordo com os apontamentos realizados por Yazbeck (2009), as bases do

Serviço Social na América Latina, com algumas exceções, era orientada pela Igreja

Católica, e, somados a isto, agregava-se o movimento médicos higienistas que

exigiam a intervenção do Estado sobre as expressões da questão social,

reivindicando ainda um amplo programa preventivo na área social, sanitária e moral.

O trabalho do assistente social com as pessoas com transtornos mentais no

modelo hospitalocentrico consistia em uma atuação com ausência de criticidade,

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mecanizada e engessada que se subordinava ao trabalho dos médicos psiquiatras.

O fazer profissional se diferenciava, porque a profissão, assim como o tratamento

para a loucura seguiam as mesmas bases da lógica higeinista e violadora de direitos

sem considerar a subjetividade dos pacientes.

No Brasil, Vasconcelos et al (2008), aduz que o trabalho do assistente social

se inicia inspirado no modelo “Child Guindance Clinics”, postos pelos higienistas

americanos e brasileiros, visualizados como estratégia de diagnosticar “crianças

problemas” para aplicar um modelo de educação higienista nas escolas e nas

famílias, através dos Centros de Organização Infantil (COI) e Juvenil (COJ).

Esta ausência de intervenção no fazer profissional do assistente social no

campo da saúde mental entre as décadas de 1950 a 1960, deveu-se a ausência de

um direcionamento político na base teórica do serviço social. Esta realidade tende a

mudar na década de 197024, quando a profissão passa por uma profunda

transformação nas suas bases teóricas a qual ocorre em consonância com o

movimento da reforma psiquiátrica (MTSM). Para Vasconcelos (2009), os princípios

da reforma psiquiátrica combinam com a perspectiva do Serviço Social baseada na

práxis social com uma sólida amarra balizada pela análise institucional.

A partir da reforma psiquiátrica, o fazer profissional no campo da saúde

mental ganha novos desdobramentos e perspectivas, uma vez que, os princípios da

reforma era baseado na liberdade do indivíduo e na substituição do modelo

hospitalocentrico, por um modelo baseado na convivência social e comunitária e nos

serviços que priorizem a regionalização.

É a partir desta transformação que o fazer profissional do assistente social no

campo da saúde mental ganha novas dimensões com novas requisições e

demandas operativas. Nos serviços substitutivos do modelo hospitalocentrico, estes

profissionais realizam atendimentos que identificam necessidades que perpassam o

atendimento psiquiátrico. Deste modo, o Serviço Social adquire um saber

24

Na década de 1970, mais precisamente no ano de 1979, o Serviço Social, em consonância com todos os movimentos de efervescência que ocorriam na América Latina, assume um posicionamento em favor da defesa dos direitos da classe trabalhadora. Há uma transformação radical nas bases teóricas do curso que passa se direcionar através do pensamento de Karl Marx, rompendo com o tradicionalismo arraigado a profissão desde os primórdios da sua criação.

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profissional dotado de criticidade, capaz e provocar intervenções na vida do usuário

do serviço.

Nestes termos, os profissionais passaram a identificar e realizar

encaminhamentos para a rede de atendimento, para que os usuários tenham acesso

a obtenção de renda, habitação, transporte coletivo gratuito, entre outros serviços

fornecidos pela assistência social, como será explanado no próximo tópico.

A partir das mudanças das bases de atuação do assistente social, pode-se

pensar com criticidade o fazer profissional nos serviços substitutivos do modelo hos-

pitalocentrico, identificando os limites, possibilidades e desafios postos para a atua-

ção. Essa apreensão se constitui de suma importância porque foi uma conquista ori-

unda do movimento de reforma psiquiátrica dos trabalhadores em saúde mental,

como também dos parentes das pessoas acometidas por transtornos psiquiátricos.

No entanto, apesar de todos os avanços, tanto nas bases teóricas da

profissão, quanto na perspectiva do atendimento em saúde mental, com as

conquistas oriundas da reforma psiquiátrica, somados ao reconhecimento da saúde

como direito na Constituição Federal, quando as conquistas estavam se

consolidando, o Brasil inicia o processo de implementação da política Neoliberal.

Na atual conjuntura vivenciada no Brasil, a respeito do desmonte de direitos

sociais, Vasconcelos (2009) afirma que são vários os percalços para a consolidação

do acesso a saúde. No entanto, o autor elenca quatro principais fatores sociais de

forma inédita, o capitalismo monopolista25, a globalização financeira e

mercantilista26, o neoliberalismo27 e a reestruturação produtiva28.

25

Nos apontamentos de Netto (1992), o capitalismo Monopolista corresponde a fase mais latente desse sistema, quando este já se encontra em sua fase madura. Nesta fase, ocorre uma maior concentração do exército industrial de reserva, aumento da exploração, alienação e da desigualdade social. Tais fatores agudizam ainda mais as expressões da questão social.

26 A globalização financeira pode ser definida como um processo de interligação dos mercados de

capitais aos níveis nacionais e internacionais, conduzindo ao aparecimento de um mercado unificado do dinheiro à escala planetária. (PHILON, 2007, p. 01).

27O Neoliberalismo corresponde a uma política econômica que visa a intervenção mínima do estado

na efetivação de direitos sociais. Para Vasconcelos (2009), este almeja diminuir a regulação social deixando que a sociedade seja regida através das leis naturais de mercado, qual seja, a lei da oferta e da procura.

28A reestruturação produtiva ocorre na terceira fase da revolução industrial após a segunda metade

do século XX, com a declinação do sistema de produção fordista/taylorista. Deste modo, a produção

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Para o autor, a soma desses fatores contribui para que haja um avanço do

neoliberalismo e com isto, a desresponsabilização do estado em fornecer serviços

básicos através de políticas públicas, provocando um desmonte social de direitos e o

não reconhecimento dos movimentos sociais que reivindicam por seus direitos,

transferindo a responsabilidade do fornecimento de serviços para o terceiro setor.

(VASCONCELOS, 2009).

A ofensiva neoliberal culmina em um desmonte nas políticas sociais29 na área

da saúde mental e esta ausência de reconhecimento de direitos influencia

diretamente no trabalho do assistente social na área da saúde mental. Desta feita,

Vasconcelos (2009) assevera que a reforma psiquiátrica simultânea a ofensiva

neoliberal exige que os profissionais desta área necessitem de muita análise para

poder traçar uma prática emancipadora para fortalecer a ação profissional.

No que abrange as políticas sociais na perspectiva neoliberal, explana-se

que:

O impacto do neoliberalismo no Brasil, em nível das políticas sociais, está sendo o desmonte da assistência pública nas áreas de saúde, educação, previdência, segurança, justiça, cultura, entre outras. Na área da saúde mental, nesse quadro, o neoliberalismo incentiva a busca da medicalização, através da indústria farmacêutica e do tratamento baseado em remédios como saída para o atendimento em massa. (VASCONCELOS, 2009, p. 43).

Como supracitado pelo autor, com a lógica neoliberal que associa a

efetivação de direitos ao bem estar econômico, as amarras da sociedade capitalista

busca dar uma forma peculiar de enfrentamento à loucura com base no

fortalecimento da indústria farmacêutica na produção da dependência dessa

medicação com a intenção de gerar mais lucros para o capital e com isto controlar e

alterar o comportamento psicológico das pessoas acometidas por transtorno mental.

é realizada conforme a demanda do mercado, como também o empregado passa a executar várias funções dentro do ambiente de trabalho. (Pena, 2011).

29 intervenção do Estado no âmbito do atendimento das necessidades sociais básicas dos cidadãos,

respondendo a interesses diversos, ou seja, a Política Social expressa relações, conflitos e contradições que resultam da desigualdade estrutural do capitalismo. Interesses que não são neutros ou igualitários e que reproduzem desigual e contraditoriamente relações sociais, na medida em que o Estado não pode ser autonomizado em relação à sociedade e as políticas sociais são intervenções condicionadas pelo contexto histórico em que emergem. (YAZBECK , 2010, P. 04).

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No que concerne as políticas sociais, estas são importantes, pois enxerga-se que:

[…] A Política Social Pública permite aos cidadãos acessar recursos, bens e serviços sociais necessários, sob múltiplos aspectos e dimensões da vida: social, econômico, cultural, político, ambiental entre outros. É nesse sentido que as políticas públicas devem estar voltadas para a realização de direitos, necessidades e potencialidades dos cidadãos de um Estado. (YASBECK, 2010, p. 06).

Por esta ótica, enxerga-se que a política social é essencial para combater as

expressões provocadas pela tensão entre capital e trabalho. E que estas se

constituem em um meio essencial para que os cidadãos tenham acesso à bens e

serviços, e que principalmente, é o reconhecimento de que o Estado deve efetivar os

direitos sociais dos indivíduos.

Somados a isso, ressalta-se a importância de explanar sobre a atual crise

política que o Brasil vivencia no ano de 2016. O país foi vítima de um golpe30

arquitetado pelos principais lideres dos partidos de direita, que não possuem um

projeto de governo compatível com os interesses da classe trabalhadora. Assiim

sendo, a classe burguesa defende apenas seus interesses desejando associar a

efetivação de direitos ao bem estar econômico da nação. Tal concepção causa um

desmonte de direitos sociais conquistados através da luta dos segmentos mais

subalternizados da população.

Este acontecimento nos faz retroceder a velha lógica capitalista, oriunda dos

governos militares, da época da ditadura, que argumentava que era necessário

“deixar o bolo crescer para poder repartir”31. Contudo, esta lógica fomenta a

30

A presidenta eleita democraticamente no ano de 2014, Dilma Rousseff, filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT), foi alvo de um processo de impeachmant quando caminhava para o seu segundo ano de mandato. Contudo, esse processo de retirada do presidente previsto em constituição só pode ocorrer quando é comprovado que o governante praticou um ato ilícito, o qual não pode ser sustentado por divergência ideológica ou pela crise econômica que o país vivencia. Diante da crise, seu vice-presidente, Michel Temer filiado ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), rompeu com a ex-presidenta, e com isto, após o processo de impechmant assumiu a presidência da república mesmo não sendo eleito democraticamente.

31Política econômica dos governos Militares dos presidentes Arthur da Costa e Silva, Emílio

Garrastauz Medici e João Figueiredo, instituída por Antonio Delfim Netto. O ex-ministro ficou famoso após comparar o crescimento econômico a um bolo. Ele foi responsável pelo “Milagre econômico” brasileiro, ocorrido entre os anos de 1968 a 1973, quando o PIB cresceu 10% ao ano. Apesar do crescimento, a desigualdade se perdurava, uma vez que era baseada na elevação das tarifas públicas e no congelamento dos salários.

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desigualdade social em um país cuja concentração de renda atinge níveis

discrepantes, e com isto atinge os setores mais vulnerabilizados da população.

Nessa árdua e revoltante conjuntura política, na qual se prevê corte nos

gastos em saúde e educação, que os assistentes sociais buscam efetivar os direitos

das pessoas com transtornos mentais. Salienta-se que a rede não estava fortalecida

em um governo eleito democraticamente que tinha um plano de governo mais

compatível com os da classe trabalhadora, em um governo que chegou ao poder por

meio de um golpe, e que em nada defende os direitos daqueles que vivem do

trabalho, esse cenário tende a dificultar o acesso ao direito garantido as pessoas

com doença mental.

Destarte, para enfrentar todos os desdobramentos e retrocessos oriundos da

crise política do nosso país, é necessário que o assistente social esteja respaldado

pelos arcabouços teorico-metodológico, ético-político e técnico operativo da

profissão, uma vez que, se fará de fundamental importância este respaldo na luta

pela efetivação de direitos.

Nesta mesma linha de raciocínio, adverte-se que na atual conjuntura política:

No atendimento cotidiano a usuários e usuárias, e ainda na condição de trabalhadores e trabalhadoras, que nós, assistentes sociais do Brasil, sentimos os efeitos da conjuntura econômica e política e seus impactos nas políticas sociais, nas condições de trabalho e nos direi-tos sociais. Debater sobre o nosso exercício profissional, no contexto de acirramento das posições e das forças políticas no cenário nacio-nal, nos exige atenção com os acontecimentos e reflexão com poten-cial crítico. Exige a capacidade de irmos além do aparente, reprodu-zido pelos meios de comunicação dominados pela burguesia, e do simplismo de suas polarizações. Instiga-nos a partir de parâmetros que nos orientem para uma direção política fundamentada nos prin-cípios éticos fundamentais da profissão. (CEFESS, 2015, p.)

Neste entendimento, salienta-se a importância dos profissionais se respaldarem no

projeto ético e político da profissão, o qual serve de norte para implementar o que

uma determinada categoria propôs. De acordo com Netto (1999), este apresenta

uma auto-imagem da profissão, elencam os valores que a legitimam, reclamam

determinados requisitos para justificá-la e para balizar o exercício profissional.

Nesta mesma linha de raciocínio, esses direcionamentos repassados através

do projeto ético e político do Serviço Social servem para moldar o planejamento e a

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execução das atribuições e competências do assistente social no referido campo

sociocupacional, qual seja o CAPS III Leste, Dr. André Luiz. Isto posto, tem-se que:

Não há dúvidas que o projeto ético-político do Serviço Social brasileiro está vinculado a um projeto de transformação da sociedade. Essa vinculação se dá pela própria exigência que a dimensão política da intervenção profissional põe. Ao atuarmos no movimento contraditório das classes, acabamos por imprimir uma direção social às nossas ações profissionais que favorecem a um ou a outro projeto societário. Nas diversas e variadas ações que efetuamos, como plantões de atendimento, salas de espera, processos de supervisão e/ou planejamento de serviços sociais, das ações mais simples às intervenções mais complexas do cotidiano profissional, nelas mesmas, embutidos determinada direção social entrelaçada por uma valorização ética específica. (TEIXEIRA E BRAZ, 2009, p. 06).

Neste entendimento, tem-se que nas mais simples ações realizadas pelos

assistentes sociais, é imprimido o direcionamento político do profissional, o qual

pode contribuir ou não para o favorecimento do projeto hegemônico ou do contra-

hegemônico, este direcionamento dependerá exclusivamente do comprometimento

do profissional com projeto ético-político da profissão. Por esta ótica, complementa-

se que:

Por uma profissão, ser orientada por um projeto profissional crítico significa, ainda, a possibilidade de construção permanente de perfis profissionais, dentre eles o do profissional que conhece suas competências e imprime qualidade técnica às suas ações com uma direção crítica clara e consciente, visando a defesa permanente dos direitos sociais e humanos, considerados como conquista da humanidade, herança das lutas dos movimentos sociais e trabalhistas progressistas, de modo a superar a história vinculação do profissional com o conservadorismo. (GUERRA, 2007, p. 09).

Não obstante, para imprimir aspectos de uma direção ético-política na prática

profissional, é necessário ter a sensibilidade de se reportar aos aspectos de luta da

reforma psiquiátrica. Para tanto, é de suma importância o reconhecimento do

histórico de disputa entre o projeto manicomial e o modelo substitutivo do

encarceramento e isolamento das pessoas acometidas por transtornos mentais

severos.

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Indo por esta lógica, a apreensão desses fatores se constitui de fundamental

importância para que o profissional não reproduza os estigmas divulgados

largamente pelas pessoas que sofrem com transtornos psíquicos. De acordo com

Velasquez e Alves (2013), os profissionais que atuam no campo da saúde mental

nem sempre contribuem para reinserção social dos pacientes, mas para disseminar

o preconceito amplamente difundido na sociedade classista.

Por conseguinte, sabe-se que um profissional comprometido com os

interesses da classe trabalhadora terá uma visão de comprometimento com a

efetivação de direitos dos usuários atendidos pela instituição, visto que, apreenderá

que a saúde é um direito garantido em constituição e que deve ser fornecida pelo

Estado.

Nesta perspectiva, é necessário que o assistente social tenha conhecimento e

domínio sobre os parâmetros para a atuação na saúde. Esta bibliografia também

ressalta em seu conteúdo as diretrizes para a atuação do serviço social na saúde

mental, evidenciando quais são os direcionamentos ético-políticos determinados

para consolidar o fazer profissional. Deste modo, informa-se que:

As atribuições e competências dos profissionais de Serviço Social, sejam aquelas realizadas na saúde ou em outro espaço sócio-ocupacional, são orientadas e norteadas por direitos e deveres constantes no Código de Ética Profissional e na Lei de Regulamentação da Profissão, que devem ser observados e respeitados, tanto pelos profissionais quanto pelas instituições empregadoras. (CEFESS, 2010, p. 33)

Com isto, tem-se que o assistente social pode realizar diversas ações no

campo da saúde mental, entre elas contribuir para a consolidação dos preceitos da

reforma psiquiátrica, contribuindo para que esta comungue com os objetivos do seu

projeto ético e político, com ênfase para as determinações sociais e culturais do

paciente. Por este viés, cabe ao assistente social realizar diversas ações

desafiantes, tais como o trabalho com a família, a geração de emprego e renda,

controle social e a efetivação do acesso a benefícios. (CEFESS, 2010, p. 41).

Para tanto, aprende-se que diante de todos os desafios e percalços postos

para os assistentes sociais que atuam no campo da saúde mental, o projeto ético e

político da profissão e as legislações supracitadas, se constitui em um importante

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respaldo para que seja necessário a efetivação dos direitos das pessoas acometias

por transtornos mentais como também para as propostas da reforma psiquiátrica

sejam consolidadas no nosso país, mesmo diante do desmonte de direitos

intrínsecos a atual conjuntura política.

3.2. O FAZER PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NO CAPS LESTE: DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Como já abordado no capítulo anterior, a rede de atendimento em saúde mental

no município de Natal possui deficiências nos mais diversos aspectos, posto que há

ausência de profissionais qualificados que sejam especialistas no atendimento de

pessoas com transtornos psíquicos, déficit de vagas para o atendimento de novos

pacientes, deficiência na estrutura das unidades de atendimentos, entre outros.

Os percalços, desafios, limites e possibilidades que envolvem o cotidiano

profissional perpassam por diversos problemas estruturais que vão desde a

estrutura física e alcançam a sobrecarga de trabalho por ausência de profissionais

para dar respostas às demandas postas a profissão, principalmente, após a ofensiva

da política econômica neoliberal no Brasil que tende a diminuir os gastos com

políticas sociais que visem a efetivação do acesso à saúde.

Todavia, estes desafios se constituem no cotidiano do trabalho profissional do

serviço social que se encontra com a precarização dos serviços públicos ofertados,

bem como das condições de trabalho, principalmente depois dos impactos causados

pela ofensiva neoliberal em um país no qual a democracia havia sido instaurada

recentemente.

Em consonância a esta percepção, infere-se que:

Analisar as condições de trabalho em que os profissionais encontram-se remete a considerar processos históricos e sociais, como o advento do projeto neoliberal e de estratégias de combate à crise estrutural do capital seguida a partir da década de 1970, dentre as quais se encontram a reestruturação produtiva e reforma do Estado e o aberto combate ao trabalho. (DUARTE ET AL, 2014, p. 124).

Ademais, a saúde juntamente com a assistência social e a previdência social,

constitui um tripé que formam a seguridade social, garantidos a partir da constituição

de 1988. A partir desta percepção, visualiza-se que o assistente social que tem como

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55

campo profissional o CAPS, necessita que ter apreensão dos direitos assegurados,

vistos que são os mais solicitados pelos usuários que chegam em forma de

requisição para o serviço social da instituição.

De acordo com o estudo realizado por Vasconcelos (2009), os assistentes

sociais se inserem, no campo da saúde mental, principalmente em serviços

substitutivos do modelo hospitalocentrico de natureza pública que integram a

seguridade social, e com estes serviços integrados, se faz necessário uma

intervenção que possa apreender todas as demandas postas pelos pacientes.

Posteriormente, no início da década de 1990, para endossar o direito à saúde,

contido na CF, é promulgada a lei 8.080/90 que aduz sobre a promoção, proteção e

recuperação da saúde, organiza os serviços constitutivos, bem como dá outras

providências. Reconhece também que a saúde é um direito de todo o cidadão que

deve ser efetivado pelo Estado, o qual deve manter condições indispensáveis para o

seu funcionamento. (BRASIL, 1990).

No entanto, o conceito de saúde é abrangente e não se resume apenas a

ausência de doença, como está posto no artigo 3º, da lei supracitada:

Art. 3º A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do País. (BRASIL, 1990).

Para a realização do atendimento aos pacientes acometidos por transtornos

mentais, bem como seus parentes, é realizado por meio de triagem e escuta

qualificada do atendimento em serviço social. Posteriormente, após a identificação

das necessidades, é realizado o encaminhamento para realização da consulta

médica a qual poderá resultar em internação, frequência diária, ou consultas

esporádicas na instituição.

O público alvo do CAPS III Leste são pessoas com transtornos metais graves,

severos e persistentes, egressos ou não de internações. Geralmente apresentam

situação de risco social no que se refere à saúde e suas condições de vida, o que se

torna uma grande demanda para o serviço social, uma vez que esses usuários

procuram orientações sobre auxílios e benefícios quase que diariamente.

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56

Para ingressar no serviço, o (a) usuário (a) precisa ser uma pessoa que

possui transtornos metais graves, severa e persistente, como também precisa residir

em bairros da área de abrangência dos distritos Leste e Sul, ter idade mínima 18

anos e estar acompanhado por um familiar ou responsável.

Os (as) usuários (as) que chegam ao serviço são acolhidos e posteriormente

passam por uma triagem realizada por dois profissionais ou um profissional e um

estagiário. Atualmente as triagens estão encerradas por conseqüência do grande

número de usuários (as) atendidos (as) e da pequena quantidade de médicos (a)

psiquiatras existentes no serviço, porém eram realizadas nas terças e sextas-feiras.

Após a triagem é aberto um prontuário que norteia toda a equipe com relação

ao usuário que está ingressando na instituição. Para um possível atendimento com o

serviço social, não é necessária uma nova triagem ou uma diferente da já realizada

no acolhimento, a família e o usuário serão atendidos prontamente através da

demanda espontânea ou da busca ativa realizada pelo (a) profissional que enxergue

uma demanda que possa ser orientada e/ou resolvida para a melhora na qualidade

de vida do (a) usuário e caso seja necessário, a assistente social solicita ao usuário

(a) ou familiar, dados necessários para sua internação.

Contudo, na realização do atendimento pelo serviço social, surgem outras

demandas que se articulam com o atendimento de saúde. Um significativo número

de pacientes do centro apresentam demandas previdenciárias, de emissão de

documentos, por habitação, inserção em programas sociais para obtenção de renda,

solicitação de cartões para passagens gratuitas no transporte coletivo, entre outras.

Nesta linha de raciocínio, observa-se que o assistente social, em seu

processo de trabalho contribui para que esse conceito abrangente de saúde contido

na lei orgânica da saúde seja efetivado por meio das identificações das

necessidades que contribuam para o acesso a bens e serviços que ultrapassam a

questão da ausência de doença e alcançam o bem estar social por meio de serviços

essenciais para a manutenção das necessidades básicas do ser humano.

Seguindo esta linha tênue, Vasconcelos (2009), aduz que:

Na ocorrência de qualquer fato que interfira no planejamento do atendimento psiquiátrico e que seja considerado como fenômeno social ou contextual, o assistente social é convocado a recolocar o paciente no processo de trabalho organizacional considerado “normal” pelo estabelecimento psiquiátrico. O Serviço Social intervém

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em tudo que escapa à racionalidade desse processo no que tange à situação objetiva (dita social) ou aspectos sociais diversos [...] (VASCONCELOS, 2009, p. 125).

Nesta linha de raciocínio, averiguou-se que a maior demanda encontrada na

instituição, com relação a informações é para saber como solicitar o Benefício de

Prestação Continuada (BPC) e sobre o auxílio doença. Este benefício visa oferecer

renda mínima de um salário mínimo para pessoas com mais de 65 anos de idade ou

para aquelas que possuem deficiência física ou mental. Contudo, os pacientes são

pessoas pertencentes aos segmentos mais subalternizados da população, com

baixo grau de instrução e, consequentemente, poucas informações sobre os seus

direitos assegurados na Constituição Federal.

De acordo com os apontamentos realizados por Vasconcelos (2009), as

pessoas acometidas por transtornos mentais, são na sua maioria membros de

famílias de baixa renda, que por vezes, estão com os vínculos rompidos com os

familiares divido a condição de morador de rua ou porque já se encontra internado a

muito tempo e, este fator culminou com o rompimento de laços.

Após a identificação da demanda, o assistente social realiza o

encaminhamento para os órgãos da rede de atendimento para que o paciente não

só tenha direito a saúde com o tratamento em saúde mental, como também tenha

acesso aos benefícios concedidos pela previdência social e pela assistência social.

Com relação à orientação e encaminhamento de determinados grupos

sociais, de acordo com a lei que regulamenta a profissão 8.662/93 do assistente

social, em seu artigo 4º, prevê que é competência do profissional dessa area

encaminhar providências e prestar orientação a indivíduos, grupos sociais e a

população em geral. (BRASIL, 1993).

Notadamente, o assistente social não realiza os processos de trabalhos de

forma individual. Em casos mais complexos, o atendimento é realizado por uma

equipe multidisciplinar composta por enfermeiros, médicos psiquiátricos, técnicos em

enfermagem, terapeutas ocupacionais, psicólogos e psicopedagogos. De acordo

com a resolução do CFESS de número 557/2009, em seu artigo 3º, enfatiza que o

profissional do Serviço Social pode e deve integrar equipes multidisciplinares, como

também deve estimular o trabalho interdisciplinar.

Neste sentido, de acordo com a resolução supracitada, em seu artigo 4º está

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posto que o assistente social deverá assegurar a especificidade da sua área de

formação. Nesta esfera, temos que apesar da atuação, o profissional deve estar

atento as atribuições privativas que respaldam a seu fazer profissional garantindo a

especificidade em matéria de Serviço Social ao emitir documentos técnicos, tais

como estudos, pareceres, pericias ou laudos sociais.

Por esta ótica, na referida resolução é referenciado que o assistente social

deve destacar sua área de atuação, separadamente, sobre o objeto em discussão,

em conjunto com a outra categoria profissional ou equipe multidisciplinar de modo

que, o assistente social possa delimitar o âmbito do objeto estudado, instrumentos

utilizados e análise social, que evidencie os componentes da opinião técnica.

No entanto, há desafios postos aos profissionais que atuam na área da saúde

mental, de acordo com Vasconcelos (2009) é válido ressaltar que:

[…] A problemática da integração de saberes nas equipes multiprofissionais visando à interdisciplinares constitui-se motivo de debates no Serviço Social em Saúde Mental. A prática mostra que, além das intenções pessoais e dos interesses corporativos, há a dificuldade da interlocução quando usam paradigmas diferentes. Por exemplo, na enfermaria psiquiátrica, o médico pode ter uma visão positivista da Saúde Mental, o psicólogo pode usar diversas teorias psicodinâmicas, o terapeuta familiar pode ter uma concepção sistêmica e o assistente social, com sua visão histórica estrutural, pode ficar tão ilhado quanto os outros profissionais. (VASCONCELOS, 2009, p. 51)

Nesta perspectiva, o autor prossegue enfatizando que para se desvencilhar

das análises retrogradas é necessário que o assistente social trabalhe de forma

pluralista, para entender a exclusão social das pessoas acometidas por transtornos

mentais através do marxismo e sustentar as demandas por direitos sociais e

cidadania, ao mesmo tempo em que usa explicações da medicina e da psicologia

para conceber a doença mental. (VASCONCELOS, 2009).

Como enfatizado pelo autor, e pela resolução que atribui limites e

possibilidades para a atuação em saúde mental, é necessário que o assistente

social saiba apreender quais são as suas perspectivas teóricas, uma vez que, as

bases teóricas da profissão são pautadas, hegemonicamente, na teoria marxista.

Com um perfil profissional bem definido, o profissional respeitará os conhecimentos

específicos das outras profissões, como também manterá seu posicionamento ético

político na busca pela efetivação dos direitos das pessoas acometidas por transtorno

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mental.

Outro importante fator da equipe multidisciplinar é trabalhar com a questão da

intersetorialidade. Os profissionais das áreas distintas que atuam no campo da

saúde mental devem manter contato para que haja uma relação das atividades

desempenhadas pelos entes das esferas governamentais, visto que, de acordo com

a lei orgânica da saúde, as ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde

devem ser regionalizadas e hierarquizadas. No CAPS isto se materializa através de

assembléias realizadas pelos profissionais junto aos pacientes e familiares e em

reuniões internas da instituição.

De acordo com o estudo de Bredow e Dravanz (2010), intersetorialidade pode

ser identificada como:

A intersetorialidade é uma estratégia política complexa, cujo resultado na gestão de um município é a superação da fragmentação das políticas nas várias áreas onde são executadas, partindo do princípio do diálogo entre os seus executores e gestores. Tem como desafio articular diferentes setores na resolução de problemas no cotidiano da gestão, tornando-se um mecanismo para a garantia do direito de acesso à saúde, já que esta é produção resultante de múltiplas políticas sociais de promoção de qualidade de vida (BREDOW E DRAVANZ, 2010, p. 233)

Ademais, ainda segundo o raciocínio de Bredow e Dravanz (2010), a

integralidade não pode ser enxergada apenas como um conceito, mas deve ser vista

enquanto dimensão profissional que deve ser alcançada através da

intersetorialidade e a interdisciplinaridade, e tais mecanismos devem ser utilizados

pelos assistentes sociais como objetivo e estratégia da atuação profissional.

Por conseguinte, volta-se a discussão já realizada no capítulo anterior quando

reporta-se a articulação e ao trabalho em rede, as dificuldades encontradas para a

efetivação de serviço. Contudo, neste momento, ressalta-se a importância do serviço

articulado na rede de saúde mental, mas aqueles que integram os serviços

correspondentes a seguridade social. Esta integração é necessária para que haja a

efetivação dos direitos sociais básicos previstos em Constituição.

Nesta ótica, são previstos como direitos sociais o acesso a educação, a

saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a

previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência e aos

desamparados. Por esta perspectiva, a lei 8.080/90 vem consolidar o que está

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previsto em Constituição, como também vem reforçar e fortalecer o conceito

ampliado de saúde.

Por este prisma, enfatiza-se a necessidade do pensamento crítico por parte

do assistente social, uma vez que devem ser identificadas as particularidades do

público a ser atingindo, qual sejam, as pessoas acometidas por transtornos mentais,

posto que, se constitui em um grupo que sofre violações de direitos por causa do

estigma posto a doença.

Com relação a estigma, uma importante forma de intervenção que é posta

como desafio para o Serviço Social no referido Centro, é o restabelecimento de

vínculos familiares dos parentes com o paciente. Corriqueiramente, as famílias não

sabem lidar com as pessoas que possuem transtornos mentais. Este fator decorre

das mistificações que acompanham a loucura desde os primórdios das civilizações.

Com o preconceito e a dificuldade de informação, não é raro que as pessoas

vejam na internação psiquiátrica a única solução para cessar com o sofrimento dos

pacientes, como também das pessoas que convivem com os surtos psicóticos

cotidianamente. Por esta ótica, evidencia-se que o assistente social necessita

desconstruir com estes estigmas, defendendo os princípios da reforma psiquiátrica

que defendem os serviços substitutivos do modelo hospitalocentrico, prezando pela

convivência familiar e comunitária.

Assim sendo, constitui um desafio posto para o assistente social que

necessita realizar um trabalho de desmistificação de desconstrução para que possa

reafirmar os laços dos pacientes para com seus familiares. Para tanto, o profissional

necessita realizar um trabalho árduo que exige um intervalo de tempo entre a

apresentação da proposta de retorno do membro da família para os cuidados dela,

até a aceitação e a volta para casa.

Neste viés, o assistente social necessita realizar um trabalho cauteloso que

necessita de um intervalo de tempo entre a proposta colocada e a adesão da

mesma por parte da família. Uma vez que, não é raro que as pessoas quando estão

em situação de rua percam hábitos comuns cotidianos com relação aos cuidados

com higiene e limpeza, como também extravie seus documentos pessoais.

O assistente social, juntamente com a equipe multidisciplinar irá realizar um

trabalho com a família como também com o paciente para que os cuidadores

possam ter total conhecimento sobre o tratamento direcionado a pessoa com

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transtorno mental isto contribua para a recuperação da saúde da pessoa com

transtorno psíquico.

Com relação às possibilidades enxergadas pela atuação do assistente social

no CAPS, visualiza-se que:

No espaço destinado ao Serviço Social, sua atuação possui como objetivo mais importante propiciar a conquista de autonomia dos usuários, através do exercício do empoderamento (empowerment), que visa ao incentivo à participação e à ocupação por parte dos usuários e familiares nos espaços que são oferecidos, bem como a conquista de novos espaços. O Serviço Social faz-se parte essencial neste processo, utilizando mecanismos que possam garantir a socialização da informação aos usuários. (BREDOW E DRAVANZ, 2010, P. 235).

Com isto, o assistente social faz a utilização do seu conhecimento teorico-

metodolígico, bem como dos seus instrumentais técnicos operativos para responder

às questões postas a profissão. Para isto, o profissional deve está atento e prezar

pela autonomia do usuário do serviço, posto que, o código de ética do Serviço Social

tem como valor central a liberdade.

Ademais, com relação a atuação do assistente social junto aos familiares das

pessoas acometidas por transtornos mentais, tomando por base a dimensão de

mobilização de grupos e comunidades, mostra-se a possibilidade de realizar o

controle social na política de saúde mental, visto que, este monitoramento é ideal

para saber os direcionamentos da política, como também ouvir os atores sociais, ou

seja, as pessoas as quais se destinam.

De acordo com o código de ética do Serviço Social, em seu artigo 2º, alínea

“C”, prevê que o assistente social poderá formular e gerenciar políticas sociais, bem

como programas sociais. Mais adiante, em seu artigo 5º, alínea “a” está previsto que

o assistente social deve contribuir para a viabilização e participação efetiva da

população usuária nas decisões institucionais. (CEFESS, 2011).

Por este prisma, o assistente social deve contribuir com a mobilização social,

posto que, esta se faz presente no código de ética da profissão, em seus princípios

e deveres. Balizados pelo respaldo da legislação que dá possibilidades e limita a

atuação, o profissional deve orientar os familiares das pessoas acometidas por

transtornos mentais a procurar as instâncias deliberativas para controle de

elaboração e criação de pesquisas voltadas para as pessoas com transtornos

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psíquicos.

Em consonância ao código de ética do assistente social pode-se também

fazer alusão a lei do SUS que aduz sobre o controle social, a de número 8.142/90. A

referida lei dispões sobre a participação da comunidade no Sistema único de saúde

e sobre as transferências governamentais nos recursos de saúde. Neste sentido, a

lei traz deliberações para as composições dos Conselhos estaduais e municipais de

saúde.

Por conseguinte a legislação direciona, sobre a composição dos conselhos de

saúde:

§ 1° A Conferência de Saúde reunir-se-á a cada quatro anos com a representação dos vários segmentos sociais, para avaliar a situação de saúde e propor as diretrizes para a formulação da política de saúde nos níveis correspondentes, convocada pelo Poder Executivo ou, extraordinariamente, por esta ou pelo Conselho de Saúde. (BRASIL, 1990).

Por este viés, percebe-se que o estímulo a participação dos usuários nos

conselhos estaduais e municipais de saúde, para que possa ser discutido também

as questões que abarcam a saúde mental, se constitui em uma ferramenta essencial

para efetivação de direitos desses segmentos. Os representantes da sociedade civil,

juntamente com os trabalhadores da saúde podem formular e propostas para serem

postas aos representantes do estado.

Portanto, o trabalho do assistente social no CAPS III Leste se constitui

desafiador, com diversos limites e possibilidades. Contudo, para que o profissional

possa efetuar os direitos do usuário se faz necessário que atue nas demandas

postas com o senso crítico perante as demandas colocadas.

No referido campo sociocupacional o profissional encontrará os desafios da

atuação junto a equipe multidisciplinar, o desmonte de direitos frente a ofensiva da

política neoliberal, a dificuldade do trabalho em rede e da intersetorialidade entre os

entes federados. Com tudo, existem possibilidades de atuação, tais como o incentivo

ao controle social das demandas de saúde, e a defesa intransigente dos direitos

humanos por meio do código de ética da profissão e o projeto ético e político do

Serviço Social. Isto posto, evidencia a importância desse profissional no campo da

saúde mental.

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3.3. IMPORTÂNCIA DO ASSISTENTE SOCIAL NA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL

Ao longo do estudo, buscou-se debater a importância do trabalho do

assistente no campo da saúde mental. Para tanto, foi exposto o tratamento

direcionado a loucura desde os primórdios da civilização perpassando pelos marcos

históricos até o momento da inserção do assistente social no campo da saúde

mental.

Por este prisma, observou-se que o assistente social se insere nesse espaço

sociocupacional desde o início dos manicômios, os quais foram pensados para

tratamento apenas de pessoas acometidas por transtornos mentais no século XVIII.

No entanto, nesta época o trabalho dos profissionais do serviço social era

meramente burocrático, e limitava-se ao profissional da medicina.

Contudo, com o advento dos preceitos da reforma psiquiátrica, os assistentes

sociais começam a ganhar direcionamento político, posto que, data também desta

época de 1970, o rompimento da profissão com as amarras conservadoras e a

aproximação com a perspectiva marxista e opção pela defesa da classe

trabalhadora.

A partir deste momento, o fazer profissional do assistente social passa a ser

dotado de meios para a efetivação do direito ao atendimento em saúde mental, os

quais permitem que o profissional atuante nesse espaço sociocupacional perceba os

limites e as possibilidades de atuar no campo da saúde mental.

Para apreender os processos de trabalho nessa área, o profissional conta

com os aparatos legislativos da profissão, como também da política de saúde mental

no Brasil e pesquisas e compilação de estudos realizados pelos trabalhadores e

pesquisadores da área da saúde mental.

Com relação ao trabalho do assistente social nas políticas sociais, mais

particularmente na política de saúde mental, é mister salientar que a partir da

descentralização das políticas sociais, segundo a Constituição Federal de 1988,

Netto (1996) aduz que os profissionais deixam de ser meros executores de políticas

sociais para compor, formular, executar e avaliar tais medidas, não ficando imunes

ao processo de responsabilização do entes federados.

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Nesta perspectiva, os assistentes sociais ao executarem e planejarem tais

políticas para darem respostas as expressões da questão social, podem imprimir

direcionamentos inerentes a profissão para que estas sejam bem sucedidas e venha

suprir as necessidades básicas dos indivíduos. Sendo assim, [...] “a gestão das

políticas sociais, parte do cotidiano de trabalho do assistente social, incorpora novas

formas e novas possibilidades. Para tanto, a apropriação de conhecimentos e

saberes envolvidos com a gestão é essencial”. (CAMPOS, 2015, p. 41).

Isto posto, o assistente social poderá inferir valores, na formulação e

execução da política, tais como liberdade como o valor central, defesa intransigente

dos direitos humanos, responsabilização estatal no fornecimento de bens e serviços

e sensibilidade para apreender e formular ações que visem transformar a realidade

na qual os usuários da política se inserem.

Por este âmbito, respalda-se nos princípios fundamentais do código de ética

do serviço social, que aduz o “Reconhecimento da liberdade como valor ético central

e das demandas políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena

expansão dos indivíduos sociais, já em seu inciso primeiro”. (CEFESS, 2012, p. 23).

Contudo, a política deve ser pensada em conjunto com os atores sociais para

quem ela vai se direcionar, neste caso para com as pessoas acometidas por

transtornos mentais, seus familiares e os trabalhadores em saúde mental. Acredita-

se que essas ações devem priorizar as necessidades mais vitais desse grupo,

trazendo para formulação, execução e monitoramento a sociedade civil, na busca de

alcançar uma política eficiente e significativa para este segmento.

Através da política social será criado estratégias como Programas e Projetos

para o atendimento em saúde mental. Essas serão direcionados ainda com o recorte

específico para diversos públicos que possuem transtornos mentais, grupos tais

como crianças, mulheres, moradores de rua, pessoas que desenvolveram a

patologia devido ao uso abusivo de drogas, entre outras.

Deste modo, a melhor maneira de formular políticas que realmente combatam

o cerne da questão, se faz de suma importância que estas abarquem quem será

contemplada com ela de modo que atendam suas particularidades e especificidades

de cada grupo que contêm as suas singularidades.

Com isto, o assistente social além de estimular a participação da sociedade

civil nas decisões de cunho político, também estimula a participação no controle

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social. Essa ferramenta de suma importância para o bom funcionamento das

políticas públicas foi introduzida de forma recente na democracia brasileira, e esta

posta na Constituição Federal de 1988. Por esta ótica, complementa-se que:

Os assistentes sociais, ao lado dos movimentos sociais, participaram ativamente do processo de construção da CFB de 1988 e do reconhecimento das políticas sociais como dever do Estado e direito do cidadão. Eles também contribuíram no processo de discussão a respeito da descentralização e da participação popular no campo decisório das políticas sociais, possibilitando a garantia de espaços de realização do controle social “democrático”. (CALVI, 2007, p. 217).

Assim sendo, o assistente social se constitui em um profissional de suma

importância para a efetivação da política de saúde mental brasileira. Posto que, um

profissional comprometido com o projeto ético e político do serviço social, bem como

com o código de ética da profissão, somados aos princípios da reforma sanitária,

bem como da reforma psiquiátrica apreenderá a singularidade dos usuários e

realizará uma intervenção capaz de transformar a realidade.

Nesta linha de raciocínio, o código de ética do assistente social, em seus

princípios fundamentais, infere, em seu inciso 5º, que os profissionais devem ter um

“Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade

de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem

como sua gestão democrática”. (CEFESS, 2012, p. 23).

Para tanto, o profissional deve apreender a política Nacional destinada a

pessoas acometidas por transtornos mentais, como também das legislações

vigentes que buscam efetivar os direitos desse segmento populacional, além das

normas estabelecidas pelo Ministério da saúde com relação ao tratamento das

pessoas com doença psíquica.

Não obstante, apesar da importância do conhecimento das normas vigentes

para o tratamento destinado a saúde mental, faz-se necessário o conhecimento das

particularidades do espaço sociocupacional em que se atua, como também das

especificidades presentes na rede de atendimento estadual e municipal de

atendimento.

Estas particularidades dos locais são importantes na formulação e criação de

políticas destinadas a segmentos específicos porque atenderá as necessidades

específicas de um público considerando as questões culturais, econômicas e sociais

do determinado lugar, neste caso na cidade do Natal.

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Todos estes fatores supracitados são importantes para o sucesso da política

de saúde mental implementada, como também das suas derivações tais como

planos de enfrentamento, programas, e projetos que possam combater as questões

mais latentes que permeiam a saúde mental.

Contudo, importa-se ressaltar a significativa contribuição das lutas de classe

na efetivação do direito a saúde. Como ressaltado ao longo do trabalho, a reforma

psiquiátrica, bem como a reforma sanitária e todos os avanços do sistema único de

saúde foram conquistados através de movimentos sociais compostos por

trabalhadores em saúde e a sociedade civil.

Com relação aos movimentos sociais, sabe-se que estes são uma importante

ação de grupos distintos da sociedade civil na busca pela conquista de direitos,

como também se faz de suma importância para que o estado reconheça e efetive

políticas sociais direcionadas a estes grupos.

Neste âmbito, com relação aos movimentos sociais, é válido ressaltar que

estes visam atingir:

Os movimentos sociais se organizam dentro da ordem vigente e lutam contra essa ordem para forçar a classe detentora dos meios de produção a abrir mão de regalias, fazendo com que o Estado assegure direitos em prol da maioria. Bem como, a reelaboração de conceitos de direitos, tais como: trabalho; carga horária; contratos coletivos; melhores condições de vida; habitação; educação; saúde; lazer, dentre outros. (SOUSA E CASTRO, 2013, P 02).

Neste sentido, o profissional do serviço social deve ter apreensão destas

dimensões e não só participar destes movimentos, como também estimular a

participação e prestar assessoria e consultoria a movimentos sociais como previsto

na lei que regulamenta a profissão, em seu artigo 4º, inciso IX, informa que constitui

em uma atribuição do assistente social “prestar assessoria e apoio aos movimentos

sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos

direitos civis, políticos e sociais da coletividade”. (BRASIL, 1993).

Em consonância a lei 8.662/93, que regulamenta a profissão do assistente

social, no que abrange os movimentos sociais, tem-se que, em seus princípios

fundamentais, em seu artigo IV, o assistente social deve promover a “Articulação

com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos princípios

deste Código e com a luta geral dos/as trabalhadores/as”.

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Respaldados pelo código de ética profissional, bem como pela lei que

regulamenta a profissão do serviço social, espera-se que o profissional desta área

seja comprometido com os interesses da classe trabalhadora e veja nas

organizações dos movimentos sociais uma ferramenta contundente de luta por uma

sociedade mais igualitária e justa. Diante do exposto, verifica-se que:

Dessa forma, o compromisso histórico do Serviço Social com os movimentos sociais visa contribuir com os grupos sociais e pessoas que lutam por condições de vida e trabalho, articulando forças e construindo alianças estratégicas com os que sofrem opressões econômicas, de classes, gênero, de orientação sexual, entre outras, em recusa ao arbítrio e ao autoritarismo, com vistas a ampliação e consolidação de cidadania. Isto é, na defesa intransigente dos direitos humanos. (SOUSA E CASTRO, 2013, p. 05).

Por esta ótica, os espaços de construção coletiva devem abordar

necessidades cotidianas da população em geral, se organizando em segmentos

distintos, tais como coletivos de mulheres, de trabalhadores rurais, trabalhadores

urbanos, população em situação de rua, em situação de privação de liberdade,

estudantes, entre outros.

Por esta ótica, deve-se fazer uma conexão entre movimentos sociais e

efetivação de políticas públicas e reconhecimento de direitos da população por parte

do Estado. As reivindicações dos grupos sociais trazem a baila para a questão

pública, as necessidades mais abrangentes demandadas por este segmento. Diante

das necessidades, viabiliza-se a formulação de políticas públicas voltadas para o

enfrentamento das expressões da questão social.

Diante do exposto, percebe-se a importância da contribuição do serviço social

para a saúde mental, posto que, os profissionais desta área colocam

direcionamentos tais como liberdade dos indivíduos, mobilização social, apreensão

de particularidades e necessidades sociais e participação efetiva dos atores sociais

na formulação da política. Neste sentido, ressalta-se a importância das

especificidades que o Serviço Social, profissão inscrita na divisão social e técnica do

trabalho, na política de saúde mental no Brasil.

Nesta perspectiva, é válido enfatizar que por se inserir na dicotomia entre

capital e trabalho, o assistente social deve apreender que as doenças psíquicas

também são desenvolvidas pelos desdobramentos do capitalismo na sociedade

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moderna, principalmente em época de crise estrutural, que provoca um desmonte de

direitos e afeta diretamente as políticas sociais oriundas das conquistas da classe

que vive do trabalho.

Assim, no atual contexto, as políticas sociais, as práticas democráticas juntamente ao mundo do trabalho sofrem ataques sem precedentes do que chamamos de reestruturação total do “Sistema do Capital”. A maior conseqüência das mudanças no mundo do trabalho, da economia e do Estado foi a desregulamentação das conquistas sociais e trabalhistas, bem como o desemprego estrutural. (CALVI, 2007. P. 221).

Com o acirramento das crises cíclicas do capital, é notável que se criem

medidas para superar o déficit de crescimento. Deste modo, são ofertados cada vez

menos postos de trabalho, posto que um único trabalhador consegue desenvolver

várias atividades, colocando os demais no posto do exercito industrial de reserva.

Neste acumulo de atividades, o trabalhador inicia a desenvolver transtornos de

ordem psíquica, tais como fobias, transtornos de ansiedade, depressão entre outras

patologias de ordem psíquica.

Por este viés, a doença mental, além de ser apreendida como um fator

biológico, também necessita ser vista como um fator oriundo das disparidades entre

capital e trabalho, na qual a riqueza é produzida socialmente, todavia a apropriação

desses valores produzidos é privada.

Nesta lógica, tem-se que nos primórdios da sociedade, quando a loucura era

mistificada e se encontrava diversas formas para tentar explicá-la, esta era

provocada, principalmente por fatores biológicos. Contudo, com o advento da

sociedade capitalista madura e a intensificação da produção, bem como da

alienação do trabalho, os transtornos mentais passam a fazer parte do cotidiano dos

trabalhadores, principalmente daqueles que trabalham na linha de frente de

produção das grandes indústrias. Em consonância e este raciocínio, complementa-

se que:

Em um contexto societário de transformações no trabalho de tal monta, marcado pela retração e, mesmo, pela erosão do trabalho contratado e regulamentado, bem como dos direitos sociais e trabalhistas, ampliam-se também as relações entre trabalho e adoecimento, repercutindo na saúde física e mental dos

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trabalhadores, nas formas de objetivação e subjetivação do trabalho. (RAICHELIS, 2011, p. 01).

Nesta linha de raciocínio, a saúde mental também faz parte das expressões

da questão social posto no processo entre capital e trabalho. Como os assistentes

sociais também se inserem nessa dinâmica de trabalho, também são fadados a

serem atingidos por esta lógica. É neste sentido que a profissão, juntamente com

outras categorias, tem assegurada por lei a garantia de jornada diária de trabalho de

seis horas, como previsto no Art. 5o-A. A duração do trabalho do Assistente Social é

de 30 (trinta) horas semanais. (BRASIL, 1993).

Por este viés, o profissional de serviço social por ser assalariado e necessita

vender sua força de trabalho, também está exposto ao risco do processo de

adoecimento que atinge a sociedade capitalista madura, principalmente nas relações

de trabalhos nos mais diversos espaços sociocupacionais. Como assevera Raichelis

(2001):

Essa dinâmica de flexibilização/precarização atinge também o trabalho do assistente social, nos diferentes espaços institucionais em que se realiza, pela insegurança do emprego, precárias formas de contratação, intensificação do trabalho, aviltamento dos salários, pressão pelo aumento da produtividade e de resultados imediatos, ausência de horizontes profissionais de mais longo prazo, falta de perspectivas de progressão e ascensão na carreira, ausência de políticas de capacitação profissional, entre outros. (RAICHELIS, 2001, p. 01)

Neste horizonte, considera-se que o profissional do serviço social pode

contribuir densamente para a formulação das políticas sociais, por todo o histórico

de lutas junto a classe trabalhadora, desde os meados dos anos 1980, quando a

profissão assume uma visão desenvolvimentista e comprometida com os interesses

da classe subalterna.

Contudo, apesar das históricas contribuições por toda a formação teórica e

metodológica, e ético político no comprometimento com uma nova ordem societária

livre de exploração de gênero, raça e etnia. Todavia, apesar desse compromisso, é

importante avaliar que ao formular as políticas sociais na efetivação de direitos, o

assistente social contribui para a manutenção do modo capitalista de produção.

Diante desta apreensão, o assistente social deve refletir sobre sua

contribuição para a execução das políticas sociais na busca de provocar

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transformações na vida dos usuários, no entanto, deve ter a sensibilidade de

enxergar os limites de efetivação de direitos em uma sociedade que adota o modo

capitalista de produção.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto ao longo do trabalho, percebeu-se que no que tange o tra-

tamento da loucura, desde os primórdios da sociedade, visualiza-se que este era

desumano, violador de direitos e excludente. A doença mental se mostrava repleta

de estigmas com explicações ilógicas que se explicavam desde passagens bíblicas

ate rituais mágicos que contribuíam para que as pessoas com transtornos mentais

fossem segregadas do convívio social.

Com o passar dos séculos, o tratamento vai se modificando, no entanto nem se

mpre essas mudanças significaram avanços para as pessoas acometidas por transtor

nos mentais, muito menos seus familiares. O estigma e a violação de direitos sempre

permearam esta relação entre convivo social e tratamento destinado a loucura.

Nesta lógica, as pessoas com transtornos mentais eram destinadas a vagarem se

m destino pelas ruas, sem nenhuma perspectiva de amparo social ou cuida do. Seus fa

miliares também sofriam com o estigma que o parente diagnosticado com a referida pato

logia se encontrava. Não obstante, na época das grandes navegações européias, estas

pessoas eram postas dentro dos navios e ficavam viajando sem destino ate encarar em

algum porto.

No entanto, com o passar do tempo e o crescimento das grandes cidades, no

que concerne ao século XVIII, estes "vagantes" passam a ser enxergados como inco

nvenientes que deveriam ser reclusos, uma vez que, não convergiam o desenvolvim

ento das metrópoles com pessoas indesejáveis que habitam as ruas dos centros em

desenvolvimentos.

Nesta perspectiva os manicômios surgem com a finalidade de abrigar as pess

oas acometidas por transtornos mentais em um lugar que seria destinado apenas ao

tratamento da loucura, posto que, as pessoas com doença psíquica também eram in

ternadas em asilos e hospitais juntamente com pessoas com doenças infectocontagi

osas.

Neste sentido, surgem os manicômios destinados a abrigarem pessoas com tr

anstornos mentais. Np modelo hospitalocentrico idealizado por Phillipe Pinel, os paci

entes eram isolados por muros, do convívio social e família, como também eram sub

metidos a tratamentos degradantes e violadores, tais como, choques elétricos, banh

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os frios, isolamento, entre outros.

Todavia, esse modelo passa por uma reformulação que é idealizada por Fran

co Basaglia, na Itália. A partir daí surge o Movimento dos Trabalhadores em saúde

Mental com intuito de adotar um tratamento mais humano e igualitário para as pesso

as que sofriam com o tratamento psíquico. Em consonância aos preceitos da reform

a psiquiátrica, estava também associado o movimento de ruptura do serviço social, q

ue cortava os laços com a burguesia e passava a lutar pelos interesses da classe tra

balhadora. Desta feita, ocorre também a reforma sanitária que desemboca na conqui

sta do SUS.

A partir desta perspectiva o serviço social passa a realizar uma intervenção n

a área da saúde mental que buscava transformar a realidade, dotada de aparatos te

óricos-metodolígicos, ético-políticos e técnicos-operativos. Com esta apreensão, são

postas a profissão inúmeras especificidades da problemática da saúde mental.

Diante das conquistas efetivadas através de muita luta e reivindicações dos tr

abalhadores, o assistente social que atuará na área da saúde mental deve conhecer

e apreender os preceitos defendidos por este movimento com o intuito de efetivar os

direitos das pessoas acometidas por transtornos mentais.

Contudo, apesar da efetivação destes direitos, a partir da década de 1990, co

m uma democracia ainda recém-construída o Brasil começa a sentir os efeitos da of

ensiva neoliberal, e com ela, os desmontes dos direitos da classe trabalhadora e a m

inimização das suas conquistas.

Com a intensificação da política neoliberal e os desdobramentos da crise cícli

ca do capital, as expressões latentes da questão social passam a se agudizar, send

o colocada sob novas roupagens e chegando em forma de novas requisições técnic

as operacionais para a resolubilidade do assistente social.

Por esta ótica, se faz necessário que o profissional apreenda os limites e poss

ibilidades do seu campo de atuação para que possa provocar intervenções no seu e

spaço sócio-ocupacional. Particularizando o caso discutido, temos que a assistência

à saúde mental em Natal, no que concerne a sua rede interligada, percebeu-se que

esta é deficiente, e que enfrenta problemas que vão desde a ausência de estrutura e

profissionais, até a ausência de cobertura total nas áreas do município.

Com a ausência de estruturas, surgem diversos questionamentos de quais se

riam as estratégias para superar os percalços postos aos profissionais do CAPS III L

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este, Dr. André Luiz. Postos para a reflexão, infere-se que o assistente social pode s

e utilizar das suas atribuições de mobilização social para cobrar dos entes federativo

s boas condições de trabalho, como também de atendimento para os usuários do se

rviço prestado.

Por esta ótica tem-se que o assistente social não terá que mobilizar não some

nte os usuários do serviço e seus familiares, mas também terá que articular os trabal

hadores de saúde mental na busca de cumprir efetivamente os preceitos instituídos

pela reforma psiquiátrica, na busca por um atendimento humanizado, regionalizado

e substitutivo do modelo hospitalocentrico.

Contudo, para estimular a participação da sociedade civil, se faz de suma imp

ortância que o assistente social desperte o interesse de usuários, familiares e trabalh

adores em saúde mental, a participarem da formulação de políticas públicas voltada

s para as pessoas acometidas por transtorno mental, a participação nos conselhos d

e saúde, e no controle social destas políticas.

Outro grande desafio posto ao assistente social que atua na área da saúde m

ental é o estimulo de vínculos familiares, que na maioria das vezes, é rompido devid

o à ausência de informações e mitos que ainda circundam a questão do tratamento

destinada a pessoas com transtornos psíquicos.

Para intervir nesta área, é necessário realizar um trabalho de base com os fa

miliares, informando os novos preceitos oriundos da reforma psiquiátrica, explicando

que para uma melhor efetividade do tratamento é necessário o apoio da família, bem

como da convivência familiar, evitando ao máximo a internação em hospitais destina

dos à internação de pessoas com transtornos mentais. Nestes casos de crises que s

ejam necessários a internação, é mister explicar que é preferível que o tratamento o

corra em leitos de hospitais gerais.

Estas medidas são necessárias para que não haja mais no país violação de di

reitos de pessoas com transtornos mentais, como ocorria nos grandes manicômios b

rasileiros. Por esta ótica, seria viável que os hospitais como o Dr. João Machado que

ainda apresenta o modelo hospitalocentrico de tratamento fosse gradativamente rem

anejado pelos serviços substitutivos de tratamento destinado a loucura.

Todavia, essa substituição só seria possível se a rede de atendimento de saú

de mental do estado fosse realmente eficaz e comportasse toda a demanda. Porém,

não há número de prontuários ofertados para o tratamento, como também não há u

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ma cobertura eficaz da atenção básica de saúde.

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