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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL EMANUELLE DE ALBUQUERQUE MORENO UMA ANÁLISE DAS POLÍTICAS DE SAÚDE MENTAL PELA OPTICA DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA. FORTALEZA 2013

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Page 1: UMA ANÁLISE DAS POLÍTICAS DE SAÚDE MENTAL PELA … ANALISE DAS... · no momento da elaboração do meu TCC, ... mental e social, ... minha graduação em Serviço Social e cresceu

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

EMANUELLE DE ALBUQUERQUE MORENO

UMA ANÁLISE DAS POLÍTICAS DE SAÚDE MENTAL PELA

OPTICA DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA.

FORTALEZA

2013

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EMANUELLE DE ALBUQUERQUE MORENO

UMA ANÁLISE DAS POLÍTICAS DE SAÚDE MENTAL PELA

OPTICA DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA.

Monografia apresentada ao curso de graduação em

Serviço Social da Faculdade Cearense – FAC, como

requisito para obtenção do titulo de bacharelado.

Orientadora: Profª Maria Elaene Rodrigues Alves.

FORTALEZA

2013

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EMANUELE DE ALBUQUERQUE MORENO

UMA ANÁLISE DAS POLÍTICAS DE SAÚDE MENTAL

PELA OPTICA DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA.

Monografia como requisito para obtenção do titulo

de bacharelado em Serviço Social, outorgado pela

Faculdade Cearense – FAC, tendo sido aprovada

pela banca examinadora composta pelos professores.

Data de Aprovação:___/___/___

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________

Profª. Msc. Maria Elaene Rodrigues Alves. (Orientadora) Faculdade Cearense

______________________________________________________

Profª. Esp. Richelly Barbosa de Medeiros Faculdade Cearense

____________________________________________________

Profª. Msc. Mayra Rachel da Silva Faculdade Cearense

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, que para mim é a força que ilumina e comanda o meu

caminho.

Com todo o amor e palavras que não são capazes de traduzir o grande

agradecimento que tenho pelos meus pais, Tercina e Ajalmar, que fizeram de meus

sonhos as suas lutas, sempre junto para que esse momento se realizasse. Obrigada

pela dedicação, afeto e suporte, sem vocês não conseguiria essa vitória, por isso,

ela não é minha, mas nossa.

Ao meu irmão, Ajalmar Junior que sempre cuidou muito bem de mim,

mesmo com todas as dificuldades da vida sempre esteve ao meu lado. A minha irmã

Katarina que, apesar de não estar muito presente, torceu por mim nessa conquista.

A minha amada cachorra Aika, sempre ao meu lado me dando carinho ate

nos momentos que não mereci.

Ao meu namorado Rafael Ramon que respeitou meus momentos de estudo,

entendendo a minha ausência e me dando força e incentivo para terminar e realizar

esse meu sonho. E a toda sua família por me acolher e cuidar de mim, como uma

filha.

Quero agradecer em especial a minha avó Nilza (in memória), que nos deixo

no momento da elaboração do meu TCC, mas que lutou contra uma doença durante

15 anos da sua vida, mostrando sua garra e força de vontade de viver. E Vó

Guiomar que aos seus 90 anos esbanja saúde e dignidade e nos motiva em ser

uma pessoa trabalhadora e verdadeira. Quero agradecer também em especial a Vó

Cleide (in memória) avó do meu namorado, que nos deixou também durante a

elaboração do meu TCC,mas que era umas das pessoas que mais me incentivava e

cobrava pela minha formatura,a dor e a saudade só me deu mais força para que

esse sonho se tornasse real .

A todos meus professores do curso de Serviço Social em especial a Kelma

Nunes, por me proporcionar a aproximação do meu tema desde inicio do meu

estagio como coordenadora da unidade CAPS GERALVI, me colocando sempre em

campo em busca de conhecimento.

A minha adorável supervisora de estagio Vanusa Tome que é um exemplo de

assistente social, que tem a dedicação e amor pela profissão e em passar seu

conhecimento com tanta delicadeza e suavidade. Meu eterno agradecimento a ela e

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a todos da equipe CAPS GERAL de Messejana que me acolheram com tanto

respeito durante meu período de estagio.

A TOD@S minhas amig@s/coleg@s de todo o curso de Serviço Social Fac,

em especial a Sumara Frota , Nathalia Onofre pelo incentivo e dedicação aos

estudos

À Profª Ms Maria Elaene Rodrigues Alves, Uma mulher sábia, adorável e

guerreira. Uma orientadora de dar orgulho

Às Profª. Richelly Barbosa de Freitas e Profª. Ms. Mayra Rachel pela

participação na Banca Examinadora. Em especial a Profª. Richelly Barbosa que ama

transmitir o que sabe para colaborar com o nosso crescimento como pessoa e

profissional.

E a todos que me incentivaram a começar o curso de Serviço Social e que

torcem sempre pela minha vitória.

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“De homem a homem verdadeiro,

o caminho passa pelo homem louco.”

Michel Foucault

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RESUMO

O trabalho ora apresentado tem como tema população de rua e saúde mental e como objeto de estudo a população em situação de rua com transtorno mental. O estudo foi realizado nas ruas de Messejana na Cidade de Fortaleza e no terminal de ônibus de Messejana. Objetivou-se com esse estudo pesquisar a percepção da população de rua que sofre com transtorno sobre o seu conhecimento das políticas de saúde mental e as instituições que tratam dos mesmos; analisarmos motivos que levaram essas pessoas a não utilizarem as políticas de saúde mental e a instituição CAPS e o consultório de rua; conhecer de perto a realidade dessa população. A fim de responder os objetivos traçados o trabalho inicial com a contextualização da saúde mental no mundo no Brasil e em Fortaleza, por fim são abordados traços da população de rua e o seu conhecimento através da pesquisa sobre a saúde mental e as políticas de saúde e todo caminho percorrido da pesquisadora. A investigação realizada é de natureza qualitativa, com dados coletados na pesquisa de campo e pesquisa bibliográfica. Dados também foram coletados através de entrevistas estruturadas com três pessoas que vivem nas ruas entorno do bairro Messejana com transtornos mentais. Os resultados da pesquisa proporcionaram a conhecer como são vistas as políticas pelos entrevistados, bem como a importância de um tratamento adequado para os mesmos e como as instituições estão na ativa de busca em ajudar essas pessoas.

Palavras – chave: Saúde Mental, População de Rua e Políticas Públicas.

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ABSTRACT

The work presented is themed homeless and mental health and as an object of study population on the streets with mental disorder. The study was performed in the streets of the city of Fortaleza Messejana and bus terminal Messejana. The objective of this research study the perception of the homeless population that suffers from disorder on their knowledge of mental health policies and institutions that deal with the same , to analyze the reasons why these people do not use the mental health policies and CAPS institution and office street ; know more about the reality of this population. To meet the objectives outlined the initial work with the context of mental health in the world in Brazil and Fortaleza, finally traces of the homeless and their knowledge are addressed through research on mental health and health policies and all path taken by the researcher. The research is qualitative in nature, with data collected in the field research and literature. Data were also collected through structured interviews with three people who live in the streets around the neighborhood Messejana interviews with mental disorders. The survey results provided the know how policies are seen by respondents as well as the importance of an adequate and for the same treatment as the institutions are active in search help these people. Keywords-Keywords: Health Mental, Street Population Health and Health Policy.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...............................................................................................10

1. PERCURSO METODOLÓGICO ................................................................12

1.1 Trajetórias e reflexões percorridas ...........................................................12

1.2 A constituição do objeto de estudo ..................................................... 14

2. A HISTÓRIA DA SAÚDE MENTAL ........................................................ 21

2.1 O Contexto da saúde mental no Mundo............................................... 21

2.2 O Contexto da Saúde Mental no Brasil ............................................... 24

2.3 Reforma Psiquiátrica Brasileira ........................................................... 26

2.4 A Saúde Mental em Fortaleza: Avanços e desafios ........................... 32

3. POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA ................................................. 33

3.1 Contextualizando as políticas públicas e população em situação de

rua ................................................................................................................. 33

3.2 População em situação de Rua: sujeitos em questão no atendimento

às políticas públicas .................................................................................... 44

3.3 Análise da visão dos moradores de rua sobre as políticas públicas

de saúde mental (CAPS e Consultório de Rua) ........................................... 48

CONCLUSÃO ............................................................................................... 52

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 54

ANEXO ......................................................................................................... 61

DECLARAÇÃO DE CORREÇÃO ................................................................ 62

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INTRODUÇÃO

A saúde mental no Brasil e no mundo foi baseada, por muito tempo, no

isolamento dos pacientes em hospitais psiquiátricos gerando assim um grande

número de pacientes afastados por longo tempo do convívio social e que

precisavam de um apoio maior e especial para que a sua reinserção na sociedade

fosse feita.

Com muitas lutas em favor da melhoria na saúde mental mudanças têm

ocorrido e a esperança e a expectativa de que novos modelos assistenciais trariam

uma base para a melhoria nesse setor ocorre com a Reforma Psiquiátrica e

movimento de Reforma Psiquiátrica representa um grande avanço nas práticas em

saúde mental, tentando estabelecer uma cidadania efetiva para os usuários da rede.

A Reforma Psiquiátrica e a própria Legislação Psiquiátrica, que tem por visão

reduzir os leitos psiquiátricos e contrariamente, visa incrementar, qualificar e

expandir e fortalecer as redes extra-hospitalar como o Centro de Atenção

Psicossocial – CAPS e as unidades, como os Consultórios de rua esses programas

condizem com o tratamento dos usuários de saúde mental e com a efetiva inserção

dos mesmos na sociedade os tirando da política de exclusão.

No entanto, na busca de compreender as situações do cotidiano que

envolvem a população de rua com transtorno mentais e as políticas e redes extra

hospitalares no tratamento dos mesmos, percebi a complexidade de se viver e

sobreviver, notadamente quando se investiga pessoas e suas relações nessa

sociedade desigual e marcada por contradições.

Este segmento da população brasileira e, principalmente da cearense na qual

foi realizada a pesquisa está totalmente desprovido de meios de amparo social e de

benefícios para o seu bem estar físico, mental e social, não havendo um meio eficaz

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de suporte para evitar tal agravamento do seu quadro clinico e o abandono social

em que vivem.

O ato de pesquisar é um dialogo permanente com os sujeitos da pesquisa,

quando o processo de construção do objeto acontece por vários motivos. Como

afirma Setúbal (1999) tal objetivo leva o pesquisador a se voltar para a captação das

diferenças significativas que compõem a forma de ser do objeto de comunicação e

de acordo com o olhar e o compromisso do pesquisador com a realidade.

O cenário de total abandono em que as pessoas em situação de rua em

Fortaleza com transtornos mentais se encontram, ao longo de muitas décadas, no

que diz respeito ao atendimento a essa população, potencializou a situação de

indigência de alguns setores sociais que ficaram cada vez mais excluídos.

Dentre tantos motivos que nos levaram a estudar a população em situação de

Rua com transtorno mental de Fortaleza, destaca-se a experiência no estágio dentro

do CAPS; e a experiência de não conseguir ver as políticas públicas voltadas para

essa população com tanta ênfase.

E para tratarmos mais a fundo essa questão foram levantados no I capitulo,

faremos um percurso metodológico do caminho traçado para realizar a pesquisa as

dificuldades e reflexão que nos deixaram. No II tem como Título a História da Saúde

Mental fazendo uma análise da saúde mental no mundo, no Brasil e em Fortaleza.

No III trazemos uma contextualização sobre a população de rua, as políticas que

abrangem essa população e suas falhas.

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1. PERCURSO METODOLÓGICO

1.1. Trajetórias e Reflexões Percorridas

O interesse inicial de estudar a temática da saúde mental ocorreu no inicio da

minha graduação em Serviço Social e cresceu ainda mais no meu estágio curricular

obrigatório durante um ano e meio no CAPS Geral em Messejana. O CAPS Geral da

Ser VI foi a minha porta de entrada para conhecer de perto a saúde mental e as

políticas que envolviam a instituição. No entanto, o objetivo inicial de pesquisar a

saúde mental era voltado para a pesquisa da atuação das Assistentes Sociais

inseridas no CAPS Geral de Messejana, o desejo em pesquisar o Serviço Social

dentro do CAPS ocorreu por motivo de estar todos os dias e ver o exemplo de duas

grandes profissionais dentro da saúde mental minha supervisora de campo Vanusa

Tomé e da coordenadora na época do estágio e também assistente social Kelma

Nunes foram as minhas inspirações para me dedicar à pesquisa em saúde mental.

O CAPS me proporcionou diversas inquietações, explicações e ao mesmo

tempo dúvidas em relação à saúde mental. Durante um ano e meio conheci diversos

tipos de usuários, dos que sofriam de pequenos transtornos até os mais graves,

durante o estágio minha supervisora me dava carta branca para participar dos

grupos que existiam e de todas as visitas domiciliares em busca de dar aparato e

encaminhamento aqueles que sofriam de problemas psíquicos.

Tive a oportunidade de ver várias intervenções feitas pelo Serviço Social, pela

equipe de enfermagem e até pela equipe médica, todos que conheci dentro do

CAPS faziam de tudo para que a política fosse realmente implantada dentro da

instituição, não se esquecendo de falar das dificuldades que existiam como a falta

de medicamentos, de médicos de um espaço mais adequado e de atendimento, mas

isso ocorria por um problema de gestão superior e não pelos profissionais que

estavam ali envolvidos, que faziam de tudo para garantir os direitos dos portadores

de transtorno mentais, mesmo com essas dificuldades os profissionais que ali

trabalhavam faziam de tudo para que o atendimento não fosse parado e fosse de

boa qualidade mesmo com poucos recursos disponíveis.

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Toda essa experiência institucional que pude passar me possibilitou refletir,

no próprio cotidiano profissional do assistente social e das demandas a cerca da

saúde mental pelos usuários, também das múltiplas dimensões e contradições

inerentes ao objeto de pesquisa que eu desejara realizar voltados para a dimensão

da prática do assistente social dentro da instituição de saúde mental. Em outros

termos, esse contato permitiu importantes condições para melhor compreender e

analisar historicamente o perfil dessas profissionais inseridas no âmbito CAPS.

Tudo isso me levou a elaboração de um projeto de TCC voltado para a saúde

mental e o papel do Serviço Social na instituição do CAPS. Durante o período da

elaboração do projeto da disciplina de Fundamentos de TCC, fui desenvolvendo

estudos, analisando o perfil das profissionais no meu campo de estágio e

Investigando com mais rigor de detalhes sobre a história da saúde mental.

Porém, com a mudança de semestre em busca de orientadora, pela

dificuldade com a aprovação na Plataforma Brasil e pelo curto tempo para concluir a

monografia, estava apta a realizar minha pesquisa no 8º semestre que iria se iniciar

logo após, no entanto tive o prazer de conhecer a professora Elaene que conheceu

meu projeto e decidiu ser minha orientadora, porém seu eixo temático era voltado

para a população de rua, desde então conheci sua tese de mestrado e me encantei,

e foi aí que fui convidada pela mesma a mudar o foco do meu tema não saindo da

saúde mental, mas de pesquisar a saúde mental com foco na população de rua com

transtorno mental. Aceitei a proposta e a partir daí resolvi descobrir esse universo da

população de rua, que me era estranho, concordando com Minayo (2010) que diz

“todo pesquisador precisa ser curioso, um perguntador. E essa qualidade deve ser

exercida o tempo todo” (p.62).

Porém, o novo aguçou mais ainda o meu lado pesquisadora me levando pra

esse foco na população de rua e me envolvendo a cada dia com essa temática que

parecem esquecida e distante da sociedade e de muitos pesquisadores.

Conforme Goldenberg

A simples escolha de um objeto já significa um julgamento de valor na medida em que ele é privilegiado como mais significativo entre tantos outros

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sujeitos à pesquisa. O contexto da pesquisa, a orientação teórica, o momento sócio histórico, a personalidade do pesquisador, o ethos do pesquisado, influenciam o resultado da pesquisa. Quanto mais o pesquisador tem consciência de suas preferências pessoais mais é capaz de evitar o bias (tradução: viés, parcialidade e preconceito – grifo nosso) muito mais do que aquele que trabalha com a ilusão de ser orientado apenas por considerações científicas. (GOLDENBERG, 2004; p.45).

Podemos aqui ressaltar que a melhor forma para podemos compreender as

situações da vida cotidiana é aprendendo a sua complexidade e suas

manifestações, na qual afinamos os instrumentos de observação da mesma e

fazemos crítica dos fatos observados, isso que ocorreu durante minha pesquisa.

Nesse sentido, construir perguntas sobre a realidade da população de rua

com transtorno mental e elaborar esquemas de pensamentos em busca de possíveis

respostas para tal situação e sobre as políticas de direito dessa população, mesmo

que essas sejam parciais, exigem do pesquisador processo de abertura frente a um

percurso tortuoso, porém instigante, que deve considerar as experiências realizadas

e outras que serão vividas. Diante disso, irei ressaltar o percurso da constituição do

meu objeto escolhido.

1. 2 A constituição do objeto de estudo.

Algumas indagações acerca da política para população de rua com

transtornos mentais foram - me feitas durante os meses de pesquisa. A intenção

deste estudo é uma análise da realidade pesquisada, não interessa aqui os grandes

fatos ocorridos em grande dimensão, mas aqueles mais próximos dos sujeitos em

situação de rua com transtorno mental que provocam uma inquietude e a

repercussão que a falta de tratamento trazem diretamente em suas vidas, porque “a

realidade social é, em si, o próprio dinamismo da vida individual e coletiva com toda

a abundância de significados dela transbordantes” (OSTERNE, 2001; p. 23).

Durante a construção da minha pesquisa passei por vários sentidos da teoria

metodológica que pode aqui ser destacada mostrando que:

Metodologia significa, etimologicamente, o estudo dos caminhos a serem seguidos, dos instrumentos usados para se fazer ciência. A Metodologia faz um questionamento crítico da construção do objeto científico, problematizando a relação sujeito-objeto construído. Diante de uma

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objetividade impossível, a Metodologia busca uma subjetividade controlada por si mesma (autocrítica) e pelos outros (crítica). (GOLDENBERG, 2004; p. 105).

A referente pesquisa teve como abordagem a pesquisa qualitativa,

Goldenberg (2004) afirma que “Na pesquisa qualitativa a preocupação do

pesquisador não é com a representatividade numérica do grupo pesquisado, mas

com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização,

de uma instituição, de uma trajetória etc.” (p.14). Esta modalidade se constitui na

que melhor se adequava aos propósitos do estudo devido à complexidade e às

contradições dos fenômenos estudados em termos de suas origens e de sua razão

de ser.

Levamos a efeito também, a revisão de literatura tomando por base as

categorias de análise. Dentre as categorias inerentes ao objeto delimitado

destacam-se os seguintes conceitos: Saúde mental, Políticas e População em

situação de rua. Nas leituras realizadas dialogamos com as seguintes autores:

Amarante (2003), Bisneto (2011), Brasil (2004), Delgado (2007), Foucault (2007),

Paniago (2007), Oliveira (2012), Rosa (2005), entre outros.

Quanto ao tipo esta pesquisa se caracteriza como documental bibliográfica e

de campo. Pesquisa documental com enfoque nos registros de jornais e em

documentos oficiais, a exemplo dos Planos de Política Nacional para pessoas com

Doenças Mentais e População em Situação de Rua, Pesquisa Nacional de

População em Situação de Rua.

Pesquisa documental é onde são investigados documentos com o propósito de descrever e comparar usos e costumes, tendências, diferenças e outras características. As bases documentais permitem estudar tanto a realidade presente como o passado, com a pesquisa histórica. (CERVO, 2007; p.62).

Com esse objetivo, avançamos no estudo da temática ao nos debruçarmos

em pesquisas bibliográficas, fazendo um levantamento bibliográfico dos assuntos

pesquisados sobre saúde mental e população de rua “A principal vantagem da

pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a descoberta de uma

gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar

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diretamente [...] a pesquisa bibliográfica também é indispensável nos estudos

históricos.” (GIL, 2002; p. 45).

Enfocando sempre a problemática da população em situação de Rua com

transtorno mental da cidade de Fortaleza, estabelecemos conversas essas pessoas

em diversas situações de transtorno e em vários lugares, objetivando compreender o

cotidiano de cada uma. A Pesquisa Bibliográfica aconteceu também quando fizemos

um apanhado em linhas gerais sobre os principais trabalhos científicos já realizados

sobre o tema escolhido.

A pesquisa de campo pôde iniciar-se com a observação direta. A observação

direta, como afirma Goldenberg,

Apresenta a vantagem metodológica de permitir um acompanhamento mais prolongado e minucioso das situações. Essa técnica, complementada pelas técnicas de entrevista em profundidade, revela o significado daquelas situações para os indivíduos, que sempre é mais amplo do que aquilo que aparece em um questionário padronizado. (2004; p.34).

Essa observação direta implica em vários percursos feitos pelas ruas e terminais,

Minayo ressalta da importância da pesquisa de campo quando nos traz a afirmação.

O trabalho de campo permite a aproximação do pesquisador da realidade sobre o qual formulou uma pergunta, mas também estabelecer uma interação com os “atores” que conformam a realidade e, assim, constrói um conhecimento empírico importantíssimo para quem faz pesquisa social. (MINAYO, 2010; p.62).

Ir a campo foi à melhor forma que encontrei para me aproximar dessas

pessoas, mesmo com todas as dificuldades de aproximação com o meu objeto, Gil

ressalta essa importância “No estudo de campo, o pesquisador realiza a maior parte

do trabalho pessoalmente, pois é enfatizada a importância de o pesquisador ter tido

ele mesmo uma experiência direta com a situação de estudo.” (2002, p. 53). Essa

observação no campo implica em vários percursos que foi feito pelas ruas, praças e

terminais de Fortaleza, momentos em que buscávamos nos familiarizar com a dinâmica

das ruas.

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Embora, que quantitativamente pelo nosso percurso observando que as

pessoas com transtornos mentais representam uma minoria nas ruas, não podemos

negligenciar oportunidades de conhecer sua realidade particular. Nesse contexto

nosso objetivo foi de analisar se essas pessoas com transtornos mentais que vivem

nas ruas conhecem as políticas de saúde mental e as instituições que atendem

pessoas com transtornos mentais, tendo como foco sua condição de vida e

vivências com o fenômeno portador de transtorno mental vivendo nas ruas de

Fortaleza.

As experiências vividas durante a pesquisa ajudam a desvendar o real e nos

coloca em movimento, diante disso [...] o objetivo do pesquisador é compreender a

vida do indivíduo dentro da própria sociedade em que vive. (GOLDENBERG, 2004;

p.21).

Não esquecendo que as dificuldades de uma aproximação com essas

pessoas ocorreram, as mesmas entram em um estado de real e imaginário e muitas

não conseguem exemplificar qual seu tipo de transtorno e o conhecimento que tem

sobre as políticas de saúde mental. As políticas não chegam até a população de rua

com transtornos de uma maneira eficaz, sabemos das dificuldades que essa

população tem para ter um simples atendimento em uma unidade como o CAPS,

devido a alguns não possuírem documentos e existe uma exigência na instituição

que para ser atendido deverá munir-se de uma documentação, dessa forma deixa

de atender uma população que necessite de amparo. Pude então observar, que se

as políticas se unissem e fizessem um programa que englobassem as instituições de

atendimento desses do tipo CAPS e Consultório de Rua seriam mais eficazes.

Dada à natureza da pesquisa utilizamos outra técnica como complemento da

coleta de informações, durante o trabalho de campo, a saber, entrevistas

estruturadas;

A entrevista estruturada é conhecida como entrevista diretiva ou fechada. As entrevistas estruturadas são elaboradas mediante questionário totalmente estruturado, ou seja, é aquela onde as perguntas são previamente formuladas e tem-se o cuidado de não fugir a elas. O principal motivo deste zelo é a possibilidade de comparação com o mesmo conjunto de perguntas e que as diferenças devem refletir. (QUARESMA, 2005; p. 74).

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A decisão pelas entrevistas estruturadas se deu pelo motivo da realidade das

pessoas pesquisadas, seguindo um roteiro de perguntas fechadas e objetivas para

tentarmos não fugir da realidade. A intenção era aproveitar o máximo das respostas

em cima das perguntas objetivas deixando à vontade as pessoas para podermos

captar o que seria real e imaginário nos questionamentos para que tivessem

possibilidade de discorrer sobre o tema proposto.

Fizemos uma conversa informal, mas também seguimos um conjunto de

questões previamente definidas, ou seja, antes de iniciarmos as entrevistas

explicamos as questões que iríamos abordar. Nas entrevistas encontramos pessoas

que eram bastante objetivas em suas respostas.

Percebemos muitas dificuldades quando se falava sobre as políticas e o

CAPS e quando falávamos sobre o seu transtorno. Durante a entrevista estivemos

sempre atentas ao espaço, às pessoas que passavam e observava o

comportamento dos entrevistados e até os próprios entrevistados tentando

compreender o perfil onde eles estavam inseridos, Goldenberg afirma que [...] o

objetivo do pesquisador é compreender a vida do indivíduo dentro da própria

sociedade em que vive. (2004, p.21).

Compreendemos que a entrevista como coleta de dados sobre um

determinado tema científico é a técnica mais utilizada no processo de trabalho de

campo. Foram feitas três entrevistas, porém definimos trabalhar com as três

entrevistas pelo pequeno numero que conseguimos uma feita no Terminal da

Messejana e as outras duas nas ruas mesmo de Fortaleza no bairro da Messejana.

Os critérios utilizados foram os mesmos do objetivo da pesquisa pessoas com

transtornos mentais que residem nas ruas de fortaleza. As pessoas entrevistadas

tiveram sigilos mantidos sobre seus nomes verdadeiros, mesmo não sabendo se

realmente o nome que deram eram verdadeiros devido aos transtornos que elas têm

e colocamos sua identidade como entrevistados, Weber, Marx e Maria da Penha.

Nesse processo, estabelecemos alguns objetivos específicos ressaltando o

que Goldenberg (2004) afirma que “o objeto de estudo deve responder aos

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interesses do pesquisador e ter as fontes de consulta acessíveis e de fácil

manuseio. Quanto mais se recorta o tema, com mais segurança e criatividade se

trabalha”. (p.72).

Tais objetivos específicos estão diretamente interligados com as perguntas

inerentes ao objeto em questão, quais sejam: Analisar a falta de incentivo dos

centros de apoio psicossocial aos moradores de rua com transtornos mentais, onde

eles estão que não dão apoio a esses moradores; entender o motivo que levaram

essas pessoas a desconhecer as políticas psicossociais pelo Estado e se afastarem

da família e conhecer a realidade de perto desses moradores na tentativa de

esclarecer os motivos de seu transtorno mental.

Na trilha da construção do conhecimento e no sentido de melhor esclarecer o

estudo realizado, foram construídas algumas hipóteses como forma de sinalizar

rumos para concretizar o processo investigativo do nosso estudo em questão.

Devemos ressaltar que compreendemos hipóteses como afirmações

provisórias a respeito de determinado fenômeno em estudo. São afirmações para

serem testadas empiricamente e depois confirmadas ou rejeitadas. A fim de

desvendar as possíveis respostas para os questionamentos já expostos para as

seguintes hipóteses partem como balizas para a construção deste processo

investigativo: Para esses moradores de rua com transtorno mental o

desconhecimento em relação os centros de apoio psicossocial é nítido devido às

falhas na interação entre instituição e população de rua.

Por sua vez, as populações de rua com transtornos mentais foram excluído

do seio familiar pela própria família, e jamais sequer conheceram o apoio do Estado

e de outras pessoas que não sejam eles mesmos. Os motivadores dos transtornos

mentais da população de rua analisados é uma questão de saúde adquirida pelo

fator biológico e uma pequena parcela por questões de transtornos familiares.

Existem pessoas em situação de rua com transtorno mental por toda a cidade

de Fortaleza, dos bairros de classe média ao de classe alta em viadutos, vias,

especialmente próximos ao Centro, nas vias que se localizam nas mediações das

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praças e também naquelas que possuem maior dinamicidade comercial e acentuado

fluxo de transeuntes.

Comumente surgiram perguntas durante o processo de construção sobre os

desafios que uma pesquisa desta natureza poderia trazer. Adentrar como

pesquisadora no emaranhado de acontecimentos vividos cotidianamente no campo

da vivência de população de rua com transtorno mental, não seria uma tarefa fácil.

E, portanto, assim se faz entendermos que esse trabalho tem nos dado a

oportunidade de um relato da longa viagem realizada para alcançar o cotidiano das

pessoas que vivem nas ruas com transtorno mental, mas como um modo diferente

de olhar e pensar suas realidades particulares.

Goldenberg afirma que;

Fazer uma pesquisa significa aprender a pôr ordem nas próprias ideias. Não

importa tanto o tema escolhido, mas a experiência de trabalho de pesquisa.

Trabalhando- se bem não existe tema que seja tolo ou pouco importante. A

pesquisa deve ser entendida como uma ocasião única para fazer alguns

exercícios que servirão por toda a vida. O trabalho de pesquisa deve ser

instigante, mesmo que o objeto não pareça ser tão interessante. O que o

verdadeiro pesquisador busca é o jogo criativo de aprender como pensar e

olhar cientificamente. (GOLDENBERG, 2004; p.68).

Afirmando com o que a autora descreve fazer pesquisa é prazeroso e

pesquisar a população de rua com transtorno mental me fez ter uma aproximação

maior e um olhar mais crítico em relação às políticas voltadas para esse público,

ressaltando que não existe tema tolo ou importante e sim temas que abordem a

defesa dos direitos dos cidadãos.

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2. A HISTÓRIA DA SAÚDE MENTAL.

2.1 O contexto da saúde mental no Mundo.

Foucault (2007) acerca dos seus estudos sobre a loucura fala que no século

XVII ela fazia parte de um espaço moral de exclusão, ligada obstinadamente as

maiores experiências no período da renascença uma das figuras simbólicas que ele

nos traz é sobre a Nau dos loucos “estranho barco que desliza ao longo dos calmos

rios da Renânia e dos canais flamengos.” (p.13).

Tal acontecimento como ele caracteriza eram navios que levavam pessoas

consideradas loucos de uma cidade para outra tirando os mesmos fora do convívio

em sociedade livrando dessas pessoas para que não prejudicasse os cidadãos na

época e jogando em prisões em cidades bem afastadas “Os loucos tinham então

uma existência facilmente errante. As cidades escorraçavam-nos de seus muros;

deixava-se que corressem pelos campos distantes, quando não eram confiados a

grupos de mercadores e peregrinos.” (FOUCAULT, 2007; p. 13). Era na verdade um

exato costume colocar os considerados “loucos” para a sociedade naquela época

nesses barcos tratando-se de uma medida geral de expurgo tratando-os como

vagabundos.

Os loucos que assombravam as Naus iam de uma cidade para outra e ao

chegar lá eram jogados em prisão, eram alojados nessas prisões e mantidos pela

cidade, mas não eram tratados. Os marinheiros levavam esses loucos de sua cidade

e jogavam em outra purificando a sua cidade original como assim relatava a

sociedade da época, tirando-os da presença da mesma.

Acontecia de alguns loucos serem chicoteados publicamente, e que no decorrer de uma espécie de jogo eles fossem a seguir perseguidos numa corrida simulada e escorraçados da cidade a bastonadas. Outro dos signos de que a partida dos loucos se inscrevia entre os exílios rituais. (FOUCAULT, 2007; p. 16).

A navegação dos loucos é uma situação da rigorosa passagem absoluta da

preocupação do homem medieval.

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Fechado no navio, de onde não se escapa, o louco é entregue ao rio de mil braços, ao mar de mil caminhos, a essa grande incerteza exterior a tudo. É um prisioneiro no meio da mais livre, da mais aberta das estradas: solidamente acorrentado à infinita encruzilhada. (FOUCAULT, 2007; p.17).

Já por fim da idade média o louco se tornou um dos maiores personagem em

sua ambiguidade como uma ameaça, e medíocre ridículo dos homens. “E eis que

nos últimos anos do século esta grande inquietude gira sobre si mesma: o desatino

da loucura substitui a morte e a seriedade que a acompanha.” (FOUCAULT, 2007;

p.20).

O saber dos loucos era considerado como o saber proibido, o prediz do reino

do satã, a idade média tinha atribuído um lugar a loucura na hierarquia dos vícios.

A partir do século XIII, é comum vê-la figurar entre os maus soldados da Psicomaquia66. Em Paris como em Amiens, ela participa das más tropas e dessas doze dualidades que dividem entre si a soberania da alma humana: Fé e Idolatria, Esperança e Desespero, Caridade e Avareza, Castidade e Luxúria, Prudência e Loucura, Paciência e Cólera, Suavidade e Dureza, Concórdia e Discórdia, Obediência e Rebelião, Perseverança e Inconstância. (FOUCAULT, 2007; p. 28).

Na literatura sob o domínio da expressão na filosofia no século XV a

experiência da loucura, assume um aspecto de sátira moral.

É por isso que a experiência clássica, e através dela a experiência moderna da loucura, não pode ser considerada como uma figura total, que finalmente chegaria, por esse caminho, à sua verdade positiva; é uma figura fragmentária que, de modo abusivo, se apresenta como exaustiva; é um conjunto desequilibrado por tudo aquilo de que carece, isto é, por tudo aquilo que o oculta. (FOUCAULT, 2007, p. 34).

A experiência da loucura se estende do século XVI como descobertas extremas

que nos permitem considerar que essa experiência teve uma figura particular que

conduz a um pensamento racional à análise da loucura como doença mental. A

loucura tornou-se uma forma relativa à razão, que faz entender que toda loucura

tenha uma razão de ser que a julga a controla e que a fundamenta até a sua cura e

que faz de cada “louco” estabelecer uma alegria em seu intimo no seu estado.

Como assim afirma a declaração de Erasmo de Rotterdam em seu livro elogio

da loucura

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Embora os homens costumem ferir a minha reputação e eu saiba muito bem quanto o meu nome soa mal aos ouvidos dos mais tolos, orgulho-me de vos dizer que esta loucura, sim, esta loucura que estais vendo é a única capaz de alegrar os deuses e os mortais. (ROTTERDAM, 2002; p. 12).

Pode-se pensar ousadamente que, na poesia existente das palavras de

Erasmo sobre a presença da loucura, não é um mero expediente literário de sua

época. Porém, como afirma Pessotti (1999) à loucura comparece como um estado

que, mesmo incidental, é uma contingência natural da vida humana.

No período após o Renascimento, aspectos marcantes como a criação do

Hospital Geral, em 1656, episódio conhecido como a Grande Internação, revelam a

negatividade histórica da loucura frente ao referencial da razão, em que os

incapacitados e ociosos são retirados de cena diante de uma nova ética do trabalho.

(SOARES, 2006).

Não obstante, antes do século XVIII, a medicina da loucura não cessou de

evoluir, seja como saber doutrinário, seja como atividade diagnostica parecendo

infundado pensar que a escassez de categorias para classificar as formas de

loucuras corresponde ao nível de evolução do saber médico. (PESSOTTI, 1999). No

entanto, em meados do século XVIII, a loucura começa a adquirir um status bastante

singular.

A alienação mental foi o primeiro termo conceituado por um médico sobre a

loucura, a loucura em manicômios foi denominada por Pinel como alienados “o

alienado era aquele que não mantinha o equilíbrio de suas paixões, sendo estranho

àqueles que estavam a sua volta e as novas regras produzidas como sendo moral e

ética.” (CALDAS, NOBRE, 2012; p. 73).

Com a modernidade articulada ao avanço da ciência, o homem racional

estava presente em uma sociedade racional organizada, e os chamados alienados

considerados não racionais eram isolados em instituições psiquiátricas sob a ordem

do homem racional que detinha a razão.

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Após a segunda guerra mundial, quando os hospitais psiquiátricos foram

comparados a campos de concentração nazistas surgiram muitos questionamentos

referentes ao tratamento dado no interior dos manicômios, movimentos de diversos

buscaram iniciar uma humanização para haver uma reforma tais como: movimento

das comunidades terapêuticas, na Inglaterra e EUA, bem como a Psicoterapia

Institucional na França, na década de 60 essas propostas que questionam a

psiquiatria despontam tendo como proposta uma ruptura do modelo manicomial.

(CALDAS, NOBRE, 2012).

Como fala Amarante sobre as aventuras no manicômio de Baságlia em

relação a sua visão no sentido de uma ruptura desse tratamento nos manicômios.

As dimensões de negação/superação e, posteriormente, de invenção de outro referimento psiquiátrico podem ser consideradas como constituinte de uma ruptura que da origem ao novo dispositivo. Ruptura que seria operada tanto em relação à psiquiatria tradicional (o dispositivo da alienação), quanto em relação à nova psiquiatria (o dispositivo da saúde mental), e demarcaria uma ruptura/descontinuidade aos níveis práticos e teóricos, tendo como ponto de referimento a negação da psiquiatria enquanto ideologia. (AMARANTE, 1994; p. 61).

Para Pessotti (1996), o século XIX poderia ser chamado de século dos

manicômios, por sua proliferação como hospitais direcionados para o tratamento dos

chamados alienados que viviam em sociedade. O surgimento de muitos manicômios

ai era muito nítido.

No entanto, as experiências de reformas psiquiátricas no cenário internacional

foram de suma importância para o cenário brasileiro vindo a influenciar o processo

de reforma psiquiátrica no Brasil com o cenário que aconteceu da reforma

psiquiátrica democrática que na Itália. (CALDAS, NOBRE, 2012).

2.2 O contexto da saúde mental no Brasil.

No Brasil, a loucura permaneceu silenciosa por muito tempo. No século XVIII,

o país era extremamente rural, suas capitais eram pouco habitadas, a economia era

auto-suficiente (com produções basicamente domésticas).

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A loucura surge nas ruas, depois de ser ignorada por quase trezentos anos.

Aqui também ela aparece, como alguns séculos antes na Europa, junto com os

marginais e é considerado um obstáculo ao crescimento econômico, perturbadora

da paz, ociosa e desordeira. (SARTORI, 2006). Porém até o inicio do século XIX,

esses os ditos loucos eram tratados de duas maneiras se fossem calmos vagavam

pelas ruas como os desordeiros, se fossem agressivos eram levados para a cadeia

publica onde permaneciam acorrentados.

Os desordeiros, alienados ficavam nas ruas ou em santas casas ou eram

mantidos em prisão junto com arruaceiros e outros tipos de criminosos que os

maltratavam. O fato é que, a saúde mental passa a ter a atenção do poder público a

partir do Império, período que foi marcado pela vinda da família real para a cidade

do Rio de Janeiro. (SARTORI, 2006).

Segundo Amarante (2003), em 1808 com a chegada da família real,

ocorreram várias mudanças no cenário político, cultural e econômico no Brasil,

houve várias transformações para o país com ênfase na saúde e na habitação,

surgindo à urbanização da cidade nesse período.

A forma com que o Estado lidava com os loucos era assegurada nas leis,

decretos e resoluções, e no momento em que a família real veio para o Rio de

Janeiro, como os loucos ameaçavam a sociedade ao olhar da mesma a ordem era

colocá-los em asilos para proteger os cidadãos. Muitos médicos e intelectuais se

manifestaram na época contra a forma que a sociedade excluía esses doentes

mentais e contra a maneira que eles eram tratados.

Devidos as várias pressões pela classe médica ao poder público, em 05 de

Dezembro de 1852 foi inaugurado o primeiro Hospital Psiquiátrico, chamado na

época de Hospício Psiquiátrico, nomeado de Hospital Pedro II, na cidade do Rio de

Janeiro, consagrado marco da assistência psiquiátrica pelas literaturas brasileiras

em saúde menta. (SOUZA, 2009).

A psiquiatria nasce, no Brasil com o desígnio de resguardar a população

contra os exageros da loucura, ou seja, não havia finalidade em buscar uma cura

para aqueles que sofriam de transtornos mentais, mas sim excluí-los da sociedade

para que esta se sentisse segura protegida. (MESQUITA, 2008).

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O modelo asilar ou hospitalocêntrico continua predominante até o final do

meado do século XX. Conforme Mesquita (2008) em 1961, o médico italiano Franco

Baságlia assume a direção do hospital Psiquiátrico na Itália. Ele assumia uma crítica

para com a psiquiatria clássica e hospitalar, por esta se centrar no principio do

isolamento do alienado. Mesquita ainda nos completa que Baságlia defendia que o

doente mental voltasse a viver em sociedade e a viver com a sua família, sua atitude

inicial foi de aperfeiçoar a qualidade de hospedaria e cuidado técnico aos internos do

hospital em que ele dirigia. No entanto, essas normas e pensamento de Baságlia

influenciaram diversos personagens do movimento que lutava pela mesma causa no

Brasil, fazendo ressurgir diversas discussões que tratava da desinstitucionalização

do portador de doença mental e da questão de uma humanização no tratamento a

essas pessoas, com o objetivo principal de reinseri-las na sociedade.

Então no Brasil, na década de 70 várias denuncias foram registradas quanto à

política brasileira de saúde mental devido à privatização da assistência psiquiátrica

por parte da previdência social, denuncias também quanto às condições subumanas

de atendimento psiquiátrico a população.

É dentro desse contexto que nasce a reforma psiquiátrica no Brasil onde a

experiência italiana sobre a desinstitucionalização dos manicômios é inspirada e isso

revelou uma possibilidade de uma ruptura com o antigo modelo asilar dos

“alienados” passando a surgir novas propostas e ações que dessem orientação a um

novo sistema de assistência psiquiátrica aos portadores de transtornos mentais e

com os movimentos contra esse modelo. (MESQUISTA, 2008).

2.3 Reforma Psiquiátrica Brasileira.

A saúde no Brasil, entre os anos de 1930 a 1960, era assistida por políticas

sociais organizada em dois subsetores: a saúde publica voltada para campanhas de

endemias e seu combate e a medicina previdenciária, que atendia aos contribuintes

da previdência social. (SOUZA, 2009).

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Souza (2009) cita vários momentos importantes para a saúde mental no Brasil

e que contribuíram para se chegar a Reforma Psiquiátrica.

A liga brasileira de Higiene Mental, criada em 1923 foi muito

importante para a ampliação do atendimento aos pacientes com

doenças mentais defendendo a melhoria do atendimento aos loucos

no interior das instituições psiquiátricas.

1930 no governo de Getúlio Vargas com a criação do Ministério da

Educação e saúde pública passando a controlar a assistência

Psicopata do Distrito Federal.

1936 a criação do Instituto de Psiquiatria, onde o eixo de entendimento

para um tratamento do doente mental foi mudado.

1941 Foi criado o órgão que passou a gerir toda a Política de Doença

mental, nomeado de Serviço Nacional de Doenças Mentais, que em

1953 passou a ser de responsabilidade do Ministério da Saúde.

1950 enfatizam-se com a importância da racionalização do

atendimento psiquiátrico pela criação de uma rede ambulatorial e pela

implantação de várias medidas como o Hospital – dia, unidades

psiquiátricas em hospitais gerais e centros de recuperação.

É a partir de 1955 que se inicia a utilização das drogas anti -

psicoativas as quais também são disponibilizadas no mercado.

O ano de 1960 é então considerado como o Ano Internacional da Saúde

Mental no qual fazia uma grande divulgação da psiquiatria preventiva estendendo o

tratamento a todos da sociedade que precisassem também nesse mesmo ano, a

saúde mental esteve ligada ao Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).

Já na década de 1970 iniciou-se o lema “Todos Juntos para frente Brasil” com

entrada de indústria estrangeiras endividamento externo e o aumento da pobreza

com isso o aumento dos manicômios devido a tantos problemas que afetavam a

sociedade muitos foi parar nesses centros psiquiátricos. (SOUZA, 2009).

A Reforma psiquiátrica brasileira historicamente tem seus limites demarcados

como um movimento histórico de caráter político ideológico e socioeconômico.

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O processo da Reforma Psiquiátrica brasileira tem uma história própria,

inscrita em um contexto internacional de mudanças pela superação da violência

asilar. Fundado, ao final dos anos 1970, na crise do modelo de assistência centrado

no hospital psiquiátrico, por um lado, e na eclosão, por outro, dos esforços dos

movimentos sociais pelos direitos dos pacientes psiquiátricos, o processo da

Reforma Psiquiátrica brasileira é maior do que a sanção de novas leis e normas e

maior do que o conjunto de mudanças nas políticas governamentais e nos serviços

de saúde. (DELGADO et al, 2007).

Em 1987, se inicia a periodização à emergência dos principais movimentos

sociais no país, após um longo período de repressão aberta pelo regime militar, que

até então impossibilitava a expressão política da sociedade civil no país. Dentro

desse conjunto de movimentos sociais destaca-se o Movimento de Trabalhadores

de Saúde Mental, que inicia um forte processo de questionamentos das políticas de

assistência psiquiátricas vigentes na época. (VASCONCELOS, 2010).

O Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM) foi o movimento

que passou a protagonizar e a construir a partir desse período citado denuncias

contra a violência nos manicômios, da mercantização da loucura e ainda construiu

coletivamente críticas a assistência às pessoas com transtornos mentais baseado no

asilamento em hospitais psiquiátricos. (VITAL, 2007).

A primeira conferência Nacional de Saúde Mental em 1987 foi realizada no

Rio de Janeiro que reafirma as resoluções da VIII Conferência Nacional de saúde

mental que reafirma as resoluções da VIII Conferência Nacional de Saúde que, em

86 tinha reformulado a proposta da Reforma Sanitária. A VIII CNS também defendeu

a reestruturação do modelo assistencial em Saúde Mental, criticando fortemente o

hospitalocentrismo e o institucionalismo dominantes dando destaque a necessidade

de uma revisão da legislação psiquiátrica, pondo em foco a preservação dos direitos

dos chamados doentes mentais. (UNESP, 2007).

Uma característica marcante desse movimento de saúde mental estava no

fato de serem completamente externos ao aparelho do Estado, os principais

objetivos como cita Vasconcelos (2010) são: Denuncia e mobilização pela

humanização dos hospitais psiquiátricos identificados como verdadeiros campos de

concentração, denuncia da indústria da loucura nos hospitais privados, denuncia e

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reinvidicações por melhores condições de trabalho nos hospitais psiquiátricos e as

primeiras reivindicações pela expansão de serviços ambulatoriais em saúde mental

apesar do movimento não ter ainda bem claro como deveriam organizar tais

serviços.

Outro evento que merece destaque é a Conferência sobre a Reestruturação

da Assistência Psiquiátrica na América Latina realizada em Caracas Novembro de

1990, nisso constitui um momento muito importante que contribuiu para o debate

das propostas da Reforma Psiquiátrica no Brasil.

Caldas e Nobre nos leva para década de 90 onde foi um momento intenso na

questão da reforma psiquiátrica.

Tanto na arena política como normativa para saúde mental, consolidando assim a Reforma psiquiátrica no país. A concepção de uma sociedade sem manicômios que, aparentemente, poderia parecer utópica, tornou-se possível após a lei do deputado Paulo Delgado que prevê a extinção progressiva dos manicômios além de direitos de portadores de transtornos mentais. (CALDAS, NOBRE, 2012; p. 76).

A Lei 10.216/01 reorganizava os serviços de atendimento as pessoas com

transtornos mentais e sua família privilegiava o oferecimento de tratamento em

serviços de base comunitária mais não institui claramente mecanismos para a

progressiva extinção dos manicômios.

No entanto é nesse contexto de promulgação da Lei que linhas específicas de

financiamento são criadas pelo Ministério da Saúde “para os serviços abertos e

substitutivos ao hospital psiquiátrico e novos mecanismos são criados para a

fiscalização, gestão e redução programada de leitos psiquiátricos no país. A partir

deste ponto, a rede de atenção diária à saúde mental experimenta uma importante

expansão, passando a alcançar regiões de grande tradição hospitalar, onde a

assistência comunitária em saúde mental era praticamente inexistente.” (BRASIL,

2005).

O tempo de institucionalização em um manicômio é significativo para os

usuários, uma vez que a longa permanência na instituição ensejou diversos

agravantes a essas pessoas: perda do contato com a realidade; perda do contato

com as mudanças sociais, culturais, políticas e até demográficas das localidades de

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origem; perda da condição de autocuidado; perda de sua individualidade e liberdade.

(LIMA, 2008).

Passam a entrar em vigor no país nesse período da criação da Lei as

primeiras normas federais regulamentando a implantação de serviços de atenção

diária fundadas na experiência dos primeiros CAPS e NAPS nesse período o

processo de expansão do CAPS foi descontínuo. No entanto, nesse mesmo período

houve o processo de desinstitucionalização com o Programa “De volta pra Casa” 1 e

com a Lei Paulo Delgado uma política de recursos humanos é construída para a

Reforma Psiquiátrica é traçado uma política para a questão do álcool e outras

drogas, incorporando a estratégia da redução de danos. (BRASIL, 1995).

Esse processo da Reforma Psiquiátrica como foi citado dividiu-se em duas

partes reforçando a menção acima: a primeira de 1978a 1991 compreende uma

crítica ao modelo hospitalocêntrico, enquanto a segunda, de 1992 aos dias atuais

destaca-se pela implantação de uma rede de serviços extra-hospitalares.

Segundo Mesquita, Novellino e Cavalcante.

Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental, lançando o lema "Por uma sociedade sem manicômios" no sentido de proceder à desinstitucionalização. O movimento de Luta Antimanicomial teve grande importância no surgimento de relevantes serviços de atendimentos Extra-Hospitalares oriundos da Reforma Sanitária: Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPS i); Núcleo de Atenção Psicossocial (NAPS). É notória a expansão dos CAPS ao longo dos últimos anos. Em 2002, foram implantados cerca de 420 CAPS. A criação dos CAPS - Centro de Atenção Psicossocial – veio substituir o modelo hospitalocêntrico. (MESQUITA, NOVELLINO, CAVALCANTE, 2010; p.).

Há uma variação na concepção de saúde mental nos estabelecimentos

dependendo do viés teórico que a paute e dos atores sociais concretos que

1Criado pela Lei Federal 10.708 encaminhada pelo Presidente Luís Inácio Lula da Silva ao congresso,

votada e sancionada em 2003 constitui-se de um programa de uma reivindicação histórica do movimento da Reforma Psiquiátrica Brasileira com objetivo de contribuir para a reinserção de pessoas com longas datas internadas em hospitais psiquiátricos na sociedade recebendo um pagamento mensal de auxílio reabilitação no valor de 240,00 reais aos seus beneficiários o programa possibilita a ampliação da relação dos usuários, assegura o bem estar global da pessoa estimulando o exercício pleno dos direitos civis, políticos e de cidadania.

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assumem o trabalho psiquiátrico como a Psiquiatria tradicional, velha psiquiatria,

Psiquiatria clássica. (BISNETO, 2011). Porém, Amarante (1996) afirma que existe

um conjunto de instituições de assistência psiquiátrica que são inspiradas

tipicamente no Movimento de Reforma Psiquiátrico chamados serviços psiquiátricos

alternativos como os CAPS – Centro de Atenção Psicossocial.

Segundo Rosa e Feitosa (2008) os CAPS, entre outros, são instituições

executoras da Política Publica de Saúde Mental objetivando retirar o monopólio que

durante quase todo o século XX fora exercido pela iniciativa privada, na forma de

hospitais psiquiátricos particulares, os quais muitas vezes negligenciavam o

tratamento adequado a fim de receber mais recursos vindos do Estado, inclusive na

forma de internamentos desnecessários. A Portaria/GM nº 336 - de 19 de fevereiro

de 2002, define e estabelece as diretrizes para o funcionamento dos CAPS, além de

categorizá-los conforme a clientela denominando-os de CAPS I, CAPS II, CAPS III,

CAPS i, CAPS ad.

O primeiro Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) do Brasil foi inaugurado

em março de 1986, na cidade de São Paulo: Centro de Atenção Psicossocial

Professor Luiz da Rocha Cerqueira, conhecido como CAPS da Rua Itapeva.

A criação desses CAPS e de tantos outros, com outros nomes e lugares, fez

parte de um intenso movimento social, inicialmente de trabalhadores de saúde

mental, que buscavam a melhoria da assistência no Brasil e denunciavam a situação

precária dos hospitais psiquiátricos, que ainda eram o único recurso destinado aos

usuários portadores de transtornos mentais. (BRASIL, 2004).

Pinheiro e Guizardi (2004) nos remetem ao conhecimento do tratamento

tradicional sobre a saúde mental que tem sido revisto nas práticas do serviço de

saúde substituído pelo cuidado ao ser humano, que é inserido num contexto social

frágil, passando a apresentar um sofrimento e busca então um profissional e uma

instituição de saúde como apoio e solução de seu problema.

A liberdade e a negação ao isolamento têm que ser vista como um cuidado na

capacidade do sujeito para operar as suas escolhas. “Porém, o cuidado abarca a

construção de projetos de vida, em contraposição ao reducionismo de uma

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intervenção voltada para a remissão dos sintomas”. (ALVES, GULJOR, 2004; p,

227).

Alves (2001) refere à substituição formal do termo “tratar” por “cuidar” com

atenção aos portadores de transtornos mentais, adequando assim à incorporação de

situações a serem superadas e, não simplesmente, trabalhando com critérios de

seleção ou exclusão.

A integralidade entra então como negação ao isolamento proposto em

tratamentos asilares, anteriores à Reforma Psiquiátrica e enfoca o seu cuidado com

o ser e seu sofrimento.

2.4 A saúde mental em Fortaleza: Avanços e desafios

Fortaleza hoje, conta com a política de saúde mental que atualmente vem

ampliando sua rede de saúde através da Coordenação Municipal de Saúde Mental

da cidade com a implantação dos CAPS nas seis secretarias executivas.

Nos últimos quatro anos, a expansão e qualificação da rede de atenção à

saúde mental, sobretudo dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps),

foram objetivos principais das ações e normatizações do Ministério da

Saúde. Pontos estratégicos para a organização da rede de atenção à

saúde mental num determinado território, a expansão destes serviços foi

fundamental para mudar o cenário da atenção à saúde mental no Brasil.

Neste período, o Ministério da Saúde pautou-se pela implantação de uma

rede pública e articulada de serviços. (Ministério da Saúde, 2007, pg. 11).

Nos centros de atenção psicossocial os usuários são assistidos em regime de

atenção diária. O tratamento acontece por meio de atendimentos individuais e em

grupos, bem como em oficinas terapêuticas, que buscam a inclusão social pelo

desenvolvimento da cidadania.

É nessas oficinas que acontecem as relações entre usuários e trabalhadores

e familiares, na perspectiva do cuidado integral, visando à reabilitação da pessoa

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com transtorno psíquico. O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) em Fortaleza

depara-se no seu cotidiano com portadores de perturbações mentais graves, que

necessitam de cuidado dos trabalhadores de saúde mental, cuidado que deve

envolver sentimentos, preocupações com a higiene, alimentação, interação e escuta

terapêutica. (BRASIL et al, 2008).

Para Bisneto (2011) o importante é que nas instituições em que há uma

presença em alguma medida do Movimento de Reforma Psiquiátrica, as concepções

psiquiátricas em que a sua ênfase à dimensão social e política dos problemas

mentais deve ser respeitada, propiciando a possibilidade de uma direção

emancipadora para o campo da Saúde Mental.

Na historia dos serviços de saúde mental, considerado nas ultimas décadas,

no Brasil identificou-se uma transformação da assistência a partir da implantação

dos CAPS. No entanto, um caso em Sobral no Ceará nos chama atenção que

podemos aqui relatar, com o tratamento dado a um doente mental pelos funcionários

excluído internado em uma clinica. (BISNETO, 2011).

Até meados do ano 2000 Sobral, não havia uma política organizada de

atenção à saúde mental, predominando uma assistência psiquiátrica centralizada na

Casa Repouso Guararapes - um hospital psiquiátrico clássico, cuja clientela

apresentava alto grau de cronificação, com grande tempo de permanência e

frequentes reinternações.

A morte de um cliente nessa instituição, em outubro de 1999, desencadeou

processos de auditoria que levaram à confirmação de casos de maus tratos e

espancamentos, o que culminou, posteriormente, com o fechamento do manicômio.

(BARROS et al, 2007).

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Esse caso ficou conhecido como Damião Ximenes como vê na reportagem do

Jornal O Globo de 20062

Damião Ximenes foi torturado e assassinado no dia 04 de outubro de 1999, quando estava internado na Casa de Repouso Guararapes, filiado à época ao Sistema Único de Saúde, no município de Sobral, estado do Ceará. Era portador de transtorno mental – com sintomas de esquizofrenia. Morreu aos 30 anos. Diante da demora injustificada no julgamento da ação penal e diversas falhas e irregularidades para apurar os responsáveis pelo assassinato, os familiares de Damião Ximenes e a Justiça Global apresentaram petição contra o Estado brasileiro perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos, na qual denunciaram os fatos ocorridos que ocasionaram sua morte e a impunidade do caso. (JORNAL O GLOBO, 2006).

No entanto, somente no ano de 2001, após 12 anos no Congresso Nacional,

que a Lei Paulo Delgado é sancionada no País, já que o ocorrido em Sobral foi no

ano de 1999, porém houve mudanças na Lei que protege contra tais casos de

discriminação e maus tratos como no seu Art. 1º- São direitos da pessoa portadora

de transtorno mental. Parágrafo I – ter acesso ao melhor tratamento do sistema de

saúde, consentâneo às suas necessidades. III – ser protegida de qualquer forma de

abuso e exploração. (BRASIL et al, 2008).

Diante disso, a saúde publica tem demonstrado avanços em relação no que

diz respeito à descentralização, universalidade, integralidade e equidade mais

controle social, a PNH surgiu para as questões de saúde na tentativa de humanizar

e ofertar um atendimento de qualidade articulando com avanços tecnológicos.

Diante disso, à questão das políticas publicas voltada para a saúde mental

contemporânea teve avanços e ao mesmo tempo retrocessos na perspectiva do

cuidado com o portador de transtorno mental, mas deve-se pensar na urgência de

implementação de estratégias, por parte da administração pública que visem

combater a desprecarização no setor da saúde mental.

2Disponível em: http://global.org.br/programas/o-caso-damiao-ximenes-o-primeiro-contra-o-brasil-na-

corte-interamericana-de-direitos-humanos-sera-decidido-entre-os-dias-3-e-4-de-julho-na-costa-rica/

acesso dia 10/11/2013 As 16:10.

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3. POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA.

3.1 CONTEXTUALIZANDO AS POLÍTICAS PÙBLICAS E POPULAÇÃO EM

SITUAÇÃO DE RUA.

Os séculos XVIII e XIX foram marcantes no que se refere às transformações

políticas, econômicas e socioculturais. As duas últimas décadas do século passado

e inicio deste milênio foram marcados por profundas transformações provocadas

pelo capitalismo. Entendemos que as primeiras décadas do século XX foram

marcadas pelo início da industrialização impulsionada pelas atividades relacionadas

com a cafeicultura e as necessidades básicas do mercado brasileiro.

Essas transformações no cenário econômico na sociedade geraram crises,

Paniago (2007) afirma quanto ao surgimento do que conhecemos como crise

contemporânea do capitalismo, essa é uma crise comumente relacionada ao

fracasso do Estado do Bem-Estar Social, cuja consolidação se deu no período pós-II

Grande Guerra nos países avançados, sendo este processo mais precisamente

observável a partir dos anos 70.

Crise que quando lemos sobre a mesma nos leva a reestruturação produtiva

do Capital e a reorientação do Estado em articular com a crise em favor da

sociedade e as modificações que ocorreram nas relações sociais.

Paniago ressalva da natureza dessa crise no universo das políticas sociais

dizendo;

A análise da natureza da crise é de fundamental importância para uma avaliação crítica das possibilidades de desenvolvimento e universalização das políticas sociais e de expansão da esfera pública, na medida em que esses desenvolvimentos estão condicionados tanto pelo êxito das propostas privatistas da direita consubstanciadas no projeto neoliberal, quanto pela viabilidade de se enfrentar a crise com as propostas da esquerda as quais têm variado entre a retomada de um projeto neokeynesiano de crescimento econômico, ou a construção de uma alternativa distante tanto do socialismo como do neoliberalismo – uma terceira via como temos visto ser adotada por alguns países avançados. Parece predominar a ideia de que não haveria mais lugar para uma proposta de superação do capital. (PANIAGO, 2007; p.2).

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Cabe aqui ressaltar, que as medidas pensadas e implementadas como

possibilidades de saída desta crise capitalista, encontram-se no modelo neoliberal

de ajustes fiscais e econômicos a sua suposta “receita de cura”.

Tais medidas não afetaram o conjunto das sociedades sob seus moldes

apenas no que tange a esfera social e econômica, mas atingem diretamente os mais

diversos “pilares” que serviram de sustentação às mínimas “regras” de sociabilidade

dentro da sociedade burguesa. (SILVA, 2012).

Diante dos imperativos de crescimento expansivo, condição inexorável do modo de existência do capital, da desvalorização da força de trabalho, do desemprego estrutural, e do enfraquecimento histórico da resistência operária organizada, motivada pelo fracasso das tentativas de substituição do capitalismo pelo socialismo experimentadas tanto pelos social democratas como pelo “socialismo real”, pensar no restabelecimento dos padrões de financiamento das políticas sociais do Welfare State é reincidir na mesma crença da luta defensiva do passado que supunha possível se ganhar espaços no capitalismo para a construção da emancipação do trabalho. (PIAGINO, 2007; p. 4).

O neoliberalismo promoveu uma substantiva reorientação das políticas

sociais, em um compromisso da esfera pública do WelfareStateé privatizando os

serviços sociais das políticas públicas e transferindo a responsabilidade social para

a sociedade.

Costa (2005) afirma que nesse contexto do neoliberalismo, pode se observar

um processo mundial de diminuição do estado social. Essa tendência então passa a

encontrar terreno ainda mais fértil nos países atingidos por fortes desigualdades

sociais e por grande diferença nas condições de vida da população. Ou ainda, em

países, como o Brasil, em que não houve uma efetiva constituição do estado de

bem-estar social.

Com o desmonte do sistema de proteção social, o Estado passa a ser mínimo

para o social e máximo para o capital, agravando a situação das camadas menos

abastadas.

Aumenta a demanda por benefícios, mas diminuem-se drasticamente os

serviços públicos oferecidos. Neste momento, as políticas sociais passam a ser

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orientadas por três princípios: o da privatização, o da descentralização e o da

focalização. (FONSECA, 2006). Isso tem gerado consequências.

[...] consequências negativas, configuradas na reprodução de desigualdades sociais e na falta de garantias sociais para grande parcela da população. Neste início do século, constata-se que a civilização, ao longo dos anos, não foi capaz de constituir um pacto que trouxesse melhorias sociais. A desigual distribuição de bens sociais, a discriminação, o desrespeito às diferenças, a incerteza, a involução de valores não são anomalias, mas constituintes do pensamento globalizado e do processo econômico em curso. (COSTA, 2005; p.1).

As condições de melhorias econômicas como vemos atualmente para a

ampliação de empregos pra sociedade que na verdade não existe, tem ocorrido é

um aumentado da vulnerabilidade das massas e tem gerado uma das expressões da

questão social de grupos de diferentes formas especificamente.

O cenário produzido pela sociedade burguesa, desde a sua fundação em

meados do século XIX, percorre a história da humanidade e deixa resquícios, muitas

vezes irreversíveis de pobreza e miséria absoluta. Dada às circunstâncias de um

sistema que, para existir, polariza duas realidades opostas, riqueza e pobreza, a

formação do Estado Capitalista entra nessa conjuntura e vai se constituindo como

espaço intensamente contraditório, refletindo a própria realidade em que está

inserido. (NOGUEIRA, 2013).

Nesse sentido, põe-se em discussão como o modelo de produção e suas

crises cíclicas repercutem de forma negativa na vida social, manifestam-se

cotidianamente na realidade e são constadas na miséria, na fome, na pauperização

das classes menos favorecidas, na violência urbana, na falta de condições dignas de

moradia, educação, saúde, transporte. Ou seja, as mais adversas expressões da

condição humana convergem para a questão da população de rua que, sob a

análise crítica, desvela-se a partir da construção histórica da sociabilidade

capitalista. (NOGUEIRA, 2013).

Os ajustes capitalistas na sociedade provocaram mudanças na sociedade em

geral, cujos efeitos foram o agravamento do desemprego, das desigualdades, das

precarizações esses efeitos produziram então uma superpopulação relativa que fez

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aumentar a pobreza. E foi nesse contexto que se tornou cada vez mais expressiva a

presença de pessoas em situação de rua.

Oliveira et al (2012) ressalva aqueles que vivem a margem da questão social

pode implicar na privação, falta de recursos ou, de uma forma mais abrangente,

ausência de cidadania, situação esta vivenciada pela população de rua que de certa

forma perderam seu direito de votação e são classificadas como a pior fase que

alguém poderia se encontrar, por não ter vínculos pessoais, sociais e nem mesmo

condições mínimas de sobrevivência.

A situação de rua, em que vivem milhares de pessoas atualmente é um

quadro social produzido pelas estratificações do sistema capitalista, no qual uma

minoria da população detém a grande parcela das riquezas produzidas. Este

sistema produz um alto índice de pessoas em situação de vulnerabilidade social e

miséria. Atualmente no Brasil, podemos perceber a existência de um quadro de

pobreza e miséria amplamente gritante, quadro este comprovado por dados obtidos

através de vários estudos e pesquisas realizadas. (SOUZA e FORTINI, 2013).

Na contemporaneidade, o fenômeno população de rua assume características

que se destaca como uma expressão da questão social, nesse contexto esse

fenômeno cresce a cada dia, como parte da pobreza e da superpopulação relativa

ainda que com pouca repercussão no cenário da política nacional.

Santos et al (2012) afirma que, o fenômeno de população de rua é

interpretado essencialmente como produto de um processo dos que vivem a

margem da questão social permeado por trajetórias psicológicas de vulnerabilidades

e fragilidades, incluindo rupturas de vínculos da existência humana em sociedade.

O sujeito que passa pelo processo de uma das expressões da questão social

encontra-se na ausência de lugar, o que envolve a anulação social, que reveste seu

cotidiano com um misto de indiferença e hostilidade. Não é difícil, assim, a partir da

definição, situar os moradores de rua nesse processo que os anulam socialmente, e

os prendem em uma condição limitante.

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A tentativa de resolver problemas relacionados as expressão da questão

social nessa sociedade deve haver mudanças em relação às políticas, no caso da

população de rua as políticas foram criadas. O debate sobre alguns conceitos e

noções sobre as melhorias dessa população nesse sistema capitalista foram feitos

por uma categoria teórica que posicionaram em realizar mudanças em relação ao

Estado e essa população de rua, diante disso surgiram várias questionamentos

políticos.

No Brasil, os estudos sobre populações de rua têm se ampliado a partir dos

anos 1990. As pesquisas apresentam diferenças substantivas sobre tal população e

indicam a diversidade nos perfis dos que vivem nas e das ruas. São investigações

que merecem destaque, principalmente se considerarmos a gravidade dessa

questão social. (MACIEL, 2004).

“A expressão população de rua é de fato, um conceitos amplo e genérico e

apresenta deficiências e insuficiências que não dão conta da complexidade do que

significa viver nas ruas” (ROSA, 2005; p.65).

De acordo com o Decreto nº 7.053, de 23 de dezembro de 2009, que institui a

Política Nacional para a População em Situação de Rua, trata-se de grupo

populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos

familiares fragilizados ou rompidos e a inexistência de moradia convencional regular.

Essa população se caracteriza, ainda, pela utilização de logradouros públicos

(praças, jardins, canteiros, marquises, viadutos) e áreas degradadas (prédios

abandonados, ruínas, carcaças de veículos) como espaço de moradia e de sustento,

de forma temporária ou permanente, bem como unidades de serviços de

acolhimento para pernoite temporário ou moradia provisória. (BRASIL, 2013).

Até se chegar à elaboração de políticas sociais de assistência às populações

e segmentos sociais vulnerabilizados e inseridos num contexto de pobreza e

exclusão, assegurando-lhes os direitos de cidadania e proteção social sob o amparo

dos dispositivos constitucionais, muito se percorreu e muitas lutas foram travadas.

(COSTA, 2013).

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Dantas fala que;

Nas entrelinhas do texto de nossa Carta Magna, portanto, a população de rua teria como parte integrante da população brasileira, direitos sociais a serem garantidos pelo Poder Público, através de políticas públicas gerais destinadas à população como um todo. Entretanto, a “assistência aos desamparados” e a “erradicação da pobreza e da marginalização”, constantes no texto, podem ser interpretadas como referências as populações mais vulneráveis, às quais deveriam ser destinadas políticas específicas. (DANTAS, 2007; p.31).

Um dos desafios a ser enfrentado, ao se propor a construção de uma política

nacional para inclusão social da população em situação de rua, está em sua própria

conceituação.

A diversidade de grupos e distintas localizações, a heterogeneidade desta

população e das condições em que se encontra que é sem um endereço fixo.

(BRASÍLIA, 2008).

No Governo do Presidente FHC mesmo tendo direcionando as políticas de

enfrentamento à pobreza apenas para os mais pauperizados, o governo não

conseguiu atingir uma parcela peculiar da população: a população de rua.

Inexistente para as estatísticas, invisível para a sociedade e inelegível para qualquer

programa social, aquele que mora na rua não consegue sair de sua situação

justamente por não existirem programas específicos de enfrentamento a essa

questão, complexa por englobar desvinculações múltiplas. (FERNANDES, 2006).

Porém, no governo que sucedeu FHC, Luís Inácio Lula da Silva afirma

Fernandes (2006) deu continuidade às práticas de fortalecimento do capital

baseadas na refilantropização, definindo como prioridade de seu mandato o

combate à fome. Foi instituído o Programa Fome Zero marcado pelo objetivo de

manter seus beneficiários biologicamente vivos através da distribuição de um cartão-

alimentação no valor de R$ 50,00. Tentando diminuir a fome, mas o desemprego

estrutural instaurado no país não é combalido e nem a população de rua foi

beneficiada.

O MDS adota em seu texto da Política Nacional para a População em

Situação de Rua, um conceito norteador, que passa a servir de parâmetro para a

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compreensão do que seja a população em situação de rua. Cabe aqui destacar

algumas das normativas3 regem a atenção à População em Situação de rua no

âmbito do SUAS.

- Política Nacional de Assistência Social – PNAS. A PNAS reconheceu a atenção

à população em situação de rua no âmbito do SUAS.

- Lei nº 11.258 de 2005 - inclui, no parágrafo único do Artigo 23 da Lei Orgânica de

Assistência Social – LOAS, a prerrogativa de que, na organização dos serviços da

Assistência Social, deverão ser criados programas destinados às pessoas em

situação de rua.

- Decreto s/nº, de 25 de outubro de 2006 – instituiu o Grupo de Trabalho

Interministerial (GTI), coordenado pelo MDS, com a finalidade de elaborar estudos e

apresentar propostas de políticas públicas para a inclusão social da população em

situação de rua.

- Portaria MDS nº 381, de 12 de dezembro de 2006 do MDS – assegurou recursos

do cofinanciamento federal para municípios com mais de 300.000 habitantes com

população em situação de rua, visando apoio à oferta de serviços de acolhimento

destinados a este público.

- Resolução do Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS nº 109, de 11

de novembro, de 2009.

–Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais. Documento que tipifica os

serviços socioassistenciais em âmbito nacional, dentre os quais os serviços

destinados ao atendimento à População em Situação de Rua na Proteção Social

Especial - PSE: Serviço Especializado em Abordagem Social; Serviço Especializado

para Pessoas em Situação de Rua; Serviço de Acolhimento Institucional (que

incluem adultos e famílias em situação de rua) e Serviço de Acolhimento em

República (que inclui adultos em processo de saída das ruas).

3Disponível em: http://www.mds.gov.br/falemds/perguntas-frequentes/assistencia-social/pse-protecao-social-

especial/populacao-de-rua/populacao-em-situacao-de-rua acesso dia 04/12/2013 às 13:00 hs.

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- Decreto nº 7.053, de 23 de dezembro de 2009 – instituiu a Política Nacional para

a População em Situação de Rua e o seu Comitê Intersetorial de Acompanhamento

e Monitoramento.

- Instrução Operacional conjunta Secretaria Nacional de Assistência Social -

SNAS e Secretaria Nacional de Renda e Cidadania - SENARC Nº 07, de 22 de

novembro de 2010 - reúne orientações aos municípios e Distrito Federal para a

inclusão de Pessoas em Situação de Rua no Cadastro Único para Programas

Sociais do Governo Federal (CADUNICO).

- Resolução da Comissão Intergestores Tripartite – CIT nº 7, de 07 de junho de

2010 - pactuou critérios de partilha de recursos do cofinanciamento federal para a

Expansão dos Serviços Socioassistenciais 2010, com recursos advindos do Plano

Integrado de Enfrentamento ao crack e outras Drogas (Decreto 7179, de 20 de maio

de 2010).

- Portaria Nº 843, de 28 de dezembro de 2010 – Dispõe sobre o cofinanciamento

federal, por meio do Piso Fixo de Média Complexidade - PFMC, dos serviços

socioassistenciais ofertados pelos Centros de Referência Especializados de

Assistência Social - CREAS e pelos Centros de Referência Especializados para

População em Situação de Rua, e dá outras providências.

Cabe aqui também ressaltar alguns anos que marcaram algumas das

normativas de políticas para população de rua como em:

1988: Na Constituição Federal em seu Artigo 5º, a igualdade de todos os

cidadãos brasileiros perante a lei e a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à

igualdade, à segurança e à propriedade.

2004: Na PNAS onde assegura cobertura a população em situação de rua;

2005: Na Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS (2003)

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–Lei nº 11.258, 30/12/05, altera o parágrafo único do art. 23 das LOAS: “Na

organização dos serviços da Assistência Social serão criados programas de amparo:

II - às pessoas que vivem em situação de rua.” Estabelece a obrigatoriedade de

criação de programas direcionados à população em situação de rua em situação de

rua, no âmbito da organização dos serviços de assistência social, numa perspectiva

de ação intersetorial.

2005: I Encontro Nacional sobre População de Rua em Situação de Rua;

Decreto, de 25 de outubro de 2006, que constitui Grupo de Trabalho

Interministerial - GTI, com a finalidade de elaborar estudos e apresentar propostas

de políticas públicas para a inclusão social da população em situação de rua;

2007/2008: Pesquisa Nacional da População em Situação de Rua;

Portaria MDS nº 381, de 12 de dezembro de 2006, do MDS –

Cofinanciamento de serviços continuados de acolhimento institucional para a

população em situação de rua. Municípios com mais de 250 mil habitantes.

2009: II Encontro Nacional sobre População de Rua em Situação de Rua.

Instrução Operacional conjunta – SNAS e SENARC Nº 07, de 22 de

novembro de 2010 – que reúne orientações aos municípios e Distrito Federal para

a inclusão de pessoas em situação de rua no Cadastro Único para Programas

Sociais do Governo Federal.

•Portaria Nº 843, de 28 de dezembro de 2010 – Dispõe sobre o

cofinanciamento federal dos serviços socioassistenciais ofertados pelos CREAS e

pelos Centros Pop e dá outras providências.

•Portaria Nº 139, DE 28 DE JUNHO DE 2012 - Altera a Portaria nº 843, de 28

de dezembro de 2010, que dispõe sobre o cofinanciamento federal, dos serviços

ofertados pelos CREAS e Centros Pop e dá outras providências.

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Lopes apud Mendonça (2006) comenta que a dificuldade de implantar

políticas públicas efetivas e transformadoras encontra-se no desconhecimento de

configurações subjetivas, uma vez que, este desconhecimento não permite perceber

a variedade de manifestações da pobreza, homogeneizando, equivocadamente, o

que é heterogêneo.

Assim como as pessoas em situação de rua têm por direito constitucional

serem consideradas cidadãs integrais, também as políticas públicas que as

contemplam devem ser pensadas desde uma perspectiva interdisciplinar e integral,

deslocando-se da Assistência Social a responsabilidade exclusiva pelo atendimento

a este segmento. (BRASÍLIA, 2008).

Dada à heterogeneidade e multiplicidade de indivíduos que compõem as

ações para a denominada população em situação de rua, é de grande importância

perceber as intersecções entre esta política com os variados planos, políticas e

marcos legais, tais como Brasília (2008) ressalta como o Estatuto do Idoso, o

Estatuto da Criança e do Adolescente, a Política Nacional para Promoção da

Igualdade Racial, o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, o Plano Nacional

de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à

Convivência Familiar e Comunitária, e tantos outros que se entrecruzam na

realidade específica desta população.

Repensar essas questões é também traçar ações que visem à promoção

subjetiva, visto que, um dos motivos pelos quais as iniciativas das políticas públicas

não se tornam efetivas, ocorre justamente pelo fato de se desconsiderar a

homogeneidade e a subjetividade dos indivíduos para os quais as propostas são

criadas. (SOUZA e FORTINI, 2013).

Outro ponto a destacar sobre as políticas para população de rua, é sobre a

questão das políticas de saúde, Dantas (2007) fala que a política de saúde para a

população em situação de rua no Brasil é aqui abordada pela perspectiva de

reflexão a respeito da transgressão dos direitos sociais, evidenciados de forma

emblemática. Cabe destacar que a população em situação de rua não se adéqua ao

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perfil dos assistidos pela maior parte das políticas públicas, constituindo, portanto,

um desafio o processo de construção de políticas adequadas a este grupo social.

Partindo-se da premissa de que quanto maior for à desigualdade social de um

país, maior será a repercussão na qualidade de vida e, consequentemente de

saúde, da sociedade de uma forma geral e do sujeito e sua família em particular.

Bottietal (2009) fala que neste sentido a desigualdade social do país exerce

influências significativas na qualidade de saúde da população brasileira, uma vez

que a saúde individual não se limita às sua dimensão biológica e psicológica; ao

contrário, está diretamente relacionada com as condições de vida e sofre influência

das políticas sociais e econômicas adotadas no país.

Importante ressaltar dois princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), o

princípio da equidade e da universalidade. Em relação à equidade na saúde torna-se

imprescindível que os serviços de saúde considerem que em cada população

existem grupos com problemas específicos e diferenças no modo de viver, de

adoecer e de ter oportunidades de satisfazer suas necessidades de vida. (BOTTI et

al, 2009).

Isso implica, em primeiro lugar, na realização de estudos epidemiológicos da

população de rua e definições de estratégias e meios específicos que viabilizem o

acesso desta população aos recursos de saúde disponíveis.

Nesta direção, a universalização da saúde apresenta o desafio de intervir na

realidade tal como ela está constituída. Hoje a população de rua é parte do cenário

urbano, requerendo intervenções que levem em conta como ela se constituiu e as

formas de sobrevivências ali desenvolvidas. (BOTTI et al, 2009).

Refletir então sobre as políticas públicas para população de rua é ir de acordo

com que Maciel (2005) nos fala políticas públicas em particular àquelas

denominadas de políticas sociais em uma sociedade capitalista, remete a

necessidade de termos que compreender que essas políticas apresentam em sua

constituição uma complexidade histórica, já que surgem em uma íntima relação com

as características históricas de cada realidade social em que emergem.

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3.2 População em situação de Rua: sujeitos em questão no atendimento às

políticas públicas.

O fenômeno chamado população de rua, é marcado pelo reflexo das relações

capitalistas em que a pobreza urbana reflete severamente no estágio de exclusão

que se encontra uma parcela da população. O fenômeno é uma expressão

inconteste das desigualdades sociais resultantes das relações capitalistas. Escorel

(2000) descreve as pessoas em situações de rua, dizendo que o que todas as

pesquisas revelam é que não há um único perfil da população de rua, há perfis; não

é um bloco homogêneo de pessoas, são populações.

Silva denomina o que é população em situação de rua. Grupo populacional heterogêneo, mas que possui, em comum, a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, em função do que as pessoas que o constituem procuram os logradouros públicos (ruas, praças, jardins, canteiros, marquises e baixios de viadutos), as áreas degradadas (dos prédios abandonados, ruínas, cemitérios e carcaças de veículos) como espaço de moradia e sustento, por contingência temporária ou de forma permanente, podendo utilizar albergues para pernoitar e abrigos, casas de acolhida temporária ou moradias provisórias. (SILVA, 2009; p.136).

Porém, aqui não é possível definir um perfil daqueles que moram na rua, pois

esse contingente é bastante heterogêneo, composto dos mais variados tipos de

pessoas e nas mais diversificadas situações.

Para Oliveira et al (2012) os estudos de Amed et al. (1996) tem a população

de rua considerada em três tipos

a) Ficar na rua: situação precariedade devido à ausência de recursos para se

manter, necessitando de programas de proteção social. As pessoas que se

encontram nessa situação sentem-se desvalorizadas e demonstram medo de

dormir na rua, buscando albergues ou pensões para ficarem, recorrendo aos

serviços do plantão do Serviço Social e geralmente estão à procura de

emprego ou bicos que lhe permitam pagar uma pensão. Eles não aceitam se

identificados como morador de rua, e ainda possuem fortes laços com

familiares e tem propósitos.

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b) Estar na rua: Começam a adotar a rua como local de pernoite e já não a

consideram tão ameaçadoras. Relacionando com as pessoas que já estão na

rua, buscam novas alternativas de sobrevivência. Os contatos com a família

apesar de ainda os possuir estão enfraquecidos.

c) Ser de rua: A rua torna-se seu lugar de referência e espaço de suas

relações, sendo limitadas suas condições de higiene e alimentação, fazem

frequentemente uso de bebidas alcoólicas e sofrem um processo de

depauperamento físico, mental em função de sua condição de vida. A rua

torna-se espaço de moradia de forma praticamente definitiva, e já perderam o

vínculo com a família.

Entretanto, existem condições ou características em comuns que permitem

identificar essa população de rua como um grupo populacional diferenciado.

Brasil (2013) ressalta que as pessoas que moram na rua ocupam os vãos e

desvãos das cidades: ruas e becos, viadutos e pontes, praças e marquises,

rodoviárias e BRs. Pernoitam em albergues na maioria das vezes considerados

verdadeiros depósitos humanos. Eles resistem nos espaços públicos, por estes

serem o “único e último lugar” que sobrou do sistema econômico vigente, que exclui

os direitos daqueles que não conseguem se encaixar no perverso modelo de

produção e distribuição de bens e riquezas.

Ao discorremos sobre a população em situação de rua, percebemos que elas

trazem o conceito de desqualificação social para sociedade pelo fato de morarem na

rua, o qual caracteriza-se pelo movimento de expulsão gradativa para fora do

mercado de trabalho bem como, pelo apoio assistencialista que recebem durante

este processo.

A rua tem sido considerada para a população de rua por este segmento um

espaço de moradia e sobrevivência. É nela que como afirma Oliveira et al (2012)

que o homem de rua expressa um modo de vida peculiar, quando exclui uma série

de bens sociais como habitação, emprego regular, acesso e serviços, e vive das

sobras do excedente social.

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Concluem que o processo de ida para a rua consiste em três fases: a de

fragilidade, relacionada à perda do emprego; a de dependência dos serviços sociais

e aquela caracterizada pela ruptura dos vínculos sociais. (VARANDA e ADORNO,

2004). Em linhas gerais, a rua torna-se o nítido lugar onde afloram as diferenças e

as contradições da vida cotidiana.

Torna-se necessário pensarmos em dimensões sobre a população de rua,

Anderson e Snow (1998) refere-se não somente o fato da habitação, mas também a

falha na rede de apoio familiar e de outros laços com a sociedade e a população de

rua através de seus relacionamentos, e a questão também da dimensão moral, na

qual a pessoa que vive na rua se apresenta como indigno e sem valor.

Para compreender o fenômeno população em situação de rua e o sentido da

vida nas ruas, não podemos estabelecer conceitos unívocos, segmentados ou

mesmo imediatos.

Costa (2013) afirma que a condição de habitar a rua de forma definitiva exige

dos seus moradores esforços contínuos e estratégias diversificadas e criativas para

sobreviver, se proteger dos perigos e, porque não dizer, manter-se vivo.

A diversidade de designações existentes para a população de rua e cada uma delas especificamente, já revela um terreno amplo e fértil de análises que cada termo sugere e cada história de vida origina. A diversidade de nomeações, em sua maioria permeada de preconceitos, expõe a complexidade e as controvérsias que a problemática daqueles que vivem na rua instaura. Essas expressões e designações também se vinculam a processos históricos e culturais dos territórios em que se manifestam. (COSTA, 2013; p. 35).

A situação de rua, em que vivem milhares de pessoas atualmente é um

quadro social produzido pelas estratificações do sistema capitalista, no qual uma

minoria da população detém a grande parcela das riquezas produzidas.

Este sistema capitalista produz um alto índice de pessoas em situação de

vulnerabilidade social e miséria e esse contexto coopera para levar as pessoas a

morarem nas ruas.

A população em situação de rua ocupa uma posição de sem lar, sem laços e

sem dignidade, sendo que o único lugar que lhe resta para tentar existir de algum

modo é a rua. Ainda que, possa considerar que entrar na rua significa desenvolver

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um processo compensatório em relação às perdas e criar novos recursos de

sobrevivência ou subsistência. (VARANDA e ADORNO, 2004).

Para os que se autodeclaram moradores de rua a forma como percebem a

rua é diferente e alguns identificam a rua como espaço de moradia. Como nos fala

WEBER de 50 anos. 4

Moro nas ruas, sem lugares certos, só Deus sabe o que passo, não gosto

nem de ficar falando que já tenho vontade de chorar, tenho uma vontade de

morrer, pois não tenho ninguém nessa vida, converso só, sofro só...

Ninguém cuida de pobre, pobre era para morrer. Não tenho dinheiro, nem

remédio. Só Deus que me ajuda!

Atualmente no Brasil, podemos perceber a existência de um quadro de

pobreza e miséria amplamente gritante, quadro este comprovado por dados obtidos

através de vários estudos e pesquisas realizadas. (SOUZA e FORTINI, 2013).

Assim, para Costa (2013) o fenômeno da população de rua ganhou

visibilidade e vem sendo alvo de discussões e debates entre muitos, mas para a

grande maioria da sociedade, dos habitantes das grandes cidades, é algo que

muitas vezes passa despercebida, ou quando se percebe, a atitude gerada é de

desconforto, incômodo, receio ou mesmo indiferença.

Mergulhar no universo que retrata o fenômeno da população em situação de rua é também mergulhar no universo da pobreza, da desigualdade e da exclusão, questões que fazem parte da vida de uma parcela significativa da população brasileira vinculadas a processos históricos. (COSTA, 2013; p.69).

Embora Oliveira et al (2012) afirme que haja a vista os direitos garantidos aos

cidadãos, como: justiça, igualdade, cidadania e dignidade, tornam-se contraditórios

quando se depara com indivíduos que estão à margem da questão social como a

pobreza e marginalização, fruto de toda uma cultura enraizada no desenvolvimento

do país.

4Todos os nomes utilizados nesse trabalho são fictícios.

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O fenômeno população em situação de rua, assim como todo fenômeno

abriga um conjunto de indagações e o esforço para configuramos o contexto

contemporâneo sempre nos levará para as indagações das expressões da questão

social.

A rua é espaço de contradição para algumas pessoas, lugar de liberdade,

encontro e rompimento com as regras da casa. Assim confirma Maria da Penha.

Sai de casa porque não me dava com minha madrasta. Meu pai era agricultor, minha mãe morreu do coração. A minha madastra era muito ruim com a gente. Comigo e minhas irmãs. Tenho duas irmãs gêmeas, não sou eu não, elas são gêmeas. Não sei onde elas estão não. Eu bebia muito, aí eu fugi. Eu não aguentei e fui morar na rua. Sabe as pessoas é muito ruim. (MARIA DA PENHA, 55 anos).

Essa questão da população em situação de rua não se explica a partir de um

único determinante. Entretanto, existem fatores que se destacam no conjunto

dessas determinações. Fatores esses típicos de determinadas localidades ou

épocas específicas. São várias as causas estruturais desse fenômeno, mas a central

é a que se vincula à estrutura de uma sociedade capitalista onde são fortalecidos

cotidianamente valores do individualismo, da disputa e da exclusão para esse

segmento.

3.3 Análise da visão dos moradores de rua sobre as políticas públicas de

saúde mental (CAPS e Consultório de Rua).

Primeiro iremos aqui ressaltar um perfil dos usuários entrevistados, seu

Weber tem 50 anos mora nas ruas de Fortaleza, mas certo pelas ruas de Messejana

em torno do Terminal, conversa muito pouco. Maria da Penha tem 55 anos tem

casa, mas vive nas ruas a encontrei no Terminal da Messejana, só aceitou

conversar depois de pagar um lanche e seu Marx de 70 anos encontrei andando nas

ruas do bairro da Messejana, gosta muito de conversar, porém fala palavras sem

sentidos e diz ter Esquizofrenia. Todos vivem em um mundo real e imaginário, então

como alcançá-los através das políticas?

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A universalidade de acesso à saúde, como um dos princípios do Sistema

Único de Saúde – SUS é um dos eixos éticos que norteiam essa prática. Ao acolher

um segmento populacional em situação de exclusão social, que se auto exclui ou

que é excluída da rede de serviços, o objetivo é intervir inserindo esses usuários na

rede SUS e conceder-lhes o direito à saúde pública, funcionando como porta de

entrada no sistema de saúde.

O CAPS como um centro de apoio psicossocial dentro de Fortaleza faz parte

dessa linha do SUS no atendimento a pessoas com transtornos mentais, e a

população de rua com esses transtornos também estão no seu direito de usufruir

atendimento nesta instituição. Quando perguntamos para os entrevistados se os

mesmos conheciam o CAPS tivemos a seguinte afirmação.

Conheço ,quando eu tinha família eu andava lá, porque minha veia falava que eu era doido, que a bebida deixa eu doido... Abandonei, não vi resultado... só remédio ..remédio. (WEBER, 55 anos).

Já ouvi falar do CAPS, mas nunca fui lá! Essa política ai é para rico, só eles que conseguem as coisas, só para tomarem o dinheiro da gente, vou lá não. (MARX, 70 anos).

Fui pro CAPS ali daquela rua perto do mercantil (Se refere ao antigo CAPS da Messejana), mas saiu dali e eu não fui mais faz muito tempo, já disse a senhora que não vou mais, mas quando eu ia era remédio e eu fazia era vender trocava por bebida. (risos). (MARIA DA PENHA, 55 anos).

Identificamos a fragilização da saúde de moradores de rua e a falta de um

atendimento, já que os mesmo necessitam de um atendimento especializado e

medicamentos. Essa população é altamente vulnerável a múltiplos fatores de riscos

para a saúde, os quais estão associados à sua condição extrema de pobreza. Seus

problemas físicos e mentais podem, em parte, serem explicados pela sua condição

desfavorável de vida.

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No entanto, hoje a população de rua é parte do cenário urbano, requerendo

intervenções que levem em conta como ela se constitui e as formas de

sobrevivência nas ruas desenvolvidas.

Mesmo com os CAPS existe um setor engajado na saúde denominado

Consultório de rua. O dispositivo em saúde denominado Consultório de Rua que se

constitui como afirma Brasília (2010) em um Projeto Nacional desenvolvido pelo

Ministério da Saúde voltado para o atendimento a usuários de substâncias

psicoativas em situação de rua, tendo como base para o desenvolvimento de suas

práticas a abordagem da Redução de Danos.

Os Consultórios de Rua constituem uma modalidade de atendimento

extramuros dirigida aos usuários Promovem a acessibilidade a serviços da rede

institucionalizada, a assistência integral e a promoção de laços sociais para os

usuários em situação de exclusão social, possibilitando um espaço concreto do

exercício de direitos e cidadania.

Pacheco (2013) diz que a proposta da abordagem de rua voltada ao

atendimento de usuários em situação de rua, no âmbito da saúde mental, em

Fortaleza, surgiu após a consolidação dos seis Centros de Atenção Psicossocial

Álcool e Drogas (CAPS AD) nas respectivas Secretarias Executivas Regionais

(SERs) I, II, III, IV, V e VI.

Consultório? Onde fica? Nunca ouvi falar não, a senhora me dar o endereço de lá? Moça eu sou vou ficar bom quando as vozes quiserem. – Elas vão me ajudar. (MARX, 70 anos). Moça existe isso não. Tudo mentira! (MARIA DA PENHA, 55 anos).

Um aspecto de grande relevância do Consultório de Rua é exatamente ser

uma proposta de clínica na rua, especializada para o atendimento de problemas

relacionados inclusive a população de rua com transtorno mental, mas será que

esse consultório de rua tem realmente contribuído para que as políticas de saúde

fossem feitas.

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As histórias e caminhos que tivemos oportunidades de captar durante nosso

percurso, nos levam a perguntar onde estão as políticas de saúde para a população

de rua? Porque essas pessoas não utilizam os serviços ofertados? E porque

aqueles que trabalham com essa população não buscam ativamente esses usuários

para fazer atendimento? Muitos desses que vivem nas ruas depois que estão nas

ruas, ficam difíceis se reerguerem por conta do preconceito da sociedade, que em

muitas vezes os julgam como lixo. E quando falamos em sociedade nos deparamos

com a seguinte fala de um dos entrevistados

Tem muita gente ruim, mas tem muita gente boa que ajuda a gente. As outras eu não sei onde estão não. (se referindo as outras pessoas que moravam com ela na rua). Tudo que você for fazer pede pra Jesus. Não pede ninguém não. Vai prum canto e pede Jesus. Você é o que? –Me formando para ser assistente social. - vocês são boazinhas, gosto de vocês conversam com a gente. Tu pareces médica. Você tinha que ser medica. Porque você não vai ser medica? Ein pra cuidar de mim, os médicos que cuidar de mim não!

Indagações nos são feitas, ficamos reflexivas diante da situação que nos foi

apresentada pessoas em situação de transtorno vivendo nas ruas sem sequer

utilizar de uma instituição de apoio a sua doença, “só podemos compreender as

situações cotidianas aprendendo sua complexidade, através de suas diferentes

manifestações, o que requer instrumentos afinados de observação e crítica dos fatos

observados.” (DINIZ, 1999, p. 51). Histórias que configuram referências práticas e

simbólicas que se constrange nas ruas que perambulam, espaços que gosta ou

desgosta, contextos que lhe atraem ou passam despercebidos ou até mesmo o

único refúgio.

As possibilidades de viver no Brasil seria uma política de saúde devidamente

comprometida com aqueles que dela precisam, com profissionais devidamente

qualificados para atender esse usuário, questão de moradia digna, família

reestruturada, medicamentos para o tratamento. Porém, uma morte social está a

cada dia sendo vista nas diversas expressões da questão social ao analisarmos

moradores de rua com transtornos como falta de atendimento, exclusão da família e

sociedade e exclusão entre eles mesmos, pois o morador de rua sem transtorno não

quer ajudar aquele que tem.

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CONCLUSÃO

A realização deste trabalho de conclusão de curso permitiu apresentar

algumas considerações aproximativas. Em relação à saúde mental podemos

verificar que nas últimas décadas houve um avanço significativo na ampliação das

ações públicas nessa área, com maior participação do Estado e movimentação na

sociedade civil nas diferentes conjunturas.

Nesse sentido, longe de concluir quaisquer questões, pretendemos nesse

momento traçar indagações e impressões sobre o que estudamos, vivemos e

sentimos com bases em experiências o campo com os sujeitos envolvidos e com a

pesquisadora.

Envolver a temática das políticas de saúde mental e a população de rua que

tem transtorno foi um desafio na realização desta pesquisa, desafio maior pelo fato

de ir a campo em busca desses sujeitos e tentar regatar deles a sua noção de

direitos dentro da política de saúde. Conhecer de perto a realidade do meu objeto de

pesquisa deixou muitas reflexões à cerca desse avanço que ocorreu na política de

saúde mental, chego a pensar que se avançou porque não funciona? Porque ainda

essas pessoas estão á mercê da sorte e dos desfechos da exclusão da sociedade?

Verificou-se no campo de pesquisa a falta de interação entre as instituições

de saúde mental que exercem as políticas constantemente na contemporaneidade e

os sujeitos que vivem nas ruas com transtorno. Por isso, contribuir para debates

locais no âmbito das tentativas de acertos e erros no processo da efetivação das

políticas púbicas de saúde para a população em situação de Rua, tendo como foco a

questão da temática fundamental que são as questões de saúde mental para

pessoas em situação de rua com transtorno faz parte da realidade desse estudo e

que essa pesquisa possa contribuir para isso.

No município de Fortaleza a atuação da instituição CAPS e do consultório de

rua em atendimento a população de saúde mental tentado estabelecer um bom

atendimento aos usuários de saúde mental, porém o fato das políticas não atender a

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grande demanda deve ser analisado, deve-se levar em conta problemas de gestão

superior em relação a essa política e os profissionais serem mais capacitados em

dar atendimento a essa população, a busca ativa deve ser realizada para que se

tenha um numero menor de pessoas que sofrem com transtorno ficar a mercê.

Um ponto a ser destacado frente a esse contexto, tornava-se uma

responsabilidade fundamental elaborar políticas públicas de saúde específicas para

a população em situação de Rua com transtorno, o que deve permanecer como

política prioritária para qualquer governo. Em outros termos, dada a centralidade das

questões relacionadas à população em situação de rua, não se pode conceber como

uma política que seja prioridade só em nível nacional ou restrita à política de saúde.

Meu trabalho de Conclusão de Curso só veio aguçar mais ainda minha

vontade de conhecer profundamente o tema, assim darei continuação ao estudo

com mais calma e aprofundamentos em outras etapas da minha vida acadêmica e

profissional.

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ANEXO

ROTEIRO DE ENTREVISTA ESTRUTURADA

Prezado, Prezada: afirmo que as respostas dadas serão utilizadas apenas para

fins acadêmicos, sendo constituintes da monografia em Serviço Social em

processo. Garanto que sua identidade será preservada por meio do anonimato,

conforme os princípios éticos em pesquisa.

Nome:

Idade:

Localização onde mora:

Tipo de Transtorno Mental:

Você é morador de rua? Ou Vive nas ruas?

Perguntas referentes às políticas de saúde.

1- Você conhece as políticas de saúde mental?

2- Conhece o CAPS? Já utilizou o serviço dessa Instituição?

3- Você conhece o Consultório de Rua? Já foi abordada por esse serviço?

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D E C L A R A Ç Ã O

Eu, Verônica Sandréa Leite Medeiros, RG LP. CO2611/07, Nº 210 livro:

CLE – 04 folhas 105, graduada em Língua Portuguesa e especialista em Língua

Portuguesa e Literatura Brasileira, declaro ter realizado a análise e correção

ortográfica do Artigo tendo como título: “Uma análise das Políticas de Saúde

Mental pela optica da População em situação de Rua.”, da aluna: Emanuelle de

Albuquerque Moreno do Curso de Serviço Social da Faculdade Cearense - FAC.

Atesto que o trabalho encontra-se bem redigido, em português conciso e

adequado, gramaticalmente correto, estando apto para o uso que a referida

instituição julgue conveniente.

Maracanaú, 23 de Janeiro de 2014.