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Boletim Informativo da Faculdade de Medicina da UFMG Nº 9 - Ano II - Belo Horizonte, abril de 2011 Página 3 T ese defendida na Faculdade de Medicina comprova eficácia de operação no intestino para o controle do diabetes tipo 2. Pesquisado- res sugerem emprego da técnica em larga escala no Brasil, onde 11% da população com mais de 40 anos é diabética. Fotografia: Bruna Carvalho Cirurgia pode controlar diabetes 4 6 CENTENÁRIO Confira a cobertura das comemorações pelos 100 anos da Medicina da UFMG TECNOLOGIA Novo Centro de Imagem Molecular: diagnóstico preciso e pesquisa de ponta CULTURA Festival do DAAB quer revelar artistas na Medicina 8

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Page 1: Saude informa 09

Boletim Informativo da Faculdade de Medicina da UFMGNº 9 - Ano II - Belo Horizonte, abril de 2011

Página 3

Tese defendida na Faculdade de Medicina comprova eficácia de operação no intestino

para o controle do diabetes tipo 2. Pesquisado-res sugerem emprego da técnica em larga escala no Brasil, onde 11% da população com mais de 40 anos é diabética.

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Cirurgia pode controlar diabetes

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CENTENÁRIOConfira a cobertura das comemorações pelos 100 anos da Medicina da UFMG

TECNOLOGIANovo Centro de Imagem Molecular: diagnóstico preciso e pesquisa de ponta

CULTURAFestival do DAAB quer revelar artistas na Medicina 8

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100 anos de pesquisa

O Saúde informa chega à sua décima edição como um presente para o leitor. É um documento para ser guardado, histó-rico, pois relembra os me-lhores momentos do auge das comemorações pelos cem anos da Faculdade de Medicina, nos dias 14 e 28 de março.

A editoria de Divul-gação Científica mostra a relevância das pesquisas desenvolvidas na insti-tuição centenária para a saúde pública. Tese de-fendida no Programa de Pós-Graduação em Cirur-gia comprova a eficácia de uma operação no intestino para controlar o diabetes tipo 2. A proposta é que a técnica seja adotada em larga escala no Brasil e be-neficie boa parte dos 10% da população com mais de 40 anos, que tem a doença.

Em abril, a Medici-na da UFMG dá mais um passo importante para a realização de pesquisas de ponta, com a inauguração do Centro de Imagem Molecular. Os equipamen-tos de imagem instalados no local, avaliados em quase R$ 7 milhões, fun-cionam como uma lente de aumento para tumores minúsculos. Uma ferra-menta poderosa de com-bate ao câncer que pode também identificar outras doenças complexas e ser usada até mesmo no de-senvolvimento de novos medicamentos.

Nesta edição, o Saúde Informa já prenun-cia um novo século pro-missor para a Faculdade de Medicina.

Boa leitura!

Editorial Saúde do português

“Patologia” não é sinônimo de doença

O médico João Gabriel Marques da Fonseca, professor do Departamento de Clí-nica Médica, também é docente da Escola de Música da UFMG. Numa de suas primeiras aulas do curso Introdução à música, ofereci-do também aos alunos da Medicina, um dos pupilos levanta-se e, bem afinado, pergunta: “professor, o senhor acha que o uso de instru-mento de sopro causa o aumento das patolo-gias articulares?”.

João Gabriel quase “desafinou”. Mas, com toda sua experiência e a delicadeza pecu-liar, levou o aluno a um canto e discretamente ensinou: derivada do grego (pathos, doença; logos, estudo, tratado), etimologicamente, por-tanto, a palavra significa “estudo das doen-ças”. É definida como o ramo da medicina que descreve as alterações anatômicas e fun-cionais causadas pelas doenças no organismo.

Outro significado é o estudo das alte-rações produzidas no organismo pelas do-enças. O termo “patologia” é utilizado ainda para designar essas mesmas alterações, como patologia da hipertensão arterial, patologia da febre tifóide, patologia da doença de Chagas. Entretanto, não deve ser usado como sinônimo de doen-ça. Em nenhum dicionário, especializado ou não em termos médicos, encontra-se averba-da “patologia” como sinônimo de doença, en-fermidade ou afecção.

Desta forma, dizer que “o paciente tem uma patologia”, como adverte o médico e linguista Idel Becker, seria como dizer que “o paciente tem cardiologia”, em lugar de cardiopatia. Como a evolução semântica das palavras é imprevisível, pode ser que os gra-máticos venham no futuro a acrescentar esse significado popularmente aceito à palavra. A boa linguagem, vernácula, correta, no entan-to, e pelo menos por enquanto, não acolhe esse sinônimo.

Washington Cançado de AmorimProfessor do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia

Contribua para a ‘Saúde do Portu-guês’. Envie sua sugestão ou opinião para [email protected].

Publicações

Medicina: história em exame

Lançada durante as comemorações do Centenário da Faculdade de Medicina da UFMG, a publicação apresenta uma reflexão sobre a evolução do ensino médico, desde a formação dos primeiros profissionais bra-sileiros na Europa até hoje. A obra aborda, ainda, a passagem de ilustres ex-alunos da ins-tituição, como Pedro Nava, Guimarães Rosa e Juscelino Kubitschek, além de momentos marcantes, como a visita de Madame Curie, ganhadora do Prêmio Nobel duas vezes. O livro tem 235 páginas e faz parte de uma co-leção de memórias das unidades da UFMG, assinada pelas professoras Heloisa Starling, Lígia Beatriz Paula Germano e Rita de Cássia Marques, do Projeto República. Ed. UFMG.

Nos Sertões de Guimarães Rosa

A obra de um dos maiores escritores brasileiros ganhou novas análises e percep-ções no livro “Nos Sertões de Guimarães Rosa”, escrito por nove autores, entre eles os professores da Medicina da UFMG Eugênio Marcos Andrade Goulart, João Amílcar Sal-gado e Luiz Otávio Savassi Rocha. São en-saios acessíveis sobre a obra de Guimarães Rosa, destinados a pessoas de várias áreas. Segundo o organizador, o psiquiatra Carlos Alberto Corrêa Salles, o foco da publicação é a abordagem do escritor à sua terra natal, Minas Gerais. A capa do livro, que reproduz o barro quando seca, é justamente uma refe-rência ao território mineiro. O livro tem 188 páginas. Ed. CRV.

Abril de 20112

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Cirurgia pode controlar 80% dos casos de diabetes tipo 2

Pesquisadores comprovam eficácia de técnica experimental e propõem que ela seja adotada em larga escala no Brasil

Divulgação Científica

Abril de 2011

O diabetes sempre foi considerado incurável. Uma pre-ocupação crescente, já que a doença é cada vez mais

comum. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, 11% da população acima de 40 anos é diabética e 80% dessas pessoas apresentam o tipo 2.

Uma pesquisa desenvolvida na Faculdade de Me-dicina da UFMG pode mudar esse cenário. Entre março de 2009 e setembro de 2010, o médico Augusto Cláudio de Almeida Tinoco operou 30 pacientes no Hospital São José do Avaí, em Itaperuna (RJ), usando a técnica chamada “gastrectomia vertical com interposição ileal”.

O procedimento, autorizado pela Comissão Nacio-nal de Ética e Pesquisa (Conep), foi realizado com o ob-jetivo de buscar a certificação dessa técnica inovadora de tratamento cirúrgico do diabetes. O estudo integrou tese de doutorado defendida junto ao programa de Pós-Gra-duação em Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG.

Os resultados apresentados são animadores. To-dos os pacientes operados tiveram melhora na condição clínica: em 80% dos casos, os sintomas do diabetes tipo 2 foram eliminados, dispensando o uso da insulina. Não há registro de complicações pós-operatórias ou durante o período de acompanhamento, que variou de 6 a 18 meses.

Os participantes da pesquisa serão acompanhados por mais cinco ou dez anos, para que se verifique a ma-nutenção desse quadro clínico. O orientador da pesquisa, Paulo Roberto Savassi, professor do Departamento de Ci-rurgia, diz que ainda é cedo para se falar em cura. “Isso envolve a análise em longo prazo. Mas a técnica é extre-mamente promissora. Os resultados mostram o potencial que a cirurgia apresenta no controle do diabetes”, afirma.

A técnica foi desenvolvida em Goiânia pelo cirur-gião Áureo Ludovico de Paula, que realizou mais de 400 operações em caráter experimental. “O que fizemos foi avaliar dentro da universidade o que já tinha sido feito pelo doutor Áureo”, explica Savassi.

O próximo passo é incentivar outros estudos a res-peito e propor que o uso da técnica seja reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina. “Vieram doutores de vá-rios estados, que comprovaram a eficácia da cirurgia. Não há dúvida de que ela funciona”, garante.

A doençaO paciente com diabetes tipo 2 consegue produ-

zir insulina, mas sua ação no organismo é insuficiente. “Como os níveis de glicose no sangue não diminuem, o pâncreas é afetado pelo esforço feito para produzir mais insulina. Com o tempo ele começa a falhar”, explica Au-gusto Tinoco. Segundo ele, o diabetes tipo 2 poderia ser considerado uma doença principalmente do intestino, e não do pâncreas.

Ilustração: Ana Cláudia Ferreira

Título: : Gastrectomia vertical associada à inter-posição ileal laparoscópica no tratamento do diabetes mellitus do tipo 2. Resulta-dos iniciais Autor: Augusto Cláudio de Almeida Tinoco Nível: DoutoradoPrograma: CirurgiaOrientador: Prof. Paulo Roberto Savassi RochaDefesa: 17 de fevereiro de 2011

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Abril de 2011

Duas noites para guardar na memóriaAs datas de 14 e 28 de março de 2011 marcaram o auge das celebrações pelos cem anos de uma das mais importantes escolas de ensino médico do país

Centenário

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Eventos oficiais são, normalmente, cerca-dos de formalidades e protocolos. Mas em

14 de março de 2011, data da inauguração da primeira etapa das obras externas do edifício da avenida Alfredo Balena, enquanto o orador pronunciava suas primeiras palavras, os Dou-tores da Alegria, artistas que levam a arte do palhaço a hospitais, brincavam e debochavam do público. Uma prova de que o Centenário da Faculdade de Medicina da UFMG seria mais que uma data a ser marcada no calendário. Es-tavam todos ali para, de fato, comemorar.

As noites de 14 e 28 de março foram o auge de uma série de celebrações iniciadas ain-da em 2010 para marcar os cem anos da quarta escola de ensino médico do país, nascida em 5 de março de 1911. Convidados especiais participaram de uma programação repleta de entretenimento e reflexão sobre o futuro da Medicina.

Na primeira festa, foi Ângelo Machado, ex-aluno da unidade e escritor, quem arrancou risos das mais de 500 pessoas que ocuparam o Salão Nobre da Faculdade. “Subir três degraus para mim já é esporte radical”, disse ao entrar no palco, dando o tom de descontração que permeou toda a palestra “Literatura infantil e Meio Ambiente”. Autor do livro “O menino e o rio” e da peça teatral “Como sobreviver em festas e recepções com buffet escasso”, ele criticou como a natureza é retratada em histó-rias infantis, cercada de mitos sobre monstros e caçadores. Machado deu exemplos de como o meio ambiente afeta diretamente a saúde e a medicina. Ensinou, por exemplo, que das cobras, veio um medicamento muito usado na cardiologia.

Na mesma noite, os convidados assisti-ram a dois marcos históricos. A porta de ma-deira da fachada do antigo prédio, destruído em 1958, deixou um canto do Centro de Me-mória para voltar a ser vista por todos que en-tram na unidade. Ao mesmo tempo, atas, listas com nomes dos diretores e vice-diretores, fun-cionários e alunos, fotos e outros documentos foram guardados numa caixa que só será aber-ta em cem anos.

O Lançamento do livro “Medicina: His-tória em Exame”, de Rita de Cássia Marques, Heloísa Starling e Lígia Beatriz Paula Germa-no, a apresentação da banda da Polícia Militar e várias homenagens completaram a primeira grande noite do Centenário.

Reflexão e música“Precisamos de valores que sejam

maiores que nós”, afirmou a escritora Adélia Prado, que defendeu a valorização dos senti-mentos nas relações humanas e o incentivo à arte, diante das 1,2 mil pessoas que foram ao Minascentro em 28 de março. Na conferência sobre humanização da saúde, ela também cri-ticou uma sociedade constantemente dividida. “Os idosos são vistos como figuras ‘fofinhas’, que devem divertir-se somente com outros idosos. Mas a graça está exatamente na mistu-ra”, afirmou.

A arte e a Medicina se cruzaram em outro momento da noite. O grupo Amaran-to, formado por Flávia, Lúcia e Marina Fer-raz, filhas de dois professores aposentados da Faculdade, encantou o público com as inter-pretações de The fool on the hill, dos Beatles, e Aquarela do Brasil, de Ari Barroso, dentro de um repertório escolhido a dedo.

“A Medicina faz parte da nossa histó-ria. Se meu pai e minha mãe não tivessem se encontrado na biblioteca, nós não estaríamos aqui”, disse Flávia, entre uma e outra canção que fazia a plateia querer permanecer no Mi-nascentro mesmo às onze da noite de uma segunda-feira.

A parte das recordações e homenagens coube a grandes autoridades do cenário nacio-nal. “Vocês construíram uma história sólida. A Faculdade é uma referência no setor”, disse o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacer-da. Também falaram Luiz Cláudio Costa, se-cretário da Educação Superior do Ministério da Educação; Helvécio Magalhães, secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde; a secretária de estado da Educação e reitora da UFMG na gestão 2002 a 2006, Ana Lúcia Gazzola; e Cid Veloso, reitor da UFMG, na gestão 1986 a 1990, ex-aluno e diretor da Me-dicina.

O atual diretor Francisco Penna agra-deceu a todos que colaboraram para o mérito da instituição em nome dos fundadores Cícero Ferreira, Alfredo Balena e Aurélio Pires. Um vídeo, com uma linha do tempo desde a inau-guração da Faculdade, fez a ponte do passado com o presente. O reitor da UFMG, Clélio Campolina, convidou o público para pensar no futuro: “Temos grandes desafios, mas, tam-bém, grandes oportunidades. Não podemos parar”, finalizou.

Autoridades federais, estaduais e municipais prestigiaram a Sessão Solene

Adélia Prado: “Precisamos de valores que sejam maiores que nós”

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Duas noites para guardar na memóriaAs datas de 14 e 28 de março de 2011 marcaram o auge das celebrações pelos cem anos de uma das mais importantes escolas de ensino médico do país

Trabalho reconhecidoNo dia 14 de março, funcionários e professores que estão na Faculdade há mais tempo foram homenageados pelos serviços prestados à ins-tituição.

Neusa Pereira da Cruz, servidora. Ingressou como assistente administrati-va no Núcleo de Assesso-ramento Pedagógico em 1978, mesmo ano em que começou o curso de Letras. Trabalhou no Colegiado de Medicina e atualmente é técnica em assuntos edu-cacionais no Centro de Graduação. Mesmo com 33 anos de profissão, ela não tem pressa de se aposentar. “A Fa-culdade de Medicina me abriu portas. Sempre exerci minhas atividades com dedicação e satis-fação, foi aqui que construí uma carreira”, conta.

Oliver José Diaz, servidor. Conheceu o antigo prédio da Faculdade na infância, quando trazia almoço para o pai, também funcioná-rio da instituição. Oliver começou como ascenso-rista, em 1963. Na época, comprava e vendia livros usados para os alunos. Após 20 anos nos eleva-

dores, passou a integrar o Departamento de Medicina Preventiva e Social, onde permanece até hoje. Na Faculdade de Medicina, conheceu a esposa, com quem tem dois filhos. “Sempre me lembrarei com carinho dos momentos que passei aqui”, diz.

Luiz Carlos Mendes Falei-ro, professor. Aprovado em 3º lugar no vestibular para Medicina, graduou-se em 1965. “Eu era um estudan-te sem muitas condições financeiras. Foi graças à Faculdade que consegui estudar e crescer profis-sionalmente”, conta. Fez residência em neurologia e neurocirurgia e complementou sua formação nos EUA e na Suíça. Professor da unidade des-de 1971, presenciou mudanças como a reforma curricular de 1974 e a substituição dos catedrá-ticos por chefes de departamento eleitos.

Abril de 2011

Doutores da Alegria: quebrando os protocolos

Autoridades federais, estaduais e municipais prestigiaram a Sessão Solene

Trio Amaranto emocionou o público

Documentos históricos ficarão guardados pelos próximos cem anos

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Violência não é coisa só de homem Análise dos relatos de moradores de Ribeirão das Neves, na grande Belo Horizonte, mostra que violência é fruto das relações desiguais de poder entre as pessoas e não do gênero

Divulgação Científica

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Título: : As múltiplas e complexas faces da saúde do homem – um estudo da violência em Ribeirão das Neves - MGAutora: Rejane Aparecida Alves Nível: MestradoPrograma: Saúde PúblicaOrientadora: Elza Machado de MeloDefesa: 25 de fevereiro de 2011

Abril de 2011

Uma pesquisa desenvolvida no Programa de Pós Gradu-ação em Saúde Pública, junto ao núcleo Promoção de

Saúde e Paz da Faculdade de Medicina da UFMG, buscou comprovar que o homem não é naturalmente mais violento do que a mulher, como diz o senso comum. A dissertação de mestrado “As múltiplas e complexas faces da saúde do homem – um estudo da violência em Ribeirão das Neves - MG”, foi defendida pela fisioterapeuta Rejane Aparecida Alves, orientada pela professora Elza Machado de Melo, do departamento de Medicina Preventiva e Social.

A pesquisadora analisou o discurso e opiniões de 231 moradores de Ribeirão das Neves, 118 mulheres e 113 homens, divididos em 30 grupos focais, por sexo, faixa etá-ria e região. Na cidade, a violência é a principal causa de morte entre ambos os sexos e todas as idades.

Segundo Rejane Alves, os dados levantados contra-dizem crenças que colocam as mulheres apenas no papel de vítimas da violência. “Apesar de muitas vezes o homem ser o autor do homicídio, a mulher pode estar por trás do ato de violência, como mandante. E isso foi mais freqüente do que imaginávamos”, afirma.

De acordo com a pesquisa, a dominação de um in-divíduo sobre o outro é dada principalmente pela posição social que o indivíduo ocupa, seu papel no contexto, e as habilidades e atributos específicos de cada um. O chamado ‘potencial de dominação’ determina o tipo de violência co-metida, o espaço em que ela ocorre, quem será a vítima, os instrumentos utilizados e o agressor.

O MachãoUma das discussões levantadas na pesquisa é que a

sociedade exige que os homens adotem determinadas con-dutas para se afirmar - como ser defensor de sua honra e de sua família - e prega a soberania do sexo masculino e a subjugação do outro. De fato, muitos homens direcionam a violência contra seus familiares, especialmente as mulhe-res e as crianças. Atos extremos, que gerem danos físicos graves ou mortes, são mais frequentes entre indivíduos do sexo masculino, especialmente os que adotam o estilo “ma-chão”, muito afirmado nos grupos focais.

Se tudo isso, por um lado, denota certa supremacia masculina, não foi raro identificar relações familiares onde a mulher exercia papel autoritário, quer como mãe ou espo-sa. Entre as mulheres, das quais é esperado comportamento mais pacífico, em geral, a violência praticada é mais psicoló-gica e verbal. No caso de violência física, normalmente no contexto familiar, suas principais vítimas são crianças ou outras mulheres.

EstatísticasA violência é uma das principais causas de morte en-

tre homens no Brasil, sendo a primeira causa de morte na faixa etária de 1 a 49 anos. Entre 1980 e 2007, os homens morreram mais do que as mulheres em quase todas as cau-

sas de morte e em praticamente todas as faixas etárias. Em 2007, por exemplo, 60% das mortes no país ocorreram entre os homens.

Rejane Alves faz questão de observar que essas estatísticas e outras análises segmentadas não são suficientes para se afir-mar que o homem é mais violen-to que a mulher. “Para explicar a origem e as causas deste fenô-meno é necessário uma melhor compreensão do ser humano e de suas relações, e, consequen-temente da violência. Só assim será possível adotar ações efica-zes no seu controle”, afirma.

A orientadora Elza Machado de Melo e a autora da pesquisa, Rejane Alves

60% das pessoas que morreram em 2007 eram homens

A violência é a principal causa de morte entre indivíduos do sexo masculino com idade entre 1 e 49 anos

Enquanto uma mulher é vítima de homicídio, 12 homens são mortos

231 moradores de Ribeirãodas Neves foram ouvidos na pesquisa

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Medicina inaugura Centro de Imagem MolecularEquipamentos de tomografia altamente sensíveis, capazes de diagnosticar tumores invisíveis

em exames convencionais e doenças como Alzheimer, serão usados em pesquisas de ponta

Pesquisa

Descobrir um câncer em estágio inicial facilita o trata-mento e a cura. O problema é que detectar o tumor

pode ser como procurar uma agulha no palheiro. Contu-do, a tecnologia já oferece recursos para lidar melhor com esse desafio. Em maio, a Faculdade de Medicina inaugura o Centro de Imagem Molecular, complexo de equipamentos que fornecem imagens molecula-res utilizando a Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET/CT). Uma de suas potencialidades é identificar, com alta confiabilida-de, tumores com apenas 3 milí-metros de diâmetro.

A PET/CT trabalha com a detecção de um marcador ra-dioativo injetado no organismo do paciente. Suas aplicações são inúmeras, na pesquisa e no diag-nóstico de doenças inflamatórias, infecciosas, neurodegenerativas e mentais, além de contribuir para o desenvolvimento de novos me-dicamentos. Os equipamentos foram adquiridos com recursos do Ministério da Ciência e Tec-nologia, em parceria com órgãos de fomento à pesquisa, que pre-tendia transformar respeitados grupos de pesquisa em Institutos Nacionais de Ciência e Tecnolo-gia.

Sob coordenação do atual pró-reitor adjunto de pesquisa da UFMG, Marco Aurélio Romano-Silva, professor do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina, foi apresentada a pro-posta do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Medicina Molecular (INCT-MM). O proje-to recebeu mais de R$6 milhões da Fundação de Amparo à Pes-quisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e R$880 mil do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A elaboração da proposta envolveu também professores de Neurologia, Psiquiatria, Pediatria, Clínica Médica, Ginecologia, Computação e Biologia. Ou-tras áreas podem apresentar projetos ao comitê gestor. “A tecnologia é patrimônio de toda a UFMG”, diz o coorde-nador do INCT-MM.

O objetivo é criar uma estrutura sem paralelo no Brasil para investigação de anormalidades moleculares e celulares específicas associadas a doenças complexas. “Em nenhuma outra região do país existe um centro com essas

características, usando tecnologia PET/CT prioritaria-mente para pesquisa de ponta. Hospitais, clínicas e demais instituições que contam com tais equipamentos os usam preferencialmente para demandas assistenciais”, compara Marco Aurélio.

Viabilidade econômicaO valor de exames com

tecnologia PET/CT pode variar entre R$2,5 mil e R$4,5 mil. Já existem determinações do Mi-nistério da Saúde para que planos particulares cubram esse custo em determinadas situações. Um dos objetivos do INCT-MM é avaliar a viabilidade econômica do uso da tecnologia no SUS. O professor Marco Aurélio acredi-ta no custo-benefício. “Sem dú-vida é um investimento alto, mas que trará economia no futuro. O diagnóstico precoce e o acompa-nhamento do tratamento podem minimizar gastos com estratégias ineficazes”, argumenta.

Arquitetura nuclearAs instalações do Centro

de Imagem Molecular foram reformadas a partir do projeto da arquiteta Eneida Ricardo, do Núcleo de Engenharia e Arqui-tetura da Faculdade de Medici-na. O espaço receberá material radioativo, por isso necessita de refrigeração especial, blindagem e exaustão. “O fluxo e o trânsito de radiofármacos e pacientes que já tiverem recebido a injeção do marcador se darão em uma área controlada”, acrescenta Eneida. Por envolver equipamentos de

medicina nuclear, o projeto é acompanhado pela Comis-são Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

CDTNAlém do recém-criado Centro de Imagem Molecular, o projeto do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia inclui o Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN). Sediada no campus Pampulha da UFMG, a unidade dispõe de recur-sos para a produção do radiofármaco flúor-18, que funcio-na como marcador radioativo a ser utilizado na PET/CT. Em breve, será também pioneira no Brasil na produção do car-bono-11 e está recebendo ainda uma unidade PET/CT para pesquisa pré-clínica em pequenos animais.

“O diagnóstico precoce e o acompanhamento do tratamento

podem minimizar gastos com estratégias ineficazes”Professor Marco Aurélio Romano-Silva

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Cultura Acontece

Festival Cultural revela artistas na Medicina

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Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – Diretor: Professor Francisco José Penna – Vice-Diretor: Professor Tarcizo Afonso Nunes – Coordenador da Assessoria de Comunicação Social: Gilberto Boaventura – Editora: Alessandra Ribeiro (Reg. Prof. 9945/JP) – Redação: Jornalistas: Larissa Nunes, Léo Rodrigues e Marcus Vinicius dos Santos – Estagiários: Amanda Jurno, Fernanda Campos, Fernando Maximiano, Victor Rodrigues. Projeto Gráfico: Ana Cláudia Ferreira de Oliveira e Leonardo Lopes Braga. Diagramação: Ana Cláudia Ferreira de Oliveira - Atendimento Publicitário: Janaina Carvalho – Impressão: Imprensa Universitária – Tiragem: 1.500 exemplares – Circulação mensal – Endereço: Assessoria de Comunicação Social, Faculdade de Medicina da UFMG, Av. Prof. Alfredo Balena, 190 / sala 5 - térreo, CEP 30.130-100, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil – Telefone: (31) 3409-9651 – Internet: www.medicina.ufmg.br; www.twitter.com/medicinaufmg e [email protected]. É permitida a reprodução de textos, desde que seja citada a fonte.

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Encontro InstitucionalO 4º Encontro Institu-cional da Faculdade de Medicina, aberto a to-dos os funcionários da unidade, já tem data marcada. Será em duas segundas-feiras, 16 e 23 de maio, no Museu de História Natural da UFMG. O encontro é uma iniciativa do Setor de Recursos Humanos (SRH), em parceria com a Diretoria.

OncomatologiaO I Simpósio de Onco-logia e Hematologia da UFMG será realizado entre os dias 31 de maio e 2 de junho, na Facul-dade de Medicina. Em debate, temas como câncer na pediatria, do-enças neoplásicas he-matológicas e os tipos de câncer mais comuns na população. Informa-ções: [email protected]

Jubileu de PrataA 80ª turma da Medici-na, de 1986, comemora os 25 anos de forma-tura no dia 1º de julho. Uma das formandas é a professora Anelise Impelizieri, que está na organização da festa e convoca os colegas a participarem. Informa-ções: [email protected].

Foto: Bruna CarvalhoPara sorte da literatura, dois estudantes da

Medicina da UFMG dos anos 30 desco-briram que, além da vocação para médicos, tinham talento para escrever. Poucos anos e muitos livros depois, Guimarães Rosa e Pedro Nava tornaram-se mundialmente conhecidos. A exemplo deles, alunos atuais da Faculdade de Medicina querem mostrar que é possível ser um estudante e profissional da saúde, e, ao mesmo tempo, mostrar seus dons artísticos.

Uma prova disso poderá ser vista no dia 14 de maio de 2011, com o Festival Cultural promovido pelo Diretório Acadêmico Alfredo Balena em comemoração aos cem anos da Fa-culdade. A expectativa é reunir 10 mil pessoas em lugar a ser definido, para assistir a apresen-tações teatrais e musicais, de dança, além de exposições e divulgação de vídeos.

Já conhecida por promover festas e a tradicional recepção dos calouros, a entidade representante do corpo discente também quer colocar em prática a antiga ideia de consolidar uma tradição cultural e artística na Medicina. “Queremos resgatar essa preocupação de for-necer e incentivar atividades culturais na Fa-culdade. Acreditamos que esse é um aspecto positivo na formação de qualquer profissio-nal”, afirma Clarice Coimbra, coordenadora de finanças e comunicação e ensino médico do DAAB.

O Diretório Acadêmico promoveu uma série de atividades visando à realização do Fes-tival Cultural. Às quintas-feiras, por exemplo, os estudantes foram convidados a riscar o chão da Medicina com passos de bolero. Sob comando da professora Eva Paula, eles en-saiaram a coreografia de “Balada dos Loucos” (Arnaldo Batista/ Rita Lee), que será apresen-tada no evento.

E não é só isso. “Antes da apresenta-ção, vamos mostrar um vídeo sobre reforma psiquiátrica. Todas as apresentações têm rela-ção com a medicina e saúde”, adiantou Clarice Coimbra. O Festival também será palco para a etapa final de um concurso de bandas, forma-das por alunos da UFMG. O primeiro lugar vai receber o prêmio de R$ 2 mil.

Jovens aprendem street danceOs guardas jovens da Cruz Vermelha

que trabalham no campus Saúde da UFMG também vão se apresentar no festival. Eles en-saiam uma coreografia de street dance em três aulas semanais, dentro do horário de trabalho, sob o olhar atento de um professor de dança. A adesão foi voluntária e as aulas, gratuitas.

Festival Cultural DAAB14 de maio de 2011

Ingressos: Serão 3 mil cortesias destinadas a alunos, professores e funcionários da Faculdade de Medicina da UFMG. O restante estará à ven-da. O preço ainda não foi divulgado pelo DAAB.