saÚde-alcoologia-artigo-2003
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Artigo que procura demonstrar a focalização do Serviço Social na família do alcoolista quando a problemática é o motivo de procura da sua intervenção. Para tal, reflecte sobre o alcoolismo em geral e enquanto doença familiar, pelo que o Serviço Social actua sobre toda a família. Baseado no Serviço de Orientação à Família (SOF) Aparecida.TRANSCRIPT
INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL JUNTO Á FAMÍLIA DO ALCOOLISTA
NEIDA SILVA CASTRO
RESUMO: O presente artigo tem o objetivo de focalizar a questão do alcoolismo como um dos motivos
de queixa apresentada por familiares atendidos pelo Serviço Social, no Serviço de Orientação à Família
(SOF) Aparecida. Evidencia como o Serviço Social centra a sua orientação a partir de manifestação da
família do alcoolista. A entrevista dialogada serviu para a coleta de informações do caso analisado.
Torna-se importante discutir alguns aspectos que marcam a expressão
alcoolismo na sociedade brasileira, na medida que a mídia publicitária realça
enfaticamente o estímulo ao consumo de bebidas alcoólicas.
Nos últimos 30 anos do século XX foram muitas as tentativas científicas do
entendimento etiológico do alcoolismo, por meio de pesquisas sobre o metabolismo
(hepático cerebral), e sobre aspectos sociológicos as mais destacadas. Nessa visão da
síndrome da dependência do álcool a frase tem problemas porque bebe é mais aceita
atualmente do que a antiga bebe porque tem problema (RAMOS, 1997, p. 224).
Entretanto não podemos esquecer os efeitos provocados pelo álcool,
afetando o corpo e a mente do ser humano, pois não é apenas um conjunto de ossos,
músculos e pele, mas possui uma mente que é o centro das funções vitais.
Milhões de pessoas incapacitadas pelo efeito do álcool enfrentam problemas
devido ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas, envolvidas em acidentes de
trânsito, situações diversas de violência, perda de emprego, conflitos familiares e
outros.
Existem fatores que podem influenciar o adolescente a experimentação de
bebidas alcoólicas: o modelo dos adultos; curiosidade e experimentação; pressão dos
colegas; prazer, problemas emocionais (FISHMAN, 1988: p. 47-48).
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Em relação a esses fatores FISHMAN coloca que podem influenciar a
entrada do adolescente, por isso é importante que a prevenção ocorra na família, no
relacionamento saudável entre os pais, assim o adolescente terá grandes chances de
não enveredar pelo caminho das drogas.
O objetivo deste trabalho é entender que fatores podem influenciar a
experimentação de bebidas alcóolicas? Como o Serviço Social dar conta do alcoolismo
como doença da família no SOF?
Desse modo, a proposta de estudo que ora apresentamos resulta da
experiência realizada com familiares de alcoólatras, moradores no Bairro de Pedreira e
usuário do Serviço Social na Igreja Nossa Senhora da Aparecida SOF-Serviço de
Orientação à Família. Meu interesse na abordagem deste tema é verificar as causas e
conseqüências que podem levar uma pessoa a se tornar alcoolista, considerando que o
alcoolismo.
1. CONSIDERAÇÕES ACERCA DA DOENÇA DO ALCOOLISMO
Na sociedade brasileira o álcool, parece está perfeitamente integrado a
grande parte dos ambientes e situações do cotidiano das pessoas, principalmente nos
finais de semana e momentos de lazer, onde se mistura as atividades esportivas,
viagens, trabalho (almoços de negócios) regadas a copiosas doses de uísque, cerveja,
caipirinha e outras mais, “o alcoolismo é considerado uma doença de evolução crônica
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e progressiva acometendo todos os indivíduos, sem distinção de sexo, raça, nível
sócio-econômico, escolaridade e atividade laborativa” (BARROS, 1994: 53)
Como percebemos o álcool é uma doença globalizada, pois atinge
indistintamente as pessoas. O álcool não afeta apenas, o corpo, mas também, a mente
do ser humano, o qual não é apenas um conjunto de ossos, músculos e pele, mas
possui uma mente que é o cento das funções vitais. O hábito de ingerir bebidas
alcoólicas afeta milhares de pessoas que morrem em acidentes causados por pessoas
alcoolizadas: milhares de pessoas ficam mutilados ou desfigurados para o resto da
vida.
O alcoolista prejudica a si mesmo, sua família, esposa e seus filhos, muitas
vezes privando-as de necessidades básicas como alimentação, vestuário e outros e,
causando sofrimentos a seu cônjuge; castigando-os injustamente, e privando-os de sua
companhia. Ademais, muitos crimes são cometidos sob a influência do álcool. “De
forma direta o tema específico do alcoolismo foi incorporado pela OMS Organização
Mundial de Saúde à Classificação Internacional das Doenças em 1967 (CID8), a partir
da 8ª Conferência Mundial de Saúde” (alcoolismo. 2001).
Reconhecidamente o alcoolismo é uma droga e doença estimagtizante, na
qual seus portadores são identificados como diferente na família e marginalizado no
grupo de trabalho.
Por isso é importante esclarecer as pessoas que enfrentam problemas
devido ao uso e abuso de bebidas alcoólicas, sobre a relação existente entre saúde,
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relações pessoais e desempenho no trabalho. Pois o alcoolista poderá desenvolver
vários quadros clínicos, como doenças no estômago, intestino, fígado e pâncreas,
sintomas esses que irão comprometer a disposição para viver e trabalhar. Essa
indisposição prejudica o relacionamento com a família e diminui a produtividade,
podendo levar à desagregação familiar e até ao desemprego “as medidas de Política
Social, discriminando as populações alvo por critérios de idade ou de normalidade /
anormalidade, transformaram esses mesmos grupos em anormais, em fracassados,
em desaptados (FALEIROS, 2001. p 63)”.
A ideologia da normalidade pressupõe que o indivíduo possa trabalhar,
produzir, para poder normalmente, com o salário obtido, satisfazer as suas
necessidades de subsistência e as de sua família. E quando não consegue, com sua
renda, obter essa vida normal, é discriminado, inclusive pelas políticas sociais,
repassando ao indivíduo o seu fracasso através da exclusão.
Desde que Magnus Huss conceituou “alcoolismo como doença, os
cientistas buscam formas eficazes de tratá-las” (apud RAMOS, 1997 p. 199). As formas
de tratamento do alcoolismo são as mais diversas, desde a internação em clínicas
especializadas em desintoxicação, como a terapia de grupo como AA – Alcoólicos
Anônimos formada por ex-alcoolistas.
Nesse aspecto da prevenção, a Igreja Adventista do Sétimo Dia, também
realiza expressivo trabalho com esse público alcoolista por meio de uma rede de
aproximadamente, 200 escolas de recuperação de alcoólicos e fumantes. A maioria
destas escolas está concentrada no Estado de São Paulo, onde o trabalho teve início,
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em outubro de 1958. A idéia partiu do Dr. Ajax Walter Silveira – médico de renome
internacional por sua dedicação à recuperação de viciados, e posteriormente, com o
apoio dos Drs. Benedito Reis, Geraldo Leitzke, Gideon de Oliveira e outros. (SILVEIRA,
1997. p. 23)
O objetivo da criação dessas escolas foi, prioritariamente, combater o
alcoolismo e o tabagismo os quais segundo afirma Dr. Ajax Silveira, são, assim, a porta
de entrada para outras toxicomanias, pois estudos têm demonstrado que quase a
totalidade dos viciados em drogas experimentam antes o álcool e o fumo. “Os
alcoolistas são pessoas que necessitam de álcool numa sociedade que estimula o seu
consumo” (RAMOS, 1997: p. 222).
Sendo o álcool, uma droga legalizada, é consumido e comercializado
livremente em nossa sociedade, quer seja em casa, entre amigos e reunião social,
permeia a lógica de ser agradável incluir o álcool para animar as pessoas, a bebida
alcoólica estimula a diversão e prazer.
Entretanto, trata-se de um viés cultural que identifica o álcool
equivocadamente, pois a maioria dos prazeres e alegrias parece ser usufruído de
forma mais intensa, sem os efeitos do álcool.
Cerca de 15% da população brasileira é alcoólatra, de acordo com o
levantamento realizado pelo grupo interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas
(GREC), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo.
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Este dado é preocupante, dada a possibilidade de crescimento de alcoolistas
e os problemas decorrentes do uso de álcool. Além de outros dados que merecem ser
apresentados e discutidos relacionados ao alcoolismo:
• no Brasil 45% dos jovens entre 13 e 19 anos envolvidos em acidentes,
haviam ingerido bebida alcoólica;
• os motoristas alcoolizados são responsáveis por 65% dos acidentes
fatais em São Paulo;
• o alcoolismo é a terceira doença que mais mata no mundo;
• o abuso do álcool causa 350 doenças físicas e psíquicas;
• no Brasil, 90% das internações em hospitais psiquiátricos por
dependência de drogas, acontecem devido ao álcool;
• em geral, o fígado leva uma hora para processar 30 gramas de álcool.
(aproximadamente uma lata de cerveja);
• um, entre dez usuários de álcool, se torna dependente da droga;
• o uso de álcool aumenta as chances da pessoa ter comportamento de
risco para a AIDS, (transar sem camisinha);
• o álcool é a droga que mais detona o corpo (tanto como cocaína e crack),
é a que mais faz vítimas e a mais consumida entre os jovens no Brasil
(alcoolismo, 2001).
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Como percebemos pelos dados apresentados, o alcoolismo é uma
doença caracterizada por 4 fases:
Fase Social, sem dependência física, apenas dependência emocional.
Inicia-se na primeira vez que se bebe lembrando-se que dois fatores são fundamentais:
predisposição orgânica e benefícios, do contrário a doença não se desenvolve.
Fase Social, sem dependência física e emocional, o organismo modifica-se:
tem-se a tolerância aumentada, bebe-se mais que na fase social, não há problemas em
conseqüência na ingestão de álcool.
Fase problemática com dependência física e emocional, nesta fase o
indivíduo bebe mais, apresenta muitos problemas emocionais, ressacas constantes,
problemas em decorrência de bebida, problemas familiares; problemas de
relacionamento. Há o início da síndrome da abstinência, começam as “paradas
estratégicas”, pode haver internações. Há boas expectativas de recuperação física, há
muitas perdas.
Fase problemática, com dependência física e emocional, o indivíduo Bebe-
se muito pouco, menos que na fase 1, inicia-se a atrofia do cérebro. Pode ter delírios,
mãos trêmulas por períodos excessivamente longos. Problemas físicos e emocionais
extremos pode-se ter esquizofrenia, muitas vezes confunde-se com PMB (Psicose
Maníaca Depressiva). Há poucas expectativas de recuperação física, perdas extremas.
(alcoolismo, 2001)
A ingestão de álcool como vimos, comprovada em pesquisas e estudos, se
utilizado com freqüência e em grande quantidade vai comprometer de forma perigosa o
organismo do ser humano, levando até mesmo a desenvolver várias doenças.
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O alcoolista ao mesmo tempo em que é marginalizado pela sociedade,
contraditoriamente, é estimulado a potencializar o consumo de álcool, com implicações
sérias no descontrole emocional, muitas vezes com perda de emprego, de amigos e
desagregação familiar.
De posse de algumas informações sobre o alcoolismo, percebo cada vez
mais está aumentando a quantidade de alcoolistas no Brasil, principalmente jovens
entre 13 e 19 anos, conforme pesquisa realizada nas principais capitais do país, o
alcoolismo um problema muito sério que precisa ser revisto pelo governo e sociedade.
2. ALCOOLISMO: UMA DOENÇA FAMILIAR
A dependência química se caracteriza por ser uma doença familiar: não
somente o dependente sofre, mas todas as pessoas a ele chegadas. Dificilmente, deixa
de ocorrer, repercussões do comportamento do alcoolista nos familiares mais
próximos, constituindo-se uma verdadeira doença emocional.
“a dependência química pode ser um transtorno do controle do impulso, diz Dartin, do PROAD, do que se sabe, este transtorno está relacionado à alteração do comportamento de duas substâncias cerebrais: a dopamina, ligada às sensações de prazer e a sertomina que regula as emoções. As drogas modificariam o funcionamento e a quantidade dessas substâncias no cérebro” (VOMERO, 2001: p 52)
Nessa circunstância o alcoolista não se dá conta de que seu hábito vai se
ajustando a sua condição de dependente. As relações de amizade também se
modificam e com o passar dos anos, o alcoolista vai selecionando, para o seu convívio
amigos também dependentes.
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Dificilmente encontramos alguém que não tenha um parente alcoolista na
família provocador de sofrimentos freqüentes nos familiares, os quais reclamam do
nervosismo, preocupação e insegurança advindo geralmente do comportamento do
dependente químico.
Diante desses motivos a família juntamente com o alcoolista, precisam de
tratamento, pois é a qualidade de vida familiar que está em jogo. O tratamento
controlado permite o alcoolista ter maiores possibilidades de reencontrar a alegria de
conviver com lucidez em ambiente familiar e no trabalho.
“o que se designa atualmente como família, é a família chamada nuclear, ou conjugal, formada pelo par andrógino e seus filhos, se buscarmos na história os vários tipos grupais que já receberam essa designação, vemos que ela se aplica basicamente ao grupo consangüíneo, originado da aliança entre homem e mulher, o que tem variado é a extensão do grupo. Podendo abranger mais de duas gerações, agregar membros sem vínculo de sangue, ser monogâmica ou poligâmica, tem variado também as funções do círculo familiar e a estrutura da relação de parentesco” (CUNHA, 1985: p: 9).
Sabemos que o ser humano ao nascer, e durante um período de tempo,
necessita de dedicação, atenção e cuidado afetivo para crescer em condições
saudáveis. A criança bem apoiada pelos pais terá grandes chances de não enveredar
pelo caminho das drogas.
Entretanto é necessário que os pais, fiquem atentos no crescimento dos
filhos, procurando saber quem são seus amigos, se é assíduo na escola quais
atividades realiza fora do ambiente familiar. A participação, sem dúvida fortalece a
relação entre pais e filhos.
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O alerta sobre o perigo da droga na adolescência tem sido objeto de
discussão.
O perigo maior é na fase da adolescência, o período problema, uma fase
da vida em que a criança que está começando a se tornar adulta está passando por
uma série de transformações que a torna, muitas vezes, um ser incompreendido
principalmente, na família. Nesta fase da vida o desenvolvimento biológico, incluindo
aspectos físicos não têm acompanhamento psicológico, ou seja, o adolescente tem
corpo de adulto, mas, ainda é imaturo. “considera-se criança, para os efeitos desta lei,
a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescentes aquela entre doze e
dezoito anos” (ECA, artigo 2º , 1990, p 5).
De maneira geral o adolescente possui um sentimento de onipotência, para
ele tudo é possível, permitido, gosta de esportes perigosos e tudo que representa risco,
além de gostar de desafiar as autoridades dos pais, avós, e professores. É justamente
nesta fase que o adolescente poderá experimentar drogas. “existem fatores que podem
influenciar a experimentação de bebidas, alcoólicas: o modelo dos adultos; curiosidade
e experimentação; pressão dos colegas; prazer; problemas emocionais. (FISHMAN,
1988, p: 47-48).
Em relação ao entendimento FISHMAN sobre os fatores que podem
influenciar a experimentação de bebidas alcoólicas, vemos a importância de aprofundar
essa compreensão, pautada nos cinco itens destacados pelo autor como o modelo dos
adultos; curiosidade e experimentação; pressão dos colegas; prazer e problemas
emocionais.
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- Modelo dos adultos: como os adolescentes querem ser adultos, eles imitam
os mais velhos e dão especial atenção às formas pelas quais eles obtêm prazeres, que
lhes parecem mais intensos, do que os jogos e brincadeiras das crianças. O prazer dos
adultos é mais pesado e inclui sexo e bebidas proibidas às crianças. Por isso os
adolescentes são inclinados a imitar os adultos, os pais e outros parentes. É comum
um adolescente dizer que começou a beber porque viu que isso era um hábito de
alguém que ele admira.
- Curiosidade e Experimentação: as crianças, em geral, vêem as bebidas
alcoólicas sendo consumidas pelos adultos em eventos sociais ou festas familiares.
Muitos adolescentes sentem curiosidade de experimentar o sabor da bebida, além de
experimentar o sabor, os adolescentes são curiosos e querem explorar os efeitos da
bebida e saber como é estar embriagado ou intoxicado.
- Pressão dos colegas: todos os grupos humanos são suscetíveis a pressão
social, que determina os padrões de comportamento de seus membros. Mas, os
adolescentes formam grupos especialmente suscetíveis a esse tipo de pressão. Para
muitos garotos e garotas seguir a moda pode ser uma necessidade, assim como gostar
de certos tipos de música ou mesmo de uma comida preferida. Nesse estágio os
adolescentes se encontram psicologicamente imaturos para exercer o senso crítico e
capacidade de julgamento, absorvendo influências externas sem refletir sobre elas. Se
beber está na moda entre determinado grupo de adolescente, poucos adolescentes
provavelmente, serão dotados de segurança e senso crítico suficiente para recusar a
bebida alcóolica.
- Prazer: a crença de que uma reunião social possa não ser agradável sem
que inclua consumo de álcool é comum na nossa sociedade. Muitos adolescentes
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acham que beber os estimula para a diversão e para o namoro, isto é, para os prazeres
da vida.
- Problemas Emocionais: um dos efeitos imediatos do álcool é o
tranqüilizante, causador de euforia e bem-estar. Um adolescente que esteja
enfrentando momentos de tensão, nervosismo e conflitos com a família ou com amigos
pode entregar-se ao álcool para suprimir temporariamente a depressão, a ansiedade e
os sentimentos de medo.
Percebemos através destes cinco fatores tratados por FISHMAN (1988)
como um referencial de alerta para a família e adolescente, a prevenção de bebidas
alcóolicas deverá acontecer na família, no relacionamento saudável entre os pais,
baseado no amor e compreensão, na aceitação e na expectativa dos pais em relação
aos seus filhos e dos filhos em relação a sua própria vida.
3. O SERVIÇO SOCIAL JUNTO À FAMÍLIA DO ALCOOLISTA NO SOF
O Serviço Social da Igreja de Nossa Senhora de Aparecida localizada na Av.
Pedro Miranda nº 1566, no bairro da Pedreira, através do Serviço de Orientação à
Família-SOF vem sendo procurado por familiares os quais apresentam queixas
relacionada ao alcoolismo de pessoas na família, cujas conseqüências são as mais
diversas , como agressão verbal, física e psicológica.
Conforme levantamento que realizamos nas fichas de pessoas atendidas
relacionadas ao alcoolismo pelo Serviço Social nos anos de 2000 e 2001 (até o mês de
setembro) foi de 40 casos.
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Quando os familiares, geralmente as esposas de alcoolistas procuram o
SOF para obter ajuda, estão completamente transtornados, e na maioria dos casos o
alcoolista é o chefe de família. O SOF em resposta a essa problemática orienta os
familiares no sentido de amenizar o relacionamento familiar, enfraquecido pela questão
alcoólica.
O SOF como um processo extensionista conjuga três eixos básicos: Serviço,
Formação Profissional e Produtos Acadêmicos. Vamos tentar situar o SOF por tais
parâmetros. O primeiro deles é sua condição de serviço, atendendo questões de
conflito familiar; o segundo é um campo de estágio, podendo incluir alunos em sistema
extracurricular e o terceiro o Serviço é um meio para que se construa produtos
acadêmicos, permitindo elaborar dados e textos referentes :
• aspectos antropológicos que permeiam situação de conflito no contexto
familiar;
• aspectos concernentes a questão da habitação e conflitos familiares;
• reconfiguração do papel do idoso no contexto da família;
• processos e técnicas de entrevista.
Existem atualmente três frentes de ação: ETAJJ (Escritório Técnico de
Assistência Jurídica e Judiciária; CLIFA (Clínica de Fonoaudiologia) e Igreja Nossa
Senhora Aparecida. Há um cronograma de atividades a ser seguido pelos discentes. O
programa ISSO é um detalhe importante, toda extensão conta com professores e não
com técnico fixo. A ação do professor é de natureza pedagógica, sobretudo centrando
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atenção nos produtos acadêmicos, possivelmente haja atividades extensionistas
descaracterizadas, centradas somente no Serviço. Entretanto, o SOF não pretende
enveredar por esse desvio.
Os objetivos do SOF são prestar atendimento à família em situação de
conflito como meio básico para obter conhecimentos sobre família e construir produtos
acadêmicos elegidos pela universidade.
O SOF é um serviço e pode ser demandado, como a CLIFA-Clinica de
Fonoaudiologia e o ETAJJ - Escritório Técnico de Assistência Jurídica e Judiciária.
Trata-se de uma parceria entre o Laboratório de Serviço Social e as respectivas Clínica
e Escritórios. Nesse contexto o SOF funciona como uma atividade meio e apoio
disponibilizado a quem dele necessitar.
A clientela alvo do SOF varia de conformidade com o setor vinculado. No
ETAJJ as situações apresentadas são de conflito de natureza civil ou criminal; na
CLIFA são relacionados à negligência com atendimento das crianças e/ou
adolescência. Na Aparecida atende todas as situações de conflito encaminhadas pela
Pastoral.
O instrumental técnico utilizado no ETAJJ e na CLIFA são principalmente, a
entrevista dialogada, técnicas de reflexão a partir do conteúdo veiculado pelas pessoas
sob atendimento. Na Aparecida são trabalhados encontros com responsáveis de
adolescentes e grupos de idosos, nesse particular outros instrumentos e técnicas de
experiências, de dinâmica de grupo, recursos audiovisuais e visitas domiciliares.
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A função do professor orientador no ETAJJ civil e no ETAJJ criminal é
discutir situações em função dos produtos acadêmicos, como auxiliar os estagiários a
obterem maior rendimento técnico acadêmico a partir das experiências. Nas quartas-
feiras às 18 h acontece o encontro de todos os estagiários do SOF para estudo de
temáticas pertinentes ao trabalho, tendo com eixo a família e os produtos acadêmicos.
O atendimento no Serviço Orientação a Família-SOF é supervisionado e
realizado por estagiários de Serviço Social e Psicologia, as terças, quartas e sextas
feira, nos horários da tarde e noite. Os procedimentos técnicos do Serviço de
Orientação à Família-SOF no atendimento aos familiares, no primeiro momento, é
apenas para ouvir as queixas do familiar. Em seguida fazemos alguns questionamentos
e as respostas do queixoso são registradas constando nome, idade, endereço telefone
e ocupação além do motivo da queixa apresentada.
No atendimento que realizamos, utilizamos alguns procedimentos e técnicas,
com meio de nos ajudar na obtenção de informações junto aos usuários como a
observação, entrevista, diálogo, abordagem e debates.
Por ocasião dos atendimentos refletimos em conjunto com o familiar, sobre
os aspectos de vida do alcoolista, seu relacionamento no trabalho e dentro de casa,
alterados devido à questão alcóolica. Importante evidenciar por causa desta
problemática o indivíduo pode ser excluído da sociedade, caso fique desempregado e
com dificuldades de produzir; o lar deixa de ser um refúgio, o alcoolista prefere utilizar a
bebida como meio para fugir da realidade. Na condição de alcoolista, alguns
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consideram-se mais predispostos a realizar ações as quais não fariam em condições
sóbria.
Os encaminhamentos realizados pelo Serviço Social, caso o alcoolista aceite
o tratamento são direcionados aos Alcóolicos Anônimos-AA, irmandade formada por ex
alcoolistas; o AL- ANON (Álcool Anônimo), grupo de ajuda formada por familiares de
alcoolistas, onde discutem seus problemas entre si e tentam se ajudar mutuamente.
Esses grupos podem ser procurados também na igreja Nossa Senhora Aparecida, em
reuniões realizadas semanalmente, as terças-feiras, no horário às 20 h.
Dependendo também de cada caso, o Serviço Social encaminha os
familiares para serem acompanhados por psicólogos, que prestam serviço voluntário
na Igreja Nossa Senhora Aparecida.
Os acompanhamentos dos cursos são feitos diariamente pelos estagiários
do Serviço de Orientação à Família-SOF, assim como, o atendimento a quem procura,
para desabafar e informar a situação de seu familiar. O alcoolista, geralmente resiste
em procurar diretamente ajuda, a qual é feita por familiar.
E com esse entendimento, que, no contexto deste estudo, analisamos a
situação de um caso de uma família, que possui alcoolista e recebeu orientação do
profissional de Serviço Social no SOF Aparecida.
Na época da realização das entrevistas em agosto/setembro/(2001), caso
de (RM) chamou a minha atenção por ter sido a família do alcoolista (RM) que procurou
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o Serviço Social, a esposa (L)), e os dois filhos adolescentes. Na realidade ouvimos a
queixa da família. A partir da entrevista contendo perguntas, com o objetivo de obter
informações detalhadas sobre a situação da família do alcoolista como: os prováveis
motivos que o tornaram alcoolista; o início do alcoolismo; a educação recebida da
família; a relação do alcoolista (RM) com a esposa e filhos e a procura de ajuda para
tratamento.
Quanto a análise das respostas fornecidas pela esposa (L) e 2 filhos do
(RM), relacionada ao motivo que contribuiu para se tornar alcoolista, obteve-se as
seguintes respostas:
“Quando era criança sua mãe trabalhou como garçonete em uma boate e ele sempre
ficava em sua companhia. Por isso desde os 5 anos de idade ele começou a beber”
(Entrevistada L).
Por esse motivo, continuou (L) discorrendo sobre a situação de (RM):
“Desde muito cedo ele cultivou o hábito pela bebida, porque, foi uma criança criada
apenas pela mãe, em um ambiente não muito favorável e desde cedo freqüentava boate
com sua mãe”(Entrevistada L)
E quanto a educação que recebeu (RM):
“ele sempre falava que sentia muita falta de seu pai, sua mãe, todavia não tinha condições
para lhe dar a devida criação, ou seja, sua infância foi marcada pela ausência de um lar
familiar completo e feliz” (Entrevistada L).
Quanto ao relacionamento de (RM) com a esposa:
“E muito conflitante, porque quando está alcoolizado briga com a esposa e filhos, fazendo
com que a relação familiar se enfraqueça” (Entrevistada L e filhos).
E se (RM) já havia procurado ajuda para desintoxicação:
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“Sim, ele já fez parte da AA- Alcóolicos Anônimos de 1996 a 1998. Foi uma ótima fase,
pois naqueles momentos éramos felizes com o pai se ajudando e melhorando a relação
familiar” (Entrevistada L e filhos).
O que aconteceu com (RM) no AA-Alcóolicos Anônimos.
“Depois que ele saiu não voltou na AA Alcóolicos Anônimos – freqüento o ALANON –
Associação dos familiares de alcoólatras, participo de reuniões as terças –feiras, tento
incentivar RM voltar para a AA, mas até agora, ele ainda não quis voltar” (Entrevistada L).
Percebemos por meio da entrevista dialogada que estabelecemos com (L) a
esposa de (RM) o papel explícito da mãe na educação do filho, confirmando as
colocações de FISCHMAN (1998) sobre os fatores que podem influenciar a
experimentação de bebidas alcóolicas. Neste caso, identificamos os fatores
relacionados diretamente com o modelo dos adultos, porque quando RM era criança
viu alguém que ele admirava, a própria mãe, consumindo álcool.
Relacionado com outro fator, provavelmente a curiosidade de experimentar o
sabor da bebida que após algum tempo ele não pode mais controlar.
O desejo de ter possuído uma família constituída de pai e mãe, frustrou a
sua aspiração de criança e adolescente, refletindo, provavelmente, no seu
comportamento de adulto no relacionamento com os familiares (esposa e filhos).
E como (RM) abandonou o tratamento de desintoxicação no AA, retornou as
agressões físicas com os familiares, contribuindo para o clima de difícil relacionamento.
O desdobramento deste caso foi conduzido pelo ETAJJ em virtude do respaldo jurídico
que oferece para os usuários.
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Consideramos que o SOF constitui-se um espaço privilegiado ao exercício
da prática profissional, do assistente social, devido permitir aproximação com as
famílias, entender o que se passa com elas e no compromisso ético de buscar
alternativas de solução junto a rede de serviços sociais locais.
Temos, também, neste estudo de caso no depoimento de (L) o
conhecimento do alcoolismo como doença, evidenciando que o alcoolista, não é um
indivíduo isolado, já que está inserido numa realidade social, econômica, cultural e
familiar.
Conforme VECCHIA (1999) os familiares de alcoolistas vivem geralmente
uma contradição, quando se deparam com este problema, pois, querem auxiliar o
alcoolista, mas não sabem como, e muitas vezes, reproduzem o estigma que a
sociedade lhe impinge. E assim, há uma tripla estigmatização: o alcoolista pela
sociedade, da família do alcoolista pela sociedade e do alcoolista pela sua própria
família.
Sendo assim, a família emerge como uma representação reprodutora e
estigmatizante da doença do alcoolismo.
Ao mesmo tempo em que o alcoolismo é considerado uma doença da
família, por envolver o bem estar dos familiares, afetado emocional e fisicamente.
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Com o propósito de dar um apoio a estes familiares o Serviço Social, no
SOF tem a responsabilidade de prestar orientação e encaminhamento, utilizando a
rede de serviços.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos neste estudo, que o alcoolismo é considerado uma forma de privação,
devido em parte, a influência que o alcoolista recebe da família e da sociedade para
continuar nessa condição, ocasionando conseqüências, como transtornos físicos,
emocionais, psicológicos, que irão afetar o alcoolista e seus familiares.
O SOF Serviço de Orientação à Família é o espaço onde os membros da
família encontram oportunidades de receber ajuda e orientação para tratamento e
recuperação de seu alcoolista.
Verificamos na experiência/prática o que nos ensinou a teoria apreendida no
Curso de Serviço Social em FISHMAN sobre a orientação da família que a criança e o
adolescente tem menor possibilidade de dissabores no futuro. O papel da família é
relevante na prevenção, tratamento e recuperação do alcoolista com motivações para
soluções e equilíbrio no relacionamento da família.
No caso objeto de análise deste estudo observamos que há uma tendência a
conceituar a família a partir da menção dos papéis desempenhados pelos seus
membros. A família é o grupo social responsável pela pessoa como cidadão, embora
seja constituída pela família monoparental, com chefia feminina, no caso estudado.
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A convivência do alcoolista, quando criança com pais alcoolistas em
ambiente permissivo, facilitador e motivador ao consumo de álcool contribuiu para os
filhos tornarem-se um alcoolista no futuro.
Consideramos o alcoolismo uma doença da família, sob dois aspectos:
primeiro, porque o adolescente recebe incentivo na própria família, no exemplo de pais
e outros parentes e segundo, devido o contágio que o alcoolista repassa para sua
família na forma de conflitos.
Neste sentido, acreditamos que conseguimos entender os motivos que
levam as pessoas a experimentação do álcool e como o Serviço Social no SOF
intervém com a questão do alcoolismo em família, merecendo ser percebido como tal
pelo próprio indivíduo (incluído na sociedade), especialmente da prevenção e
tratamento.
Melhor seria se as pessoas não fossem estimuladas ao consumo de álcool,
certamente seríamos uma sociedade sóbria, justa e humana.
23
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