ministÉrio pÚblico do estado de sÃo paulo … · proprietÁrio – descabimento –...
TRANSCRIPT
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais Rua Riachuelo, 115, 9º andar, sala 906, São Paulo – SP – CEP 01007-904
Tel: (11) 3119-9689 – Fax: (11) 3119-9677 – email: [email protected]
Apelação nº 0000794-74.2013.8.26.0128
OBS: Na jurisprudência citada, sempre que não houver indicação do tribunal, entenda-
se que é do Superior Tribunal de Justiça.
Índices
Ementas – ordem alfabética
Ementas – ordem numérica
Índice do “CD”
Tese 462
ARMA – PORTE ILEGAL – CONDENAÇÃO – DEVOLUÇÃO AO
PROPRIETÁRIO – DESCABIMENTO – INTELIGÊNCIA DO ARTIGO
25 DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO.
O artigo 25 da Lei nº 10.826/2003, complementado pelo artigo 65,
§10, do Decreto 5.123/04 (Regulamento do Estatuto), veda a
devolução da arma ao seu proprietário, condenado por porte ilegal.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais Rua Riachuelo, 115, 9º andar, sala 906, São Paulo – SP – CEP 01007-904
Tel: (11) 3119-9689 – Fax: (11) 3119-9677 – email: [email protected]
Apelação nº 0000794-74.2013.8.26.0128
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DA
SEÇÃO CRIMINAL DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE
SÃO PAULO.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
pelo Procurador de Justiça infra-assinado, no uso
de suas atribuições legais, nos autos de APELAÇÃO
Nº 0000794-74.2013.8.26.0128, da Comarca de CARDOSO,
em que figura como apelante DORIVALDO ANTÔNIO
PANSANI, vem, com fundamento no art. 105, III, “a”,
da Constituição Federal e no artigo 1.029 do Código
de Processo Civil, interpor RECURSO ESPECIAL para o
Colendo SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, em face do v.
acórdão de fls. 391/393 E 403/404, pelos motivos
adiante aduzidos:
1. RESUMO DOS FATOS
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais Rua Riachuelo, 115, 9º andar, sala 906, São Paulo – SP – CEP 01007-904
Tel: (11) 3119-9689 – Fax: (11) 3119-9677 – email: [email protected]
Apelação nº 0000794-74.2013.8.26.0128
Dorivaldo Antônio Pansani foi condenado
como incurso no art. 14 do Estatuto do Desarmamento
a 2 anos de reclusão e multa, porque, no dia 01 de
abril de 2013,na Estrada Municipal Cardoso, portava
uma arma de fogo do tipo espingarda, marca Boito,
numeração Pl 560438, calibre 36 e três cartuchos
metálicos, marca CBC, calibre 36, em desacordo com
determinação legal ou regulamentar.
Após a condenação, o acusado pleiteou a
devolução da arma de fogo, tendo havido
indeferimento no juízo de origem.
O sentenciado recorreu e, após parecer da
douta Procuraria de Justiça pelo improvimento do
recurso, a Colenda 16ª Câmara de Direito Criminal
deu provimento ao recurso, por votação unânime, para
deferir a devolução da arma de fogo.
Eis a íntegra da decisão:
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº
0000794-74.2013.8.26.0128, da Comarca de Cardoso, em que é apelante D.
A. P., é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO.
ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de
Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "DERAM PROVIMENTO ao
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais Rua Riachuelo, 115, 9º andar, sala 906, São Paulo – SP – CEP 01007-904
Tel: (11) 3119-9689 – Fax: (11) 3119-9677 – email: [email protected]
Apelação nº 0000794-74.2013.8.26.0128
recurso interposto pela defesa de DORIVALDO ANTÔNIO PANSANI, para que
lhe seja devolvida a arma apreendida acima descrita, V.U.", de conformidade
com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores
LEME GARCIA (Presidente sem voto), NEWTON NEVES E OTÁVIO DE
ALMEIDA TOLEDO.
São Paulo, 04 de julho de 2017.
Borges Pereira
Relator.
16ª CÂMARA CRIMINAL
APELAÇÃO CRIMINAL Nº 0000794-74.2013
COMARCA: CARDOSO
APELANTE: DORIVALDO ANTÔNIO PANSANI
APELADA: JUSTIÇA PÚBLICA
VOTO Nº 31.015
Apelação Criminal Pedido de restituição de arma apreendida
Decisão que indeferiu o pedido, sob o fundamento de que ainda não havia
trânsito em julgado da condenação Trânsito em julgado que se operou
Documento acostado aos autos comprovando que o réu é proprietário da arma
Devolução da arma Possiblidade Recurso provido.
O réu foi denunciado porque no dia 1º de abril de 2013, por volta
das 00h05, na Estrada Municipal Cardoso Boa Vista dos Andradas, na
Comarca de Cardoso, o acusado portava uma arma de fogo do tipo
espingarda, marca Boito, de numeração aparente PI 560438, calibre 36 e três
cartuchos metálicos, marca CBC, calibre 36; arma e munições de uso
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais Rua Riachuelo, 115, 9º andar, sala 906, São Paulo – SP – CEP 01007-904
Tel: (11) 3119-9689 – Fax: (11) 3119-9677 – email: [email protected]
Apelação nº 0000794-74.2013.8.26.0128
permitido, o que fazia em total desacordo com determinação legal ou
regulamentar.
Por r. sentença proferida em 25 de março de 2014 (cf. fls. 97/99),
foi o réu condenado ao cumprimento da pena de 02 (dois) anos de reclusão,
em regime inicial aberto, e ao pagamento de 10 (dez) dias-multa, por infração
ao disposto no artigo 14, caput, da Lei nº 10.826/03, substituída a pena
privativa de liberdade por duas restritiva de direitos, consistentes em
pagamento de prestação pecuniária no valor de um salário mínimo e prestação
de serviços à comunidade, facultado o apelo em liberdade.
Inconformada com a r. sentença apelou a defesa do réu,
pretendendo, em síntese, a absolvição do apelante, com fundamento no artigo
386, inciso III, do Código de Processo Penal, eis que teria agido amparado
pela excludente do exercício regular de direito ou, ainda, agido com erro de
proibição. Subsidiariamente, se mantida a condenação, requer a redução da
reprimenda que lhe foi imposta.
Por v. acórdão (cf. fls. 143/149), julgado em 10 de março de 2015,
por esta Colenda Câmara, por votação unânime, foi negado provimento ao
apelo.
A combativa defesa interpôs recursos especial e extraordinário, os
quais não foram admitidos (cf. fls. 226/228 e fls. 229/231) e agravos em
recurso especial e em recurso extraordinário, os quais foram improvidos (fls.
314/317 e fls. 337/339).
Em 15 de abril de 2016, a defesa do réu Dorivaldo requereu a
restituição da arma apreendida (cf. fls. 282), pleito que foi indeferido por
decisão proferida em 31 de maio de 2016 (cf. fls. 288).
Conta a r. decisão que indeferiu Pedido de Restituição, a defesa
de Dorivaldo interpôs recurso de apelação (fls. 344/348), aduzindo, em
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais Rua Riachuelo, 115, 9º andar, sala 906, São Paulo – SP – CEP 01007-904
Tel: (11) 3119-9689 – Fax: (11) 3119-9677 – email: [email protected]
Apelação nº 0000794-74.2013.8.26.0128
síntese, que a arma apreendida não possui mais qualquer serventia para o
processo, eis que já foi periciada e toda a instrução criminal realizada, além o
que, o réu possui o certificado de propriedade da arma comprovando ser o
legítimo proprietário. Requer ainda a redução da pena ao mínimo legal.
Contrarrazões ofertadas às fls. 350/351, oportunidade em que o
D. Promotor de Justiça requereu o improvimento do apelo.
A pena de multa imposta o réu foi julgada extinta, ante o
pagamento (fls. 372).
A douta Procuradoria Geral de Justiça às fls. 379/381 opinou pelo
improvimento do apelo.
RELATADOS.
Por r. sentença proferida em 25 de março de 2014 (cf. fls. 97/99),
foi o réu condenado ao cumprimento da pena de 02 (dois) anos de reclusão,
em regime inicial aberto, e ao pagamento de 10 (dez) dias-multa, por infração
ao disposto no artigo 14, caput, da Lei nº 10.826/03, substituída a pena
privativa de liberdade por duas restritiva de direitos, consistentes em
pagamento de prestação pecuniária no valor de um salário mínimo e prestação
de serviços à comunidade, facultado o apelo em liberdade e, por v. acórdão
(cf. fls. 143/149), julgado em 10 de março de 2015, por esta Colenda Câmara,
por votação unânime, foi negado provimento ao apelo.
Em 15 de abril de 2016, a defesa do réu Dorivaldo requereu a
restituição da arma apreendida (cf. fls. 282), pleito que foi indeferido por
decisão proferida em 31 de maio de 2016 (cf. fls. 288).
Contra referida decisão que indeferiu o Pedido de Restituição, a
combativa defesa do réu interpôs o competente recurso de apelação,
almejando que a arma apreendida lhe seja devolvida.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais Rua Riachuelo, 115, 9º andar, sala 906, São Paulo – SP – CEP 01007-904
Tel: (11) 3119-9689 – Fax: (11) 3119-9677 – email: [email protected]
Apelação nº 0000794-74.2013.8.26.0128
De atenta análise dos autos, em especial da r. decisão combatida,
de se verificar que o fundamento utilizado pelo D. Magistrado de 1º Grau para
indeferir a benesse almejada, qual seja, de que não havia ainda trânsito em
julgado da sentença, restou superado, eis que que o trânsito em julgado para
o réu e seu defensor ocorreu em 27/09/2016.
Por outro vértice, o réu possui licença para posse da arma
Espingarda Boito, calibre 36, nº 560.438.
Haja vista o explicitado, de ser dado provimento ao recurso, a fim
de que a arma apreendida, de propriedade do réu, lhe seja restituída.
Isto posto, DÁ-SE PROVIMENTO ao recurso interposto pela
defesa de DORIVALDO ANTÔNIO PANSANI, para que lhe seja devolvida a
arma apreendida acima descrita. BORGES PEREIRA RELATOR
Constatando a existência de omissão no
acórdão, o Ministério Público opôs embargos
declaratórios, requerendo que a Corte Julgadora se
manifestasse acerca do disposto nos arts. 25 da Lei
n. 10.826/2003 e 91, II, “a”, do Código Penal.
No julgamento dos embargos de declaração,
todavia, a Corte apreciou somente o disposto no art.
91, II, “a”, do CP, deixando de analisar a regra
contida no art. 25 da Lei n. 10.826/2003, que impede
a devolução da arma de fogo - mesmo após o Ministério
Público já haver mencionado tal dispositivo por duas
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais Rua Riachuelo, 115, 9º andar, sala 906, São Paulo – SP – CEP 01007-904
Tel: (11) 3119-9689 – Fax: (11) 3119-9677 – email: [email protected]
Apelação nº 0000794-74.2013.8.26.0128
vezes (nas contrarrazões de fls. 351 e no parecer
de fls. 381).
Desse modo, entregaram prestação
jurisdicional incompleta.
Segue o teor do acórdão que julgou os
embargos aclaratórios:
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Embargos de
Declaração nº 0000794-74.2013.8.26.0128/50000, da Comarca de Cardoso,
em que é embargante MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
e Interessado DORIVALDO ANTONIO PANSANI, é embargado COLENDA
16ª CÂMARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 16ª Câmara de
Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte
decisão: Rejeitaram os embargos, V.U., de conformidade com o voto do
relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Desembargadores
CAMARGO ARANHA FILHO (presidente sem voto), OTÁVIO DE ALMEIDA
TOLEDO E GUILHERME DE SOUZA NUCCI.
São Paulo, 3 de abril de 2018.
Newton Neves
Relator
VOTO Nº 36290
EDEC Nº 0000794-74.2013.8.26.0128
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais Rua Riachuelo, 115, 9º andar, sala 906, São Paulo – SP – CEP 01007-904
Tel: (11) 3119-9689 – Fax: (11) 3119-9677 – email: [email protected]
Apelação nº 0000794-74.2013.8.26.0128
COMARCA: CARDOSO
EMBARGANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO
EMBARGADA: COLENDA 16ª CÂMARA DE DIREITO CRIMINAL
INTERESSADO: D. A. P.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO Ausência de ambiguidade,
obscuridade, contradição ou omissão Caráter infringente Prequestionamento
anotado Embargos rejeitados (voto nº 36290)*.
Após a edição do V. Acórdão de fls. 391/393, relatado pelo E.
Desembargador Borges Pereira, já aposentado, que conferiu provimento ao
recurso de DORIVALDO ANTÔNIO PANSANI para lhe restituir a arma
apreendida, opõe o MINISTÉRIO PÚBLICO embargos declaratórios, com
efeito infringente, alegando omissão do julgado “na análise e aplicação dos
artigos 25 da Lei 10826/03 e 91, II, 'a', CP” (fls. 396/401).
É o relatório, no essencial.
Conforme dispõe o artigo 619 do Código de Processo Penal, cabem
embargos declaratórios para sanar eventual ambiguidade duplo sentido,
obscuridade ininteligível, contradição incoerência ou omissão lacuna,
admitindo-se ainda a finalidade exclusiva de prequestionamento.
O efeito infringente que pode também surgir nos embargos de
declaração somente é admitido em caso de omissão ou contradição, vez que
a decisão poderá alterar o rumo do que já decidido. A ambiguidade e a
obscuridade apenas possibilitam o aclaramento do que eventualmente está
implícito.
No caso dos autos, não se vislumbra omissão, contradição,
obscuridade ou ambiguidade no julgado, o que é declarado em atenção aos
embargos apresentados.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais Rua Riachuelo, 115, 9º andar, sala 906, São Paulo – SP – CEP 01007-904
Tel: (11) 3119-9689 – Fax: (11) 3119-9677 – email: [email protected]
Apelação nº 0000794-74.2013.8.26.0128
Ora, como se observa às fls. 393, a restituição da arma apreendida
foi determinada por ter o réu a devida licença para sua posse.
Veja-se que o artigo 91 do Código Penal, em seu inciso II, alínea
“a”, prevê, como efeito da condenação, a perda em favor da União “dos
instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico,
alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito”.
E, respeitados doutos entendimentos contrários, não é este o caso
dos autos.
Não está aqui a se olvidar que Dorivaldo foi processado e
condenado pelo porte ilegal da espingarda cuja restituição lhe foi deferida.
Todavia, comprovou ele nos autos que possuía a devida licença
para posse da arma em seu domicílio (fls. 21 e 65). Assim, pese ter o acusado
praticado conduta ilícita, ao portar a arma possuindo apenas autorização para
sua posse, tanto que condenado, é evidente que a espingarda não pode ser
considerada objeto ilícito, tampouco produto de crime, sendo regular o
exercício da mera posse por Dorivaldo, cuja norma ele não infringiu.
Assim, não verificadas as alegadas contradição, obscuridade ou
omissão, exercida a atividade jurisdicional pelo C. Colegiado, é certo que a
modificação do julgado não se há de alcançar pela via dos embargos de
declaração, cuja finalidade é esclarecer dúvidas ou contradições no julgado.
Veja-se que, diante do presente decisum, prejudicado se mostra o
enfrentamento quanto à suspensão da eficácia do decisum ora embargado.
Diante do exposto, rejeitam-se os embargos, anotado o
prequestionamento.
Newton Neves Relator
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais Rua Riachuelo, 115, 9º andar, sala 906, São Paulo – SP – CEP 01007-904
Tel: (11) 3119-9689 – Fax: (11) 3119-9677 – email: [email protected]
Apelação nº 0000794-74.2013.8.26.0128
Ao deixar de analisar a questão suscitada
pela Procuradoria Geral de Justiça em sede de
Embargos de Declaração, a Douta Turma Julgadora
contrariou o artigo 619 do Código de Processo Penal.
A Corte Estadual contrariou, também, o
artigo 25 da Lei n. 10.826/2003 (Estatuto do
Desarmamento) ao determinar a devolução da arma de
fogo, uma vez que mencionado dispositivo prevê
expressamente que as armas de fogo apreendidas, após
periciadas, devem ser encaminhadas pelo juiz ao
Comando do Exército, no prazo máximo de 48 (quarenta e oito)
horas, para destruição ou doação aos órgãos de
segurança pública ou às Forças Armadas, na forma do
regulamento desta Lei
2. CONTRARIEDADE AO ARTIGO 619 DO CPP
“Ad cautelam”, cumpre salientar que, conforme
já entendeu o Colendo Superior Tribunal de Justiça,
rejeitados os Embargos que buscavam o
prequestionamento explícito da matéria de direito
federal, o que se impõe é a interposição de Recurso
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais Rua Riachuelo, 115, 9º andar, sala 906, São Paulo – SP – CEP 01007-904
Tel: (11) 3119-9689 – Fax: (11) 3119-9677 – email: [email protected]
Apelação nº 0000794-74.2013.8.26.0128
Especial, com amparo na negativa de vigência do
artigo 619 do Código de Processo Penal.
Confira-se a propósito:
PENAL E PROCESSUAL PENAL. DENUNCIA QUE NÃO
TERIA ABRANGIDO TODOS OS CRIMINOSOS. OFENSA
AO PRINCIPIO DA INDIVISIBILIDADE DA AÇÃO
PENAL: INEXISTENCIA, POIS TAL PRINCIPIO SO
SE APLICA NA HIPOTESE DE AÇÃO PENAL PRIVADA,
NÃO PODENDO SER INVOCADO QUANDO SE TRATA DE
AÇÃO PENAL PUBLICA. SURSIS ETARIO.
REQUISITOS PARA A CONCESSÃO. RECURSO
ESPECIAL. QUESTÃO NOVA. PREQUESTIONAMENTO:
IMPRESCINDIBILIDADE. INTERPOSIÇÃO DE
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO: INSUFICIENCIA, SE O
TRIBUNAL A QUO NÃO EMITIU PRONUNCIAMENTO
ACERCA DA QUESTÃO FEDERAL SUSCITADA PARA
ESTA CORTE. PRECEDENTES. AGRAVO "REGIMENTAL"
IMPROVIDO.
I - O PRINCIPIO DA INDIVISIBILIDADE DA AÇÃO
PENAL SO SE APLICA NA HIPOTESE DE AÇÃO PENAL
PRIVADA, NÃO PODENDO SER INVOCADO QUANDO SE
TRATA DE AÇÃO PENAL PUBLICA. INTELIGENCIA DO
ART. 48 DO CPP.
PRECEDENTES DO STF: RHC N. 57223/SP E RE N.
93055/PR. PRECEDENTE DO STJ: RHC N.
1.154/RJ.
II - PARA FAZER JUS A CONCESSÃO DO SURSIS
ETARIO, O CONDENADO DEVE SATISFAZER AS
EXIGENCIAS DO PARAGRAFO SEGUNDO DO ART. 77
DO CP, BEM COMO OS REQUISITOS DO SURSIS
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais Rua Riachuelo, 115, 9º andar, sala 906, São Paulo – SP – CEP 01007-904
Tel: (11) 3119-9689 – Fax: (11) 3119-9677 – email: [email protected]
Apelação nº 0000794-74.2013.8.26.0128
SIMPLES (ART. 77, CAPUT E INCISOS, DO CP).
INTELIGENCIA DO PARAGRAFO SEGUNDO DO ART. 77
DO CP.
III - O RECURSO ESPECIAL (CRIMINAL) FUNDADO
NA ALINEA "A" DO PERMISSIVO CONSTITUCIONAL
SO PROSPERA SE O TRIBUNAL A QUO TIVER-SE
PRONUNCIADO ACERCA DA QUESTÃO FEDERAL
SUSCITADA PARA ESTA CORTE. EXIGE-SE A
INTERPOSIÇÃO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, PARA
FINS DE PREQUESTIONAMENTO, MESMO QUANDO A
ALEGADA CONTRARIEDADE A LEI FEDERAL SURJA NO
JULGAMENTO DA APELAÇÃO, OU SEJA, NO ACORDÃO
RECORRIDO. NO ENTANTO, A SIMPLES
INTERPOSIÇÃO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NÃO
SATISFAZ AO REQUISITO DE ADMISSIBILIDADE DO
PREQUESTIONAMENTO. E NECESSARIO QUE O
TRIBUNAL A QUO SE MANIFESTE SOBRE A QUESTÃO
INFRACONSTITUCIONAL NOVA. CASO NÃO O FAÇA,
O RECORRENTE ESPECIAL DEVE SUSCITAR A
CONTRARIEDADE AO ART. 619 DO CPP, AO INVES
DE INSISTIR NA DISCUSSÃO DA MATERIA JURIDICA
NÃO PREQUESTIONADA. PRECEDENTES DO STJ: RESP
N. 66.984/SP, RESP N. 53.407/RS, RESP N.
23.539/SP, RESP N. 36.996/SP, RESP N.
8.454/SP E RESP 2.239/RJ.
IV - AGRAVO "REGIMENTAL" IMPROVIDO, A
UNANIMIDADE DE VOTOS.
(AgRg no Ag 72.162/RJ, Rel. Ministro
ADHEMAR MACIEL, SEXTA TURMA, julgado em
25.06.1996, DJ 26.08.1996 p. 29731) – grifo
nosso.
PROCESSUAL PENAL. QUADRILHA ARMADA (ART.
288, PARAGRAFO UNICO, DO CP). CRIME
COLETIVO. DENUNCIA. DESCRIÇÃO GENERICA DA
INFRAÇÃO: POSSIBILIDADE. PARTICULARIZAÇÃO
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais Rua Riachuelo, 115, 9º andar, sala 906, São Paulo – SP – CEP 01007-904
Tel: (11) 3119-9689 – Fax: (11) 3119-9677 – email: [email protected]
Apelação nº 0000794-74.2013.8.26.0128
DA CONDUTA CRIMINOSA DE CADA UM DOS
ACUSADOS: PRESCINDIBILIDADE. RECURSO
ESPECIAL. PREQUESTIONAMENTO DAS QUESTÕES
FEDERAIS SUSCITADAS PARA ESTA CORTE:
NECESSIDADE. QUESTÃO INFRACONSTITUCIONAL
NÃO PREQUESTIONADA, MESMO APOS A
INTERPOSIÇÃO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.
PRECEDENTES. AGRAVO 'REGIMENTAL' IMPROVIDO.
I - TRATANDO-SE DE CRIME COLETIVO (QUADRILHA
ARMADA), ADMITE-SE A DESCRIÇÃO GENERICA DA
INFRAÇÃO, DISPENSANDO-SE A INDIVIDUALIZAÇÃO
DA CONDUTA CRIMINOSA DE CADA UM DOS
ACUSADOS. INTELIGENCIA DO ART. 41 DO CPP.
PRECEDENTES DO STJ: RHC N. 4.828/RJ, RHC N.
2.660/SP, RHC N. 2.504/RJ, RHC N. 906/RJ E
RHC N. 1.961/RJ.
II - E REMANSOSA A JURISPRUDENCIA DESTA
CORTE NO SENTIDO DE QUE A SIMPLES
INTERPOSIÇÃO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NÃO
SATISFAZ O REQUISITO DE ADMISSIBILIDADE DO
PREQUESTIONAMENTO. E NECESSARIO QUE O
TRIBUNAL "A QUO", QUANDO DO JULGAMENTO DOS
EMBARGOS, EMITA PRONUNCIAMENTO ACERCA DA
QUESTÃO FEDERAL SUSCITADA NO RECURSO
ESPECIAL. PRECEDENTES DO STJ: RESP N.
66.984/SP E RESP N. 23.539/SP.
III - AGRAVO 'REGIMENTAL' IMPROVIDO, A
UNANIMIDADE DE VOTOS.
(AgRg no Ag 72.369/RJ, Rel. Ministro
ADHEMAR MACIEL, SEXTA TURMA, julgado em
03.06.1996, DJ 05.08.1996 p. 26440) – grifo
nosso.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais Rua Riachuelo, 115, 9º andar, sala 906, São Paulo – SP – CEP 01007-904
Tel: (11) 3119-9689 – Fax: (11) 3119-9677 – email: [email protected]
Apelação nº 0000794-74.2013.8.26.0128
Destarte, de rigor suscitar a negativa de
vigência ao artigo 619 do Código de Processo Penal,
o qual dispõe:
Aos acórdãos proferidos pelos Tribunais
de Apelação, câmaras ou turmas, poderão ser
opostos embargos de declaração, no prazo de
2 (dois) dias contado da sua publicação,
quando houver na sentença ambiguidade,
obscuridade, contradição ou omissão.
O v. acórdão objurgado não se manifestou
sobre a regra contida no art. 25 da Lei n.
10.826/2003, que prevê o encaminhamento das armas
de fogo apreendidas ao Comando do Exército, não
permitindo sua restituição ao autor da infração
penal.
Não há dúvida, portanto, de que o acórdão
proferido no julgamento dos embargos declaratórios
contrariou o disposto no artigo 619 do Código de
Processo Penal, o que deve ensejar sua anulação,
para que outra decisão seja proferida.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais Rua Riachuelo, 115, 9º andar, sala 906, São Paulo – SP – CEP 01007-904
Tel: (11) 3119-9689 – Fax: (11) 3119-9677 – email: [email protected]
Apelação nº 0000794-74.2013.8.26.0128
3. DA CONTRARIEDADE AO ART. 25 da Lei n. 10.826/2003
Dispõe o art. 25 do Estatuto do
Desarmamento:
“Art. 25. As armas de fogo apreendidas, após a
elaboração do laudo pericial e sua juntada aos autos, quando
não mais interessarem à persecução penal serão encaminhadas
pelo juiz competente ao Comando do Exército, no prazo máximo
de 48 (quarenta e oito) horas, para destruição ou doação aos
órgãos de segurança pública ou às Forças Armadas, na forma
do regulamento desta Lei”
Complementando referido dispositivo,
encontramos o art. 65, § 10, do Decreto 5.123/2004
(Regulamento do Estatuto do Desarmamento), que tem
a seguinte redação:
“As armas de fogo de uso permitido
apreendidas poderão ser devolvidas pela
autoridade competente aos seus legítimos
proprietários se cumpridos os requisitos
estabelecidos no art. 4º da Lei nº 10.826, de
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais Rua Riachuelo, 115, 9º andar, sala 906, São Paulo – SP – CEP 01007-904
Tel: (11) 3119-9689 – Fax: (11) 3119-9677 – email: [email protected]
Apelação nº 0000794-74.2013.8.26.0128
2003. (Incluído pelo Decreto nº 8.938, de
2016)”.
Vale dizer, o proprietário da arma somente
fará jus à restituição da arma de fogo caso comprove
preencher os requisitos do art. 4º do próprio
Estatuto.
Referido dispositivo dispõe que:
“Art. 4o Para adquirir arma de fogo de uso
permitido o interessado deverá, além de declarar a
efetiva necessidade, atender aos seguintes
requisitos:
I - comprovação de idoneidade, com a
apresentação de certidões negativas de antecedentes
criminais fornecidas pela Justiça Federal,
Estadual, Militar e Eleitoral e de não estar
respondendo a inquérito policial ou a processo
criminal, que poderão ser fornecidas por meios
eletrônicos; (Redação dada pela Lei nº 11.706, de
2008)
II – apresentação de documento
comprobatório de ocupação lícita e de residência
certa;
III – comprovação de capacidade técnica
e de aptidão psicológica para o manuseio de arma de
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais Rua Riachuelo, 115, 9º andar, sala 906, São Paulo – SP – CEP 01007-904
Tel: (11) 3119-9689 – Fax: (11) 3119-9677 – email: [email protected]
Apelação nº 0000794-74.2013.8.26.0128
fogo, atestadas na forma disposta no regulamento
desta Lei.
§ 1o O Sinarm expedirá autorização de
compra de arma de fogo após atendidos os requisitos
anteriormente estabelecidos, em nome do requerente
e para a arma indicada, sendo intransferível esta
autorização.
§ 2o A aquisição de munição somente
poderá ser feita no calibre correspondente à arma
registrada e na quantidade estabelecida no
regulamento desta Lei. (Redação dada pela Lei nº
11.706, de 2008)
§ 3o A empresa que comercializar arma de
fogo em território nacional é obrigada a comunicar
a venda à autoridade competente, como também a
manter banco de dados com todas as características
da arma e cópia dos documentos previstos neste
artigo.
§ 4o A empresa que comercializa armas de
fogo, acessórios e munições responde legalmente por
essas mercadorias, ficando registradas como de sua
propriedade enquanto não forem vendidas.
§ 5o A comercialização de armas de fogo,
acessórios e munições entre pessoas físicas somente
será efetivada mediante autorização do Sinarm.
§ 6o A expedição da autorização a que se
refere o § 1o será concedida, ou recusada com a
devida fundamentação, no prazo de 30 (trinta) dias
úteis, a contar da data do requerimento do
interessado.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais Rua Riachuelo, 115, 9º andar, sala 906, São Paulo – SP – CEP 01007-904
Tel: (11) 3119-9689 – Fax: (11) 3119-9677 – email: [email protected]
Apelação nº 0000794-74.2013.8.26.0128
§ 7o O registro precário a que se refere o
§ 4o prescinde do cumprimento dos requisitos dos
incisos I, II e III deste artigo.
§ 8o Estará dispensado das exigências
constantes do inciso III do caput deste artigo, na
forma do regulamento, o interessado em adquirir arma
de fogo de uso permitido que comprove estar
autorizado a portar arma com as mesmas
características daquela a ser adquirida. (Incluído
pela Lei nº 11.706, de 2008)”
Salta aos olhos, que o requerente –
condenado por crime de porte ilegal de arma de fogo
e munição - não perfaz os requisitos do art. 4º, I,
do Estatuto, já que não tem como apresentar certidão
negativa criminal. Em resumo, o mencionado art. 4º,
I, do Estatuto impede pessoa portadora de
antecedentes criminais de adquirir arma de fogo, bem
como impede que pessoas já condenadas obtenham a
devolução.
À toda evidência, a finalidade do
dispositivo é a de permitir, por exemplo, a eventual
restituição de arma de fogo de uso permitido que
tenha sido roubada ou furtada, assegurando-se o
direito da vítima (proprietária da arma de fogo).
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais Rua Riachuelo, 115, 9º andar, sala 906, São Paulo – SP – CEP 01007-904
Tel: (11) 3119-9689 – Fax: (11) 3119-9677 – email: [email protected]
Apelação nº 0000794-74.2013.8.26.0128
Não se pode conceber, por outro lado, a devolução
da arma à pessoa condenada por porte ilegal da
própria arma cuja restituição pretende.
4. DO PEDIDO DE REFORMA
Ante de todo o exposto, demonstrados
fundamentadamente a contrariedade ao artigo 619 do
Código de Processo Penal e ao artigo 25 da Lei n.
10.826/2003, aguarda o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO
DE SÃO PAULO seja ADMITIDO o processamento do
presente Recurso Especial por essa Egrégia
Presidência, bem como seja ele oportunamente
CONHECIDO e PROVIDO pelo Colendo SUPERIOR TRIBUNAL
DE JUSTIÇA, a fim de anular o acórdão proferido no
julgamento dos embargos declaratórios, determinando
seja outro proferido para análise do mencionado art.
25, ou para cassar o v. acórdão recorrido na parte
em que deferiu a restituição da arma de fogo.
São Paulo, 10 de maio de 2018.
JOÃO ANTONIO DOS SANTOS RODRIGUES
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA Setor de Recursos Extraordinários e Especiais Criminais Rua Riachuelo, 115, 9º andar, sala 906, São Paulo – SP – CEP 01007-904
Tel: (11) 3119-9689 – Fax: (11) 3119-9677 – email: [email protected]
Apelação nº 0000794-74.2013.8.26.0128
PROCURADOR DE JUSTIÇA
Victor Eduardo Rios Gonçalves
Promotor de Justiça designado