saudade de quem está por vir - publique-se · - vou ficar bem, breno. só preciso descansar. -...
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Alexandre Novaes
Saudade de quem
está por vir...
Primeira Edição
São Paulo 2013 PerSe
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Obra registrada no Escritório de Direitos Autorais (EDA) da Fundação Biblioteca Nacional.
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À minha família, que são meus melhores amigos.
A todos os meus amigos, que são minha família.
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“O acaso é Deus sendo discreto...”
“O que é seu encontrará um caminho para chegar até
você...”
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Prólogo
Janeiro de 1987
- Você promete que vai me encontrar?
- Prometo!
Deram os dedinhos, como que fazendo um pacto.
Ela desceu do murinho de pouco mais de meio metro
em que estavam sentados.
A menina então deu um beijo no rosto dele, olhou por
cima dos seus ombros e disse:
- Calma pai, já estou indo!
O menino avistou os pais dela esperando em frente
do carro.
Ela saiu correndo. Parou alguns metros adiante, olhou
para trás e acenou. Ele ficou olhando para ela, e timidamente
retribuiu o aceno.
Ela ainda falou:
- Espero por você! Você prometeu!
Sorriu e foi em direção aos pais.
Ele olhou para o chão. Seu coração estava apertado.
Percebeu que estava chorando.
Ali, um garoto de apenas cinco anos de idade,
chorando a perda da primeira menina que tinha gostado.
Não a veria mais.
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Capítulo 1
São Paulo. Quinta-feira. Novembro de 2011.
Breno estacionou na frente do prédio onde Rita
morava. Faltavam 20 minutos para as 20h.
- Tem certeza que não quer que eu suba? Posso
dormir aqui se quiser.
- Não Breno... não precisa. Vou ficar bem. É apenas
cólica... acho.
Breno olhou atentamente para ela.
- É só isto mesmo?
- Sim... hoje foi um dia bastante estressante no
serviço. Estou com dor de cabeça. Quero tomar um banho e
deitar cedo.
- Posso te fazer companhia. Quem sabe a dor de
cabeça não passa?
Ele riu, tentando suavizar um pouco a situação. Rita
não retribuiu o sorriso. Estava com um semblante sério. E
isto o incomodou.
- Vou ficar bem, Breno. Só preciso descansar.
- Bom, você que sabe... não vou forçar.
- Fique tranquilo. Vou me cuidar, vou ficar bem. Está
tudo bem, confie em mim.
Os dois se beijaram.
- Tchau Brê. Fique em paz.
- Nos vemos amanhã?
- Sim claro. Até amanhã.
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Rita saltou do carro. Deu um leve sorriso e dirigiu-se
à entrada do prédio.
Breno ficou olhando-a até ela entrar no saguão do
elevador.
Respirou fundo.
Algo estava errado. Algo estava diferente.
Particularmente sentiu-se inquieto por ela ter hesitado um
pouco quando respondeu “Sim claro. Até amanhã”. Foi
muito sutil, mas ele percebeu. Intuição masculina. Os
homens também possuem.
Depois de dois minutos olhando para o nada, ligou o
carro e seguiu para casa.
Seja lá o que fosse, iria esperar até amanhã.
E era justamente o amanhã que lhe guardava
surpresas.
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Capítulo 2
Sexta-feira, dia seguinte.
Breno acordou com a cabeça latejando.
Olhou no relógio do celular: 06h35min.
De novo não havia dormido bem. Pelo menos nos
últimos três ou quatro dias isto estava se repetindo.
Lentamente (e bem lentamente) sentou-se na cama,
com as pernas cruzadas, encostado na parede com o
travesseiro nas costas.
Tinha tido um sono agitado. Acordou com aquela
nítida sensação de ter tido um pesadelo. Parou para prestar
atenção nas próprias sensações. Haveria tido um pesadelo?
Se sim, não estava conseguindo se lembrar com nitidez. Pelo
menos naquele momento.
Resolveu deitar de novo. Estava com uma sensação
estranha. Uma sensação que não sabia o que era. Uma
mistura de vazio, perda e angústia, em diferentes proporções.
Nada muito sério, mas o suficiente para deixá-lo inquieto.
Algo como uma ressaca. O detalhe é que ele não bebia.
Talvez tenha sido algo que comi...
Pensado isto, foi tomar banho e se aprontar para o
serviço. Entrava no trabalho às 9h. Gostava de acordar bem
cedo para ter tempo de tomar um café da manhã sem pressa.
Aproveitava também para ler o jornal e ver se tinha algo
interessante na TV.
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[...]
Depois do banho, sentiu-se melhor. Aquela sensação
estranha de que algo estava errado tinha passado, pelo menos
momentaneamente.
Conforme preparava o café, foi repassando
mentalmente a conversa que tinha tido com Rita na noite
anterior. Neste dia iria encontrar-se com ela. De início não
falaria nada. Apenas observaria se ela estaria melhor e mais
animada. Caso contrário, iria pressioná-la para saber afinal
que raios estava acontecendo.
Estava pensativo. Lembrou-se dos compromissos
depois do trabalho. Sairia do serviço como sempre às 17h.
De lá, provavelmente seguiria para o happy hour com os
colegas de empresa. Depois, dali iria encontrar-se com os
amigos de infância para comemorar o aniversário de um
deles.
Após tudo isto iria encontrar-se com Rita na casa
dela, como sempre fazia às sextas-feiras. Excepcionalmente
neste dia iria mais tarde. Havia-a avisado antes sobre as
“reuniões”. Ela tinha aceitado numa boa. Ela mesma disse
que iria encontrar-se com duas amigas depois do trabalho e
que jantaria com elas.
A perspectiva de encontrá-la logo mais o animou.
Continuou a tomar seu café da manhã, lendo as
últimas notícias no jornal.
12
[...]
Breno trabalhava no departamento de TI de uma
empresa de médio porte. Começou como estagiário quando
ainda estava no terceiro ano de faculdade. Depois de um ano,
foi efetivado. E de lá não saiu mais.
No caminho para o serviço, foi escutando no carro as
músicas do seu pen-drive. Uma boa distração para não se
irritar com tantas buzinas, barulho e o trânsito caótico.
Chegou ao escritório às 08h50min. Cumprimentou os
colegas. Ligou o computador. A primeira coisa que fazia era
checar seus emails.
Se soubesse o que estava por vir, ele nunca teria feito
isto.
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Capítulo 3
Ler aquele e-mail logo pela manhã definitivamente
não estava em seus planos.
Leu de novo. E de novo.
Mas... o que...
Quantas vezes seriam necessárias para que sua ficha
caísse?
Ele se recostou na cadeira. Respirou fundo.
Não, isto não pode estar acontecendo...
Ficou olhando intensamente a última frase:
“Não me procure, por favor... Não me procure”
Isto era surreal.
Rita, sua namorada, o havia abandonado. Sem mais
nem menos.
Ele - como todo mundo - já havia levado vários
outras dispensadas durante seus 29 (quase 30) anos de vida.
Ele mesmo havia dado o fora em algumas. Porém, foi a
primeira vez que ele havia recebido a comunicação por
email.
Agora sim, aquela sensação estranha que teve ao
acordar fazia todo o sentido.
[...]
Ele repassou novamente o email. Ainda não
acreditava no que havia acabado de ler.