sarcopenia e envelhecimento

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Fisioter Mov. 2011 jul/set;24(3):455-62 ISSN 0103-5150 Fisioter. Mov., Curitiba, v. 24, n. 3, p. 455-462, jul./set. 2011 Licenciado sob uma Licença Creative Commons [T] Sarcopenia e envelhecimento [I] Sarcopenia and aging [A] Tatiane da Silva Pícoli [a] , Larissa Lomeu de Figueiredo [b] , Lislei Jorge Patrizzi [c] [a] Pós-Graduada em Fisioterapia Cardiorrespiratória pela Universidade de Franca (Unifran), Franca, SP - Brasil, e-mail: [email protected] [b] Especialista em Geriatria pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Pós-Graduanda em Fisioterapia Ortopédica, Traumatológica e Desportiva pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Poços de Caldas, MG - Brasil, e-mail: larissalf.[email protected] [c] Professora adjunta do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba, MG - Brasil, e-mail: [email protected] [R] Resumo Introdução: O envelhecimento está ligado ao grupo de alterações do desenvolvimento que ocorrem nos últimos anos de vida e está associado a alterações profundas na composição corporal. Essa perda rela- cionada à idade foi denominada “sarcopenia”. Objetivos: Avaliar a força muscular no processo de enve- lhecimento e identificar as variações entre os músculos do abdômen, membros superiores e inferiores. Materiais e métodos: Participaram deste estudo 48 indivíduos, que foram divididos em quatro grupos de acordo com a faixa etária: (G1) 11 a 18 anos, (G2) 20 a 26 anos, (G3) 45 a 60 anos e (G4) 66-82 anos. Os instrumentos de avaliação utilizados foram: 1) esfigmomanômetro (EM) – para análise da força de flexores e extensores da articulação do joelho; 2) flexão de tronco em decúbito dorsal – para avaliação da força dos músculos abdominais (graus 0 a 5); 3) dinamômetro Jamar – para avaliação da força de preensão palmar; e 4) dinamômetro Preston Pinch Gauge – para avaliação da força na pinça dos dedos (polegar e indicador). Resultados: Foi observado crescente incremento da força muscular de membros inferiores e superiores com o avançar da idade (G1, G2 e G3) e significativa diminuição da força muscular em todos os segmentos avaliados no G4 quando comparado com o G3. Foi observada importante variação entre a força muscu- lar dos segmentos avaliados e a idade. O trabalho sugere que a diminuição da força muscular torna-se

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Fisioter Mov. 2011 jul/set;24(3):455-62ISSN 0103-5150Fisioter. Mov., Curitiba, v. 24, n. 3, p. 455-462, jul./set. 2011Licenciado sob uma Licena Creative Commons[T]Sarcopenia e envelhecimento[I]Sarcopenia and aging[A]Tatiane da Silva Pcoli[a], Larissa Lomeu de Figueiredo[b], Lislei Jorge Patrizzi[c][a] Ps-Graduada em Fisioterapia Cardiorrespiratria pela Universidade de Franca (Unifran), Franca, SP - Brasil, e-mail:[email protected] [b] Especialista em Geriatria pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Ps-Graduanda em Fisioterapia Ortopdica, Traumatolgica e Desportiva pela Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais (PUC Minas), Poos de Caldas, MG - Brasil, e-mail: [email protected][c] Professora adjunta do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Tringulo Mineiro (UFTM), Uberaba, MG - Brasil, e-mail: [email protected][R]ResumoIntroduo:Oenvelhecimentoestligadoaogrupodealteraesdodesenvolvimentoqueocorremnos ltimosanosdevidaeestassociadoaalteraesprofundasnacomposiocorporal.Essaperdarela-cionadaidadefoidenominadasarcopenia.Objetivos:Avaliaraforamuscularnoprocessodeenve-lhecimentoeidentificarasvariaesentreosmsculosdoabdmen,membrossuperioreseinferiores. Materiais e mtodos: Participaram deste estudo 48 indivduos, que foram divididos em quatro grupos de acordo com a faixa etria: (G1) 11 a 18 anos, (G2) 20 a 26 anos, (G3) 45 a 60 anos e (G4) 66-82 anos. Os instrumentos de avaliao utilizados foram: 1) esfigmomanmetro (EM) para anlise da fora de flexores e extensores da articulao do joelho; 2) flexo de tronco em decbito dorsal para avaliao da fora dos msculos abdominais (graus 0 a 5); 3) dinammetro Jamar para avaliao da fora de preenso palmar; e 4) dinammetro Preston Pinch Gauge para avaliao da fora na pina dos dedos (polegar e indicador). Resultados: Foi observado crescente incremento da fora muscular de membros inferiores e superiores com o avanar da idade (G1, G2 e G3) e significativa diminuio da fora muscular em todos os segmentos avaliadosnoG4quandocomparadocomoG3.Foiobservadaimportantevariaoentreaforamuscu-lardossegmentosavaliadoseaidade.Otrabalhosugerequeadiminuiodaforamusculartorna-se Fisioter Mov. 2011 jul/set;24(3):455-62Pcoli TS, de Figueiredo LL, Patrizzi LJ.456evidente a partir da sexta dcada de vida, e que esta apresenta variaes entre os msculos do abdmen, membros superiores e inferiores. [#][P]Palavras-chave: Envelhecimento. Fora muscular. Sarcopenia. [#][B]AbstractIntroduction: The aging process refers to a group of developmental disorders that occur in recent years and is associated with profound changes in body composition. This age-related loss has been termed sarcopenia. Objectives: Evaluate the muscular strength in the ageing process and identify the changes between the abdomi-nalmuscles,upperandlouveredges.Materialsandmethods:48individualsparticipatedinthisstudy,being divided into four groups according to the age: (G1) 11 to 18 years old, (G2) 20 to 26 years old, (G3) 45 to 60 years old and (G4) 66-82 years old. The evaluation instruments used were: 1) sphygmomanometer (MS) to analyze the strength of flexors and extensors of the knee joint; 2) trunk flexion in the supine position to evaluate the strength of the abdominal muscles (grades 0-5); 3) Jamar dynamometer for evaluation of grip strengthand;4) Preston Pinch Gauge dynamometer to evaluate the strength of the gripperfingers (thumb and forefinger). Results: We have observed increasing development of the muscular strength of the upper and louver members with the ageing process (G1, G2 and G3) and significant decrease of the muscular strength of all segments tested in G4 when comparing with G3. We also observed an important variation between the muscular force of the tests segments andtheage.Theworksuggeststhatthedecreaseofthemuscularforcebecomesevidentfromthelifesixth decade and that there are variations of strength among the abdominal muscles, upper and louver members. [#][K]Keywords: Aging. Muscular strength. Sarcopenia. [#]Asarcopeniaestabeleceseussintomasprinci-palmenteemindivduosfisicamenteinativos,mas tambm vista em sujeitos que permanecem fisica-mente ativos ao longo de suas vidas, com isso corro-boram fatores pertinentes sade pblica. Diversos autores verificaram que o treinamento de fora pode minimizar ou retardar o processo de sarcopenia para obtersignificantesrespostasneuromusculares(hi-pertrofia muscular e fora muscular), por meio do aumento da capacidade contrtil dos msculos es-quelticos (4, 5).Estudos epidemiolgicos (6, 7) sugerem que di-ferentes fatores contribuem para o desenvolvimento da sarcopenia, incluindo alteraes hormonais, perda de neurnios motores, nutrio inadequada, inativi-dade fsica e baixo grau de inflamao crnica. Essas alteraes tm sido apresentadas at mesmo em in-divduos saudveis, fisicamente ativos, resultando em perda da massa muscular de, aproximadamente, 1% a 2% por ano, a partir dos 50 anos de idade (8). A diminuio da fora e da potncia do msculo podeinfluenciarnaautonomia,nobem-estarena qualidade de vida dos idosos (9). O objetivo deste estudo foi avaliar a fora muscu-larnoprocessodeenvelhecimentoeidentificaras IntroduoA populao de idosos est aumentando cada vez maisnoBrasilenomundo,resultandoemprofun-das mudanas na dinmica demogrfica. Nos ltimos 60 anos, houve um acrscimo de 15 milhes de in-divduosidososnoPas,passandode4%para9% da populao brasileira. Em 2025, estima-se um au-mento de mais de 33 milhes, tornando o Brasil o sexto pas com maior percentual populacional de idosos no mundo (1, 2).O envelhecimento est ligado ao grupo de altera-es do desenvolvimento que ocorrem nos ltimos anos de vida e est associado a alteraes profundas na composio corporal. Com a idade, h um aumen-to na massa de gordura corporal, especialmente com o acmulo de depsitos de gordura na cavidade ab-dominal, e uma diminuio da massa corporal magra. Essa diminuio ocorre basicamente como resultado das perdas da massa muscular esqueltica. Essa per-da, relacionada idade, foi denominada sarcopenia (3). O desenvolvimento da sarcopenia um processo multifatorial que inclui inatividade fsica, unidade motoraremodelada,nivelaodehormniodimi-nudo e diminuio da sntese de protena (4). Fisioter Mov. 2011 jul/set;24(3):455-62Sarcopenia e envelhecimento457e o outro membro posicionado em extenso. Durante o teste de extenso de joelho, os su-jeitos ficaram em decbito ventral, com os dois membros em extenso, o EM foi posicionado sob o tornozelo, tendo ento como base o pon-to de apoio (cho) e como topo o tornozelo. Oaparelhofoiinsufladoa140mmHgcomo ponto de referncia em ambos os testes. O vo-luntrio foi induzido a exercer esforo mximo, por meio de estmulos verbais de encorajamen-to de flexo e extenso do joelho (10).b)Flexo de tronco na posio supino: solicitou-se aos participantes que fizessem a flexo de tronco a partir do decbito dorsal, com os mem-bros inferiores em extenso, para a avaliao dafora dos msculos abdominais. Em todo o teste o paciente ficou com as mos entrelaa-das atrs da cabea. O paciente realizava o teste at o seu limite. A avaliao seguiu a graduao proposta por Kendall (11), em grau de 0-5.c)Dinammetro Jamar: Instrumento confivel e seguro para avaliar a fora de preenso palmar. O indivduo foi posicionado sentado com o om-bro aduzido em posio neutra, cotovelo fletido a 90 e antebrao em semipronao. Durante a preenso manual, o brao permaneceu imvel, havendo somente a flexo das articulaes in-terfalangeana e metacarpofalangeana.d)DinammetroPrestonPinchGauge:Instru-mento para avaliao da fora de pina dos de-dos (polegar e indicador). O paciente foi posi-cionado sentado, com o ombro aduzido e em posio neutra e o cotovelo fletido em ngulo reto. O polegar e o indicador foram posiciona-dos em discreta flexo da interfalngica pro-ximal,eosdemaisdedosnoenvolvidosna pina foram mantidos em semiflexo. Para todos os testes foram solicitados aos parti-cipantestrsrepetiessucessivas,sendooresul-tadofinalamdiadessesvalores.Esteestudofoi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa da Uni-versidade de Franca (Protocolo 088/08).Anlise estatsticaFoirealizadaumaanlisedescritivadasvariveis estudadas. A normalidade da distribuio da amos-tra foi testada aceitando-se valores de p > 0,05. Caso variaes entre os msculos do abdmen, membros superiores e inferiores.MetodologiaSujeitos Quarenta e oito indivduos participaram volun-tariamente deste trabalho, divididos em 4 grupos de 12 participantes, sendo 6 homens e 6 mulheres: (G1) 11 a 18 anos, (G2) 20 a 26 anos, (G3) 45 a 60 e (G4) 66-82 anos. Os participantes foram selecionados nas dependncias da Unifran e em residncias da cidade de Franca, So Paulo, Brasil. Os critrios de excluso envolveram pessoas que: praticavam atividade fsica com frequncia, acima de trs vezes/semana; tinham artrose severa, dficit cognitivo, obesidade; sofreram acidentevascularcerebral;efaziamusoderteses paramembroinferioroutinhamsofridofraturas, comousemimplantesmetlicos.Ossujeitos,aps serem previamente esclarecidos sobre os propsitos da investigao e procedimentos aos quais seriam submetidos, assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Protocolo 088/08).InstrumentaoParaaavaliaodaforamuscularforamutili-zados:oesfigmomanmetroBDparaanliseda fora de flexores e extensores de joelho; o dinam-metroJamarparaavaliaraintegridadefuncional dos membros superiores; e o dinammetro Preston Pinch Gauge para avaliao de pina das mos.Procedimentosa)Esfigmomanmetro(EM):foiutilizadopara anlise da fora de flexores e extensores da ar-ticulao do joelho. Antes de realizar o teste, o voluntriorecebeuasinstruesdecomode-veria proceder e foi solicitado que realizasse o movimento desejado uma nica vez, em cada segmento, como forma de aprendizagem, antes que o EM fosse posicionado e que o teste fosse iniciado. Durante o teste de flexo de joelho, os indivduos ficaram em decbito dorsal, com o membro a ser avaliado em uma flexo de 95 Fisioter Mov. 2011 jul/set;24(3):455-62Pcoli TS, de Figueiredo LL, Patrizzi LJ.458Tabela 1 - Mdias obtidas entre os grupos nas variveis estudadasFMId (mmHg)FMIe(mmHg)EMId(mmHg)EMIe(mmHg)PPd(Kg)PPe(Kg)Pd(Kg)Pe(Kg)FAb(0-5*)G1 (11-18 anos) 210,8 201,8 186,3 182,5 33,8 35,1 5,7 5,7 4,2G2 (20-26 anos) 221,8 225 206,1 198 42,6 40 7,5 6,5 4,5G3 (45-60 anos) 237,4 232,6 214,2 203,5 45,6 43,8 7,8 7,2 3,8G4 (66-82 anos) 192 199,5 199 198,1 34,4 33,1 4,7 4,0 2,2Legenda: FMId = exo membro inferior direito; FMIe = exo membro inferior esquerdo; EMId = extenso membro inferior direito; EMIe = extenso membro inferior esquerdo; PPd = preenso palmar direita; PPe = preenso palmar esquerda; Pd = pina direita; Pe = pina esquerda; FAb = fora abdmen; * = Kendall. Fonte: Dados da pesquisa.Tabela 2 - Dados referentes perda (%) de fora muscular no G4 nos segmentos estudadosFMId (mmHg)FMIe(mmHg)EMId(mmHg)EMIe(mmHg)PPd(Kg)PPe(Kg)Pd(Kg)Pe(Kg)FAb(0-5*)G4 (66-82 ano) 19,13% 14,24% 7,1% 2,7% 24,6% 24,5% 39,8% 44,5% 51,2%Legenda: FMId = exo membro inferior direito; FMIe = exo membro inferior esquerdo; EMId = extenso membro inferior direito; EMIe = extenso membro inferior esquerdo; PPd = preenso palmar direita; PPe = preenso palmar esquerda, Pd = pina direita; Pe = pina esquerda; FAb = fora abdmen; * = Kendall). Fonte: Dados da pesquisa.Foi observada diferena significativa (5% de sig-nificncia), em pelo menos um grupo, para as vari-veis FMId (p = 0,02), PPd (p = 0,01), Pd (p = 0,04), Pe (p = 0,01), FAb (p = 0,001), sendo consideradas estatisticamente iguais s variveis FMIe (p = 0,09), EMIe (p = 0,2), EMId (p = 0,06), PPe (p = 0,2) entre os grupos avaliados (Tabela 1).DiscussoEstudos evidenciam que a fora muscular atinge seu pico por volta dos 30 anos de idade e satisfa-toriamente preservada at os 50 anos (12). Durante a senescncia, ocorre diminuio da fora muscular, emumataxaquevariade20%a40%,napopula-oentre70-80anos.Aoconsideraridososnona-genrios, essa taxa agravada e a reduo da fora maior do que 50% (13). Contudo, um declnio da fora ocorre entre os 50 e 60 anos de idade e evolui lentamente, com um grau bem mais rpido de dimi-nuio aps os 60 anos (14). Sowers et al. (15), a partir de um estudo obser-vacional,apresentaramumarelaodiretaentrea indicativodenormalidadenadistribuio,oteste ANOVA foi utilizado para comparao dos dados nor-maiseparaosdadosnormaisapstransformao (teste de Johnson).Para os dados que no indicaram normalidade na distribuio da amostra mesmo aps transformao, foi utilizado o teste de Kruskal Wallis (no param-trico), sendo estabelecido o nvel de significncia de p < 0,05 para todas as anlises estatsticas. J para a anlise das variaes encontradas entre os mscu-losdoabdmen,membrossuperioreseinferiores foram comparados os valores mximos obtidos (G3 e G4 FAb) com o G4 (Tabela 2).ResultadosFoiobservadocrescenteincrementodafora musculardemembrosinferioresesuperiorescom oavanardaidade(G1,G2eG3)esignificativadi-minuio da fora muscular em todos os segmentos avaliadosnoG4quandocomparadocomoG3.Ob-servou-se importante variao entre a fora muscu-lar dos segmentos avaliados e a idade (Tabela 2).Fisioter Mov. 2011 jul/set;24(3):455-62Sarcopenia e envelhecimento459maisincapacidadesfsicasquandocomparadaaos somentesarcopnicos(S)ousomenteobesos(O). Entre os homens, o risco foi de 8,7 (S-O) versus 3,8 (S) versus 1,3 (O). Nas mulheres, foi de 12 (S-O) versus 3 (S) versus 2,2 (O) (18).Os comprometimentos adicionais na funo mus-cular, associados s doenas agudas ou crnicas, s hospitalizaes por trauma ou por cirurgia e ina-tividade, podem acelerar o declnio da fora muscu-lar (19). Com o aumento da populao idosa e da expecta-tiva de vida, comeam a surgir com maior frequncia doenasecomorbidadesrelacionadasaoprocesso de envelhecimento, como, por exemplo, a sarcopenia (14). O termo no deve ser considerado em casos de perda muscular associados a processos inflamatrios, perda de peso ou doenas em estgios avanados (20).Asarcopeniadoenvelhecimentoestassociada aodeclnioprogressivodamassae,consequente-mente,dafunomuscular(fora,potnciaeresis-tncia).Essedficitpodeserrelacionadoauma contrao muscular inadequada, seja em funo de alteraesnasprotenasactinaemiosinaoupor umestresseoxidativonasclulas.Oincioeapro-gresso dessa perda muscular esto relacionados perdademicitosviaapoptose,essaperdamais pronunciada nas fibras do tipo II (21, 22).Segundo Rebelatto et al. (23), as alteraes ana-tomofisiolgicas caractersticas do processo de en-velhecimentosomuitoimportantesdopontode vistafuncionaldosistemamuscular.Asarcopenia ocorre principalmente pela diminuio do peso mus-cular e diminuio da rea de seco transversal. Con-sequentemente,oidosotermenorqualidadeem sua contrao muscular, menor fora, menor coorde-nao dos movimentos e, provavelmente, maior pro-babilidade de sofrer acidente (por exemplo, quedas).Segundo Deschenes (7), o decrscimo no nme-ro de fibras musculares a principal causa de sarco-penia, embora a atrofia da fibra, particularmente do tipo II, tambm esteja envolvida. Para Rebelatto et al. (19), com o passar dos anos as fibras de contrao rpida ou do tipo II vo dimi-nuindo em nmero e volume e as fibras de contra-o lenta ou do tipo I tambm diminuem, mas em menor proporo que as primeiras. Esse fato talvez explique a menor velocidade que se observa nos mo-vimentos do idoso.Sabe-se que a fora gerada por um msculo no diretamenteproporcionalquantidadedefibra perda de massa muscular comum ao envelhecimen-to, diminuio de fora de membros inferiores e ve-locidade da marcha, alm do aumento do tempo da fase de apoio duplo na deambulao. Segundo esse estudo,aperdademassamagra,apesardeestar relacionada ao desempenho funcional, parece estar mais fortemente ligada fora de membros inferio-res (15). No entanto, no presente estudo foi obser-vadoocrescenteincrementodaforamuscularde membros inferiores e superiores com o avanar da idade(G1,G2eG3)esignificativadiminuioda fora muscular em todos os segmentos avaliados no G4quandocomparadocomoG3.Observou-seim-portantevariaoentreaforamusculardosseg-mentos avaliados e a idade (Tabela 2).Deschenes (12) e Kauffman (14) citam que, aps a quinta dcada de vida, a taxa de progresso de redu-o da fora se d em torno de 8% a 15% por dcada, e tanto homens quanto mulheres exibem o mesmo padro de diminuio da fora durante o envelheci-mento. Contudo, investigaes longitudinais tm re-velado diminuio da fora em idosos maior do que as apresentadas por estudos transversais.Homens e mulheres idosos com menor atividade fsica tm tambm menor massa muscular e maior prevalnciadeincapacidadefsica(16).Aprtica regulardeexercciosdesdeajuventudelentificaa perda muscular do idoso. E a interveno mais efi-caz para a preveno e recuperao da perda mus-cular so os exerccios de resistncia (17). A habili-dade para desempenhar atividades da vida diria, a massa e a fora muscular so bastante relacionadas entre si. No estudo do Novo Mxico, mulheres e ho-menssarcopnicostinham,respectivamente,3,6e 4,1 maiores chances de incapacidade quando com-paradosquelescommaiormassamuscular.Da mesma forma, o uso de rteses e a maior frequncia dequedasforammaisrelatadospelosidososcom menor massa muscular. Recentemente, o mesmo gru-podescreveumaiorprevalnciadesarcopeniaem mulheres idosas com grande prejuzo funcional. Oestudoaindamostrouaimportnciadeiden-tificarindivduosobesosesarcopnicos,umavez queoaumentodegorduracorporaleaestabilida-dedopesodificilmentesuscitaminteressesobrea perdamuscular.Nessapopulao,tantoobesidade quantosarcopeniaseassociaramalimitaesfun-cionais,incapacidadeemaiornmerodequedas, particularmente no sexo feminino. A populao sar-copnica e obesa (S-O) tinha alto risco para trs ou Fisioter Mov. 2011 jul/set;24(3):455-62Pcoli TS, de Figueiredo LL, Patrizzi LJ.460podeidentificaridososcomdiminuiodaforae potncia muscular de membros inferiores, com de-clnio funcional e risco para limitaes de membros inferiores (26).Um instrumento bastante utilizado para se esti-maraforamuscularglobalemidososaforade preenso palmar. De forma geral, os idosos que apre-sentam fora de preenso manual reduzida so se-dentrios, possuem dficits de massa corporal, apre-sentamproblemasdesadeelimitaesfuncionais ematividadesqueexigemaparticipaodosmem-bros superiores e inferiores. Portanto, essa medida deixa de ser apenas uma simples medida da fora da mo,limitadaavaliaodomembrosuperior,e passa a apresentar outras implicaes clnicas (27).Os valores da fora de preenso manual tm mos-tradoassociaosignificativacomaincapacidade funcional:indivduoscommenoresvaloresdefora apresentarammenorvelocidadedeandarerisco duasvezesmaiordeincapacidadedeautocuidado, sugerindoqueamedidadessavarivelnaidade adulta pode servir como fator prognstico de risco de incapacidade fsica na velhice (28).Aincapacidadefuncionalexercegrandeefeito negativo no bem-estar individual, gerando mais ne-cessidade de assistncia sade e cuidados por lon-gos perodos. Incapacidade funcional comumente definidacomoarestriodacapacidadedoindiv-duo de desempenhar atividades normais da vida di-ria.Refere-setambmalimitaesespecficasno desempenhodepapissocialmentedefinidosede tarefasdentrodeumambientesocioculturalefsi-co particular. Esto includas as atividades bsicas e instrumentais de vida diria, os papis no trabalho, nas atividades no ocupacionais, nos recreativos ou de lazer (29).ParaHunteretal.(30),odecrscimodafuno muscular, com a consequente diminuio da funcio-nalidade,podetornar-seumciclovicioso,vistoque a diminuio da funo muscular induz a uma baixa nonveldeatividadefsica,que,porsuavez,causa um decrscimo ainda maior na funo muscular com consequncias diretas na qualidade de vida do idoso. medidaqueapopulaoenvelhecetorna-se cadavezmaisevidenteanecessidadedoestudo dosfatoresassociadossarcopenia,vistoqueme-lhores e mais eficazes estratgias e intervenes de preveno e tratamento podero ser desenvolvidas paraminimizaraincapacidadeeotimizarainde-pendncia de idosos (19).muscular presente nele. Com base nesse fato, recen-tementeotermodinapenia(dyna=fora;penia= perda)foipropostoporClarkeManini(24)para definir a perda especfica da fora muscular relacio-nadaaoenvelhecimento,eparadissociaraperda de fora da perda de massa muscular. Essa recente informao,indicandoadissociaoentremassa musculareafora,suportaanoodequeoutras adaptaesdefunofisiolgica(celular,neurale metablica)somediadorasdaperdadeforare-lacionada idade. Isso sugere que ganhos de fora, a curto prazo, no esto relacionados a fatores as-sociados capacidade intrnseca do msculo. Esses fatoresconstituemumainteraocomplexaentre mudanas nas propriedades de ativao das unida-desmotoras,bemcomoaadaptaonocomando central para o aprendizado (24).Em2002,Janssen,HeymsfieldeRoss(25)de-senvolveram um novo mtodo para mensurao da sarcopeniarelativautilizandoumaestratgiapara correo da massa gorda, de modo a no influenciar noresultadodoclculo.Ondicedemsculoes-queltico(IME)foidefinidocomafrmula:massa muscular esqueltica (estimada por meio da anlise debioimpedncia)divididapelamassacorporal 100,oqueirrepresentaraporcentagemdemas-samuscularsobreamassacorporaldoindivduo. Nessemesmoestudofoielaboradoumsistemade classificao da sarcopenia, a fim de graduar a perda de massa muscular, bem como o impacto dessa per-da nas atividades funcionais de indivduos sarcop-nicos.AsarcopeniaclasseIconsideradapresente em indivduos em que o IME se encontra entre um e dois desvios-padres dos valores de adultos jovens, e a sarcopenia classe II est presente em indivduos quepossuemIMEabaixodedoisdesvios-padres dos valores de adultos jovens. Essa forma de classi-ficao semelhante forma utilizada para se clas-sificar a densidade mineral ssea em normal, oste-openiaeosteoporose.Clinicamente,aclassificao da sarcopenia elaborada por Janssen et al. (25) pa-rece no ser muito utilizada, porm tem sido forte-mente adotada por pesquisadores.Outro estudo demonstrou que a fora do joelho aliadaaoequilbriopreditoradodesenvolvimento de limitaes severas na caminhada. Essa limitao definida como velocidade de marcha menor que 0.4 m/s,inabilidadeparacaminharumquartodemi-lha ou inabilidade total de caminhar. Assim, pode-se concluir que a lentido da velocidade de marcha Fisioter Mov. 2011 jul/set;24(3):455-62Sarcopenia e envelhecimento46112.Deschenes MR. Effects of aging on muscle fibre type and size. Sports Medicine. 2004;34(12):809-24.13.GarciaPA.Sarcopenia,mobilidadefuncionalenvel de atividade fsica em idosos ativos da comunidade. [dissertao].BeloHorizonte:EscoladeEducao Fsica, Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Universi-dade Federal de Minas Gerais; 2008. 14.Kauffman TL. Manual de reabilitao geritrica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001.15.Sowers MR, Crutchfield M, Richards K, Wilkin MK, Furniss A, Jannausch M, et al. Sarcopenia is related to physical functioning and leg strength in middle-aged women. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2005;60(4):486-490. 16.VansWJ.Effectsofexerciseonsenescentmuscle. 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