sapse-manual de apoio-terceira edicao

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FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA Conselho Federativo Nacional Comissões Regionais ÁREA DO SERVIÇO DE ASSISTÊNCIA E PROMOÇÃO SOCIAL ESPÍRITA MANUAL DE APOIO SERVIÇO DE ASSISTÊNCIA E PROMOÇÃO SOCIAL ESPÍRITA FEB FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA CONSELHO FEDERATIVO NACIONAL 3ª. edição revisada e atualizada

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  • FEDERAO ESPRITA BRASILEIRA Conselho Federativo Nacional Comisses Regionais

    REA DO SERVIO DE ASSISTNCIA E PROMOO SOCIAL ESPRITA

    MANUAL DE APOIO

    SERVIO DE ASSISTNCIA

    E PROMOO SOCIAL

    ESPRITA

    FEB FEDERAO ESPRITA BRASILEIRA CONSELHO FEDERATIVO NACIONAL

    3. edio revisada e atualizada

  • 1

    SUMRIO

    PG Apresentao ...................................................................................................................................

    1 - Evoluo Histrica da Assistncia Social............................................................................ 1.1 - Assistncia Social atravs dos tempos ......................................................................

    1.1.1 - Assistncia Social antes do Cristo ............................................................... 1.1.2 - Assistncia Social com o Cristo e depois dele ........................................... 1.1.3 - Assistncia Social com o Espiritismo ..........................................................

    1.2 - Assistncia Social - da esmola promoo Integral do ser humano ............................... 1.2.1 - Instituies filantrpicas - prestadoras de Assistncia Social ....................

    2 - Servio de Assistncia e Promoo Social Esprita SAPSE .......................................... 2.1 - Fundamentao evanglico-doutrinria bsica .......................................................... 2.2 - Caractersticas gerais, finalidade educativa e objetivos do SAPSE .......................

    2.2.1 - Caractersticas gerais do SAPSE ............................................................. 2.2.2 - Finalidade educativa do SAPSE ............................................................... 2.2.3 - Objetivos do SAPSE .................................................................................. 2.2.4 - Reflexo .....................................................................................................

    3 - Metodologia de ao do SAPSE ........................................................................................

    4 - Organizao do SAPSE ....................................................................................................... 4.1 - Locais de realizao do SAPSE ................................................................................ 4.2 - Programas de atendimento do SAPSE ..................................................................... 4.3 - Atividades que integram os subprogramas ...............................................................

    4.3.1 - Observaes gerais sobre essas atividades ............................................. 4.3.1.1 - Triagem ................................................................................... 4.3.1.2 - Entrevista ................................................................................ 4.3.1.3 - Visita Famlia ou Visita Domiciliar ........................................ 4.3.1.4 - Distribuio de alimentos, gneros e utilidades em geral 4.3.1.4.1 - Distribuio de alimentos ..................................... 4.3.1.4.2.-. Distribuio de gneros e utilidades em geral 4.3.1.5. Controle dos atendimentos do SAPSE .................................. 4.3.1.6 - Controle de arrecadao, distribuio e estoque .................. 4.3.1.7 - Regimentos internos ...............................................................

    5 - Plano de Ao Elaborao ............................................................................................... 5.1 - Caractersticas do pblico destinatrio da ao do SAPSE ...................................... 5..2 - Elementos humanos disponiveis a equipe de voluntrios ...............

    ........................................ 5.2.1 - Seleo e capacitao de voluntrios........................................................... 5.2.1.1 - Seleo de voluntrios.......................................................................................................... 5.2.1.2 - Capacitao.de voluntrios.............................................................................................. 5.2.1.2.1 - Reunies para capacitao de voluntrios.............................................................. 5.3 - Integrao entre voluntrios e usurios ....................... 5.4 - Caractersticas dos voluntrios ..............................................

    5.5 - Responsabilidades dos voluntrios ........................................ 5.6 - Formao doutrinria dos voluntrios ................................... 5.7 - Recursos materiais disponveis: ambiente (local) e recursos financeiros........ .......

    6 - Entrosamento do SAPSE com as diversas reas do Centro Esprita ............................

    7 - Conceitos e fundamentos constitucionais e legais da Assistncia Social ................. 7.1 - Alguns conceitos de interesse do SAPSE: ............................................................................ 7.2 - Fundamentos constitucionais e legais da Assistncia Social .............................................. 7.3 - Legislao da Assistncia Social ...........................................................................................

  • 2

    7.4 - Principais compromissos e prerrogativas do SAPSE ...........................................................

    Leitura recomendada ...................................................................................................................

    Referncias bibliogrficas ...........................................................................................................

    Anexos ............................................................................................................................................

  • 3

    APRESENTAO Como decorrncia natural dos pr incpios doutr inrios

    que norteiam as suas at ividades, o trabalho assistencial real izado pelo Movimento Espr ita junto s populaes que vivem em situao de vulnerabi l idade social, resultante da pobreza, pr ivao al imentar ou ausncia de renda, mostra-se bastante amplo, indo desde uma pequena e eventual distr ibuio de al imentos e roupas usadas at obras sociais de grande vulto. A sua esfera de ao , tambm, muito abrangente, alcanando no s as at ividades real izadas junto sociedade em geral, como tambm as at ividades relacionadas com o Poder Pblico, no trato das questes que dizem respeito assistncia e promoo social .

    Dentro do seu trabalho sol idrio de colaborar com a s at ividades desenvolvidas pelos Centros e demais Inst ituies Espr itas, o Conselho Federativo Nacional da FEB, que rene Ent idades Federat ivas de todos os Estados do pas, aprovou diretr izes e recomendaes que constam dos documentos A Adequao do Centro Espr ita para o melhor atendimento de suas f inal idades (ACE) e Orientao ao Centro Espr ita (OCE).

    Em relao ao Servio de Assistncia e Promoo Social Espr ita, como uma das at ividades bsicas do Centro Espr ita, esses documentos recomendam:

    1. I I - h) promover o servio de assistncia social espr ita, assegurando suas caracterst icas benef icentes, preventivas e promocionais, conjugando a ajuda material e espir itual, fazendo com que este servio se desenvolva concomitantemente com o atendimento s neces sidades de evangel izao. (ACE)

    2. VIII - 4 - a) O Servio de Assistncia e Promoo Social Espr ita deve ser real izado sem imposies, de forma integrada, com orientao doutr inr ia e assistncia espir itual, de modo que possa constituir -se em um dos meios para a l ibertao espir itual do homem, f inal idade primordial da Doutr ina Espr ita. (OCE)

    Tendo em vista a amplitude e a diversif icao dos assuntos at inentes a esse trabalho e no desempenho da sua natural atr ibuio, foi inst ituda no mbito das Comisses Regionais, entre outras, a Assessoria da rea do Servio de Assistncia e Promoo Social Espr ita (SAPSE), com o objet ivo de organizar, de forma integrada com as Entidades Federativas, as at ividades de apoio ao Centro Espr ita para o cumprimento das suas f inal idades nesta rea, de forma compatvel com as recomendaes cont idas nos textos supracitados.

  • 4

    No decorrer dos trabalhos das Comisses Regionais, logo se evidenciou a necessidade de ser elaborado um Manual de Apoio para as at ividades que devem ser de senvolvidas pelos Centros Espr itas na rea do Servio de Assistncia e Promoo Social Espr ita, com sua fundamentao evanglico-doutr inr ia, suas caracterst icas, seus objet ivos e suas diretr izes de trabalho.

    A tarefa de elaborao desse Manual passou a ser executada, representando o esforo comum dos companheiros responsveis por esta rea em todo o terr itr io nacional. Uma vasta bibl iograf ia foi consultada e procurou-se dar ateno especial s exper incias signif icantes relatadas pelas Ent idades Federativas. As recomendaes do CFN da FEB constantes do opsculo Orientao ao Centro Espr ita (OCE) serviram de diretr izes para a elaborao deste Manual de Apoio, que, em sntese, se prope a desenvolver e a expl ic itar as orientaes e recomendaes contidas naquele opsculo.

    oportuno tambm registrar a part ic ipao da USE Unio das Sociedades Espr itas do Estado de So Paulo, nesta tarefa, j que, para servir de base elaborao do presente Manual, cedeu, genti lmente, o seu l ivro Servio Assistencial Espr ita (9). Este l ivro, publicado inic ialmente na forma de aposti la em 1981 e revisado, ampliado e atualizado em 1984 e 1995, representou o esforo de uma equipe de trabalhadores da USE e faz parte deste Manual em sua quase total idade.

    Este Manual de Apoio para as at ividades do SAPSE, lanado em 1. edio no ano de 2000, como apost i la e, em 2 edio, no formato de l ivro, em 2007, const itui-se, assim, em mais um resultado posit ivo das at ividades de Unif icao do Movimento Espr ita. Esta 3 edio, revisada e atual izada, no pretende apresentar um trabalho def init ivo, uma vez que o seu contedo pode e deve ser aprimorado e enriquecido ao longo do tempo por meio, inclusive, das experincias que forem sendo colhidas com a sua apl icao.

    Brasl ia, 20 de janeiro de 2012.

    rea do Servio de Assistncia e Promoo Social Espr ita do Conselho

    Federat ivo Nacional da FEB

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    1 - EVOLUO HISTRICA DA ASSISTNCIA SOCIAL

    A Assistncia Social encontrada em todas as civilizaes desde a mais remota antiguidade. Para melhor compreenso da sua abrangncia, eis alguns marcos histricos:

    1.1 - Assistncia Social atravs dos tempos

    1.1.1 - Assistncia Social antes do Cristo

    Egpcios 5000 anos a.C. respeitavam o prximo e reverenciavam os mortos. Babilnios 3000 anos a.C. dispensavam consolo aos aflitos e no separavam os

    casais de escravos. Acreditavam em um deus superior, embora adorassem as foras da natureza. Hamurabi (1730 anos a.C.) foi rei babilnico e deu a seu povo um cdigo de leis com a finalidade de implantar justia na Terra, destruir os maus e o mal, prevenir a opresso do fraco pelo forte, iluminar o mundo e propiciar o bem-estar do povo.

    Hindus 600 anos a.C. apareceu Buda, o fundador do Budismo, que ensinava, por parbolas, a tolerncia, a igualdade e a bondade. O sistema de moral resumia-se na cincia, energia, pureza, pacincia, caridade e esmola. Trezentos anos antes de Cristo criado, na ndia, o primeiro hospital da histria, onde eram atendidas pessoas e animais. Os hindus acreditavam na transmigrao da alma dos homens para os animais (metempsicose).

    Chineses Confcio 600 anos a.C. ensinava a bondade e a lealdade, a fim de se alcanar um ideal superior. Os chineses condenavam a guerra.

    Gregos eram muito intelectuais, cultivavam as artes dando-lhes carter religioso; respeitavam o trabalho e valorizavam a hospitalidade. A Grcia foi bero de cultura filosfica, onde viveram Scrates, Plato e Aristteles (455-322 a.C.). As idias de fraternidade e assistncia eram superficiais e obedeciam a interesses pessoais e polticos.

    Romanos davam aos pais poder absoluto sobre os filhos; tratavam os escravos com rudeza. Quando havia problemas sociais, ameaando a segurana do trono, era hbito servir ao povo banquetes seguidos de distribuio de mantimentos e dinheiro, a fim de ser aplacada a ira do povo, sufocando possveis revoltas. Era uma medida meramente paliativa.

    Judeus entre os povos antigos foram os primeiros a manifestar noes de generosidade, conquanto ainda de forma confusa. Eram mais bem instrudos sobre Deus e os homens; defendiam preceitos sociais mais aperfeioados; tinham mais considerao pela mulher e a idia de fraternidade era mais desenvolvida; cuidavam dos mais fracos, do pobre, das crianas e dos estrangeiros; pagavam o dzimo em favor do pobre; castigavam os que exploravam o semelhante, cobrando juros excessivos; recomendavam o amor ao prximo, mas no ao inimigo.

    1.1.2 - Assistncia Social com o Cristo e depois dele

    Com Jesus Cristo a assistncia resplandece em cada ato, como est gravado nas pginas do Evangelho, abrangendo o trplice sentido de universalidade: 1) alcana a todos os homens: escravos, inimigos e perseguidos; 2) estende-se alm do campo material, atendendo tambm s necessidades morais e espirituais, visando ao mesmo tempo o corpo e a alma; 3) penetra todas as instituies, dilatando o conceito de justia e de fraternidade.

    O Evangelho de Jesus d a base para a verdadeira caridade e amplia o conceito de amor ao prximo, conforme se depreende dos ensinos abaixo: (2)

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    O Bom Samaritano (Lucas 10: 25-37).

    Tudo o que quereis que os homens vos faam, fazei tambm a eles... (Mateus 7:12). Tratai todos os homens como querereis que eles vos tratassem. (Lucas 6:31). O que necessrio para salvar-se (Mateus 25:31-46).

    O amor aos inimigos (Mateus 5:43-47; Lucas 6:32-36). A Igreja do Caminho, casa dos apstolos, em Jerusalm, seguindo os preceitos de

    Jesus, prestava socorro aos necessitados, com carinho e dedicao. Atendia loucos, ancios abandonados, crianas esqulidas e famintas; servia sopa aos mendigos. A palavra evanglica era difundida com entusiasmo e amor.

    Mais tarde, com a expanso do Cristianismo, foram fundadas as Diaconias, com o fim de atender o pobre e organizar a assistncia corporal e espiritual. A mulher (diaconisa) era encarregada de amparar os rfos, vivas e doentes.

    Com a peste em Cartago e o tifo em Alexandria, os cristos se dedicavam dia e noite ao atendimento dos doentes e ao sepultamento dos mortos: todos eram considerados irmos, e os escravos tratados como seres humanos; a assistncia se estendia aos moribundos e aos encarcerados.

    Trajano, imperador romano (ano 98), estabelece, em Roma, a assistncia pblica, em carter ainda poltico: sustentava 300 crianas para se tornarem futuros soldados.

    Em Constantinopla (ano 312), criado por Santa Helena -- me de Constantino, convertido ao Cristianismo -- o primeiro hospital cristo.

    Da por diante, foram surgindo hospedarias, para viajantes e peregrinos; abrigos, para velhos, doentes e indigentes; creches e ambulatrios. Ao redor das igrejas, desenvolviam-se escolas, hospedarias e hospitais conhecidos pelo nome de Casas de Deus ou Santas Casas. Os monges desenvolviam a agricultura, protegiam e auxiliavam as populaes agrupadas em torno dos seus mosteiros.

    No Sculo XII, apareceram vrias congregaes beneficentes; na Frana, havia 2000 hospitais e 200 leprosrios cristos. So Lus, rei da Frana, alimentava os pobres e fundou um retiro para cegos. Na Hungria, Santa Isabel consagrou a vida aos pobres. So Francisco de Assis (Itlia), Santa Isabel, de Portugal, Santa Catarina, Papa Leo IX e outros foram heris da caridade nessa poca.

    A reforma religiosa (Sculo XVI), provocada em parte pelo abuso do clero, d origem ao Protestantismo. Era uma poca de pobreza, provocada pelas guerras. As obras assistenciais so absorvidas pelo governo com resultados negativos. fundado o Exrcito da Salvao com a finalidade de acabar com a pobreza e desenvolver uma ao moral e religiosa.

    No Sculo XVIII, So Vicente de Paulo deu novos rumos assistncia, desenvolvendo a visita casa dos pobres a fim de melhor conhec-los nas suas necessidades e problemas. Juntamente com Luiza de Marilac, funda a Associao das Damas de Caridade, estendendo seu programa assistencial.

    Em 1833, aparece Frederico Ozanam, estudante de Medicina, que organiza a Conferncia Vicentina, cuja finalidade era visitar o pobre a domiclio, segundo So Vicente de Paulo, hbito que se espalhou por todo o mundo.

    Por iniciativa, trabalho e apelo do suo Henri Dunant, em 1864, organizada a Cruz Vermelha, destinada a socorrer os feridos de guerra.

    No Brasil, em 1530, Nbrega e Anchieta, vindos de Portugal, dedicam-se ao trabalho de catequese do ndio e assistncia em geral.

    Brs Cubas, em 1543, cria a primeira Santa Casa, em Santos, que se multiplica por todo o Brasil.

    Fabiano de Cristo, portugus, por volta de 1700, veio para o Brasil, ingressando mais tarde na ordem dos franciscanos. Dedicou a vida prtica da assistncia aos doentes e necessitados.

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    1.1.3 - Assistncia Social com o Espiritismo

    O Espiritismo, com Allan Kardec, traz nova luz tarefa assistencial. Realando a responsabilidade dos seus seguidores pelo preceito Fora da Caridade no h Salvao, fundamenta a prtica da fraternidade no Evangelho do Cristo. Destacam-se os captulos X, XI, XII, XIII e XV de O Evangelho segundo o Espiritismo sobre o assunto.

    A primeira campanha promovida por entidade esprita de que se tem notcia foi a lanada por Kardec na Revista Esprita, janeiro de 1863, com o objetivo de arrecadar recursos para socorrer os operrios de Rouen, Frana, vitimados por rigoroso inverno. Graas s doaes recebidas foi possvel levar alguma tranqilidade a inmeras famlias em estado de privao.

    No Brasil, muitos foram os espritas cuja dedicao e amor, no campo assistencial, se transformaram em exemplo. Dentre eles, destacam-se Bezerra de Menezes, Eurpedes Barsanulfo, Anlia Franco e Batura.

    Adolfo Bezerra de Menezes (1831-1900) apstolo do Espiritismo. Como mdico, dedicou-se, com grande desapego e amor, assistncia aos doentes e a todos que o procuravam, necessitados de auxlio.

    Eurpedes de Barsanulfo (1880-1918), natural de Sacramento-MG, educador, esprita, dotado de diversas faculdades medinicas, dedicou a vida educao do jovem, aos aflitos e abandonados pela sorte. Atendia a todos que o procuravam e ainda, em momentos de folga, saa pelos arrabaldes da cidade a socorrer doentes, assistindo os necessitados de toda ordem e pregando a doutrina do amor ao prximo. (7)

    Anlia Franco (1856-1919), emrita educadora, entregava-se, de corpo e alma, prtica do bem. Fundou e supervisionou mais de setenta asilos, creches e escolas espalhadas por vrios Estados brasileiros. A sntese do seu pensamento era: O nosso fim procurar diminuir cada vez mais em nosso meio a necessidade da esmola pelo desenvolvimento da educao e do trabalho, de que provm o bem-estar e a moralidade das classes pobres. Eduquemos e amparemos as pobres crianas que necessitam de nosso auxlio, arrancando-as das trilhas dos vcios, tornando-as cidados teis e dignos para o engrandecimento de nossa ptria. (6)

    Antonio Gonalves da Silva Batura (... -1909), portugus, veio para o Brasil ainda criana e, como imigrante, aqui cresceu e desenvolveu a sua obra de dedicao ao prximo. Em 1873, por ocasio da epidemia de varola, assistiu os doentes e flagelados com verdadeiro esprito de renncia, dando no apenas o remdio, mas tambm o po, o teto e o agasalho. Comeou como jornaleiro e terminou seus dias como jornalista esprita. Foi o fundador e impressor do jornal Verdade e Luz.

    Em 20 de abril de 1890, criada na Federao Esprita Brasileira, ento sob a presidncia do mdico homeopata Dr. Francisco Dias da Cruz, a Assistncia aos Necessitados, com o objetivo de assistir, nas suas necessidades materiais e espirituais, os que viviam em penria fsica ou moral. Dada a sua importncia, a Assistncia aos Necessitados tornou-se o centro das aes promovidas pela FEB na sua tarefa de divulgao do Espiritismo, transformando-se, mais tarde, no Departamento de Assistncia Social.

    1.2 - Assistncia Social - da esmola promoo Integral do ser humano

    A Assistncia Social na antigidade e at o Sculo XVIII e incio do Sculo XIX tinha o aspecto de doao apenas. com So Vicente de Paulo, e depois com Frederico Ozanam, que comea a ser direcionada s necessidades reais do indivduo.

    Hoje em dia, o enfoque o da promoo do ser humano (corpo e esprito) pelo trabalho, a fim de que ele possa participar ativamente da sociedade, usufruindo direitos e exercitando deveres perante o Estado.

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    1.2.1 - Instituies filantrpicas - prestadoras de Assistncia Social

    No cenrio dos dias de Allan Kardec havia surgido um novo elemento nas relaes sociais: o operrio das fbricas, que no conseguia, com o salrio obtido por meio do trabalho, atender s suas necessidades. Era o pobre do sculo XIX, diferente daquele do perodo medieval: um vadio que andava de cidade em cidade, pedindo esmola em situao de degradao moral.

    Do sculo passado aos dias de hoje, o processo das relaes sociais construiu uma organizao social contraditria. De um lado, o aumento, em pases como o Brasil, dos segmentos dos que trabalham, mas que so pobres, isto , no conseguem, com o que ganham, atender s suas necessidades bsicas; de outro lado, a elaborao do conceito de cidadania, que significa ter direitos e deveres.

    Da Idade Mdia ao perodo atual, o ser humano (o Esprito reencarnado, na viso esprita) vem construindo, mediante as relaes sociais que engendra em torno da sua ao no mundo, a sociedade desenhada por Vicente de Paulo: da pobreza, como fenmeno natural e individual, que se resolve com a esmola, para o entendimento da modernidade, que a coloca como excluso social1, que se supera com o resgate da cidadania, isto querendo dizer, garantia dos direitos sociais.

    Os milhes de brasileiros reconhecidos pelo Instituto de Pesquisa Econmico e Social Aplicada (IPEA) no mapa da fome so excludos sociais, por no terem garantidos os seus direitos de acesso aos bens, servios e benefcios da sociedade. Esses milhes de indivduos, na sua condio de cidados em situao temporria ou permanente de incapacidade social, esto entre os fracos, no dizer de Vicente de Paulo. Em conseqncia, a sociedade deve estar de tal maneira organizada que lhes possa garantir o atendimento das necessidades bsicas.

    No Brasil, foi necessrio um longo processo de construo social para que a assistncia social pudesse, hoje, ser considerada dever do estado e direito do cidado, conforme estabelece o artigo 203 da Constituio Federal.

    Este dispositivo est regulamentado pela Lei 8.742 Lei Orgnica da Assistncia Social (LOAS) , que, em seu artigo 1, define a assistncia social da seguinte forma: A Assistncia social, direito do cidado e dever do Estado, Poltica de Seguridade Social no contributiva, que prov os mnimos sociais, realizada atravs de um conjunto de aes de iniciativa pblica e da sociedade, para garantir o atendimento s necessidades bsicas.

    uma nova concepo da assistncia social, superando a tradicional filantropia, que atravessou os sculos, no Brasil, em sua prtica assistencialista, considerada por muitos como paternalista e ingnua.

    importante registrar que as leis, a exemplo da Lei Orgnica da Assistncia Social (LOAS), so, de acordo com O Livro dos Espritos (pergunta 797): fruto das foras das coisas e da influncia das pessoas sobre o progresso.

    A LOAS estabelece que os direitos sejam garantidos mediante servios, programas e projetos implementados nos municpios, propondo, para tanto, a criao de Conselhos Municipais de Assistncia Social (CMAS). Os CMAs tm poderes deliberativos sobre a Poltica Municipal de Assistncia Social em nome das organizaes governamentais e no-governamentais.

    Isso significa que as instituies filantrpicas, historicamente comprometidas com o enfrentamento da pobreza na qualidade de prestadoras de assistncia social, a partir da LOAS passam, tambm, a participar do estabelecimento das polticas, na definio das prioridades e no controle das verbas.

    1 O conceito de excluso social envolve situao de falta de acesso a oportunidades oferecidas

    pela sociedade; implica privao, falta de recursos, ausncia de cidadania e acesso sade, educao e aos direitos bsicos.

  • 9

    Retornando a Vicente de Paulo, na questo 888-a de O Livro dos Espritos, registramos: Sede, portanto, caridosos, no somente dessa caridade que vos leva a tirar do bolso o bolo que friamente atirais aos que ousam pedir-vos, mas ide ao encontro das misrias ocultas.

    O Espiritismo afirma a concepo de cidadania como est colocada, hoje, na sociedade ocidental, mas a amplia, conforme expressa a pergunta 880 de O Livro dos Espritos (o primeiro de todos os direitos naturais do homem o de viver), porque o homem um Esprito que reencarna, e reencarna para progredir. Portanto, tudo o que lhe seja necessrio para assegurar a existncia corprea direito natural. Ainda que seja direito de usufruto, no de propriedade, no sentido restrito do termo.

    Em conseqncia, a caridade supera a concepo reducionista e tradicional de esmola (ajuda material) e passa a definir-se como ir ao encontro do prximo. A caridade no est no que se d, mas na relao que se estabelece com o outro, relao esta que se apresenta num processo amoroso de envolvimento do ser com outro ser.

    O Centro Esprita, portanto, deve ser um espao de convivncia, em que a fraternidade no seja apenas um ideal, mas um exerccio de construo de relaes. Mais do que uma casa prestadora de servios (de alimentos, de roupas etc), um espao de convivncia, onde o usurio de seus servios, em sua condio de cidado sujeito de direitos , gosta de estar, sente-se bem em estar, recebido como , com o seu jeito, com as suas caractersticas, com a sua forma de falar, e onde encontra quem se disponha a conversar com ele de forma natural, de irmo para irmo, dando-lhe tempo para que caminhe do ponto em que se encontra e permita acesso ao seu corao, abrindo-se, tambm, para o corao do outro, semelhana do Bom Samaritano da histria evanglica.

    2 - SERVIO DE ASSISTNCIA E PROMOO SOCIAL ESPRITA - SAPSE

    O Servio de Assistncia e Promoo Social Esprita, abreviadamente SAPSE,

    inteiramente fundamentado no Evangelho de Jesus e nos ensinos dos Espritos Superiores consubstanciados na Codificao Esprita. Suas caractersticas, seus objetivos, sua finalidade educativa e sua metodologia de ao assentam-se nessa base evanglico-doutrinria, formando um todo filosfico harmnico inspirado nos princpios da caridade crist.

    2.1 - Fundamentao evanglico-doutrinria bsica

    Caridade: seu verdadeiro sentido Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?

    Benevolncia para com todos, indulgncia para as imperfeies dos outros, perdo das ofensas.

    O amor e a caridade so o complemento da lei de justia, pois amar o prximo fazer-lhe todo o bem que nos seja possvel e que desejramos nos fosse feito. Tal o sentido destas palavras de Jesus: Amai-vos uns aos outros como irmos. O Livro dos Espritos, questo 886. (1)

    Caridade: virtude maior Ainda quando eu falasse todas as lnguas dos homens e a lngua dos prprios anjos, se eu no tiver caridade, serei como o bronze que soa e um cmbalo que retine; - ainda

  • 10

    quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistrios, e tivesse perfeita cincia de todas as coisas; ainda quando tivesse toda a f possvel, at ao ponto de transportar montanhas, se no tiver caridade, nada sou. - E, quando houvesse distribudo os meus bens para alimentar os pobres e houvesse entregado meu corpo para ser queimado, se no tivesse caridade, tudo isso de nada me serviria. A caridade paciente; branda e benfazeja; a caridade no invejosa; no temerria, nem precipitada; no se enche de orgulho; no desdenhosa; no cuida de seus interesses; no se agasta, nem se azeda com coisa alguma; no suspeita mal; no se rejubila com a injustia, mas se rejubila com a verdade; tudo suporta, tudo cr, tudo espera, tudo sofre. Agora, estas trs virtudes: a f, a esperana e a caridade permanecem; mas, dentre elas, a mais excelente a caridade. S. Paulo, 1 Epstola aos Corntios, 1 a 7 e 13. O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XV, item 6. (2)

    Caridade e famlia A lei da Natureza impe aos filhos a obrigao de trabalharem para seus pais?

    Certamente, do mesmo modo que os pais tm que trabalhar para seus filhos. Foi por isso que Deus fez do amor filial e do amor paterno um sentimento natural. Foi para que, por essa afeio recproca, os membros de uma famlia se sentissem impelidos a ajudarem-se mutuamente, o que, alis, com muita freqncia se esquece na vossa sociedade atual. O Livro dos Espritos, questo 681. (1) Tem o homem o direito de repousar na velhice?

    Sim, que a nada obrigado, seno de acordo com as suas foras.

    a) - Mas, que h de fazer o velho que precisa trabalhar para viver e no pode? O forte deve trabalhar para o fraco. No tendo este famlia, a sociedade deve fazer as vezes desta. a lei de caridade. - O Livro dos Espritos, questo 685. (1)

    Caridade e educao No basta se diga ao homem que lhe corre o dever de trabalhar. preciso que aquele que tem de prover sua existncia por meio do trabalho encontre em que se ocupar, o que nem sempre acontece. Quando se generaliza, a suspenso do trabalho assume as propores de um flagelo, qual a misria. A cincia econmica procura remdio para isso no equilbrio entre a produo e o consumo. Mas, esse equilbrio, dado seja possvel estabelecer-se, sofrer sempre intermitncias, durante as quais no deixa o trabalhador de ter que viver. H um elemento, que se no costuma fazer pesar na balana e sem o qual a cincia econmica no passa de simples teoria. Esse elemento a educao, no a educao intelectual, mas a educao moral. No nos referimos, porm, educao moral pelos livros e sim a que consiste na arte de formar os caracteres, que incute hbitos, porquanto a educao o conjunto dos hbitos adquiridos. O Livro dos Espritos, comentrios questo 685. (1)

    Caridade e solidariedade evidente que, se no fossem os preconceitos sociais, pelos quais se deixa o homem dominar, ele sempre acharia um trabalho qualquer, que lhe proporcionasse meio de viver, embora deslocando-se da sua posio. Mas, entre os que no tm preconceitos ou os pem de lado, no h pessoas que se vem na impossibilidade de prover s suas necessidades, em conseqncia de molstias ou outras causas independentes da vontade delas?

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    Numa sociedade organizada segundo a lei de Cristo ningum deve morrer de fome.

    Com uma organizao social criteriosa e previdente, ao homem s por culpa sua pode faltar o necessrio. Porm, suas prprias faltas so freqentemente resultado do meio onde se acha colocado. Quando praticar a lei de Deus, ter uma ordem social fundada na justia e na solidariedade e ele prprio tambm ser melhor. O Livro dos Espritos, questo 930. (1)

    Caridade e esmola Que se deve pensar da esmola? Condenando-se a pedir esmola, o homem se degrada fsica e moralmente: embrutece-se. Uma sociedade que se baseie na lei de Deus e na justia deve prover vida do fraco, sem que haja para ele humilhao. Deve assegurar a existncia dos que no podem trabalhar, sem lhes deixar a vida merc do acaso e da boa-vontade de alguns. a) - Dar-se- reproveis a esmola? No; o que merece reprovao no a esmola, mas a maneira por que habitualmente dada. O homem de bem, que compreende a caridade de acordo com Jesus, vai ao encontro do desgraado, sem esperar que este lhe estenda a mo. " O Livro dos Espritos, questo 888. (1)

    Caridade e Jesus Ora, quando o Filho do homem vier em sua majestade, acompanhado de todos os anjos, sentar-se- no trono de sua glria; - reunidas diante dele todas as naes, separar uns dos outros, como o pastor separa dos bodes as ovelhas, - e colocar as ovelhas sua direita e os bodes sua esquerda. Ento, dir o Rei aos que estiverem sua direita: vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do reino que vos foi preparado desde o princpio do mundo; - porquanto, tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; careci de teto e me hospedastes; - estive nu e me vestistes; achei-me doente e me visitastes; estive preso e me fostes ver. Ento, responder-lhe-o os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? - Quando foi que te vimos sem teto e te hospedamos; ou despido e te vestimos? - E quando foi que te soubemos doente ou preso e fomos visitar-te? - O Rei lhes responder: Em verdade vos digo, todas as vezes que isso fizestes a um destes mais pequeninos dos meus irmos, foi a mim mesmo que o fizestes. Dir em seguida aos que estiverem sua esquerda: Afastai-vos de mim, malditos; ide para o fogo eterno, que foi preparado para o diabo e seus anjos; - porquanto, tive fome e no me deste de comer, tive sede e no me destes de beber; precisei de teto e no me agasalhastes; estive sem roupa e no me vestistes; estive doente e no crcere e no me visitastes. Tambm eles replicaro: Senhor, quando foi que te vimos com fome e no de demos de comer, com sede e no te demos de beber, sem teto ou sem roupa, doente ou preso e no te assistimos? - Ele ento lhes responder: Em verdade vos digo: todas as vezes que faltastes com a assistncia a um destes mais pequenos, deixastes de t-la para comigo mesmo. E esses iro para o suplcio eterno, e os justos para a vida eterna. (S. Mateus, cap. XXV, vv. 31 a 46.) O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XV, item 1. (2)

    Caridade e amor ao prximo Ento, levantando-se, disse-lhe um doutor da lei, para o tentar: Mestre, que preciso fazer para possuir a vida eterna? - Respondeu-lhe Jesus: Que o que est escrito na lei? Que o que ls nela? Ele respondeu: Amars o Senhor teus Deus de todo o

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    corao, de toda a tua alma, com todas as tuas foras e de todo o teu esprito, e a teu prximo como a ti mesmo. - Disse-lhe Jesus: Respondeste muito bem; faze isso e vivers. Mas, o homem, querendo parecer que era um justo, diz a Jesus: Quem o meu prximo? - Jesus, tomando a palavra, lhe diz: Um homem, que descia de Jerusalm para Jeric, caiu em poder de ladres, que o despojaram, cobriram de ferimentos e se foram, deixando-o semimorto. - Aconteceu em seguida que um sacerdote, descendo pelo mesmo caminho, o viu e passou adiante. - Um levita, que tambm veio quele lugar, tendo-o observado, passou igualmente adiante. - Mas, um samaritano que viajava, chegando ao lugar onde jazia aquele homem e tendo-o visto, foi tocado de compaixo. - Aproximou-se dele, deitou-lhe leo e vinho nas feridas e as pensou; depois, pondo-o no seu cavalo, levou-o a uma hospedaria e cuidou dele. - No dia seguinte tirou dois denrios e os deu ao hospedeiro, dizendo: Trata muito bem deste homem e tudo o que despenderes a mais, eu te pagarei quando regressar. Qual desse trs te parece ter sido o prximo daquele que cara em poder dos ladres? - O doutor respondeu: Aquele que usou de misericrdia para com ele. - Ento, vai, diz Jesus, e faze o mesmo. (S. Lucas, cap. X, 10:25 a 37.) O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XV, item 2. (2)

    Caridade sem ostentao Nas grandes calamidades, a caridade se emociona e observam-se impulsos generosos, no sentido de reparar os desastres. Mas, a par desses desastres gerais, h milhares de desastres particulares, que passam despercebidos: os dos que jazem sobre um grabato sem se queixarem. Esses infortnios discretos e ocultos so os que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem esperar que peam assistncia. Quem esta mulher de ar distinto, de traje to simples, embora bem cuidado, e que traz em sua companhia uma mocinha to modestamente vestida? Entra numa casa de srdida aparncia, onde sem dvida conhecida, pois que entrada a sadam respeitosamente. Aonde vai ela? Sobe at mansarda, onde jaz uma me de famlia cercada de crianas. sua chegada, refulge a alegria naqueles rostos emagrecidos. que ela vai acalmar ali todas as dores. Traz o de que necessitam, condimentado de meigas e consoladoras palavras, que fazem que os seus protegidos, que no so profissionais da mendicncia, aceitem o benefcio, sem corar. O pai est no hospital e, enquanto l permanece, a me no consegue com o seu trabalho prover s necessidades da famlia. Graas boa senhora, aquelas pobres crianas no mais sentiro frio, nem fome; iro escola agasalhadas e, para as menorzinhas, o leite no secar no seio que as amamenta. Se entre elas alguma adoece, no lhe repugnaro a ela, boa dama, os cuidados materiais de que essa necessite. Dali vai ao hospital levar ao pai algum reconforto e tranqiliz-lo sobre a sorte da famlia. No canto da rua, uma carruagem a espera, verdadeiro armazm de tudo o que destina aos seus protegidos, que todos lhe recebem sucessivamente a visita. No lhes pergunta qual a crena que professam, nem quais suas opinies, pois considera como seus irmos e filhos de Deus todos os homens. Terminado o seu giro, diz de si para consigo: Comecei bem o meu dia. Qual o seu nome? Onde mora? Ningum o sabe. Para os infelizes, um nome que nada indica; mas o anjo da consolao. noite um concerto de bnos se eleva em seu favor ao Pai celestial: catlicos, judeus, protestantes, todos a bendizem. Por que to singelo traje? Para no insultar a misria com o seu luxo. Por que se faz acompanhar da filha? Para que aprenda como se deve praticar a beneficncia. A mocinha tambm quer fazer a caridade. A me, porm, lhe diz: Que podes dar, minha filha, quando nada tens de teu? Se eu te passar s mos alguma coisa para que ds a outrem, qual ser o teu mrito? Nesse caso, em realidade, serei eu quem faz a caridade; que merecimento terias nisso? No justo. Quando visitamos os doentes, tu me ajudas a trat-los. Ora, dispensar cuidados dar alguma coisa. No te parece bastante isso? Nada mais simples. Aprende a fazer obras

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    teis e confeccionars roupas para essas criancinhas. Desse modo, dars alguma coisa que vem de ti. assim que aquela me verdadeiramente crist prepara a filha para a prtica das virtudes que o Cristo ensinou. esprita ela? Que importa! Em casa, a mulher do mundo, porque a sua posio o exige. Ignoram, porm, o que faz, porque ela no deseja outra aprovao, alm da de Deus e da sua conscincia. Certo dia, no entanto, imprevista circunstncia leva-lhe a casa uma de suas protegidas, que andava a vender trabalhos executados por suas mos. Esta ltima, ao v-la, reconheceu nela a sua benfeitora. Silncio! ordena-lhe a senhora. No o digas a ningum. Falava assim Jesus. O Evangelho segundo o Espiritismo, Os Infortnios Ocultos, cap. XIII, item 4. (2)

    Caridade e fraternidade Meus irmos, amai os rfos. Se soubsseis quanto triste ser s e abandonado, sobretudo na infncia! Deus permite que haja rfos, para que lhes sirvamos de pais. Que divina caridade amparar uma pobre criaturinha abandonada, evitar que sofra fome e frio, dirigir-lhe a alma, a fim de que no desgarre para o vcio! Agrada a Deus quem estende a mo a uma criana abandonada, porque compreende e pratica a sua lei. Ponderai tambm que muitas vezes a criana que socorreis vos foi cara noutra encarnao, caso em que, se pudsseis lembrar-vos, j no estareis praticando a caridade, mas cumprindo um dever. Assim, pois, meus amigos, todo sofredor vosso irmo e tem direito vossa caridade; no, porm, a essa caridade que magoa o corao, no a essa esmola que queima a mo em que cai, pois freqentemente bem amargos so os vossos bolos! Quantas vezes seriam eles recusados, se na choupana a enfermidade e a morte no os estivessem esperando! Dai delicadamente, juntai ao benefcio que fizerdes o mais precioso de todos os benefcios: o de uma boa palavra, de uma carcia, de um sorriso amistoso. Evitai esse ar de proteo, que equivale a revolver a lmina no corao que sangra e considerai que, fazendo o bem, trabalhais por vs mesmos e pelos vossos. Um Esprito familiar. (Paris, 1860.) O Evangelho segundo o Espiritismo, Os rfos, cap. XIII, item 18. (2)

    Caridade e beneficncia Chamo-me Caridade; sigo o caminho principal que conduz a Deus. Acompanhai-me, pois conheo a meta a que deveis todos visar. Dei esta manh o meu giro habitual e, com o corao amargurado, venho dizer-vos: Oh! meus amigos, que de misrias, que de lgrimas, quanto tendes de fazer para sec-las todas! Em vo, procurei consolar algumas pobres mes, dizendo-lhes ao ouvido: Coragem! h coraes bons que velam por vs; no sereis abandonadas; pacincia! Deus l est; sois dele amadas, sois suas eleitas. Elas pareciam ouvir-me e volviam para o meu lado os olhos arregalados de espanto; eu lhes lia no semblante que seus corpos, tiranos do Esprito, tinham fome e que, se certo que minhas palavras lhes serenavam um pouco os coraes, no lhes reconfortavam os estmagos. Repetia-lhes: Coragem! Coragem! Ento, uma pobre me, ainda muito moa, que amamentava uma criancinha, tomou-a nos braos e a estendeu no espao vazio, como a pedir-me que protegesse aquele entezinho que s encontrava, num seio estril, insuficiente alimentao. Alhures vi, meus amigos, pobres velhos sem trabalho e, em conseqncia, sem abrigo, presas de todos os sofrimentos da penria e, envergonhados de sua misria, sem ousarem, eles que nunca mendigaram, implorar a piedade dos transeuntes. Com o corao tmido de compaixo, eu, que nada tenho, me fiz mendiga para eles e vou, por toda a parte, estimular a beneficncia, inspirar bons pensamentos aos coraes generosos e compassivos. Por isso que aqui venho, meus amigos, e vos digo: H por a desgraados, em cujas choupanas falta o po, os foges se acham sem lume e os leitos sem cobertas. No vos digo o que deveis fazer; deixo aos vossos bons coraes a iniciativa. Se eu vos ditasse o proceder, nenhum mrito vos traria a vossa boa ao.

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    Digo-vos apenas: Sou a caridade e vos estendo as mos pelos vossos irmos que sofrem. Mas, se peo, tambm dou e dou muito. Convido-vos para um grande banquete e forneo a rvore onde todos vos saciareis! Vede quanto bela, como est carregada de flores e de frutos! Ide, ide, colhei, apanhai todos os frutos dessa magnificente rvore que se chama a beneficncia. No lugar dos ramos que lhe tirardes, atarei todas as boas aes que praticardes e levarei a rvore a Deus, que a carregar de novo, porquanto a beneficncia inexaurvel. Acompanhai-me, pois, meus amigos. a fim de que eu vos conte entre os que se arrolam sob a minha bandeira. Nada temais; eu vos conduzirei pelo caminho da salvao, porque sou - a Caridade. - Crita, martirizada em Roma. (Lio, 1861.) O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIII, item 13. (2)

    Fora da caridade no h salvao Meus filhos, na sentena: Fora da caridade no h salvao, esto encerrados os destinos dos homens, na Terra e no cu; na Terra, porque sombra desse estandarte eles vivero em paz; no cu, porque os que a houverem praticado acharo graas diante do Senhor. Essa divisa o facho celeste, a luminosa coluna que guia o homem no deserto da vida, encaminhando-o para a Terra da Promisso. Ela brilha no cu, como aurola santa, na fronte dos eleitos, e, na Terra, se acha gravada no corao daqueles a quem Jesus dir: Passai direita, benditos de meu Pai. Paulo, o apstolo. (Paris, 1860.) O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XV, item 10. (2)

    O Esprita e a caridade Pergunta. - Se, entre os chamados para o Espiritismo, muitos se transviaram, quais os sinais pelos quais reconheceremos os que se acham no bom caminho? Resposta. - Reconhec-los-eis pelos princpios da verdadeira caridade que eles ensinaro e praticaro. Reconhec-los-eis pelo nmero de aflitos a quem levem consolo; reconhec-los-eis pelo seu amor ao prximo, pela sua abnegao, pelo seu desinteresse pessoal; reconhec-los-eis, finalmente, pelo triunfo de seus princpios, porque Deus quer o triunfo de Sua lei; os que seguem Sua lei, esse so os escolhidos e Ele lhes dar a vitria; mas Ele destruir aqueles que falseiam o esprito dessa lei e fazem dela degrau para contentar sua vaidade e sua ambio. Erasto, anjo da guarda do mdium. (Paris, 1863.) O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XX, item 4. (2)

    Beneficncia coletiva: o pensamento de Kardec Deve a beneficncia ficar individual e, neste caso, sua ao no ser mais limitada do que se for coletiva? A beneficncia coletiva tem vantagens incontestveis e, muito longe de a censurar, ns a encorajamos. Nada mais fcil do que a praticar em grupos, recolhendo por meio de cotizaes regulares ou de donativos facultativos os elementos de um fundo de socorro. Mas ento, agindo num crculo restrito, o controle das verdadeiras necessidades fcil; o conhecimento que delas se pode ter permite uma distribuio mais justa e mais proveitosa. Com uma mdica quantia, bem distribuda e dada de propsito, podem ser prestados mais servios reais que com uma grande soma dada sem conhecimento de causa e, por assim dizer, ao acaso. , pois, necessrio se dar conta de certos detalhes, se no quiser gastar seus recursos sem proveito. Ora, compreende-se que tais cuidados seriam impossveis se se operasse em vasta escala. Aqui, nada de ddalo administrativo, nada de pessoal burocrtico. Algumas pessoas de boa vontade, e eis tudo. No podemos seno encorajar com todas as foras a beneficncia coletiva nos grupos espritas. Ns a conhecemos em Paris, nas Provncias e no Estrangeiro, que so fundadas, seno exclusivamente, ao menos principalmente com esse objetivo, e cuja organizao nada deixa a desejar. L, membros dedicados vo a domiclio inquirir dos sofrimentos e levar o que s vezes vale mais do que os socorros materiais: as consolaes e o encorajamento. Honra a eles, porque bem merecem do Espiritismo! Que cada grupo assim haja em sua esfera

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    de atividade e todos juntos realizaro maior soma de bens do que uma caixa central quatro vezes mais rica. Revista Esprita de Julho/1866. (3)

    2.2 - Caractersticas gerais, finalidade educativa e objetivos do SAPSE

    O Servio de Ass istnc ia e Promoo Socia l Espr i ta deve ser real izado sem imposies, de forma integrada, com or ientao doutr inr ia e ass istnc ia espir i tual, de modo que possa const i tu i r -se em um dos meios para a l iber tao espir i tual do homem, f inal idade pr imordia l da Doutr ina Espr i ta . OCE , cap.VI I I , i tem 4 a . (4)

    2.2.1 - Caractersticas gerais do SAPSE

    O Espiritismo amplia a viso do ser humano, pois trata no apenas do ser existente, mas do interexistente, isto , daquele que se comunica com o mundo dos Espritos, ao qual se liga por dbitos e alegrias de um passado prximo ou distante, e com o qual se sintoniza por sentimentos e pensamentos.

    No mesmo sentido, o Servio de Assistncia e Promoo Social Esprita valoriza o ser humano, considerando o seu lado espiritual e imortal. Sua caracterstica bsica a promoo.

    Promover o ser humano , acima de tudo, oferecer-lhe condies para superar as dificuldades econmicas, sociais, morais e espirituais em que momentaneamente se encontra; auxili-lo a ultrapassar suas limitaes, reconhecendo que essas limitaes, embora caractersticas da sua atual personalidade, tm carter transitrio: nenhum ser foi criado para o mal ou para os infortnios eternos. Promover o ser humano faz-lo sentir-se livre e responsvel pelo prprio destino, descortinando-lhe as imensas possibilidades adormecidas dentro de si mesmo e que precisam ser trabalhadas, por meio do esforo prprio, para que ele adquira tudo o de que necessita no s em termos materiais, mas, principalmente, espirituais. Isso contribuir de maneira relevante para o seu equilbrio, estimulando-o a construir um futuro onde a real felicidade seja a tnica da sua vida.

    O Servio de Assistncia e Promoo Social Esprita , portanto, o exerccio da caridade no seu verdadeiro sentido (benevolncia, indulgncia e perdo); a assistncia material realizada sem paternalismos ou acordos ("Se voc vier ao Centro Esprita, assistir s palestras, tomar passes etc, etc, levar os mantimentos e a roupa de que necessita..."); o esclarecimento quanto valorizao do corpo e da oportunidade de aprendizado que a vida proporciona.

    Trabalho assistencial, sob a tica esprita, significa envolver fraternalmente o irmo e a irm em excluso social, auxiliando-os a compreenderem, luz da lei de causa e efeito, os motivos dos seus sofrimentos atuais. , ainda, servir de forma paciente, metdica, no apressada, com entendimento das limitaes do prximo, para que este se liberte da ignorncia e modifique, de forma paulatina e consciente, os seus comportamentos inadequados.

    Sendo assim, preciso realar, junto ao usurio do SAPSE, a importncia do papel que ele desempenha na constelao familiar. Em que pese o fato de, algumas vezes, no possuir uma famlia regularmente constituda, ele sempre se relaciona com algum, seja num albergue, num asilo, na rua... Assim, a sua famlia o companheiro ou a companheira que ocupa o mesmo espao da instituio que o abriga; que compartilha das suas agruras, provocadas pelo frio, pela chuva e pela falta de alimentos, ou, ainda, a pessoa que divide com ele um abrigo improvisado.

    Possuindo, entretanto, um lar, cumpre alert-lo quanto transitoriedade das coisas do mundo, ajudando-o a assumir as tarefas que lhe dizem respeito junto aos familiares, a fim de que possa colaborar para o fortalecimento dos laos de amor dentro

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    da famlia. Recordar-lhe os imperativos da responsabilidade diante da prpria conscincia tarefa da mais alta relevncia a ser desempenhada pelo trabalhador do SAPSE.

    Por outro lado, ao atender-se o usurio dos servios assistenciais, preciso acompanhar no s a sua famlia direta, mas tambm as outras pessoas que lhe partilham o ncleo familiar. Finalmente, torna-se importante ressaltar que, no atendimento famlia, deve ser destacada a criana ser que reclama direcionamento no bem, possuindo, para isso, vastas condies de aprendizado intelectual, moral e espiritual. (Ver O Livro dos Espritos, questes 382-385.) Se bem educada e acompanhada nas suas necessidades, a criana poder influir mais tarde, de forma decisiva, na transformao do status quo conturbado do mundo atual. Olhar a criana sob essa tica e auxili-la a desenvolver as suas potencialidades contribuir para a renovao do ser humano, em prol de um futuro melhor.

    2.2.2 - Finalidade educativa do SAPSE

    Devemos compreender que o Servio de Assistncia e Promoo Social luz da Doutrina Esprita visa educao integral do ser humano.

    Todas as criaturas so passveis de educao, pois cada uma traz em si o germe da divindade, com amplas condies de aprender para progredir. Pestalozzi dizia que a educao o desenvolvimento harmnico de todas as faculdades do indivduo.(14)

    O amai-vos uns aos outros, do Evangelho de Jesus, orienta-nos para a adoo da atitude adequada em relao aos semelhantes. Diante de uma pessoa em estado de privao econmico-social, precisamos desenvolver, portanto, a fraternidade, a simpatia e o respeito, a fim de que ela se sinta estimulada a ligar-se a ns tambm pelos laos da fraternidade. Nesse interrelacionamento, em que cada um se coloca perante o outro como receptor e doador, inicia-se um processo de intercmbio e, sobretudo, de auxlio e nutrimento no mais amplo sentido. um processo eminentemente educativo, em que ambos do e recebem informaes e referenciais, suporte e vibraes de interesse e compreenso.

    O ser humano se transforma e adquire foras por meio da educao. Quando consegue perceber a amplitude dos seus deveres e responsabilidades, passa a colaborar de forma consciente para o progresso material, moral e espiritual do mundo, desenvolvendo a prpria individualidade e o meio a que pertence. (5) O SAPSE apresenta-se, desse modo, como um trabalho de renovao social, estimulando o aprimoramento do indivduo e da coletividade.

    No trabalho assistencial esprita, o servidor precisa saber observar e interpretar o olhar, o gestual, o falar, o silenciar do outro, para somente ento oferecer o apoio de que o outro necessita para a superao dos seus problemas.

    J no vivemos no tempo em que auxiliar era fazer pelo prximo, criando dependncia. Com a atual legislao da Assistncia Social, que, por sua vez, se coaduna com os preceitos do Espiritismo, a prtica da assistncia de libertao por meio da educao, alertando-se o indivduo para as prprias responsabilidades, a fim de que tome conscincia de si mesmo e da vida da qual beneficirio. Somente dessa forma poder conduzir-se de maneira adequada em relao a si mesmo e o grupo familiar onde est inserido. Por meio de tcnicas educacionais bem direcionadas, ele, juntamente com os familiares, passa a compreender o papel de cada um dentro da famlia, papel este de suma importncia para a construo da individualidade.

    O trabalho de assistncia, por no ser direcionado apenas ao indivduo, mas a grupos sociais, prioriza o contato com os outros, tornando o processo educativo muito mais profundo e abrangente. Reunidos os usurios em diversos grupos, conforme as circunstncias (mes, pais, gestantes) e idades (crianas, jovens, idosos), com programas bem direcionados, acelera-se o processo educativo, ampliando-se as aquisies morais e espirituais de cada um. Por meio do trabalho digno que liberta a criatura, diluem-se os fatores perturbadores, responsveis pelas causas da misria social. (10) (11) (12)

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    O SAPSE constitui um servio de grande abrangncia, reclamando uma organizao fundamentada em conhecimentos especficos tanto no campo material quanto no espiritual. Vivendo num mundo de vasta conturbao moral e social, compreendemos, especialmente pelo estudo do Espiritismo, as atribulaes da existncia humana, as suas causas e conseqncias, a necessidade de progredir e a possibilidade de construir uma sociedade mais digna, combatendo, nas suas bases, todos os fatores degenerativos. Prevendo, dessa forma, a renovao da sociedade em bases de segurana e justia, podemos visualizar um planeta muito melhor, sem os conflitos causados pelo egosmo. (5)

    Nesse contexto, a responsabilidade dos voluntrios da assistncia social grande e pode ser mais bem entendida quando examinamos a questo 132 de O Livro dos Espritos (1), na qual o plano espiritual esclarece que visa (...) ainda outro fim a encarnao: o de por o Esprito em condies de suportar a parte que lhe toca na obra da criao. (...) assim que, concorrendo para a obra geral, ele prprio se adianta. Dentro dessa tica, os voluntrios sociais espritas necessitam preparar-se pelo estudo do Espiritismo, pela prtica do bem, pelo autoconhecimento e conhecimento do outro, e, ainda, pelo estudo das cincias humanas, para assumirem a sua funo educativa. No desenvolvimento da tarefa que abraaram, eles exercitam a capacidade de entender o prximo, ampliando o prprio discernimento. Passam, ento, a adquirir melhores condies de auxiliar todos aqueles que os rodeiam e que esperam e confiam na sua atuao.

    Todo conhecimento, cientfico ou filosfico, sempre resultado da educao. Os ensinamentos do bem e da verdade, da justia e do amor, porm, so perdurveis. Sua aquisio pode ser imediata ou ocorrer ao longo do tempo, mas jamais se perde (14). Assim, pois, ambos os grupos: voluntrios e usurios, num trabalho alicerado na legislao vigente, mas inspirado na filosofia esprita e no Evangelho de Jesus, renovando-se, transformam a sociedade, construindo, passo a passo, um futuro mais feliz.

    2.2.3 - Objetivos do SAPSE

    Sendo assim, vista das suas caractersticas gerais e da sua finalidade educativa, o SAPSE buscar atingir os seguintes objetivos:

    Atender s famlias assistidas pelo Centro Esprita, conjugando-se a ajuda material, o socorro espiritual e a orientao moral-doutrinria, visando sua promoo social e crescimento espiritual. (OCE, cap. VIII, item 3 a) (4)

    Proporcionar ao freqentador do Centro Esprita oportunidade de praticar a caridade pela vivncia do Evangelho, junto s pessoas e famlias em situao de carncia scio-econmico-moral-espiritual. (OCE, cap. VIII, item 3 b) (4)

    2.2.4 - Reflexo Remunerao Espiritual

    O lavrador que trabalha deve ser o primeiro a gozar dos frutos (Paulo II Timteo, 2:6)

    Alm do salrio amoedado o trabalho se faz invariavelmente, seguido de remunerao espiritual respectiva, da qual salientamos alguns dos itens mais significativos: acende a luz da experincia; ensina-nos a conhecer as dificuldades e problemas do prximo, induzindo-nos, por isso mesmo, a respeit-lo; promove auto-educao; desenvolve a criatividade e a noo de valor do tempo; imuniza contra os perigos da aventura e do tdio; estabelece apreo em nossa rea de ao; dilata o entendimento; amplia-nos o campo das relaes afetivas; atrai simpatia e colaborao;

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    extingue, a pouco e pouco, as tendncias inferiores que ainda estejamos trazendo de existncias passadas.

    Quando o trabalho, no entanto, se transforma em prazer de servir, surge o ponto mais importante da remunerao espiritual: toda vez que a Justia Divina nos procura no endereo exato para execuo das sentenas que lavramos contra ns prprios, segundo as leis da causa e efeito, se nos encontra em servio ao prximo, manda a Divina Misericrdia que a execuo seja suspensa, por tempo indeterminado.

    E, quando ocorre, em momento oportuno, o nosso contato indispensvel com os mecanismos da Justia Terrena, eis que a influncia de todos aqueles a quem, porventura, tenhamos prestado algum benefcio aparece em nosso auxlio, j que semelhantes companheiros se convertem espontaneamente em advogados naturais de nossa causa, amenizando as penalidades em que estejamos incursos ou suprimindo-as, de todo, se j tivermos resgatado em amor aquilo que devamos em provao ou sofrimentos, para a retificao e tranqilidade em ns mesmos.

    Reflitamos nisso e concluamos que trabalhar e servir, em qualquer parte, ser-nos-o sempre apoio constante e promoo Vida Melhor.

    Emmanuel (Pgina recebida pelo Mdium Francisco Cndido Xavier, extrada do livro Perante Jesus, editora Ideal)

    3 - METODOLOGIA DE AO DO SAPSE

    A PARBOLA DO BOM SAMARITANO

    Ento, levantando-se, disse-lhe um doutor da lei, para o tentar: Mestre, que preciso fazer para possuir a vida eterna? - Respondeu-lhe Jesus: Que o que est escrito na lei? Que o que ls nela? Ele respondeu: Amars o Senhor teus Deus de todo o corao, de toda a tua alma, com todas as tuas foras e de todo o teu esprito, e a teu prximo como a ti mesmo. - Disse-lhe Jesus: Respondeste muito bem; faze isso e vivers. Mas, o homem, querendo parecer que era um justo, diz a Jesus: Quem o meu prximo? - Jesus, tomando a palavra, lhe diz: Um homem, que descia de Jerusalm para Jeric, caiu em poder de ladres, que o despojaram, cobriram de ferimentos e se foram, deixando-o semimorto. - Aconteceu em seguida que um sacerdote, descendo pelo mesmo caminho, o viu e passou adiante. - Um levita, que tambm veio quele lugar, tendo-o observado, passou igualmente adiante. - Mas, um samaritano que viajava, chegando ao lugar onde jazia aquele homem e tendo-o visto, foi tocado de compaixo. - Aproximou-se dele, deitou-lhe leo e vinho nas feridas e as pensou; depois, pondo-o no seu cavalo, levou-o a uma hospedaria e cuidou dele. - No dia seguinte tirou dois denrios e os deu ao hospedeiro, dizendo: Trata muito bem deste homem e tudo o que despenderes a mais, eu te pagarei quando regressar. Qual desses trs te parece ter sido o prximo daquele que cara em poder dos ladres? - O doutor respondeu: Aquele que usou de misericrdia para com ele. - Ento, vai, diz Jesus, e faze o mesmo. ( Lucas, 10:25 a 37.) O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XV, item 2. (2)

    A parbola do Bom Samaritano oferece pontos significativos para uma anlise com vistas metodologia de ao que deve ser adotada no Servio de Assistncia e Promoo Social luz da Doutrina Esprita:

    1 Um homem () Iniciando a parbola, Jesus designa o ser que ser alvo do

    atendimento como sendo apenas um homem, sem se referir sua condio econmica, social, poltica ou profissional, ou mesmo sua raa, religio, povo, crena ou nacionalidade.

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    2 () caiu em poder de ladres, que o despojaram, cobriram de ferimentos e se foram, deixando-o semimorto. O homem, que antes deveria estar bem, transformou-se, em decorrncia desse fato, em um ser humano em estado de necessidade: carecendo de apoio, socorro, ajuda e colaborao de outros seres, j que no tinha condies de, por conta prpria, superar os seus impedimentos.

    3 - () um sacerdote, viu e passou adiante. - O sacerdote, que se diz representar Deus e fazer sua vontade, ignorou o cado e no atendeu s suas necessidades.

    4 - Um levita, () tendo-o observado, passou igualmente adiante. - O intelectual da poca, o homem que lia e que conhecia as leis de Deus, tambm foi omisso no atendimento ao necessitado.

    5 - () um samaritano () tendo-o visto, foi tocado de compaixo. - O samaritano, na poca, era considerado um homem de m vida, uma vez que no tinha o hbito de freqentar o Templo e no se importava com as formalidades das prticas religiosas. Mas demonstrou possuir bons sentimentos, pois foi tocado de compaixo ao encontrar o necessitado.

    6 - Aproximou-se dele, () eu te pagarei quando regressar. Impulsionado pelo sentimento de solidariedade, o samaritano atendeu ao cado, assistindo-o em suas necessidades mais imediatas e amparando-o nas etapas seguintes do seu restabelecimento, promovendo a sua recuperao humana e social, at voltar ao estado de normalidade, ou seja, ao estado em que tivesse condies de suprir, ele prprio, as suas necessidades fsicas, morais e espirituais, inclusive de integrao social.

    7 - Qual desses trs te parece ter sido o prximo daquele que cara em poder dos ladres? - O doutor respondeu: Aquele que usou de misericrdia para com ele. - O prprio doutor da lei reconheceu que foi o samaritano, que, usando de misericrdia, agiu como o prximo junto ao homem ferido pelos ladres. Cabe observar que, para fazer esse atendimento junto ao cado, naquele momento, durante o seu estado de necessidade, o samaritano renunciou ao seu tempo, sua comodidade e ao seu dinheiro e colocou em risco a sua prpria segurana, ou seja, superou os impedimentos e obstculos que comumente se apresentam, mas cumpriu, plenamente, o seu dever moral para com o seu semelhante, expresso na lei de amor que emana de Deus.

    8 - Ento, vai, diz Jesus, e faze o mesmo. - A proposta de Jesus, no sentido de termos nas aes do Bom Samaritano, passo a passo, o exemplo a ser seguido por todos aqueles que pretendam viver dentro dos princpios que norteiam a lei maior que emana do Criador e que orienta o relacionamento dos homens em todo o universo, constitui a base da Metodologia de Ao do Servio de Assistncia e Promoo Social Esprita, que pode ser desdobrada em vrias etapas, como segue: 1 - Observar - (Tendo-o visto) - Observar a realidade encontrada e procurar

    compreender a sua complexidade, analisando a melhor forma de atender ao necessitado. Observar, aqui, tem, tambm, um sentido mais profundo. estar disponvel para o outro, e se expressa no sentimento solidrio que se dedica ao prximo nas circunstncias em que ele se encontra.

    2 - Aproximar-se. Ir ao encontro do outro, conforme assevera Vicente de Paulo (O Livro dos Espritos, Questo 888) ao destacar a caridade dentro de uma viso mais abrangente, rompendo com a concepo tradicional que a reduzia

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    apenas esmola. um movimento em direo ao prximo, no apenas no sentido fsico, mas, acima de tudo, fraternal, procurando compreend-lo de forma integral para poder atend-lo em suas necessidades gerais, tais como, morais, espirituais, fsicas, econmicas, sociais e psicolgicas. o processo de envolvimento solidrio de um Ser com outro Ser.

    3 - Utilizar os recursos necessrios assistncia imediata. Utilizar os recursos

    que se tm mo e os que possam reunir para o atendimento s necessidades daquele momento. Prestar os primeiros socorros com os recursos simples do vinho e do leo e pensar as feridas com os recursos, tambm, da solidariedade sincera. Assistir o prximo em suas necessidades imediatas e seguir adiante no atendimento s demais necessidades.

    4 - Acompanhar: - dar prosseguimento ao trabalho de reerguimento, adotando

    as providncias e procedimentos necessrios ao processo de recuperao individual e social do assistido. O Bom Samaritano tomou o cado nos prprios braos, colocou-o no seu cavalo e o levou a uma hospedaria, dando seqencia tarefa de atendimento ao necessitado, promovendo o seu reequilbrio.

    5 - Tornar-se responsvel pelo outro. () tudo o que despenderes a mais, eu

    vos restituirei no meu regresso, disse o Bom Samaritano, confirmando o seu compromisso de pleno atendimento s necessidades do homem que foi ferido pelos ladres. O Bom Samaritano faz-se companheiro existencial do cado, ajudando-o para que se reerga altura de sua dignidade de Ser filho de Deus, e caminhe, tornando-se, tambm, e com base na prpria experincia vivida, companheiro existencial de outro cado, aprimorando os seus prprios sentimentos em favor de um outro ser que poder estar em estado de necessidade.

    Os Espritos Superiores, por meio de So Vicente de Paulo, nos alertam: No pode a alma elevar-se s altas regies espirituais, seno pelo devotamento ao prximo; somente nos arroubos da caridade encontra ela ventura e consolao. Sede bons, amparai os vossos irmos, deixai de lado a horrenda chaga do egosmo. Cumprido esse dever, abrir-se-vos- o caminho da felicidade eterna. (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIII, item 12) (2)

    Esta metodologia de ao do Servio de Assistncia e Promoo Social Esprita desdobra-se conforme observa Cheverus no captulo XVI, item 11, de O Evangelho Segundo o Espiritismo: No repilas o que se queixa, com receio de que te engane; vai s origens do mal. Alivia, primeiro; em seguida, informa-te, e v se o trabalho, os conselhos, mesmo a afeio no sero mais eficazes do que a tua esmola. (2)

    Naturalmente, nesta anlise da Parbola do Bom Samaritano, esto sendo destacados alguns itens que devero ensejar estudos cada vez mais amplos e aprofundados sobre o assunto, propiciando uma compreenso cada vez mais consciente e completa dos princpios que norteiam a Metodologia do Servio de Assistncia e Promoo Social Esprita.

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    4 - ORGANIZAO DO SAPSE

    Os Centros Espritas podero optar por servios eventuais de assistncia e promoo social, sem criarem compromissos financeiros para o futuro, crescendo segura e gradativamente em suas formas de atuao, segundo a disponibilidade de trabalhadores e de recursos materiais e financeiros. (OCE, Cap. VIII, item 4 f) (4)

    4.1 - Locais de realizao do SAPSE

    O SAPSE pode ser realizado:

    No Centro Esprita, tendo em vista que:

    a) o Centro Esprita escola de formao espiritual e moral, desempenhando papel relevante na divulgao do Espiritismo e no atendimento a todos os que nele buscam orientao e amparo. (ACE, Considerando 3) (4)

    b) o Centro Esprita deve ser ncleo de estudo, de fraternidade, de orao e de

    trabalho, com base no Evangelho de Jesus, luz da Doutrina Esprita. (ACE, Considerando 4) (4)

    c) o Centro Esprita deve proporcionar aos seus freqentadores oportunidade de

    exercitar o seu aprimoramento ntimo pela vivncia do Evangelho em seus trabalhos, tais como os (...) de assistncia social. (ACE, Considerando 6) (4)

    d) o Centro Esprita deve criar condies para um eficiente atendimento a todos os

    que o procuram com o propsito de obter orientaes, esclarecimento, ajuda ou consolao. (ACE, Considerando 7) (4)

    Em obras assistenciais espritas;

    Os Centros Espritas, sem prejuzo de sua finalidade doutrinria, podero criar e manter Instituies Espritas de Assistncia Social, com personalidade jurdica prpria. Neste caso, devero ser preservados os vnculos entre o Centro Esprita e a Instituio criada. (OCE, Cap. VIII, item 5 f) (4)

    Fora do Centro Esprita:

    a) por meio do auxlio a comunidades e famlias em situao de excluso social;

    b) em instituies no espritas de internao coletiva, como hospitais, asilos, albergues e presdios;

    c) pela participao em rgos colegiados, com vistas a oferecer a contribuio do Espiritismo na definio de aes sociais.

    Os Centros Espritas, ao realizarem parcerias com rgos pblicos, empresas ou organizaes no-governamentais, devem considerar sempre a tica e o bom senso, no aceitando compactuar, em nenhuma hiptese, com interesses polticos partidrios e rejeitando contribuies, em espcie ou em servios, que desvirtuem ou comprometam, a qualquer ttulo, o carter esprita da Instituio. (OCE, cap. VIII, item 5 b) (4)

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    1. Os Centros Espiritas situados numa mesma comunidade, que realizam trabalhos

    assistenciais semelhantes, devem, ainda, avaliar a possibilidade de os mesmos serem realizados em conjunto. Dessa forma, haver as seguintes vantagens:

    a) Atendimento mesma populao em estado de excluso social;

    b) soma de experincias e esforos;

    c) diminuio do trabalho individual;

    d) crescimento do trabalho de grupo;

    e) vivncia da unio;

    f) contribuio para a Unificao do Movimento Esprita.

    Os Centros Espritas de uma mesma localidade devem compartilhar informaes e servios, auxiliando-se mutuamente, podendo organizar as atividades do Servio de Assistncia e Promoo Social Esprita de forma articulada e complementar. (OCE, item 4 I) 4

    2. Em instituies no espritas recomendvel um contato preliminar com a

    direo das mesmas, a fim de que lhe seja explicado o trabalho que se pretende realizar, assim como para que se conheam as normas ou os regulamentos dessas instituies, evitando-se, dessa forma, sobreposio de atendimento.

    4.2 - Programas de Atendimento do SAPSE

    O Servio de Ass istnc ia e Promoo Social Espr i ta deve ser real izado sem imposies, de forma integrada, com or ientao doutr inr ia e ass is tnc ia espir i tual , de modo que possa const i tui r -se em um dos meios para a l iber ta o espir i tual do homem, f inal idade pr imordia l da Doutr ina Espr i ta . (OCE , cap. VI I I , i tem 4 a)

    Nas at iv idades do Servio de Ass is tnc ia e Promoo Soc ia l Espr i ta , tanto s dest inadas ao adul to em geral como ao idoso e cr iana, deve ser sempre buscada a promoo integral da faml ia , com vis tas ao seu atendimento na situao de carnc ia em que se encontra. ( OCE, cap. VII , i tem 5 d)

    A legislao norteou as aes na rea da assistncia social basicamente em dois programas, que, por sua vez,, so detalhados em subprogramas, executados mediante atividades especficas:

    Programa de Orientao e Apoio Sociofamiliar Programa de Orientao e Apoio Socioeducativo

    O Programa de Orientao e Apoio Sociofamiliar tem como pblico alvo as famlias que no podem freqentar diariamente, ou com certa regularidade, o local onde se desenvolve o atendimento.

    O Programa de Orientao e Apoio Socioeducativo tem como pblico alvo os membros das famlias que podem freqentar diariamente, ou com certa regularidade, o local onde se desenvolve o atendimento, principalmente crianas e adolescentes.

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    O Programa de Orientao e Apoio Sociofamiliar compe-se dos seguintes subprogramas:

    Educao e Acompanhamento Social das Famlias e Idosos

    Apoio s Necessidades Bsicas

    Integrao Social

    O Programa de Orientao e Apoio Scioeducativo compe-se dos seguintes subprogramas:

    Educao da Criana e do Adolescente

    Desenvolvimento Criativo e Apoio Escolar

    Profissionalizao

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    4.3 - Atividades que integram os Subprogramas

    PROGRAMA DE ORIENTAO E APOIO SOCIOFAMILIAR

    Subprogramas Atividades

    Educao e Acompanhamento das Famlias e Idosos

    Triagens e Entrevistas, para estudo social.

    Elaborao de plano para melhorar as condies da famlia

    Acompanhamento individual

    Visitas Famlia ou Visitas Domiciliares

    Atividades recreativas e ocupacionais

    Educao para a sade

    Sensibilizao para o meio ambiente

    Campanhas de carter epidmico

    Apoio s Necessidades Bsicas

    Auxlio habitao

    Auxlio financeiro

    Doao de medicamentos

    Doao de vesturio

    Apoio gestante

    Distribuio de alimentos (sopa, lanche, etc)

    Distribuio de gneros e utilidades (doao de cesta bsica)

    Encaminhamento para consultas e exames mdicos e odontolgicos

    Integrao Social

    Orientao e apoio jurdico

    Encaminhamento para o trabalho

    Educao para o trabalho

    Alfabetizao e leitura continuada para adultos

    PROGRAMA DE ORIENTAO E APOIO SOCIOEDUCATIVO

    Subprogramas Atividades

    Educao da Criana e do Adolescente

    Atividades de convivncia, socializao e e fortalecimento de vnculos

    Educao para a sade

    Sensibilizao para o meio ambiente

    Desenvolvimento Criativo e Apoio Escolar

    Reforo escolar

    Encaminhamento escolar

    Acompanhamento escolar

    Cultura e Lazer

    Profissionalizao

    Cursos em geral, diretamente ou em parceria

    Estgios

    Encaminhamento para servios especializados

    Acompanhamento

    OBS.: As atividades acima citadas, ou outras que forem executadas pelo Centro Esprita, de acordo com as suas possibilidades, podero compor um ou mais setores do SAPSE.

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    4.3.1 - Observaes gerais sobre essas atividades2

    O atendimento a ser realizado pelo Servio de Assistncia e Promoo Social Esprita deve ser precedido do estudo da realidade do beneficirio, salvo em situaes de reconhecida necessidade imediata. (OCE, cap. VIII, item 4 b) (4)

    Nas atividades do Servio de Assistncia e Promoo Social Esprita podem ser aplicados mtodos e tcnicas das Cincias Sociais, desde que compatveis com os princpios doutrinrios. (OCE, cap. VIII, item 4 d) 4

    4.3.1.1 Triagem

    Objetivo: fazer um contato preliminar com as pessoas que procuram o SAPSE, com vistas ao levantamento geral dos seus problemas e anotao de pedidos.

    triagem esto afetas as seguintes atividades:

    encaminhamento Entrevista;

    controle da freqncia dos usurios: mes e pais (Anexo 6). A freqncia condio precpua para a famlia manter-se inscrita no trabalho assistencial. Os Grupos de Crianas e de Jovens faro tambm o seu controle de freqncia;

    seleo dos problemas e/ou pedidos feitos pelos usurios, para que sejam encaminhados aos setores adequados.

    Para tanto, a triagem necessita de um ou mais trabalhadores treinados conforme o

    movimento do servio e, na medida do possvel, dos seguintes instrumentos de trabalho:

    regimento interno;

    registro de matrcula e freqncia dos usurios.

    regulamento geral do SAPSE;

    especificao da rea geogrfica de atendimento;

    fichas de encaminhamento aos demais setores do trabalho assistencial.

    4.3.1.2 - Entrevista

    No existe problema sem soluo, no existe soluo sem falha e no existe falha que no possa ser corrigida.

    Conceito: Entrevista uma conversa dirigida e com fim determinado, para o

    levantamento de dados, identificao de problemas e estudo de solues. Objetivo: Obter conhecimento de problemas existentes, procurando-se compreender

    a pessoa em sua situao de dificuldade, a fim de conduzi-la para solues adequadas. Em tempo algum agir sobrepondo instrues profissionais aos princpios da

    caridade genuna. (19)

    2 Os registros das atividades do SAPSE, quando possvel, devero ser feitos por computador, com

    vistas ao aprimoramento tcnico do servio..

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    Tipos de entrevista

    Planto o contato inicial com os usurios para ouvi-los a respeito dos seus problemas, esclarec-los sobre o trabalho assistencial e encaminh-los aos setores especficos, de acordo com as suas necessidades. Todas as pessoas que procuram o SAPSE devem ser ouvidas com ateno.

    Primeira entrevista quando se d um contato mais efetivo com os usurios para levantamento de dados e preenchimento da ficha de famlia (anexos 7 e 8).

    Entrevistas seguintes para dar continuidade ao atendimento, todas as vezes que se tornar necessrio.

    Entrevista com os familiares para a obteno de dados que a prpria pessoa no pode fornecer.

    Princpios Gerais

    Amor. Saber respeitar a personalidade da pessoa; acreditar nela, deixando-a vontade para decidir. Ajudar no impor. amparar, substancialmente, sem pruridos de personalismo, para que o beneficiado cresa, se ilumine e seja feliz por si mesmo. (18)

    Atitude de no julgamento. Aceitao plena e total das criaturas como elas so e no como gostaramos que fossem. Confortar os necessitados sem exigir-lhes mudanas imediatas. (19)

    Compreenso. Respeitar a opinio dos outros, mesmo no concordando com ela, desculpando-lhes a ignorncia e contribuindo para que mudem para melhor. No salientar a deficincia dos semelhantes, mas, sim, exalar-lhes a melhor parte. (13)

    Sigilo e Discrio. Procurar no fazer comentrios posteriores.

    Desenvolvimento da Entrevista

    1. Recebimento do usurio: cumpriment-lo, apresentar-se, convid-lo para sentar-se,

    fazer boa abordagem inicial, colocando-o vontade. Aproximar-se do assistido, encontrando nele uma criatura humana, to humana e to digna de estima quanto os nossos entes mais caros. (19)

    2. Atitudes do entrevistador:

    Ser acessvel, saber colocar-se no nvel de compreenso do usurio, para melhor compreend-lo. Colocar-nos na situao difcil de quem recebe socorro. (19)

    Oferecer segurana, deixando-o tranqilo para expor os seus problemas. Amparar sem alardear superioridade. (19)

    Saber ouvir com ateno e amor. Dar ateno fala dos companheiros em privao, ouvindo-os com afetuosa pacincia, sem fazer simultaneamente outra coisa e sem interromp-los com indagaes descabidas. (19)

    Acreditar que a pessoa tem capacidade para se desenvolver e mudar; no impor ajuda, no fazer pelo usurio, mas com o usurio Compreender que todos somos necessitados dessa ou daquela espcie, perante Deus e diante uns dos outros.(19)

    Ter autocontrole, equilbrio emocional - sentir com a pessoa e no pela pessoa. Alegrar-se com os que se alegram e entristecer-se com os que se entristecem, porm com controle. Saber colocar-se no lugar do outro, sem comprometer a sua liberdade interior.

    Considerar cada usurio como uma pessoa, com as suas caractersticas prprias (individualizao).

    Saber distinguir o que normal do que comum.

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    Observar o tom de voz do usurio, sua clareza de expresso, objetividade e cordialidade.

    Respeitar o seu silncio e saber entend-lo.

    3. Observao do usurio: saber observar as suas atitudes e expresses, tais como:

    excitabilidade, hesitao, silncio, enrubescimento, expresses faciais, movimentos do corpo, maneira de falar, de responder s perguntas. Muitas vezes elas suplementam as informaes que no foram esboadas. No permitir, entretanto, que ele perceba que est sendo observado, mas valer-se dessas observaes para melhor poder ajudar.

    4. Ambiente: deve ser confortvel, reservado, sem barulho e interferncias, de modo que

    proporcione sigilo. 5. Durao: a necessria para alcanar os objetivos propostos. Deve-se evitar a pressa,

    mantendo-se a calma. 6. Encerramento: encerrar a entrevista em tom amigvel. Se no forem obtidos todos os

    dados, marcar nova entrevista. Nenhuma promessa deve ser feita, se no houver condio de ser cumprida. Ajudar os assistidos a serem independentes de ns. (19).

    7. Anotao de dados: anotar os dados com ordem e clareza. Preencher a ficha de

    famlia (Anexo 7), de acordo com o guia (Anexo 8), para manter a uniformidade entre todos os entrevistadores. Anotar os problemas conforme a prioridade, Fazer apenas as anotaes necessrias durante a entrevista, complementando-as logo em seguida. Aps a primeira entrevista de seleo e matrcula, se o usurio for aceito, entregar-lhe o carto de matrcula da famlia, que lhe dar direito a freqentar os locais de atendimento. Esse carto pode ser de cartolina colorida com o carimbo da instituio, contendo o nome do usurio e o seu nmero de matrcula. Para facilitar o atendimento, os freqentadores de cada Grupo devem receber cartes de cores diferentes. Esse carto ser apresentado no setor de Triagem, para controle da freqncia, todos os dias da reunio, e recolhido, caso a famlia deixe de participar do trabalho assistencial.

    8. Encaminhamentos: se os usurios necessitarem de atendimentos especiais, tais como uma consulta mdica, medicamentos, colocao do filho em creche, documentao, consulta jurdica etc., dever ser preenchida a ficha de encaminhamento (Anexo 9), com os devidos esclarecimentos quanto forma de proceder.

    9. Avaliao: fazer uma anlise da entrevista, levantando os pontos em que foram encontradas dificuldades, com vistas a melhorar o atendimento. Procurar esclarecimentos com o coordenador do SAPSE, quando achar conveniente. No se omitir.

    4.3.1.3 - Visita Famlia (V.F.) ou Visita Domiciliar

    Conceito um mtodo usado no Servio de Assistncia e Promoo Social Esprita com o

    propsito de dar melhor atendimento famlia. O ambiente familiar constitui a reunio de foras poderosas, que podem ajudar a promover o indivduo, auxiliando-o a recuperar o prprio equilbrio. Conhecer o ambiente do lar torna-se fundamental para a compreenso da famlia. A visita domiciliar possibilita, assim, que se identifique a situao da famlia, o que facilita o desenvolvimento de projetos que busquem auxili-la da melhor forma possvel. Respeitar as idias e opinies de quantos pretendemos auxiliar. Nunca subordinar a prestao de servio ou benefcio aceitao dos pontos de vista que nos sejam pessoais. (17). A visita famlia deve estar entrosada com a entrevista: uma complementa a outra.

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    Objetivos

    Verificar a situao da famlia no prprio ambiente em que vive, observando-se as condies da sua habitao e as relaes afetivo-sociais entre seus membros.

    Propiciar o entrosamento afetivo entre voluntrios e usurios.

    Proporcionar atendimento a todos os membros da famlia.

    Colher informaes relativas s condies scio-sanitrias do local onde mora a famlia.

    Levar a palavra evanglica ao lar visitado.

    Limitaes Embora seja um mtodo de grande utilidade, a Visita Famlia apresenta

    algumas limitaes, a saber:

    Depende de meio de transporte, de maior disponibilidade de tempo e de existncia de maior nmero de visitadores.

    O prprio ambiente do lar, principalmente os afazeres da dona, ou dono, de casa, e os vizinhos podem s vezes dificultar o atendimento.

    Fases da Visita Famlia 1. Planejamento. 2. Execuo. 3. Registro dos dados. 4. Avaliao.

    1. Planejamento

    Seleo das famlias a serem visitadas, levando-se em conta as prioridades do trabalho, as necessidades dos usurios e a proximidade dos seus endereos.

    Estudo do melhor itinerrio para chegar-se ao local da visita bem como do horrio mais adequado s famlias e aos visitadores. preciso calcular o tempo que ser despendido em cada visitao.

    Elaborao do plano de visita: colher dados da ficha de famlia, tais como endereo (com os pontos de referncia), nome dos membros da famlia (encabeados pela dona, ou dono, de casa), registros de filhos, condies higinicas e problemas mais importantes a serem abordados.

    2. Execuo

    aconselhvel que a V.F. seja feita, sempre, por duas pessoas, de preferncia um homem e uma mulher. Enquanto o homem garante a segurana, a mulher mais hbil nas observaes e orientaes domsticas.

    Chegando ao local da visita, os voluntrios, se no forem conhecidos da famlia, devem apresentar-se e explicar por que esto ali. Usar linguagem adequada e adotar uma atitude amiga, nem formal nem ntima (saber dosar). Quem visita deve sempre levar consigo otimismo e compreenso para serem usados em qualquer circunstncia. (19).

    No aceitar coisa alguma para comer ou beber, a menos que seja imprescindvel. Isso acarreta trabalho e despesas para a dona, ou dono, da casa.

    Deixar a famlia bem vontade, permitindo que as pessoas falem, mas conduzir delicadamente os assuntos; respeitar as opinies, comportamentos, traos culturais e conhecimentos da famlia; no demonstrar surpresa ou desaprovao, buscando corrigir com habilidade, quando necessrio.

    Observar as condies de higiene, a ordem da casa, os mveis, o tipo de instalaes sanitrias e o servio de gua, para melhor esclarecimento da famlia sobre os problemas de higiene e sade.

    Anotar apenas o necessrio, explicando o porqu. Deixar para fazer o relatrio aps a visitao.

    Observar o tempo; no ter pressa, mas cumprir o horrio previsto para a visita.

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    Para as visitas famlia bem como para todas as tarefas assistenciais, os servidores devem vestir-se sobriamente (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIII, Os Infortnios Ocultos). (2) No levar ou prometer coisas em espcie, como dinheiro, a menos que o caso seja de extrema necessidade e urgncia.

    Os voluntrios devem levar fichas de encaminhamento (Anexo 9) e uma relao de endereos e dados de locais para onde possam ser encaminhados os usurios, tais como hospitais, prontos-socorros, maternidades, locais de fornecimento de medicamentos etc.

    interessante que os visitadores sejam acompanhados por um jovem ou uma jovem, que cuidar das crianas, entretendo-as enquanto os mais velhos realizam a visita. Assim, os jovens so estimulados a integrar-se no trabalho assistencial.

    Ao final, os voluntrios perguntaro aos membros da famlia se eles gostariam que fosse feita uma leitura evanglica e proferida uma prece reunindo todos os familiares. Deixar a famlia vontade para decidir. No insistir. O tempo de durao desta ltima atividade no deve ultrapassar dez minutos.

    3. Registro dos Dados

    Para a boa organizao e continuidade do trabalho, preciso registrar as observaes: problemas encontrados, progresso dos indivduos, atividades desempenhadas e resultados obtidos, aspecto da habitao e das pessoas, higiene, sade, condies de moradia e do meio ambiente, relacionamento familiar etc., elaborando um relatrio objetivo, sucinto, claro e com letra legvel.

    Deve ser relatado, por escrito, o que foi observado e questionado durante a visita, refletindo-se fielmente a realidade.

    Colocar a data, no incio do relatrio da visita famlia, e assinar, no final. Recomenda-se uma pasta para cada famlia visitada.

    Conservar discrio e respeito ao lado dos companheiros em pauperismo ou sofrimento, sem traar comentrios desprimorosos em torno dele, quando a visita for encerrada. (19)

    4. Avaliao

    Recomenda-se fazer sempre a avaliao da V.F., levantando-se todos os pontos positivos e negativos observados no decorrer da atividade. Deve ser examinada a evoluo da famlia no tempo, comparando-se com as outras visitas e com o seu comportamento no trabalho assistencial.

    Observaes

    Livros recomendados para a leitura evanglica, que deve ser preparada com antecedncia: O Evangelho segundo o Espiritismo (de Allan Kardec), Po Nosso, Vinha de Luz, Fonte Viva, e Caminho, Verdade e Vida (de Emmanuel, psicografados por Francisco Cndido Xavier). Outros livros podem ser utilizados, bem como mensagens avulsas, desde que sejam doutrinariamente corretas e acessveis ao nvel intelectual da famlia que se vai visitar.

    4.3.1.4 - Distribuio de Alimentos, gneros e utilidades em geral

    Em todo processo de ajuda realizado pelo Centro Esprita, deve ser estimulada, sempre que possvel, a colaborao efetiva dos beneficirios da ao, de acordo com as suas possibilidades. (OCE, cap. VIII, item 4 h) (4)

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    4.3.1.4.1 Distribuio de alimentos

    Tendo em vista as condies do local de atendimento, o nmero de voluntrios, os recursos materiais disponveis e o horrio das atividades, podero ser servidos aos usurios, por exemplo, um lanche ou um prato de sopa.

    O lanche, que pode ser servido no incio ou no fim do perodo das atividades, ou mesmo num intervalo entre uma atividade e outra, deve ser simples, prtico e nutritivo. No vero, deve ser frio ou gelado e, no inverno, quente. Sugere-se o leite, enriquecido com chocolate, ou outro sabor, e com ovos, se possvel (a protena um elemento importante para o organismo). Para acompanhamento, po com margarina o mais simples. Uma vez ou outra, em data especial, pode ser servido bolo, torta ou outra guloseima. Nestas ocasies, aconselha-se servir pouca variedade e maior quantidade de cada tipo de alimento, pois isso facilita a organizao da atividade, o trabalho de quem serve e o atendimento dos usurios.

    O lanche pode ser preparado no prprio local da atividade e tomado em p, num pequeno espao.

    Se o trabalho assistencial contar com uma cozinha e espao para armar mesas (tbuas sobre cavaletes), e servidores suficientes, pode-se servir sop