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Rute Rosas São Rosas, Senhor! Museu Martins Sarmento Galeria S.M.S 22 OUTUBRO A 25 NOVEMBRO 2005

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Rute Rosas

São Rosas, Senhor!Museu Martins Sarmento

Galeria S.M.S22 OUTUBRO A 25 NOVEMBRO 2005

apoios

DES

IGN

JU

LIO

DO

LBET

H

São Rosas, Senhor.Suzana Vaz.Outubro 2005

Tendo como referência inspiradora a lenda da Rainha Santa Isabel, o ciclo de trabalho que RuteRosas agora apresenta inscreve-se no imaginário ancestral dos ‘poderes miraculosos’. A Rainha Santa, paraultrapassar a interpelação desconfiada de D. Dinis, transforma em rosas os pães para dádiva que levava ocultosno manto, e mostra-as, para que o Rei as veja: “São rosas, Senhor”. O fenómeno de transubstanciação que estalenda trouxe para a história é um dos ‘poderes mágicos’ (siddhis) atribuídos aos “seres dotados de super-conhecimento ELIADE, Mircea, Yoga, Immortality and Freedom, Princeton Bollingen, New Jersey, 1990, (9ª edição, 1ªedição em 1958, edição original em 1954 Le Yoga Immortalité et liberté Librairie Payot, Paris), p.279-280. Este autor citaa passagem do Maháprajñápáramitáshástra, de Nágárjuna, (séc.III), referindo, na lista de ‘perfeições’ (siddhis), quatrotipos de metamorfoses, entre os quais se incluem as faculdades de “seres dotados de super-conhecimento (abhijña)conseguirem transformar substâncias por força do seu poder mágico (rhddhibala) ”, ou de “seres consagrados com umavida no mundo material conseguirem transformar substâncias pela força da sua concentração (samádhi-bala)”.”, comoos ascetas ou os santos. Os siddhis, ou perfeições, são interpretados como uma etapa na realização da aspiraçãoà transcendência, denotando a mestria, ou domínio perfeito, do asceta sobre si próprio e sobre o mundo,reveladores da sua vivência supra-humana. Na tradição metafísica, os siddhis participam de um paradigma detendência para o concreto, para a experiência pessoal, que contrasta com a tendência para a especulação, doritualismo e respectiva escolástica, favorecida pela prática religiosa institucional Ibid., pp. 360-61..

No paradigma de tendência para o concreto inserem-se o yôga, o tantrismo e a alquimia Ibid., p.280, em algumas regiões (Nepal e região Tamil), os alquimistas são chamados sittars – ou seja, siddhas, possuidoresde siddhis., que partilham um carácter iniciático cujas origens remontam ao pano de fundo da cultura ruraloriginária, de elementos matriarcais (de culto da fertilidade e da divindade feminina), e de práticas xamânicase ascéticas. Estas práticas primordiais concretizam-se num conhecimento empírico acerca do corpo, de domínioexperimental sobre os seus processos psico-mentais e psico-físicos, que são homologados aos processos docosmos Ibid., caps. VI. Yoga and Tantrism, VII. Yoga and Alchemy e VIII. Yoga and Aboriginal India.. Integrado nessacosmofisiologia de erudição e de poder sobre o corpo, o renascimento iniciático marca a passagem para umnovo modo de ser, não profano, não condicionado - que transcende os processos corporais mundanos dacondição humana – liberto para uma vivência supra-humana. A alusão explícita a este universo de referênciastoma lugar na obra de Rute Rosas desde o conjunto de trabalhos Da Terra ao Céu, Karnapidásana e Onde háFumo há Fogo, de 2004, ilustrativos dessas práticas corporais, propiciadoras de estados de consciênciadescondicionados. A abordagem de um estágio ulterior da experiência concreta na realização da aspiração àtranscendência, de aquisição de um corpo e de um modo de ser divinos, veículos de uma linguagem intencional,como veremos, fica ilustrada no potencial iconográfico da perfeição escolhida para a exposição São Rosas,Senhor.

A apresentação de São Rosas, Senhor tem como característica compositiva a simetria, que podeser tomada como uma referência directa ao princípio de homologação entre corpo profano e corpo divino, entreos processos de um e de outro, e a esse acervo de conotações iconográficas.

O espaço da exposição é organizado simetricamente, como um espelho: disso mesmo nos dáimediatamente conta a reprodução fotográfica da grande janela existente logo à entrada, réplica iconográficacolocada em frente ao seu modelo. A duplicação desta janela panorâmica salienta também a qualidade metafóricadesse ícone como abertura para o exterior, para a paisagem natural e para o céu, compondo um contextogeográfico e cosmográfico para o devir do corpo e dos seus processos, e aludindo a esses planos de significado.

Correspondendo também a uma simetria óbvia, a réplica de outra abertura existente no espaçoda exposição, uma janela de arco cujo rebatimento horizontal duplica esse formato para servir de moldura auma imagem da boca da artista, aberta e com rosas cravadas em oferta para os visitantes (para serem retiradaspor estes), pode ainda ser interpretada como o campo horizontal e liso onde se constrói a mandala Ibid., pp.218-223. Elemento iconográfico da liturgia tantrica., terreno nivelado onde é inevitável reconhecer a representaçãoliturgicamente canónica do paraíso ou de um plano transcendente.

O alinhamento de três colunas, pré-existente no espaço, foi também duplicado por meio dacolocação de três colunas falsas, compondo uma sequência reticular de três pares de colunas. Em cada coluna,situado a altura variável, existe um fragmento do corpo de Rute Rosas, em imagem ou como um pequeno objectode prata (dedo, lábios e umbigo). Estes fragmentos opõem-se frontalmente, numa evidente conjunção deopostos: a boca contrapõe-se ao dedo, os olhos contrapõem-se ao umbigo, o umbigo contrapõe-se ao dedo.Incorporando-se aos elementos arquitectónicos do espaço (como também acontece com a imagem da sua bocana janela de arco rebatida), a artista torna explícito o contexto de conotações pelo qual um espaço arquitectónicose equipara a um cosmograma do corpo e dos seus processos, tornando-os homólogos. Visitando o espaçoda exposição, o espectador visita também um corpo, e está não apenas perante representações dos processosdeste, mas também das suas respectivas equivalências projectadas noutros planos de significado, à semelhança

do que acontece nos ambulatórios de locais de culto.Ao fundo da galeria, uma caixa de espelhos replica infinitamente a perfeição que serve de mote à

exposição. Em oposição frontal, entre espelhos e à distância de um corpo, uma imagem com um pão saindopela boca da artista, e a imagem homóloga com rosas saindo pela boca, são reflectidas miríades de vezes. Estarepresentação clássica do campo infinito, é também uma representação do plano transcendente, onde se projectao poder de transubstanciação e, inerentemente, o poder da mente sobre a matéria, e expressa não apenas oprocesso divino que subjaz ao siddhi yôguico, mas também o processo criativo que subjaz à realização artística.Partilhando o mesmo princípio transcendente de homologação, ambos os processos comprovam um avançosobre a condição humana, em direcção a uma vivência supra-humana, descondicionada e não-profana.

Na antecâmara verde e vermelha do espaço da exposição, recebendo o visitante, a artista apresentauma árvore bonsaï com 32 maçãs/miniatura em crochet. Representando a idade da artista, as 32 maçãs indicamexplicitamente o carácter auto-biográfico e auto-referencial do trabalho que ali começa a ser mostrado, a partirde um ícone genealógico, que pode interpretar-se como uma alusão à linhagem dos temas do seu trabalhoartístico, à história da sua procedência e do seu desenvolvimento. Por outro lado, a árvore é um ícone arcaicoque remonta ao estrato pré-agrícola, o mais antigo da cultura da vegetação, de divindade feminina, cujos locaisde culto coincidiam com árvores de qualidade específica Por exemplo, a ficus religiosa, ibid. pp. 344-345. , ouficavam na vizinhança de árvores. Traços destes cultos em culturas posteriores identificam iconograficamentea árvore com a mulher e com o altar Por exemplo, na árvore hierofanica do culto budista das caityas, divindadesfemininas, ou nos cultos da vegetação pré-arianos, ibid. pp. 345-346. .

É todavia relevante que a lenda da Rainha Santa relate um prodígio motivado pela necessidade dedissimulação, e originado por uma censura do seu par/semelhante masculino, que informa acerca do contextode autoridade patriarcal, e da circunstância de antagonismo e repressão, e de menosprezo pelas capacidadese pela realização individuais e de uma correspondente desvalorização da dádiva. No discurso artístico de RuteRosas, a oferta, designadamente de artigos comestíveis, é recorrente e detém um sentido humanista: a partilhaconcreta da experiência da criação é o acto pelo qual fica demonstrada a capacidade de transformação darealidade e de uso do livre arbítrio face aos condicionamentos da mesma. Na abertura da exposição, a artistaoferece aos visitantes pães com o formato de rosas e, significativamente, água e vinho.

1972Nasceu no PortoBorn In Oporto1995Licenciatura em Artes Plásticas- Escultura. Escola Superior de Belas Artes do PortoFine Arts - Sculpture Graduation. Escola Superior de Belas Artes do Porto

Desde Since 1999Assistente da Licenciatura em Escultura na Faculdade de Belas Artes da U.P.Mestre em Arte Multimédia, desde 2002, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do PortoTema: A Percepção Somatossensorial da Obra de Arte - Pressupostos de um ProjectoArtísticoAssistant of Fine Arts - Sculpture Graduation from Faculdade de Belas Artes da U.P. Masterdegree in Multimedia Art.Theme: The Somatosensorial Perception in Art Work - Un Artistic Project Presuppositions

Possui formação em áreas como: Imagem e Som digital; Fundição; Resinas e Silicones;Tapeçaria, Tecelagem e Tinturaria; Ballet Clássico. Foi docente na Escola Secundária deSoares dos Reis e na Escola Superior Artística do Porto. Tem realizado palestras emdiversos países, participado em conferências, concebido e coordenado exposições eeventos para além da publicação de artigos em revistas on-line.

Exposições Individuais Individual Shows

2005São rosas, Senhor!. Galeria SMS. Museu Sociedade Martins Sarmento. Guimarães.Pele de Embrullho. Galeria Sopro. Lisboa.

2004Faço de conta que és tu.... Galerie 35. Berlim. Alemanha.Vídeo projecções. Projecto Espaços em Branco. Galeria Cubic. Lisboa

2003Por Fim. Curadoria Paulo Reis. Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho/ Castelinho doFlamengo. Rio de Janeiro. Brasil

2002Dentro de Mim. Galeria Canvas. Porto.2000Mamã, deixa-me andar de escultura!?. Galeria Serpente. Porto

Exposições Colectivas ( selecção 2003, 2005 ) Group Shows (selection 2003, 2005)

2005ZART21- Arte Urbana para Intervenção. LisboaXIII Bienal Internacial de Arte de V. Nova de Cerveira. Prémio Bienal.Prémio Vespeira. Montijo. Menção Honrosa (Fotografia)IMAN. Projecto transdisciplinar com curadoria de Alexandre Costa. Casa das Artes deVilaNova de Famalicão.100 Desenhos. Maus Hábitos. Porto

2004OFF’LOOP 2004 . Festival Internacional de Vídeo. Barcelona. Espanha.Outro Lugar. Galeria Virgílio. S.Paulo. Brasil.Sem título. Maus Hábitos. PortoRevista Laura. Projectos artísticos. Edição especial de Junho.

2003Artista convidada para o projecto de investigação promovido pela Escola Sup. Educ.Paula Frassinetti. Laboratório com crianças.Intervenção Série X para a peça XY do Grupo Teatro Plástico. Teatro Municipal Rivoli.PortoA.R.C.O. 2003. Galeria Graça Brandão. Madrid. Espanha

Desde 1994 tem integrado numerosas exposições e eventos colectivos, concursos, feirasde arte nacionais e internacionais, simpósios e oficinas. Recebeu prémios e sua obraencontra-se representada em diversas colecções privadas e instituições.

Agradecimentos

Rute Rosas agradece, particularmente, aos seus pais, ao Francisco, à Suzana Vaz, ao Isaque Pinheiro,a Amélia Pinheiro, à Lígia Araão, ao Miguel Duarte, ao Pedro Leite, ao Julio Dolbeth e ainda a todosos seus outros verdadeiros amigos (eles sabem quem são). Que nunca vos faltem nem Pão nem Rosas,queridos!

Agradecimentos

Rute Rosas agradece, particularmente, aos seus pais, ao Francisco, à Suzana Vaz, ao Isaque Pinheiro,a Amélia Pinheiro, à Lígia Araão, ao Miguel Duarte, ao Pedro Leite, ao Julio Dolbeth e ainda a todosos seus outros verdadeiros amigos (eles sabem quem são). Que nunca vos faltem nem Pão nem Rosas,queridos!

Rute Rosas

São Rosas, Senhor!Museu Martins Sarmento

Galeria S.M.S22 OUTUBRO A 25 NOVEMBRO 2005

apoios

DES

IGN

JU

LIO

DO

LBET

H

São Rosas, Senhor.Suzana Vaz.Outubro 2005

Tendo como referência inspiradora a lenda da Rainha Santa Isabel, o ciclo de trabalho que RuteRosas agora apresenta inscreve-se no imaginário ancestral dos ‘poderes miraculosos’. A Rainha Santa, paraultrapassar a interpelação desconfiada de D. Dinis, transforma em rosas os pães para dádiva que levava ocultosno manto, e mostra-as, para que o Rei as veja: “São rosas, Senhor”. O fenómeno de transubstanciação que estalenda trouxe para a história é um dos ‘poderes mágicos’ (siddhis) atribuídos aos “seres dotados de super-conhecimento ELIADE, Mircea, Yoga, Immortality and Freedom, Princeton Bollingen, New Jersey, 1990, (9ª edição, 1ªedição em 1958, edição original em 1954 Le Yoga Immortalité et liberté Librairie Payot, Paris), p.279-280. Este autor citaa passagem do Maháprajñápáramitáshástra, de Nágárjuna, (séc.III), referindo, na lista de ‘perfeições’ (siddhis), quatrotipos de metamorfoses, entre os quais se incluem as faculdades de “seres dotados de super-conhecimento (abhijña)conseguirem transformar substâncias por força do seu poder mágico (rhddhibala) ”, ou de “seres consagrados com umavida no mundo material conseguirem transformar substâncias pela força da sua concentração (samádhi-bala)”.”, comoos ascetas ou os santos. Os siddhis, ou perfeições, são interpretados como uma etapa na realização da aspiraçãoà transcendência, denotando a mestria, ou domínio perfeito, do asceta sobre si próprio e sobre o mundo,reveladores da sua vivência supra-humana. Na tradição metafísica, os siddhis participam de um paradigma detendência para o concreto, para a experiência pessoal, que contrasta com a tendência para a especulação, doritualismo e respectiva escolástica, favorecida pela prática religiosa institucional Ibid., pp. 360-61..

No paradigma de tendência para o concreto inserem-se o yôga, o tantrismo e a alquimia Ibid., p.280, em algumas regiões (Nepal e região Tamil), os alquimistas são chamados sittars – ou seja, siddhas, possuidoresde siddhis., que partilham um carácter iniciático cujas origens remontam ao pano de fundo da cultura ruraloriginária, de elementos matriarcais (de culto da fertilidade e da divindade feminina), e de práticas xamânicase ascéticas. Estas práticas primordiais concretizam-se num conhecimento empírico acerca do corpo, de domínioexperimental sobre os seus processos psico-mentais e psico-físicos, que são homologados aos processos docosmos Ibid., caps. VI. Yoga and Tantrism, VII. Yoga and Alchemy e VIII. Yoga and Aboriginal India.. Integrado nessacosmofisiologia de erudição e de poder sobre o corpo, o renascimento iniciático marca a passagem para umnovo modo de ser, não profano, não condicionado - que transcende os processos corporais mundanos dacondição humana – liberto para uma vivência supra-humana. A alusão explícita a este universo de referênciastoma lugar na obra de Rute Rosas desde o conjunto de trabalhos Da Terra ao Céu, Karnapidásana e Onde háFumo há Fogo, de 2004, ilustrativos dessas práticas corporais, propiciadoras de estados de consciênciadescondicionados. A abordagem de um estágio ulterior da experiência concreta na realização da aspiração àtranscendência, de aquisição de um corpo e de um modo de ser divinos, veículos de uma linguagem intencional,como veremos, fica ilustrada no potencial iconográfico da perfeição escolhida para a exposição São Rosas,Senhor.

A apresentação de São Rosas, Senhor tem como característica compositiva a simetria, que podeser tomada como uma referência directa ao princípio de homologação entre corpo profano e corpo divino, entreos processos de um e de outro, e a esse acervo de conotações iconográficas.

O espaço da exposição é organizado simetricamente, como um espelho: disso mesmo nos dáimediatamente conta a reprodução fotográfica da grande janela existente logo à entrada, réplica iconográficacolocada em frente ao seu modelo. A duplicação desta janela panorâmica salienta também a qualidade metafóricadesse ícone como abertura para o exterior, para a paisagem natural e para o céu, compondo um contextogeográfico e cosmográfico para o devir do corpo e dos seus processos, e aludindo a esses planos de significado.

Correspondendo também a uma simetria óbvia, a réplica de outra abertura existente no espaçoda exposição, uma janela de arco cujo rebatimento horizontal duplica esse formato para servir de moldura auma imagem da boca da artista, aberta e com rosas cravadas em oferta para os visitantes (para serem retiradaspor estes), pode ainda ser interpretada como o campo horizontal e liso onde se constrói a mandala Ibid., pp.218-223. Elemento iconográfico da liturgia tantrica., terreno nivelado onde é inevitável reconhecer a representaçãoliturgicamente canónica do paraíso ou de um plano transcendente.

O alinhamento de três colunas, pré-existente no espaço, foi também duplicado por meio dacolocação de três colunas falsas, compondo uma sequência reticular de três pares de colunas. Em cada coluna,situado a altura variável, existe um fragmento do corpo de Rute Rosas, em imagem ou como um pequeno objectode prata (dedo, lábios e umbigo). Estes fragmentos opõem-se frontalmente, numa evidente conjunção deopostos: a boca contrapõe-se ao dedo, os olhos contrapõem-se ao umbigo, o umbigo contrapõe-se ao dedo.Incorporando-se aos elementos arquitectónicos do espaço (como também acontece com a imagem da sua bocana janela de arco rebatida), a artista torna explícito o contexto de conotações pelo qual um espaço arquitectónicose equipara a um cosmograma do corpo e dos seus processos, tornando-os homólogos. Visitando o espaçoda exposição, o espectador visita também um corpo, e está não apenas perante representações dos processosdeste, mas também das suas respectivas equivalências projectadas noutros planos de significado, à semelhança

do que acontece nos ambulatórios de locais de culto.Ao fundo da galeria, uma caixa de espelhos replica infinitamente a perfeição que serve de mote à

exposição. Em oposição frontal, entre espelhos e à distância de um corpo, uma imagem com um pão saindopela boca da artista, e a imagem homóloga com rosas saindo pela boca, são reflectidas miríades de vezes. Estarepresentação clássica do campo infinito, é também uma representação do plano transcendente, onde se projectao poder de transubstanciação e, inerentemente, o poder da mente sobre a matéria, e expressa não apenas oprocesso divino que subjaz ao siddhi yôguico, mas também o processo criativo que subjaz à realização artística.Partilhando o mesmo princípio transcendente de homologação, ambos os processos comprovam um avançosobre a condição humana, em direcção a uma vivência supra-humana, descondicionada e não-profana.

Na antecâmara verde e vermelha do espaço da exposição, recebendo o visitante, a artista apresentauma árvore bonsaï com 32 maçãs/miniatura em crochet. Representando a idade da artista, as 32 maçãs indicamexplicitamente o carácter auto-biográfico e auto-referencial do trabalho que ali começa a ser mostrado, a partirde um ícone genealógico, que pode interpretar-se como uma alusão à linhagem dos temas do seu trabalhoartístico, à história da sua procedência e do seu desenvolvimento. Por outro lado, a árvore é um ícone arcaicoque remonta ao estrato pré-agrícola, o mais antigo da cultura da vegetação, de divindade feminina, cujos locaisde culto coincidiam com árvores de qualidade específica Por exemplo, a ficus religiosa, ibid. pp. 344-345. , ouficavam na vizinhança de árvores. Traços destes cultos em culturas posteriores identificam iconograficamentea árvore com a mulher e com o altar Por exemplo, na árvore hierofanica do culto budista das caityas, divindadesfemininas, ou nos cultos da vegetação pré-arianos, ibid. pp. 345-346. .

É todavia relevante que a lenda da Rainha Santa relate um prodígio motivado pela necessidade dedissimulação, e originado por uma censura do seu par/semelhante masculino, que informa acerca do contextode autoridade patriarcal, e da circunstância de antagonismo e repressão, e de menosprezo pelas capacidadese pela realização individuais e de uma correspondente desvalorização da dádiva. No discurso artístico de RuteRosas, a oferta, designadamente de artigos comestíveis, é recorrente e detém um sentido humanista: a partilhaconcreta da experiência da criação é o acto pelo qual fica demonstrada a capacidade de transformação darealidade e de uso do livre arbítrio face aos condicionamentos da mesma. Na abertura da exposição, a artistaoferece aos visitantes pães com o formato de rosas e, significativamente, água e vinho.

1972Nasceu no PortoBorn In Oporto1995Licenciatura em Artes Plásticas- Escultura. Escola Superior de Belas Artes do PortoFine Arts - Sculpture Graduation. Escola Superior de Belas Artes do Porto

Desde Since 1999Assistente da Licenciatura em Escultura na Faculdade de Belas Artes da U.P.Mestre em Arte Multimédia, desde 2002, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do PortoTema: A Percepção Somatossensorial da Obra de Arte - Pressupostos de um ProjectoArtísticoAssistant of Fine Arts - Sculpture Graduation from Faculdade de Belas Artes da U.P. Masterdegree in Multimedia Art.Theme: The Somatosensorial Perception in Art Work - Un Artistic Project Presuppositions

Possui formação em áreas como: Imagem e Som digital; Fundição; Resinas e Silicones;Tapeçaria, Tecelagem e Tinturaria; Ballet Clássico. Foi docente na Escola Secundária deSoares dos Reis e na Escola Superior Artística do Porto. Tem realizado palestras emdiversos países, participado em conferências, concebido e coordenado exposições eeventos para além da publicação de artigos em revistas on-line.

Exposições Individuais Individual Shows

2005São rosas, Senhor!. Galeria SMS. Museu Sociedade Martins Sarmento. Guimarães.Pele de Embrullho. Galeria Sopro. Lisboa.

2004Faço de conta que és tu.... Galerie 35. Berlim. Alemanha.Vídeo projecções. Projecto Espaços em Branco. Galeria Cubic. Lisboa

2003Por Fim. Curadoria Paulo Reis. Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho/ Castelinho doFlamengo. Rio de Janeiro. Brasil

2002Dentro de Mim. Galeria Canvas. Porto.2000Mamã, deixa-me andar de escultura!?. Galeria Serpente. Porto

Exposições Colectivas ( selecção 2003, 2005 ) Group Shows (selection 2003, 2005)

2005ZART21- Arte Urbana para Intervenção. LisboaXIII Bienal Internacial de Arte de V. Nova de Cerveira. Prémio Bienal.Prémio Vespeira. Montijo. Menção Honrosa (Fotografia)IMAN. Projecto transdisciplinar com curadoria de Alexandre Costa. Casa das Artes deVilaNova de Famalicão.100 Desenhos. Maus Hábitos. Porto

2004OFF’LOOP 2004 . Festival Internacional de Vídeo. Barcelona. Espanha.Outro Lugar. Galeria Virgílio. S.Paulo. Brasil.Sem título. Maus Hábitos. PortoRevista Laura. Projectos artísticos. Edição especial de Junho.

2003Artista convidada para o projecto de investigação promovido pela Escola Sup. Educ.Paula Frassinetti. Laboratório com crianças.Intervenção Série X para a peça XY do Grupo Teatro Plástico. Teatro Municipal Rivoli.PortoA.R.C.O. 2003. Galeria Graça Brandão. Madrid. Espanha

Desde 1994 tem integrado numerosas exposições e eventos colectivos, concursos, feirasde arte nacionais e internacionais, simpósios e oficinas. Recebeu prémios e sua obraencontra-se representada em diversas colecções privadas e instituições.

Rute Rosas

São Rosas, Senhor!Museu Martins Sarmento

Galeria S.M.S22 OUTUBRO A 25 NOVEMBRO 2005

apoios

DES

IGN

JU

LIO

DO

LBET

H

São Rosas, Senhor.Suzana Vaz.Outubro 2005

Tendo como referência inspiradora a lenda da Rainha Santa Isabel, o ciclo de trabalho que RuteRosas agora apresenta inscreve-se no imaginário ancestral dos ‘poderes miraculosos’. A Rainha Santa, paraultrapassar a interpelação desconfiada de D. Dinis, transforma em rosas os pães para dádiva que levava ocultosno manto, e mostra-as, para que o Rei as veja: “São rosas, Senhor”. O fenómeno de transubstanciação que estalenda trouxe para a história é um dos ‘poderes mágicos’ (siddhis) atribuídos aos “seres dotados de super-conhecimento ELIADE, Mircea, Yoga, Immortality and Freedom, Princeton Bollingen, New Jersey, 1990, (9ª edição, 1ªedição em 1958, edição original em 1954 Le Yoga Immortalité et liberté Librairie Payot, Paris), p.279-280. Este autor citaa passagem do Maháprajñápáramitáshástra, de Nágárjuna, (séc.III), referindo, na lista de ‘perfeições’ (siddhis), quatrotipos de metamorfoses, entre os quais se incluem as faculdades de “seres dotados de super-conhecimento (abhijña)conseguirem transformar substâncias por força do seu poder mágico (rhddhibala) ”, ou de “seres consagrados com umavida no mundo material conseguirem transformar substâncias pela força da sua concentração (samádhi-bala)”.”, comoos ascetas ou os santos. Os siddhis, ou perfeições, são interpretados como uma etapa na realização da aspiraçãoà transcendência, denotando a mestria, ou domínio perfeito, do asceta sobre si próprio e sobre o mundo,reveladores da sua vivência supra-humana. Na tradição metafísica, os siddhis participam de um paradigma detendência para o concreto, para a experiência pessoal, que contrasta com a tendência para a especulação, doritualismo e respectiva escolástica, favorecida pela prática religiosa institucional Ibid., pp. 360-61..

No paradigma de tendência para o concreto inserem-se o yôga, o tantrismo e a alquimia Ibid., p.280, em algumas regiões (Nepal e região Tamil), os alquimistas são chamados sittars – ou seja, siddhas, possuidoresde siddhis., que partilham um carácter iniciático cujas origens remontam ao pano de fundo da cultura ruraloriginária, de elementos matriarcais (de culto da fertilidade e da divindade feminina), e de práticas xamânicase ascéticas. Estas práticas primordiais concretizam-se num conhecimento empírico acerca do corpo, de domínioexperimental sobre os seus processos psico-mentais e psico-físicos, que são homologados aos processos docosmos Ibid., caps. VI. Yoga and Tantrism, VII. Yoga and Alchemy e VIII. Yoga and Aboriginal India.. Integrado nessacosmofisiologia de erudição e de poder sobre o corpo, o renascimento iniciático marca a passagem para umnovo modo de ser, não profano, não condicionado - que transcende os processos corporais mundanos dacondição humana – liberto para uma vivência supra-humana. A alusão explícita a este universo de referênciastoma lugar na obra de Rute Rosas desde o conjunto de trabalhos Da Terra ao Céu, Karnapidásana e Onde háFumo há Fogo, de 2004, ilustrativos dessas práticas corporais, propiciadoras de estados de consciênciadescondicionados. A abordagem de um estágio ulterior da experiência concreta na realização da aspiração àtranscendência, de aquisição de um corpo e de um modo de ser divinos, veículos de uma linguagem intencional,como veremos, fica ilustrada no potencial iconográfico da perfeição escolhida para a exposição São Rosas,Senhor.

A apresentação de São Rosas, Senhor tem como característica compositiva a simetria, que podeser tomada como uma referência directa ao princípio de homologação entre corpo profano e corpo divino, entreos processos de um e de outro, e a esse acervo de conotações iconográficas.

O espaço da exposição é organizado simetricamente, como um espelho: disso mesmo nos dáimediatamente conta a reprodução fotográfica da grande janela existente logo à entrada, réplica iconográficacolocada em frente ao seu modelo. A duplicação desta janela panorâmica salienta também a qualidade metafóricadesse ícone como abertura para o exterior, para a paisagem natural e para o céu, compondo um contextogeográfico e cosmográfico para o devir do corpo e dos seus processos, e aludindo a esses planos de significado.

Correspondendo também a uma simetria óbvia, a réplica de outra abertura existente no espaçoda exposição, uma janela de arco cujo rebatimento horizontal duplica esse formato para servir de moldura auma imagem da boca da artista, aberta e com rosas cravadas em oferta para os visitantes (para serem retiradaspor estes), pode ainda ser interpretada como o campo horizontal e liso onde se constrói a mandala Ibid., pp.218-223. Elemento iconográfico da liturgia tantrica., terreno nivelado onde é inevitável reconhecer a representaçãoliturgicamente canónica do paraíso ou de um plano transcendente.

O alinhamento de três colunas, pré-existente no espaço, foi também duplicado por meio dacolocação de três colunas falsas, compondo uma sequência reticular de três pares de colunas. Em cada coluna,situado a altura variável, existe um fragmento do corpo de Rute Rosas, em imagem ou como um pequeno objectode prata (dedo, lábios e umbigo). Estes fragmentos opõem-se frontalmente, numa evidente conjunção deopostos: a boca contrapõe-se ao dedo, os olhos contrapõem-se ao umbigo, o umbigo contrapõe-se ao dedo.Incorporando-se aos elementos arquitectónicos do espaço (como também acontece com a imagem da sua bocana janela de arco rebatida), a artista torna explícito o contexto de conotações pelo qual um espaço arquitectónicose equipara a um cosmograma do corpo e dos seus processos, tornando-os homólogos. Visitando o espaçoda exposição, o espectador visita também um corpo, e está não apenas perante representações dos processosdeste, mas também das suas respectivas equivalências projectadas noutros planos de significado, à semelhança

do que acontece nos ambulatórios de locais de culto.Ao fundo da galeria, uma caixa de espelhos replica infinitamente a perfeição que serve de mote à

exposição. Em oposição frontal, entre espelhos e à distância de um corpo, uma imagem com um pão saindopela boca da artista, e a imagem homóloga com rosas saindo pela boca, são reflectidas miríades de vezes. Estarepresentação clássica do campo infinito, é também uma representação do plano transcendente, onde se projectao poder de transubstanciação e, inerentemente, o poder da mente sobre a matéria, e expressa não apenas oprocesso divino que subjaz ao siddhi yôguico, mas também o processo criativo que subjaz à realização artística.Partilhando o mesmo princípio transcendente de homologação, ambos os processos comprovam um avançosobre a condição humana, em direcção a uma vivência supra-humana, descondicionada e não-profana.

Na antecâmara verde e vermelha do espaço da exposição, recebendo o visitante, a artista apresentauma árvore bonsaï com 32 maçãs/miniatura em crochet. Representando a idade da artista, as 32 maçãs indicamexplicitamente o carácter auto-biográfico e auto-referencial do trabalho que ali começa a ser mostrado, a partirde um ícone genealógico, que pode interpretar-se como uma alusão à linhagem dos temas do seu trabalhoartístico, à história da sua procedência e do seu desenvolvimento. Por outro lado, a árvore é um ícone arcaicoque remonta ao estrato pré-agrícola, o mais antigo da cultura da vegetação, de divindade feminina, cujos locaisde culto coincidiam com árvores de qualidade específica Por exemplo, a ficus religiosa, ibid. pp. 344-345. , ouficavam na vizinhança de árvores. Traços destes cultos em culturas posteriores identificam iconograficamentea árvore com a mulher e com o altar Por exemplo, na árvore hierofanica do culto budista das caityas, divindadesfemininas, ou nos cultos da vegetação pré-arianos, ibid. pp. 345-346. .

É todavia relevante que a lenda da Rainha Santa relate um prodígio motivado pela necessidade dedissimulação, e originado por uma censura do seu par/semelhante masculino, que informa acerca do contextode autoridade patriarcal, e da circunstância de antagonismo e repressão, e de menosprezo pelas capacidadese pela realização individuais e de uma correspondente desvalorização da dádiva. No discurso artístico de RuteRosas, a oferta, designadamente de artigos comestíveis, é recorrente e detém um sentido humanista: a partilhaconcreta da experiência da criação é o acto pelo qual fica demonstrada a capacidade de transformação darealidade e de uso do livre arbítrio face aos condicionamentos da mesma. Na abertura da exposição, a artistaoferece aos visitantes pães com o formato de rosas e, significativamente, água e vinho.

1972Nasceu no PortoBorn In Oporto1995Licenciatura em Artes Plásticas- Escultura. Escola Superior de Belas Artes do PortoFine Arts - Sculpture Graduation. Escola Superior de Belas Artes do Porto

Desde Since 1999Assistente da Licenciatura em Escultura na Faculdade de Belas Artes da U.P.Mestre em Arte Multimédia, desde 2002, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do PortoTema: A Percepção Somatossensorial da Obra de Arte - Pressupostos de um ProjectoArtísticoAssistant of Fine Arts - Sculpture Graduation from Faculdade de Belas Artes da U.P. Masterdegree in Multimedia Art.Theme: The Somatosensorial Perception in Art Work - Un Artistic Project Presuppositions

Possui formação em áreas como: Imagem e Som digital; Fundição; Resinas e Silicones;Tapeçaria, Tecelagem e Tinturaria; Ballet Clássico. Foi docente na Escola Secundária deSoares dos Reis e na Escola Superior Artística do Porto. Tem realizado palestras emdiversos países, participado em conferências, concebido e coordenado exposições eeventos para além da publicação de artigos em revistas on-line.

Exposições Individuais Individual Shows

2005São rosas, Senhor!. Galeria SMS. Museu Sociedade Martins Sarmento. Guimarães.Pele de Embrullho. Galeria Sopro. Lisboa.

2004Faço de conta que és tu.... Galerie 35. Berlim. Alemanha.Vídeo projecções. Projecto Espaços em Branco. Galeria Cubic. Lisboa

2003Por Fim. Curadoria Paulo Reis. Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho/ Castelinho doFlamengo. Rio de Janeiro. Brasil

2002Dentro de Mim. Galeria Canvas. Porto.2000Mamã, deixa-me andar de escultura!?. Galeria Serpente. Porto

Exposições Colectivas ( selecção 2003, 2005 ) Group Shows (selection 2003, 2005)

2005ZART21- Arte Urbana para Intervenção. LisboaXIII Bienal Internacial de Arte de V. Nova de Cerveira. Prémio Bienal.Prémio Vespeira. Montijo. Menção Honrosa (Fotografia)IMAN. Projecto transdisciplinar com curadoria de Alexandre Costa. Casa das Artes deVilaNova de Famalicão.100 Desenhos. Maus Hábitos. Porto

2004OFF’LOOP 2004 . Festival Internacional de Vídeo. Barcelona. Espanha.Outro Lugar. Galeria Virgílio. S.Paulo. Brasil.Sem título. Maus Hábitos. PortoRevista Laura. Projectos artísticos. Edição especial de Junho.

2003Artista convidada para o projecto de investigação promovido pela Escola Sup. Educ.Paula Frassinetti. Laboratório com crianças.Intervenção Série X para a peça XY do Grupo Teatro Plástico. Teatro Municipal Rivoli.PortoA.R.C.O. 2003. Galeria Graça Brandão. Madrid. Espanha

Desde 1994 tem integrado numerosas exposições e eventos colectivos, concursos, feirasde arte nacionais e internacionais, simpósios e oficinas. Recebeu prémios e sua obraencontra-se representada em diversas colecções privadas e instituições.

Agradecimentos

Rute Rosas agradece, particularmente, aos seus pais, ao Francisco, à Suzana Vaz, ao Isaque Pinheiro,a Amélia Pinheiro, à Lígia Araão, ao Miguel Duarte, ao Pedro Leite, ao Julio Dolbeth e ainda a todosos seus outros verdadeiros amigos (eles sabem quem são). Que nunca vos faltem nem Pão nem Rosas,queridos!

Agradecimentos

Rute Rosas agradece, particularmente, aos seus pais, ao Francisco, à Suzana Vaz, ao Isaque Pinheiro,a Amélia Pinheiro, à Lígia Araão, ao Miguel Duarte, ao Pedro Leite, ao Julio Dolbeth e ainda a todosos seus outros verdadeiros amigos (eles sabem quem são). Que nunca vos faltem nem Pão nem Rosas,queridos!

Agradecimentos

Rute Rosas agradece, particularmente, aos seus pais, ao Francisco, à Suzana Vaz, ao Isaque Pinheiro,a Amélia Pinheiro, à Lígia Araão, ao Miguel Duarte, ao Pedro Leite, ao Julio Dolbeth e ainda a todosos seus outros verdadeiros amigos (eles sabem quem são). Que nunca vos faltem nem Pão nem Rosas,queridos!

Rute Rosas

São Rosas, Senhor!Museu Martins Sarmento

Galeria S.M.S22 OUTUBRO A 25 NOVEMBRO 2005

apoios

DES

IGN

JU

LIO

DO

LBET

H

São Rosas, Senhor.Suzana Vaz.Outubro 2005

Tendo como referência inspiradora a lenda da Rainha Santa Isabel, o ciclo de trabalho que RuteRosas agora apresenta inscreve-se no imaginário ancestral dos ‘poderes miraculosos’. A Rainha Santa, paraultrapassar a interpelação desconfiada de D. Dinis, transforma em rosas os pães para dádiva que levava ocultosno manto, e mostra-as, para que o Rei as veja: “São rosas, Senhor”. O fenómeno de transubstanciação que estalenda trouxe para a história é um dos ‘poderes mágicos’ (siddhis) atribuídos aos “seres dotados de super-conhecimento ELIADE, Mircea, Yoga, Immortality and Freedom, Princeton Bollingen, New Jersey, 1990, (9ª edição, 1ªedição em 1958, edição original em 1954 Le Yoga Immortalité et liberté Librairie Payot, Paris), p.279-280. Este autor citaa passagem do Maháprajñápáramitáshástra, de Nágárjuna, (séc.III), referindo, na lista de ‘perfeições’ (siddhis), quatrotipos de metamorfoses, entre os quais se incluem as faculdades de “seres dotados de super-conhecimento (abhijña)conseguirem transformar substâncias por força do seu poder mágico (rhddhibala) ”, ou de “seres consagrados com umavida no mundo material conseguirem transformar substâncias pela força da sua concentração (samádhi-bala)”.”, comoos ascetas ou os santos. Os siddhis, ou perfeições, são interpretados como uma etapa na realização da aspiraçãoà transcendência, denotando a mestria, ou domínio perfeito, do asceta sobre si próprio e sobre o mundo,reveladores da sua vivência supra-humana. Na tradição metafísica, os siddhis participam de um paradigma detendência para o concreto, para a experiência pessoal, que contrasta com a tendência para a especulação, doritualismo e respectiva escolástica, favorecida pela prática religiosa institucional Ibid., pp. 360-61..

No paradigma de tendência para o concreto inserem-se o yôga, o tantrismo e a alquimia Ibid., p.280, em algumas regiões (Nepal e região Tamil), os alquimistas são chamados sittars – ou seja, siddhas, possuidoresde siddhis., que partilham um carácter iniciático cujas origens remontam ao pano de fundo da cultura ruraloriginária, de elementos matriarcais (de culto da fertilidade e da divindade feminina), e de práticas xamânicase ascéticas. Estas práticas primordiais concretizam-se num conhecimento empírico acerca do corpo, de domínioexperimental sobre os seus processos psico-mentais e psico-físicos, que são homologados aos processos docosmos Ibid., caps. VI. Yoga and Tantrism, VII. Yoga and Alchemy e VIII. Yoga and Aboriginal India.. Integrado nessacosmofisiologia de erudição e de poder sobre o corpo, o renascimento iniciático marca a passagem para umnovo modo de ser, não profano, não condicionado - que transcende os processos corporais mundanos dacondição humana – liberto para uma vivência supra-humana. A alusão explícita a este universo de referênciastoma lugar na obra de Rute Rosas desde o conjunto de trabalhos Da Terra ao Céu, Karnapidásana e Onde háFumo há Fogo, de 2004, ilustrativos dessas práticas corporais, propiciadoras de estados de consciênciadescondicionados. A abordagem de um estágio ulterior da experiência concreta na realização da aspiração àtranscendência, de aquisição de um corpo e de um modo de ser divinos, veículos de uma linguagem intencional,como veremos, fica ilustrada no potencial iconográfico da perfeição escolhida para a exposição São Rosas,Senhor.

A apresentação de São Rosas, Senhor tem como característica compositiva a simetria, que podeser tomada como uma referência directa ao princípio de homologação entre corpo profano e corpo divino, entreos processos de um e de outro, e a esse acervo de conotações iconográficas.

O espaço da exposição é organizado simetricamente, como um espelho: disso mesmo nos dáimediatamente conta a reprodução fotográfica da grande janela existente logo à entrada, réplica iconográficacolocada em frente ao seu modelo. A duplicação desta janela panorâmica salienta também a qualidade metafóricadesse ícone como abertura para o exterior, para a paisagem natural e para o céu, compondo um contextogeográfico e cosmográfico para o devir do corpo e dos seus processos, e aludindo a esses planos de significado.

Correspondendo também a uma simetria óbvia, a réplica de outra abertura existente no espaçoda exposição, uma janela de arco cujo rebatimento horizontal duplica esse formato para servir de moldura auma imagem da boca da artista, aberta e com rosas cravadas em oferta para os visitantes (para serem retiradaspor estes), pode ainda ser interpretada como o campo horizontal e liso onde se constrói a mandala Ibid., pp.218-223. Elemento iconográfico da liturgia tantrica., terreno nivelado onde é inevitável reconhecer a representaçãoliturgicamente canónica do paraíso ou de um plano transcendente.

O alinhamento de três colunas, pré-existente no espaço, foi também duplicado por meio dacolocação de três colunas falsas, compondo uma sequência reticular de três pares de colunas. Em cada coluna,situado a altura variável, existe um fragmento do corpo de Rute Rosas, em imagem ou como um pequeno objectode prata (dedo, lábios e umbigo). Estes fragmentos opõem-se frontalmente, numa evidente conjunção deopostos: a boca contrapõe-se ao dedo, os olhos contrapõem-se ao umbigo, o umbigo contrapõe-se ao dedo.Incorporando-se aos elementos arquitectónicos do espaço (como também acontece com a imagem da sua bocana janela de arco rebatida), a artista torna explícito o contexto de conotações pelo qual um espaço arquitectónicose equipara a um cosmograma do corpo e dos seus processos, tornando-os homólogos. Visitando o espaçoda exposição, o espectador visita também um corpo, e está não apenas perante representações dos processosdeste, mas também das suas respectivas equivalências projectadas noutros planos de significado, à semelhança

do que acontece nos ambulatórios de locais de culto.Ao fundo da galeria, uma caixa de espelhos replica infinitamente a perfeição que serve de mote à

exposição. Em oposição frontal, entre espelhos e à distância de um corpo, uma imagem com um pão saindopela boca da artista, e a imagem homóloga com rosas saindo pela boca, são reflectidas miríades de vezes. Estarepresentação clássica do campo infinito, é também uma representação do plano transcendente, onde se projectao poder de transubstanciação e, inerentemente, o poder da mente sobre a matéria, e expressa não apenas oprocesso divino que subjaz ao siddhi yôguico, mas também o processo criativo que subjaz à realização artística.Partilhando o mesmo princípio transcendente de homologação, ambos os processos comprovam um avançosobre a condição humana, em direcção a uma vivência supra-humana, descondicionada e não-profana.

Na antecâmara verde e vermelha do espaço da exposição, recebendo o visitante, a artista apresentauma árvore bonsaï com 32 maçãs/miniatura em crochet. Representando a idade da artista, as 32 maçãs indicamexplicitamente o carácter auto-biográfico e auto-referencial do trabalho que ali começa a ser mostrado, a partirde um ícone genealógico, que pode interpretar-se como uma alusão à linhagem dos temas do seu trabalhoartístico, à história da sua procedência e do seu desenvolvimento. Por outro lado, a árvore é um ícone arcaicoque remonta ao estrato pré-agrícola, o mais antigo da cultura da vegetação, de divindade feminina, cujos locaisde culto coincidiam com árvores de qualidade específica Por exemplo, a ficus religiosa, ibid. pp. 344-345. , ouficavam na vizinhança de árvores. Traços destes cultos em culturas posteriores identificam iconograficamentea árvore com a mulher e com o altar Por exemplo, na árvore hierofanica do culto budista das caityas, divindadesfemininas, ou nos cultos da vegetação pré-arianos, ibid. pp. 345-346. .

É todavia relevante que a lenda da Rainha Santa relate um prodígio motivado pela necessidade dedissimulação, e originado por uma censura do seu par/semelhante masculino, que informa acerca do contextode autoridade patriarcal, e da circunstância de antagonismo e repressão, e de menosprezo pelas capacidadese pela realização individuais e de uma correspondente desvalorização da dádiva. No discurso artístico de RuteRosas, a oferta, designadamente de artigos comestíveis, é recorrente e detém um sentido humanista: a partilhaconcreta da experiência da criação é o acto pelo qual fica demonstrada a capacidade de transformação darealidade e de uso do livre arbítrio face aos condicionamentos da mesma. Na abertura da exposição, a artistaoferece aos visitantes pães com o formato de rosas e, significativamente, água e vinho.

1972Nasceu no PortoBorn In Oporto1995Licenciatura em Artes Plásticas- Escultura. Escola Superior de Belas Artes do PortoFine Arts - Sculpture Graduation. Escola Superior de Belas Artes do Porto

Desde Since 1999Assistente da Licenciatura em Escultura na Faculdade de Belas Artes da U.P.Mestre em Arte Multimédia, desde 2002, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do PortoTema: A Percepção Somatossensorial da Obra de Arte - Pressupostos de um ProjectoArtísticoAssistant of Fine Arts - Sculpture Graduation from Faculdade de Belas Artes da U.P. Masterdegree in Multimedia Art.Theme: The Somatosensorial Perception in Art Work - Un Artistic Project Presuppositions

Possui formação em áreas como: Imagem e Som digital; Fundição; Resinas e Silicones;Tapeçaria, Tecelagem e Tinturaria; Ballet Clássico. Foi docente na Escola Secundária deSoares dos Reis e na Escola Superior Artística do Porto. Tem realizado palestras emdiversos países, participado em conferências, concebido e coordenado exposições eeventos para além da publicação de artigos em revistas on-line.

Exposições Individuais Individual Shows

2005São rosas, Senhor!. Galeria SMS. Museu Sociedade Martins Sarmento. Guimarães.Pele de Embrullho. Galeria Sopro. Lisboa.

2004Faço de conta que és tu.... Galerie 35. Berlim. Alemanha.Vídeo projecções. Projecto Espaços em Branco. Galeria Cubic. Lisboa

2003Por Fim. Curadoria Paulo Reis. Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho/ Castelinho doFlamengo. Rio de Janeiro. Brasil

2002Dentro de Mim. Galeria Canvas. Porto.2000Mamã, deixa-me andar de escultura!?. Galeria Serpente. Porto

Exposições Colectivas ( selecção 2003, 2005 ) Group Shows (selection 2003, 2005)

2005ZART21- Arte Urbana para Intervenção. LisboaXIII Bienal Internacial de Arte de V. Nova de Cerveira. Prémio Bienal.Prémio Vespeira. Montijo. Menção Honrosa (Fotografia)IMAN. Projecto transdisciplinar com curadoria de Alexandre Costa. Casa das Artes deVilaNova de Famalicão.100 Desenhos. Maus Hábitos. Porto

2004OFF’LOOP 2004 . Festival Internacional de Vídeo. Barcelona. Espanha.Outro Lugar. Galeria Virgílio. S.Paulo. Brasil.Sem título. Maus Hábitos. PortoRevista Laura. Projectos artísticos. Edição especial de Junho.

2003Artista convidada para o projecto de investigação promovido pela Escola Sup. Educ.Paula Frassinetti. Laboratório com crianças.Intervenção Série X para a peça XY do Grupo Teatro Plástico. Teatro Municipal Rivoli.PortoA.R.C.O. 2003. Galeria Graça Brandão. Madrid. Espanha

Desde 1994 tem integrado numerosas exposições e eventos colectivos, concursos, feirasde arte nacionais e internacionais, simpósios e oficinas. Recebeu prémios e sua obraencontra-se representada em diversas colecções privadas e instituições.

Rute Rosas

São Rosas, Senhor!Museu Martins Sarmento

Galeria S.M.S22 OUTUBRO A 25 NOVEMBRO 2005

apoios

DES

IGN

JU

LIO

DO

LBET

H

São Rosas, Senhor.Suzana Vaz.Outubro 2005

Tendo como referência inspiradora a lenda da Rainha Santa Isabel, o ciclo de trabalho que RuteRosas agora apresenta inscreve-se no imaginário ancestral dos ‘poderes miraculosos’. A Rainha Santa, paraultrapassar a interpelação desconfiada de D. Dinis, transforma em rosas os pães para dádiva que levava ocultosno manto, e mostra-as, para que o Rei as veja: “São rosas, Senhor”. O fenómeno de transubstanciação que estalenda trouxe para a história é um dos ‘poderes mágicos’ (siddhis) atribuídos aos “seres dotados de super-conhecimento ELIADE, Mircea, Yoga, Immortality and Freedom, Princeton Bollingen, New Jersey, 1990, (9ª edição, 1ªedição em 1958, edição original em 1954 Le Yoga Immortalité et liberté Librairie Payot, Paris), p.279-280. Este autor citaa passagem do Maháprajñápáramitáshástra, de Nágárjuna, (séc.III), referindo, na lista de ‘perfeições’ (siddhis), quatrotipos de metamorfoses, entre os quais se incluem as faculdades de “seres dotados de super-conhecimento (abhijña)conseguirem transformar substâncias por força do seu poder mágico (rhddhibala) ”, ou de “seres consagrados com umavida no mundo material conseguirem transformar substâncias pela força da sua concentração (samádhi-bala)”.”, comoos ascetas ou os santos. Os siddhis, ou perfeições, são interpretados como uma etapa na realização da aspiraçãoà transcendência, denotando a mestria, ou domínio perfeito, do asceta sobre si próprio e sobre o mundo,reveladores da sua vivência supra-humana. Na tradição metafísica, os siddhis participam de um paradigma detendência para o concreto, para a experiência pessoal, que contrasta com a tendência para a especulação, doritualismo e respectiva escolástica, favorecida pela prática religiosa institucional Ibid., pp. 360-61..

No paradigma de tendência para o concreto inserem-se o yôga, o tantrismo e a alquimia Ibid., p.280, em algumas regiões (Nepal e região Tamil), os alquimistas são chamados sittars – ou seja, siddhas, possuidoresde siddhis., que partilham um carácter iniciático cujas origens remontam ao pano de fundo da cultura ruraloriginária, de elementos matriarcais (de culto da fertilidade e da divindade feminina), e de práticas xamânicase ascéticas. Estas práticas primordiais concretizam-se num conhecimento empírico acerca do corpo, de domínioexperimental sobre os seus processos psico-mentais e psico-físicos, que são homologados aos processos docosmos Ibid., caps. VI. Yoga and Tantrism, VII. Yoga and Alchemy e VIII. Yoga and Aboriginal India.. Integrado nessacosmofisiologia de erudição e de poder sobre o corpo, o renascimento iniciático marca a passagem para umnovo modo de ser, não profano, não condicionado - que transcende os processos corporais mundanos dacondição humana – liberto para uma vivência supra-humana. A alusão explícita a este universo de referênciastoma lugar na obra de Rute Rosas desde o conjunto de trabalhos Da Terra ao Céu, Karnapidásana e Onde háFumo há Fogo, de 2004, ilustrativos dessas práticas corporais, propiciadoras de estados de consciênciadescondicionados. A abordagem de um estágio ulterior da experiência concreta na realização da aspiração àtranscendência, de aquisição de um corpo e de um modo de ser divinos, veículos de uma linguagem intencional,como veremos, fica ilustrada no potencial iconográfico da perfeição escolhida para a exposição São Rosas,Senhor.

A apresentação de São Rosas, Senhor tem como característica compositiva a simetria, que podeser tomada como uma referência directa ao princípio de homologação entre corpo profano e corpo divino, entreos processos de um e de outro, e a esse acervo de conotações iconográficas.

O espaço da exposição é organizado simetricamente, como um espelho: disso mesmo nos dáimediatamente conta a reprodução fotográfica da grande janela existente logo à entrada, réplica iconográficacolocada em frente ao seu modelo. A duplicação desta janela panorâmica salienta também a qualidade metafóricadesse ícone como abertura para o exterior, para a paisagem natural e para o céu, compondo um contextogeográfico e cosmográfico para o devir do corpo e dos seus processos, e aludindo a esses planos de significado.

Correspondendo também a uma simetria óbvia, a réplica de outra abertura existente no espaçoda exposição, uma janela de arco cujo rebatimento horizontal duplica esse formato para servir de moldura auma imagem da boca da artista, aberta e com rosas cravadas em oferta para os visitantes (para serem retiradaspor estes), pode ainda ser interpretada como o campo horizontal e liso onde se constrói a mandala Ibid., pp.218-223. Elemento iconográfico da liturgia tantrica., terreno nivelado onde é inevitável reconhecer a representaçãoliturgicamente canónica do paraíso ou de um plano transcendente.

O alinhamento de três colunas, pré-existente no espaço, foi também duplicado por meio dacolocação de três colunas falsas, compondo uma sequência reticular de três pares de colunas. Em cada coluna,situado a altura variável, existe um fragmento do corpo de Rute Rosas, em imagem ou como um pequeno objectode prata (dedo, lábios e umbigo). Estes fragmentos opõem-se frontalmente, numa evidente conjunção deopostos: a boca contrapõe-se ao dedo, os olhos contrapõem-se ao umbigo, o umbigo contrapõe-se ao dedo.Incorporando-se aos elementos arquitectónicos do espaço (como também acontece com a imagem da sua bocana janela de arco rebatida), a artista torna explícito o contexto de conotações pelo qual um espaço arquitectónicose equipara a um cosmograma do corpo e dos seus processos, tornando-os homólogos. Visitando o espaçoda exposição, o espectador visita também um corpo, e está não apenas perante representações dos processosdeste, mas também das suas respectivas equivalências projectadas noutros planos de significado, à semelhança

do que acontece nos ambulatórios de locais de culto.Ao fundo da galeria, uma caixa de espelhos replica infinitamente a perfeição que serve de mote à

exposição. Em oposição frontal, entre espelhos e à distância de um corpo, uma imagem com um pão saindopela boca da artista, e a imagem homóloga com rosas saindo pela boca, são reflectidas miríades de vezes. Estarepresentação clássica do campo infinito, é também uma representação do plano transcendente, onde se projectao poder de transubstanciação e, inerentemente, o poder da mente sobre a matéria, e expressa não apenas oprocesso divino que subjaz ao siddhi yôguico, mas também o processo criativo que subjaz à realização artística.Partilhando o mesmo princípio transcendente de homologação, ambos os processos comprovam um avançosobre a condição humana, em direcção a uma vivência supra-humana, descondicionada e não-profana.

Na antecâmara verde e vermelha do espaço da exposição, recebendo o visitante, a artista apresentauma árvore bonsaï com 32 maçãs/miniatura em crochet. Representando a idade da artista, as 32 maçãs indicamexplicitamente o carácter auto-biográfico e auto-referencial do trabalho que ali começa a ser mostrado, a partirde um ícone genealógico, que pode interpretar-se como uma alusão à linhagem dos temas do seu trabalhoartístico, à história da sua procedência e do seu desenvolvimento. Por outro lado, a árvore é um ícone arcaicoque remonta ao estrato pré-agrícola, o mais antigo da cultura da vegetação, de divindade feminina, cujos locaisde culto coincidiam com árvores de qualidade específica Por exemplo, a ficus religiosa, ibid. pp. 344-345. , ouficavam na vizinhança de árvores. Traços destes cultos em culturas posteriores identificam iconograficamentea árvore com a mulher e com o altar Por exemplo, na árvore hierofanica do culto budista das caityas, divindadesfemininas, ou nos cultos da vegetação pré-arianos, ibid. pp. 345-346. .

É todavia relevante que a lenda da Rainha Santa relate um prodígio motivado pela necessidade dedissimulação, e originado por uma censura do seu par/semelhante masculino, que informa acerca do contextode autoridade patriarcal, e da circunstância de antagonismo e repressão, e de menosprezo pelas capacidadese pela realização individuais e de uma correspondente desvalorização da dádiva. No discurso artístico de RuteRosas, a oferta, designadamente de artigos comestíveis, é recorrente e detém um sentido humanista: a partilhaconcreta da experiência da criação é o acto pelo qual fica demonstrada a capacidade de transformação darealidade e de uso do livre arbítrio face aos condicionamentos da mesma. Na abertura da exposição, a artistaoferece aos visitantes pães com o formato de rosas e, significativamente, água e vinho.

1972Nasceu no PortoBorn In Oporto1995Licenciatura em Artes Plásticas- Escultura. Escola Superior de Belas Artes do PortoFine Arts - Sculpture Graduation. Escola Superior de Belas Artes do Porto

Desde Since 1999Assistente da Licenciatura em Escultura na Faculdade de Belas Artes da U.P.Mestre em Arte Multimédia, desde 2002, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do PortoTema: A Percepção Somatossensorial da Obra de Arte - Pressupostos de um ProjectoArtísticoAssistant of Fine Arts - Sculpture Graduation from Faculdade de Belas Artes da U.P. Masterdegree in Multimedia Art.Theme: The Somatosensorial Perception in Art Work - Un Artistic Project Presuppositions

Possui formação em áreas como: Imagem e Som digital; Fundição; Resinas e Silicones;Tapeçaria, Tecelagem e Tinturaria; Ballet Clássico. Foi docente na Escola Secundária deSoares dos Reis e na Escola Superior Artística do Porto. Tem realizado palestras emdiversos países, participado em conferências, concebido e coordenado exposições eeventos para além da publicação de artigos em revistas on-line.

Exposições Individuais Individual Shows

2005São rosas, Senhor!. Galeria SMS. Museu Sociedade Martins Sarmento. Guimarães.Pele de Embrullho. Galeria Sopro. Lisboa.

2004Faço de conta que és tu.... Galerie 35. Berlim. Alemanha.Vídeo projecções. Projecto Espaços em Branco. Galeria Cubic. Lisboa

2003Por Fim. Curadoria Paulo Reis. Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho/ Castelinho doFlamengo. Rio de Janeiro. Brasil

2002Dentro de Mim. Galeria Canvas. Porto.2000Mamã, deixa-me andar de escultura!?. Galeria Serpente. Porto

Exposições Colectivas ( selecção 2003, 2005 ) Group Shows (selection 2003, 2005)

2005ZART21- Arte Urbana para Intervenção. LisboaXIII Bienal Internacial de Arte de V. Nova de Cerveira. Prémio Bienal.Prémio Vespeira. Montijo. Menção Honrosa (Fotografia)IMAN. Projecto transdisciplinar com curadoria de Alexandre Costa. Casa das Artes deVilaNova de Famalicão.100 Desenhos. Maus Hábitos. Porto

2004OFF’LOOP 2004 . Festival Internacional de Vídeo. Barcelona. Espanha.Outro Lugar. Galeria Virgílio. S.Paulo. Brasil.Sem título. Maus Hábitos. PortoRevista Laura. Projectos artísticos. Edição especial de Junho.

2003Artista convidada para o projecto de investigação promovido pela Escola Sup. Educ.Paula Frassinetti. Laboratório com crianças.Intervenção Série X para a peça XY do Grupo Teatro Plástico. Teatro Municipal Rivoli.PortoA.R.C.O. 2003. Galeria Graça Brandão. Madrid. Espanha

Desde 1994 tem integrado numerosas exposições e eventos colectivos, concursos, feirasde arte nacionais e internacionais, simpósios e oficinas. Recebeu prémios e sua obraencontra-se representada em diversas colecções privadas e instituições.

Agradecimentos

Rute Rosas agradece, particularmente, aos seus pais, ao Francisco, à Suzana Vaz, ao Isaque Pinheiro,a Amélia Pinheiro, à Lígia Araão, ao Miguel Duarte, ao Pedro Leite, ao Julio Dolbeth e ainda a todosos seus outros verdadeiros amigos (eles sabem quem são). Que nunca vos faltem nem Pão nem Rosas,queridos!

Rute Rosas

São Rosas, Senhor!Museu Martins Sarmento

Galeria S.M.S22 OUTUBRO A 25 NOVEMBRO 2005

apoios

DES

IGN

JU

LIO

DO

LBET

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São Rosas, Senhor.Suzana Vaz.Outubro 2005

Tendo como referência inspiradora a lenda da Rainha Santa Isabel, o ciclo de trabalho que RuteRosas agora apresenta inscreve-se no imaginário ancestral dos ‘poderes miraculosos’. A Rainha Santa, paraultrapassar a interpelação desconfiada de D. Dinis, transforma em rosas os pães para dádiva que levava ocultosno manto, e mostra-as, para que o Rei as veja: “São rosas, Senhor”. O fenómeno de transubstanciação que estalenda trouxe para a história é um dos ‘poderes mágicos’ (siddhis) atribuídos aos “seres dotados de super-conhecimento ELIADE, Mircea, Yoga, Immortality and Freedom, Princeton Bollingen, New Jersey, 1990, (9ª edição, 1ªedição em 1958, edição original em 1954 Le Yoga Immortalité et liberté Librairie Payot, Paris), p.279-280. Este autor citaa passagem do Maháprajñápáramitáshástra, de Nágárjuna, (séc.III), referindo, na lista de ‘perfeições’ (siddhis), quatrotipos de metamorfoses, entre os quais se incluem as faculdades de “seres dotados de super-conhecimento (abhijña)conseguirem transformar substâncias por força do seu poder mágico (rhddhibala) ”, ou de “seres consagrados com umavida no mundo material conseguirem transformar substâncias pela força da sua concentração (samádhi-bala)”.”, comoos ascetas ou os santos. Os siddhis, ou perfeições, são interpretados como uma etapa na realização da aspiraçãoà transcendência, denotando a mestria, ou domínio perfeito, do asceta sobre si próprio e sobre o mundo,reveladores da sua vivência supra-humana. Na tradição metafísica, os siddhis participam de um paradigma detendência para o concreto, para a experiência pessoal, que contrasta com a tendência para a especulação, doritualismo e respectiva escolástica, favorecida pela prática religiosa institucional Ibid., pp. 360-61..

No paradigma de tendência para o concreto inserem-se o yôga, o tantrismo e a alquimia Ibid., p.280, em algumas regiões (Nepal e região Tamil), os alquimistas são chamados sittars – ou seja, siddhas, possuidoresde siddhis., que partilham um carácter iniciático cujas origens remontam ao pano de fundo da cultura ruraloriginária, de elementos matriarcais (de culto da fertilidade e da divindade feminina), e de práticas xamânicase ascéticas. Estas práticas primordiais concretizam-se num conhecimento empírico acerca do corpo, de domínioexperimental sobre os seus processos psico-mentais e psico-físicos, que são homologados aos processos docosmos Ibid., caps. VI. Yoga and Tantrism, VII. Yoga and Alchemy e VIII. Yoga and Aboriginal India.. Integrado nessacosmofisiologia de erudição e de poder sobre o corpo, o renascimento iniciático marca a passagem para umnovo modo de ser, não profano, não condicionado - que transcende os processos corporais mundanos dacondição humana – liberto para uma vivência supra-humana. A alusão explícita a este universo de referênciastoma lugar na obra de Rute Rosas desde o conjunto de trabalhos Da Terra ao Céu, Karnapidásana e Onde háFumo há Fogo, de 2004, ilustrativos dessas práticas corporais, propiciadoras de estados de consciênciadescondicionados. A abordagem de um estágio ulterior da experiência concreta na realização da aspiração àtranscendência, de aquisição de um corpo e de um modo de ser divinos, veículos de uma linguagem intencional,como veremos, fica ilustrada no potencial iconográfico da perfeição escolhida para a exposição São Rosas,Senhor.

A apresentação de São Rosas, Senhor tem como característica compositiva a simetria, que podeser tomada como uma referência directa ao princípio de homologação entre corpo profano e corpo divino, entreos processos de um e de outro, e a esse acervo de conotações iconográficas.

O espaço da exposição é organizado simetricamente, como um espelho: disso mesmo nos dáimediatamente conta a reprodução fotográfica da grande janela existente logo à entrada, réplica iconográficacolocada em frente ao seu modelo. A duplicação desta janela panorâmica salienta também a qualidade metafóricadesse ícone como abertura para o exterior, para a paisagem natural e para o céu, compondo um contextogeográfico e cosmográfico para o devir do corpo e dos seus processos, e aludindo a esses planos de significado.

Correspondendo também a uma simetria óbvia, a réplica de outra abertura existente no espaçoda exposição, uma janela de arco cujo rebatimento horizontal duplica esse formato para servir de moldura auma imagem da boca da artista, aberta e com rosas cravadas em oferta para os visitantes (para serem retiradaspor estes), pode ainda ser interpretada como o campo horizontal e liso onde se constrói a mandala Ibid., pp.218-223. Elemento iconográfico da liturgia tantrica., terreno nivelado onde é inevitável reconhecer a representaçãoliturgicamente canónica do paraíso ou de um plano transcendente.

O alinhamento de três colunas, pré-existente no espaço, foi também duplicado por meio dacolocação de três colunas falsas, compondo uma sequência reticular de três pares de colunas. Em cada coluna,situado a altura variável, existe um fragmento do corpo de Rute Rosas, em imagem ou como um pequeno objectode prata (dedo, lábios e umbigo). Estes fragmentos opõem-se frontalmente, numa evidente conjunção deopostos: a boca contrapõe-se ao dedo, os olhos contrapõem-se ao umbigo, o umbigo contrapõe-se ao dedo.Incorporando-se aos elementos arquitectónicos do espaço (como também acontece com a imagem da sua bocana janela de arco rebatida), a artista torna explícito o contexto de conotações pelo qual um espaço arquitectónicose equipara a um cosmograma do corpo e dos seus processos, tornando-os homólogos. Visitando o espaçoda exposição, o espectador visita também um corpo, e está não apenas perante representações dos processosdeste, mas também das suas respectivas equivalências projectadas noutros planos de significado, à semelhança

do que acontece nos ambulatórios de locais de culto.Ao fundo da galeria, uma caixa de espelhos replica infinitamente a perfeição que serve de mote à

exposição. Em oposição frontal, entre espelhos e à distância de um corpo, uma imagem com um pão saindopela boca da artista, e a imagem homóloga com rosas saindo pela boca, são reflectidas miríades de vezes. Estarepresentação clássica do campo infinito, é também uma representação do plano transcendente, onde se projectao poder de transubstanciação e, inerentemente, o poder da mente sobre a matéria, e expressa não apenas oprocesso divino que subjaz ao siddhi yôguico, mas também o processo criativo que subjaz à realização artística.Partilhando o mesmo princípio transcendente de homologação, ambos os processos comprovam um avançosobre a condição humana, em direcção a uma vivência supra-humana, descondicionada e não-profana.

Na antecâmara verde e vermelha do espaço da exposição, recebendo o visitante, a artista apresentauma árvore bonsaï com 32 maçãs/miniatura em crochet. Representando a idade da artista, as 32 maçãs indicamexplicitamente o carácter auto-biográfico e auto-referencial do trabalho que ali começa a ser mostrado, a partirde um ícone genealógico, que pode interpretar-se como uma alusão à linhagem dos temas do seu trabalhoartístico, à história da sua procedência e do seu desenvolvimento. Por outro lado, a árvore é um ícone arcaicoque remonta ao estrato pré-agrícola, o mais antigo da cultura da vegetação, de divindade feminina, cujos locaisde culto coincidiam com árvores de qualidade específica Por exemplo, a ficus religiosa, ibid. pp. 344-345. , ouficavam na vizinhança de árvores. Traços destes cultos em culturas posteriores identificam iconograficamentea árvore com a mulher e com o altar Por exemplo, na árvore hierofanica do culto budista das caityas, divindadesfemininas, ou nos cultos da vegetação pré-arianos, ibid. pp. 345-346. .

É todavia relevante que a lenda da Rainha Santa relate um prodígio motivado pela necessidade dedissimulação, e originado por uma censura do seu par/semelhante masculino, que informa acerca do contextode autoridade patriarcal, e da circunstância de antagonismo e repressão, e de menosprezo pelas capacidadese pela realização individuais e de uma correspondente desvalorização da dádiva. No discurso artístico de RuteRosas, a oferta, designadamente de artigos comestíveis, é recorrente e detém um sentido humanista: a partilhaconcreta da experiência da criação é o acto pelo qual fica demonstrada a capacidade de transformação darealidade e de uso do livre arbítrio face aos condicionamentos da mesma. Na abertura da exposição, a artistaoferece aos visitantes pães com o formato de rosas e, significativamente, água e vinho.

1972Nasceu no PortoBorn In Oporto1995Licenciatura em Artes Plásticas- Escultura. Escola Superior de Belas Artes do PortoFine Arts - Sculpture Graduation. Escola Superior de Belas Artes do Porto

Desde Since 1999Assistente da Licenciatura em Escultura na Faculdade de Belas Artes da U.P.Mestre em Arte Multimédia, desde 2002, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do PortoTema: A Percepção Somatossensorial da Obra de Arte - Pressupostos de um ProjectoArtísticoAssistant of Fine Arts - Sculpture Graduation from Faculdade de Belas Artes da U.P. Masterdegree in Multimedia Art.Theme: The Somatosensorial Perception in Art Work - Un Artistic Project Presuppositions

Possui formação em áreas como: Imagem e Som digital; Fundição; Resinas e Silicones;Tapeçaria, Tecelagem e Tinturaria; Ballet Clássico. Foi docente na Escola Secundária deSoares dos Reis e na Escola Superior Artística do Porto. Tem realizado palestras emdiversos países, participado em conferências, concebido e coordenado exposições eeventos para além da publicação de artigos em revistas on-line.

Exposições Individuais Individual Shows

2005São rosas, Senhor!. Galeria SMS. Museu Sociedade Martins Sarmento. Guimarães.Pele de Embrullho. Galeria Sopro. Lisboa.

2004Faço de conta que és tu.... Galerie 35. Berlim. Alemanha.Vídeo projecções. Projecto Espaços em Branco. Galeria Cubic. Lisboa

2003Por Fim. Curadoria Paulo Reis. Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho/ Castelinho doFlamengo. Rio de Janeiro. Brasil

2002Dentro de Mim. Galeria Canvas. Porto.2000Mamã, deixa-me andar de escultura!?. Galeria Serpente. Porto

Exposições Colectivas ( selecção 2003, 2005 ) Group Shows (selection 2003, 2005)

2005ZART21- Arte Urbana para Intervenção. LisboaXIII Bienal Internacial de Arte de V. Nova de Cerveira. Prémio Bienal.Prémio Vespeira. Montijo. Menção Honrosa (Fotografia)IMAN. Projecto transdisciplinar com curadoria de Alexandre Costa. Casa das Artes deVilaNova de Famalicão.100 Desenhos. Maus Hábitos. Porto

2004OFF’LOOP 2004 . Festival Internacional de Vídeo. Barcelona. Espanha.Outro Lugar. Galeria Virgílio. S.Paulo. Brasil.Sem título. Maus Hábitos. PortoRevista Laura. Projectos artísticos. Edição especial de Junho.

2003Artista convidada para o projecto de investigação promovido pela Escola Sup. Educ.Paula Frassinetti. Laboratório com crianças.Intervenção Série X para a peça XY do Grupo Teatro Plástico. Teatro Municipal Rivoli.PortoA.R.C.O. 2003. Galeria Graça Brandão. Madrid. Espanha

Desde 1994 tem integrado numerosas exposições e eventos colectivos, concursos, feirasde arte nacionais e internacionais, simpósios e oficinas. Recebeu prémios e sua obraencontra-se representada em diversas colecções privadas e instituições.