santos, milton. a urbanização brasileira

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Page 1: SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira
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Page 3: SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira

ESTUDOS URBANOS

TfTULOS EM CATALOGO

Pensando a Espaco do Homem, Milton SantosEnsaios Sabre a Urbanizaciio Latino-Americana, Milton SantosA Carta de Atenas, Le Corbusier

1;

A URBANIZAQAo BRASILEIRA

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Page 4: SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira

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-""UI~DO MESMO AUTOR, NA EDITORA HUCITEC MILTON SANTOS

Economia Espacial: Criticas e Alternativas (esg.)Ensaios Sobre a Urbanizaciio Latino-AmericanaManual de Geografia UrbanaNovas Rumos da Geografia Brasileira (org.)o Trabalho do Ge6grafo no Terceiro MundoPensando 0 Espaco do HomemPobreza Urbana (esg.)Par uma Geografia Nova

no preloA URBANIZAQAO BRASILEIRA

Uma Economia Politica da Cidade: 0 Caso de Siio Paulo

EDITORA HUCITECSilo Paulo, 1993

Page 5: SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira

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© 1993 de Milton Santos. Direitos de publicacao reservados pela Editorade Humanismo, Ciencia e Tecnologia HUCITEC Ltda., Rua Gil Eanes,713 - 04601-042 Sao Paulo, Brasil. Tel.: (011)530-9208 e 543-0653. Fac-simile: (011)535-4187.

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ISBN 85.271.Q230-7Foi feito 0 deposito legal.

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Prefacio/IntroducaoA urbanizacao preteritaA evolucao recente da populacao urbana, agricolae ruralo meio tecnico-cientfficcA nova urbanizacao: diversificacao e complexidadeA diversidade regionalBrasil urbano e Brasil agricola e nao apenasBrasil urbano e Brasil ruralUrbanizaeao concentrada e metropolizacaoTendencia a metropolizacaoA "dissolucao" da metropoleA organizacao interna das cidades: a cidade caoticaA urbanizacao e a cidade corporativas'I'endencias da urbanizaeao brasileira no fim doseculo XXBibliografiaAnexo estatistico

• l.• 2.

3.

4.It 5.6.7.

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293549,57

656981899599

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J27135155Jndice dos autores citados

Page 6: SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira

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1.

PREFAcIO~NTRODUCAo

Como se define, hoje, a urbanizacao brasileira? Alcan-eamos, neste seculo, a urbanizacao da sociedade e a urbanizacaodo territorio, depois de longo periodo de urbanizacao social e ter-ritorialmente seletiva. Depois de ser litoranea (antes e mesmodepois da mecanizacao do territorio), a urbanizacao brasileira setornou praticamente generalizada a partir do terceiro terce doseculo xx, evolucao quase contemporanea da fase atual de ma-crourbanizacao e metropolizacao. 0 turbilhao demografico e a ter-ciarizacao sao fatos notaveis. A urbanizacao se avoluma e a re-sidencia dos trabalhadores agrfcolas e cad a vez mais urbana. Maisque a separacao tradicional entre urn Brasil urbano e urn Brasilrural, ha, hoje, no Pais, uma verdadeira distincao entre urn Brasilurbano (incluindo areas agrfcolas) e urn Brasil agricola (incluindoareas urbanas), No primeiro os nexos essenciais devem-se sobre-tudo a atividades de relacao complexas e no segundo a atividadesmais diretamente produtivas.

Registra-se, todavia, uma atenuacao relativa das macrocefa-lias, pois alem das cidades milionarias desenvolvem-se cidadesintermediarias ao lado de cidades locais, todas, porem, adotandourn modelo geografico de crescimento espraiado, corn urn tamanhodesmesurado que e causa e e efeito da especulacao. Pede-se, dessemodo, falar de uma metropolizacao contemporanea da "desme-tropolizaeao", fen6menos que se dao simultaneamente. 0 perfilurbane se torna complexo, corn a tendencia a onipresenca da me-tropole, atraves de multiples fluxos de inforrnacao que se sobre-poem aos fluxos de materia e sao 0 novo arcabouco dos sistemasurbanos. Mas ha, tambem, paralelamente, uma certa "involucao"metropolitan a, 0 crescimento econ6mico das gran des cidades sen-do menor que 0 das regices agricolas dinarnicas e respectivas ci-dades regionais. 0 novo perm industrial tern muito a ver cornesse resultado. Por isso, a grande cidade, mais do que antes, e

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"' 1 .f10 PREFAcIOIINTRODUc;:;Ao

urn polo da pobreza (a periferia no polo...), 0 lugar corn mais forcae capacidade de atrair e manter gente pobre, ainda que muitasvezes em condicoes sub-humanas. A grande cidade se torn a 0

lugar de todos os capitais e de todos os trabalhos, isto e, 0 teatrode numerosas atividades "marginais" do ponto de vista tecnolo-gico, organizacional, financeiro, previdenciario e fiscal. Urn gastopublico crescentemente orientado a renovacao e a reviabilizacaourbana e que sobretudo interessa aos agentes socioeconomicoshegemonicos, engendra a crise fiscal da cidade; e 0 fato de quea populacao nao tern acesso aos empregos necessaries, nem aosbens e services essenciais, fomenta a expansao da crise urbana.Algumas atividades continuam a crescer, ao pas so que a popu-lacao se empobrece e observa a degradacao de suas condicoes deexistencia.

A cidade em si, coma relaeao_sQcial e coma materialidade, tor-na-se criadora de pobreza, tanto pelo modeloSocioeconomico deque e 0 suporte coma por sua estrutura-fisica~e faz dos habi-tantes das periferias (e dos cortices) pessoas ainda mais pobres.A pobreza nao e apenas 0 fato do modelo socioecon6mico vigente,mas, tambem, do modelo espacial.

Como, nas cidades, vive a maioria dos brasileiros? Quais assuascondicoes de trabalho e nao-trabalho? Qual a sua renda?Que acesso tern aos beneficios da modernidade? Quais as suascarencias principais?

Como se distribuem, na cidade, as pessoasvsegundo as clas-~os nfveis de renda? Quais as_~onseqiiencias d~ margina-lizaeao e_da segregacao? Quais os problemas da habitacao e damobilidade, da educacao e da saude, do lazer e da seguridadesocial?

Como definir os lugares sociais na cidade, 0 centre e a periferia,a deterioracao crescente das condieoes de existencia?

Ao longo do seculo, mas sobretudo nos perfodos mais recentes,o processo brasileiro de urbanizacao revela uma crescente asso-ciacao corn 0 da pobreza, cujo locus passa a ser, cada vez mais,a cidade, sobretudo a grande cidade. 0 campo brasileiro modernorepele os pobres, e os trabalhadores da agricultura capitalizadavivem cada vez mais nos espacos urbanos. A industria se desen-volve corn a criacao de pequeno mimero de empregos e 0 terciarioassocia formas modernas a formas primitivas que remunerammal e nao garantem a ocupacao.

PREFAcIOIINTRODUc;:;Ao 11A cidade, onde tantas necessidades emergentes nao podem ter

resposta, esta desse modo fadada a ser tanto 0 teatro de conflitoscrescentes coma 0 lugar geografico e politico da possibilidade desolucoes. Estas, para se tornarern efetivas, supdem atencao a umaproblematica mais ampla, pois 0 fato urbano, seu testemunhoeloqiiente, e apenas urn aspecto. Daf a necessidade de circuns-crever 0 fsnomeno, identificar sua especificidade, mensurar suaproblernatica, mas sobretudo buscar uma interpretacao abran-gente.

Desse modo, deve ser tentada uma pequena teoria da urbani-zacao brasileira coma processo, coma forma e coma conteudo dessaforma. 0 nfvel da urbanizacao, ;; desenho urbano, as manifesta-eoes das carencias da populacao sao realidade a ser analisada aluz dos subprocessos economicos, politicos e socioculturais, assimcorn das realizaeiles tecnicas e das modaIidades de uso do terri-torio nos diversos momentos hist6ricos. Os nexos que esses fatoresmantern em cada fase historica devein permitir urn primeiro es-force de periodizaeao que deve iluminar 0 entendimento do pro-cesso. 0 perfodo presente sera estudado coma urn resultado daevolucao assim descrita e sera dada enfase as suas principaiscarateristicas.

o estado da arte:It sintomatico que a urbanizacao brasileira nao haja merecido

muitos estudos de conjunto, seja pela abrangencia interdisciplinarou mesmo por uma visao do territorio tomado coma urn todo. En-quanto estudos sobre aspectos particulares do fen6meno sao mui-to numerosos, as ambicoes mais gerais fazem falta. Sem contaras analises historicas de Nestor Goulart Reis Fi.1ho(1968) e Aroldode Azevedo (1956) a respeito do passado urbano, urn primeiroesforco de entendimento global do fsnomeno recente e 0 estudoja classico de Pedro Geiger, Muitos anos depois, Milton Santos(1968) publica urn artigo com a mesma arnbicao, mas sem a mes-ma amplitude. Esforco parecido e, em seguida, empreendido porVilmar Faria (1976) e por Fany Davidovitch (1978).

Mais recentemente, esforcos bem-sucedidos nessa mesma di-recao foram feitos por Fany Davidovitch (1981 e 1987), Olga Buar-que Fredrich (1978 e 1982), Francois E. J. de Bremaeker (1986),Antonio de Ponte Jardim(1988), Candido Malta Filho (1989), Ge-

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- 1f

12 PREFAclOlINTRODUQAo

raldo Serra (1991). A publicaeao organizada por Fernando Lopesde Alrneida (1978), ainda que consagrada a America Latina comourn todo, tern grande interesse para 0 caso brasileiro. Alguns es-tudos, feitos sem a intencao especffica de apresentar urn quadrogeral da urbanizacao brasileira, se aproxirnarn no entanto desseobjetivo, gracas ao enfoque contextual adotado. E 0 easo dos tra-balhos de Manuel Diegues Junior (1964), de Paul Singer (1968)ou 0 trabalho de Ablas e Fava (1985).

Nao sera, todavia, por falta de Jistagens bibliograficas, algumasdas quais cornentadas e criticas, que estudos de sintese deixararnde ser feitos. Ainda no anos 50, M. Santos e Dorcas Chagas apre-sentararn urna bibliografia dos estudos recentes de geografia ur-bana, e nos anos 60 e a vez de Nice LecocqMuller (1968) e RobertoLobato Correa (1968). Dez anos depois (1978), quando do Encon-tro da Associacao de Ge6grafos BrasiIeiros, Roberto Lobato Cor-rea, Olga Buarque Fredrich, Armen Marnigonian e Pedro Geigerapresentarn urna listagern e urna critica dos estudos urbanos noBrasil.

Mais recenternente ainda, e acompanhando 0 desenvolvimentodos program as de pos-graduacao e a expansao e diversificacaoda pesquisa urbana, novos esforcos foram ernpreendidos para usonacional e internacional. Entre os mais conhecidos, estao os deLicia Valladares (1988, 1989, 1991), Roberto Lobato Correa(1989), Mauricio A. Abreu (1990), Maria Flora Goncalves (1988).

Esforeos bibliograficos sac, por natureza, rararnente completos.De urn lado, a area de estudos urbanos desenvolveu-se e diver-sificou enorrnernente, incluindo aspectos insuspeitados de analiseque escaparn as taxonornias classicas. Mas, tambem, tais pesqui-sas sao, hoje, feitas em diversos lugares e tern diversas origense finalidades, de modo que rnuitos resultados acabam por naoultrapassar circulos restritos. Acrescente-se, igualmente, a supe-rexposicao de que se prevalecem alguns poucos centros de pes-quisa no Pais, para entender por que, de urn modo geral, as listasorganizadas nao podern abarcar todo 0 universo da pesquisa real-mente realizada, apesar dos esforcos que sao feitos para rernediaressa falha. As preocupacoss estatisticas tambern prejudicam 0

estabelecirnento de urna bibliografia critica que tarn bem seja urnahist6ria cornentada dos pontos de vista, gerados corn base emurna realidade que fornece os elernentos da analise, rnas tambemtributaria das ideias rnais gerais, ideias locais ou extralocais, que

j

PREFAclOlINTRODUQAo 13

inspirarn 0 metodo. Seja corno for, 0 fato de que as bibliografiasexistarn ajuda 0 pesquisador desejoso de fazer urna sintese, rnaso fato de que sejarn incornpletas desencoraja a producao de es-tudos interpretativos rnais gerais.

o fato de que este terna de estudos seja muito sensivel as rnodase, certarnente, uma das razoes do carater repetitive dos temasabordados e da dificuldade para encontrar esquernas de trabalhoadaptados a realidade e capazes de autorizar urn enfoque abran-gente. Area rnuito aberta a contatos internacionais - as vezesdecisivos em terrnos de carreira - e frequente a adocao apressadae a utilizacao canhestra de fragmentos de ideias colhidos em con-gressos ou tornados precipitadarnente em pedacos de livros e ar-tigos. Corno esses aleijoes ocuparn 0 lugar de urn paradigma, gra-cas a autoridade ou notoriedade dos autores, a preocupacao corna formulacao de urna teoria menor, adequada a realidade brasi-leira, deixa de ser fundamental.

Esse deslocarnento em relacao a hist6ria concreta e ao presenteatual da forrnacao social - rnelhor ainda, da formacao socioes-pacial - brasileira e bern visfvel nas aplicacoes praticas da re-flexao urbana ou nos estudos previos a essas aplicacoes praticas.Referirno-nos ao planejarnento urbano, rnais especificamente aoscharnados Planos Diretores, A1deia de que a cidade e urna tota-lidade menor, dependente, ao rnesrno tempo, de urna 16gicalocal,ne urna logica nacional e de urna logica rnundial, foi rararnenteutilizada corn base em urna rnetodologia conseqiiente. Houve, noscasos rnais flagrantes, confusao entre impossibilidade de tratar,de urna vez, toda a problematica e a necessidade de conhece-la,ate rnesrno para poder partir de hierarquias solidarnente3stabe-lecidas. Pelo contrario,Os fragrnentos do todo tornados corno rno-tivo de analise forarn escolhidos corn base em urn conhecirnentohistoricarnente envelhecido ou derivado de urn rnodisrno sern re-lacao corn a estrutura dos fatos sob exarne.

Problemas deste livroEste livro surge no quadro dessa realidade e retira daf alguns

de seus principais escolhos. Pretendendo ser obra de sfntese, pa-dece de tres principais deficiencias.

A prirneira vern do fato de que toda obra de sintese e, force-sarnente, urna obra crftica. E nao ha obra de sintese ou de critica

.

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14 PREFAcIOIINTRODUQAo

que possa contentar-se de achados unicamente originais, sem abase. de analises que a precedam corn identicas intencoes, mesmoque se refiram a epocas passadas.

A segunda deriva de que 0 Autor, ainda que desejando incor-porMa sua visao multiplicidade dos fendmenos sociais, e, con-fessadamente, 0 especialista de urn aspecto da sociedade - urngeografo; por maiores que sejam sua ambicao, seu atrevimento,seu esforco e curiosidade em. relacao ao que produzem outrosespecialistas, seu entendimento e forcosamente orientado. E,coma judiciosamente escreveu J. R. Amaral Lapa (1980), "naoe esta ou aquela ciencia que nos ofere cera a 'representativida-de' mais completa do conhecimento de uma realidade mais to-talizante, ou melhor, 0 proprio conhecimento da realidade ima-nente a ela, mas 0 conjunto das ciencias que podera dar contados niveis economicos, sociais, politicos, culturais e mentais da-quela realidade" ...

A terceira r~ao e que a posicao do autor dentro do seu propriocampo de estudo - coma explicitado em trabalhos teoricos e demetodo anteriores: Por uma geografia nova (1978), espaco e me-todo (1985) e outros -leva-o a certas preferencias, certos partidose escolhas, certas formas de busca de urn entendimento globalque outros autores nao apenas nao adotam, como, igualmente,podem nao aceitar.

Desse modo, este livro nasce, coma tantos outros, corn umamarca nitidamente pessoal. Isso nao exclui, todavia, a preocupa-~ao corn a coerencia do argumento e a busca de interpretacao darealidade corn base nos fatos.

Como em outros casos, este livro e tributario de imimeras for-mas de encorajamento e de numerosas contribuicoes. A primeirae, sem duvida, 0 proprio trabalho de outros autores, cujas ideiasou dados nos serviram de inspiracao ou arrimo. A ajuda, proximaou passada, de agencias de fomento a pesquisa foi, igualmente,inestimavel, como, por exemplo, a colaboracao da FAPESP parao meu primeiro livro sobre Sao Paulo, a da FINEP para os estudosque fiz corn meus colegas do Departamento de Geografia da Uni-versidade Federal do Rio de Janeiro, a do CNPq pela concessaode auxilios e de uma bolsa de pesquisa. As reflex6es conjuntascorn meus orientandos na UFRJ e na USP, assim coma as inda-gacoes dos meus estudantes, tarn hem me chamaram a atencaopara muitos aspectos da problematica.

PREFAcIOIINTRODUQAo 15

Em 1989, urn convite de Darcy Ribeiro levou-me a trabalharcorn esse amigo, num projeto patrocinado pelo INEP e do qualfaziam parte outros pesquisadores. 0 objetivo era fornecer urnconjunto de estudos sobre a realidade brasileira, conforme a preo-cupa~ao do entao diretor daquele organismo, 0 dr. Marcos For-miga. Caber-me-ia, nesse elenco, a producao de urn livro que, aprevalecer 0 alvitre de Darcy, se deveria chamar A urbanizaciioca6tica. 0 projeto comecou bern, corn algumas reuni6es de traba-lho no Rio de Janeiro, chegou a progredir, mas aparentementenao teve 0 final desejado, ainda que os participantes nao houves-sem desanimado e prosseguissem, cada qual para 0 seu lado, natarefa encetada. 0 desenvolvimento da pesquisa, na qual pudecontar corn a colaboracao da geografa Denise S. Elias, levou-nospara caminhos diferentes. Nossa intancao era produzir uma visaoda irrhariizaeao brasileira ao longo de urn ssculo e nesse sentidoDenise Elias conseguiu empreender urn trabalho exaustivo, eo-brindo 0 periodo 1872-1980, ao mesmo tempo em que, sobre 0

setor serviens da economia urn outro estudo, a base das estatis-ticas disponiveis, foi realizado pela arquiteta Cilene Gomes. Am-bos esses estudos permanecem ineditos.

Quanto ao nosso projeto original, logo verifiquei que a abor-dagem desse assunto - A Urbanizacao Caotica - sobretudo por-que nao sabiamos muito aonde nos levaria 0 talento fogoso deDarcy, nem conheciamos os objetivos finais de cada membro daequipe _ ficava distante da minha propria proposta mais geral deestudos geograficos. Dai a mudanca de rumos e a dscisao, tomadapouco a pouco, de prosseguir 0 estudo corn uma visao propria. Narealidade, ha muito que desejo empreender dois estudos de sintese,urn mais alentado, sobre a evolucao do territ6rio brasileiro (sobre-tudo em sua fase mais recente) e outre, mais sintetico, sobre a ur-banizacao. Este, de fat 0, seria a retomada de urn artigo publicado,nos anos 60, nos Annales de Geographie, sobre a urbanizacao bra-sileira. Esse artigo foi traduzido para a nossa lingua e publicadonaRevista Brasileira de Geografia, mas parece nao haver sido muitolido ou muito apreciado. Como disse antes, havia, desde muito, to-rnado a decisao de retomar 0 assunto, e ja vinha trabalhando notema quando Darcy Ribeiro teve a gentileza de me convocar.

Este livro e, pois, 0 resultado de urn antigo projeto. A propostade Darcy Ribeiro nao foi abandonada, apenas se reduziu a urncapitulo desta pequena obra, inc1uindo-se numa proposta mais

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16 PREFAcIOIINTRODU9AO

ampla. A urbanizaciio ca6tica e, na realidade, urn aspecto da ur-banizaciio corporativa e uma resposta it constituicao, no territorio,de urn meio tecnico-cienttfico cujo outro, no campo social, e a for-maeao de uma sociedade cada vez mais dual.

o atraso na realizaeao do Recenseamento Geral do Brasil e aindisponibilidade de dados mais numerosos sobre a urbanizaeaoe as cidades constituiu, para nos, uma dificuldade, apenas mino-rada pelo fato de que desde 0 inicio haviamos tornado partido porurn discurso mais qualitativo, onde os processos comparecemcoma a peca central da explicaeao, 0 fato, porem, do envelheci-mento do Censo de 1980 pela mudanea da dinamica social e ter-ritorial e a proposta, por nos, de novas categorias de analise queforam objeto de poucos estudos empiricos e de magra discussaote6rica, faz de nosso empreendimento tare fa arriscada. Espera-mos que a nossa decisao de enfrenta-la nao seja tomada comaarrogancia, mas apenas como a vontade de testar, it luz da his-toria, a coerencia das hipoteses.

2.

A URBANIZAQA.O PRETERITA

Durante seculos 0 Brasil coma urn todo e urn pais agrario,urn pais "essencialmente agricola", para retomar a celebre ex-pressao do Conde Afonso Celso. 0 Reconcavo da Bahia e a Zonada Mata do Nordeste ensaiaram, antes do restante do territorio,umprocesso entao notavel de urbanizacao e, de Salvador pode-se,mesmo, dizer que comandou a primeira rede urbana das Ameri-cas, formada, junto corn a capital baiana, por Cachoeira, SantoAmaro e Nazare, centros de culturas comerciais promissoras noestuario dos rios do Reconcavo.

No dizer de Oliveira Vianna (1956, p. 55), "c. .. ) 0 urbanismoe condicao modernissima da nossa evolucao social. Toda a nossahist6ria e a hist6ria de urn povo agricola, e a hist6ria de umasociedade de lavradores e pastores. It no campo que se forma anossa raca e se elaboram as forcas intimas de nossa civilizacao.o dinamismo da nossa histcria, no periodo colonial, vem do cam-po. Do campo, as bases em que se assenta a estabilidade admi-ravel da nossa sociedade no periodo imperial".

No comeco, a "cidade" era bem mais uma emanacao do poderlonginquo, uma vontade de marcar presenca num pais distante.Mas e temerario dizer, coma 0 fez B. Hoselitz (1960) para todaa America Latina, que a cidade cresceu aqui "como flor exotica",pois sua evolucao vai depender da conjuncao de fatores politicose economicos, e 0 proprio desenho urbano, importado da Europa,vai ser modificado.

Referindo-se aos primordios da urbanizacao ', Nestor GoulartReis (1968) estuda 0 periodo entre 1500 e 1720, em que destacatres principais etapas de organizacao do territ6rio brasileiro. A

1 Os prim6rdios da constituicao da rede urbana brasileira vern indicados emP. Deffontaines (1944). Urna reconstituicao da genealogia das cidades e vilas doBrasil colonial e oferecida por Aroldo de Azevedo (1956) que descreve 0 estadoda urbanizaeao em cada seculo do pertodo ant.erior 11 Independencia.

17

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18 A URBANlZAQAo PRETERITA

primeira fase, "entre 1530 e 1570 C ..) cujo ponto de maior inten-sidade estaria compreendido entre os anos de 1530 a 1540". Entrea fundacao do Rio de Janeiro em 1567 e a de Filipeia da Paraibaem 1585, ha urn intervalo em que apenas ocorre a instalaeao deIguape, 0 segundo periodo fica "entre 1580 e 1640, anos de do-minacao espanhola, corndois pontos de maior intensidade: os anosentre 1610 e 1620, corn a fundacao de uma vila e tres cidades eentre 1630 e 1640, corn a fundacao de nove vilas, C .. ) corn a exis-tencia de uma urbanizacao sistematica na costa norte, em direcaoa Amazonia" (p. 79). Num terceiro momento, '!entre 1650 e 1720,foram fundadas trinta e cinco vilas, eIevando-se duas delas a ea-tegoria de cidades: Olinda e Sao Paulo. Ao fim do periodo, a redeurbana estava constituida por respeitavel conjunto de sessentae tres vilas e oito cidades".

N. Goulart Reis (1968) inclui, coma eIementos explicativos daurbanizacao no que chama de "0 sistema social da Colonia" osseguintes elementos: a organizacao politico-administrativa, con-sideradas, de urn lado, as capitanias e 0 governo-geral e de outroa organizacao municipal; as atividades economicas rurais (agri-cultura de exportacao e de subsistencia) e as camadas sociaiscorrespondentes, a comecar pelos proprietaries rurais; as ativi-dades econornicas urbanas e seus atores (cornercio, offcios meca-nicos, funcionalismo, mineracaoj-.

VILAS E CIDADES (CRIADAS)

SeculoXVI

Seculo XVIIIate 1720

SeculoXVII

Rio Grande do Norte

Parafba

PernambucoSergipe

Bahia

1

1

21

4

1

2

5 1

2 "Os centros urbanos apresentavam entao uma vida que pode ser caracteri-zada como intermitente. Cess ado 0 movimento decorrente do afluxo de senhoresde terra, tinham uma aparencia de abandono e desolacao C..)." (N. Goulart Reis,1968, p. 97).

A prop6sito da intermitencia da vida urbana ver, para Salvador, Thales deAzevedo e Theodoro Sampaio. Quanto a dependencia da vida rural ver SergioBuarque de Holanda (1956, p. 117) ou Caio Prado Jr. (1953).

A URBANIZAQAo PRETERITA 19

SeculoXVI

SeculoXVII

Seculo XVIIIate 1720

Espfrito Santo

GuanabaraSao PauloParaMaranhao

AlagoasRio de Janeiro

ParanaSanta' Catarina

Piau{

CearaMinas Gerais

2

1

6

1

104

2

3

6

2

1

i

1

1

1

8

Tirado de Nestor Goulart Reis, 1968, p. 84 a 88.

De modo geral, porern, e a partir do seculo XVIII que a urba-nizacao se desenvolve e "a casa da cidade torna-se a residenciamais importante do fazendeiro ou do senhor de engenho, que s6vai a sua propriedade rural no momento do corte e da moendada cana" (R. Bastide, 1978, p. 56)3.Mas foi necessario ainda maisurn seculo para que a urbanizacao atingisse sua maturidade, noseculo XIX, e ainda mais urn seculo para adquirir as caracterfs-ticas corn as quais a conhecemos hoje.

o processo preterite de criacao urbana esta documentado emalguns outros estudos de sintese, como 0 de M. Marx (1991). Tra-

3 "Nao se creia que esta civilizacao do acucar permaneceu imutavel atravesdos seculos. Modificou-se pelo menos duas vezes, conservando, todavia, sob estastransformacoes, seus traces caracterfsticos: latifundio e monocultura.

"A primeira revolucao, a da urbanizacao, inicia-se no seculo XVIII, mas soatinge sua plena expansao no seculo XIX. A casa da cidade torna-se a reside nciamais importante do fazendeiro ou do senhor de engenho que so vai a sua pro-priedade rural no momento do corte e da moenda da cana.

(...) ."A segunda revolucao foi tecnica. Em 1815, surge na Bahia a primeira maquina

a vapor; em 1834, ja sao encontradas 64. 0 antigo engenho de agua ou de tra~aoanimal desaparece. (...) a maquina a vapor nao rnodifica subitamente a estruturada sociedade, que continua fundada na familia patriarcal, nem 0 modo de produ~Ao,que e sempre a escravidao. (...) uma reviravolta eonsideravel (...) a partir de 1872:a passagem de engenho para a usina. (...) 0 maquinismo, mais custoso.mais cientffico(...) concedia a primazia ao capital financeiro sobre 0 capital representado pela terras"(R. Bastide, Brasil, terra de contrastes, Difel, Sao Paulo, 1978, p. 56-57).

Page 12: SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira

20 A URBANlZACAo PRETERITA

tava-se rnuito rnais da geracao de cidades, que rnesrno de urnprocesso de urbanizacao. Subordinado a urna econornia natural,as relacoes entre lugares eram fracas, inconstantes, num paiscorn tao grandes dirnensoes territoriais. Mesrno assirn, a expansaoda agricultura cornercial e a exploracao mineral forarn a base deurn povoarnento e urna criacao de riquezas redundando na arn-pliaeao da vida de relacces e no surgirnento de cidades no litorale no interior. A mecanizaeao da producao (no easo da cana-de-acucar) e do territ6rio (nao apenas no caso da cana) vem trazer

. j novo impulso e nova l6gica ao processo.No firn do periodo colonial, as cidades, entre as quais avultararn

Sao Luis do Maranhao, Recife, Salvador, Rio de Janeiro e S~oPaulo, sornavarn perto de 5,7% da populaeao total do Pais, ondeviviam, entao, 2.850.000 habitantes (Caio Prado Jr., 1953, p. 21).Basta lernbrar que na passagern do seculo XVII para 0 seculoXVIII, Salvador ja reunia 100.000 rnoradores, enquanto nos Es-tados Unidos nenhurna aglomeraeao tinha rnais de 30.000 (M.Santos, 1959)4.

I,

4 As estimativas da populacao urbana e da populacao total brasileira nos pri-meiros seculos nao SaGcondizentes entre si, como mostram os exemplos seguintes:

Populaqiio urbana

1872 5,9%1890 6,8%1900 9,4%1920 10,7%1940 31,24%1950 36,16%1960 45,08%1970 56,00%1980 65,10%

Ruben George Oliven, Urbanizaqiio e mudanqa social no Brasil, Vozes, Petr6polis,1980, p. 69, tabela l.

Populaciio total e urbana do Brasii (em milhoes de habitantes)

Pop. total1

Pop. urbana2 2:1

1872 9,91890 14,31920 30,61940 41,21950 51,9

mais de 0,9mais de 1,3mais de 3,0

13,118,8

mais de 10%mais de 10%mais de 10%

31,8%36,2%

Pedro Geiger, 1963, p. 20.

A URBANIZACAo PRETERITA 21Em 1872, apenas tres capitais brasileiras contavarn corn rnais

de 100.000 habitantes: Rio de Janeiro (274.972), Salvador(129.109) e Recife (116.671). Sornente Belem (61.997) contavarnais de 50.000 residentes. Sao Paulo, entao, tinha urna populacaode 31.385 pessoas.

Em 1890, erarn tres as cidades corn rnais de 100.000 rnoradores:Rio de Janeiro corn 522.651, Salvador corn 174.412 e Recife corn111.556. Tres outras cidades passavarn da casa dos 50.000 (SaoPaulo: 64.934; Porto Alegre: 52.421; Belern: 50.064) .

Em 1900, havia quatro cidades corn rnais de cern rnil vizinhose urna beirava essa cifra.

Rio de Janeiro - 691.565Sao Pulo - 239.820Salvador - 205.813Recife - 11'3.106Belern - 96.560

Corn rnais de 50.000 residentes ouperto disso estavarn cincocapitais: Porto Alegre: 73.674; Niter6i: 53.433; Manaus: 50.300;Curitiba: 49.755: Fortaleza: 48.369 (Ministerio da Agricultura,Industria e Cornercio, Antuirio estatistico do Brasil de 1912, Rio,1916).

E, todavia, no firn do seculo XIX que se conhece a prirneiraaceleracao do fen6rneno: sao 5,9% de urbanos em 1872, rnas em1900 eles ja sornarn 9,4% (Oliven, 1980, p. 69). Para Pedro Geiger(1983, p. 20) ja em 1872 a populacao urbana brasiIeira repre-sentava cerea de 10% do total, indice que iria manter-se (quase)em 1900. Mas, enquanto naquele ano os urbanos erarn cerea de900.000, em 1900 seu mimero ultrapassava 1.200.000. 0 fato eque a populacao brasileira subira de 9,9 milhoes para 14,3 rni-lhoes, crescendo rnais de 40% em apenas quinze anos. Todos essesdados, porem, devern ser tornados corn cautela, ja que somente ap6s

Populaciio total

1872 10.112.0611890 14.333.9151900 18.200.00D1920 27.500.0001940 41.252.944

Fonte: Giorgio Mortara, "0 aumento da populacao do Brasil entre 1872 e 1940",em Estudos de estatistica teorica e aplicada, Estatfsticas Demograficas n.? 13,IBGE, Rio, 1951. Tirado de Villela e Suzigan, 1973, p. 90, tabela H-6.

Page 13: SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira

..,

22 A URBANIZAQAo PRETERITA

1940 as contagens separavam a populacao das cidades e das vilas dapopulacao rural do mesmo municipio (Juarez R Brandao Lopes, 1976,p. 13; Nancy Alessio, 1970, p. 109; Pedro Geiger, 1963, p. 20)5.

Se 0 indice de urbanizacao pouco se alterou entre 0 fim doperiodo colonial ate 0 final do seculo 19 e cresceu menos de quatropontos nos trinta anos entre 1890 e 1920 (passando de 6,8% a10,7%), foram necessaries apenas vinte anos, entre 1920 e 1940,para que essa taxa triplicasse passando a 31,24%. A populacaoconcentrada em cidades passa de 4.552.000 pessoas em 1920 para6.208.699 em 1940 (ViUela e Suzigan, 1973, p. 199)6. Nesse pe-

5 Quanto as divers as contagens da populacao ao longo da hist6ria brasileira, M.L. Marcilio (1972) refere-se a tres eras: 0 perfodo pre-estatfstico (do inicio da colo-nizacao ate a metade do seculo 18); 0 perfodo protoestatfstico (que termina corn 0

prirneiro recensearnento geral do Brasil, em 1872); e 0 perfodo estatfstico que afcomeca. Quanto a urbanizacao, a era protoestatfstica seria rnais prolongada, porquea fase propriamente estatfstica 56 iria comecar corn 0 recensearnento de 1940.

Ja Pedro Geiger (1963, p. 20) afirma que "e diffcil apurar a participacao dapopulacao urbana para perfodos anteriores a 1940, pois os censos, antigamente,nao destacavarn essa caracterfstica. Existern dados para as capitais dos Estados,antigas Provfncias do Imperio, bern coma para 0 Distrito Federal, Municfpio Neu-tro, no Imperio. Corn os dados destas cidades, apenas, a porcentagem sobre apopulaeao total brasileira era de 10%, mais ou menos, entre 1872 e 1920".

Em outro estudioso da questao, lemos 0 seguinte: "no quadro IH apresentam-sedados sobre 0 grau de urbanizacao no Brasil, de 1872 a 1960, medido, em cadaano, pelo numero de cidades corn rnais de cinquenta mil, cern mil, e meio milhaode habitantes e pela populacao que as habitava. Uma advertencia faz-se desdelogo necessaria: os dados do censo de 1920 e anteriores nao sao, a rigor, cornpa-rave is aos de 1940 a 1960. Sornente a partir de 1940 se cornecou a separar apopulacao das cidades e vilas (quadros urbana e suburbano) da rural do rnesrnomunicfpio. Assirn, fornos obrigados a nos utilizar, para os quatro prirneiros censos(1872 a 1920), das populacoes totais dos rnunicfpios corn cinquenta roil habitantesou mais, enquanto para os tres ultimos (1940 a 1960) tornarnos os dados rnaisexatos, que excluern a populacao rural do municfpio. 0 erro e maior, e claro, paraas cidades menores (afetando rnais, portanto, a coluna das de cinquenta mil ha-bitantes ou rnais) pois para as rnaiores a parcel a rural e proporcionalmente bernmenor" (J. R. Brandao Lopes, Desenooluimenio e mudanca social, 1976, p. 13.

6 Cidades de rruiis de 20.000 habitantes. Crescimento entre 1920-40N.O cidades Populactio Crescimento

1920 1940 1940 %1920

Norte

NordesteLeste

Sao Paulo

SuICentro-Oeste

320

1820

21

2

151116

10

1

234.5271.268.019

2.127.4301.915.876

642.793

23.054

3,511,4

62,043,0

24,7

7,9

223.7751.138.1051.313.6241.339.587

515.61821.360

A URBANIZAQAo PRETERITA 23

riodo, a populacao ocupada em services cresce mais depressa queo total da populaeao economicamente ativa. Enquanto esta au-menta pouco mais de 60%, passando de 9.150.000 para14.661.000, os ativos do terciario mais que dobram, crescendoquase 130%, pois eram 1.509.000 em 1920 e sao 3.412.000 em1940 (Villela e Suzigan, 1973, p. 94)7.

Segundo dados encontrados em R G. Oliven (1980, p. 71), entre1925 e 1940, a participacao dos setores primario e secundario napopulacao ativa teria diminufdo, ao passo que a do setor tarciarioestaria em aumento''.

7 Populaciio Economicamente Atiua, 1920-1940(em milhares de pessoas)

1920 1940

Agricultura 6.377 9.732Industria 1.264 1.517Services 1.509 3.412

Total 9.150 14.661

Fonte: IBGE, Recensearnentos Gerais. Tirados de Villela e Suzigan, 1973, p. 94,

tabela H.9.Segundo os mesmos autores e corn a divisao censitaria de entao, ttnhamos,

em 1920, 0 Nordeste e Sao Paulo corn a maior quantidade de nucleos corn rnaisde 20.000 habitantes, cada qual corn vinte cidades; segue-se 0 Leste corn dezoito,o SuI corn doze, enquanto 0 Norte ficava apenas corn duas e 0 Centro-Oeste cornuma. As vinte cidades de SM Paulo somavam a rnaior populacao, 1.339.587 ha-bitantes, a cornparar corn os 1.313.624 das do Leste e os 1.138.105 das do Nordeste.

Se considerarrnos a divisao regional atual (Norte, Nordeste, Sudeste, Su1 eCentro-Oeste) para 1940, 1965, 4% do total da populacao das cidades corn maisde 20.000 habitantes encontra-se na Regiao Sudestc, corn 0 Estado de Sao Pauloreu nindo, sozinho, 31% dessa populacao, isto e, mais do que toda a Regiao Norte(3,7%), Nordeste (20,15), SuI (10,3%) e Centro-Oeste (0,3%) somados.

8 Estrutura ocupacional do Brasil(em termos porcentuais e absolutos. em milhares)

Setor 1925 1940 1950 1960 1970

Primario 68% 64% 59,9% 53,7% 44,6%7.011 9.446 10.253 12.164 13.183

12% 10,1% 14,2% 13,1% 18%1.237 1.491 2.431 2.697 5.320

20% 25,9% 25,9% 33,2% 37,4%2.062 3.823 4.433 7.520 11.054

10.310 14.759 17.117 22.651 29.557

Secundario

Terciario

Total

Ruben George Oliven, Op. cit., p. 71, tabela 4.

Page 14: SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira

••.....

24 A URBANlZAQAo PRETERITA A URBANIZAQAo PRETERITA 25

1920 1940 1872 1890 1900 1920 1940

Setor primario 68% 64%

\Salvador 129.109' 174.412 205.813 283.422 290.443

Setor secundario 12% 10,1% Florian6polis 25.709 30.687 32.228 41.338 25.014

Setor terciario 20% 25,9% Teresina 21.692 31.523 45.316 57.500 34.695

.Ioao Pessoa 24.714 18.645 28.793 52.990 71.158

No Estado de Sao Paulo, a expansao da urbanizacao nesse pe-riodo e marcante, corn urn crescimento de populacao urbana daordem de 43%. Segundo Rosa E. Rossini (1988, p. 74, tese), "nofinal da decada de 1920 C .. ) a urhanizacao do interior, evoluindode forma acelerada e atomizada, foi refor~adapelomovimento decapitais mercantis locais propiciando investimentos de origemprivada de companhias de energia, de telefone, de meios de trans-porte, bancos, instituieoes de ensino etc. Acrescente-se ainda 0

surgimento de postos de gasolina, armazens para venda de im-plementos agricolas e sementes, que reforcavam 0 setor urbano,acelerando a prestacao de service".

A urbanizacao brasileira conhece, nitidamente, dois grandes .regimes, ao longo das diferentes periodizaeoes que se proponham.Ap6s os anos 40-50, os nexos economicos ganham enorme relevo,e se impoem as dinarnicas urbanas na totalidade do territ6rio,conforme veremos depois corn mais detalhe; e, antes desse mo-mento, 0 papel das funcoes administrativas tern, na maior partedos estados, uma significacao preponderante.

Outro dado que nos permite tambem falar em dois regimes.Nos ultimos decenios do seculo XIX e nos primeiros do seculoxx, a evolucao demografica das capitais estava, em muitos casos,sujeita a oscilacoes (ou conhecia crescimento relativamente lento)emdeterminados perfodos intercensais, "ao passo que a partir dofim da segunda guerra mundial da-se urn crescimento sustentadoem todas elas.

CAPITAlS DE ESTADOS ESCOLHIDAS: EVOLUQAo DEMOGRAFICA1872-1940

1872 1890 1900 1920 1940Belem 61.997 50.064 96.560 236.406 164.673Cuiaba 35.987 17.815 34.393 33.678Manaus 29.334 38.720 50.300 75.701 66.854Vit6ria 16.157 16.887 11.850 21.886 42.098

Pode-se grosseiramente admitir que a base economica da maio-ria das capitais de estado brasileiras era, ate 0 fim da segundaguerra mundial, fundada na agricultura que se realizava em suazona de influencia e nas funcoes administrativas publicas e pri- Ivadas, mas, sobretudo, piiblicas. E 0 que explica as oscilacoesacima indicadas ou uma relativa sstagnacao do crescimento po-pulacional, mediante influencias diretas ou indiretas do que sepassava nas areas nao-urbanas. 0 crescimento e, depois, 0 de-crescimento de Manaus e Belem e 0 exemplo mais classico dessesimpactos diretos, a partir da decadencia da sxtracao e do comercioda borracha. Ja 0 easo de Salvador, cuja populacao praticamentenao cresce entre 1920 e 1940, deve-se a abertura de uma frentepioneira interna, corn 0 desbravamento e a conquista da zona docacau, que atrai grande mimero de pessoas deslocadas pelas secase por uma estrutura agraria extremamente inigualitaria, deixan-do, por conseguinte, de engrossar as correntes do exodo rural paraa capital baiana.

Ate a segunda guerra mundial, 0 peso das capitais no processourbano e na populacao urbana sobreleva, tanto do ponto de vistaquantitativo coma qualitativo. E nos estados em que a atividadeextrativa e predominante que a parcela da populacao vivendo nascapitais e maior. E urn fenomeno tipico das Regioes Norte e Cen-tro-Oeste, 0 caso de Goias sendo atipico:

PARTE DA CAPiTAL NA POPULAQAo DOS RESPECTIVOS ESTADOS

1872 1890 1900 1920

ManausBelemCuiaba

50,92% 26,17% 20,14% 20,85%25,52% 24,38% 20,14% 20,85%59,56% 19,19% 29,14% 13,66%

Em 1872, nenhuma outra capital ultrapassava 14% da popu-lacao estadual e mais de metade nao atingia os 10%; em 1890,nenhuma capital, afora as tres acima enumeradas ultrapassava

Page 15: SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira

26 A URBANIZAQA.O PRETERITA

os 12% da populacao dos respectivos estados, e 12 nao chegavamsequer aos 10%; em 1900, apenas quatro capitais, alem de Cuiaba,Belern e Manaus, ultrapassavam os 10% do total demografico es-tadual (e treze das capitais nao alcancavam os 10%); ainda em1920, apenas quatro capitais, alem das tres mencionadas no qua-dro anterior, ultrapassavam os 10% da populacao estadual".

Tais porcentuais somente podem ser mais bem avaliados emcomparacao corn 0 volume de populacao dessas cidades-capitais.Nenhuma cidade do Norte e do Centro-Oeste uItrapassava os efe-tivos de Belem (61.997 em 1872; 50.064 em 1890; 96.560 em 1900e 236.402 em 1920).

o Brasil foi, durante muitos seculos, urn grande arquipelago,formado por subespacos que evoluiam segundo logicas proprias,ditadas em grande parte por suas relacoes 'corn 0 mundo exterior.Havia, sem duvida, para cad a urn desses subespaens, polos dina-micos internos. Estes, porem, tinham entre si escassa relacao,nao sendo interdependentes.

Esse quadro e relativamente quebrado a partir da segundametade do seculo XIX, quando, a partir da producao de cafe, fEstado de Sao Paulo se torna 0 polo dinamico de vasta area queabrange os estados mais ao suI e vai incluir, ainda que de modoincompleto, 0 Rio de Janeiro e Minas Gerais. Ainda aqui, a ex-plicacao pode ser buscada nas mudaneas ocorridas tanto nos sis-temas de engenharia (materialidads), quanto no sistema social.De urn lado, a implantacao de estradas de ferro, a melhoria dosportos, a criaca« de meios de cornunicaeao atribuem uma novafluidez potencial a essa parte do territcrio brasileiro. De outro

9 0 peso das cidades capitais de estado sobre a populacao total do Pais man-teve-se praticamente modesto e estaval ate 1940-1950, conhecendo entao umaevolucao sem saltos que acompanha os fndices de urbanizacao.

1872 - 10,09%1890 - 9,55%1900 - 11,07%1920 - 11,34%1940 - 13,70%1950 - 15,88%1960 - 18,69%1970 - 21,58%1980 - 24,02%

A URBANIZAQA.O PRETERITA 27lado, e af tambem onde se instalam sob os influxos do cornerciointernacional, formas capitalistas de producao, trabaIho, inter-cambio, consumo, que vao tornar efetiva aquela fluidez. Trata-se,porem, de uma integracao limitada, do espaco e do mercado, deque apenas participa uma parcel a do territorio nacional, A divisaodo trabalho que se opera dentro dessa area e urn fator de cres-cimento para todos os seus subespacos envolvidos no processo econstitui urn elemento de sua crescente diferenciacao em relacaoao resto do territorio brasileiro. It corn base nessa nova dinamicaque 0 processo de industrializacao se desenvolve, atribuindo adianteira a essa regiao, e sobretudo ao seu polo dinamico, 0 Estadode Sao Paulo. Esta af a semente de uma situacao de polarizacaoque iria prosseguir ao longo do tempo, ainda que em cada periodose apresente segundo uma forma particular.

Esse primeiro momento durara ate a decada de 30, quandonovas condicoes polfticas e organizacionais permitem que a in-dustrializacao conheca, de urn lado, uma nova impulsao, vindado. poder publico e, de outro, comece a permitir que 0 mercadointerno ganhe urn papel, que se mostrara crescente, na elabora-~ao, para 0 Pais, de uma nova logica economica e territorial.

A partir dos anos 1940-1950, e essa logica da industrializacaoque prevalece: 0 termo industrializaciio nao pode ser tornado,aqui, em seu sentido estrito, isto e, coma criacao de atividadesindustriais nos lugares, mas em sua mais ampla significacao,coma processo social complexo, que tanto inclui a forll!.a~ao deurn mercado nacional, qugnto os esforcos de equipamento do ter-ritori» para-torna-Io' integrado, coma a expansao do consumo emform as diversas, 0 que impulsiona a vida de relacoes (leia-se ter-ciarizacao) e ativa 0 proprio processo de urbaniza~ao/ Essa novabase economica ultrapassa 0 nivel regional, para situar-se na es-cala do Pais; por isso a partir daf uma urbanizacao cada vez maisenvolvente e mais presente no territorio da-se corn 0 crescimentodernografico sustentado das cidades medias e maiores, incluidas,naturalmente, as capitais de estados.

Page 16: SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira

3.

A EVOLUQ.AO RECENTE DA POPULAQ.AOURBANA, AGRfCOLA E RURAL

Entre 1940 e 1980, da-se verdadeira inversao quanto aolugar de residencia da populacao brasileira. Ha meio seculo atras(1940), a taxa de urbanizacao era de 26,35%, em 1980 alcanca68,86%1. Nesses quarenta anos, triplica a populucao total do Bra-sil, ao passo que a populacao urbana se multiplica por sete vezese meia. Hoje, a populacao urbana brasileira passa dos 77%, fi-cando quase igual a populacao total de 19802.

BRASIL

Populaciio Populaciio fndice detotal urbana urbanizaciio

1940 41.326.000 10.891.000 26,351950 51.944.000 18.783.000 36,161960 70.191.000 31.956.000 45,521970 93.139.000 52.905.000 56,801980 119.099.000 82.013.000 68!861991 150.400.000 115.700.000 77,13

Entre 1960 e 1980, a populacao vivendo nas cidades conhece au-mento espetacular: cerea de novos cinquenta milhoes de habitantes,isto e, urn ruimero quase igual a populacao total do Pais em 1950.Somente entre 1970 e 1980, incorpora-se ao contingente demografico

1Essa evolucao e cornparavel a que se verifica entre 1941 e 1978, na Jugoslavia,onde a taxa de urbanizacao passa de 26,6% a 69,7%. Mas essa evolucao envolveurn nurnero de pessoas bem menor, pois a populacao urbana passa de 4.350.000para 15.312.000 pessoas, nesse periodo (Ostojic, Stipetic, Trickovic, 1980). Ja naBelgica, uma evolucao cornparavel a brasileira em nurneros relativos toma maisde urn seculo: 31% de urbanos em 1846,49% em 1900 e 61% em 1970 (C. Vaan-dermotten, 1985, p. 111).

2 Entre 1950e 1991, a populacao total tarnbern triplica, ao passo que a populacaourbana, representando 77% da total, tern seu volume multiplicado por 6,15.

29

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30 A EVOLm;::Ao RECENTE DA POPULAQAo

urbano uma massa de gente comparavel ao que era a populacaototal urbana de 1960. Ja entre 1980 e 1990, enquanto a populacaototal tera crescido 26%, a populacao urbana deve haver aumen-tado em mais de 40%, isto e, perto de trinta milhoes de pessoas.

VARIAQAo DA POPULAQAo TOTAL DO BRASILem mil habitantes

40-5050-6060-7070-8040-80

10.61818.24722.94825.96077.873

25,69%35,12%32,69%27,87%

188,43%

VARIAQAo DA POPULAQAo URBANA DO BRASILem mil habitantes

4~505~606~707~804~80

7.89213.17320.94929.10871.122

72,46%70,13%65,55%55,01%

653,03%

Os anos 60 marcam urn significativo ponto de inflexao. Tantono decenio entre 1940 e 1950, quanto entre 1950 e 1960, 0 au-mento anual da populacao urbana era, em mimeros absolutos,menor que 0 da populacao total do Pais. Nos anos 60-70 os doismimeros se aproximavam. E na decada 70-80, 0 crescimento nu-merico da populacao urbana ja era maior que 0 da populacaototal. 0 processo de urbanizacao conhece uma aceleracao e ganhanovo patamar, consolidado na decada seguinte.

AUMENTO ANUAL MEDIO APROXIMADO DA POPULAQAo TOTALE DA POPULAQAo URBANA

A EVOLUQAo RECENTE DA POPULAQAo 31A evolu~iio da populaeao agricola

o forte movimento de urbanizacao que se verifica a partir dofim da segunda guerra mundial e contemporaneo de urn fortecre~cimento demografico, resultado de uma natalidade elevada ede uma mortalidade em descenso, cujas causas essenciais sao osprogressos sanitarios, a melhoria relativa nos padroes de vida ea propria urbanizacao. - -

Rosa Ester Rossini (1985) descreve esse fenomeno, mostrandocom-oepor'qu:e-a sociedade brasileira conhece esse fenomeno de"sxplosao demografica", Entre 1940 e 1950, a uma taxa bruta demortalidade de 20,6%, correspondia uma taxa bruta de natalidadede 44,4%. Entre 1950 e 1960, esses indices ja eram de 13,4% e43,3%.

E nesse contexto que a populacao agrfcola cresce entre 1960e 1970 e, outra vez, entre 1970 e 1980. Como, porem, a vida derelacoes se intensifica, e se afirma a vocacao a aglomeracao, apopulacao rural cresce entre 1960 e 1970, mas diminui entre 1970e 1980. Neste ultimo ano, os mimeros sao bem proximos dos de1960.

BRASIL

Populaciio agricola Populaciio rural

196019701980

38.418.79841.054.053

3&.566.297

15.454.52617.581.96421.163.729

o fenomeno nao se da de maneira hornogenea, uma vez queSaD diferentes os graus de desenvolvimento e de ocupacao previadas diversas regioes, pois estas sao diferentemente alcancadaspela expansao da fronteira agrfcola e pelas migracoes inter-re-gionais.

Aumenlo media Aumento medicPOPULAQAo AGRICOLAanual da populaciio anual da populaciio B:A

total (A) urbana (B)Centra-

1940-50 1.060.000 800.000 75,47 Norte Nordeste Sudeste Sul Oeste Brasil

1950-60 1.820.000 1.320.000 72,52 1960 544.028 6.659.175 4.368.872 3.194.031 688.420 15.454.5261960-70 2.300.000 2.100.000 91,30 1970 934.024 7.568.810 3.959.375 4.191.785 927.970 17.581.9641970-80 2.600.000 2.900.000 111,53 1980 1.781.611 9.333.166 4.312.211 4.391.819 1.344.930 21.163.7291980-91 3.130.000 3.370.000 107,66

....:.

Page 18: SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira

32 A EVOLUCA.O RECENTE DA POPULACA.O

POPULACAO RURAL

Norte Nordeste Sudeste Centro-Oeste BrasilSui

196019701980

1.604.064 14.665.380 12.821.206 7.392.3841.977.260 16.358.950 10.888.897 9.193.0662.843.118 17.245.514 8.894.044 7.153.423

1.935.764 38.418.7982.635.880 41.581.0532.430.198 38.566.297

"

A populacao agricola cresce em todas as regioes, entre 1960, 1970e 1980, exceto no Sudeste onde, ap6s haver diminuido entre 1960e 1970, obtem, em 1980, urn volume quase semelhante, mas aindainferior, ao de 1960. Tornado 0 periodo 1960-1980, a populacao ruralapenas cresce nas Regioes Norte e Nordeste. A baixa somente econtinua, isto e, abrangendo os periodos 1960-1970 e 1970-1980,para a Regiao Sudeste. Quanto as Regioes SuI e Centro-Oeste, queobtiveram ganhos entre 1960 e 1970, perdem-nos entre 1970 e 1980pesadamente; na Regiao SuI as perdas sao grandes e a populacaorural em 1980 e bem inferior a de 1960. Quanto a Regiao Centro-Oeste, ela perde mais de 200.000 rurais, entre 1970 e 1980.

Sao os seguintes os onze estados onde 0 crescimento da popu-lacao agricola e mais importante entre 1960 e 1980:

Bahia 843.123Maranhao 720.884Para . . . . . . . . . . . . . . .. 682.290Parana . . . . . . . . . . . . .. 523.128Piauf . . . . . . . . . . . . . . .. 431.993Rio Grande do SuI 413.191Mato Grosso 362.850Punazonas. . . . . . . . . . .. 293.611Goias 281.542Ceara . . . . . . . . . . . . . .. 267.766.Santa Catarina . . . . . .. 261.461

Urn exame mais detalhado das estatisticas, separando 0 queocorreu no .decenio 1960-1970 do que aconteceu no seguinte de-cenio, nos mostrara, porem, que a populacao agricola diminui emquatro estados, entre 1960 e 1970 (Pernambuco, Minas Gerais,Rio de Janeiro e Sao Paulo), Nestes dois iiltimos estados, 0 des-censo e, pois, continuado.

Quanto a populacao rural, ela baixa em quatro estados entre1960 e 1970 (Minas Gerais, Rio de Janeiro, Sao PauIo e DistritoFederal) e em onze estados entre 1970 e 1980 (Ceara, Rio Grande

'\

A EVOLUCAO RECENTE DA POPULACAO 33

do Norte, Paraiba, Minas Gerais, Espirito Santo, Rio de Janeiro,Sao PauIo, Parana, Santa Catarina, Rio Grande do SuI e Goias,isto e, todos os estados do Sudeste e do SuI e mais tres do Nordestee urn do Centro-Oeste).

As perdas mais importantes de populacao rural, entre 1970 e1980, verificam-se nos Estados do Par ana (menos 1.268.659), Mi-nas Gerais (menos 1.030.696), Sao Paulo (menos 1.268.659), RioGrande do SuI (menos 588.988). Note-se que Sao Paulo e MinasGerais ja haviam visto baixar sua populacao rural respectiva-mente de 1."293.779e 405.374 pessoas entre 1960 e 1970.

A maior perda relativa de populacao agrfcola da-se em SaoPaulo, corn uma baixa de 17,79% entre 1960 e 1970 e de 20,31%entre 1960 e 1980 (3,08% de baixa entre 1970 e 1980). Outraperda consideravel entre 1960 e 1970 e a de Pernambuco' (10,68%)e do Parana (8,76%) entre 1970 e 1980.

Examinemos.jmais uma vez esse fenomeno, agora corn basena verificacao do porcentual que cabe a populacao agricola e apopulacao rural em relacao a populacao total do Pais, em 1960,1970 e 1980. Em termos proporcionais, reduz-se a importanciatanto da populacao agricola quanto da populacao rural nos doisperiodos intercensitarios. Note-se, todavia, que a queda relativada populacao rural e mais acentuada que a da populacao agricola.

o Brasil moderno e urn pais onde a populacao agricola crescemais depressa que a populacao rural. Entre 1960 e 1980,..-apo-pulacao agricola passa dos 15.454.526 para 21.163.729, ao passoque a populacao rural fica praticarnente estacionaria: 38.418.798em 1960, 38.566.297 em 1980 (em 1970, sao 41.054.054).

A populacao agricola torna-se maior que a rural exatamenteporque uma parte da populacao agrfcola formada por trabalha-dores do campo estacionais (os boias-frias) (J. Graziano da Silva,1989) eurbana pela sua residencia. Urn complicador a mais paranossos veIhos esquemas cidade-campo.

POPULACAO AGRfCOLAem relacao a populacao total

Norte Nordeste Sudeste Sui Centro-Oeste Brasil1960 21,24 30,02 14,44 27,18 23,39 22,311970 25,92 26,92 9,93 25,41 18,29 18,881980 30,30 26.81 8.33 23,08 17,82 17,72

Page 19: SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira

34 A EVOLUc;::AoRECENTE DA POPULAc;::Ao

POPULAc;::AoRURALem relacao a populacao total

Norte Nordeste Sudeste Centro-Oeste BrasilSul196019701980

62,61 66,12 42,39 62,90 65,77 55,3354,86 58,19 27,32 55,73 51,96 44,0848,35 49,54 17,19 37,59 32,21 32,41

4.

o MEIO TECNICO-CIENTIFICO

A fase atual, do ponto de vista que aqui nos interessa, e 0

momento no qual se constitui, sobre territ6rios cada vez mais vastos,o que estamos chamando de mew tecnico-cientifico, isto e, 0 momentohistorico no qual a construcao ou reconstrucao do espaco se dara cornurn crescente conteudo de ciencia, de tecnicas e de informacao".

o meio natural era aquela fase da hist6ria na qual 0 homemescolhia da natureza aquilo que considerava fundamental ao exer-cfcio da vida e valorizava diferentemente essas condicoes natu-rais, as quais, sem grande modificacao, constituiam a base ma-terial da existencia do grupo.b fim do seculo XVIII e, sobretudo,o seculo XIX veern a mecanizacao do territ6rio: 0 territ6rio semecaniza. Podemos dizer, junto corn Max. Sorre (1948) e AndreSiegfried (1955), que esse e 0 memento da criacao do meio tecnico,que substitui 0 meio natural." -Ja, hoje, e insuficiente ficar cornesta ultima categoria, e e preciso falar de meio tecnico-cientffico,que tende a se superpor, em todos os lugares, ainda que de mododesigual, ao chamado meio geografico.{Esse meio tecnico-cientffico (melhor sera chama-lo de meio tee-

nico-cientifico-informacional) e marcado pela presenca da cienciae da tecnica nos processos de remodelacao do tarritorio essenciais

1 Vimos tratando desse tema desde 1980, quando apresentamos uma comu-nicacao ao Encontro Nacional dos Ge6grafos, promovido pela A.G.B. em PortoAlegre. Esse trabalho Ioi depois reproduzido em nosso livrinho Espaco e metodo.Levarnos, tambern, uma cornunicacao a urn sirnp6sio da OEA (Washington, 1986)- "0 perfodo tecnico-cientfficc e os estudos geograficos", Outras contribuicoesforam apresentadas em reunioes cientfficas e publicadas em divers as revistas:Boletim Paulista de Geografia (1989), Espaco e Debates (1988), Cahiers deGeographic du Quebec (1988), Resgate (1991), Caderno Prudentino de Geografia(1922), Terra Livre (1992) etc. Esse terna tarnbem tern sido objcto de disser-tacoes de mestrado, ja deferididas na Universidade de Sao Paulo como as deWilson Santos, Sergio Gertel e Denise S. Elias e na Universidade Federal doRio de Janeiro, como as de Margareth Pimenta, Luiz Pirnqnta e Maria CecfliaLinardi.

35

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36 0 MEIO TECNICO-CIENTIFICO

as producoes hegemonicas, que necessitam desse novo meio geo-grafico para sua realizacao. A informacao, em todas as suas for-mas, e 0 motor fundamental do processo social e 0 territorio e,tarn hem , equipado para facilitar a sua circulacao.

Isso nos obriga a distinguir dois periodos anteriores a fase atualda organizacao do territorio. Num espaco de tempo relativamentecurto, 0 Brasil acelera a mecanizaeao do territ6rio e enfrenta umanova tarefa, isto e, a constituicao, sobre areas cadavez mais vas-tas, desse meio tecnico-cientffico-informacional.

E apenas apos a segunda guerra mundial que a integracao doterritorio se torna viavel, quando as estradas de ferro ate entaodesconectadas na maior parte do Pais, sao interligadas, cons-troem-se estradas de rodagem, pondo em contato as diversas re-gioes entre elas e corn a regiao polar do Pais, empreende-se urnousado program a de investimentos em infra-estruturas. Aindauma vez, uma nova materialidade superpoe novos sistemas deengenharia aos ja existentes, oferecendo as condicoes tecnicas ge-rais que iriam viabilizar 0 processo de substituicao de importacoespara 0 qual todo urn arsenal financeiro, fiscal, monetario, serviriacoma base das novas relaeoes sociais (inclufdo 0 consumo aumen-tado) que iriam permitir mais uma decolagem.'

Esse perfodo duraria ate fins dos anos 60. o golpe de Estadode 1964 todavia aparece coma urn marco, pois foi 0 movimentomilitar que criou as condicoes de uma rapida integracao do Paisa urn movimento de internacionalizacao que aparecia coma irre-sistivell, em escala mundial. A economia se desenvolve, seja paraatender a urn mercado consumidor em celere expansao, seja pararesponder a uma demanda exterior. 0 Pais se torna grande ex-portador tanto de produtos agricolas nao tradicionais (soja, citri-cos) parcialmente beneficiados antes de se dirigirem ao estran-geiro, quanto de produtos industrializados. A modernizacao agri-cola, alias, atinge, tambem producoes tradicionais coma 0 cafe, 0

cacau, 0 algodao; alcanca produtos coma 0 trigo, cujo volume plan-tado e colhido se multiplica; implanta-se em muitos outros setorese se beneficia da expansao da classe media e das novas equacoesde urn consumo popular intermitente, corn 0 desenvolvimento daproducao de frutas, verduras e hortalicas, A populacao aumen-tada, a classe media ampliada, a seducao dos pobres por urn con-sumo diversificado e ajudado por sistemas extensivos de credito,servem coma impulsao a expansao industrial.

•...

o MEIO TECNICO-CIENTIFICO 37As primeiras fases do processo de integracao foram concentra-

doras das atividades modernas e dinamicas, tanto do ponto de vistascondmico quanto geograficamente. Ena Ultima fase, quando ja exis-te urn capitalismo maduro, que vamos testemunhar a possibilidadede uma difusao da modernizacao, nao so presente quanto aos capi-tais, coma quanto a tecnologia e as formas de organizaeao.

Afirrna-se, entao, a tendencia a generalizacao do meio tecni-co-cientffico. Desse modo, as remodelacoes que se impoem, tantono meio rural quanto no meio urbano, nao se fazerrf de formaindiferente quanto aqueles tres dados: ciencia, tecnologia e infor-macao (M. Santos, 1980 e 1988). Em consequencia, aparecem mu-dancas importantes, de urn lado, na composicao tecnica do terri-torio pelos aportes macicos de investimentos em infra-estruturas,e, de outro lado, na composicao organica do territorio, gracas acibernetica, as biotecnologias, as novas quimicas, a informaticae a eletronica. Isso se da de forma paralela a cientifizacao dotrabalho. Este se torna cada vez mais trabalho cientifico e suapresenca se da em paralelo a uma informatizacao tambern cres-cente do territorio. Pode-se dizer, mesmo, que 0 territorio se in-formatiza mais, e mais depressa, que a economia ou que a socie-dade. Sem duvida, tudo se informatiza, mas no territorio essefenomeno e ainda mais notavel uma vez que 0 trato do territoriosupoe 0 uso da informacao, que esta presente tambem nos objetos.

Ha, de urn lado, mais conhecimento sobre 0 territorio, gr1}~asasnovas possibilidades de teledeteccao (veja-se, no Brasil, 0 tfabalhodo Projeto Radam) e aos progress os obtidos na previsao meteorolo-gica (0 caso do radar meteorologico de Bauru e exemplar); por outrolado, os objetos geograficos, cujo conjunto nos da a configuracao ter-ritorial e nos define 0 proprio territorio, sao, cada dia que passa,mais carregados de informacao. E a diferenciacao entre eles e tantoa da informaeao necessaria a trabalha-los-, mas tambem a diferen-

2 Urn estudo de Scheneider, Frohlich e Feldens (1991, p. 60-73) mostraa intima relacao entre inforrnacao e adocao de praticas cientfficas e tecno-16gicas em area de agricultura modernizada. A cornpra de sernentes, racoes,adubos, defensives, maquinas e implementos, mas tambern a venda dos re-sultados do trabalho agrfcola sao forternente influenciadas pelas diversasforrnas de inforrnacao ao alcance do produtor: de urn lado, radio, televisao,jornais; de outros, conselhos de vizinhos, comerciantes e tecnicos agrfcolas.A incide ncia vari a, segundo os cases, mas 0 uso da informacao e pr at.icageneralizada e indi spe nsavel nao apenas A inovacao tecnol6gica, rnas ao pro-prio cotidiano do agricu !tor .

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38 0 MEIO TECNICO-CIENTIFICO

ciaeao da informaeao que eles proprios contem, em virtude desua propria realidade ffsica.

Pode-se, alias, dizer, corn mais propriedade, que 0 territorio seinformacionaliza, a informatizacao nao sendo mais que um ins-trumento e urn aspecto desse fenomeno mais abrangente.

Foi 0 periodo tecnico-cientffico da humanidade (R Richta, 1974),isto e, a possibilidade de inventar a natureza, de criar sementescoma se elas fossem naturais, isto e, 0 progresso da biotecnologia,que permitiu, no espaco de duas geracoes, que 0 que parecia urndeserto, como 0 cerrado, na Regiao Centro-Oeste e na Bahia, setransformasse num vergel formado por urn caleidoscopio de produ-~oes, a comeear pela soja. 0 papel da pesquisa, empreendida naEmbrapa e em outras instituicoes, foi fundamental nessa evolucao.

Neste periodo, no caso brasileiro, alguns fatos tern que ser res-saltados:

1.0) Ha urn desenvolvimento muito gran de da configuracao ter-ritorial. A configuracao territorial e formada pelo conjunto de sis-temas de engenharia que 0 homem vai superpondo a natureza,verdadeiras proteses, de maneira a permitir que se criem as con-dicoes de trabalho proprias de cada epoca. 0 desenvolvimento daconfiguracao territorial na fase atual vem corn urn desenvolvi-mento exponencial do sistema de transportes e do sistema detelecomunicacoes e da producao de energia.

2.°) Outro aspecto importante a levar em conta e 0 enonne desen-volvimen'toda producao material. A produeao material brasileira, in-dustrial e agricola, muda de estrutura; a estrutura da circulacao eda distribuieao muda; a do consumo muda exponencialmente; todosesses dados da vida material conhecemtransformacao extraordinaria,ao mesmo tempo em que ha disseminacao no territ6rio dessas novasfonnas produtivas. A parte do territ6rio alcancada pelas fonnas pro-dutivas modernas nao e apenas a regiao polarizada da definicao deJacques Boudeville (1964),nem 0 Brasil litoraneo descrito por JacquesLambert (1959) mas praticamente 0 Pais inteiro, ainda que as areasanterionnente privilegiadas adquiram novos privilegios,

3.°) Outro dado importante a considerar e 0 desenvolvimento.de novas formas econornicas: nao apenas ha urn desenvolvimentodas formas de producao material, ha tambem uma grande expansaodas fonnas de producao nao-material: da saude, da educacao, dolazer, da informacao e ate mesmo das esperancas, Sao formas deconsurno nao-rnaterial que se disseminam sobre 0 territorio,

o MEIO TECNICO-CIENTfFICO 39o consumo de energia passa dos 24.000 megawatts em 1965,

para 160.000 em 1984. A partir de 1960, constroem-se estradasde rodagem de primeira ordem. 0 Brasil passa a ser cruzado porurn gran de numero de rodovias de boa qualidade, entre as quaisurn born porcentual de autopistas. Por outro lado, em muitas re-gioes, observa-se uma tendencia a criacao de uma rede vicinal,sobretudo nas areas mais desenvolvidas. De quase 5.000.000 depassageiros transportados por meio de rodovias em 1970, alcan-eamos mais de 11.000.000 em 1980. Eram 3.800.000 automoveiscirculando em 1973, sao 10.500.000 em 1981.

Modernizam-se os Correios (Gertel, 1991) e cria-se urn modernosistema de telecomunicacoes, atraves de ondas e, depois, dos sa-telites; difunde-se 0 telefone, implanta-se 0 telex e novas fonnas detransmissao de mensagens, tornando maiores as possibilidades demovimento de valores, de dinheiro, de capitais, de ordens, mensa-gens etc:-Em 1974, os Correios transportaram cerea de urn bilhaode objetos, enquanto em 1982 sao mais de quatro bilhdes. Em 1961,havia 1.100.000 telefones instalados, em 1971 ainda eram 1.760.000,mas em 1987 0 Pais ja conta corn 11.600.000 aparelhos instalados.

It assim que, alem da integracao do territorio que ja se esbocavano periodo anterior, agora tambem se constroem as bases de umaverdadeira fluidez do territorio. 0 espaco torna-se fluido, permi-tindo que os fatores de producao, 0 trabalho, os produtos, as mer-cadorias, 0 capital, passem a ter uma grande mobilidade.

Podemos dizer que no Brasil e, ja agora, exemplar a presencadesse meio cientffico-tecnico, cujo retrato tentamos esboear de for-ma certamente incompleta. Nesta ordem de ideias, a expressaomeio cientifico-tecnico poderia ser utilizada em substituicao aque-la (que ha alguns anos cunhamos juntamente cornAna Clara Tor-res Ribeiro) de regiiio concentrada. Desse modo, e dificil prosse-guir falando de uma situacao de polo-periferia, onde 0 polo seriauma area circunscrita confundida com a propria extensao da prin-cipal aglomeracao e sua regiao de influencia imediata coma naproposta de Boudeville (1968) ou na de Friedmann (1971). Hoje,pode-se falar de uma regiiio concentrada que abrange, grossomodo, os estados do SuI (Parana, Santa Catarina, Rio Grande doSuI) alern de Sao Paulo e Rio de Janeiro e parcel as consideraveisdo Mato Grosso do SuI, Goias e Espirito San to. Trata-se de umaarea continua onde uma divisao do trabalho mais intensa que noresto do Pais garante a presenca conjunta das variaveis mais mo-

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40 0 MEIO TECNICO-CIENTIFICO

dernas - uma modernizacao generalizada - ao passo que noresto do Pais a modernizaeao e seletiva, mesmo naquelas man-chas ou pontos cada vez mais extensos e numerosos, onde estaopresentes grandes capitais, tecnologias de ponta e modelos ela-borados de organizacao,

A regiao concentrada coincide corn a area continua de mani-festacao do rneio tecnico-cientffico, cuja logica corresponde as ne-cessidades do presente estagio de desenvolvimento do Pais. Seesse meio tecnico-cientffico aparece de forma pontual em todosos estados e territories, sua presenea coma manchas de impor-tancia desigual e ja consideravel na Bahia, em Pernambuco, emMato Grosso, no Espirito Santo etc. Veja-se, por exemplo, a con-sideravel ampliacao dos perimetros de irrigacao (Santos Filho,1989; L. Ablas, 1988).

o meio tecnico-cientffico e 0 terreno de eleicao para a mani-festacao do capitalismo maduro, e este tambem dispoe de forcapara cria-lo, Sao duas faces de uma mesma moeda. Por isso, essemeio tecnico-cientfficc se geografiza de forma diferencial, isto e,de forma continua em algumas areas continuas ja mencionadas,e de modo disperso no resto do Pais. A tendencia, porem, emtodos os casos, e a conquista, relativamente rapida, de mais areaspara 0 meio tecnico-cientffico, ao contrario do meio tecnico, queo precedeu coma forma geografica e se difundia de forma relati-vamente lenta e certamente mais seletiva.

. Ha acentuada especializaeao de tarefas no territorio, segundouma vasta tipologia das producoes, que e tanto mais sutil quantonecessaria porque essas producoes nao sao urn dado puramentetecnico: toda producao e tecnica mas tarnbern socioeconornica. Ha,por isso, uma subdivisao e diferenciacao extrema na especializa-~ao dessas produeoes, que sao cada vez mais capitalistas. It ver-dade que durante muito tempo se escreveu, no caso brasileiro,ser 0 campo hostil ao capital, obstaculo a sua difusao. Hoje, porem,o que vemos e 0 contrario, urn campo que acolhe 0 capital novo e 0

difunde rapidamente, corn tudo 0 que isso acarreta, isto e, novas for-mas tecnol6gicas, novas form as organizacionais, novas formas ocupa-cionais, rapidamente instaladas. It uma tendencia que cIaramente senota nas areas economicamente mais avancadas, mas que tambemse faz presente naqueles subespaeos menos avancados,

Como os objetos criados pelas atividades hegemdnicas sao do-tados de intencionalidade especifica, 0 que nao era obrigatoria-

o MEIO TECNICO-CIENTfFICO 41mente urn fato nos periodos historicos anteriores, 0 mimero defluxos sobre 0 territorio se multiplica. Juntemos a esse urn outrodado: da totalidade dos objetos surgidos, alguns surgem corn umavocacao simbolica, mas a maior parte tern uma vocacao mercantil,de modo que tanto mais especulativa e a especializacao das fun-~oes produtivas, tanto mais alto 0 nivel do capitalismo e dos ea-pitais envolvidos naquela area, e ha, correlativamente, tendenciaa fluxos mais numerosos e qualitativamente diferentes.

As especializacoes do territorio, do ponto de vista da producaomaterial, assim criadas, sao a raiz das complementaridades re-gionais: ha uma nova geografia regional que se desenha, na baseda nova divisao territorial do trabalho que se impce. Essas corn-plementaridades fazem corn que, em consequencia, se criem ne-cessidades de circulacao, que vao tornar-se freneticas, dentro doterrit6rio brasileiro, conforme avanca 0 capitalismo; uma espe-cializacao territorial que e tanto mais complex a quanto maior 0

mimero de produtos e a diversidade da sua producao.Estamos diante de novo patamar, quanto a divisao territorial

do trabalho. Esta se da de forma mais profunda e esse aprofun-damento leva a mais circulacao e mais movimento em funcao dacomplementaridade necessaria. Mais circulacao e mais movimen-to perrnitern de novo 0 aprofundamento da divisao territorial dotrabalho, 0 que, por sua vez, cria mais especializacao do territ6rio.o circulo, nesse caso virtuoso (ou sera vicioso?), se amplia.

, 0 fa to de que 0 espaco seja chamado a ter cada vez mais urnconteudo em ciencia e tecnica traz consigo outras consequencias,coma uma nova composicao organica do espaco, pela incorporacaomais ampla de capital constante ao territ6rio e a presenca maiordesse capital constante na instrumentalizacao do espaco, ao mes-mo tempo em que se dao novas exigencias quanto ao capital va-riavel indispensavel (instrumentos de producao", sementes sele-

30 Pais contava corn 1.706 tratores em 1920, 3.380 em 1940,8.372 em 1950,urn rmiltiplo de menos de cinco no espaco de trinta anos. Nos seguintes trintaanos, 0 multiplicador e 63,38 pois ha 530.691 tratores em 1980. Eram 61.324 em1960, 165.870 em 1970 e 323.113 em 1975.

Entre 1950·e 1980, 0 uso de fertilizantes cresce de 13% ao ano, enquanto aexpansao media da producao agrfcola e de 4,5%. Essa utilizacao e diferente, se-gundo os lugares. Se no Pais coma urn todo 18% dos estabelecimentos usam adu-bos, na regiao de Ribeirao Preto, area paradigmatica da modernizacao agrtcolae do meio tecnicc-cicnttficc, 86% dos estabelecimentos .se incluem nessa pratica(D. Elias, 1992). 0 consumo de agrot6xicos passa das 27,7 toneladas em 1970para 125.100 em 1984. .

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42 0 MEIO TECNlCO-CIENTfFICO

cionadas, fertilizantes adequados, pesticidas etc.). Como conse-quencia das novas condicoes trazidas pelo uso da ciencia e datecnica na transformacao do territorio, ha maior expressao doassalariado em form as diversas (segundo as regioes) e necessi-dade maior de capital adiantado, 0 que vai explicar a enormeexpansao do sistema bancario CL.C. Dias, 1990 e 1991; R. LobatoCorrea, 1990 e 1991; H. K Cordeiro, 1990; T. Benakouche 1988),de tal forma que poderiamos falar de uma preditizacao do terri-torio, dando uma nova qualidade ao espaco e a rede urbana".

Cabe, igualmente, lembrar que, nesta fase, amplia-se a areada producao, enquanto a arena da producao se reduz. Isto e, aproducao, considerada em todas as suas instancias, se da emareas maiores do territorio, ao passo que 0 processo produtivo

4 Entre 1949 e 1975, a participacao do setor financeiro na forrnacao da rendanacional passa de 3,2% para 7%, para alcancar 14,5% em 1989 (P. Geiger, abril1986, p. 4; A. Amaral, 1990). De urna rede corn 265 agencias em 1949 e 682 em1969, 0 Banco do Brasil passa a ter 1.289 em 1983 e 1.679 em 1986.

o uso do credito agrfcola tambem se difunde, aumentando em numero e volumedas transacoes, sobretudo a partir dos fins dos anos 60.

Numero de Contratos e Valor dos Financiamentoscl Agropecu dria. Anos Selecionados

Ntimerode contratos

Financiamento em ualoresconstanies. Precos de

1969 (milhoes Cr$J1938 1.021 65.8471948 9.482 429.2291958 93.859 1.480.1291968 540.283 2.757.3941969 1.145.209 6.489.0961970 1.190.592 7.720.0531975 1.856.131 28.188.3301980 2.766.060 31.220.326

George Martine, sd. p. 6, Transf. Recentes ... (baseado em Luis Carlos Guedes Pinto,Notas sabre a poiiiica agricola e credito rural, versao preliminar, mimeo. Campinas1980, p. 117 e 120, e Banco Central do BrasiJ, Dados Estatfsticos, 1980.

Nenhurna area escapa a esse movimento. Na Amaz6nia, 0 fen6meno e assimdescrito por Jean Hebette (1985, p. 78-79): "(...) quanto ao credito rural, ele ternalcancado urna aJta penetracao nos ultimos anos entre os camponeses, inclusive osdas culturas de subsistencia; foibem financiada ate a mandioca. Esse credito porerncontemplou mais os interesses capitalistas do que os dos camponeses, pois compor-tava infalivelmente a cornpra de insumos modernos: adubos, fungicidas, herbicidas(inclusive 0 po-da-china), moto-serras, tratores e implementos. Era vinculado, sim,a compra e nao ao uso, pois muitos desses produtos nem eram utilizados".

o MEIO TECNlCO-CIENTjFICO 43direto completa-se em areas cada vez menores. Producoes comoa do alho, dos marmelos, do marnao, da cebola, para apenas falarde algumas, que antes se davam em quantidades minimas emmimero consideravel de lugares, hoje sao majoritariamente feitas,com produtividade muitas vezes maior, em areas cada vez me-nores. Essa e uma tendencia facilmente assinalavel no territoriobrasileiro. Ela e tornada factivel em boa parte pela possibilidadeagora existente de transporte relativamente facil entre os diver-sos pontos do Pais e pela rapida difusao das mensagens e ordensem todo 0 territorio nacional.

Enquanto 0 Pais melhora sua fluidez e conhece uma expansaodo capitalismo, bom Qumero de bens que eram produzidos apenascomo bens de consumo local, ou outros que tinham apenas valorde uso, transform am-se em valores de troca. A possibilidade con-creta de consurnir tern como paralelo a criacao de um maior nu-mero de bens de troca, isto e, de mercadorias. Dessa forma, 0

intercarnbio aumenta, incluindo mais gente no rnovirnento da eco-nomia monetaria e no trabalho assalariado, mesmo que nao sejapermanente. Se ate 0 fim da segunda guerra mundial, ainda egran de a importancia das economias de auto-subsistencia em al-gumas regioes, esse fen6meno tende a desaparecer desde entao.A necessidade de intercornunicacao e assim exaltada com a corn-plementacao reciproca entre regioes levando a ampliacao quan-titativa e qualitativa da urbanizacao.

Num tempo mais recuado, a area mais dinamica do Pais con-centrava 0 essencial da producao e do consumo e a circulacao dosbens e pessoas dava-se principalmente em seus limites e em suaperiferia imediata. 0 resto do territorio era poucojluido. Na faseimediatamente anterior a atual, temos, simultaneamente, enco-lhimento do espaco mais diretamente afetado pela modernizacaoe aumento do movimento, em todo 0 terr itdrio, ja que tanto estequanto 0 mercado se haviam unificado em escala nacional. Nafase atual, 0 movimento de descentralizacao se torna irresistfvel,corn os fen6menos de "fabrica dispersa" e de "fazenda dispersa",que atinge muitas zonas e pontos longinquos do territorio nacional,desse modo envolvidos pelo nexo da modernizacao capitalista", E

5 As areas rnais distantes SaD inclufdas ncsscs novos nexos da modernidadecapitalista tccnicista. 0 caso de Manaus e.significativo das novas possibilidadesdo territ6rio. Entre 1958 e 19760 nurnero de industrias cresce 515,48% e 0 pessoal

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desse modo que 0 Pais vai conhecer uma ocupacao periferica, Adecisao geopolitica de estimular a industrializacao em divers asregioes e de ocupar 0 territorio corn projetos de colonizacao teveinfluencia relevante nesse processo, mas 0 proprio mercado jogoupapel fundamental, viabilizado pelas novas infra-estruturas detransportes e de comunicacoes, assim coma pela superestruturados mecanismos reguladores, sob 0 comando do Estado e dos agen-tes hegemonicos da economia, atraves, sobretudo, dos interme-diaries financeiros.

A creditizacao do territorio, a dispersao de uma producao al-tamente produtiva, a expansao do capitalismo, a exacerbacao domovimento nao seriam possiveis sem a informatizacao do espacobrasileiro. 0 territorio e, hoje, possivel de ser usado, corn 0 eo-nhecimento simultaneo das acoes empreendidas nos diversos luga-res, por mais distantes que estejam. Isso permite, tambern, a im-plantaeao de sistemas de cooperacao bem mais largos, amplos eprofundos, agora associados mais estreitamente a fatores economi-cos de ordem nao apenas nacional, mas tambem internacional.

De fato, os eventos sao, hoje, dotados de uma simultaneidadeque se distingue das simultaneidades precedentes pelo fato deser movida por urn unico conjunto motor, a mais-valia em nivelmundial, que e, em ultima analise, responsavel, direta ou indi-reta, pela forma coma os eventos se dao sobre os diversos terri-torios. Essa unificacao se da em gran de parte atraves do nexofinanceiro e conduz a uma reformulacao do espaco em escala mun-dial (Santos, 1993).

No caso do Brasil, 0 ajustamento do espaco as novas condicoesdo periodo tern dados particulares, que sao, ao mesmo tempo, fatoresde implantacao e de aceleracao do processo. Urn deles e 0 ja referidomodelo economico,do qual urn subtitulo e 0 modelo exportador, agra-

ocupado aumenta em 760,11%. Eram 176 industries instaladas ate 1967, en-quanto foram criadas 519 a partir daquele ano.

No infcio dos anos 70, havia 1.070 proprietaries de terra corn rnais de 1.000hectares dos quais 116 corn mais de 10.000 ha, nas catorze municipalidades dafronteira oriental; eles sao, respectivamente, 4.314 e 240 em 1985 (J. Hebette,1985, p. 80).

Segundo Bertha Becker (sd, p. 25) "0 forrnidavel fluxo de farnilias para Ron-donia (85.000 entre 1973-1983)criou urn novoespaco para reproducao da economiacamponesa do Centro-Sul do Pais, implantando novas formas de exploracao ca-'pitalista em Rondonia. Em quinze anos multiplicou-se 0 nurnero de estabeleci-mentos por 18,5 e a superffcie por eles ocupada por 8,2, indicando 0 grande fra-cionamento da terra" .

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o MEIO TECNICO-CIENTIFICO 45vado em funcao da divida, 0 que veio criar para 0 Pais, nas areasmais ricas, certa continuidade no crescimento, corn a presencade culturas agricolas modernas. Como resultante, ha maior es-tabilidade no crescimento das aglorneraeoes urbanas correspon-dentes.

Durante, praticamente, tres seculos e meio, 0 tsrritdrio brasi-leiro conheceu uma utilizacao fundada na exploracao dos seusrecursos naturais pelo trabalho dire to e concreto do homem, maisdo que pela incorporacao de capital a natureza que, durante essetempo, teve urn papel relevante na selecao das producoes e doshomens. Nos cem anos que vao da metade do seculo XIX a metadedo seculo xx, algumas areas conhecem a implantacao de urn meiotecnico, meio mecanizado, que altera a definicao do espaco e mo-difica as condicoes do seu uso.

Recentemente (no ultimo quartel de seculo, aproximadamente),uma grande rotura se impoe. Ela e definida pela soma conside-ravel de capital fixo que e adicionado ao territorio, na dissociacaocorn 0 meio ambiente, na conducao da producao cada vez maispelo capital, enquanto 0 trabalho, tornado abstrato, passa a re-presentar urn papel indireto. _Asdifereneas notadas hoje no ter-ritorio sao, por isso, diferencas sobretudo sociais e nao mais na-turais. Os criterios para uma divisao regional, se a queremos ten-tar, teriam de ser buscados na estrutura fundi aria, nas formasde tenencia da terra, na participacao de cada subespaco na divisaodo trabalho, nas relacoes de trabalho, na densidade do capital enos niveis de capitalizacao ou financializacao das atividades. Tudoisso fundado na maior ou rnenor densidade dos sistemas tecnicos,que sao a base material da atividade.

Ao longo dessa historia, passamos de uma autonomia relativae entre subespacos a uma interdependencia crescente, de umainterdependencia local entre sociedade regional e natureza a urnaespecie de socializacao capitalista territorialmente ampliada, de cir-cuitos locais rompidos por alguns poucos produtos e pouquissimosprodutores a existencia predominante de circuitos mats amplos. 0espaco se torna mais articulado as relacoes funcionais, e mais de-sarticulado, quanto ao comando local das aedes que nele se exercem.

A regulacao da econornia e a regulacao do territorio vao agoraimpor-se corn ainda mais forca, uma vez que urn processo pro-dutivo espalhado e tecnicamente fragmentado tern necessidadede posterior reunificacao, para ser eficaz. 0 aprofundamento da

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divisao do trabalho impoe form as novas e mais elaboradas decooperacao e de controle. De fato, defrontamo-nos corn diferen-ciacoes regionais e disparidades territoriais de outra natureza.

As novas necessidades de complementaridade aparecem para-1elamente El necessidade de vigia-Ias, acompanha-las e regula-las.Esta nova necessidade de regulacao, de controle estrito, mesmoque El distancia, dos processos da producao, mas tambem da dis-tribuicao e de tudo mais que envolva 0 processo de trabalho, euma diferenca entre a comp1ementaridade atual e a do passado,ampliando a demanda de urbanizacao.

As necessidades de informacao inerentes El presenca do meiotecnico-cientffico e exigidas por sua operacao, fazem corn que; aomesmo tempo em que se instal a essa tecnoesfera, haja a tendenciaparale1a El criacao de uma psicoesfera (Santos, 1988) fortementedominada pelo discurso dos objetos, das relacoes que os moveme das motivacces que os presidem. A tecnoesfera se adapta aosmandamentos da producao e do intercambio e, desse modo, frequen-temente traduz interesses distantes; desde, porem, que se instala,substituindo 0 meio natural ou 0 meio tecnico que a precedeu, cons-titui urn dado local, aderindo ao 1ugar coma uma prctese.

A psicoesfera tambem faz parte desse meio ambiente, desseentorno da vida, fornecendo regras objetivas da racionalidadeou do imaginario, pa1avras de ordem cuja construcao freqiiente-mente e longinqua. Ela e local pelas pessoas sobre as quais seexerce, mas constitui 0 produto de uma sociedade bem mais am-pla que aquele lugar e cuja inspiracao e cujas 1eis tern dimensoesainda mais complexas.

A relacao entre "a reorganizacao da estrutura produtiva do Pais,iniciada nos anos 60 sob 0 regime militar" e a criacao de "uma basetecnica e economica dos processos modernos de comunicacao" e iden-tificada por Ana Clara T. Ribeiro (1991, p. 46) quando inc1ui 0 sis-tema moderno de cornunicacao "como parte do apare1ho institucionalcriado para 0 desenvolvimento de estrategias de controle do terri-torio nacional e, em sua face econfrmica, coma elo articulador e agi-lizador dos mercados. Essa relacao biunivoca entre consumo e cul-tura, lembrada por Renato Ortiz (1988), ganha nova qualidade apartir da afirmacao dessa psicoesfera". Tal fenomeno tern sido, to-

6 0 assunto foi sistematicamente tratado para 0 caso do Rio de Janeiro emA. C. Torres Ribeiro (1990).

- U. f. it J.

IIIUOTECI- ."1 •..o MEIO TECNICO-CIENTIFICO 47

davia, pouco relacionado corn fatos geograficos, como as migracoesou a urbanizacao, apesar das reiteradas sugestoes de J. Baudril-lard e de H. Lefebvre, autores, no entanto, muito citados na li-teratura socioespacia1 brasileira. Na realidade, essa cornbinacaoeficaz de elementos da instancia economica e da instancia culturalssta entre as bases da forrnacao de uma psicoesfera, sem cujofuncionamento e sem cujas leis 0 uso da tecnoesfera seria muitomenos eficaz. "Essa psicoesfera", diz A. C. T. Ribeiro (1991, p.48), consolida "a base social da tecnica e a adequacao comporta-mental El interacao moderna entre tecnologia e valores sociais" ee por isso mesmo que a psicoesfera "apoia, acompanha e, por ve-zes, antecede a expansao do meio tecnico-cientffico".

Tecnoesfera e psicoesfera tornam-se redutfveis uma El outra.Esse novo meio geografico, gracas ao seu conteudo em tecnica eciencia, e indutor e condicionante de novos comportamentos hu-manos, e estes aceleram a necessidade da utilizacao de recursostecnicos, que por sua vez constituem a base operacional de novosautomatismos sociais.

Tecnoesfera e psicoesfera sao os dois pilares corn os quais 0

meio cientffico-tecnico introduz a racionalidade no proprio con-teudo do territorio. Desse modo, 0 espaco nacional fica divididoentre areas onde os ~iaspectos da vida tendem a ser regi-dos pelos automatismos tecnicos e sociais proprios El modernidadetecn~i~ta e areas oDge ess~s n~os ~a~..!!.le!!Q§,_olLquase nada,presentes. Seria uma oposicao entre espacos inteligentes, racio-nais, e espacos opacos, nao racionais ou incompletamente ra-cionais, comandando uma nova divisao regional do Pais e deter-minando novas hierarquias: entre regioes corn grande conteudoem saber (nos objetos, nas instituicoes e empresas, nas pessoas)e regi6es desprovidas dessa qualidade fundamental em nossa epo-ea; entre regi6es do mandar e regioes do fazer.

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A NOV A URBANIZACAoDIVERSIFICACAo E COMPLEXIDADE

Esse movimento de fundo, no territ6rio e na sociedade,vai dar em consequencia uma nova urbanizacao brasileira. Urndos elementos fundamentais de sua explicacao e 0 fato de queaumentou no Brasil, exponencialmente, a quantidade de trabalhointelectuaP. Nao se dira, corn isso, que a populacao brasileira sehaja tornando culta, mas ela se tornou mais letrada. 0 fato deque se haja tornado mais letrada esta em relacao direta corn arealidade que vivemos neste perfodo cientffico-tecnico, onde aciencia e a tecnica estao presentes em todas as atividades huma-nas. Nessas condicoes, a quantidade de trabalho intelectual so-licitada e enorme, mesmo porque a producao material diminuiem beneficio da producao nao material. Tudo isso conduz a am-plificacao da terciarizacao (ou quaternarizacaof) que, nas condi-coes brasileiras, quer dizer tambem urbanizacao.

Por outro lado, e conforrne ja vimos, amplia-se 0 consumo noBrasil. A gama de artigos de consumo aumenta enormemente. Aexpansao do consumo da saude, da educacao, do lazer, e paralelaa do consumo das batedeiras eletricas, televisoes, e de tantos ou-

1 Esse fenorneno de difusao do trabalho intelectual na rede urbana, alcancandonao apenas as grandes cidades mas tarnbem as cidades medias e os centros locais,parece ser geral, isto e, em escala de todo 0 territ6rio. Na Amazonia, por exemplo,o fenorneno vem claramente descrito por Lia Os6rio Machado (julho, 1984) quandose refere a concentracao, nos micleos urbanos, de "administradores, planejadores,isto e, dos 'intelectuais do sistema'".

Segundo J. Graziano da Silva (1989, p. 19), "C..) 0 crescirnento das funcoestecnicas e administrativas nas empresas rurais e agroindustriais cria a demandade empregos preenchidos tipicamente por prolissionais de origem e vivencia ur-banas. Essas 'atividades de escrit6rio' ern contraposicao as atividades de campopropriamente ditas SaD cada vez mais vitais ao desempenho economico-Iinanceirodas empresas modernas e tern que ser exercidas no contexto urbano pois af eque se encontram os cornerciantes (de produtos e insurnos), os bancos, os agentesgovernamentais etc."

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50 A NOVA URBANIZAQAo - DIVERSIFICAQAo E COMPLEXIDADE

tros objetos, do consumo das viagens, das ideias, das informacoes,do consumo das esperancas, tudo isso buscando uma respostacon~entrada que leva a ampliacao do fenomeno da urbanizacao,sobretudo porque ao lado do consumo consuntivo, que se esgotaem si mesmo, criam-se no mundo agricola formas novas de con-sumo produtivo. Quer dizer, a urn consumo consuntivo que seamplia, corresponde, tambem, uma ampliacao de consumo pro-dutivo, atraves dessa incorporaeao de ciencia e informacao ao ter-ritorio rural.

A proporcao que 0 campo se moderniza, requerendo maquinas,implementos, componentes, insumos materiais e intelectuais in-dispensaveis a producao, ao credito, a administracao publica eprivada, 0 mecanismo territorial da oferta e da demanda de bense services tende a ser substancialmente diferente da fase prece-dente. Antes, 0 consumo gerado no campo, nas localidades pro-priamente rurais e, mesmo, nas cidades, era, sobretudo, urn con-sumo consuntivo , tanto mais expressivo quanto maiores os exce-dentes disponfveis, estas sendo funcao da importancia dos ren-dimentos e salarios, e, pelo contrario, tanto menos expressivequanto maior a taxa de exploracao, mais extensas as formas pre-capitalistas, mais significativo 0 coeficiente de auto-subsistencia,~il~iza~ao alQi£ola, 0 consumo produtivo tende .a se,~xpandiI~ a rep~~r uma p~ice~ II}1porta.E!:edastrocas-el1tre

~)~ luga.Dlli_da producao agriCOIa e as localidades urbanas.~O-consumo consuntioo cria uma demanda heterogenea segundo

os estratos de renda, mas comparavel segundo as mesmas pos-sibilidades· de demanda. A arquitetura do sistema urbano tendea se reproduzir; 0 que varia e a distancia entre os rnicleos domesmo nivel, os quais dispoem de equipamentos mercantis corn-paraveis, Essa distancia sera tanto maior - e a acessibilidadeaos bens e services tanto menor - quanto a demanda local formaior, a distancia entre os micleos provedores ten de a ser menor,

{~ a acessibilidade, portanto, igualmente maior.~ 0 consumo produtiuo cria uma demanda heterogenea segundo

os subespacos. Os equipamentos mercantis tendem a ser diferen-tes. 0 consumo produtivo rural nao se adapta as cidades, rnas,ao contrario,-aS" adapta. A arquitetura dos diversos subsistemas~, desse modo, diversa: Ha, na realidade, superposicao dos efeitosdo consumo consuntivo e do consumo produtivo, contribuindo paraampliar a escala da urbanizacaos para aumentar a importancia

A NOVA URBANIZAQAO - DIVERSIFICAQAo E COMPLEXIDADE 51

dos centros urbanos, fortalecendo-os, tanto do ponto de vista de-mografico, quanto do ponto de vista economico, enquanto a divisaodo trabalho entre cidades se torna mais complexa. E assim quevamos ter no Brasil urn mimero crescente de cidades corn maisde 100.000 habitantes, 0 novo limiar da cidade media. Ha tresou quatro decenios, as cidades medias eram as que tinham cereade 20.000 habitantes.

Por outro lado 0 sisterna urbano e modificado pela presencade indiistrias agricolas nao urbanas, freqiientemente firmas he-gemonicas, dotadas nao so de capacidade extremamente gran dede adaptacao a conjuntura, coma da forca de transformacao daestrutura, porque tern 0 poder da mudanca tecnologica e de trans-formacao institucional. Fortes por sua influencia junto ao Estado,terminam por mudar as regras do jogo da economia e da sociedadea sua imagem. Dotadas de uma capacidade de inovaeao que as ou-tras nao tern, fazem corn que 0 territ6rio passe a ser submetidoatensoes muito mais numerosas e profundas, pulsacoes que, vindasde grandes firmas, se impoem sobre 0 territorio, levando a mudancasrapidas e brutais dos sistemas territoriais em que se inserem.'

As cidades locais mudam de conteiido. Antes, eram as cidadesdos notaveis, hoje se transformam ·~m cidades economicas. A ci-dade dos notaveis, onde as personalidades notaveis eram 0 padre,o tabeliao, a professora prim aria, ojuiz, 0 promotor, 0 telegrafista,cedeIugar a cidade economica, onde sao imprescindiveis 0 agro-noma (que antes vivia nas capitais), 0 veterinario, 0 bancario, 0

piloto agricola, 0 especialista em adubos, 0 responsavel pelos eo-mercios especializados".

Esses lugares representam estoques de meios de consumo, es-toques de sementes e implementos, estoques de capital de giro(agora indispensaveis), estoques de mao-de-obra nos mais diver-

\ sos niveis, centros de transportes e de comunicacoes, poles deI difusao de mensagens e ordens.

o lugar esta, de urn lado, ligado ao processo dire to da producaoque envolve 0 trabalho imediatamente necessario, dai 0 grandemimero de boias-frias presentes em todas as estacoes do ana (porisso, tambem, a populacao rural tende a ser menor que a popu-

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2 "0 campo, a partir desse perfodo, passa a ser 0 local de residencia da po-pulacao especializada: tratoristas, mecilnicos, qutmicos, agronomos, fiscais e par-cela pouco significativa de trabalhadores rurais permanentes" (Rosa Ester Rossini,1988, p. 121).

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52 A NOVA URBANlZA<::Ao - DIVERSIFICA<::Ao E COMPLEXIDADE

l~o agrfcola) e 0 capital imediata e necessario, gai a pre-Lsen~~ de ramifi£.a~6esdo sistem~b~~cario, ate mesmo em nucleos

menores.-Por outro Iado, seu papel politico, agora ampliado cornas funcoes de controle da atividade economica, nao e apenas di-retamente tributario (corno antes) da producao local e das tradi-~6es locais, passando a ser inserido em uma trama de relaeoesque ultrapassa 0 lugar. Mas e nesse lugar que boa parcel a dopoder politico e exercido.

A cidade torna-se 0 locus da regulacao do que se faz no campo.E ela que assegura a nova cooperacao imposta pela~ova divisaodo trabalho agricola, porque obrigada a se afeicoar as exigenciasdo campo, respondendo as suas demandas cada vez mais pre-mentes e dando-Ihe respostas cada vez mais imediatas. Como 0

campo se torna extrema~en_te ~diferenciado ..1Le~~lti~l~idadede objetos geograficos que 0 form~o fato de que esses objetosgeograficos tern urn conteudo informacional cada vez mais distinto(0 que se imp6e, porque 0 trabalho no campo e cada vez maiscarregado de ciencia) tudo isso faz corn que a cidade local deixedeser a cidade no campo e se transforme na .cidade do campo.

A urbanizacao tambem aumenta porque cresce a quantidadede agricultores residentes na cidade". 0 Brasil e urn pais quepraticamente nao conhecia 0 fenomeno de village. Pode-se dizerque as primeiras aldeias brasileiras so vao nascer, ja modernas,neste mesmo perfodo, corn a colonizacao na Amazonia e no Cen-tro-Oeste (L. O. Machado, 1984). Na verdade, nao nascem rurais,ja surgem urbanas. DJ:"

A essa divisao social do trabalho ampliada, que leva a umadivisao territorial do trabalho ampliada, soma-se 0 fato de queas diferenciaeoes regionais do trabalho tambem se ampliam.

As cidades locais se especializam tanto mais quanto na arearespectiva ha possibilidades para a divisao do trabalho, tanto doponto de vista da materialidade quanto do ponto de vista da di-namica interpessoal. Quanto mais intensa a divisao do trabalhonuma area, tanto mais cidades surgem e tanto mais diferentessao umas das outras.

3 "C ..) mesmo voltados prioritariamente para 0 garimpo, esses nucleos jamaisdeixaram de exercer a funcao de concentrar mao-de-obra m6vel, tambem dispo-nfvel ao trabalho por empreitada nas grandes propriedades" (Maria Celia NunesCoelho, Raymundo Garcia, 1986, p. 13).

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A NOVA URBANIZA<::Ao - DIVERSIFICA<::Ao E COMPLEXIDADE 53

\ Dentro do que frequentemente consideramos coma localidadesdo mesmo nivel, ha uma diferenciaeao cada vez mais marcada,acompanhada ~e uma divisao interurbana do trabalho. E 0 quese verifica no Brasil em boa porcao dos estados do Sudeste e doSuI, corn a distribuicao de funcoes produtivas entre as cidades.Isso e possivel porque os transportes se difundiram e a criacaode grandes autopistas se soma, nas regioes mais desenvolvidas,uma criacao tao gran de ou maior de estradas vicinais; desse modo,a circulacao se torna facil e 0 territorio fluido. E essa fluidez doterritdrio tern coma consequencia uma acessibilidade (ffsica e fi.-nanceira) maior dos individuos. Quando essa acessibilidade fl-nanceira e. maior, os precos tendem relativamente a baixar e aparte disponivel do salario tende relativamente a aumentar.Quanto maior a divisao territorial do trabalho, maior a propensaoa consumir e a produzir, maior a tendeneia ao movimento, e amais criaeao de riqueza. -

Nas zonas onde a divisao do trabalho e menos densa, em vezde especializacoes urbanas, ha acumulacao de funeoes numa mes-ma cidade e, conseqiientemente, as localidades do mesmo nivel,incluindo as cidades medias, sao mais distantes umas das outrl'!$.Este e, por exemplo, 0 easo ~fdo Nordeste brasileiro. A redeurbana e cada vez m~renciada, cada vez mais complexifi-cada; cada cidade e seu campo respondem por relacoes especificas,propriae as condicoes novas de realizacao da vida economica esocial, de tal maneira que toda simplificacao no tratamento dessaquestao precisa ser superada._ ..(No sistema urbano, as categorias consideradas hom~osniveis tidos coma paralelos sao cada vez mais diferenciados entresi. Ha, pois, diferenciacao extrema entre os tipos urbanos. Houvetempo em que se podia tratar a rede urbana comouma entidadeonde as cidades se relacionavam segundo uma hierarquia de ta-manho e de funeoes.iEsse tempo passou. Hoje, cada cidade e di-ferente da outra, nao importa 0 seu tamanho, pois entre as me-tropoles tambem ha diferencas.

Se,no periodo anterior, metropoles coma Salvador, Recife, Be-lem guardavam elementos de semelhanca, pois a producao in-dustrial que lhes cabia era orientada para urn mimero reduzidode bens, ligados ao consumo mais banal dos habitantes, hoje, cornurn sistema moderno de transportes e comunicacoes que facilitamo comercio e 0 controle por firmas situadas a milhares de quiM-

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54 A NOVA URBANIZAc;::Ao - DIVERSIFICAc;::Ao E COMPLEXIDADE

metros do lugar de producao, aquelas antigas metropoles regio-nais se tornam metropoles nacionais pela maior amplitude desuas relacoes economicas. :It uma nova maneira de ser metropoleincompleta (Santos, 1971), que inclui 0 fato de serem extrema-mente diferenciadas entre si. Maria de Azevedo Brandao (1985)mostra 0 quanto a industria baiana e diferente da de Recife, e 0

mesmo pode ser dito de Porto Alegre e Belem. Isto e possfvelporque se tornou viavel 0 aproveitamento das virtualidades decada area, uma vez que urn sistema industrial mais complexodistribui territorialmente tarefas distintas, gracas as facilidadesde transporte e comunicaeoas.

Essa diferenciacao tarnbem se da entre Sao Paulo e Rio deJaneiro. A disputa que mantinham no comeco do seculo ja semostra favoravel a primeira des sas cidades desde os anos 30,ainda que, estatisticamente, isso so se va revelar no decenio se-guinte. Agora Sao Paulo passa a ser a area polar do Brasil, naomais propriamente pela importancia de sua industria, mas pelofato de ser capaz de produzir, coletar, classificar inforrnacoes, pro-prias e dos outros, e distribui-las e administra-las de acordo cornseus proprios interesses. Esse e urn fenomeno novo na geografia'e na urbanizacao do Brasil. Esta nova qualidade do papel de co-mando da metropole paulistana provoca urn distanciamentomaior entre Sao Paulo e Rio de Janeiro, uma maior divisao ter-ritorial do trabalho, nao so do Sudeste, mas de todo 0 Brasil. SaoPaulo destaca-se coma metropole onipresente no territorio bra-sileiro.

Este novo periodo consagra tambern uma redistribuicao dasclasses medias no territorio, e, de outro lado, uma redistribuieaodos pobres, que as cidades maiores sao mais capazes de acolher.A mais rica de todas, Sao Paulo, e tambem a que tern maiorpoder de atracao. Basta dizer que, entre 1970 e 1980, a regiaometropolitana de Sao Paulo recebe, sozinha, 17,37% do total demigrantes do Pais, 0 dobro do que vai para 0 Rio de Janeiro.Apesar da gran de campanha de propaganda empreendida peloEstado, em favor da coloniza~ao da Amazonia, levando para essaregiao urn contingente de dois rnilhoes de pessoas, essa migracaonao e comparavel a que se dirigiu para as regioes metropolitanas.Apenas a regiao metropolitan a do Rio de Janeiro recebe, no mes-mo periodo, volume igual de pessoas, enquanto a Grande SaoPaulo acolhe 0 dobro.

A NOVA URBANIZAc;::Ao - DIVERSIFICAc;::Ao E COMPLEXIDADE 55

Por outro lado, as cidades de porte medic passam a acolhermaiores contingentes de classes medias", urn mimero crescentede letrados, indispensaveis a uma producao material, industriale agricola, que se intelectualiza. Por isso assistimos, no Brasil,a urn fenomeno paralelo de metropolizacao e de desmetropoliza-~ao, pois ao mesmo tempo crescem cidades grandes e cidades me-dias, ostentando ambas as categorias incremento demografico pa-recido, por causa em grande parte do jogo dialetico entre a criacaode riqueza e de pobreza sobre 0 mesmo territorio. As cidades entre20.000 e 500.000 habitantes veem sua populacao total passar decerea de sete milhoes em 1950 para perto de 38.000.000 em 1980,enquanto as cidades corn mais de urn milhao de habitantes pas-sam de seis milhoes e meio em 1950 para 29.000.000 de residentesem 1980.

Por ultimo, dir-se-ia que, dentro das cidades, sobretudo dasgrandes cidades, vai dar-se aquilo que Armstrong e McGee (1968)haviam prematuramente visualizando nos anos 60. Esses doisgeografos propunham a nocao de" "involucao urbana" corn baseno que era chamado de ruralizar;ao dacidade, isto J; a invasaode praxis rurais no me~rbano em virtude das numerosas ebrutais correntes migratorias provenierites do campo. Hoje,-Po-rem, talvez se possa falar em uma inooluciio metropolitana masem outro sentido, uma vez que 0 grande mimero de pobres ur-banos cria 0 caldo de cultura para que nas cidades, sobretudonas grandes cidades, vicejem formas economicas menos moder-nas, dotadas de menor dinamismo e corn menor peso na conta-bilidade estatistica do crescimento economico (Santos, 1988b).

Sao Paulo ha muito tempo cresce relativamente .menos do queo Pais e cresce tambem menos do que 0 Estado de Sao Paulo,nao propriamente em termos absolutos, mas em termos propor-

4 Em urn bairro de c1asse media de Ribeirao Preto (interior de Sao Paulo),formado por residencias construidas mediante financiamento do Sistema Finan-ceiro da Habitacao, a c1asse media era expressiva, tendo 20,5% dos residentesuma renda superior a onze salaries mfnimos (eram 2,3% corn mais de dezesseisS.M.), enquanto 55,7% se situavam na faixa entre seis e dez salaries mfnimos eapenas 23,8% tinham rendimentos inferiores e cinco salaries mfnimos. Nesse es-Ludodo Conjunto Habitacional Jardim Castelo Branco I, Carlos Stechhahn (1990)mostra que em 100% das casas havia geladeira, fogao e televisao em cores, em71,1% havia pelo rnenos' urn ventilador, em 65,5% urn radio e em metade delas(50%) urn autom6vel. Bens como maquina de lavar, telefone e aparelho de somestavam presentes em, respectivamente, 47,7%, 42,2% e 38,9%.

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56 A NOVA URBANIZAQAo - DIVERSIFICAQAo E COMPLEXIDADE

cionais. Este, alias, nao e apenas fenomeno paulista. Nas regi6esde agricultura moderna, 0 crescimento economico e, por raz6esrmiltiplas, maior que nas respectivas metropoles. Estas sao lu-gares onde se encontram enormes estoques de capital velho, umavez que, no campo, a substituicao de uma composicao organicado capital por outra composicao organica do capital e, mais facildo que 0 e, na cidade, a substituicao de uma composieao tecnicapor outra composicao tecnica do espaco. E muito mais caro arrasarurn quarteirao, fazer uma nova avenida, urn tunel, urn viaduto,do que substituir, corn incentivos financeiros e fiscais, maquinas,sementes e produtos quimicos. Por outro lado, 0 fato de que os----pobres venham para a cidade e abandonem 0 campo modernizado,leva a que no urbano se recriem condicoes para utilizacao do velhoeconornico. -. i. , po .••) ("> .-\t.

o consumo produtivo !U:r:.alnao se adapta as cidades, mas, aocontrario, as adapta. Estas sao chamadas a dar respostas parti-culares as necessidades das producoes particulares, e daf a maiordiferenciacao entre as cidades. Estas se diferenciam cada vezmais pelo fato de 0 nexo do consumo produtivo ser ligado a ne-cessidade de encontrar, no lugar e na hora, respostas indispen-saveis a marcha da producao, Este fenomeno, antes restrito ascidades, que eram "depositos" para os fatores da producao indus-trial, agora tambem se da no campo, corn a diferenca de que, apartir desse momento, a regulacao do mundo rural nao se fazmais no campo. Hoje, nas areas mais desenvolvidas, todos os da-dos da regulacao agricola se fazem no urbano, novidade que emmuito muda a significacao, neste periodo, da urbanizaeao brasi-leira.

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6.

A DIVERSIDADE REGIONAL

A complex a organizacao territorial e urbana do Brasilguarda profundas diferencas entre suas regi6es. Em 1980, e aRegiao Sudeste a mais urbanizada, corn urn indice de 82,79%. Amenos urbanizada e a Regiao Nordeste, corn 50,44% de urbanos,quando a taxa de urbanizacao do Brasil era de 65,57%.

Essas disparidades sao antigas, embora diversas segundo osperiodos, conforme mostra 0 quadro abaixo.

TAXAS REGIONAIS DE URBANIZAQAo

1940 1960 1980NorteNordesteSulSudesteCentro-Oeste

27,75 37,80 51,6923,42 34;24 50,4427,73 37,58 62,4139,42 57,36 82,7921,52 35,02 67,75

M. A. A. de Souza, 1988.

Em 1940, alern de as taxas regionais nao serem altas, as di-ferencas entre regi6es sao menos significativas do que nos anosseguintes. Ja em 1960, 0 Sudeste, mais modernizado, mostraavancos importantes no processo de urbanizacao. Em 1980, todosos indices conhecem incrementos, enquanto 0 Sudeste mantempreeminencia 1.

1Em 1980, para urn Indice nacional de urbanizacao igual a 67,6%,duas GrandesRegioes, 0 Sudeste e 0 Centro-Oeste compareciam corn taxas mais elevadas (83% e68% respectivamente) e as tres outras Grandes Regioes apareciam corn nfveis deurbanizacao mais baixos que 0 do Pais (Sul: 62%; Norte: 52%; Nordeste: 50%).

E insuficiente, porern, levar, apenas, em conta esses nurneros relativos. Con-siderado isoladamente, 0 Sudeste tinha uma populacao urbana (43.550.604) maiorque 0 resto do Pais. Eram 53;1% da populacao urbana total. Esse fato de massa

57

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58 A DIVERSIDADE REGIONAL

Em 1940, quando a populacao urbana representava 31,2% dapopulacao total brasileira, somente 0 Sudeste ultrapassava esseindice, corn cerea de 39% de urbanos. Nesse ano, eram 0 Nortee 0 SuI que apareciam em segundo lugar, ambos com 28% deurbanos, enquanto 0 Nordeste e 0 Centro-Oeste se aproximavam,com uma taxa de urbanizacao de 23% e 22% respectivamente.Em 1950,0 Sudeste se mantinha em sua posicao dianteira (48%)sendo, pois, mais urbanizado do que 0 Pais coma urn todo (36,2%).Apenas 0 SuI (33%) ultrapassava 0 indice brasileiro deste ultimoano. A Grande Regiao Norte vinha logo em seguida corn 29% deurbanos, a frente do Nordeste (26%) e do Centro-Oeste (24%).

Os decenios mais recentes marcam uma aceleraeao no cresci-mento das taxas de urbanizacao em todas as regi6es, mas sobre-tudo no Centro-Oeste, que em 1980 (corncerea de 68%) ultrapassade muito 0 fndice nacional de urbanizacao (55,9%), situacao quee, tambem,' a das Regi6es Sudeste (sernpre na dianteira) e SuI.Tanto 0 Norte quanto 0 Nordeste tern uma urbanizacao menorque 0 Pais coma urn todo.

A distancia entre os indices regionais de urbanizacao, minimaem 1940, vai acentuando-se a partir do p6s-guerra, para se tornarbem marcada corn a modernizaeao do territdrio nacional (sobre-tudo ap6s 1970). 0 caso do Centro-Oeste merece uma observacaoparticular. Essa era, em 1940, 1950 e 1960, a regiao menos ur-banizada do Pais e a partir de 1970 ganha 0 segundo lugar nessaclassificacao, precedida apenas pelo Sudeste. Quanto ao SuI, quenesses termos ainda era ligeiramente ultrapassado pelo Norteem 1960, conhece, a aceleracao do seu crescimento urbano nosdois decenios seguintes.

Considerando 0 volume de populacao urbana, 0 crescimentorelativo entre 1960 e 1980 e maior no Centro-Oeste e no Norteque nas outras tres Grandes Regi6es, sendo que no Nordeste eno Sudeste esse crescimento e menor que no Pais consideradoem conjunto. Se levarmos em conta 0 horizonte temporal 1950-1980, 0 mesmo fenomeno se repete. Na verdade, alias, os indicesrespectivos aparecem ainda mais expressivos, coma demonstramos dois quadros seguintes:

tern de ser levado em conta, pelas suas consequencias eeonomicas, sociais e po-ifticas, sobretudo se levarrnos em conta que a Grande Regiao Sudestc se cstendepor urna area relativarnente reduzida, cornparada corn a superffcie total do Pais.

A DIVERSIDADE REGIONAL 59CRESCIMENTO DA POPULAQAo URBANA BRASILElRA

SEGUNDO AS DIVERSAS GRANDES REGlOES

1950 1980 1980/1950BrasilNorteNordesteSudesteSuiCentro-Oeste

18.782.981580.867

4.744.80810.720.7342.312.985

423.497

82.013.3753.102.659

17.959.64043.550.66412.153.9715.246.441

4,365,343,784,065,25

12,39

1960 1980 1980/1960BrasilNorteNordesteSudesteSuiCentro-Oeste

32.004.817983.278

7.680.68117.818.6494.469.103'1.053.106

82.013.3753.102.659

17.959.64043.550.66412.153.9715.246.441

2,563,152,342,442,714,98

Enquanto 0 territ6rio nao e unificado pelos transportes e eo-municacoes e pelo mercado, e a urbanizacao nao se torna urnferiomeno generalizado sobre 0 espaco nacional, a simples com-paracao dos seus indices entre diferentes regi6es e cidades podelevar a equivocos de interpretacao. Por exemplo, em 1940, con-forme ja vimos, a taxa de urbanizacao da Amazonia era sensi-velmente parecida a do SuI. Mas os nexos que estao por detrasdesses mimeros sao bem diversos.

Na Amazonia, trata-se de uma rehquia dos periodos hist6ricosanteriores, tambem e sobretudo da fase maior de exploracao daborracha. Area onde 0 essencial da atividade era extrativa, as-sociada a uma cultura de subsistencia, faltavam-lhe densidadeeconomica e densidade demografica para permitir 0 surgimentode s6lidos organismos urbanos locais fora dos pontos de nucleacaomais importantes, representados peIas cidades onde estava se-diado urn poder politico-administrativo associado a funcoes espe-culativas corn certo relevo. Os empregos publicos e privados assimcriados por essas atividades de relacao, garantiam a essas aglo-meracces privilegiadas urn fermento de vida, enquanto a inter-dependencia local de funcoes assim criadas assegura a tais cida-des a continuidade de sua importancia relativa junto as respec-tivas areas de influencia, ainda que sua populacao e seu movi-mento economico estagnem ou baixem, tanto em termos absolutos

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60 A DIVERSIDADE REGIONAL

coma em relacao a outras cidades e regioes do Pais. Na Amazonia,trata-se de urn modelo claramente macrocefalico, devido a umadivisao do trabalho incipiente e que apenas se reproduz, sem qua-se se alargar. 0 fen6meno e estudado em detalhe por RobertoLobato Correa (1987).

No SuI e no Sudeste, onde existe uma rede urbana mais de-senvolvida, a interaeao entre as cidades acelera 0 processo dedivisao territorial do trabalho que lhes deu origem e, por sua vez,vai permitir 0 avanco dos indices de urbanizaeao, renovando as-sim, num circulo virtuoso, os impulsos para urn novo patamarna divisao internacional do trabalho. Enquanto isso, os indicesde urbanizacao ficam estagnados ou evoluem Ientamente no Nor-te, onde devemos esperar os anos sessenta para que a situacaose desbloqueie, gracas ao desenvolvimento das comunicacoes edo consumo e a amplitude maior do intercambio corn as demaisregioes do Pais, graeas a industrializaeao e a modernizacao dasociedade e do Estado.

Mais recentemente, todas as areas do Pais experimentam urnrevigoramento do seu processo de urbanizacao, ainda que em ni-veis e formas diferentes, gracas as diversas modalidades do im-pacto da modernizacao sobre 0 territorio.

A partir dos anos 60, e sobretudo na decada de 70, as mudancasnao sao, apenas, quantitativas, mas, tambern, qualitativas. A ur-banizacao ganha novo conteudo e nova dinamica, gracas aos pro-cessos de modernizacao que 0 Pais conhece e que explicam a novasituacao.

A situacao anterior de cada regiao pesa sobre os processos re-centes. A diferenca entre as taxas de urbanizacao das varias re-gioes esta intimamente ligada a forma como, nelas, a divisao dotrabalho sucessivamente se deu, ou, em outras palavras, pela ma-neira diferente como, a cada momento historico, foram afetadaspela divisao inter-regional do trabalho.

Quando da intensificacao da urbanizacao, algumas areas eramde antigo povoamento, servidas por infra-estruturas antigas, re-presentativas de necessidades do passado, e nao respondendo,assim, as vocacoes do presente.

o simples exame dos mimeros da urbanizacao nas diversasregioes pode dar a impressao de uma evolucao contraditoria. Naose trata disso. A partir do momento em que 0 territorio brasileirose torna efetivamente integrado e se constitui coma mercado uni-

A DIVERSIDADE REGIONAL 61

~'

eo, 0 que a primeira vista aparece coma evolucao divergente e,na verdade, urn movimento convergente. Ha uma logica comumaos diversos subespacos, Essa logica e dada pela divisao territorialdo trabalho em escala nacional, que privilegia diferentementecada fracao do territorio a urn dado momento de sua evolueao. Itdessa maneira que, em cada periodo, se entendem as particula-ridades e 0 movimento proprio de cada subespaco e as formas desua articulacao no todo. Esse enfoque se impoe, pois a cada mo-mento historico as herancas dos periodos passados tambem ternpapel ativo na divisao territorial do trabalho atual. 0 movimento,no territdrio, do geral e do particular, tern de ser entendido naoapenas hoje, coma ontem. It assim que se podem explicar naoapenas esse dado estatistico que sao as diferencas regionais dosindices de urbanizaeao, mas tambern dados estruturais, coma asdiferencas regionais de forma e de conteudo da urbanizacao.

Nas areas pouco povoadas do Norte e do Centro-Oeste, a mo-dernidade (referimo-nos, aqui, a modernidade posterior a segundaguerra mundial) se implanta quase sobre 0 vazio e desse modoquase nao encontra 0 obstaculo das herancas. Essas areas ain-da se mantinham praticamente pre-mecanicas ate trinta anosatras.

o Centro-Oeste (e, mesmo, a Amazonia), apresenta-se comaextremamente receptivo aos novos fen6menos da urbanizacao, jaque era praticamente virgem, nao possuindo infra-estrutura demonta, nem outros investimentos fixos vindos do passado e quepudessem dificultar a implantaeao de inovacoes. Pede, assim, re-ceber uma infra-estrutura nova, totalmente a service de uma eco-nomia modern a, ja que em seu territorio eram praticamente au-sentes as marcas dos precedentes sistem as tecnicosl Desse modo,af 0 novo vai dar-se corn maior velocidade e rentabilidade. E epor isso que 0 Centro-Oeste conhece uma taxa extremamente altade urbanizacao, podendo nele se instalar, de uma so vez, toda amaterialidade contemporanea indispensavel a uma economia exi-gente de movimento.

Na Amazonia legal, 0 Indice de urbanizacao passa de 28,3%em 1950 a 52,4% em 1980 (L. O. Machado, 1983) e 0 mimero dernicleos urbanos duplica nesse mesmo perfodo, subindo de 169para 340 (M. Miranda, 1985, p. 9).

A Regiao Centro-Oeste e, particularmente, Mato Grosso do SuIe Goias distingue-se da Amazonia pelo fato da continuidade es-

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62 A DIVERSIDADE REGIONAL

pacial da ocupacao, feita a partir de capitais mais intensivos, corna presenca de uma maior composieao organic a e num subespacoonde a fluidez e maior. E na Amazonia houve, desde 0 seculopassado, condicoes para a concentraeao da populacao em poucosmicleos, exatamente em funcao da descontinuidade e da raridadedo povoamento.f

o ea so de Goias e ernblematico. Durante praticamente quatroseculos e, do ponto de vista da producao, urn verdadeiro espaconatural, onde uma agricultura e uma pecuaria extensivas saopraticadas, ao lado de uma atividade elementar de mineracao.Da construcao de Goiania, inaugurada nos anos 30, nao se eo-nhecem sistematicamente os efeitos dinamicos. 0 novo urbanochega antes da modernizacao rural, da modernizacao dos trans-portes e do Pais, da modernizacao do consumo e, de modo maisgeral, da modernizacao do Pais. Corn a redescoberta do cerrado,gracas a revolucao cientffico-tecnica, criam-se as condieoes locaispara uma agricultura moderna, urn consumo diversificado e, pa-ralelamente, uma nova etapa da urbanizacao, gracas, tambem,ao equipamento moderno do Pais e a construcao de Brasflia, quepodem ser arrolados entre as condicoes gerais do fenomeno, Gra-cas as novas ~!i espa~j)Ltem~.e.§..illedias relativamenteespacadas (em contraste corn areas de velha urbanizacao coma 0

Nordeste) se desenvolvem rapidamente, e, reforcada, Goianiapode pretender a condicao metropolitana, apesar de sua proximi-dade a Brasilia.

Outra e a realidade do Nordeste, onde uma estrutura fundiariahostil desde cedo a maior distribuicao de renda, a maior consumoe a maior terciarizacao, ajudava a manter na pobreza milhoesde pessoas, e impedia uma urbanizaeao mais expressiva. Por isso,a introdueao de inovacdes materiais e sociais iria encontrar gran-de resistencia de urn passado cristalizado na sociedade e no es-paco, atrasando 0 processo de desenvolvimento. Urn antigo po-

2 "A presenca da pecuaria em Mato Grosso nao estimulou 0 desenvolvimentode uma densa malha de cidades e nem de grandes cidades. Assim, ao procurarlembrar as cidades mato-grossenses, n~vern 11mern6ria praticamente apenasCampo Grande (294.000 habitantes), Cuiaba (213.000) e Corumba (81.000), querepresentaram 23,3% da populacao do estado em 1980. Comparando corn 0 nortedo Brasil, notamos que 0 extrativismo vegetal dorninante (borracha, castanhaetc.) tambem nao gerou uma verdadeira rede urbana, mas duas cidades alcan-cararn outro nfvel populacional: Belern (934.000) e Manaus (635.000) que em 1980sornaram 26,6% da populacao total da area" (A. Mamigonian, 1986, p. 39, Geosul).

A DIVERSIDADE REGIONAL 63

voamento, assentado sobre estruturas sociais arcaicas, atua comafreio as mudancas sociais e economicas, acarreta retardo da evo-lucao tecnica e material e desacelera 0 processo de urbanizacao.Esta e recentemente menos dinamica no Nordeste, se comparadaa outras areas do Pais.

Ja 0 Sudeste, mais "novo" que 0 Nordeste e mais "velho" queo Centro-Oeste, consegue, a partir do primeiro momento da me-canizacao do territorio, uma adaptacao progressiva, eficiente aosinteresses do capital dominante. Cada vez que ha uma moderni-dade, esta e encampada pela regiao. A cidade de Sao Paulo e urnborn exemplo disso, pois constantemente abandona 0 passado, vol-ta-lhe permanentemente as costas e, em contraposicao, reconstroiseu presente a imagem do presente hegemonico, 0 que lhe tern per-mitido, nos periodos recentes, uma desempenho economico superior,acompanhado por taxas de crescimento urbano muito elevadas.

Ha, no Sudeste, significativa mecanizacao do espaco, desde asegunda metade do seculo passado, ao service da expansao eco-nomica, 0 que desde entao contribui para uma divisao do trabalhomais acentuada e gera uma tendencia a urbanizacao, As levasde migrantes europeus que aqui desembarcavam, mediante suasaspiracoes de consumo, ja traziam consigo urn estimulante a umamaior divisao do trabalho nessa area, cuja incorporaeao econo-mica tardia, em relaeao as demandas dos paises industriais, acatapor ser uma vantagem. 0 fato de que a mecanizacao do espacose da sobre urn quase "vazio", criando 0 novo tecnico ao lado donovo economico, e urn outro acelerador da divisao do trabalho.Isso vai ocorrer sobretudo no Estado de Sao Paulo onde, ao longodo seculo, e ainda recentemente, foi possivel acolher as novas esucessivas modernizacoes. Essa permanente renovacao tecnicaserve coma base material para permanente renovacao da econo-mia e do contexto social, ensejando uma divisao do trabalho cadavez mais ampliada e a aceleracao correlativa do processo de ur-banizacao, cujos indices atuais no Sudeste sao cornparaveis, senaosuperiores, ao da maioria dos paises da Europa Ocidental,

Quanto a Grande Regiao SuI, reline areas de povoamento maisantigo, incorporadas a civilizacao mecanica desde fins do seculopassado e outras cuja incorporacao tardia a civilizacao tecnicalhes permitiu urn desenvolvimento urbano mais rapido, Compa-re-se, por exemplo, a marcha da urbanizacao em urn estado comao Parana corn 0 que se pas sou no Rio Grande do SuI. 0 exemplo,

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I:11

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1.,

64 A DIVERSIDADE REGIONAL

alias, mostra-nos 0 perigo de nos atermos unicamente a gran desunidades territoriais. A proporcao que reduzimos a escala de nos-sas observacoes, vemos aparecer formas de evolucao particulares.Por exemplo, no caso das areas "vazias" cuja incorporacao a ma-terialidade modern a e mais recente, nao ha coma confundir si-tuacces coma a do Mato Grosso do SuI corn a que se verifica naAmazonia, Nesta, a colonizacao e mais descontfnua, e mobilizareIativamente menos capitais e mais trabaIho, enquanto no MatoGrosso do SuI a densidade maior da ocupacao e acompanhada demaior densidade capitalistica e tecnica. Isso ajudaria a expIicaro maior desenvoIvimento urbano em Mato Grosso do SuI (e tarn-hem em Mato Grosso. e Goias) onde, tambem, a presenca de umac1asse media urbana e mais notavel. 0 que ha de comum a essessubespacos e 0 aparecimento de urn processo vigoroso de urba-nizaeao paraIelamente as novas vagas de povoamento e nisso es-sas areas se distinguem do resto do Pais, onde, em relacao aopovoamento, a urbanizacao (do territ6rio e nao apenas pontual)se verifica corn atraso.

7.

BRASIL URBANO E BRASIL AGRICOLA E NAoAPENAS BRASIL URBANO E BRASIL RURAL

Que outras inferencias retirar da expansao do meio tee-nico-cientffico e da conseqiiente divisao do Pais em espacos daracionalidade, espacos inteligentes e espacos incompletamentetecnicizados, espacos opacos?

Gracas a evolucao contemporanea da economia e da sociedadee coma resuItado do recente movimento de urbanizacao e de ex-pansao capitaIista no campo, podemos admitir, de modo geral,que 0 territ6rio brasileiro se encontra, hoje, grosseiramente re-partido em dois grandes subtipos que agora vamos denominar deespacos agricolas e espacos urbanos. Utilizando, corn urn novosentido, a expressao regiiio, diremos que 0 espaco total brasileiroe atuaImente preenchido por regioes agricolas e regioes urbanas.SimpIesmente, nao mais se trataria de "regioes rurais" e de "ci-dades". Hoje, as regioes agricolas (e nao rurais) contsm cidades;as regioes urbanas contem atividades rurais. Na presente situ a-~ao socioeconomica, as cidades preexistentes, nas areas de po-voamento mais ou menos antigo, devem adaptar-se as demandasdo mundo rural e das atividades agrtcolas, no que refere tantoao consumo das famflias quanto ao consumo produtivo, isto e, 0

consumo exigi do pelas atividades agricolas ou agroindustriais.Quanto as cidades, aquelas cujas dimensoes sao maiores, utilizamparte dos terrenos vazios dentro da aglomeracao ou em suas pro-ximidades corn atividades agricolas frequentemente modern as egrandemente destinadas ao consumo da respectiva populacao. Asregices metropolitan as, oficiais ou de fato, sao 0 melhor exemplodesse fenomeno. Teriamos, desse modo, no primeiro caso, areasagricolas contendo cidades adaptadas as suas demandas e, nosegundo caso, areas rurais adaptadas a demandas urbanas.

Trata-se de urn esquema gera1. De urn lado, toda cidade dispoede urn fermento local de vida, pr6prio a ela mesma, independente

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.01

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66 BRASIL URBANO E BRASIL AGRICOLA

de impulsoes externas, aquela autonomia urbana referida por Ma-ximilien Sorre e sem a qual nao ha cidade. (A partir de certonivel, a permanencia da vida urbana nao mais dependeria daatividade que the deu origem.) Essa autonomia e garantida pelasatividades requeridas pela propria populacao urbana e cada vezmais tambern pelos fenomenos de circulacao. A autonomia tendea ser tanto mais forte quanto a cidadete maior.

De outro lado, a producao agricola realizada no interior doslimites metropolitanos ou urbanos pode ser objeto de urn consumonao unicamente local. A gama de situacoes interrnediarias entreas duas situacoes-tipo aqui sugeridas e, assim, muito grande e apromocao de uma cidade dependente do espaco agrfcola a situacaode verdadeira regiao urbana e possivel. 0 fenomeno, alias, e ver-dadeiro ja em muitas areas e em muitas aglomeracoes grandes.Trata-se de uma tendencia historicamente verificavel, fundadana evolucao atual da economia, da sociedade e do territorio. Pode-se, desde ja, prever que essa tendencia ganhara corpo e vai ge-neralizar-se nos proximos decenios,

Dois problemas, reais e de metodo, parecem impor-se. 0 pri-meiro e a diferenca de situacoes entre, de urn lado, as regioeseconomicamente mais desenvolvidas do Pais (aquelas onde 0 meiotecnico-cientffico se afirma mais fortemente) e, de outro, as re-gioes deprimidas. Nestas ultimas, as demandas do mundo ruralsao qualitativamente e quantitativamente menores, porque os nf-veis de renda sao baixos e a modernizacao agricola e inexistente,pontual ou incompleta, e, desse modo, a cidade preside a umavida de relaeoes que e ainda proxima do tradicionaf, atraves daconhecida dicotomia rural-urbana. No caso das regices pioneiras,fatos novos se instalam sobre areas relativamente vazias. A im-plantacao das iriovaedas se da corn uma populacao relativamentemenor do que em outras areas onde a modernidade vem super-por-se a urn fenomeno anterior de .densidade. 0 tamanho da po-pulacao e, pois, urn fator a nao desconsiderar, junto corn 0 nfvelde sua renda e de sua demanda. Mais uma vez, no entanto, assituacces sao muito variadas, 0 que, todavia, nao impede de pro-por uma generalizacao.

o outro problema e 0 de saber a partir de que tamanho urbanopode-se falar em regiiio urbana. 0 caso das regioes metropolitanase 0 exemplo limite. Sao areas onde diversas "cidades" interagemcorn grande frequencia e intensidade, a partir de uma interde-

E NAo APENAS BRASIL URBANO E BRASIL RURAL 67

pendencia funcional baseada na unidade das infra-estruturas ur-banas e nas possibilidades que esse fato acarreta para urn divisaodo trabalho interna bem mais acentuada que em outras areas.E por isso que corn razao se admite que 0 Brasil tern muito maisregioes metropolitanas que as nove da classificaeao oficial. Paraficar so num exemplo, Brasilia merece, de ha muito, participardessa classe. Mas as regioes metropolitanas apenas constituemo nfvel superior dessas regioes urbanas; qual seria 0 limite infe-rior? Podemos, grosseiramente, propor 0 limite dos 200.000 ha-bitantes, 0 que hoje daria ao Pais algumas dezenas de regioesurban as. A questao, porem, dificilmente podera ter resposta me-ramente quantitativa e as diferencas de desenvolvimento regionalterao tambern influencia na definicao do fenomeno,

Se aceitas as premissas corn que estamos trabalhando, issoequivaleria a admitir uma alternativa para a corrente divisao(sobretudo estatistica e administrativa) do Pais em areas urbanase areas rurais. Haveria, entao, urn Brasil Urbano e urn BrasilAgricola, em que 0 criterio de distineao seria devido muito maisao tipo de relacoes realizadas sobre os respectivos subespacos,Nao mais se trataria de urn Brasil das cidades oposto a urn Brasilrural.

No Brasil agrfcola.: ha tendencia a que a area de exportacao,isto e, de producao que procura urn mercado distante, seria, so-bretudo, a area rural, e isso tanto mais quanto a agricultura re-gional seja moderna. No Brasil urbano, a area "de exportacao"seria tanto a rural quanto a urbana, mas sobretudo a urbana. Eevidente, porem, que tanto mais importante a reguio urbana, tan-to mais forte nela sera a divisao interna do trabalho, corn os di-versos micleos que a compoern vendendo uns aos outros bens in-termediarios e finais. .

A regiiio urbana tern sua unidade devida sobretudo a inter-re-lacao das atividades de fabricacao ou terciarias encontradas emseu respectivo territorio, as quais a atividade agricola existentepreferentemente se relaciona. A regiiio agricola tern sua unidadedevida a inter-relacao entre mundo rural e mundo urbano, re-presentado este por cidades que abrigam atividades diretamenteligadas as atividades agricolas circundantes e que dependem, se-gundo grans diversos, dessas atividades. Isso, naturalmente, naoexc1ui uma hierarquia de respostas no sistema urbano regional.Alias, todas as cidades (e regioes urbanas) do sistema urbano

.. \

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68 BRASIL URBANO E BRASIL AGRICOLA

nacional sao, de uma forma ou de outra, interessadas pela ativi-dade rural, as quais se ligam segundo diversos niveis de inter-relacao e de controle.

Mas nas regiiies agricolas e 0 campo que, sobretudo, comandaa vida econ6mica e social do sistema urbano (sobretudo nos niveisinferiores da escala) enquanto nas regioes urbanas SaGas ativi-dades secundarias e .terciarias que tern esse papel.

Essa subdivisao do Pais em urn Brasil Urbano e urn BrasilAgricola somente tern validade coma generalizacao, nao prescin-dindo, desse modo, de analise mais aprofundada, ainda por fazer,das especificidades dos diversos subespacos.

8.

URBANIZAOAo CONCENTRADAE METROPOLIZAOAo

I...i.x.!= ",-~_c.o o..rv,ado... ,(~ \;)0,-.,' "t? c.O...9 \.t:~·h( , .1·,(~do., i. t

\.Ae.e.t..~r).,t'CLC 0.-,,:) .:'"'oc,

A partir dos anos 70, 0 processo de urbanizacao alcancanovo patamar, tanto do ponto de vista quantitativo, 'luanto doponto de vista qualitativo. Desde a revolueao urbana brasileira,consecutiva a revolu~aOdemografica dos anos 50, tivemos, pri-meiro, uma urbaniza~ao aglomerada, corn 0 aumento do mimero- e da populacao respectiva - dos micleos corn mais de 20.000habitantes e, em seguida, uma urbaniza~ao concentrada, corn amultiplicacao de cidades de tamanho interrnedio, para alcancar-mos, depois, 0 estagio da metropoliza~ao .•corn 0 aumento consi-deravel do mimero de cidades milionarias e de grandes cidadesmedias (em torno do meio milhao de habitantes).

I

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Aglomeracoes corn mais de 20.000 habitantesIt a partir dos anos 50 que se nota mais francamente uma

tendencia a aglorneracao da populacao e da urbanizacao. Os nu-cleos corn mais de 20.000 habitantes veem crescer sua participa-Caono conjunto da populacao brasileira, passando de pouco menosde 15% do total em 1940 para quase 0 dobro (28,43%) em 1960para constituir mais de metade (51%) da populacao em 1980. Es-ses mesmos micleos corn mais de 20.000 habitantes reuniam qua-se metade (47,7%) da populacao urbana em 1940, mais de tresquintos (63,64%) em 1960 e mais de tres quartos (75,48%) em1980. Mas as realidades regionais SaGdiferentes e 0 peso relativodes sas aglomeracoes na populacao total e na populacao urbanade cada regiao SaGurn reflexo da hist6ria passada e recente decada uma delas.

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70 URBANlZACAo CONCENTRADA E METROPOLIZACAo

AGLOMERACOES (CIDADES E VILAS) COM MAIS DE 20.000 HABITANTESNA DATA DOS RECENSEAMENTOS GERAIS

URBANIZACAo CONCENTRADA E METROPOLIZACAo 71ser cidade media uma aglomeracao deve ter populacao em tornodos 100.000 habitantes ... Isto nao invalida 0 uso de quadros es-tatisticos, mas sugere cautela em sua interpretacao.

Tomando coma base fixa de comparacao os 501 centros urbanosque tinham mais de 20.000 habitantes em 1980, Francois E. J.de Bremaeker (1986, p. 280) assim nos descreve 0 crescimentoda sua importancia relativa:"Em 1950, estes 501 centros urbanosdetinham 13,6 milhoes de habitantes, que constitufam 72,6% dapopulacao urbana brasileira e 26,3% da populacao total. Em 1969,continham 23,5 milhoes de habitantes, que representavam 73,5%da populacao urbana e 33,1% da populacao total. Em 1970, jaretinham 40,3 milhoes de habitantes que constituiam 76,2% dapopulacao urbana e 42,6% da populacao total. Finalmente, em1980, estes 501 centros urbanos alcancavam a marca de 62,5 mi-lhoes de habitantes, que correspondiam a 76,3% da populacaourbana e a 51,6% da populacao brasileira".'

A populacao vivendo em micleos corn mais de 20.000 habitantesaumenta 4,58 vezes entre 1950 e 1980, passando de 13.640.237para 62.543.148 pessoas, crescendo, pois, em cerea de 49.000.000de habitantes. Como, nesse perfodo, a populacao urbana totalcresce urn pouco mais de 63.000.000 de pessoas, segue-se que, decada cem novos urbanos, 77 se encontravam em cidades e vilascorn mais de 20.000 habitantes e apenas 23 em localidades me-nores. Enquanto a populacao destas iiltimas e multiplicada por3,78 entre 1950 e 1980, a dos nucleos maiores de 20.000 habi-tantes 0 e por 4,58.

A populacao urbana das aglomeracoes corn mais de 20.000 ha-bitantes cresce mais depressa que a populacao total e que a po-pulacao urbana do Pais, e 0 mesmo fen6meno tambern se verificaem escala regional. Considerando-se as cinco Grandes Regioesem que 0 territ6rio nacional esta dividido, 0 incremento maiornos decenios 60~70 e 70-80 se verifica no Norte e no Centro-Oeste,respectivamente. Esta ultima, alias, conhecia, entre 1950 e 1960,crescimento espetacular da populacao residente nos micleos maio-res de 20.000 habitantes, conforme nos indica 0 quadro a seguir.

Populaciio total % sabre a populaciio % sabre a populaciiototal do Brasil urbana do Brasil

19401950196019701980

6.144.93510.845.97119.922.25237.398.84260.745.403

14,93 47,7120,88 57,7428,43 63,6440,15 71,8051,00 75,48

PARTE RELATIVA DOS AGLOMERADOS URBANOS (CIDADES E VlLAS)COM MAIS DE 20.000 HABITANTES NA POPULACAo TOTAL BRASlLElRA

1940 1960 1980BrasilNorteNordesteSudesteSuiCentro-Oeste

14,93 28,43 51,0015,77 22,11 36,908,58 16,45 31,71

21,96 41,92 69,3911,08 20,85 42,88

1,85 14,12 45,57

PARTE RELATIVA DOS AGLOMERADOS COM MAIS DE 20.000HABITANTES SOBRE A POPULACAo URBANA TOTAL

1940 1960 1980BrasilNorteNordesteSudesteSuiCentro-Oeste

47,71 63,64 75,4857,05 59,15 71,3836,59 48,54 62,8655,57 73,54 83,8039,87 56,20 68,728,51 41,25 67,27

Cabe, todavia, levantar uma questao: podemos c1assificar ascidades corn mais de 20.000 habitantes coma medias? Urn dosproblemas que se apresentam nas ciencias humanas e 0 do usoe interpretacao das series estatisticas, pois 0 numero, em mo-mentos distintos, possui significado diferente. Nesse sentido, asseries estatisticas sao miragens. 0 que chamavamos de cidademedia em 1940/50, naturalmente nao e a cidade media dos anos1970/80. No primeiro momento, uma cidade corn mais de 20.000habitantes poderia ser c1assificada coma media, mas, hoje, para

1 Considerados os 501 centros urbanos que tinham mais de 20.000 habitantesem 1980, essas aglomeracoes constitufam mais de tres quartos da populacao ur-bana total do Pais e mais de metade da populacao total. Eram, portanto, 7,4%do total dos micleos populacionais brasileiros, ja que estes, em 1980, eram emnurnero de 8.078 (3.991 cidades e 4.084 vilas).

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72 URBANIZAQAo CONCENTRADA E METROPOLIZAQAo

INDICE DE INCREMENTO DA POPULAQAo DAS AGLOMERAQOESURBANAS (CIDADES E VlLAS) COM MArS DE 20.000 HABITANTES

1980-70 1970-60 1960-50

BrasilNorteNordesteSudesteSuICentro-Oeste

1,62 1,87 1,83

1,98 1,93 1,66

1,59 1,89 1,70

1,53 1,82 1,79

1,81 1,84 2,27

2,46 1,87 4,21

A difusao do fenfrmeno foi reIativamente maior que a medianacionaI no Centro-Oeste, no SuI e no Norte e menor que essamedia no Nordeste'' e no Leste. Tomando coma base os dados dorecenseamento de 1980, 0 resultado da comparacao entre os rit-mos regionais e diferente conforme tomemos coma ponto de par-tida os anos de 1950, 1960 ou 1970. Mas, em todos os casos, e noCentro-Oeste onde se registra 0 maior incremento, enquanto 0 Iugarseguinte varia conforme 0 periodo considerado. Se levarmos em con-ta todos os trinta anos entre 1950 e 1980, e ao SuI que cabe 0 indicemaior, ainda que seguido de muito perto pelo Norte. Mas se tomar-mos em conta 1960-70 ou 1970-80, 0 Norte mostra urn avanco con-sideravol sobre 0 SuI. Quanta ao Nordeste, seus indices de incre-mento sao ligeiramente menores que os do Sudeste, exceto entre1970 e 1980, quando e 0 contrario que se verifica.

Mas a comparacao do volume demografico correspondente asdiversas Grandes Regi6es, durante 0 periodo 1950-1980, revelaa grande concentracao dos respectivos efetivos no Sudeste, segui-do, de muito longe, pelo Nordeste e 0 SuI, ao passo que ao Cen-tro-Oeste e ao Norte apenas cabem fatias relativamente reduzi-das. Ainda que sua participacao seja decrescente, nos ultimosquatro recenseamentos (1950, 1960, 1970 e 1980), cerca de 60%da populacao residente nos centros maiores de 20.000 habitantesse encontram no Sudeste.

Se El verdade que 0 Sudeste ve baixar sua participacao reIativa,a Iicao dos mimeros absolutos e reveIadora. A mudanca espeta-

2 Uma ilustracao do fen6rneno de difusao territorial e da tendencia a urbani-zacao concentrada, no pertodo 1940-1980, e dada, para 0 Estado da Bahia, porSilva e Silva, 1987. Os centros corn rnais de 20.000 hahitantes passa de urn apenasem 1940 a oito em 1960 e 29 em 1980. Havia sornente urn corn rnais de 100.000habitantes em 1940, a capital do estado, e sao quatro em 1980.

~

~

URBANIZAQA9 CONCENTRADA E METROPOLlZAQAo 73cuIar dos indices reIativos ao Centro-Oeste significa, no periodo1970-1980, urn crescimento de cerea de 1.900.000 moradores emmicleos corn mais de 20.000 habitantes. No Norte, esse incremen-to e da ordem de 1.000.000. Mas no Sudeste, eIe e de mais de12.000.000 de pessoas. Considerando 0 periodo 1950-1980, os ni-veis sao: cerea de 3.300.000 e de 1.800.000 para 0 Centro-Oestee 0 Norte, respectivamente, enquanto no Sudeste 0 incrementorespectivo El de 28.000.000.

Cidades corn mais de 100.000 habitanteso mimero das aglomeracoes onde a populacao ultrapassa os

100.000 habitantes nao para de crescer, conforme indicado natabeIa seguinte.

NUMERO DE LOCALIDADES, SEGUNDO TAMANHO, NO ANO DOSRECENSEAMENTOS DE 1940, 1950, 1960, 1970 E 1980

1940 1950 1960 1970 1980

Entre 100.000 e200.000 hab. 11 15 28 60 95

Entre 200.000 e500.000 hab. 5 9 11 19 33

Mais de 500.000hab. 2 3 6 9 14

Total corn rnais de100.000 hab. 18 27 45 88 142

Tomadas em conjunto, as aglomeracoes corn mais de 100.000habitantes, raras em 1940 - quando eram apenas ~_emtodo 0 Pais - veem 0 seu mimero aumentado nos recenseamentosseguintes, alcancando 142 em 1980. Em 1991, 183 municipioscontavam corn mais de 100.000 habitantes. A partir dos anos 70, Jparece ser esse (100.000) 0 patamar necessario para a identifi-cacao de cidades medias em boa parte do territorio nacional. Aexpansao e a diversificacao do consumo, a elevacao dos niveis derenda e a difusao dos transportes modernos, junto a uma divisaodo trabalho mais acentuada, fazem corn que as funcoes de centroregional passem a exigir maiores niveis de concentracao demo--/grafica e de atividades. Somente nas areas mais atrasadas e quetais funcoes sao exercidas por micleos menores. r

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.,

74 URBANIZAQAo CONCENTRADA E METROPOLlZAQAo

As localidades corn mais de 100.000 e menos de 200.000 ha-bitantes viram 0 seu mimero muItiplicado por quase nove entre1940 e 1980, passando de onze para 95. AqueIas corn populacaoentre 200.000 e 500.000 habitantes triplicaram seu mimero entre1960 e 1980: eram onze em 1960 e sao 33 em 1980. As cidadescOVlmais de meio milhao de habitantes eram somente duas em1940 e somam catorze em 1980.

Em 1940, sete dos onze micleos entre 100.000 e 200.000 ha-bitantes estavam no Sudeste e no SuI. Em 1980, 0 Sudeste con-tava corn 67 dos 95 micleos desse tamanho. Em 1940, dos cincomicleos entre 200.000 e 500.000 moradores, tres estavam no Su-deste; em 1980, para urn total de 33, 0 Sudeste e 0 SuI abrigavam,drzoito.

A parte que corresponde as duasregioes mais desenvoIvidasaumenta entre 1940 e 1950, quanto as aglorneracoes entre100.000 e 200.000 habitantes, e diminui para os micleos maiores.E, tambern, reIevante assinalar que, em 1940, apenas nove esta-dos dispunham de cidades corn populacao entre 100.000 e 200.000moradores; em 1980, eIas existem em 26 unidades da Federacao(onze em 1950; dezessete em 1960; 21 em 1970). Tomando-se aslocalidades corn entre 200.000 e 500.000 habitantes, eIas estavampresentes em apenas cinco estados em 1940 e se encontram em1980 em dezenove estados (oito em 1950, nove em 1960, quinzeem 1970).

Quanto aos micleos maiores de 500.000 habitantes, apenas doisem 1940, sao eles catorze em 1980. NaqueIe ano, ambos estavamno Sudeste, mas dos presentes em 1980 0 Sudeste contava corncinco, 0 SuI corn dois, os outros sete estando em outras regices.No total, esses micleos representavam 7,7% da populacao brasi-leira em 1940, mas sao 31,5% desse total em 1980. Eles estavampresentes em apenas dois estados em 1940 e em 1980 estao treze(tres estados em 1950, seis em 1960 e nove em 1970).

Cidades milionarias

As cidades milionarias, que eram duas em 1960 (Sao Patilo eRio de Janeiro) sao cinco em 1970..,dez em 1980 e £lo~m 1991.Esses mimeros ganham maior significacao se nos lembrarmos deque em 1872 a soma da populacao das dez maiores cidades bra-sileiras nao chegava a 1.000.000 de habitantes, reunindo apenas

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URBANlZAQAo CONCENTRADA E METROPOLlZAQAo 75 c '-~,-

815.729 ... Esta e a nova realidade da macrourbanizacao ou dametropolizacao. Mas se levarmos em consideracao as aglomera-coes ou quase-conurbacoes que beiram essa cifra, seu mimero seraconsideravelmente aumentado. J\..p~avra metropole e, todavia~timidamente utilizada no Brasil, quando as novas realidades damundializacao ampliaD:loprocess'o de sua criacao coma "oIocuspor excelencia das relacoes sociais e economic as" (W. Panizzi,1990, p. 51-=52).Nesse sentido, e legitima a preocupacao de CelsoLamparelli (1990, p. 56) quando lamenta que continuemos "in-sistindo em referencias que ja nao iluminam suficientemente aproblematica das transforrnacoes vividas ultimamente pelo es-paco",

o fenomeno de metropolizacao vai muito alem da denominacao ,legal. Segundo esta,.9 Pais conta com nove Regioes Metropolita-nas: Belern, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio deJaneiro, Sao Paulo, Curitiba e Porto Alegre, criadas por lei paraatender a criterios certamente validos, de urn ponto de vista ofi-cial, a epoca de sua fundacao. Hoje, na verdade, a elas se podeni>acrescentar outras "regj,oes urban as", que mereceriam identicanomenclatura. A..Pr~ra delas e Brasflia, corn suas cidades sa-telites, exaustivamente estudadas por Aldo Paviani (1988), entreoutras. 0 mesmo se pode dizer dos conjuntos urbanos comandadospor Campinas e por Santos - a 'inenos que sequeira integrarestes oois ultimos numa entidade territorial que Maria Adeliade Souza (1978, p. 25) ja denominava de mJ.lcrometropole paulistadesde os anos 70. As cidades que, no norte do Parana, tern funcoesinterdependentes, facilitadas pela- proximidade e fluidez dostransportes, tambern aspiram a mesma classificacao coma me-tropole (M. C. Linardi, 1992). A verdade, alias, se considerarmostambem as aglomeraeoes milionarias, ou p,!lrto de se-lo, pelo me-nos Manaus e Goiania ja se incluiriam nessa lista. Segundo J.R. Langenbuch (1971, p. 1), g~c!..evia isso ha mais ~ viu.t.e"anos, "(... ) a metropole constitui urn tipo especial de cida-ile,.Jluese distingue das menores nao apenas por sua dimensao, mas p,gruma serie de fatos, quer de natureza quantitativa, quer de na-tureza quatitativa".

As atuais Regioes Metropolitanas tern como pontos comunsdois elementos essenciais: a) sao formada~r_ mais 9-e~~-nicipio, corn 0 municfpio micleo - que Ihes da 0 nome - repre-sentando uma area bem maior que as demais; b) sao objeto de

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76 URBANlZA(:Ao CONCENTRADA E METROPOLIZAvAo

program as especiais, levados adiante por organismos regionaisespecialmente criados, corn a utilizaeao de norm as e de recursosem boa parte federais. Sao, na verdade, regioes de planejamento,onde, todavia, 0 que e feito nao atende a problematica geral daarea, limitando-se a aspectos setoriais. ~ socializacao capitalistafavorecida pelo poder publico nessas areas metropolitanas e acom-panhada por uma expansao periferka,- que inclui a criaeao deDireitos Industriais explicitos e implicitos, e pela concentracaogeografica dos services de interesse coletivo.

A populacao das nove Regioes Metropolitanas quase dobra seusporcentuais em relacao a populacao total, entre 1940 e 1980.

PARTE DAS REGIOES METROPOLITANASNO TOTAL DA POPULAvAo BRASILEIRA

19401950196019701980

14,98%17,95%21,72%25,58%28,93%

Do crescimento da populacao total do Brasil, parcela conside-ravel vai instalar-se nas Regioes Metropolitanas, e essa parcelae crescente desde 1950.

Populaciio que se instala nasRegioes Metropolitanas

% do aumento da populaciionacional que se instala nas

Regioes Metropolitanas1940-19501950-19601960-19701970-1980

3.052.9075.952.9198.596.874

11.259.743

28,7532,6237,4643,37

A parte desse incremento que vai a Regiao Metropolitana deSao Paulo e dominante e crescente (respectivamente 10,31%,11,42%, 14,64% e 17,73%). Somente para 0 periodo de 1970-1980,as periferias de Sao Paulo e Rio de Janeiro absorvem 11,61% doincremento demografico do Pais, enquanto os municipios-centro re-colhem 13,97%. Em outras palavras, as aglomeraeoes de Sao Pauloe do Rio de Janeiro sao responsaveis pela absorcao de mais de urnquarto do incremento total da populacao brasileira nesse decenio.

\.

"

URBANIZAvAo CONCENTRADA E METROPOLlZAvAo 77Desde 0 decenio 1940-1950 que, em mimeros absolutos, 0 in-

cremento demografico da Regiao Metropolitana de Sao Paulo vemsendo maior que 0 correspondente a Regiao Metropolitana do Riode Janeiro. 0 mesmo se verifica quanto aos respectivos munici-pios-micleo. Mas 0 incremento de populacao dos municfpios pe-rifericos de Sao PauIo somente ultrapassa, em rnimeros absolutos,o da Regiao Metropolitana do Rio de Janeiro a partir do decenio1960-1970.

Comparando 0 total da populacao migrante corn a parcela che-gada nos ultimos cinco anos, segundo os dados do Censo Demo-grafico de 1970, pode-se concluir que a forea atrativa da RegiaoMetropolitana do Rio de Janeiro foi menor que a de Sao Pauloou Belo Horizonte.

POPULAVAo MIGRANTETEMPO DE RESIDENCIA NO ATUAL DOMICfLIO

Menos de tresanos %

De tres a cincoanos %

Rio de JaneiroSao PauloBelo Horizonte

19,1 12,022,1 13,323,5 16,3

Na Regiao Metropolitana do Rio de Janeiro, 53,2% das pessoascontadas coma migrantes la estavam ha mais de onze anos. 0incremento da populacao da aglorneracao paulistana entre 1970e 1980 e bem maior que 0 da populacao fluminense entre 1960e 1980. Ja no decenio anterior (1960-1970), a Regiao Metropoli-tana de Sao Paulo crescia quase uma vez e meia mais que a doRio de Janeiro. Na realidade, 0 aumento da populacao paulistanaem 1960-1970 iguala 0 da Regiao Metropolitana do Rio de Janeiroentre 1950 e 1970. Ha mudanca de ritmo consideravel entre asduas maiores aglomeracoes do Pais a partir de 1950, corn ace-leracao dos ganhos dsmograficos na Regiao Metropolitana de SaoPaulo. Esta absorve quase 40% do incremento total das RegioesMetropolitanas entre 1960 e 1970 e mais de 40% entre 1970 e1980.

Ha, pois, paralelamente amplificacao do fanomeno de urbani-zaeao, tendencia a rnetropolizacao, mas entre as metropoles e a

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78 URBANlZA(:Ao CONCENTRADA E METROPOLlZA(:Ao

maior deIas que cabe a parceIa maior de novos habitantes, so-bretudo no ultimo decenio intercensitario."

Entre 1970 e 1980, a Regiao Metropolitana de Sao PauIo aco-Iheu 3.351.600 imigrantes e a do Rio de Janeiro 1.337.600. Essasduas areas absorviam, sozinhas, urn eIevado porcentuaI do totalde 7.881.400 imigrantes absorvido pelas nove Regioes Metropo-litanas do Pais. Este movimentoe de tal monta que, apesar dagrande campanha de propaganda empreendida pelo Estado emfavor da colonizaeao do Norte, que em dez anos movimentou urncontingente de 2.000.000 de pessoas para essa regiao, essa mi-gracao nao e comparavel it que se dirigiu para as Regioes Me-tropolitanas. Como vemos, apenas a Regiao Metropolitana do Riode Janeiro recebe, no mesmo periodo, contingente igual de pes-soas, ao passo que a Grande Sao Paulo acolhe 0 dobro. Mas asmigracoes deslanchadas, num primeiro momento, apos a segundaguerra, veern seu movimento acelerado a partir do "milagre eco-nomico" e tendem a buscar tanto as regioes metropolitanas quan-to as cidades intermediarias,

Conforme haviamos lembrado em nossa Cornunicaeao a reu-niao da ANPUR-IPPUR sobre ''Macro-Urbanizacao: Periodizafaoe Recorte Espacial" (M. Santos; 1989), 0 fenemeno de macrou;ban~afao e mefropoliza~~o &"anho~,na~ ~1t2.ma~duas decadas,importancia fundamental: concentracao da populacao e da pobre-za,sontemponlnea da rarefacao rural e da dispersao geograficadas classes medias; concent@!!~o das. atividades relacionais mo-""ernas, contemporanea da dispersao geografica da producao ffsi-ea; localizacao privilegiada da crise de ajustamento as mudaneasna divisao internacional de trabalho e as suas repercussoes in-ternas, 0 que inclui a crise fiscal; "involueao metropolitana", corna coexistencia de atividades corn diversos niveis .de capital, tee-

3 "A urbanizacao do Brasil implicou numa elevada concentracao geograficade atividades e populacao. Os dados de 1980 mostram clararnente que nao setrata apenas do crescimento das areas metropolitanas dos grandes centros na-cionais e regionais. Entre 1970 e 1980, 0 Brasil experirnentou urn crescirnentoanual da ordern de 2,5%, enquanto a area rnetropolitana de Curitiba cresceu5,8% ao ano, a de Belo Horizonte 4,5%, a de Sao Paulo 4,4%; mas, no Estado deSao Paulo, por exemplo, as taxas mais elevadas de crescirnento populacional nodecenio pertencem a aglorneracoes urbanas como Americana (7,4%), Carnpinas(6,6%), Sao Jose dos Campos-Jacaref (6,3%), -Jundiaf (5,2%), todas localizadas nochamado 'entorno' da regiao metropolitana de Silo Paulo" (Pedro Geiger, set. 1985,p.2).

URBANIZA(:Ao CONCENTRADA E METROPOLlZA(:Ao 79

nologia, organizafao e trabalho; maior centralizacao da irradiacaoideologica, corn a concentracao dos meios de difusao das ideias,mensagens e ordens; construcao de uma materialidade adequadaa realizafao de objetivos econfrmicos e socioculturais e corn im-pacto causal sobre 0 conjunto dos demais vetores.

o fato metropolitano se apresenta coma uma totalidade menordentro da totalidade maior, constituida pela formacao social na-cional: so as aglomeraeoes urbanas corn certo nivel de complexi-dade podem ser consideradas coma totalidades, 0 que nao cabeaos outros tipos de formacoes regionais. As metrepoles podem,desse modo, ser analisadas segundo urn criterio sistemico, desdeque a percepcao das variaveis constitutivas seja alcancada. Urnestudo substantivo pode, desse modo, ser buscado, 0 que, alias,se impoe, caso se deseje realmente conhecer 0 fenomeno e chegara propor solucoes. 0 enfoque de planejamento nao pode ser au-tonomo, mas subordinado ao conhecimento intrinseco da realida-de global.

A maioria dos estudos metropolitan os no Brasil e marcada porpreocupacoes adjetivas e visoes de detalhe. Isso se deve, em gran-de parte, a dois fatores interligados: 1) tais estudos comecararn,no Pais, corn objetivos de urn planejamento limitado e restritivoe estiveram mais preocupados em obter uma definicao formal quemesmo material, isto e, de conteudo, do fenomeno metropolitano;2) esses estudos tiveram prosseguimento para dar resposta aquestoes topicas (casa, transporte ...) e foram pesadamente in-fluenciados, nessa direcao, pelas agencias financiadoras, nacio-nais e estrangeiras, sem que universidades e orgaos de pesquisaquisessem ou pudessem reverter esse rumo. 0 resultado f01 0empobrecimento da pesquisa urbana sobre as metropoles, tornadarepetitiva e monocordia, e, afinal, praticamente esvaziada, A pes-quisa vai para urn lado, a realidade aponta para outro.

Urge reverter esse quadro para que os estudos metropolitanosbrasileiros retomem, em diversos nfveis, a busca de interpretacoesglobais, corn base nas realidades do presente, 0 que supoe 0 eo-nhecimento do periodo historico atual - 0 periodo tecnico-cien-tifico - e suas repercussoes sobre a sociedade e 0 territorio. Essalinha de reflexoes apontapara dois outros aspectos do fenfrmeno- a desmetropolizacao e adissoluf~O dametropole nacional.

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- U. f. R. .J..IIBUOTECA

- .PPUI9.

TENDENCIA A DESMETROPOLIZAQAo?

Os mesmos numeros que revelam urn processo de me-tropolizacac prestam-se a outra interpretacao desde que demosprioridade ao processo de macrourbanizacao. Levando em contauma dosagregacao maior da populacao urbana segundo 0 tama-nho dos aglomerados, pode levar-nos a conclusao de que, parale-lamente ao crescimento cumulativo das maiores cidades do Pais,estaria havendo urn fenomeno de desmetropolizacao, definidacoma a reparticao corn outros grandes micleos de novos contin-gentes de populacao urbana. Nao se trataria, aqui, da reproducaodo fenomeno de desurbanizacao, encontrado em paises do Pri-meiro Mundo e que os eternos repetidores de teorias inadequadasa esta parte do globo estao agora, desesperadamente, buscandoencontrar tambem aqui-.

Consideremos sete classes de micleos: 20.000 a 50.000 habi-tantes; 50.000 a 100.000; 100.000 a 200.000; 200.000 a 500.000;500.000 a 1.000.000; 1.000.000 a 2.000.000; mais de 2.000.000 dehabitantes. Ao longo dos tres decenios entre 1950 e 1980, a parteque cabe, na populacao urbana total, a cada qual dessas classesurbanas, varia. Mas, se nos seis primeiros casos essa variacaogrosso modo e positiva, somente se verifica diminuicao do res-pectivo porcentual entre as localidades corn mais de 2.000.000 dehabitantes. Essas aglorneracoes bimilionarias representavam32,07% da populacao dos micleos maiores de 20.000 habitantes~m 1950 e 21,75% em 1980. Mas, se levarmos em conta apenaso periodo 1970-80, ha tambem reducao dos porcentuais relativos

1 A prop6sito da desurbaniz acao, urn born estudo te6rico-ernpfrico e 0 deGiuseppe Dernatteis (1986) a prop6sito da Italia. Quanto aos Estados Unidosver, entre outros, 0 trabalho de Jose Allende Landa (1983) sobre a migracaode atividades econcrnicas para centros rnenores. Muitos outros trabalhos vemsendo publicados em torno desse tern a, na Europa Ocidental, no .Iapao e naAmerica do Norte.

81

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82 TENDENCIA A DESMETROPOLlZAC;AO?

as aglomeracoes entre 1.000.000 e 2.000.000 de habitantes (17,14%em 1970 e 16,56% em 1980). Quanto as demais nota-se constanteincremento dos respectivos porcentuais, exceto apenas quanto asmenores (entre 20.000 e 50.000 habitantes) cujos porcentuais ternevolucao irregular no periodo, ainda que alcance em 1980 indiceligeiramente elevado em relacao ao de 1950.

DISTRIBUIC;Ao PORCENTUAL DA POPULAC;Ao URBANA,EM NUCLEOS COM MAIS DE 20.000 HABITANTES SEGUNDO

TAMANHO POPULACIONAL DAS AGLOMERAC;OES*

Populaciio 1950 1960 1970 198020 a 5050 a 100

100 a 200200 a 500500 a 1.000

1.000 a 2.000mais de 2.000

13,22 13,34 12,84 13,4610,05 10,67 10,98 13,0010,79 11,75 11,60 12,1312,99 13,88 14,92 15,915,57 6,12 7,?8 7,19

14,28 16,63 17,14 16,5632,Q'L__ 27,57 25,41 21,75

*Calculos feitos corn base em Francois E. J. de Brernaeker, 1986, tabela 5, p.289.

Esses dados sao significativos, ainda que 0 crescimento de-mografico bruto das aglomeracoes milionarias e bimilionariasrepresente alto porcentual do crescimento total da populacaourbana brasileira. As cidades milionarias absorvem cerea de35% do crescimento total da populacao brasileira entre 1960 e1980.

Por outro lado, enquanto 0 total da populacao urbana viv=ndoem aglomeracoes corn mais de 20.000 habitantes e multiplicado,em media, por 4,58 entre 1950 e 1980, somente ha multiplicadoresmenores entre as aglomeracoes hoje bilionarias (3,11), havendoindices aproximados da media, mas ligeiramente superiores, naslocalidades entre 20.000 e 50.000 (4,66). Nas demais classes, 0incremento e consideravelmente superior, indo de 4,96 nas aglo-meracoes entre 1.000.000 e 2.000.000 de habitantes e 5,93 na-quelas entre 50.000 e 100.000 habitantes.

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\"\E"'I r=TENDENCIA A DESMETROPOLlZAC;AO? 83

EVOLUC;AO DA POPULAC;Ao DOS NUCLEOS URBANOS MAIORES DE20.000 HABITANTES, 1950 E 1980*

populaqao 1950 1980 1980:195020 a 50 1.803.988 8.419.386 4,6650 a 100 1.370.919 8.136.606 5,93

100 a 200 1.472.654 7.589.516 5,32200 a 500 1.772.643 9.956.747 5,61500 a 1.000 760.726 4.494.213 5,90

1.000 a 2.000 2.080.561 10.340.105 4,962.000 e mais 4.374.746 13.606.525 3,11

Total da populaxao 13.640.237 62.543.148 4,58*CaIculos feitos corn base em Francois E. J. de Brernaeker, tabela 5, 1986, p. 289.

Os mimeros revelam, todavia, mais uma vez, que, paralela-mente ao crescimento das graiides e'muito grandes aglomeraSOJlS,ha lugar, tambem, para 0 aumento do mimero das cidades inter-mediarias e das respectivas populacoes. Pode-se, aqui, desde logo,falar em desmetropolizafao? 0 que:' em todo caso, se esta verifi-cando e a axpansac da metropolizaf8.o e, paralelamente, a che-gada de ~s aglomerM.o~~ a categoria de cidade grande e decidade intsrmediaria. Urn porcentual cada vez mais expressivoda populacao que vive em nucleos corn mais de 20.000 habitantesvai, agora, para as grandes cidades medias.

Considerando-se apenas 0 incremento intercensal do conjuntodas nove regioes metropolitanas e comparando-o ao da populacaourbana total, 0 indice resultante, que passara de 38,71% para45,01% entre os decenios 1940-1950 e 1950-1960, conhece reducaosignificativa nos dois ultimos periodos intercensitarios (41,12%entre 1960 e 1970 e 31,49% entre 1970 e 1980), .Q. que indicadiminuicao da parte relativa das Ragides Metropolitanas n-;;Com--puto geral da populacao urbana brasileira. Essa tendencia se afir-ma no Recenseamento de 1991, como veremos a seguir.

S8.0 Paulo e Rio de Janeiro guardavam mais de dois tsrcos dototal do incremento correspondente as nove Regioes Metropolita-nas entre 1940 e 1950, mas apenas 57,40% entre 1950 e 1960.Se aumentam os seus ganhos entre 1960 e 1970, corn quase 63% I

do incremento total, sua parte relativa decai para pouco menosde tres quintos entre 1970 e 1980. Se 0 denominador comum fora populacao urbana total do Brasil - e nao seu incremento in-tercensitario _ a parte relativa a aglomeraf8.0 paulista e a flu-

Page 44: SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira

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84 TENDENClA A DESMETROPOLlZAQAO?

minense baixa de 26,24% no decenio de 1940 para 18,69% nodecenio de 1970 (25,84% no decenio 1950-60 e 25,89% entre 1960e 1970). Essa queda prossegue no ultimo periodo intercensitario.

o ensaio estatfstico oferecido por Zantman e outros (1987) per-mite, rnediante outro caminho, chegar a conclusao semelhante.Esses autores separam os centros urbanos brasileiros em tresgrupos: 1) as duas rnaiores regioes metropolitanas; 2) as outrasregioes metropolitan as; 3) os demais micleos urbanos.

o fndice de incremento dernografico alcancado entre 1950 e1980 pelas Regioes Metropolitanas de Sao Paulo e Rio de Janeirotomadas em conjunto (4,0%), e menor que 0 do Pais coma urntodo (4,28%), mas ambos sao largamente ultrapassados (4;96%)pelas demais areas metropolitan as. 0 fndice nacional e aproxi-mado pelo das areas urbanas nao metropolitanas. Ha, pois, re-distribuicao da populacao urbana. Se 0 volume da populacao con-tinua crescendo nas grandes metropoles, esse incremento e maiornas outras areas metropolitanas, enquanto outras aglomeracoesurbanas tarn hem mostram evolucao significativa,

POPULAQAo URBANA DO BRASlL (em milhoes)

1950(A)

1980(B)

B:A

Areas rnetropolitanasdo Rio de Janeiro e deSao Paulo 5,4 21,6 4,0Outras areasrnetropolitanas 2,6 12,9 4,96Areas urbanas nao-rnetropolitanas 10,8 46,0 4,26Total 18,8 80,5 4,28

Fonte: lBGE, tirado de Zantrnan, Cartier Bresson, Rosinger, 1987, p. 51.

Olhando mais de perto os porcentuais relativos a cada urn dostres grupos de aglorneracoes em cada momento censitario, issonos permite chegar a conclusces ainda mais eloquentes, uma vezque as "outras regioes metropolitan as" conhecem ganhos demo-graficos constantes. 0 conjunto Sao Paulo-Rio de Janeiro, cornuma evolucao irregular, ve baixar sua participacao relativa entre1950 e 1960 e novamente entre 1970 e 1980, corn incrementopositivo entre 1960 e 1970. Separados os dados relatives a cada

TENDENCIA A DESMETROPOLIZAQAO? 85

uma dessas duas aglomera~oes, 0 que, porern, se constata e queos ganhos demograficos da-Regiao Metropolitana de Sao Paulocrescem a urn ritmo cada vez mais elevado, enquanto na areametropolitan a fluminense ha perda relativa desse ritmo. Se entre1950 e 1960, os ganhos populacionais sao comparaveis nas duasmaiores Regioes Metropolitanas, entre 1970 e 1980 Sao Pauloganha 0 dobro do incremento obtido na Regiao Metropolitana doRio de Janeiro. Quanto as areas urbanas nao-metropolitanas, a evo-lucao irregular e complementar (e, por isso, oposta) a do conjuntoSao Paulo-Rio. Como as variacoes nao sao brutais, conclui-se queha urn movimento paraleToOemetropoliza~ao e de expansao urbana.

- -- -- -

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PARTE DA POPULAQAo URBANA PRESENTE NAS REGIOES METRO-POLITANAS E NAS AREAS NAo-METROPOLITANAS (ern porcentagern)

Regii5esmetropolitanas doRio de Janeiro e

de Stio Paulo

Outras RegioesMetropolitanas

Areas urbanasnao-metropolitanas

1950196019701980

28,726,728,626,8

13,814,2]4,816,0

57,559,156,657,1

Zantrnan, Cartier Bresson, Rosinger, 1987, p. 51.

A evolucao mais recente parece confirmar 0 fen6meno que es-tamos descrevendo. A parcela que cabe as nove Regices Metro-politanas no conjunto da populacao brasileira que havia aumen-tado entre 1970 e 1980, conhece uma reducao, relativa, aindaque nao muito relevante (de 28,99% para 28,88%) entre 1980e 1991. Ja a popula~aode todos os municipios corn mais de500.000 habitantes ve sua parte aumentada de 25,73% para26,19%. Enquanto as Regi6es Metrqpolitanas conhecem ganhode cerea de 7.500.000 habitantes, aquelas corn populacao su-perior a 100.000 habitantes viram sua parte aumentar de46,03% para 47,76%.

Os dados do recenseamento de 1991 permitem verificar queem seis da nove Regi6es Metropolitanas, ha evolu~ao positiva desua parte relativa na populacao brasileira total, enquanto na Re-giao Metropolitana do Recife ha estagna~ao, na de Sao Paulo pe-quena baixa e na do Rio de Janeiro diminuicao consideravel.

~

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86 TENDENCIA A DESMETROPOLIZAc;::Ao?

REGIOES METROPOLITANASfPOPULAc;::Ao RESIDENTE

1970 1980 1991 1980/70 1991/80BelernFortalezaRecifeSalvadorBelo HorizonteRio de JaneiroCuritibaPorto AlegreSao PauloTotal R.M.Brasil

655.9011.036.7791.791.322

1.147.821

1.605.306

7.063.760821.233

1.531.255

8.139.73022.793.10793.139.037

999.1651.580.060

2.347.0051.766.582

2.540.1309.014.274

1.440.6262.231.392

12.588.72534.507.959119.002.706

1.334.460

2.292.5242.559.469

2.472.131

3.461.905

9.600.5281.975.624

3.015.960

15.202.53342.215.134146.154.502

4,30 2,67

4,30 3,442,74 1,81

4,41 3,10

4,70 2,852,47 0,57

5,78 2,91

3,84 2,78

4,46 1,73

37,00 21,862,48 1,89

Sumario de Dados da Grande Sao Paulo, 1991, p. 36, Emplasa, 1992.

EVOLUc;::Ao DA POPuJ,.Ac;::Ao RELATIVA DAS R. M. SOBREA POPULAc;::Ao TOTAL DO PAIS

1970 1980 1991BelemFortalezaRecifeSalvadorBelo HorizonteRio de JaneiroCuritibaPorto AlegreSao Paulo

0,7 0,8 0,9

1,1 1,3 1,6

1,9 2,0 2,0

1,2 1,5 1,71,7 2,1 2,47,6 7,6 6,6

0,9 1,2 1,41,6 1,9 2,1

8,7 10,6 10,4

Os dados do ultimo recenseamento geral do Brasil parecemconfirmar a tendencia ao movimento que os anos 70 ja vinhamregistrando, com 0 aumento do mimero de cidades medias, massobretudo de grandes cidades medias. Os municipios com popu-lacao entre 200.000 e 500.000 habitantes passam de 33 a 85, aque-les com mais de 500.000 tern seu mimero aumentado de catorzepara 25, enquanto as aglorneracoes milionarias sao doze em 1991(eram dez em 1980).

Havia, em 1980, apenas quatro cidades com mais de rneio mi-lhao de habitantes fora das nove Regices Metropolitanas. Elassao nove em 1991. Estas aglomeracces (Brasilia e Manaus, agoracom mais de 1.000.000 de habitantes, alern de Goiania, Campinas,

~

TENDENCIA A DESMETROPOLIZAc;::AO? 87

Sao Luis, Maceio, Natal, Teresina e Campo Grande) somavarn5.110.000 habitantes em 1980 e tern 7.428.000 em 1991, 0 querepresenta acrescimo de 44,23%, bem superior ao registrado pelasnove Regioes Metropolitanas, que foi de 22,33%.

1980 1991N.O Populaciio N.0 Populociio

Regioes MetropolitanasAglomera,oes com maisde 500.000 hab. em1991, fora R.M.

9 34.507.959 9 42.215.134

4 5.150.210 9 7.428.345

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Esses resultados, indicativos de nova tendencia, isto e, de aglo-meracao da urbanizacao em outro nivel, parecem confirmar a ten-dencia a que estarnos aludindo, isto e, a uma desmetropolizaCaoque se verifica em paralelo corn a perrnanencia do fen6rneno demetropolizacao.

1940 1950 1960 1970 1980 1991100.000 a200.000 11 15 28 60 95 97

200.000 a500.000 5 9 11 19 33 85

rnais de500.000 2 3 6 9 14 25

rnais de1.000.000 2 2 4 7 10 12

Total cornrnais de100.000 hab. 18 27 45 88 142 207

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10.

A "DISSOLUQAo" DA METROPOLE~ <:Ch - dP )., . ~'.{'-\" .\

Houve, ao longo da historia brasileira, quatro momentosdo ponto de vista do papel e da significacao das metropoles. Quan-do 0 Brasil urban 0 ,era: urn arqulPeJago; col!!..ausencia de cornu-nicacoes faceis entre as metr6poles, estas apenas comandavamuma fracao do territorio, sua chamada zona de influencia, Numsegundo momento, ha esforcos pela formacao de urn mercado uni-co, mas a integracao territorial e, praticamente, limitada ao Su-deste e ao SuI. Urn terceiro momento e quando urn mercado uniconacional se constitui. E 0 quarto momento e quando conhece urnajustamento: primeiro a expansao e, depois, a crise desse mer-cado, que ~ UIP. .!l2ercado unico, ~egmentado; unico e diferen-ciado; urn mercado hierarquizado e articulado pelas firmas he-gemonicas, nacionais e estrangeiras; <n!e cogiandamo territoriocorn apoio do Estado. Nao e demais lembrar que mercado e espa~o,'ou, ainda melhor, mercado e territorio, sao sinonimos. Urn nao seentende sem 0 outro. ' .

o movimento de concentracao-dispersao, proprio da dinamicaterritorial em todos os tempos, ganha, todavia, expressoes parti-culares segundo os periodos historicos. Pede-se dizer, no easo goBrasil, que, ao longo de sua historia territorial, as tendenciasconcentradoras atingiam ruimero maior de variaveis, presentessomente em poucos pontos do espaco. Recentemente, as tenden-cias a dispersao comecam a se impor e atingem parcela cada vezmais importante dos fatores, distribuidos em areas mais vastas elugares mais numerosos. Corn 0 fim da segunda guerra mundial, aintegra~ao do espaco brasileiro e a modernizaeao capitalista ense-jam, em primeiro lugar, uma difusao social e geografica do consumoem suas diversas modalidades e, posteriormente, a desconcentra~aoda producao moderna, tanto agricola quanto industrial.

Em outro sentido, todavia, ha urn movimento de concentracaodas form as de intercambio, no nivel nacional e estadual ou re-

89

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90 A "DISSOLUC;::AO" DA METRO POLE

gional, tanto no ambito material quanto no intelectual. A corner-cializacao tende a se concentrar, economicamente e geografica-mente, ainda que a pobreza persistente da populacao assegure aperrnanencia de pequenos comercios e services, corn estabeleci-mentos dispersos. As novas form as de urn trabalho intelectualmais-sofisticado, de que dependem a concepcao e 0 controle daproducao, sao, tambem, concentrados, ainda que outras form asde trabalho intelectual, cada vez mais numerosas, ligadas ao pro-cesso direto da producao mas tambem a sua circulacao, sejamobjeto de dispersao geografica, atribuindo novas funcoes as cida-des de todos os tamanhos.

A nova divisao do trabalho territorial atinge, tambem, a pro-pria regiao concentrada, privilegiando a cidade de Sao Paulo, arespectiva Regiao Metropolitana e. seu entorno, onde a acumula-Cao de atividades intelectuais ligadas a nova modernidade asse-gura a possibilidade de criacao de numerosas atividades produ-tivas de ponta, ambos esses fatos garantindo-Ihe preerninenciaem relacao as demais areas e the atribuindo, por isso mesmo,novas condicoes de polarizacao. Atividades modernas presentesem diversos pontos do Pais necessitam de se apoiar em Sao Paulopara urn mimero crescente de tarefas. Sao Paulo fica presenteem todo o territ6rio brasileiro, gracas a esses novos nexos, gera-dores de fluxos de informacao indispensaveis ao trabalho produ-

"-tivo. Se muitas variaveis modern as se difundem amplamente so-bre 0 territ6rio, parte consideravel de sua operacao depende deoutras variaveis geograficamente concentradas. Dispersao e con-centracao dao-se, uma vez mais, de modo dialetico, de modo corn-plementar e contraditorio. E desse modo que Sao Paulo se impoecomo metr6pole onipresente e, por isso mesmo, e ao mesmo tempo,como metr6pole irrecusavel para todo 0 territ6rio brasileiro. -

Agora,a metr6pole esta presente em toda parte, e no mesmornomento.ja definicao do lugar e, cada vez mais no periodo atual,

, a de urn lugar funcional a sociedade como urn todo. ~aiela-mente, atraves das metr6poles, todas as localizacoes tornam-sehoje funcionalmente centrais. Os lugaresseriam, mesmo, lugaresfuncionais da metr6pole.

Antes, sem duvida, a metr6pole estava presente em diversaspartes do Pais. Digamos que 0 micleo migrava, para 0 campo epara a periferia, mas 0 fazia corn defasagens e perdas, corn dis-persao das mensagens e ordens. Se, ao longo do tempo, 0 espaco

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A "DISSOLUCAo" DA METROPOLE 91

se tornava mais e mais unificado e mais fluido, todavia faltavamas condicoes de instantaneidade e de simultaneidade que somentehoje se verificam.

Mas, ao contrario do que muitos foram levados e imaginar ea escrever, na sociedade informatizada atual nem 0 espaco se.dissolve, abrindo lugar apsnaspara 0 tempo, nemoeste se apaga.o que ha e uma verdadeira multiplicacao do tempo, por causade uma hierarquizacae do tempo social, gracas a uma seletividadeainda maior no uso das novas condicoes de realizacao da vidasocial. -- -

A simultaneidade entre os lugares nao e mais apenas a dotempo ffsico, tempo do re16gio, mas do tempo social, dos momentosda vida social. Mas 0 tempo que esta em todoS-oS..lugares e 0

tempo da metr6pole, que transmite a todo 0 territ6ri~ 0 tempodo Estado_e 0 tempo das multinacionais e das grandes empresas.Em cada outro ponto, nodal ou nao, da rede urbana ou do espaco,temos tempos subalternos -e diferenciados, marcados por dorni-nancias especificas. Corn isso, nova hierarquia se impoe entrelugares, hierarquia corn nova qualidade, corn base em diferencia-Cao muitas vezes maior do que ontem, entre os diversos pontosdo territ6rio.

Nenhuma cidade, alem da metr6pole, "chega" a outra cidadecorn a mesma celeridade. Nenhuma dispoe da mesma quantidadee qualidade de informacoes que a metr6pole. Informacoes virtual-mente de igual valor em toda a rede urbana nao estao igualmentedisponiveis em termos de tempo. Sua insercao no sistema maisglobal de informacoes de que depende seu pr6prio significado de-pende da mstropo]e, na maior parte das vezes. Esta af 0 novoprincipio da hierarquia, pela hierarquia das informacoes ... e urnnovo obstaculo a uma inter-relacao mais frutuosa entre aglome-racoes do mesmo nfvel, e, pois, uma nova realidade do sistemaurbano. +' ,.I(..C' -r" a Jo. A ,.;.(' " ~. •

Os mementos que, no mesmo tempo do re16gio, sao vividos porcada lugar, sofrem defasagens e se submetem a hierarquias (ernrelacao ao emissor e controlador dos fluxos diversos). Porque hadefasagens, cada qual desses lugares e hierarquicamente subor-dinado. Porque as defasagens sa,? diferentespara os diversos va-riaveis ou fatores e que os lugares sao diversos.

As quest6es de centro-periferia, como precedentemente coloca-das, e a das regioes polarizadas, ficam, assim, ultrapassadas. Hoje,

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r?I ,

.....

92 A "DISSOLUvAO" DA METRO POLE

a metropolo esta presente em toda parte, no mesmo momento,instantaneamente. Antes, a metropole nao apenas nao chegavaao mesmo tempo a todos os lugares, coma a descentralizacao eradiacrenica: hoje a instantaneidade e socialmente sincronica. Tra-ta-se, assim, de verdadeira "dissolucao da rnetropole", condicao,alias, do funcionamento da sociedade economica e da sociedadepolitica.

Temos, agora, diante de nos, 0 fenorneno da "metropols tran-sacional" de que fala Helena K Cordeiro (1987, 1989). Esta e agrande cidade cuja forca essencial deriva do poder de controle,sobre a economia e 0 territorio, de atividades hegernonicas, nelasediadas, capazes de rnanipulacao da informacao, da qual neces-sitam para 0 exercicio do processo produtivo, em suas diversasetapas. Trata-se de fato novo, completamente diferente da me-tropole industrial.

o dado organizacional e 0 espaco de fluxos estruturadores doterritorio e nao mais, como na fase anterior, espaco onde os fluxosde materia desenhavam 0 esqueleto do sistema urbano.!

No caso brasileiro, vale a pena insistir sobre essa diferencapois em ambos os momentos a metropolo e a mesma: Sao Paulo.Nas condicoes de passagem de uma fase a outra, somente a me-tropole industrial tern condicoes para instalar novas condicoes decomando, beneficiando-se dessas precondicoes para mudar qua-litativamente. A metropole informacional assenta sobre a metro-pole industrial, mas ja nao e a mesma metropole. Prova de quesua forca nao depende da industria e que aumenta seu poderorganizador ao mesmo tempo em que se nota uma desconcentra-

r~ao da atividade fabril. 0 fu.!oe que estamos diante do fenomenode uma metr6pole onipresente, capaz, ao mesmo tempo, pelos seus

1 Ainda que 0 peso da atividade industrial seja muito expressivo na aglome-racao paulistana, se a compararmos corn 0 resto do Pais, nao e essa funcao me-tropolitana que atualmente assegura a Sao Paulo papel diretor na dinarnica es-pacial brasileira. Esse papel e, por causa de suas atividades quaternarias decriacao e controle, praticamente sern competidor no Pais, pois agora sao os fluxosde informacao que hierarquizam 0 sisterna urbano. 0 papel de comando e devidoa essas formas superiores de producao nao-rnaterial, elas pr6prias sendo eonse-quencia da integracao crescente do Pais a novas condicoes da vida internacional.o locus dessas atividades priviJegiadas, tao diferentes da producao industrial,tern, todavia, muito que ver corn 0 fato de que essa mesma aglomeracao paulistanaera e continua sendo urn centro importante de urna atividade fabril cornplexa.Foi a partir dessa base que a capital industrial se transformou em capital infor-rnacional acurnulando em perfodos consecutivos papel rnetropolitano crescente.

A "DISSOLUvAO" DA METROPOLE 93

vetores hegemonicos, de desorganizar e reorganizar, ao seu ta-lante e em seu proveito, as atividades perifericas e impondo novas I

questoes para 0 processo de desenvolvimento regional. r'

Retomemos 0 exemplo, de modo figurativo. No passado, SaoPaulo sempre esteve presente no Pais todo: presente no Rio urndia depois, em Salvador tres dias depois, em Belem dez dias de-pois, em Manaus trinta dias depois ... Sao Paulo hoje esta presenteem todos os pontos do territdrio informatizado brasileiro (S. Ger-tel, 1986 e 1988), ao mesmo tempo e imediatamente, 0 que trazcoma consequencia, entre outras coisas, uma especie de segmen-tacao do mercado enquanto territorio e uma segmentacao verticaldo territorio enquanto mercad,o, uma vez que os diversos agentessociais e economicos nao utilizam 0 territorio de forma igual. Issorepresenta urn desafio as planificacoes regionais, uma vez queas grandes firmas que controlam a informacao e a redistribuemao seu talante tern papel entropico em relacao as demais areas,e somente elas podem realizar a negentropia. 0 eSpa~9~.A§simdesorganizado e reorganizado a partir dos mesmos poles dinami:cos. 0 fato de que a forca nova das grandes firmas, neste periodoC1elltifico-tecnico,traga coma consequencia uma segmentacao ver-tical do territorio supoe que se redescubram mecanismos capazesde levar a uma nova horizontalizacao das relacoes, que estejanao apenas a service do economico, mas tambem do social.

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Page 49: SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira

11.

A ORGANIZAQA.O INTERNADAS CIDADES: A CIDADE CAOTICA

Corn difarenca de grau e de intensidade, todas as cidadesbrasileiras exibem problematicas parecidas. 0 seu tamanho, tipode atividade, regiao em que se inserem etc. Sao elementos dediferenciacao, mas em todas elas problemas coma os do emprego,da habitacao, dos transportes, do lazer, da agua, dos esgotos, daeducacao e saude, sao genericos e revelam enormes carencias.Quanto maior a cidade, mais visiveis se tornam essas mazelas.Mas essas chagas estao em toda parte. Isso era menos verdadena primeira metade deste seculo, mas a urbanizacao corporativa,.isto e, empreendida sob 0 comando dos interesses das gran desfirm as , constitui urn receptaculo das consequencias de uma ex-pansao capitalista devorante dos recursos publicos, uma vez queestes sao orientados para os investimentos economicos, em detri-mento dos gastos sociais.

Como definir a organizacao interna atual das cidades brasilei-ras? Quanto men or a aglomeracao, menor a diversidade de suaecologia social; quanto mais populosa e mais vasta, mais diferen-ciadas a atividade e a estrutura de classes, e mais 0 quadro ur-bano e composite, deixando ver melhor suas diferenciacoes.

As cidades, e sobretudo as grandes, ocupam, de modo geral,vastas superficies, entremeadas de vazios. Nessas cidades es-praiadas, caracteristicas de uma urbanizacao corporativa, ha in-terdependencia do que podemos chamar de categorias espaciaisrelevantes desta epoca: tamanho urbano, modelo rodoviario, ca-rencia de infra-estruturas, especulacao fundi aria e imobiliaria,problemas de transporte, extroversao e periferizacao da popula-cao, gerando, gracas as dimensoes da pobreza e seu componentegeognifico, urn modelo especffico de centro-periferia. Cada qualdessas realidades sustenta e alimenta as demais e 0 crescimentourbano, e, tambem, 0 crescimento sistemico dessas caracteristi-

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96 A ORGANIZAc;:;Ao INTERNA DAS CIDADES: A CIDADE CAOTICA

cas. As cidades sao grandes porque ha especulacao e vice-versa;ha especulacao porque ha vazios e vice-versa; porque ha vaziosas cidades sao grandes. 0 modelo rodoviario urbane e fator decrescimento disperso e do espraiamento da cidade. Havendo es-peculacao, ha criacao mercantil da escassez e 0 problem a do aces-so a terra e a habitacao se acentua. Mas 0 deficit de residenciastambem leva a especulacao e os dois juntos conduzem a perife-rizacao da populacao mais pobre e, de novo, ao aumento do ta-manho urbano. As carencias em services alimentam a especula-~ao, pela valorizacao diferencial das diversas fracoes do territ6riourbano. A organizacao dos transportes obedece a essa logica etorna ainda mais pobres os que devem viver longe dos centros,nao apenas porque devem pagar caro seus deslocamentos comoporque os services e bens sao mais dispendiosos nas periferias.E isso fortalece os centros em detrimento das periferias, numverdadeiro circulo vicioso.

A especulacao imobiliaria deriva, em ultima analise, da con-jugacao de dois movimentos convergentes; a superposicao de um\s!tio social ao sitio natural\ a disputa entre atividades ou pessoaspor dada localizacao. A especulacao se alimenta dessa dinamiea,que inclui expectativas. Criam-se sitios sociais uma vez que 0

funcionamento da sociedade urbana transforma seletivamente oslugares, afeicoando-os as suas exigencias funcionais. E assim quecertos pontos se torn am mais acessiveis, certas arterias mais atra-tivas e, tambem, uns e outras, mais valorizados. Por isso, sao asatividades mais dinamicas que se instalam nessas areas privile-giadas; quanto aos lugares de residencia, a logica e a mesma,com as"pessoas de maiores recursos buscando alojar-se onde lhespareea mais conveniente, segundo os canones de cada epoca, 0

que tambern inclui a moda. E desse modo que as diversas parcelasda cidade ganham ou perdem valor ao longo do tempo. 0 plane-jamento urbano acrescenta um elemento de organizacao ao me-canismo de mercado. 0 marketing urbano (das construcoes e dosterrenos) gera expectativas que influem nos precos,

Assim, um primeiro momento do processo especulativo vemcom a extensao da cidade e a implantacao diferencial dos servicescoletivos. 0 capitalismo monopolista agrava a diferenciacao quan-to a dotacao de recursos, uma vez que parcelas cada vez maioresda receita publica se dirigem a cidade economica em detrimentoda cidade social. A lei da escassez se afirma, entao, corn mais

A ORGANIZAc;:;Ao INTERNA DAS CIDADES: A CIDADE CAOTICA 97

forca, e se ampliam as diferencas ja existentes entre lugares ur-banos, do ponto de vista das amenidades. 0 estabelecimento deum mercado da habitacao "por atacado", a partir da presenca doBanco Nacional da Habitacae e do sistema de credito correspon-dente, gera novas expectativas, infundadas para a maioria dapopula~ao, mas atuantes no mvel geral. Como isso se da parale-lamente a expansao das classes medias urbanas e a chegada denumerosos pobres a cidade, essa dupla pressao contribui paraexacerbar 0 processo especulativo. A terra urbana, dividida emloteamentos ou nao, aparece como promessa de lucro no futuro,esperan~ajustificada pela existencia de demanda crescente. Comoas terras apropriadas, mas nao utilizadas, sao cada vez mais nu-merosas, a possibilidade de dota-las dos servicos requeridos esempre menor. Dai, e de novo, uma diferenciacao no valor detroca entre as diversas glebas e assim por diante. E assim quea especulacao se realimenta e, ao mesmo tempo, conduz a queas extensoes incorporadas ao perimetro urbano fiquem cada vezmaiores.

A organizacao interna de nossas cidades, grandes, pequenas emedias, revel a um problema estrutural, cuja analise sistemicapermite verificar como todos os fatores mutuamente se causam,perpetuando a problematica.

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-.

12.

A URBANIZAC;Ao E A CIDADE CORPORATIV AS

No Brasil moderno pos-Gd, conjugam-se, como a mao ea luva, as exigencias de insercao em nova ordem econornica mun-dial que se desenha e as necessidades internas de um Estadoautoritario. A integracao dos transportes e das comunicacces, ra-pidamente modernizados, necessaria a visao panoptica do terri-torio, e, igualmente, condicao material para a difusao, alern dasregi6es centrais mais desenvolvidas, de atividades industriais eagricolas altamente capitalistas. Em 1970, 85% das quinhentasmaiores empresas nacionais estavam no Sudeste, enquanto em1985 sao apenas 68%. 0 Nordeste passa de 5% a mais de 13%nesse periodo e 0 N orte de parcos 0,4% a 3% do conjunto dessasquinhentas empresas '. 0 mercado, assim unificado, se amplia,sob 0 comando de firmas cada vez mais poderosas, que eliminamas empresas concorrentes. Relacionando-se com as novas condi-~6es de equipamento do territorio, Sonia Vasconcellos (1991, p.45) descreve esse fenomeno, e citando Karavaev (1987, p. 194-196)mostra como, entre 1974 e 1980, desapareceram treze dos 53 gru-pos empresariais com patrimonio acima dos US$ 100,000,000. Em1981, so quatro empresas nacionais estavam incluidas entre os 32grupos privados com patrimonio liquido acima de US$ 300,000,000.

o processo de concentracao da econornia e vigoroso e rapido,Conforme relata Lawrence Pih (1989), "duzentos grupos empre-sariais privados controlam virtualmente a economia e apenas

1 As quinhentas maiores empresas do Brasil1970 1975 1980 1985

Sudeste 85,20% 82,40% 71,00% 67,80%SuI 8,20% 8,20% 15,60% 14,00%Nordeste 5,20% 6,80% 9,60% 13,40%Centro-Oeste 1,00% 1,60% 1,80% 1,80%Norte 0,40% 1,00% 2,00% 3,00%

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100 A URBANlZAOAo E A CIDADE CORPORATIVAS

1,7% das ernpresas controla rnais de rnetade de todo 0 rnercadoindustrial brasileiro'". Esse rnesrno autor, que e, alias, urn ern-presario (L. Pih, 1990) indica 0 grau de oligopolizacao'' alcancado

2 "Hoje, 200 grupos empresariais privados virtualmente controlam a economiae apenas 1,7% das empresas controla mais da metade de todo 0 mercado industrialbrasileiro." (Lawrence Pih, "Incompetencia e estatismo da direita", Folha de S.Paulo, 4/12/89).

Graus de concentraciiotransporte aereogasmontadoras de vetculostransporte ferroviarioconstrucao navalfumofabricacao de aviaoprodutos de perfumariaborracha

91%90%89%89%85%80%80%77%68%

pneus 68%produtos nao-rnetalicos 68%transporte marftimo e fluvial 60%tratores e implementos 68%equipamentos de escrit6rio 58%

A lista se estende a outros onze setores, cujo grau de concentracao supera 0 nfvelde 40% (L. Pih, idem).

3 A concentractio do economia

Numero de grupos % do [aturamento(grau. de concentraciio)

moinhosfrigorfficosconservas, sucos, concentradoscervejacigarro e fumomaterial de transporteprodutos de higiene e limpezacimento e cal

44

4

234

4

4

59537886919471

68

varejistadistribuicao de gas

44

55

66

vidro e cristal 4 76

A URBANIZAOAO E A CIDADE CORPORATIVAS 101

em diversos setores. Identica constatacao e a do Nucleo de Es-tudos Estrategicos da Universidade de Campinas",

Em outras palavras, pequeno mimero de grupos corn posicaodorninante no rnercado, exerce de fato papel de controle do ter-ritorio, via producao e consurno. Ernpresas internacionais estaocada vez rnais presentes nesse jogo. Em urn discurso sobre "Pers-pectivas das Relacoes Teuto-Brasileiras" pronunciado no Brasilem 5 de abril de 1979, nurna reuniao da Camara de Comercio eIndustria Brasil-Alemanha, 0 chanceler Helmut Kohl assirn sefelicita da presenca sconomica do seu pais na atividade fabrilbrasiIeira: "A industria alema criou, apenas no Estado de SaoPaulo, direta ou indiretarnente, cerea de 600.000 lugares de tra-balho. Seu desernpenho na formacao tecnica e na transferenciade tecnologia e consideravel" (0 Estado de S. Paulo, 6/4/1979).

As multinacionais, no final da decada de 80, erarn responsaveispor 22,6% do produto industrial, 17% do ernprego no setor (ern-pregando 1.300.000 trabalhadores, corn urna folha anual de US$

Numero de grupos% do faturamento

(grau de concentraqiio)

confeccoesmotores e implementosagrfcolasequipamentos paracornunicacoes

2 46

4 65

4 72

Lawrence Pih, "0 desafio brasileiro", Folha de S. Paulo, 2/2/90.

4 Bolo concentrado*

Setor industrialNumero de empresas

ltderesFatia do mercado

conservas 4 74cerveja_ 2 86cigarro e fumo 3 91eletrodornesticos 4 60pneus e artefatos de borracha 4 75

produtos de higiene e limpeza 4 71cimento e cal 4 68vidro e cristal 4 76amianto e gesso 4 88

* Dados calculados sobre vendas lfquidas da industria em 1988.Fonte: Nucleo de Estudos Estrategicos. lsto c Senhor 1083, 20/6/90, p. 58.

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102 A URBANIZAQAo E A CIDADE CORPORATIVAS

3,200,000,000) e se responsabilizam por 35% da receita fiscal (J.Beting, 1988).

Para Florestan Fernandes (Capitalismo dependente ..., 1973,p. 18), 0 periodo atual revela urn padrao de dominacao externaque se da "em conjuncao corn a expansao das grandes empresascorporativas nos paises latino-americanos" empresas que "trou-xeram a regiao urn novo estilo de organizacao, de producao ede marketing, corn novos padroes de planejamento, propagandade massa, concorrencia e controle interno das economias depen-dentes pelos interesses externos. Elas representam 0 capitalismocorporativo ou monopolista, e se apoderaram das posicoes de li-deranca - atraves de mecanismos financeiros, por associaciio cornsocios locais, por corrupcao, pressao ou outros meios - ocupadasanteriormente pelas empresas nativas e por seus 'policy-makers",

A unificacao, agora fortalecida, do territorio e do mercado res-ponde pelo processo de concentracao da economia, corn a consti-tuicao de empresas oligopolistas que ampliam, cada vez mais,seu raio de acao e seu poder de mercado, integrando ainda maisesse mercado e 0 proprio territorio.

A produeao do espaco necessario aos grandes capitaisNa fase do capital concorrencial, demandas sociais podiam ser

mais facilmente atendidas pelos cofres municipais, e, em muitoscasos, as burguesias locais tambem participavam, juntamentecorn 0 resto da sociedade urbana, do esforco de equipamento so-cial. A demand a de capitais comuns pelas atividades econornicasera relativamente menor.

Bern diferente e 0 que se vai passar quando 0 capitalismo com-petitivo for cedendo lugar ao capitalismo monopolista, ate estese impor. 0 capital monopolista supoe, dentro e fora da cidade,a utilizacao de recursos macicos. De urn lado, e preciso dotar ascidades de infra-estruturas custosas, indispensaveis ao processo pro-dutivo e a circulacao interna dos agentes e dos produtos, De outro,para atingir 0 mercado nacional, e exigida uma rede de transportesque assegure a circulacao externa. Esse processo e concomitante aode centralizacao dos recursos publicos em maos do governo federalque os utiliza em funcao de suas proprias opcces.

A ideologia desenvolvimentista dos anos 50 e a posterior ideo-logia do crescimento e do Brasil potencia justificavam e legitima-

A URBANlZAQAo EA CIDADE CORPORATIVAS 103yam a orientacao do gasto publico em beneficio de grandes em-presas cujo desempenho permitiria ao Brasil aumentar suas expor-tacoes para poder se equipar mais depressa e melhor ... As admi-nistracoes locais viam reduzidos os seus recursos proprios e, aindapor cima, perdiam 0 poder de decisao sobre os recursos que lheseram alocados. 0 essencial dos meios cornque contavam era (e aindae) destinado aos gastos corn a economia, e a propria indigencia doscofres municipais aconselhava a atracao de atividades capazes depagar impostos e desse modo ampliar as receitas locais. .

Esse raciocinio tambem conduziu a dar prioridade aos inves-timentos em capital geral do interesse de umas poucas empresas,em lugar de canalizar os dinheiros obtidos para dar respostasaos reclamos sociais. 0 regime autoritario, mediante ngido con-trole das manifestacoes de uma opiniao publica ja por si defor-mada, contribuiu, fortemente, para a manutencao desse esquema.

Marx, nos Grundrisse (5.0 Caderno, p. 524) ja havia sugeridoque 0 capital necessita da "criacao de condieoes ffsicas que faci-litem 0 comercio - meios de cornunicacao e de transporte - aaniquilacao do espa~o pelo tempo - torna-se para ele uma ne-cessidade". 0 fato e que falar ~enericamente de capital nao ajudamuito em tarefas analiticas. E indispensavel qualificar 0 capitalou, mesmo, classifica-lo, As exigencias de fluidez nao sao as mes-mas para todos os tipos de capital. A cada momento, 0 capitalhsgemonico necessita de maior fluide~ que os outros, e entre ou-tras razoes oxatamente porque lhe cabe operar em area maior.E, atualmente, 0 caso das corporacoes. Conforme nos diz Ph. Ay-dalot (1976, p. 297, 1979), "a dinamica das grandes empresasimplica urn alargarnento constante do espaco subrnetido aos seuscalculos: nao apenas cresce a rnobilidade das atividades no espaco,rnas deve inscrever-se em uma area sempre mais vasta, sem_oque, encontrando limites, as empresas nao poderiarn lutar contraa tendencia ao aumento de custo de reproducao de sua forca detrabalho e a reproducao do sistema estaria bloqueada". Observa-~ao parecida e feita por Rainer Randolph (1991, p. 105-106)5 euma valiosa pesquisa de Roberto Lobato Correa (1991) e bemexplicativa desse fato.

5 Rainer Randolph (1991) mostra como a presence de firmas multinacionaisaltera a 16gica da organizacao do territ6rio de forma significativa, ainda que osdados do processo (mas nao a sua significacao) possa escapar aos agentes econo-micos; que nas divers as areas operam em uma escala menor.

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If

104 A URBANlZACAo E A CIDADE CORPORATIVAS

o espaco da modernizaeao contemporaneaLegitimada pela ideologia do crescimento, a pratica da mo-

dernizacao cria, no territorio como urn tOdo, em particular nascidades, os equipamentos, mas t~m as norm as indispensaveisa operacao racional vitoriosa das gran des firm as, em detrimentodas empresas menores e da populaeao coma urn todo". Daf, empouco tempo, resultados concomitantes: a extraordinaria geracaode riquezas, cada vez mais concentradas, nao e contraditoria corna enorme producao de pobreza, cada vez mais difundida, enquantosurgem novas classes medias. Estas sao indispensaveis a opera-~ao do sistema, na cidade e no campo, onde se instalam comanervo e instrumento da circulacao e coma alavanca de uma pro-ducao e de urn consumo hegemonicos, isto e, comandados pelascorporaeoes.

Pode-se dizer que nos dois ultimos decenios, 0 espaco nacionalconheceu transformaeces extensas e profundas. A modernizacaoe 0 principal elemento motor dessas mudancas, acarretando dis-torcoes e reorganizaeoes, variaveis segundo os lugares, mas in-teressando a todo 0 territorio.

N 0 espaco agricola, a criacao de urn mercado unificado queinteressa sobretudo as producoes hegemonicas, leva a fragilizacaodas atividades agricolas perifericas ou marginais do ponto de vistado uso do capital e das tecnologias mais avancadas, Os estabe-lecimentos agricolas que nao puderam ado tar as novas possibili-dades tecnicas, financeiras ou organizacionais tornam-se maisvulneraveis as oscilacoes de preco, credito e demanda, e 0 quefreqiientemente e fatal aos empresarios isolados. As oscilacoesde conjuntura, como, por exemplo, a aceleracao da inflacao fun-cionam coma multiplicador de efeitos indesejaveis do ponto devista das empresas agrfcolas menos fortes.

A tudo isso, acrescente-se 0 fato de que a substituicao rapidade atividades agricolas, coma ocorreu em boa parte do territcrio.

B 0 papel das corporacoes na reestruturaegg es(!ac~l dos pafses subdesenvol-vidos apenas comeca a ser objeto de consideraeoes teoricas e de estudos ernpfricos.Urn dos prirneiros a abordar esse terna, Roberto Lobato Correa ("Corporayao eespaco, uma nota") mostra que 0 seu papel de manutencao, desfazimento ere-criaeao das diferencas espaciais constitui 0 seu principal impacto", assim como"a perda do poder de controle e decisao das cidades da hinterlandia dos centresde gestae, atraves de fusao e satelizacao funcional das ernpresas locais" sem foreapara competir corn os novos gigantes industriais ou comerciais.

A URBANIZACAo E A CIDADE CORPORATIVAS 105brasileiro, cria condicoes novas de procura e demanda em urnmercado assim tornado ao mesmo tempo caotico para os pequenosproprietaries e pequenos intermediaries, e exemplarmente orde-nado para as grandes empresas.

No perfodo atual da historia, quando as novidades se espalhamceleremente em escala mundial, 0 novo aparece simultaneamenteem urn grande mimero de lugares e torna-se temerario falar demodernizaeao tardia, como, talvez impropriamente, em outro mo-mento, se falou em capitalismo tardio (Mello, 1982). Neste ultimocaso, partiu-se de uma comparacao corn os parses do centro, paraafirmar que 0 capitalismo brasileiro veio muito depois. Se as pre-cedentes vagas de _mo.derniza~ao davam-se, no Terceiro Mundo(e no Brasil tambem), nao apenas corn defasagens, mas corn di-fusao limitada, tanto na sociedade quanto no territorio, a mo-dernizacao atual, baseada na revolucao tecnico-cientffica e, pa-ralelamente, nas transformacoes estruturais das bases econo-micas e sociais do sistema capitalista, conhece difusao maisrapida e mais ampla, tanto na vida social quanto na configu-racao espacia1.

Todavia, nos parses subdesenvolvidos, 0 estado anterior da so-ciedade e as formas anteriores de organizacao do territorio fazemcorn que sua modernizacao contemporanea seja, coma as anterio-res, caracterizada de maneira particular, em face do que ocorrenos pafses centrais. Quanto ao Brasil, falou-se de modernizacaoconservadora e dolorosa. Este nao e, todavia, fenomeno unica-mente brasileiro, mas fato geral nos paises subdesenvolvidos, ain-da que corn caracteristicos especfficos de cada formacao socialnacional. Em toda parte, no Terceiro Mundo, a modernizacao con-temporanea inclui uma producao extrovertida, 0 triunfo do con-sumo dirigido e desculturalizante, a despolitizacao da politica eo desmaio da cidadania, corn a instalacao de regime fortes, fre-

" qiientemente militares, indispensaveis ao financiamento da novaordem produtiva, corn imposicao de enormes sacrificios as popu-lacoes envolvidas. Tudo isso e facilitado pelo fato de que, no pe-riodo atual, tambem se afrouxam os principios de moralidade in-ternacional.

No Brasil, gran de pelo tarritorio e seus vastos recursos, por-tador de populacao numerosa, e pais subdesenvolvido mas indus-trializado, as marcas materiais, sociais e culturais do novo periodose imprimem corn mais forca e corn mais rapidez, acarretando

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106 A URBANIZAOAo E A CIDADE CORPORATIVAS

resultados mais notaveis que em outras naeoes: grande cresci-mento economico, baseado em consideravel desenvolvimento ma-terial, e, coma contraponto, no campo social e politico, uma evo-lucao negativa, levando ao desenvolvimanto simultaneo de umaclasse media relativamente numerosa e de uma extensa pobreza.

Legitimada pela ideologia do crescimento, a pratica da mo-dernizaeao a que vimos assistindo no Brasil, desde 0 chamado"milagre economico", conduziu 0 Pais a enormes mudaneas eC9-nomicas, sociais, politicas, culturais, apoiadas no equipamentomoderno de parte do territ6rio e na producao de uma psicoesferatendente a aceitar essas mudaneas coma urn sinal de moderni-dade. Tal conjunto, formado pelas novas condicoes materiais epelas novas relacoes sociaistgria as condicoes de operacoes degrandes empresas, nacionais e estrangsiras, que agem na esferada producao, da circulaeao e do consumo e cujo papel direto oupor intermedio do poder publico, no processo de urbanizacao ena reformulaeao das estruturas urbanas, sobretudo das gran descidades, permite falar de .urba.!}iza~aocorporativa e de cid£!des.corporativas.

A a9iio poIitica das grandes empresasDevemos, igualmente, levar em conta 0 impacto dessas grandes

empresas no processo politico, paralelamente ao que tern no pro-cesso econdrnico. Consideremos, em primeiro lugar, 0 papel dosfluxos financeiros na estruturaeao do espaco. Se e relativamentefacil avaliar os fluxos de recursos fiscais entre subespacos do ter-rit6rio nacional, e praticamente impossivel, nas condicoes atuais,obter resultados identicos quanto aos fluxos de mais-valia. Maso assunto pode ser tratado qualitativamente.

A mais-valia tende a variar nas divers as atividades. Num mes-mo espaco de tempo e corn 0 uso de mesma quantidade nominalde capital, certas firmas se apropriam de parcela maior do re-sultado do trabalho e da capitaliza~ao coletivos, 0 que lhes per-mite, assim, de uma s6 vez, fortalecer-se, deslocar firmas menospoderosas e aumentar ainda mais sua parte de ganho na pr6ximaetapa. Ao mesmo tempo em que aumenta seu poder de mercado,e seu poder no mercado, aumenta tambern seu poder propria-mente politico, a ser exercido na participacao da tomada de de-cisces que concernem aos seus proprios interesses e, desse modo,

A URBANlZAOAo E A CIDADE CORPORATIVAS 107interferindo corn os interesses de outros setores da economia eda sociedade. 0 equipamento do territorio constitui, assim, umadas bases de poder das grandes firmas e acaba por ser urn ins-trumento de sua concorrencia corn as firm as homologas e sobre-tudo corn as firmas menores.

Se esse equipamento e utilizavel por todos os atores da econo-mia e da sociedade, os resultados alcancados diferem em funcaodo poder de cada qual. Desse modo, 0 territorio nao e apenas 0

teatro do tQg.2-e_conomico;ele sa.torna fator deterrninante. Taicoma ele se organiza para a modernidade, 0 territorio e a basecomum d~ opera~ao para t~dos os atores, mas e sobretudo favo:ravel a§ corpora~6es.. '\t.r"'\..•..•1. -

Ja se ve que os resultados acima invocados nao sao apenas 0

resultado de urn jogo de mercado, mas tambern dos fatores deuma vontade politica. 0 papel do Estado e decisivo.

Ha, de urn lado, premeditada escolha das infra-estruturas ainstalar e de sua localizacao, corn a criacao de equipamentos dointeresse especifico de certas atividades. De outro lado, tomam-sedisposicoes para facilitar 0 intercambio internacional e interno,mediante incentivos tanto genericos coma particulares a cadacaso, que vao desde as tarifas de favor nos Correios e Telecomu-nicacoes, ao estabelecimento de linhas de credito.

A supressao, de fato, da Federaeao, facilitou a concentracaodos recursos fiscais em maos do governo federal, que assim podiaescolher livremente a geografizaeao dos equipamentos coletivos.A supressao legal da cidadania limitava ou, mesmo, eIiminava 0

debate em torno des sas decisoes e retirava toda eficacia as ve-leidades locais. Tornado coma bloco, e tratado coma bloco, 0 ter-rit6rio ainda mais se prestava aos interesses das empresas maio-res, as iinicas capazes de utiliza-lo inteiramente.

Alias, a modernizacao do Pais e do seu territorio nao e apenasuma preocupacao do proprio Pais, mas tarefa de interesse mun-dial, embora seja a sociedade nacional que deva arcar corn esseonus. 0 eguipamento do territ6rio nacional e frsquentemente ji-nanciado corn a conjugacao de recursos nacionais e de r~cursosexternos, na forma de empresfimos multliaterai~ 0 Banco Ml!n-dial, atento as preocupacoes deinser~ao do Pafs na nova orderneconih~ca mundial, foi urn desses fornecedores de fundosCSchmidte Farrett, 1986, p. 50-5'1). Essa e, talvez, uma das razoespelas quais a divida externa brasileira, que fora de 3,1 bilhoes

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..108 A URBANIZAyAO E A CIDADE CORPORATIVAS

de dolares em 1960 e de 21,2 bilhoes em 1975, passa a 81,3 bilhoesem 1983 e a 105 bilhoes em 1989 (A. Brum, 1990, p. 159).

Tecnoesfera, psicoesfera e urbanizaeao corporativaLembra Jean-Michel Roux (1980, p. 123) gue "as transforma-

~oes do territdrio (...) nao apenas resultam de uma pressao im-periosa do sistema socioeconornico. Elas tambem sao 0 fruto demodelos ideologicos sobre '0 desenvolvimento' e a 'modernidade'que se impoem aos detentores do poder". Para esse autor, pen-sando corn base no caso frances, esses modelos sao produzidos eefetivados pelo aparelho de[Estado. Este "possui urn quasemo-nopolio das reflexoes sobre 0 planejamento do territorio", "controlafIiretamente uma parte essencial dos investimentos mais deter-minantes para a organizaeao do espaco'l e "reune todas essas de-cisoes em uma rede de regulamentos e de justificaeoes que apenasele pode entender". -.

Em poucos anos, infra-estrutura e superestrutura se modificamfundamentalmente e 0 processo correspondente de urbanizacaotarnbem conhece mudancas.. Em primeiro lugar, 0 arranjo espacial das cidades muda, tantopelo seu tamanho consideravelmente aumentado, coma pelo sua

'" localizacao mais dispersa. Mudam, sobretudo, suas funcoes. As'\ ,r;/' ~ cidades sao, de urn lado, os elos de uma cooperacao e de uma

regulacao que se devem dar em escala nacional, a service dasN.-V \ • atividades corn dimensao nacional, isto e, as grandes empresas)~J ~ 0 Estado. Por isso, devem ser localmente equipadas para 0 exer-'/>' cfcio dessa vocacao '~nacjonal", indispensavel a realizacao do mo-

delo nacional adotado. As respectivas tarefas sao consideradasprioritarias e as aglomeracoes urbanas sao preparadas para rea-liza-las a contento. As demais tarefas, consideradas menos rele-vantes, agregam-se, por necessidade funcional, mas de forma su-bordinada, as tarefas hegemonicas. A cidade se define segundoas modalidades dessas combinacoes dependentes do grau de de-senvolvimento regional e da amplitude da respectiva divisao ter-ritorial do trabalho. As atividades nao-hegemonicas sao, em geral,deixados a "espontaneidade" do mercado. De urn ponto de vistapolitico, as atividades centrais, isto e, programadas coma condicaode exito para 0 projeto nacional, SaD as que interessam ao proprioEstado e as corporacoes.

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, A URBANlZAyAO E A CIDADE CORPORATIVAS 109

Essas atividades centrais se dispfiem em rede e sistema, inte-ressando a totalidade dos nucleos urbanos, nao importa onde es-tejam localizados. It nesse sentido que podemos falar de uma ur-banizaciio corporativa. .. .-. As cidades e, sobretudo, as metropoles sao corporativas, masnao apenas pelas facilidades que criam ou representam para aopsracao das grandes empresas, das corporacoes eoonomicas. Apalavra corporaciio, alias, foi primeiro aplicada para nomear 0

sistema produtivo que, na Idade Media, reunia artesaos e comer-ciantes, em torno de determinados oficios, atribuindo-lhes 0 pri-vilegio deurn oficio ou de uma atividade. Em seguida, 0 vocabulofoi empregado para caraterizar, pejorativamente, grupos fecha-das, reunidos em torno de seus interesses exclusivos, sem refe-rencia aos interesses dos outros. ..-

A cidade atual presta-se a rscriaeao desse tipo de ssgmentacao,corn a emergencia de grupos mais ou menos organizados, lutandode maneira difusa ou corn 0 apoio de lobbies mais ou menos agres-sivos e mais ou menos aparelhados, atraves de discursos, mar-keting, aliancas duraveis ou colusoes ocasionais, estrategias e ta-ticas pela prevalencia de suas reivindicacoes setoriais. Sao interes-ses de classes de categorias profissionais, de bairros, de tipos deproprietaries, coma os donos de autornoveis, mas tambem de gruposetnicos, de genero ou de comportamento sexual que buscam a cons-trueao de sua identidade, mas tambem 0 discurso de suas rec1ama-~oes particulares e a melhor pratica para sua militancia, destinadaa obter, no pIano juridico ou material, cornpensacoes e vantagens.

A produeao recente de uma classe media mais preocupada cornas praticas que corn as finalidades, fenomeno precipuamente ur-bano, e tambern urn dos dados dessa mentalidade corporativista.As proprias classes inferiores sac vitima desse estado de espirito,em sua qualidade de vitima das exigencias de urn consumo aindanao satisfeito, senao marginalmente. 0 consumo, alias, e frequen-temente a base de egoismos de grupo ou territoriais e se encontrapor tras da defesa util (e as vezes bem-sucedida) de interessescorporativos.o cidadao e nao raro ensombrecido pelo usuario e pelo consu-midor, afastando para muito depois a construcao do homem pu-blico. Daf a busca de privilegios em vez de direitos.

Todos esses corporativismos impedem de ver a cidade comaurn todo, tornam dificil 0 estabelecimento de uma logica de hie-

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110 A URBANIZAvAO E A CIDADE CORPORATIVAS

rarquias e de uma a~ao concertada, representando, assim, des-perdicio de recursos ja escassos. A chamada anarquia da cidadecapitalista e, desse modo, agravada, corn todas as suas conse-quencias. E tarnbem assim que as lealdades coletivas se enfra-quecem e 0 sentimento de comunidade nao chega a se afirmar,dificultando 0 exercicio da cidadania e da democracia.

Contradi~oes da cidade corporativa

"c. .. ) 0 poder publico e chamado, nos ultimos trinta anos, aexercer urn papel extremamente ativo na producao da cidade. Se-guindo 0 movimento geral do sistema capitalista que consagraconcentra~6es e centralizacces, a cidade do capital concorrencialcede lugar a cidade do capital monopolista ou oligopolista (...).Num primeiro momento, boa parte (variavel segundo os lugares)da formacao do capital geral, devia-se aos proprios atores prin-cipais do jogo -economico, que arcavam corn uma parcela de res-ponsabilidade na implanta~ao das economias de aglomeracao in-dispensavais ao funcionamento da maquina econornica e do or-ganismo social. Numa fase de transieao, 0 poder publico e levado aassumir cada vez mais esses encargos, mas as obras publicas tam-hem beneficiam uma parcela consideravol da populacao e urn nu-mero importante de empresas. Na cidade corporativa, 0 essencialdo esforco de equipamento e primordialmente feito para 0 servicedas empresas hegemonicas; 0 que porventura interessa as demaisempresas e ao grosso da populacao e praticamente 0 residual naelaboraeao dos orcamsntos publicos. Isso obedece a mais estrita ra-cionalidade capitalista, em nome do aumento do produto nacional,da capacidade de exportacao, etc." (Santos, 1990, p. 94-95).

"c. .. ) Os habitantes urbanos, novos e antigos, reclamam pormais services, mas os negocios, as atividades economicas tambemnecessitam das chamadas economias de aglorneraeao, isto e, dosmeios gerais de produeao. 0 oreamento urbano nao cresce corn 0

mesmo ritmo corn que surgem as novas necessidades. A ideologiado desenvolvimento que tanto apreciamos nos anos 50 e sobretudoa ideologia do crescimento reinante desde fins dos anos 60 ajudama criar 0 que podemos chamar de metropols corporativa, muitomais preocupada corn a elirninaeao das ja mencionadas deseco-nomias urbanas do que corn a producao de services sociais e corno bem-estar coletivo" (Santos, 1990, p. 94).

A URBANIZAvAO EA CIDADE CORPORATIVAS 111Desse modo, 0 processo de urbanizacao corporativa se imp6e

a vida urbana coma urn todo, mas coma processo contraditorioopondo parcelas da cidade, fraeoes da populacao, formas concretasde producao, modos de vida, comportamentos.? Ha oposicao e com-plementaridade, mas os aspectos corporativos da vida urbana ten-dem a prevalecer sobre as form as precedentes das relacces ex-ternas e internas da cidade, mesmo quando essas formas previas,chamadas tradicionais, de realizacao econornica e social, interes-sam a populacao mais numerosa e a areas mais vastas." A logicadominante, entretanto, e, agora, a da urbanizacao corporativa ea da cidade corporativa.?•..0 proprio poder publico torna-se criador privilegiado de escas-sez: estimula, assim, a especulacao e fomenta a producao de es-paces vazios dentro das cidades; incapaz de resolver ·0 problem ada habitacao, empurra a maioria da populacao para as periferias;e empobrece ainda mais os mais pobres, forcados a pagar caropelos precarios transportes coletivos e a comprar caro bens deurn consumo indispensavel e services essenciais que 0 poder pu-blico nao e capaz de oferecer (Santos, 1990).

o poder publico, entretanto, nao age apenas de forma indireta.Ele tambem atua de forma direta na geracao de problemas ur-banos, ainda que prometendo resolve-loa. 0 caso do Banco Na-cional de Habitacao e 0 exemplo mais tipico. 0 discurso da criacaodo B.N.H. dava-o coma instrumento de melhoria das condicoesde moradia dos habitantes urbanos. Na verdade, esse Banco tor-nou-se, em primeiro lugar, 0 banco da cidade, a instituicao finan-ceira estatal destinada a preparar as cidades para melhor exercer

7 A cornpeticao entre as formas de cornercializacao de produtos destinados aoconsumo obrigat6rio e corrente das populaeoes urbanas de todos os nfveis de rendailustra esse processo: a concorrencia entre supermercados, de urn lado, e, de outro,armazens, quitandas e feiras livres e sobretudo urn aspecto da evolucao do feno-meno da urbanizacao corporativa (S. Pintaudi, 1981).

8 A forma coma os transportes publicos sao operados na maior parte das cidadesbrasileiras e urn born exemplo do carater corporativo de nossa urbanizacao. Dis-cutindo esse aspecto da vida urbana, em face do debate sobre as privatizacoes,Regina S. Pacheco (1988, p. 14) mostra coma em Sao Paulo"a analise da evolucaorecente do setor transportes coletivos" revela que Una pratica ja se encontra atinstalado 0 favorecimento de interesses privados, para 0 que concorre, como me-canismo fundamental, a articulacao dos setores publico e privado na oferta doservice".

9 A prop6sito de "espaco corporative", ver Ruy Moreira, 1985, especialmenteo capttulo 4, p. 101-154.

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112 A URBANIZAQAo E A·CIDADE CORPORATIVAS

seu papel na fase do capital rnonopolista que se estava implan-tando. Ele iria realizar essa tarsfa mediante utilizacao de recur-sos arrecadados junto a todos os trabalhadores atraves de suaspoupancas voluntarias e tambem de urn Fundo, 0 Fundo de Ga-rantia por Tempo de Service (FGTS), constante de urn porcentualdos salaries e mensalmente recolhido pelos empregadores.

Antes do regime autoritario, os trabalhadores obtinham esta-bilidade no emprego aos dez anos de atividade e qualquer demis-sao obrigava a empresa a indenizacao relativa ao tempo de ser-vico. Para acelerar a moderniza~ao, 0 governo autoritario supri-miu a estabilidade e exonerou os patroes de responsabilidade fi-nanceira, quando demitem os seus empregados, essa responsabi-lidade recaindo nos ombros do poder publico, mas corna utilizacaodo mesmo FGTS.

A modernizacao da economia, corna exclusao dos trabalhadoresconsiderados excedentarios, e paga pelo conjunto da classe tra-balhadora. E os recursos restantes sao sobretudo utilizados cornduas destinacoes: 1) 0 equipalllento das cidades, rer-ovando seuestoque de infra-estruturas para acolhimento mais cabal de ati-vidades modernas; 2) 0 financiamento da construcao de aparta-mentos e casas sobretudo para as classes medias, ja que os progra-mas de atendimento as popula~oes de baixa renda somente forammais largamente desenvolvidos a partir do final da decada de 70.

Os conjuntos residenciais levantados corn dinheiro publico -mas por firmas priyadas - para as classes medias baixas e ospobres se situ am quase invariavelmente nas periferias urbanas,a pretexto dos precos mais acessfveis dos terrenos, levando, quan-do havia pressoes, a extensoes de services publicos coma luz, agua,as vezes esgotos, pavimentacao e transportes, custeados, tarnbem,corn os mesmos recursos. :It desse modo que 0 BNH contribui paraagravar a tendencia ao espraialllento das cidades e para estimulara especulacao imobiliaria. A constru~ao de urn conjunto residen-cial e a consecutiva dotacao de infra-estruturas valoriza os ter-renos em derredor, estimulando os proprietaries a uma esperaespeculativa. Produzem-se novos vazios urbanos, ao passo que apopulacao necessitada de habita~ao, mas sem poder pagar peloseu preco nas areas mais equipadas, deve deslocar-se para maislonge, ampliando 0 processo de periferizacao.

Uma outra iniciativa governamental trabalha na mesma dire-~ao. Referimo-nos aos Projetos C.u.R.A., operacoes de renovacao

A URBANlZAQAo EA CIDADE CORPORATIVAS 113empreendidas nos centros urbanos e cujo resultado e, tambem,o de ativar a especulacao imobiliaria expulsando parcel a da po-pulacao preexistente e impondo nova l6gica a cidade coma urntodo. Essa l6gica e a da valorizacao-desvalorizacao diferencial dosdiversos setores urbanos. Como, porem, esses projetos C.u.R.A.sao geralmente associados ao program a das cidades medias, aglo-meraeoes destinadas a acolher atividades economicas modernasdescentralizadas, 0 resultado comum e 0 aumento do valor detodos os terrenos equipados e a reativacao, em nivel superior,dos processos espaciais que ja definem a problematica urbana.

Nessas condicoes, cada solucao se impoe coma urn problema.Melhorar uma via publica significa aumentar tambem a possibi-lidade de implantacao ou melhoria do transporte publico e criaruma valcrizacao que acabara por expulsar daquela vizinhanca osmais pobres. Instalar urn novo service publico (agua, esgotos, ele-tricidade) acaba por ter 0 mesmo resultado, pelas mesmas razoes.E a necessidade (nova) de pagar por esses mesmos services pesasobre orcamentos reduzidos e apressa 0 processo de expulsao.Todo melhoramento numa area pobre faz dela 0 teatro de urnconflito de interesses corn as classes medias em expansao, paranao falar das classes altas. A rapidez corn que se instala 0 processode verticalizacao (M. A. A de Souza, 1990) tern coma paralelourn processo de suburbanizacao. Como 0 mimero de pobres seexpande ainda mais depressa, ha pressao pela terra tambem en-tre os pobres e 0 resultado e uma expansao geografica da cidade,periferizacao que se da corn a criacao de vazios, gracas ao modelorodoviario. :It urn equivoco pensar que problemas urbanos podemser resolvidos sem solucao da problematica social. :It esta que co-manda e nao 0 contrario.

A planificacao urbana, entretanto, e, sobretudo, voltada paraos aspectos da cidade cujo tratamento agrava os problemas, emvez de resolve-los, ainda que a primeira vista possa ficar a im-pressao de resultado positivo. Trata-se de planificacao sobretudotecnica, preocupada corn aspectos singulares e nao corn a proble-matica global, planificacao mais voltada para 0 chamado desen-volvimento economico, Sluando 0 que se necessita e de uma pla-nificacao sociopolitica que esteja de urn lado preocupada corn adistribuicao dos recursos sociais, e, de outro, consagre os in~tru-mentos politicos de controle social, capazes de assegurar a cida-dania plena. Urn plane diretor nao pode contentar-se em ser ape-

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114 A URBANIZA<;Ao E A CIDADE CORPORATIVAS

nas uma disciplina do crescimento fisico ou da dotacao de services,mas deve incluir uma clara preocupacao corn a dinamica globalda cidade, buscando orienta-la no interesse das maiorias.

Os novos recortes espaciaisHa vinte anos atras, pensavamos que, na realidade, 0 conhe-

cimento do sistema urbano nos paises subdesenvolvidos deviapassar pe la separacao metodol6gica de uma rede urbana voltadapara as tarefas de exportacao (e importacao), tributaria de urnmodelo orientado por fora e de uma rede urbana mais voltadaao consumo interno e as tarefas indispensaveis a prove-Io.T) sis-tema urbano voltado para 0 exterior seria 0 principal utilizadordas grandes vias e meios de transporte, exigindo ate mesmo, emcertos casos, a construcao de rotas e dutos exclusivos (ou quase),coma a ferrovia do aco ou a estrada da soja. Se algumas aglome-racoes (portos, n6s de circulacao, cidades-entreposto) eram pra-ticamente exclusivas do subsistema "exportador", a tede urbanacoma urn todo seria utilizada indiferentemente por ambos os sub-sistemas. Em muitas cidades, os dois subsistemas se encontra-riam, utilizando-se dos mesmos objetos, ainda que gerando rela-coes diferentes.

Sem a separacao epistemol6gica entre objetos geograficos e re-lacoes socioespaciais, esse modelo nao poderia ser construido. Mase a realidade que serve de base para a proposta analftica.

Agora que a realidade mudou, 0 modelo acima tern de ser re-vista, para incorporar as transformacoes verificadas. A principalmudanea e 0 aumento exponencial da fluidez do territ6rio, gracasaos progressos nos transportes, nas cornunicacoes e na producaoe uso das informacoes. Qutra mudanca vem da irnportancia dascorporacoes no processo econornico e social, coma unicas empresascapazes de utilizar plenamente as novas condicoes infra-estrutu-rais e supra-estruturais, na totalidade do territ6rio, cujo equip a-rnento moderno lhes permite dispor de vantagem comparativafundamental, a que Martin Lu (maio, 1984, p. 18) chama de "uni-ficacao do espaco de decisao",

A eficacia das grandes empresas vem de sua presenca em lu-gares estrategicos do espaco total, pontos escolhidos por elas mes-mas, dos quais exerce sua acao sobre outros pontos ou zonas,diretamente ou por intermedio de outras firmas. A acao espacial

cLo

A URBANlZA<;Ao E A CIDADE CORPORATIVAS 115das corporacoes nao necessita da continuidade espacial (isto e,de recorte propriamente geografico), mas da continuidade tem-poral. - - --

N esse sentido, pode-se, hoje, dizer que 0 territ6rio nacional damodernidade e objeto de dois tipos de recorte. De urn lado, re-criam-se subespacos mediante nova regionalizacao, que tantopode ser 0 fato de produeoes homogeneas que colonizam e definemuma fracao do espaco corn base em uma mesma atividade ou deuma combinacao de atividades, coma pode provir de relacoes ne-cessarias entre urn rnicleo e 0 seu entorno imediato. Em ambosesses casos, a area resultante e continua. It a nova forma do velhofenomeno de regiao. Mas ha, de outro lado, outro recorte espacial,formado pela uniao dos pontos de apoio das corporacoes no seuprocesso produtivo, ligando e relacionando lugares estrategicosda produeao propriamente dita, da comercializacao, da informa-~ao, do controle, da regulacao. No primeiro caso, onde 0 espacoe continuo, trata-se de urn recorte horizontal do espaco total. Nosegundo caso, 0 recorte resultante e vertical. No primeiro caso,as tarefas tecnicas predominam, ligadas, diretaou-indiretamente,ao processo -direto de produeao-No segundo caso, sao tarefas po-liticas as que predominam, base do processo de regulacao da pro-ducao (credito, inforrnacao, ordens) que e, tambern, urn processode regulacao do territ6rio, isto e, do seu equipamento e seu uso.Nesse sentido, diremos que a regiao deixa de ser produto de so-lidariedade organica localmente tecida, para tornar-se resultadode solidariedade organizacional, -

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13.

TENDENCIAS DA URBANIZACAo BRASILElRANO FIM DO SECULO XX

Falar sobre 0 futuro da urbanizacao e das cidades e coisatemeraria, Mas nao falar sobre 0 futuro e desereao. Nao se tratado futuro coma certeza, porque isso seria desmentir a sua defi-nicao, mas coma tendencia.

Os primeiros dados do Recenseamento de 1991 permitem con-siderar uma taxa de urbanizacao em torno de 75%. Haveria certaconvergencia entre os indices obtidos nas Regioes Norte e Nor-deste, pois que 0 Norte apareceria corn 56% e 0 Nordeste corn58%, enquanto 0 Sudeste teria urn indice de 88%, e 0 SuI e 0

Centro-Oeste estariam pr6ximos da taxa brasileira dos 75%.Ja em 1990, as estimativas admitiam que todos os estados das

Regioes Sudeste, SuI e Centro-Oeste, exceto Mato Grosso, teriampopulacao urbana superior a 70%. Seis desses onze estados -Rio de Janeiro, Sao Paulo, Mato Grosso do SuI, Minas Gerais,Rio Grande do SuI e Espirito Santo - apareceriam corn indicede urbanizacao mais elevado que 0 Pais, sobretudo Sao Paulocorn 92% e Rio de Janeiro corn 94%, enquanto Goias se avizinhado indice nacional. Fora dessas tres regioes, somente 0 Estadodo Amazonas teria uma populacao urbana superior a 70%.

No ana 2000 a taxa brasileira de urbanizacao se avizinhariados 80% e 0 Sudeste apresentaria indice pouco superior a 91%,o Centro-Oeste e 0 SuI ja passando a taxa nacional. No Estadodo Rio de Janeiro a populacao urbana se aproximaria dos 96%,e em Sao Paulo de 94%.

It lfcito porem admitir que no fim do seculo a populacao urbanasera bem superior a essa estimacao. Essa, coma tantas outrasestirnacoss demograficas, conspicuamente utiliza extrapolacoes,cujo periodo de referencia seriam os quarenta anos entre 1940 e1980. Mas neste caso, coma em outros, nao parece haver consi-deraca» para corn a dinamica geografica. Alias, a dinamica ter-

117

r

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118 TENDENCIAS DA URBANIZAC;Ao BRASILEIRA

ritorial, urn dado sem duvida relevante, raramente e levada emconta nas prognoses dernograficas, coma tarn bem, normalmente,nos estudos de ciencias sociais. Ora, a consideracao da estruturaespacial e sua evolucao nos ultimos decenios permite supor umatendencia a aceleraeao do fendmeno de urbanizacao, Mas, de urnmodo geral, os mimeros dos dem6grafos, coma os dos cientistaspoliticos, nao levam em conta 0 espaco - que e amalgama indis-cutivel da acao humana e do meio preexistente - ambos intera-gindo permanentemente. It uma pena e urn equivoco cientifica-mente Iamentavel, porque somente 0 espaco permite apreendero futuro, atraves do presente e tambem do passado, pela incor-poracao de todas as dimensoes do real concreto. Os processos es-paciais sao condicionantes duraveis das acoes inovadoras.

o futuro e formado pelo conjunto de possibilidades e de von-tades, mas estas, no plano social, dependem do quadro geograficoque facilita ou restringe, autoriza ou proibe a acao humana. Al-can car intelectualmente 0 futuro nao e questao estatistica, nemsimples arranjo de dados empiricos, mas questao de metodo.r- Sabemos coma diferencas de enfoque conduzem a diferencasde resultado. 0 nosso enfoque aqui ainda e 0 que arduamentedefendemos de longa data: 0 do espaco coma instancia social, con-

; junto inseparavel da materialidade e das acoes do homem. De-vemos, desse modo, levar em conta as tendencias atuais de reor-ganizacac do territ6rio, no mundo inteiro e no Brasil de formaparticular, 0 que obriga a levar em conta as caracteristicas doque chamamos de meio tecnico-cientifico, isto e, 0 meio geograficotal coma hoje se da, ou tende a ser, e em cuja elaboracao a con-tribuicao da ciencia, da tecnologia e da informacao e cada vezmaior (ver M. Santos, Espaco e metodo, Nobel, Sao Paulo, 1985) ..--

Esse meio tecnico-cientffico configura 0 que hoje se poderia cha-mar de Brasil emergente, urn Brasil diferente daquele onde cien-

I cia, tecnologia e infor-macao ainda nao eram carateristicas fun-damentais do territ6rio, nem dados essenciais de explicacao do

. acontecer economico, social e politico. Trata-se de categoria ex-plicativa maior, porque esse Brasil emergente se difunde rapida-

mente e essa difusao e consequencia, fator e resultado de fatoresde regulacao em escala nacional e planetaria. Pede-se vislumbrarque esse meio tecnico-cientffico, que tende a ser 0 meio geograficodo nosso tempo, se estendera por todo 0 territ6rio brasileiro dentro

r de vinte ou vinte e cinco anos. Esse meio tecnico-cientffico resulta,

TENDENCIAS DA URBANlZACAo BRASILEIRA 119coma ja vimos, da adicao ao territ6rio de ciencia, de tecnologia,de informacao, e cria espacos inteligentes numa parte do Brasil,deixando que em outros permanecam os espacos opacos. Uns eoutros sao subespacos corn comportamentos diferentes, l6gicas eracionalidades diferentes. Tais dinamicas diferentes nao sao ape-Inas dinamicas territoriais, mas tambern dinamicas politicas, de-lmograficas, culturais e economicas. .:»

As dicotomias do passado, coma aquela a que se referiu Jacques 'Lambert, falando dos dois Brasis, substituida depois por uma di-cotomia entre Brasil urbano e-Brasil rural, de que valentementese utiliza Helio Jaguaribe em Reforma ou Caos, parece-me queja hoje deva ser substituida por outra, agora uma dicotomia entreurn Brasil urbano e urn Brasil agricola. Nao mais urn Brasil ur-banoeumBrasil ruraL-O· Brasi! urbano e 0 Brasil em que estapresente 0 meio tecnico-cientffico, area onde a vida de relacoestende a ser mais intensa e onde, por isso mesmo, 0 processode urbanizacao tende a ser mais vigoroso. Como admitimos que,essa realidade vai estender-se rapidamente sobre 0 territ6rio na-cional, as perspectivas da urbanizacao serao bem mais nitidas efortes. Esse fato, porem, passa despercebido a quem faz projecoessem considerar a realidade e as tendencias geograficas.

No Brasil contemporaneo, a mobilidade das pessoas aumenta,paralelamente a muitas outras formas de exacerbacao do movi-mento, e coma resultado de uma divisao social do trabalho maisintensa. Eram 8,5% de brasileiros ausentes de seu estado de nas-cimento em 1940, 10,3% em 1950, 18,2% em 1960,31,6% em 1970,38,9% em 1980. Mais de metade dos brasileiros estariam vivendo,no fim do decenio, fora dos seus lugares de origem.

As pes soas que residem ha menos de dois anos no seu domicilioatual, eram, em 1970, 9.500.000, em 1980 sao 16.000.000, isto e,10% e 13,4%, respectivamente, da populacao total. Em 1990 esseporcentual sera ainda maior. Esses mimeros devem ser cotejadosde urn lado corn 0 aumento extremamente reduzido da populacaoeconomicamente ativa na agricultura, entre 1970 e 1980, que foide 0,0016, e de outro corn 0 fato de que a populacao agricolacresce mais rapidamente do que a rural.

Populaciio agricola Populactio rural

1960

19701980

38.418.79841.054.053

38.566.297

15.454.52617.581.964

21.163.729

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120 TENDENCIAS DA URBANlZACAo BRASILEIRA

Em 1960, a populaeao rural era duas vezes e meia (2,48) maiorque a populacao agricola. Em 1970 ela e 2,33 vezes maior. Em1980 esse fndice baixa para 1,82 e nao sera sequer de 1,50 nestefim de decenio. Entre 1960 e 1980, a populacao agricola aumentade cerea de 36% ao passo que a populacao rural somente crescequatro milesimos por cento, mais precisamente 0,0038%.

Tudo isso indica tendencia a uma urbanizaeao ainda maior.Apontam nessa direcao outras evidencias empiricas, coma a ten-dencia crescente a baixa da natalidade, ao mesmo tempo em que

I ha crescimento da populacao economicamente ativa. A taxa defertilidade cai de 5,3 filhos por mulher em 1970, para 3,2 em1989. E, segundo George Martine, a maior queda de natalidadejamais conhecida em toda a hist6ria da humanidade. Paralela-mente a essa queda da natalidade, da fertilidade, da fecundidade,da mortalidade, vemos que, ate 0 ana de 1990, considerando comoidade ativa aquela entre quinze e sessenta anos, entrarao cereade 29.000.000 no mercado de trabalho potencial, enquanto delesairao 7.250.000, isto e, havera 21.750.000 de pessoas reclamandopor emprego. Se ampliarmos 0 nosso horizonte e alcancarrnos 0

ana de 1995, teremos que sairao do mercado de emprego, pordiferentes razfies, cerea de 12.000.000 de pessoas, e entrarao45.000.000, 0 que da uma sobra de 33.000.000. Se 0 horizonte forestendido ainda pouco mais longe, ate 0 ana 2000, serao cerea de17.600.000 que sairao, enquanto entrarao cerca de 60.000.000,isto e, havera sobra de 44.000.000 de pessoas. Relembremos queisso se verifica numa situacao em que a populacao agricola crescemais do que a rural e em que a populacao agricola praticamentecomeca 0 seu descenso na maior parte das regioes. Urn recenteestudo de Pedro Geiger mostra, de modo exemplar, as diferencasregionais de manifestaeao do fenomeno. A tendencia e, pois, umaexpansao e qualificacao ainda maiores do processo de urbanizacaoem todo 0 territ6rio.

E fato que ha no Pais numerosos "desurbanistas" a acreditarna evolucao inversa, brandindo alegremente taxasde crescimentomenor (muitas apenas imaginarias) da populacao em certas ci-dades grandes. Mas que significa, verdadeiramente, cair a taxade urbanizacao numa aglomeraeao como Sao Paulo, aonde che-gam centenas de milhares de pessoas por ano? Que significadotem esse sfmbolo estatfstico, quando a populacao rural e agricolabaixam consideravelmente?

TENDENCIAS DA URBANIZACAo BRASILEIRA 121Nao ha p6lvora a ser descoberta, nem ovo de Colombo. E urn

fato estatfstico a ser reinterpretado, sugerindo que estamos pre-senciando, no Brasil, aquilo a que Bernard Kayser chamara, havinte anos atras, na Franca, de exodo urbano. A tese de livre-do-cencia de Rosa Ester Rossini sobre uma regiao do Estado de SaoPaulo mostra-nos claramente que esse fenomeno de turbilhao ur-bano ja se esta dando no Estado de Sao Paulo e em todo 0 Pais.Seria aquilo a que Jean-Paul Gaudemar urn dia intitulou de "mo-bilizacao geral" num pais coma a Franca, onde as populacoes du-rante seculos eram presas ao seu terroir, nao costumando migrar:tal qual 0 Brasil de 1920, quando menos de 6% da populacaomoravam fora de seus estados de origem.

A urbanizacao crescente e uma fatalidade neste Pais, aindaque essa urbanizacao se de corn 0 aumento do desernprego, dosubemprego e do emprego mal pago e a presenca de volantes nascTdades medias e nas cidades pequenas ..Este ultimo e um dado"normal" do novo mercado de trabalho unificado, em que em me-dia cerea de 75% desses chamados volantes, boias-frias etc. naosao recrutados por intermediaries. Esse mercado urbano unifica-do e segmentado leva a novo patamar a questao salarial, tantono campo coma na cidade. 0 fato de que os volantes vivendo nacidade sejam ativos na busca por melhores salaries, constitui tarn-bem dado dinamico na evolucao do processo de urbanizaeao, comano processo politico do Pais.

Aumenta 0 mimero de cidades locais e sua forea, assim comaos centros regionais, ao passo que as metr6poles regionais tendema crescer relativamente mais que as pr6prias metr6poles do Su-deste. As metr6poles regionais mudaram de qualidade nestes ul-timos dez anos, primeiro porque se transform am em metr6polescorn urn conteudo nacional, capazes de manter relacces nacionais,e segundo, porque as respectivas regioes metropolitan as passa-ram a constituir areas onde se diversificam e avolumam as re-laeoes interurbanas, corn aumento da divisao do trabalho que con-duz ao apressamento e aprofundamento de uma serie de processoseconomicos e sociais. 0 efeito do tamanho tern papel na divisaointerurbana e tambern na divisao intra-urbana do trabalho: quan-to maioresemals populosas.Ias cidades saD mais capazes de aorl-gar uma gama mais extensade atividades e de conter uma liS£amaior de profissoes, estabelecendo, desse modo, urn tecido-Ae in~- -.---- ~ter-relacoes mais eficaz do ponto de vista economicq.,----_._-

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122 TENDENCIAS DA URBANIZAc;::Ao BRASILEIRA

Esse salto qualitativo nao invalida 0 fato de que Sao Paulo,Rio de Janeiro e Brasilia mantenham posieao de comando sobreo territorio nacional, corn uma especie de divisao do trabalho me-tropolitano que permite distinguir claramente entre as tres e en-tre elas e as metropoles regionais,

Essas novas relacoes dentro do territorio brasileiro estao a nosindicar que 0 processo de metropolizacao vai prosseguir parale-lamente a urn processo de desmetropolizaeao. As maiores cidadescontinuarao a crescer, enquanto novas grandes cidades surgirao,corn a coexistencia de movimentos que so em aparencia sao con-traditorios, porque obedientes a uma mesma logica, socioecono-mica e geografica.

o movimento para a metropolizaeao ainda nao atingiu a sa-turacao alcancada em paises centrais (onde a desurbanizacao jase verifica), nem mesmo se completou, ao mesmo tempo em queuma difusao do fenomeno de concentracao urbana permite falarde desmetropolizacao, porque se da, tambem, fora das maiorescidades. Esse processo concomitante de metropolizaeao e desme-tro~izaTaOPOde s~-q~aptificado e datado, levando-se em_~onta~participa~ao decresceute, desde 1960, das aglomeracoes milio-miria.§ no total da populacao, urbana brasileira. As aglomeracoesentre 1.000.000 e 2.000.000 de habitantes reunem 19,28% dessetotal em 1950 e apenas 16,56% em 1980. Quanto as metropolescorn populacao superior a 2.000.000, os porcentuais denotam umaevolucao muito mais significativa:

1950 - 32,07%1960 - 27,57%1970 - 25,41%1980 - 21,75%

Em outras palavras, as aglorneracoes corn mais de 1.000.000de habitantes continham 51,35% da populacao urbana em 1950e somente 38,31% em 1980. Ha, pois, evidente processo de des-metropolizacao, sem que 0 tamanho urbano das metr6poles di-minua: sao as cidades medias que aumentam em volume, cres-cendo sua participacao na populacao urbana. Enquanto as cidadescorn mais de 2.000.000 de habitantes tern sua populacao urbanamultiplicada por 3,11 entre 1950 e 1980, 0 multiplicador paraaquelas entre 1.000.000 e 2.000.000 era de 4,96. Esse Indice e de

.•~

TENDENCIAS DA URBANIZAc;::Ao BRASILEIRA 123

5,90 para a populacao urbana vivendo em aglomeracoes entre500.000 e 1.000.000 e de 5,61 para 0 conjunto daquelas entre200.000 e 500.000 habitantes.

As cidades intermediaries apresentam, assim, dimensoes bemmaiores. Essas cidades medias sao, crescentemente, locus do tra-balho intelectual, coma 0 lugar onde se obtem inforrnacoes ne-cessarias a atividade sconjrmica, Serao, por conseguinte, cidadesque reclamam cada vez mais trabalho- qualificado, enquanto asmaiores cidades, as rnetropoles, por sua 1?ropria composi~ioor::--ganic-a00 capital ~'pors.Ea propria, cOI!1io;~o organica cio espa~o:poderao continuar a acolher populacoes pobres e despreparadas~

Por conseguinte, os proximos anos, quem sabe ate os pr6ximos 1decenios, marcarao ainda urn fluxo crescente de pobres para asgran des cidades, ao passo que as cidades medias serao 0 lugardos fluxos crescentes das classes medias. Em resumo, a metro-ll2liza~ao se dara tambem como"involucao"..il.nquanto a qualidadede vida melllOT!lranas -cidades r;edias. -- ~

Alias, as grandes metropoles ja apresentam taxa de crescimen-to aconfrmico menor do que suas respectivas regioes, e tambemmenor do que a do Pais tornado coma urn todo. Esse e 0 caso dacidade de Sao Paulo, e sua area metropolitana, que ha mais devinte anos crescem menos do que 0 Estado de Sao Paulo, e menosdo que 0 Pais. Mas e tambem 0 caso de outros estados coma aBahia, 0 Parana etc. Esse fanomenc de involucao metropolitana,por nos estudado em outro lugar (Santos, 1991) permite a con-vivencia, dentro da cidade, de capitais os mais diversos, criandoou possibilitando atividades que vao permitir a cnnvivencia detrabalhos os mais diversos.

Uma boa parcel a da economia urbana pode, assim, desenvol-ve;.:se-sem-custos de investimentos adicionais em infra-estrutu-ras~ja gue somente as atividades hegemfmicas exigem a renova-~--. -- - - ----~ao do espaco construido. Podemos dizer que, nos proximos de-cenios,O"custo" das grandes cidades vai baixar e nao aumentar,uma vez que muitas industrias hegemonicas ja se estao locali-zando nas periferias das megal6poles, das metrcpoles e, mesmo,das cidade medias.

Esse fenomeno se dara paralelamente a outro, 0 da consolida-~ao de uma metropole informacional e nao propriamente fabril.Sao Paulo, metropole brasileira, nao tern 0 seu papel metropoli-tano definido por ser uma capital industrial, mas por ser uma

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124 TENDENCIAS DA URBANlZAc;::Ao BRASILEIRA

capital relacional, 0 centro que promove a coleta das informafoes,as armazena, classifica, manipula e utiliza a service dos atoreshegemonicos da economia, da sociedade, da cultura e da politica.Por enquanto, e Sao Paulo que absorve e concentra esse novopoder decisorio.

No sistema urbano ha, por conseg.uinte, tendencia crescente adiferenciafao e a complexific~£..ao. As cidades sao cada ~ez -mmsd'i.furentes umas das outras. Aqueles esquemas simplorios que nosacostumamos a reproduzir e enfeitam a maioria das nossas teses,artigos e livros, mostrando redes urbanas formadas corn divers ascategorias de cidades distinguidas em niveis hierarquicos, sao coi-sa agradavel de olhar, sem duvida instrumento de aproximaeaoda realidade, mas nao suficiente para sua interpretacao. Essetipo de classificaeao em niveis sucessivos deixa de ter significacaoa proporcao que cada cidade passa a ter uma relacao direta corna demanda de sua regiao, e a proporcao que cada regiao se es-pecializa: uma especializaeao regional, que e, tambem, especiali-zaeao da demanda ligada ao consumo produtivo. A cidade se dobraa essa demanda, se reform a, se reorganiza, se refaz, se recria.

!;!a diferenciafao p~rque as demandas ~§l respostas divergemsegundo os lugares, os produtos, os niveis de tecnicidade e capi-t"iilizafao.Ha c~~plexificafaoporque as atividades agricolas, ho}etao demandantes de saber, conhecimento e trabalho intelectu~)~tao exigentes de informaeao, tornam mais variada e densa a or-ganizaeao sociafde cad a cidade.

Essas diferenciafoes regionais deverao e poderao ser vistasatraves dos graus diversos de organizaeao do territorio, analiseque supde a considerafao dos dados materiais e nao-materiais,

.isto e, dos sistemas de engenharia e dos sistemas sociais, cujoconjunto define 0 espaco produtivo, uma soma que se da entre 0

espaco produzido e a acao produtiva. 0 grau de urbanizacao etanto mais avancado quanto mais densos e complexos forem ossistemas de engenharia (Santos, 1988) e os sistemas sociais pre-sentes numa area.

o conhecimento dos sistemas de engenharia presentes em cadaarea e, pois, urn dado analitico fundamental, instruindo-nos sobreas possibilidades e os limites a acao dos sistemas sociais. Vendocoma se difundem os novos sistemas de engenharia sobre 0 ter-ritorio, tambern vislumbramos as tendencias quanto ao fenomenoda urbanizaeao. Nesse sentido, aventuramo-nos a dizer que os

TENDENCIAS DA URBANIZAc;::Ao BRASILEIRA 125obstaculos que, no Nordeste, se opoem, hoje, a intensificacao daurbanizacao, rapidamente serao desmanchados. Essa area, ondea urbanizacao tern os indices mais baixos no Pais, vai conhecernos proximos dez anos aceleracao surpreendente do seu processode urbanizaeao.

De toda maneira, vivemos ja urn novo patamar da integrafa;~territorial brasileira, corn uma nova qualidade do sistema urbano,nao apenas por causa da maior densidade da configuracao terri-torial, mas tambem por causa de sua maior espessura. FernandBraude 1 utilizou freqiientemente essa e;qJressiio,referindo-se aotempo: a espessura do momento historico. Essa palavra pode tam--'hem ser usada em geografia: a espessura do sistema espacial.Essa espessura lhe e dada, exatamente, pelo uso da ciencia, datecnologia e da informacao, e cria as condicoes para maior divisaodo trabalho, mais solidariedade e maior peso dos fatores organi-zacionais, levando a maior rapidez,' e maior vigor, ou mesmo bru-talidade, nas mudancas de hierarquia.

Estarfamos, agora, deixando a fase da mera urbanizacao dasocledade, para entrar em outra, na qual defrontamos a urbani~-zafao do territorio. A chamada urbanizacao da sociedade foi 0 j

resultado da difusao, na sociedade, de variaveis e nexos relativosa modernidade do presente, corn reflexos na cidade. A urbanizacaodo territorio e a difusao mais ampla no espaco das variaveis edos nexos modernos. Trata-se, na verdade, de metaforas, pois 0

urbano tambern mudou de figura e as diferencas atuais entre acidade e 0 campo sao diversas das que reconhecfamos ha algunspoucos decenios.

Os processos vigentes permitem-nos imaginar que as cidades pe-quenas tendem a persistir no Brasil dos proximos anos, apesar dadensificacao da rede de transportes e isso porque, entre outras ra-zdes, 0 espectro de consumo ainda esta longe de ser completado noBrasil. 0 mimero de consumidores e ainda pequeno, ao passo queaumenta sem cessar 0 mimero de objetos e services a consumir.Acrescente-se a isso 0 fato de que 0 consumo produtivo da agriculturamodern a amplia na cidade proxima a exigencia de uma presencalocal de informacao e trabalho intelectual. E leve-se, tambern, emconta a nova forca atribuida aos municfpios corn a redistribuicaofiscal estabelecida pela Constituicao de outubro de 1988. -- Deveremos, tambem, levar em conta 0 contexto internacional,que aponta para crescente cornpetieao entre metropoles. Qual

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po

126 TENDENCIAS DA URBANlZAQAo BRASILEIRA

sera 0 papel das antigas e novas cidades internacionais no jogoexterno e no jogo interno do poder economico? Qual a nova logicadas relacoes inter-regionais e interurbanas em nivel mundial equal sera 0 seu rebatimento intranacional? Havera aumento dodesnivel entre centros dentro do Pais? Como os centros mundiais(de outros pafses) influirao sobre a nossa rede urbana?

EssasJ)erguntas nao tern ap_enas que ver corn os fatores cha-madOS de mercado, rnas corn decisoes pohticas. Em que medida,por exemplo, 0 Mercosul tera efeito sobre essa evolucao? Repeti-mo-nos. 0 futuro nao e feito apenas de tendencias, mas de ten-dencias e de vontade. Por isso, ele tambem vai depender das po-liticas publicae que possam ser geradas, incluindo saber se 0 Paisse encaminhara para uma ainda mais rapida oligopolizacao daeconomia, do territorio, da cidade, e 0 papel que tomara, nessemomento, uma polftica neoliberal ou 0 referee do mercado interno.Em que medida a expansao do meio tecnico-cien~ifico .respongel."!a urn processo concomitante de oligopolizacao nao e urn impera-tivo tecnico, mas depende da vontade pohtica. . -

Por outro lado, 0 futuro urbano tambem vai depender da formaque tomara a flexibilizacao tropical em nossas cidades, em con-trap onto a decantada flexibilizacao oriunda do progresso tecno-logico, criadora, alias, de rigidez. Em nosso Pais, ja conhecemosdesde muito uma flexibilizacao tropical do trabalho, que e 0 me-canismo pelo qual se criam tantos empregos urbanos, evitandoa explosao das cidades. A forma coma se da 0 processo de invo-lucao urbana assegura trabalho para centenas de milhares depessoas dentro das cidades. Essa e uma pergunta crucial: comasera 0 trabalho nos proximos anos? Da forma coma ele for, de-pendera a forma como a urbanizacao se dara, tambern porque afpode estar a semente de nova consciencia politica, Ora, a vontadepolitica e 0 fator por excelencia das transfusoes sociais. Nesseparticular, as tendencias que assume a urbanizacao neste fim deseculo aparecem coma dado fundamental para admitirmos que 0

processo ira adquirir dinamica polftica propria, estrutural, apon-tando para uma evolucao que podera ser positiva se nao for bru-talmente interrompida.

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Page 70: SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira

NOMINATA DAS DEZ MAIORES CIDADES BRASILEIRAS NAS DATAS DOS RECENSEAMENTOS GERAlS

1872 1890 1900 1920 1940 1950 1960 1970 1980 1991522.651 811.443 1.157.873 1.764.141 2.377.451 3.281.908 4.251.918 5.090.700 5.336.179174.412 205.813 283.422 290.443 417.235 649.453 1.007.195 1.493.685 2.056.013111.556 113.106 238.843 348.424 524.682 789.336 1.060.701 1.200.378 1.290.14950.064 96.560 236.402 206.331 254.949 399.222 633.37434.269 53.433 85.238 142.407 186.30952.421 73.647 179.263 272.232 394.151 635.125 885.545 1.125.477 1.262.63140.902 48.369 78.536 180.185 270.169 507.108 857.980 1.307.611 1.758.334

Rio de JaneiroSalvadorRecifeBelernNiter6iPorto AlegreFortalezaCuiabaSao LufsSao PauloManausTeresinaCuritibaBelo HorizonteSantosNova IguaeuSanto AndreGoianiaBrasflia

274.972129.109116.67161.99747.54843.99842.45835.98731.60431.385 64.934

38.72031.523

239.82050.300

579.033 1.326.261 2.198.096 3.781.446 5.924.615 8.493.226 9.480.42775.704

49.755 78.986 356.830 609.026 1.204.975 1.290.142683.908 1.235.030 1.780.855 2.048.861262.997

211.377169.889

352.724206.920

1.094.805 1.286.337418.826

1.176.935 1.596.274

Fontes: 1872 a 1970 - Anuario estatistico do Brasil, 1984, p. 81; exceto para Santos e Santo Andre.Santos, 1940 -Anuario estatistico do Brasil, ano VI, 1941-1945, IBGE, Conselho Nacional de Estatfstica, Rio de Janeiro,

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Page 71: SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira

MUNICiPIOS BRASILEIROS, POR ESTADO, COM 100.000 HABITANTES OU MAIS, EM 1991, E POPULA«;Ao EM 1980.PORCENTAGEM DA POPULA«;Ao MUNICIPAL SOB RE 0 TOTAL ESTADUAL E TOTAL DO BRASIL

Popular;iio Porcentagem da popular;iio municipal sobre a populaciiodo Estado e do Brasil 1980/1991Estados Municipios

1980 1991 Estado Brasil1980 1991 1980 1991Rond6nia Porto Velho 133.898 286.400 27 25 Oll 020Total 01 133.898 286.400 27 25 O,ll 0,20Acre Rio Branco 177.103 196.923 3887 4717 001 013Total 01 177.103 196.923 38,87 47,17 0,01 0,13Amazonas Manaus 618.435 1.010.558 4324 48,38 052 0,70Total 01 618.435 1.010.558 43,24 48,38 0,52 0,70Roraima Boa Vista 51.662 142.813 65,26 66,18 004 010Total 01 51.662 142.813 65,26 66,18 0,04 0,10Para Abaetuba 74.545 100.016 219 197 006 007Altamira 45.068 120.556 132 237 003 008Belern 933.287 1.246.435 2742 24,51 078 090Castanhal 65.251 101.976 192 201 005 007Itaituba 38.584 118.088 1,13 2,32 003 008Maraba 37.713 121.814 1,11 240 003 008Santarern 191.950 265.105 564 521 016 018Total 07 1.386.398 2.073.990 4074 4079 117 142Amapa Macana 111.061 179.609 6337 6114 009 012Total 01 111.061 179.609 63,37 61,14 0,09 0,12Tocantins Arazuatna 71.566 103.396 969 11,24 006 007Total 01 71.566 103.396 9,69 11,24 0,06 0,07

Populaciio Porcentagem da populaciio municipal sobre 0 populaciiodo Estado e do Brasil 1980/1991Estados Municipios

Estado Brasil1980 19911980 1991 1980 1991

125.507 145.709 3,14 2,96 010 010Maranhao Caxias2,27 009 008Cod6 108.965 111.537 273

169.804 276.450 425 5,6 0,14 019Imoeratriz82.601 116.132 2,07 2,36 007 008Santa Luzi a

449.432 695.780 II 25 14,14 038 048Sao Lufs2 18 006 007Timon 74.403 107.394 186

1.010.712 1.453.002 2529 2952 085 100Total 06102.181 127.986 478 496 009 009Piauf Parnafba

23,19 0,32 041Teresina 337.774 598.449 17,66

479.955 726.435 22,44 28,14 0,40 0,50Total 0294.108 163.793 178 258 008 011Ceara Caucaia

1.307.611 1.758.334 24,73 27,68 1,10 1,20Fortaleza273 011 012Juazeiro do Norte 135.616 173.304 256

37.884 157.062 072 2,47 003 011Maracanau103.762 127.449 196 201 009 090Sobral

1.679.001 2.379.942 3175 3746 141 163Total 057,95 011 013Rio Grande Mocor6 130.950 191.959 690

25,13 0,35 0,42do Norte Natal 416.898 606.541 21,96547.848 798.500 2886 3308 046 055Total 02

1019 021 022Campina Grande 247.820 326.153 895Parafba1553 028 034Joao Pessoa 329.942 497.214 1191

577.762 823.367 20,86 25,73 0,49 0,56Total 02

Page 72: SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira

Estados MunicipiosPopulaciio Porcentagem da populaciio municipal sobre a populaciio

do Estado e do Brasil 1980/1991

1980 1991 Estado Brasil

Pernambuco1980 1991 1980 1991

Cabo 104.157 125.551 170 176 009 009Camarazibe 93.284 100.390 152 141 008Caruaru

007172.532 213.557 281 300 015

Garanhuns015

87.038 103.293 1,42 145 007 007.Iaboatao dos Guararanes 330.414 482.434 5,38 679 028 0,33OIinda 282.203 340.673 459 479 024 023Paulista 118.634 211.024 1 93 2,97 010 014Petrolina 104.300 174.972 170 246 009 012Recife 1.200.378 1.290.149 1954 1815 101 090Vit6ria de S. Antao 93.203 106.644 152 150 008 007

Total 10 2.586.143 3.148.487 42,10Alagoas Araniraca

44,28 2,17 2,15124.477 165.347 628 658 010

Macei60,11

399.298 628.209 20,14 25,00 0,33 0,43Total 02 523.775 793.556 26'42 3158 044 054Sergipe Aracaju 293.131 401.244 2571 2689 025Total 01

027293.131 401.244 2571 2689 025 027

Bahia Alazoinhas 96.538 116.488 102 099 008 008Carnacari 69.451 108.865 073 092 006 007Feira de Santana 291.504 405.691 308 344 025 028Ilheus 131.454 223.352 139 189 011 015Itabuna 144.201 185.180 153 157 012.Iequie

013116.868 135.497 124 115 010 009

Juazeiro 94.399 128.378 100 109 008 009Salvador 1.493.685 2.056.013 1580 1742 126 141

PopulaciioPorcentagem da populaciio municipal sobre a popular;ao

do Estado e do Brasil 1980{1991Estados Munictpios Estado Brasii

1980 19911980 1991 1980 1991

Bahia Vit6ria da Conauista 170.624 224.926 184 1,91 014 015

Total 09 2.608.724 3.584.390 27,60 30,07 2,20 2,45

Minas Gerais Barbacena 86.388 100.038 065 064 007 007

Belo Horizonte 1.780.855 2.048.861 1331 1301 1,50 140

Betim 84.183 170.616 063 108 007 0'12

Caratinza 1l0.035 125.640 082 080 009 009

Contagem 280.477 448.822 2 10 2,85 024 031

Divin6polis 117.330 151.345 098 096 o 10 010

Govcrnador Valadares 196.115 230.487 1,47 1,46 o 16 0,16

Ioatinza 150.322 179.696 1 12 114 o 13 012

Juiz de Fora 307.525 385.756 2,30 2,45 026 026

Mentes Claros 177.308 247.286 133 157 015 017

Patos de Minas 86.121 102.698 064 065 007 007

Pocos de Caldas 86.972 110.152 065 070 007 008

Ribeirao das Neves 67.257 143.874 050 091 006 010

Santa Luzia 59.892 137.602 045 087 005 009

Sete Lazoas 100.628 143.611 075 091 008 010

Te6fi1o Ottoni 128.827 140.639 096 089 011 010

Uberaba 199.203 210.803 149 134 o 17 014

Uberl aridi a 240.961 366.711 180 233 020 025

Total 18 4.260.399 5.444.599 31,84 34,58 3,58 3,73

Page 73: SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira

Populaciio Porcentagem da populaciio municipal sobre a populaciio

Estados Municipios do Estado e do Brasil 1980/1991

1980 1991 Estado Brasil1980 1991 1980 1991

Espfrito Cachoeiro do Itanemirim 113.290 143.763 560 553 010 010Santo Cariacica 189.089 274.450 9,35 10,56 0,16 0,19

Colatina 102.563 106.712 510 411 009 007Linhares 106.207 119.501 525 460 009 008Serra 82.581 221.513 408 853 007 015Vila Velha 203.406 265.249 1005 1021 017 018Vit6ria 207.747 258.245 1027 994 017 018

Total 07 1.004.883 1.388.433 4966 5344 084 095Rio de Janeiro Barra Mansa 154.741 167.124 137 1,33 013 011

Cam DOSdos Goitacases 335.776 388.640 297 309 028 027Duque de Caxias 575.814 664.643 5 10 5,28 048 045Itaboraf 114.540 161.274 101 128 010 011Itazuat 90.133 113.010 080 090 008 008Macae 66.231 100.646 059 080 006 007Maze 166.602 191.359 148 152 014 013Nil6Dolis 151.588 157.819 134 125 013 011Niter6i 397.123 416.123 352 331 033 028Nova Friburzo 123.370 166.941 1 10 133 010 011-+ Nova Izuacu 1.094.805 1.286.337 970 1022 092 088 ~Petrooolis 229.502 255.211 203 203 019 017Rio de Janeiro 5.090.700 5.336.179 4508 4240 428 365Sao Goncalo 615.352 747.891 545 594 052 051

Pop ulociioPorcentagem da populaciio municipal sobre, a populaciio

do Estado e do Brasil 1980/1991Estados I Municipios Estado Brasil

1980 19911980 1991 1980 1991

Rio de Janeiro Sao .Ioao do Meriti 398.826 425.038 353 338 034 029

'I'sresooolis 98.705 120.701 107 096 008 008

Volta Redonda 183.641 220.086 195 175 015 015

Total 17 9.887.449 10.919.022 8757 8677 831 747

Sao Paulo Americana 122.004 142.581 049 0,46 0,10 011

Aracatuba 129.304 159.499 052 051 012 0.11

Araraqu ara 128.109 166.190 051 0,53 012 0,11

Barueri 75.336 130.248 030 042 006 0.09

Bauru 186.664 260.382 075 083 o 16 018

Brazanca Paulista 84.048 108.448 034 035 007 007

Campi nas 664.559 846.084 265 271 056 058

Caranicufba 185.816 283.183 074 091 016 019

Diadema 228.660 303.586 091 097 019 021

Embu 95.800 138.520 038 044 008 009

Franca 148.997 232.656 060 075 013 016

Guaruia 151.127 203.386 060 065 013 014

Guarulhos 532.726 781.499 213 251 045 053

Indaiatuba 56.237 100.736 022 032 005 007

Itaoetininza 84.384 105.049 034 034 007 007

Itaoevi 53.441 107.796 021 035 004 007

Itaauaauecetuba 73.064 164.508 029 053 006 0,11

Itu 74.204 106.872 0,30 0,34 0,06 0,07

I

Page 74: SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira

Populactio Porcentagem da populaciio municipal sobre a populaciioda Estado e do Brasil 1980/1991

Estados Municipios1980 1991 Estado Brasil

1980 1991 1980 1991Sao Paulo Jacaref 115.732 163.125 0,46 0,52 0,10 0,11

Jundiaf 258.808 312.517 103 10O 0,22 0,21Limeira 150.558 207.405 0,60 0,66 0,13 0,14

Marfli a 121.774 151.760 0,49 0,49 0,10 0,10

Maua 205.740 292.611 0,82 0,94 0,17 0,20

Moji das Cruzes 197.946 272.942 0,79 0,88 0,17 0,19

Moji-Guacu 73.549 107.440 0,29 0,34 0,06 0,07

Osasco 474.543 563.419 ·1,90 1,81 0,40 0,39

Pindamonhangaba 69.562 101.843 0,28 0,33 0,06 0,07

Piracicaba 214.295 283.540 0,86 091 0,18 019

Praia Grande 66.011 122.104 0,26 0,39 0,06 0,08

Presidente Prudente 136.846 165.447 0,55 0,53 0,12 0,11

Ribeirao Preto 318.496 430.805 1,27 1,38 0,27 0,29

Rio Claro 110.212 137.509 0,44 0,44 0,09 0,09Santa Barbara d'Oeste 76.621 121.531 0,31 0,39 0,06 0,08

Santo Andre 553.072 613.672 2,21 1,97 0,46 0,42Santos 416.681 428.526 1,66 1,37 0,35 0,29

Sao Bernardo do Campo 425.602 565.171 17O 181 036 039Sao Caetano do SuI 163.082 149.125 0,65 0,48 0,14 0,10

Sao Carlos 119.542 158.139 0,48 0,51 0,10 0,11

Sao Jose do Rio Preto 188.601 283.281 0,75 0,91 0,16 0,19

Sao Jose dos Campos 287.513 442.728 1,15 1,42 0,24 0,30

Popular;iioPorcentagem da populaciio municipal sobre a populaciio

I do Estado e do Brasil 1980/1991

Estados Municipios Estado Brasil1980 1991

1980 1991 1980 1991

8.493.226 9.480.427 33,92 30,39 7,12 6,49Sao Paulo Sao Paulo

0,82 0,16 0,17Sao Vicente 193.002 254.718 0,77

269.830 377.270 1,08 1,21 0,23 0,26Sorocaba

0,73 0,09 0,15Sumare 101.834 226.361 0,41

101.056 156.312 0,40 0,50 0,09 0,11Susano

0,39 0,51 0,08 0,1197.655 159.770Taboao da Serra

0,66 0,14 0,14169.265 205.070 0,68

Taubate6886 6821 1449 146O

17.245.124 21.275.791Total 47

1,84 2,29 0,12 0,13Parana Cascavel 140.706 192.673

62.881 117.937 0,82 1,40 0,05 0,08Colombo

15,33 0,86 0,881.024.975 1.290.142 13,43

Curitiba2,24 0,10 0,13

Foz do 19uacu 124.789 188.190 1,64

1,65 1,90 0,11 0,11Guarapuava 125.757 159.573

301.711 388.331 3,55 4,61 0,25 0,27Londrina

168.239 239.930 2,21 2,85 0,14 0,16Maringa

107 128 007 007Paranalnla 81.974 107.583

70.640 106.542 0,93 1,27 0,06 0,07Piraauara

2,45 2,80 0,16 0,16Ponta Grossa 186.647 233.517

0,93 1,51 0,06 0,08Sao Jose dos Pinhais 70.634 127.413

100.545 100.246 1,32 1,19 0,08 0,07Umuarama

2.459.498 3.252.077 32,24 38,64 2,07 2,23Total 12

Page 75: SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira

EstadosPopulaciio Porcentagem da populociio municipal sobre a populaciio

Municipios do Estado e do Brasil 1980/1991

1980 1991 Estado Brasil1980 1991 1980 1991Santa Blumenau 157.258 211.677 4,33

Catarina Chapec64,67 0,13 0,14

83.768 122.882 2,31 271 007 008Criciurna 101.379 146.159 2,79 3,22 0,09 0,10Florian6polis 187.871 254.944 5,18 5,62 0,16 0,17Itajaf 86.460 119.583 2,38 2,64 0,07 0,08Joinvile 235.812 346.095 6,50 7,63 0,20 0,24Laies 129.685 150.866 3,57 3,33 0,12 0,10Sao Jose 87.817 139.205 2,42 3,07Total 08

0,07 0,101.070.050 1.491.411 29,49 32,88 0,90 1,02Rio Grande Alvorada 91.380 140.005 118 153do SuI Baje 008 010

100.135 118.689 1,29 1,30 0,08 0,08Canoas 220.425 278.997 2,84 3,06 0,19 0,19Caxias do SuI 220.566 290.968 2,84 3,19 0,19 0,20Gravataf 103.321 180.927 1,33 1,98 0,09 0,12Novo Hamburgo 136.503 200.879 1,76 2,20 0,11 0,14Passo Fundo 116.534 147.215 1,50 1,61 0,10 0,10Pelotas 241.110 289.494 3,10 3,17 0,20 0,20Porto Alegre 1.125.477 1.262.631 14,48 1383 095 086Rio Grande 146.115 172.435 1,88 1,89 0,12 0,12Santa Cruz do SuI 98.120 117.795 1,26 1,29 0,08 0,08Santa Maria 179.948 217.565 2,30 2,38 0,15 0,15Sao Leopoldo 98.592 167.740 1,27 1,84 0,08 0,11

Populaciio Porcentagem da populaciio municipal sobre a populaciiodo Estado e do Brasil 1980/1991

Estados MunictpiosEstado Brasil

1980 19911980 1991 1980 1991

Rio Grande Sapucaia do SuI 79.367 104.841 1,02 1,15 0,07 0,07do SuI Uruzuaiana 91.497 117.457 118 1,29 008 008

Viamao 117.418 168.467 1,51 1,85 0,10 0,12Total 16 3.165.508 3.876.105 40,72 42,72 2,66 2,65Mato Grosso Campo Grande 291.777 525.612 21,30 29,55 0,25 0,36do SuI Dourados 100.987 135.779 7,37 7,63 0,08 0,09Total 02 392.764 661.391 28,68 37,19 0,33 0,45Mato Grosso Cuiaba 209.553 401.112 18,40 19,85 0,18 0,27

Rondon6polis 81.366 125.107 7,15 6,19 0,07 0,09Varzea Grande 76.676 161.608 6,73 800 006 011

Total 03 367.595 687.827 3228 3404 031 047Goias Anapolis 180.015 239.047 5,77 5,94 0,15 0,16

Aparecida de Goiiinia 42.597 178.326 1,36 4,43 0,03 0,12Goiiinia 714.174 920.838 22,88 22,88 0,60 0,63Luziania 79.079 207.257 2,53 5,15 0,07 0,14

Total 04 1.015.865 1.545.468 3255 3840 085 106Dist. Federal Brasflia 1.176.935 1.596.274Total 01 ( 1.176.935 1.596.274

Fonte: Censo Demogrtifico 1991. Resultados preliminares. Ministerio da Economia e Planejamento, IBGE, Rio de Janeiro, 1992.

Page 76: SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira

148 ANEXO ESTATfSTICO

POPULAyAo. BRASIL E ESTADOS, 1980 E 1991

Populacao

1980 1991

Brasil 119.002.706 146.154.502Estados

Rond6nia 491.069 1.130.400

Acre . 301.303 417.437

Amazonas 1.430.089 2.088.682Roraima 79.159 215.790

Para 3.403.391 5.084.726

Arnapa 175.257 289.050

Tocantins 738.884 920.133Maranhao 3.996.404 4.992.339

Piauf 2.139.021 2.581.054

Ccara 5.288.253 6.353.346

Rio Grandc do Norte 1.898.172 2.413.618

Parafba 2.773.176 3.200.620

Pcrnambuco 6.143.272 7.109.626Alagoas 1.982.591 2.512.515Sergipe 1.140.121 1.492.400

Bahia 9.454.346 11.801.810

Minas Gerais 13.378.553 15.746.200

Espfrito Santo 2.023.340 2.598.231

Rio de Janeiro 11.291.520 12.584.108

Sao PauIo 25.040.712 31.192.818

Parana 7.629.392 8.415.659

Santa Catarina 3.627.933 4.536.433

Rio Grande do SuI 7.773.837 9.127.611Mato GI'OSSOdo SuI 1.369.567 1.778.494

Mato Grosso 1.138.691 2.020.581Coias 3.120.718 4.024.547

Distrito Federal 1.716.935 1.596.274

\

Fonto: Censo Demografico 1991. ResuItados Preliminares. Ministerio da Economiae Planejamento, lBGE, Rio de Janeiro, 1992.

= _=-- J ~

ANEXO ESTATISTlCO 149POPULAr;::Ao DAS CIDADES COM MAlS DE 20.000 HABITANTES NAS

DATAS DOS RECENSEAMENTOS GERAIS. 1940, 1950, 1960, 1970 E 1980.

Unidades da RecenseamentoFederaciio e Regioes 1940 1950 1960 1970 1980

Norte 231.527 340.859 566.537 1.065.713 2.116.191Rond6nia - - - 41.635 132.807Acre - - - 34.938 87.449Amazonas 66.854 110.678 154.040 286.083 667.822Para 164.673 230.181 384.912 650.510 1.096.167Roraima - - - - 43.016Arnapa - - 27.585 52.547 88.930Nordeste 1.237.353 2.118.421 3.520.600 6.375.003 9.864.645Maranhao 58.735 81.432 124.606 269.308 554.557Piauf 57.871 84.325 139.957 276.620 540.685Ceara 164.391 279.310 468.293 745.658 1.096.855

Rio Grande do Norte 51.479 118.312 193.109 360.234 571.374

Parafba 104.976 185.040 299.944 547.163 801.414Pcrnambuco 379.107 683.492 1.090.022 1.891.401 2.508.897

"Alagoas 80.045 102.301 153.305 365.281 522.731Scrgipe 50.306 68.686 112.516 202.800 342.452Bahia 290.443 515.523 938.848 1.716.538 2.925.680Sudeste 4.018.799 7.055.936 12.293.395 21.290.124 31.717.959Minas Gerais 300.974 693.861 1.732.224 3.259.128 5.230.798Espfrito Santo 42.098 75.940 180.002 301.503 551.163

Rio de Janeiro 1.759.395 2.969.093 4.439.564 6.445.856 8.090.366Sao Paulo 1.916.332 3.317.042 5.941.605 11.283.637 17.845.632Sul 634.202 1.104.150 2.450.653 4.312.664 7.787.185Parana 128.800 219.186 630.983 1.157.385 2.628.946Santa Catarina 25.014 113.328 294.116 580.801 1.271.109

Rio Grandc do SuI 480.388 771.636 1.525.554 2.574.478 3.887.130Centro-Oeste 23.054 98.551 415.455 1.179.087 2.673.121Mato Grosso - 24.119 43.112 109.049 321.057

Mato Grosso do Sui 23.054 32.848 101.221 249.916 539.560Goias - 41.584 181.424 543.117 1.401.199

Distrito Federal - - 89.698 277.005 411.305

BRASlL 6.144.935 10.717.917 19.246.640 34.222.591 54.159.101

Page 77: SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira

150 ANEXO ESTATiSTICO

POPULAOAo DAS CIDADES E DAS VILAS COM MAIS DE 20.000HABITANTES NAS DATAS DOS RECENSEAMENTOS GERAIS.

1940, 1950, 1970 e 1980.

'il

Unidades da RecenseamentoFederaciio e Regioes 1940 1950 1960 1970 1980

Norte 231.527 340.859 566.537 1.095.931 2.174.469Rondonia - - - 41.635 132.807Acre - - - 34.938 87.449

Amazonas 66.854 110.678 154.040 286.083 667.822Para 164.673 230.181 384.912 680.728 1.154.445

Roraima - - - - 43.016Amapa - - 27.585 52.547 88.930Nordeste 1.237.353 2.143.660 3.648.350 6.924.808 11.055.042Maranhao 58.735 81.432 124.606 307.460 619.587Piauf 57.871 84.325 139.957 276.620 540.685Ceara 164.391 304.549 560.827 1.057.865 1.787.452

Rio Grande do Norte 51.479 118.312 193.109 360.234 607.362Parafba 104.976 185.040 299.944 547.163 837.749Pernambuco 379.107 683.492 1.125.238 2.090.847 2.871.344

Alagoas 80.045 102.301 153.305 365.281 522.731Sergipe 50.306 68.686 112.516 202.800 342.452

Bahia 290.443 515.523 938.848 1.716.538 2.925.680Sudeste 4.018.799 7.158.751 12.841.257 23.469.886 35.909.353Minas Gerais 300.974 693.861 1.774.034 3.462.252 5.918.491Espfrito Santo 42.098 75.940 227.717 444.806 886.241Rio de Janeiro 1.759.395 3.071.908 4.805.288 7.554.312 9.738.991Sao Paulo 1.916.332 3.317.042 6.034.218 12.008.516 19.365.630Sul 634.202 1.104.150 2.450.653 4.509.920 8.163.823Parana 128.800 219.186 630.983 1.297.569 2.860.393Santa Catarina 25.014 113.328 294.116 614.334 1.312.268Rio Grande do SuI 480.388 771.636 1.525.554 2.598.017 3.991.162Centro-Oeste 23.054 98.551 415.455 1.398.297 3.442.716Mato Grosso - 24.119 43.122 109.049 381.621Mato Grosso do SuI 23.054 32.848 101.221 249.916 539.560Goias - 41.584 181.424 543.117 1.401.199

Distrito Federal - - 89.698 496.215 1.120.336BRASIL 6.144.935 10.845.971 19.922.252 37.398.842 60.745.403

MAPAS 151

Aglomera~5es corn mais de20.000 habitantes em 1940

RECIFE

OKln 200 400 600 lOO 1000! I'!'

Page 78: SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira

152 MAPAS

,'11

\

~

Aglomera~5es corn mais de20.000 habitantes em 1950

JOAOPfSSOA

RfCIFE

Of

Okm 200 ~oo 600 too 1000I , ! ! ! ,

MAPAS

Aglomera~5es corn mais de20.000 habitantes em 1960

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AglomeraQoes com mais de20.000 habitantes em 1980

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INDICE DOS AUTORES CITADOS

ABLAS, Luiz Augusto de Queiroz, 12, 40,ABREU, Mauriciode Almeida, 12ALESSIO, Nancy, 22ALMEIDA, Fernando Lopes de, 12AMARAL, A., 42nARMSTRONG, W. R., 55AYDALOT, Philippe, 103AZEVEDO, Aroldo de, 11, 17nAZEVEDO, Thales de, 18n

BASTIDE, Roger, 19, 19nBAUDRILLARD, Jean, 47BECKER, Bertha, 44nBENAKOUCHE, Tamara, 42BETING, Joelmir, 102BOUDEVILLE, Jacques, 38,39BRAMAEKER, Francois E. J. de, 11, 71, 82, 83BRANDAO, Maria de Azevedo, 54BRAUDEL, Fernand, 125BRUM, Argemiro J., 108

CAMPOS FILHO, Candido Malta, 11CARTIER BRESSON, 84,85CELSO, (conde) Afonso, 17CHAGAS, Dorcas, 12COELHO, Maria Celia Nu nes, 52nCORDEIRO, Helena Kohn, 42, 92CORREA, Roberto Lobato, 12, 42, 60, 103, 104nCOTA, Raymundo Garcia, 52n

DAVIDOVITCH, Fany, 11DEFFONTAINES, Pierre, 17nDEMATTEIS, Giuseppe, 81nDIAS, Leila Christina, 42DrEGUES JUNIOR, Manuel, 12

ELIAS, Denise S., 15, 35n, 41n

FARIA, Vilrnar, 11FARRET, Ricardo, 107

155

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156 iNDICE DOS AUTO RES CITADOS

FAVA, Vera Lucia, 12FELDENS, 37nFERNANDES, Florestan, 102FREDRICH, Olga Maria Buarque de Lima, 11, 12FRIEDMANN, John, 39FROHLICH, 37n

GAUDEMAR, Jean-Paul, 121GEIGER, Pedro, 11, 12, 20n, 21, 22, 22n, 42n, 78n, 120GERTEL, Sergio, 35n, 39, 93GOMES, Cilene, 15GONCALVES, Maria Flora, 12GOULART REIS FILHO, Nestor, 11, 17, 18GRAZIANO DA SILVA, Jose, 33, 49n

HEBETTE, Jean, 42n, 44nHOLANDA, Sergio Buarque de, 18nHOSELITZ, Bert, 17

JAGUARIBE, Helio, 119JARDIM, Antonio de Ponte, 11

KARAVAEV,99KAYSER, Bernard, 121

LAMBERT,Jacques, 38, 119LAMPARELLI, Celso, 75LANDA, Jose Allende, 81nLANGENBUCH, Jurgen Richard, 75LAPA, J. R. Amar al, 14LEFEVRE, Henry, 47LINARDI, Maria Cecflia, 35n, 75LOPES, Juarez Rubens Brandao, 22, 22nLU, Martin, 114

MACHADO, Lia Os6rio, 49n, 52, 61MAMIGONIAN, Armen, 12, 62nMARCILIO, Maria Luiza, 22nMARTINE, George, 42n, 120MARX, Murillo, 19MARX, Karl, 103McGEE, Terence G., 55MELLO, Joao Manuel Cardoso de, 105MIRANDA, Mariana, 61MOREIRA, Ruy, 111nMORTARA, Giorgio, 21nMULLER, Nice Lecocq, 12

iNDICE DOS AUTO RES CITADOS 157OLIVEIRA VIANNA, Francisco Jose, 17OLIVEN, Ruben George, 20n, 21, 23, 23nORTIZ, Renato, 46OSTOJIC, Negoslav, 29n

PACHECO, Regina Silvia, I11nPANIZZI, Wrana, 75PAVIANI, Aldo, 75PIH, Lawrence, 99, 100, lOOn, lOInPIMENTA, Luiz, 35nPIMENTA, Margareth , 35nPINTAUDI, Silvana Maria, 111nPINTO, Luiz Carlos Guedes, 42nPRADO JUNIOR, Caio, 18n, 20

RANDOLPH, Rainer, 103, 103nRIBEIRO, Ana Clara Torres, 39, 46, 46n, 47RIBEIRO, Darcy, 15RICHTA, Radovan, 38ROSINGER, 84, 85ROSSINI, Rosa Ester, 24, 31, 51n, 121ROUX, Jean-Michel, 108

SAMPAIO, Theodoro, 18nSANTOS FILHO, Milton, 40SANTOS, Wilson, 35nSCHENEIDER, 37nSCHMIDT, Benicio, 107SERRA, Geraldo, 11-12SIEGFRIED, Andre, 35SILV A, Barbara Christine Nentwig, 72nSILVA, Sylvio Bandeira de Mello e, 72nSINGER, Paul, 12SORRE, Maximilien, 35, 66SOUZA, Maria Adelia A. de, 57, 75, 113STECHHAHN, Carlos, 55nSTIPETIC, Vladimir, 29nSUZIGAN, Wilson, 21n, 22, 23, 23n

TRICKOVIC, Vidosav, 29n

VALLADARES, Licia, 12VASCONCELLOS, Sonia, 99VILLELA, Annibal Vilanova, 21n, 22, 23, 23n

ZANTMAN,84,85

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