santa clara

41
INTRODUÇÃO GERAL AOS ESCRITOS DE SANTA CLARA Não raras vezes, como ensina a história, a fama das gran- des almas contemplativas ultrapassa os muros dos claustros e, fazendo repercutir no mundo e na Igreja silenciosas experiências místicas, chega a marcar, por vezes de maneira indelével, o ritmo e o rumo do tempo em que viveram. Santa Clara foi, sem dúvida, uma mulher que marcou a sua época. Como primeira mística franciscana, viveu a sua experiên- cia de Deus no silêncio do Mosteiro de São Damião. Mas a clari- dade das suas virtudes irradiou muito para além dos muros do mosteiro.Disso nos dá conta a Legenda de Celano. Por ela pode- mos ver como São Damião era um autêntico centro de peregrina- ções, um refúgio para todos os que, sobrecarregados com tribula- ções de toda a ordem, recorriam aos remédios espirituais de Santa Clara ( 1 ). A influência, porém, que exerceu no mundo do seu tem- po não se confinou a Assis e às suas redondezas. Spaetling ( 2 ), comparando a obra e a influência de Clara com outras mulheres célebres do seu tempo que marcaram posição de destaque na Ida- de Média, tais como Hildegarda (†1179), a vidente de Rupertus- burg, Maria de Oignies (†1213), fundadora de várias casas de beguinas, Santa Isabel da Turíngia (†1231) e as escritoras míst i- cas Matilde de Magdeburgo (†1258), Matilde de Hackborn (†1259), Gertrudes, a Grande (†1302) e Ângela de Foligno (†1309), conclui que Santa Clara influenciou mais do que qual- quer outra mulher o mundo e a Igreja do seu tempo, e pertence ————— 1 Ver TRIVIÑO, M. V., Vocación eclesial de la Clarisa, in SelFran., 33 (1982), pp. 466-68. Sem pôr em causa a opção radical pela "vita abscondita", a autora aponta o serviço aos doentes como um aspecto do carisma de Santa Clara e da comunidade de São Damião, que está a ser recuperado por algumas comunidades dos Estados Unidos. 2 Ver SPAETLING, L., Die geistige Gestalt der Hl. Klara von Assisi, in Fran- Stud., 35 (1953), pp. 145-173.

Upload: bruna-santos-de-souza

Post on 16-Aug-2015

27 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

Santa Clara é a padroeira da televisão, seguidora de São Francisco de Assis, e é conhecida como a Santa que ilumina os caminhos. É uma Clara é uma das santas mais conhecidas pelos católicos e possuí inúmeros seguidores mundialmente. Mas poucos conhecem a sua história. Este documento traz um pouco da vida de Santa Clara para quem busca conhece-la um pouco melhor

TRANSCRIPT

INTRODUOGERALAOSESCRITOS DESANTACLARA No raras vezes, como ensina a histria, a fama das gran-desalmascontemplativasultrapassaosmurosdosclaustrose, fazendorepercutirnomundoenaIgrejasilenciosasexperincias msticas, chega a marcar, por vezes de maneira indelvel, o ritmo e o rumo do tempo em que viveram. Santa Clara foi, sem dvida, uma mulher que marcou a sua poca.Comoprimeiramsticafranciscana,viveuasuaexperin-cia de Deus no silncio do Mosteiro de So Damio. Mas a clari-dadedassuasvirtudesirradioumuitoparaalmdosmurosdo mosteiro.Dissonos d conta aLegendadeCelano. Por ela pode-mos ver como So Damio era um autntico centro de peregrina-es, um refgio para todos os que, sobrecarregados com tribula-es de toda a ordem, recorriam aos remdios espirituais de Santa Clara (1). A influncia, porm, que exerceu no mundo do seu tem-ponoseconfinouaAssisessuasredondezas.Spaetling(2), comparandoaobraeainflunciadeClaracomoutras mulheres clebres do seu tempo que marcaram posio de destaque na Ida-deMdia,taiscomoHildegarda(1179),avidentedeRupertus-burg,MariadeOignies(1213),fundadoradevriascasasde beguinas,SantaIsabeldaTurngia(1231)easescritorasmsti-casMatildedeMagdeburgo(1258),MatildedeHackborn (1259),Gertrudes,aGrande(1302)engeladeFoligno (1309),concluiqueSantaClarainfluencioumaisdoquequal-queroutramulheromundoeaIgrejadoseutempo,epertence 1VerTRIVIO,M.V.,Vocacineclesialdela Clarisa, in SelFran., 33 (1982), pp.466-68.Sempremcausaaoporadicalpela"vitaabscondita",aautora apontaoservioaosdoentescomoumaspectodocarismadeSantaClaraeda comunidadedeSoDamio,queestaserrecuperadoporalgumascomunidades dos Estados Unidos. 2 Ver SPAETLING, L., Die geistige Gestalt der Hl. Klara von Assisi, inFran- Stud., 35 (1953), pp. 145-173. 2 indubitavelmentesmaioresfigurasreligiosasfemininasdaAlta Idade Mdia. Comoprimeiramsticafranciscana,fundadoradeuma nova Ordem e como mulher influente do seu tempo, no , pois, de admirar que Santa Clara seja tambm a primeira escritora da sua Ordem, inaugurando assim uma tradio que iria ser seguida por umgrandenmerodesuasfilhasqueatravsdossculossedis-tinguiramnaliteraturamstica(3).Infelizmenteaquantidadedos escritos que chegaram at ns no corresponde importncia e influnciaqueSantaClarateve.Masporestespoucosescritose atravsdedocumentoscontemporneospodemosafirmarsem receioqueClaraeraumamulherinteligenteeculta.Chegamos facilmenteaestaconclusoseanalisarmosomodocomo tratava com Papas e Cardeais, a maneira como se impunha s suas irms eoascendentequetinhasobreaspessoas.Almdissosabemos que escreveu em latim, que dominava melhor do que So Francis-co,comoafirmamalguns(4).Foiemlatimqueescreveuasua Regra, a primeira que uma mulher escreveu e viu aprovada, o que no acontece com outras fundadoras, como Santa Eustquia, San-taGertrudeseabeataUmbelina.SenaRegraelaaparececom todaasuaautoridadedefundadora,nelasenotatambmasua experincia mstica. Mas no Testamento, e sobretudo nas Cartas, que Clara se manifesta como uma verdadeira escritora mstica. verdadequenotemsidocatalogadaentreasgrandes escritoras msticas, como Santa Teresa de Jesus ou Santa Catrina de Sena. Mas, nos poucos escritos que chegaram at ns, as ideias so claras e sobretudo tocam o essencial. Apesar de serem poucos os escritos, Clara de Assis a san-tamaisdocumentadadasuapoca.Osescritossopoucos,mas pela qualidade e autenticidade histrica, so de grande importn-cia. Vamosapresentarotrabalhoemdezpartes.Naprimeira parte os escritos considerados autnticos, a saber: A Regra, o Tes-tamento,asCartaseaBenodeSantaClara.Asegundaparte 3 Ver Prlogo, nota 10. 4 Cf.OMAECHEVARRIA, I., Las Clarisas..., p. 279. 3 composta pelos Documentos Biogrficos: um apontamento sobre a Legenda Versificata, o Processo de Canonizao. Na terceira parte apresentamosoPrivilgiodaPobrezanassuasduasverses.Em quartolugarpublicamososescritosdeSoFranciscoaSanta Clara. Os textos legislativos dados pela Santa S s Irms Claris-sas aparecemna quinta parte: um apontamento sobre a Regra de SoBento,aRegradeHugolino,aRegradeInocncioIVea Regra de Urbano IV. Na sexta parte coligimos os textos das Fontes FranciscanasIquefazemrefernciaaSantaClaraenastima fizemos o mesmo com os textos de So Boaventura. Na oitava par-teaparecemquatrocartasescritasaSantaClaraousirmsde SoDamio.AnonapartedosEscritoscompostadevrios documentosimportantesdopontodevistahistrico.Naltima partedaobraaparecemndicesvrios,umQuadroCornolgico comparadoesuaTbuadeConcordnciadoProcessocoma Legenda.ParaatraduodosescritosautnticosdeSantaClara tivemos presente o texto latino dos Opuscula S. Francisci et Scripta S.ClaraeAssisiensium.Paraosrestantesdocumentostivemos presente o Bullarium Franciscanum e o texto latino da BAC (5). 5BOCCALI,J.M.,CANONICI,L.,OpusculaS.FranciscietScriptaS.Clarae Assisiensium, Publicazione della Biblioteca Francescana, Chiesa Nuova- Assisi, 1978,pp.342-524;SBARALEAE,J.H.,BullariumFranciscanumRomanorum PontificumConstitutiones,Epistolas,acDiplomatacontinens...TI,abHonorio IIIadInnocentiumIV,Roma,1759;OMAECHEVARRIA,I.,EscritosdeSanta Clara y Documentos Contemporaneos, in Biblioteca de Autores Cristianos3Ed.BAC,Madrid,1993.Almdasobrasmaisconsultadasaquejfizemos referncia, usamos tambm a traduo de FREI MARCOS DE LISBOA, Chronica daOrdemdosFradesMenores,Lisboa,1615.TodooLivrooitavodaprimeira parte,pp.204-227dedicadoaSantaClara.ApresentaatraduodaRegra,do Testamento, da Beno de Santa Clara, da Carta de Santa Ins, de parte conside-rveldaLegendaeoutrosdadossobreasirmsClarissas.dastraduesmais antigasquehdosescritosdasantaedeinclculvelvalorhistrico.Aobrade CAPELA, J., Santa Clara de Assis, 4 Ed., Braga, 1992, traz a traduo daRegra e do Testamento. 4 Aolongodotrabalhofaremosumaintroduoacadaum dosescritos,ondedaremosinformaesmaisdetalhadas(6)e apresentaremosliteraturareferenteaalgunsescritosemespecial ou a algum ponto mais controverso, quer do texto quer da dou- trina (7). 6Paraasintrodues,almdasobrasjcitadas,usaremossobretudo: FASSBINDER,M.,UntersuchungenberdieQuellezumLebenderHl.Klara, inFranStud.,23(1936),pp.297-395.Paraosdadossobreacronologiadasanta socorremo-nossobretudode:HARDICK,L.,ZurChronologieimLebenderHl. Klara, in FranStud., 35 (1953), pp. 147-210, citaremos como Chronologie. 7Sobrealiteraturaaparecidaat1954,remetemosparaAUGUSTO,A.,Emlou-vordeSantaClara(1253-1953),Montariol-Braga,pp.325-340.Atravsdaobra faremosrefernciaa alguma literatura a citada. Da literatura mais recente sobre a espiritualidadedeSantaClarapublicadaemPortugalsalientamos: DHONT, R.C., ClaradeAssis,oseuprojectodeVidaEvanglica,trad.Ir.MariaGabrielada Virgem, Ed. Mosteiro das Clarissas de Montalvo, 1980; TRIVIO, M. V.,Espiri-tualidadedeSantaClara,trad.Ir.MariaGabrieladaVirgem,Ed.Franciscana, Braga, 1994; Clara de Assis, Mulher Nova, Carta dos Ministros Gerais da Famlia Franciscana, no Oitavo Centenrio do Nascimento de Santa Clara, Braga, 1993. 5 REGRADESANTACLARA (RCL) 6 7 REGRADESANTACLARA( RCL) INTRODUO OPrimeirotestemunhoescritosobreacomunidadenasci-dasobainflunciadeFrancisco, -nos transmitido por Tiago de Vitry. O captulo 32 da sua obra Orientalis et Occidentalis Historia dedicadoaomovimentofranciscano.Numadascartasque escreveu de Gnova, em 1216, antes de embarcar para o Oriente, relataasimpressesquetevedomovimentoquandopassoupor Persia. A certa altura escreveu: Apesar de todo o mal que gras-sanomundo,encontreiuma grandeconsolao ao ver uma enor-mequantidadedehomensedemulheresarenunciaratodosos benseadeixar,poramordeCristo,avidamundana.Eramvul-garmente chamados Irmos menores e Irms menores. Tanto oSenhorPapacomooscardeaisprofessamumagrandeestima porestesirmos...OgnerodevidadestesIrmosmenores igual ao da comunidade crist primitiva, como se l nos Actos dos Apstolos:Amultidodoscrenteseraumscoraoeumas alma.Dediaandavampelascidadesealdeiasatarefadosna evangelizao; noite, regressavam ao ermitrio e recolhiam-se solido onde levavam vida contemplativa. As mulheres que tinham entradoparaestaOrdempemtudoemcomumeresidemnos arrabaldesdascidadesemhospcioserecolhimentos.Tiramo sustentodotrabalhodassuasmos,recusandotudooqueseja lucro ou paga (8). Este testemunho de Tiago de Vitry mostra-nos como o exemplo de Clara e o estilo de vida que escolheu, arrastou atrsdesimuitasmulheres(9).Viviamsegundooexemploda 8 Fontes I,p. 1413. 9Sobreosmovimentosespirituaisdo sculo XII e XIII, ver literatura indicada em Fontes Franciscanas I - So Francisco de Assis, Escritos, Biografias, Documen-tos,Ed.Franciscana,Braga,1994.Procuramosharmonizaratraduodetextos paralelosesemprequeremetemosparaostextosdeSoFrancisco,paraasFontesIqueremetemos.Almdaliteraturaaapontada,verainda:Movimento Religioso Femminile e Francescanesimo nel secolo XIII , Atti del VII Convegno 8 comunidade deSoDamio.Aocontrriodosirmos,levavamvidaenclausura-da,emcomunidade,seguindoosantoEvangelhoempobrezae humildade. 1.Gnese histrica da Regra de Santa Clara 1. 1 Antes do Conclio de Latro (1215) Noseconhecenenhumaregradestesprimeirosanos. Sabe-se,contudo,queomosteirodeSoDamioviviasegundo umaFormaVivendi(10), escrita por So Francisco e que devia seralgoparecidacomaprimeiraregraqueFranciscoescreveu para os seus frades e que submeteu aprovao de Inocncio III. Ambos os escritos desapareceram e s um texto da Regra de Santa ClaranosdizalgosobreessaFormaVivendi.Essetexto,que nos aparece na Regra, j nos d conta de dois aspectos aos quais Claradesdeoprincpioligoumuitaimportnciaepelosquais lutoudurantetodaavida:Apobrezaealigaoespiritualaos Frades Menores. 1. 2 Depois do Conclio de Latro InternazionaleAssisi,MaggioliEditore,Assisi,1980;BARTOLI,M.,Chiara d'Assisi,IstitutoStoricodeiCappucini,Roma,1989;ZAVALLONI,R.,La personalit di Chiara d'Assisi, Ed. Porziuncola, Assisi, 1993, p.11-40; MONTES, J.S.,ClaradeAsis,herenciaytarea,PublicacionesClaretianas,Madrid,1993, pp.45-167;ASSELDONK,O.van,LoSpiritodlavita,Chiara,Francescoei Penitenti, Ed. Collegio S. Lorenzo da Brindizi, Roma, 1994. cf. Tiago de Vitry, p. 477. 10 A "Forma Vivendi" era certamente mais do que o texto do cap. VI, 2 daRegra de Santa Clara. Este o nico fragmento que nos foi legado. Ver: ESSER, K., Los EscritosdeS.FranciscoaSantaClara,inSelFran.,34(1983),pp.159-169.O autor deste artigo considera a "Forma Vivendi" como o escrito mais antigo de So Franciscoea"ltimavontade"(RCLVI,3),comooltimoescritodosanto.Cf. Schriften, p. 16. 9 Oproblemadeprofessarounouma regra, ps-sesobre-tudo a partir do IV Conclio deLatro (1215). Segundo as orien-taesdoConclio(11),todasasnovasOrdenseramobrigadas a adoptar uma das Regras j existentes. Na prtica significava optar entre a Regra de Santo Agostinho e a de So Bento. S So Fran-cisco,quejcontavacomaaprovaooraldasuaRegrapor InocncioIII,salvouaoriginalidadedaOrdemqueacabavade fundar. Parece no restarem dvidas de que a comunidade de So Damio professou a Regra de So Bento. A determinao com que So Francisco obriga Santa Clara a aceitar o ttulo de abadessa, fazsuporqueaRegradeSoBentoserviudesuportejurdico nova comunidade (12). 1. 3 O Privilgio da Pobreza Apesar de ter professado a Regra de So Bento, Santa Cla-ra pretende conservar a especificidade da sua fundao e pede ao PapaInocncioIIIoPrivilgiodaPobreza,em1216.Estedocu-mento legitima a comunidade de So Damio e todas aquelas que oaceitemavivernamaisestritapobreza,umavezquesupea rennciaatodaapropriedade,mesmoemnomecomunitrio,o que ultrapassava as exigncias da Regra de So Bento(13). Santa Clarasegue,naquestodapobreza,aespiritualidadedeSo Francisco,emborasedevateremcontaqueasuaconcretizao prtica, numa comunidadedevida activa e num mosteiro de vida contemplativa, apresenta aspectos completamente diferentes. 1. 4 A Regra de Hugolino 11 Can. XIII; Chronologie, pp. 188-196. 12 O modo como So Francisco insistiu para que Clara aceitasse o ttulo de abades-sa (LCL-12), disso testemunha. certo que Santa Clara conhecia a Regra de So Bento. Sobre isso ver OMAECHEVARRIA, I., La Regla y las Reglas de la Orden de santa Clara, inSelFran., 18 (1977), pp. 248-269. 13 Sobre o Privilgio da Pobreza ver introduo prpria. 10 Entretantoapareciamnovascomunidades,quasetodas nascidas sob a inspirao de Santa Clara, mas com total indepen-dnciaumasdasoutras.Naverdade,poucossoosmosteiros fundados sob a influncia directa de So Damio (14). Preocupado em dar forma cannica a todas as comunidades que iam surgindo, oCardealHugolinosolicitaraaoPapaHonrioIIIfaculdades paraoefeito.Assim,apartirde1219,aoladodaRegradeSo Bento,temosasdisposiesdeHugolino,quesoumaautntica regra. Parece no haver dvidas que entre1219 e 1247, todos os mosteiros fundados sob a inspirao de So Damio, professaram a Regra de Hugolino (15). Apesar de todas as comunidades terem professado aRegra deHugolino,algumasmantiveramcertas particularidades.Havia ascomunidadesqueaplicavamoPrivilgiodaPobreza.Noutras osjejunseramdiferentes,porexemploemSoDamio,como podemosdeduzirpelaterceiracartadeSantaClaraaInsde Praga. Mas no foi o rigor do jejum ou da clausura que desagra-dousanta.Foioproblemadapobrezaqueainquietou.Alguns mosteiroscomeamaaceitarbensparapropriedadecomum.O prprioCardealHugolinoofereceubensavriosmosteiros, inclusiveaSoDamio.Poroutrolado,tambmoproblemada assistncia espiritual no estava resolvido comaRegrade Hugo-lino. 1. 5 A Regra de Inocncio IV Nestascircunstncias,alarmadacomofactodetantos mosteirosaceitarempropriedades,SantaClarapedeaconfirma-odoPrivilgiodaPobreza,outorgadopeloPapaInocncioIII em 1216.Essa confirmao -lheconcedida a 17 deSetembro de 1228. Pouco depois, o Privilgio da Pobreza foi aceite por alguns mosteiros, nomeadamente o de Monteluce de Persia e Monticelli 14SobreosmosteirosqueforamfundadosporirmsdeSoDamio,ver: OMAECHEVARRIA, I., Las Clarisas..., p. 54. 15 Sobre a Regra de Hugolino cf. p. 309-319. 11 deFlorenaepelodePraga,dezanosmaistarde(16).Apesar disso,osabusosnoterminarameamaiorpartedosmosteiros continuouaaceitarrendasepossesses.Poroutrolado,muitos mosteiros tinham obtido dispensa do rigor dos jejuns prescritos na Regra de Hugolino. Alm disso, uma vez constituda a Ordem dos FradesMenores,asantainsistiaemqueaassistnciaespiritual lhesfosseconfiada(17).assimqueInocncioIV,depoisdeem 1245confirmar todo o rigor daRegra de Hugolino, promulga em 1247umanovaregra,conhecidapelaRegraInocenciana.Nela, SantaClaravconfirmadoumdospontospelosquaissempre lutou,aligaoespiritualdasClarissasOrdemdosFrades Menores.Pelaprimeiravezfoisuprimidaqualquerligao Regra de So Bento e as Clarissas ficaram com direito de profes-sar a Regra de So Francisco no que aos votos diz respeito, fican-do,noresto,obrigadasaseguirasdisposiesdaRegradeIno-cncio IV.Quanto questo da pobreza, a nova regra no satis-fazia as aspiraes de Clara, uma vez que continuava a permitir a propriedade em comum. 2. Regra de Santa Clara 2. 1 Introduo Talvezporestarazo,aRegradeInocncioIVnotenha resistido aos protestos que de vrios lados se fizeram ouvir, sobre-tudovindosdeSoDamio.InocncioIVaindatentouimpra regraatodososmosteiros,masa6deJunhode1250,declarou quenoerasuaintenoimp-lacomobrigatoriedade.nesta alturaqueSantaClarasenteoambientepropcioparunificara 16 Ver p. 465-466. 17OprimeirovisitadordasclarissasfoiFr.Ambrsio,cisterciense.Oprimeiro franciscano nomeado visitador, enquanto So Francisco estava no Oriente e contra suavontade,foiFr.FilipeLongo.NoregressodeSoFranciscofoiconvidadoa renunciar.ParaoseulugarfoinomeadoFr.Pacfico,o"rei dos versos" (EP 100). Por carta do Cardeal Reinaldo, Fr. Filipe novamente nomeado para suceder a Fr. Pacfico.Cf.BAC,p.237;Scriften,p.65,nota93.SobreaRegradeInocncio IV, ver p. 321-339. 12 observnciadetodososmosteirosdebaixodumamesmaregra compostaporela,tendoporbaseasnormasrecebidasdeSo Francisco e como modelo a Regra dos Frades Menores. opinio comumqueSantaClaracomeouaescreveraregraem1247e que j em 1251 ela era observada em So Damio (18). 18Durantemuitotempoconsiderou-seSoFranciscocomooautordaRegrade Santa Clara. Segundo Waddingo, o autor So Francisco e a regra teria sido escri-ta em 1224. Depois da descoberta do original ningum mais duvida de que Clara a autora da regra. Cf. Untersuchungen, pp. 302-304. 13 2. 2 Caractersticas da Regra de Santa Clara EmprimeirolugarressaltaadependnciadaRegrade SantaClaraemrelaodeSoFrancisco(19).Comefeito,a regra escrita por Clara segue os princpios fundamentais da Regra dosFradesMenores.Muitasvezesaformulaomesmoigual. Assimtemososeguimentoevanglico,aobedinciaIgreja,a exignciadapobrezaeavidaemfraternidadecomoafirmaes fundamentais, comuns s duas Regras. Por isso podemos dizer que So Francisco o inspirador espiritual da Regra de Santa Clara. Noadmira,pois,quenoencontremosnaRegraescrita por Santa Clara e inspirada na espiritualidade de So Francisco, arigidezjurdicaqueencontramosnasRegrasdeHugolino,de Inocncio IV e mais tarde na de Urbano IV. A Regra de Santa Cla-ra muito mais flexvel e humana. Toda ela perpassada por um granderespeitopelapessoadairm(20),omesmodizerpelo Esprito do Senhor e sua santa operao. Esprito que pode actuar tantoapartirdosmaisdoutosesbios,comoatravsdosmais simples e ignorantes (21). Da a preocupao em acentuar tanto a corresponsabilidadefraterna,bemvisvelnaimportnciaqued aocaptuloconventualcomoespaodedilogoedecorreco fraterna. Todos estes aspectos tm alguma coisa a ver com a espi-ritualidade de So Francisco. Mas a Regra que Santa Clara escreveu no uma cpia da RegradosFradesMenores.SantaClarasoubeadapt-lasexi-gnciasdapsicologiafemininaedavidacontemplativa.Assim 19VerGRAU,E.,LavidaenpobrezadeSanta Clara en el ambiente cultural y religioso de su tiempo, in SelFran., 40 (1985), pp. 83-102. um estudo exaustivo sobreadependnciadaRegradeSantaClaraemrelaodeSoFrancisco, realando sobretudo a originalidade da espiritualidade de Santa Clara. 20SobreaespiritualidadedaRegradeSantaClara cf.: HARDICK, L.,La Espiri-tualidad de Santa Clara, comentario a la vida y escritos de la Santa, Ed. Serfi-ca, Barcelona, 1968; GARRIDO, J., La Forma de Vida de Santa Clara, Aranzazu, 1979; IRIARTE, L., Letra y Espiritu de la Regla de Santa Clara, Ed. Ass, Valen-cia, 1994. 21 RCL IV, 17. 14 resolveu o problema do uso do dinheiro de maneira diferente(22), deu mais rigor s disposies sobre o jejum e sobre as admisses, modificou todos os pontos referentes ao apostolado e organizao da Ordem, tendo em conta que cada mosteiro era sui juris, sem qualquerelementomoderadoranoseroCardealProtectoreo Visitador.Noprocurouimitarsequerostiposdevinculao monsticavigentesnapoca.Narealidade,apesardadependn-ciasubstancialdaRegradeSantaClaraemrelaodeSo Francisco,SantaClaraaparececomoautnticaautoradasua Regra, espelhando esta, certas particularidades organizativas que desde o incio marcaram a Ordem de Santa Clara. Masmesmonapartedaespiritualidade,aRegradeSanta Claraapresentaalgumasparticularidadesquemanifestamuma maneira peculiar de viver a espiritualidade franciscana. No centro est, tal como em So Francisco, a pobreza e a humildade de Nos-so Senhor Jesus Cristo. No entanto, Clara sente a necessidade de lhedar um cunho mais feminino. Assim, associa de maneira mais sistemticaafiguradeMariadoseuFilho.Tambmelaquer seguir as pegadas de Jesus, mas no ao jeito dos Frades Menores, calcorreandooscaminhosdomundoemviagensapostlicas. AcentuamaisoseguimentodeJesusCristonoseumistriode despojamento,sentindoumacompaixomuitoparticularpelo Divino Esposo, Cristo pobre e humilde que ela contempla no pre-spio de Belm, envolto em pobres paninhos, no silncio de Naza-r,nodesertodaQuaresmaenomadeirodaCruz,mortopelos nossos pecados. Procura seguir Cristo ao jeito de Francisco, mas oFranciscodosCarceriedeFonteColombo.esteocunho particular que transparece em todos os seus escritos, na Regra, no TestamentoedumamaneiraparticularnasCartasemqueClara inauguraumestilodevidaquenovidadenaIgreja.AComuni-dadedeSoDamiorompecomasformasetradiesmonsti-cas. Ali no h estruturas verticais, nem classes sociais, nem privi- 22 Sobre a soluo dada ao problema do uso do dinheiro, ver: GRAU, E.,La Vida en Pobreza de Santa Clara, o.c. p. 83-102. 15 lgios.Hsoprivilgiodeserpobre,sendoCristoeSuaMe Pobrezinha os nicos modelos (23). 3. Desenvolvimento Posterior 3. 1 Introduo DuranteosculoXIII,poucosforamosmosteirosque adoptaram a Regra de Santa Clara. Os dois problemas que a preo-cuparamduranteavida,continuaramasercausadediviso depoisdamorte.Porumlado,aquestodapobrezaquelevava muitosmosteirosanoaderiraorigorexigidoporClara.Por outroofactodeosFradesMenores,anveloficial,nomostra-rem vontade de aceitar a assistncia espiritual de todos os mostei-ros. Este problema s foi resolvido em 1263, quando So Boaven-turaeraGeraldaOrdem(24).Apartirda,osFradesMenores comprometeram-senaassistnciaespiritualdasClarissaspor motivos de caridade e no por um dever de justia, como era exi-gido por alguns sectores da Igreja. A questo da pobreza levou a que cada mosteiro adoptasse aregraquemelhorlheconvinha.UnsadoptaramaRegrade Hugolino,outrosaRegradeInocncioIVealgunsaRegrade Santa Clara. Mosteiros houve que elaboraram a sua prpria regra. OcasomaisclebrefoiodeIsabeldeFrana,irmdeSoLus que em 1259 elaborou, com a ajuda de alguns doutores francisca-nosdeParis,umaregraparaomosteirodeLongchampeque mais tarde viria a ser adopatda por vrios mosteiros da Frana e daInglaterra.Denominavam-seSororesMinoresInclusae, estavam sob a orientao dos Frades Menores e admitiam rendas epossesses.AregraacabouporseraprovadaporUrbavnoIV em 1263 (25). 23 Sobre a novidade do movimento de Clara, cf. GRAU, E., La vida en Pobreza de Santa Clara..., o. c.,in SelFran., 40 (1985), pp. 83-102; BARTOLI, Chiara d'As-sisi, o.c., pp. 103-128. 24OMAECHEVARRIA,I.,LasClarisas...,pp.61-63;IRIARTE,L.,Historia Franciscana, p. 483. 25 Cf. OMAECHEVARRIA, I, ibid., p. 63; IRIARTE, L., ibid., p. 488. 16 3. 2 A Regra de Urbano IV Para acabar com este estado de coisas, o Papa Urbano IV promulgaa18deOutubrode1263umanovaregra,conhecida porRegraUrbaniana.Aintenoeraunificartodososmosteiros sob uma mesma regra. Comeou por unificar o nome, designando todososmosteiroscomodaOrdemdeSantaClara.Aboliatodas as outras regras e estabelecia que os mosteiros, para sua prpria subsistncia,podiamaceitarrendasepossesses(26).Massea intenoeraadeunificar,oresultadofoitodoocontrrio.Os mosteiros mais fiis ao genuno esprito de Santa Clara no acei-taramaregraeaseparaoconsumou-se.Apartirdeento temos duas regras, a Primeira Regra, a de Santa Clara e a Segun-daRegra,adeUrbanoIV.EstadivisoentreasfilhasdeSanta Clara chegou at aos nossos dias. 3. 3 Movimentos Renovadores A partir de 1263 temos, pois, mosteiros a viverem segundo a Regra de Urbano IV e mosteiros que professam a Regra de Santa Clara.No entanto, atravs dos sculos, vrias foram as tentativas dereforma,nosentidoderecuperarogenunoespritodeSanta Clara, o que na prtica significava professar a regra por ela com-posta. NosculoXVfoiSantaColectaaprotagonistadeum grandemovimentoderenovao.Em1406abandonaomosteiro ondeviviaeprofessaaRegradeSantaClaranasmosdoPapa Bonifcio XIII, recebendo dele a incumbncia de reformar as trs ordensdeSoFrancisco.Quandomorreu,em1447,deixou mais de vinte mosteiros reformados sob a Primeira Regra e as Constitui- 26 Sobre a Regra de Urbano IV cf. p. 345-368. 17 esqueelaprpriaredigiu.Estemovimentoreformadoresten-deu-se por toda a Europa (27). No sculo XVI, com a reforma capuchinha, apareceu outro movimento reformador entre as clarissas. Foi protagonista a Irm Maria Lorenza Longo. Em 1535 fundou um mosteiro em Npoles, professandoaRegradeSantaClaraeasConstituiesdeSanta Colecta. A partir de Npoles, outros mosteiros se fundaram com o mesmo esprito, ficando ligados espiritualmente aos Frades Meno-res Capuchinhos (28). No podemos contar a fundao das Irms Concepcionistas comofazendopartedareformadasClarissas,apesardeestarem integradasnafamliafranciscana.ForamfundadasporSanta BeatrizdaSilva,santaportuguesa,nascidaemCampoMaiore recentementecanonizada.Em1489fundouummosteirocister-ciense em Toledo. Depois da morte da fundadora o Papa Alexan-dreVIconcedeu-lhesaRegradeSantaClara.Em1511oPapa JlioIIaprovou-lhesumanovaregraeconstituiesprprias.A regramuitoinfluenciadapelaRegradeSantaClara.Admitea propriedadecomumedmaisfacilidadesemrelaoaojejum. LeoXconcedeu-lhestodososprivilgiosdasClarissaseesto sob a jurisdio daOrdem dos Frades Menores. Em Portugal tm dois mosteiros, um em Campo Maior e outro em Viseu (29). AindahojetemosmosteirosqueseguemaSegundaRegra. Mas a maioria dos cerca de mil mosteiros vive segundo a Regra de SantaClara.OsqueprofessamaSegundaRegrasituam-sequase todos na Europa, sobretudo em Frana e Espanha. Fora da Euro-pa so muito poucos os que no seguem a Primeira Regra. 27 Sobre Santa Colecta ver: OMAECHEVARRIA, I., ibid., pp.90-92: IRIARTE, L., ibid.,pp.490-491;sobreosvriosramosdasIrmsClarissascf.,LaSegunda Orden Franciscana, in SelFran, 66-(1993) p.347-349. 28Sobreareformacapuchinhaver:OMAECHEVARRIA,I.,ibid.,p.137; IRIARTE, L., ibid., pp. 495-498. 29Sobreasconcepcionistasver:OMAECHEVARRIA,I.,ibid.,pp.285-290; IRIARTE, L., ibid., p. 499. 18 Para a traduo, tomamos como baseo texto dosOpuscu-la,quecorrespondeaotextoaprovadoporInocncioIV,coma bulaSoletannuere,ecujooriginalfoiencontradoem1893, escondido nas vestes que amortalhavam Santa Clara. 19 REGRA DE SANTA CLARA Bula do Papa Inocncio IV

1 Inocncio,bispo,servodosservosdeDeus, 2sdilectas filhasemCristo,abadessaClaraeasoutrasirms do Mosteiro de So Damio, em Assis, sade e beno apostlica. 3 CostumaaSApostlicaatenderospiedososrogose deferir com benevolncia os pedidos honestos dos que a ela recor-rem. 4 Temos presente a humilde petio que da vossa parte nos foi dirigida. 5 Pedisquevosconfirme,comautoridadeapostlica,a forma de vida, segundo a qual deveis viver em comum, na unidade de esprito e sob o voto da altssima pobreza. 6 Esta forma de vida quevos foi dadapelo bem-aventurado Francisco epor vs espon-taneamente assumida, 7foi aprovada pelo nosso venervel irmo, o BispodestiaeVelletri,comoconstaclaramentedasuacarta episcopal. 8Acedendo ao vosso humildepedido eaceitando por justo e bom quanto foi feito pelo mesmo bispo, confirmamos com auto-ridadeapostlicaetudocorroboramoscomaforadopresente documento, 9 no qual inserimos o texto da referida carta, cujo teor o seguinte: 10 Reinaldo, pela misericrdia divina, Bispo de stia e Vel-letri,suacarssimameefilhaemCristo,asenhoraClara,aba-dessa de So Damio, em Assis, 11 e s suas irms, tanto presentes como futuras, sade e bno apostlica. 12 Uma vez que vs, queridas filhas em Cristo, desprezando as pompas e delcias do mundo 13 e seguindo as pegadas do mesmo Cristo e de sua Santssima Me, optastes por uma vida em clausu-ra,consagrando-vosaoSenhornamaisaltapobrezaafimdeO 20 servirdes com mais liberdade de esprito, 14 ns, louvando o vosso santopropsito,deboavontadeecomafectopaternalqueremos anuir com benevolncia aos vossos rogos e santos desejos. 15 Porisso,propensosasecundar as vossas piedosas spli-cas, confirmamos para sempre, com a autoridade do Senhor Papa e anossa,ecorroboramoscomopresenteescrito,paravsepara todas as que vos sucederem nesse mosteiro, 16 a forma de vida e o mododesantaunidadeealtssimapobrezaqueo bem-aventurado PaiSoFrancisco,oralmenteeporescrito,vosdeuaobservare que est inserto neste documento. 17 A Regra esta: REGRA E VIDA DAS SENHORAS POBRES CAPTULO I Em nome do Senhor, comea a forma de vida dasirms pobres (30) 1 AformadevidadaOrdemdasIrmsPobres,queSo Francisco (31) instituiu esta: 30 Irms Pobres. No nome que Clara d sua Ordem, est resumido o seu carisma. ApobrezaeoamorfraternosoascaractersticasdasegundaOrdem.Tiagode Vitry tratava-as por "Irms menores" (Fontes I, p. 1413). Para So Francisco eram "minhassenhoras"eTomsdePaviaexplicaarazo.Cf.DESBONNETS,T., VORREUX,D.,SaintFranoisd'Assise,Documents,Ed.Franciscaines,Paris, 1968,p.1334.TambmosmembrosdaprimeiraOrdemmudaramde"pobres menores"para"Irmosmenores"(FontesI,p.1410).OtextooriginaldaRegra contnuo, sem captulos nem alneas. 31LogonoprincpiodaRegradeClaraafirma-seapaternidadedeSoFrancisco sobre a Ordem das Irms Pobres. 21 2 Observar o santo Evangelho de Nosso Senhor JesusCristo, vivendo em obedincia, sem prprio e em em castidade(cf. Mt 19, 22) (32). 3 Clara,indignaservadeCristoeplantazinhadobem-aventuradoFrancisco,prometeobedinciaerevernciaaoSenhor Papa Inocncio e a seus sucessores canonicamente eleitos e Igre-ja Romana (33). 4 Eassimcomonoprincpiodasuaconversoelaesuas irmsprometeramobedinciaaobem-aventuradoFrancisco,da mesma maneira promete obedincia inviolvel aos seus sucessores. 5 E as outras irms estejam sempre obrigadas a obedecer ao suces-sordobem-aventuradoFrancisco,IrmClaraesdemaisaba-dessas suas sucessoras, canonicamente eleitas. CAPTULO II Das que querem abraar esta vida e de como devem ser recebidas

1 Sealgum,porinspiraodivina,vierterconnosco,com inteno de abraar esta vida (34), a abadessa est obrigada a pedir o consentimento de todas as irms. 2 Se a maioria se mostrar favo-rvel,aabadessa,obtidalicenadoSenhorCardeal-Protector, pode receb-la. 3Selhepareceraceitvel,examine-aoufaa-aexaminar com diligncia acerca da f catlica e dos sacramentos da Igreja (35). 32Cf.2RI,1.NarefernciaatextosparalelosdeSoFrancisco,seguimosas siglas, alneas e abreviaturas de Fontes I, pp- 12-13. 33 2 R I, 2. 34 Enquanto que em 2 R II, 1 afirmado que s o Provincial tem competncia para admitir Ordem, aqui Santa Clara afirma que isso competncia de todas asirms. 35 2 R II, 2-3. 22 4 Eseelacrertodasestascoisaseasquiserprofessarcomfide-lidade e observar com firmeza at ao fim, 5 e se no tem marido ou se o tem, ele, com autorizao do seu bispo, j tiver entrado num convento e feito o voto de continncia (36) 6 e ainda se no est impedida de observar esta vida, por causa da idade avanada, ou alguma doena fsica ou mental, 7 ento, com toda a diligncia, exponha-se-lhe o teor da nossa vida (37). 8 Seforachadaidnea,diga-se-lheapalavradoSanto Evangelho que diz que v e venda todas as suas coisas e as reparta pelospobres(Mt19,21). 9 Massenoopuderfazer,basta-lhea boa vontade (38). 10Aabadessaesuasirmsnoponhamcuidadosnosseus benstemporais,afimdequeelaosdistribuacomooSenhorlhe inspirar. 11 Mas, se pedir conselho, enviem-na a pessoas prudentes etementesaDeus,quebemaaconselhemarepartirosseusbens pelos pobres (39). 12Depois,cortadososcabelosemredondoedepostasas vestesseculares,d-lheaabadessatrstnicaseummanto. 13A partirdessemomento no lhepermitido deixar o mosteiro a no ser por motivo evidente, til, razovel e aceitvel (40). 14 Acabadooanodeprova,sejarecebidaobedincia, prometendoobservarparasempreavidaeformadanossapobre- 36 2 R II, 4. 37 Vem de RH 4; cf. RI 1; 2 R II, 3-4. 38 2 R II, 5-6. 39 Ibid., 7-8; cf. Act 13, 16. 40EmrelaossadasdaclausuraSantaClaratemum nicocritrio,odobom senso, o que difere muito do que estava prescrito em RH 4, onde se afirma a clau-suraperptua.NaRI1permitidaasadadasirmsparanovasfunesoua mudana para outro mosteiro por causas piedosas e razoveis. Vrias irms de So Damioforamenviadasaoutrosmosteirosparaajudarnaformaoespiritual:a IrmPacficadeGuelfucioesteveemEspelo,aIrmBenditaemSiena,asIrms Lcia de Cortona, Balbina de Vallegloria e Balbina, sobrinha de Clara, em Arezzo,a Irm Cristina em Foligno e a Irm Ins de Favarone em Monticelli. 23 za (41). 15Durante o tempo deprovao no permitido o uso do vu. 16 Paramaiorcomodidadeedecoro,asirmspodemusar aventais nos servios e durante o trabalho. 17 A abadessa providen-cie com discrio quanto s roupas, segundo a natureza da pessoa, o local, o tempo e as regies frias, como vir que as necessidades o exigem (42). 18 s jovens que forem admitidas sem idade cannica, sejamcortadososcabelosemredondo. 19 E,depostasasvestes seculares,dem-lhesvestesreligiosas,segundooparecerdaaba-dessa. 20 Logo quealcancem aidadecannica, vistam-secomo as demais e faam a sua profisso. 21 Aabadessacuidedeencontrar,entreasirmsmaispru-dentes do mosteiro, uma mestra para estas e outras novias, 22 que asinstruadiligentementenasantavidacomumenosbonscostu-mes, segundo a forma da nossa profisso. 23 No exame e admisso das irms que prestam servio fora do mosteiro, devem observar-se asmesmas normas acimaindicadas.No entanto, estas podem usar calado (43). 24 Nenhumapodemorarconnosconomosteiro,semantes ser recebida segundo a forma da nossa profisso. 25 PoramordosantssimoedilectssimoMeninoenvolto em pobres panos e reclinado no prespio, e de sua Santssima Me, admoesto,suplicoeexortoasminhasirmsquesevistamcom trajes pobrezinhos (44). 41denotarqueClara substitui a expresso de Francisco "Vida e Regra" (2 R I) por "Vida e forma da nossa pobreza". 42Ovucomosinaldeconsagraonoerausadopelasnovias.NaRegrade Inocncio e na Regra de Urbano o uso do vu era obrigatrio tambm para as novi-as. Cf. RI 5; RU 10. Nunca se faz referncia aos escapulrios que vm referencia-dos em RH 9. Cf. 2 RI V, 1-3. A referncia s regies frias vem tambm emRB IV, 1-3. 43 2 R II, 16. 44 esta a motivao para usar trajes pobrezinhos. Cf. 2 R II, 16. 24 CAPTULO III Do Ofcio Divino, do Jejum, da Confisso e da Comunho 1 Asirmsquesabemler(45),rezemoOfcioDivino segundoocostumedosFradesMenores,lendo-osemcanto.Por isso podem ter Brevirios (46). 2 Aquelas que, por motivo razovel, no puderem recitar o Ofcio Divino, rezem os Pai-nossos, como as outrasirms. 3Easquenosabemler,rezemvinteequatroPai-nossosporMatinas;cincoporLaudes; 4seteporPrima,Trcia, SextaeNoa;porVsperasdozeeseteporCompletas. 5Pelos defuntosrezemtambmsetePai-nossos com Requiem aeternam nahoradeVsperasedozenadeMatinas(47). 6 Asirmsque sabem ler, devem rezar o Ofcio de Defuntos (48). 7 Quando alguma irm do mosteiro falecer, rezem cinquenta Pai-nossos (49). 8 As irms devem jejuar em todo o tempo (50). 9 Porm, na festadoNataldoSenhor,sejaqualforodiadasemana,podem tomar duas refeies (51). 10 Segundo o parecer da abadessa, sejam compassivamente dispensadas do jejum, as mais jovens, as doentes easquefazemservioforadomosteiro. 11 Masquandohouver manifesta necessidade, as irms no sejam obrigadas ao jejum cor-poral (52). 45 RCL VI. Cf. TRIVIO, M. V., La liturgia de las horas de las clarisas, in Sel-Fran., 28 (1981), pp. 103-125. 46Mesmoadoptandoumaformadevidacontemplativa,Claranoadoptaasfor-mas monsticas do Ofcio Divino, mas o Brevirio. A expresso "lendo sem canto", pode significar a falta de cantorais, por razes de pobreza. Cf. 2 R III, 2-3. Sobre o assunto ver BAC, p. 276, nota 7. 47 1 R III, 56; 2R III, 3-4. 48 1 R III, 4-5. 49 Cf. 2 R III, 3-4. 50Cf.3CCL,29-37.Aexpresso"todootempo"nosignificatodososdiasdo ano, mas todos os tempos penitenciais do ano. Em RH 7 e RI 4 faz-se referncia ao jejum e s dispensas. 51 2 C 199-200. 52 2 R III, 9. 25 12 As irms,com consentimento da abadessa, confessem-se pelomenosdozevezesaoano. 13 Nessaalturaevitemqualquer assunto estranho confisso e ao bem da sua alma. 14 Comunguem sete vezes por ano, a saber: no dia do Natal doSenhor,naQuinta-feiraSanta,naPscoa,noPentecostes,na Assuno de Nossa Senhora, na festa de So Francisco e no dia de Todos-os-Santos. 15 Para poder distribuir a Comunho tanto s ss como s doentes, o capelo pode celebrar dentro da clausura. CAPTULO IV Da eleio e do ofcio da Abadessa, doCaptulo, das Irmsque exercem cargos e das Irms do Conselho 1 Na eleio da abadessa, as irms observaro as normas do Direito Cannico. 2 MasprocuremcomdilignciateroMinistroGeralou ProvincialdaOrdemdosFradesMenores, 3 queasexortecoma Palavra de Deus em ordem perfeita concrdia e ao bem comum a teremcontaaorealizaraeleio. 4Aeleiodeverecairnuma irmprofessa. 5Seumairmsemvotosforeleitaoudealguma maneiranomeada,noselhepresteobedincia,semprimeiroter professadoaformadanossapobreza. 6 No caso damortedaaba-dessa, deve eleger-se outra para seu lugar (53). 7 E se em alguma ocasio parecer totalidade das irms que a abadessa no capaz para o cargo e bem comum de todas, 8 so obrigadasasditasirms,nomaiscurtoespaodetempo,aeleger outra abadessa e me, segundo a forma prevista (54). 53 2 R VIII, 2. 542RVIII,4.desalientarousodotermo"me",comocritriodaautoridade franciscana. 26 9 E pondere a eleita o fardo que sobre si recai e a quem ter que prestar contas da grei que lhe confiada (55). 10 Deve esforar-sepor seimpr s outras,mais pelavirtudeepor umavida santa, do que pela autoridade do cargo, para que as irms, motivadas pelo seuexemplo,lheobedeam,maisporamorqueportemor (56). 11 Mantenha-selivredeamizadesexclusivas,paraquenoacontea que,amandomaisumasqueoutras,escandalizeatodas (57). 12 Consoleasaflitasesejaoltimorefgiodasatribuladas,nov acontecer que faltando com os remdios salutares, delas se apodere o desespero. 13 Observe em tudo a vida comunitria, de maneira especial naigreja,nodormitrio,norefeitrioenaformadevestir. 14O mesmo deve observar tambm a vigria (58). 15Aabadessadeveconvocarasirmsacaptulo,pelo menosumavezporsemana(59). 16A,tantoelacomoasoutras irms, devem confessar com toda a humildade as faltas e neglign-ciaspblicasecomuns. 17Osassuntosrespeitantesutilidadee bemespiritualdacomunidade,devemsertratadosem captulo. 18 Com efeito, muitas vezes ao mais pequenino que o Senhor revela aquilo que mais convm (60). 19 Nosecontraiamdvidaspesadasanosercomo comumconsentimentodasirmseemcasodemanifestanecessi-dade;enestecasosporintermdiodumprocurador. 20Evitea abadessaeasdemaisirmsreceberqualquerdepsitodeoutrem 55 Cf. RB LXIV; 1R V, 6. 56 Cf. RB LXIV; 1R V, 4. 57OsatributosqueClaraaplicaabadessasoosmesmosqueCelano (2 C 185) atribui aos ministros. 58Avidacomunitriaexigidatambmabadessa,significaaperdadetodosos privilgios previstos na RB LVI. de salientar que tendo aceite o ttulo de abades-sa, no usa o de priora mas o de vigria, prprio dos franciscanos. 59 2 R VIII, 5. 60Vem deRBIII,3.OndeSoBentoescreve"omaisjovem", Clara pe "o mais pequenino". 27 no mosteiro. 21 Muitas vezes isto causa de complicaes e escn-dalo. 22 Para se conservar a unidade do amor mtuo (61) e da paz, aeleiodasresponsveisparaoscargoscomunitriossejafeita com o comum acordo de todas as irms. 23 Do mesmo modo sejam eleitas pelo menos oito de entre as mais idneas, s quais a abades-sadevesemprepedirconselhonosassuntosquedizemrespeito nossa forma de vida. 24Easirms,selhesparecertileconveniente,algumas vezes podem e devem mesmo remover do cargo as discretas e ele-ger outras para o seu lugar. CAPTULO V Do Silncio, do Locutrio e da Grade

1 As irms guardem silncio desde a hora de Completas at hora de Trcia. S esto dispensadas as irms que trabalham fora domosteiro. 2 Guardemtambmsempresilncionaigreja,no dormitrioenorefeitrio,masaquisduranteasrefeies. 3Na enfermarialcitosirmsfalaremdemaneiradiscreta,paradis-traco e servio das irms enfermas. 4 Todavia, podem, sempre e em qualquer lugar, comunicar em poucas palavras eem voz baixa o que parecer necessrio (62). 5Semlicenadaabadessaoudavigria,nolcitos irmsfalaremcomalgumnolocutrioounagrade. 6 Easque obtiveremlicenaparafalarnolocutrio,noofaamsenona presena de duas irms que as possam acompanhar. 61 um dos ncleos evanglicos da RCL. Cf. X, 7. 62NaelaboraodestecaptuloClaracomeaporseguireRegradosErmitrios, procurandoumequilbrioentreosilncioeodilogonecessrio.Aocontrriode RH 6 e RI3, no segue nenhuma das caractersticas monsticas, como o falar por sinais,ouosilncioperptuo.Snamaneiradeprocedernolocutriosegueas formas jurdicas de ento, tal como estabelece a RH. 28 7 Nopoderofalarsgrades,anoseracompanhadasde trs irms designadas pela abadessa ou sua vigria de entre as oito escolhidasportodasasirmsparaoconselhodaabadessa. 8A abadessaeavigriatambmestoobrigadasaobservaresta maneira de proceder.9Rarissimamente sevgrade para conversar e nunca portaria. 10Nointeriordagradedevecolocar-seumacortina.Estasse devecorrerquandoanunciadaaPalavradeDeus,ouquando alguma irm tiver de falar com algum. 11 Alm disso, ter tambm umaportademadeiracomduasfechadurasdeferrodiferentese muitoseguranosbatentesenosferrolhos. 12Devefechar-se, sobretudoduranteanoite,comduaschaves,dasquaisumaseja guardadapelaabadessaeoutrapelasacrist. 13 Estaportaesteja sempre fechada, excepto quando assistem ao Ofcio Divino, ou nas ocasies acimamencionadas. 14 Nenhuma irm pode falar grade com algum antes do sol nascer e depois do sol posto. 15No locutrio hajasempredo lado de dentro uma cortina que nunca deve ser afastada.16DuranteaquaresmadeSoMartinhoenaQuaresmaMaior nenhumairmfalenolocutrio, 17 exceptocomalgumsacerdote por motivo de confisso ou outra manifesta necessidade, cabendo a deciso ao prudente juzo da abadessa ou da vigria. CAPTULO VI Da renncia a toda a propriedade

1 Depois queo altssimo Pai Celestial se dignou iluminar o meu corao com a sua graa, para que eu, segundo o exemplo e as instrues do bem-aventurado Pai So Francisco (63), fizesse peni- 63Com ocaptuloVIdaRegraentramosnocoraodaRCL.Vaiataocaptulo X. Aqui ela expe o fundamental da sua identidade carismtica. digno de nota as expressesqueempregaparasignificaravidareligiosa:fazerpenitncia;conver-ter-se; prometer obedincia; viver segundo a perfeio do Santo Evangelho; seguir a vida e a pobreza de Jesus Cristo e sua Me. No por acaso que Clara insere aqui 29 tncia, pouco depois da sua converso, prometi-lhe voluntariamen-te obedincia, juntamente com minhas irms. 2 Considerandoobem-aventuradoPaiquenotemamos nenhumaespciedepobreza,nemtrabalhooutribulao,nem oprbriooudesprezodestemundo,mas,quepelocontrrio,tudo considervamoscomograndeprazer,movidoporgrandepiedade, escreveu-nos a forma de vida nestes termos: 3Poisque,porinspiraodivinavosfizestesfilhaseser-vasdoaltssimoesoberanoReiePaiCelestial,evostornastes esposas do Esprito Santo, abraando uma vida conforme a perfei-o do Santo Evangelho, 4 eu quero e prometo, em meu nome e em nomedosmeusirmos,tersempreparaconvosco,comotenho para com eles, diligente cuidado e solicitude particular (64). 5Istocumpriufielmenteenquantoviveuequisqueomes-mo fizessem seus irmos (65). 6 Eparaquenemns,nemasquenosho-desucedernos desvissemos da altssima pobreza que abramos, pouco antes de morrer, novamente nos escreveu a sua ltima vontade (66): 7 Eu, o pequeno irmo Francisco, quero seguir a vida e a pobreza do nosso altssimo Senhor Jesus Cristo e da sua Santssima Me e perseverar nelaataofim, 8erogo-vos,minhassenhoras,evosaconselho, quevivaissemprenestasantssimavidaepobreza. 9 Econservai-vosmuitoatentasparaquedenenhummodojamaisvosafasteis dela, por ensinamentos ou conselhos, donde quer que venham. 10 Etalcomoeueminhasirmssemprenosempenhmos em guardar asanta pobreza que prometemos ao Senhor Deus e ao bem-aventuradoFrancisco, 11assimtambmasabadessasqueme osdoisfragmentosqueSoFranciscoescreveuparaassuasirms,aFormade Vida e a ltima Vontade. 64 A Forma de Vida o escrito mais antigo que se conhece de Francisco. 65 Em 2C 204 vem confirmado como Francisco foi fiel a esta promessa. 66AltimaVontadeoltimoescritodeSoFrancisco,escritojprximoda sua morte. Cf. TCL 52. 30 sucederem no ofcio etodas as irms se sintam obrigadas a obser-v-la inviolavelmente at ao fim (67). 12 Porisso,nopossuamnemrecebamporsi ou por inter-postapessoa(68), 13 algumdomniooupropriedadeoualguma coisa (69) que razoavelmente possa ser considerada como tal. 14 S podem ter aquela poro de terra que honestamente se achar necessrio para o decoro e isolamento do mosteiro, 15 a qual nopodersercultivadasenocomohorta,parasatisfazeras necessidades da comunidade (70). CAPTULO VII Do trabalho e da esmola

1As irms aquem o Senhor deu agraadetrabalhar, ocu-pem-se fiel e devotamente, depois da hora de Trcia, num trabalho honesto e de utilidade comum (71). 2 Faam-no de tal maneira que evitem a ociosidade, inimiga da alma, mas no apaguem o esprito da santa orao (1 Tes 5, 19) e devoo ao qual todas as demais coisas temporais devemservir (72). 67 TCL 40-41. 68 2R VI, 1-2. 69 2R VI, 1. 70 TCL 53. 712RV,1-2;LCL28;2C97.Sobreotrabalhonavidacontemplativacf.SOR CATHERINE,osc.,Evolucindelconceptodetrabajoenlosmonasteriosde contemplativas, inSelFran., 25-26 (1980), pp. 191-198; GARRIDO, J., ofm., La Forma de Vida..., o. c., p. 227; IRIARTE, L., ofmcap., Letra y Espritu..., o. c., p. 161. 72 2 R V, 2. 31 3 Os trabalhos manuais devem ser distribudos pela abades-sa ou vigria, em captulo, na presena de todas (73). 4 O mesmo se faaquandosereceberalgumaesmolaparaasnecessidadesdas irms, para que, em comunidade, se faa memria do benfeitor. 5 E todas estas ddivas sejam distribudas pela abadessa ou sua vigria para utilidade comum, ouvido o parecer das discretas. CAPTULO VIII Do pedir esmola, da pobreza e das irms enfermas

1 Asirmsnadatenhamdeseu,nemcasa,nemlugar,nem coisaalguma. 2 Comoperegrinaseestrangeiras(cf.Gen23,4;Sl 38,13;1Ped2,11)servindooSenhorempobrezaehumildade, commuitaconfiana,sejamenviadasapediresmola(74). 3E no devem ter vergonha, porque tambm o Senhor por ns se fez pobre neste mundo (2Cor 8, 9). 4 Esta a excelncia da altssima pobre-za,queavs,minhasirmscarssimas,vosconstituiuherdeirase rainhasdoReinodosCus,fez-vospobresdas coisas temporais e enobreceu-vosdevirtudes(Tig2,5). 5Sejaestaheranaquevos leve terra dos vivos (Sl 141, 6). 6 Apegai-vos bem a ela, minhas queridas irms, e nenhuma outra coisa, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo e sua Santssima Me, jamais queirais ter debaixodo cu (75). 7 No seja lcito a nenhuma irm enviar cartas, receberalguma coisa ou d-la para fora do mosteiro, sem licena daabadessa (76). 73 RCL IV, 22. 74 2 R VI, 1-3. 75 Ibid., 4-6. Esta exortao comum Regra de So Francisco, mas Clara acres-centaaexpresso"SantssimaMe",oqueacontecevriasvezesnosEscritos, marcando uma das caractersticas da sua espiritualidade. 76 Cf. RB LIV, 1. 32 8 Nenhumairm deve guardar seja o que for que no tenha sido dado pela abadessa ou que esta tenha autorizado a guardar. 9 E quando alguma irm receber alguma coisa da famlia ou deoutrapessoa,cuideaabadessaquelhesejaentregue. 10Sea irm tiver necessidade, pode dispor dessa oferta, se no, deve par-tilh-laemespritodecaridade,comumairmmaisnecessitada (77). 11 Masseaofertaforemdinheiro,abadessa,ouvidoo Conselho, providencie para que reverta em benefcio da irm (78). 12 No tocante s irms enfermas, a abadessa seja firmemen-te obrigadaainformar-se, por si ou atravs deoutras irms,sobre assuasnecessidades.Comcaridadeemisericrdia,segundoas possibilidades dos lugares, 13 providencie para que nada lhes falte, queremconselhos,queremalimentao,quernoutracoisaquea doena exija (79). 14Todasasirmsdevemcuidareservirasirmsdoentes comodesejariamserservidas,casoseencontrassemnamesma situao (cf. Mt 7, 12) (80). 15 Confiadamentemanifestemumaoutraassuasnecessi-daddes; 16pois,seameamaecriacomtantoamorasuafilha carnal, com quanto mais carinho no deve cada qual amar e ajudar a sua irm espiritual (1Tes 2, 7) (81). 17 As doentes bem quedurmam em enxerges de palha e podemusartravesseirosdepenas. 18 Emcasodenecessidade, podemusarpantufasemeiasdel. 19Quandoasirmsdoentes 77 Ibid., 2-3. 78 2 R IV, 1-4. 79 Ibid., 2; RH 8. 80 2 R VI, 9. 81 Ibid., 8. 33 receberemvisitasdefora, podem atend-las individualmente, com brevidade, usando palavras edificantes. 20Asoutrasirmsqueobtiveremlicenadefalarcomas pessoas que assim entrem no mosteiro, no o faam sem a presena de duas irms conselheiras, nomeadas pela abadessa ou suavigria (82). 21 A mesma forma de falar deve ser observada pela abades-sa e pela vigria (83). CAPTULO IX Da penitncia a aplicar s irms que pecarem e das irms que servem fora do mosteiro

1 Sealgumairm,porinstigao do inimigo, pecar mortal-mentecontraaformadevidaqueprofessamos(84)e,admoestada duasoutrsvezespelaabadessaouporoutrasirms, 2nose emendar (85), dever tomar po e gua, sentada no cho do refeit-rio,napresenadetodasasirms,durantetantosdiasquantos durarasuaobstinao. 3Epodesersujeitaaumapenaainda maior,seassimparecerabadessa(86). 4 Enquantodurarasua obstinao,faam-seoraesparaqueoSenhorlheilumineo corao eseconverta. 5A abadessaeas outras irms, no entanto, devemevitarirar-seou perturbar-sepor causado pecado dealgu-ma, 6 porque a ira e a perturbao dificultam a caridade em si e nas outras (87). 82 RCL V, 7. 83 Cf. RH 6. 84 2 R VII, 1. 85 1 R V, 5-6. 86 Cf. 2 R VII; RB XXVIII. 87 2 R VII. 34 7 Seacontecer,Deusnoopermita,queentreduasirms surjamotivodeescndaloempalavrasouactos, 8 acausadorado escndalodeve,semdemoraeantesdeapresentaraoSenhora oferta da sua orao (cf. Mt 5, 23), no s prostrar-se humildemen-te aos ps da outra irm, pedindo perdo, 9 como tambm rogar-lhe comsimplicidadequeintercedaporelaaoSenhor,paraqueseja perdoada. 10 Aoutrairm,porm,recordandoapalavradoSenhor: Se no perdoardes de corao, tambm vosso Pai vos no perdoa-r(Mt6,15), 11deveperdoargenerosamentesuairmtodaa injustia que lhe foi feita. 12As irms que prestam servio fora do mosteiro, no per-maneamdemasiadotempoforadele,anoserquemanifesta necessidade o exija. 13 Edevemandarcommodstiaefalarpouco,demodoa edificar quantos as vem (88). 14 Evitemfirmementeterfamiliaridadeourelaessuspei-tas com algum (89). 15 Enosefaamcomadresdehomensoumulheres,para no dar motivo a murmurao e dissabores (90). 16 Noousemtrazerosrumoresdomundoparadentrodo mosteiro. 17 Domesmomodosejamfirmementeproibidasdecontar fora do mosteiro qualquer coisa que se passe e ou diga dentro dele e possa de algum modo ser causa de escndalo. 88 2 R III, 11. Repare-se no contraste entre os textos da Regra de So Francisco e de Santa Clara. Dir-se-ia que at as irms externas esto obrigadas ao silncio. 89 2 R XI, 1-2. 90 Ibid., 3. 35 18 Se alguma irm, por irreflexo, falhar nestes dois pontos, ficaaocritriodaabadessaaaplicao,commisericrdia,duma penitncia(91). 19 Masseissosetornarnelaumamaucostume,a abadessa,consultadooconselho,imponha-lheumapenitncia segundo a natureza da culpa. 91 2 R VII, 2. 36 CAPTULO X Da admoestao e correco das irms

1 A abadessa exorte e v ao encontro de suas irms. Corrija-as com humildade e caridade, e no lhes mande nada que seja con-tra a sua alma ou a forma de vida que professaram (92). 2 Easirmssbditaslembrem-seque,poramordeDeus, renunciaramsuaprpriavontade. 3Peloquefirmementelhes mando que obedeam s suas abadessas em tudo o que prometeram ao Senhor e que no contra a sua alma e a nossa profisso (93). 4 A abadessa, porm, trate as irms com tanta familiaridade, que possam elas falar-lhe e trat-la como senhoras a sua serva;5 pois assim deve ser: que a abadessa seja a serva de todas asirms (94). 6 Admoesto,porm,eexortonoSenhorJesusCristoaque as irms se guardem de toda a soberba, vanglria, inveja e avareza, dos cuidados e solicitude das coisas deste mundo, da depreciao e murmurao (95), discrdia e desavena. 7 Pelocontrrio,sejamsempresolcitasemguardarumas com as outras a unio da mtua caridade que o vnculo da perfei-o (cf. Col 3, 14). 8 E as que no sabem letras no cuidem de as aprender (96). 9 Atendamantesaquesobretodasascoisasdevemdesejartero Esprito do Senhor easuasantaobra, 10 orar sempreaDeus com umcoraopuro,terhumildadeepacincianasperseguiese 92 2 R X, 1. 93 Ibid., 2-3. 94 Ibid., 4-6. 95 Ibid., 7. 96 Ibid. 37 enfermidades 11 e amar os que nos perseguem, insultam e acusam. 12 Porque diz o Senhor: Bem-aventurados os que padecem perse-guio por amor da justia, porque deles o Reino dos Cus(Mt5,10). 13 Masaquelequeperseverarataofimsersalvo (Mt 10, 22) (97). CAPTULO XI Da porteira, da portaria e da entrada de estranhos no mosteiro

1 Aporteirasejaumairmcommaturidade,discretaede idade conveniente. Durante o dia mantenha-se prximo da portaria, numacelaabertaesemporta. 2 Sejadesignadaumaoutrairm com as mesmas qualidades que a substitua sempre que for necess-rio. 3 A porta seja fechada por duas fechaduras de ferro diferen-tes, dobradias e trancas. 4 Principalmente de noite, esteja fechada comduas chaves,ficando umanapossedaporteiraeoutracom a abadessa. 5 Durante o dia conserve-se fechada com uma chave e nun-ca se deve deixar sem vigilncia. 6 Procurem com o mximo cuidado que a porta nunca esteja aberta. Se alguma circunstncia exigir o contrrio, seja pelo menor tempo possvel. 7 Nosefaculteaentradaaningum,anoserquevenha munido de licena do Sumo Pontfice, ou do nosso Cardeal. 97 Ibid., 10. 38 8 As irms nunca devem permitir que algum entre na clau-sura antes do nascer do sol, nem que nela permanea depois do sol posto, a no ser numa necessidade manifesta, razovel e inevitvel. 9 Separaabenodaabadessa,ouparaaprofissode alguma irm, ou por alguma outra razo, for permitido a um bispo celebraraEucaristianointeriordomosteiro,contente-seeleem trazerconsigoacompanhanteseministrosnomenornmeroeda maior honestidade possvel. 10Se,pornecessidade,algumtiverdeentrarnomosteiro paraexecutar algum trabalho, aabadessacoloquenaportariauma pessoa idnea, 11 que abra a porta s aos que vm executar o traba-lho e no a outros. 12 Neste caso, todas as irms tomem o mximo cuidado em no serem vistas pelos que entram (98). CAPTULO XII Do Visitador, do Capelo e do Cardeal-Protector 1 OnossoVisitadordevesersempredaOrdemdos Frades Menores, segundo a indicao e o mandato do nosso Cardeal (99). 2 Deveserumhomemdereconhecidacondutamoral. 3A suafunocorrigiroserroscometidoscontraaformadanossa profisso, tanto pelas responsveis como pelas outras irms (100). 4Deveficaremlugarpblico,ondepossaservistopor todas, e seja-lhe facultado falar com grupos de irms ou com cada umaemparticular,sobreosassuntosdavisita,segundoeleachar 98 Vem de RH 10 e 13. 99 RI8. 100 RH 12. 39 mais conveniente. 5 A Ordem dos Frades Menores sempre nos facultou a graa de um capelo, com um companheiro clrigo de boa reputao6emais dois irmos leigos de vida santa e de bons costumes, que nos ajudam na nossa pobreza. 7 Pedimos que assim continue a ser, por amor de Deus e do bem-aventurado Pai So Francisco (101). 8Nosejapermitidoaocapeloentrarnomosteirosem companheiro. 9E,depoisdeentrarem,permaneamemlugar pblico onde se possam ver um ao outro e serem vistos por todos. 10Poderoentrarnaclausuraparaconfessarasirms enfermas que no se possam deslocar ao locutrio, para lhes distri-buir a Sagrada Comunho, para administrar a Santa Uno e para a encomendao das almas. 11 Segundo o critrio da abadessa, possam entrar as pessoas necessriaseidneas,casosejapreciso,porocasiodeexquias, nocasodumaCelebraoEucarsticapelosdefuntoseparaabrir uma sepultura (102). 12 Finalmenteasirmsestejamfirmementeobrigadasater sempre como nosso governador, protector e corrector, aquele Car-dealdaSantaIgrejaRomanaquefor designado pelo Senhor Papa paraosFradesMenores. 13Eassim,sempresubmissasesujeitas aos ps da mesma santa Igreja, firmes na f catlica, observemos a pobreza e humildade de Nosso Senhor Jesus Cristo e de sua Sants-sima Me e o Santo Evangelho que firmemente professamos(103). Eplogo 101 RCL VI, 2. 102 RH 11. 103 2 R XII, 3. 40 14 Dado em Persia, aos 16 de Setembro do ano dcimo do pontificado do Senhor Papa Inocncio IV (104). 15 Aningum,pois,sejalcitoinvalidaraconcessodeste nosso escrito ou contrari-lo de maneira temerria. Mas se algum presumir faz-lo, saibaqueincorrenaindignao deDeus omino-potente e dos bem-aventurados apstolos Pedro e Paulo. Dado em Assis (105) no dia 9 de Agosto do ano dcimo pri-meiro do nosso pontificado. 104 Ano de 1253. Cf. GRAU, E., Die ppstliche Besttigung der Regel Hl. Klara (1252),inFranStud.,35(1953),pp.317-322.Nesteestudooautord-nosuma ideia das circunstncias em que foi aprovada a Regra de Santa Clara. 105 Ano de 1253; LCL 40. 41 FONTESFRANCI SCANAS