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Processo MC 021736
Relator(a) Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Data da Publicação DJe 08/10/2013
Decisão MEDIDA CAUTELAR nº 21736 - SC (2013/0346173-1)
RELATOR : MIN. PAULO DE TARSO SANSEVERINO
REQUERENTE : M M N
ADVOGADO : MARLON CHARLES BERTOL
REQUERIDO : M C P B
ADVOGADO : RODRIGO FERNANDES PEREIRA
MEDIDA CAUTELAR. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. ALIMENTOS. PEDIDO DE
AGREGAÇÃO DE EFEITO SUSPENSIVO A RECURSO ESPECIAL INADMITIDO NA
ORIGEM. DESCABIMENTO. EXCEPCIONALIDADE NÃO DEMONSTRADA. 'FUMUS BONI
JURIS' E 'PERICULUM IN MORA'. INOCORRÊNCIA. MEDIDA CAUTELAR
LIMINARMENTE INDEFERIDA.
DECISÃO
Vistos etc.
Trata-se de medida cautelar, com pedido de liminar, ajuizada por M.
M. N, objetivando a atribuição de efeito suspensivo a recurso
especial inadmitido na origem.
O recurso especial foi interposto contra acórdão do Tribunal de
Justiça de Santa Catarina, que recebeu a seguinte ementa (fls.
876/895):
APELAÇÃO CÍVEL. RECURSO DA AUTORA. AÇÃO DE ALIMENTOS. PENSÃO FIXADA
EM 45 (QUARENTA E CINCO) SALÁRIOS MÍNIMOS. TERMO FINAL TEMERÁRIO.
OBRIGAÇÃO ALIMENTAR DEVIDA ATÉ A EFETIVA PARTILHA DOS BENS DO CASAL
EM DISCUSSÃO NOS AUTOS DA AÇÃO DE SEPARAÇÃO N. 004.09.008167-0.
PATRIMÔNIO VULTOSO.
Em sede de alimentos, a estipulação do prazo final do encargo deve
levar em conta as condições financeiras da ex-mulher antes e depois
da separação. Desse modo, razoável a fixação do termo final da
obrigação de alimentos até a definitiva partilha dos bens do casal,
a qual é discutida em outra ação.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. MAJORAÇÃO DO PERCENTUAL. COMPLEXIDADE DA
DEMANDA E ALTO GRAU DE ZELO PROFISSIONAL. POSSIBILIDADE. EXEGESE DO
ARTIGO 20, § 3º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. RECURSO PROVIDO.
"Nas causas em que há condenação, com base nesse valor devem ser
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arbitrados os honorários advocatícios e, na fixação do percentual,
variável de 10% a 20%, devem ser atendidos o grau de zelo do
profissional, o lugar da prestação do serviço, a natureza e
importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo
exigido para o seu serviço, conforme preconiza o art. 20, § 3º, "a",
"b" e "c", do CPC". (REsp 1117319/SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJ
de 22-2-2011).
RECURSO DO RÉU. EXONERAÇÃO DA PENSÃO ALIMENTÍCIA. BINÔMIO
POSSIBILIDADE E NECESSIDADE CARACTERIZADOS. ALIMENTOS
COMPENSATÓRIOS. NECESSIDADE DE PERMANÊNCIA DO ENCARGO ATÉ A
EFETIVA
PARTILHA DOS BENS. MANUTENÇÃO DO PADRÃO DE VIDA. DE OFÍCIO,
MAJORAÇÃO DA PENSÃO PARA 50 SALÁRIOS MÍNIMOS.
Os alimentos compensatórios se justificam como consequência da
dependência econômica vivenciada pelo cônjuge que abdicou de sua
vida profissional para dar suporte aos filhos e ao marido enquanto
este trabalhava para construir a fortuna familiar. "Parcela da
doutrina e da jurisprudência sustentam a existência dos chamados
alimentos compensatórios, que cumpririam funções diversas: (1)
reequilíbrio econômico financeiro dos companheiros, amparando o mais
desprovido, ou (2) indenizar o outro pela fruição exclusiva de bem
comum". (MS n. 2011.038328-3, Rel. Des. Henry Petry Junior, DJ de
15-3-2012). Portanto, é dever do ex-marido manter o padrão de vida
tido pela ex-esposa enquanto esta não tiver condições de manter
sozinha o alto padrão social em que vivia. Todavia, tal encargo deve
ser majorado para 50 (cinquenta) salários mínimos. INVERSÃO DOS
ÔNUS SUCUMBÊNCIAIS. IMPOSSIBILIDADE. AUTORA VENCEDORA NA AÇÃO.
EXEGESE DO ART. 20 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.
Sendo a alimentanda parte vencedora da ação, os ônus sucumbenciais
recaem sobre o alimentante, conforme disposto no art. 20 do Código
de Processo Civil.
ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. IMPUGNAÇÃO. ALEGAÇÃO DE
DESAPARECIMENTO DA SITUAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA COM A FIXAÇÃO DOS
ALIMENTOS PROVISÓRIOS. ALIMENTANTE INADIMPLENTE. MANTIDA A BENESSE.
É cediço que a concessão da justiça gratuita prescinde a comprovação
da condição financeira do beneficiário. Sendo assim, não há o que se
falar no indeferimento da aludida benesse sob o fundamento de que os
alimentos provisórios concedidos à alimentanda alterarão a sua
condição econômica, quando tal obrigação não é devidamente
adimplida.
LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. OFENSA AO ARTIGO 17, INCISO VII, DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL. APLICAÇÃO, DE OFÍCIO, DA MULTA EM 1% E INDENIZAÇÃO
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EM 20% SOBRE O VALOR DA CAUSA. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO NÃO
PROVIDO. "Incorrendo a parte em qualquer das hipóteses dos incisos
do art. 17, do Código de Processo Civil, configurada estará a
litigância de má-fé, impondo-lhe sanção pecuniária de 1% mais 20% de
perdas e danos sobre o valor da causa, condizente com a temeridade e
a transgressão do dever de lealdade processual que informa o sistema
processual vigente".
Nas razões da cautelar, o requerente sustentou que a pensão
alimentícia foi fixada em valor mensal exorbitante (R$33.900,00),
tendo o Tribunal de origem se utilizado do critério dos "alimentos
compensatórios", ao invés do critério da necessidade/possibilidade,
preconizado pelo art. 1.694 do Código Civil.
Alegou que a execução provisória dos alimentos já soma mais de R$
500.000,00, tendo sido penhorados dois imóveis do requerente, os
quais foram adjudicados pela alimentanda.
Asseverou que está prestes a sofrer dano irreparável, pois o juízo
da execução autorizou a transcrição do auto de adjudicação no
Registro de Imóveis, o que permitirá a venda dos imóveis a
terceiros, impedindo o retorno ao status quo ante.
É o relatório.
Passo a decidir.
O pedido cautelar não merece acolhida.
Tanto doutrinariamente quanto jurisprudencialmente, e aqui me refiro
ao entendimento deste Egrégio Tribunal, a orientação dominante é no
sentido do descabimento da concessão de efeito suspensivo a recurso
especial não admitido na origem, regra esta excetuada apenas quando
a verossimilhança das alegações vertidas na medida cautelar, ou
seja, a probabilidade do sucesso da parte em ver o seu recurso
admitido e provido se mostre de fácil apreensão. Exige-se, ainda, a
efetiva demonstração do periculum in mora.
Nesta linha, ensina Luiz Orione Neto (in Recursos Cíveis, Ed.
Saraiva, 2ª ed., São Paulo: 2006, pp. 599/600):
Não há dúvida que o aspecto mais polêmico sobre a possibilidade de
concessão de tutela cautelar para atribuir efeito suspensivo ao RE
ou ao REsp diz respeito aos casos em que o recurso excepcional é
inadmitido na origem.
As dificuldades quanto a esse ponto aumentam quando se sabe que não
existe uma solução dogmática, no direito positivo brasileiro, no que
concerne ao intervalo entre a decisão que inadmitiu o recurso
extraordinário ou especial e a solução e a solução do agravo de
instrumento interposto contra a decisão do presidente ou
vice-presidente do tribunal recorrido, com o provimento do agravo
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pelo STF ou STJ, determinando a subida do recurso excepcional.
A nosso ver, a única solução para esses casos reside no instituto da
antecipação de tutela, desde que se apresentem com nitidez os
requisitos da prova inequívoca e do periculum in mora. assim, em
circunstâncias excepcionalíssimas, para impedir se concretizem
situações irreversíveis resultantes de decisões aberrantes,
flagrantemente equivocadas, resultante de puro capricho ou
arbitrariedade do tribunal a quo, justifica-se a princípio, deferir,
em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão
recursal, comunicando ao juiz a decisão.
(...)
Vale ressaltar que os tribunais superiores não tem admitido, em
situação desse jaez, a outorga de efeito suspensivo a recurso
excepcional inadmitido na origem, ou seja, de decisão de conteúdo
negativo.
Assim, segundo entendimento prevalente no Supremo tribunal Federal:
"A outorga de efeito suspensivo ao recurso extraordinário - ato que
se inclui na esfera de privativa competência do Supremo tribunal
Federal - reveste-se, sempre, de caráter excepcional, sendo vedada a
sua concessão naquelas hipóteses em que o apelo extremo tenha
sofrido juízo negativo de admissibilidade na instância 'a quo',
ainda que interposto, nos termos do art. 28 da Lei n. 8.038/90,
agravo de instrumento para a Suprema Corte. Precedentes".
Nesse sentido, os seguintes precedentes desta Corte:
MEDIDA CAUTELAR. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL INADMITIDO NA
ORIGEM. CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO. EXCEPCIONALIDADE. AUSÊNCIA
DE PLAUSIBILIDADE E DO PERIGO DE DANO GRAVE E DE DIFÍCIL REPARAÇÃO.
1. É firme a jurisprudência desta Corte no sentido de não ser
adequada a concessão de efeito suspensivo a recurso especial não
admitido na origem, o que se tolera apenas quando se vislumbra a
existência da plausibilidade do direito e do perigo de dano grave e
de difícil reparação.
2. Ao contrário do afirmado pelo agravante, o perigo de dano grave e
de difícil reparação milita em favor da agravada. Tendo em
perspectiva a condição de saúde da ex-companheira do agravante,
sobejamente delineada pelas instâncias ordinárias, é prudente e
plenamente razoável a manutenção do acórdão proferido pelo Tribunal
de origem deferindo o pedido de alimentos formulado.
3. No que tange à plausibilidade jurídica do direito invocado,
impende ressaltar que os precedentes desta Corte colacionados pelo
agravante não reproduzem a mesma base fática da hipótese ora em
análise.
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4. Agravo regimental desprovido.
(AgRg na MC 15.419/RJ, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA
TURMA, julgado em 19/05/2009, DJe 08/06/2009)
AGRAVO REGIMENTAL. MEDIDA CAUTELAR. EFEITO SUSPENSIVO. RECURSO
ESPECIAL. INEXISTÊNCIA DE JUÍZO POSITIVO DE ADMISSIBILIDADE.
INVIABILIDADE. PERICULUM IN MORA. INEXISTÊNCIA.
1. A decisão agravada foi proferida em consonância com a orientação
jurisprudencial dominante, segundo a qual a jurisdição do Superior
Tribunal de Justiça para apreciar medida cautelar objetivando
emprestar efeito suspensivo a recurso especial somente se descortina
com a prolação do juízo positivo de admissibilidade pelo Tribunal de
origem, não bastando a interposição do respectivo agravo de
instrumento.
2. "A simples possibilidade de execução provisória não representa,
em si, risco de dano irreparável ao devedor, não estando configurado
o alegado periculum in mora" (AgRg na MC nº 14.366/RJ, Relator o
Ministro Luis Felipe Salomão, DJU de 18/12/2008).
3. Agravo regimental a que se nega provimento (AgRg na MC 15.289/SP,
Rel. Ministro PAULO GALLOTTI, SEXTA TURMA, julgado em 14/4/2009, DJe
4/5/2009).
PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL CONTRA DECISÃO QUE
INDEFERIU PLEITO PARA CONCESSÃO DE ORDEM LIMINAR E NEGOU SEGUIMENTO
À MEDIDA CAUTELAR. CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO A AGRAVO DE
INSTRUMENTO. RECURSO ESPECIAL PENDENTE DE JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE.
HIPÓTESE EXCEPCIONAL NÃO CONFIGURADA. PRETENSÃO DE REEXAME DO
CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO NA VIA ESPECIAL. SÚMULA 7/STJ. NÃO
DEMONSTRAÇÃO DOS REQUISITOS AUTORIZADORES DA TUTELA CAUTELAR.
1. A concessão de efeito suspensivo a recurso especial demanda a
demonstração inequívoca do periculum in mora, evidenciado pela
urgência da prestação jurisdicional; do fumus boni juris,
consistente na plausibilidade do direito alegado, capaz de denotar a
possibilidade de êxito do recurso especial (precedentes: AgRg na MC
14.358 � SP, Relator Ministro Castro Meira, Segunda Turma, DJ de 12
de setembro de 2008 e AgRg na MC 14.053 � RS, Relator Ministro Teori
Albino Zavascki, Primeira Turma, DJ de 28 de agosto de 2008).
2. A impossibilidade de concessão de excepcional efeito suspensivo a
recurso especial não admitido na origem é assente no Superior
Tribunal de Justiça. Esta Corte perfilha entendimento segundo o qual
o juízo positivo de admissão do apelo nobre pelo Tribunal a quo é
que inaugura a jurisdição do STJ.
3. Na hipótese, não há situação excepcionalíssima a justificar a
concessão da tutela de urgência pleiteada, uma vez que a agravante
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não logrou evidenciar a possibilidade de êxito do agravo de
instrumento, pois constatou-se, em juízo de cognição sumária, que,
para se atender a pretensão da autora/recorrente, é necessário o
reexame, por esta Corte, do conjunto fático-probatório dos autos,
com análise dos documentos apresentados no curso da demanda por
ambas as partes. Incidência da Súmula 7/STJ.
4. Agravo regimental não provido (AgRg na MC 15.925/RJ, Rel.
Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 3/9/2009,
DJe 16/9/2009).
No caso dos autos, não se vislumbra a presença do periculum in mora
a autorizar a concessão da liminar, pois, em se tratando de execução
provisória de alimentos, a prática de atos expropriatórios se
justifica, para o atendimento das necessidades do alimentante até o
trânsito em julgado da ação de alimentos.
Aliás, obstar a prática de atos expropriatórios, como pretende o
requerente, faria surgir, na verdade, o periculum in mora inverso,
pois privaria a ora requerida dos alimentos necessários à sua
subsistência durante o trâmite da ação de alimentos.
Não se vislumbra, ainda, o fumus boni juris, pois o Tribunal de
origem utilizou como parâmetro para o arbitramento da pensão o
"patrimônio vultoso" adquirido pelo casal, o elevado padrão de vida
de que desfrutavam na constância da união, e o fato de o patrimônio
comum estar sendo administrado pelo ora requerente (fls. 876 s.).
Tais circunstâncias fáticas são incontrastáveis no âmbito desta
Corte, devido ao óbice da Súmula 7/STJ.
Ante o exposto, indefiro liminarmente a medida cautelar.
Intimem-se.
Brasília (DF), 04 de outubro de 2013.
MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Relator
Jurisprudência/STJ - Decisões Monocráticas
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