saiba + - dezembro 2015

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Desde 2006 Faculdade de Jornalismo - Puc Campinas Em São Paulo Resistência Alunos protestam em frente à E.E. Carlos Gomes, ocupada desde 13 de novembro; mesmo com adiamento de mudanças, movimento foi mantido Pág. 3 Esquina do Bataclan, casa de shows onde morreram cerca de 90 pessoas no dia 13 de novembro: homenagens aos mortos e medo de novos ataques Pág. 12 Em Paris Foto: Souhela Ka Foto: Divulgação 14 de dezembro de 2015 Grupo de Campinas se reúne e viaja para ajudar moradores de Mariana Pág. 11 Voluntariado

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Page 1: Saiba + - Dezembro 2015

Desde 2006 Faculdade de Jornalismo - Puc Campinas

Em São Paulo

Resistência

Alunos protestam em frente à E.E. Carlos Gomes, ocupada desde 13 de novembro; mesmo com adiamento de mudanças, movimento foi mantido Pág. 3

Esquina do Bataclan, casa de shows onde morreram cerca de 90 pessoas no dia 13 de novembro: homenagens aos mortos e medo de novos ataques Pág. 12

Em Paris

Foto: Souhela Ka

Foto: Divulgação

14 de dezembro de 2015

Grupo de Campinas se reúne e viajapara ajudar moradores de Mariana Pág. 11

Voluntariado

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Página 2 14 de dezembro de 2015

ISABELA RIZZA E JACQUELINE SOUZA

RÁPIDAS

Campinas terá área de proteção estelar

CARTA AO LEITOR A turma 44 do perío-do noturno, da Fa-culdade de Jorna-

lismo da PUC-Campinas, apresenta sua 3ª edição do jornal Saiba+. O destaque fi ca por conta de três gran-des acontecimentos: um estadual, outro nacional e um terceiro, internacional. Mais perto de nós, está o fato de que escolas foram ocupadas por estudantes que lutam pela continui-dade do oferecimento das aulas nas unidades em que estão matriculados. Os ou-tros dois temas envolvem grandes tragédias.

Mas, em grandes tra-gédias, também vemos histórias de superação e solidariedade inspiradoras. São Paulo, Mariana e Pa-ris ganharam os noticiários nacionais e internacionais não apenas por ser cená-rio de atos trágicos, mas pela resistência e luta de

ExpedienteJornal laboratório produzido por alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas. Centro de Comuni-cação e Linguagem (CLC): Diretor: Rogério Bazi; Di-retora-Adjunta: Cláudia de Cillo; Diretor da Faculdade: Lindolfo Alexandre de Souza. Tiragem: 2 mil. Impres-são: Gráfi ca e Editora Z

Professor responsável: Fabiano Ormaneze (Mtb 48.375).

Edição: Isabela Rizza e Jacqueline Souza

Diagramação: Beatriz Matheus e Gabriela Massaro

Por Matheus Martinelli

CRÔNICA

Lembrançasordinárias de fi m de ano

MATHEUS MARTINELLI

Olhando a cidade pela sacada em busca de

inspiração, imagino como gostaria que esse texto saísse. Um texto de fi nal de ano sobre aprendizado, sobre a contribuição deste ano para a minha bagagem pessoal. É dezembro. O último mês antes de um novo ano. Período fi nal em que a terra completa, mais uma vez, sua volta em torno do Sol. E é nesse momento de fi nalidade, nesse clima de festa e renovação que você, em alguma hora, para e refl ete sobre tudo o que passou.

E me dei conta de que o que passou foi um ano. Um ano a mais ou a menos em nossas vidas. Depende do ponto de vista. O que quero dizer é que nós estamos aqui de passagem e o que vivemos durante um ano fará parte da nossa história. Não importa se, com esse ano, você aprendeu muita coisa ou não aprendeu nada; se fez viagens maravilhosas ou só foi à cidade vizinha; se experimentou coisas novas ou teve aquela rotina de sempre.

A vida é como se fosse uma grande viagem e nós somos os passageiros, tentando planejar o trajeto, sempre pensando: “Quando eu tiver 18 anos...”; “Quando eu morar sozinho...”;“Quando começar um novo ano...”

Pensamos tanto nas paradas ate o destino fi nal que esquecemos de aproveitar a viagem. No fi m, pensar sobre o que eu aprendi com esse ano foi pequeno comparado com o que vivi. Foram quase 12 meses de aprendizado constante. Apenas uma parte da minha viagem que foi cumprida.

E, agora, com a eminência de um novo ano chegando, novos planos serão feitos e novas situações surgirão, como de costume. Mas devemos sempre lembrar que, como disse Drummond de Andrade, é apenas uma ideia genial que tiveram de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano. O tempo, então, deve ser vivido não importa qual fatia você esteja e a viagem aproveitada até o fi nal.

sua população. A cidade de Mariana (MG) começa a se reerguer após o rompimen-to das barragens de Fundão e Santarém, que deixou ao menos 631 desabrigados. Paris convive com o medo de um novo ataque terroris-ta, como o que aconteceu em novembro deste ano, alterando a rotina de todos os habitantes. Mesmo com a reorganização adiada, os estudantes mantiveram as ocupações, pois querem o cancelamento e não a sus-pensão. Para tanto, enfren-taram a polícia de frente, resistiram e fi zeram ser ouvidos. Tais atos inspiram solidariedade e esperança.

Desejamos um ano novo próspero e que estes personagens nos tragam esperança para recomeçar, sempre.

Boa leitura!

Campinas será a primeira cidade brasileira a possuir uma Área de Proteção Estelar. O projeto, pedido antigo dos astrônomos do Observatório Municipal Jean Nicolini, tem por objetivo diminuir efeitos da poluição luminosa aos redores do observatório. O excesso de iluminação impede a visualização de estrelas e constelações. Para evitar que isso aconteça, não é necessário reduzir a iluminação, mas fazê-la da forma adequada. Ao invés de posicionar as lâmpadas voltadas para cima, elas devem ser direcionadas para baixo. A intenção é de que, em alguns anos, toda a cidade seja iluminada de forma a proteger o céu e as estrelas. Segundo o astrônomo Júlio Lobo, o novo trecho da Francisco Glicério já tem uma iluminação que facilita a visualização das estrelas.

A Prefeitura de Campinas inaugurou no dia 02, o telecentro do Programa Municipal “Juventude Conectada - Caia na Rede”, instalado na sede do Centro Pop 2, Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua. O programa é uma iniciativa do Governo Municipal para promover inclusão digital e social da população. O trabalho realizado no Centro Pop 2 tem por objetivo fortalecer os vínculos familiares e a construção de novos projetos de vida. Os usuários recebem alimentação, participam de ofi cinas socioeducativas, de atividades em grupo e individuais entre outras ações propostas. O Centro Pop 2 fi ca na rua José Paulino, 603, no Centro, com capacidade para atender 120 pessoas/dia e funciona das 8h às 12h e das 13h às 17h.

A feira de arte e artesanato Vila das Artes, em Sousas, será realizada em três domingos do mês de dezembro, na Praça Beira Rio: dias 6, 13 e 20. O evento que, tradicionalmente, acontece no primeiro domingo de cada mês, terá outras duas edições devido ao Natal e ao Réveillon. A programação também contará com opções gastronômicas e música ao vivo para os visitantes. Criada em 1998, a partir da união de artistas moradores do distrito de Sousas, a Vila das Artes já se tornou um conhecido ponto turístico dos distritos de Sousas e Joaquim Egídio. Reúne trabalhos de cerca 27 expositores fi xos e também convidados de toda região de Campinas. Nos dias 6 e 20, a feira funcionará das 9h às 14h. Já no dia 13, o horário será das 11h às 17h. A entrada é gratuita.

Feira expande horários perto do Natal

Prefeitura inicia projeto de inclusão digital

Opinião 14 de dezembro de 2015

Page 3: Saiba + - Dezembro 2015

14 de dezembro de 2015 Página 3Educação

Estudantes criam esquema de segurança, participam de ofi cinas e dividem tarefas como cozinhar e limparGabriel Furlan

Mesmo com o anúncio de suspensão do projeto de re-organização feito no dia 4 de dezembro, os estudantes não desistiram das ocupações em escolas públicas estaduais. O movimento começou em me-ados de novembro, quando o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou o fecha-mento de escolas e o rema-nejamento de estudantes para outras unidades. No ápice do movimento, foram 190 esco-las ocupadas. Em Campinas, o número chegou a dez. A reportagem do Saiba+ visi-tou uma delas, a E.E. Carlos Gomes, no Centro, no fi nal de novembro.

A ocupação na unidade, umas das mais tradicionais de Campinas, teve início na sex-ta-feira, dia 13 de novembro, após os alunos buscarem uma explicação na Diretoria de Ensino da região e não obte-rem resposta. Se ocorrer (por enquanto, trata-se apenas de um adiamento), as principais mudanças que a reorganiza-ção trará serão o fechamento do período noturno, da Edu-cação para Jovens e Adultos (EJA) e a transferência dos alunos do Ensino Fundamen-tal do período da tarde para a E.E. Francisco Glicério – também ocupada.

O sentimento de indigna-ção dos jovens estudantes é claro: “Se seremos nós os afe-tados, nos vemos no direito de questionar a medida proposta e cobrar uma real melhora na educação pública”, declaram os ocupantes da E.E. Carlos Gomes em manifesto escri-to coletivamente, afi xado na porta da escola e entregue aos visitantes.

Apesar da promessa de abertura de diálogo com a po-pulação estudantil (ocorrida no dia 1) e da suspensão do projeto de reorganização (no dia 4), os alunos continuam ocupando as escolas. Para isso, a gestão do governo tu-cano já dá indícios de estraté-gias que serão utilizadas para desocupar as escolas. O uso de forças policiais é uma de-las.

A ocupação, passo a passoNo dia da ocupação, todas as turmas foram liberadas, após o horário das aulas. Na saída do corpo docente, houve uma disputa por espaço: funcio-nários da escola foram obri-gados a restringir os alunos de terem acesso a banheiros, água e comida, mas foi em vão.

Havia funcionários a fa-

O dia a dia numa escola ocupada

Fachada da E.E. Carlos Gomes: à noite, estudantes mantém luzes acesas e o acesso é restrito

vor do movimento estudantil, mas que não poderiam se ma-nifestar naquele momento. A maioria dos professores apoia os alunos e está presente todos os dias na ocupação. “Muita gente está falando por aí que foram os professores que nos induziram a fazer a ocupação, o que é uma mentira. Todo o movimento foi organizado pelos alunos. Eles estão aqui para nos dar apoio!”, declara uma adolescente de 16 anos, uma das pioneiras no movi-mento de ocupação da escola Carlos Gomes.

Em todo o Estado, além de lutar contra a reorganização proposta pelo governo tucano, os ocupantes querem a con-tratação de mais professores e funcionários, a criação de um grêmio estudantil, a proibição de superlotação das salas de aula (no máximo 25 alunos por classe) e a proibição ao corte de verbas na educação.

Em uma carta aberta, di-vulgada após a decisão do governo de adiar a reorgani-zação, estudantes da Carlos Gomes declararam que não irão desocupar a escola en-quanto não houver a garantia de matrícula para todos os estudantes de todas as escolas do estado de São Paulo, res-peitando as demandas de cada uma e dos estudantes quanto ao local de estudo. Em relação à pauta interna, os alunos rei-vindicam a renúncia da gestão atual da escola, pois, segundo eles, seria a garantia de que nenhum integrante do movi-mento sofrerá algum tipo de perseguição ou retaliação – visto que já houve ameaças de punições no dia anterior à ocupação.

Famosos como Criolo, Tuilipa Ruiz, Paola Caro-sella e Maria Gadu postaram em suas respectivas páginas no Facebook mensagens em apoio aos estudantes. “Esse ano foi muito duro para o Brasil. Tanta coisa horrorosa, errada... Esses meninos estão sendo uma luz para a gente, sabe? Esses meninos são ma-ravilhosos”, disse Criolo em um vídeo para a revista Trip. Em apoio, a jurada do progra-ma de TV Masterchef, Paola Carosella ajudou os estudan-tes da ocupação da Escola Fernão Dias Paes, em Pinhei-ros, a preparar refeições.

Na capital paulista o mo-vimento “Virada Ocupação” reuniu mais de 20 artistas para um evento em prol ao movimento estudantil. Shows foram realizados dentro das escolas, com a participação de Pitty, Criolo, Clarice Falcão, Tiê e a banda Vanguart.

Foto: Gabriel Furlan

ProgramaçãoEntre 14h e 18h, professores, alunos e inte-grantes de movimentos sociais, que apoiam o movimento estudantil, oferecem ofi cinas culturais e discussões para os alunos que também são abertas para o público externo. Uma dessas ofi cinas foi o bate-papo sobre preconceito racial realizado no último dia 20, a batalha de MC’s e a roda de samba fe-minista com o grupo “Samba das mina” que ocorreu no dia 2 de dezembro.

AliadosAlunos e professores da Unicamp, PUC-Campinas e USP demonstraram apoio aos estudantes da ocupação Carlos Gomes. Apoio é sempre bem-vindo pelo grupo. In-dependente da forma, seja ela em dinheiro, em alimentos e até em ofi cinas. Mensagens apoiando o movimento chegam das mais va-riadas formas: pessoas que passam em frente à escola e gritam declarações de força. Na página criada no Facebook (www.facebook.com/OCUPACG) e até mesmo em cartas es-critas à mão por crianças de 10 anos.

AlimentaçãoOs alimentos chegam por meio de doações e são preparados na cozinha da escola por uma ocupante. Lá fi cam cerca de cinco jovens res-ponsáveis das refeições diárias e pela limpe-za do material utilizado.

LimpezaTodos os alunos da ocupação são responsá-veis por limpar e organizar a escola, tanto a área interna quanto externa. Eles prezam pelo respeito ao local onde estudam, impedindo que uma imagem de desordem apareça na mídia, o que pode enfraquecer o movimento.

BanhoPela escola não possuir chuveiros, há o reve-zamento dos alunos. Enquanto uns vão para casa tomar banho, outros fi cam na escola.

SegurançaO revezamento é presente em todas as ativi-dades da ocupação. Os turnos de ronda mu-dam a cada seis horas. Há também a fl exibi-lidade, caso um indivíduo responsável pelo cargo se sinta cansado. Alunos responsáveis pela segurança da ocupação se dispõem no portão, ao redor do prédio na área externa e nas janelas do terceiro andar – que por ser mais alto, permite uma visão melhor do terreno. As lâmpadas das salas perma-necem sempre acessas, o que é facilmente observável por quem passa em frente à es-cola à noite.

O terceiro andar/ sonoPara dormir, os alunos utilizam a pró-pria sala de aula. Barracas, colchonetes e mochilas pelo chão formam um grande quarto. Não há a divisão por sexo. “Não estamos aqui para se divertir ou qualquer coisa do tipo. Por isso, não há problema em dormirmos todos juntos”, diz um ocu-pante.

Sem hierarquia, todos juntos Não existe um cargo com maior poder. Não existe alguém que mande mais. Todos são responsáveis por tudo, exercem qualquer função para que haja maior possibilidade de revezamento e nenhuma tarefa seja compro-metida. Para decidir qualquer medida a ser tomada, uma assembleia é feita pelos alunos para que haja a discussão do tema em ques-tão. Isso ajuda a evitar possíveis confl itos tanto internos quanto externos.

ManifestaçãoNo último dia 4, houve a paralização da Av. Anchieta (na frente do colégio ocu-pado) como sinal de manifesto. Junto a cartazes, baterias e apitos, o evento con-tou com a participação de representan-tes de outras escolas da região e teve o acompanhamento da Polícia Militar.

Dia a Dia

Page 4: Saiba + - Dezembro 2015

Página 4 Pro� ssão

Contratações de Natal têm tempo menorSerão 6,4 mil novos empregos em dezembro, mas tempo médio de trabalho é de 30 dias; em 2014, eram 45

14 de dezembro de 2015

Marília Sisti

Apesar de 6,4 mil vagas temporárias sendo ofertadas para o fi nal de ano no comér-cio de Campinas, as contrata-ções passaram por ajuste no tempo de serviço contratado. Hoje, segundo a Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic), as vagas disponíveis são para contratos de apenas 30 dias no mês de dezembro. Ainda de acordo com a Acic, essa redução já havia sido registrada no ano passado. Em 2014, os contra-tos tinham duração de 45 dias, enquanto o ano anterior, 2013, duravam por até três meses.

Essa alteração na duração dos contratos vem acompa-nhada também pela redução do número de vagas. Em re-lação a 2014, foi registrada a redução de 40% nas contrata-ções. Para a Acic, a justifi cati-va é a falta de movimento que o comércio enfrenta em meio à crise. O gasto médio por consumidor que se tinha em 2014 era de R$ 305,00 nessa

época do ano. A estimativa que se tem para 2015 é a que-da para R$ 295,00.

Para a gerente de uma loja de roupas Maria Tereza Ribeiro, a crise no comércio fez com ela reduzisse as va-gas de fi m de ano para ape-nas três ofertas. “A demanda que a gente tem nessa época foi sempre muito grande. Nós temos um quadro de dez fun-cionários efetivos na loja e, a partir de novembro, costumá-vamos contratar mais cinco ou seis temporários. Esse ano só podemos pagar três”, conta. A gerente ainda ressalta que, com a quantidade de vendas reduzida, até as metas da loja tiveram que ser alteradas.

De acordo com Maria Tereza, cada funcionário possui uma quantidade pré--determinada de peças a serem vendidas no mês e o percentual pago a cada um se baseia no valor de cada item. “Nós tínhamos me-tas apenas de quantidade, não de valores. O problema agora é que já faz meses que

mesmo os efetivos não con-seguem atingir o combina-do. Entendemos que a crise prejudicou as vendas e tive-mos que reduzir a meta”, ex-plica. A gerente ainda conta que, quando a loja atingia os objetivos, os funcionários ganhavam bonifi cações adi-cionais, o que está difícil de acontecer. “Muita gente está com medo de gastar esse ano”, completa.

O estudante Daniel Conti, de 25 anos, está à procura das vagas temporárias, período em que está sem aulas e, ape-sar de já ter tido experiência com o comércio, ainda não obteve resposta. “Eu comecei a entregar o meu currículo de loja em loja faz mais ou me-nos um mês. Fiz até o meu ca-dastro online pelo CPAT, para o qual a gente tem que enviar os currículos. Mesmo com a antecedência e o cadastro concluído, até agora não fui chamado.”

O estudante ainda conta que chegou a trabalhar como vendedor em uma loja de sa-

Arte: M

arília Sisti

patos no mesmo período em 2013, mas que agora a difi cul-dade é ainda maior.

Segundo a Acic, a priori-dade que o comércio dá é para aqueles candidatos que já ti-veram bastante experiência com vendas, principalmente

em épocas de grande movi-mento. A justifi cativa é de que o atendimento daquele que já trabalhou no setor é mais ágil e de maior qualidade, visto que já possuem conhecimento e não há necessidade de trei-namento.

CFM proíbe selfi es de médicos e pacienteA medida, de acordo com órgão, pretende garantir ética; profi ssionais se dividem sobre o uso de tecnologias

Giovanna Lima

O Conselho Federal de Medicina publicou em setem-bro deste ano uma resolução que proíbe médicos de postar na internet selfi es (autorretra-tos) com pacientes. Além des-se tipo de fotografi a, também há outras proibições, que, se-gundo o presidente da Asso-ciação Paulista de Medicina, Florisval Meinão, vêm rea-fi rmar algumas questões da ética médica, como a de não expor seus pacientes.

Dentro das proibições, está a participação de médi-cos em comerciais e anúncios, a autodivulgação em páginas da internet e a consulta via mensagens (e-mail, SMS, WhatsApp...). Meinão explica que não vê problema no fato de o médico divulgar infor-mações, “contanto que seja algo já pesquisado e reconhe-cido pelo Conselho”.

O ginecologista Ayrton Daniel Filho recebeu recen-temente uma notifi cação so-licitando que sua página pro-fi ssional no Facebook fosse tirada do ar. Ele conta que, após esse pedido, foi até o Conselho Regional (CRM) e lá havia algumas impressões de sua fanpage, justifi cando o motivo de precisar tirá-la da

rede. Dentre algumas dessas advertências, estavam fotos de cursos promovidos den-tro da clínica dele e de fotos em que aparece. Em alguns casos, eram imagens sem nenhuma relação com pa-cientes, como uma em que a secretária lhe desejava para-béns pelo aniversário.

Para Daniel Filho, a medi-da do CRM é necessária, uma vez que alguns profi ssionais podem utilizar das novas tec-nologias de maneira antiética e acabar divulgando informa-ções que não são verdadeiras. Porém, ele afi rma que algu-mas advertências não fazem sentido. “Fiquei meio confuso com a notifi cação da divul-gação dos cursos. Não vejo esbarrar na ética, afi nal é uma atividade social”.

Meinão explica que a de-cisão do CRM partiu da cons-tatação de que houve grande aumento na utilização de meios de comunicação para utilização indevida, ferindo o Código de Ética Médica. A notifi cação e a regulamenta-ção, segundo ele, foram pre-ventivas. Ele explica ainda que, caso algum médico não cumpra as regras estabeleci-das, o Conselho tem instru-mentos para puni-los. São cinco degraus de punição, que

vão desde uma advertência à cassação do diploma. O pro-cesso pode ser aberto por de-núncia ou pela identifi cação do próprio Conselho de que há algo errado.

Atendimento via WhatsappA resolução publicada pelo CRM também cita o atendi-mento a distância, por men-sagens, telefonemas e prin-cipalmente pelo WhatsApp. Meinão explica que esse tipo de atendimento pode colocar a vida do paciente em risco, mas que não há necessidade de ser extremista: “Tudo deve ser feito com bom senso. Se eu já atendo o paciente e te-nho o diagnóstico, posso dar uma recomendação simples e orientá-lo para que, assim que possível, vá ao consultó-rio”. Ele afi rma ainda que, no caso de pacientes que não se consultam há tempos ou até mesmo no caso de um sinto-ma mais sério, a orientação é de que vá até um pronto-so-corro, caso não esteja dentro do horário de atendimento.

Daniel Filho comenta que sua demanda de mensagens via WhatsApp é muito gran-de, principalmente com suas pacientes grávidas. Para ele, a facilidade de comunicação é positiva em muitos aspectos:

O ginecologista Ayrton D. Filho foi obrigado a excluir página do Face

“Esse contato é importante, o paciente sente segurança. Não dá para fazer uma consulta, mas dá para responder uma necessidade da paciente.”

No entanto, para o gi-necologista Cássio Arru-da Soares, o atendimento a distância não é tão benéfi co assim. Ele recebe em mé-dia 15 mensagens por dia e conta que a necessidade da paciente em uma resposta imediata faz com que, se em 10 minutos, não responda, a pessoa insista em enviar mais mensagens: “Atrapalha a vida social, porque elas não se preocupam com o horário da mensagem. Atrapalha o sono, porque meu celular fi ca

ligado caso o hospital precise me contatar”.

A estudante Ana Carolina Padovani, de 20 anos, con-ta que, desde que se mudou para a cidade de Niterói (RJ), por causa da faculdade, não encontrou nenhum médico para se consultar, então fre-quentemente recorre à sua médica em Campinas, mas não vê problemas nisso, pois, antes de se mudar, já havia se explicado para ela: “Acre-dito que não seja obrigação dela me responder, porém, no meu caso, o combinado foi de que sempre que eu preci-sasse, eu entraria em contato via e-mail e ela responderia quando pudesse”.

Foto: Giovanna Lim

a

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14 de dezembro de 2015 Página 5

Índice é maior entre meninas, de acordo com pesquisa realizada por instituto nos Estados Unidos e no Brasil

Saúde

Mariana Antonacci

Isolamento, irritabilida-de, rebeldia, melancolia: es-sas características conside-radas típicas da adolescência podem ser indícios de uma depressão. Estudos realiza-dos por pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Uni-dos estimam que entre 7% e 11% dos adolescentes apre-sentam sintomas claros de depressão. De 2% a 3% têm quadros graves da doença. No Brasil, as estatísticas do mesmo órgão indicam que os adolescentes apresentam incidências semelhantes, sendo a depressão mais co-mum em meninas (12%) do que nos meninos (5%).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê que, até o ano de 2020, a depressão pas-se a ser a segunda maior cau-sa de incapacidade e perda de qualidade de vida na popula-ção mundial, atrás apenas das dores nas costas.

O estudante A., de 21 anos, que pediu para não ser identi-fi cado, conta que a depressão teve início aos 17, com o fi m de seu namoro e com a pressão dos pais sobre que faculdade

faria. “Mas a gota que faltava foi saber que minha avó es-tava doente e eu não poderia fazer nada. Foi difícil. Ela era meu porto seguro, até que, em 2013, ela faleceu e, com isso, nada mais teve sentido.”

Segundo a psicóloga Caro-lina Marson, a depressão é um problema sério com grande impacto na vida de um ado-lescente. Se não for tratada, poderá conduzir a problemas na escola e em casa, abuso de drogas, ódio de si mesmo e até tragédias irreversíveis como homicídios ou suicí-dios. “Mau-humor e rebeldia são normais na idade, mas a depressão na adolescência é muito diferente. A depressão pode destruir a essência da personalidade do adolescente, causando tristeza, desespero, ou raiva”, afi rma.

Foi o caso do estudante A., que o via como o culpado de todos os fatos ruins que lhe aconteciam. “A partir desse ponto, alguns pensamentos foram tomando conta de mim e comecei a descontar em meu próprio corpo todas as minhas frustrações. Confesso que o pensamento de suicídio passou por várias vezes em minha cabeça”, conta.

Depressão atinge até 12% de criançasApesar de não serem cla-

ras as causas dessa incidência mais elevada, Carolina acre-dita que a atual sociedade co-labora para o aumento de de-pressão entre os adolescentes. “Cada vez mais, a sociedade pede consumo. A mídia im-põe padrões que, muitas ve-zes, são impossíveis de serem alcançados”, explica.

O tratamento da depres-são para A. foi complicado, porque ele não contou com o apoio da família. “Eu não queria compartilhar com nin-guém. Meus pais até hoje não fazem ideia das coisas que aconteciam. Apenas uma vez, minha mãe decidiu me levar a um psiquiatra e, quando ele disse que eu tinha depressão, ela se recusou a aceitar e começou a chorar. Tive que guardar tudo para mim e me virar para ir a con-sultas sem que eles ou outras pessoas soubessem,” diz

Para o universitário, a ajuda do psicólogo e do psi-quiatra foram essenciais para conseguir superar a depres-são. “Apesar de, hoje em dia, eu não ir com tanta frequên-cia a consultas, o tratamento continua. Não é algo sobre o que temos controle. Hoje eu

Instituições médicas recomendam cautela em relação a clínicas não autorizadas e a procedimentos invasivosNatália Villagelin

De acordo com a So-ciedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), o Brasil é o se-gundo país que mais reali-za procedimentos estéticos cirúrgicos e não cirúrgicos no mundo. Essa alta refl ete diretamente no mercado de estética do País que cres-ceu mais de 70% no últi-mo ano. O problema é que muitos profi ssionais sem formação específi ca ofe-recem tratamentos que só deveriam ser realizados por médicos, levando alto risco para pacientes.

A gerente de vendas Ma-rissol Carvalho conta que, aos 46 anos, quis fazer algo que não fosse tão invasivo quanto uma cirurgia para “tirar a gor-durinha”, e optou por um pro-cedimento chamado de crioli-pólise, que promete congelar células de gordura a tempera-turas negativas, eliminadas na urina. Ela procurou por uma clínica de estética sem mé-

Mercado de estética cresce 70%

A gerente Marissol Carvalho já fez várias intervenções estéticas

Foto: Natália V

illagelin

dico e, na semana seguinte, marcou o procedimento. Po-rém, a falta de informação lhe custou queimaduras graves e a necrose de uma parte do tecido da barriga. Após todo o transtorno, precisou fazer uma cirurgia plástica. “Foi, além de muito doloroso, de-cepcionante. O resultado pro-metido não chegou nem perto e acabei tendo que recorrer ao bisturi, o que não queria”.

Uma outra mulher, que preferiu não se identifi car, no fi nal do ano passado fez a aplicação de toxina botulíni-ca em uma clínica de estética também sem supervisão mé-dica. Ela não sabia que havia a necessidade de ter um mé-dico responsável para realizar o procedimento, o que levou a paralisia de outros múscu-los que não eram os da região tratada. Foi comprovado que o erro foi gerado por inexpe-riência profi ssional e hoje ela move um processo contra o local.

O médico Luiz Henrique Trillo, cirurgião plástico, ex-

plica a necessidade um médi-co para realizar procedimen-tos. “Há pessoas que fazem esse serviço e não tem a com-petência nem a formação para saber onde estão colocando a agulha. É importante saber se a pessoa estudou isso. Senão, é mais fácil errar do que acer-tar”, diz.

Além disso, o médico diz que, apesar de a criolipólise ser liberada pela Agência Na-cional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ele não recomen-da o procedimento. “Eu fujo disso, porque pode dar mais problemas do que solução, principalmente se não for fei-to da maneira correta.”

Segundo a legislação bra-sileira, a indicação e execu-ção de procedimentos inva-sivos, sejam diagnósticos, terapêuticos ou estéticos, é uma atividade privativa de médicos. É o que alerta o Conselho Federal de Medici-na. A Anvisa considera que, no exercício da atividade fi scalizadora, as Vigilâncias Sanitárias de estados e mu-

nicípios deverão observar, entre outros requisitos e con-dições, a adoção de medi-das de biossegurança pelos serviços de estética que não

necessitam de médicos. A Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), em Cam-pinas, não quis se pronunciar sobre o assunto.

estou bem, amanhã eu posso ter uma recaída, não é fácil. É algo que eu não desejaria para ninguém,” diz.

O tratamento, segundo a psicóloga, deve ser conjun-to: medicação e terapia. “A medicação vem como um suporte para que o paciente dê conta do processo, não deve ser algo defi nitivo e que acabe por camufl ar sua

angústia”, salienta. O maior desafi o que o

estudante enfrentou com a depressão foi achar algo que o motivasse, “algo que me desse um novo sentido para tudo aquilo à minha volta, para minha vida. Depressão é viver sem sentido, sem motivos, sem nada que te faça feliz, que te complete”, fi naliza.

Arte: M

ariana Antonacci

Page 6: Saiba + - Dezembro 2015

14 de dezembro de 2015Página 6 Terceiro Setor 14 de dezembro de 2015

Breno Scarano e sua amostra de produtos comprados no exterior: preço é a facilidade

Arrecadação de ONGs caem até 40%Instituições relatam que ano foi difícil devido à crise e precisam encontrar alternativas para manter atividades

Minéya Fantim

A crise econômica que o Brasil vem enfrentando em praticamente todos os seg-mentos da sociedade tem afetado também o terceiro setor, formado por associa-ções e entidades sem fi ns lucrativos. Muitas empresas e pessoas que antes realiza-vam doações mensais para fi ns assistenciais hoje já não o fazem mais. Só em Cam-pinas, entidades relatam di-minuição no total arrecada-do entre 20% e 40%.

Na Organização Não Governamental (ONG) Hospitalhaços, que tem como objetivo levar des-contração e diversão aos hospitais, a média geral de queda nas arrecadações por meio de doações nos últi-mos quatro meses foi de 20%. De acordo com Mario Eduardo Paes, coordenador geral da ONG, 2015 já se iniciou com uma arrecada-ção menor em relação aos anos anteriores, situação que se agravou a partir do segundo semestre do ano. Atualmente, a ONG atua em 22 hospitais, sendo 12

Voluntários da ONG Hospitalhaços ajudam a alegrar crianças internadas em hospitais de Campinas: 600 voluntários tentam encontrar alternativas para difi culdades fi nanceiras

deles em Campinas.No Lar dos Velhinhos,

que atende 130 idosos, a queda no percentual de doações foi ainda maior: 40%. Segundo a assessora de imprensa da instituição, Natália Rodrigues Chaves, as contribuições vêm cain-do desde maio deste ano, devido ao número cada vez maior de desempregados no País. Natália acredita que, apesar de a crise ter chegado para todos, os mais afetados têm sido os brasileiros que compõem as classes C e D, que são os que mais contri-buem com o Lar. “Incon-testavelmente, a perda ou a diminuição da renda fazem com que as pessoas se pre-ocupem mais com as neces-sidades básicas da família, como alimentação, saúde e segurança. A doação só acontece quando a pessoa está com todas as carências assistidas”, explica.

Apesar dos números preocupantes, os serviços oferecidos pelas duas enti-dades não foram afetados. Paes conta que, em função do contexto da crise, a Hos-pitalhaços realizou um pla-

nejamento mais rigoroso no início do ano, para que as atuações não fossem afeta-das. “Além disso, estamos aumentando as divulgações e cortando custos onde ain-da é possível”, conta.

No caso do Lar dos Ve-lhinhos, a compensação para o atual momento eco-nômico veio da criação de mecanismos de arrecada-ção mais abrangentes. “Te-mos um padrão de serviço a ser oferecido e não pode-mos simplesmente retirar algum item desse processo. Por isso, expandimos a di-vulgação e, hoje, comercia-lizamos os trabalhos feitos na instituição, como os ar-tesanatos produzidos por nossas idosas. É uma ação pequena, mas que nos traz algum retorno”, diz Natália.

VoluntáriosEm tempos de crise, a pre-sença dos voluntários nas entidades é cada vez mais fundamental para susten-tar os trabalhos. O Lar dos Velhinhos conta, atualmen-te, com 77 deles, que se distribuem entre acompa-nhamento nas atividades te-

rapêuticas, artesanato, refl e-xologia, grupos de lanche e em atividades administrati-vas. “O voluntário tem um papel de suma importância para o desenvolvimento do Lar, pois proporciona gra-tuitamente atividades que melhoram a qualidade de vida do idoso e auxilia no desenvolvimento do rela-cionamento pessoal e inter-pessoal”, conta Natália.

A ONG Hospitalhaços, por sua vez, possui cerca de 600 voluntários ativos, sen-do 380 palhaços humaniza-dores, 80 brinquedistas, 20 colaboradores e 120 volun-tários de apoio, atuantes na administração, no bazar, na organização de eventos e na comunicação. “O voluntário é e sempre será o coração da ONG. Ele move as ações e precisa estar sempre ciente e motivado para tal”, diz Paes.

PerspectivasSegundo o Gestor do De-partamento de Gestão So-cial da Federação das En-tidades Assistenciais de Campinas (Feac), Lincoln César Moreira, ainda não há dados sobre a queda na

quantidade de doações para entidades assistenciais. Os resultados mais de-talhados sobre o assunto es-tarão concluídos apenas na segunda quinzena de janei-ro de 2016, quando serão fechadas as análises sobre o total de receitas e despesas das entidades.

Moreira adianta, contu-do, que a crise econômica realmente chegou às entida-des, e que houve queda nas doações.

“De modo geral, a maio-ria delas têm convênios com o Poder Público, seja Municipal, Estadual ou, até mesmo, Federal. Essas re-ceitas continuam entrando normalmente. O que im-pacta é a entrada de recur-sos advindos de pessoas fí-sicas ou jurídicas privadas”, explica.

A projeção do gestor para o ano que vem é a de que as doações de pessoas físicas ou jurídicas conti-nuem caindo.

“O cenário é bem pessi-mista. Se as entidades con-seguirem manter a mesma receita de 2015, já é um avanço”, conclui.

Foto: Divulgação

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14 de dezembro de 2015 Página 7

Legislação municipal garante entrada gratuita para maiores de 60 anos, mas usuários encontram difi culdade

Cidades

Julia Leme

A Lei municipal nº 11.193/2002, em vigor des-de agosto de 2014, garante a entrada gratuita nos cinemas de Campinas para idosos de 60 anos ou mais. Porém, os cinemas não têm cumprido a legislação.

O benefício é válido para qualquer sessão de segunda a sexta-feira, bastando o idoso apresentar um documento de identidade legalmente reco-nhecido. Antônio Marcatto tem 73 anos e costuma ir ao cinema levar seu neto, po-rém sempre pagou o valor da meia-entrada. “É uma lei que poderia incentivar a minha ge-ração a dar mais valor a essa arte, mas, a nenhum cinema a que fui, os funcionários me avisaram desse direito e não tem nenhum aviso”, conta.

Já a Lei nº 8.432, em

vigor desde 19 de julho de 1995, estabelece que as em-presas de cinema são obri-gadas a colocar cartazes informando sobre o acesso gratuito, em local visível, ao lado das bilheterias. Essa lei também não é cumprida.

Os funcionários das redes de cinema de Campinas di-zem não conhecer a lei e por isso cobram a meia entrada. “É bom a gente ter conheci-mento e ir atrás dos nossos direitos”, afi rma Marcatto. “Porque, se depender da boa vontade dos donos em cum-prir com a lei, pagaremos sempre a meia-entrada”.

O descumprimento des-sa lei acarreta diversas pu-nições. O advogado Sérgio Helena explica que o estabe-lecimento recebe uma multa de R$ 1 mil. A pena também pode ser de até 180 dias de suspensão das atividades e o

Cinemas descumprem lei para idosos

Cinemas devem manter cartazes avisando do benefício para idosos

Foto: Juilia Leme

estabelecimento está sujeito à cassação do alvará de fun-cionamento. “Mas, além das punições judiciais, o descum-primento pode prejudicar a imagem dos estabelecimen-tos para seus clientes, o que pode ser pior que a multa”, afi rma.

A reportagem do Saiba+ entrou em contato com as duas principais redes de cine-mas que atuam nos shoppin-gs Iguatemi e D. Pedro, com o maior número de salas da cidade. No entanto, nenhuma das empresas deu retorno para se posicionar sobre o descum-primento da lei.

“Quando uma lei como essa é aprovada, as empresas envolvidas são, obrigatoria-mente, avisadas sobre a mu-dança”, explica Helena. “Para eles, é mais fácil fugir da res-ponsabilidade do que cum-prir com a lei”, completa.

Casas noturnas são acusadas de preconceito e de barrarem pessoas devido às roupas e à aparência física

Barbára Martins

Reclamações contra es-tabelecimentos como casas noturnas, bares e karaokês em Campinas têm se tornado cada vez mais comuns. Situ-ações como barrar clientes por causa de roupa/aparên-cia, gênero e aumentar o va-lor da entrada contabilizam a maior parte das reclamações. O local escolhido para as de-núncias são as redes sociais e as páginas dos próprios esta-belecimentos.

A casa noturna Banana República, inaugurada recen-temente no Distrito de Barão Geraldo, é suspeita de sele-cionar quem entra ou não no

Aumentam reclamações contra baladas

Balada em Campinas: jovens têm usado as redes sociais para reclamações, que vão desde � las a preconceito

Foto

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vio

Cas

tilha

estabelecimento. A estudante C.B., de 19 anos, afi rma ter sido impedida de entrar, jun-to com seus amigos, no dia 3 de outubro. “Quando nós chegamos, eles disseram que só iam deixar entrar quem es-tivesse fazendo faculdade. Na verdade, eles estavam criando problemas só com os rapazes, mas percebi que era mentira. Eles estavam deixando entrar só quem estava vestido de determinada maneira”, conta. Ainda segundo a estudante, eles disseram que estavam selecionando quem entraria ou não na balada por causa de brigas. C.B. entrou nova-mente na fi la e alegou que viu um promoter dizendo aos

seguranças que não era para deixá-los entrar. “Daí chega-ram para nós e disseram que, se quiséssemos, teríamos que pagar R$ 200,00. Se quisésse-mos o camarote, que custa R$ 1.000,00, teríamos que pagar R$ 5.000,00”, afi rma.

Para a cientista social Maria José Duarte Osis, esse tipo de comportamen-to refl ete os paradoxos da sociedade. “Entendo que os estabelecimentos que ‘sele-cionam’ quem pode e quem não pode entrar, participar, fazer parte do grupo, es-tão situados dentro de uma constante tensão entre igual-dade e diferença. Subjacen-te, penso que se encontra a

disputa pelo capital simbó-lico associado às atividades de lazer e culturais”, explica.

A estudante Branca Bacci-Brunelli, de 22 anos, também passou por uma situação constrangedora na casa noturna Banana República. Transexual, foi obrigada a pagar o ingresso como homem, por conta do nome que constam no RG. Branca, que já havia frequentado o estabelecimento e sempre pagou como mulher, surpreendeu-se com a atitude. “Tirei da bolsa o meu laudo clínico, documento que informa que sou uma mulher, e devo ser tratada como tal. De nada adiantou. Fiz o gerente ser chamado e, educadamente, expliquei a situação, apresentei o documento, o qual nem foi lido, apenas questionado se tinha fi rma reconhecida”, conta ela. Após algum tempo de conversa, Branca decidiu entrar na balada pagando o valor do ingresso masculino. “É vergonhoso, em pleno 2015, uma pessoa ser forçada a passar por esse tipo de situação embaraçosa e humilhante”. Ela fez um Boletim de Ocorrência e pretende mover um processo.

Emerson Luz Correa, di-retor social da Banana Repú-blica, explicou que o ocorri-do com a estudante Branca

decorreu de um despreparo de uma das promoters. “Ela fi cou com medo de ser des-contado do salário e acabou tomando tal atitude”, conta. O diretor ainda afi rmou que a política da casa respeita todos os direitos LGBTT e não tem nenhum tipo de preconcei-to. Correa explica ainda que a casa utiliza um método de contenção, uma vez que o pú-blico principal são os univer-sitários, que, inclusive, pagam menos ao apresentar a cartei-rinha. “Os próprios universi-tários começaram a reclamar de outras pessoas”, explica.

Desorganização, falta de educação por parte de ge-rentes e promoters, além do envio de mensagens sem consentimento também estão entre os principais problemas citados pelos usuários. O es-tudante Henrique Borges, de 21 anos, reclama do Club 88. Segundo ele, o local é desor-ganizado, o que gera grande fi la e prejudica quem com-prou entrada VIP.

Fabio Leite, assessor de imprensa, explica que todas as reclamações recebidas são lidas e apuradas com os fun-cionários. Um contato com os clientes insatisfeitos tam-bém é feito. “Enquanto mui-tas casas noturnas bloqueiam comentários, o Club 88 acei-ta os elogios e também as crí-ticas”, defende o jornalista.

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Página 8 Cidades

Barão tem pontos ‘ofi ciais’ para caronasGrupo de estudantes instala banners para identifi car locais em que se pode conseguir uma viagem gratuita

14 de dezembro de 2015

Carolina Amaral

Um grupo de sete uni-versitários da Universidade Estadual de Campinas (Uni-camp) organizou dois pontos de carona na Avenida Atilio Martini (Avenida 2), em Ba-rão Geraldo. O coletivo, de-nominado Barão Samaritano, justifi ca a criação em razão dos longos percursos que es-tudantes costumam fazer a pé. A ideia surgiu a partir de um treinamento de Design Thinking, que tinha como tema “resolução de desafi os da sociedade”.

Ciro Aloisio de Paula Du-arte, que cursa Engenharia de Computação, integrante do grupo, conta que, desde que os pontos de caronas foram criados, no dia 23 de agosto, o coletivo tem recebido muitos comentários positivos sobre a ação, e, cada vez mais, estu-dantes e moradores têm aderi-do à pratica. “Nós não temos os dados da quantidade de pessoas que usam as caronas nem o de caroneiros [como são chamadas as pessoas que oferecem caronas]. No en-tanto, sempre conversamos e ouvimos que, diariamente, há pessoas pegando carona, prin-cipalmente, no trecho fi nal da Avenida 2”.

Nos dois pontos – um no começo da Avenida – pró-ximo à Praça Henfi l, saída da Unicamp – e outro, no entroncamento com a Ave-nida Albino José Barbosa de Oliveira – há um banner, de lona, que indica o local de espera. Em média, segundo os membros do grupo, uma pessoa fi ca quatro minutos até conseguir uma carona. O cartaz orienta as pessoas que também façam sinal com a mão para chamar a atenção dos motoristas. “O grupo tem se reunido e buscado al-ternativas e, é claro, a cola-boração de toda comunidade nos ajuda muito”, explica Duarte.

Apesar de achar perigoso dar carona para desconheci-dos em algumas situações, a universitária Maria Paula Ri-beiro, de 24 anos, moradora de Barão Geraldo, conta que, se passasse pelos pontos e visse um estudante aguardando, pa-raria. “Eu já precisei de mui-ta carona! Então, eu costumo oferecer, não só aqui em Ba-rão, mas quando vou ou volto de São Carlos”, conta, referin-do-se à sua cidade natal.

Do ponto de vista legal, a advogada Caroline Ambrosin, diz que oferecer carona não é ilegal, nem mesmo rece-ber um valor que auxilie nas

Ponto de carona na Avenida Atílio Martini: destino mais procurado é a Unicamp ou, então, a rodoviária de Campinas

Para conhecer melhor o sistema de ca-

ronas, decidi utilizar um dos pontos insta-lados na Avenida 2. Escolhi o da Avenida Albino José Barbosa de Oliveira, próximo ao Mc Donald’s, por acre-ditar que aquele trecho possui um fl uxo maior de veículos. Às 13h22, me posicionei embaixo do banner que anuncia a carona, e, enquanto aguardava, alguns car-ros passavam e obser-vavam. A maioria de-

les, com homens, que aparentavam ter entre 30 e 40 anos. Nenhum deles demonstrou que iria parar, até que um veículo com dois uni-

versitários estacionou e me perguntou se eu gostaria de uma ca-rona. Disse que sim e entrei no carro. Eram 13h25. Sendo assim, o tempo de espera pela carona foi de, exata-mente, três minutos.

Assim que entrei no carro, o casal me perguntou se eu esta-va indo para a Univer-sidade Estadual de Campinas (Unicamp) e se poderiam me deixar no portão mais

próximo. Disse que sim e, então, fomos. Os caroneiros eram a estudante de Enge-nharia de Alimentos, Gabriela, e seu na-morado, Sérgio, que cursa Biologia, am-bos na Unicamp. Eles contaram que era a segunda vez que davam carona para alguém e que acre-ditavam que eram os únicos a fazer isso.

Durante o trajeto, percorrido rapidamen-te, devido à proximi-dade entre o ponto inicial e o ponto fi nal, fomos conversando e os caroneiros foram muito simpáticos e

educados. Por con-ta disso, em nenhum momento me senti in-segura. Acredito que o fato de serem univer-sitários e possuírem a minha faixa etária tenha colaborado para essa sensação de se-gurança.

Mesmo não sendo longo, seria exaustivo percorrer a pé o traje-to. Tive uma ótima ex-periência ao utilizar o serviço e optaria pelo ponto de carona ou-tras vezes se estives-se a pé e precisasse me locomover por Ba-rão Geraldo.

despesas do motorista com o trajeto. Contudo, ela faz um alerta. “É importante ressal-tar que, mesmo as pessoas que oferecem carona de for-ma gratuita, desinteressada, podem ser responsabilizadas por eventual dano causado por dolo ou culpa grave, nos termos da Súmula 145 do Su-perior Tribunal de Justiça”. A advogada se refere, no pri-meiro caso, a acidentes oca-sionados intencionalmente. Já no segundo, não há intenção.

ConscientizaçãoA conscientização também faz parte dos projetos do Ba-rão Samaritano. Por meio de minicartazes com mensagens irreverentes como “Não use buzina, use paciência”, o co-letivo Barão Samaritano cha-ma a atenção de motoristas, pedestres e ciclistas para boas práticas. “Ao passo que iden-tifi camos a ausência de uma comunicação informativa que incentive boas práticas para um convívio em sociedade e

que evite pequenos inciden-tes, buscamos criar, em con-junto, ideias e ações que ofer-tassem uma solução viável, de baixo custo e de fácil imple-mentação a essas problemáti-cas”, explica Duarte.

A fi m de expandir a atua-ção, os membros contam que farão uma ‘sorvetada’ com o objetivo de arrecadar fundos para aplicar em projetos fu-turos, como a instalação de placas de carona também nas avenidas 1 e 3. Para ajudar a

estimular o engajamento so-cial e ser o mais transparente possível em relação ao uso dos fundos angariados, o co-letivo criou uma página no Facebook (https://www.face-book.com/baraosamaritano). “Poderemos conectar essas e novas intervenções, disponi-bilizando instruções, arquivos e formas de implementação para todos que estejam dis-postos a mudar os pequenos problemas da nossa comuni-dade”, afi rmam na página.

EXPERIÊNCIA DA REPÓRTER

Foto: Carolina A

maral

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14 de dezembro de 2015 Página 9

Serviço de streaming cresce 15,8%Brasil já tem 2,2 milhões de usuários do sistema; 1 a cada 3 internautas já usa o sistema para ver fi lmes

Tecnologia

Pedro Nogueira

A migração do pú-blico de TV paga para o serviço de streaming já coloca o País entre os primeiros em núme-ros de usuários. Desde 2012, o número de assi-nantes de TV paga vem decrescendo anualmen-te, o que levou a Asso-ciação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA) a projetar crescimento zero em 2015. Enquan-to isso, o maior serviço de streaming no Brasil cresceu aproximada-mente 15,8%, entre 2013 e 2015, chegando a 2,2 milhões de usuários, se-gundo o site de notícias Valor Econômico.

A tecnologia strea-ming é uma forma de transmissão instantânea de dados de áudio e vídeo por meio de redes. Com o serviço, é possível as-sistir a filmes ou escutar música sem a necessida-de de fazer download, o que torna mais rápido o acesso ao conteúdo onli-ne.

O presidente-execu-tivo da ABTA, Oscar Vicente Simões de Oli-veira, em entrevista ao jornal Folha de S. Pau-lo, afirma que a queda do número de assinantes é resultado da crise eco-nômica que o Brasil vive em 2015, o que tem le-vado muitos a recorrer à internet como forma de entretenimento. “As pes-soas estão apreensivas”, afirmou Simões.

Já o consultor Juarez Quadros, ex-ministro das Comunicações (governo FHC), na mesma entre-vista à Folha, argumen-tou que a situação não é explicada com a crise. Segundo ele, na verda-de, as pessoas já vinham buscando os serviços de séries, filmes e esportes antes da recessão come-çar. Mesmo com as pro-moções e descontos das operadoras de TV por assinatura, a queda nos números de assinantes é iminente.

O estudante do se-gundo ano de Engenha-ria Civil e supervisor de contratos em uma imo-biliária, Matheus Santos Araújo, de 21 anos, é um exemplo de que, talvez, ambas as explicações ci-tadas sejam plausíveis. Há um ano e meio, ele

Matheus Santos Araújo, estudante, cancelou o serviço de TV paga e agora só usa o streaming, pelo qual paga, no máximo, R$ 20,00 mensais

Foto: Giovanna Lim

a

optou por cancelar a as-sinatura da TV paga para passar a usar um servi-ço de streaming. “Como trabalho e estudo à noi-te, não via utilidade em ter mais de 100 canais e não usar nem cinco por final de semana”, con-ta. Segundo o estudante, existe também a vanta-gem financeira no uso de canais de streaming, cuja assinatura não passa de R$ 20,00 mensais. “Acho também muito mais prá-tico. Você não fica refém da programação do canal, você assiste à série e ao filme que deseja na sua hora”, complementa.

O ilustrador Tiago Almeida Barreto, conhe-cido como Ots, de 29 anos, ainda mantém a as-sinatura da TV paga, mas confessa que usa mais o streaming. “Como tenho o combo, continua a TV paga aqui em casa, mas

quase não uso. Acostu-mei a escolher o que vou ver e que horas vou ver”, explica.

A Netflix, maior canal de vídeos por streaming, comemorou quatro anos no Brasil em setembro deste ano. Hoje, o servi-ço cresce mais fora dos Estados Unidos e tem fo-cado em produções pró-prias em outras línguas. Uma pesquisa divulga-da no dia 1° de outubro pela Conecta, empresa do Ibope, indica que um em cada três internautas bra-sileiros (34%) já assiste a filmes e programas de TV por demanda pelo menos uma vez por semana.

O que vem ganhando destaque no quesito uso da internet para fins de televisão é a procura por esportes transmitidos ao vivo pela web. Desde se-tembro, o canal Esporte Interativo vem transmi-

tindo ao vivo pela internet jogos da Liga dos Cam-peões. O canal não exige assinatura e é visto como uma ameaça às grandes operadoras do País.

A pressão dos serviços de vídeos por demanda é tamanha que as operado-ras já se movem no senti-do da adaptação ao invés da resistência. A Net, por exemplo, já possui a Net Now, com vídeos dispo-níveis para compra, aos quais o assinante pode assistir quando quiser, mediante pagamento. A adaptação, no entanto, como os números mos-tram, não tem se mostra-do suficiente para comba-ter a queda nos números de assinatura.

No dia 10 de setem-bro deste ano, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto do relator Wal-ter Ihoshi (PSD-SP), que atualiza a lei do Impos-

to Sobre Serviços (ISS), acrescentando a Netflix na cobrança, já que ela não contava com uma tri-butação específica.

O ISS é um imposto definido por cada muni-cípio que o consumidor não paga diretamente: quem precisa arcar com esse gasto é o próprio prestador de serviço, ou seja, a Netflix. Entre-tanto, como é um gasto adicional não previsto, isso pode significar um aumento na mensalidade, por exemplo, caso a em-presa de streaming ache necessário para equili-brar as contas. A Netflix, quando questionada, não se pronunciou.

Caso o projeto seja sancionado, a taxa míni-ma de 2% sobre o serviço será aplicada como tribu-to mínimo — ou seja, em alguns locais, esse valor pode ser até maior.

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Página 10 14 de dezembro de 2015Esporte

Futebol de sucesso, sem grandes cifrasPonte Preta fez sucesso na Série A com orçamento que chega à metade dos investimentos de grandes times

Gustavo Porto

Não é só com dinheiro que se faz um grande time de fute-bol. Prova disso é a Ponte Pre-ta, que, mesmo com um dos menores orçamentos da Série A do Campeonato Brasileiro, fez sua melhor campanha na história do atual formato da competição. Para chegar aos atuais 51 pontos, a Macaca deixou para trás “ricos” do fu-tebol nacional como Palmei-ras, Flamengo e Fluminense.

Ao fi m da temporada pas-sada, o Conselho da Ponte Preta aprovou o orçamento do clube de R$ 35 milhões para 2015, sendo que R$ 24

milhões foram usados para a construção do elenco. Mesmo com troca de técnico e saí-das de jogadores importantes como Renato Cajá, o time manteve-se forte e chega à reta fi nal sob o comando do interino Felipe Moreira.

Para se ter uma noção do dinheiro que a Ponte Preta uti-lizou perto dos times ricos do futebol brasileiro e que estão atrás na tabela, Palmeiras e Fluminense tiveram um orça-mento de R$ 200 milhões para a temporada, enquanto o Fla-mengo, clube que mais arreca-da com dinheiro de TV e pa-trocínios, teve um orçamento em torno de R$ 350 milhões.

Jogadores da Ponte Preta comemoram gol e excelente campanha

O meio para a Macaca construir um elenco forte e barato foi contratar jogado-res com vínculos no fi m e por empréstimo. Por exem-plo, o experiente atacante Borges estava encostado no Cruzeiro e não renovaria. Atenta ao mercado, a direto-ria agiu rápido e contratou o jogador. Além do camisa 9, a diretoria ainda acertou com o meia Cristian, que estava no Ituano na modesta Série D e chegou para substituir Rena-to Cajá, que deixou o time no meio do ano.

Sem gastar um centavo para contratar Cristian, a dire-toria da Ponte parece ter acer-tado mais do que a do Pal-meiras, que gastou milhões no início da temporada para um time que demora a en-grenar. Um exemplo disso é o zagueiro Leandro Almeida, ex-Coritiba, já que o Verdão usou cerca de R$ 2 milhões para acertar com um jogador que é reserva e contestado pela torcida.

Para Gustavo Bueno, ge-rente de futebol da Ponte Pre-ta, o essencial era conquistar a permanência na Série A da próxima temporada, já que é muito comum os times que recebem menos dinheiro fa-zerem o tradicional “bate-vol-

ta”, como aconteceu com o Joinville, rebaixado na 36ª ro-dada após perder para o Vasco por 2 a 1. “Desde 2002, quan-do foi implementado o siste-ma de pontos corridos, 64% dos clubes com orçamento pequeno e médio não perma-necem mais que dois anos. 78,4% não fi cam mais de três, sendo o Coritiba a única exce-ção”, afi rma.

Mesmo com uma cam-panha brilhante, o elenco atual ainda luta para superar a trajetória do time que dis-putou o Brasileirão de 2015, quando foram conquistados 51 pontos – na ocasião, o campeonato contava com 22 clubes. Faltando duas ro-dadas para o fi nal, a Macaca precisa de um simples em-pate contra Avaí e Sport, ou então duas vitórias contra os adversários caso ainda sonhe em chegar à Libertadores.

Segundo o técnico Felipe Moreira, uma vaga à compe-tição intercontinental serviria para coroar a campanha feita pelo elenco, que superou as adversidades para chegar a uma boa posição na tabela. “O nosso time tem condi-ções. A Ponte joga de igual para igual. A gente trata o jogo. Esse time, se alcançar uma vaga para a Libertado-

res, entra para a história”, diz o comandante.

E para 2016?Depois de um ano com pou-cos gastos, a Ponte Preta deve gastar um pouco mais na próxima temporada. Isso porque, quando um time sobe da Série B à A, e garante a permanência para o ano se-guinte, o dinheiro de cota da TV aumenta, possibilitando assim um gasto maior com o futebol.

“Esse valor que estamos prevendo aplicará o corres-ponde a 71,5% da receita total. Isso nos garante uma ‘gordura’ necessária para emergência e um arranque fi nal ao término da tempo-rada”, disse Gustavo Valio, diretor fi nanceiro.

No início de novembro, o Conselho Deliberativo apro-vou um orçamento de R$ 43,6 milhões para 2016. Des-se montante, R$ 31,9 milhões serão destinados diretamente ao futebol, possibilitando aos dirigentes um dinheiro a mais para buscar reforços de peso e que ajudem o elenco na próxi-ma temporada. A Ponte Preta vai disputar o Campeonato Paulista, Campeonato Brasi-leiro, Copa Sul Americana e Copa do Brasil.

Foto: Divulgação

Clubes investem em famosos para lucrarJogadores com atenção da mídia são apostas para times menores, como o Tanabi, conseguirem patrocinadores

João Crumo

Nos últimos anos, devido à grande exposição de joga-dores na mídia e ao endivida-mento exagerado dos clubes, o futebol se tornou mais que um esporte. Transformou-se em um negócio e, a cada ano que passa, muito rentável. Um exemplo disso são os times “menores” que, sem dinhei-ro para contratações de peso, resolvem investir o pouco que têm no salário de jogadores mais conhecidos da mídia, que podem trazer um retorno em patrocínios e maior tempo na televisão.

O Tanabi é um exemplo disso. O time, até então des-conhecido do grande público, ainda se utiliza desse meio para aparecer. Em 2012, con-tratou o atacante Túlio Mara-vilha, que buscava seu milési-mo gol. No ano seguinte, foi buscar no Paraguai o atacante Salvador Cabañas, que tem uma bala alojada na cabeça depois de ter sofrido uma ten-tativa de homicídio enquanto

O jogador Flávio Caça-Rato e o presidente do Guarani F.C, Horley Senna, aposta para patrocínio

Foto: Divulgação

jogava no América, do Méxi-co.

“No meio do futebol, isso se tornou muito normal, não só aqui no Brasil. Por exem-plo, o Real Madrid faz muito disso: contrata o jogador pela exposição que ele tem. O Ja-mes Rodrigues foi um desses casos. Ele fez uma bela Copa do Mundo e só. Hoje é cami-sa 10 do time e, nos primeiros meses em que ele estava lá, as vendas de camisa superaram 25 milhões de euros”, diz o especialista em marketing es-portivo Marcelo Pereira.

Esses números do James não param de aumentar. Hoje, o retorno gerado por ele, em venda de camisas, patrocínios e exposição na mídia já paga o que o Real Madrid investiu pelo jogador.

O caso mais recente desse investimento foi do campinei-ro Guarani, único time do in-terior do Brasil a ser campeão nacional. Atualmente, no en-tanto, o Bugre vive uma crise sem fi m: está na terceira divi-são nacional e na segunda do

estadual. Por isso, com um or-çamento muito reduzido, o jei-to foi investir em um jogador folclórico do futebol nacional.

No meio do mês de novem-bro, o Guarani anunciou a con-tratação do atacante Flávio Ca-ça-Rato, que fez muito sucesso no futebol nordestino e virou um ícone. Os torcedores do Brasil até colocaram o apelido de CR7, em comparação ao português, três vezes melhor do mundo, Cristiano Ronaldo.

Marcelo Pereira diz que nem sempre o investimento vale a pena para um clube: “O caso do Caça-Rato com o Guarani é a mesma coisa, puro marketing. Ele estava lá no Nordeste jogando campe-onatos amadores, desde quan-do acabou o contrato que ele tinha com o Santa Cruz. Mas, por causa dele, conhecido do grande público, vão existir empresas que investirão no clube, na camisa do jogador, e

isso, para o Guarani, que sofre muito com dinheiro, é essen-cial. O problema é: será que ele vai conseguir jogar o que os torcedores, a mídia e os pa-trocinadores esperam? Ou vai ser um fi asco?”.

Se vai ser um fi asco ou não, só o início do campeo-nato Paulista da série A2 vai dizer, mas que, CR7 do Nor-deste já deixou o Bugre mais em evidencia na mídia, isso ninguém pode negar.

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Campineiros viram voluntários em MGTerapeuta reúne grupo de nove pessoas e parte para auxiliar desabrigados em rompimento de barragem

Caminhão carregado com água mineral arrecadada em Campinas parte para Mariana e cidades vizinhas

Página 11Crime ambiental14 de dezembro de 2015

Pedro Nogueira

Malas prontas para visitar o Rio de Janeiro. Não. Não eram férias. O terapeuta Ro-bson Teixeira Gondin, de 40 anos, estava com tudo pronto para embarcar a São Gonçalo, na baixada fl uminense, e dar continuidade a um projeto assistencial iniciado há um ano. Antes, nada melhor do que assistir a um pouco de TV para relaxar. O jornal listava os destaques do dia. Alguma coisa acontecera em Minas Gerais, na cidade de Maria-na, região central do estado. Uma das barragens de uma empresa mineradora chama-da Samarco rompeu-se. Mal se encerra a reportagem e ele cancela o voo.

A reportagem a que assis-tira falava sobre aquele que já é considerado o maior de-sastre ecológico da história brasileira: em 5 de novembro, a barragem de Fundão da Sa-marco, empresa resultante da união das gigantes Vale e BHP Billinton, ao romper-se, liberou mais de 30 milhões de metros cúbicos de rejeitos, destruindo distritos da cidade de Mariana e contaminando o Rio Doce.

Foi assim, de imediato, que o campineiro, especia-lizado em dependência quí-mica, e que já fundou dois projetos assistenciais em Campinas e em Hortolândia, mudou a rota: em vez de ter-ras fl uminenses, reuniu uma equipe de nove pessoas - to-das voluntárias - para ir até à cidade mineira de 20 mil ha-bitantes, cujos sete dos nove distritos foram soterrados pela lama tóxica.

Era madrugada e os dois carros – lotados com os passa-geiros, água e remédios – par-tiam para uma viagem de oito horas. Não foi difícil reunir os colegas – a prática e a rede de

Foto: Robson Gondin

Robson Gondin (de bermuda amarela) e os voluntários que angariou para ajudar desabrigados em Mariana

relacionamento adquirida ao longo dos anos permitiram a rapidez e a efi ciência na captação de ajuda e recursos para a nova viagem. Robson é fundador do projeto “Há Esperança”, que há 15 anos atua no campo da prevenção de drogas dando assistên-cia a moradores das ruas de Campinas e região. Há oito, realiza também trabalhos em comunidades carentes, desen-volvendo projetos de saúde, educação, habitação, esporte e infraestrutura.

Sem noções exatas de como e onde atuar, o grupo, que contava com cinco pro-fi ssionais da área da saúde, dirigiu-se ao ginásio munici-pal de Mariana, aonde pessoas chegavam à medida que eram resgatadas de suas casas. Ca-bia-lhes a tarefa de separar os donativos que chegavam gra-dativamente. Na manhã do dia 8, o prefeito da cidade, Duarte Júnior, de 35 anos, enquan-to ajudava as vítimas, passou mal. Teve um princípio de infarto. Coincidentemente, os únicos médicos do local eram os campineiros da equipe de Robson e deram o atendimen-to inicial de primeiros socor-ros, para que fosse encami-nhado ao Hospital Monsenhor Horta da cidade. “Depois do acontecido, as portas políticas se abriram”, afi rma Robson, referindo-se à permissão que passaram a ter para atuar ao lado do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil no resgate às pessoas que ainda estavam ilhadas nos distritos. “Tem lu-gar que ainda não dá para che-gar por terra”, relata Robson, 25 dias depois.

Antes de responder à per-gunta sobre o que mais lhe marcara em Minas, Robson precisar parar. O fôlego não lhe é sufi ciente.

À memória, veio-lhe a his-tória de um pai e suas duas

fi lhas – uma de 2, outra de 5 anos. Na tentativa de protegê--las, ele abraçara suas meni-nas, uma em cada braço, e fi r-mara os pés no chão. A força da lama, porém, o derrubara. Quando o resgate chegou, ele e sua fi lha mais velha foram encontrados vivos. A mais nova desaparecera em meio à enxurrada. Ele suportou mais um dia, mas não resistiu aos ferimentos.

A caravana de Robson ajudou como pôde. Ele e o restante dos voluntários vol-taram para Campinas cinco dias depois. Vieram buscar mais água, remédio, comida e roupas.

Já ciente da dimensão so-

cial, econômica e geográfi ca do desastre, Robson reuniu 15 toneladas de doações aos desabrigados. O destino foi a cidade de Barra Longa, a 60 km de Mariana, onde ele fi -cou quatro dias para distribuir o material coletado. “Mariana já estava bem suprida de doa-ções e ajuda. O problema são as cidades de que a mídia não fala”, explica.

GovernadorDepois de Barra Longa, mais uma vez Robson retorna a Campinas para reunir doa-ções, dessa vez para Gover-nador Valadares, uma das cidades mais afetadas pela chegada da lama, pelo Rio Doce. O envio de cada cami-nhão custa R$ 5.000,00 para transportar água, mas o tera-peuta usou, mais uma vez, da confi ança de seus doadores para sustentar fi nanceiramen-te a assistência.

“Você não tem noção da calamidade que está Gover-nador Valadares”, relata. Se-gundo Robson, fi las enormes para pegar água se espalham pela cidade nos pontos de dis-tribuição. “A água da torneira não tem como beber, nem to-mar banho. Ela está deixando feridas no corpo das pessoas”, conta.

É comum ver famílias inteiras nas fi las esperando pelo caminhão de água. A

estratégia permite que cada membro pegue um galão. “A água que chega acaba muito rápido”. Há também caixas d´água de 5 mil litros insta-ladas a cada três quarteirões pela prefeitura, mas são in-sufi cientes para os 270 mil habitantes.

Para evitar que pessoas per-cam tempo em fi las e corram o risco de serem demitidas por justa causa, Robson decidiu le-var os caminhões até empresas e hospitais, onde a concentra-ção de pessoas é maior.

Atento às carências, o tera-peuta campineiro planeja seus próximos passos. Para ele, o sistema de doação de garrafas e galões de água não é sufi -ciente para suprir a carência da região. Por isso, Robson pretende levantar recursos para a construção de poços artesianos, que têm mais efi -ciência no abastecimento da população. Um poço atende cerca de 3 mil pessoas.

AjudaO espírito altruísta de Robson afl orou quando soube da pos-sível repercussão da matéria através do jornal Saiba +, da PUC-Campinas. Por isso, fez o pedido para que seu número de celular fosse aqui divul-gado. Caso o leitor queira e possa ajudá-lo, entre em con-tato pelo número (19) 98286-7095.

Foto: Jornal Mix N

oticias

Page 12: Saiba + - Dezembro 2015

Página 12 Internacional 14 de dezembro de 2015

Moradores de Paris narram tragédiaUma parisiense e dois brasileiros contam como está o país um mês após os atentados terroristas à França

Ana Ardito

Souhela Ka é pari-siense e trabalha como professora de matemá-tica perto do Bataclan, casa de show atacada por terroristas no dia 13 de novembro. Gabriel Andrade é brasileiro, es-tudava na França há um ano e meio, mas desistiu de continuar na cidade--luz com medo. Eliane Yan mora em Toulouse, Sul da França, e tem re-ceio do que pode acon-tecer ao seu país. Em comum, os três relatam um País em que nunca houve tanto preconceito e, ao mesmo tempo, tan-to policiamento.

Souhela trabalha a duas quadras da casa de show onde foram con-firmadas ao menos 120 mortes. Naquele dia, re-solveu estender o horá-rio de trabalho, uma vez que queria somar horas para as festas do fim de ano: “Era um pouco mais de oito horas da noite quando ouvi um intenso barulho na rua. Já senti que algo atípico estava acontecendo por causa dos gritos”, relata.

No mesmo momento, ela ligou a televisão e viu o que estava aconte-cendo e correu para sua residência: “Não pensei direito. Agora eu vejo o perigo. Mas como moro muito perto do meu tra-balho, saí correndo”, comenta. Quando pisou em casa, toda a sua fa-mília estava em frente à televisão e contaram que o futebol fora interrom-pido para mostrar o que estava acontecendo a poucos metros dalí.

Dia seguintePara Souhela, no dia

seguinte, Paris estava com uma atmosfera ja-mais sentida. “Quando aconteceram os ataques ao Charlie Hebdo, nós ficamos muito preocupa-dos, já o que aconteceu agora é indescritível! Mo-veu o mundo todo de uma forma brutal”, afirma.

Atualmente, a profes-sora tenta tocar a vida, inclusive com o excesso de segurança em lugares públicos: “Fui comprar umas coisas básicas no supermercado, como pães e frios, e tive que abrir minha bolsa duas

Foto: Souhela Ka

Fachada do Bataclan interditada após os ataques; casa de espetáculos permaneceu fechada por quase um mês

Monumentos da cidade-luz estão lotados de bandeiras, � ores e nomes de vítimas mortas pelos terroristas

Flores e cartazes deixados nas ruas próximas ao local dos ataques de 13 de novembro: solidariedade às vítimas

vezes para dois seguran-ças diferentes. ” ressalta.

BrasileiroGabriel foi estudar en-genharia de alimentos em Paris e por lá ficou por um ano e meio. O estudante estava em sua casa quando recebeu a notícia: “Todos os ami-gos que moravam per-to de mim me ligavam para saber se tudo estava bem. Só fui entender a gravidade do problema quando entrei em alguns sites”, afirma.

Gabriel relata que o governo de François Hollande tem dado mais oportunidade para os muçulmanos, uma vez que eles estão por toda a parte da França e fa-zem serviços que, ge-ralmente, os franceses não querem fazer, como a limpeza. Após o terror do dia 13 de novembro, a segurança aumentou drasticamente e, segun-do Gabriel, era explícito a preconceito em rela-ção aos muçulmanos: “Estávamos nas ruas, os policiais pediam os documentos de todas as pessoas que aparentavam ser árabes, inclusive de idosos e crianças”, diz.

Interior da FrançaEliane tem 43 anos, mora com o marido e fi-lho. Para ela, embora os acontecimentos tenham ocorrido em Paris, a França toda está como-vida. “Vocês veem mais coisas que nós. A tele-visão daqui tem como ordem a descrição, uma pelo Estado de Emer-gência e outra pelo luto da população, por conta das mortes e de todas as pessoas feridas. ”

Além disso, Eliane conta que as aulas de seu filho foram suspensas por dois dias, devido ao medo. Para ela, não há o que comemorar neste fim de ano. “Não tem mais alegria e nem von-tade da população para as festas de fim de ano. Estamos naquele dile-ma: Quando e onde será o próximo?.”

Foto: Souhela Ka

Foto: Souhela Ka

Assista as imagens do atentado no Youtube: ht-tps://www.youtube.com/watch?v=LSAFcnryo-Ew