saberes e práticas de inclusão

62
Capa Educação Infantil – 2 Saberes e práticas da inclusão A capa contém uma imagem com quatro crianças brincando, sendo uma menina de óculos com um pote de tinta e um pincel nas mãos, um menino cego com uma bola na mão, um menino cadeirante e uma menina empurrando o menino de cadeira de rodas. Dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL Educação Infantil Saberes e práticas da inclusão A primeira página contém a mesma imagem descrita anteriormente. Dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento Brasília 2006 FICHA TÉCNICA Coordenação Geral · Profª Francisca Roseneide Furtado do Monte MEC/SEESP Elaboração · Profª Drª Rosana Maria Tristão (do nascimento aos três anos de idade) Universidade de Brasília/UnB · Profª Idê Borges dos Santos (quatro a seis anos de idade) MEC/SEESP (Especialista em Deficiência Mental) Colaboração · Ana Carolina Castro Viegas, Alyne Pessoa Pisk, Keylla Furuhashi Viana, Priscilla Caribe Scwam, Rosa Paula de Melo Rodrigues Alves, Walquíria Gentil Gonçalves (Alunas do curso de Psicologia e

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Inclusão

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Capa

Educao Infantil 2

Saberes e prticas da incluso

A capa contm uma imagem com quatro crianas brincando, sendo uma menina de culos com

um pote de tinta e um pincel nas mos, um menino cego com uma bola na mo, um menino

cadeirante e uma menina empurrando o menino de cadeira de rodas.

Dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitaes no processo de desenvolvimento

MINISTRIO DA EDUCAO

SECRETARIA DE EDUCAO ESPECIAL

Educao Infantil

Saberes e prticas da incluso

A primeira pgina contm a mesma imagem descrita anteriormente.

Dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitaes no processo de desenvolvimento

Braslia

2006

FICHA TCNICA

Coordenao Geral

Prof Francisca Roseneide Furtado do Monte MEC/SEESP

Elaborao

Prof Dr Rosana Maria Tristo (do nascimento aos trs anos de idade) Universidade de

Braslia/UnB

Prof Id Borges dos Santos (quatro a seis anos de idade) MEC/SEESP (Especialista em

Deficincia Mental)

Colaborao

Ana Carolina Castro Viegas, Alyne Pessoa Pisk, Keylla Furuhashi Viana, Priscilla Caribe Scwam,

Rosa Paula de Melo Rodrigues Alves, Walquria Gentil Gonalves (Alunas do curso de Psicologia e

Enfermagem da Universidade de Braslia).

Reviso Tcnica

Prof Francisca Roseneide Furtado do Monte MEC/SEESP

Reviso de Texto

Prof Ms. Aura Cid Lopes Flrido Ferreira de Britto MEC/SEESP

Consultores e Instituies que emitiram parecer

Prof Dr Aidyl M. Q. Perez Ramos USP/SP

Prof Dr Alexandra Anache Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Prof Ms. Ariclia Ribeiro do Nascimento MEC/SEF/COEDI-DF

Prof Dr Soraia Napoleo Freitas Universidade Federal de Santa Maria/RS

APAE de Par de Minas/MG

APAE de So Paulo/SP

Fundao Catarinense de Educao Especial do Estado de Santa Catarina

Secretaria Executiva de Educao do Par / Departamento de Educao Especial

SEDUC / Secretaria de Estado da Educao e Qualidade do Ensino / Centro de Triagem e

Diagnstico da Educao Especial do Estado do Amazonas

Prof Dr Isolda de Arajo Gnther Universidade de Braslia-UnB

Secretaria de Estado da Educao Diretoria de Educao Especial do Estado de Minas Gerais

4 edio / 2006

Tiragem: 10.000 exemplares (08 volumes)

Tristo, Rosana Maria.

Educao infantil: saberes e prticas da incluso: dificuldades acentuadas de aprendizagem ou

limitaes no processo de desenvolvimento. [4. ed.] / elaborao prof dr Rosana Maria Tristo (do

nascimento aos trs anos de idade Universidade de Braslia/UnB, prof Ide Borges dos Santos

(quatro a seis anos de idade) MEC/SEESP (especialista em deficincia mental). Braslia : MEC,

Secretaria de Educao Especial, 2006.

65 p.: il.

1. Educao infantil. 2. Educao das pessoas com deficincias. 3. Atendimento especializado. 4.

Educao inclusiva. 5. Dificuldade de aprendizagem. I. Santos, Ide Borges do. II. Brasil. Secretaria

de Educao Especial. III. Ttulo.

CDU 376.014.53

CDU 376

* Carta de Apresentao *

A educao e os cuidados na infncia so amplamente reconhecidos como fatores fundamentais

do desenvolvimento global da criana, o que coloca para os sistemas de ensino o desafio de

organizar projetos pedaggicos que promovam a incluso de todas as crianas. A Lei de Diretrizes e

Bases da Educao Nacional impulsionou o desenvolvimento da educao e o compromisso com

uma educao de qualidade, introduzindo um captulo especfico que orienta para o atendimento s

necessidades educacionais especiais dos alunos, que deve ter incio na educao infantil.

O Ministrio da Educao, dissemina nacionalmente a poltica de educao inclusiva e tem

implementado aes que colocam como prioridade a ampliao do acesso e do atendimento

educacional especializado, criando as condies necessrias para a incluso nas escolas de ensino

regular, propiciando participao e aprendizagem de todos os alunos e possibilitando avano as

demais etapas e nveis de ensino.

Nesse contexto, o MEC apia a realizao de programas de formao continuada de professores

e disponibiliza aos sistemas de ensino a Coleo Saberes e Prticas da Incluso Educao Infantil

que traz temas especficos sobre o atendimento educacional de crianas com necessidades

educacionais especiais, do nascimento aos seis anos de idade. So oito volumes organizados para o

desenvolvimento da prtica pedaggica com enfoque nas Dificuldades Acentuadas de

Aprendizagem ou Limitaes no Processo de Desenvolvimento; Dificuldades Acentuadas de

Aprendizagem Deficincia Mltipla; Dificuldades de Comunicao e Sinalizao Deficincia

Fsica; Dificuldades de Comunicao e Sinalizao.

Surdocegueira/ Mltipla Deficincia Sensorial; Dificuldades de Comunicao e Sinalizao;

Surdez; Dificuldades de Comunicao e Sinalizao - Deficincia Visual e Altas Habilidades

/Superdotao.

Esperamos que este material contribua no desenvolvimento da formao docente a partir dos

conhecimentos e temas abordados e desta forma, sejam elaborados projetos pedaggicos que

contemplem conceitos, princpios e estratgias educacionais inclusivas que respondam s

necessidades educacionais especiais dos alunos e propiciem seu desenvolvimento social, afetivo e

cognitivo.

Claudia Pereira Dutra

Secretria de Educao Especial - MEC

* Sumrio *

INTRODUO - pgina 07.

I. Princpios bsicos da educao especial na educao infantil - pgina 11.

II. A criana do nascimento aos trs anos de idade pgina 13.

A. Estrutura curricular para programas de educao para crianas com dificuldades acentuadas de

aprendizagem ou em situao de risco pgina 13.

1. Desenvolvimento humano como contedo para uma proposta de educao infantil pgina 13.

2. O papel do adulto enquanto mediador social da aprendizagem pgina 14.

3. Proposta de experincias a serem proporcionadas pgina 15.

a. Representao criativa pgina 16.

b. Linguagem e literatura pgina 16.

c. Iniciativa e relaes sociais pgina 16.

d. Movimento pgina 16.

e. Msica pgina 17.

f. Classificao pgina 17.

g. Seriao pgina 17.

h. Nmeros pgina 17.

i. Espao - pgina 18.

j. Tempo - pgina 18.

4. A criana como um aprendiz ativo - pgina 18.

B. Construo do currculo pgina 19.

C. O brincar e o brinquedo - pgina 20.

Sugestes de brinquedos de acordo com as etapas de desenvolvimento - pgina 21.

D. Avaliao do desenvolvimento da aprendizagem da criana - pgina 23.

Critrios para seleo de instrumentos de avaliao - pgina 24.

E. Listas de seqncias de aquisies de habilidades - pgina 26.

Funes e forma de utilizao das listas de seqncias de desenvolvimento 26.

F. Estimulando o beb prematuro - pgina 27.

Sugestes de atividades para o beb prematuro - pgina 27.

III. A criana de quatro a seis anos de idade pgina 29.

A. A educao da criana de quatro a seis anos pgina 29.

B. Estrutura curricular para a educao de crianas de quatro a seis anos de idade pgina 30.

1. A funo da linguagem - pgina 33.

2. O papel das atividades criativas pgina 34.

3. Habilidades sociais e afetivas - pgina 35.

C. Currculo - pgina 35.

1. Leitura - pgina 36.

1.1 Linguagem oral - pgina 36.

1.2 Linguagem escrita - pgina 36.

2. Matemtica - pgina 37.

3. Msica - pgina 37.

D. O brincar e o brinquedo - pgina 38.

E. Recursos tecnolgicos - pgina 39.

F. Avaliao do desenvolvimento e do processo de aprendizagem - pgina 39.

IV. Bibliografia - pgina 41.

V. Anexos

Anexo 1 - Listas de seqncias de aquisies de habilidades - Sugestes para avaliao do

desenvolvimento da criana do nascimento aos trs anos de idade (Material editado em volume

suplementar).

Anexo 2 - Sugestes de atividades para crianas de quatro a seis anos de idade - pgina 45.

* Introduo *

Este documento contm orientaes pedaggicas que tm como base o Referencial curricular

nacional para educao infantil (BRASIL, 1998), com o objetivo de adaptar os contedos

curriculares de modo a dar respostas a todas as necessidades educacionais de crianas com

dificuldades acentuadas de aprendizagem. Este trabalho apresenta propostas de organizao de

servios de apoio educacional na educao infantil para crianas com dificuldades acentuadas de

aprendizagem ou limitaes no processo de desenvolvimento, ou que corram o risco de vir a t-las

devido condies que podem alterar o curso do desenvolvimento, prejudicando o processo de

adaptao da criana ao contexto em que vive.

As crianas que devero participar desses servios de apoio so aquelas com dificuldades de

aprendizagem ou limitaes em seu desenvolvimento, ou com condies predisponentes a riscos

para o desenvolvimento j conhecidas pela literatura cientfica e recomendadas pelos sistemas

mundiais de ateno a criana. A entrada da criana nesses servios, anteriormente ao surgimento

das provveis dificuldades de aprendizagem ou limitaes para o desenvolvimento, se justifica

dentro da proposta de preveno. A interveno pedaggica preventiva pode favorecer a criana no

futuro dando-lhe maiores garantias de melhor qualidade de vida medida que suas necessidades

especiais so atendidas, antes que aumentem. Ao mesmo tempo, seu contexto sociofamiliar

tambm contemplado por esses servios com orientaes sobre formas mais apropriadas de lidar

com possveis barreiras de natureza variada ao pleno desenvolvimento do potencial da criana.

FOTO: criana engatinhando sobre um tapete colorido com grandes letras, em uma sala com brinquedos

Este documento composto de sesses de contedo geral que abordam aspectos dos servios

educacionais de apoio que contemplam a faixa etria do nascimento aos seis anos de idade e sesses

especficas voltadas para sugestes de elaborao de propostas educacionais complementares para

duas faixas de idade diferentes, do nascimento aos trs anos e de quatro aos seis anos de idade.

Bebs e crianas, desde o nascimento at seis anos de idade, so selecionveis para se

beneficiarem de servios de apoio da educao especial na educao infantil se pelo menos um dos

seguintes fatores estiver presente:

Atraso ou limitao significativos (Nota 1: O atraso considerado significativo quando, em

sendo o desenvolvimento avaliado utilizando-se um instrumento padronizado para a populao

brasileira, os resultados so menores ou iguais a dois desvios-padro abaixo da mdia da

populao.) no desenvolvimento em uma ou mais das seguintes reas:

- desenvolvimento cognitivo ou evidncias de dificuldades acentuadas de aprendizagem (p. ex.:

interesse limitado pelo ambiente ou em brincar e aprender);

- desenvolvimento motor e fsico;

- desenvolvimento da comunicao (p. ex.: repertrio limitado de palavras, respostas limitadas

na comunicao com outras pessoas);

- desenvolvimento socioemocional (p. ex.: respostas incomuns s interaes sociais, ligaes

afetivas deficientes, comportamentos de auto-agresso);

- desenvolvimento adaptativo (p. ex.: dificuldade em comportamentos de auto-cuidado).

Ocorrncia de condies de risco para o desenvolvimento de etiologia conhecida ou

intercorrncias pr, peri ou ps-natal que podem resultar em problemas no desenvolvimento mental,

com possveis conseqncias para o processo de aprendizagem ou de limitaes no

desenvolvimento, tais como:

- doenas neurolgicas;

- erros inatos de metabolismo;

- deficincias visuais e auditivas;

- asfixia perinatal;

- prematuridade: com peso de nascimento menor ou igual a 1.500 g ou com idade gestacional

menor ou igual a 33 semanas;

- pequeno para idade gestacional (abaixo de dois desvios-padro);

- hiperbilirrubinemia (com nveis para transfuso);

- policitemia sintomtica;

- hipoglicemia sintomtica;

- uso de ventilao mecnica ou oxignio com concentraes menores que 40%;

- infeces congnitas;

- malformaes congnitas;

- sndromes genticas.

Estudos tm demonstrado que a participao em servios de educao durante os trs primeiros

anos de vida pode ter efeito relevante no desenvolvimento global e em especial no desenvolvimento

cognitivo e ajustamento social de crianas em situao de risco para o desenvolvimento ou de

crianas com algum tipo de atraso no desenvolvimento ou com deficincia sensorial, mental,

motora, ou ainda com transtorno invasivo de desenvolvimento (ECCD, 1999).

A funcionalidade e a incapacidade de uma pessoa so concebidas como uma interao dinmica

entre os estados de sade (doenas, distrbios, leses, traumas etc.), que podem trazer limitaes no

desenvolvimento, e os fatores contextuais. Logo, antes de antecipar a realizao de um diagnstico

precoce e por isso mesmo indevido de deficincia mental ou de incapacidade para exercer funes

da vida comum de uma criana, todos os aspectos citados acima devem ser considerados, a

rotulao discriminatria deve ser evitada e todo o suporte educacional, social e de sade deve ser

provido.

Programas de educao da criana do nascimento aos seis anos que funcionam em um contexto

centrado na participao da famlia e da comunidade podem:

Promover ganhos de desenvolvimento e educacionais.

Reduzir sentimentos de isolamento, estresse e frustrao que as famlias podem vivenciar.

Ajudar a criana com alterao ou atraso no desenvolvimento a se tornar uma pessoa produtiva

e independente.

Reduzir custos futuros com educao especial, reabilitao e cuidados com a sade.

* I. Princpios bsicos da educao especial na educao infantil *

FOTO: uma me deitada em um colcho no cho, de barriga para cima segurando uma criana pequena.

Acreditar que o acesso a uma educao de qualidade nos primeiros anos de vida da criana

um direito universal.

Reforar a idia de que uma educao de qualidade nos primeiros anos de vida beneficia a

criana, sua famlia e a sociedade.

Garantir que toda criana vivencie um ambiente enriquecido que reconhece e incorpora os seus

valores culturais e lingsticos.

Garantir o direito de toda criana de ser feliz saudvel e de ter o seu potencial desenvolvido em

um ambiente que a respeita e prov cuidados essenciais.

Alm destes princpios bsicos a serem considerados, a ECCD (Nota 2: ECCD Early

Childhood Care for Development World Bank), com base na Conveno dos Direitos da Criana

(1989) e na Declarao de Salamanca (BRASIL, 1994b), entre outros documentos, prope ainda

outros quinze princpios que todo currculo deve contemplar. O currculo proposto para uma criana

deve favorecer experincias em um ambiente no qual:

A criana aprender quem ela , seu valor enquanto pessoa, sua cultura e seu pas.

A criana dever estar segura em um ambiente que no a agride fsica, emocional ou

socialmente, e no vivencia abuso ou discriminao.

A criana tem garantido o direito sade e ao bem-estar.

A criana vivencia experincias positivas, pacficas e afirmativas.

Seu contexto de aprendizagem rico em estmulo, motivador e alegre.

As experincias devero estimular sua curiosidade e a explorao ativa, considerando sempre

seu ritmo e seus interesses. A importncia do brincar dever ser sempre reconhecida, e o tempo para

pensar e fantasiar dever ser garantido.

A criana dever aprender a conservar seu ambiente fsico e cultural.

Os profissionais e a famlia observam criteriosamente seu progresso, estabelecendo objetivos

apropriados para sua aprendizagem, provendo um ambiente enriquecido no qual a experincia da

criana seja bem sucedida e desafiadora para novas aquisies, e onde o seu potencial para aprender

seja reconhecido.

A aprendizagem no limitada por discriminao sexual.

A aprendizagem no limitada por discriminao de raa ou pela cor.

As decises sobre a educao da criana devero ser compartilhadas com sua famlia.

Os conflitos so resolvidos pacificamente.

A importncia da famlia e do lar reconhecida.

A aprendizagem reconhecidamente um processo para toda a vida e inclusive para os adultos

que acompanham a criana e que esto tambm em processo de aprendizagem.

Todas as pessoas tm o direito de terem implementados esses princpios.

FOTO: uma me orientando uma criana em atividades pedaggicas.

* II. A criana do nascimento aos trs anos de idade *

A. Estrutura curricular para programas de educao para crianas com dificuldades acentuadas

de aprendizagem ou em situao de risco

O currculo a soma de todas as experincias diretas e indiretas de uma criana em um contexto

ambiental. Um servio de educao deve ter um currculo planejado, porque tudo o que acontecer

com uma criana ser sempre uma experincia de aprendizado. importante que seja desenvolvido

um currculo dentro de uma estrutura de valores, crenas e princpios bsicos para garantir que as

experincias de aprendizagem sejam positivas para as crianas em idades muito precoces. Decidi-lo

da melhor forma possvel de fundamental importncia para o futuro da criana.

FOTO: me e professora orientando crianas em atividades pedaggicas.

1. Desenvolvimento humano como contedo para uma proposta de educao infantil

"O conhecimento surge no dos objetos nem da criana, mas das interaes entre a criana e

aqueles objetos." Jean Piaget (1976).

"Apenas o conhecimento da ordem e conexo entre os estgios no desenvolvimento das funes

fsicas pode... garantir o conhecimento pleno e livre, ainda que ordenado ou em conformidade com

as regras, e o exerccio das foras fsicas. Em uma nica palavra, educao em si precisamente o trabalho de prover as condies nas quais as funes fsicas so capacitadas, medida que elas

sucessivamente surgem, para amadurecer e se transformar em funes mais superiores de uma

forma livre e plena." John Dewey & James McLellan (1964, p. 207).

A educao de crianas se baseia no princpio terico de que a aprendizagem ativa

fundamental para o desenvolvimento pleno do potencial humano e que essa aprendizagem ocorre

mais efetivamente em ambientes que provem oportunidades de aprendizagem apropriadas ao

desenvolvimento. Entende-se por aprendizagem ativa o processo dinmico e interativo da criana

com o mundo que a cerca, garantindo-lhe a apropriao de conhecimentos e estratgias adaptativas

a partir de suas iniciativas e interesses, e dos estmulos que recebe de seu meio social. Portanto, o

principal objetivo da educao o de estabelecer um modelo operacional flexvel com uma

estrutura aberta que d suporte a uma educao adequada ao momento do desenvolvimento em

qualquer ambiente onde a criana esteja. Essa educao deve considerar os seguintes pressupostos

sobre o desenvolvimento e crescimento humano:

O ser humano desenvolve habilidades e capacidades em uma seqncia previsvel no decorrer

de sua vida. medida que a pessoa amadurece novas habilidades surgem.

Apesar de o desenvolvimento geral ser previsvel, cada pessoa desenvolve caractersticas

nicas desde o nascimento, as quais, por meio das interaes do dia-a-dia, iro progressivamente se

diferenar em uma personalidade nica. A aprendizagem sempre ocorrer considerando as

caractersticas nicas de cada pessoa, suas habilidades e oportunidades.

Existem perodos crticos durante a vida em que certos tipos de contedos so melhores ou

mais eficientemente aprendidos, e existem mtodos que so mais apropriados em certos momentos

da seqncia de desenvolvimento que outros. Portanto, o acesso educao um facilitador do

processo de promoo das habilidades e capacidades da criana.

Uma experincia educacional, procedimento ou mtodo, quando iniciado pelo adulto ou pela

criana, desenvolvido apropriadamente se:

1. Exercita ou desafia as capacidades do aprendiz medida que elas emergem em um dado nvel

de desenvolvimento.

2. Encoraja e ajuda o aprendiz a desenvolver um padro individual de interesses, talentos e

objetivos.

3. Proporciona experincias de aprendizagem quando o aprendiz est mais apto a dominar,

conhecer, generalizar e reter o que ele aprende, e pode relacionar isso a experincias anteriores e

futuras.

2. O papel do adulto enquanto mediador social da aprendizagem

FOTO: uma criana com a professora em atividades pedaggicas e de estimulao precoce.

A aprendizagem vista como uma experincia social que envolve interaes significativas entre

crianas, crianas mais velhas e adultos. No modelo de mediao, a criana se beneficia de

instrues diretas ou indiretas (p. ex.: modelos) dadas por indivduos mais experientes, de

estratgias de relao com o mundo, como em situaes de soluo de problemas e aquisio de

habilidades. Considerando que cada criana aprende em ritmos diferentes e tem interesses e

experincias nicas, elas tm maior probabilidade de alcanar seu potencial pleno para o

crescimento quando so encorajadas a interagir e se comunicar livremente com seus pares e com

adultos. Essas experincias sociais ocorrem no contexto de atividades do dia-a-dia que as crianas

planejam e iniciam por si mesmas, ou dentro de atividades iniciadas por adultos que permitem

ampla oportunidade para a criana escolher, conduzir e se expressar individualmente.

O adulto deve ser no apenas ativo e participativo, mas tambm observador e reflexivo. Ele deve

ser um observador que tambm participa com conscincia da importncia de seu papel de mediador.

Ele deve observar e interagir com a criana para descobrir como ela pensa e raciocina. O papel do

adulto complexo e se desenvolve gradualmente medida que ele se torna mais capaz, por meio da

observao, de reconhecer e atender cada necessidade de desenvolvimento da criana. Basicamente,

o adulto, no contexto de apoio aprendizagem da criana, deve:

Organizar o ambiente e as rotinas para a aprendizagem ativa.

Estabelecer um clima para interaes sociais positivas.

Encorajar a criana a realizar aes intencionais, soluo de problemas e reflexo verbal.

Observar e interpretar as aes de cada criana nos termos dos princpios de desenvolvimento

contidos na proposta de experincias a serem proporcionadas, descritas na prxima sesso deste

documento.

Planejar experincias que construam aes e interesses das crianas.

3. Proposta de experincias a serem proporcionadas

FOTO: uma criana sentada brincando com alguns bonecos espalhados pela mesa.

a. Representao criativa:

Reconhecimento de objetos pela viso, toque, gosto e cheiro.

Imitao de aes e sons.

Associao de modelos, figuras e fotografias a fatos ou coisas reais.

Imitao e dramatizao.

Construo com blocos ou outros materiais a partir da observao de um modelo.

Desenhar e pintar.

b. Linguagem e literatura:

Explorao de livros de pano ou plstico ricos em cores e texturas.

Expressar pela fala, ou outras formas de comunicao e expresso artstica, suas experincias

pessoais.

Descrio de objetos, fatos e suas relaes.

Uso prazeroso da linguagem: ouvir histrias e versinhos, fazer histrias e rimas.

c. Iniciativa e relaes sociais:

Participar de jogos e brincadeiras nas quais gestos imitativos e interativos sejam estimulados

como em cantigas folclricas acompanhadas de movimentos combinados.

Fazer e expressar escolhas, planejamentos e decises.

Soluo de problemas em brincadeiras.

Cuidados com seu prprio corpo.

Expresso de sentimentos.

Participao em rotinas de grupos.

Ser sensvel aos sentimentos, interesses e necessidades dos outros.

Construir relaes com crianas e adultos.

d. Movimento:

Movimento no locomotor (sem sair do lugar dobrar, torcer, balanar, sacudir, tremer o corpo,

girar os braos etc.).

Movimento locomotor (arrastar, rolar, correr, pular, saltar, passar por cima de obstculos,

marchar, escalar etc.).

Mover-se com objetos (velotrol, bicicleta, caixas de papelo que so arrastadas com a criana

dentro etc.).

Expresso de criatividade no movimento.

Descrio do movimento.

Representao de movimentos direcionais.

Percepo e marcao de ritmos com o corpo sem deslocamento.

Movimento de deslocamento do corpo em seqncia apresentao de ritmo.

FOTO: uma criana manipulando objetos em uma sala com orientadores.

e. Msica:

Movimento de acordo com a msica.

Explorao e identificao de sons.

Explorao de msicas cantadas.

Desenvolvimento de melodias.

Execuo de instrumentos musicais simples.

f. Classificao:

Explorao e descrio de similaridades, diferenas e as caractersticas dos objetos.

Distino e descrio de formas.

Classificao e emparelhamento de objetos.

Uso e descrio de algum objeto de vrias formas.

g. Seriao:

Comparao de atributos (grande e pequeno, pesado e leve etc.).

Arranjo de objetos, um aps o outro, em uma srie ou em padres, e descrio dessas relaes

(bloco azul - bloco vermelho azul - vermelho etc.).

Troca de um arranjo de objetos ordenados por outro tipo de objeto por meio de tentativa e erro

(trocar uma srie de copos em trs tamanhos diferentes por uma srie de bonecas tambm em trs

tamanhos diferentes).

h. Nmeros:

Contagem de objetos.

Arranjo de dois conjuntos de objetos fazendo correspondncia um a um.

Comparao de dois conjuntos de objetos para determinar qual tem mais, menos, ou o mesmo

nmero.

i. Espao:

Preenchimento e esvaziamento de recipientes.

Arranjo de objetos juntos e separados.

Mudana da forma e arranjo dos objetos (embrulhar, torcer, esticar, empilhar, guardar dentro de

uma caixa etc.).

Observao de pessoas, lugares e coisas de diferentes pontos de vista espacial.

Experimentao e descrio de posies, direes e distncias no parquinho, escola e

vizinhana.

Interpretao de relaes espaciais em desenhos, figuras e fotografias.

j. Tempo:

Incio e fim de uma ao em resposta a um sinal combinado.

Experimentao e descrio de velocidades diferentes de movimento.

Experimentao e comparao de intervalos de tempo.

Antecipao, memorizao e descrio de seqncias de eventos.

4. A criana como um aprendiz ativo

A criana muito pequena aprende conceitos, forma idias, e cria seus prprios smbolos ou

abstraes por meio de atividades iniciadas pela prpria criana: move-se, ouve, busca, sente,

manipula. Tais atividades, que ocorrem dentro de um contexto social no qual um adulto alerta e

sensvel um observador-participante, torna possvel para a criana ser envolvida em experincias

intrinsecamente interessantes que podem produzir concluses contraditrias e uma conseqente

reorganizao de sua compreenso de mundo.

Experincias nas quais as crianas produzem algum efeito no mundo, em oposio a atividades

passivas, so fundamentais para o desenvolvimento de processos de pensamento.

Isso se d porque o pensamento lgico da criana decorrncia do esforo para interpretar

as informaes obtidas por meio dessas experincias. Interpretao de novas informaes modifica

as estruturas interpretativas existentes na criana medida que ela se empenha na busca de um

modelo mais lgico e coerente da realidade.

Logo, se um programa educacional pretende incentivar a criana a avanar em habilidades e

competncias para soluo de problemas, por exemplo, ele deve prover muitas oportunidades para a

criana trabalhar em problemas de seu interesse, isto , problemas que surgem de suas prprias

tentativas de compreender o mundo. O professor passa a ser ento um observador atento aos

interesses da criana para fomentar tais situaes-problema ou estimular seu interesse para situaes

tpicas de seu momento de desenvolvimento que venham a despertar nela esse interesse.

FOTO: uma criana brincando apoiada sobre uma grande bola.

A aprendizagem ativa baseada em quatro aes bsicas:

1. Aes diretas sobre objetos: a criana deve manipular objetos naturais ou no, objetos de casa,

brinquedos, equipamentos e instrumentos musicais, usando seu corpo e seus sentidos para explorar

esses objetos. A partir dessas experincias concretas as crianas gradualmente comeam a formar

conceitos abstratos.

2. Reflexo sobre as aes: a compreenso da criana sobre seu mundo se desenvolve medida

que elas executam aes originadas da necessidade de testar idias ou encontrar respostas para

questes. Uma criana que tenta alcanar uma bola est perseguindo uma questo interna como

"tentar saber o que esta coisa faz". Com aes como alcanar, lamber, morder, deixar cair, empurrar

e rolar e depois refletir sobre essas aes, a criana comea a responder a questo e construir uma

compreenso pessoal sobre o que uma bola faz, por exemplo.

3. Motivao intrnseca, inveno e generalizao: o mpeto para aprender surge claramente de

dentro da criana. Os interesses pessoais, questes e intenes levam explorao, experimentao

e a construo de novos conhecimentos e compreenses.

4. Soluo de problemas: quando uma criana encontra um problema real, resultados

inesperados de suas aes ou barreiras s suas intenes, o processo de harmonizar o inesperado

com o que ela sempre soube sobre o seu mundo estimula a aprendizagem e o desenvolvimento.

B. Construo do currculo

Na educao infantil do nascimento aos trs anos de idade, o currculo deve abranger igualmente

todas as reas de desenvolvimento de uma criana:

Cognitiva

Sensrio-perceptiva

Lingstica

Emotiva

Motora ampla e refinada

De auto-ajuda

Social

O plano de trabalho deve prever oportunidades de construes e reconstrues variadas e

dinmicas. Ele deve ser avaliado diariamente e revisto para atender as necessidades evolutivas de

cada criana.

C. O brincar e o brinquedo

FOTO: uma criana brincando junto de sua professora.

Para implementao do currculo dois importantes recursos devem ser considerados: o brincar e

o brinquedo. O brincar deve ser sempre o modo preferencial de interao com a criana garantindo

um ambiente prazeroso. Ao brincar, por meio de jogos ou atividades de natureza estruturada, as

condies bsicas para aprendizagem se estabelecem: rotina, disciplina, atendimento a regras, ritmo

de atividade, interao social, motivao para concluso das tarefas e prazer em concluir uma

atividade e verificar seu produto. O brincar estruturado possvel em todas as idades sendo uma

forma segura de promover experincias de aprendizagem.

Os brinquedos so em si instrumentos para brincar e para aprender, portanto no precisam ser

necessariamente brinquedos comerciais. A UNICEF tem incentivado pelo mundo o uso de

brinquedos confeccionados pela prpria comunidade como forma de conservar as culturas locais e

incentivar a criatividade dos educadores no aproveitamento de seus prprios recursos. Alm disso,

h a dissociao enganosamente estabelecida de que uma boa educao somente se realiza com

recursos de custo elevado. Brinquedos podem ser confeccionados por professores e pela famlia, em

comunidades carentes ou no, a partir de materiais como madeira, utenslios domsticos, sucata etc.

Cuidados especiais na confeco de brinquedos devem ser sempre tomados, como garantir sua

perfeita higiene e bom acabamento de modo a no oferecer riscos para a criana como pontas ou

farpas, e no devem ser pintados com tinta que contenha chumbo, e devem ser seguros de modo a

no desmancharem facilmente causando leses ou liberando peas pequenas que possam obstruir a

respirao da criana ou machuc-la.

Os brinquedos devem ser adequados ao nvel de desenvolvimento da criana, e ao serem

confeccionados devem ser cuidadosamente feitos de modo a poderem ser utilizados como recursos

de aprendizagem, at mesmo em nveis mais elevados. Por exemplo, blocos de madeira podem ser

usados em atividades de pr em e retirar de caixas, construo, contagem, classificao etc.

Contudo, importante que sejam feitos com a mesma medida, de modo que possam ser usados

desde jogos simples como atividades de guardar, at a explorao de princpios de matemtica (p.

ex.: dois meios blocos quando colocados juntos so rigorosamente iguais a um bloco inteiro).

O momento ideal para jogos e brincadeiras quando a criana est desperta calma, alerta e

saudvel, devendo-se aproveitar momentos como banho, alimentao, ou quando o beb ou a

criana estiverem brincando. O essencial que que as rotinas dirias sejam transformadas em

situaes de interao prazerosa, lembrando sempre que a inteligncia e a capacidade da criana se

estimulam com amor.

Sugestes de brinquedos de acordo com as etapas de desenvolvimento:

- Nascimento a 3 meses de idade

Mbiles com tampas coloridas de vasilhames, papel colorido e brilhoso

Chocalhos: recipientes plsticos com objetos coloridos dentro

Luvas revestidas de diferentes materiais para estimulao ttil

Guizos

Lanterna

- 3 a 6 meses de idade

Cubos de espuma

Chocalhos musicais

Sino

Mbiles que produzam algum som ou movimento especial quando tocados pelos ps ou mos

dos bebs

Rolo de toalha

Espelho

Instrumentos sonoros de materiais diversos

- 6 a 9 meses de idade

Caixa com brinquedos atraentes

Caixa com cubos

Bolas de vrios tamanhos

Copos e garrafas de vrios tamanhos para colocar e retirar objetos

Jogo de esconde-esconde

Brinquedos de borracha que fazem barulho quando so pressionados

Bales

Tocos de madeira e copos

Caixa com materiais de diversas texturas

Espelho

- 9 a 12 meses de idade

Tnel

Tubos para empilhar e encaixar

Cubos de madeira para empilhar

Carrinho com barbante para puxar

Bolas

Fantoches

Espelho

Livros de plstico ou de tecido com texturas variadas para estimulao ttil

Cordo com contas (Nota 3: O tamanho dos brinquedos deve atender s normas de segurana.)

para trabalhar movimento de pina

- 12 a 18 meses de idade

Latas com orifcio para colocar dentro botes grandes

Tubos para encaixe de argolas

Encaixe de pinos e figuras geomtricas (crculo e quadrado)

Massa de modelar comestvel

Toquinhos de madeira de vrios tamanhos e cores para construo

Livros com figuras grandes e coloridas

- 18 a 24 meses de idade

Pintura a dedo

Desenho livre

Revistas para folhear

Desenhos no cho para serem seguidos

Bonecos grandes

Caixas, latas e vidros para serem tampados e destampados.

Papel para rasgar

Instrumentos musicais

Contas para enfiar

Roupas com botes grandes e velcro

Fantasias

Ambiente com obstculos para estimular trajetrias diferentes de movimento para alcanar

brinquedos

Equipamentos de som com botes fceis de serem acionados para ouvir msica

Triciclo

- 24 a 48 meses de idade

Livros com palavras indicando o nome de objetos

Contagem de objetos

Blocos para construo

Teatrinhos para fantoches

Amarelinha

Circuitos de atividades

Cantigas de roda

Bicicleta

D. Avaliao do desenvolvimento da aprendizagem da criana

FOTO: trs crianas em atividades pedaggicas junto a duas professores

A avaliao do desenvolvimento de crianas com idades do nascimento aos 48 meses de idade

um procedimento complexo que envolve a deciso de qual instrumento de avaliao deve ser

utilizado ou a necessidade de criao de novas tcnicas de medida que atendam as necessidades

especficas de investigao para cada criana no seu mundo individual e nico. Os procedimentos

de avaliao so classificados em quatro categorias:

Instrumentos de deteco ou levantamento geral de alteraes no desenvolvimento, que so

testes ou escalas de aplicao rpida compostos de poucos itens que ajudam a levantar um possvel

atraso ou comprometimento no desenvolvimento.

Acompanhamento peridico ou avaliao do desenvolvimento da criana por meio de

procedimentos que conjugam observao cuidadosa do comportamento da criana em sua interao

com o meio, interaes ldicas e a aplicao criteriosa de escalas de desenvolvimento padronizadas.

Levantamento de crianas com alto risco para o desenvolvimento por meio do uso de

protocolos especficos de investigao de fatores de risco (p.ex.: fatores de risco para surdez ou para

deficincia mental).

Avaliao pautada em um programa especfico de interveno que aborde, de maneira especial,

aspectos especficos do desenvolvimento humano de modo a garantir o atendimento a demandas

especficas de um grupo de crianas (p. ex.: programas de atendimento especificamente voltados ao

atendimento de crianas vtimas de violncia).

As duas primeiras categorias fazem uso de instrumentos que permitem a utilizao de

referenciais estatsticos e, portanto, comparam a criana com seus pares na sua populao.

Subjacente a cada instrumento existe uma rede conceitual terica sobre o desenvolvimento da

criana e os fatores que o influenciam. Apesar de esses conceitos tericos de um instrumento no

serem freqentemente explicitados e, portanto, nem sempre sujeitos a anlises crticas pelo usurio

final, eles devem ser seriamente considerados quando instrumentos so construdos ou

selecionados. Por exemplo, ao escolher as provas piagetianas para avaliao da estrutura de

raciocnio de uma criana, deve-se ter clareza do que significam os pressupostos tericos dessas

provas e sua importncia e adequao para essa criana em especial. Para anlise ou construo de

um instrumento, devem ser analisados os seguintes princpios:

O desenvolvimento da criana contnuo, progressivo, e se processa atravs de estgios

qualitativamente diferentes em um modelo individualmente nico.

O desenvolvimento da criana multifacetado, envolvendo diversos processos que so,

contudo, inter-relacionados e interatuantes. Desenvolvimento inclui diversas reas de desempenho

que podem ser conceitualmente separadas, mas mutuamente influentes sobre as outras, em graus

variados.

Desenvolvimento um processo dinmico, interativo no qual ambos ambientes e caractersticas

da criana reciprocamente se influenciam. As caractersticas da criana influenciam e modificam o

impacto do ambiente sobre o desenvolvimento. A maneira pela qual o ambiente influencia a criana

ser parcialmente determinada pela forma pela qual a criana percebida.

Certas tendncias de auto-direo podem ser observadas durante o processo de

desenvolvimento. Muitas crianas possuem uma marcante resistncia em decorrncia de um

contexto estressante e tm probabilidade de apresentar desvantagens precoces com relao s

demais crianas.

Critrios para seleo de instrumentos de avaliao

1. O primeiro critrio o de ateno ao propsito do instrumento. Alguns instrumentos so

descritivos e muito simples, formando uma idia apenas geral do desenvolvimento da criana, no

fornecendo informaes detalhadas que podero subsidiar um planejamento curricular amplo e

profundo.

2. O segundo critrio a necessidade de definir claramente os objetivos da avaliao,

especificando quais aspectos do desenvolvimento o instrumento capaz de medir.

3. Terceiro, a seleo de indicadores comportamentais deve ser apropriada para os objetivos do

instrumento e para a populao na qual o instrumento ser usado. Um exemplo de uso indevido a

utilizao de instrumento que valoriza a resposta verbal da criana sendo aplicado em crianas com

dificuldades de articulao da fala.

4. O quarto critrio requer que o instrumento seja culturalmente apropriado, evitando que a

avaliao subestime ou superestime o potencial de desempenho da criana em decorrncia de

variaes de costumes ou prticas de educao especficas de determinada regio que incentivam ou

retardam a aquisio de habilidades e capacidades.

5. Quinto, os instrumentos devem ser validados (Nota 4: A validao um processo de

adaptao de um instrumento para o contexto sociocultural, respeitando-se as normas de

padronizao.) de modo a garantir que o desempenho da criana possa ser comparado com o

desempenho mdio das crianas da mesma idade, oferecendo um referencial do nvel de

desenvolvimento em que a criana se encontra nas diferentes reas de habilidades.

6. Sexto deve-se garantir que haja confiabilidade na aplicao e correo dos testes verificando,

se h consistncia entre os registros dos avaliadores por meio de retestagens.

7. O critrio final, na seleo de instrumentos para avaliao de desenvolvimento, est

relacionado a quanto ser vivel de ser incorporado em programas educacionais, considerando a sua

facilidade de compreenso e acesso aos instrumentos.

Os instrumentos devem ser desenvolvidos em formatos atrativos, com materiais fceis de serem

produzidos, e com maneiras simples e prticas de apresentao dos resultados. Dessa forma, os

instrumentos podero ser mais facilmente incorporados em programas conduzidos em comunidades

variadas.

No Brasil, a escala de desenvolvimento mais utilizada tem sido a Escala de Desenvolvimento

Helosa Marinho e, na Amrica Latina, a sugesto de escala a ser utilizada a EEDP (Nota 5: EEDP

Escala Evaluacion del Desarrollo Psicomotor de 0-24 Meses). Ambas escalas so validadas para

as populaes brasileira e latina, respectivamente e, portanto, podem ser considerados instrumentos

apropriados de referncia de comparao com as normas populacionais. No entanto, diante da

necessidade de uma avaliao mais profunda das necessidades evolutivas de uma criana, deve-se

fazer uso tambm de instrumentos mais especficos de investigao, como tcnicas estruturadas de

observao de comportamento, aplicao de protocolos de acompanhamento de desenvolvimento e

de sesses interativas na proposta de avaliao assistida (Linhares, 1995). Desta forma garantir-se-

uma avaliao precisa de quais habilidades precisam ser promovidas e quais padres inadequados

de comportamentos precisam ser cuidados.

Outro aspecto de grande importncia que no deve ser esquecido ou protelado a avaliao

peridica das condies sensoriais de viso e audio. No caso de bebs de risco, em especial, as

habilidades auditivas e visuais devem ser monitoradas semestralmente, e qualquer perda sensorial,

por menor que seja, deve ser considerada no processo de interveno. Esse monitoramento e

interveno se justificam, em primeiro lugar, por ser de direito do ser humano receber a melhor

correo possvel para dficits sensoriais e, em segundo lugar, porque dificuldades de aprendizagem

podem ser potencializadas por dificuldades perceptuais e vice-versa.

E. Listas de seqncias de aquisies de habilidades

Os instrumentos de avaliao normatizados, ou seja, que oferecem a possibilidade de

comparao da criana com a populao da mesma idade, tm o papel de oferecer parmetros e

sinalizar a ocorrncia de possveis atrasos ou aceleraes em diferentes reas de desenvolvimento.

Contudo, podem no ser suficientes para subsidiar um planejamento individualizado, amplo e

profundo que tenha por objetivos compensar estes atrasos e estimular o surgimento de habilidades

adequadas a seu nvel de desenvolvimento. Para isso, alm da avaliao por instrumentos formais,

sugere-se o acompanhamento da evoluo da criana por meio do uso de listas de checagem de

aquisies de habilidades. Exemplo deste tipo de recurso de acompanhamento encontra-se no Anexo

1 deste documento e no deve ser confundido com instrumentos normatizados. Em outras

palavras, no devem ser usadas para dimensionar possveis atrasos ou aceleraes de

desenvolvimento em qualquer rea. As listas de seqncias de desenvolvimento so sugeridas por

vrios tericos do desenvolvimento (p.ex.: Gesell, 1989; Cohen & Gross, 1979) para indicar a idade

mais provvel de aquisio de habilidades especficas, mas preciso sempre considerar as variaes

entre populaes diversas. Mesmo dentro um determinado grupo cultural, ainda h variaes para o

desenvolvimento de cada indivduo, que nico em seu universo cultural e pessoal.

- Funes e forma de utilizao das listas de seqncias de desenvolvimento:

Observao e registro de comportamentos da criana conforme vo ocorrendo.

Levantamento de habilidades que so pr-requisitos para os comportamentos previstos para

cada nvel de desenvolvimento.

A maioria das seqncias apresentada na lista pode ser usada para identificar habilidades a

serem trabalhadas em um programa de desenvolvimento.

A lista de seqncias pode ser til no apenas para o professor e outros profissionais, mas

tambm para os pais, ajudando-os a estarem atentos e a promoverem habilidades.

As listas de seqncias de comportamentos podem ser adaptadas para o acompanhamento de

crianas com alteraes especficas de desenvolvimento, como nos casos de crianas que nasceram

com ou adquiriram patologias ou diferenas estruturais (p.ex., desnutrio, sndromes genticas ou

metablicas, seqelas de leso cerebral, transtornos invasivos do desenvolvimento etc.). Nesses

casos, a etiologia da alterao do desenvolvimento deve ser cuidadosamente estudada pela equipe

multidisciplinar que acompanha a criana com o objetivo de incluir na lista aspectos do

desenvolvimento que ocorrem especificamente nesses quadros e reforar a aquisio de habilidades

preventivas ou compensatrias da alterao.

Sugestes de listas de seqncias de aquisio de habilidades para as reas de desenvolvimento

cognitivo e de linguagem, visual, auditivo, de habilidades de auto-ajuda, motor amplo e motor

refinado esto no Anexo 1.

F. Estimulando o beb prematuro

A interveno que visa estimular o desenvolvimento normal deve ser iniciada desde a unidade de

terapia intensiva no caso de bebs prematuros ou de bebs que esto com a sade fragilizada e

necessitam permanecer em ambientes hospitalares. Esse tipo de interveno envolve uma equipe

multidisciplinar e cuidados muito especiais por parte de profissionais especialmente qualificados

para essa tarefa. O programa de estimulao desses bebs deve ser decidido por essa equipe, da

mesma forma que o "quando" e o "por quem" ser implementado. As sugestes gerais que se

seguem so para o perodo em que o beb prematuro ainda necessita de cuidados muito especiais, o

que pode incluir sua manuteno em ambiente hospitalar, e at que seja considerado pela equipe

multidisciplinar em condies de ingressar nos programas oficiais de educao.

FOTO: um beb deitado sendo estimulado por uma profissional

Sugestes de atividades para o beb prematuro:

As sugestes de atividades para nesse perodo so de estimulao dos sistemas sensoriais. Deve-

se estar atento para o fato de que bebs prematuros no apreciam muito serem estimulados por uma

sesso com o tempo prolongado e, portanto, deve-se ter cuidado para no exceder na quantidade de

estmulos para esse beb. Ele deve estar alerta, calmo e em atitude receptiva. Deve-se observar seus

sinais sutis de exausto ou de desinteresse. Normalmente, a expresso de sua face que comunica

que ele alcanou seu limite de tolerncia para atividades. Se alteraes na respirao ou na

colorao da pele so notadas, deve-se suspender temporariamente as atividades. Todos os bebs

precisam de intervalos de silncio e quietude.

Olfato: bebs podem perceber diferentes odores. Oferea-lhe essncias agradveis (aprovadas

pela equipe mdica) e diferentes para ele cheirar. Evitar o uso de substncias como ps ou de

aproximar muito do nariz as essncias. Verbalizar sempre, chamando a criana pelo nome e

dizendo-lhe qual odor apresentado.

Viso: estruturas visuais se desenvolvem em torno do terceiro trimestre de gravidez. Se o beb

muito jovem ou teve hemorragia cerebral, ele pode ter algumas dificuldades em perceber

visualmente objetos. Para promover habilidades de busca visual, mover um foco de luz pelo

ambiente prximo ao beb, mas no sobre seus olhos, lentamente em movimentos lineares ou

circulares. Mover objetos brilhantes, com contrastes de cores (branco e preto, vermelho e verde etc.)

na sua linha de viso, a distncias menores que 25 cm de seus olhos. Fazer uso de mbiles mudando

objetos ou sua posio a cada uma ou duas semanas. Passear por ambientes que contm objetos

coloridos com a cabea do beb acima do ombro da pessoa que o est segurando, de modo que ele

possa ver o mundo. Falar sempre com o beb sobre tudo o que ele est vendo.

Tato: massageie o beb aps o banho em um ambiente de baixa luminosidade e msica suave.

Tcnicas de massagem de origem cultural como a shantala (Leboyer, 1976) podem ser aprendidas e

usadas respeitando a disposio do beb para ser tocado. Alm de massagem, pode-se estimular a

pele com escova de cerdas suaves, escovando levemente todo o corpo do beb enquanto conversa

com ele.

Movimento: movimentar-se carregando o beb de modo que ele possa ver o mundo que o

cerca. Balan-lo, danar ou moviment-lo gentilmente de um lado para outro, para frente e para

trs. Virar cuidadosamente para um lado e para outro no bero. Ter cuidado evitando movimentos

fortes que podem causar danos a um sistema nervoso frgil. Conversar, cantar enquanto o

movimenta comunicando o que est fazendo.

Audio: chamar a ateno para os sons do meio ambiente e dizer-lhe o que est ouvindo, e o

beb aprender que os sons ajudam a organizar e identificar seu mundo. Msicas suaves ajudam a

relax-lo e a estimul-lo.

Em geral, deve-se falar com o beb, olhar em seus olhos quando falar com ele, fazer expresses

faciais de acordo com o comportamento da criana, imitar suas expresses faciais, vesti-lo com

roupas que permitam o movimento de seus braos e pernas, e chamar sua ateno para todas as

partes de seu corpo. O profissional que desenvolve o atendimento ao beb prematuro deve ser um

observador atento e perspicaz para conhecer mais profundamente os comportamentos do beb e

assim interpretar com mais preciso suas mensagens de interesse ou indisposio. Respeito ao ritmo

do beb prematuro e sua necessidade de repouso uma das caractersticas essenciais desse tipo de

interveno precoce.

FOTO: menina engatinhando sobre um tapete no interior de uma sala com brinquedos.

* III. A criana de quatro a seis anos de idade *

A. A educao da criana de quatro a seis anos de idade

FOTO: trs crianas com idades entre 4 a 6 anos, sentadas em torno

de uma mesa, lanchando.

A educao infantil deve basear seu trabalho em dois mbitos: formao pessoal e social e

conhecimentos de mundo, segundo o RCNEI - Referencial curricular nacional para a educao

infantil (BRASIL, 2001b). Por meio desses mbitos, o educador deve desenvolver, de maneira

integrada, todo o trabalho direcionado para construo do conhecimento do mundo, das diversas

formas de linguagem, da matemtica, da msica e das artes, do desenvolvimento motor, social,

emocional e cognitivo das crianas.

Para obteno do sucesso na aprendizagem infantil, o educador deve considerar a interao com

crianas de diversas idades, em diferentes situaes, os conhecimentos prvios que as crianas j

possuem a individualidade, a diversidade e a resoluo de problemas desafiadores como forma de

aprendizagem.

A rotina escolar e a organizao do tempo so fatores importantes porque permitem a

sistematizao do planejamento e a otimizao dos resultados. Assim, consideram-se como

atividades permanentes, entre outras, brincadeiras no espao interno e externo da escola, rodinha,

hora de histria, hora do fazer de conta, hora de msica, hora das novidades, oficinas, cantinhos,

atelier, hora do lanche, rotina de cuidados com o corpo e com o ambiente, hora de lavar as mos,

escovar os dentes, guardar o material usado etc.

Deve-se ensinar por meio da brincadeira, do movimento e da afetividade. Nas atividades ldicas

com as crianas, deve-se cuidar para no estar rotulando, diagnosticando ou estigmatizando-as.

Essa criana est agora em sua melhor fase de desenvolvimento fsico, emocional e cognitivo.

Ela atua e interage com o universo que a cerca de forma a tirar dele o mximo de conhecimento

possvel, por isso a ateno a seu desenvolvimento importante para que no se queimem etapas de

desenvolvimento e nem a criana fique aqum do seu potencial de aprendizagem. na fase das

primeiras relaes escolares que ocorrem a socializao, o encantamento, a admirao e o

desabrochar da compreenso do mundo. Por meio da investigao, da experimentao e da reflexo

a criana descobre o caminho para conviver na liberdade com autonomia e responsabilidade. De

acordo com o RCNEI (BRASIL, 2001b), " por meio dos primeiros cuidados que a criana percebe

seu prprio corpo como separado do corpo do outro, organiza suas emoes e amplia seus

conhecimentos sobre o mundo".

O processo de construo do conhecimento se d por meio das conquistas realizadas na busca de

novos desafios nessa faixa etria, e serve de base para novos saberes, utilizando-se das mais

diferentes linguagens.

Sem incentivos e desafios altura de suas necessidades e potencialidades, a criana pode tornar-se

desinteressada, agressiva e violenta ou aptica e submissa. necessrio que os profissionais da

educao infantil estejam atentos a essa criana, compreendendo e reconhecendo seu modo

particular de ser e de estar no mundo, identificando seus desejos, necessidades e particularidades.

Conforme vai se desenvolvendo, a criana vai agindo de forma cada vez mais organizada e

intencional com o ambiente que a cerca.

Nas suas experincias, ela formula hipteses, explora e reconstri conceitos, costumando repetir

um gesto ou uma ao vrias vezes para comprovar a conseqncia dessa ao. Portanto, na

educao infantil, o trabalho deve propiciar a ampliao das experincias j construdas pelas

crianas, mostrando a diversidade do meio social e natural, a pluralidade de fenmenos, s diversas

formas de explicar e representar o mundo e, paralelamente, oferecer o contato com as explicaes

cientficas, possibilitando o conhecimento e a construo de novas formas de pensar os eventos que

a cercam.

Esse momento extremamente rico, pois as crianas so curiosas e investigativas, cabendo ao

professor estimular atitudes de curiosidade, crtica, refutao e reformulao de explicaes para os

diferentes fenmenos do meio social e natural.

B. Estrutura curricular para a educao de crianas de quatro a seis anos de idade

A organizao e estruturao do currculo na educao infantil compreendem dois mbitos de

ao: o primeiro a formao pessoal e social (com seis eixos de trabalho: formao da identidade

e autonomia), e o outro, o conhecimento de mundo, com seis eixos de trabalho (movimento, msica,

artes visuais, linguagem oral e escrita, natureza e sociedade, matemtica).

Cerisara (apud Faria & Palhares, 1999), analisando a estruturao do currculo na educao

infantil, aponta que o "brincar" no consta mais como eixo ou rea do currculo, e sugere que o

brincar e o movimento perpassem todos os contedos do currculo para que no ocorra a

escolarizao precoce ou didatizao do ldico. H necessidade de uma mudana de foco: traar

objetivos pedaggicos, enfatizar a construo do conhecimento, desenvolver trabalho coletivo

voltado para aquisio de competncias humanas e sociais. Isso significa formar e educar para a

vida.

FOTO: vrias crianas sentadas em roda, uma deles no colo de uma professora, outra

sendo estimulada por uma profissional.

Ter alunos com diferentes nveis e estilos de aprendizagem possibilita ao professor aproveitar

essas diferenas para promover situaes de aprendizagem que provoquem desafios,

problematizaes, questes a serem discutidas e investigadas. Isso deve levar a escola, como um

todo, reflexo conjunta para a resoluo de problemas no cotidiano escolar. A escola para todos

requer um redimensionamento do fazer pedaggico a fim de atender s necessidades educacionais

especiais de todos os alunos. Os sistemas educacionais devem se reorganizar para construir um

espao escolar democrtico que possa acolher todos os alunos, respeitando suas diferenas.

Do ponto de vista educacional, um adequado atendimento infncia considera o

desenvolvimento integral da criana, sem descuidar de suas necessidades bsicas, que podem ser

traduzidas em:

segurana material e emocional em toda sua plenitude;

afeio, relaes interpessoais ntimas e profundas de estima recproca entre pais e filhos, e um

relacionamento satisfatrio com os membros dos diversos grupos a que venha, gradativamente, a

pertencer;

liberdade de auto-expresso, enfatizando-se o valor do brinquedo como forma de realizao de

seu mundo interior na busca do equilbrio entre impulsos, desejos e interesses;

segurana intelectual, alcanada por forma coerente de pensar, alicerada na segurana material

e emocional, o que permite a incorporao dos valores culturais do meio ambiente e a aquisio de

autonomia gradativa, no limite das fases de desenvolvimento que atravessa.

O que realmente importa na educao infantil , a partir das necessidades e interesses da criana,

formar hbitos sadios, habilidades adequadas e atitudes emocionais que favoream seu equilbrio.

Deve-se preparar a criana para saber ver e observar, ouvir atentamente e expor suas opinies,

trabalhar em grupo, fazer planejamento, respeitar direitos, expressar-se livremente, manifestar

independncia, reconhecer e resolver seus prprios problemas.

Ao planejar as atividades para os horrios em que a criana permanece na escola, deve-se

considerar que esse tempo constitui parte importante de sua vida, sendo necessria a mais perfeita

integrao das atividades apresentadas.

Considerando-se que o relacionamento da criana, nos seus primeiros anos de vida, com os

adultos que a cercam, tem decisiva influncia em seu equilbrio emocional futuro, a programao

fundamentar-se- na considerao dessa necessidade afetiva, procurando obter profunda ligao de

cada criana com a pessoa que dela cuida mais diretamente na escola por meio da dedicao diria

da mesma pessoa a cada grupo de crianas. Tomando por base o desenvolvimento biopsquico e

social da criana, que dever ser deduzido pela observao de suas manifestaes, motilidade,

percepo dos sentidos, memria, linguagem, comportamento, hbitos gerais, as atividades devero:

apresentar um conjunto de estmulos que conduza a criana insero natural no mundo que a

cerca;

atuar sob orientao pedaggica que assegure a higiene mental da criana;

proporcionar atividades ldicas que facilitem a compreenso do mundo e a construo do

conhecimento;

formar hbitos, atitudes e habilidades conforme o estgio de desenvolvimento da criana.

Para o xito desse programa de orientao educativa, necessrio que todos os elementos que

trabalham com as crianas estejam conscientizados da importncia de suas funes e da influncia

que exercem naturalmente junto s crianas, principalmente pelo exemplo de suas reaes, atos,

gestos, palavras e atitudes. A organizao do material utilizado deve ser feita juntamente com a

professora, incentivando as crianas a colaborarem, na medida de suas possibilidades.

Considerando as caractersticas do desenvolvimento fsico-motor, cognitivo, afetivo e social da

criana do nascimento aos seis anos, o trabalho a ser desenvolvido deve apoiar-se em:

respeito s caractersticas de cada faixa etria, s suas diferenas individuais, seus direitos e

suas necessidades educacionais especiais;

ludicidade compatvel com a necessidade bsica que as crianas tm de brincar, fazendo com

que todas as atividades sejam fontes de prazer e alegria;

interao, criando oportunidades constantes de flexibilizao e adaptaes curriculares, para

que as crianas interajam com a professora, os colegas, os objetos e as situaes;

cuidado, para que as crianas tenham atendidas todas as necessidades bsicas de segurana,

afetividade e satisfao de sua curiosidade natural com vistas ao pleno desenvolvimento de suas

capacidades de expresso, comunicao, sociabilizao, do seu pensamento, da tica, da esttica e

de sua identidade.

A inteligncia se desenvolve na interao dos fatores internos da pessoa (crescimento orgnico,

especialmente a maturao do complexo formado pelo sistema nervoso), e fatores externos (o

ambiente social e a ao, a experincia vivida sobre os objetos). Entre esses dois grupos h um fator

intermedirio que atua como mecanismo regulador, equilibrador. Esses mecanismos so construdos

em etapas sucessivas, acompanhando os estgios do desenvolvimento. Piaget (1967) o chama de

"mecanismo de auto-regulao". Sua funo por o sujeito em equilbrio diante das perturbaes,

das dificuldades, das alteraes exteriores. A questo quais so os meios que se pode, ento,

proporcionar criana para favorecer seu desenvolvimento cognitivo. Diante disso, deve-se:

oferecer uma alimentao adequada, em quantidade e qualidade, desde a concepo, e

principalmente no primeiro ano de vida, que a poca de crescimento mais acelerado do crebro e

do sistema nervoso em geral;

organizar o ambiente social, onde a criana vive;

criar um ambiente fsico adequado s necessidades da criana, para que ela possa agir sobre

objetos e construir suas experincias;

atuar junto a ela, com equilbrio, segurana e como apoio, conhecendo e respeitando suas

limitaes, enfatizando especialmente seu potencial, no sentido de que seu mecanismo interno de

regulao acompanhe as estruturas mentais sucessivas at alcanar a coerncia e a organizao

mental. Quanto mais rico for o ambiente da criana, em termos de objetos variados com os quais ela

possa brincar, tanto maior ser sua base de experincias.

B.1 A funo da linguagem

A linguagem est profundamente associada ao desenvolvimento cognitivo. Ela ajuda a

desenvolver o pensamento e a manifest-lo, e pode nos permitir conhecer o estgio de

desenvolvimento de sua mente. Mais ainda, ela exerce um papel preponderante nas relaes sociais.

Por meio dela expressamos o prprio mundo interior e sabemos o que ocorre com outra pessoa.

Quanto mais rico o vocabulrio da criana, mais condies ela tem de expressar o que lhe vai na

mente, como de compreender o que vai na mente dos outros.

A linguagem multiplica os poderes do pensamento, em extenso e rapidez. O esforo de se fazer

entender pela linguagem repercute sobre a organizao do pensamento somente consegue

expressar-se claramente quem pensa claramente e ordenadamente. A linguagem permite ao

pensamento liberar-se da situao presente, imediata: por meio dela pode-se descrever uma situao

passada, portanto, reapresent-la ou recri-la ou antecipar uma situao futura. Ela fornece, assim,

ilimitado campo de ao ao pensamento. A criana deve perceber a importncia da linguagem para

us-la sempre, e de forma expressiva.

Devem ser aproveitadas todas as ocasies, na pr-escola, para enriquecer o vocabulrio das

crianas: falar muito com elas, fazer perguntas, estimular respostas cada vez mais completas, contar

histrias, criar oportunidade para as crianas tomarem a palavra num grupo, para escutarem os

outros, para lhes responderem, para inventarem histrias, dando livre curso imaginao, para

descreverem suas atividades presentes ou passadas, ou projetarem aes futuras.

B.2 O papel das atividades criativas

FOTO: crianas e professores exercendo atividades criativas.

As atividades de criao artstica espontnea exercem, tambm, uma funo muito importante,

pois permitem que as crianas joguem com formas e cores, que suas mos trabalhem criando-as,

combinando-as, organizando-as. medida que elas vo surgindo, os pequenos artistas-artfices vo

percebendo o resultado de seu trabalho, como tambm vo aprendendo o domnio do real que eles

manipulam. Tanto percebem que so capazes de expressar uma coisa que desejam por meio de uma

forma visual quando sentem a surpresa de ver sarem formas novas, originais, suas, de suas prprias

mos. A surpresa gera satisfao. A satisfao gera alegria e segurana. Sua autoconfiana

fortificada com essas experincias um fator decisivo para o conceito que formam de si prprias.

H vrias maneiras de a criana expressar sua arte: uma por meio do uso de pincel, tinta,

lpis-cera, cartolina, celofane; outra o gesto de riscar na areia ou na terra, com uma pedra ou um

pedacinho de madeira. Entre esses dois extremos, h inmeras outras possibilidades criativas. O

material que ela usa exerce um papel decisivo medida que favorece, facilita, estimula e permite

diversificao da ao e do pensamento criador. Mas preciso distinguir entre processo e produto.

O processo o movimento de a criana criar a partir dos estmulos internos ou externos, de fazer

alguma coisa com esse ou aquele material, de sentir-se produzindo, de experimentar, gerar, dar

vida. Esse processo , para a criana, a afirmao de seu valor. O produto resultado material desse

processo: a pintura, o desenho. Ela acha bonito tudo o que faz porque emprega toda a capacidade

que tem naquele momento, na criao dessas formas. Sabe-se, no entanto, que a atividade artstica

livre, alm de produzir trabalhos de uma beleza plstica admirvel, desencadeia um processo

interno de criao que acompanhar a pessoa por toda sua vida.

Quando se incentiva crianas, independentemente de suas necessidades educacionais especiais, a

realizarem atividades artsticas livres ou orientadas, est-se contribuindo com o desenvolvimento

mental de habilidades criativas.

B.3 Habilidades sociais e afetivas

A imitao a primeira manifestao das relaes interindividuais da criana com outra pessoa.

Em seguida, a linguagem egocntrica (dois a cinco anos de idade) predomina passando aos poucos

linguagem adaptada aos outros e aos fatos (descentrao do eu da criana) e ao uso da linguagem

como elemento de comunicao e intercomunicao. Logo no incio ocorre a atividade isolada,

individual e depois h a passagem atividade em grupo, de 2 a 3 participantes, depois de 4, 5, at 7

ou mais.

No relacionamento social surgem oportunidades para lidar com os conflitos no grupo: as

amizades, embora instveis, o gosto pela competio e cooperao, o respeito regra, a aceitao

de controles, a luta por seus direitos, a defesa de seus pontos de vista e o respeito pelos direitos e

ponto de vista dos outros dos outros.

Se as relaes sociais que ela experimenta forem cooperativas, amistosas, de apoio, incentivo,

segurana e desprendimento, a criana aprender a cooperar, sentir-se- apoiada e segura no grupo,

abrir-se- para ele e, medida que o processo de socializao vai se fazendo, aprender a ser uma

pessoa integrada no grupo social. Esse processo de desenvolvimento social tambm ocorre em

crianas com necessidades educacionais especiais.

Quanto mais diversificadas forem as experincias sociais da criana, mais seu desenvolvimento

social contribuir com o desenvolvimento das outras reas. Por exemplo, a representao que faz

desses princpios vai sendo aos poucos formada e eles passam a ajudar a modelar a aquisio de

outros conceitos.

Em relao s experincias emocionais da criana e as trocas interindividuais, mencionados

alguns dos principais aspectos que favorecem o desenvolvimento emocional:

Ser uma criana aceita pelos pais.

Ser amada, receber ateno e carinho.

Sentir a presena da me, ou de uma substituta materna permanente.

Estar num grupo de pessoas que sentem e manifestem emoes equilibradas, fortes sentimentos

de afeto, carinho e mtua aceitao.

Conviver com outras crianas mais ou menos da mesma idade.

Jogo simblico. O jogo simblico o meio de expresso da criana por meio do qual ela

manifesta o modo como v as coisas e os acontecimentos. Nessa manifestao, ela recria e vivencia

a situao que mais a marcou.

Algumas necessidades educacionais especiais prejudicam o desenvolvimento dessa realidade

infantil, tornando necessrio que o adulto estimule, interaja com ela no jogo, criando situaes para

que a criana possa desenvolver a capacidade de se expressar por meio do jogo simblico.

C. Currculo

Para a educao de crianas com dificuldades de aprendizagem, o currculo o mesmo utilizado

nas creches e nos centros de educao infantil, tendo como base o Referencial curricular nacional

para a educao infantil (BRASIL, 2001b), que deve abranger todas as reas do desenvolvimento

que se encontram nos eixos do referencial. Em se tratando de crianas com necessidades

educacionais especiais, esse currculo deve ser flexibilizado ou adaptado, de modo que possa dar

respostas educacionais para atender as especificidades dessas crianas.

C.1 Leitura

O desenvolvimento da habilidade de leitura est diretamente ligado ao desenvolvimento das

habilidades de comunicao oral e escrita. Esta ltima evolui dos primeiros rabiscos para uma

forma de registro do pensamento organizado e intencional.

C.1.1 Linguagem oral

As atividades de linguagem oral tm como objetivo levar as crianas a interpretar o que ouvem,

responder de maneira lgica ao que lhes perguntado, e desenvolver o pensamento lgico e sua

expresso. Alm disso, a linguagem oral permite s crianas ampliar seu vocabulrio e seus

conhecimentos sobre os diversos assuntos abordados, bem como estimular sua participao verbal

no grupo e desenvolver a capacidade crtica, contribuindo para o bom xito da aprendizagem.

O primeiro contato da criana com um texto feito em geral oralmente pela voz da me e do pai

contando contos de fada, histrias inventadas ou reais, tendo gente ou bichos como personagens.

Ler histrias para as crianas, suscitar o imaginrio, ter a curiosidade respondida em relao a

tantas perguntas, e encontrar outras idias para solucionar questes. estimular para desenhar,

musicar, teatralizar e brincar.

A arte de contar histrias importante na formao de qualquer criana. Escutar histrias o

incio da aprendizagem para ser um leitor e ser leitor ter todo um caminho de descobertas e de

compreenso de um mundo ilimitado. ouvindo histrias que se pode sentir emoes como:

tristeza, raiva, irritao, medo, alegria, pavor, impotncia, insegurana. Ouvir e ler histrias

tambm desenvolver o potencial crtico da criana. poder pensar, duvidar, se perguntar,

questionar.

Os contos e fbulas nos remetem a uma histria de transformaes quando so acolhidas pela

compreenso do ser humano. As histrias acarretam um conhecimento sedimentado e acumulado

por toda a humanidade. Os contos contribuem para a construo do mundo infantil, por meio das

referncias mgicas e fantsticas contidas em sua trama.

Eis aqui algumas sugestes de fbulas para crianas de quatro a seis anos de idade: O Lobo e os

Sete Cabritinhos, Os Trs Porquinhos, Os Trs Ursinhos, O Patinho Feio, A Galinha Ruiva e outros.

C.1.2 Linguagem escrita

Juntamente com a linguagem oral deve-se trabalhar a linguagem escrita. A experincia da

criana como leitor antes de s-lo faz com que ela aprenda o essencial das prticas funcionais

ligadas escrita. O professor deve transformar a sala de aula num ambiente alfabetizador. Quanto

mais atos de leitura e escrita a criana puder vivenciar, quanto mais exposta influncia do mundo

das letras, quanto mais informaes sobre a escrita ela tiver, mais ela ter elementos para trabalhar

cognitivamente e elaborar suas hipteses mentais sobre a leitura e a linguagem escrita.

necessrio expor as crianas a vrios materiais escritos como jornal, rtulos de produtos, letras

de canes, de quadrinhos, parlendas, textos publicitrios, poemas, narrativas, etc. Eles ajudam a

criana a perceber a forma da escrita e a compreender o que se l, onde se l sobre o que se l.

Deve-se ler pelo menos um texto por dia, explorando com as crianas o contedo, ou seja, fazendo

as interpretaes do que foi lido. Se for importante a criana experimentar a leitura, tambm

importante ela experimentar a escrita a seu modo, como ela acha que se escreve. Ao produzir sua

prpria escrita a criana manifesta inteno de ler e escrever e, assim, vai construindo suas

hipteses mentais sobre a leitura e a escrita.

Nessa fase, no apropriado corrigir nenhum tipo de produo da criana dizendo "est errado",

pois ela est utilizando, no caso, a escrita para se expressar, do mesmo modo que o faz com

desenhos etc. Por intermdio do erro a criana constri seu pensamento, tomando, aos poucos

conscincia de suas dificuldades e procurando corrigi-las. Devem-se valorizar as produes das

crianas estimulando novas tentativas e desafiando-as a constituir respostas mais elaboradas.

Mesmo as crianas com necessidades educacionais diferenciadas passam por essa etapa do

desenvolvimento, sendo que, na maioria das vezes, necessitam de uma tutoria temporria ou

permanente.

C.2 Matemtica

O objetivo dessa rea procurar desenvolver o raciocnio da criana propondo atividades em que

ela seja levada a interagir com objetos concretos e, com base nessa interao, gradualmente v

construindo o seu conhecimento. Assim como a linguagem escrita, a matemtica tambm est

apoiada na teoria construtivista. No se pretende apenas ensinar a criana, mas tambm oferecer

estmulos e recursos para que ela, aos poucos, v construindo seu conhecimento matemtico, o qual

como qualquer outro tipo de conhecimento, se d de dentro para fora.

C.3 Msica

A msica est presente na vida em diversas situaes e em todas as culturas. compreendida

como linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de expressar e de comunicar sensaes,

sentimentos e pensamentos. Na Grcia antiga, a msica era considerada fundamental para a

formao dos futuros cidados, ao lado da matemtica e da filosofia. A presena da msica em

diversas situaes faz com que a criana inicie seu processo de musicalizao de forma intuitiva.

Alm do poderoso meio de integrao social, a msica excelente instrumento para o

desenvolvimento da expresso, do equilbrio, da auto-estima e do autoconhecimento, visto que

proporciona a interao entre os aspectos sensveis, afetivos, estticos e cognitivos, como tambm a

promoo da comunicao social.

Nessa faixa etria, a expresso musical das crianas caracterizada pela nfase nos aspectos

intuitivo e afetivo, e tambm na explorao dos materiais sonoros. Esses materiais devem ser

adequados s necessidades especficas de cada criana.

D. O brincar e o brinquedo

A funo do brincar na infncia to importante e indispensvel quanto comer, dormir e falar.

por meio dessa atividade que a criana alimenta seu sistema emocional, psquico e cognitivo. Ela

elabora e reelabora toda sua existncia por meio da linguagem do brincar, do ldico e das interaes

com seus pares. A incluso de brinquedos no interior da escola requer a organizao dos mesmos de

forma peculiar, sem sofisticao, adaptada aos interesses e necessidades das crianas, e que

favorea a recriao da brincadeira, a cooperao e a expresso da criana. Brincar a maneira mais

prazerosa de aprender.

O brincar desenvolve a imaginao, estimula a atividade motora, faz criar cumplicidade entre

aqueles que jogam e danam juntos (socializao) independentemente de seus graus de

habilidades/capacidades e das necessidades educacionais especiais. O brincar vital para o

desenvolvimento do potencial de todas as crianas. As vivncias ldicas trabalham ao mesmo

tempo a motricidade, a ateno, a memria, o raciocnio, a criatividade, a aprendizagem, a

ansiedade, a organizao espacial, a coordenao motora, o esquema corporal etc.

Brincar importante porque bom, gostoso e d felicidade, e ser feliz estar mais predisposto

a ser bondoso, a amar o prximo e a partilhar fraternalmente. brincando que a criana se

desenvolve e exercita suas potencialidades. O desafio contido nas situaes ldicas provoca o

funcionamento do pensamento e leva a criana a alcanar nveis de desempenho que s as aes,

por motivao intrnseca, conseguem. Brincando, a criana aprende com toda a riqueza do aprender

fazendo, espontaneamente, sem estresse ou medo de errar, mas com prazer pela aquisio do

conhecimento.

Como as moradias esto cada vez mais apertadas e os adultos cada vez mais ocupados, surgiram

as brinquedotecas, que so espaos criados para favorecer a brincadeira, onde as crianas vo para

brincar livremente com todo o estmulo manifestao de suas potencialidades e necessidades

ldicas. L, a criana pode viver plenamente sua dimenso que explode em curiosidade e

entusiasmo.

O brinquedo vale pelo que ele significa para a criana: um desafio sua curiosidade de fazer e

desfazer, como criar histrias, como organizar o seu pequeno mundo e ir conseqentemente

organizando sua mente.

brincando que a criana experimenta situaes e emoes da vida adulta. O faz-de-conta

vital para o desenvolvimento humano. O educador no deve usar as brincadeiras apenas como

recursos didticos, pois isso deixa em segundo plano as maiores contribuies que o brincar pode

dar criana. A atitude correta ajudar as crianas a brincar, interagindo e estimulando a

imaginao delas.

E. Recursos tecnolgicos

Cada vez mais a linguagem cultural inclui o uso de diversos recursos tecnolgicos para produzir

processos comunicativos, utilizando-se diferentes cdigos de significao (novas maneiras de se

expressar e de se relacionar). Inmeros meios audiovisuais e multimdia disponibilizam dados e

informaes, permitindo novas formas de comunicao, alm dos meios grficos. As tecnologias da

comunicao possibilitam novas formas de ordenao da experincia humana, com grandes

reflexos, principalmente na cognio e na atuao humana sobre o meio e sobre si mesma.

fundamental que a instituio escolar integre a cultura tecnolgica extracurricular a seu

cotidiano, proporcionando aos alunos o desenvolvimento de habilidades para utilizao dos novos

instrumentos de aprendizagem. A televiso um meio de comunicao que oferece grande

variedade de informaes utilizando basicamente imagens e sons, o que a faz no depender

necessariamente da cultura letrada, que no pode ser desconsiderada pela instituio escolar. um

meio de transmisso de programas, algumas vezes com finalidades educacionais, dirigidos a

professores e alunos.

J o computador uma ferramenta que possibilita o estabelecimento de novas relaes para a

construo do conhecimento e da comunicao. O computador permite criar ambientes de

aprendizagem que fazem surgir novas formas de pensar e aprender e, principalmente, de se

comunicar. Para que os alunos no sejam receptores passivos necessrio contextualizar essas

programaes, levando em considerao as necessidades, interesses e condies de aprendizagem

dos alunos.

F. Avaliao do desenvolvimento e do processo de aprendizagem

A avaliao exerce um papel fundamental no processo de ensino e aprendizagem, como tambm

nas adaptaes curriculares, norteando as decises pedaggicas e retroalimentando-as. No contexto

educacional, a avaliao deve enfocar a aula (metodologias, organizao, procedimentos didticos,

atuao do professor, relaes interpessoais, individualizao do ensino, condies fsico

ambientais, flexibilidade curricular etc.); e a escola (projeto pedaggico, funcionamento da equipe

docente e tcnica, currculo, clima organizacional, gesto etc.). Contudo, recomendvel que todas

as crianas, e em especial aquelas que apresentam dificuldades acentuadas de aprendizagem ou

limitaes de desenvolvimento, devam ser avaliadas periodicamente com relao a suas habilidades

sensoriais (viso e audio). Dficits sensoriais leves ou moderados podem ser mascarados ou no

percebidos quando h um quadro de dificuldades de aprendizagem, e o resultado poder ser uma

potencializao de um problema por outro e vice-versa.

A avaliao na educao infantil deve ser contnua e sistemtica, destinando-se a auxiliar o

processo de aprendizagem e a fortalecer a auto-estima das crianas. indissocivel do processo

educativo, que possibilita ao professor definir critrios para planejar as atividades e criar novas

situaes que gerem avanos na aprendizagem das crianas. Percebe-se uma impreciso conceitual

sobre avaliao quando se depara com critrios de verificao utilizados na quase totalidade das

vezes pelos professores como forma de classificar, selecionar, ajuizar, aferir e julgar a aquisio de

conhecimentos e habilidades. No se considera a diversidade dos alunos que esto sendo avaliados

nem o impacto dessa diversidade em seu desempenho. Cada pessoa tem seu tempo para

aprendizagem e dotada de identidade prpria, com gnero, raa, classe social, vises de mundo e

padres culturais prprios a serem considerados em prticas docentes e avaliativas.

Em um mundo cada vez mais complexo, dinmico e mutvel, adotou-se uma concepo de

aprendizagem por meio de competncias e habilidades, por rea de conhecimento, onde se torna

imprescindvel uma mudana na forma de se avaliar, observando o contexto sociocultural do aluno.

A avaliao deve contemplar, dentre outros aspectos, atitudes, aptides, estilos cognitivos,

manifestaes comportamentais e disposies afetivo-emocionais do aluno, alm de

comportamentos sociveis e anti-sociais, garantindo seu carter pluralista e processual. Necessita

tambm, pela sua natureza funcional, abordar as dimenses cognitivas, psicomotora, adaptativa,

socioafetiva, interpessoal e prtica, relacionando-as a questes de sade fsica e mental e aos

diferentes contextos significativos para o aluno.

Quando se discute a avaliao da aprendizagem escolar, tem-se presente a avaliao do processo

de ensino-aprendizagem de seus atores, de suas necessidades educacionais especiais, a prtica

pedaggica, a avaliao institucional, e no apenas o desempenho dos aprendizes. Considera-se

tambm a importncia do contexto familiar como fator influente no processo. A avaliao deve

tambm estar baseada na confiana, na possibilidade de os educandos construrem seus prprios

conhecimentos, alm de valorizar suas manifestaes e interesses. Ela deve ser inerente e

indissocivel da ao educativa, observadora e investigativa, considerada como mais uma

oportunidade que favorece e amplia as possibilidades de aprendizagens significativas do educando.

Os resultados da avaliao refletem-se no desenvolvimento e aprendizagem do aluno, no

redirecionamento da prtica educativa e no aprimoramento do projeto pedaggico da escola.

Portanto, a avaliao configura-se como elemento dinmico e transformador no processo

ensino-

aprendizagem. Esses resultados no devem ser usados, em nenhuma hiptese, como argumento para

reteno da criana em ciclos ou etapas e sua conseqente separao de seu grupo social.

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