saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e
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Saberesda gestão:o trabalhosocioeducativocom criançase adolescentes
Saberesda gestão:o trabalhosocioeducativocom criançase adolescentes
Instituto da Criança edo Adolescente – ICA(Org.)
Belo Horizonte – 2009
Pontifícia Universidade Católica de Minas GeraisPontifícia Universidade Católica de Minas GeraisPontifícia Universidade Católica de Minas GeraisPontifícia Universidade Católica de Minas GeraisPontifícia Universidade Católica de Minas GeraisGrão-chanceler da PUC Minas: Dom Walmor Oliveira de AzevedoReitor: Dom Joaquim Giovani Mol GuimarãesVice-Reitora: Profa. Patrícia Bernardes
Pró Reitoria de ExtensãoPró Reitoria de ExtensãoPró Reitoria de ExtensãoPró Reitoria de ExtensãoPró Reitoria de ExtensãoPró-Reitor de Extensão: Wanderley Chieppe Felippe
Instituto da Criança e do Adolescente – ICAInstituto da Criança e do Adolescente – ICAInstituto da Criança e do Adolescente – ICAInstituto da Criança e do Adolescente – ICAInstituto da Criança e do Adolescente – ICADiretora: Profa. Rita de Cássia Fazzi
Editora PUC MinasEditora PUC MinasEditora PUC MinasEditora PUC MinasEditora PUC MinasPró-Reitor de Pesquisa e de Pós-graduação: João Francisco de AbreuCoordenação editorial: Cláudia Teles de Meneses Teixeira
Pesquisa e redaçãoPesquisa e redaçãoPesquisa e redaçãoPesquisa e redaçãoPesquisa e redaçãoJosé Luiz FazziLevindo Diniz Carvalho
I lus t raçãoI lus t raçãoI lus t raçãoI lus t raçãoI lus t raçãoRômulo Geraldo Garcias
Projeto gráficoProjeto gráficoProjeto gráficoProjeto gráficoProjeto gráficoFernando Silveira Sabino
Rev isãoRev isãoRev isãoRev isãoRev isãoEv’Ângela Batista Rodrigues de Barros
Apoio técnicoApoio técnicoApoio técnicoApoio técnicoApoio técnicoMarco Antônio Couto Marinho
Apoio administrativoApoio administrativoApoio administrativoApoio administrativoApoio administrativoDerik de Almeida Maximiano
Estagiár iosEstagiár iosEstagiár iosEstagiár iosEstagiár iosAndréia Antônia de JesusKyra Martins VargasLaura Oliveira AlbertiMarina Rodrigues SiqueiraNathália Silva Barbosa
As imagens utilizadas neste livro foram enviadas pelos coordenadores doserviço socioeducativo e autorizadas pelas famílias das crianças e dosadolescentes e por todos que nelas aparecem.
Editora PUC MinasEditora PUC MinasEditora PUC MinasEditora PUC MinasEditora PUC Minas
Rua Pe. Pedro Evangelista, 377 – Coração Eucarístico
30535-490 – Belo Horizonte – Minas Gerais – Brasil
Tel.: (31) 3319 9904 – Fax: (31) 3319 9907
e-mail: [email protected] – www.pucminas.br/editora
Organ ização :Organ ização :Organ ização :Organ ização :Organ ização :Instituto da Criança e do Adolescente – ICA/ProexConselho Técnico:(Gestão 2008 / 2º semestre)Rita de Cássia Fazzi (Diretora)Almir de Oliveira JuniorDaniela Soares HatemGilmar RochaMaria José Gontijo SalumSânia Maria Campos
Contrato entre Sociedade Mineira de Cultura, através da PUC Minascom interveniência do Instituto da Criança e do Adolescente, e o Governo doEstado de Minas Gerais, através da Secretaria de Estado de DesenvolvimentoSocial – Sedese.
Governo do Estado de Minas GeraisGoverno do Estado de Minas GeraisGoverno do Estado de Minas GeraisGoverno do Estado de Minas GeraisGoverno do Estado de Minas GeraisGovernador: Aécio Neves da Cunha
Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social – SSecretaria de Estado de Desenvolvimento Social – SSecretaria de Estado de Desenvolvimento Social – SSecretaria de Estado de Desenvolvimento Social – SSecretaria de Estado de Desenvolvimento Social – SedeseedeseedeseedeseedeseSecretário: Agostinho Patrús FilhoSecretário Adjunto: Juliano Fisicaro Borges
Coordenadoria Especial da Política Pró-Criança e AdolescenteCoordenadoria Especial da Política Pró-Criança e AdolescenteCoordenadoria Especial da Política Pró-Criança e AdolescenteCoordenadoria Especial da Política Pró-Criança e AdolescenteCoordenadoria Especial da Política Pró-Criança e AdolescenteCoordenadora: Fernanda Flaviana de Souza Martins
Superintendência de Planos e Projetos EspeciaisSuperintendência de Planos e Projetos EspeciaisSuperintendência de Planos e Projetos EspeciaisSuperintendência de Planos e Projetos EspeciaisSuperintendência de Planos e Projetos EspeciaisSuperintendente: Eliana Benício Siqueira
Diretoria de Promoção da Criança e do AdolescenteDiretoria de Promoção da Criança e do AdolescenteDiretoria de Promoção da Criança e do AdolescenteDiretoria de Promoção da Criança e do AdolescenteDiretoria de Promoção da Criança e do AdolescenteDiretora: Maria Helena de Almeida
Assessoria de Planos e Projetos EspeciaisAssessoria de Planos e Projetos EspeciaisAssessoria de Planos e Projetos EspeciaisAssessoria de Planos e Projetos EspeciaisAssessoria de Planos e Projetos EspeciaisAssessora: Maria de Fátima Silva Prados
Assessor TécnicoAssessor TécnicoAssessor TécnicoAssessor TécnicoAssessor TécnicoMurilo Tadeu Moreira e Silva
Equipe técnica:Equipe técnica:Equipe técnica:Equipe técnica:Equipe técnica:Letícia Mello de Andrade, Luciana Delfim de Oliveira, Rosana Cristina daCosta, Sérgio Luiz Pires, Solange Aparecida Santos, Wilson Pereira da Silva,Simone Franca Cavalcani, Edlene Viana da Fonseca Santos, Maria das GraçasPereira, Ivani de Oliveira Reis, Gilda Fontes Nicolai
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Pró-Reitoria de Extensão.Instituto da Criança e do Adolescente.
P816s Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes / Institutoda Criança e do Adolescente, Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social. BeloHorizonte: Editora PUC Minas, 2009.
104p.: il.
ISBN 978-85-60778-40-9
1. Direito das crianças. 2. Adolescentes. 3. Educação de crianças. 4. Política familiar.5. Educadores – Formação. 6. Assistência Social. I. Instituto da Criança e do Adolescente.II. Minas Gerais. Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Esportes. III. Título.
CDU: 362.748
(Gestão 2009 / 1º semestre)Rita de Cássia Fazzi (Diretora)Carlos Wagner Costa MachadoDaniela Soares HatemGilmar RochaMaria José Gontijo SalumSânia Maria Campos
Apresentação – Sedese .............................................................................................................................................................. 7
Apresentação – ICA/Proex ........................................................................................................................................................ 9
Capítulo 1
Os serviços socioeducativos no âmbito da Assistência Social ............................................................................... 13
Capítulo 2
Crianças, adolescentes e serviço socioeducativo ......................................................................................................... 25
Relatando uma experiência:
Alegria, liberdade e movimento em meio à natureza .................................................................................... 30
Relatando uma experiência:
Sociabilidade on-line: experiências de jovens em Nova Contagem ......................................................... 33
Capítulo 3
Os desafios do coordenador ................................................................................................................................................. 37
Primeiro desafio: O trabalho em rede ................................................................................................................. 39
Segundo desafio: Participação da família e da comunidade na construção
da experiência educativa ................................................................................................... 42
Terceiro desafio: Parceria com a escola .............................................................................................................. 44
Quarto desafio: A equipe de trabalho e a sua formação ........................................................................... 46
Sumário
Capítulo 4
Planejar: uma vivência de valores ....................................................................................................................................... 51
O que é a ação de planejar e gerir? ..................................................................................................................... 55
Como planejar? ............................................................................................................................................................. 59
Capítulo 5
O cotidiano do serviço socioeducativo .............................................................................................................................. 71
Organização dos espaços, dos tempos e dos grupos ................................................................................... 74
Espaço de aprendizagens ......................................................................................................................................... 79
Trabalho por projetos. ................................................................................................................................................ 82
Dever de casa ................................................................................................................................................................ 85
Socialização e brincar ................................................................................................................................................ 87
Arte e cultura, esporte e lazer ................................................................................................................................ 89
Avaliação e registros no cotidiano ....................................................................................................................... 92
Uma conversa que não tem fim! ........................................................................................................................................ 95
Referências .................................................................................................................................................................................. 97
O presente documento tem por finalidade fornecer subsídios teórico-práticos para coordenadores,
técnicos e demais educadores do Sistema de Garantia dos Direitos de Crianças e Adolescentes envolvidos
no serviço socioeducativo, na perspectiva do Estatuto da Criança e do Adolescente, da Lei Orgânica da
Assistência Social e do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e
Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária.
A parceria entre a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social, por meio da Coordenadoria
Especial da Política Pró-Criança e Adolescente e a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,
através do Instituto da Criança e do Adolescente/Proex, resultou nesta ferramenta, que objetiva
potencializar as ações sociais e educativas na perspectiva do atendimento aos direitos de crianças e
adolescentes ao esporte, ao lazer, à cultura, ao lúdico e às atividades que visam reforçar a aquisição dos
conteúdos curriculares da escola comum.
O esforço empreendido certamente resultará em maior qualidade do serviço socioeducativo, além
de torná-lo importante retaguarda para a socialização de crianças e adolescentes, reforçando seus
vínculos familiares e comunitários.
Esta iniciativa, com fundamentação na legislação, nos conhecimentos acumulados e no
patrimônio de experiências nessa área, busca dar uma orientação àqueles que irão conduzir e
desenvolver, com esse segmento, atividades que buscam complementar a educação escolar, num esforço
para que crianças, adolescentes, famílias e comunidades possam construir e reconstruir seus
conhecimentos, sua história e cidadania.
Para trabalhar o cotidiano de uma unidade de socialização, não podemos perder de vista nossa
história, a fim de podermos vislumbrar nosso futuro no horizonte. Os programas de socialização hoje
em funcionamento foram inspirados em experiências inovadoras dos anos de 1980, cujos exemplos mais
significativos podem ser resgatados da memória pelo Projeto Recriança da Secretaria Municipal de
ApresentaçãoSedeseAgostinho Patrús FilhoSecretário de Desenvolvimento Social – Sedese
Fernanda Flaviana de Souza MartinsCoordenadora Especial de Políticas Pró-Criança
8Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
Educação de Belo Horizonte; pelos Centros Integrados de Atendimento ao Menor de Minas Gerais
(Ciame – que funcionam ainda hoje); as frentes de trabalho Turma da Rua, Casa Aberta, Enturmando,
Clube da Turma.
Herdeiro dessas valiosas experiências e das conquistas no campo dos direitos consubstanciados
pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – o Programa Curumim, criado em 1991 pelo Governo de
Minas, consolidou e unificou as estratégias exitosas de oportunizar, às crianças e aos adolescentes em
situação de vulnerabilidade, atividades lúdicas, esportivas, recreativas, culturais, artísticas e alimentação.
Esse Programa, perenizado até os dias de hoje, reafirma a importância da socialização como lugar
privilegiado para brincar, jogar, praticar esportes e, por que não, estudar também.
Esperamos que o texto produzido com clareza e objetividade seja revigorado pela prática
determinada de cada um e pelo compromisso de todos com a defesa, garantia e proteção dos
direitos de crianças e adolescentes, por meio de práticas sociais e educativas emancipadoras e
promotoras da cidadania.
Acreditamos que a atuação de uma equipe orientada do ponto de vista teórico e técnico será
fator determinante para a qualidade do trabalho social e educativo.
O livro que ora apresentamos é fruto da parceria estabelecida entre a Secretaria de Estado de
Desenvolvimento Social (Sedese), por meio da Coordenadoria Especial da Política Pró-Criança e
Adolescente, e a Sociedade Mineira de Cultura, através da Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais, com interveniência do Instituto da Criança e do Adolescente (ICA), núcleo temático vinculado à
Pró-Reitoria de Extensão.
Esta publicação realiza uma das finalidades do ICA que é a de subsidiar instituições da sociedade
civil e do poder público na formulação, operacionalização e avaliação de políticas relativas às crianças e
aos adolescentes.
O livro pretende ser um instrumento de trabalho de todos aqueles envolvidos com a gestão dos
serviços socioeducativos, não se constituindo num receituário de atividades prontas e acabadas. É um
convite à criatividade no esforço de garantir os direitos de crianças e adolescentes, tais como
preconizados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e pela Lei Orgânica da Assistência Social
(Loas), e a uma reflexão sobre a concepção educativa que deve orientar todo o trabalho realizado com
o público desses serviços, tendo como fundamento o processo de construção de cidadãos e de uma
sociedade democrática.
A elaboração de Saberes da gestão envolveu um diálogo com a equipe técnica da Sedese, com os
coordenadores de serviço socioeducativo de alguns municípios de Minas Gerais, por meio da realização
de um encontro na PUC, centrado no debate sobre os desafios do trabalho socioeducativo com crianças
e adolescentes, e da sistematização das respostas a um questionário enviado para todos os
coordenadores e, às vezes, gestores, desses serviços. Contatos telefônicos foram também feitos com o
objetivo de solicitar do serviço socioeducativo materiais como planos de trabalho, fotografias, relatórios
e outros documentos que pudessem subsidiar a organização do conteúdo a ser publicado.
ApresentaçãoICA/ProexRita de Cássia FazziDiretora do ICA/Proex
10Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
O livro está estruturado em cinco capítulos. No primeiro capítulo, discutem-se as principais
dimensões dos serviços socioeducativos enquanto espaços de formação integral e de exercício da
cidadania, destacando-se alguns parâmetros da Política Nacional de Assistência Social. O segundo
capítulo enfatiza a necessidade de conhecermos as múltiplas realidades vivenciadas por crianças e
adolescentes com as quais trabalhamos e de concebê-los como sujeitos de direitos. O terceiro capítulo
apresenta os desafios relacionados à gestão dos serviços socioeducativos, que envolvem o trabalho
em rede, a participação das famílias, a equipe e sua formação continuada. A experiência e a
importância de planejar as atividades do serviço socioeducativo são os temas do quarto capítulo, que
ressalta que a dinâmica do planejamento deve ser democrática e participativa. O cotidiano do
trabalho socioeducativo é o conteúdo do último capítulo, que aborda as diferentes facetas desse
trabalho, incluindo o monitoramento e a avaliação do processo vivenciado. Por fim, reiteramos nossa
intenção de contribuir para o surgimento de uma sociedade na qual todos tenham seus direitos de
cidadania respeitados.
Acreditamos que esse sonho vá se concretizando na forma de se conceber e de estruturar os
serviços socioeducativos em cada município do Brasil, e, em particular, de Minas Gerais. O ICA espera
que esse livro transforme-se numa ferramenta de trabalho e de reflexão capaz de favorecer a efetivação
de uma política pública garantidora dos direitos das crianças e dos adolescentes.
Os serviçossocioeducativosno âmbito daAssistênciaSocial
1
“Oferecer às crianças e adolescentes trabalhadores a oportunidade de serem verdadeiramente
crianças e adolescentes, participando de ações socioeducativas e de convivência (...).”Raquel Andreza de Jesus Siqueira (Coordenadora, Pedro Leopoldo)
“Atender crianças de 6 a 14 anos, facilitando a
promoção e inserção social, através do esporte,
arte, cultura, recreação e apoio ao
desenvolvimento escolar; desenvolver e resgatar
valores, tais como cooperação, tolerância e
solidariedade; apoiar a integração e
desenvolvimento sociofamiliar; ajudar para o
desenvolvimento de uma convivência cooperativa
e participativa; apoiar no desenvolvimento físico
e mental dos educandos.“Ana Paula Camargos Almeida (Administradora de
Núcleo, Contagem)
“Temos como objetivos o combate à evasão
escolar, o fortalecimento dos vínculos socioafetivos
e familiares, a autoestima dos assistidos.”Valdiney Gonçalves de Quadros (Coordenador e
assistente social, Malacacheta)
Pedro Leopoldo
Contagem
Malacacheta
Januária
Muriaé
Belo Horizonte
Carmo do Paranaíba
“Atender crianças e adolescentes de 6 a 17
anos e meio, em situação de risco pessoal e
social, em horário complementar à escola,
contribuindo para sua socialização em ações
que favoreçam a sua permanência na família
e na escola formal.”Gilmar Freire Ferreira (Coordenador em ações como
planejamento, programações, reuniões, Belo Horizonte)
“Manter as crianças longe dos perigos da rua, apoiar as famílias para que elas possam trabalhar
fora, melhorar o rendimento escolar, dar oportunidade a essas crianças de terem um futuro
melhor. Esses objetivos estão sendo alcançados através das atividades, desenvolvidas nas
entidades, como: esportes, lazer, reforço escolar, através de atividades lúdicas, pintura e uma
alimentação saudável.”Vera Lucia Vargas Braga (Coordenadora, Carmo do Paranaíba)
“Contribuir para a erradicação de todas as formas de trabalho infantil, atendendo famílias cujas
crianças e adolescentes com idade inferior a 16 anos se encontrem em situação de trabalho.
O programa está inserido em um processo de resgate da cidadania e promoção de direitos de
seus usuários, bem como de inclusão social de suas famílias.”Marília Beatriz de Castro Ramos (Coordenadora do Programa, Januária)
“Implantar ações e desenvolver, com
crianças e adolescentes, atividades
capazes de promover o protagonismo
juvenil e a conscientização cidadã,
além de favorecer a melhoria da
qualidade de vida.”Grazielle C. Santos Fortini (Assessoria
Técnica, Muriaé)
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Art. 4º. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com
absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar
e comunitária.
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e
à juventude.
Art. 5º. Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por
ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.
Contagem / MG
17 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
Em todo o estado de Minas Gerais e em
todo o Brasil, são desenvolvidas atividades
socioeducativas com crianças e adolescentes.
Estas atividades, conforme a Política Nacional
de Assistência Social, são destinadas “à
população que vive em situação de
vulnerabilidade social, decorrente da pobreza,
ou privação (ausência de renda, precário ou
nulo acesso aos serviços públicos, dentre
outros), e/ou fragilização dos vínculos afetivos
– relacionais e de pertencimento social”.
No âmbito da Política Nacional de
Assistência Social, essas ações são desenvolvidas
como parte integrante do Suas, Sistema Único da
Assistência Social, como serviço socioeducativo
para crianças e adolescentes.
O serviço socioeducativo contempla
educação e proteção social de crianças e de
adolescentes em situação de vulnerabilidade,
ocorre no período alternado ao da escola, e
tem como objetivo contribuir em sua formação
integral para a cidadania.
Segundo Maria do Carmo Brant, as
ações, projetos ou programas socioeducativos
voltados às crianças e aos adolescentes
vulnerabilizados pela pobreza, surgiram no
Brasil por iniciativa da sociedade civil, são um
bem público comunitário e se constituem em
um capital social das próprias comunidades.
Mas o que é o serviçosocioeducativo? Quais seus
objetivos? Qual sua importância como
espaço de garantia de direitos e
formação de crianças e adolescentes?
O Suas, Sistema Único deAssistência Social, constitui-se na
regulação e organização em todo o
território nacional dos serviços,
programas, projetos e benefícios
socioassistenciais, de caráter continuado
ou eventual, executados e providos por
pessoas jurídicas de direito público, sob
critério universal e lógica de ação em
rede hierarquizada e em articulação
com iniciativas da sociedade civil. Além
disso, o Suas define e organiza os
elementos essenciais e imprescindíveis à
execução da política pública de
assistência social, possibilitando a
normatização dos padrões nos serviços,
qualidade no atendimento aos usuários,
indicadores de avaliação e resultado,
nomenclatura dos serviços e da rede
prestadora de serviços socioassistenciais.
18Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
O Suas está sendo implementado por
meio de uma nova lógica de organização da
gestão de Política de Assistência Social, com
a definição de níveis de complexidade do
sistema: Proteção Social Especial (PSE) e
Proteção Social Básica (PSB).
Proteção Social Especial
A Proteção Social Especial (PSE) do
Sistema Único de Assistência Social é
destinada a famílias e indivíduos que se
encontram em situação de risco pessoal e
social, por ocorrência de abandono, maus
tratos físicos e/ou psíquicos, abuso sexual, uso
de substâncias psicoativas, cumprimento de
medidas socioeducativas, situação de rua,
situação de trabalho infantil, entre outras
situações de violação dos direitos. Os serviços
de proteção social especial têm estreita
interface com o sistema de garantia de direito,
exigindo, muitas vezes, uma gestão mais
complexa e compartilhada com o Poder
Judiciário, o Ministério Público e com outros
órgãos e ações do Executivo.
A Proteção Social Básica prevê o
desenvolvimento de serviços, programas e
projetos locais de acolhimento, convivência e
socialização de famílias e de indivíduos,
conforme identificação da situação de
vulnerabilidade apresentada.
O que configura a Proteção Social
Básica nos municípios e no Distrito Federal é a
existência dos Centros de Referência de
Assistência Social (Cras).
Proteção Social Básica
A prevenção de situações de risco – por
intermédio do desenvolvimento de potencialidades
e aquisições – e o fortalecimento de vínculos
familiares e comunitários são os objetivos da
Proteção Social Básica. Esse nível de proteção é
destinado à população que vive em situação de
vulnerabilidade social decorrente da pobreza,
privação (ausência de renda, precário ou nulo
acesso aos serviços públicos, dentre outros) e/
ou fragilização de vínculos afetivo-relacionais
e de pertencimento social (discriminações
etárias, étnicas, de gênero ou por deficiências,
dentre outras).
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Mas o que é o Cras?O Centro de Referência de Assistência Social – Cras, também conhecido como
Casa das Famílias, é:
I. A unidade pública estatal responsável pela oferta de serviços continuados de
proteção social básica de assistência social às famílias e indivíduos em situação
de vulnerabilidade social;
II. A unidade efetivadora da referência e contrarreferência do usuário na rede
socioassistencial do Sistema Único de Assistência Social (Suas) e unidade de
referência para os serviços das demais políticas públicas;
III. A “porta de entrada” dos usuários à rede de proteção social básica do Suas.
No Cras são oferecidos os seguintes serviços e ações:
I. Apoio às famílias e aos indivíduos na garantia dos seus direitos de cidadania,
com ênfase no direito à convivência familiar e comunitária;
II. Serviços continuados de acompanhamento social às famílias ou seus
representantes;
III. Proteção social pró-ativa, visitando as famílias que estejam em situações de
quase risco;
IV. Acolhida para recepção, escuta, orientação e referência.
Fonte: Guia de orientação Técnica – Proteção Social Básica.
19 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
20Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
O serviço socioeducativo se constitui em
uma das ações desenvolvidas no Cras – Centro
de Referência da Assistência Social, atendendo
famílias de seu território de abrangência.
O serviço socioeducativo inclui e
privilegia o processo de formação humana
que ultrapassa a aprendizagem de conteúdos
escolares (a que costumamos chamar matérias
ou disciplinas), considerando, incorporando e
integrando as várias dimensões do
desenvolvimento humano. Pauta-se, no
cumprimento dos direitos das crianças e dos
adolescentes e em sua formação para a
cidadania, numa concepção que faz do
brincar, das práticas esportivas, da experiência
lúdica, da vivência artística uma forma
privilegiada de expressão, de pensamento, de
interação e aprendizagem.
Podemos dizer que esse serviço tem
como objetivo dar proteção e garantia de
direitos e formação. A dimensão educacional e
o exercício da cidadania ocupam lugar
importante na Política de Assistência Social e
podem ser considerados como mais uma
forma de promoção social, pois o processo
pedagógico do serviço socioeducativo possui
características próprias que o diferem do
modelo escolar.
Socioeducativo é tomado como qualificador, designando um campo de
aprendizagem voltado para a convivência grupal e a participação na vida pública,
entendendo esse campo como privilegiado para tratar de forma intencional valores
éticos, estéticos e políticos. (Maria do Carmo Brant Carvalho)
21 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
Considerando os poucos serviços e
oportunidades destinados à proteção, educação e
lazer de crianças e adolescentes, pode-se dizer
ainda que o serviço socioeducativo busca diminuir
a distância que existe entre o marco legal, o ECA –
Estatuto da Criança e do Adolescente – e a
realidade social, configurando-se como um serviço
público básico de garantia de direitos e de exercício
de cidadania para o público infanto-juvenil em
condição de vulnerabilidade e fragilização de
vínculos afetivos. Neste sentido, a Política Nacional
de Assistência Social afirma ainda:
Devem ser oferecidos espaços e profissionais, responsáveis pelas
crianças e adolescentes, durante o período de permanência nas
atividades, de forma a favorecer o desenvolvimento de relações de
afetividade, a sociabilidade e a convivência em grupo e inter-
geracional; o acesso a conhecimentos e a possibilidades de construção
crítica do seu próprio conhecimento; o reconhecimento, o apoio e a
oportunidade de troca entre as diversas realidades por meio de
atividades lúdicas e a viabilização do acesso às diversas manifestações
culturais e esportivas.
Fonte: Guia de orientação Técnica – Proteção Social Básica.
A Política Nacional de Assistência
Social pauta-se no Estatuto da Criança e do
Adolescente, reconhecendo que crianças e
adolescentes são sujeitos de direitos.
É dever de toda a sociedade, do poder
público e da família, zelar pela garantia desses
direitos. O serviço socioeducativo converge com
objetivos da educação formal, da família e de
outras instâncias de atendimento na busca da
garantia desses direitos.
“(...) Nos deparamos a cada dia com histórias comoventes e tristes, como por
exemplo, crianças agressivas, carentes, que têm ou já tiveram envolvimento
com o tráfico de drogas, que muitas vezes não têm nada pra comer, o mais
difícil é ir a casa de uma destas crianças e presenciar a pobreza (...), o que
torna difícil o nosso trabalho.”Pollyanna Alves Gomes (Coordenadora Pedagógica, Santa Luzia)
A promulgação do Estatuto daCriança e Adolescente em 1990
assegura a todas as crianças e aos
adolescentes “direitos referentes à vida,
à saúde, à alimentação, à educação, ao
esporte, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e
comunitária”. (Art. 4)
O serviço socioeducativo no âmbito daAssistência Social deve ser compreendido comouma política de defesa dos direitos que buscasuperar a exclusão social. Essa política deve serbaseada no exercício da cidadania e não emdoações ou tutela; pode-se buscar a emancipaçãoe o reconhecimento das crianças, adolescentese famílias como detentores de direitos epotenciais agentes de mudança.
O serviço socioeducativo é espaço deformação integral e exercício da cidadania.Essas dimensões se desenvolvem com base nasseguintes idéias:
22Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
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1 Unescoea educaçãono séculoXXI. Osquatropilares da educação, 1996. In: FERREIRANETO,Augusto.Propostapedagógicadaescolacomunitária. 2. ed. BeloHorizonte: CNEC [ s.d.]. p. 33-45.
23 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
Formação integral e exercício da cidadania
Proteção social
Crianças e adolescentes são diretamente afetados pelas condições de desigualdade, pobreza e privação de direitos.
Neste sentido, a formação para a cidadania na infância e na adolescência deve estar ligada à dimensão da proteção
social: crianças e adolescentes devem ser protegidos da violência, da exploração do trabalho e da exploração sexual.
Convivência familiar
A família deve ser um grupo de proteção
e formação das crianças e dos adolescentes;
portanto, contribuir para o fortalecimento de
seus vínculos familiares é uma forma de
construir e fortalecer a cidadania.
Identidade e autonomia
Crianças e adolescentes são sujeitos em
condição peculiar de desenvolvimento. Uma
formação para a cidadania reconhece cada ciclo
de vida, suas peculiaridades e suas necessidades
de proteção, socialização, aprendizagem, e ainda
valoriza a identidade cultural e étnica e de gênero
de cada sujeito. A educação para a autonomia
implica a formação de sujeitos para aprender a
conhecer, fazer, conviver e ser em liberdade1 , com
capacidade de autorreflexão e determinação para
compreender, analisar e avaliar o vivido,
escolhendo e agindo conscientemente diante de
diferentes cursos de ação possíveis.
Protagonismo e participação
A formação integral e o exercício da
cidadania também se dão na medida em que as
crianças e os adolescentes participam dos
processos de pesquisa e aprendizagem, vivenciam
a convivência com o coletivo, tomam decisões, são
responsáveis por tarefas, implicam-se com a
organização do espaço e do tempo da instituição,
ou seja, são percebidos e tratados como sujeitos
protagonistas. Neste processo, eles constroem
capacidades, habilidades e competências a partir de
suas reais necessidades e de seu posicionamento
crítico e reflexivo.
Formação humana
A ideia de formação humana vincula a
experiência educativa à realidade dos sujeitos e
aos seus desafios, e ainda à construção do
olhar desse sujeito sobre o mundo em que vive.
Crianças,adolescentese serviçosocioeducativo2
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Art. 6º. Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as
exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do
adolescente como pessoas em desenvolvimento.
Nepomuceno / MG
27 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
O serviço socioeducativo com crianças e
adolescentes requer uma formação especial. A
compreensão de sua realidade, de suas
imagens e representações e da comunidade a
que pertencem é fundamental para os
responsáveis pela execução dos serviços
socioeducativos desenvolvidos nas várias
cidades de Minas Gerais e do Brasil.
A elaboração de um plano de trabalho
adequado às crianças e aos adolescentes, que
vivem em múltiplas realidades e culturas, passa,
necessariamente por uma profunda
compreensão dessas realidades e de seus
sujeitos – crianças e adolescentes. É necessário
avançar para um conhecimento mais próximo
das condições reais de vida das crianças e dos
adolescentes.
O reconhecimento de que ser criança ou
adolescente é diferente de ser adulto, ou seja, a
idéia de que a infância e a adolescência são
ciclos da vida específicos e singulares foi
historicamente construída.
Hoje há um conjunto de representações
sociais sobre a criança e o adolescente, que os
compreende como atores sociais. Essa idéia
nos coloca em oposição a uma concepção de
infância ou adolescência consideradas como
Apesar de sempre ter havido crianças
e adolescentes, nem sempre houve a idéia
da “infância” e da “adolescência”.
simples objetos passivos de uma socialização,
orientada por instituições ou agentes sociais,
uma folha em branco em que nós adultos
poderíamos escrever o que quiséssemos.
O serviço socioeducativo deve ser
implementado a partir do entendimento da
criança e do adolescente na centralidade do
processo educativo, sendo considerados em si
mesmos, no presente e não no seu futuro
como adultos, a partir da sua própria voz e do
seu entendimento como sujeitos.
Crianças e adolescentes vivem e
elaboram suas situações de vida, suas
experiências e suas formas de sociabilidade.
As condições sociais, culturais (étnicas,
identidades, valores, religiosidade), de gênero e
o lugar vivido (regiões geográficas) configuram
diversidades na situação e experiência da
infância e da adolescência.
Os aspectos históricos e estruturais
configuram diferentes infâncias e adolescências.
É muito diferente ser criança ou adolescente
num tempo ou noutro, num lugar ou noutro,
em um grupo ou noutro, em uma família ou
É importante rompermos com
concepções tradicionais dominantes
acerca das crianças e dos adolescentes,
que os definem como seres irresponsáveis,
imaturos, incompetentes.
28Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
em outra. Neste sentido, diferentes crianças e
adolescentes, embora tenham traços comuns,
características recorrentes peculiares ao ciclo
da vida, possuem identidades próprias ou
múltiplas identidades construídas a partir de
suas interações sociais.
Uma imagem de criança na escola ou na rua, nos limites da
sobrevivência ou na violência e até no tráfico pode ser um gesto
trágico, frente ao qual não cabem nem políticas sociais compassivas
nem didáticas neutras. E menos, ainda, autoritárias posturas de
condenação. Diante da barbárie com que a infância e a adolescência
populares são tratadas, o primeiro gesto deveria ser ver nelas a
imagem da barbárie social. A infância revela os limites para sermos
humanos em uma economia que se tornou inumana. (Miguel Arroyo)
29 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
As crianças e os adolescentes, público
do serviço socioeducativo, estão em condição
de vulnerabilidade e/ou privação de direitos.
Sua realidade não pode ser apartada do
contexto global das sociedades contemporâneas,
pois muitos problemas que afetam crianças e
adolescentes atravessam a totalidade das
estruturas e das relações sociais.
O modo como vemos e pensamos a
criança ou o adolescente interfere no modo
como nos relacionamos com eles. Crianças e
adolescentes são sujeitos sociais dotados de
pensamento reflexivo e crítico, daí a
relevância que se pretende atribuir às suas
ações como prova de si e do que são como
seres inteligentes, socialmente competentes e
com capacidades de realização.
É necessário romper com a visão
de que as crianças e adolescentes são
problemas, e ainda reconhecer a
situação estrutural, o contexto de
violação dos direitos, as precárias
condições de vida e de sociabilidade de
muitas crianças e adolescentes.
O serviço socioeducativo só terá
sentido se for realizado com o claro
objetivo de garantir os direitos das
crianças e adolescentes. Um enorme
desafio dos coordenadores é construir
um olhar sensível dos sujeitos com os
quais trabalham e criar oportunidades
para que eles se desenvolvam em todas
suas dimensões físicas, afetivas,
cognitivas e sociais.
Os relatos que seguem ilustram como
crianças e adolescentes se relacionam com
seus universos sociais. Estes relatos nos ajudam
a perceber como precisamos conhecer mais as
crianças e adolescentes com os quais trabalhamos
e enxergar neles não só o que lhes falta, mas
também suas potencialidades, sonhos,
capacidades, interesses e saberes.
Uma árvore se adapta ao clima, ao terreno, aos ventos do lugar onde foi plantada. Uma
mesma espécie tem formas variadas de tamanho, espessura e textura de caule, fruto, folhas, em
função do ambiente em que está. Contudo, a flor, como um elemento essencial de identidade e de
possibilidade de perpetuação da espécie, nunca se altera.
Na Cultura da Criança, o que corresponde à Flor, universal e inalterável, é o Movimento. De
uma época para a outra, de um continente para o outro, nomes, melodias, ritmos e regras de
brinquedos e brincadeiras mudam, ao ganharem aspectos das culturas locais, mas o gesto, o
Movimento dos meninos e meninas quando brincam permanece intocado.
O desenho da amarelinha no chão
se altera infinitas vezes quantos forem
novos os lugares, mas o gesto de atirar a
pedra e saltar em busca do equilíbrio
é universal.
Três Marias, Cinco pedrinhas, Baliza,
Belisca: as regras e os nomes são muitos...
mas o Gesto nos permite saber, por
experiência própria, do que se trata!
Tão importante para a Criança,
quanto cumprir os movimentos contidos
nos brinquedos e brincadeiras, será brincar
em meio à Natureza. Os Meninos e
Meninas do mundo, quando podem, tecem
uma relação espontânea com a natureza
Alegria, liberdade e movimento emmeio à natureza
RELATANDO UMA EXPERIÊNCIA
Roque Soares
Pesquisador e brincante, Roquinho atua em projetos decultura e educação na formação de educadores e comcrianças, buscando valorizar a cultura infantil e construirum olhar sensível à prática da brincadeira
do lugar onde vivem. Desse contato direto e livre floresce, ainda na infância, uma consciência
íntima e singular sobre o seu lugar e a natureza à sua volta. Dessa interação surge um acervo
maravilhoso de brinquedos e brincadeiras e, em cada um deles, um sinal do Movimento, da alegria
e liberdade elementares ao espírito humano.
Meninos e Meninas avançam no
sentido de serem adultos amparados
pela natureza do seu Lugar e , mais
tarde, será possível sabê-lo parte de si e
conhecer-se nele.
Amá-los, preservá-los, transformá-
los (o lugar e a natureza) será uma atitude
espontânea de Amor.
Em Abadia, comunidade rural de
Carbonita, Alto Jequitinhonha, as crianças
me tomam pela mão e me levam para
conhecer um “brinquedo”:
“Fecha porta” Mariquinha que boi “evem”; dizem, e, com um leve toque, veem as folhinhas
se fecharem.
Depois me mostram outras “Dormideiras”... Descobri com eles e com muitos outros
Meninos e Meninas que existe uma diversidade incrível delas, com flores e folhas singulares e que
elas povoam a memória e o imaginário de pessoas de todo o Brasil.
Agora que somos adultos, pais, mães, educadores, quase não nos lembramos mais qual
era a razão e o sentimento para tocar de leve nas folhas das “Fecha Porta Mariquinhas”...
Adormecida com esse sentimento, também está parte da nossa capacidade de reconhecer em
“coisas” singelas a inspiração essencial para iluminar nossa prática de educador. Contudo, a
qualquer tempo que desejarmos, a criança que fomos poderá nos relembrar os caminhos e os
motivos para buscarmos uma ação e uma escola com amplos quintais, que acolha a natureza da
infância com Liberdade, Movimento e Alegria...
Termos sido crianças e trazermos conosco o registro da linguagem e sentimento
original desse tempo é o que melhor nos qualifica para uma prática que compreenda
verdadeiramente as crianças e que possa ser compreendida por elas.
Sociabilidade on-line: experiênciasde jovens em Nova Contagem
Os homens estão cá fora, estão na rua.A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.Mas também a rua não cabe todos os homens.A rua é menor que o mundo.O mundo é grande.(Carlos Drummond de Andrade)
RELATANDO UMA EXPERIÊNCIA
Acessando a internetVocê chega ao coraçãoda humanidade inteiraSem tirar os pés do chão.(Zeca Baleiro)
Desde a primeira vez em que estive em Nova Contagem, na intenção de observar a tão
comentada feira que acontece ali aos finais de semana, percebi uma grande presença e
movimentação de moradores. Estava na elevação da rua de onde nasce a feira e quando olhei de
cima para aquele acontecimento era um colorido, um colorido apenas. Combinação das cores das
lonas que cobrem as barracas com o realce e luminosidade que se estende entre as pessoas que
se movimentam. Podia ver um todo, a feira na rua, uma tela cheia de cor enquadrada pelo
contorno das outras duas ruas transversais que a emolduram. No entanto, diante daquele todoera só deslocar meu olhar e via as unidades que o constituíam. Fitava em uma ou outra pessoa
e acompanhava seus passos, paradas, ritmos, movimento.
Na convivência com os moradores percebia a centralidade do bairro como espaço nuclear
de vivências. Adultos, crianças, jovens e velhos se encontram na feira e uma série de atividades,
para além da compra e venda, se dão neste espaço de vivência. Nos dias de semana, e
especialmente aos sábados e domingos, via muita gente nas ruas, calçadas e praças do bairro,
sobretudo crianças e jovens, caminhando e conversando em grupos ou simplesmente sentados
nos passeios.
A rua não está em oposição rígida à casa, mas parece inclusive ser casa, local de encontro
e acolhimento.“Aqui é o point” definiu um menino, sintetizando aquele ponto de encontro de
todos, espaço público que abriga distintos moradores de Nova Contagem. “É onde se vê todo
Juliana Batista Reis
Cientista Social, tem se dedicado a pesquisas nos camposda juventude, periferia e políticas públicas
Messenger ou MSN é um programa demensagens instantâneas que permiteconversas em tempo real Pelas caixasde diálogo, os usuários podem, além decomunicar teclando, compartilhar evisualizar fotos, trocar arquivos,conversar por voz (por microfone ecâmera), dentre outros recursos
Em definição do próprio site: “Oorkut.com é um website decomunidade on-line projetado paraamigos. O principal objetivo do nossoserviço é tornar a sua vida social, e dosseus amigos, mais ativa e estimulante”
A página de recados de cada usuário doOrkut era denominada scrapbook,quando o site não apresentava umaversão em português. O termo scrap ourecado é correntemente usado entreos participantes.
mundo, você encontra todo mundo”. Porém, permanecer nesta rua e caminhar por ela me fez
chegar a um lugar que aglutinava essencialmente jovens e crianças.
Em um dia de feira, passeava pelas ruas em seu entorno e em uma bem próxima àagitação da feira pude avistar uma movimentação de jovens perto de uma padaria. Ali, no
segundo andar funciona uma lan house e a circulação e permanência de meninos e meninas em
frente àquele estabelecimento era digna de apreço.
Cheguei àquele espaço pelo clima de encontro, descontração e fruição na porta do local, e
menos interessada em observar simplesmente usos da Internet. Para além da porta e da escadaria que
nos leva à lan, o ambiente de espera é também marcado por certa agitação e conversas entre os queaguardam um computador e mesmo entre os funcionários. Vê-se um ambiente configurado por
múltiplas interações e conversas, “a gente firmou aqui manter um ambiente familiar (...), a gente tentamanter umadisciplina eumambiente familiar”, é o que nos diz um dos funcionários que descreve bemesse ambiente regrado e ao mesmo tempo marcado por uma intensa sociabilidade. Com a palavra
“sociabilidade” quero dizer do encontro, convivência e relações de amizade entre os jovens.
Na sala da lan os computadores estão posicionados em três fileiras, duas delas estão
frente a frente com quatro computadores cada, e a terceira de frente para uma parede. Nestadistribuição espacial veem se, com frequência, usuários comunicando entre si, seja com os que
estão dos lados ou à frente. Muitos ficam juntos em um só computador ou circulam entre eles.
Há certo padrão na utilização da Internet, que constateinas observações e entrevistas com jovens e funcionários. A
grande maioria de jovens e crianças que ali frequentam fazem
uso mais intenso e habitual do messenger e Orkut, “Você podenotar, 90% das pessoas que vêm aqui eles... primeira coisa queeles vão fazer, ver o Orkut deles, ler os recados, os scraps queestão lá, mandar e enviar recado, depois é entrar no messenger,quem tá on-line vai conversar com quem tá on- line, se tiver e-mail eles vão responder o e-mail”, relata um funcionário. Os
diálogos travados pela Internet, especialmente pelo MSN, sãouma das ações mais costumeiras entre aqueles meninos e
meninas; foi raro nas observações não ver alguém se
comunicando pelas caixas de diálogo desse programa. “Todomundo que vem na lan house tem MSN, se não tem vai quererlogo fazer um, conversar é o que mais fazem aqui”.
Nesse momento o coordenador deve
estar se colocando a seguinte questão:
Na organização do trabalho, o
coordenador e sua equipe devem elaborar um
plano de atividades que reflita a vida real das
crianças e dos adolescentes. O trabalho deve fazer
parte intrínseca da vida deles e ser capaz de
atender às reais necessidades por eles expressas.
Assim não é possível trabalhar com os
conteúdos ou atividades como produtos de um
supermercado, organizados em prateleiras,
prontos a serem oferecidos às crianças e aos
adolescentes, por determinado preço. Estes
conteúdos não podem ser aprisionados em
currículos ou em planos de trabalho
preestabelecidos e inflexíveis.
Esse é um parâmetro central que nos
ajudará a definir o conjunto de conteúdos
e atividades a serem trabalhados e indicará,
constantemente, a nossa postura frente às
crianças e adolescentes, sujeitos de direitos
e desejos.
Como construir uma proposta de
trabalho que melhor possibilite à criança
e ao adolescente o desenvolvimento
integral e o exercício de sua cidadania?
Precisamos conhecer profundamente o
contexto social, econômico e cultural das
crianças e adolescentes com as quais
trabalhamos. Vimos nos textos da Juliana e do
Roquinho como eles se aproximaram das
realidades para conhecer de perto quem são
esses sujeitos. Isso significa conhecer a
individualidade e a identidade de cada criança e
adolescente, sejam eles moradores das cidades
ou do campo.
35 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
Os desafios docoordenador3
CA ECA ECA ECA ECA ECECA ECA ECA ECA ECA
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Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um
conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União, dos estados, do Distrito
Federal e dos municípios.
Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento:
I - políticas sociais básicas;
II - políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo, para aqueles que deles
necessitem;
III - serviços especiais de prevenção e atendimento médico e psicossocial às vítimas de negligência,
maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão;
IV - serviço de identificação e localização de pais, responsável, crianças e adolescentes desaparecidos;
V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos da criança e do adolescente.
Contagem / MG
Neste capítulo, falaremos de alguns dos
principais desafios do coordenador que atua à frente
do serviço socioeducativo. São eles: o trabalho em
rede; famílias e comunidades na construção da
experiência educativa; a parceria com a escola; a
equipe e sua formação.
“Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um
modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender,
para ensinar, para aprender e ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver,
todos os dias misturamos a vida com a educação.” (Carlos Rodrigues Brandão)
PRIMEIRO DESAFIO
O Trabalho em rede
“É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança.”(Provérbio africano)
“Uma das nossas necessidades é buscar a cooperação em rede: Conselho
Tutelar, Mistério Público, Secretaria da Saúde e famílias.”Dulcinéia Ap. Ferraz Ribeiro (Supervisora Pedagógica e Diretora, Nepomuceno)
39 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
Para Bruno Ayres, participar de uma Rede
Organizacional envolve algo mais do que
apenas trocar informações a respeito dos
trabalhos que um grupo de organizações realiza
isoladamente. Estar em rede significa realizar
conjuntamente ações concretas que modificam
as organizações para melhor e as ajudam a
chegar mais rapidamente a seus objetivos.
As redes são sistemas organizacionais
capazes de reunir indivíduos e instituições, de
forma democrática e participativa, em torno de
objetivos e/ou temáticas comuns. O
funcionamento da rede supõe o trabalho
colaborativo e participativo.
A Assistência Social assegura resultados
mais efetivos quando o gestor municipal
trabalha de maneira articulada com toda a
rede de proteção e de garantia de direitos no
atendimento de crianças e adolescentes em
condição de vulnerabilidade.
Atenções múltiplas por parte de diferentes
parceiros de uma rede – Escola, Postos de Saúde,
Conselho Tutelar, Vara da Infância e da
Adolescência, Cras, Conselho Municipal de
Direitos da Criança e dos Adolescentes, Serviço
Socioeducativo – possibilitam intervenções,
atendimentos e serviços que se complementam.
Essa é uma estratégia eficaz para atenção
integral e garantia dos direitos.
“Nosso desafio é a maior articulação por parte da rede de proteção e
promoção à criança, ao adolescente e a suas respectivas famílias.”Nelsi Arndt dos Santos (Coordenadora Gera, Contagem)
O trabalho em rede é um desafio
central na atuação do coordenador.
40Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
41 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
PARA DAR CERTO...
Trabalho em rede
• Participação efetiva nas
instâncias de discussão no
âmbito da assistência social,
educação e garantia de direitos
da criança e do adolescente.
• Articulação da rede, construção
de propostas coletivas e
encaminhamentos.
• Estabelecimento de parcerias
com agentes públicos e
privados que garantam ações
de diversos setores,
principalmente no que diz
respeito ao aprimoramento e
fortalecimento do serviço
socioeducativo.
Possibilidades de trabalho
• Participar e/ou contribuir na formação de espaços de
discussão entre as instituições que compõem a rede
de atendimento às crianças como: escolas, postos de
saúde, projetos sociais, grupos esportivos, grupos
culturais, conselho tutelar, conselho de direitos.
• Construir, junto à rede, estratégias comuns de
ação buscando a defesa dos direitos e formação
integral das crianças.
• Encaminhar crianças e adolescentes de acordo com
as demandas apresentadas: saúde, educação,
defesa de direitos, etc.
• Formar/participar de Grupos de Trabalho para
tratar de assuntos de interesse da Rede.
• Criar e/ou participar dos fóruns e discussões
(inclusive virtuais), buscando interagir com
diferentes instâncias envolvidas na formação/
proteção integral da infância e da adolescência.
• Realizar eventos / projetos em parceria com a rede
de atendimento.
• Promover visitas a outras entidades, centros
comunitários buscando construir ações conjuntas
e/ou complementares.
• Participar dos conselhos municipais de assistência
social e de outros conselhos de políticas sociais,
orçamento participativo e fóruns de defesa dos
direitos das crianças e dos adolescentes.
42Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
O fortalecimento dos laços
familiares e ampliação dos espaços de
socialização numa relação mais estreita
com as instituições educativas e a
comunidade possibilitará a participação
da família num processo emancipatório
essencial a seu próprio desenvolvimento.
SEGUNDO DESAFIO
Participação da família e da comunidadena construção da experiência educativa
A família tem funções sociais
importantes de proteção, mediação e formação
social de seus membros. A família, sendo
mediadora da relação dos sujeitos com a vida
coletiva, gera formas de convivência e padrões
de relacionamento e afeto.
“Percebemos a desmotivação de algumas famílias com relação à frequência
dos filhos no programa.”Rosilda Francisco da Silva (Coordenadora, Santo Antônio do Jacinto)
Podemos entender que um dos
objetivos importantes do serviço
socioeducativo é preservar as vinculações
das crianças e dos adolescentes
atendidos, com o contingente afetivo
da família e laços socioculturais com
sua comunidade.
Em contextos culturais e comunitários
variados, as famílias apresentam diferentes
modelos, formas de organização e arranjos, e
em sua diversidade a família possibilita o
desenvolvimento e a socialização de suas
crianças e adolescentes. Nas famílias em
condição de vulnerabilidade, esses processos
podem ser prejudicados.
Compreender as dinâmicas e identidades
das diferentes famílias, seus valores e suas
formas, assim como entender que toda
comunidade pode ser parceira no trabalho de
proteção e formação integral de crianças e
43 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
adolescentes auxiliará a construção conjunta
de ações que fortaleçam ainda mais o serviço
socioeducativo.
As famílias podem se apropriar de uma
proposta educativa, de seus princípios,
intenções e valores, na medida em que são
convidadas para participar de atividades e têm
a possibilidade de contribuir com decisões,
opinando, construindo idéias e colaborando
em atividades.
PARA DAR CERTO...
Família e comunidadena construção daexperiência educativa
• Realização de ações de lazer e
cultura que desenvolvam
habilidades e estreitem os laços
afetivos e o convívio
comunitário entre as famílias.
• Reconhecimento e valorização
da identidade cultural das
famílias e da comunidade.
• Ampliação do universo de
informações.
Possibilidades de trabalho
• Promover reuniões e discussões temáticas
envolvendo as famílias.
• Realizar visitas domiciliares para estabelecer
parcerias e realizar encaminhamentos a serviços de
lazer, saúde, educação, etc.
• Incentivar a participação das famílias em atividades da
sociedade civil organizada: fóruns e conselhos da rede
de promoção e defesa da criança e do adolescente.
• Realizar mostras das produções das crianças e dos
adolescentes, confirmando o seu processo de
formação e desenvolvimento a partir do serviço
socioeducativo.
• Articular parcerias com outras entidades e
instituições educativas da comunidade para
promover ações, como, por exemplo: torneios
esportivos, festivais de artes, publicações.
• Construir parcerias com lideranças comunitárias e
associações, buscando integrar ações.
• Integrar as atividades a festas tradicionais e
folclóricas da comunidade.
44Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
A escola é uma instância clássica de
socialização em que as crianças e os
adolescentes estão inseridos e é parte da rede
de garantia de direitos, proteção, promoção e
formação desse público. A escola se destaca
como parceira privilegiada no desenvolvimento
do serviço socioeducativo.
O serviço socioeducativo desenvolvido
no âmbito da assistência social contribui
diretamente no desenvolvimento pessoal e
social de crianças e adolescentes, auxiliando no
ingresso ou regresso, na permanência e no
sucesso de crianças e adolescentes na escola.
É importante compreender que ser parceiro da
escola não significa repetir seu modelo e sim
ampliar as dimensões para formação pessoal,
social e humana, e ainda constituir-se como
espaço para a construção de conhecimentos,
desenvolvendo habilidades e competências.
Especialmente as metodologias podem e
devem diferenciar-se dos modelos tradicionais
de educação. O serviço socioeducativo, por
exemplo, não estabelece um currículo
obrigatório e também não certifica crianças e
adolescentes para diferentes séries ou ciclos.
As aprendizagens construídas no serviço
socioeducativo (nas oficinas de arte e cultura,
na prática esportiva, nos projetos de pesquisa)
contribuirão na formação integral das crianças
e dos adolescentes e consequentemente nos
desafios que a escola irá apresentar-lhes.
É possível pensar em ações conjuntas
com a escola, visando a formação integral para
a cidadania e a garantia dos direitos. Essas
ações devem ser construídas por meio de um
processo cotidiano de diálogo com a escola,
tomada de decisões conjuntas, discussões de
casos, sem que o serviço socioeducativo perca
sua identidade.
TERCEIRO DESAFIO
Parceria com a escola
45 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
PARA DAR CERTO...
Parceria com a escola
• Constituição de espaços de
diálogo permanente com a
equipe da escola.
• Participação construtiva no
cotidiano da escola.
• Contribuição na promoção do
sucesso escolar das crianças e
dos adolescentes.
• Reflexão com crianças e
adolescentes sobre a escola.
Possibilidades de trabalho
• Conseguir uma articulação com as escolas e os
professores das crianças e dos adolescentes.
• Desenvolver um processo de sensibilização,
enfatizando a realidade dos alunos e suas demandas.
• Realizar reuniões periódicas entre as equipes de
trabalho: da escola e do serviço socioeducativo.
• Conhecer pessoalmente os professores e realizar
visitas à escola.
• Promover, possibilitar e incentivar a participação das
lideranças comunitárias na escola e na instituição.
• Realizar em parceria com a escola e com a
comunidade eventos de divulgação dos projetos
realizados, feiras, exposições, mostras artísticas e
literárias, etc.
• Desenvolver um trabalho de reflexão sobre a
própria formação escolar, estimulando as crianças
e adolescentes a não evadirem e buscando formas
de contribuir para o sucesso escolar.
46Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
Para que o serviço socioeducativo seja
eficiente e tenha resultados positivos, é
necessário que a equipe tenha pouca
rotatividade. As pessoas da equipe devem ter
capacidade técnica, interesse e perfil para
trabalhar com crianças e adolescentes, o
que inclui facilidade de trabalhar em grupo
e flexibilidade.
QUARTO DESAFIO
A equipe de trabalho e a sua formação
A qualidade do trabalho desenvolvido
pelos educadores, psicólogos, assistentes
sociais e mesmo pelos coordenadores depende
diretamente da formação desses profissionais.
Um importante desafio a ser enfrentado pelos
coordenadores é buscar condições para que
sua equipe e ele próprio possam se qualificar
constantemente para o desenvolvimento do
serviço socioeducativo.
O coordenador ocupa lugar central no
processo educativo, sendo uma referência que
Categoria profissional Até 25 crianças Entre 50 e 100 crianças
e adolescentes e adolescentes
Coordenador pedagógico com formação no campo 1 1
da educação ou serviço social
Educador com formação específica no campo 1 2
em artes plásticas, visuais ou música
Educador com formação específica no campo 1 1
do esporte e lazer
Educadores sociais. 1 2
Profissional de serviços gerais. 1 2
Cozinheiro (a) 1 1
Auxiliar administrativo 1 1
medeia, dialoga, constrói e acompanha
cotidianamente a formação de sua equipe.
O coordenador deve, antes de mais nada,
buscar conhecer as necessidades reais de
qualificação de sua equipe. Conhecer as
necessidades de formação específica de cada
um dos membros da equipe responsável pela
execução do serviço socioeducativo. Ele deve,
dessa forma, criar espaços para a formação
permanente dos membros da equipe.
O eixo central dessa formação devem
ser os objetivos das atividades do serviço
socioeducativo planejadas pela equipe. Deve
estar vinculado à proposta politica-pedagógica
definida ao se determinar o serviço
socioeducativo que será implementado junto às
crianças e aos adolescentes.
No processo de formação, faz-se
necessária a realização de atividades que
possibilitem aos educadores compartilhar
experiências, estudar e aplicar conceitos, refletir
sobre o planejamento, executar e avaliar o
fazer educativo.
É importante destacar que a formação
da equipe é um processo que deve ocorrer
durante todo o desenvolvimento do serviço
socioeducativo. É um constante processo de
aprendizagem da equipe.
Embora a qualificação da equipe se dê
em serviço, é de fundamental importância criar
momentos especiais de formação, de modo
sistemático e objetivo. A prática educativa do
cotidiano deve ser o pano de fundo de um
plano de formação sistemática.
Essa formação é um processo de médio
e longo prazo. Uma equipe não se integra
como tal de um dia para outro, é necessário
um tempo maior de maturação e
conhecimento entre os membros desta. Essa
definição tem implicação direta no
atendimento de qualidade às crianças e
adolescentes. É um direito dessas crianças e
adolescentes serem atendidas por um grupo de
profissionais altamente qualificados. Não se
garantem os direitos pela metade – saúde,
educação, lazer, brincar e outros direitos só
serão garantidos e efetivados por um trabalho
consistente e consciente.
Essa concepção de formação e
qualificação da equipe traz algumas
consequências importantes à organização do
trabalho e à estruturação da equipe:
47 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !
Organização do trabalho e estruturação da equipe
48Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
Sendo a formação um processo
de médio e longo prazo, é
necessário que haja a
manutenção da equipe por
períodos mais longos de trabalho.
3º
A formação é um trabalho em
equipe. Por este motivo, todos os
integrantes devem ter
conhecimento do planejamento
como um todo. Cada um deve,
mesmo que não envolvido
diretamente com a ação
executada, conhecer as várias
etapas do processo educativo que
se está desenvolvendo com as
crianças e os adolescentes.
4º
O coordenador tem sob sua
responsabilidade a efetivação do
processo de formação e
manutenção de sua equipe.
5º
É importante que o planejamento
do serviço socioeducativo seja
realizado por todos os membros
da equipe, sob orientação
do coordenador.
1º
É parte intrínseca do
planejamento a análise das
necessidades formativas da equipe
e a elaboração de um plano de
ação de qualificação da mesma.
2º
49 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
PARA DAR CERTO...
Formação da equipe
• Elaboração de um plano de
formação a partir das reais
necessidades da equipe.
• Promoção de espaços para
reflexão e registro da prática
educativa.
• Desenvolvimento de ação
educativa vinculada a uma
proposta pedagógica, baseada
nos objetivos do serviço
socioeducativo.
• Construção coletiva de
conhecimentos a partir de
reflexões e práticas vividas.
Possibilidades de trabalho
• Realizar um planejamento com a participação
de toda a equipe, sem exceção, da formação a
ser executada.
• Promover cursos, trocas de experiências, reuniões
periódicas de planejamento e avaliação, intercâmbio
entre equipes, intercâmbio entre entidades,
intercâmbios com a escola, atividades de integração
da equipe, discussões temáticas (drogas,
sexualidade, violência etc), momentos de estudo,
seminários, discussão de casos.
• Produzir registros e documentar o trabalho.
Planejar:uma vivênciade valores4
CA ECA ECA ECA ECA ECECA ECA ECA ECA ECA
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Art. 7º. A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de
políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em
condições dignas de existência.
Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos próprios
do contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da criação e o acesso às
fontes de cultura.
Contagem / MG
53 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
“O planejamento foi executado pela direção da unidade juntamente com educadores e funcionários,
considerando observações e demandas cotidianas das duas unidades de atendimento.”
Em muitos núcleos de atendimento do
serviço socioeducativo, o trabalho é feito em
equipe, inclusive o planejamento das
atividades. Ana Paula, de Contagem, diz que
“O planejamento é elaborado em conjunto, havendo, em seguida, uma divisão
de tarefas.”
Calícia, também de Contagem, afirma que
Priscila, diretora de Unidade de
Atendimento do Serviço Socioeducativo de
Caeté, parece ter a mesma noção de planejamento
e de coordenação dos trabalhos:
“O planejamento é voltado exclusivamente para a educação das crianças e adolescentes. São
realizadas diariamente reuniões com a equipe com a finalidade de tornar o trabalho mais
qualificado. O planejamento é mensal e são feitos juntamente com os coordenadores pedagógico, de
esporte e os educadores.”
54Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
Essas são algumas opiniões de
coordenadores de Unidades sobre o ato de
planejar. Mas também existem outras formas
pelas quais é feito o planejamento. Em alguns
casos, o planejamento veio de fora e foi
adaptado, de alguma forma, na Unidade, ou
foi elaborado por algum técnico especializado.
Veem-se abaixo algumas constatações
nas várias cidades do Estado de como o
planejamento foi elaborado:
• “O planejamento partiu das informações da
Setascad e foi adaptado à nossa realidade com
a participação da equipe de trabalho.” (Caeté)
• “O planejamento foi feito pelo Serviço Social
da Secretaria Municipal de Assistência
Social.” (Paraopeba)
• “O planejamento utilizado ainda hoje data
de setembro de 2006, realizado por uma
Comissão de Referências Técnicas dos
Programas de Socialização Infanto-Juvenil
das Semas Regionais.” (Betim)
• “Existe sim um planejamento de
desenvolvimento educacional, social e
formação humana para as crianças e
adolescentes desta instituição, como medidas
socioeducativas, escrito por mim e aprovado
pelo Conselho Municipal dos Direitos da
Criança e do Adolescente e Prefeitura
Municipal de Monte Carmelo, tendo em vista
a identificação, situação geradora e
justificativa, objetivos geral e específicos,
resultados esperados, abrangência e contexto,
plano de ação e avaliação. O mesmo se
encontra arquivado e ao final de cada etapa é
feita uma reunião com a equipe técnica para
análises e avaliações.” (Monte Carmelo)
• “O planejamento é feito pela Secretaria
Municipal de Assistência Social (SMAAS) da
Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.”
(Belo Horizonte)
• “O planejamento das atividades é proposto
pelo Governo Federal.” (Januária)
• “O planejamento foi elaborado pela
coordenadora anterior do Programa Peti,
que é pedagoga com ampla experiência em
ações educativas.” (Governador Valadares)
Em Malacacheta, de acordo com
Valdiney, coordenador e assistente social,
“O planejamento foi feito por meio de reuniões com assistentes sociais,
psicólogos e pedagogos, que elaboraram o planejamento de todas as
atividades, compostas de artes socioeducativas, esporte e lazer.”
55 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
O que é a ação de planejar e gerir?
Quanto mais pessoas se envolverem no
planejamento das ações coletivas, maior poderá ser
a aprendizagem da democracia, nem sempre muito
fácil. A participação é essencial para o sucesso do
serviço socioeducativo e a garantia dos direitos das
crianças e dos adolescentes, tão bem explicitados
pela Estatuto da Criança e do Adolescente.
Giuliana, de Itambacuri, enfrentou e
enfrenta a dificuldade de incentivar a
participação efetiva:
Vejam ainda a análise apresentada por
Sérgio Luiz Pirez, membro da equipe de
implantação do Programa Curumim e
O ato e a forma de planejar podem ser
um instrumento ou ferramenta crucial no
desenvolvimento, quando da construção e
implantação do serviço socioeducativo.
Por isso, todos os membros de uma
equipe que trabalham com o serviço
socioeducativo são fundamentais na realização
do planejamento das ações: profissionais das
unidades, funcionários, crianças, adolescentes,
comunidade, famílias. Quem mais?
“Todo trabalho, para alcançar uma qualidade e resultados, exige um comprometimento de todas
as pessoas envolvidas e isso na maioria das vezes não acontece. O trabalho público por si só já
nos traz esta revelação. Mudanças são necessárias para que os objetivos sejam alcançados, sendo
assim precisamos mexer na cultura das pessoas,nos valores, no jeito de pensar e enfrentar as
coisas. Mudar estes conceitos e jeitos é muito difícil.”
Coordenador do Programa de Socialização
Infanto-juvenil da Sedese, quando da criação
do Programa Curumim:
“Inaugurado em 1991, o Programa Curumim teve como pontos favoráveis,
durante sua gestação, a vontade e a decisão política na sua implantação, aliada
a uma equipe altamente comprometida com o resultado final. A capacitação
dos educadores em uma metodologia multidisciplinar e a vivência junto às
comunidades nas quais o programa seria instalado contribuíram para a
aceitação e o sucesso do serviço de socialização infanto-juvenil.”
56Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
Ninguém nasce sabendo planejar. É uma
aprendizagem, exige de todos um processo de
formação e de mudança de condutas, e mais,
exige uma atitude política pela democracia. E
quanto mais complexas as ações a serem
desenvolvidas, maiores devem ser o
envolvimento dos interessados nas ações e a
nossa competência em planejar e executar o
plano elaborado.
Um princípio fundamental dessa
concepção de planejamento é seu caráter
coletivo e participativo. Ele deve ser elaborado
pelas pessoas que, de fato, irão se envolver, de
uma forma ou de outra, na execução do que
foi planejado. O planejamento deve prever
formas de ampliação da participação.
Assim, um dos objetivos primordiais é
desenvolver nas pessoas que se envolvem no
planejamento do serviço socioeducativo, em
todos os níveis de competência e
responsabilidade, a capacidade de projetar, que
é a conduta organizada para atingir finalidades
específicas, ou seja, a capacidade de abstrair,
tomar decisões, elaborar planos de ações,
avaliar situações, construir ferramentas de
análise e de intervenção na realidade. O
planejamento deve trazer, para o seu espaço e
tempo, a vivência diária dessa capacidade de
projetar, principalmente no processo de
construção e incorporação de saberes.
Grazielle, de Muriaé, falou de sua dinâmica
de trabalho e refletiu sobre o planejamento:
Diante do ato concreto de planejar,
algumas questões precisam ser respondidas
pela equipe:
“A equipe procura se reunir periodicamente para avaliação e planejamento
das ações. Os encontros são espaços abertos à pluralidade, que envolvem os
atores locais e garantem condições para o desenvolvimento de debates com
razoável nível de aprofundamento.”
57 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
• Quem deve planejar a ação?
• Quem serão os sujeitos do planejamento?
• Como vivenciar a democracia, como um valor construído, no momento de
planejar o serviço socioeducativo?
• Como envolver as crianças, adolescentes e jovens no ato mesmo de planejar?
• Como levar em conta suas necessidades, desejos?
• Como desenvolver em todos – adultos, profissionais, crianças, adolescentes e
jovens – a capacidade de projetar sua existência?
• Como envolver as famílias no momento de definir as ações? Enfim, a
pergunta principal é: quem deve tomar as decisões sobre o planejamento a
ser realizado?
Essas perguntas não são fáceis de serem
respondidas porque implicam, de antemão, uma
concepção de planejamento e, principalmente,
significam uma opção pela democracia.
Nessa concepção de planejamento, todas
as pessoas envolvidas nas ações socioeducativas
são tidas como sujeitos efetivos, como seres
pensantes capazes de tomar decisões sobre sua
vida, desde que lhes sejam oferecidas condições
e informações para tal.
O planejamento deve objetivar impulsionar
experiências coletivas, criadoras de novos saberes
e modos alternativos de viver. É necessário
desencadear rupturas objetivas e subjetivas em
um certo modo conservador e cristalizado de
experiências institucionais, na busca de
construir a autonomia (criação das próprias
normas), rompendo com as formas hierárquicas,
verticalizadas de elaborar o planejamento.
Diferentes espaços precisam ser criados.
A gestão poderá ser compartilhada. O saber e a
vida de todos participantes ganham outro
significado na instituição.
Dentro de um processo contínuo, vai-se
criando a autogestão (autogerenciamento) do
serviço socioeducativo. É instituído um sistema
que se autogerencia.
Desta forma, cria-se a autonomia dos
grupos baseada na participação e na valorização
da experiência de cada participante, dos
profissionais, dos educadores sociais, incluindo as
crianças, os adolescentes e suas famílias.
58Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
Essa autonomia é a capacidade de criar
leis, de elaborar planos de ação de acordo
com os interesses, desejos e necessidades das
pessoas, comunidade e famílias envolvidas. É
uma atitude desafiante, mas prazerosa, a ser
empreendida pelos responsáveis pela
coordenação do serviço socioeducativo, pelos
coordenadores em todas suas instâncias.
Todos e todas são envolvidos na tarefa de se
autodirigirem, de se autoadministrarem, de
se autocriticarem.
Enfim, essa é uma opção política de
escolha livre dos atores sociais, propondo uma
mudança radical na vivência das relações de
trabalho, de poder, de prestígio nas
instituições em que atuam. Constitui-se num
sistema de autoeducação permanente, em que
todos, no fazer do planejamento e em sua
execução, vão construindo a autogestão, a
autonomia e o prazer de estar em coletividade,
buscando o bem comum e o bem-estar de
nossas crianças, adolescentes e jovens.
Todos percebem que o planejamento,
mais do que uma técnica de elaborar planos de
ação, pode ser um processo de reflexão sobre a
própria realidade e de criação de ações para
levar à transformação dessa mesma realidade
a curto, médio e longo prazo; ou, ainda, pode
significar a possibilidade da participação de
todas as pessoas, dentro dos grupos, num
processo garantidor do direito, do desejo, do
crescimento de todos envolvidos no projeto.
William Castilho, um pensador dos
movimentos sociais, psicólogo, falando sobre
esse processo de autogestão, afirma que a
palavra, a linguagem, é condição imprescindível
para que esse processo aconteça.
Só a palavra é capaz de ressignificar o
processo de deslocamento, isto é, de um
conteúdo a outro, de um lugar a outro (des-
locare - mudar de lugar). Portanto, é necessário
dar a palavra, permitir que a palavra seja dita,
sem receio. É necessário criar condições,
espaços e tempos democráticos, para que a
palavra de cada pessoa possa se manifestar
no processo do planejamento, do início ao fim,
do pensamento e elaboração da proposta, à
execução e avaliação do serviço socioeducativo.
É um grande desafio, pois esta concepção
implica reestruturar as velhas formas hierárquicas,
centralizadoras de tomada de decisões.
A palavra é a forma por execelência da comunicação humana, de convivência, de conquista
da paz, da harmonia, da solidariedade. Ferramenta essencial da negociação da realidade.
No entanto, é de fundamental
importância que exista a firme vontade de, cada
vez mais, incluir o máximo de participantes nas
decisões cruciais do planejamento. Essa é com
certeza uma forma de garantir a eficiência e a
qualidade do serviço socioeducativo. As crianças
e os adolescentes sairão ganhando com esta
postura dos coordenadores e de sua equipe,
responsáveis pela dinâmica do planejamento em
todas suas fases.
Também as crianças e os adolescentes
precisam, dentro de sua possibilidade e de seu
grau de informação, ser ouvidas e
consideradas seriamente na hora da
elaboração dos planejamentos ou dos planos
de ações. Afinal, elas são a finalidade última
desse planejamento. O intuito de projetar ou
planejar o serviço socioeducativo é desenvolver
um trabalho que procure o que é específico da
formação das crianças e dos adolescentes.
Como planejar?
Planejar é também uma técnica de
trabalho. Pode-se diferenciar o planejamento
mais geral das ações da Unidade de trabalho
enquanto uma instituição, e o planejamento
ou elaboração de um plano de atividades do
serviço socioeducativo – um planejamento
mais específico. Evidentemente, esse plano de
ação ou planejamento específico não poderá
entrar em contradição com o planejamento
mais geral da Unidade. Na verdade, o
planejamento geral e o plano de ações são
peças de um mesmo planejamento, atuando
com igual objetivo: a garantia dos direitos das
crianças e adolescentes.
Alguns princípios mais gerais podem
nortear a elaboração desse planejamento, seja
o geral ou o específico.
O primeiro princípio é que o
planejamento deve ter um caráter coletivo e
participativo. Ele deverá ser elaborado pelas
Planejar é diferente de improvisar.
Uma ação planejada é uma ação pensada
com antecedência. Planejar é projetar.
59 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
pessoas que, de fato, irão se envolver, de uma
forma ou de outra, na dinâmica das atividades
do serviço socioeducativo a serem implementadas.
Para garantir este princípio, nem todos precisam
participar de todos os momentos de elaboração
do planejamento, mesmo porque nem sempre
existe esta possibilidade.
60Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
O segundo princípio diz que o
planejamento é um guia das ações, um
norteador dos trabalhos. Não pode ser uma
camisa de força. O planejamento deve ter em
seu bojo a flexibilidade das ações a serem
desenvolvidas. A observação, a sensibilidade, a
experiência dos coordenadores e de sua
equipe são essenciais para garantir que o
planejamento não se perca sem rumo, mas
que, ao mesmo tempo, ele não se torne um
instrumento cego à realidade das crianças e
dos adolescentes, a qual pode, em
determinado momento ou circunstância,
estar exigindo mudanças de rumos, ou a
elaboração de novos planos.
Surge aqui um terceiro princípio, o da
avaliação constante, processual. O
planejamento, principalmente em se tratando de
crianças e adolescentes em constantes
transformações, deve ter embutido em sua
concepção a necessidade de seu monitoramento.
Antes mesmo de se partir para a prática
cotidiana das ações planejadas, é necessário
utilizar um bom tempo analisando a viabilidade
social, cultural, financeira, de cada ação
Essas perguntas precisam ser
respondidas pelos coordenadores e sua equipe.
Não significa somente criar um roda de
conversa, por exemplo, para fingir que se
escuta as crianças e adolescentes e que elas e
eles estão participando do processo decisório,
participativo. Criança e adolescente são
sujeitos de direitos, são pessoas que pensam,
elaboram, criticam, sabem sugerir. Ninguém
nasce sabendo; participar coletivamente, tomar
decisões coletivamente é um processo que
também se aprende. Ouvir, dialogar, tomar
decisões, mudar rumos é uma ação
socioeducativa rica de aprendizagens.
Outros atores podem, também, em
determinados momentos e situações, inserir-se
no planejamento. São as famílias das crianças
e dos adolescentes, seus professores, as redes
de apoio...
Para se garantir a efetivação desse
primeiro princípio – da coletividade e da
participação – é necessário criar espaços e
tempos efetivos, com regras claras de tomadas
de decisões. Esse é, sem dúvida, um grande
desafio para as unidades de desenvolvimento
do serviço socioeducativo.
• O que desejam as crianças e os adolescentes?
• O que eles e elas pensam?
• O que é possível negociar com os vários atores envolvidos?
• Como envolver as crianças e adolescentes como sujeitos ativos? Como garantir que elas
possam, de fato, tomar decisões sobre sua vida?
61 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
sugerida no planejamento. Um planejamento
mais geral até pode “viajar”, sonhar, imaginar
mundos possíveis em algum momento. Mas
um planejamento específico, a ser executado
em determinada estrutura e em determinado
tempo, precisa estar com os pés no chão das
possibilidades e viabilidades.
No entanto, é também saudável que
não se perca a vontade política de sempre
avançar além dessas possibilidades. Inclusive
essa vontade pode e deve ser também
planejada e transformada em ações concretas,
que ampliem a capacidade de se produzir ações
cada vez mais efetivas e de qualidade,
na garantia dos direitos das crianças e
dos adolescentes.
O planejamento vive uma dupla tensão: a
de estar condicionado à realidade das
possibilidades financeiras, estruturais, de pessoal
e à de estar sendo impulsionado pelo desejo de
condições ideais ou mais condizentes com as
necessidades das crianças e dos adolescentes em
situação de vulnerabilidade social, política,
econômica e cultural. Essa é uma boa tensão,
que pode instigar os coordenadores e sua equipe
a desenvolver sua criatividade.
Diante dessa tensão do planejamento, é
que se faz necessária a avaliação processual de
todas as ações planejadas e desenvolvidas.
Essa avaliação deverá ser realizada garantindo
o princípio da coletividade e da participação.
Nem todos precisam estar em todas avaliações,
mas, é necessário que, pelo menos, os
envolvidos nas ações possam repensar sua
prática e sugerir alterações para o momento
ou mesmo para um planejamento futuro. Mais
uma vez, pode-se afirmar que a realidade das
crianças e adolescentes e a sua transformação
deverão ser o principal critério nesse processo
avaliativo e de monitoramento das ações.
Não é simples diante desses princípios e
desafios sugerir um modelo de planejamento.
Na verdade, não existe um modelo ideal. A
realidade de cada lugar, de cada unidade, de
cada equipe de trabalho, deve determinar a
forma como realizá-lo. O planejamento de
uma equipe que já trabalha conjuntamente há
longo tempo será diferente do planejamento de
uma equipe que ainda não se conhece. O
número de crianças e adolescentes que serão
atendidos, a infra-estrutura existente, os
recursos financeiros disponíveis, o tamanho e
a integração da rede de apoio e outros
elementos também influirão no planejamento.
Estas e outras situações são as pré-condições
à elaboração de qualquer planejamento, seja
ele geral ou específico.
Outra pré-condição essencial a todo
planejamento é a quantidade e qualidade das
informações que a equipe e os coordenadores
possuem sobre a realidade que será enfrentada
e a qual se quer transformar. Quanto mais
informações e análises se obtiver da realidade
social, cultural, econômica, política das
crianças e dos adolescentes e de seu contexto,
mais chances os coordenadores e equipe têm
de elaborar um planejamento adequado
àquelas crianças e àqueles adolescentes.
62Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
Esse momento de levantamento de
informações e realização de análises pode ser
um espaço importante de envolvimento das
crianças, adolescentes, suas famílias, sua escola
e os responsáveis pelas redes de apoio, na
elaboração de um planejamento integrado, em
que todos se sintam responsáveis, dentro de
suas possibilidades e especificidades, pelas ações
que serão desenvolvidas. É esta a hora de efetivar
o princípio da coletividade e da participação.
Qual o tempo dessa atividade? É o tempo
necessário para se conhecer determinada
realidade e o tempo suficiente para a formação
da equipe. Três meses, quatro meses? Esse é
um tempo “bem gasto”. As crianças e
adolescentes agradecerão, pois poderão
participar de um trabalho coordenado por uma
equipe de profissionais competentes, sensíveis,
capazes de andar com os pés no chão e com a
mente na utopia dos direitos garantidos.
Tem início o planejamento. A equipe se
reúne e prepara as reuniões de planejamento.
Convida, na medida do possível, outras pessoas
da comunidade, da rede de apoio, das escolas
para se integrarem no processo de planejar.
Esta equipe, organizada pelo coordenador da
Unidade, explica os passos a serem seguidos e
convoca todos os presentes a se inserirem
como membros efetivos, com igualdade de
poder, na elaboração do plano de ação. Cabe
aqui uma reflexão com os participantes sobre
os princípios de um planejamento, sobre o
envolvimento e a responsabilidade de cada
pessoa ali presente. É a hora de se promover
uma troca de experiências, de se buscar criar a
noção de grupo e de uma rede que se comunica
para juntos elaborarem um plano de atividades
do serviço socioeducativo.
É o momento da inserção das crianças e
adolescentes? Talvez não. Há que se separar as
experiências e as responsabilidades. Pode-se, no
entanto, começar a se refletir sobre quais
momentos e em que espaços e tempos, devem
as crianças e adolescentes interferir no
Vários instrumentos podem ser
utilizados: entrevistas, visitas, pequenas
reuniões, conversas informais, troca de
experiências, caminhadas de
conhecimento do espaço físico,
participação em atividades culturais
desenvolvidas pelos vários grupos do
local – jovens, adolescentes, mulheres,
grupos de igreja...
Essa poderá ser, antes de qualquer
trabalho efetivo com as crianças e
adolescentes, a primeira atividade de formação
da equipe (psicólogos, assistentes sociais,
faxineiras, cozinheiras e outros), seja uma
equipe antiga ou recente. É o momento de
afinar o olhar, apurar a escuta e desenvolver a
análise. Dessa ação sairão os elementos
fundamentais do planejamento e uma equipe
integrada de trabalho estará sendo formada.
63 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
planejamento. Essa reflexão sobre o papel das
crianças e adolescentes pode ser um instante de
formação dessa equipe ampliada. É o instante de
se conversar sobre concepções que se têm sobre
as crianças e adolescentes. Talvez seja esse um
pré-requisito para a integração da equipe e para
o início de um planejamento geral e específico. É
o momento do aquecimento do planejamento e
do trabalho em equipe.
Esta ação precisa, portanto, ser preparada,
cuidada pelo coordenador da Unidade e sua
equipe, com o objetivo de se criar um espaço e
tempo de debate de idéias e concepções. Não basta
uma palestra ou um seminário explicando as
concepções sobre as crianças e adolescentes. É
necessário mais do que isso. É um processo de
mudança de concepções e de postura frente à
realidade das crianças e dos adolescentes e frente
às próprias crianças e adolescentes, que são
pessoas concretas, de carne e osso, inteligentes e
capazes de pensar, sentir, e que necessitam viver
seu presente, no aqui e agora. É uma formação
que aqui se inicia, mas que deve ter outros
momentos de continuidade.
Surgem as questões a serem respondidas
pelo planejamento das atividades do serviço
socioeducativo:
1. Quais os nossos objetivos gerais? Quais os específicos?
2. O planejamento será elaborado para qual período de tempo? Para curto, médio ou longo prazo?
3. O que fazer? Que ações desenvolver? O que queremos desenvolver com cada ação?
4. Qual a viabilidade de cada ação?
5. Como lidar com a imprevisibilidade da realidade?
6. Que recursos serão necessários? Infraestrutura, equipamentos, profissionais nas várias áreas,
verbas e outros.
7. O que temos de recursos? Quais outros precisaremos conseguir?
8. Como obtê-los? Em que tempo? Com quem?
9. Quem serão os responsáveis/coordenadores de cada ação determinada?
10. Como realizar uma avaliação processual (monitoramento das atividades)?
11. Quando e como iniciar as atividades com as crianças e adolescentes?
64Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
Buscar respostas para cada uma dessas
questões levará um bom tempo de trabalho da
equipe. Não há pressa. A equipe ampliada, em
rede, deverá sair afinada, como uma orquestra
e sua ferramenta de trabalho – o
planejamento – poderá tocar uma melodiosa
música, adequada aos ouvidos e à
sensibilidade das crianças e adolescentes.
As portas e janelas da Unidade são
abertas às crianças e aos adolescentes. Tem
início a execução do planejamento ou, pode-se
também dizer, do plano de atividades do serviço
socioeducativo. São 30 crianças e adolescentes.
Eles e elas ainda não se conhecem. Cada
criança e adolescente se protege naquela
outra criança ou adolescente com que tem
familiaridade ou afinidade. O conhecido dá
mais segurança a qualquer um. Esse tempo de
entrosamento já está no planejamento. O
objetivo é que todos e todas possam se
conhecer – crianças, adolescentes, educadores,
cozinheira, faxineira, jardineiro, psicólogos... –
até o coordenador se apresenta nesse instante.
É importante também para o coordenador
poder conhecer e ser conhecido pelas crianças
e adolescentes.
Outro objetivo desse momento é
trabalhar a formação do grupo. Desenvolver a
noção do coletivo e da participação. Aprender
que todos e todas são responsáveis, dentro de
suas atribuições, pelo caminhar daquele grupo
que está se formando e que irão trabalhar
junto por um bom tempo.
Várias atividades começam a se
desenrolar na semana – brincadeiras, passeios,
pinturas, rodas de conversa, momentos de
contar casos e falar do dia, e as crianças,
adolescentes vão apresentando sua vida, seus
desejos, necessidades, vontade. O espaço de
conhecimento vai se alargando. Os educadores
se agrupam com crianças e adolescentes de
vários bairros. Em grupos pequenos, resolvem
explorar o lugar de moradia de cada uma
daquelas crianças e adolescentes. Conhecer a
casa, o campo de futebol, o lugar das
brincadeiras nas ruas, os tipos de jogos, suas
regras. É uma festa e um alvoroço muito
grande. As crianças e os adolescentes
começam a ser valorizados e a perceber que
sua história é um saber que tem valor. Eles
principiam a se sentirem cidadãos, como
pessoas que pensam, sentem, refletem e que,
podem dialogar com os adultos que ali estão
trabalhando com eles.
Esse processo de formação do grupo e do
desenvolvimento da capacidade de dialogar estava
Contagem / MG
previsto e preparado no planejamento das
atividades do serviço socioeducativo. Vários
educadores ficaram responsáveis por este
movimento. Ao coordenador cabe organizar as
saídas, as chegadas das crianças e dos
adolescentes. Cabe garantir a logística necessária
para o bom desempenho das atividades.
Termina a primeira semana de trabalho.
Sábado e domingo de descanso e reflexão sobre
a densidade de informações e vivências dessa
semana que passou.
É segunda-feira. Como foi a primeira
semana de trabalho com a presença das
crianças e adolescentes? O que foi aprendido?
O que foi observado? Hora de avaliar, analisar.
É necessário um tempo da equipe para esse
estudo e análise. O coordenador convoca e
organiza esse tempo. Marca o horário,
encaminha a reunião, convida os participantes.
Aí está o planejamento em ação.
À tarde chegam as crianças e os
adolescentes. Chegam ansiosos trazendo novas
notícias, comentando a semana anterior. Hora
de organizá-los em pequenos grupos para que
também participem da avaliação e análise da
semana anterior. Num segundo momento,
sente-se a necessidade de refazer os grupos
para que haja uma maior troca de experiências
entre as crianças e os adolescentes. Que tal
um grupo por idade? Depois, que tal mesclar
65 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
66Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
visitas e as saídas da Unidade. No meio da
semana, um grupo de crianças foi conhecer a
biblioteca da escola de uma das participantes.
Uma biblioteca ainda pequena, mas muito
bem organizada.
Um dos adolescentes já participava de um
grupo de hiphop. Veio o convite: vamos conhecer
o hip hop, vamos visitar o grupo de hip hop. E lá
se foram os adolescentes, como passarinhos
esvoaçantes, alegres, envolvidos completamente
na atividade. Com eles, um educador que era
professor de violão, que pode participar da
formação da equipe desde seu início, no momento
da elaboração do planejamento.
os grupos entre crianças e adolescentes?
Vários jogos são organizados, várias atividades
são propostas com o objetivo de facilitar a
expressão das crianças e dos adolescentes:
teatro, pintura, música, desenho, colagens.
Não foi possível terminar nessa segunda-feira.
Não há problema, continua-se na terça-feira.
O importante é que haja a socialização das
conclusões, produtos elaborados por cada
grupo. A produção pode ser individual ou
coletiva, mas deve ser para a coletividade, com
um caráter publicizante.
Surge uma nova idéia, ainda não
prevista em detalhes no planejamento
elaborado: realizar um trabalho com as
brincadeiras e jogos cotidianos das crianças e
dos adolescentes. O coordenador propõe
encontros para se planejar este trabalho. O
que fazer? Como fazer? Quando? Com que
objetivos? Como envolver as crianças e
adolescentes nesse planejamento? Que tempo
e recursos (humanos e financeiros) serão
necessários? É viável? Se não, o que falta para
garantir sua viabilidade? Como buscar estes
recursos? Quem fica responsável pela
coordenação desse plano (projeto de trabalho)?
Como o planejamento não é uma camisa de
força, é possível mudar o rumo das atividades
ou mesmo de parte do plano de ações. Podem
sair ou entrar outras possibilidades, desde que
as mudanças contribuam para a realização
dos objetivos gerais do planejamento.
Durante a semana, além dos jogos
com as crianças e adolescentes, continuam as
Conhecer a vida e o jeito de ser e de
pensar daquelas crianças e adolescentes é um
objetivo do planejamento. Nesse caso, nada
melhor que chegar bem de perto de suas
atividades cotidianas, ouvi-los, valorizar o que
produzem e promover a troca de experiências, e
a partir daí, ampliar esta experiência.
Contagem / MG
67 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
Outra semana corre cheia de novidades,
e o tempo passa bem rápido. Várias frentes de
trabalho vão se abrindo. É hora de dar
continuidade ao que já se está fazendo e ir
aprofundando em sua análise e buscar uma
forma de registro das atividades e reflexões.
O planejamento faz um mês de vida.
Várias atividades foram desenvolvidas.
Algumas pequenas avaliações foram realizadas
envolvendo os vários atores. Surge nessas
avaliações a necessidade, já prevista no
planejamento, de atrair a presença das famílias
das crianças e adolescentes. Que trabalho
realizar com suas famílias? Avaliou-se que é
preciso prever e desenvolver um trabalho
articulado, de médio e longo prazo. Foi dito que
é um desafio. O tempo dos pais, mães, tias,
irmãos é pequeno. Muitos trabalham o dia
todo. No final de semana, estão cansados e
pouco motivados para outras atividades. Como
fazer? O que motivaria sua participação? Não
mais adianta realizar reuniões ou palestras
com temas variados para instruir os membros
da família.
O envolvimento da família nas atividades do serviço socioeducativo é uma
questão que precisa ser melhor aprofundada. Que atividades conjuntas que tenham
significado para as famílias se pode pensar e organizar? Depois de muitas reflexões,
decidiu-se organizar uma pequena equipe, dirigida pelo coordenador, para apresentar,
dentro de um mês, uma proposta de trabalho com as famílias. Esta equipe será
composta pelo coordenador da Unidade, por um educador, pelo representante de
alguma associação de bairro e por uma professora de algumas das escolas frequentadas
pelas crianças e adolescentes. Aqui será realizado, em processo, um planejamento
específico que esteja em consonância com os objetivos do planejamento geral.
68Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
O semestre termina. Férias escolares.
Decidiu-se realizar no retorno das atividades
grande processo de avaliação e de registro dos
primeiros meses de trabalho. Serão realizadas
pequenas reuniões envolvendo, em vários
momentos, todos aqueles que participaram, de
alguma forma, das ações realizadas. Pensa-se em
transformar a avaliação em um espaço efetivo de
formação da equipe. É mais um espaço de se
exercitar a escuta, a observação e de se
desenvolver a capacidade de análise. Crianças,
adolescentes, educadores, psicólogos, pessoal dos
serviços gerais, pais, professores e outros estarão
falando, analisando, propondo projetos.
O planejamento dessa Unidade trabalha
com a concepção de avaliações e monitoramento
constantes. A avaliação é parte intrínseca do
planejamento e se torna um tempo fundamental
de formação e de definições de novos planos de
ações. Cada grupo de pessoas se envolve na
medida de suas possibilidades, na proporção de
sua experiência e maturidade. Todos e todas
participam e contribuem. O coordenador, com
sua equipe de trabalho, tem a incumbência de
preparar e gerir este processo.
A avaliação durou mais de um mês.
Material é que não falta para se analisar. Várias
novas idéias surgiram para novos planejamentos.
Com as famílias, conseguiu-se apenas obter
algumas participações pontuais. A maioria das
inserções foram individuais.
Quanto à participação das famílias,
avaliou-se que ainda não existem recursos
financeiros suficientes para o desenvolvimento de
atividades do serviço socioeducativo integradas
entre as crianças e os adolescentes e suas
famílias. Optou-se por realizar uma feira cultural
com a participação dos membros das famílias e
de pessoas dos bairros, da escola: música,
artesanato, pintura, contação de casos, culinária,
conversas informais... Para o ano seguinte, serão
buscados recursos humanos e financeiros para
um processo contínuo, integrado com as
famílias. Esse é um ponto que deve fazer parte da
preocupação do coordenador para o
planejamento do próximo ano.
O trabalho seguiu por todo o ano. Foram
realizadas várias atividades, ora somente com as
crianças, em grupos separados dos
adolescentes, ora com grupos mesclados. Todos
já se conheciam pelo nome e pelo local de
moradia. Reuniões de avaliações da equipe
aconteciam, pelo menos, uma vez por semana.
Vários imprevistos surgiram que foram sendo
resolvidos com paradas rápidas da equipe.
Imprevistos como doença ou saída de alguém
da equipe, surto de conjuntivite nas crianças,
atraso no recebimento de recursos financeiros,
necessidade de contratação de algum
profissional especializado em determinada
atividade ou assunto. Tais imprevistos, como o
próprio nome diz, não poderiam ser antecipados
pelo planejamento. Mas a não rigidez do
planejamento e a flexibilidade de atuação da
equipe contribuíram para a busca de soluções
para as imprevisibilidades.
O coordenador não estava presente em
todas as reuniões e nem em todas as atividades.
69 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
Seu papel é o de coordenar a elaboração e
execução do planejamento. Ele deve ser aquele
que tem a visão geral de todo o processo. O
poder de execução das ações e de tomada de
decisões é uma tarefa coletiva, que, em várias
situações, é exercida por alguém individualmente.
A responsabilidade é de todos. Nesse sentido, é
mister que a equipe de trabalho esteja
plenamente afinada com os objetivos do
planejamento geral, definidos coletivamente. O
coordenador é o articulador, portanto, de todas
as ações e de toda a equipe de trabalho.
Enfim, planejar de forma democrática e
participativa é um processo cumulativo,
crescente, flexível. Exige competências e
sensibilidades. Não é uma improvisação, nem
tampouco um deixar fazer. Exige clareza de
objetivos e uma coordenação articulada das
ações. Exige uma distribuição do poder
decisório. Esta forma de planejar é um espaço e
tempo privilegiados de formação de pessoas,
que pode ser, além de tudo, um tempo
prazeroso e compensador de trabalho. Mas, é
sempre um grande desafio.
O cotidianodo serviçosocioeducativo5
CA ECA ECA ECA ECA ECECA ECA ECA ECA ECA
CA ECA ECA ECA ECA ECECA ECA ECA ECA ECA
CA ECA ECA ECA ECA ECECA ECA ECA ECA ECA
CA ECA ECA ECA ECA ECECA ECA ECA ECA ECA
CA ECA ECA ECA ECA ECECA ECA ECA ECA ECA
CA ECA ECA ECA ECA ECECA ECA ECA ECA ECA
CA ECA ECA ECA ECA ECECA ECA ECA ECA ECA
CA ECA ECA ECA ECA ECECA ECA ECA ECA ECA
CA ECA ECA ECA ECA ECECA ECA ECA ECA ECA
CA ECA ECA ECA ECA ECECA ECA ECA ECA ECA
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas
humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos
na Constituição e nas leis.
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais;
II - opinião e expressão;
III - crença e culto religioso;
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;
V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;
VI - participar da vida política, na forma da lei;
VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.
Contagem / MG
73 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
Ô abre a roda tindolele,ô abre roda tindolalá,ô abre a roda tindolele,tindolele, tindolalá.(Cantiga de roda tradicional)
“Organizo e defino cada oficina, cada criança participa de 3 oficinas por dia e mais a do para
casa, que funciona todos os dias. De 30 em 30 dias escolhemos um tema a ser trabalhado nestas
oficinas (...), mantenho um contato direto com as crianças, deixando que eles opinem nas
oficinas e com os pais, tentamos mantê-los presentes na vida das crianças. Organizo mostras
no fim de cada mês com apresentações de teatro, danças e exposição do que as crianças
confeccionaram na oficinas (os pais são convidados para assistir, mas infelizmente poucos
comparecem). Mantenho uma relação direta com os educadores, pois nos reunimos pelo menos
uma vez na semana para avaliar o desenvolvimento das crianças e o rendimento das oficinas,
estamos sempre trocando idéia. Quando necessário, faço uma visita à escola e à casa das
crianças, faço relatórios mensais sobre tudo que foi desenvolvido no programa.”Pollyanna Alves Gomes (Coordenadora Pedagógica, Santa Luzia)
“Desempenho meu trabalho através de: reuniões pedagógicas mensais, reuniões
de pais, reuniões com a comissão do Peti, visitas domiciliares, organização das
atividades pedagógicas desenvolvidas, estudo de caso, elaboração de pauta das
reuniões; realização de planejamento bimestral e semestral com a equipe de
educadores e equipe, acompanhamento das ações executadas, realização e
execução de projetos, realização de capacitação profissional.”Priscila Soares Resende (Diretora de Unidade de Atendimento Sócio Educativo, Caeté)
74Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
Organização dos espaços, dos tempos e dos grupos
No serviço socioeducativo, a organização
do tempo e do espaço é construída a partir
das variadas atividades: oficinas de arte, de
literatura, atividades esportivas, tempo para
os projetos, rodas de conversa, etc. Algumas
atividades são orientadas e outras livres. Em
um projeto, por exemplo, pode ser necessária
a formação de subgrupos, já uma oficina de
dança ou música pode ser coletiva; no início
do dia ou da semana, podem ser feitos
combinados coletivos para essa organização.
É essencial oferecer momentos de escolha e
decisão por parte das crianças e
adolescentes, estimulando o progressivo
desenvolvimento de sua autonomia.
Na organização do trabalho, pode-se
pensar que a escolha das atividades, a
formação dos agrupamentos, o tempo a ser
dedicado a um tema ou oficina são decisões
que variam em função dos objetivos de cada
atividade e dos interesses e demandas das
crianças, adolescentes e educadores.
Isso significa compreender que o serviço
socioeducativo não tem currículo pronto, um
programa de ensino ou conteúdos a serem
cumpridos, entendendo as especificidades e a
identidade de cada grupo, as atividades, pesquisas,
oficinas e a própria rotina do atendimento serão
construídos a partir dos desejos, curiosidades e
necessidades das crianças, dos adolescentes, dos
educadores, da família e da comunidade. É um
modelo aberto de planejamento, baseado na
escolhas e necessidades.
Por outro lado, não pressupõe falta de
organização, as escolhas das atividades devem
ser combinadas, registradas e programadas,
assim como os usos dos espaços, dos materiais
e a formação dos grupos.
A boa organização das atividades pode
favorecer o trabalho de construção de
conhecimentos, hábitos, habilidades e atitudes.
Mas é importante que se criem momentos
diferenciados, em que cada criança e
adolescente possa manifestar-se. Por isso,
podem ocorrer momentos em que toda a turma
estará discutindo informações, trocando
conhecimentos, definindo as melhores maneiras
de encaminhar os trabalhos.
Em outros momentos, os diferentes
grupos poderão desenvolver diferentes
atividades ligadas a um tema trabalhado ou
uma oficina. E, ainda, individualmente uma
criança pode estar desenvolvendo uma tarefa,
em função de sua escolha. Naturalmente, o
educador deve mediar a construção dessas
decisões, discutindo os limites e as possibilidades
de cada escolha.
Planejar e fazer uma boa organização
das atividades possibilita ao educador ter uma
direção do seu trabalho, confirmando avanços
e descobrindo desafios.
O serviço socioeducativo com crianças e
adolescentes deve considerar que a infância e a
adolescência não são ciclos de vida unificados e
cada ciclo apresenta características de
desenvolvimento, interesses e capacidades muito
diferentes. É importante considerar este aspecto
no cotidiano do atendimento: na organização
dos tempos, dos espaços e das atividades,
respeitando e integrando as especificidades de
cada idade. É importante garantir a convivência
do coletivo, mas também compreender os
interesses e motivações comuns que existirão
entre crianças de idades mais próximas.
O ciclo de vida das crianças e dos
adolescentes pode ser dividido em estágios
menores, mais homogêneos nas características
de formação e socialização. As atividades
planejadas devem levar em conta a diversidade
de interesses, potencialidades e ritmos.
Podemos entender esta divisão do ciclo de vida
da seguinte forma:
75 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
Etapa de desenvolvimento Idade
Infância 6, 7 e 8 / 9 anos
Pré-Adolescência 9,10 e 11 / 12 anos
Adolescência 12, 13 e 14 anos
Fonte: CARVALHO, 2006.
76Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
Vamos ver como pode ser um exemplo de uma semana de atividades?
As oficinas e projetos aqui
citados são apenas exemplos e que,
em seu contexto de trabalho, podem
ser substituídos por outras interessantes
propostas de trabalho.
2ª feira 3ª feira 4ª feira 5ª feira 6ª feira
Capoeira
Informática /inclusão digital
Oficina debrincadeirase brinquedos
Projetotemático:submarinos
Oficina deesporte
Oficina debrincadeirase brinquedos
Oficina deesporte
Capoeira
Atividadesna horta
Produção detextos para ojornal mural
Informática /inclusão digital
Projetotemático:submarinos
Informática /inclusão digital
Capoeira
Oficina deesporte
Projetotemático:diversidadecultural
Informática /inclusão digital
Capoeira
Palestra sobresaúde
Produção detextos para ojornal mural
Oficina deesporte
Projetotemático:diversidadecultural
Pré-adolescentes
de 9, 10 e
11 anos
Informática /inclusão digital
Projetotemático:diversidadecultural
Oficina de xadrez
Informática /inclusão digital
Capoeira
Projetotemático:saúde esexualidade
Informática /inclusão digital
Visita aomuseu dacidade
Oficina deesporte
Capoeira
Produção detextos para ojornal mural
Informática /inclusão digital
Projetotemático:saúde esexualidade
Adolescentes
de 12, 13 e
14 anos
Oficina deesporte
Projetotemático:saúde esexualidade
Oficina de xadrez
Crianças de 6,7 e 8 anos
Oficina de xadrez
Oficina debrincadeirase brinquedos
77 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
Comentando este exemplo de planejamento:
• A organização por idade é apenas uma referência. Em muitos momentos, os grupos podem e
devem ser mais heterogêneos, com crianças e adolescentes juntos.
• Os “projetos temáticos” podem ser diferentes para cada ciclo de idade, pois os grupos tendem
a ter interesses diversos. Isso não significa que os três grupos não possam pesquisar um tema
comum. É bom lembrar que o tema e o percurso de pesquisa vivido pelo grupo em um projeto
é uma construção de educadores, crianças e jovens e, portanto, ele é construído no processo
vivido pelo grupo. (Ainda neste capítulo falaremos mais sobre os projetos).
• As oficinas de informática/inclusão digital ocorrem em dias diferentes pois na sala de
informática só é possível atender grupos pequenos. É claro que o uso do computador ou
internet pode ser feito em outros momentos, por exemplo na pesquisa de algum projeto ou em
“tempos livres”.
• As atividades como visitas a espaços externos ou assistência a uma palestra de convidados vão mudar
de acordo com a demanda das turmas e das possibilidades de parcerias que forem construídas.
• Todo o planejamento é uma referência inicial, portanto deve ser flexível.
Para registrar as decisões tomadas e
organizar bem o cotidiano, o coletivo da
instituição deve construir uma “rotina” do
trabalho; ela pode ser feita pelas crianças e
adolescentes, em um cartaz, por exemplo. A
rotina pode ser construída e registrada com
todo o coletivo, mas será sempre reconstruída
(diariamente ou semanalmente) em função
das necessidades e escolhas do grupo,
funcionando como uma agenda e não uma
tradicional grade curricular.
Considerando a ideia de que as crianças
e os adolescentes devem estar na centralidade
do trabalho, é fundamental que na
organização do planejamento se realizem
diariamente rodas de conversa como espaços
para: debater, tomar decisões, discutir
temáticas, organizar as atividades, socializar
informes e noticias, apresentar novas pessoas,
organizar um passeio, negociar, conversar
sobre conflitos etc.
78Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
Vamos ver como pode ser um exemplo de uma rotina diária de atividades?
Acolhida das crianças
e dos adolescentes
Roda de conversa
Escutar as crianças
em qualquer demanda
que tenham, mediar
negociações, dar
recados sobre alguma
festa ou data
importante,
apresentar novas
pessoas no grupo etc.
Participar da roda,
dar sugestões,
esclarecer problemas
que tenham ocorrido.
A roda é um espaço
fundamental de
negociação, interação e
formação do grupo.
Toda a equipe deve
participar da roda.
Atividades
desenvolvidas
Papel dos
educadores
Papel do
coordenador
Observações
7:30
Oficina de capoeira
Oficina de informática
Assumir os grupos
e coordenar o
trabalho das
diferentes oficinas.
Acompanhar e
avaliar o trabalho
das oficinas.
A divisão do grupo nas
oficinas vai depender
do interesse das
crianças e dos
adolescentes.....
8:00
8:50
Lanche Acompanhar os
grupos que estavam
em sua oficina.....
9:40
Oficina de brinquedos
e brincadeiras
Projeto temático
sobre “a história
da comunidade”
Assumir os grupos
e coordenar o
trabalho das
diferentes oficinas.
Acompanhar e
avaliar o trabalho
das oficinas.
Nas oficinas de
brincadeiras, pode estar
acontecendo tanto a
construção de algum
brinquedo quanto uma
gincana ou festival.
Nas atividades dos
projetos, pode ser
necessário usar a
internet, a biblioteca ou
trazer algum convidado.
10:10
11:00
Almoço Acompanhar os
grupos que estavam
em sua oficina.....
11:50
Despedida12:20
79 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
Espaço de aprendizagens
“Educar é substantivamente formar.”(Paulo Freire, 1996)
“Cada pessoa tem direito à igualdade, sempre que a diferença inferioriza e tem direito à diferença toda vezque a igualdade homogeneiza.“(Boaventura)
É essencial que o serviço socioeducativo,
no âmbito da assistência social, favoreça o
acesso e a reflexão acerca dos conhecimentos
historicamente acumulados pela humanidade,
para que crianças e adolescentes possam
construir questões, formular hipóteses, realizar
pesquisas sobre diferentes temas, exercitando
seu olhar reflexivo sobre o mundo.
A aprendizagem é um processo de
aquisição de condições para o desenvolvimento
de crianças e adolescentes, que necessitam e
têm o direito de se formarem como seres
humanos autônomos, capazes de criar e
recriar conhecimentos, de ler e interpretar o
mundo, de interagir e de se apropriar dele de
forma crítica e criativa.
Este espaço pode assim se constituir
em um espaço privilegiado onde crianças e
adolescentes possam, de forma consciente e
planejada, tomar distância de seu cotidiano,
de suas relações pessoais e sociais e sobre
eles refletir, num ato essencialmente produtor
de conhecimento. Possam também
amadurecer esta capacidade de olhar de outro
lugar a própria vida e a dos outros indivíduos
e da sociedade.
O fazer educativo consiste no
desenvolvimento de atividades, posturas e
situações que sejam significativas, centradas
nas curiosidades, interesses, necessidades e
possibilidades da criança e do adolescente,
ajudando-os no avanço efetivo do seu
processo de desenvolvimento humano.
É através dos questionamentos, das
discussões, dos diálogos, pesquisas, explorações,
experimentações, manipulações e comparações
A aprendizagem ultrapassa o domínio de conteúdos e informações e se tece
enquanto experiência e oportunidade de desenvolvimento de competências, atitudes e
posturas ligadas à interpretação, contextualização e construção dos conhecimentos
pelos sujeitos a partir de suas vivências, expectativas, desejos e curiosidades.
80Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
entre os elementos do ambiente que as crianças e
os adolescentes constroem o seu conhecimento.
Cabe destacar, portanto, que os
conhecimentos prévios das crianças e
adolescentes podem ser ponto de partida para
muitas aprendizagens e atividades propostas e
devem apresentar desafios, entendendo que a
resolução de problemas é forma de aprender.
A diversidade dos sujeitos e suas diferentes
potencialidades devem ser reconhecidas,
respeitadas e trabalhadas. Os diferentes sujeitos
aprendem de formas e em tempos diversos. A
intenção é que todas as crianças e adolescentes
construam habilidades e competências, mas isso
não pode ser fator excludente.
Mas no serviço socioeducativo, o
que é ensinado? Por quê? Para quê?
Como? Quem ensina? Quem aprende?
Em uma concepção construtivista de
aprendizagem, é nos diálogos entre sujeitos e
conhecimentos – mediados pelos educadores –
que se constrói um ensino coerente aos
interesses, às necessidades e referências
culturais dos educandos.
Nesse sentido, uma ação educativa
requer que, a partir dos conhecimentos prévios
dos educandos, conteúdos sejam ampliados,
diversificados e exercitados. Inclui e privilegia o
processo de formação humana que ultrapassa
a aprendizagem de conteúdos escolares (que
chamamos de matérias ou disciplinas),
considerando, incorporando e integrando as
várias dimensões do desenvolvimento humano.
As atividades do serviço socioeducativo
não têm objetos de conhecimento previamente
definidos, elas são construidas a partir das
Uma atividade do serviço
socioeducativo pauta-se no cumprimento
dos direitos das crianças e dos adolescentes
e em sua formação para a cidadania,
numa concepção que faz do brincar, da
experiência lúdica, da vivência artística
uma forma privilegiada de expressão, de
pensamento, de interação e aprendizagem
da criança e do adolescente.
Paraopeba / MG
81 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
especificidades dos sujeitos envolvidos e da suarealidade socio-histórica; elencar algumascapacidades ou competências como possíveisaprendizagens. Espera-se, por exemplo, que noserviço socioeducativo, crianças e adolescentes
tenham a condição de:
• Desenvolver, dentro de relações afetivas e de cooperação, a autonomia, a responsabilidade e a
capacidade de trabalhar em grupo.
• Construir formas de representação e expressão do mundo através de múltiplas linguagens: o
desenho, a pintura, o teatro, a dança, o brincar.
• Acessar, tratar, interpretar e analisar fatos e informações.
• Desenvolver a capacidade de resolver problemas.
• Fazer uso da leitura e da escrita de maneira funcional e significativa, a partir de suas
reais necessidades.
As aprendizagens poderão ocorrer
nas mais diferentes situações: nas
rodas de conversa, na elaboração de
um jornal mural, na oficina de grafitti,
ou de literatura de cordel, em uma
contação de história, no uso da
informática ou da internet, na
preparação de uma festa, a partir de
uma palestra, de um debate, tirando
fotografias, em um passeio e também a
partir dos projetos.
As instituições e equipes de trabalho
podem discutir, reconstruir ou ampliar esses
objetivos, a partir das suas demandas reais.
82Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
Trabalho por projetos2
No trabalho por projetos, os conteúdos
e as estratégias são discutidos e selecionados
coletivamente pelos educadores, crianças e
adolescentes. A aprendizagem passa a fazer
parte da experiência social de crianças e
adolescentes e do educador, que atua como
pesquisador e aprendiz, e não como mero
“transmissor” de conhecimentos.
Neste caminho, é essencial uma prática
em que as crianças e os adolescentes
desenvolvam o pensamento crítico, a capacidade
de argumentar, a capacidade de ouvir e
considerar a opinião do outro, e de adquirir
desenvoltura para a defesa das suas posições.
2 Item construído a partir do texto: LEITE, Lúcia Helena Álvares. Do formal ao cultural: a experiência da escola Balão Vermelho com os projetos de trabalho. Escola BalãoVermelho, 1998.
Quanto mais se problematizam os educandos, como seres no mundo e com o mundo, mais se sentirãodesafiados. Tão mais desafiados, quanto mais obrigados a responder ao desafio.(Paulo Freire)
Segundo Paulo Freire, o diálogo é um elemento-
chave no qual educador e educando são sujeitos
atuantes, para pensar e agir criticamente,
expressar suas ideias e pensar a partir de uma
realidade concreta. A democratização das
relações e o protagonismo se dão por meio da
efetiva e plena participação de todos, na prática
cotidiana de debater, tomar posições, assumir e
responder por decisões.
Mais que uma metodologia didática, ou
uma sequência de passos a serem seguidos, os
projetos refletem uma postura pedagógica em
que crianças e adolescentes atuam como
sujeitos ativos do seu processo de aprendizagem.
Trabalhar por projetos envolve sempre a resolução de problemas,
possibilitando a análise, a interpretação e a crítica. (...) O projeto busca estabelecer
conexões entre vários pontos de vista, questionando a ideia de uma visão única da
realidade e entrelaçando, de forma significativa, o conhecimento social e o
processo individual dos alunos, permitindo uma avaliação contínua da
aprendizagem. (Lúcia Helena Alvarez Leite)
83 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
Tema
O tema de um projeto pode surgir a
partir uma conversa na roda, de uma notícia
de jornal, de um fato acontecido no país ou na
própria comunidade. O importante é que o
tema pesquisado seja pertinente e interessante
e que as crianças e os adolescentes se
envolvam com uma pesquisa sobre esse tema,
construindo as hipóteses a serem investigadas.
O processo de investigação pode dialogar com
diferentes áreas de conhecimento, fazendo-o
de forma significativa.
Planejamento
O planejamento de um projeto é
construído, em processo de negociação
coletiva, por crianças, adolescentes e
educadores, a partir dos seus objetivos,
surgidos das curiosidades, indagações e
interesses sobre um tema.
Etapas ou atividades
As etapas ou atividades são também
construídas coletivamente a partir dos objetivos
do projeto ou das questões que ele busca
responder. É possível trabalhar com diversas
fontes de informação e propor atividades
abertas, dando possibilidades para que as
próprias crianças e adolescentes estabeleçam
suas estratégias de aprendizagem e formas de
registro. É importante pensar: como as ações
serão organizadas? Em que período? Que
aprendizagem se espera em cada uma delas?
Que registros podem ser produzidos? O
educador é alguém que assume a coordenação
do processo sem que isso signifique a imposição
da sua lógica.
Desenvolvimento
O desenvolvimento do projeto é fase de
realização daquilo que foi planejado; momento
em que crianças e adolescentes entendidos como
sujeitos usam sua experiência para resolver
problemas colocados pelo projeto, ocorrendo
assim a aprendizagem compartilhada, cujo
resultado é a ampliação do conhecimento e a
gestação de novas questões. A cooperação, o
envolvimento e a responsabilidade são
fundamentais no desenvolvimento do projeto. Em
função da organização do projeto, a rotina ou as
turmas podem ser alteradas. Essas negociações
também devem ser coletivas.
Apresentação dos resultados
A apresentação dos resultados ou
disseminação do trabalho permite que
crianças e adolescentes, educadores, famílias e
comunidade possam ter a percepção real do
processo vivido e de possíveis aprendizagens.
Avaliação
A avaliação deve ser feita tanto pelos
educadores, quanto pelas crianças e
adolescentes, no decorrer do projeto e a partir
84Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
de registros como desenhos, fotografias,
mapas, textos, relatórios de reuniões entre
educadores, anotações das discussões com
base nos textos para reflexão e também a
partir das atividades, conversas e escolhas.
Pode-se avaliar a dimensão coletiva do
trabalho, a motivação, a integração e verificar
se as atividades planejadas foram cumpridas e
responderam às demandas. E ainda: a
avaliação das aprendizagens adquiridas, com
base nos objetivos escolhidos, a aquisição de
novos conhecimentos, as mudanças de atitude
e comportamentos, o aumento do repertório
de informações, etc. Muitas questões e
curiosidades que surgem no desenvolvimento
de um projeto podem servir de impulso inicial
para a elaboração de novos projetos.
85 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
Dever de casa
A partir da reflexão acerca de todos os
aspectos que envolvem a dimensão da
aprendizagem no atendimento do serviço
socioeducativo, é importante refletir se nesse
atendimento deve-se ou não optar por um
espaço para a realização das tarefas da
escola. Essa é uma questão complexa, pois,
em alguns casos, as crianças e adolescestes
não encontrarão na família tempo ou
disponibilidade para a realização das
atividades escolares, e ainda, se considerarmos
que elas ocupam sua rotina entre a escola e o
serviço socioeducativo, só teriam como fazer
as atividade da escola à noite.
Por outro lado, é fundamental
compreendermos que a dimensão da
aprendizagem no serviço socioeducativo não
deve reproduzir e muito menos reforçar o
modelo escolar. No serviço socioeducativo, o
modelo de organização das atividades, a
concepção de aprendizagem, a organização dos
espaços, tempos e grupos e essencialmente a
idéia de que as crianças e adolescentes devem
estar no centro de seu processo educativo não
condizem com um modelo escolar tradicional
(conteudista e classificatório). Na medida em
que se reproduz aulas e atividades de conteúdos
específicos, corre-se o risco de repetir a prática
da escola e não complementá-la. Dessa forma,
as crianças e os adolescentes ficam privadas de
outras aprendizagens e de outras formas de
aprender, que também contribuirão para sua
formação escolar.
Vale lembrar que a dimensão da
aprendizagem no serviço socioeducativo
é ampla e envolve a construção de
valores, o exercício da convivência e do
protagonismo, a expressão de idéias a
partir das múltiplas linguagens da arte
e a reelaboração de conhecimentos
historicamente acumulados. Todas essas
possibilidades, sem dúvida, contribuirão
diretamente para o desempenho escolar
das crianças e dos adolescentes.
Um outro aspecto a ser considerado é a
necessidade de as famílias também
contribuírem para o processo de formação
integral de seus filhos e, neste sentido, pode ser
interessante que as tarefas da escola sejam
atividades “oficialmente” para serem feitas em
casa, e que cada equipe de trabalho reflita com
as famílias, com as crianças e os adolescentes e
com a própria escola, as especificidades de cada
caso, definindo se “aquela criança” ou “naquele
dia” deve fazer o para casa no horário das
atividades do serviço socioeducativo ou não.
Entendendo que as atividades do serviço
socioeducativo são construídas também em
parceria com a escola, é importante que
86Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
professores e educadores compartilhem
experiências, planejem projetos e ações
comuns. A relação de parceria com a escola
favorece diretamente a qualidade do trabalho
desenvolvido, e pode contribuir na decisão de
que quais tarefas são para a escola, para a
família e para o serviço socioeducativo.
Outros aspectos podem estar envolvidos
nesta questão e, a partir de cada realidade de
atendimento, as equipes de trabalho terão o
desafio de definir como lidar com essa questão.
87 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
Socialização e brincar
“Poesia para ser bela tem que ter a seriedade do brincar.”(Manoel de Barros)
O processo de socialização de crianças e
adolescentes deve se realizar através dos
vínculos de afetividade e respeito, envolve a
internalização de normas e valores, assim
como formas de relacionamento. O indivíduo
socializa-se a partir da experiência do
conhecimento que adquire ao longo de sua
vida em interações sociais.
A dimensão lúdica traz uma riqueza a
mais à realidade humana, na medida em que
envolve inteligência e vontade, ação e
habilidade, estimula o conhecer, o querer, o
agir, porque implica também alegria, satisfação
e liberdade.
Uma brincadeira ou um jogo desenvolve-
se dentro de limites e de lugares estabelecidos
e, sobretudo, segundo normas próprias, o que
demonstra um caráter de sociabilidade da
atividade lúdica. A maior parte dos brinquedos
tem caráter coletivo e a participação coletiva
em um brinquedo cria determinadas ligações
afetivas que são próprias da criança e
essenciais ao seu desenvolvimento.
O brincar pode ser entendido como uma
prática cultural que possui dimensões
relacionais e é construída nas interações entre
pares, sob forma de conteúdos representacionais
distintos, composta por um patrimônio de
jogos, brinquedos e brincadeiras que explicitam
a formas da criança e do adolescentes de
simbolizar, representar, compreender e interpretar
o mundo.
A brincadeira, portanto, deve ser uma
atividade privilegiada no cotidiano do trabalho
com crianças e adolescentes!
Bom Sucesso / MG
88Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
PARA DAR CERTO...
Socialização e brincar
• Reconhecimento da brincadeira
como prática cultural essencial
ao desenvolvimento integral.
• Constituição de espaços
para convivência e interação
entre pares.
Possibilidades de trabalho
• Possibilitar espaços para diversos tipos de
brincadeiras e jogos.
• Realizar festivais de diferentes brinquedos
e brincadeiras.
• Pesquisar repertório de brincadeiras que fizeram
parte da infância das famílias.
• Pesquisar os espaços para brincar na comunidade.
• Registrar, de diferentes formas, o repertório
de brinquedos e brincadeiras que compõe o
universo cultural das crianças e dos adolescente
e da comunidade.
• Promover oficinas de construção de brinquedos.
• Possibilitar que crianças e adolescentes de
diferentes idades brinquem juntas.
• Possibilitar espaços de brincadeiras livres.
• Garantir o tempo da brincadeira cotidianamente
no atendimento.
89 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
Arte e cultura, esporte e lazer
Quando nos referimos às ações educativas
desenvolvidas com e para crianças e adolescentes,
o ECA é claro ao dispor sobre seu direito, dentre
outros, às vivências diversificadas de cultura,
lazer, esporte e arte nas suas comunidades. Essa
é também uma das recomendações do Unicef,
apontada em seus estudos sobre demandas de
políticas para adolescentes, especialmente de
baixa escolaridade e renda.
As práticas de arte, cultura, esporte e
lazer podem ser entendidas “enquanto
momentos privilegiados para a vivência de
experiências significativas, para a promoção da
convivência em grupo e comunitária, para a
construção de valores pessoais, sociais e
cognitivos, enfim para a formação humana.”
(UNICEF, 2002, p.29) Essas práticas permitem
experiências que ampliam o conhecimento das
crianças e adolescentes sobre si mesmos, os
outros e o ambiente onde vivem.
O trabalho com a arte tem a intenção
de contribuir para o desenvolvimento das
capacidades de criar e apreciar, ampliando a
participação de crianças e adolescentes na sua
realidade cultural. Dançar, cantar, desenhar,
pintar, escrever ou filmar, fazer e apreciar arte,
num contexto multicultural, é uma forma de
educar para desenvolver potenciais e permitir oexercício da sensibilidade.
As atividades artísticas em suasdiferentes linguagens favorecem a sociabilidadee preenchem necessidades de expressão etrocas culturais. Elas devem estar voltadaspara o desenvolvimento e a formação desujeitos produtores de cultura. O trabalho daarte deve ser entendido como caminho deconhecimento, de realização e, especialmente,de expressão de idéias e reflexões, de formas derepresentar e interpretar, e não como aaquisição de competências técnicas ouinstrumentais. As múltiplas linguagensartísticas podem, portanto, ser vivenciadas nabusca do desenvolvimento do senso estético, dopotencial criativo e dos sentidos.
“Sabe o homem que as emoções é que são o sal da vida. Por isso é que quando um homem quer falar aocoração do outro, o faz pela linguagem da arte.”(Miriam Celeste Martins)
Contagem / MG
90Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
As práticas esportivas, por sua vez, não objetivam formar atletas ou competidores e
sim favorecer a convivência, o desenvolvimento da consciência do corpo e de suas
possibilidades de perceber e agir sobre o ambiente. As práticas corporais “determinam
formas de interação, cooperação, autoestima, iniciativa, disciplina pessoal,” (CENPEC
2002) além de estimular o respeito mútuo e a cooperação.
É essencial entender que o exercício daprática esportiva e do jogo podem ser espaçospara construção de habilidades físicas emotoras, mas também para exercício de
convivência social, política e afetiva.
91 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
PARA DAR CERTO...
Arte, cultura, esportee lazer
• Entendimento da arte como
linguagem que expressa idéias
e reflexões.
• Entendimento da atividade física
como espaço de convivência
social, política e afetiva.
• Contribuição no
desenvolvimento do senso
estético e da criatividade de
crianças e adolescentes.
• Acesso, conhecimento e
vivência de múltiplas formas de
expressão da arte e da cultura,
esporte e lazer.
• Valorização das identidades e a
diversidade cultural.
• Vivência e expressão de
manifestações artísticas,
culturais e esportivas.
• Acessibilidade às diversificadas
experiências culturais.
• Diversidade cultural como
reconhecimento das diferenças.
Possibilidades de trabalho
• Realizar visitas a espaços e participação em eventos
culturais diversos.
• Valorizar no cotidiano as manifestações diversas
da cultura popular: músicas, festas e tradições.
• Realizar oficinas de dança, teatro, música, artes
plásticas e poesia, como espaços de reflexão, crítica
e interpretação do mundo.
• Realizar pesquisa sobre história da comunidade e
suas tradições culturais.
• Promover espaços para a prática de diferentes
modalidades esportivas.
• Realizar passeios, gincanas, torneios.
92Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
Avaliação e registros no cotidiano
A avaliação consiste no trabalho de
observar e compreender o que as crianças
fazem, quais os significados atribuídos por elas
aos elementos trabalhados e sua forma de
interagir e se expressar nas diversas situações
vivenciadas. É um processo relacionado com a
observação das crianças nos jogos,
brincadeiras, oficinas, atividades e na interação
com seus pares.
Um primeiro exercício para se pensar
em avaliação das atividades do serviço
socioeducativo é o de conhecer as crianças e
adolescentes: fatores físicos, intelectuais,
emocionais, questões ligadas ao seu
desempenho na escola, expectativas que
constroem sobre a instituição e ainda
questões relacionadas a seu universo familiar.
Esses são pontos-chave para construção das
propostas pedagógicas e para uma prática
sensível à realidade sociocultural do público
atendido. A partir disso, a observação e o
acompanhamento das atividades realizadas
pelas crianças e adolescentes, bem como a
análise dos registros produzidos por elas, são
os principais recursos de avaliação.
Vale lembrar que a avaliação nas
atividades do serviço socioeducativo não
intenciona certificar as crianças e os
adolescentes ou ainda padronizá-las com
saberes mínimos para cada idade. A avaliação
deve ser entendida como um exercício do olhar
do educador sobre os avanços e desafios de
cada criança e adolescente no seu processo de
formação integral, respeitando os tempos e
trajetórias diferenciadas de cada sujeito. As
referências para análise destes avanços e
desafios podem ser construídas a partir dos
eixos estruturantes e diretrizes apresentadas
neste documento.
Muitos registros podem ser produzidos
a partir do serviço socioeducativo: desenhos,
pinturas, textos, livros, músicas, vídeos, cds,
revistas em quadrinho, poesias, etc. Produzidos
ao longo das atividades e nas mais diferentes
circunstâncias, cada registro pode revelar a
reflexão do grupo ou do sujeito acerca do tema
pesquisado ou da situação vivida. Os registros
oportunizam ainda a divulgação do trabalho
realizado e a valorização das produções das
crianças e dos adolescentes.
A partir dessas produções, pode-se
organizar um portfólio: um conjunto de
registros que revela o percurso de reflexão e
aprendizagem e diferentes atividades
desenvolvidas ao longo um período de tempo.
Um portfólio é uma seleção de trabalhos, que
ordena evidências de aprendizagem e os coloca
num formato para serem apresentadas. Serve
também de instrumento para reflexão da
prática do educador. (GARDNER, 1994)
93 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
O educador também pode construir um
registro de sua prática pedagógica, produzindo
um diário no qual ele escreve o que planejou,
como foi executado e o que percebeu durante
as atividades realizadas, como se desenvolveram
os processos escolhidos e as interações. Esse é
um registro da prática que permite ao
educador refletir sobre o que está fazendo,
além de ser memória do percurso vivido. É, ao
mesmo tempo, um excelente instrumento de
avaliação da ação educativa e um componente
pelo qual o educador acompanha o processo
de aprendizagem e socialização das crianças e
dos adolescentes.
Cabe ressaltar ainda que a avaliação no
serviço socioeducativo deve abranger todas as
suas dimensões. Neste sentido, além de avaliar
o processo de formação das crianças e dos
adolescentes, é necessário avaliar se estão sendo
assegurados seus direitos e, especialmente,
identificar casos de trabalho infantil, violência
doméstica e exploração sexual.
A avaliação assume um papel crucial. Ela
tem a função de analisar, passo a passo, o
desenvolvimento das crianças e dos adolescentes
e de detectar suas potencialidades e áreas
possíveis de crescimento, além de perceber os
pontos de partida - cognitivo e emocional - no
sentido de ampliar suas experiências.
Não se trata de avaliar o desempenho,
medido por algum processo quantitativo, para
determinar as diferenças e os graus de
aprendizagem, a partir de objetivos definidos de
forma externa ao projeto pedagógico, sem a
participação dos interessados.
A avaliação, ao contrário, deve se
constituir em mais um momento de aprender a
analisar e de construir parâmetros e referenciais
de pesquisa e análise.
A avaliação do processo pedagógico
também deve analisar as potencialidades e
possibilidades dos educadores e dos educandos,
com o objetivo de propor e organizar atividades
sistematizadas de qualificação, estudo,
pesquisa e desenvolvimento afetivo-cognitivo,
de forma inseparável.
Neste processo, a função de avaliação é
uma atribuição fundamental dos educadores,
deles é exigida uma presença marcante na vida
das crianças e dos adolescentes.
93 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
Muitas perguntas. Muitas inquietações. Muitos desafios. No horizonte, a defesa e a busca da
garantia dos direitos das crianças e adolescentes. Esta é a meta do serviço socioeducativo.
Mas, qual é o sonho?
O sonho é que um dia não sejam mais necessárias atividades do serviço socioeducativo para
garantir o direito, porque já teremos uma sociedade na qual não mais existirá uma criança ou um
adolescente sequer em situação de vulnerabilidade social, cultural ou econômica. Este nosso sonho vem
carregado de esperanças e de certezas.
Essa luta-trabalho vai se dando na busca de uma maior qualificação de uma equipe, na
negociação cotidiana de um maior investimento físico, material, financeiro e de pessoal nas políticas de
ações sociais e educativas. Também esta luta se dá no esforço de um maior envolvimento de toda a rede
social na garantia dos direitos das crianças e adolescentes.
E nossa maior luta é na mudança de concepções acerca do que se pensa sobre as crianças e os
adolescentes. Mudanças de mentalidade e de valores nem sempre são fáceis de se alcançar. É um
processo lento e longo.
Queremos fazer surgir uma nova sociedade, em que todos, homens, mulheres, meninos, meninas,
adolescentes e jovens tenham seus direitos assegurados, quase que de forma espontânea. Em que os direitos
vão se fazendo parte intrínseca dos corações e mentes de todas as pessoas e de todas suas instituições.
Saberes da gestão é mais um livro-ferramenta, marcado e guiado pelo desejo e pelo sonho de uma
sociedade bonita assim. Que o trabalho dos coordenadores do serviço sócioeducativo seja pautado por
este sonho e pela certeza de que essa sociedade da paz, da alegria e do direito é viável.
Uma conversaque nãotem fim!
96Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
Esse é o melhor critério de avaliação de todas as atividades do serviço socioeducativo: ser o
espelho transparente dessa certeza.
A conversa não tem fim, pois muito trabalho ainda se apresenta diante de uma sociedade que,
todavia, mantém as crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, cultural e econômica.
Esse livro chegou quase na página final. Que ele possa provocar muita conversa, inúmeros
diálogos, que traga mais dúvidas e, principalmente, excelentes idéias, projetos, vontades e sonhos.
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102Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)
103Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes
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