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Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

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Page 1: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

Saberesda gestão:o trabalhosocioeducativocom criançase adolescentes

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Saberesda gestão:o trabalhosocioeducativocom criançase adolescentes

Instituto da Criança edo Adolescente – ICA(Org.)

Belo Horizonte – 2009

Page 4: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

Pontifícia Universidade Católica de Minas GeraisPontifícia Universidade Católica de Minas GeraisPontifícia Universidade Católica de Minas GeraisPontifícia Universidade Católica de Minas GeraisPontifícia Universidade Católica de Minas GeraisGrão-chanceler da PUC Minas: Dom Walmor Oliveira de AzevedoReitor: Dom Joaquim Giovani Mol GuimarãesVice-Reitora: Profa. Patrícia Bernardes

Pró Reitoria de ExtensãoPró Reitoria de ExtensãoPró Reitoria de ExtensãoPró Reitoria de ExtensãoPró Reitoria de ExtensãoPró-Reitor de Extensão: Wanderley Chieppe Felippe

Instituto da Criança e do Adolescente – ICAInstituto da Criança e do Adolescente – ICAInstituto da Criança e do Adolescente – ICAInstituto da Criança e do Adolescente – ICAInstituto da Criança e do Adolescente – ICADiretora: Profa. Rita de Cássia Fazzi

Editora PUC MinasEditora PUC MinasEditora PUC MinasEditora PUC MinasEditora PUC MinasPró-Reitor de Pesquisa e de Pós-graduação: João Francisco de AbreuCoordenação editorial: Cláudia Teles de Meneses Teixeira

Pesquisa e redaçãoPesquisa e redaçãoPesquisa e redaçãoPesquisa e redaçãoPesquisa e redaçãoJosé Luiz FazziLevindo Diniz Carvalho

I lus t raçãoI lus t raçãoI lus t raçãoI lus t raçãoI lus t raçãoRômulo Geraldo Garcias

Projeto gráficoProjeto gráficoProjeto gráficoProjeto gráficoProjeto gráficoFernando Silveira Sabino

Rev isãoRev isãoRev isãoRev isãoRev isãoEv’Ângela Batista Rodrigues de Barros

Apoio técnicoApoio técnicoApoio técnicoApoio técnicoApoio técnicoMarco Antônio Couto Marinho

Apoio administrativoApoio administrativoApoio administrativoApoio administrativoApoio administrativoDerik de Almeida Maximiano

Estagiár iosEstagiár iosEstagiár iosEstagiár iosEstagiár iosAndréia Antônia de JesusKyra Martins VargasLaura Oliveira AlbertiMarina Rodrigues SiqueiraNathália Silva Barbosa

As imagens utilizadas neste livro foram enviadas pelos coordenadores doserviço socioeducativo e autorizadas pelas famílias das crianças e dosadolescentes e por todos que nelas aparecem.

Editora PUC MinasEditora PUC MinasEditora PUC MinasEditora PUC MinasEditora PUC Minas

Rua Pe. Pedro Evangelista, 377 – Coração Eucarístico

30535-490 – Belo Horizonte – Minas Gerais – Brasil

Tel.: (31) 3319 9904 – Fax: (31) 3319 9907

e-mail: [email protected] – www.pucminas.br/editora

Organ ização :Organ ização :Organ ização :Organ ização :Organ ização :Instituto da Criança e do Adolescente – ICA/ProexConselho Técnico:(Gestão 2008 / 2º semestre)Rita de Cássia Fazzi (Diretora)Almir de Oliveira JuniorDaniela Soares HatemGilmar RochaMaria José Gontijo SalumSânia Maria Campos

Contrato entre Sociedade Mineira de Cultura, através da PUC Minascom interveniência do Instituto da Criança e do Adolescente, e o Governo doEstado de Minas Gerais, através da Secretaria de Estado de DesenvolvimentoSocial – Sedese.

Governo do Estado de Minas GeraisGoverno do Estado de Minas GeraisGoverno do Estado de Minas GeraisGoverno do Estado de Minas GeraisGoverno do Estado de Minas GeraisGovernador: Aécio Neves da Cunha

Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social – SSecretaria de Estado de Desenvolvimento Social – SSecretaria de Estado de Desenvolvimento Social – SSecretaria de Estado de Desenvolvimento Social – SSecretaria de Estado de Desenvolvimento Social – SedeseedeseedeseedeseedeseSecretário: Agostinho Patrús FilhoSecretário Adjunto: Juliano Fisicaro Borges

Coordenadoria Especial da Política Pró-Criança e AdolescenteCoordenadoria Especial da Política Pró-Criança e AdolescenteCoordenadoria Especial da Política Pró-Criança e AdolescenteCoordenadoria Especial da Política Pró-Criança e AdolescenteCoordenadoria Especial da Política Pró-Criança e AdolescenteCoordenadora: Fernanda Flaviana de Souza Martins

Superintendência de Planos e Projetos EspeciaisSuperintendência de Planos e Projetos EspeciaisSuperintendência de Planos e Projetos EspeciaisSuperintendência de Planos e Projetos EspeciaisSuperintendência de Planos e Projetos EspeciaisSuperintendente: Eliana Benício Siqueira

Diretoria de Promoção da Criança e do AdolescenteDiretoria de Promoção da Criança e do AdolescenteDiretoria de Promoção da Criança e do AdolescenteDiretoria de Promoção da Criança e do AdolescenteDiretoria de Promoção da Criança e do AdolescenteDiretora: Maria Helena de Almeida

Assessoria de Planos e Projetos EspeciaisAssessoria de Planos e Projetos EspeciaisAssessoria de Planos e Projetos EspeciaisAssessoria de Planos e Projetos EspeciaisAssessoria de Planos e Projetos EspeciaisAssessora: Maria de Fátima Silva Prados

Assessor TécnicoAssessor TécnicoAssessor TécnicoAssessor TécnicoAssessor TécnicoMurilo Tadeu Moreira e Silva

Equipe técnica:Equipe técnica:Equipe técnica:Equipe técnica:Equipe técnica:Letícia Mello de Andrade, Luciana Delfim de Oliveira, Rosana Cristina daCosta, Sérgio Luiz Pires, Solange Aparecida Santos, Wilson Pereira da Silva,Simone Franca Cavalcani, Edlene Viana da Fonseca Santos, Maria das GraçasPereira, Ivani de Oliveira Reis, Gilda Fontes Nicolai

Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Pró-Reitoria de Extensão.Instituto da Criança e do Adolescente.

P816s Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes / Institutoda Criança e do Adolescente, Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social. BeloHorizonte: Editora PUC Minas, 2009.

104p.: il.

ISBN 978-85-60778-40-9

1. Direito das crianças. 2. Adolescentes. 3. Educação de crianças. 4. Política familiar.5. Educadores – Formação. 6. Assistência Social. I. Instituto da Criança e do Adolescente.II. Minas Gerais. Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Esportes. III. Título.

CDU: 362.748

(Gestão 2009 / 1º semestre)Rita de Cássia Fazzi (Diretora)Carlos Wagner Costa MachadoDaniela Soares HatemGilmar RochaMaria José Gontijo SalumSânia Maria Campos

Page 5: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

Apresentação – Sedese .............................................................................................................................................................. 7

Apresentação – ICA/Proex ........................................................................................................................................................ 9

Capítulo 1

Os serviços socioeducativos no âmbito da Assistência Social ............................................................................... 13

Capítulo 2

Crianças, adolescentes e serviço socioeducativo ......................................................................................................... 25

Relatando uma experiência:

Alegria, liberdade e movimento em meio à natureza .................................................................................... 30

Relatando uma experiência:

Sociabilidade on-line: experiências de jovens em Nova Contagem ......................................................... 33

Capítulo 3

Os desafios do coordenador ................................................................................................................................................. 37

Primeiro desafio: O trabalho em rede ................................................................................................................. 39

Segundo desafio: Participação da família e da comunidade na construção

da experiência educativa ................................................................................................... 42

Terceiro desafio: Parceria com a escola .............................................................................................................. 44

Quarto desafio: A equipe de trabalho e a sua formação ........................................................................... 46

Sumário

Page 6: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

Capítulo 4

Planejar: uma vivência de valores ....................................................................................................................................... 51

O que é a ação de planejar e gerir? ..................................................................................................................... 55

Como planejar? ............................................................................................................................................................. 59

Capítulo 5

O cotidiano do serviço socioeducativo .............................................................................................................................. 71

Organização dos espaços, dos tempos e dos grupos ................................................................................... 74

Espaço de aprendizagens ......................................................................................................................................... 79

Trabalho por projetos. ................................................................................................................................................ 82

Dever de casa ................................................................................................................................................................ 85

Socialização e brincar ................................................................................................................................................ 87

Arte e cultura, esporte e lazer ................................................................................................................................ 89

Avaliação e registros no cotidiano ....................................................................................................................... 92

Uma conversa que não tem fim! ........................................................................................................................................ 95

Referências .................................................................................................................................................................................. 97

Page 7: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

O presente documento tem por finalidade fornecer subsídios teórico-práticos para coordenadores,

técnicos e demais educadores do Sistema de Garantia dos Direitos de Crianças e Adolescentes envolvidos

no serviço socioeducativo, na perspectiva do Estatuto da Criança e do Adolescente, da Lei Orgânica da

Assistência Social e do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e

Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária.

A parceria entre a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social, por meio da Coordenadoria

Especial da Política Pró-Criança e Adolescente e a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,

através do Instituto da Criança e do Adolescente/Proex, resultou nesta ferramenta, que objetiva

potencializar as ações sociais e educativas na perspectiva do atendimento aos direitos de crianças e

adolescentes ao esporte, ao lazer, à cultura, ao lúdico e às atividades que visam reforçar a aquisição dos

conteúdos curriculares da escola comum.

O esforço empreendido certamente resultará em maior qualidade do serviço socioeducativo, além

de torná-lo importante retaguarda para a socialização de crianças e adolescentes, reforçando seus

vínculos familiares e comunitários.

Esta iniciativa, com fundamentação na legislação, nos conhecimentos acumulados e no

patrimônio de experiências nessa área, busca dar uma orientação àqueles que irão conduzir e

desenvolver, com esse segmento, atividades que buscam complementar a educação escolar, num esforço

para que crianças, adolescentes, famílias e comunidades possam construir e reconstruir seus

conhecimentos, sua história e cidadania.

Para trabalhar o cotidiano de uma unidade de socialização, não podemos perder de vista nossa

história, a fim de podermos vislumbrar nosso futuro no horizonte. Os programas de socialização hoje

em funcionamento foram inspirados em experiências inovadoras dos anos de 1980, cujos exemplos mais

significativos podem ser resgatados da memória pelo Projeto Recriança da Secretaria Municipal de

ApresentaçãoSedeseAgostinho Patrús FilhoSecretário de Desenvolvimento Social – Sedese

Fernanda Flaviana de Souza MartinsCoordenadora Especial de Políticas Pró-Criança

Page 8: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

8Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

Educação de Belo Horizonte; pelos Centros Integrados de Atendimento ao Menor de Minas Gerais

(Ciame – que funcionam ainda hoje); as frentes de trabalho Turma da Rua, Casa Aberta, Enturmando,

Clube da Turma.

Herdeiro dessas valiosas experiências e das conquistas no campo dos direitos consubstanciados

pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – o Programa Curumim, criado em 1991 pelo Governo de

Minas, consolidou e unificou as estratégias exitosas de oportunizar, às crianças e aos adolescentes em

situação de vulnerabilidade, atividades lúdicas, esportivas, recreativas, culturais, artísticas e alimentação.

Esse Programa, perenizado até os dias de hoje, reafirma a importância da socialização como lugar

privilegiado para brincar, jogar, praticar esportes e, por que não, estudar também.

Esperamos que o texto produzido com clareza e objetividade seja revigorado pela prática

determinada de cada um e pelo compromisso de todos com a defesa, garantia e proteção dos

direitos de crianças e adolescentes, por meio de práticas sociais e educativas emancipadoras e

promotoras da cidadania.

Acreditamos que a atuação de uma equipe orientada do ponto de vista teórico e técnico será

fator determinante para a qualidade do trabalho social e educativo.

Page 9: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

O livro que ora apresentamos é fruto da parceria estabelecida entre a Secretaria de Estado de

Desenvolvimento Social (Sedese), por meio da Coordenadoria Especial da Política Pró-Criança e

Adolescente, e a Sociedade Mineira de Cultura, através da Pontifícia Universidade Católica de Minas

Gerais, com interveniência do Instituto da Criança e do Adolescente (ICA), núcleo temático vinculado à

Pró-Reitoria de Extensão.

Esta publicação realiza uma das finalidades do ICA que é a de subsidiar instituições da sociedade

civil e do poder público na formulação, operacionalização e avaliação de políticas relativas às crianças e

aos adolescentes.

O livro pretende ser um instrumento de trabalho de todos aqueles envolvidos com a gestão dos

serviços socioeducativos, não se constituindo num receituário de atividades prontas e acabadas. É um

convite à criatividade no esforço de garantir os direitos de crianças e adolescentes, tais como

preconizados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e pela Lei Orgânica da Assistência Social

(Loas), e a uma reflexão sobre a concepção educativa que deve orientar todo o trabalho realizado com

o público desses serviços, tendo como fundamento o processo de construção de cidadãos e de uma

sociedade democrática.

A elaboração de Saberes da gestão envolveu um diálogo com a equipe técnica da Sedese, com os

coordenadores de serviço socioeducativo de alguns municípios de Minas Gerais, por meio da realização

de um encontro na PUC, centrado no debate sobre os desafios do trabalho socioeducativo com crianças

e adolescentes, e da sistematização das respostas a um questionário enviado para todos os

coordenadores e, às vezes, gestores, desses serviços. Contatos telefônicos foram também feitos com o

objetivo de solicitar do serviço socioeducativo materiais como planos de trabalho, fotografias, relatórios

e outros documentos que pudessem subsidiar a organização do conteúdo a ser publicado.

ApresentaçãoICA/ProexRita de Cássia FazziDiretora do ICA/Proex

Page 10: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

10Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

O livro está estruturado em cinco capítulos. No primeiro capítulo, discutem-se as principais

dimensões dos serviços socioeducativos enquanto espaços de formação integral e de exercício da

cidadania, destacando-se alguns parâmetros da Política Nacional de Assistência Social. O segundo

capítulo enfatiza a necessidade de conhecermos as múltiplas realidades vivenciadas por crianças e

adolescentes com as quais trabalhamos e de concebê-los como sujeitos de direitos. O terceiro capítulo

apresenta os desafios relacionados à gestão dos serviços socioeducativos, que envolvem o trabalho

em rede, a participação das famílias, a equipe e sua formação continuada. A experiência e a

importância de planejar as atividades do serviço socioeducativo são os temas do quarto capítulo, que

ressalta que a dinâmica do planejamento deve ser democrática e participativa. O cotidiano do

trabalho socioeducativo é o conteúdo do último capítulo, que aborda as diferentes facetas desse

trabalho, incluindo o monitoramento e a avaliação do processo vivenciado. Por fim, reiteramos nossa

intenção de contribuir para o surgimento de uma sociedade na qual todos tenham seus direitos de

cidadania respeitados.

Acreditamos que esse sonho vá se concretizando na forma de se conceber e de estruturar os

serviços socioeducativos em cada município do Brasil, e, em particular, de Minas Gerais. O ICA espera

que esse livro transforme-se numa ferramenta de trabalho e de reflexão capaz de favorecer a efetivação

de uma política pública garantidora dos direitos das crianças e dos adolescentes.

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Page 12: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e
Page 13: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

Os serviçossocioeducativosno âmbito daAssistênciaSocial

1

Page 14: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

“Oferecer às crianças e adolescentes trabalhadores a oportunidade de serem verdadeiramente

crianças e adolescentes, participando de ações socioeducativas e de convivência (...).”Raquel Andreza de Jesus Siqueira (Coordenadora, Pedro Leopoldo)

“Atender crianças de 6 a 14 anos, facilitando a

promoção e inserção social, através do esporte,

arte, cultura, recreação e apoio ao

desenvolvimento escolar; desenvolver e resgatar

valores, tais como cooperação, tolerância e

solidariedade; apoiar a integração e

desenvolvimento sociofamiliar; ajudar para o

desenvolvimento de uma convivência cooperativa

e participativa; apoiar no desenvolvimento físico

e mental dos educandos.“Ana Paula Camargos Almeida (Administradora de

Núcleo, Contagem)

“Temos como objetivos o combate à evasão

escolar, o fortalecimento dos vínculos socioafetivos

e familiares, a autoestima dos assistidos.”Valdiney Gonçalves de Quadros (Coordenador e

assistente social, Malacacheta)

Pedro Leopoldo

Contagem

Malacacheta

Januária

Muriaé

Belo Horizonte

Carmo do Paranaíba

Page 15: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

“Atender crianças e adolescentes de 6 a 17

anos e meio, em situação de risco pessoal e

social, em horário complementar à escola,

contribuindo para sua socialização em ações

que favoreçam a sua permanência na família

e na escola formal.”Gilmar Freire Ferreira (Coordenador em ações como

planejamento, programações, reuniões, Belo Horizonte)

“Manter as crianças longe dos perigos da rua, apoiar as famílias para que elas possam trabalhar

fora, melhorar o rendimento escolar, dar oportunidade a essas crianças de terem um futuro

melhor. Esses objetivos estão sendo alcançados através das atividades, desenvolvidas nas

entidades, como: esportes, lazer, reforço escolar, através de atividades lúdicas, pintura e uma

alimentação saudável.”Vera Lucia Vargas Braga (Coordenadora, Carmo do Paranaíba)

“Contribuir para a erradicação de todas as formas de trabalho infantil, atendendo famílias cujas

crianças e adolescentes com idade inferior a 16 anos se encontrem em situação de trabalho.

O programa está inserido em um processo de resgate da cidadania e promoção de direitos de

seus usuários, bem como de inclusão social de suas famílias.”Marília Beatriz de Castro Ramos (Coordenadora do Programa, Januária)

“Implantar ações e desenvolver, com

crianças e adolescentes, atividades

capazes de promover o protagonismo

juvenil e a conscientização cidadã,

além de favorecer a melhoria da

qualidade de vida.”Grazielle C. Santos Fortini (Assessoria

Técnica, Muriaé)

Page 16: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

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Art. 4º. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com

absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao

esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar

e comunitária.

Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:

a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;

b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;

c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;

d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e

à juventude.

Art. 5º. Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência,

discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por

ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.

Contagem / MG

Page 17: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

17 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

Em todo o estado de Minas Gerais e em

todo o Brasil, são desenvolvidas atividades

socioeducativas com crianças e adolescentes.

Estas atividades, conforme a Política Nacional

de Assistência Social, são destinadas “à

população que vive em situação de

vulnerabilidade social, decorrente da pobreza,

ou privação (ausência de renda, precário ou

nulo acesso aos serviços públicos, dentre

outros), e/ou fragilização dos vínculos afetivos

– relacionais e de pertencimento social”.

No âmbito da Política Nacional de

Assistência Social, essas ações são desenvolvidas

como parte integrante do Suas, Sistema Único da

Assistência Social, como serviço socioeducativo

para crianças e adolescentes.

O serviço socioeducativo contempla

educação e proteção social de crianças e de

adolescentes em situação de vulnerabilidade,

ocorre no período alternado ao da escola, e

tem como objetivo contribuir em sua formação

integral para a cidadania.

Segundo Maria do Carmo Brant, as

ações, projetos ou programas socioeducativos

voltados às crianças e aos adolescentes

vulnerabilizados pela pobreza, surgiram no

Brasil por iniciativa da sociedade civil, são um

bem público comunitário e se constituem em

um capital social das próprias comunidades.

Mas o que é o serviçosocioeducativo? Quais seus

objetivos? Qual sua importância como

espaço de garantia de direitos e

formação de crianças e adolescentes?

O Suas, Sistema Único deAssistência Social, constitui-se na

regulação e organização em todo o

território nacional dos serviços,

programas, projetos e benefícios

socioassistenciais, de caráter continuado

ou eventual, executados e providos por

pessoas jurídicas de direito público, sob

critério universal e lógica de ação em

rede hierarquizada e em articulação

com iniciativas da sociedade civil. Além

disso, o Suas define e organiza os

elementos essenciais e imprescindíveis à

execução da política pública de

assistência social, possibilitando a

normatização dos padrões nos serviços,

qualidade no atendimento aos usuários,

indicadores de avaliação e resultado,

nomenclatura dos serviços e da rede

prestadora de serviços socioassistenciais.

Page 18: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

18Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

O Suas está sendo implementado por

meio de uma nova lógica de organização da

gestão de Política de Assistência Social, com

a definição de níveis de complexidade do

sistema: Proteção Social Especial (PSE) e

Proteção Social Básica (PSB).

Proteção Social Especial

A Proteção Social Especial (PSE) do

Sistema Único de Assistência Social é

destinada a famílias e indivíduos que se

encontram em situação de risco pessoal e

social, por ocorrência de abandono, maus

tratos físicos e/ou psíquicos, abuso sexual, uso

de substâncias psicoativas, cumprimento de

medidas socioeducativas, situação de rua,

situação de trabalho infantil, entre outras

situações de violação dos direitos. Os serviços

de proteção social especial têm estreita

interface com o sistema de garantia de direito,

exigindo, muitas vezes, uma gestão mais

complexa e compartilhada com o Poder

Judiciário, o Ministério Público e com outros

órgãos e ações do Executivo.

A Proteção Social Básica prevê o

desenvolvimento de serviços, programas e

projetos locais de acolhimento, convivência e

socialização de famílias e de indivíduos,

conforme identificação da situação de

vulnerabilidade apresentada.

O que configura a Proteção Social

Básica nos municípios e no Distrito Federal é a

existência dos Centros de Referência de

Assistência Social (Cras).

Proteção Social Básica

A prevenção de situações de risco – por

intermédio do desenvolvimento de potencialidades

e aquisições – e o fortalecimento de vínculos

familiares e comunitários são os objetivos da

Proteção Social Básica. Esse nível de proteção é

destinado à população que vive em situação de

vulnerabilidade social decorrente da pobreza,

privação (ausência de renda, precário ou nulo

acesso aos serviços públicos, dentre outros) e/

ou fragilização de vínculos afetivo-relacionais

e de pertencimento social (discriminações

etárias, étnicas, de gênero ou por deficiências,

dentre outras).

Page 19: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

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Mas o que é o Cras?O Centro de Referência de Assistência Social – Cras, também conhecido como

Casa das Famílias, é:

I. A unidade pública estatal responsável pela oferta de serviços continuados de

proteção social básica de assistência social às famílias e indivíduos em situação

de vulnerabilidade social;

II. A unidade efetivadora da referência e contrarreferência do usuário na rede

socioassistencial do Sistema Único de Assistência Social (Suas) e unidade de

referência para os serviços das demais políticas públicas;

III. A “porta de entrada” dos usuários à rede de proteção social básica do Suas.

No Cras são oferecidos os seguintes serviços e ações:

I. Apoio às famílias e aos indivíduos na garantia dos seus direitos de cidadania,

com ênfase no direito à convivência familiar e comunitária;

II. Serviços continuados de acompanhamento social às famílias ou seus

representantes;

III. Proteção social pró-ativa, visitando as famílias que estejam em situações de

quase risco;

IV. Acolhida para recepção, escuta, orientação e referência.

Fonte: Guia de orientação Técnica – Proteção Social Básica.

19 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

Page 20: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

20Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

O serviço socioeducativo se constitui em

uma das ações desenvolvidas no Cras – Centro

de Referência da Assistência Social, atendendo

famílias de seu território de abrangência.

O serviço socioeducativo inclui e

privilegia o processo de formação humana

que ultrapassa a aprendizagem de conteúdos

escolares (a que costumamos chamar matérias

ou disciplinas), considerando, incorporando e

integrando as várias dimensões do

desenvolvimento humano. Pauta-se, no

cumprimento dos direitos das crianças e dos

adolescentes e em sua formação para a

cidadania, numa concepção que faz do

brincar, das práticas esportivas, da experiência

lúdica, da vivência artística uma forma

privilegiada de expressão, de pensamento, de

interação e aprendizagem.

Podemos dizer que esse serviço tem

como objetivo dar proteção e garantia de

direitos e formação. A dimensão educacional e

o exercício da cidadania ocupam lugar

importante na Política de Assistência Social e

podem ser considerados como mais uma

forma de promoção social, pois o processo

pedagógico do serviço socioeducativo possui

características próprias que o diferem do

modelo escolar.

Socioeducativo é tomado como qualificador, designando um campo de

aprendizagem voltado para a convivência grupal e a participação na vida pública,

entendendo esse campo como privilegiado para tratar de forma intencional valores

éticos, estéticos e políticos. (Maria do Carmo Brant Carvalho)

Page 21: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

21 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

Considerando os poucos serviços e

oportunidades destinados à proteção, educação e

lazer de crianças e adolescentes, pode-se dizer

ainda que o serviço socioeducativo busca diminuir

a distância que existe entre o marco legal, o ECA –

Estatuto da Criança e do Adolescente – e a

realidade social, configurando-se como um serviço

público básico de garantia de direitos e de exercício

de cidadania para o público infanto-juvenil em

condição de vulnerabilidade e fragilização de

vínculos afetivos. Neste sentido, a Política Nacional

de Assistência Social afirma ainda:

Devem ser oferecidos espaços e profissionais, responsáveis pelas

crianças e adolescentes, durante o período de permanência nas

atividades, de forma a favorecer o desenvolvimento de relações de

afetividade, a sociabilidade e a convivência em grupo e inter-

geracional; o acesso a conhecimentos e a possibilidades de construção

crítica do seu próprio conhecimento; o reconhecimento, o apoio e a

oportunidade de troca entre as diversas realidades por meio de

atividades lúdicas e a viabilização do acesso às diversas manifestações

culturais e esportivas.

Fonte: Guia de orientação Técnica – Proteção Social Básica.

Page 22: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

A Política Nacional de Assistência

Social pauta-se no Estatuto da Criança e do

Adolescente, reconhecendo que crianças e

adolescentes são sujeitos de direitos.

É dever de toda a sociedade, do poder

público e da família, zelar pela garantia desses

direitos. O serviço socioeducativo converge com

objetivos da educação formal, da família e de

outras instâncias de atendimento na busca da

garantia desses direitos.

“(...) Nos deparamos a cada dia com histórias comoventes e tristes, como por

exemplo, crianças agressivas, carentes, que têm ou já tiveram envolvimento

com o tráfico de drogas, que muitas vezes não têm nada pra comer, o mais

difícil é ir a casa de uma destas crianças e presenciar a pobreza (...), o que

torna difícil o nosso trabalho.”Pollyanna Alves Gomes (Coordenadora Pedagógica, Santa Luzia)

A promulgação do Estatuto daCriança e Adolescente em 1990

assegura a todas as crianças e aos

adolescentes “direitos referentes à vida,

à saúde, à alimentação, à educação, ao

esporte, ao lazer, à profissionalização, à

cultura, à dignidade, ao respeito, à

liberdade e à convivência familiar e

comunitária”. (Art. 4)

O serviço socioeducativo no âmbito daAssistência Social deve ser compreendido comouma política de defesa dos direitos que buscasuperar a exclusão social. Essa política deve serbaseada no exercício da cidadania e não emdoações ou tutela; pode-se buscar a emancipaçãoe o reconhecimento das crianças, adolescentese famílias como detentores de direitos epotenciais agentes de mudança.

O serviço socioeducativo é espaço deformação integral e exercício da cidadania.Essas dimensões se desenvolvem com base nasseguintes idéias:

22Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

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1 Unescoea educaçãono séculoXXI. Osquatropilares da educação, 1996. In: FERREIRANETO,Augusto.Propostapedagógicadaescolacomunitária. 2. ed. BeloHorizonte: CNEC [ s.d.]. p. 33-45.

23 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

Formação integral e exercício da cidadania

Proteção social

Crianças e adolescentes são diretamente afetados pelas condições de desigualdade, pobreza e privação de direitos.

Neste sentido, a formação para a cidadania na infância e na adolescência deve estar ligada à dimensão da proteção

social: crianças e adolescentes devem ser protegidos da violência, da exploração do trabalho e da exploração sexual.

Convivência familiar

A família deve ser um grupo de proteção

e formação das crianças e dos adolescentes;

portanto, contribuir para o fortalecimento de

seus vínculos familiares é uma forma de

construir e fortalecer a cidadania.

Identidade e autonomia

Crianças e adolescentes são sujeitos em

condição peculiar de desenvolvimento. Uma

formação para a cidadania reconhece cada ciclo

de vida, suas peculiaridades e suas necessidades

de proteção, socialização, aprendizagem, e ainda

valoriza a identidade cultural e étnica e de gênero

de cada sujeito. A educação para a autonomia

implica a formação de sujeitos para aprender a

conhecer, fazer, conviver e ser em liberdade1 , com

capacidade de autorreflexão e determinação para

compreender, analisar e avaliar o vivido,

escolhendo e agindo conscientemente diante de

diferentes cursos de ação possíveis.

Protagonismo e participação

A formação integral e o exercício da

cidadania também se dão na medida em que as

crianças e os adolescentes participam dos

processos de pesquisa e aprendizagem, vivenciam

a convivência com o coletivo, tomam decisões, são

responsáveis por tarefas, implicam-se com a

organização do espaço e do tempo da instituição,

ou seja, são percebidos e tratados como sujeitos

protagonistas. Neste processo, eles constroem

capacidades, habilidades e competências a partir de

suas reais necessidades e de seu posicionamento

crítico e reflexivo.

Formação humana

A ideia de formação humana vincula a

experiência educativa à realidade dos sujeitos e

aos seus desafios, e ainda à construção do

olhar desse sujeito sobre o mundo em que vive.

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Page 25: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

Crianças,adolescentese serviçosocioeducativo2

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Art. 6º. Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as

exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do

adolescente como pessoas em desenvolvimento.

Nepomuceno / MG

Page 27: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

27 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

O serviço socioeducativo com crianças e

adolescentes requer uma formação especial. A

compreensão de sua realidade, de suas

imagens e representações e da comunidade a

que pertencem é fundamental para os

responsáveis pela execução dos serviços

socioeducativos desenvolvidos nas várias

cidades de Minas Gerais e do Brasil.

A elaboração de um plano de trabalho

adequado às crianças e aos adolescentes, que

vivem em múltiplas realidades e culturas, passa,

necessariamente por uma profunda

compreensão dessas realidades e de seus

sujeitos – crianças e adolescentes. É necessário

avançar para um conhecimento mais próximo

das condições reais de vida das crianças e dos

adolescentes.

O reconhecimento de que ser criança ou

adolescente é diferente de ser adulto, ou seja, a

idéia de que a infância e a adolescência são

ciclos da vida específicos e singulares foi

historicamente construída.

Hoje há um conjunto de representações

sociais sobre a criança e o adolescente, que os

compreende como atores sociais. Essa idéia

nos coloca em oposição a uma concepção de

infância ou adolescência consideradas como

Apesar de sempre ter havido crianças

e adolescentes, nem sempre houve a idéia

da “infância” e da “adolescência”.

simples objetos passivos de uma socialização,

orientada por instituições ou agentes sociais,

uma folha em branco em que nós adultos

poderíamos escrever o que quiséssemos.

O serviço socioeducativo deve ser

implementado a partir do entendimento da

criança e do adolescente na centralidade do

processo educativo, sendo considerados em si

mesmos, no presente e não no seu futuro

como adultos, a partir da sua própria voz e do

seu entendimento como sujeitos.

Crianças e adolescentes vivem e

elaboram suas situações de vida, suas

experiências e suas formas de sociabilidade.

As condições sociais, culturais (étnicas,

identidades, valores, religiosidade), de gênero e

o lugar vivido (regiões geográficas) configuram

diversidades na situação e experiência da

infância e da adolescência.

Os aspectos históricos e estruturais

configuram diferentes infâncias e adolescências.

É muito diferente ser criança ou adolescente

num tempo ou noutro, num lugar ou noutro,

em um grupo ou noutro, em uma família ou

É importante rompermos com

concepções tradicionais dominantes

acerca das crianças e dos adolescentes,

que os definem como seres irresponsáveis,

imaturos, incompetentes.

Page 28: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

28Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

em outra. Neste sentido, diferentes crianças e

adolescentes, embora tenham traços comuns,

características recorrentes peculiares ao ciclo

da vida, possuem identidades próprias ou

múltiplas identidades construídas a partir de

suas interações sociais.

Uma imagem de criança na escola ou na rua, nos limites da

sobrevivência ou na violência e até no tráfico pode ser um gesto

trágico, frente ao qual não cabem nem políticas sociais compassivas

nem didáticas neutras. E menos, ainda, autoritárias posturas de

condenação. Diante da barbárie com que a infância e a adolescência

populares são tratadas, o primeiro gesto deveria ser ver nelas a

imagem da barbárie social. A infância revela os limites para sermos

humanos em uma economia que se tornou inumana. (Miguel Arroyo)

Page 29: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

29 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

As crianças e os adolescentes, público

do serviço socioeducativo, estão em condição

de vulnerabilidade e/ou privação de direitos.

Sua realidade não pode ser apartada do

contexto global das sociedades contemporâneas,

pois muitos problemas que afetam crianças e

adolescentes atravessam a totalidade das

estruturas e das relações sociais.

O modo como vemos e pensamos a

criança ou o adolescente interfere no modo

como nos relacionamos com eles. Crianças e

adolescentes são sujeitos sociais dotados de

pensamento reflexivo e crítico, daí a

relevância que se pretende atribuir às suas

ações como prova de si e do que são como

seres inteligentes, socialmente competentes e

com capacidades de realização.

É necessário romper com a visão

de que as crianças e adolescentes são

problemas, e ainda reconhecer a

situação estrutural, o contexto de

violação dos direitos, as precárias

condições de vida e de sociabilidade de

muitas crianças e adolescentes.

O serviço socioeducativo só terá

sentido se for realizado com o claro

objetivo de garantir os direitos das

crianças e adolescentes. Um enorme

desafio dos coordenadores é construir

um olhar sensível dos sujeitos com os

quais trabalham e criar oportunidades

para que eles se desenvolvam em todas

suas dimensões físicas, afetivas,

cognitivas e sociais.

Os relatos que seguem ilustram como

crianças e adolescentes se relacionam com

seus universos sociais. Estes relatos nos ajudam

a perceber como precisamos conhecer mais as

crianças e adolescentes com os quais trabalhamos

e enxergar neles não só o que lhes falta, mas

também suas potencialidades, sonhos,

capacidades, interesses e saberes.

Page 30: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

Uma árvore se adapta ao clima, ao terreno, aos ventos do lugar onde foi plantada. Uma

mesma espécie tem formas variadas de tamanho, espessura e textura de caule, fruto, folhas, em

função do ambiente em que está. Contudo, a flor, como um elemento essencial de identidade e de

possibilidade de perpetuação da espécie, nunca se altera.

Na Cultura da Criança, o que corresponde à Flor, universal e inalterável, é o Movimento. De

uma época para a outra, de um continente para o outro, nomes, melodias, ritmos e regras de

brinquedos e brincadeiras mudam, ao ganharem aspectos das culturas locais, mas o gesto, o

Movimento dos meninos e meninas quando brincam permanece intocado.

O desenho da amarelinha no chão

se altera infinitas vezes quantos forem

novos os lugares, mas o gesto de atirar a

pedra e saltar em busca do equilíbrio

é universal.

Três Marias, Cinco pedrinhas, Baliza,

Belisca: as regras e os nomes são muitos...

mas o Gesto nos permite saber, por

experiência própria, do que se trata!

Tão importante para a Criança,

quanto cumprir os movimentos contidos

nos brinquedos e brincadeiras, será brincar

em meio à Natureza. Os Meninos e

Meninas do mundo, quando podem, tecem

uma relação espontânea com a natureza

Alegria, liberdade e movimento emmeio à natureza

RELATANDO UMA EXPERIÊNCIA

Roque Soares

Pesquisador e brincante, Roquinho atua em projetos decultura e educação na formação de educadores e comcrianças, buscando valorizar a cultura infantil e construirum olhar sensível à prática da brincadeira

Page 31: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

do lugar onde vivem. Desse contato direto e livre floresce, ainda na infância, uma consciência

íntima e singular sobre o seu lugar e a natureza à sua volta. Dessa interação surge um acervo

maravilhoso de brinquedos e brincadeiras e, em cada um deles, um sinal do Movimento, da alegria

e liberdade elementares ao espírito humano.

Meninos e Meninas avançam no

sentido de serem adultos amparados

pela natureza do seu Lugar e , mais

tarde, será possível sabê-lo parte de si e

conhecer-se nele.

Amá-los, preservá-los, transformá-

los (o lugar e a natureza) será uma atitude

espontânea de Amor.

Em Abadia, comunidade rural de

Carbonita, Alto Jequitinhonha, as crianças

me tomam pela mão e me levam para

conhecer um “brinquedo”:

“Fecha porta” Mariquinha que boi “evem”; dizem, e, com um leve toque, veem as folhinhas

se fecharem.

Depois me mostram outras “Dormideiras”... Descobri com eles e com muitos outros

Meninos e Meninas que existe uma diversidade incrível delas, com flores e folhas singulares e que

elas povoam a memória e o imaginário de pessoas de todo o Brasil.

Agora que somos adultos, pais, mães, educadores, quase não nos lembramos mais qual

era a razão e o sentimento para tocar de leve nas folhas das “Fecha Porta Mariquinhas”...

Adormecida com esse sentimento, também está parte da nossa capacidade de reconhecer em

Page 32: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

“coisas” singelas a inspiração essencial para iluminar nossa prática de educador. Contudo, a

qualquer tempo que desejarmos, a criança que fomos poderá nos relembrar os caminhos e os

motivos para buscarmos uma ação e uma escola com amplos quintais, que acolha a natureza da

infância com Liberdade, Movimento e Alegria...

Termos sido crianças e trazermos conosco o registro da linguagem e sentimento

original desse tempo é o que melhor nos qualifica para uma prática que compreenda

verdadeiramente as crianças e que possa ser compreendida por elas.

Page 33: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

Sociabilidade on-line: experiênciasde jovens em Nova Contagem

Os homens estão cá fora, estão na rua.A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.Mas também a rua não cabe todos os homens.A rua é menor que o mundo.O mundo é grande.(Carlos Drummond de Andrade)

RELATANDO UMA EXPERIÊNCIA

Acessando a internetVocê chega ao coraçãoda humanidade inteiraSem tirar os pés do chão.(Zeca Baleiro)

Desde a primeira vez em que estive em Nova Contagem, na intenção de observar a tão

comentada feira que acontece ali aos finais de semana, percebi uma grande presença e

movimentação de moradores. Estava na elevação da rua de onde nasce a feira e quando olhei de

cima para aquele acontecimento era um colorido, um colorido apenas. Combinação das cores das

lonas que cobrem as barracas com o realce e luminosidade que se estende entre as pessoas que

se movimentam. Podia ver um todo, a feira na rua, uma tela cheia de cor enquadrada pelo

contorno das outras duas ruas transversais que a emolduram. No entanto, diante daquele todoera só deslocar meu olhar e via as unidades que o constituíam. Fitava em uma ou outra pessoa

e acompanhava seus passos, paradas, ritmos, movimento.

Na convivência com os moradores percebia a centralidade do bairro como espaço nuclear

de vivências. Adultos, crianças, jovens e velhos se encontram na feira e uma série de atividades,

para além da compra e venda, se dão neste espaço de vivência. Nos dias de semana, e

especialmente aos sábados e domingos, via muita gente nas ruas, calçadas e praças do bairro,

sobretudo crianças e jovens, caminhando e conversando em grupos ou simplesmente sentados

nos passeios.

A rua não está em oposição rígida à casa, mas parece inclusive ser casa, local de encontro

e acolhimento.“Aqui é o point” definiu um menino, sintetizando aquele ponto de encontro de

todos, espaço público que abriga distintos moradores de Nova Contagem. “É onde se vê todo

Juliana Batista Reis

Cientista Social, tem se dedicado a pesquisas nos camposda juventude, periferia e políticas públicas

Page 34: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

Messenger ou MSN é um programa demensagens instantâneas que permiteconversas em tempo real Pelas caixasde diálogo, os usuários podem, além decomunicar teclando, compartilhar evisualizar fotos, trocar arquivos,conversar por voz (por microfone ecâmera), dentre outros recursos

Em definição do próprio site: “Oorkut.com é um website decomunidade on-line projetado paraamigos. O principal objetivo do nossoserviço é tornar a sua vida social, e dosseus amigos, mais ativa e estimulante”

A página de recados de cada usuário doOrkut era denominada scrapbook,quando o site não apresentava umaversão em português. O termo scrap ourecado é correntemente usado entreos participantes.

mundo, você encontra todo mundo”. Porém, permanecer nesta rua e caminhar por ela me fez

chegar a um lugar que aglutinava essencialmente jovens e crianças.

Em um dia de feira, passeava pelas ruas em seu entorno e em uma bem próxima àagitação da feira pude avistar uma movimentação de jovens perto de uma padaria. Ali, no

segundo andar funciona uma lan house e a circulação e permanência de meninos e meninas em

frente àquele estabelecimento era digna de apreço.

Cheguei àquele espaço pelo clima de encontro, descontração e fruição na porta do local, e

menos interessada em observar simplesmente usos da Internet. Para além da porta e da escadaria que

nos leva à lan, o ambiente de espera é também marcado por certa agitação e conversas entre os queaguardam um computador e mesmo entre os funcionários. Vê-se um ambiente configurado por

múltiplas interações e conversas, “a gente firmou aqui manter um ambiente familiar (...), a gente tentamanter umadisciplina eumambiente familiar”, é o que nos diz um dos funcionários que descreve bemesse ambiente regrado e ao mesmo tempo marcado por uma intensa sociabilidade. Com a palavra

“sociabilidade” quero dizer do encontro, convivência e relações de amizade entre os jovens.

Na sala da lan os computadores estão posicionados em três fileiras, duas delas estão

frente a frente com quatro computadores cada, e a terceira de frente para uma parede. Nestadistribuição espacial veem se, com frequência, usuários comunicando entre si, seja com os que

estão dos lados ou à frente. Muitos ficam juntos em um só computador ou circulam entre eles.

Há certo padrão na utilização da Internet, que constateinas observações e entrevistas com jovens e funcionários. A

grande maioria de jovens e crianças que ali frequentam fazem

uso mais intenso e habitual do messenger e Orkut, “Você podenotar, 90% das pessoas que vêm aqui eles... primeira coisa queeles vão fazer, ver o Orkut deles, ler os recados, os scraps queestão lá, mandar e enviar recado, depois é entrar no messenger,quem tá on-line vai conversar com quem tá on- line, se tiver e-mail eles vão responder o e-mail”, relata um funcionário. Os

diálogos travados pela Internet, especialmente pelo MSN, sãouma das ações mais costumeiras entre aqueles meninos e

meninas; foi raro nas observações não ver alguém se

comunicando pelas caixas de diálogo desse programa. “Todomundo que vem na lan house tem MSN, se não tem vai quererlogo fazer um, conversar é o que mais fazem aqui”.

Page 35: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

Nesse momento o coordenador deve

estar se colocando a seguinte questão:

Na organização do trabalho, o

coordenador e sua equipe devem elaborar um

plano de atividades que reflita a vida real das

crianças e dos adolescentes. O trabalho deve fazer

parte intrínseca da vida deles e ser capaz de

atender às reais necessidades por eles expressas.

Assim não é possível trabalhar com os

conteúdos ou atividades como produtos de um

supermercado, organizados em prateleiras,

prontos a serem oferecidos às crianças e aos

adolescentes, por determinado preço. Estes

conteúdos não podem ser aprisionados em

currículos ou em planos de trabalho

preestabelecidos e inflexíveis.

Esse é um parâmetro central que nos

ajudará a definir o conjunto de conteúdos

e atividades a serem trabalhados e indicará,

constantemente, a nossa postura frente às

crianças e adolescentes, sujeitos de direitos

e desejos.

Como construir uma proposta de

trabalho que melhor possibilite à criança

e ao adolescente o desenvolvimento

integral e o exercício de sua cidadania?

Precisamos conhecer profundamente o

contexto social, econômico e cultural das

crianças e adolescentes com as quais

trabalhamos. Vimos nos textos da Juliana e do

Roquinho como eles se aproximaram das

realidades para conhecer de perto quem são

esses sujeitos. Isso significa conhecer a

individualidade e a identidade de cada criança e

adolescente, sejam eles moradores das cidades

ou do campo.

35 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

Page 36: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e
Page 37: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

Os desafios docoordenador3

Page 38: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

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Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um

conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União, dos estados, do Distrito

Federal e dos municípios.

Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento:

I - políticas sociais básicas;

II - políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo, para aqueles que deles

necessitem;

III - serviços especiais de prevenção e atendimento médico e psicossocial às vítimas de negligência,

maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão;

IV - serviço de identificação e localização de pais, responsável, crianças e adolescentes desaparecidos;

V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos da criança e do adolescente.

Contagem / MG

Page 39: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

Neste capítulo, falaremos de alguns dos

principais desafios do coordenador que atua à frente

do serviço socioeducativo. São eles: o trabalho em

rede; famílias e comunidades na construção da

experiência educativa; a parceria com a escola; a

equipe e sua formação.

“Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um

modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender,

para ensinar, para aprender e ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver,

todos os dias misturamos a vida com a educação.” (Carlos Rodrigues Brandão)

PRIMEIRO DESAFIO

O Trabalho em rede

“É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança.”(Provérbio africano)

“Uma das nossas necessidades é buscar a cooperação em rede: Conselho

Tutelar, Mistério Público, Secretaria da Saúde e famílias.”Dulcinéia Ap. Ferraz Ribeiro (Supervisora Pedagógica e Diretora, Nepomuceno)

39 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

Page 40: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

Para Bruno Ayres, participar de uma Rede

Organizacional envolve algo mais do que

apenas trocar informações a respeito dos

trabalhos que um grupo de organizações realiza

isoladamente. Estar em rede significa realizar

conjuntamente ações concretas que modificam

as organizações para melhor e as ajudam a

chegar mais rapidamente a seus objetivos.

As redes são sistemas organizacionais

capazes de reunir indivíduos e instituições, de

forma democrática e participativa, em torno de

objetivos e/ou temáticas comuns. O

funcionamento da rede supõe o trabalho

colaborativo e participativo.

A Assistência Social assegura resultados

mais efetivos quando o gestor municipal

trabalha de maneira articulada com toda a

rede de proteção e de garantia de direitos no

atendimento de crianças e adolescentes em

condição de vulnerabilidade.

Atenções múltiplas por parte de diferentes

parceiros de uma rede – Escola, Postos de Saúde,

Conselho Tutelar, Vara da Infância e da

Adolescência, Cras, Conselho Municipal de

Direitos da Criança e dos Adolescentes, Serviço

Socioeducativo – possibilitam intervenções,

atendimentos e serviços que se complementam.

Essa é uma estratégia eficaz para atenção

integral e garantia dos direitos.

“Nosso desafio é a maior articulação por parte da rede de proteção e

promoção à criança, ao adolescente e a suas respectivas famílias.”Nelsi Arndt dos Santos (Coordenadora Gera, Contagem)

O trabalho em rede é um desafio

central na atuação do coordenador.

40Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

Page 41: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

41 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

PARA DAR CERTO...

Trabalho em rede

• Participação efetiva nas

instâncias de discussão no

âmbito da assistência social,

educação e garantia de direitos

da criança e do adolescente.

• Articulação da rede, construção

de propostas coletivas e

encaminhamentos.

• Estabelecimento de parcerias

com agentes públicos e

privados que garantam ações

de diversos setores,

principalmente no que diz

respeito ao aprimoramento e

fortalecimento do serviço

socioeducativo.

Possibilidades de trabalho

• Participar e/ou contribuir na formação de espaços de

discussão entre as instituições que compõem a rede

de atendimento às crianças como: escolas, postos de

saúde, projetos sociais, grupos esportivos, grupos

culturais, conselho tutelar, conselho de direitos.

• Construir, junto à rede, estratégias comuns de

ação buscando a defesa dos direitos e formação

integral das crianças.

• Encaminhar crianças e adolescentes de acordo com

as demandas apresentadas: saúde, educação,

defesa de direitos, etc.

• Formar/participar de Grupos de Trabalho para

tratar de assuntos de interesse da Rede.

• Criar e/ou participar dos fóruns e discussões

(inclusive virtuais), buscando interagir com

diferentes instâncias envolvidas na formação/

proteção integral da infância e da adolescência.

• Realizar eventos / projetos em parceria com a rede

de atendimento.

• Promover visitas a outras entidades, centros

comunitários buscando construir ações conjuntas

e/ou complementares.

• Participar dos conselhos municipais de assistência

social e de outros conselhos de políticas sociais,

orçamento participativo e fóruns de defesa dos

direitos das crianças e dos adolescentes.

Page 42: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

42Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

O fortalecimento dos laços

familiares e ampliação dos espaços de

socialização numa relação mais estreita

com as instituições educativas e a

comunidade possibilitará a participação

da família num processo emancipatório

essencial a seu próprio desenvolvimento.

SEGUNDO DESAFIO

Participação da família e da comunidadena construção da experiência educativa

A família tem funções sociais

importantes de proteção, mediação e formação

social de seus membros. A família, sendo

mediadora da relação dos sujeitos com a vida

coletiva, gera formas de convivência e padrões

de relacionamento e afeto.

“Percebemos a desmotivação de algumas famílias com relação à frequência

dos filhos no programa.”Rosilda Francisco da Silva (Coordenadora, Santo Antônio do Jacinto)

Podemos entender que um dos

objetivos importantes do serviço

socioeducativo é preservar as vinculações

das crianças e dos adolescentes

atendidos, com o contingente afetivo

da família e laços socioculturais com

sua comunidade.

Em contextos culturais e comunitários

variados, as famílias apresentam diferentes

modelos, formas de organização e arranjos, e

em sua diversidade a família possibilita o

desenvolvimento e a socialização de suas

crianças e adolescentes. Nas famílias em

condição de vulnerabilidade, esses processos

podem ser prejudicados.

Compreender as dinâmicas e identidades

das diferentes famílias, seus valores e suas

formas, assim como entender que toda

comunidade pode ser parceira no trabalho de

proteção e formação integral de crianças e

Page 43: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

43 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

adolescentes auxiliará a construção conjunta

de ações que fortaleçam ainda mais o serviço

socioeducativo.

As famílias podem se apropriar de uma

proposta educativa, de seus princípios,

intenções e valores, na medida em que são

convidadas para participar de atividades e têm

a possibilidade de contribuir com decisões,

opinando, construindo idéias e colaborando

em atividades.

PARA DAR CERTO...

Família e comunidadena construção daexperiência educativa

• Realização de ações de lazer e

cultura que desenvolvam

habilidades e estreitem os laços

afetivos e o convívio

comunitário entre as famílias.

• Reconhecimento e valorização

da identidade cultural das

famílias e da comunidade.

• Ampliação do universo de

informações.

Possibilidades de trabalho

• Promover reuniões e discussões temáticas

envolvendo as famílias.

• Realizar visitas domiciliares para estabelecer

parcerias e realizar encaminhamentos a serviços de

lazer, saúde, educação, etc.

• Incentivar a participação das famílias em atividades da

sociedade civil organizada: fóruns e conselhos da rede

de promoção e defesa da criança e do adolescente.

• Realizar mostras das produções das crianças e dos

adolescentes, confirmando o seu processo de

formação e desenvolvimento a partir do serviço

socioeducativo.

• Articular parcerias com outras entidades e

instituições educativas da comunidade para

promover ações, como, por exemplo: torneios

esportivos, festivais de artes, publicações.

• Construir parcerias com lideranças comunitárias e

associações, buscando integrar ações.

• Integrar as atividades a festas tradicionais e

folclóricas da comunidade.

Page 44: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

44Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

A escola é uma instância clássica de

socialização em que as crianças e os

adolescentes estão inseridos e é parte da rede

de garantia de direitos, proteção, promoção e

formação desse público. A escola se destaca

como parceira privilegiada no desenvolvimento

do serviço socioeducativo.

O serviço socioeducativo desenvolvido

no âmbito da assistência social contribui

diretamente no desenvolvimento pessoal e

social de crianças e adolescentes, auxiliando no

ingresso ou regresso, na permanência e no

sucesso de crianças e adolescentes na escola.

É importante compreender que ser parceiro da

escola não significa repetir seu modelo e sim

ampliar as dimensões para formação pessoal,

social e humana, e ainda constituir-se como

espaço para a construção de conhecimentos,

desenvolvendo habilidades e competências.

Especialmente as metodologias podem e

devem diferenciar-se dos modelos tradicionais

de educação. O serviço socioeducativo, por

exemplo, não estabelece um currículo

obrigatório e também não certifica crianças e

adolescentes para diferentes séries ou ciclos.

As aprendizagens construídas no serviço

socioeducativo (nas oficinas de arte e cultura,

na prática esportiva, nos projetos de pesquisa)

contribuirão na formação integral das crianças

e dos adolescentes e consequentemente nos

desafios que a escola irá apresentar-lhes.

É possível pensar em ações conjuntas

com a escola, visando a formação integral para

a cidadania e a garantia dos direitos. Essas

ações devem ser construídas por meio de um

processo cotidiano de diálogo com a escola,

tomada de decisões conjuntas, discussões de

casos, sem que o serviço socioeducativo perca

sua identidade.

TERCEIRO DESAFIO

Parceria com a escola

Page 45: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

45 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

PARA DAR CERTO...

Parceria com a escola

• Constituição de espaços de

diálogo permanente com a

equipe da escola.

• Participação construtiva no

cotidiano da escola.

• Contribuição na promoção do

sucesso escolar das crianças e

dos adolescentes.

• Reflexão com crianças e

adolescentes sobre a escola.

Possibilidades de trabalho

• Conseguir uma articulação com as escolas e os

professores das crianças e dos adolescentes.

• Desenvolver um processo de sensibilização,

enfatizando a realidade dos alunos e suas demandas.

• Realizar reuniões periódicas entre as equipes de

trabalho: da escola e do serviço socioeducativo.

• Conhecer pessoalmente os professores e realizar

visitas à escola.

• Promover, possibilitar e incentivar a participação das

lideranças comunitárias na escola e na instituição.

• Realizar em parceria com a escola e com a

comunidade eventos de divulgação dos projetos

realizados, feiras, exposições, mostras artísticas e

literárias, etc.

• Desenvolver um trabalho de reflexão sobre a

própria formação escolar, estimulando as crianças

e adolescentes a não evadirem e buscando formas

de contribuir para o sucesso escolar.

Page 46: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

46Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

Para que o serviço socioeducativo seja

eficiente e tenha resultados positivos, é

necessário que a equipe tenha pouca

rotatividade. As pessoas da equipe devem ter

capacidade técnica, interesse e perfil para

trabalhar com crianças e adolescentes, o

que inclui facilidade de trabalhar em grupo

e flexibilidade.

QUARTO DESAFIO

A equipe de trabalho e a sua formação

A qualidade do trabalho desenvolvido

pelos educadores, psicólogos, assistentes

sociais e mesmo pelos coordenadores depende

diretamente da formação desses profissionais.

Um importante desafio a ser enfrentado pelos

coordenadores é buscar condições para que

sua equipe e ele próprio possam se qualificar

constantemente para o desenvolvimento do

serviço socioeducativo.

O coordenador ocupa lugar central no

processo educativo, sendo uma referência que

Categoria profissional Até 25 crianças Entre 50 e 100 crianças

e adolescentes e adolescentes

Coordenador pedagógico com formação no campo 1 1

da educação ou serviço social

Educador com formação específica no campo 1 2

em artes plásticas, visuais ou música

Educador com formação específica no campo 1 1

do esporte e lazer

Educadores sociais. 1 2

Profissional de serviços gerais. 1 2

Cozinheiro (a) 1 1

Auxiliar administrativo 1 1

medeia, dialoga, constrói e acompanha

cotidianamente a formação de sua equipe.

O coordenador deve, antes de mais nada,

buscar conhecer as necessidades reais de

qualificação de sua equipe. Conhecer as

necessidades de formação específica de cada

um dos membros da equipe responsável pela

execução do serviço socioeducativo. Ele deve,

dessa forma, criar espaços para a formação

permanente dos membros da equipe.

Page 47: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

O eixo central dessa formação devem

ser os objetivos das atividades do serviço

socioeducativo planejadas pela equipe. Deve

estar vinculado à proposta politica-pedagógica

definida ao se determinar o serviço

socioeducativo que será implementado junto às

crianças e aos adolescentes.

No processo de formação, faz-se

necessária a realização de atividades que

possibilitem aos educadores compartilhar

experiências, estudar e aplicar conceitos, refletir

sobre o planejamento, executar e avaliar o

fazer educativo.

É importante destacar que a formação

da equipe é um processo que deve ocorrer

durante todo o desenvolvimento do serviço

socioeducativo. É um constante processo de

aprendizagem da equipe.

Embora a qualificação da equipe se dê

em serviço, é de fundamental importância criar

momentos especiais de formação, de modo

sistemático e objetivo. A prática educativa do

cotidiano deve ser o pano de fundo de um

plano de formação sistemática.

Essa formação é um processo de médio

e longo prazo. Uma equipe não se integra

como tal de um dia para outro, é necessário

um tempo maior de maturação e

conhecimento entre os membros desta. Essa

definição tem implicação direta no

atendimento de qualidade às crianças e

adolescentes. É um direito dessas crianças e

adolescentes serem atendidas por um grupo de

profissionais altamente qualificados. Não se

garantem os direitos pela metade – saúde,

educação, lazer, brincar e outros direitos só

serão garantidos e efetivados por um trabalho

consistente e consciente.

Essa concepção de formação e

qualificação da equipe traz algumas

consequências importantes à organização do

trabalho e à estruturação da equipe:

47 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

Page 48: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !

Organização do trabalho e estruturação da equipe

48Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

Sendo a formação um processo

de médio e longo prazo, é

necessário que haja a

manutenção da equipe por

períodos mais longos de trabalho.

A formação é um trabalho em

equipe. Por este motivo, todos os

integrantes devem ter

conhecimento do planejamento

como um todo. Cada um deve,

mesmo que não envolvido

diretamente com a ação

executada, conhecer as várias

etapas do processo educativo que

se está desenvolvendo com as

crianças e os adolescentes.

O coordenador tem sob sua

responsabilidade a efetivação do

processo de formação e

manutenção de sua equipe.

É importante que o planejamento

do serviço socioeducativo seja

realizado por todos os membros

da equipe, sob orientação

do coordenador.

É parte intrínseca do

planejamento a análise das

necessidades formativas da equipe

e a elaboração de um plano de

ação de qualificação da mesma.

Page 49: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

49 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

PARA DAR CERTO...

Formação da equipe

• Elaboração de um plano de

formação a partir das reais

necessidades da equipe.

• Promoção de espaços para

reflexão e registro da prática

educativa.

• Desenvolvimento de ação

educativa vinculada a uma

proposta pedagógica, baseada

nos objetivos do serviço

socioeducativo.

• Construção coletiva de

conhecimentos a partir de

reflexões e práticas vividas.

Possibilidades de trabalho

• Realizar um planejamento com a participação

de toda a equipe, sem exceção, da formação a

ser executada.

• Promover cursos, trocas de experiências, reuniões

periódicas de planejamento e avaliação, intercâmbio

entre equipes, intercâmbio entre entidades,

intercâmbios com a escola, atividades de integração

da equipe, discussões temáticas (drogas,

sexualidade, violência etc), momentos de estudo,

seminários, discussão de casos.

• Produzir registros e documentar o trabalho.

Page 50: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e
Page 51: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

Planejar:uma vivênciade valores4

Page 52: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

CA ECA ECA ECA ECA ECECA ECA ECA ECA ECA

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CA ECA ECA ECA ECA ECECA ECA ECA ECA ECA

CA ECA ECA ECA ECA ECECA ECA ECA ECA ECA

Art. 7º. A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de

políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em

condições dignas de existência.

Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos próprios

do contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da criação e o acesso às

fontes de cultura.

Contagem / MG

Page 53: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

53 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

“O planejamento foi executado pela direção da unidade juntamente com educadores e funcionários,

considerando observações e demandas cotidianas das duas unidades de atendimento.”

Em muitos núcleos de atendimento do

serviço socioeducativo, o trabalho é feito em

equipe, inclusive o planejamento das

atividades. Ana Paula, de Contagem, diz que

“O planejamento é elaborado em conjunto, havendo, em seguida, uma divisão

de tarefas.”

Calícia, também de Contagem, afirma que

Priscila, diretora de Unidade de

Atendimento do Serviço Socioeducativo de

Caeté, parece ter a mesma noção de planejamento

e de coordenação dos trabalhos:

“O planejamento é voltado exclusivamente para a educação das crianças e adolescentes. São

realizadas diariamente reuniões com a equipe com a finalidade de tornar o trabalho mais

qualificado. O planejamento é mensal e são feitos juntamente com os coordenadores pedagógico, de

esporte e os educadores.”

Page 54: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

54Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

Essas são algumas opiniões de

coordenadores de Unidades sobre o ato de

planejar. Mas também existem outras formas

pelas quais é feito o planejamento. Em alguns

casos, o planejamento veio de fora e foi

adaptado, de alguma forma, na Unidade, ou

foi elaborado por algum técnico especializado.

Veem-se abaixo algumas constatações

nas várias cidades do Estado de como o

planejamento foi elaborado:

• “O planejamento partiu das informações da

Setascad e foi adaptado à nossa realidade com

a participação da equipe de trabalho.” (Caeté)

• “O planejamento foi feito pelo Serviço Social

da Secretaria Municipal de Assistência

Social.” (Paraopeba)

• “O planejamento utilizado ainda hoje data

de setembro de 2006, realizado por uma

Comissão de Referências Técnicas dos

Programas de Socialização Infanto-Juvenil

das Semas Regionais.” (Betim)

• “Existe sim um planejamento de

desenvolvimento educacional, social e

formação humana para as crianças e

adolescentes desta instituição, como medidas

socioeducativas, escrito por mim e aprovado

pelo Conselho Municipal dos Direitos da

Criança e do Adolescente e Prefeitura

Municipal de Monte Carmelo, tendo em vista

a identificação, situação geradora e

justificativa, objetivos geral e específicos,

resultados esperados, abrangência e contexto,

plano de ação e avaliação. O mesmo se

encontra arquivado e ao final de cada etapa é

feita uma reunião com a equipe técnica para

análises e avaliações.” (Monte Carmelo)

• “O planejamento é feito pela Secretaria

Municipal de Assistência Social (SMAAS) da

Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.”

(Belo Horizonte)

• “O planejamento das atividades é proposto

pelo Governo Federal.” (Januária)

• “O planejamento foi elaborado pela

coordenadora anterior do Programa Peti,

que é pedagoga com ampla experiência em

ações educativas.” (Governador Valadares)

Em Malacacheta, de acordo com

Valdiney, coordenador e assistente social,

“O planejamento foi feito por meio de reuniões com assistentes sociais,

psicólogos e pedagogos, que elaboraram o planejamento de todas as

atividades, compostas de artes socioeducativas, esporte e lazer.”

Page 55: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

55 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

O que é a ação de planejar e gerir?

Quanto mais pessoas se envolverem no

planejamento das ações coletivas, maior poderá ser

a aprendizagem da democracia, nem sempre muito

fácil. A participação é essencial para o sucesso do

serviço socioeducativo e a garantia dos direitos das

crianças e dos adolescentes, tão bem explicitados

pela Estatuto da Criança e do Adolescente.

Giuliana, de Itambacuri, enfrentou e

enfrenta a dificuldade de incentivar a

participação efetiva:

Vejam ainda a análise apresentada por

Sérgio Luiz Pirez, membro da equipe de

implantação do Programa Curumim e

O ato e a forma de planejar podem ser

um instrumento ou ferramenta crucial no

desenvolvimento, quando da construção e

implantação do serviço socioeducativo.

Por isso, todos os membros de uma

equipe que trabalham com o serviço

socioeducativo são fundamentais na realização

do planejamento das ações: profissionais das

unidades, funcionários, crianças, adolescentes,

comunidade, famílias. Quem mais?

“Todo trabalho, para alcançar uma qualidade e resultados, exige um comprometimento de todas

as pessoas envolvidas e isso na maioria das vezes não acontece. O trabalho público por si só já

nos traz esta revelação. Mudanças são necessárias para que os objetivos sejam alcançados, sendo

assim precisamos mexer na cultura das pessoas,nos valores, no jeito de pensar e enfrentar as

coisas. Mudar estes conceitos e jeitos é muito difícil.”

Coordenador do Programa de Socialização

Infanto-juvenil da Sedese, quando da criação

do Programa Curumim:

“Inaugurado em 1991, o Programa Curumim teve como pontos favoráveis,

durante sua gestação, a vontade e a decisão política na sua implantação, aliada

a uma equipe altamente comprometida com o resultado final. A capacitação

dos educadores em uma metodologia multidisciplinar e a vivência junto às

comunidades nas quais o programa seria instalado contribuíram para a

aceitação e o sucesso do serviço de socialização infanto-juvenil.”

Page 56: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

56Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

Ninguém nasce sabendo planejar. É uma

aprendizagem, exige de todos um processo de

formação e de mudança de condutas, e mais,

exige uma atitude política pela democracia. E

quanto mais complexas as ações a serem

desenvolvidas, maiores devem ser o

envolvimento dos interessados nas ações e a

nossa competência em planejar e executar o

plano elaborado.

Um princípio fundamental dessa

concepção de planejamento é seu caráter

coletivo e participativo. Ele deve ser elaborado

pelas pessoas que, de fato, irão se envolver, de

uma forma ou de outra, na execução do que

foi planejado. O planejamento deve prever

formas de ampliação da participação.

Assim, um dos objetivos primordiais é

desenvolver nas pessoas que se envolvem no

planejamento do serviço socioeducativo, em

todos os níveis de competência e

responsabilidade, a capacidade de projetar, que

é a conduta organizada para atingir finalidades

específicas, ou seja, a capacidade de abstrair,

tomar decisões, elaborar planos de ações,

avaliar situações, construir ferramentas de

análise e de intervenção na realidade. O

planejamento deve trazer, para o seu espaço e

tempo, a vivência diária dessa capacidade de

projetar, principalmente no processo de

construção e incorporação de saberes.

Grazielle, de Muriaé, falou de sua dinâmica

de trabalho e refletiu sobre o planejamento:

Diante do ato concreto de planejar,

algumas questões precisam ser respondidas

pela equipe:

“A equipe procura se reunir periodicamente para avaliação e planejamento

das ações. Os encontros são espaços abertos à pluralidade, que envolvem os

atores locais e garantem condições para o desenvolvimento de debates com

razoável nível de aprofundamento.”

Page 57: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

57 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

• Quem deve planejar a ação?

• Quem serão os sujeitos do planejamento?

• Como vivenciar a democracia, como um valor construído, no momento de

planejar o serviço socioeducativo?

• Como envolver as crianças, adolescentes e jovens no ato mesmo de planejar?

• Como levar em conta suas necessidades, desejos?

• Como desenvolver em todos – adultos, profissionais, crianças, adolescentes e

jovens – a capacidade de projetar sua existência?

• Como envolver as famílias no momento de definir as ações? Enfim, a

pergunta principal é: quem deve tomar as decisões sobre o planejamento a

ser realizado?

Essas perguntas não são fáceis de serem

respondidas porque implicam, de antemão, uma

concepção de planejamento e, principalmente,

significam uma opção pela democracia.

Nessa concepção de planejamento, todas

as pessoas envolvidas nas ações socioeducativas

são tidas como sujeitos efetivos, como seres

pensantes capazes de tomar decisões sobre sua

vida, desde que lhes sejam oferecidas condições

e informações para tal.

O planejamento deve objetivar impulsionar

experiências coletivas, criadoras de novos saberes

e modos alternativos de viver. É necessário

desencadear rupturas objetivas e subjetivas em

um certo modo conservador e cristalizado de

experiências institucionais, na busca de

construir a autonomia (criação das próprias

normas), rompendo com as formas hierárquicas,

verticalizadas de elaborar o planejamento.

Diferentes espaços precisam ser criados.

A gestão poderá ser compartilhada. O saber e a

vida de todos participantes ganham outro

significado na instituição.

Dentro de um processo contínuo, vai-se

criando a autogestão (autogerenciamento) do

serviço socioeducativo. É instituído um sistema

que se autogerencia.

Desta forma, cria-se a autonomia dos

grupos baseada na participação e na valorização

da experiência de cada participante, dos

profissionais, dos educadores sociais, incluindo as

crianças, os adolescentes e suas famílias.

Page 58: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

58Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

Essa autonomia é a capacidade de criar

leis, de elaborar planos de ação de acordo

com os interesses, desejos e necessidades das

pessoas, comunidade e famílias envolvidas. É

uma atitude desafiante, mas prazerosa, a ser

empreendida pelos responsáveis pela

coordenação do serviço socioeducativo, pelos

coordenadores em todas suas instâncias.

Todos e todas são envolvidos na tarefa de se

autodirigirem, de se autoadministrarem, de

se autocriticarem.

Enfim, essa é uma opção política de

escolha livre dos atores sociais, propondo uma

mudança radical na vivência das relações de

trabalho, de poder, de prestígio nas

instituições em que atuam. Constitui-se num

sistema de autoeducação permanente, em que

todos, no fazer do planejamento e em sua

execução, vão construindo a autogestão, a

autonomia e o prazer de estar em coletividade,

buscando o bem comum e o bem-estar de

nossas crianças, adolescentes e jovens.

Todos percebem que o planejamento,

mais do que uma técnica de elaborar planos de

ação, pode ser um processo de reflexão sobre a

própria realidade e de criação de ações para

levar à transformação dessa mesma realidade

a curto, médio e longo prazo; ou, ainda, pode

significar a possibilidade da participação de

todas as pessoas, dentro dos grupos, num

processo garantidor do direito, do desejo, do

crescimento de todos envolvidos no projeto.

William Castilho, um pensador dos

movimentos sociais, psicólogo, falando sobre

esse processo de autogestão, afirma que a

palavra, a linguagem, é condição imprescindível

para que esse processo aconteça.

Só a palavra é capaz de ressignificar o

processo de deslocamento, isto é, de um

conteúdo a outro, de um lugar a outro (des-

locare - mudar de lugar). Portanto, é necessário

dar a palavra, permitir que a palavra seja dita,

sem receio. É necessário criar condições,

espaços e tempos democráticos, para que a

palavra de cada pessoa possa se manifestar

no processo do planejamento, do início ao fim,

do pensamento e elaboração da proposta, à

execução e avaliação do serviço socioeducativo.

É um grande desafio, pois esta concepção

implica reestruturar as velhas formas hierárquicas,

centralizadoras de tomada de decisões.

A palavra é a forma por execelência da comunicação humana, de convivência, de conquista

da paz, da harmonia, da solidariedade. Ferramenta essencial da negociação da realidade.

Page 59: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

No entanto, é de fundamental

importância que exista a firme vontade de, cada

vez mais, incluir o máximo de participantes nas

decisões cruciais do planejamento. Essa é com

certeza uma forma de garantir a eficiência e a

qualidade do serviço socioeducativo. As crianças

e os adolescentes sairão ganhando com esta

postura dos coordenadores e de sua equipe,

responsáveis pela dinâmica do planejamento em

todas suas fases.

Também as crianças e os adolescentes

precisam, dentro de sua possibilidade e de seu

grau de informação, ser ouvidas e

consideradas seriamente na hora da

elaboração dos planejamentos ou dos planos

de ações. Afinal, elas são a finalidade última

desse planejamento. O intuito de projetar ou

planejar o serviço socioeducativo é desenvolver

um trabalho que procure o que é específico da

formação das crianças e dos adolescentes.

Como planejar?

Planejar é também uma técnica de

trabalho. Pode-se diferenciar o planejamento

mais geral das ações da Unidade de trabalho

enquanto uma instituição, e o planejamento

ou elaboração de um plano de atividades do

serviço socioeducativo – um planejamento

mais específico. Evidentemente, esse plano de

ação ou planejamento específico não poderá

entrar em contradição com o planejamento

mais geral da Unidade. Na verdade, o

planejamento geral e o plano de ações são

peças de um mesmo planejamento, atuando

com igual objetivo: a garantia dos direitos das

crianças e adolescentes.

Alguns princípios mais gerais podem

nortear a elaboração desse planejamento, seja

o geral ou o específico.

O primeiro princípio é que o

planejamento deve ter um caráter coletivo e

participativo. Ele deverá ser elaborado pelas

Planejar é diferente de improvisar.

Uma ação planejada é uma ação pensada

com antecedência. Planejar é projetar.

59 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

pessoas que, de fato, irão se envolver, de uma

forma ou de outra, na dinâmica das atividades

do serviço socioeducativo a serem implementadas.

Para garantir este princípio, nem todos precisam

participar de todos os momentos de elaboração

do planejamento, mesmo porque nem sempre

existe esta possibilidade.

Page 60: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

60Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

O segundo princípio diz que o

planejamento é um guia das ações, um

norteador dos trabalhos. Não pode ser uma

camisa de força. O planejamento deve ter em

seu bojo a flexibilidade das ações a serem

desenvolvidas. A observação, a sensibilidade, a

experiência dos coordenadores e de sua

equipe são essenciais para garantir que o

planejamento não se perca sem rumo, mas

que, ao mesmo tempo, ele não se torne um

instrumento cego à realidade das crianças e

dos adolescentes, a qual pode, em

determinado momento ou circunstância,

estar exigindo mudanças de rumos, ou a

elaboração de novos planos.

Surge aqui um terceiro princípio, o da

avaliação constante, processual. O

planejamento, principalmente em se tratando de

crianças e adolescentes em constantes

transformações, deve ter embutido em sua

concepção a necessidade de seu monitoramento.

Antes mesmo de se partir para a prática

cotidiana das ações planejadas, é necessário

utilizar um bom tempo analisando a viabilidade

social, cultural, financeira, de cada ação

Essas perguntas precisam ser

respondidas pelos coordenadores e sua equipe.

Não significa somente criar um roda de

conversa, por exemplo, para fingir que se

escuta as crianças e adolescentes e que elas e

eles estão participando do processo decisório,

participativo. Criança e adolescente são

sujeitos de direitos, são pessoas que pensam,

elaboram, criticam, sabem sugerir. Ninguém

nasce sabendo; participar coletivamente, tomar

decisões coletivamente é um processo que

também se aprende. Ouvir, dialogar, tomar

decisões, mudar rumos é uma ação

socioeducativa rica de aprendizagens.

Outros atores podem, também, em

determinados momentos e situações, inserir-se

no planejamento. São as famílias das crianças

e dos adolescentes, seus professores, as redes

de apoio...

Para se garantir a efetivação desse

primeiro princípio – da coletividade e da

participação – é necessário criar espaços e

tempos efetivos, com regras claras de tomadas

de decisões. Esse é, sem dúvida, um grande

desafio para as unidades de desenvolvimento

do serviço socioeducativo.

• O que desejam as crianças e os adolescentes?

• O que eles e elas pensam?

• O que é possível negociar com os vários atores envolvidos?

• Como envolver as crianças e adolescentes como sujeitos ativos? Como garantir que elas

possam, de fato, tomar decisões sobre sua vida?

Page 61: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

61 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

sugerida no planejamento. Um planejamento

mais geral até pode “viajar”, sonhar, imaginar

mundos possíveis em algum momento. Mas

um planejamento específico, a ser executado

em determinada estrutura e em determinado

tempo, precisa estar com os pés no chão das

possibilidades e viabilidades.

No entanto, é também saudável que

não se perca a vontade política de sempre

avançar além dessas possibilidades. Inclusive

essa vontade pode e deve ser também

planejada e transformada em ações concretas,

que ampliem a capacidade de se produzir ações

cada vez mais efetivas e de qualidade,

na garantia dos direitos das crianças e

dos adolescentes.

O planejamento vive uma dupla tensão: a

de estar condicionado à realidade das

possibilidades financeiras, estruturais, de pessoal

e à de estar sendo impulsionado pelo desejo de

condições ideais ou mais condizentes com as

necessidades das crianças e dos adolescentes em

situação de vulnerabilidade social, política,

econômica e cultural. Essa é uma boa tensão,

que pode instigar os coordenadores e sua equipe

a desenvolver sua criatividade.

Diante dessa tensão do planejamento, é

que se faz necessária a avaliação processual de

todas as ações planejadas e desenvolvidas.

Essa avaliação deverá ser realizada garantindo

o princípio da coletividade e da participação.

Nem todos precisam estar em todas avaliações,

mas, é necessário que, pelo menos, os

envolvidos nas ações possam repensar sua

prática e sugerir alterações para o momento

ou mesmo para um planejamento futuro. Mais

uma vez, pode-se afirmar que a realidade das

crianças e adolescentes e a sua transformação

deverão ser o principal critério nesse processo

avaliativo e de monitoramento das ações.

Não é simples diante desses princípios e

desafios sugerir um modelo de planejamento.

Na verdade, não existe um modelo ideal. A

realidade de cada lugar, de cada unidade, de

cada equipe de trabalho, deve determinar a

forma como realizá-lo. O planejamento de

uma equipe que já trabalha conjuntamente há

longo tempo será diferente do planejamento de

uma equipe que ainda não se conhece. O

número de crianças e adolescentes que serão

atendidos, a infra-estrutura existente, os

recursos financeiros disponíveis, o tamanho e

a integração da rede de apoio e outros

elementos também influirão no planejamento.

Estas e outras situações são as pré-condições

à elaboração de qualquer planejamento, seja

ele geral ou específico.

Outra pré-condição essencial a todo

planejamento é a quantidade e qualidade das

informações que a equipe e os coordenadores

possuem sobre a realidade que será enfrentada

e a qual se quer transformar. Quanto mais

informações e análises se obtiver da realidade

social, cultural, econômica, política das

crianças e dos adolescentes e de seu contexto,

mais chances os coordenadores e equipe têm

de elaborar um planejamento adequado

àquelas crianças e àqueles adolescentes.

Page 62: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

62Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

Esse momento de levantamento de

informações e realização de análises pode ser

um espaço importante de envolvimento das

crianças, adolescentes, suas famílias, sua escola

e os responsáveis pelas redes de apoio, na

elaboração de um planejamento integrado, em

que todos se sintam responsáveis, dentro de

suas possibilidades e especificidades, pelas ações

que serão desenvolvidas. É esta a hora de efetivar

o princípio da coletividade e da participação.

Qual o tempo dessa atividade? É o tempo

necessário para se conhecer determinada

realidade e o tempo suficiente para a formação

da equipe. Três meses, quatro meses? Esse é

um tempo “bem gasto”. As crianças e

adolescentes agradecerão, pois poderão

participar de um trabalho coordenado por uma

equipe de profissionais competentes, sensíveis,

capazes de andar com os pés no chão e com a

mente na utopia dos direitos garantidos.

Tem início o planejamento. A equipe se

reúne e prepara as reuniões de planejamento.

Convida, na medida do possível, outras pessoas

da comunidade, da rede de apoio, das escolas

para se integrarem no processo de planejar.

Esta equipe, organizada pelo coordenador da

Unidade, explica os passos a serem seguidos e

convoca todos os presentes a se inserirem

como membros efetivos, com igualdade de

poder, na elaboração do plano de ação. Cabe

aqui uma reflexão com os participantes sobre

os princípios de um planejamento, sobre o

envolvimento e a responsabilidade de cada

pessoa ali presente. É a hora de se promover

uma troca de experiências, de se buscar criar a

noção de grupo e de uma rede que se comunica

para juntos elaborarem um plano de atividades

do serviço socioeducativo.

É o momento da inserção das crianças e

adolescentes? Talvez não. Há que se separar as

experiências e as responsabilidades. Pode-se, no

entanto, começar a se refletir sobre quais

momentos e em que espaços e tempos, devem

as crianças e adolescentes interferir no

Vários instrumentos podem ser

utilizados: entrevistas, visitas, pequenas

reuniões, conversas informais, troca de

experiências, caminhadas de

conhecimento do espaço físico,

participação em atividades culturais

desenvolvidas pelos vários grupos do

local – jovens, adolescentes, mulheres,

grupos de igreja...

Essa poderá ser, antes de qualquer

trabalho efetivo com as crianças e

adolescentes, a primeira atividade de formação

da equipe (psicólogos, assistentes sociais,

faxineiras, cozinheiras e outros), seja uma

equipe antiga ou recente. É o momento de

afinar o olhar, apurar a escuta e desenvolver a

análise. Dessa ação sairão os elementos

fundamentais do planejamento e uma equipe

integrada de trabalho estará sendo formada.

Page 63: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

63 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

planejamento. Essa reflexão sobre o papel das

crianças e adolescentes pode ser um instante de

formação dessa equipe ampliada. É o instante de

se conversar sobre concepções que se têm sobre

as crianças e adolescentes. Talvez seja esse um

pré-requisito para a integração da equipe e para

o início de um planejamento geral e específico. É

o momento do aquecimento do planejamento e

do trabalho em equipe.

Esta ação precisa, portanto, ser preparada,

cuidada pelo coordenador da Unidade e sua

equipe, com o objetivo de se criar um espaço e

tempo de debate de idéias e concepções. Não basta

uma palestra ou um seminário explicando as

concepções sobre as crianças e adolescentes. É

necessário mais do que isso. É um processo de

mudança de concepções e de postura frente à

realidade das crianças e dos adolescentes e frente

às próprias crianças e adolescentes, que são

pessoas concretas, de carne e osso, inteligentes e

capazes de pensar, sentir, e que necessitam viver

seu presente, no aqui e agora. É uma formação

que aqui se inicia, mas que deve ter outros

momentos de continuidade.

Surgem as questões a serem respondidas

pelo planejamento das atividades do serviço

socioeducativo:

1. Quais os nossos objetivos gerais? Quais os específicos?

2. O planejamento será elaborado para qual período de tempo? Para curto, médio ou longo prazo?

3. O que fazer? Que ações desenvolver? O que queremos desenvolver com cada ação?

4. Qual a viabilidade de cada ação?

5. Como lidar com a imprevisibilidade da realidade?

6. Que recursos serão necessários? Infraestrutura, equipamentos, profissionais nas várias áreas,

verbas e outros.

7. O que temos de recursos? Quais outros precisaremos conseguir?

8. Como obtê-los? Em que tempo? Com quem?

9. Quem serão os responsáveis/coordenadores de cada ação determinada?

10. Como realizar uma avaliação processual (monitoramento das atividades)?

11. Quando e como iniciar as atividades com as crianças e adolescentes?

Page 64: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

64Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

Buscar respostas para cada uma dessas

questões levará um bom tempo de trabalho da

equipe. Não há pressa. A equipe ampliada, em

rede, deverá sair afinada, como uma orquestra

e sua ferramenta de trabalho – o

planejamento – poderá tocar uma melodiosa

música, adequada aos ouvidos e à

sensibilidade das crianças e adolescentes.

As portas e janelas da Unidade são

abertas às crianças e aos adolescentes. Tem

início a execução do planejamento ou, pode-se

também dizer, do plano de atividades do serviço

socioeducativo. São 30 crianças e adolescentes.

Eles e elas ainda não se conhecem. Cada

criança e adolescente se protege naquela

outra criança ou adolescente com que tem

familiaridade ou afinidade. O conhecido dá

mais segurança a qualquer um. Esse tempo de

entrosamento já está no planejamento. O

objetivo é que todos e todas possam se

conhecer – crianças, adolescentes, educadores,

cozinheira, faxineira, jardineiro, psicólogos... –

até o coordenador se apresenta nesse instante.

É importante também para o coordenador

poder conhecer e ser conhecido pelas crianças

e adolescentes.

Outro objetivo desse momento é

trabalhar a formação do grupo. Desenvolver a

noção do coletivo e da participação. Aprender

que todos e todas são responsáveis, dentro de

suas atribuições, pelo caminhar daquele grupo

que está se formando e que irão trabalhar

junto por um bom tempo.

Várias atividades começam a se

desenrolar na semana – brincadeiras, passeios,

pinturas, rodas de conversa, momentos de

contar casos e falar do dia, e as crianças,

adolescentes vão apresentando sua vida, seus

desejos, necessidades, vontade. O espaço de

conhecimento vai se alargando. Os educadores

se agrupam com crianças e adolescentes de

vários bairros. Em grupos pequenos, resolvem

explorar o lugar de moradia de cada uma

daquelas crianças e adolescentes. Conhecer a

casa, o campo de futebol, o lugar das

brincadeiras nas ruas, os tipos de jogos, suas

regras. É uma festa e um alvoroço muito

grande. As crianças e os adolescentes

começam a ser valorizados e a perceber que

sua história é um saber que tem valor. Eles

principiam a se sentirem cidadãos, como

pessoas que pensam, sentem, refletem e que,

podem dialogar com os adultos que ali estão

trabalhando com eles.

Esse processo de formação do grupo e do

desenvolvimento da capacidade de dialogar estava

Contagem / MG

Page 65: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

previsto e preparado no planejamento das

atividades do serviço socioeducativo. Vários

educadores ficaram responsáveis por este

movimento. Ao coordenador cabe organizar as

saídas, as chegadas das crianças e dos

adolescentes. Cabe garantir a logística necessária

para o bom desempenho das atividades.

Termina a primeira semana de trabalho.

Sábado e domingo de descanso e reflexão sobre

a densidade de informações e vivências dessa

semana que passou.

É segunda-feira. Como foi a primeira

semana de trabalho com a presença das

crianças e adolescentes? O que foi aprendido?

O que foi observado? Hora de avaliar, analisar.

É necessário um tempo da equipe para esse

estudo e análise. O coordenador convoca e

organiza esse tempo. Marca o horário,

encaminha a reunião, convida os participantes.

Aí está o planejamento em ação.

À tarde chegam as crianças e os

adolescentes. Chegam ansiosos trazendo novas

notícias, comentando a semana anterior. Hora

de organizá-los em pequenos grupos para que

também participem da avaliação e análise da

semana anterior. Num segundo momento,

sente-se a necessidade de refazer os grupos

para que haja uma maior troca de experiências

entre as crianças e os adolescentes. Que tal

um grupo por idade? Depois, que tal mesclar

65 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

Page 66: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

66Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

visitas e as saídas da Unidade. No meio da

semana, um grupo de crianças foi conhecer a

biblioteca da escola de uma das participantes.

Uma biblioteca ainda pequena, mas muito

bem organizada.

Um dos adolescentes já participava de um

grupo de hiphop. Veio o convite: vamos conhecer

o hip hop, vamos visitar o grupo de hip hop. E lá

se foram os adolescentes, como passarinhos

esvoaçantes, alegres, envolvidos completamente

na atividade. Com eles, um educador que era

professor de violão, que pode participar da

formação da equipe desde seu início, no momento

da elaboração do planejamento.

os grupos entre crianças e adolescentes?

Vários jogos são organizados, várias atividades

são propostas com o objetivo de facilitar a

expressão das crianças e dos adolescentes:

teatro, pintura, música, desenho, colagens.

Não foi possível terminar nessa segunda-feira.

Não há problema, continua-se na terça-feira.

O importante é que haja a socialização das

conclusões, produtos elaborados por cada

grupo. A produção pode ser individual ou

coletiva, mas deve ser para a coletividade, com

um caráter publicizante.

Surge uma nova idéia, ainda não

prevista em detalhes no planejamento

elaborado: realizar um trabalho com as

brincadeiras e jogos cotidianos das crianças e

dos adolescentes. O coordenador propõe

encontros para se planejar este trabalho. O

que fazer? Como fazer? Quando? Com que

objetivos? Como envolver as crianças e

adolescentes nesse planejamento? Que tempo

e recursos (humanos e financeiros) serão

necessários? É viável? Se não, o que falta para

garantir sua viabilidade? Como buscar estes

recursos? Quem fica responsável pela

coordenação desse plano (projeto de trabalho)?

Como o planejamento não é uma camisa de

força, é possível mudar o rumo das atividades

ou mesmo de parte do plano de ações. Podem

sair ou entrar outras possibilidades, desde que

as mudanças contribuam para a realização

dos objetivos gerais do planejamento.

Durante a semana, além dos jogos

com as crianças e adolescentes, continuam as

Conhecer a vida e o jeito de ser e de

pensar daquelas crianças e adolescentes é um

objetivo do planejamento. Nesse caso, nada

melhor que chegar bem de perto de suas

atividades cotidianas, ouvi-los, valorizar o que

produzem e promover a troca de experiências, e

a partir daí, ampliar esta experiência.

Contagem / MG

Page 67: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

67 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

Outra semana corre cheia de novidades,

e o tempo passa bem rápido. Várias frentes de

trabalho vão se abrindo. É hora de dar

continuidade ao que já se está fazendo e ir

aprofundando em sua análise e buscar uma

forma de registro das atividades e reflexões.

O planejamento faz um mês de vida.

Várias atividades foram desenvolvidas.

Algumas pequenas avaliações foram realizadas

envolvendo os vários atores. Surge nessas

avaliações a necessidade, já prevista no

planejamento, de atrair a presença das famílias

das crianças e adolescentes. Que trabalho

realizar com suas famílias? Avaliou-se que é

preciso prever e desenvolver um trabalho

articulado, de médio e longo prazo. Foi dito que

é um desafio. O tempo dos pais, mães, tias,

irmãos é pequeno. Muitos trabalham o dia

todo. No final de semana, estão cansados e

pouco motivados para outras atividades. Como

fazer? O que motivaria sua participação? Não

mais adianta realizar reuniões ou palestras

com temas variados para instruir os membros

da família.

O envolvimento da família nas atividades do serviço socioeducativo é uma

questão que precisa ser melhor aprofundada. Que atividades conjuntas que tenham

significado para as famílias se pode pensar e organizar? Depois de muitas reflexões,

decidiu-se organizar uma pequena equipe, dirigida pelo coordenador, para apresentar,

dentro de um mês, uma proposta de trabalho com as famílias. Esta equipe será

composta pelo coordenador da Unidade, por um educador, pelo representante de

alguma associação de bairro e por uma professora de algumas das escolas frequentadas

pelas crianças e adolescentes. Aqui será realizado, em processo, um planejamento

específico que esteja em consonância com os objetivos do planejamento geral.

Page 68: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

68Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

O semestre termina. Férias escolares.

Decidiu-se realizar no retorno das atividades

grande processo de avaliação e de registro dos

primeiros meses de trabalho. Serão realizadas

pequenas reuniões envolvendo, em vários

momentos, todos aqueles que participaram, de

alguma forma, das ações realizadas. Pensa-se em

transformar a avaliação em um espaço efetivo de

formação da equipe. É mais um espaço de se

exercitar a escuta, a observação e de se

desenvolver a capacidade de análise. Crianças,

adolescentes, educadores, psicólogos, pessoal dos

serviços gerais, pais, professores e outros estarão

falando, analisando, propondo projetos.

O planejamento dessa Unidade trabalha

com a concepção de avaliações e monitoramento

constantes. A avaliação é parte intrínseca do

planejamento e se torna um tempo fundamental

de formação e de definições de novos planos de

ações. Cada grupo de pessoas se envolve na

medida de suas possibilidades, na proporção de

sua experiência e maturidade. Todos e todas

participam e contribuem. O coordenador, com

sua equipe de trabalho, tem a incumbência de

preparar e gerir este processo.

A avaliação durou mais de um mês.

Material é que não falta para se analisar. Várias

novas idéias surgiram para novos planejamentos.

Com as famílias, conseguiu-se apenas obter

algumas participações pontuais. A maioria das

inserções foram individuais.

Quanto à participação das famílias,

avaliou-se que ainda não existem recursos

financeiros suficientes para o desenvolvimento de

atividades do serviço socioeducativo integradas

entre as crianças e os adolescentes e suas

famílias. Optou-se por realizar uma feira cultural

com a participação dos membros das famílias e

de pessoas dos bairros, da escola: música,

artesanato, pintura, contação de casos, culinária,

conversas informais... Para o ano seguinte, serão

buscados recursos humanos e financeiros para

um processo contínuo, integrado com as

famílias. Esse é um ponto que deve fazer parte da

preocupação do coordenador para o

planejamento do próximo ano.

O trabalho seguiu por todo o ano. Foram

realizadas várias atividades, ora somente com as

crianças, em grupos separados dos

adolescentes, ora com grupos mesclados. Todos

já se conheciam pelo nome e pelo local de

moradia. Reuniões de avaliações da equipe

aconteciam, pelo menos, uma vez por semana.

Vários imprevistos surgiram que foram sendo

resolvidos com paradas rápidas da equipe.

Imprevistos como doença ou saída de alguém

da equipe, surto de conjuntivite nas crianças,

atraso no recebimento de recursos financeiros,

necessidade de contratação de algum

profissional especializado em determinada

atividade ou assunto. Tais imprevistos, como o

próprio nome diz, não poderiam ser antecipados

pelo planejamento. Mas a não rigidez do

planejamento e a flexibilidade de atuação da

equipe contribuíram para a busca de soluções

para as imprevisibilidades.

O coordenador não estava presente em

todas as reuniões e nem em todas as atividades.

Page 69: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

69 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

Seu papel é o de coordenar a elaboração e

execução do planejamento. Ele deve ser aquele

que tem a visão geral de todo o processo. O

poder de execução das ações e de tomada de

decisões é uma tarefa coletiva, que, em várias

situações, é exercida por alguém individualmente.

A responsabilidade é de todos. Nesse sentido, é

mister que a equipe de trabalho esteja

plenamente afinada com os objetivos do

planejamento geral, definidos coletivamente. O

coordenador é o articulador, portanto, de todas

as ações e de toda a equipe de trabalho.

Enfim, planejar de forma democrática e

participativa é um processo cumulativo,

crescente, flexível. Exige competências e

sensibilidades. Não é uma improvisação, nem

tampouco um deixar fazer. Exige clareza de

objetivos e uma coordenação articulada das

ações. Exige uma distribuição do poder

decisório. Esta forma de planejar é um espaço e

tempo privilegiados de formação de pessoas,

que pode ser, além de tudo, um tempo

prazeroso e compensador de trabalho. Mas, é

sempre um grande desafio.

Page 70: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e
Page 71: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

O cotidianodo serviçosocioeducativo5

Page 72: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

CA ECA ECA ECA ECA ECECA ECA ECA ECA ECA

CA ECA ECA ECA ECA ECECA ECA ECA ECA ECA

CA ECA ECA ECA ECA ECECA ECA ECA ECA ECA

CA ECA ECA ECA ECA ECECA ECA ECA ECA ECA

CA ECA ECA ECA ECA ECECA ECA ECA ECA ECA

CA ECA ECA ECA ECA ECECA ECA ECA ECA ECA

CA ECA ECA ECA ECA ECECA ECA ECA ECA ECA

CA ECA ECA ECA ECA ECECA ECA ECA ECA ECA

CA ECA ECA ECA ECA ECECA ECA ECA ECA ECA

CA ECA ECA ECA ECA ECECA ECA ECA ECA ECA

Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas

humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos

na Constituição e nas leis.

Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:

I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais;

II - opinião e expressão;

III - crença e culto religioso;

IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;

V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;

VI - participar da vida política, na forma da lei;

VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.

Contagem / MG

Page 73: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

73 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

Ô abre a roda tindolele,ô abre roda tindolalá,ô abre a roda tindolele,tindolele, tindolalá.(Cantiga de roda tradicional)

“Organizo e defino cada oficina, cada criança participa de 3 oficinas por dia e mais a do para

casa, que funciona todos os dias. De 30 em 30 dias escolhemos um tema a ser trabalhado nestas

oficinas (...), mantenho um contato direto com as crianças, deixando que eles opinem nas

oficinas e com os pais, tentamos mantê-los presentes na vida das crianças. Organizo mostras

no fim de cada mês com apresentações de teatro, danças e exposição do que as crianças

confeccionaram na oficinas (os pais são convidados para assistir, mas infelizmente poucos

comparecem). Mantenho uma relação direta com os educadores, pois nos reunimos pelo menos

uma vez na semana para avaliar o desenvolvimento das crianças e o rendimento das oficinas,

estamos sempre trocando idéia. Quando necessário, faço uma visita à escola e à casa das

crianças, faço relatórios mensais sobre tudo que foi desenvolvido no programa.”Pollyanna Alves Gomes (Coordenadora Pedagógica, Santa Luzia)

“Desempenho meu trabalho através de: reuniões pedagógicas mensais, reuniões

de pais, reuniões com a comissão do Peti, visitas domiciliares, organização das

atividades pedagógicas desenvolvidas, estudo de caso, elaboração de pauta das

reuniões; realização de planejamento bimestral e semestral com a equipe de

educadores e equipe, acompanhamento das ações executadas, realização e

execução de projetos, realização de capacitação profissional.”Priscila Soares Resende (Diretora de Unidade de Atendimento Sócio Educativo, Caeté)

Page 74: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

74Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

Organização dos espaços, dos tempos e dos grupos

No serviço socioeducativo, a organização

do tempo e do espaço é construída a partir

das variadas atividades: oficinas de arte, de

literatura, atividades esportivas, tempo para

os projetos, rodas de conversa, etc. Algumas

atividades são orientadas e outras livres. Em

um projeto, por exemplo, pode ser necessária

a formação de subgrupos, já uma oficina de

dança ou música pode ser coletiva; no início

do dia ou da semana, podem ser feitos

combinados coletivos para essa organização.

É essencial oferecer momentos de escolha e

decisão por parte das crianças e

adolescentes, estimulando o progressivo

desenvolvimento de sua autonomia.

Na organização do trabalho, pode-se

pensar que a escolha das atividades, a

formação dos agrupamentos, o tempo a ser

dedicado a um tema ou oficina são decisões

que variam em função dos objetivos de cada

atividade e dos interesses e demandas das

crianças, adolescentes e educadores.

Isso significa compreender que o serviço

socioeducativo não tem currículo pronto, um

programa de ensino ou conteúdos a serem

cumpridos, entendendo as especificidades e a

identidade de cada grupo, as atividades, pesquisas,

oficinas e a própria rotina do atendimento serão

construídos a partir dos desejos, curiosidades e

necessidades das crianças, dos adolescentes, dos

educadores, da família e da comunidade. É um

modelo aberto de planejamento, baseado na

escolhas e necessidades.

Por outro lado, não pressupõe falta de

organização, as escolhas das atividades devem

ser combinadas, registradas e programadas,

assim como os usos dos espaços, dos materiais

e a formação dos grupos.

A boa organização das atividades pode

favorecer o trabalho de construção de

conhecimentos, hábitos, habilidades e atitudes.

Mas é importante que se criem momentos

diferenciados, em que cada criança e

adolescente possa manifestar-se. Por isso,

podem ocorrer momentos em que toda a turma

estará discutindo informações, trocando

conhecimentos, definindo as melhores maneiras

de encaminhar os trabalhos.

Em outros momentos, os diferentes

grupos poderão desenvolver diferentes

atividades ligadas a um tema trabalhado ou

uma oficina. E, ainda, individualmente uma

criança pode estar desenvolvendo uma tarefa,

em função de sua escolha. Naturalmente, o

educador deve mediar a construção dessas

decisões, discutindo os limites e as possibilidades

de cada escolha.

Planejar e fazer uma boa organização

das atividades possibilita ao educador ter uma

direção do seu trabalho, confirmando avanços

e descobrindo desafios.

Page 75: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

O serviço socioeducativo com crianças e

adolescentes deve considerar que a infância e a

adolescência não são ciclos de vida unificados e

cada ciclo apresenta características de

desenvolvimento, interesses e capacidades muito

diferentes. É importante considerar este aspecto

no cotidiano do atendimento: na organização

dos tempos, dos espaços e das atividades,

respeitando e integrando as especificidades de

cada idade. É importante garantir a convivência

do coletivo, mas também compreender os

interesses e motivações comuns que existirão

entre crianças de idades mais próximas.

O ciclo de vida das crianças e dos

adolescentes pode ser dividido em estágios

menores, mais homogêneos nas características

de formação e socialização. As atividades

planejadas devem levar em conta a diversidade

de interesses, potencialidades e ritmos.

Podemos entender esta divisão do ciclo de vida

da seguinte forma:

75 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

Etapa de desenvolvimento Idade

Infância 6, 7 e 8 / 9 anos

Pré-Adolescência 9,10 e 11 / 12 anos

Adolescência 12, 13 e 14 anos

Fonte: CARVALHO, 2006.

Page 76: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

76Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

Vamos ver como pode ser um exemplo de uma semana de atividades?

As oficinas e projetos aqui

citados são apenas exemplos e que,

em seu contexto de trabalho, podem

ser substituídos por outras interessantes

propostas de trabalho.

2ª feira 3ª feira 4ª feira 5ª feira 6ª feira

Capoeira

Informática /inclusão digital

Oficina debrincadeirase brinquedos

Projetotemático:submarinos

Oficina deesporte

Oficina debrincadeirase brinquedos

Oficina deesporte

Capoeira

Atividadesna horta

Produção detextos para ojornal mural

Informática /inclusão digital

Projetotemático:submarinos

Informática /inclusão digital

Capoeira

Oficina deesporte

Projetotemático:diversidadecultural

Informática /inclusão digital

Capoeira

Palestra sobresaúde

Produção detextos para ojornal mural

Oficina deesporte

Projetotemático:diversidadecultural

Pré-adolescentes

de 9, 10 e

11 anos

Informática /inclusão digital

Projetotemático:diversidadecultural

Oficina de xadrez

Informática /inclusão digital

Capoeira

Projetotemático:saúde esexualidade

Informática /inclusão digital

Visita aomuseu dacidade

Oficina deesporte

Capoeira

Produção detextos para ojornal mural

Informática /inclusão digital

Projetotemático:saúde esexualidade

Adolescentes

de 12, 13 e

14 anos

Oficina deesporte

Projetotemático:saúde esexualidade

Oficina de xadrez

Crianças de 6,7 e 8 anos

Oficina de xadrez

Oficina debrincadeirase brinquedos

Page 77: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

77 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

Comentando este exemplo de planejamento:

• A organização por idade é apenas uma referência. Em muitos momentos, os grupos podem e

devem ser mais heterogêneos, com crianças e adolescentes juntos.

• Os “projetos temáticos” podem ser diferentes para cada ciclo de idade, pois os grupos tendem

a ter interesses diversos. Isso não significa que os três grupos não possam pesquisar um tema

comum. É bom lembrar que o tema e o percurso de pesquisa vivido pelo grupo em um projeto

é uma construção de educadores, crianças e jovens e, portanto, ele é construído no processo

vivido pelo grupo. (Ainda neste capítulo falaremos mais sobre os projetos).

• As oficinas de informática/inclusão digital ocorrem em dias diferentes pois na sala de

informática só é possível atender grupos pequenos. É claro que o uso do computador ou

internet pode ser feito em outros momentos, por exemplo na pesquisa de algum projeto ou em

“tempos livres”.

• As atividades como visitas a espaços externos ou assistência a uma palestra de convidados vão mudar

de acordo com a demanda das turmas e das possibilidades de parcerias que forem construídas.

• Todo o planejamento é uma referência inicial, portanto deve ser flexível.

Para registrar as decisões tomadas e

organizar bem o cotidiano, o coletivo da

instituição deve construir uma “rotina” do

trabalho; ela pode ser feita pelas crianças e

adolescentes, em um cartaz, por exemplo. A

rotina pode ser construída e registrada com

todo o coletivo, mas será sempre reconstruída

(diariamente ou semanalmente) em função

das necessidades e escolhas do grupo,

funcionando como uma agenda e não uma

tradicional grade curricular.

Considerando a ideia de que as crianças

e os adolescentes devem estar na centralidade

do trabalho, é fundamental que na

organização do planejamento se realizem

diariamente rodas de conversa como espaços

para: debater, tomar decisões, discutir

temáticas, organizar as atividades, socializar

informes e noticias, apresentar novas pessoas,

organizar um passeio, negociar, conversar

sobre conflitos etc.

Page 78: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

78Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

Vamos ver como pode ser um exemplo de uma rotina diária de atividades?

Acolhida das crianças

e dos adolescentes

Roda de conversa

Escutar as crianças

em qualquer demanda

que tenham, mediar

negociações, dar

recados sobre alguma

festa ou data

importante,

apresentar novas

pessoas no grupo etc.

Participar da roda,

dar sugestões,

esclarecer problemas

que tenham ocorrido.

A roda é um espaço

fundamental de

negociação, interação e

formação do grupo.

Toda a equipe deve

participar da roda.

Atividades

desenvolvidas

Papel dos

educadores

Papel do

coordenador

Observações

7:30

Oficina de capoeira

Oficina de informática

Assumir os grupos

e coordenar o

trabalho das

diferentes oficinas.

Acompanhar e

avaliar o trabalho

das oficinas.

A divisão do grupo nas

oficinas vai depender

do interesse das

crianças e dos

adolescentes.....

8:00

8:50

Lanche Acompanhar os

grupos que estavam

em sua oficina.....

9:40

Oficina de brinquedos

e brincadeiras

Projeto temático

sobre “a história

da comunidade”

Assumir os grupos

e coordenar o

trabalho das

diferentes oficinas.

Acompanhar e

avaliar o trabalho

das oficinas.

Nas oficinas de

brincadeiras, pode estar

acontecendo tanto a

construção de algum

brinquedo quanto uma

gincana ou festival.

Nas atividades dos

projetos, pode ser

necessário usar a

internet, a biblioteca ou

trazer algum convidado.

10:10

11:00

Almoço Acompanhar os

grupos que estavam

em sua oficina.....

11:50

Despedida12:20

Page 79: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

79 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

Espaço de aprendizagens

“Educar é substantivamente formar.”(Paulo Freire, 1996)

“Cada pessoa tem direito à igualdade, sempre que a diferença inferioriza e tem direito à diferença toda vezque a igualdade homogeneiza.“(Boaventura)

É essencial que o serviço socioeducativo,

no âmbito da assistência social, favoreça o

acesso e a reflexão acerca dos conhecimentos

historicamente acumulados pela humanidade,

para que crianças e adolescentes possam

construir questões, formular hipóteses, realizar

pesquisas sobre diferentes temas, exercitando

seu olhar reflexivo sobre o mundo.

A aprendizagem é um processo de

aquisição de condições para o desenvolvimento

de crianças e adolescentes, que necessitam e

têm o direito de se formarem como seres

humanos autônomos, capazes de criar e

recriar conhecimentos, de ler e interpretar o

mundo, de interagir e de se apropriar dele de

forma crítica e criativa.

Este espaço pode assim se constituir

em um espaço privilegiado onde crianças e

adolescentes possam, de forma consciente e

planejada, tomar distância de seu cotidiano,

de suas relações pessoais e sociais e sobre

eles refletir, num ato essencialmente produtor

de conhecimento. Possam também

amadurecer esta capacidade de olhar de outro

lugar a própria vida e a dos outros indivíduos

e da sociedade.

O fazer educativo consiste no

desenvolvimento de atividades, posturas e

situações que sejam significativas, centradas

nas curiosidades, interesses, necessidades e

possibilidades da criança e do adolescente,

ajudando-os no avanço efetivo do seu

processo de desenvolvimento humano.

É através dos questionamentos, das

discussões, dos diálogos, pesquisas, explorações,

experimentações, manipulações e comparações

A aprendizagem ultrapassa o domínio de conteúdos e informações e se tece

enquanto experiência e oportunidade de desenvolvimento de competências, atitudes e

posturas ligadas à interpretação, contextualização e construção dos conhecimentos

pelos sujeitos a partir de suas vivências, expectativas, desejos e curiosidades.

Page 80: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

80Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

entre os elementos do ambiente que as crianças e

os adolescentes constroem o seu conhecimento.

Cabe destacar, portanto, que os

conhecimentos prévios das crianças e

adolescentes podem ser ponto de partida para

muitas aprendizagens e atividades propostas e

devem apresentar desafios, entendendo que a

resolução de problemas é forma de aprender.

A diversidade dos sujeitos e suas diferentes

potencialidades devem ser reconhecidas,

respeitadas e trabalhadas. Os diferentes sujeitos

aprendem de formas e em tempos diversos. A

intenção é que todas as crianças e adolescentes

construam habilidades e competências, mas isso

não pode ser fator excludente.

Mas no serviço socioeducativo, o

que é ensinado? Por quê? Para quê?

Como? Quem ensina? Quem aprende?

Em uma concepção construtivista de

aprendizagem, é nos diálogos entre sujeitos e

conhecimentos – mediados pelos educadores –

que se constrói um ensino coerente aos

interesses, às necessidades e referências

culturais dos educandos.

Nesse sentido, uma ação educativa

requer que, a partir dos conhecimentos prévios

dos educandos, conteúdos sejam ampliados,

diversificados e exercitados. Inclui e privilegia o

processo de formação humana que ultrapassa

a aprendizagem de conteúdos escolares (que

chamamos de matérias ou disciplinas),

considerando, incorporando e integrando as

várias dimensões do desenvolvimento humano.

As atividades do serviço socioeducativo

não têm objetos de conhecimento previamente

definidos, elas são construidas a partir das

Uma atividade do serviço

socioeducativo pauta-se no cumprimento

dos direitos das crianças e dos adolescentes

e em sua formação para a cidadania,

numa concepção que faz do brincar, da

experiência lúdica, da vivência artística

uma forma privilegiada de expressão, de

pensamento, de interação e aprendizagem

da criança e do adolescente.

Paraopeba / MG

Page 81: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

81 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

especificidades dos sujeitos envolvidos e da suarealidade socio-histórica; elencar algumascapacidades ou competências como possíveisaprendizagens. Espera-se, por exemplo, que noserviço socioeducativo, crianças e adolescentes

tenham a condição de:

• Desenvolver, dentro de relações afetivas e de cooperação, a autonomia, a responsabilidade e a

capacidade de trabalhar em grupo.

• Construir formas de representação e expressão do mundo através de múltiplas linguagens: o

desenho, a pintura, o teatro, a dança, o brincar.

• Acessar, tratar, interpretar e analisar fatos e informações.

• Desenvolver a capacidade de resolver problemas.

• Fazer uso da leitura e da escrita de maneira funcional e significativa, a partir de suas

reais necessidades.

As aprendizagens poderão ocorrer

nas mais diferentes situações: nas

rodas de conversa, na elaboração de

um jornal mural, na oficina de grafitti,

ou de literatura de cordel, em uma

contação de história, no uso da

informática ou da internet, na

preparação de uma festa, a partir de

uma palestra, de um debate, tirando

fotografias, em um passeio e também a

partir dos projetos.

As instituições e equipes de trabalho

podem discutir, reconstruir ou ampliar esses

objetivos, a partir das suas demandas reais.

Page 82: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

82Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

Trabalho por projetos2

No trabalho por projetos, os conteúdos

e as estratégias são discutidos e selecionados

coletivamente pelos educadores, crianças e

adolescentes. A aprendizagem passa a fazer

parte da experiência social de crianças e

adolescentes e do educador, que atua como

pesquisador e aprendiz, e não como mero

“transmissor” de conhecimentos.

Neste caminho, é essencial uma prática

em que as crianças e os adolescentes

desenvolvam o pensamento crítico, a capacidade

de argumentar, a capacidade de ouvir e

considerar a opinião do outro, e de adquirir

desenvoltura para a defesa das suas posições.

2 Item construído a partir do texto: LEITE, Lúcia Helena Álvares. Do formal ao cultural: a experiência da escola Balão Vermelho com os projetos de trabalho. Escola BalãoVermelho, 1998.

Quanto mais se problematizam os educandos, como seres no mundo e com o mundo, mais se sentirãodesafiados. Tão mais desafiados, quanto mais obrigados a responder ao desafio.(Paulo Freire)

Segundo Paulo Freire, o diálogo é um elemento-

chave no qual educador e educando são sujeitos

atuantes, para pensar e agir criticamente,

expressar suas ideias e pensar a partir de uma

realidade concreta. A democratização das

relações e o protagonismo se dão por meio da

efetiva e plena participação de todos, na prática

cotidiana de debater, tomar posições, assumir e

responder por decisões.

Mais que uma metodologia didática, ou

uma sequência de passos a serem seguidos, os

projetos refletem uma postura pedagógica em

que crianças e adolescentes atuam como

sujeitos ativos do seu processo de aprendizagem.

Trabalhar por projetos envolve sempre a resolução de problemas,

possibilitando a análise, a interpretação e a crítica. (...) O projeto busca estabelecer

conexões entre vários pontos de vista, questionando a ideia de uma visão única da

realidade e entrelaçando, de forma significativa, o conhecimento social e o

processo individual dos alunos, permitindo uma avaliação contínua da

aprendizagem. (Lúcia Helena Alvarez Leite)

Page 83: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

83 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

Tema

O tema de um projeto pode surgir a

partir uma conversa na roda, de uma notícia

de jornal, de um fato acontecido no país ou na

própria comunidade. O importante é que o

tema pesquisado seja pertinente e interessante

e que as crianças e os adolescentes se

envolvam com uma pesquisa sobre esse tema,

construindo as hipóteses a serem investigadas.

O processo de investigação pode dialogar com

diferentes áreas de conhecimento, fazendo-o

de forma significativa.

Planejamento

O planejamento de um projeto é

construído, em processo de negociação

coletiva, por crianças, adolescentes e

educadores, a partir dos seus objetivos,

surgidos das curiosidades, indagações e

interesses sobre um tema.

Etapas ou atividades

As etapas ou atividades são também

construídas coletivamente a partir dos objetivos

do projeto ou das questões que ele busca

responder. É possível trabalhar com diversas

fontes de informação e propor atividades

abertas, dando possibilidades para que as

próprias crianças e adolescentes estabeleçam

suas estratégias de aprendizagem e formas de

registro. É importante pensar: como as ações

serão organizadas? Em que período? Que

aprendizagem se espera em cada uma delas?

Que registros podem ser produzidos? O

educador é alguém que assume a coordenação

do processo sem que isso signifique a imposição

da sua lógica.

Desenvolvimento

O desenvolvimento do projeto é fase de

realização daquilo que foi planejado; momento

em que crianças e adolescentes entendidos como

sujeitos usam sua experiência para resolver

problemas colocados pelo projeto, ocorrendo

assim a aprendizagem compartilhada, cujo

resultado é a ampliação do conhecimento e a

gestação de novas questões. A cooperação, o

envolvimento e a responsabilidade são

fundamentais no desenvolvimento do projeto. Em

função da organização do projeto, a rotina ou as

turmas podem ser alteradas. Essas negociações

também devem ser coletivas.

Apresentação dos resultados

A apresentação dos resultados ou

disseminação do trabalho permite que

crianças e adolescentes, educadores, famílias e

comunidade possam ter a percepção real do

processo vivido e de possíveis aprendizagens.

Avaliação

A avaliação deve ser feita tanto pelos

educadores, quanto pelas crianças e

adolescentes, no decorrer do projeto e a partir

Page 84: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

84Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

de registros como desenhos, fotografias,

mapas, textos, relatórios de reuniões entre

educadores, anotações das discussões com

base nos textos para reflexão e também a

partir das atividades, conversas e escolhas.

Pode-se avaliar a dimensão coletiva do

trabalho, a motivação, a integração e verificar

se as atividades planejadas foram cumpridas e

responderam às demandas. E ainda: a

avaliação das aprendizagens adquiridas, com

base nos objetivos escolhidos, a aquisição de

novos conhecimentos, as mudanças de atitude

e comportamentos, o aumento do repertório

de informações, etc. Muitas questões e

curiosidades que surgem no desenvolvimento

de um projeto podem servir de impulso inicial

para a elaboração de novos projetos.

Page 85: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

85 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

Dever de casa

A partir da reflexão acerca de todos os

aspectos que envolvem a dimensão da

aprendizagem no atendimento do serviço

socioeducativo, é importante refletir se nesse

atendimento deve-se ou não optar por um

espaço para a realização das tarefas da

escola. Essa é uma questão complexa, pois,

em alguns casos, as crianças e adolescestes

não encontrarão na família tempo ou

disponibilidade para a realização das

atividades escolares, e ainda, se considerarmos

que elas ocupam sua rotina entre a escola e o

serviço socioeducativo, só teriam como fazer

as atividade da escola à noite.

Por outro lado, é fundamental

compreendermos que a dimensão da

aprendizagem no serviço socioeducativo não

deve reproduzir e muito menos reforçar o

modelo escolar. No serviço socioeducativo, o

modelo de organização das atividades, a

concepção de aprendizagem, a organização dos

espaços, tempos e grupos e essencialmente a

idéia de que as crianças e adolescentes devem

estar no centro de seu processo educativo não

condizem com um modelo escolar tradicional

(conteudista e classificatório). Na medida em

que se reproduz aulas e atividades de conteúdos

específicos, corre-se o risco de repetir a prática

da escola e não complementá-la. Dessa forma,

as crianças e os adolescentes ficam privadas de

outras aprendizagens e de outras formas de

aprender, que também contribuirão para sua

formação escolar.

Vale lembrar que a dimensão da

aprendizagem no serviço socioeducativo

é ampla e envolve a construção de

valores, o exercício da convivência e do

protagonismo, a expressão de idéias a

partir das múltiplas linguagens da arte

e a reelaboração de conhecimentos

historicamente acumulados. Todas essas

possibilidades, sem dúvida, contribuirão

diretamente para o desempenho escolar

das crianças e dos adolescentes.

Um outro aspecto a ser considerado é a

necessidade de as famílias também

contribuírem para o processo de formação

integral de seus filhos e, neste sentido, pode ser

interessante que as tarefas da escola sejam

atividades “oficialmente” para serem feitas em

casa, e que cada equipe de trabalho reflita com

as famílias, com as crianças e os adolescentes e

com a própria escola, as especificidades de cada

caso, definindo se “aquela criança” ou “naquele

dia” deve fazer o para casa no horário das

atividades do serviço socioeducativo ou não.

Entendendo que as atividades do serviço

socioeducativo são construídas também em

parceria com a escola, é importante que

Page 86: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

86Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

professores e educadores compartilhem

experiências, planejem projetos e ações

comuns. A relação de parceria com a escola

favorece diretamente a qualidade do trabalho

desenvolvido, e pode contribuir na decisão de

que quais tarefas são para a escola, para a

família e para o serviço socioeducativo.

Outros aspectos podem estar envolvidos

nesta questão e, a partir de cada realidade de

atendimento, as equipes de trabalho terão o

desafio de definir como lidar com essa questão.

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87 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

Socialização e brincar

“Poesia para ser bela tem que ter a seriedade do brincar.”(Manoel de Barros)

O processo de socialização de crianças e

adolescentes deve se realizar através dos

vínculos de afetividade e respeito, envolve a

internalização de normas e valores, assim

como formas de relacionamento. O indivíduo

socializa-se a partir da experiência do

conhecimento que adquire ao longo de sua

vida em interações sociais.

A dimensão lúdica traz uma riqueza a

mais à realidade humana, na medida em que

envolve inteligência e vontade, ação e

habilidade, estimula o conhecer, o querer, o

agir, porque implica também alegria, satisfação

e liberdade.

Uma brincadeira ou um jogo desenvolve-

se dentro de limites e de lugares estabelecidos

e, sobretudo, segundo normas próprias, o que

demonstra um caráter de sociabilidade da

atividade lúdica. A maior parte dos brinquedos

tem caráter coletivo e a participação coletiva

em um brinquedo cria determinadas ligações

afetivas que são próprias da criança e

essenciais ao seu desenvolvimento.

O brincar pode ser entendido como uma

prática cultural que possui dimensões

relacionais e é construída nas interações entre

pares, sob forma de conteúdos representacionais

distintos, composta por um patrimônio de

jogos, brinquedos e brincadeiras que explicitam

a formas da criança e do adolescentes de

simbolizar, representar, compreender e interpretar

o mundo.

A brincadeira, portanto, deve ser uma

atividade privilegiada no cotidiano do trabalho

com crianças e adolescentes!

Bom Sucesso / MG

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88Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

PARA DAR CERTO...

Socialização e brincar

• Reconhecimento da brincadeira

como prática cultural essencial

ao desenvolvimento integral.

• Constituição de espaços

para convivência e interação

entre pares.

Possibilidades de trabalho

• Possibilitar espaços para diversos tipos de

brincadeiras e jogos.

• Realizar festivais de diferentes brinquedos

e brincadeiras.

• Pesquisar repertório de brincadeiras que fizeram

parte da infância das famílias.

• Pesquisar os espaços para brincar na comunidade.

• Registrar, de diferentes formas, o repertório

de brinquedos e brincadeiras que compõe o

universo cultural das crianças e dos adolescente

e da comunidade.

• Promover oficinas de construção de brinquedos.

• Possibilitar que crianças e adolescentes de

diferentes idades brinquem juntas.

• Possibilitar espaços de brincadeiras livres.

• Garantir o tempo da brincadeira cotidianamente

no atendimento.

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89 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

Arte e cultura, esporte e lazer

Quando nos referimos às ações educativas

desenvolvidas com e para crianças e adolescentes,

o ECA é claro ao dispor sobre seu direito, dentre

outros, às vivências diversificadas de cultura,

lazer, esporte e arte nas suas comunidades. Essa

é também uma das recomendações do Unicef,

apontada em seus estudos sobre demandas de

políticas para adolescentes, especialmente de

baixa escolaridade e renda.

As práticas de arte, cultura, esporte e

lazer podem ser entendidas “enquanto

momentos privilegiados para a vivência de

experiências significativas, para a promoção da

convivência em grupo e comunitária, para a

construção de valores pessoais, sociais e

cognitivos, enfim para a formação humana.”

(UNICEF, 2002, p.29) Essas práticas permitem

experiências que ampliam o conhecimento das

crianças e adolescentes sobre si mesmos, os

outros e o ambiente onde vivem.

O trabalho com a arte tem a intenção

de contribuir para o desenvolvimento das

capacidades de criar e apreciar, ampliando a

participação de crianças e adolescentes na sua

realidade cultural. Dançar, cantar, desenhar,

pintar, escrever ou filmar, fazer e apreciar arte,

num contexto multicultural, é uma forma de

educar para desenvolver potenciais e permitir oexercício da sensibilidade.

As atividades artísticas em suasdiferentes linguagens favorecem a sociabilidadee preenchem necessidades de expressão etrocas culturais. Elas devem estar voltadaspara o desenvolvimento e a formação desujeitos produtores de cultura. O trabalho daarte deve ser entendido como caminho deconhecimento, de realização e, especialmente,de expressão de idéias e reflexões, de formas derepresentar e interpretar, e não como aaquisição de competências técnicas ouinstrumentais. As múltiplas linguagensartísticas podem, portanto, ser vivenciadas nabusca do desenvolvimento do senso estético, dopotencial criativo e dos sentidos.

“Sabe o homem que as emoções é que são o sal da vida. Por isso é que quando um homem quer falar aocoração do outro, o faz pela linguagem da arte.”(Miriam Celeste Martins)

Contagem / MG

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90Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

As práticas esportivas, por sua vez, não objetivam formar atletas ou competidores e

sim favorecer a convivência, o desenvolvimento da consciência do corpo e de suas

possibilidades de perceber e agir sobre o ambiente. As práticas corporais “determinam

formas de interação, cooperação, autoestima, iniciativa, disciplina pessoal,” (CENPEC

2002) além de estimular o respeito mútuo e a cooperação.

É essencial entender que o exercício daprática esportiva e do jogo podem ser espaçospara construção de habilidades físicas emotoras, mas também para exercício de

convivência social, política e afetiva.

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91 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

PARA DAR CERTO...

Arte, cultura, esportee lazer

• Entendimento da arte como

linguagem que expressa idéias

e reflexões.

• Entendimento da atividade física

como espaço de convivência

social, política e afetiva.

• Contribuição no

desenvolvimento do senso

estético e da criatividade de

crianças e adolescentes.

• Acesso, conhecimento e

vivência de múltiplas formas de

expressão da arte e da cultura,

esporte e lazer.

• Valorização das identidades e a

diversidade cultural.

• Vivência e expressão de

manifestações artísticas,

culturais e esportivas.

• Acessibilidade às diversificadas

experiências culturais.

• Diversidade cultural como

reconhecimento das diferenças.

Possibilidades de trabalho

• Realizar visitas a espaços e participação em eventos

culturais diversos.

• Valorizar no cotidiano as manifestações diversas

da cultura popular: músicas, festas e tradições.

• Realizar oficinas de dança, teatro, música, artes

plásticas e poesia, como espaços de reflexão, crítica

e interpretação do mundo.

• Realizar pesquisa sobre história da comunidade e

suas tradições culturais.

• Promover espaços para a prática de diferentes

modalidades esportivas.

• Realizar passeios, gincanas, torneios.

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92Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

Avaliação e registros no cotidiano

A avaliação consiste no trabalho de

observar e compreender o que as crianças

fazem, quais os significados atribuídos por elas

aos elementos trabalhados e sua forma de

interagir e se expressar nas diversas situações

vivenciadas. É um processo relacionado com a

observação das crianças nos jogos,

brincadeiras, oficinas, atividades e na interação

com seus pares.

Um primeiro exercício para se pensar

em avaliação das atividades do serviço

socioeducativo é o de conhecer as crianças e

adolescentes: fatores físicos, intelectuais,

emocionais, questões ligadas ao seu

desempenho na escola, expectativas que

constroem sobre a instituição e ainda

questões relacionadas a seu universo familiar.

Esses são pontos-chave para construção das

propostas pedagógicas e para uma prática

sensível à realidade sociocultural do público

atendido. A partir disso, a observação e o

acompanhamento das atividades realizadas

pelas crianças e adolescentes, bem como a

análise dos registros produzidos por elas, são

os principais recursos de avaliação.

Vale lembrar que a avaliação nas

atividades do serviço socioeducativo não

intenciona certificar as crianças e os

adolescentes ou ainda padronizá-las com

saberes mínimos para cada idade. A avaliação

deve ser entendida como um exercício do olhar

do educador sobre os avanços e desafios de

cada criança e adolescente no seu processo de

formação integral, respeitando os tempos e

trajetórias diferenciadas de cada sujeito. As

referências para análise destes avanços e

desafios podem ser construídas a partir dos

eixos estruturantes e diretrizes apresentadas

neste documento.

Muitos registros podem ser produzidos

a partir do serviço socioeducativo: desenhos,

pinturas, textos, livros, músicas, vídeos, cds,

revistas em quadrinho, poesias, etc. Produzidos

ao longo das atividades e nas mais diferentes

circunstâncias, cada registro pode revelar a

reflexão do grupo ou do sujeito acerca do tema

pesquisado ou da situação vivida. Os registros

oportunizam ainda a divulgação do trabalho

realizado e a valorização das produções das

crianças e dos adolescentes.

A partir dessas produções, pode-se

organizar um portfólio: um conjunto de

registros que revela o percurso de reflexão e

aprendizagem e diferentes atividades

desenvolvidas ao longo um período de tempo.

Um portfólio é uma seleção de trabalhos, que

ordena evidências de aprendizagem e os coloca

num formato para serem apresentadas. Serve

também de instrumento para reflexão da

prática do educador. (GARDNER, 1994)

Page 93: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

93 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

O educador também pode construir um

registro de sua prática pedagógica, produzindo

um diário no qual ele escreve o que planejou,

como foi executado e o que percebeu durante

as atividades realizadas, como se desenvolveram

os processos escolhidos e as interações. Esse é

um registro da prática que permite ao

educador refletir sobre o que está fazendo,

além de ser memória do percurso vivido. É, ao

mesmo tempo, um excelente instrumento de

avaliação da ação educativa e um componente

pelo qual o educador acompanha o processo

de aprendizagem e socialização das crianças e

dos adolescentes.

Cabe ressaltar ainda que a avaliação no

serviço socioeducativo deve abranger todas as

suas dimensões. Neste sentido, além de avaliar

o processo de formação das crianças e dos

adolescentes, é necessário avaliar se estão sendo

assegurados seus direitos e, especialmente,

identificar casos de trabalho infantil, violência

doméstica e exploração sexual.

A avaliação assume um papel crucial. Ela

tem a função de analisar, passo a passo, o

desenvolvimento das crianças e dos adolescentes

e de detectar suas potencialidades e áreas

possíveis de crescimento, além de perceber os

pontos de partida - cognitivo e emocional - no

sentido de ampliar suas experiências.

Não se trata de avaliar o desempenho,

medido por algum processo quantitativo, para

determinar as diferenças e os graus de

aprendizagem, a partir de objetivos definidos de

forma externa ao projeto pedagógico, sem a

participação dos interessados.

A avaliação, ao contrário, deve se

constituir em mais um momento de aprender a

analisar e de construir parâmetros e referenciais

de pesquisa e análise.

A avaliação do processo pedagógico

também deve analisar as potencialidades e

possibilidades dos educadores e dos educandos,

com o objetivo de propor e organizar atividades

sistematizadas de qualificação, estudo,

pesquisa e desenvolvimento afetivo-cognitivo,

de forma inseparável.

Neste processo, a função de avaliação é

uma atribuição fundamental dos educadores,

deles é exigida uma presença marcante na vida

das crianças e dos adolescentes.

93 Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

Page 94: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e
Page 95: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

Muitas perguntas. Muitas inquietações. Muitos desafios. No horizonte, a defesa e a busca da

garantia dos direitos das crianças e adolescentes. Esta é a meta do serviço socioeducativo.

Mas, qual é o sonho?

O sonho é que um dia não sejam mais necessárias atividades do serviço socioeducativo para

garantir o direito, porque já teremos uma sociedade na qual não mais existirá uma criança ou um

adolescente sequer em situação de vulnerabilidade social, cultural ou econômica. Este nosso sonho vem

carregado de esperanças e de certezas.

Essa luta-trabalho vai se dando na busca de uma maior qualificação de uma equipe, na

negociação cotidiana de um maior investimento físico, material, financeiro e de pessoal nas políticas de

ações sociais e educativas. Também esta luta se dá no esforço de um maior envolvimento de toda a rede

social na garantia dos direitos das crianças e adolescentes.

E nossa maior luta é na mudança de concepções acerca do que se pensa sobre as crianças e os

adolescentes. Mudanças de mentalidade e de valores nem sempre são fáceis de se alcançar. É um

processo lento e longo.

Queremos fazer surgir uma nova sociedade, em que todos, homens, mulheres, meninos, meninas,

adolescentes e jovens tenham seus direitos assegurados, quase que de forma espontânea. Em que os direitos

vão se fazendo parte intrínseca dos corações e mentes de todas as pessoas e de todas suas instituições.

Saberes da gestão é mais um livro-ferramenta, marcado e guiado pelo desejo e pelo sonho de uma

sociedade bonita assim. Que o trabalho dos coordenadores do serviço sócioeducativo seja pautado por

este sonho e pela certeza de que essa sociedade da paz, da alegria e do direito é viável.

Uma conversaque nãotem fim!

Page 96: Saberes da gestão: o trabalho socioeducativo com crianças e

96Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

Esse é o melhor critério de avaliação de todas as atividades do serviço socioeducativo: ser o

espelho transparente dessa certeza.

A conversa não tem fim, pois muito trabalho ainda se apresenta diante de uma sociedade que,

todavia, mantém as crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, cultural e econômica.

Esse livro chegou quase na página final. Que ele possa provocar muita conversa, inúmeros

diálogos, que traga mais dúvidas e, principalmente, excelentes idéias, projetos, vontades e sonhos.

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102Instituto da Criança e do Adolescente – ICA(Org.)

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103Saberes da gestão:o trabalho socioeducativo com crianças e adolescentes

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Este livro foi composto em tipologias

Libre Sansserif (normal, itálico e negrito) e

Shannon-Book e impresso em papel couché

fosco 115 g na Rona Editora.