s1420736_ptdesenvolvimento inclusivo

344

Upload: celeste-martha

Post on 07-Nov-2015

46 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

inclusao

TRANSCRIPT

  • Por um desenvolvimento inclusivo O caso do Brasil

    Ricardo Infante Carlos Mussi Mauro Oddo

    Editores

    Comisso Econmica para a Amrica Latina e o Caribe (CEPAL)

    Santiago do Chile, maro de 2015

  • O presente livro resultado de um trabalho coletivo realizado no marco do Projeto Desenvolvimento inclusivo, executado como iniciativa conjunta da Comisso Econmica para a Amrica Latina e o Caribe (CEPAL), Organizao Internacional do Trabalho (OIT) e Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA).

    O documento foi elaborado sob a superviso de Ricardo Infante, consultor da CEPAL, de Carlos Mussi, Diretor do Escritrio da CEPAL no Brasil e de Mauro Oddo Nogueira, pesquisador da Diretoria de Estudos e Polticas Setoriais de Inovao, Regulao e Infraestrutura (DISET) do IPEA. A redao dos captulos esteve a cargo de especialistas da CEPAL e do IPEA, segundo o seguinte detalhamento: introduo: Ricardo Infante e Carlos Mussi; captulo I: Gabriel Coelho Squeff e Mauro Oddo Nogueira; captulo II: Mauro Oddo Nogueira e Joo Maria de Oliveira; captulo III: Jos Eustquio Ribeiro Vieira Filho, Gesmar Rosa dos Santos e Armando Fornazier; captulo IV: Gabriel Coelho Squeff e Victor Leonardo de Araujo; captulo V: Miguel Matteo; captulo VI: Eva Yamila da Silva Catela e Gabriel Porcile; captulo VII: Sergei Soares, e Captulo VIII: Ricardo Infante.

    As opinies expressas neste livro so de exclusiva responsabilidade dos autores e podem no coincidir com as das organizaes envolvidas.

    Comisso Econmica para a Amrica Latina e o Caribe (CEPAL), Santiago, Chile, 2015 Organizao Internacional do Trabalho (OIT), Santiago, Chile, 2015 Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA), Braslia, DF, 2015 Todos os direitos reservados. LC/L.3952 Maro de 2015 Impresso nas Naes Unidas, Santiago, Chile.

  • ndice

    Prlogo ................................................................................................................. 15

    Prefcio ................................................................................................................ 19

    Introduo ........................................................................................................... 23

    Captulo I A heterogeneidade estrutural no Brasil de 1950 a 2009 Gabriel Coelho Squeff, Mauro Oddo Nogueira ..................................................... 43

    Introduo ................................................................................................ 431. Evoluo histrica da produtividade (1950 a 2009) .................... 452. Olhando mais de perto (no tempo e no detalhe)

    os quartis ......................................................................................... 523. Olhando mais de perto ainda: atividades ................................... 624. Concluso ........................................................................................ 79Bibliografia ............................................................................................... 83Anexo ....................................................................................................... 84

    Captulo II Uma anlise da heterogeneidade intrassetorial no Brasil na ltima dcada Mauro Oddo Nogueira, Joo Maria de Oliveira .................................................. 87

    Introduo ................................................................................................ 871. Metodologia e dados ..................................................................... 892. A HE na economia como um todo ............................................... 913. A HE no setor industrial ................................................................ 974. Concluso ...................................................................................... 1165. A HE nos servios ......................................................................... 116

  • 4 CEPAL

    6. Concluso ...................................................................................... 1357. Consideraes finais .................................................................... 135Bibliografia ............................................................................................ 139Anexo ..................................................................................................... 140

    Captulo III Distribuio produtiva e tecnolgica da agricultura brasileira e sua heterogeneidade estrutural Jos Eustquio Ribeiro Vieira Filho, Gesmar Rosa dos Santos, Armando Fornazier ............................................................................................. 147

    Introduo .............................................................................................. 1471. Heterogeneidade estrutural e abordagem tecnolgica ........... 1502. Metodologia .................................................................................. 1563. Anlise dos resultados ................................................................. 1604. Breve comparativo entre Brasil e Estados Unidos ................... 1765. Concluso ...................................................................................... 181Bibliografia ............................................................................................. 183Anexo ...................................................................................................... 186

    Captulo IV Trajetria da taxa de cmbio e heterogeneidade estrutural na indstria brasileira Gabriel Coelho Squeff, Victor Leonardo de Arajo ............................................... 189

    Introduo .............................................................................................. 1891. Produtividade, taxa de cmbio e comrcio exterior:

    resumo da literatura .................................................................... 1912. Descrio dos dados .................................................................... 1973. Fatos estilizados ............................................................................ 2004. Metodologia economtrica ......................................................... 2085. Resultados ..................................................................................... 2116. Taxa de cmbio real e heterogeneidade estrutural:

    um resumo das evidncias .......................................................... 2187. Concluso ...................................................................................... 221Bibliografia ............................................................................................. 223Anexo ..................................................................................................... 226

    Captulo V Heterogeneidade regional Miguel Matteo .................................................................................................... 235

    Introduo .............................................................................................. 2351. Alguns aspectos metodolgicos ................................................. 236

  • Por um desenvolvimento inclusivo: o caso do Brasil 5

    2. Estrutura produtiva das regies brasileiras, segundo setores ............................................................................ 237

    3. Produtividade em 2008 ................................................................ 2424. Produtividade no perodo 1996-2008 ........................................ 2455. Concluso ...................................................................................... 251Bibliografia ............................................................................................ 254

    Captulo VI Heterogeneidade estrutural na produtividade das firmas brasileiras Eva Yamila da Silva Catela, Gabriel Porcile ....................................................... 255

    Introduo .............................................................................................. 2551. Heterogeneidade estrutural ........................................................ 2572. Metodologia e dados ................................................................... 2623. Resultados: agrupamentos das firmase modelo probit .......... 2674. Concluso ...................................................................................... 278Bibliografia ............................................................................................. 281Anexo ...................................................................................................... 283

    Captulo VII A queda na heterogeneidade estrutural explica a queda da desigualdade dos rendimentos do trabalho? Uma anlise preliminar Sergei Soares ....................................................................................................... 285

    Sinopse ................................................................................................... 285Introduo .............................................................................................. 2861. Setor econmico e rendimento do trabalho .............................. 2882. Produtividade setorial mdia do trabalho

    e rendimento do trabalho ............................................................ 2943. Concluso ...................................................................................... 299Bibliografia ............................................................................................. 300

    Captulo VIII Brasil no umbral do desenvolvimento. Um exerccio de convergncia produtiva Ricardo Infante ...........................................................................................................301

    Introduo .............................................................................................. 3011. Heterogeneidade estrutural e diversidade

    dos pases latino-americanos ...................................................... 3032. Brasil no limiar do desenvolvimento ........................................ 3123. Cenrios da convergncia produtiva e desafios ...................... 3194. Concluso ...................................................................................... 326Bibliografia ............................................................................................. 328Anexo ...................................................................................................... 331

  • 6 CEPAL

    Quadros

    I.1 Produtividade mdia do trabalho: variao anual mdia segundo macrossetor, 1950-2009 ........................................................ 47

    I.2 Produtividade mdia do trabalho: evoluo segundo os nveis (quartis) de produtividade, 2002-2009 ............................................... 54

    I.3 Razo entre a produtividade mdia do trabalho do quartil e a produtividade mdia do trabalho total, 2002-2009 ................. 55

    I.4 Valor adicionado: Composio segundo nveis (quartis) de produtividade, 2002-2009 ............................................................... 56

    I.5 Ocupao: Composio segundo nveis (quartis) de produtividade, 2002-2009 ............................................................... 56

    I.6 Renda mdia do trabalho segundo nveis (quartis) de produtividade, 2002-2009 ............................................................... 57

    I.7 Razo entre a renda mdia do trabalho no quartil e a renda mdia total da economia, 2002-2009 .................................................. 58

    I.8 Qualidade e formalizao da ocupao em 2002 e 2009 e a razo entre anos .............................................................................. 60

    I.9 Produtividade do trabalho e composio do VA e do PO, segundo atividades econmicas, 2002 e 2009 ................................... 65

    I.10 Distribuio do PO, segundo a produtividade das atividades e a qualidade da ocupao, 2002 ........................................................ 70

    I.11 Distribuio do PO, segundo a produtividade das atividades e a qualidade da ocupao, 2009 ........................................................ 73

    II.A.1 Indicadores HE .................................................................................... 140II.A.2 Indicadores HE setores da economia ............................................ 142II.A.3 Participao na estrutura produtiva - indstria ............................. 143II.A.4 Indicadores HE e participao na estrutura

    produtiva - servios ............................................................................ 144III.1 Taxonomia por grupos de eficincia tecnolgica ........................... 157III.2 Principais produtos agrcolas: Valor da produo

    (VP), 2009 ......................................................................................... 161III.3 Agricultura familiar: estratificao de renda , segundo

    a quantidade de estabelecimentos e o valor da produo, 2006 .............................................................................. 162

    III.4 Agricultura comercial e familiar: por grupos de intensidade tecnolgica e indicadores econmicos selecionados .................167

    III.5 Populao ocupada com rendimentos positivos: distribuio de rendimento, escolaridade e idade segundo o setor de atividade principal e a regio, 2009 ............................................. 169

  • Por um desenvolvimento inclusivo: o caso do Brasil 7

    III.6 Comparao entre a agricultura comercial e a familiar por grupos de intensidade tecnolgica, estratos de renda e ndice de Desigualdade Produtiva, 2006 ..................................... 171

    III.A.1 Perguntas dicotmicas sobre o uso de tecnologias diversas e acerca do grau de organizao institucional dos agentes, conforme o Censo Agropecurio de 2006 ...................................... 186

    III.A.2 Indicadores econmicos e variveis derivadas calculadas a partir do Censo Agropecurio de 2006 ........................................ 187

    IV.1 Descrio dos dados .......................................................................... 199IV.2 Indstria: produo fsica, pessoal ocupado

    e produtividade, 2002-2010 ........................................................202IV.3 ndice de quantum das importaes industriais,

    2002-2010.............................................................................................. 205IV.4 ndice de quantum das exportaes industriais,

    2002-2010.............................................................................................. 206IV.5 Elasticidades de longo prazo ........................................................... 213IV.6 Elasticidades de curto prazo ............................................................ 217IV.7 Elasticidade produtividade-cmbio, existncia de downsizing

    e produtividade do trabalho, 2008 .................................................. 220IV.A.1 Setores econmicos: compatibilizao das bases

    pima e ipeadata .................................................................................. 226IV.A.2 Testes para a presena de raiz unitria ........................................... 227IV.A.3 Equaes de longo prazo .................................................................. 230IV.A.4 Equaes de curto prazo ........................................................................... 232V.1 Brasil e regies: valor adicionado por setor de atividade

    econmica, 2008 ................................................................................ 243V.2 Brasil e regies: pessoal ocupado por setor de atividade

    econmica, 2008 ................................................................................. 244V.3 Brasil e regies: ndice de produtividade por setor

    de atividade econmica, 2008 .......................................................... 245VI.1 Divises da seo C, Classificao Nacional de Atividades

    Econmicas (CNAE) 2.0 .................................................................... 263VI.2 Sntese das variveis utilizadas ...................................................... 265VI.3 Agrupamento das firmas por cluster .............................................. 268VI.4 Resultado do modelo probit (geral) e efeitos marginais

    (EMg) por grupo (clu1-clu5) ........................................................... 272VI.5 Setores CNAE por intensidade tecnolgica ................................... 274VI.6 Valor agregado por intensidade tecnolgica,

    2000-2008 ......................................................................................... 275VI.7 Resultado modelo probit por intensidade tecnolgica ............. 277

  • 8 CEPAL

    VI.A.1 Setores CNAE a 3 dgitos por intensidade tecnolgica ........... 283VII.1 Rendimento setorial em relao ao setor agrcola ....................... 289VIII.1 Amrica Latina: camadas produtivas ........................................... 304VIII.2 Amrica Latina (18 pases): classificao por

    heterogeneidade estrutural ............................................................ 305VIII.3 Amrica Latina, pases selecionados(18) e Portugal:

    dados bsicos, 2009 .......................................................................... 308VIII.4 Brasil e Portugal: dados bsicos, 2009 .......................................... 311VIII.5 Brasil: brechas em relao a Portugal, 2009 .................................. 314VIII.6 Brasil: convergncia produtiva. Cenrio de

    Limiar do desenvolvimento ....................................................... 322VIII.A.1 Produto interno bruto (PIB), populao e emprego .................... 331VIII.A.2 Populao e emprego (2009) ........................................................... 332VIII.A.3 PIB por trabalhador (produtividade) segundo estrato

    produtivo (2009) ............................................................................... 333VIII.A.4 PIB por estrato produtivo (2009) ................................................... 334VIII.A.5 Emprego por estrato produtivo (2009) .......................................... 335VIII.A.6 Renda per capita (2009) .................................................................. 336VIII.A.7 Distribuio da renda (2009) ......................................................... 337VIII.A.8 Extenso da pobreza (2009) ............................................................ 338VIII.A.9 Brasil: dados bsicos (2009-2030) ................................................... 339VIII.A.10 Brasil: cenrios do limiar do desenvolvimento (2009-2030),

    para um horizonte de 21 anos ........................................................ 340

    Grficos

    I.1 Valor adicionado: composio segundo macrossetores, 1950-2009 ............................................................................................ 46

    I.2 Pessoal ocupado: composio segundo macrossetor, 1950-2009 ............................................................................................ 46

    I.3 Evoluo da produtividade mdia do trabalho, segundo macrossetores, 1950-2009 ................................................. 49

    I.4 Razo entre a produtividade mdia do trabalho do macrossetor e a produtividade mdia do trabalho total, 1950-2009 ................. 52

    I.5 Produtividade por atividade ............................................................ 68I.6 Participao das atividades no PO total (ordenada por

    produtividade decrescente), 2002 .................................................... 76I.7 Participao das atividades no PO total (ordenada

    por produtividade decrescente), 2009 ............................................. 77II.1 Total da economia: valor adicionado e ocupaes,

    2000-2009 ............................................................................................. 92

  • Por um desenvolvimento inclusivo: o caso do Brasil 9

    II.2 Total da economia: produtividade do trabalho e coeficiente de variao das interatividades da produtividade do trabalho, 2000-2009 ........................................................................... 92

    II.3 Total da economia: produtividade do trabalho, coeficiente de variao das interatividades da produtividade do trabalho e participao do pessoal ocupado, 2000 e 2009 .................... 94

    II.4 Decomposio da variao mdia anual da produtividade por setor da economia entre 2000 e 2009 ............................................ 96

    II.5 Variao anual mdia do valor adicionado, ocupaes e produtividade do trabalho por setores entre 2000 e 2009 ................. 97

    II.6 Indstria: valor adicionado e ocupaes, 2000-2009 ......................... 98II.7 Indstria: produtividade do trabalho e coeficiente de variao

    interatividades da produtividade do trabalho, 2000-2009 ............... 99II.8 Indstria: produtividade do trabalho, coeficiente de variao

    interatividades da produtividade do trabalho e participao do PO, 2000 e 2009 ...................................................... 100

    II.9 Indstria extrativa: valor adicionado e ocupaes, 2000-2009 ........... 102II.10 Indstria extrativa: produtividade do trabalho e coeficiente

    de variao das interatividades da produtividade do trabalho, 2000-2009 ......................................................................... 102

    II.11 Indstria extrativa: produtividade do trabalho, coeficiente de variao interatividades da produtividade do trabalho e participao do PO, 2000 e 2009 ...................................................... 103

    II.12 Indstria de transformao: valor adicionado e ocupaes, 2000-2009 ............................................................................................... 104

    II.13 Indstria de transformao: produtividade do trabalho e coeficiente de variao interatividades da produtividade do trabalho, 2000-2009 ........................................ 104

    II.14 Indstria de transformao: produtividade do trabalho, coeficiente de variao interatividades da produtividade do trabalho e participao do PO, 2000 e 2009 .................................... 105

    II.15 Utilities: valor adicionado e ocupaes, 2000-2009 ......................... 106II.16 Utilities: produtividade do trabalho.................................................. 106II.17 Construo civil: valor adicionado e ocupaes, 2000-2009 .......... 107II.18 Construo civil: produtividade do trabalho, 2000-2009 ............... 108II.19 Indstria: coeficiente de variao da produtividade

    do trabalho, segundo estratos, 2000-2009 ..........................................111II.20 Indstria: ocupao segundo estratos, 2000-2009 ........................... 112II.21 Indstria: valor adicionado segundo estratos, 2000-2009 .............. 112II.22 Indstria: produtividade do trabalho segundo estratos,

    2000-2009 ............................................................................................... 113

  • 10 CEPAL

    II.23 Indstria intensiva em recursos naturais: produtividade do trabalho, coeficiente de variao interatividades da produtividade do trabalho e participao do PO, 2000 e 2009 ................................... 113

    II.24 Indstria intensiva em trabalho: produtividade do trabalho, coeficiente de variao interatividades da produtividade do trabalho e participao do PO, 2000 e 2009 ................................. 114

    II.25 Indstria difusora de conhecimento: produtividade do trabalho, coeficiente de variao interatividades da produtividade do trabalho e participao do PO, 2000 e 2009 ...................................... 114

    II.26 Setor de servios: valor adicionado e ocupaes ............................. 118II.27 Setor de servios: produtividade do trabalho e coeficiente

    de variao, 2000-2009 .......................................................................... 119II.28 Setor de servios: produtividade do trabalho, coeficiente

    de variao interatividades da produtividade do trabalho e participao do PO, 2000 e 2009 ...................................................... 120

    II.29 Setor de servios: pessoal ocupado nas atividades mercantis, 2009 ...................................................................................... 121

    II.30 Comrcio: valor adicionado e ocupaes, 2000-2009 ....................... 122II.31 Comrcio: produtividade do trabalho, 2000-2009 ............................ 123II.32 Servios domsticos: valor adicionado e ocupaes, 2000-2009 ......... 124II.33 Servios domsticos: produtividade do trabalho, 2000-2009 ......... 124II.34 Servios prestados s empresas: valor adicionado

    e ocupaes, 2000-2009 ......................................................................... 125II.35 Servios prestados s empresas: produtividade do trabalho ......... 126II.36 Servios prestados s famlias: valor adicionado

    e ocupaes, 2000-2009 ......................................................................... 127II.37 Servios prestados s famlias: produtividade

    do trabalho, 2000-2009 ........................................................................ 127II.38 Transporte, armazenagem e correio: valor adicionado

    e ocupaes, 2000-2009 ......................................................................... 128II.39 Transporte, armazenagem e correio: produtividade

    do trabalho, 2000-2009 ......................................................................... 129II.40 Servios de alojamento e alimentao: valor adicionado

    e ocupaes, 2000-2009 ............................................................................ 130II.41 Servios de alojamento e alimentao: produtividade

    do trabalho, 2000-2009 ............................................................................. 131II.42 Servios de informao: valor adicionado e ocupaes,

    2000-2009 .................................................................................................... 132II.43 Servios de informao: produtividade do trabalho,

    2000-2009 .................................................................................................... 132

  • Por um desenvolvimento inclusivo: o caso do Brasil 11

    II.44 Servios financeiros: valor adicionado e ocupaes, 2000-2009 .................................................................................................... 134

    II.45 Servios financeiros: produtividade do trabalho, 2000-2009 .................................................................................................... 134

    III.1 Lavoura temporria: especializao e concentrao regional da produo, 1994 e 2009 ........................................................................ 162

    III.2 Classificao dos estabelecimentos agropecurios segundo o critrio econmico de PTF ................................................................... 164

    III.3 Estabelecimentos agropecurios: distribuio por contedo tecnolgico, segundo critrio qualitativo ............................................ 164

    III.4 Setor agrcola: composio segundo indicadores selecionados, 2006 .................................................................................... 165

    III.5 Produtividade do trabalho por setor de atividade, 2000-2007 ................................................................................................... 168

    III.6 Agricultura comercial ou familiar: ndice de Desigualdade Produtiva versus valor adicionado por populao ocupada (indicadores padronizados), 2006 ......................................... 174

    III.7 Regies brasileiras: ndice de Desigualdade Produtiva versus valor adicionado por populao ocupada (indicadores padronizados) ................................................................... 175

    III.8 Comparao por grupos de eficincia tecnolgica do ndice de Desigualdade Produtiva versus valor adicionado por populao ocupada (indicadores padronizados) .................................................... 175

    III.9 Brasil e Estados Unidos: comparativo da produtividade total dos fatores, 1975-2009 ..................................................................... 177

    III.10 Brasil e Estados Unidos: ndices da produtividade total dos fatores, do insumo e do produto, 1975-2009 ................................ 178

    III.11 Brasil e Estados Unidos: ndices dos fatores produtivos (trabalho, terra e capital), 1975-2009 ...................................................... 179

    IV.1 ndice da taxa de cmbio real, 2002-2011 ............................................. 200IV.2 Indstria: produo fsica, horas pagas e

    produtividade, 2010 ............................................................................... 203IV.3 Brasil: produtividade, exportaes e importaes em 2010 ............ 207V.1 Brasil: distribuio do valor adicionado por setor de

    atividade econmica, 1996-2008 ............................................................. 238V.2 Brasil: distribuio da atividade econmica

    por regio, 1996-2008 ................................................................................ 238V.3 Regio norte: distribuio do valor adicionado por setor

    de atividade econmica, 1996-2008 ....................................................... 239

  • 12 CEPAL

    V.4 Regio Nordeste: distribuio do valor adicionado por setor de atividade econmica, 1996-2008 ....................................................... 240

    V.5 Regio Sudeste: distribuio do valor adicionado por setor de atividade econmica, 1996-2008 .................................................... 240

    V.6 Regio Sul: distribuio do valor adicionado por setor de atividade econmica, 1996-2008 ...................................................... 241

    V.7A Regio Centro-Oeste: distribuio do valor adicionado por setor de atividade econmica, 1996-2008 ...................................... 242

    V.7B Regio Centro-Oeste (exceto D.F.): distribuio do valor adicionado por setor de atividade econmica, 1996-2008 ............. 242

    V.8 Produtividade total por regio, 1996-2008 ..................................... 246V.9 Agropecuria: produtividade por regio, 1996-2008 .................... 247V.10 Indstria: produtividade por regio, 1996-2008 ............................ 248V.11 Comrcio: produtividade por regio, 1996-2008 ........................... 249V.12 Construo: produtividade por regio, 1996-2008 ........................ 249V.13 Servios: produtividade por regio, 1996-2008 ................................ 250VI.1 Produtividade relativa dos grupos 1-4 em relao

    ao grupo 5, 2000-2008 ............................................................................... 270VI.2 Mdia por estrato para cada grupo de intensidade

    tecnolgica, 2008 ....................................................................................... 275VII.1 Desigualdade nos rendimentos do trabalho ........................................ 287VII.2 Contribuio entre setores desigualdade .......................................... 291VII.3 Diferena no poder explicativo de equaes ampliadas

    e no ampliadas (dummies setoriais) ................................................. 293VII.4 Coeficiente de variao dos coeficientes de

    rendimento setorial .................................................................................. 294VII.5 Rendimento setorial estimado mediante dummies e mediante

    a produtividade setorial (2008) .............................................................. 295VII.6 Diferena no poder explicativo de equaes ampliadas

    e no ampliadas .................................................................................... 296VII.7 Coeficiente de rendimento setorial produtividade setorial .............. 297VII.8 Desigualdade da produtividade do trabalho ...................................... 297VII.9 Diagrama de fase: desigualdade na produtividade

    e no rendimento do trabalho .................................................................. 299VIII.1 Pases selecionados e Unio Europeia: produto interno

    bruto (PIB) per capita e por trabalhador, 2009 ..................................... 313VIII.2 Brasil e Portugal: PIB por ocupado, segundo

    o estrato produtivo (2009) ....................................................................... 316VIII.3 Brasil e Portugal: composio do emprego

    por estrato produtivo (2009) ................................................................... 317

  • Por um desenvolvimento inclusivo: o caso do Brasil 13

    VIII.4 Brasil e Portugal: composio do PIB por estrato produtivo, 2009 ......................................................................................... 317

    VIII.5 Brasil e Portugal: renda per capita por quintis ...................................... 318VIII.6 Repblica da Coreia e Portugal: evoluo

    do PIB per capita, 1960-2009 .................................................................. 320VIII.7 Brasil: formao bruta de capital/PIB, 1990-2010 ............................... 324VIII.8 Portugal: formao bruta de capital/PIB, 1970-2009 .......................... 325VIII.9 Repblica da Coria: formao bruta de capital/PIB,

    1960-2009 ................................................................................................ 325

    Diagramas

    III.1 Curva de Lorenz para uma distribuio contnua .............................. 158III.2 Desigualdade produtiva versus produtividade do trabalho ............ 160VI.1 Centro e periferia: produtividade do trabalho

    e estrutura produtiva .............................................................................. 258

  • Prlogo

    Este livro produto de uma iniciativa1 da Comisso Econmica para a Amrica Latina e o Caribe (CEPAL), da Organizao Internacional do Trabalho (OIT), e do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA), destinada a fortalecer o debate e o marco analtico em torno do desenho de uma estratgia de desenvolvimento inclusivo no Brasil, bem como apoiar a formulao de polticas que impulsionem a convergncia produtiva e o crescimento econmico para a igualdade.

    A base analtica do trabalho est estreitamente vinculada ao conceito de heterogeneidade estrutural elaborado pela CEPAL, segundo o qual na estrutura econmica dos pases da Regio coexistem estratos claramente diferenciados sob o ponto de vista de sua produtividade. De acordo com esta viso, a superao da heterogeneidade estrutural um requisito bsico para alcanar um crescimento sustentado com igualdade2. Para a formulao de polticas voltadas para este enfoque do desenvolvimento se requer conjugar duas linhas de atuao fundamentais: a primeira orienta a mudanas estruturais no sistema produtivo, que aumentem a produtividade e gerem emprego e, a segunda, iniciativas para a elevao da renda real, a qualidade e proteo social do emprego e a igualdade de direitos para o acesso aos resultados do progresso alcanado.

    1 Os estudos realizados no mbito do Projeto Desenvolvimento inclusivo, desenvolvido pela CEPAL e pela OIT, cobrem os casos nacionais da Argentina e Peru. No caso do Brasil, o estudo foi realizado de forma conjunta com o IPEA.

    2 Consultar os documentos A hora da igualdade: brechas por cerrar, caminhos por abrir (2010); Mudana estrutural para a igualdade: um enfoque integrado do desenvolvimento (2012) e Pactos para a igualdade: rumo a um futuro sustentvel (2014), da CEPAL.

  • 16 CEPAL

    As polticas produtivas, em coordenao com as macroeconmicas, trabalhistas e sociais, devem contribuir para fechar as duas brechas de produtividade existentes: a externa e a interna, que se d entre setores, regies e empresas com diferentes nveis de produtividade nos pases da Regio. Neste contexto, a nfase nos setores de menor produtividade crucial, devido ao seu impacto no emprego total. Este processo de convergncia produtiva dar origem a uma estrutura econmica mais integrada, que ser a base de um crescimento mais rpido e balanceado, com aumentos genunos de produtividade e uma maior igualdade.

    O objetivo deste livro aprofundar o estudo de alguns aspectos vinculados heterogeneidade estrutural que caracteriza o funcionamento da economia brasileira, com a finalidade de colaborar na formulao de uma estratgia de desenvolvimento inclusivo para o pas. Os oito captulos includos no trabalho se concentram em trs aspectos bsicos: a dinmica da heterogeneidade produtiva, as inter-relaes da estrutura produtiva no funcionamento da economia e uma comparao internacional do Brasil e suas perspectivas de superao.

    O primeiro tema se refere dinmica da produtividade. O objetivo contribuir para a compreenso deste processo, por meio de uma anlise da evoluo da estrutura produtiva do pas entre 1950 e 2009. A concluso , por um lado, que a heterogeneidade persiste, apesar das profundas mudanas estruturais que impactaram a vida econmica do Brasil no perodo e, por outro, que se perpetuou uma profunda desigualdade social, que veio apresentar sinais de superao apenas na ltima dcada. Neste contexto, verifica-se que os diferenciais de produtividade persistem nas dimenses intersetoriais e, tambm, entre as regies brasileiras, fenmeno que se manifesta inclusive entre os estados, dentro de uma mesma regio.

    Os estudos do segundo tema, referentes s relaes de heterogeneidade estrutural com distintas esferas da economia, reforam as concluses anteriores. No plano macroeconmico se avalia o efeito do tipo de mudana sobre a produtividade do trabalho da indstria brasileira concluindo que a apreciao cambial contribuiu para o aumento dos diferenciais de produtividade, bem como para a penalizao dos setores da indstria voltados para o mercado externo, que no pertencem aos estratos da alta produtividade. No nvel microeconmico, a heterogeneidade produtiva analisada no nvel das empresas da indstria e sua dinmica de transio entre diferentes nveis de intensidade tecnolgica dentro da indstria. A concluso que, apesar de pertencer a um mesmo estrato de intensidade tecnolgica, as empresas apresentam fortes diferenciais de produtividade. Em matria distributiva, argumenta-se que a evoluo da heterogeneidade produtiva poderia ser considerada como um fator

  • Por um desenvolvimento inclusivo: o caso do Brasil 17

    explicativo da maior igualdade alcanada na ltima dcada. Nesse perodo diminuem os diferenciais de produtividade ao mesmo tempo em que se reduz a desigualdade de renda. Isto poderia dever-se ao fato de que o diferencial de salrios dos ocupados estaria associado s diferenas de produtividade dos setores. Ao mesmo tempo, se destaca que este poderia ser um fator explicativo adicional ao registrado por diversos estudos que mostram que a menor concentrao de renda alcanada no perodo se deve, em grande parte, aplicao de polticas redistributivas e do mercado de trabalho, especialmente a do salrio-mnimo.

    O terceiro tema trata de dimensionar os esforos que deveria realizar o pas para reduzir as brechas de produtividade, emprego e desigualdade para alcanar o limiar do desenvolvimento Com esta finalidade, o texto mostra os possveis cenrios de convergncia produtiva do Brasil com pases que se encontram no limiar do desenvolvimento, como o caso de Portugal. As estimativas mostram que este um processo de longo prazo, que demoraria cerca de vinte anos e que implicaria na adoo de um padro de crescimento rpido, como resultado de um processo de transformao que aumente significativamente a produtividade dos estratos mais atrasados e troque a composio do emprego.

    Deste trabalho surge, como desafio para a prxima dcada, impulsionar uma decidida aplicao de polticas de convergncia produtiva e realizar importantes esforos em matria de novos investimentos, para reverter a tendncia atual de que a maior parte do crescimento econmico e da produtividade segue padres de alta concentrao. Como resultado, melhorar a capacidade do sistema de absorver a crescente fora de trabalho e reduzir as brechas de renda, resultantes do diferencial de produtividades. Em outros termos, so polticas orientadas superao da persistente heterogeneidade da estrutura produtiva das nossas economias, e ao reforo das sinergias entre a convergncia produtiva e a insero social no mundo do trabalho e reduo da desigualdade na distribuio de renda.

    Alicia Brcena Secretria Executiva

    da CEPAL

    Sergei Soares Presidente do IPEA

    Elizabeth Tinoco Diretora Regional do

    Escritrio Regional da OIT para a Amrica Latina

    e o Caribe

  • Prefcio

    Ricardo Bielschowsky1

    Em boa hora o IPEA e a CEPAL apresentam este livro. Tive o prazer de, ainda na Comisso, participar dos debates iniciais que deram origem ao projeto, bem como dos primeiros passos de sua estruturao. poca, falava-se na elaborao de uma fotografia da heterogeneidade estrutural no pas. Mas agora, observando a obra concluda, constato que o enorme esforo feito por todos os autores no resultou em uma mera fotografia. No que se refere dcada de 2000, que ocupa a maior parte das evidncias e exerccios empricos em quase todos os captulos, a imagem apropriada a de um filme. De fato, com o processo de mudana que o livro se preocupa, ao oferecer elementos bsicos para pensar a dinmica atravs da qual a heterogeneidade estrutural vem perdurando no Brasil nos ltimos tempos.

    O livro se inicia com uma panormica histrica, desde a dcada de 1950, revelando, de partida, algo nada simples de admitir: por mais que o pas tenha se industrializado e diversificado sua economia, fica claro que a estratgia adotada para superar o atraso no pode se limitar a mudanas na estrutura produtiva que modernizem a economia. Foram sete dcadas caminhando nessa direo com visveis resultados positivos. A heterogeneidade e a consequente desigualdade social, no entanto, subsistiram.

    Na segunda parte do primeiro captulo e nos dois captulos subsequentes, o livro examina os setores da economia. Ao mostr-los

    1 Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

  • 20 CEPAL

    em detalhe, estes captulos revelam tambm a reproduo da heterogeneidade produtiva no plano intrassetorial.

    Por fim, faz-se um corte que desloca da perspectiva setorial para a regional. O novo ngulo mostra, por setores econmicos, significativas disparidades nos nveis de produtividade do trabalho entre as regies brasileiras e, at mesmo, entre estados da mesma regio.

    Essa sequncia de imagens explicita a realidade eminentemente estrutural da heterogeneidade produtiva no Brasil: ela se mantm ao longo do tempo, se reproduz no espao e se materializa nas dimenses inter e intrassetoriais.

    Caracterizada a heterogeneidade, o bloco subsequente do livro nos permite compreender como esta construda. Em uma tomada de cmera alta, uma anlise macroeconmica sugere como a apreciao cambial vem contribuindo para o aumento das diferenas em produtividades, penalizando, sobretudo, aquela parcela das atividades nos setores de bens industriais comercializveis internacionalmente que no se encontra nos patamares mais elevados de produtividade.

    Um novo deslocamento de cmera leva o olhar a um close-up, no qual as firmas constituem o objeto de anlise. Uma avaliao do comportamento das firmas estratificadas por intensidade tecnolgica de suas atividades, mais uma vez, deixa visveis as dessemelhanas. Mesmo as firmas que fazem parte de um mesmo estrato de intensidade tecnolgica apresentam considerveis diferenciais de produtividade, o que oferece a justa medida da complexidade do problema no pas.

    Nova mudana de plano, e eis que se segue um enquadramento bastante original: ter a recente reduo drstica das desigualdades de renda no Brasil alguma correlao com a reduo na heterogeneidade estrutural? Trata-se de um tema ainda em aberto, que merece estudos mais aprofundados sobre a formalizao do trabalho e o novo perfil de demanda derivado da prpria redistribuio da renda. Mas, primeira vista, em forma instintiva, a melhor hiptese a de que o fenmeno redistributivo est bem mais associado a polticas redistributivas e de mercado de trabalho destacadamente o aumento do salrio mnimo do que a uma dinamizao da economia. Nesse caso, os baixos nveis de produtividade do trabalho que perpassam todos os recortes da economia se apresentam como um crucial fator limitador de uma melhoria na equidade social.

    Por fim, uma nova panormica encerra o livro. A comparao internacional mostra a distncia que nos separa do grupo de pases desenvolvidos. Salta aos olhos o premente e elevado esforo necessrio para que o pas se reposicione e assuma um novo papel no contexto da economia globalizada.

  • Por um desenvolvimento inclusivo: o caso do Brasil 21

    Passo a seguir a algumas consideraes finais. A obra contm evidncias e anlises que conduzem certeza de que a condio de subdesenvolvimento qual se submete o Brasil no ser superada sem um intenso movimento no sentido de incorporar dinmica de um mercado moderno o imenso contingente de trabalhadores ou consumidores cujo produto do prprio trabalho no suficiente para que se generalizem padres de consumo minimamente dignos. No se trata aqui de oferecer suporte ao argumento de que o simples aumento da capacidade e eficincia do trabalhador, por via da educao, seria suficiente para tanto. A questo da produtividade do trabalho no depende apenas da qualificao do trabalhador. Depende, pelo menos em igual importncia, da qualificao e modernidade da prpria estrutura produtiva na qual este trabalhador atua. As melhoras em termos de equipamento utilizado, processos produtivos e processos de gesto no so resultados naturais de uma melhoria nos nveis educacionais.

    O livro deixa clara a incapacidade de a perspectiva exclusivamente setorial explicar, isoladamente, o fenmeno da heterogeneidade estrutural. A menos que esta questo seja resolvida no nvel intrassetorial, no ser possvel solucion-la no nvel intersetorial. mister que as empresas, especialmente as pequenas e as informais, independentemente do setor (porque as h em todos os setores e em praticamente todas as atividades) sejam organicamente capazes de induzir maiores nveis de produtividade do trabalho. Sem prejuzo de polticas de incentivos a grandes empresas, que possam transformar-se em campes em matria de tecnologia e de exportaes, para o enorme universo de firmas pequenas e mdias que devem ser dirigidos os esforos de polticas para o desenvolvimento. Dispor de estratos de empresas que operam dentro do chamado padro global no suficiente para, a exemplo do que ocorreu nos pases centrais, gerar efeitos de arraste e de transbordamento que tragam consigo as demais empresas da economia. Se o restante do ambiente econmico no possuir capacidade para absorver esses efeitos, o resultado ser to somente o agravamento do quadro de heterogeneidade estrutural.

    Do mesmo modo, a internacionalizao da economia baseada na transferncia da propriedade do parque industrial nacional para o capital transnacional dificulta ainda mais o florescimento de um processo de convergncia virtuosa. Os encadeamentos produtivos passam a obedecer lgica das vantagens locacionais, com desperdcio dos efeitos potenciais sobre a dinamizao da economia local. Para que o pas se beneficie dessas vantagens, faz-se necessrio negociar com o capital estrangeiro contrapartidas que atendam a uma maximizao dos interesses nacionais. Faa-se, ento, no Brasil, o que a China j vem fazendo.

  • 22 CEPAL

    Finalmente, necessrio compreender que, na equao da produtividade do trabalho Produtividade = Valor Adicionado/Pessoal Ocupado no numerador que devem se focar as aes. Tecnologias poupadoras de mo de obra so, de fato, quase sempre, portadoras de progresso e de aumento de produtividade e competitividade. Todavia, o sacrifcio do emprego que estas determinam deve ser compensado por um processo sistmico de aumento da produtividade mdia da economia, evitando-se que os campees desloquem trabalhadores para as atividades menos produtivas. Somente com um crescimento e um processo de investimento sustentado ser possvel fazer com que o numerador cresa mais do que o denominador, em condies em que ambos se expandam conjuntamente.

    Essas tarefas no so simples. Mas so desafios fundamentais para o futuro do pas e que precisam ser enfrentados para impedir o freamento do ciclo de emprego e renda com melhoria distributiva, inaugurado na ltima dcada.

    Mesmo para aqueles que no comungam do referencial analtico estruturalista, os estudos aqui apresentados so desde j uma obra de referncia, seja pelo vasto e indito leque de informaes e dados sobre a economia brasileira que oferece, seja pelas ricas anlises que os autores desenvolveram.

    Aos autores, ao IPEA e CEPAL, meus sinceros cumprimentos por uma iniciativa to necessria para o entendimento de nosso pas e pela relevncia e originalidade dos trabalhos.

  • Introduo

    Mauro Oddo Nogueira, Ricardo Infante e Carlos Mussi 1

    Os estudos publicados neste livro tm como finalidade conduzir uma discusso sobre os conceitos de heterogeneidade estrutural e uma anlise das caractersticas e implicaes socioeconmicas dos diferenciais de morfologia e dinmica de vrios segmentos da estrutura produtiva do Brasil. Espera-se, portanto, contribuir a enriquecer o debate sobre as polticas, ferramentas e estratgias que promovam um desenvolvimento inclusivo2, isto , a busca de maior convergncia produtiva, impulsionada por um crescimento econmico que contribua melhor distribuio de renda e maiores oportunidades no pas.

    O enfoque adotado est intimamente vinculado s ideias que fundamentam as recentes propostas da Comisso Econmica para a Amrica Latina e o Caribe (CEPAL)3, nas quais se postula que a persistncia da heterogeneidade estrutural nas economias da regio constitui uma restrio para o crescimento dinmico e inclusivo.

    A maior parte dos pases da Amrica Latina e do Caribe tem uma estrutura econmica marcada pela heterogeneidade produtiva, na qual

    1 Coordenadores do estudo CEPAL/IPEA Por um desenvolvimento inclusivo. O caso do Brasil.

    2 O presente documento parte dos trabalhos que compem o projeto Desenvolvimento Inclusivo, da Cepal, que, a partir da anlise da experincia chilena, realizou estudos que cobriram a regio da Amrica Latina e do Caribe e os casos nacionais da Argentina, Brasil, El Salvador e Peru.

    3 A hora da igualdade. Brechas por fechar, caminhos por abrir (CEPAL, 2010) e Mudana estrutural para a igualdade. Uma viso integrada do desenvolvimento (CEPAL, 2012).

  • 24 CEPAL

    coexistem atividades produtivas de ponta, que se encontram na fronteira tecnolgica mundial, e outras que utilizam prticas e tecnologias atrasadas e que, com seus nveis de produtividade muito baixos, concentram a maior parte do emprego. Essas grandes diferenas de produtividade se manifestam entre setores e em seu interior, assim como entre distintos tamanhos de empresas e regies dentro dos pases. Assim, a heterogeneidade estrutural se reflete no somente na desigualdade de produtividades entre setores e empresas de diferentes dimenses, mas tambm na distinta capacidade de ao e reao dos agentes produtivos em diferentes mercados e nas assimetrias destes diversos agentes em suas respostas diante da instabilidade da atividade econmica e dos marco-preos.

    A diferenciao do sistema produtivo, por sua vez, gera uma ntida heterogeneidade no mercado de trabalho, no qual atuam trabalhadores com significativos hiatos de produtividade. Essas diferenas se refletem em rendimentos muito desiguais entre os trabalhadores e entre o capital e o trabalho. Como consequncia, a permanncia de uma elevada proporo de ocupados em atividades de produtividade muito baixa constitui o principal obstculo para a superao da pobreza, dado que seus rendimentos so insuficientes para satisfazer as necessidades bsicas, ao mesmo tempo em que possuem um reduzido acesso s redes de proteo social. Assim sendo, a heterogeneidade estrutural pode ser considerada como elemento constituinte da base das marcantes desigualdades de produtividade, renda e do tipo de relaes laborais que caracterizam o funcionamento do mercado de trabalho.

    Deste modo, a heterogeneidade estrutural contribui para explicar a profunda desigualdade social da regio, j que os hiatos de produtividade refletem e, muitas vezes, reforam os hiatos de capacidades, incorporao de progresso tcnico, poder de negociao, de acesso a redes de proteo social e oportunidades de mobilidade ocupacional ascendente ao longo da vida laboral.

    Efetivamente, a superao progressiva da persistente heterogeneidade das estruturas produtivas um requisito bsico para que os pases cresam de maneira sustentada e com equidade crescente. A homogeneizao progressiva das estruturas produtivas, associada reduo dos diferenciais de produtividades inter e intrassetoriais, bem como o adensamento do tecido produtivo da economia, permite criar encadeamentos e relaes entre os estabelecimentos menores e aqueles com elevados nveis de produtividade, o que resultar em um maior crescimento econmico, da produtividade e da competitividade.

    Por isso, na estratgia de desenvolvimento com igualdade proposta recentemente pela CEPAL, se postula crescer com menos heterogeneidade estrutural e mais desenvolvimento produtivo, o que complementarmente

  • Por um desenvolvimento inclusivo: o caso do Brasil 25

    faz necessrio enfrentar os desafios da convergncia produtiva interna e externa. Dessa forma se lograria mais produtividade, mais equidade e maior incluso social. Em outras palavras, um desenvolvimento sustentvel em todos os sentidos.

    Nesse contexto, se concebe a mudana estrutural como articulador do desenvolvimento, isto , como uma dimenso-chave para superar os problemas de crescimento, emprego e igualdade na regio. Quando esse processo resulta em reduo dos hiatos de produtividade, diversificao da estrutura produtiva e incremento agregado da produtividade, o mundo do trabalho se beneficia em termos de igualdade porque se reduzem as disparidades salariais; se amplia o alcance da proteo social por via da contribuio de distintos setores da sociedade devido a que se torna muito mais extensivo o emprego de qualidade, graas a um crescimento mais sustentvel, dinmico e inclusivo.

    Ao examinar-se o caso do Brasil de acordo com o enfoque exposto, possvel fazer o seguinte balano sobre o desempenho agregado da economia durante a dcada passada4.

    O crescimento econmico do pas foi satisfatrio, considerando que se atingiu um crescimento anual do produto (3,4%) semelhante ao mdio da regio (3,3%) no perodo 2000-2011.

    Quanto evoluo da heterogeneidade produtiva, um olhar sobre o comportamento global da economia indica resultados positivos, representados por um crescimento da produtividade mdia do trabalho associado a uma reduo no coeficiente de variao dessa produtividade, particularmente a partir de 2006. Do ponto de vista da estrutura produtiva, isso sugere a existncia de um processo de convergncia para cima (reduo da heterogeneidade estrutural com aumento da produtividade). Todavia, uma anlise do comportamento setorial indica que, ao lado desse fato e a despeito dos resultados positivos no presente que vm se traduzindo nos ganhos sociais citados h dvidas quanto viabilidade de sustentao do processo. Mais ainda, h claros indcios de que, tanto os setores de menor produtividade como os estratos menos produtivos dentro de cada setor ou atividade, veem como sua produtividade restringe a possibilidade de um aprofundamento do processo de melhoria da distribuio de renda.

    Do ponto de vista do mercado de trabalho, a taxa de desemprego urbano chegou a atingir os menores valores histricos ao alcanar 5,5% em 2012. Ademais, o emprego no setor informal que inclui as atividades

    4 Os dados utilizados provm do Anurio Estadstico de Amrica Latina y el Caribe, 2012, Comisso Econmica para a Amrica Latina e o Caribe (CEPAL) e Panorama Laboral, 2012, Organizao Internacional do Trabalho (OIT).

  • 26 CEPAL

    de menor produtividade do mercado de trabalho reduziu de 50,5% em 2000, para 43,6% em 2012.

    Do mesmo modo, alguns indicadores sociais agregados evoluram favoravelmente. A pobreza foi reduzida de maneira notvel, de 37,5% em 2001 para 20,9% em 2009, em parte pelo crescimento econmico e pelo desempenho do mercado de trabalho e, em parte tambm, pela poltica social. Os resultados em matria distributiva so igualmente positivos. Por um lado, diminuiu a desigualdade em termos de rendimentos individuais, como evidencia a queda do coeficiente de Gini de 63,9 para 55,9 nessa dcada. Por outro, a distribuio funcional da renda melhorou, dado que a participao das remuneraes dos assalariados no PIB aumentou de 40,5% em 2001, para 43,7% em 2009.

    Dessa obra emerge, ento, como grande desafio para a prxima dcada o desenvolvimento de polticas que sejam capazes de incorporar a padres mais dinmicos um imenso contingente de firmas, tanto formais quanto e, talvez, principalmente informais, cuja capacidade de gerar produto a partir da atividade humana (produtividade do trabalho) hoje extremamente reduzida. A manuteno do quadro atual muito provavelmente ser o maior limitador para a definitiva superao da, ainda ultrajante pobreza que atinge grandes camadas da populao. Por outro lado, um choque de produtividade divorciado dessa preocupao, especialmente de um aumento de renda que permita alavancar simultaneamente a demanda, poder produzir efeitos na estrutura produtiva que, por sua vez, ao proporcionar melhoras em termos de produtividade mdia da economia e incidir positivamente na convergncia produtiva, sejam resultado no de um aumento do produto global, mas de uma reduo na taxa de ocupao da mo de obra, com seus perniciosos impactos sobre o emprego.

    O livro, em seus oito captulos, se desenvolve em torno de trs temas centrais. No primeiro bloco h um conjunto de textos que se dedicam a traar uma descrio da dinmica de construo da heterogeneidade estrutural no Brasil. Um segundo bloco aborda as relaes entre a heterogeneidade e a dinmica da economia como um todo. Por ltimo, faz-se uma contextualizao do Brasil frente a um quadro de referncia internacional.

    As anlises do primeiro tema, apresentadas nos quatro captulos iniciais, ao descreverem as diversas perspectivas da Heterogeneidade Estrutural (HE) no pas, deixam claro que, mesmo tendo a economia atravessado profundas mudanas estruturais, esta heterogeneidade persiste.

    O captulo I inicia-se argumentando que desde a Segunda Guerra Mundial o Brasil vivenciou uma mirade de situaes politico-institucionais

  • Por um desenvolvimento inclusivo: o caso do Brasil 27

    que impactaram de formas diversas e profundas sua vida econmica. A despeito disso, uma caracterstica se perenizou: uma profunda desigualdade social, que somente na ltima dcada mostra sinais de superao. Neste contexto, os estudos aqui apresentados buscam, por meio do delineamento da estrutura produtiva do pas desde 1950 at 2009, contribuir para a compreenso desse processo. Lanou-se um primeiro olhar sobre a evoluo histrica da produtividade do trabalho, desde o ano de 1950, tendo como objeto os trs macrossetores da economia. A seguir, o olhar deslocou-se ao nvel das atividades econmicas, aqui agrupadas em quartis de produtividade do trabalho. Nesta seo, cujo espectro temporal inicia-se em 2002, se analisam tanto a produtividade quanto as caractersticas das ocupaes (renda, formalizao e escolaridade) dos quartis, possibilitando uma viso mais abrangente das estruturas consideradas. Finalmente, a lupa repousou sobre as atividades individualizadas, permitindo que a anlise da produtividade e das ocupaes atinja um grau mais elevado de detalhamento.

    Entre as concluses, se destaca que em menos de 60 anos o pas passou de agrrio, rural e no democrtico, tanto do ponto de vista poltico quanto social, para uma economia diversificada, urbana e com direitos polticos e sociais praticamente consolidados. Entretanto, a dinmica da produtividade do trabalho pouco se alterou. Do ponto de vista agregado, no perodo 1950-1979 houve um robusto crescimento da produtividade. Porm, a partir de ento, essas taxas de crescimento caram sensivelmente, tornando-se negativas nas dcadas de 1980 (indstria, servios e total da economia), de 1990 (indstria e total da economia) e de 2000 (indstria).

    Embora desde a dcada de 1980 se observe uma continuidade do processo de convergncia, isto ocorreu segundo uma natureza distinta daquela verificada sob a gide desenvolvimentista. Ao mesmo tempo, vemos as produtividades dos setores mais produtivos (indstria e servios) se aproximando da produtividade mdia da economia e decaindo, em termos individuais. Isso significa que o setor mais produtivo (servios at 1991 e indstria a partir deste ano) no vem sendo capaz de puxar a produtividade total da economia. Trata-se, portanto, de um processo de convergncia para baixo. A agropecuria, por seu turno, apresentou convergncia positiva em relao produtividade mdia da economia. Mas este processo, apesar de desejvel, no pode ser encarado como capaz de liderar o desenvolvimento econmico no longo prazo

    Tambm, sob a tica das atividades econmica, verifica-se a presena de uma convergncia perniciosa: o quartil mais produtivo (primeiro) cresce mais que a economia como um todo, o quartil menos produtivo cresce ainda mais que este (processo de convergncia), porm, o segundo e o terceiro quartis (nveis de produtividade intermediria)

  • 28 CEPAL

    apresentam variaes negativas de produtividade. Adicionalmente, o quartil de produtividade baixa reduz sua participao tanto em Valor Adicionado (VA) quanto em Pessoal Ocupado (PO), ao passo que o primeiro aumenta. Ou seja, novamente ocorrem mudanas, mas no se observa um processo de arraste.

    Por fim, quanto qualidade das ocupaes e da renda do trabalho, alm da j esperada associao inversa entre a renda e a produtividade do trabalho, em todos os quartis, a renda do trabalho mostra variao positiva e superior da produtividade, cabendo ao quarto quartil a exclusividade de crescer mais que o total, evidenciando a melhora na distribuio da renda observada nos anos 2000. Por outro lado, enquanto a razo entre a produtividade do quartil mais produtivo e a produtividade mdia da economia se mantm em torno de dez, no que tange renda do trabalho essa razo sempre menor que quatro e apresenta tendncia de declnio. Cabe mencionar que este grau de disparidade no se verifica nos demais quartis. Portanto, a HE brasileira ainda mais acentuada do que a pssima distribuio de renda no pas. Constata-se tambm que, como esperado, nos setores mais produtivos h maior participao de pessoal qualificado.

    Registra-se, tambm, um aumento da participao dos trabalhadores mais escolarizados, com exceo dos assalariados sem carteira cuja representatividade caiu no perodo 2002-2009 e umincremento da escolarizao e da formalizao. Porm, neste aspecto, o ponto de maior destaque a enorme queda verificada no conjunto de trabalhadores de baixa escolaridade, uma vez que os assalariados sem carteira e aqueles trabalhadores classificados como marginais apresentaram as maiores perdas de participao.

    Quanto anlise das atividades econmicas, os registros indicam mais a ocorrncia de pequenas flutuaes setoriais do que mudanas estruturais propriamente ditas. Fica aqui evidente que aumentos de produtividade no resultam, necessariamente, em aumentos proporcionais da renda do trabalho. Em outras palavras, a distribuio da renda, apesar da evidente correlao, no resultado exclusivo da distribuio da produtividade. Constatou-se, tambm, que no ser possvel reduzir a desigualdade de renda no Brasil sem uma significativa elevao nos nveis de produtividade daquelas atividades que, alm de apresentaremas produtividades mais baixas, empregam o maior contingente de trabalhadores.

    Como aspecto positivo, observou-se um aumento generalizado do nvel de formalizao das ocupaes, fato que determina uma reduo da precariedade das condies de trabalho, uma melhora na distribuio de renda, com destaque para o fato de que as atividades nas quais o aumento da renda foi mais expressivo esto entre as que apresentaram tambm um

  • Por um desenvolvimento inclusivo: o caso do Brasil 29

    aumento importante na participao de trabalhadores com escolaridade elevada e com contrato formal de trabalho, dentro do contingente total de trabalhadores do setor correspondente.

    Assim, ao longo do perodo verifica-se que melhoram sensivelmente a renda do trabalhador e a qualidade das ocupaes. Mas o mesmo no sucedeu com a produtividade mdia do trabalho, que tem permanecido praticamente estagnada, em especial desde os anos 1980. Os resultados do estudo indicam que a heterogeneidade estrutural brasileira mostra-se pouco sensvel a tantas mudanas verificadas nas ltimas seis dcadas. Isso sugere a necessidade de uma reflexo sobre os rumos a impr ao pas para que os avanos notadamente os de cunho social no se transformem apenas em mais um dos eventos conjunturais que marcaram a histria do pas.

    Como prosseguimento da anlise anterior, o captulo II props-se a apresentar um delineamento do comportamento da heterogeneidade estrutural brasileira ao longo da dcada de 2000. Essa dcada foi caracterizada por um processo de contnuo e significativo crescimento das ocupaes (2,3% ao ano) e de uma reduo na desigualdade de renda.

    A heterogeneidade estrutural pressupe significativa disparidade entre os nveis de produtividade do trabalho dos diversos agentes econmicos e que esta disparidade se mantm no tempo. A partir de referencial conceitual, a anlise e compreenso do fenmeno da HE no Brasil tradicionalmente fez uso de um modelo de representao no qual se observava tanto as diferenas em nvel da produtividade do trabalho entre os trs setores da economia quanto a prevalncia de diferenas elevadas ao longo do tempo.

    A despeito da capacidade analtica demonstrada por esse modelo durante as dcadas nas quais floresceu o pensamento capitaneado pela CEPAL, as premissas de que os setores de baixo dinamismo dessas economias apresentam homogeneamente padres de baixa produtividade e de que os setores dinmicos concentram-se nas atividades primrio-exportadoras implicam uma simplificao que compromete a interpretao das estruturas produtivas contemporneas, especialmente daquelas mais diversificadas. Isso particularmente verdadeiro para o caso da economia brasileira, que se diversificou acentuadamente, e dos segmentos modernos e dinmicos do setor industrial e de servios, que aumentaram sua representatividade no produto do pas.

    Nesse captulo se analisa o fenmeno da HE a partir de outra perspectiva de representao. A proposta entender como as dessemelhanas internas em cada setor econmico se reproduzem e se relacionam na conformao da heterogeneidade como um todo. Essa

  • 30 CEPAL

    perspectiva da heterogeneidade intrassetorial pode ser obtida por meio da compreenso de como distribuda a amplitude total das produtividades atravs de uma medida da disperso das produtividades dos diversos elementos observados. Assim, se utiliza o Coeficiente de Variao (CV) como medida da HE intrassetorial.

    O estudo avalia o comportamento temporal tanto dos nveis da produtividade do trabalho quanto do coeficiente de variao de cada setor. Entende-se que a situao ideal para uma reduo virtuosa da heterogeneidade estrutural seria aquela na qual haveria um crescimento da produtividade mdia associado a um processo de convergncia (isto , reduo do coeficiente de variao).

    O modelo investiga os coeficientes de variao das produtividades mdias do trabalho de cada uma das atividades que compem os setores. Vale destacar que h uma premissa implcita de que as produtividades do trabalho das firmas dentro de cada uma das atividades so homogneas e iguais produtividade mdia da atividade qual pertence.

    incorporada, ainda, uma anlise da decomposio (shift-share) da produtividade da economia como um todo, identificando em que medida mudanas setoriais de produtividade e mudanas estruturais contriburam para a mudana da produtividade do agregado econmico. A anlise foi dividida em trs partes: o conjunto da economia, a indstria e os servios.

    O olhar sobre o comportamento global da economia aponta resultados positivos, representados por um crescimento da produtividade mdia do trabalho associado a uma reduo no coeficiente de variao dessa produtividade, particularmente a partir do ano de 2006. Do ponto de vista da estrutura produtiva, isso indica um processo de convergncia para cima (reduo da heterogeneidade estrutural com aumento da produtividade). Todavia, uma anlise do comportamento setorial indica que esse fato, a despeito dos resultados positivos no presente que vm se traduzindo nos ganhos sociais citados h uma ameaa de vulnerabilidade na sustentao de processo.

    A convergncia verificada resultou de uma mudana estrutural na distribuio de ocupaes na economia do pas. Essa mudana decorreu da menor participao dos ocupados em atividades agropecurias, em consequncia da intensificao do uso de capital e tecnologia neste setor. O pessoal liberado destas atividades migrou, em sua maior parte para o setor de servios, especialmente aos segmentos de menor produtividade. A parcela restante, que migrou para as atividades industriais, tambm encontrou colocao em atividades que apresentam baixa produtividade. Em ambos os casos, o processo resultou em um aumento da heterogeneidade estrutural intrassetorial.

  • Por um desenvolvimento inclusivo: o caso do Brasil 31

    Assim, uma avaliao comparativa do comportamento dos setores da economia indica que a convergncia foi fruto do crescimento da produtividade nos dois setores menos produtivos: agropecuria e servios; fato, a princpio, extremamente positivo. Mas, tambm pela perda de produtividade do setor industrial, o que configura um indicador preocupante. Na verdade, o crescimento da produtividade mdia da economia foi alavancado, basicamente, por um expressivo aumento da produtividade no setor agropecurio. A despeito disso, a produtividade deste setor ainda da ordem de 1/3 da produtividade mdia da economia.

    Ao observar a indstria, setor considerado como o principal indutor de crescimento, o que se constata um processo que poderia ser denominado convergncia perniciosa, representado por uma reduo da heterogeneidade (diminuio do coeficiente de variao) acompanhada de uma queda na produtividade do trabalho. Ou seja, uma convergncia em direo a uma produtividade mdia mais baixa. A origem principal desse fato se concentra exatamente no segmento mais dinmico do setor industrial: a indstria de transformao que, alm de estar vivenciando esse tipo de convergncia, vem tambm perdendo participao no VA agregado, possivelmente como consequncia da elevada exposio franca concorrncia internacional. Nesse setor, a nica atividade a apresentar ganho expressivo de produtividade (77,1%) foi a de fabricao de automveis, caminhonetas e utilitrios. Esse resultado decorrente tanto do conjunto de incentivos que recebe quanto do modelo de produo que o segmento vem adotando no pas.

    O ganho de produtividade global da economia, como j mencionado, deveu-se em grande parte ao ocorrido no setor de servios, que devido a sua elevada e crescente participao na economia, que saltou de 58,2% do pessoal ocupado (PO) em 2000 para 62,1% em 2009 e de 65,3% do valor adicionado (VA) para 67,7% e cuja produtividade cresceu a uma taxa anual de 0,5%. Entretanto, isso esteve acompanhado de um aumento da heterogeneidade intrassetorial, indicada por um crescimento de 12,2% no coeficiente de variao da produtividade. Esse fato se deveu principalmente ao baixo crescimento da produtividade em atividades intensivas em mo de obra. Sendo estas as que j apresentavam os nveis de produtividade mais baixos, o gap da produtividade intrassetorial aumentou. Merece destaque a atividade de Servios Prestados s Empresas, que apresentou expressivo aumento no VA. Contudo, a expanso do PO foi ainda maior, resultando numa queda da produtividade do trabalho desta atividade. Aparentemente isso se deveria ao perfil do processo de terceirizao, ainda em curso na economia. De todas as atividades que compem o setor de servios, aquela que apresentou maior crescimento em termos de produtividade do trabalho foi a de Servios financeiros. Neste mbito, tanto a rentabilidade crescente, decorrente de elevadas taxas de juros, quanto o profundo processo de automao dessa atividade contriburam para tal resultado.

  • 32 CEPAL

    De todo o exposto, o que se pode concluir que, a despeito do comportamento positivo da produtividade do trabalho ao longo da dcada tanto em relao sua mdia quanto a sua disperso a forma como isso vem ocorrendo merece ateno. O crescimento da produtividade se deve, principalmente, ao aumento da incorporao de tecnologia na agropecuria, ao novo perfil da indstria automobilstica, automao bancria e aos ganhos de produtividade dos setores cimento, papel e celulose e farmacuticos. O que se destaca aqui, em primeiro lugar, o fato de estas serem atividades que, dadas as caractersticas de origem de capital e a forma como operam no pas, tm pouca capacidade de transbordamento ou arraste tecnolgico. Em segundo lugar, constata-se que boa parte dessas atividades entre as quais tambm se deve incluir a Extrao de Petrleo e Gs Natural, que apresenta fortes perspectivas de crescimento nos prximos anos so intensivas em recursos naturais. Em terceiro lugar, fica patente a perda de competitividade dos setores industriais mais expostos concorrncia internacional. Assim, h uma sinalizao de que a economia poderia estar caminhando para uma fragilidade em relao conjuntura internacional, criando dependncia dos preos internacionais de commodities e do mercado financeiro global.

    O captulo III analisa o setor agropecurio brasileiro que, apesar de possuir um enorme potencial produtivo, incorpora segmentos ainda marcados por extrema pobreza, falta de recursos e escassez tecnolgica, o que redunda em baixssimos nveis de produo.

    Diferenas regionais na dotao de recursos naturais e disparidades no acesso e na capacidade de absoro e incorporao de contedo tecnolgico, no acesso a benefcios de polticas pblicas e a crdito, na articulao das cadeias produtivas, no ambiente organizacional, dentre outros, esto na raiz desse fenmeno. Polticas pblicas que no levem em conta tais fatores acabam por distorcer ainda mais a realidade, perenizando esse quadro. Nesse sentido, a compreenso do fenmeno da Heterogeneidade Intrassetorial na agropecuria brasileira torna-se essencial para desenvolver aes capazes de contribuir sua superao.

    O objetivo desse captulo analisar esta heterogeneidade, classificando os estabelecimentos agropecurios por grupos tecnolgicos, segundo critrios econmicos e qualitativos da tecnologia empregada e do ambiente institucional, e por concentrao produtiva. O problema colocado busca indagar se o processo de inovao tecnolgica no setor, juntamente com as especificidades produtivas de cada regio, contribui para o aumento das desigualdades produtivas, que, quando estrutural, inviabiliza a incluso produtiva dos agentes marginalizados da dinmica tecnolgica.

  • Por um desenvolvimento inclusivo: o caso do Brasil 33

    Para responder ao questionamento, a hiptese central que as inovaes tecnolgicas guiadas por mudanas institucionais e as especificidades regionais e produtivas contribuem para uma maior desigualdade na produo e no crescimento agropecurio, favorecendo os espaos organizacionais dinmicos e inovadores, bem como bloqueando de forma estrutural as regies estagnadas e marginalizadas do processo de desenvolvimento tecnolgico. Argumenta-se que, em face da diferenciao regional, do porte dos empreendimentos e dos diversos nveis de incremento tecnolgico, as polticas pblicas devem ser orientadas tendo em vista a reduo das diferenas prejudiciais difuso de novos conhecimentos e ao aumento da produtividade dos agentes.

    A metodologia adotada classifica os estabelecimentos por eficincia tecnolgica em grupos de alta, mdia e baixa eficincia. A essa classificao associa-se a produtividade total dos fatores (PTF), sendo a PTF aqui utilizada calculada diretamente pela razo entre os dados disponveis de renda bruta (RB) e custo total de produo (CT) e no por uma funo de produo do tipo Cobb-Douglas. No caso da agricultura familiar, o custo total de produo pode no incluir boa parte dos rendimentos do trabalho. No obstante, como no h comparao direta entre os estabelecimentos de agricultura familiar e comercial, isso no acarreta problemas interpretativos.

    Entre as consideraes finais se destaca que a agropecuria brasileira passou por muitas transformaes nas ltimas dcadas, com um visvel incremento tecnolgico. Porm, ainda prevalecem produtores que utilizam pouca tecnologia e obtm baixa produtividade. Neste estudo sobre a heterogeneidade dentro do setor agropecurio brasileiro constatou-se que a heterogeneidade regional interna por grupos tecnolgicos e entre os estados brasileiros bem significativa.

    Chama a ateno o fato de o grupo que possui a maior rea de terra ocupada mdia ser exatamente aquele dedicado agricultura comercial de baixa intensidade tecnolgica e baixa produtividade total de fatores (PTF

  • 34 CEPAL

    No grupo de baixa intensidade tecnolgica, considera-se a existncia de dois grupos: um improdutivo e outro especulativo. Para o grupo dos improdutivos, so necessrias polticas de aumento da capacidade de desenvolvimento e absoro tecnolgica, extenso rural e educao. Para o segundo, o governo deve adotar medidas que desestimulem a especulao com terras e que promovam a destinao destas terras a produtores mais capacitados, como seriam uma tributao mais elevada ou, at mesmo, a desapropriao das terras.

    No grupo de alta intensidade tecnolgica a PTF no chega a alcanar o maior valor possvel, ou seja, estes estabelecimentos poderiam melhorar sua eficincia via aumento da capacidade de absoro de conhecimento externo, que pode ser estimulada por polticas especficas de capacitao gerencial, adequadas ao cultivo e regio em questo.

    Por fim, o aprofundamento dos problemas de produo e desafios no plano microrregional ir indicar variados caminhos para a formulao de polticas pblicas com contedo local. Encontrar meios de concatenar as polticas da Unio, estados e municpios, de modo a faz-las chegar ao produtor o desafio central do planejamento e da poltica agrcola no Brasil.

    Neste sentido, os resultados mostram que, no mbito nacional, a heterogeneidade entre os diversos grupos tecnolgicos bastante significativa, apontando para a constatao da hiptese inicial, segundo a qual as inovaes tecnolgicas guiadas por mudanas institucionais contribuem para ampliar o grau de heterogeneidade do sistema, ao beneficiar os agentes mais inovadores.

    O captulo IV busca trazer um referencial analtico que se aplica dinmica da estrutura produtiva para a anlise regional, observando-se uma situao de perpetuao dos elevados nveis de disparidades.

    A esse respeito, importante assinalar que as economias da Amrica Latina se distinguem das dos pases desenvolvidos por duas caractersticas principais: as assimetrias nas capacidades tecnolgicas frente fronteira internacional e os diferenciais de produtividade existentes entre os setores, no interior dos setores e entre as empresas. No entanto, essa diferenciao pode ocorrer tambm entre regies, ao interior do pas, em que no somente se apresentam produtividades diferentes entre as regies, como entre o mesmo setor de atividade em regies distintas. No Brasil, frente a notrias desigualdades regionais, essa uma questo que merece uma anlise atenta.

    O estudo compe-se de quatro partes: uma com a descrio da metodologia utilizada para anlise; outra que apresenta a estrutura produtiva das regies brasileiras e os ndices de produtividade das regies e seus setores de atividade; uma terceira, com a anlise regional

  • Por um desenvolvimento inclusivo: o caso do Brasil 35

    da produtividade do trabalho no ano de 2008 e, finalmente, uma anlise de sua evoluo entre 1996 e 2008, alm das consideraes finais.

    Entre as concluses destas anlises, se destaca a clara existncia de heterogeneidade produtiva entre as diversas regies do pas. Nas regies em que h atividades intensivas em capital, a produtividade tende a ser maior que naquelas em que h atividades intensivas em mo de obra. Uma regio onde a principal atividade industrial seja o refino de petrleo tende a possuir maior produtividade que uma que, por exemplo, concentre suas atividades na rea de comrcio varejista. de se notar que os diferenciais de produtividade se mantm ao longo do tempo, destacando-se que em 2008a relao entre a maior e a menor produtividade chegou a ser superior a duas vezes e meia.

    Chama, contudo, a ateno o fato de os diferenciais se manterem ou mesmo, em certos casos, aumentarem de intensidade, ao comparar os mesmos setores de atividade em diferentes regies. Neste caso fica evidente que a heterogeneidade intrassetorial, decorrente das disparidades de produtividade entre as atividades de um mesmo setor e entre o prprio modelo de produo dos diversos empreendimentos dentro de uma mesma atividade, possui considervel correlao com a distribuio geogrfica.

    No caso da agricultura, flagrante a diferena entre as regies Centro-Oeste e Nordeste, refletindo as diferentes formas de explorao adotadas nessas duas regies: na primeira, a atividade intensiva em capital e conhecimento, ao passo que na segunda predomina a pequena propriedade e a agricultura familiar. Uma poltica que aportasse tecnologia produo de alimentos na agricultura familiar poderia, com um nmero equivalente de pessoas ocupadas, aumentar a renda da atividade, aproximando-a das demais regies. Na indstria, dadas as suas caractersticas, seria de esperar que esses diferenciais fossem bem menores. No entanto, a produtividade da regio Sudeste o dobro da anotada para a regio Nordeste. Enquanto os setores de construo e comrcio apresentam mais semelhanas do que diferenas quanto aos indicadores de produtividade (a natureza dos setores praticamente impe essa semelhana), no setor de servios a diferenciao volta a se acentuar. Uma explicao possvel para essa grande diferena reside na estruturao do setor uma vez que em alguns estados da Unio predominam os servios prestados s empresas enquanto em outros prevalecem os servios prestados s famlias.

    Dado o carter preliminar deste estudo, os resultados apresentados indicam a importncia de um aprofundamento. Em se constatando que a diferena de produtividade entre as regies configura um quadro de heterogeneidade estrutural, deve-se caminhar para o estabelecimento de polticas pblicas que levem esse fenmeno em considerao, dando s regies com menores ndices os meios necessrios para melhorar seus

  • 36 CEPAL

    padres de produtividade ou, ao menos, diminuir a distncia em relao s mais produtivas. Tendo em vista a persistncia, ao longo do perodo analisado, dos profundos diferenciais, no parece plausvel supor que eles possam ser superados sem a adoo de polticas especficas.

    Os estudos do segundo tema, que se refere s relaes e implicaes econmicas da heterogeneidade estrutural, reforam as concluses anteriores.

    O captulo V comea destacando que, tradicionalmente, os estudos sobre a heterogeneidade estrutural (HE) se orientam de forma privilegiada pelas perspectivas setorial e regional. O olhar macroeconmico sobre o tema usualmente se restringe a diagnosticar as causas da instabilidade e a propor polticas que assegurem a estabilidade macro ou seja, a anlise fica reduzida a algo no particularmente vinculado HE. Contudo, lcito afirmar que, mesmo em um contecxto de estabilidade macroeconmica, o conjunto de polticas conduzidas nas reas fiscal, monetria e cambial produzem efeitos particulares e distintos sobre a produtividade das empresas que atuam nos diversos setores da vida econmica.

    Os diferenciais de produtividade refletem, em alguma medida, a capacidade de resposta que as empresas possuem frente s polticas macroeconmicas e s mudanas exgenas na conjuntura macro, mesmo em um contexto no qual as condies de estabilidade so atendidas. evidente, portanto, que um ambiente de maior volatilidade constitui um cenrio propcio para um agravamento da heterogeneidade. Por outro lado, o cenrio de relativa estabilidade macro no constitui condio suficiente para a reduo dos diferenciais que caracterizam a HE, fazendo necessrio que algumas variveis macroeconmicas sejam manejadas de forma adequada a este objetivo.

    Em particular, a taxa de cmbio real constitui uma dessas variveis. No Brasil, a taxa de cmbio (reais por dlar) tem apresentado, nos ltimos anos, elevada volatilidade e forte e inequvoca tendncia de valorizao em termos reais. Esta situao pode ser benfica para setores que possuem maior coeficiente importado ou adquirem insumos produtivos ou mquinas e equipamentos no exterior, mas, para aqueles que competem com a produo estrangeira via preo,pode significar perda de competitividade. Justamente porque os efeitos da trajetria da taxa de cmbio real so diferenciados conforme as distintas estruturas produtivas setoriais, no parece trivial identificar os resultados desta sobre a produtividade de cada setor e, portanto, sobre o grau de heterogeneidade estrutural.

    O presente estudo tem como principal objetivo avaliar o efeito da taxa de cmbio real sobre a produtividade do trabalho da indstria brasileira. Compe-sede uma breve resenha da literatura economtrica a respeito dos determinantes da produtividade na indstria; uma

  • Por um desenvolvimento inclusivo: o caso do Brasil 37

    apresentao das variveis utilizadas na pesquisa; uma anlise dos principais fatos estilizados destes dados; uma exposio da metodologia economtrica utilizada; uma apresentao dos resultados das estimaes e algumas consideraes no que tange taxa de cmbio real, produtividade do trabalho e heterogeneidade estrutural na indstria brasileira.

    A concluso, segundo os coeficientes estimados, que o efeito da taxa de cmbio sobre a produtividade do trabalho difere, em sinal e magnitude, nos diversos setores industriais.

    Constatou-se que os setores mais produtivos so os que mais se beneficiam da desvalorizao cambial. Os setores de menor produtividade so tambm beneficiados, mas em menor proporo. No entanto, ao comparar esses setores em conjunto, constata-se que a variao esperada da produtividade seria maior para o grupo mais produtivo. Essas evidncias apontam um aumento da HE da indstria brasileira. Contribuindo ainda para o aumento do hiato de produtividade, verificou-se que dos cinco setores cuja produtividade tende a decrescer com uma valorizao cambial real, trs se encontram no grupo de produtividade intermediria. Estes trs setores, por seu turno, foram justamente aqueles que apresentavam maior nvel de produtividade dentro de seu grupo. Isso configura, portanto, uma fonte adicional de aumento da HE na indstria brasileira: o diferencial de produtividade destes trs setores em relao ao grupo mais produtivo tende a aumentar.

    Da possvel depreender que frente a um cenrio de apreciao cambial, levar aindstria brasileira convergncia produtiva uma tarefa de difcil realizao. possvel que polticas industriais dirigidas a melhorar o desempenho dos setores de baixa produtividade sejam capazes de compensar os efeitos negativos de um cmbio apreciado. Cabe lembrar que a convergncia produtiva supe que a produtividade dos setores de baixa produtividade cresce a taxas superiores mdia. Se a tarefa em si j complexa, realiz-la sob um cenrio de apreciao cambial e deconcorrncia com a produo importada, algo virtualmente impossvel.

    Destaca-se, por fim, que no se pretende afirmar que bastaria uma desvalorizao cambial para promover a convergncia. Tambm possvel e provvel que os setores de mais alta produtividade, por serem mais dinmicos, sejam capazes de apresentar um bom desempenho mesmo com uma desvalorizao da taxa de cmbio. Este cenrio, por seu turno, poder engendrar incentivos aos setores de baixa produtividade, tornando-o mais competitivos ou permitindo que se compense, total ou parcialmente, os efeitos de estruturas produtivas inadequadas. Deste modo, o cmbio desvalorizado seria mais uma condio necessria do que suficiente, mostrando ser imprescindvel oferecer estmulos adicionais aos setores de baixa produtividade, que correm o risco de permanecer pouco

  • 38 CEPAL

    produtivos mesmo em presena de um cmbio desvalorizado. A discusso de uma poltica industrial visando a convergncia produtiva, portanto, se faz premente e deve fazer parte da agenda do Estado brasileiro.

    O objetivo do captulo VI analisar, a partir de uma perspectiva microeconmica, a heterogeneidade produtiva, a distribuio das firmas entre diferentes estratos de produtividade dentro da indstria de transformao, assim como a dinmica de transio destas firmas dentro e entre estes estratos. Com esse objetivo, identificam-se, em primeiro lugar, grupos ou estratos em que a produtividade marcadamente diferente, a partir de instrumental de cluster k-means. Posteriormente, por meio de um modelo probit ordenado, estuda-se a probabilidade de permanncia das firmas nos diferentes estratos de produtividade, determ